RAEM 20 anos| Garcia Leandro, ex-Governador, separa as águas entre Macau e Hong Kong

O actual presidente da Fundação Jorge Álvares e Governador no período entre 1974 e 1979, Garcia Leandro defende que que a crise política que se vive em Hong Kong não é “extrapolável” a Macau por estarmos perante dois territórios completamente diferentes. Para o ex-Governador, o Governo Central quer muito que Macau seja um caso de sucesso e defende uma “identidade própria” para as quatro comunidades que existem no território

[dropcap]O[/dropcap] primeiro governador de Macau em democracia defende que Pequim quer fazer da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) um caso de sucesso e considera que a crise em Hong Kong não é extrapolável para este território.

“Eu julgo que o regime chinês quer fazer de Macau um caso de sucesso”, declarou à agência Lusa o general Garcia Leandro, que governou Macau entre 1974 e 1979.

Questionado sobre se os protestos que há seis meses ocorrem em Hong Kong se podem estender à RAEM, Garcia Leandro começou por dizer que se tratam de duas realidades diferentes em termos históricos, de massa crítica e de população.

“A situação não é paralela, não se pode extrapolar de Hong Kong para Macau”, afirmou o general, presidente da Fundação Jorge Álvares, uma estrutura criada no quadro da transferência da administração que tem como objectivo promover o diálogo intercultural entre Lisboa e a RAEM.

Hong Kong é palco de manifestações desde Junho, em protesto contra uma proposta legislativa que permitiria a extradição de suspeitos para a China continental.

O Governo de Hong Kong acabou por retirar a proposta, cedendo a uma das exigências dos manifestantes, mas a decisão não foi suficiente para travar os protestos anti-governamentais em prol de reformas democráticas e contra a alegada crescente interferência de Pequim no território.

Face aos protestos em Hong Kong, “Pequim tem tido uma grande contenção”, para evitar tomar uma posição de força, considerou Garcia Leandro.

O general, apesar de não querer entrar em especulações, disse que “dá a sensação” que “há ali uma mãozinha do exterior a empurrar”.

“De onde é que essa mãozinha do exterior vem não sei nem quero especular (…), mas é evidente que pode haver ali Taiwan, pode haver ali os Estados Unidos [país em guerra comercial com a China]”, comentou.

Em declarações ao HM concedidas em Junho, relativas à implementação da política “Uma Faixa, Uma Rota”, Garcia Leandro comentou um possível impacto dos protestos de Hong Kong, uma vez que a independência do sistema jurídico e judicial das regiões administrativas especiais “envolve grandes empresas internacionais que necessitam de ter uma base fiscal e jurídica sólida e estável e não se podem arriscar a ter pessoas extraditadas para a China e a serem julgadas lá. É uma situação que espero que venha a ser bem resolvida, mas que demonstrou algumas fragilidades”, acrescentou.

Garcia Leandro defendeu também que há o risco de a China enfrentar resistências na hora de negociar de forma bilateral ou multilateral com os países, mas que o projecto “Uma Faixa, Uma Rota”, na sua essência, “não se vai alterar”.

No entanto, “é preciso ter cuidado com a situação e os estatutos, porque as pessoas e as empresas que estão nas regiões administrativas especiais têm estatutos registados para um período de 50 anos, com um quadro jurídico local e a independência dos tribunais. A reacção da população de Hong Kong, que foi muito grande, tem a ver com uma habituação da população a um determinado sistema que seria alterado (com a lei da extradição), criando uma perda de confiança de que a China não poderia beneficiar”.

Sobre as questões de cibersegurança na China, Garcia Leandro chegou a defender ao HM que “não [devem tirar o sono às pessoas]”, por serem “questões que resultam da ciberguerra e das necessidades cibersegurança, que actualmente acontecem em todo o lado”.

“A China percebe que não lhe vão fazer uma guerra, porque tem uma grande massa crítica para aguentar, mas pode ter intervenções do exterior através da via digital para tentaram destruir alguma coisa por dentro. É evidente que Hong Kong é um sítio fácil para essas pretensões e Macau acaba por ser arrastado”, acrescentou.

A herança portuguesa

Quanto à RAEM, Garcia Leandro referiu que “as autoridades chinesas de Macau têm demonstrado uma grande capacidade de compreensão na relação com a história portuguesa e a herança portuguesa, as associações e instituições portuguesas”.

Garcia Leandro fundamentou a sua opinião sobre a situação de Macau com o que viu em sucessivas visitas que fez à RAEM nos últimos anos (2011, 2018 e 2019).

“Visitei tudo e nunca vi aquelas associações, instituições tão bem tratadas como agora”, constatou.
“Interessa a Pequim que o caso de Macau seja um sucesso” e o novo Chefe do Executivo, que toma posse esta semana, Ho Iat Seng, e os membros do seu Governo são “um sinal de grande esperança na manutenção desta linha de comportamento”, considerou.

O general, de 79 anos, destacou ainda a visita do Presidente da China e líder do Partido Comunista Chinês, Xi Jinping, “a Macau para as comemorações” dos 20 anos da RAEM.

A agência noticiosa oficial Xinhua confirmou a visita de Xi Jinping a Macau entre 18 e 20 de Dezembro, para participar nas comemorações e na cerimónia de inauguração do quinto Governo da RAEM.

Integrar as comunidades

Na mesma entrevista, o general Garcia Leandro afirmou que o território “tem quatro comunidades etnicamente, socialmente e culturalmente diferentes”.

“São os macaenses, ou seja, os portugueses de Macau, são os portugueses da Europa, são os chineses de Macau e são os chineses do continente. O que interessava era criar uma identidade própria com esta gente toda”, declarou.

Segundo o general, já existe entendimento entre os chineses de Macau e os portugueses de Macau: “Existe entendimento, sempre viveram ali em conjunto”. Já quanto aos chineses que vêm do continente, “têm vivido num mundo fechado” e têm “alguma incompreensão” em perceber a realidade de Macau.

“Eles não têm, como os chineses de Macau, um conhecimento do passado histórico, da relação social que havia, porque há muitos casamentos mistos e muitas ligações, mesmo sem ser através do casamento, há muitas ligações mistas”, notou.

Relativamente a Portugal, o general destacou que a China tomou nos últimos tempos “atitudes muito significativas”.

Uma foi ter proposto em 2005 que o centro histórico de Macau fosse classificado património mundial da humanidade pela UNESCO, o que aconteceu em 2006. Outra, em 2003, foi a criação do Fórum Macau e, em 2005, a parceria estratégica com Portugal.

“O Fórum Macau é [no fundo] as relações da China com os países de língua portuguesa que têm como base Macau. E ali existe um representante de cada um dos países, tipo cônsul ou embaixador que está ali a trabalhar, além de fazer encontros de advogados, de empresários, de estudantes”, descreveu. Portanto, “esta relação com a China nunca deve ser desperdiçada”, defendeu.

“Deve ser aproveitada sabendo nós defender os nossos interesses, porque os chineses também defendem os seus interesses e a relação connosco é não só histórica, mas também é uma relação de interesses, também nos países de língua portuguesa como é evidente”, disse.

18 Dez 2019

Macau/20 anos | Produção literária portuguesa sobre Macau é actualmente escassa

[dropcap]A[/dropcap] produção literária em língua portuguesa sobre Macau é actualmente escassa, apesar de este ser um “território fértil” para narrativas, afirma Hélder Beja, director da agência literária Capítulo Oriental, que quer apostar no reforço da literatura portuguesa neste mercado.

“Não há, de facto, uma grande produção literária em língua portuguesa sobre Macau, mas existe e tem momentos de interesse”, disse em entrevista à Lusa um dos fundadores do Festival Literário de Macau Rota das Letras, explicando essa reduzida produção literária com a “dimensão e características profissionais da comunidade portuguesa” residente.

O português, radicado em Macau desde 2010, considera que não foi a transferência de administração de Macau de Portugal para a China (em Dezembro de 1999) que contribuiu “para a perda de um qualquer imaginário para o qual Macau possa remeter”.

“Não me parece que haja uma fórmula ou um motivo para explicar esses ciclos”, afirmou, reportando-se a anos em que a literatura portuguesa era mais profícua em romances inspirados e ambientados em Macau, aspecto para o qual contribuíram autores como João Aguiar, Camilo Pessanha ou Maria Ondina Braga.

Actualmente à frente de uma agência literária e selo editorial que lançou em Março deste ano, Hélder Beja está apostado em reverter um pouco este cenário, e quer traduzir e publicar no mercado literário macaense alguns livros de autores portugueses, da mesma forma que está a trabalhar com autores locais para publicar novas obras.

“Editámos um livro de um autor açoriano a viver em Macau, Luís Melo, com o título ‘A Humidade dos Dias’. Conseguimos também este ano receber apoios da DGLAB [Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas] e do Instituto Camões para a tradução para chinês das obras ‘O Mal’, de Paulo José Miranda, e ‘O Segredo do Hidroavião’, de Fernando Sobral”.

Hélder Beja planeia conseguir publicar estes livros em Macau em 2020, juntamente com “Camões e Outros Contemporâneos”, de Hélder Macedo, embora a viabilização destes três livros dependa agora também “da vontade das instituições em Macau em apoiar estas iniciativas”.

Ontem, hoje e amanhã

Nos 20 anos que medeiam a fim da administração portuguesa e a administração chinesa o intercâmbio literário e de autores entre Portugal e Macau tem-se mantido, em grande parte, graças ao festival literário que Hélder Beja fundou.

“O Festival Literário de Macau foi, de longe, o que de mais importante se fez no que toca a intercâmbios literários em Macau, não só entre os países de língua portuguesa e a China, mas entre a Ásia e os países ocidentais”.

A título de exemplo recorda que os governos português e chinês fizeram já duas edições de um encontro literário e da indústria do livro entre Portugal e a China, um em cada país.

“Julgo que é uma boa iniciativa, mas pode e deve ser melhorada – e não deve ignorar Macau, como tem feito”, alerta, destacando ainda o “valioso trabalho de edição” levado a cabo em Macau por alguns agentes locais.
Hélder Beja abandonou o festival literário em 2018, ao fim de seis edições, devido “às pressões políticas que levaram ao cancelamento da presença de vários autores no festival”.

Desses anos, de “crescimento incrível apesar dos apoios limitados”, ficou a “experiência tremenda” de dirigir um festival “que comunicou sempre em chinês, português e inglês”, numa “cidade fascinante, repleta de histórias e, ao mesmo tempo, tão afastada delas”.

A partir dessa experiência, fala sobre as influências da presença portuguesa em Macau na literatura que perduram até hoje, e chama a atenção para o facto de “uma boa franja da actual comunidade portuguesa em Macau não olhar apenas para esse legado e essa presença dos portugueses em Macau, mas também para a cidade de hoje e de amanhã”, interessando-se por uma literatura que pense a população actual e o que a rodeia.

“Não se trata de desprezar a história ou o passado, que me são muito caros, mas de não ter grande paciência para mais um conto de caravelas e aventureiros de época”, afirma.

No entanto, reconhece que os sinais da cultura portuguesa não se alteraram nestes anos e “a história, a cultura, a gastronomia, a arquitectura, a língua, estes elementos, continuam presentes e não são menos considerados hoje do que há dez anos”, quando se mudou para Macau.

“Há uma parte cristalizada da comunidade portuguesa que, no seu atavismo, persistirá por muito e muito tempo. E há outra, mais dinâmica, desempoeirada e efervescente que está a aprender a encontrar o seu espaço, já não com um enfoque tão fechado na chamada ‘portugalidade’, mas integrando-se numa mole de gente que fala diferentes idiomas, circula entre culturas e aceita a diferença”.

16 Dez 2019

Macau/20 anos | Produção literária portuguesa sobre Macau é actualmente escassa

[dropcap]A[/dropcap] produção literária em língua portuguesa sobre Macau é actualmente escassa, apesar de este ser um “território fértil” para narrativas, afirma Hélder Beja, director da agência literária Capítulo Oriental, que quer apostar no reforço da literatura portuguesa neste mercado.
“Não há, de facto, uma grande produção literária em língua portuguesa sobre Macau, mas existe e tem momentos de interesse”, disse em entrevista à Lusa um dos fundadores do Festival Literário de Macau Rota das Letras, explicando essa reduzida produção literária com a “dimensão e características profissionais da comunidade portuguesa” residente.
O português, radicado em Macau desde 2010, considera que não foi a transferência de administração de Macau de Portugal para a China (em Dezembro de 1999) que contribuiu “para a perda de um qualquer imaginário para o qual Macau possa remeter”.
“Não me parece que haja uma fórmula ou um motivo para explicar esses ciclos”, afirmou, reportando-se a anos em que a literatura portuguesa era mais profícua em romances inspirados e ambientados em Macau, aspecto para o qual contribuíram autores como João Aguiar, Camilo Pessanha ou Maria Ondina Braga.
Actualmente à frente de uma agência literária e selo editorial que lançou em Março deste ano, Hélder Beja está apostado em reverter um pouco este cenário, e quer traduzir e publicar no mercado literário macaense alguns livros de autores portugueses, da mesma forma que está a trabalhar com autores locais para publicar novas obras.
“Editámos um livro de um autor açoriano a viver em Macau, Luís Melo, com o título ‘A Humidade dos Dias’. Conseguimos também este ano receber apoios da DGLAB [Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas] e do Instituto Camões para a tradução para chinês das obras ‘O Mal’, de Paulo José Miranda, e ‘O Segredo do Hidroavião’, de Fernando Sobral”.
Hélder Beja planeia conseguir publicar estes livros em Macau em 2020, juntamente com “Camões e Outros Contemporâneos”, de Hélder Macedo, embora a viabilização destes três livros dependa agora também “da vontade das instituições em Macau em apoiar estas iniciativas”.

Ontem, hoje e amanhã

Nos 20 anos que medeiam a fim da administração portuguesa e a administração chinesa o intercâmbio literário e de autores entre Portugal e Macau tem-se mantido, em grande parte, graças ao festival literário que Hélder Beja fundou.
“O Festival Literário de Macau foi, de longe, o que de mais importante se fez no que toca a intercâmbios literários em Macau, não só entre os países de língua portuguesa e a China, mas entre a Ásia e os países ocidentais”.
A título de exemplo recorda que os governos português e chinês fizeram já duas edições de um encontro literário e da indústria do livro entre Portugal e a China, um em cada país.
“Julgo que é uma boa iniciativa, mas pode e deve ser melhorada – e não deve ignorar Macau, como tem feito”, alerta, destacando ainda o “valioso trabalho de edição” levado a cabo em Macau por alguns agentes locais.
Hélder Beja abandonou o festival literário em 2018, ao fim de seis edições, devido “às pressões políticas que levaram ao cancelamento da presença de vários autores no festival”.
Desses anos, de “crescimento incrível apesar dos apoios limitados”, ficou a “experiência tremenda” de dirigir um festival “que comunicou sempre em chinês, português e inglês”, numa “cidade fascinante, repleta de histórias e, ao mesmo tempo, tão afastada delas”.
A partir dessa experiência, fala sobre as influências da presença portuguesa em Macau na literatura que perduram até hoje, e chama a atenção para o facto de “uma boa franja da actual comunidade portuguesa em Macau não olhar apenas para esse legado e essa presença dos portugueses em Macau, mas também para a cidade de hoje e de amanhã”, interessando-se por uma literatura que pense a população actual e o que a rodeia.
“Não se trata de desprezar a história ou o passado, que me são muito caros, mas de não ter grande paciência para mais um conto de caravelas e aventureiros de época”, afirma.
No entanto, reconhece que os sinais da cultura portuguesa não se alteraram nestes anos e “a história, a cultura, a gastronomia, a arquitectura, a língua, estes elementos, continuam presentes e não são menos considerados hoje do que há dez anos”, quando se mudou para Macau.
“Há uma parte cristalizada da comunidade portuguesa que, no seu atavismo, persistirá por muito e muito tempo. E há outra, mais dinâmica, desempoeirada e efervescente que está a aprender a encontrar o seu espaço, já não com um enfoque tão fechado na chamada ‘portugalidade’, mas integrando-se numa mole de gente que fala diferentes idiomas, circula entre culturas e aceita a diferença”.

16 Dez 2019

Rocha Vieira: "Tive mais problemas com a parte portuguesa do que com a chinesa"

O último Governador português em Macau recorda que teve, durante as funções, mais problemas com a parte portuguesa do que com a chinesa, mas salientou que o “rumo” a definir para a transição contou com uma “grande compreensão” do poder de então em Portugal. Quanto ao futuro de Macau, Rocha Vieira espera que mantenha a sua identidade

[dropcap]T[/dropcap]ive mais problemas com a parte portuguesa do que com a parte chinesa (…) muitas vezes, por falta de percepção. Normalmente, as pessoas estão longe, em Lisboa – isso é uma coisa histórica, que não é só de agora – e acham que sabem melhor as soluções do que aqueles que estão em Macau”, afirmou Vasco Rocha Vieira, numa entrevista à Lusa a propósito do 20.º aniversário da transição da administração do território para a China.
Porém, assegurou que quando foi necessário definir “o rumo, os objectivos fundamentais das políticas para Macau, foram discutidos pelo Governo de Macau, em Lisboa, com quem deviam ser discutidos, com o Presidente da República e com o primeiro-ministro” e houve “sempre” sobre isso “uma grande compreensão por parte dos órgãos de soberania portugueses e uma grande prova de confiança em relação a quem estava no território”.
“Isso foi fundamental” para que todo o processo de transição de Macau para China “corresse bem”. Nos primeiros anos “em que era preciso saber o que é que se queria, marcar objectivos e ter confiança em quem lá estava (…) isso aconteceu”, sublinhou.
Quando questionado sobre a relação com o Presidente Jorge Sampaio, de quem são conhecidas algumas críticas a Rocha Vieira, o general limitou-se a dizer: “foi aquela que tinha de ser e que o Presidente da República entendia que devia ser”. “Nunca tive nas minhas funções problemas institucionais, porque nunca pessoalizei as coisas”, concluiu.
Da sua parte, enquanto governador de Macau, assegura que “houve sempre a assunção das responsabilidades”. “De acordo com o meu papel, as minhas funções e para aquilo que fui nomeado e quando se é assim não se tem problemas”, disse.

FOTO: Mário Cruz | LUSA

Rocha Vieira explicou que foi nomeado para o cargo de governador de Macau pelo Presidente Mário Soares, na altura em que o primeiro-ministro era o professor Cavaco Silva. “Quero dizer que [a relação] correu de uma forma exemplar. Vinha a Lisboa, punha os pontos, o Presidente da República perguntava-me se queria que falasse com o primeiro-ministro por qualquer problema”, especificou. E continuou: “falava com ele, apreendia da parte dele quais eram as preocupações do Dr. Mário Soares. Tinha reuniões alongadas com o professor Cavaco Silva e as coisas ficavam sempre esclarecidas”. “Nunca houve nenhum conflito”, garantiu, realçando que “as grandes linhas de orientação da administração portuguesa em Macau foram definidas nessa altura”. “Portanto quando, depois, mudou o Presidente da República (…) não houve grande problema” afirmou.

Asfaltar a estrada

Na época, tudo quanto “era importante em toda a área de códigos, legislação do que quer que seja, dos funcionários públicos, tudo isso estava resolvido, ou no caminho já decidido”.
Na ocasião, o que estava a ser definido era como minorar a dependência de Macau de Hong Kong, transferindo-a mais para o Interior da China, para a zona de Cantão. E “isso não é uma subordinação em relação à China. É defender os interesses de Macau. E isso foi compreendido pela parte chinesa, e as coisas correram bastante bem”, referiu.
Rocha Vieira recordou que havia uma preocupação na altura, com o facto de a transição de Hong Kong terminar antes, em 1997, portanto dois anos e meio antes da transferência de Macau, e não se saber o que aconteceria, inclusivamente no panorama internacional, porque muitas coisas estavam a mudar.
Foi na década de 1990 que houve o desmembramento da União Soviética, que começou o grande crescimento da China e a crise financeira asiática, pelo que o propósito da administração portuguesa de Macau foi “ter as coisas resolvidas antes do processo de transição de Hong Kong terminar”. “E conseguimos isso”, referiu.
A experiência de Hong Kong também não trazia ensinamentos ao território: “Não podíamos, porque Hong Kong e Macau são realidades completamente diferentes”, considerou. Desde logo pela escala de Hong Kong e depois pela maneira como as administrações procederam, explicou.
Além disso, “Hong Kong, quando começou o processo de transição tinha tudo localizado, os quadros eram bilingues (…), tinham todos os tribunais, tinham universidades, tinham escolas, tinha os códigos. Macau não tinha”, frisou.
A falta de investimento da metrópole nas periferias ao longo dos séculos foi particularmente sentida no território: “Macau foi deixado muito longe”.
Por outro lado, a China esteve muito tempo fechada ao exterior, pelo que era curto o aproveitamento de Macau ou do papel que poderia desempenhar na zona e nas ligações regionais. Por isso, a percepção desse novo papel de Macau só “passou a existir a partir do momento em que a China começou a abrir-se ao exterior e a ter uma preponderância muito grande como potência cada vez mais global”.

Individualidade preservada

“Passados 20 anos, aquilo que acho (..) mais importante é ver que há uma continuidade em relação àquilo que foi a política portuguesa durante a sua administração. Porque aquilo que se fez tinha sempre como interesse e como propósito a continuidade e o futuro”, de Macau, afirmou Vasco Rocha Vieira.
O ex-governador, sublinhou que a parte portuguesa nunca achou que a transferência da administração fosse “o fechar de uma porta”. Nem que ali acabava “a nossa relação com Macau ou as nossas responsabilidades”. Pelo contrário, entendeu, “sempre”, que “era um novo ciclo que se iniciava”. E esse ciclo “iniciou-se”, defendeu.
No novo contexto, “a identidade é o mais importante para Macau”, defendeu, porque naquele território existe “uma situação perfeitamente original e única no mundo. Ali existe um entendimento entre culturas, que se respeitam. Não é uma mistura de culturas, como em muitos outros sítios”. As duas culturas, a portuguesa e a chinesa, muito diferentes, é que formam “essa identidade de respeito e de trabalho mútuo, de prevalência relativamente às dificuldades e aos problemas que aparecem”, sublinhou.
A diferença pode ser assumida num aspecto de complementaridade ou de antagonismo, referiu, mas “em Macau sempre houve a complementaridade (…) e é um exemplo muito grande, até para outras situações no mundo, de como devem ser as relações”.
No caminho da transição, destacou o trabalho feito pela administração portuguesa, “para que o segundo sistema, prometido a Macau, fosse uma realidade”, mas também a posição da China, que “tem cumprido aquilo que nós também cumprimos na Declaração Conjunta, fazendo com que Macau permaneça no segundo sistema, com as liberdades, as garantias, códigos de matriz portuguesa que deixamos, e que são no fundo a maneira de gerir a relação das sociedades”.
O propósito “era convergente”, e consistia em “respeitar aquilo que ficou combinado e acordado na declaração conjunta, que foi um país dois sistemas, com Macau pertencendo ao segundo sistema e com essa identidade (…), de respeito de culturas”. Por isso, “há problemas que estão noutros sítios, como Hong Kong, que não são vistos da mesma maneira em Macau”, assegurando que ali estão salvaguardados os direitos dos cidadãos chineses que vivem no território. “O Tribunal de Última Instância está em Macau. Portanto, tudo aquilo que se passa, como crimes ou outros aspectos, que têm de ser julgados e apreciados, passa-se em Macau”, afirmou.
Quando questionado se Pequim pode pedir a extradição de pessoas que queira ver julgadas de acordo com o regime chinês, responde: “Não, não vejo porque há de pedir.”
No tempo da administração portuguesa, recordou que “os cidadãos que eram extraditados – de acordo com garantias que a China dava de que não havia pena de morte nem prisão perpétua – eram cidadãos chineses da China que se resguardavam em Macau e que vinham fugidos”. “Isso é completamente diferente em relação aos cidadãos de Macau, sejam chineses ou portugueses”, afirmou.

Poder do yuan

“É importante que haja investimento em Portugal. Agora, grande parte do investimento que tem sido feito [no país], nomeadamente o chinês, resulta muito das fragilidades que temos tido”, considerou Vasco Rocha Vieira.
Para o ex-governador, a sobreviver a uma crise económica que obrigou o país a recorrer à ajuda externa (‘troika’), “Portugal não teve, nessa altura, o espaço de manobra suficiente para poder definir também o que é que queria em contrapartida”. “O contexto da nossa fragilidade, do ponto de vista financeiro, obstou a muitas coisas”, referiu.
Naquela altura “a razão principal, não a única” que terá levado o país a negociar a estes investimentos, foi “minorar a dívida, conseguir melhorar o défice, conseguir que a situação difícil, do ponto de vista financeiro, melhorasse”.
Esse objectivo era necessário referiu Rocha Vieira, mas “é pontual. De curtíssimo prazo” e “o investimento chinês deve ser visto no longo prazo”, afirmou.
Além disso, na opinião do ex-governador de Macau, investimentos da China, devem ser também entendidos como investimento do Estado chinês. “Grande parte do investimento chinês, vem de empresas do Estado. O Estado tem o capital. E, portanto, o Estado chinês não faz as coisas por acaso. Tem objectivos”, sublinhou na entrevista à Lusa, a propósito do 20.º aniversário da transição da administração do território de Macau de Portugal para a China, que se celebra no próximo dia 20.
“O Estado chinês tem muitos objectivos, tem objectivos de aprender com os outros, de conseguir áreas fundamentais que lhe interessam para o seu desenvolvimento e para a sua presença no mundo em expansão, como seja o caso da energia, ou dos seguros, ou da saúde, onde estão, ou da própria banca. Tem esses objectivos”, enumerou o também general do exército português.
Por isso, defendeu que “em qualquer dos casos (…) se deve acautelar, o volume, as áreas desse investimento e fazê-lo de uma forma em que haja contrapartidas, e em que os nossos interesses se conjuguem com os interesses dos chineses”.

Visão de jogo

Para Rocha Vieira, Portugal pode “beneficiar do grande crescimento da China”, quer pela relação que teve com Macau, e com aquele país em geral, quer porque em Macau continuam a viver portugueses, com “a nossa memória e o nosso conhecimento”.
Lembra, porém, que no momento em que se deu o processo de transição de Macau para a China, “Portugal estava mais preocupado com África e em restabelecer as relações que tinha tido, e que com o processo de descolonização se alteraram um pouco”. E, naquele contexto, “Macau era a segunda prioridade (…) e não houve a percepção de que a China ia ter este desenvolvimento”.
Rocha Vieira conta que quando Deng Xiaoping fez uma visita de Estado à província de Cantão, em 1992, “estava a dar um grande sinal ao mundo de que ali ia ser o grande polo de desenvolvimento” do país. “De Macau dissemos isso para Lisboa, mas Lisboa estava preocupada com outras coisas, o que é compreensível”, referiu o antigo governador.
O ex-governador também lembrou que, durante o tempo da administração portuguesa havia muitas empresas portuguesas em Macau, às quais se dizia para que criassem laços e parcerias chinesas, para ficarem depois da transição. Mas muitas não o fizeram. Hoje “temos de aprender com os erros e não desperdiçar oportunidades”, disse.
Em relação a Macau, quando questionado sobre o que ainda podemos fazer no território nos próximos 30 anos que nos restam de período de transição, Rocha Vieira salientou que “importa que [o território] não seja descaracterizado”. “É uma opinião minha e não são sugestões, mas haver uma grande integração de pessoas da China em Macau – que já tem uma densidade imensa – tem que ser feita de maneira a que essa identidade não se perca”, afirmou.

16 Dez 2019

Rocha Vieira: “Tive mais problemas com a parte portuguesa do que com a chinesa”

O último Governador português em Macau recorda que teve, durante as funções, mais problemas com a parte portuguesa do que com a chinesa, mas salientou que o “rumo” a definir para a transição contou com uma “grande compreensão” do poder de então em Portugal. Quanto ao futuro de Macau, Rocha Vieira espera que mantenha a sua identidade

[dropcap]T[/dropcap]ive mais problemas com a parte portuguesa do que com a parte chinesa (…) muitas vezes, por falta de percepção. Normalmente, as pessoas estão longe, em Lisboa – isso é uma coisa histórica, que não é só de agora – e acham que sabem melhor as soluções do que aqueles que estão em Macau”, afirmou Vasco Rocha Vieira, numa entrevista à Lusa a propósito do 20.º aniversário da transição da administração do território para a China.

Porém, assegurou que quando foi necessário definir “o rumo, os objectivos fundamentais das políticas para Macau, foram discutidos pelo Governo de Macau, em Lisboa, com quem deviam ser discutidos, com o Presidente da República e com o primeiro-ministro” e houve “sempre” sobre isso “uma grande compreensão por parte dos órgãos de soberania portugueses e uma grande prova de confiança em relação a quem estava no território”.

“Isso foi fundamental” para que todo o processo de transição de Macau para China “corresse bem”. Nos primeiros anos “em que era preciso saber o que é que se queria, marcar objectivos e ter confiança em quem lá estava (…) isso aconteceu”, sublinhou.

Quando questionado sobre a relação com o Presidente Jorge Sampaio, de quem são conhecidas algumas críticas a Rocha Vieira, o general limitou-se a dizer: “foi aquela que tinha de ser e que o Presidente da República entendia que devia ser”. “Nunca tive nas minhas funções problemas institucionais, porque nunca pessoalizei as coisas”, concluiu.

Da sua parte, enquanto governador de Macau, assegura que “houve sempre a assunção das responsabilidades”. “De acordo com o meu papel, as minhas funções e para aquilo que fui nomeado e quando se é assim não se tem problemas”, disse.

FOTO: Mário Cruz | LUSA

Rocha Vieira explicou que foi nomeado para o cargo de governador de Macau pelo Presidente Mário Soares, na altura em que o primeiro-ministro era o professor Cavaco Silva. “Quero dizer que [a relação] correu de uma forma exemplar. Vinha a Lisboa, punha os pontos, o Presidente da República perguntava-me se queria que falasse com o primeiro-ministro por qualquer problema”, especificou. E continuou: “falava com ele, apreendia da parte dele quais eram as preocupações do Dr. Mário Soares. Tinha reuniões alongadas com o professor Cavaco Silva e as coisas ficavam sempre esclarecidas”. “Nunca houve nenhum conflito”, garantiu, realçando que “as grandes linhas de orientação da administração portuguesa em Macau foram definidas nessa altura”. “Portanto quando, depois, mudou o Presidente da República (…) não houve grande problema” afirmou.

Asfaltar a estrada

Na época, tudo quanto “era importante em toda a área de códigos, legislação do que quer que seja, dos funcionários públicos, tudo isso estava resolvido, ou no caminho já decidido”.

Na ocasião, o que estava a ser definido era como minorar a dependência de Macau de Hong Kong, transferindo-a mais para o Interior da China, para a zona de Cantão. E “isso não é uma subordinação em relação à China. É defender os interesses de Macau. E isso foi compreendido pela parte chinesa, e as coisas correram bastante bem”, referiu.

Rocha Vieira recordou que havia uma preocupação na altura, com o facto de a transição de Hong Kong terminar antes, em 1997, portanto dois anos e meio antes da transferência de Macau, e não se saber o que aconteceria, inclusivamente no panorama internacional, porque muitas coisas estavam a mudar.

Foi na década de 1990 que houve o desmembramento da União Soviética, que começou o grande crescimento da China e a crise financeira asiática, pelo que o propósito da administração portuguesa de Macau foi “ter as coisas resolvidas antes do processo de transição de Hong Kong terminar”. “E conseguimos isso”, referiu.

A experiência de Hong Kong também não trazia ensinamentos ao território: “Não podíamos, porque Hong Kong e Macau são realidades completamente diferentes”, considerou. Desde logo pela escala de Hong Kong e depois pela maneira como as administrações procederam, explicou.

Além disso, “Hong Kong, quando começou o processo de transição tinha tudo localizado, os quadros eram bilingues (…), tinham todos os tribunais, tinham universidades, tinham escolas, tinha os códigos. Macau não tinha”, frisou.

A falta de investimento da metrópole nas periferias ao longo dos séculos foi particularmente sentida no território: “Macau foi deixado muito longe”.

Por outro lado, a China esteve muito tempo fechada ao exterior, pelo que era curto o aproveitamento de Macau ou do papel que poderia desempenhar na zona e nas ligações regionais. Por isso, a percepção desse novo papel de Macau só “passou a existir a partir do momento em que a China começou a abrir-se ao exterior e a ter uma preponderância muito grande como potência cada vez mais global”.

Individualidade preservada

“Passados 20 anos, aquilo que acho (..) mais importante é ver que há uma continuidade em relação àquilo que foi a política portuguesa durante a sua administração. Porque aquilo que se fez tinha sempre como interesse e como propósito a continuidade e o futuro”, de Macau, afirmou Vasco Rocha Vieira.

O ex-governador, sublinhou que a parte portuguesa nunca achou que a transferência da administração fosse “o fechar de uma porta”. Nem que ali acabava “a nossa relação com Macau ou as nossas responsabilidades”. Pelo contrário, entendeu, “sempre”, que “era um novo ciclo que se iniciava”. E esse ciclo “iniciou-se”, defendeu.

No novo contexto, “a identidade é o mais importante para Macau”, defendeu, porque naquele território existe “uma situação perfeitamente original e única no mundo. Ali existe um entendimento entre culturas, que se respeitam. Não é uma mistura de culturas, como em muitos outros sítios”. As duas culturas, a portuguesa e a chinesa, muito diferentes, é que formam “essa identidade de respeito e de trabalho mútuo, de prevalência relativamente às dificuldades e aos problemas que aparecem”, sublinhou.

A diferença pode ser assumida num aspecto de complementaridade ou de antagonismo, referiu, mas “em Macau sempre houve a complementaridade (…) e é um exemplo muito grande, até para outras situações no mundo, de como devem ser as relações”.

No caminho da transição, destacou o trabalho feito pela administração portuguesa, “para que o segundo sistema, prometido a Macau, fosse uma realidade”, mas também a posição da China, que “tem cumprido aquilo que nós também cumprimos na Declaração Conjunta, fazendo com que Macau permaneça no segundo sistema, com as liberdades, as garantias, códigos de matriz portuguesa que deixamos, e que são no fundo a maneira de gerir a relação das sociedades”.

O propósito “era convergente”, e consistia em “respeitar aquilo que ficou combinado e acordado na declaração conjunta, que foi um país dois sistemas, com Macau pertencendo ao segundo sistema e com essa identidade (…), de respeito de culturas”. Por isso, “há problemas que estão noutros sítios, como Hong Kong, que não são vistos da mesma maneira em Macau”, assegurando que ali estão salvaguardados os direitos dos cidadãos chineses que vivem no território. “O Tribunal de Última Instância está em Macau. Portanto, tudo aquilo que se passa, como crimes ou outros aspectos, que têm de ser julgados e apreciados, passa-se em Macau”, afirmou.

Quando questionado se Pequim pode pedir a extradição de pessoas que queira ver julgadas de acordo com o regime chinês, responde: “Não, não vejo porque há de pedir.”

No tempo da administração portuguesa, recordou que “os cidadãos que eram extraditados – de acordo com garantias que a China dava de que não havia pena de morte nem prisão perpétua – eram cidadãos chineses da China que se resguardavam em Macau e que vinham fugidos”. “Isso é completamente diferente em relação aos cidadãos de Macau, sejam chineses ou portugueses”, afirmou.

Poder do yuan

“É importante que haja investimento em Portugal. Agora, grande parte do investimento que tem sido feito [no país], nomeadamente o chinês, resulta muito das fragilidades que temos tido”, considerou Vasco Rocha Vieira.

Para o ex-governador, a sobreviver a uma crise económica que obrigou o país a recorrer à ajuda externa (‘troika’), “Portugal não teve, nessa altura, o espaço de manobra suficiente para poder definir também o que é que queria em contrapartida”. “O contexto da nossa fragilidade, do ponto de vista financeiro, obstou a muitas coisas”, referiu.

Naquela altura “a razão principal, não a única” que terá levado o país a negociar a estes investimentos, foi “minorar a dívida, conseguir melhorar o défice, conseguir que a situação difícil, do ponto de vista financeiro, melhorasse”.

Esse objectivo era necessário referiu Rocha Vieira, mas “é pontual. De curtíssimo prazo” e “o investimento chinês deve ser visto no longo prazo”, afirmou.

Além disso, na opinião do ex-governador de Macau, investimentos da China, devem ser também entendidos como investimento do Estado chinês. “Grande parte do investimento chinês, vem de empresas do Estado. O Estado tem o capital. E, portanto, o Estado chinês não faz as coisas por acaso. Tem objectivos”, sublinhou na entrevista à Lusa, a propósito do 20.º aniversário da transição da administração do território de Macau de Portugal para a China, que se celebra no próximo dia 20.

“O Estado chinês tem muitos objectivos, tem objectivos de aprender com os outros, de conseguir áreas fundamentais que lhe interessam para o seu desenvolvimento e para a sua presença no mundo em expansão, como seja o caso da energia, ou dos seguros, ou da saúde, onde estão, ou da própria banca. Tem esses objectivos”, enumerou o também general do exército português.

Por isso, defendeu que “em qualquer dos casos (…) se deve acautelar, o volume, as áreas desse investimento e fazê-lo de uma forma em que haja contrapartidas, e em que os nossos interesses se conjuguem com os interesses dos chineses”.

Visão de jogo

Para Rocha Vieira, Portugal pode “beneficiar do grande crescimento da China”, quer pela relação que teve com Macau, e com aquele país em geral, quer porque em Macau continuam a viver portugueses, com “a nossa memória e o nosso conhecimento”.

Lembra, porém, que no momento em que se deu o processo de transição de Macau para a China, “Portugal estava mais preocupado com África e em restabelecer as relações que tinha tido, e que com o processo de descolonização se alteraram um pouco”. E, naquele contexto, “Macau era a segunda prioridade (…) e não houve a percepção de que a China ia ter este desenvolvimento”.

Rocha Vieira conta que quando Deng Xiaoping fez uma visita de Estado à província de Cantão, em 1992, “estava a dar um grande sinal ao mundo de que ali ia ser o grande polo de desenvolvimento” do país. “De Macau dissemos isso para Lisboa, mas Lisboa estava preocupada com outras coisas, o que é compreensível”, referiu o antigo governador.

O ex-governador também lembrou que, durante o tempo da administração portuguesa havia muitas empresas portuguesas em Macau, às quais se dizia para que criassem laços e parcerias chinesas, para ficarem depois da transição. Mas muitas não o fizeram. Hoje “temos de aprender com os erros e não desperdiçar oportunidades”, disse.

Em relação a Macau, quando questionado sobre o que ainda podemos fazer no território nos próximos 30 anos que nos restam de período de transição, Rocha Vieira salientou que “importa que [o território] não seja descaracterizado”. “É uma opinião minha e não são sugestões, mas haver uma grande integração de pessoas da China em Macau – que já tem uma densidade imensa – tem que ser feita de maneira a que essa identidade não se perca”, afirmou.

16 Dez 2019

O balanço

[dropcap]20[/dropcap] anos é tempo de balanço e isso é uma chatice. E, na verdade, é uma chatice porque os balanços são chatos. E são chatos porque repetem aquilo que já sabemos, em geral de cor e refogado. Por isso, durante este mês de Dezembro vamos ter de levar com dezenas, centenas, uma miríade de balanços. Da economia, da política, da cultura, do direito, do torto e do coxinho. Enfim, uma seca. Mas o que fazer senão balançar? Afinal, a vida por aqui parece muitas vezes vivida na corda bamba, registo de equilibrismo quase sobrenatural. E sem rede. Ainda assim balancemos. Deixemos pois balançar as ideias, os gostos e os desejos. E do balancete fazer futuro porque a História só interessa quando nos indica o caminho ou nos diz para não ir por ali.

Neste caso concreto da RAEM são-nos vendidos relatórios que roçam o maravilhoso, sobretudo reclinados na superabundância de maravedis. Ora casa onde há pão, quem manda é quem tem razão. Portanto, não há crítica que se valha, nem piada que se incruste. Tudo embate e se desfaz num altíssimo muro de patacas, agora que da árvore se passou para a produção industrial. Claro que o crescimento tem problemas. Quando é desordenado, provoca dores. Tomaram, no entanto, todos os povos sofrerem destas constipações, destes resfriados, vá lá, desta ciática. Balance-se lá para onde for, enquanto forem aproveitadas as extraordinárias potencialidades de Macau não há mal que pr’áqui venha, nem peste que nos atinja. Por isso, balancemos sem temor. Isto apesar de, 20 anos depois, tu ainda não me teres mostrado a tua colecção.

13 Dez 2019

RAEM 20 anos | Analistas desvalorizam ausência de Costa e Marcelo nas cerimónias

A presidente da Casa de Portugal acha normal que o Presidente da República e o primeiro-ministro português não tenham sido convidados para as celebrações dos 20 anos do estabelecimento da RAEM. Pereira Coutinho considera que ambos os representantes dariam um brilho extra à ocasião, mas afirma que as relações entre Portugal e China continuam sólidas. Por fim, o cônsul-geral recusa comentar a situação

 
[dropcap]A[/dropcap] política e as relações diplomáticas são mesmo assim. No passado dia 1 de Maio, Marcelo Rebelo de Sousa admitiu em Macau a hipótese de voltar no final do ano, para as celebrações do 20.º aniversário da transição da administração do território de Portugal para a China. Muito ao seu jeito, o Presidente da República falou de forma emocionada, depois de uma visita de um dia a Macau. Passados uns meses, tornou-se evidente que na eventualidade de Portugal marcar presença oficial no dia que celebra os 20 anos do estabelecimento da RAEM esta presença seria na pessoa do primeiro-ministro António Costa.
Porém, ontem o jornal Ponto Final revelou que António Costa não marcará presença nas cerimónias, informação confirmada oficialmente pelo gabinete do próprio primeiro-ministro. A confirmação foi dada dias depois de a Presidência da República também ter avançado que Marcelo Rebelo de Sousa não viria a Macau.
Segundo o Ponto Final, os dois governantes portugueses não foram convidados. Aliás, Portugal não recebeu qualquer convite para enviar um representante.
Como tal, Paulo Cunha Alves, o cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, será o representante do Estado português. Uma situação que se repetiu aquando da celebração dos 10 anos da implementação da RAEM, facto recordado pela presidente da Casa de Portugal, Amélia António. “Tenho ideia que não veio cá ninguém especialmente para os 10 anos. Não é uma coisa extraordinária. Agora, ainda mais óbvio isso é, porque penso que a China considera que isto é uma data interna, um assunto interno”, comentou.
A presidente da Casa de Portugal considera que este não é o momento adequado para enfatizar as relações entre China e Portugal e que a presença dos altos dignatários portugueses, nesta altura, “provavelmente acarretaria alguns problemas diplomáticos devido ao que se passa em Hong Kong”. Ainda para mais, face às interferências e opiniões manifestadas por diplomatas britânicos e de outros países.
Apesar do cuidado diplomático que a advogada entende ser a postura de Pequim, principalmente “para evitar situações desconfortáveis numa data que pretendem que decorra com brilho e serenidade”, não acha que a China encare Portugal como encara a Inglaterra. “A China, de certeza, que não pensa que exista o risco de interferência, porque Portugal tem expressado muitas vezes a sua posição pelos canais próprios. Penso que a China sabe que esses riscos não existem”, aponta Amélia António, acrescentando que neste clima político, facilmente se fomenta a especulação e se aguçam declarações.
O autor e académico Arnaldo Gonçalves embarca também na ideia de que para Pequim este é um assunto interno: “Eles seguem a mesma metodologia de Hong Kong. Acham que a RAEM é uma realidade chinesa e que não têm de convidar o antigo poder colonial. Não nos devemos sentir acintosos por isso.”

Dois para tango

Já o deputado e conselheiro das comunidades portuguesas José Pereira Coutinho acha que “a presença destas duas importantes individualidades daria mais brilho à efeméride. No fundo seria a confirmação do sucesso da RAEM nos últimos 20 anos sem esquecer a pacífica presença portuguesa nos últimos 500 anos”. O legislador sublinha que a Lei Básica é um garante da continuidade da maneira de viver das várias comunidades que residem em Macau e que a tornam “uma cidade aberta e internacional muito diferente das regiões adjacentes”. Para Pereira Coutinho, o que Macau é hoje em dia deve-o a ambos os lados
Quanto às declarações recentes de Marcelo Rebelo de Sousa que referiu que os princípios e valores patentes no ordenamento jurídico da RAEM devem ser protegidos e não ser afectados por condicionalismos regionais, numa alusão a Hong Kong, as personalidades ouvidas pelo HM não acham que aqui poderá estar a razão para a ausência de convite. “O Presidente da República tem as suas próprias responsabilidades e não acho que essas declarações sejam impeditivas. Mas esta é uma ocasião em que altos valores se sobrepõem a tudo o resto”, comenta Pereira Coutinho.
Também Fernando Lima, jornalista e ex-assessor de Cavaco Silva que acompanhou de perto as negociações para a transição de Macau, encara esta situação com naturalidade. “Acho isso normal, porque as autoridades portuguesas nunca foram convidadas. A China considera as cerimónias um assunto interno. Há 10 anos, quando o Presidente chinês foi a Macau para a tomada de posse do novo Chefe do Executivo, isso também não aconteceu. Se quer que lhe diga até fiquei surpreendido com as notícias de que seriam convidados.”
Amélia António partilha da perplexidade sentida por Fernando Lima. “Penso que as pessoas não estavam à espera que a visita acontecesse, toda a gente também conhece bem o Presidente, diz as coisas que lhe vêm ao coração num determinado momento”, comentou a presidente da Casa de Portugal.
No domínio do simbolismo político, Fernando Lima destaca um episódio recente que considera mais marcante em termos diplomáticos. “Achei significativas as cerimónias na Fundação Gulbenkian, onde marcaram presença o Presidente da República portuguesa e o embaixador da China em Lisboa”, comentou, acrescentando que a presença do diplomata chinês reconhece que Portugal também assinala estes 20 anos.
O jurista que participou nas negociações para a transição sublinha que “a China faz questão em proteger os assuntos internos”, e que apenas a comunicação social deu a entender que seria possível um convite oficial.

Pasodoble diplomático

Em relação ao momento político entre os dois países, Amélia António não vê nesta circunstância um passo atrás nas relações entre Portugal e China. “Penso que isto não é um caso, é normal e decorre da análise política que a China faz do momento. Acho que não tem a ver declaradamente com Portugal, cujas posições têm sido claras”, comentou.
Para a presidente da Casa de Portugal, a presença de governantes portugueses em Macau seria mais importante durante a celebração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Em primeiro lugar, Amélia António sublinha a evidência de que os representantes do Governo português são sempre bem-vindos a Macau.
Porém, deixa uma ressalva. “Não nos esqueçamos, por exemplo, que no 10 de Junho, uma data relevante para os portugueses a todos os níveis, havia o hábito de virem, algo que não se verificou nos últimos anos”, recorda.
Enquanto residente portuguesa de Macau, Amélia António entende que “quando são os nossos momentos históricos, a presença de uma entidade portuguesa tem muito mais relevância do que neste momento”. “Para a comunidade portuguesa isso tem mais peso do que o facto de não estarem cá neste momento a festejar um momento histórico cuja relevância maior é para a República Popular da China”, completou.
O HM pediu uma reacção ao cônsul-geral Paulo Cunha Alves, que respondeu por e-mail referindo “não ter qualquer comentário a tecer sobre a notícia mencionada”.

12 Dez 2019

RAEM 20 anos | Analistas desvalorizam ausência de Costa e Marcelo nas cerimónias

A presidente da Casa de Portugal acha normal que o Presidente da República e o primeiro-ministro português não tenham sido convidados para as celebrações dos 20 anos do estabelecimento da RAEM. Pereira Coutinho considera que ambos os representantes dariam um brilho extra à ocasião, mas afirma que as relações entre Portugal e China continuam sólidas. Por fim, o cônsul-geral recusa comentar a situação

 

[dropcap]A[/dropcap] política e as relações diplomáticas são mesmo assim. No passado dia 1 de Maio, Marcelo Rebelo de Sousa admitiu em Macau a hipótese de voltar no final do ano, para as celebrações do 20.º aniversário da transição da administração do território de Portugal para a China. Muito ao seu jeito, o Presidente da República falou de forma emocionada, depois de uma visita de um dia a Macau. Passados uns meses, tornou-se evidente que na eventualidade de Portugal marcar presença oficial no dia que celebra os 20 anos do estabelecimento da RAEM esta presença seria na pessoa do primeiro-ministro António Costa.

Porém, ontem o jornal Ponto Final revelou que António Costa não marcará presença nas cerimónias, informação confirmada oficialmente pelo gabinete do próprio primeiro-ministro. A confirmação foi dada dias depois de a Presidência da República também ter avançado que Marcelo Rebelo de Sousa não viria a Macau.
Segundo o Ponto Final, os dois governantes portugueses não foram convidados. Aliás, Portugal não recebeu qualquer convite para enviar um representante.

Como tal, Paulo Cunha Alves, o cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, será o representante do Estado português. Uma situação que se repetiu aquando da celebração dos 10 anos da implementação da RAEM, facto recordado pela presidente da Casa de Portugal, Amélia António. “Tenho ideia que não veio cá ninguém especialmente para os 10 anos. Não é uma coisa extraordinária. Agora, ainda mais óbvio isso é, porque penso que a China considera que isto é uma data interna, um assunto interno”, comentou.

A presidente da Casa de Portugal considera que este não é o momento adequado para enfatizar as relações entre China e Portugal e que a presença dos altos dignatários portugueses, nesta altura, “provavelmente acarretaria alguns problemas diplomáticos devido ao que se passa em Hong Kong”. Ainda para mais, face às interferências e opiniões manifestadas por diplomatas britânicos e de outros países.

Apesar do cuidado diplomático que a advogada entende ser a postura de Pequim, principalmente “para evitar situações desconfortáveis numa data que pretendem que decorra com brilho e serenidade”, não acha que a China encare Portugal como encara a Inglaterra. “A China, de certeza, que não pensa que exista o risco de interferência, porque Portugal tem expressado muitas vezes a sua posição pelos canais próprios. Penso que a China sabe que esses riscos não existem”, aponta Amélia António, acrescentando que neste clima político, facilmente se fomenta a especulação e se aguçam declarações.

O autor e académico Arnaldo Gonçalves embarca também na ideia de que para Pequim este é um assunto interno: “Eles seguem a mesma metodologia de Hong Kong. Acham que a RAEM é uma realidade chinesa e que não têm de convidar o antigo poder colonial. Não nos devemos sentir acintosos por isso.”

Dois para tango

Já o deputado e conselheiro das comunidades portuguesas José Pereira Coutinho acha que “a presença destas duas importantes individualidades daria mais brilho à efeméride. No fundo seria a confirmação do sucesso da RAEM nos últimos 20 anos sem esquecer a pacífica presença portuguesa nos últimos 500 anos”. O legislador sublinha que a Lei Básica é um garante da continuidade da maneira de viver das várias comunidades que residem em Macau e que a tornam “uma cidade aberta e internacional muito diferente das regiões adjacentes”. Para Pereira Coutinho, o que Macau é hoje em dia deve-o a ambos os lados

Quanto às declarações recentes de Marcelo Rebelo de Sousa que referiu que os princípios e valores patentes no ordenamento jurídico da RAEM devem ser protegidos e não ser afectados por condicionalismos regionais, numa alusão a Hong Kong, as personalidades ouvidas pelo HM não acham que aqui poderá estar a razão para a ausência de convite. “O Presidente da República tem as suas próprias responsabilidades e não acho que essas declarações sejam impeditivas. Mas esta é uma ocasião em que altos valores se sobrepõem a tudo o resto”, comenta Pereira Coutinho.

Também Fernando Lima, jornalista e ex-assessor de Cavaco Silva que acompanhou de perto as negociações para a transição de Macau, encara esta situação com naturalidade. “Acho isso normal, porque as autoridades portuguesas nunca foram convidadas. A China considera as cerimónias um assunto interno. Há 10 anos, quando o Presidente chinês foi a Macau para a tomada de posse do novo Chefe do Executivo, isso também não aconteceu. Se quer que lhe diga até fiquei surpreendido com as notícias de que seriam convidados.”

Amélia António partilha da perplexidade sentida por Fernando Lima. “Penso que as pessoas não estavam à espera que a visita acontecesse, toda a gente também conhece bem o Presidente, diz as coisas que lhe vêm ao coração num determinado momento”, comentou a presidente da Casa de Portugal.

No domínio do simbolismo político, Fernando Lima destaca um episódio recente que considera mais marcante em termos diplomáticos. “Achei significativas as cerimónias na Fundação Gulbenkian, onde marcaram presença o Presidente da República portuguesa e o embaixador da China em Lisboa”, comentou, acrescentando que a presença do diplomata chinês reconhece que Portugal também assinala estes 20 anos.

O jurista que participou nas negociações para a transição sublinha que “a China faz questão em proteger os assuntos internos”, e que apenas a comunicação social deu a entender que seria possível um convite oficial.

Pasodoble diplomático

Em relação ao momento político entre os dois países, Amélia António não vê nesta circunstância um passo atrás nas relações entre Portugal e China. “Penso que isto não é um caso, é normal e decorre da análise política que a China faz do momento. Acho que não tem a ver declaradamente com Portugal, cujas posições têm sido claras”, comentou.

Para a presidente da Casa de Portugal, a presença de governantes portugueses em Macau seria mais importante durante a celebração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Em primeiro lugar, Amélia António sublinha a evidência de que os representantes do Governo português são sempre bem-vindos a Macau.

Porém, deixa uma ressalva. “Não nos esqueçamos, por exemplo, que no 10 de Junho, uma data relevante para os portugueses a todos os níveis, havia o hábito de virem, algo que não se verificou nos últimos anos”, recorda.

Enquanto residente portuguesa de Macau, Amélia António entende que “quando são os nossos momentos históricos, a presença de uma entidade portuguesa tem muito mais relevância do que neste momento”. “Para a comunidade portuguesa isso tem mais peso do que o facto de não estarem cá neste momento a festejar um momento histórico cuja relevância maior é para a República Popular da China”, completou.

O HM pediu uma reacção ao cônsul-geral Paulo Cunha Alves, que respondeu por e-mail referindo “não ter qualquer comentário a tecer sobre a notícia mencionada”.

12 Dez 2019

RAEM, 20 anos | Quadro jurídico de Macau inquestionável, diz Marcelo Rebelo de Sousa

O Presidente da República portuguesa falou ontem numa conferência comemorativa dos 20 anos da RAEM, promovida pela Fundação Jorge Álvares. O momento foi de avisos: Marcelo Rebelo de Sousa disse ser imperativo respeitar aquilo que ficou acordado em 1999 quando se efectivou a transferência de soberania de Macau para a China e se instituiu a RAEM
 
[dropcap]M[/dropcap]arcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República portuguesa, afirmou ontem que “nenhuma mudança de contexto mundial, regional ou outra” pode colocar em causa o quadro jurídico de Macau e que a solução de 1999 deve ser respeitada “em todas as circunstâncias”.
Marcelo Rebelo de Sousa falava numa sessão comemorativa do 20.º aniversário da transferência da administração de Macau de Portugal para a China, promovida pela Fundação Jorge Álvares, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, onde esteve presente o antigo chefe de Estado António Ramalho Eanes.
Num discurso de cerca de sete minutos, o Presidente da República começou por subscrever declarações dos seus antecessores Jorge Sampaio e Aníbal Cavaco Silva sobre esta matéria, defendendo que os princípios e regras acordados são para cumprir e “não supõem nem dúvidas, nem desvios, nem esquecimentos”, e dando destaque à língua portuguesa.
“Sem a componente económica, social e cultural, abrangendo com natural destaque o sublinhado da língua portuguesa, o direito correrá o risco de ficar letra morta, forma sem conteúdo, reminiscência mais facilmente apagável do passado, sem perspectivas de presente e de futuro”, sustentou.
Depois, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que “Portugal continua a pensar que o quadro jurídico de Macau e o seu desenvolvimento harmonioso, sempre concitando o contributo conjunto dos dois Estados, mantêm virtualidades que nenhuma mudança de contexto mundial, regional ou outra pode questionar”.
“Dito de forma ainda mais clara: para Portugal, Macau é uma realidade específica, fruto de um processo histórico único e irrepetível, e a solução a que se chegou em 1999 é por isso mesmo única e irrepetível, e como tal deve ser respeitada e valorizada em todas as circunstâncias”, acrescentou.
Perante o embaixador da República Popular da China em Lisboa, Cai Run, o chefe de Estado assegurou que “Portugal não muda ao sabor de conjunturas, naquilo que entende, como é o caso de Macau, ter sido e ser um exemplo singular, que assim tem de ser acolhido, cultivado e afirmado”.
“Em suma, tal como os presidentes Jorge Sampaio e Aníbal Cavaco Silva, o atual Presidente da República Portuguesa reafirma a posição de Portugal sobre Macau, no quadro das relações seculares e presentes, seguro de que todos a compreenderão e respeitarão. A palavra foi por nós dada em 1999. Continua a ser cumprida em 2019”, concluiu.
Estiveram também presentes nesta iniciativa o último governador de Macau, Vasco Rocha Vieira, e o antigo presidente do partido político português CDS-PP Adriano Moreira, entre outros convidados.

Reafirmar a Declaração Conjunta

Marcelo Rebelo de Sousa, que encerrou a sessão, disse que esta ocasião “permite reafirmar tudo quanto a Declaração Conjunta consagrou em 1987”, bem como as declarações feitas no momento da transição de poderes, em 1999, pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio, e 10 anos mais tarde pelo seu sucessor, Aníbal Cavaco Silva.
Neste contexto, referiu que “ambos os Estados se vincularam a respeitar um acervo de compromissos jurídicos relativamente a Macau, visando garantir a permanência de um corpo de princípios e de regras”.
Respeitar e valorizar esse acervo é, por isso, segundo o chefe de Estado, cumprir os compromissos assumidos, que não supõem dúvidas, desvios ou esquecimentos.
“Portugal considera crucial para a plena prossecução dos objetivos jurídicos definidos em 1999 o desenvolvimento económico, social e cultural de Macau, num espírito de conjugação de vontades entre os dois Estados e a própria Região Administrativa Especial, alargando esse espírito a outros universos, com particular enfoque naquele que junta os povos falantes de português”, prosseguiu.
O Presidente da República aproveitou também para reiterar “tudo quanto tem sido dito no atual mandato presidencial”, no qual se assinalam “quatro décadas de significativo relacionamento diplomático”.
Quando o Presidente da República Popular da China, Xi Jinping, visitou Portugal, em dezembro de 2018, Marcelo Rebelo de Sousa sustentou que Macau “foi sempre um elo de ligação” e “nunca um motivo de separação ou desentendimento” entre os dois países, “por nunca ter sido uma possessão colonial, mas sim o resultado de um entendimento sereno que portugueses e chineses sempre souberam respeitar”.
Cinco meses mais tarde, Marcelo Rebelo de Sousa passou por Macau, no dia 1 de Maio deste ano, no final da sua visita de Estado à China. Na sua passagem pelo território, que durou menos de 24 horas, elogiou “a diferença de Macau” e disse ter falado desse tema com Xi Jinping.
“Quando se é igual a tudo o resto, o que é maior esmaga o que é mais pequeno. E a diferença significa o quê? Um cruzamento de culturas, de línguas, de tradições, de usos, de gastronomia. É essa a riqueza de Macau, e por isso aqui vem tanta gente e admira essa diferença de Macau, que tem de continuar, na presença da língua portuguesa, na presença dos nomes de ruas portugueses, no património construído, nos hábitos, na gastronomia, em tanta coisa que faz a diferença de Macau”, considerou.
 

Macau como exemplo de “Um País, Dois Sistemas”, diz Cai Run

O embaixador chinês em Portugal, Cai Run, afirmou ontem que os últimos 20 anos, desde a transferência da administração portuguesa de Macau para a China, foram “um período de práticas bem-sucedidas do princípio de ‘um país, dois sistemas’”.
“Nos últimos 20 anos, temos aderido ao princípio de ‘um país, dois sistemas’, ‘Macau governado pelas suas gentes’ e um alto grau de autonomia, assegurando a prosperidade e estabilidade de Macau”, para que as práticas sejam “estáveis e duradouras”, afirmou o embaixador, em Lisboa, numa sessão solene comemorativa do 20.º aniversário da transferência da administração portuguesa de Macau para a China.
O diplomata acrescentou que “o grande apoio do Governo central chinês e do interior da China” na RAEM permitiu um crescimento rápido da economia da região.
“A economia de Macau tem crescido rápido, a vida do povo tem melhorado constantemente, a sociedade tem estado estável e harmoniosa”, referiu o embaixador chinês.
Cai Run acrescentou que, entre 1999 e 2018, o produto interno bruto (PIB) macaense “cresceu de 47,3 mil milhões de patacas para 440,3 mil milhões de patacas”. O embaixador assinalou que, a nível social, Macau tem “uma sociedade pacífica e harmoniosa”. “Os habitantes gozam de vida e trabalho felizes, enquanto as diferentes culturas convivem harmoniosamente”, referiu.
Cai Run sublinhou que o Governo central chinês “presta alta importância ao desenvolvimento de Macau” e que “apoia firmemente a administração” de acordo com a lei do Governo da RAEM.
Nesse sentido, o embaixador destacou também que o Governo de Xi Jinping “encoraja e apoia Macau” a integrar em iniciativas como a ‘Uma Faixa, Uma Rota’ – a nova Rota da Seda –, a construção da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau ou a Cooperação da Região do Pan-Delta do Rio das Pérolas.
Quanto às relações entre Portugal e China, o embaixador chinês em Portugal considerou que Macau tem “desempenhado um papel de ligação da amizade sino-portuguesa”.
“Nos últimos 20 anos, graças às suas vantagens singulares de idioma, história e cultura, à sua localização geográfica privilegiada, à sua infraestrutura e ambiente de negócios perfeitos, Macau vem sendo a ponte e plataforma de destaque entre a China e Portugal, assumindo importância cada vez maior no relacionamento entre China e os países de língua portuguesa”, frisou.
Cai Run destacou que as relações entre Portugal e China se encontram “no seu melhor momento” desde que foram estabelecidas, há 40 anos.
Para 2021, quando se assinala o 15.º aniversário do estabelecimento da Parceira Estratégica Global China-Portugal, o embaixador disse haver vontade da parte chinesa em “trabalhar juntamente com a parte portuguesa” para “impulsionar o desenvolvimento sustentável e saudável” dessa parceria.

6 Dez 2019

RAEM, 20 anos | Quadro jurídico de Macau inquestionável, diz Marcelo Rebelo de Sousa

O Presidente da República portuguesa falou ontem numa conferência comemorativa dos 20 anos da RAEM, promovida pela Fundação Jorge Álvares. O momento foi de avisos: Marcelo Rebelo de Sousa disse ser imperativo respeitar aquilo que ficou acordado em 1999 quando se efectivou a transferência de soberania de Macau para a China e se instituiu a RAEM

 

[dropcap]M[/dropcap]arcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República portuguesa, afirmou ontem que “nenhuma mudança de contexto mundial, regional ou outra” pode colocar em causa o quadro jurídico de Macau e que a solução de 1999 deve ser respeitada “em todas as circunstâncias”.

Marcelo Rebelo de Sousa falava numa sessão comemorativa do 20.º aniversário da transferência da administração de Macau de Portugal para a China, promovida pela Fundação Jorge Álvares, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, onde esteve presente o antigo chefe de Estado António Ramalho Eanes.

Num discurso de cerca de sete minutos, o Presidente da República começou por subscrever declarações dos seus antecessores Jorge Sampaio e Aníbal Cavaco Silva sobre esta matéria, defendendo que os princípios e regras acordados são para cumprir e “não supõem nem dúvidas, nem desvios, nem esquecimentos”, e dando destaque à língua portuguesa.

“Sem a componente económica, social e cultural, abrangendo com natural destaque o sublinhado da língua portuguesa, o direito correrá o risco de ficar letra morta, forma sem conteúdo, reminiscência mais facilmente apagável do passado, sem perspectivas de presente e de futuro”, sustentou.

Depois, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que “Portugal continua a pensar que o quadro jurídico de Macau e o seu desenvolvimento harmonioso, sempre concitando o contributo conjunto dos dois Estados, mantêm virtualidades que nenhuma mudança de contexto mundial, regional ou outra pode questionar”.

“Dito de forma ainda mais clara: para Portugal, Macau é uma realidade específica, fruto de um processo histórico único e irrepetível, e a solução a que se chegou em 1999 é por isso mesmo única e irrepetível, e como tal deve ser respeitada e valorizada em todas as circunstâncias”, acrescentou.

Perante o embaixador da República Popular da China em Lisboa, Cai Run, o chefe de Estado assegurou que “Portugal não muda ao sabor de conjunturas, naquilo que entende, como é o caso de Macau, ter sido e ser um exemplo singular, que assim tem de ser acolhido, cultivado e afirmado”.

“Em suma, tal como os presidentes Jorge Sampaio e Aníbal Cavaco Silva, o atual Presidente da República Portuguesa reafirma a posição de Portugal sobre Macau, no quadro das relações seculares e presentes, seguro de que todos a compreenderão e respeitarão. A palavra foi por nós dada em 1999. Continua a ser cumprida em 2019”, concluiu.

Estiveram também presentes nesta iniciativa o último governador de Macau, Vasco Rocha Vieira, e o antigo presidente do partido político português CDS-PP Adriano Moreira, entre outros convidados.

Reafirmar a Declaração Conjunta

Marcelo Rebelo de Sousa, que encerrou a sessão, disse que esta ocasião “permite reafirmar tudo quanto a Declaração Conjunta consagrou em 1987”, bem como as declarações feitas no momento da transição de poderes, em 1999, pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio, e 10 anos mais tarde pelo seu sucessor, Aníbal Cavaco Silva.

Neste contexto, referiu que “ambos os Estados se vincularam a respeitar um acervo de compromissos jurídicos relativamente a Macau, visando garantir a permanência de um corpo de princípios e de regras”.
Respeitar e valorizar esse acervo é, por isso, segundo o chefe de Estado, cumprir os compromissos assumidos, que não supõem dúvidas, desvios ou esquecimentos.

“Portugal considera crucial para a plena prossecução dos objetivos jurídicos definidos em 1999 o desenvolvimento económico, social e cultural de Macau, num espírito de conjugação de vontades entre os dois Estados e a própria Região Administrativa Especial, alargando esse espírito a outros universos, com particular enfoque naquele que junta os povos falantes de português”, prosseguiu.

O Presidente da República aproveitou também para reiterar “tudo quanto tem sido dito no atual mandato presidencial”, no qual se assinalam “quatro décadas de significativo relacionamento diplomático”.
Quando o Presidente da República Popular da China, Xi Jinping, visitou Portugal, em dezembro de 2018, Marcelo Rebelo de Sousa sustentou que Macau “foi sempre um elo de ligação” e “nunca um motivo de separação ou desentendimento” entre os dois países, “por nunca ter sido uma possessão colonial, mas sim o resultado de um entendimento sereno que portugueses e chineses sempre souberam respeitar”.

Cinco meses mais tarde, Marcelo Rebelo de Sousa passou por Macau, no dia 1 de Maio deste ano, no final da sua visita de Estado à China. Na sua passagem pelo território, que durou menos de 24 horas, elogiou “a diferença de Macau” e disse ter falado desse tema com Xi Jinping.

“Quando se é igual a tudo o resto, o que é maior esmaga o que é mais pequeno. E a diferença significa o quê? Um cruzamento de culturas, de línguas, de tradições, de usos, de gastronomia. É essa a riqueza de Macau, e por isso aqui vem tanta gente e admira essa diferença de Macau, que tem de continuar, na presença da língua portuguesa, na presença dos nomes de ruas portugueses, no património construído, nos hábitos, na gastronomia, em tanta coisa que faz a diferença de Macau”, considerou.

 

Macau como exemplo de “Um País, Dois Sistemas”, diz Cai Run

O embaixador chinês em Portugal, Cai Run, afirmou ontem que os últimos 20 anos, desde a transferência da administração portuguesa de Macau para a China, foram “um período de práticas bem-sucedidas do princípio de ‘um país, dois sistemas’”.

“Nos últimos 20 anos, temos aderido ao princípio de ‘um país, dois sistemas’, ‘Macau governado pelas suas gentes’ e um alto grau de autonomia, assegurando a prosperidade e estabilidade de Macau”, para que as práticas sejam “estáveis e duradouras”, afirmou o embaixador, em Lisboa, numa sessão solene comemorativa do 20.º aniversário da transferência da administração portuguesa de Macau para a China.

O diplomata acrescentou que “o grande apoio do Governo central chinês e do interior da China” na RAEM permitiu um crescimento rápido da economia da região.

“A economia de Macau tem crescido rápido, a vida do povo tem melhorado constantemente, a sociedade tem estado estável e harmoniosa”, referiu o embaixador chinês.

Cai Run acrescentou que, entre 1999 e 2018, o produto interno bruto (PIB) macaense “cresceu de 47,3 mil milhões de patacas para 440,3 mil milhões de patacas”. O embaixador assinalou que, a nível social, Macau tem “uma sociedade pacífica e harmoniosa”. “Os habitantes gozam de vida e trabalho felizes, enquanto as diferentes culturas convivem harmoniosamente”, referiu.

Cai Run sublinhou que o Governo central chinês “presta alta importância ao desenvolvimento de Macau” e que “apoia firmemente a administração” de acordo com a lei do Governo da RAEM.

Nesse sentido, o embaixador destacou também que o Governo de Xi Jinping “encoraja e apoia Macau” a integrar em iniciativas como a ‘Uma Faixa, Uma Rota’ – a nova Rota da Seda –, a construção da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau ou a Cooperação da Região do Pan-Delta do Rio das Pérolas.

Quanto às relações entre Portugal e China, o embaixador chinês em Portugal considerou que Macau tem “desempenhado um papel de ligação da amizade sino-portuguesa”.

“Nos últimos 20 anos, graças às suas vantagens singulares de idioma, história e cultura, à sua localização geográfica privilegiada, à sua infraestrutura e ambiente de negócios perfeitos, Macau vem sendo a ponte e plataforma de destaque entre a China e Portugal, assumindo importância cada vez maior no relacionamento entre China e os países de língua portuguesa”, frisou.

Cai Run destacou que as relações entre Portugal e China se encontram “no seu melhor momento” desde que foram estabelecidas, há 40 anos.

Para 2021, quando se assinala o 15.º aniversário do estabelecimento da Parceira Estratégica Global China-Portugal, o embaixador disse haver vontade da parte chinesa em “trabalhar juntamente com a parte portuguesa” para “impulsionar o desenvolvimento sustentável e saudável” dessa parceria.

6 Dez 2019

20 Anos | Fogo-de-artifício entre Macau e Zhuhai a 22 de Dezembro

[dropcap]M[/dropcap]ais de 160 mil disparos de fogo-de-artifício e efeitos especiais com desenhos das famosas Ruínas de São Paulo vão compor o espectáculo entre Macau e Zhuhai para celebrar o 20.º aniversário do território.
“Um total de 160 mil disparos de fogo-de-artifício durante 30 minutos, lançados de quatro barcaças e 16 plataformas de efeitos especiais, e envolvendo também pela primeira vez barcos não tripulados e drones, para apresentar uma noite de exibição pirotécnica festiva de grande impacto”, anunciou o Governo, em comunicado.
O espectáculo que vai acontecer no dia 22 de Dezembro, dois dias depois da data que assinala o 20.º aniversário da passagem da administração de Macau de Portugal para a China, vai ter ainda 56 barcos não tripulados e 600 drones que através de efeitos especiais vão “formar as palavras ‘Macau e Zhuhai Unidos em Família’ (em caracteres chineses), o número 20, o desenho das Ruínas de São Paulo, da Ponte HKZM, entre outras imagens”, lê-se na mesma nota.
Em conferência de imprensa, o director do Conselho de Gestão da Nova Zona de Hengqin em Zhuhai, Yang Chuan, sublinhou que esta “cooperação assume-se de um profundo significado”. O objectivo é “construir uma ponte amigável entre os residentes dos dois locais e comemorar em conjunto o 20.º Aniversário do Retorno de Macau à Pátria”, enfatizou o responsável chinês.

3 Dez 2019

20 Anos | Fogo-de-artifício entre Macau e Zhuhai a 22 de Dezembro

[dropcap]M[/dropcap]ais de 160 mil disparos de fogo-de-artifício e efeitos especiais com desenhos das famosas Ruínas de São Paulo vão compor o espectáculo entre Macau e Zhuhai para celebrar o 20.º aniversário do território.

“Um total de 160 mil disparos de fogo-de-artifício durante 30 minutos, lançados de quatro barcaças e 16 plataformas de efeitos especiais, e envolvendo também pela primeira vez barcos não tripulados e drones, para apresentar uma noite de exibição pirotécnica festiva de grande impacto”, anunciou o Governo, em comunicado.

O espectáculo que vai acontecer no dia 22 de Dezembro, dois dias depois da data que assinala o 20.º aniversário da passagem da administração de Macau de Portugal para a China, vai ter ainda 56 barcos não tripulados e 600 drones que através de efeitos especiais vão “formar as palavras ‘Macau e Zhuhai Unidos em Família’ (em caracteres chineses), o número 20, o desenho das Ruínas de São Paulo, da Ponte HKZM, entre outras imagens”, lê-se na mesma nota.

Em conferência de imprensa, o director do Conselho de Gestão da Nova Zona de Hengqin em Zhuhai, Yang Chuan, sublinhou que esta “cooperação assume-se de um profundo significado”. O objectivo é “construir uma ponte amigável entre os residentes dos dois locais e comemorar em conjunto o 20.º Aniversário do Retorno de Macau à Pátria”, enfatizou o responsável chinês.

3 Dez 2019

À sombra do Cavalo-Dragão

[dropcap]M[/dropcap]acau vive uma época extemporânea por tudo aquilo que se passa em Hong Kong e por não haver nenhum paralelismo directo da situação, no seu dia a dia. Ainda para mais, numa altura em que se aproxima um cocktail de comemorações muito peculiar que vai ser o mês de Dezembro, onde o aniversário dos 20 anos da RAEM coincide com a tomada de posse do novo Executivo.

No passado fim de semana, no mesmo dia em que Hong Kong viu os candidatos pró-democracia conquistarem quase 90% dos assentos do Conselho Distrital nas eleições do passado domingo, em Macau o candidato único da eleição suplementar por sufrágio indirecto para a Assembleia legislativa, Wang Sai Man falava com a comunicação social à saída da assembleia de voto, podendo ter violado a lei eleitoral. Enquanto tudo isto acontecia um espantoso Cavalo-Dragão mecânico, que tive a oportunidade de ver com os meus próprios olhos, desfilava em tourné pela RAEM, em celebração dos 50 anos das relações diplomáticas entre a China e França.

As reacções de espanto e ovações foram intensas (e não era para menos) quando o animal mecânico passou às frente das pessoas que assistiam à parada, fazendo sombra à sua passagem. Mas não deixa de vir à ideia, se aquela sombra não ajudou, de forma ínfima obviamente, a desviar atenções de uma realidade que talvez peça mais vozes e contributos activos, ponderados e perspicazes de todos.

E claro que a cultura e os espectáculos de entretenimento têm um papel fundamental e não vejo, à excepção da origem do seu financiamento, diferenças de fundo para uma partida de futebol, por exemplo. Só tenho receio que possam ajudar Macau a ficar em silêncio quando o dragão passar por cima das nossas cabeças outra vez. E tanta coisa a acontecer à volta.

29 Nov 2019

RAEM, 20 anos | Xi Jinping e António Costa nas cerimónias oficiais 

O jornal Macau Daily Times noticiou ontem que o Presidente chinês, Xi Jinping, deverá mesmo marcar presença nas cerimónias dos 20 anos de transferência de soberania de Macau para a China. Quem também deverá participar no evento é António Costa, primeiro-ministro português

 
[dropcap]X[/dropcap]i Jinping, Presidente chinês, deverá estar em Macau entre os dias 18 e 20 de Dezembro para participar nas cerimónias de transferência de soberania de Macau. A notícia foi avançada ontem pelo jornal inglês Macau Daily Times, que cita fontes que não quiseram ser identificadas por não estarem autorizadas a falar com os media.
A acontecer, esta será a terceira vez que Xi Jinping viaja até ao sul da China na qualidade de Presidente do país. A primeira foi em 2014, também em Dezembro, quando Chui Sai On tomou posse do segundo mandato como Chefe do Executivo, numa cerimónia onde os actuais cinco secretários também tomaram posse. A segunda vez foi aquando da inauguração da ponte Hong Kong-Macau-Zhuhai, numa cerimónia que contou com a presença de Chui Sai On e de Carrie Lam, Chefe do Executivo de Hong Kong.
Nessa inauguração, que aconteceu em Outubro do ano passado, as palavras de Xi Jinping foram breves. “Eu abro oficialmente a ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau”, declarou apenas, perante 700 convidados.
Há muito que se especula sobre a visita de Xi Jinping à RAEM numa altura em que as tensões políticas em Hong Kong estão ao rubro, com uma crescente escalada de violência. As primeiras notícias sobre a possibilidade de uma visita do Presidente chinês surgiram em Janeiro deste ano, com uma confirmação por parte do chefe de segurança da província de Guangdong, que disse que Xi Jinping “iria participar nas celebrações do vigésimo aniversário em Macau (…) e fazer um discurso importante”.
Governo português representado
O Macau Daily Times avançou também que António Costa, primeiro-ministro português recentemente reeleito, deverá também marcar presença nas cerimónias de transferência de soberania, apesar de Paulo Cunha Alves, cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, não ter ainda confirmado ao jornal a existência de um convite oficial. “Para já não temos informações sobre quem virá, ou mesmo se alguém virá” às cerimónias, apontou.
O diário em língua inglesa denota que, por norma, dirigentes políticos portugueses não são convidados para as cerimónias de transferência de soberania, mas que o facto de se celebrar o vigésimo aniversário da fundação da RAEM pode representar uma mudança em termos de diplomacia.
“Vemos isto como uma celebração chinesa, mas isso não significa que nesta altura, por ser um aniversário marcante, ou no futuro, isso não venha a mudar”, acrescentou Paulo Cunha Alves. O jornal tentou ainda obter uma reacção junto do gabinete de António Costa, mas até ao fecho da edição não obteve qualquer confirmação adicional.

27 Nov 2019

RAEM, 20 anos | Xi Jinping e António Costa nas cerimónias oficiais 

O jornal Macau Daily Times noticiou ontem que o Presidente chinês, Xi Jinping, deverá mesmo marcar presença nas cerimónias dos 20 anos de transferência de soberania de Macau para a China. Quem também deverá participar no evento é António Costa, primeiro-ministro português

 

[dropcap]X[/dropcap]i Jinping, Presidente chinês, deverá estar em Macau entre os dias 18 e 20 de Dezembro para participar nas cerimónias de transferência de soberania de Macau. A notícia foi avançada ontem pelo jornal inglês Macau Daily Times, que cita fontes que não quiseram ser identificadas por não estarem autorizadas a falar com os media.

A acontecer, esta será a terceira vez que Xi Jinping viaja até ao sul da China na qualidade de Presidente do país. A primeira foi em 2014, também em Dezembro, quando Chui Sai On tomou posse do segundo mandato como Chefe do Executivo, numa cerimónia onde os actuais cinco secretários também tomaram posse. A segunda vez foi aquando da inauguração da ponte Hong Kong-Macau-Zhuhai, numa cerimónia que contou com a presença de Chui Sai On e de Carrie Lam, Chefe do Executivo de Hong Kong.

Nessa inauguração, que aconteceu em Outubro do ano passado, as palavras de Xi Jinping foram breves. “Eu abro oficialmente a ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau”, declarou apenas, perante 700 convidados.

Há muito que se especula sobre a visita de Xi Jinping à RAEM numa altura em que as tensões políticas em Hong Kong estão ao rubro, com uma crescente escalada de violência. As primeiras notícias sobre a possibilidade de uma visita do Presidente chinês surgiram em Janeiro deste ano, com uma confirmação por parte do chefe de segurança da província de Guangdong, que disse que Xi Jinping “iria participar nas celebrações do vigésimo aniversário em Macau (…) e fazer um discurso importante”.
Governo português representado

O Macau Daily Times avançou também que António Costa, primeiro-ministro português recentemente reeleito, deverá também marcar presença nas cerimónias de transferência de soberania, apesar de Paulo Cunha Alves, cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, não ter ainda confirmado ao jornal a existência de um convite oficial. “Para já não temos informações sobre quem virá, ou mesmo se alguém virá” às cerimónias, apontou.

O diário em língua inglesa denota que, por norma, dirigentes políticos portugueses não são convidados para as cerimónias de transferência de soberania, mas que o facto de se celebrar o vigésimo aniversário da fundação da RAEM pode representar uma mudança em termos de diplomacia.

“Vemos isto como uma celebração chinesa, mas isso não significa que nesta altura, por ser um aniversário marcante, ou no futuro, isso não venha a mudar”, acrescentou Paulo Cunha Alves. O jornal tentou ainda obter uma reacção junto do gabinete de António Costa, mas até ao fecho da edição não obteve qualquer confirmação adicional.

27 Nov 2019

Activismo | Analistas traçam diferenças entre Macau e Hong Kong

Duas décadas após a transição, a população de Macau permanece desinteressada da política, graças à educação que não favorece o espírito crítico, à melhoria do nível de vida ou ao receio de represálias. Esta é a conclusão de vários dirigentes de grupos não alinhados ouvidos pela Lusa

 

[dropcap]N[/dropcap]a quarta-feira passada, enquanto dezenas de manifestantes pró-democracia permaneciam barricados na Universidade Politécnica de Hong Kong, do outro lado do estuário do Rio das Pérolas, em Macau a grande notícia do dia era a chegada de um dragão mecânico.

Bill Chou Kwong-ping fala de uma maioria “silenciosa, o que não quer necessariamente dizer que não se interessem por política”. O problema, disse à Lusa o antigo vice-presidente da Associação Novo Macau, o principal grupo pró-democrata da cidade, é que “muitos deles simplesmente sentem-se incapazes de influenciar o resultado das políticas”.

O resultado, disse Si Tou Fai, presidente da associação Macau People Power, é que os residentes se preocupam mais com “os direitos e interesses do seu próprio grupo”.

Foi o que aconteceu em 2014, disse Leon Ieong, professor da Universidade de Macau, quando cerca de 15 mil pessoas se juntaram na maior manifestação desde a transição, contra uma lei que previa regalias para titulares dos principais cargos, entretanto retirada pelo próprio Governo.

O fosso político entre Macau e Hong Kong já vem dos tempos da Revolução Cultural chinesa, disse à Lusa a historiadora Catherine Chan See. Enquanto em Hong Kong ataques à bomba “fizeram com que a população se virasse contra o Partido Comunista”, em Macau o descontentamento com a administração colonial levou aos motins “1,2,3”, assim conhecidos em referência à data 3 de Dezembro (12/3) de 1966, que só terminaram com a assinatura de acordos considerados humilhantes para as autoridades portuguesas.

Os motins mostraram como era ténue o domínio português em Macau, algo reflectido tanto na ausência de reformas democráticas como na indiferença face à educação da comunidade chinesa, diz Catherine.

Após o incidente, diz Bill Chou, cresceu a influência das escolas pró-comunistas, onde “aos estudantes era exigida subserviência às autoridades, incluindo o Governo de Macau e, mais importante ainda, a Pequim”.

Já Si Tou Fai, que estudou numa escola católica de Macau, acredita que os grandes problemas, um ensino deficiente da história da China e a ausência de educação cívica, são transversais a todo o sistema de ensino local. O também cantor e compositor diz que “o objectivo final é conseguir que os alunos tirem boas notas nos exames e sigam para a universidade, não é cultivar grandes pensadores”.

Actos e consequências

Por outro lado, disse Ron Lam U Tou, o último candidato a ficar fora da Assembleia Legislativa nas últimas eleições, em 2017, quase metade da população de Macau nasceu do outro lado da fronteira e os mais velhos “ainda se lembram de quando, na China, não havia nada para comer”. “Nos anos 1990, muitos dos meus colegas de liceu viram os pais ir trabalhar para Taiwan de forma ilegal ou na construção civil”, recorda o presidente da Associação da Sinergia de Macau.

Mesmo após a transição o salário médio para aqueles com curso universitário não passava de 4 mil patacas por mês, lembra Ron.

Hoje o salário mediano é de 17 mil patacas, graças à liberalização do sector do jogo, que permitiu a Macau criar uma reserva financeira cujo valor deverá atingir 627,35 mil milhões de patacas no final de 2019. Dinheiro que permite ao Governo “distribuir benefícios” aos diferentes grupos de interesse, “mantendo assim a chamada estabilidade social em Macau”, diz Leon Ieong.

“Todos os ditadores sonham com isto, mas não têm dinheiro suficiente. Macau é o sonho de qualquer ditador, porque tem até demasiado dinheiro”, acrescenta o académico.

Para quem exige maior abertura política, “o Governo tem muitas formas de te punir”, diz Leon. O investigador aponta como exemplo os activistas Ng Kuok Cheong (despedido pelo Banco da China) e Au Kam San (despedido de uma escola local): “Ambos perderam o emprego devido à sua ideologia”.

Também a presidente da Associação Novo Macau, Icy Kam Sut Leng, foi despedida da escola secundária onde dava aulas, acrescenta Bill Chou.

O próprio académico saiu da Universidade de Macau em 2014 após ser acusado de “tentar impor a sua opinião política” aos alunos.

Não admira, diz Leon Ieong, que exista “um receio arreigado”, mesmo entre os jovens, de participar publicamente em actividades de cariz político.

26 Nov 2019

Activismo | Analistas traçam diferenças entre Macau e Hong Kong

Duas décadas após a transição, a população de Macau permanece desinteressada da política, graças à educação que não favorece o espírito crítico, à melhoria do nível de vida ou ao receio de represálias. Esta é a conclusão de vários dirigentes de grupos não alinhados ouvidos pela Lusa

 
[dropcap]N[/dropcap]a quarta-feira passada, enquanto dezenas de manifestantes pró-democracia permaneciam barricados na Universidade Politécnica de Hong Kong, do outro lado do estuário do Rio das Pérolas, em Macau a grande notícia do dia era a chegada de um dragão mecânico.
Bill Chou Kwong-ping fala de uma maioria “silenciosa, o que não quer necessariamente dizer que não se interessem por política”. O problema, disse à Lusa o antigo vice-presidente da Associação Novo Macau, o principal grupo pró-democrata da cidade, é que “muitos deles simplesmente sentem-se incapazes de influenciar o resultado das políticas”.
O resultado, disse Si Tou Fai, presidente da associação Macau People Power, é que os residentes se preocupam mais com “os direitos e interesses do seu próprio grupo”.
Foi o que aconteceu em 2014, disse Leon Ieong, professor da Universidade de Macau, quando cerca de 15 mil pessoas se juntaram na maior manifestação desde a transição, contra uma lei que previa regalias para titulares dos principais cargos, entretanto retirada pelo próprio Governo.
O fosso político entre Macau e Hong Kong já vem dos tempos da Revolução Cultural chinesa, disse à Lusa a historiadora Catherine Chan See. Enquanto em Hong Kong ataques à bomba “fizeram com que a população se virasse contra o Partido Comunista”, em Macau o descontentamento com a administração colonial levou aos motins “1,2,3”, assim conhecidos em referência à data 3 de Dezembro (12/3) de 1966, que só terminaram com a assinatura de acordos considerados humilhantes para as autoridades portuguesas.
Os motins mostraram como era ténue o domínio português em Macau, algo reflectido tanto na ausência de reformas democráticas como na indiferença face à educação da comunidade chinesa, diz Catherine.
Após o incidente, diz Bill Chou, cresceu a influência das escolas pró-comunistas, onde “aos estudantes era exigida subserviência às autoridades, incluindo o Governo de Macau e, mais importante ainda, a Pequim”.
Já Si Tou Fai, que estudou numa escola católica de Macau, acredita que os grandes problemas, um ensino deficiente da história da China e a ausência de educação cívica, são transversais a todo o sistema de ensino local. O também cantor e compositor diz que “o objectivo final é conseguir que os alunos tirem boas notas nos exames e sigam para a universidade, não é cultivar grandes pensadores”.

Actos e consequências

Por outro lado, disse Ron Lam U Tou, o último candidato a ficar fora da Assembleia Legislativa nas últimas eleições, em 2017, quase metade da população de Macau nasceu do outro lado da fronteira e os mais velhos “ainda se lembram de quando, na China, não havia nada para comer”. “Nos anos 1990, muitos dos meus colegas de liceu viram os pais ir trabalhar para Taiwan de forma ilegal ou na construção civil”, recorda o presidente da Associação da Sinergia de Macau.
Mesmo após a transição o salário médio para aqueles com curso universitário não passava de 4 mil patacas por mês, lembra Ron.
Hoje o salário mediano é de 17 mil patacas, graças à liberalização do sector do jogo, que permitiu a Macau criar uma reserva financeira cujo valor deverá atingir 627,35 mil milhões de patacas no final de 2019. Dinheiro que permite ao Governo “distribuir benefícios” aos diferentes grupos de interesse, “mantendo assim a chamada estabilidade social em Macau”, diz Leon Ieong.
“Todos os ditadores sonham com isto, mas não têm dinheiro suficiente. Macau é o sonho de qualquer ditador, porque tem até demasiado dinheiro”, acrescenta o académico.
Para quem exige maior abertura política, “o Governo tem muitas formas de te punir”, diz Leon. O investigador aponta como exemplo os activistas Ng Kuok Cheong (despedido pelo Banco da China) e Au Kam San (despedido de uma escola local): “Ambos perderam o emprego devido à sua ideologia”.
Também a presidente da Associação Novo Macau, Icy Kam Sut Leng, foi despedida da escola secundária onde dava aulas, acrescenta Bill Chou.
O próprio académico saiu da Universidade de Macau em 2014 após ser acusado de “tentar impor a sua opinião política” aos alunos.
Não admira, diz Leon Ieong, que exista “um receio arreigado”, mesmo entre os jovens, de participar publicamente em actividades de cariz político.

26 Nov 2019

RAEM, 20 anos | Lei Ka Hei foi o primeiro bebé nascido depois da transição 

Nascido no dia 20 de Dezembro de 1999 no hospital Kiang Wu, Lei Ka Hei não acha nada de especial o facto de ter nascido no dia das cerimónias da transferência de soberania de Macau para a China. Hoje, o jovem deseja ser padeiro e lamenta não poder comprar uma habitação, problemática que atinge a sua geração

 

[dropcap]O[/dropcap] primeiro bebé nascido em Macau depois da transferência quer hoje ser padeiro, uma tradição trazida pelos portugueses, mas de resto, Lei Ka Hei é o espelho de uma cidade transformada.
Quinze minutos após a meia-noite do dia 20 de Dezembro de 1999, enquanto na Praça do Centro Cultural de Macau os altos dignitários de Portugal e da China assistiam à tradicional dança do leão e do dragão, nascia um bebé no Hospital Kiang Wu.

Lei Ka Hei, nome que em chinês significa “Feliz Aurora”, tinha 3,49 quilos e veio ao mundo seis dias antes do previsto. “Talvez estivesse com pressa de vir ao mundo na mesma altura em que estava a nascer a Região Administrativa Especial de Macau”, disse na altura a mãe, Wong Pui Sim, à agência noticiosa oficial chinesa Xinhua.

Ka Hei, que entretanto escolheu o nome inglês Ray, só aos 13 anos soube que era o primeiro bebé nascido em Macau depois da transferência de poderes.

“Na altura havia uma televisão local que me queria entrevistar. Eu perguntei porquê e só então a minha mãe me disse”, recorda o jovem.

“Em dias normais não me sinto nada especial”, diz Ray à Lusa. A maior vantagem de ter nascido a 20 de Dezembro é a certeza de que “o aniversário calha sempre num feriado e logo aquele que dá início às férias de Natal”, acrescenta, com um sorriso.

Uma nova Macau

Ele pode não se sentir especial, mas Ray é emblemático de uma nova Macau, quase 20 anos após a transição. Os pais nasceram ambos na China continental, tal como 43,6 por cento da população da cidade, segundo dados oficiais.

O jovem não tem a nacionalidade portuguesa, que foi apenas concedida a quem nasceu em Macau antes de 20 de Novembro de 1981. Ainda assim, e apesar de menos de 1 por cento da população ter ascendência portuguesa, há cerca de mais de 160 mil cidadãos portugueses registados junto do Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong.

O pai de Ray é agente da Polícia de Segurança Pública, que ao contrário de 1999 não tem de se preocupar com a guerra das tríades que lutavam aos tiros nas ruas de Macau pelo domínio das salas de jogo VIP.

A mãe trabalha como caixa num dos 39 casinos que sustentam a economia de Macau, fruto da liberalização do sector do jogo, anunciada em 2001 pelo primeiro Chefe do Executivo, Edmund Ho Hau-wah.
Ray vai a meio de uma licenciatura em gestão culinária no Instituto de Formação Turística de Macau, enquanto o irmão mais velho está a estudar em Taiwan. “Ele foi a primeira pessoa da minha família a chegar à universidade”, sublinha.

Fé no futuro

A família do jovem foi uma das muitas a beneficiar da massificação do acesso ao ensino superior em Macau. Na véspera da transição, o ex-governador Carlos Melancia lamentava ao que a educação não tenha sido uma prioridade dos políticos.

Em 1999, apenas 11,4 por cento dos trabalhadores tinham concluído o ensino superior, uma percentagem que disparou para 36,4 por cento em 2018. Apesar do curso ainda ir a meio, Ray tem já uma certeza: “Quero ser padeiro no futuro. Adoro fazer pão, croissants, etc.”

O ‘bichinho’ da culinária surgiu logo aos nove anos. “Havia muitos livros lá em casa e alguns era livros de receitas. Um dia abriu um deles e pedi à minha mãe para me ajudar a fazer um ‘cheesecake’”, recorda.

“Não quero correr grandes riscos, por exemplo abrindo o meu próprio negócio. Ainda terei muito para aprender”, sublinha o jovem.

Além disso, o hábito de comer pão trazido pelos portugueses faz com que haja “muita competição, entre cafés, padarias e pastelarias”, acrescenta.

Ele tem confiança em conseguir facilmente um emprego, por exemplo num dos enormes empreendimentos que juntam casinos, hotéis, restauração e retalho. Afinal, a taxa de desemprego em Macau é de apenas 1,8 por cento e segundo dados oficiais, o sector da hotelaria e restauração tinha no final de Março mais de 4.300 vagas por preencher.

Embora o salário mediano seja de 17 mil patacas, já não chega para comprar um apartamento. “A habitação é um problema muito comum em Macau”, lamenta Ray, que ainda vive com os pais. Só desde 2011 o índice de preços da habitação aumentou 2,5 vezes, o que explica em parte a queda de 5 pontos na percentagem de famílias que detém casa própria.

Numa cidade onde o Chefe do Executivo não é eleito por sufrágio universal, mas sim por um colégio eleitoral com apenas 400 elementos, Ray confessa abertamente “não perceber nada de política”. Mas não tem dúvidas que em 2049, ano em que terminam os 50 anos de transição, Macau “terá ainda mais gente”.

Nos últimos 20 anos a população de Macau disparou de 430 mil para mais de 676 mil, sendo que a cidade recebeu ainda 35,8 milhões de visitantes em 2018. Não admira que Ray aponte o trânsito com um dos maiores problemas de Macau, com mais de 240 mil automóveis e motorizadas a circular.

21 Nov 2019

SCML | Exposição em Lisboa marca os 20 anos de transferência de Macau

Chama-se “Um Rei e Três Imperadores – Portugal, China e Macau no tempo de D.João V” e é o nome da exposição organizada pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa para celebrar os 20 anos de transferência de soberania de Macau para a China. A mostra é inaugurada a 20 de Dezembro no Museu de São Roque, em Lisboa, e conta com peças de Macau e de Pequim

 
[dropcap]A[/dropcap] Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) está a organizar uma exposição que terá lugar no Museu de São Roque, em Lisboa, que visa celebrar as datas que simbolizam a ligação de Portugal ao Oriente, e que este ano ganham um especial significado.
Além dos 40 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre Portugal e China e dos 450 anos da Santa Casa da Misericórdia de Macau (SCMM), serão também recordados os 20 anos de transferência de soberania de Macau para a China.
A exposição, intitulada “Um Rei e Três Imperadores – Portugal, China e Macau no tempo de D.Joao V” será inaugurada a 20 de Dezembro deste ano no Museu de São Roque, em Lisboa, espaço afecto à SCML. Margarida Montenegro, directora do departamento da cultura da SCML, explicou ao HM a importância que o reinado do rei português D. João V teve nas relações com a China da época.
“Não só estamos muito ligados a D. João V, porque mandou construir a capela de São João Baptista, a mais importante da Igreja de São Roque, como foi o período de relação entre Portugal e China mais harmonioso.” O rei português governou durante 50 anos, o suficiente para se relacionar com três imperadores chineses da dinastia Qing: Kangxi, Yonzheng e Qianlong.
“É neste período que houve mais contactos com a China, e este período foi também muito importante para Macau, que era um porto internacional de comércio entre os dois impérios”, adiantou Margarida Montenegro. Na proposta de exposição, elaborada pelo académico Jorge Santos Alves, do Instituto de Estudos Orientais da Universidade Católica Portuguesa, lê-se que, neste reinado, “a dimensão político-diplomática corporizou-se com o envio da embaixada do imperador Kangxi a D. João V, protagonizada pelo jesuíta António de Magalhães, depois retribuída em 1726 pela embaixada de Alexandre Metello de Sousa e Meneses já ao imperador Yongzheng”.
Além deste relacionamento diplomático, destaque ainda para o papel do bispo de Macau à época, Frei Hilário de Santa Rosa, num tempo de “projectos megalómanos para a conquista da China”.
Nesse período, Macau viveu, na primeira metade do século XVIII, “um tempo de reajustamento à dinastia Qing”, um período “marcante para a história de Macau e para a sua qualidade de porto internacional de comércio e de porto entre dois impérios, o português e o chinês”.
A nota assinada por Jorge Santos Alves dá conta que Macau teve, nesta fase, de “reajustar a sua geografia comercial aos novos tempos da concorrência europeia nos mercados chineses e asiáticos em geral”. Além disso, o território e “as suas instituições locais, especialmente o Senado da Câmara e a Misericórdia, tiveram que encontrar um novo padrão de relacionamento com a Coroa Portuguesa, mais centralizadora, e os seus representantes na cidade, os governadores”.

Pedidos em avaliação

Os contactos para a integração de peças nesta exposição ainda estão ainda a ser desenvolvidos. Margarida Montenegro disse ao HM que foi pedida à SCMM o retrato de um mercador chamado Francisco Xavier Roquette, “reconhecido mercador da comunidade portuguesa em Macau e que é um dos beneméritos da SCMM. A entidade liderada pelo provedor António José de Freitas também sugeriu outras peças, que ainda estão a ser alvo de uma avaliação por parte da SCML, que também requisitou um empréstimo ao Museu do Palácio de Pequim, de dois retratos dos imperadores Yongzheng e Kangxi.
Neste período, “a dimensão comercial do relacionamento entre a China e a Europa (e Portugal) conheceu uma verdadeira explosão em intensidade, volume e valor. As mercadorias chinesas (em especial a seda, porcelana e, cada vez mais, o chá) eram crescentemente desejadas nos mercados consumidores europeus e das colónias”, aponta a nota de Jorge Santos Alves.
Nesse sentido, “os primeiros exemplos de adesão ao vestuário e à moda europeus incluíram até imperadores como Yongzheng”, enquanto que, nessa fase, “a arte e a arquitectura europeias ou de inspiração europeia entraram no mundo cultural imperial chinesa”, conclui a mesma nota.
A exposição será composta por quatro núcleos, sendo um deles destinado à temática “Macau: O Tempo dos Novos Tempos”. A mostra, composta por 40 a 48 peças, conta, além da parceria com Jorge Santos Alves, com a colaboração científica de António Vilhena de Carvalho, ligado à Universidade Católica Portuguesa, João Paulo Salvado, Susana Munch Miranda e Isabel Pina, esta última ligada ao Centro Científico e Cultural de Macau.

17 Set 2019

SCML | Exposição em Lisboa marca os 20 anos de transferência de Macau

Chama-se “Um Rei e Três Imperadores – Portugal, China e Macau no tempo de D.João V” e é o nome da exposição organizada pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa para celebrar os 20 anos de transferência de soberania de Macau para a China. A mostra é inaugurada a 20 de Dezembro no Museu de São Roque, em Lisboa, e conta com peças de Macau e de Pequim

 

[dropcap]A[/dropcap] Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) está a organizar uma exposição que terá lugar no Museu de São Roque, em Lisboa, que visa celebrar as datas que simbolizam a ligação de Portugal ao Oriente, e que este ano ganham um especial significado.

Além dos 40 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre Portugal e China e dos 450 anos da Santa Casa da Misericórdia de Macau (SCMM), serão também recordados os 20 anos de transferência de soberania de Macau para a China.

A exposição, intitulada “Um Rei e Três Imperadores – Portugal, China e Macau no tempo de D.Joao V” será inaugurada a 20 de Dezembro deste ano no Museu de São Roque, em Lisboa, espaço afecto à SCML. Margarida Montenegro, directora do departamento da cultura da SCML, explicou ao HM a importância que o reinado do rei português D. João V teve nas relações com a China da época.

“Não só estamos muito ligados a D. João V, porque mandou construir a capela de São João Baptista, a mais importante da Igreja de São Roque, como foi o período de relação entre Portugal e China mais harmonioso.” O rei português governou durante 50 anos, o suficiente para se relacionar com três imperadores chineses da dinastia Qing: Kangxi, Yonzheng e Qianlong.

“É neste período que houve mais contactos com a China, e este período foi também muito importante para Macau, que era um porto internacional de comércio entre os dois impérios”, adiantou Margarida Montenegro. Na proposta de exposição, elaborada pelo académico Jorge Santos Alves, do Instituto de Estudos Orientais da Universidade Católica Portuguesa, lê-se que, neste reinado, “a dimensão político-diplomática corporizou-se com o envio da embaixada do imperador Kangxi a D. João V, protagonizada pelo jesuíta António de Magalhães, depois retribuída em 1726 pela embaixada de Alexandre Metello de Sousa e Meneses já ao imperador Yongzheng”.

Além deste relacionamento diplomático, destaque ainda para o papel do bispo de Macau à época, Frei Hilário de Santa Rosa, num tempo de “projectos megalómanos para a conquista da China”.

Nesse período, Macau viveu, na primeira metade do século XVIII, “um tempo de reajustamento à dinastia Qing”, um período “marcante para a história de Macau e para a sua qualidade de porto internacional de comércio e de porto entre dois impérios, o português e o chinês”.

A nota assinada por Jorge Santos Alves dá conta que Macau teve, nesta fase, de “reajustar a sua geografia comercial aos novos tempos da concorrência europeia nos mercados chineses e asiáticos em geral”. Além disso, o território e “as suas instituições locais, especialmente o Senado da Câmara e a Misericórdia, tiveram que encontrar um novo padrão de relacionamento com a Coroa Portuguesa, mais centralizadora, e os seus representantes na cidade, os governadores”.

Pedidos em avaliação

Os contactos para a integração de peças nesta exposição ainda estão ainda a ser desenvolvidos. Margarida Montenegro disse ao HM que foi pedida à SCMM o retrato de um mercador chamado Francisco Xavier Roquette, “reconhecido mercador da comunidade portuguesa em Macau e que é um dos beneméritos da SCMM. A entidade liderada pelo provedor António José de Freitas também sugeriu outras peças, que ainda estão a ser alvo de uma avaliação por parte da SCML, que também requisitou um empréstimo ao Museu do Palácio de Pequim, de dois retratos dos imperadores Yongzheng e Kangxi.

Neste período, “a dimensão comercial do relacionamento entre a China e a Europa (e Portugal) conheceu uma verdadeira explosão em intensidade, volume e valor. As mercadorias chinesas (em especial a seda, porcelana e, cada vez mais, o chá) eram crescentemente desejadas nos mercados consumidores europeus e das colónias”, aponta a nota de Jorge Santos Alves.

Nesse sentido, “os primeiros exemplos de adesão ao vestuário e à moda europeus incluíram até imperadores como Yongzheng”, enquanto que, nessa fase, “a arte e a arquitectura europeias ou de inspiração europeia entraram no mundo cultural imperial chinesa”, conclui a mesma nota.

A exposição será composta por quatro núcleos, sendo um deles destinado à temática “Macau: O Tempo dos Novos Tempos”. A mostra, composta por 40 a 48 peças, conta, além da parceria com Jorge Santos Alves, com a colaboração científica de António Vilhena de Carvalho, ligado à Universidade Católica Portuguesa, João Paulo Salvado, Susana Munch Miranda e Isabel Pina, esta última ligada ao Centro Científico e Cultural de Macau.

17 Set 2019

Exposição | Fotografias de Macau patentes no Porto até 21 de Julho 

A OPPIA – oPorto Picture Academy acolhe até ao próximo dia 21 de Julho a exposição de fotografia “RAEM, 20 anos – Um olhar sobre Macau”, que esteve patente no consulado-geral de Portugal em Macau até à passada sexta-feira. A inauguração aconteceu no domingo e integra a iniciativa “Rota da Seda #2 – China | Macau”

 

[dropcap]A[/dropcap] Casa de Portugal em Macau (CPM) estabeleceu pontes com a cidade do Porto. Foi graças a essa ligação que a exposição de fotografias que marca os 20 anos de transferência de soberania de Macau para a China atravessou fronteiras. Ontem foi inaugurada a mostra “RAEM, 20 Anos – Um olhar sobre Macau”, que estará patente na OPPIA – oPorto Picture Academy até ao próximo dia 21 de Julho.

A inauguração aconteceu este domingo na cidade invicta, com a exibição dos documentários “Dragão embriagado + Espíritos esfomeados”, bem como “Olhar Macau”, produzidos pela CPM, além de “Os Resistentes – Retratos de Macau”, de António Caetano de Faria. A mostra integra a iniciativa da OPPIA intitulada “Rota da Seda #2 – China | Macau”, que começou em 2018.
Cristiano Costa Pereira, director artístico da OPPIA, explicou ao HM como começou esta parceria com Macau.

“Foi-me endereçado, pela CPM, um convite para, pessoalmente, dirigir uma residência artística naquele território, a decorrer entre os meses de Setembro e Dezembro do ano em curso”, apontou. Além disso, o responsável foi também convidado “para ser júri do festival Sound & Image Challenge, facto que veio consolidar a ideia, que já tínhamos, de dedicarmos a segunda edição da ‘Rota da Seda’ a Macau e à China”.

Cristiano Costa Pereira assume ser um apaixonado por Macau e pela China, além de ter consciência “da importância da magnânima e multissecular relação luso-chinesa, bem como dos 20 anos da passagem da administração de Macau para a China”. “Senti que esta era a oportunidade e o momento para homenagear a milenar cultura chinesa e a cultura portuguesa na China, bem como o fruto desta relação, que é o macaense”, acrescentou.

O responsável pela direcção artística da OPPIA diz que, além das expectativas de ordem económica que tem com este evento, há também uma perspectiva cultural. “Espero que o público deste evento possa fruir da experiência e se possam estreitar relações e conhecimento inter-culturais e que Macau fique mais próximo dos portuenses.”

Programa a pensar na Ásia

Foi em Novembro do ano passado que a OPPIA iniciou a primeira edição do ciclo “A Rota da Seda”, com o objectivo de “criar nas instalações da OPPIA um evento total, que não só reunisse a fotografia, o cinema, a música ou performance, mas também que as mesmas fossem desenvolvidas em adequado contexto cultural. Ora, ‘A Rota da Seda’ foi a evocação mais artística e cultural que encontrámos, pelo seu simbolismo, pela sua importância e pela sua universalidade”, frisou o director artístico da entidade.

“A Rota da Seda” não se foca apenas na China, tendo “uma lógica artística, com paragens diversas, cruzando, de forma não linear, pontos históricos desta Rota com a nossa própria utopia”. Dessa forma, foi iniciado um ciclo “com uma programação centrada no mediterrâneo, mais precisamente no Médio Oriente (Irão, Turquia, Síria, Azerbaijão e Grécia)”.

Com o evento “A Rota da Seda”, a OPPIA pretende ser “um ponto de encontro” apresentando um programa que integra várias expressões culturais como a fotografia, cinema, música e gastronomia. “Promovemos o encontro transversal entre as artes e o seu público e proporcionamos a experiência do próprio encontro, sempre pautado pela cultura do(s) lugar(es) invocado(s). Em cada momento, são paragens no tempo e no espaço. São viagens, partilhas e transcendências”, denota Cristiano Costa Pereira.

O evento pretende também ser “um apelo aos sentidos”, bem como “um agente e uma ponte”. “Ao colocarmo-nos num plano tão ambicioso e inovador, como o de mentorar (maturar?) uma programação que faça jus à dimensão desse fenómeno artístico e cultural, como foi e é ‘A Rota da Seda’, na sua essência, agimos como entidade construtora. Peça sobre peça, a cada edição, criamos novos laços interculturais, aproximando culturas, estreitando as diferenças, pondo a nu a essência humana, na sua vertente artística, reciclando as visões mais culturais dos territórios, veiculando uma linguagem universal, de comunhão”, apontou o responsável.

A OPPIA é uma estrutura artística e de aprendizagem que se dedica às principais formas de arte, incluindo o cinema, a fotografia, a música, o teatro e as artes visuais. Fundada em Dezembro de 2015, já apresentou dezenas de eventos, projecções cinematográficas e conferências, entre outras iniciativas do foro artístico.

9 Jul 2019

Exposição | Aniversário da RAEM em mostra fotográfica

[dropcap]R[/dropcap]ecordações Memoráveis de 1999 ― Exposição de Arquivos Comemorativos do 20.º Aniversário do Retorno de Macau à Pátria” é o título da exposição fotográfica, que reúne mais de uma centena de registos, que inaugura na sexta-feira no Arquivo de Macau. A apresentação do registo de “memórias históricas” surge no âmbito do 2.º Encontro em Macau – Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa, organizado pelo Instituto Cultural.

A acompanhar a exposição fotográfica está prevista uma palestra temática no próximo sábado, às 15h, também no Arquivo de Macau sobre as atividades da Comissão dos Diversos Sectores de Macau para as Actividades de Celebração do Retorno de Macau à Pátria (CDMSP), entidade responsável pela recolha da mais de uma centena de fotografias expostas. O objectivo da exposição é “partilhar momentos marcantes e importantes da reunificação e reviver uma memória colectiva”. A mostra vai estar patente ao público até 27 de Dezembro e tem entrada livre.

26 Jun 2019

RAEM, 20 anos | ‘Um Olhar Sobre Macau” apresenta obras de 27 fotógrafos

[dropcap]A[/dropcap] exposição de fotografia “RAEM, 20 Anos – Um Olhar Sobre Macau” é hoje inaugurada, às 18h30, na Chancelaria do Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong. A mostra reúne o trabalho de 27 fotógrafos profissionais e amadores – entre portugueses e macaenses, mas contando também com uma brasileira –, sobre o território após a transferência de soberania.

“A primeira abordagem começou por ser um projecto pensado para 20 fotógrafos, 20 imagens, 20 anos, mas depois, obviamente, mais fotógrafos demonstraram interesse em participar, tanto amadores como profissionais”, comentou o coordenador da exposição, Gonçalo Lobo Pinheiro, que achou por bem integrar na iniciativa todos os participantes interessados.

O resultado final “ficou em 27 fotógrafos e 27 imagens, e é isso que nós vamos ver amanhã [hoje]. São fotografias que têm um espaço temporal de 20 anos, quase literalmente, porque temos fotos do dia 20 de Dezembro de 1999, só não temos fotos do dia 3 de Junho de 2019…”, acrescentou.

Portanto, “é um leque vasto de fotografias, imagens com bastante qualidade, trabalhos muito interessantes, que acho que as pessoas vão gostar de ver”, referiu ainda.

Atrás da objectiva

Participam nesta mostra, além de Gonçalo Lobo Pinheiro, coordenador e fotógrafo, também André Branco, António Leong, António Mil-Homens, António Monteiro, Carlos Dias, Carlos Gonçalves, Carmo Correia, Catarina Domingues, Edite Ribeiro, Eduardo Leal, Eduardo Martins, Fátima Cameira, Francisco Ricarte, Hugo Pinto, João Miguel Barros, João Monteiro, Maria José Freitas, Miguel Valle de Figueiredo, Nuno Assis, Paulo Cabral Taipa, Pedro Reis, Renato Marques, Rogério Luz, Rui Palma, Sara Augusto e Sofia Mota.

A organização do evento, que vai estar patente ao público durante um mês, entre os dias 4 de Junho e 5 de Julho, de segunda a sexta das 9h às 17h, é da responsabilidade da Casa de Portugal, no âmbito das comemorações de “Junho, Mês de Portugal” e também das iniciativas integradas no “Arte Macau” da RAEM.

A exposição deverá seguir mais tarde para Portugal, onde irá participar durante o Verão num festival de fotografia, na cidade do Porto.

4 Jun 2019

RAEM 20 anos | Autorizada emissão de 10 milhões de notas comemorativas de 20 patacas

[dropcap]P[/dropcap]ara assinalar o 20.º aniversário da transferência de soberania, vão ser emitidas até 10 milhões de notas comemorativas de 20 patacas. Segundo o projecto de regulamento administrativo, a que o Conselho Executivo deu luz verde, os dois bancos emissor (BNU e Banco da China) podem emitir, cada um, até um máximo de 5 milhões de notas.

O registo para a “troca” de notas ‘normais’ de 20 patacas pelas comemorativas, vai ter início no segundo semestre, adiantou o porta-voz do Conselho Executivo. Segundo Leong Heng Teng, cada residente poderá requerer um máximo de cinco notas.

A frente das notas, tem como ilustração principal um desenho da escultura “Flor de Lótus Desabrochada”, acompanhada pela figura do edifício do banco emissor correspondente. Já no verso surge em destaque uma imagem da torre “nó chinês” da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau e, em pano de fundo, uma imagem composta pela arquitectura do Centro Histórico.

29 Mar 2019