A Emergência do Buda e a Pintura

Sakyamuni, o Buda histórico, depois de abandonar o palácio retirou-se para as montanhas em busca de iluminação acompanhado de cinco outros ascetas e lá ficou durante seis anos, até que uma jovem, Sujata, lhe ofereceu um pouco de leite de arroz que ele, inesperadamente bebeu, terminando assim o jejum. Decepcionados , os seus companheiros deixaram-no e ele, sozinho, decide descer das montanhas e regressar ao convívio social, em direcção a Gaya, no actual Estado indiano de Bihar onde, debaixo da árvore Bodhi, alcançaria finalmente a iluminação. Os pintores adeptos do Chan, particularmente durante a dinastia Song (960-1279) encontrariam numa destas etapas do percurso do Buda, um motivo que visualmente ajudava a esclarecer a doutrina. Designaram-no Chushan Shijia (em japonês Shussan Shaka), o «Sakyamuni emergindo da montanha» e continha uma série de atributos que, mostrados em certas ocasiões, ajudava a reflexão dos monges e eram reconhecidos entre uma minoria de literatos da elite. Entre esses elementos, estavam: a dificuldade de atingir a iluminação, a necessidade do retiro espiritual mas também um aviso: o afastamento total do mundo dos homens não é desejável. Ao olhar para uma pintura feita por um monge do século XIII de quem pouco mais se sabe que um nome, Hu Zhifu, essa encenação como exemplo, fica clara. Essa pintura, que se encontra no Smithsonian, Galeria Nacional de Arte Asiática em Washington, DC (rolo vertical em tinta sobre papel, montado num painel, 92 x 31,7 cm) reluz no espírito como um espelho: um homem frágil, cansado, vem sozinho, as mãos escondidas, os pés nus, um à frente do outro parece caminhar, saindo de uma massa rochosa – uma montanha. Um elemento que se tornaria central na pintura shanshui que desde então ocuparia o pincel de grandes mestres nos anos seguintes.

Zhu Ruoji, que adoptaria o nome Yuanji Shitao (1642-1707) ao entrar para um mosteiro budista em 1651, seria um desses mestres que procurou transmitir o Chan sem usar palavras. Teria vinte e cinco anos quando, utilizando um outro ícone do Budismo, os «Dezasseis Luohans» faria numa extensa pintura (rolo horizontal, 46,4 x 598,8 cm, a tinta sobre papel) que se encontra no Metmuseum em Nova Iorque, uma sedutora demonstração das possibilidades do uso do traço da tinta preta. Numa pintura que se desenrola tendo como fundo uma «onda de pedra», estão figurados os dezasseis discípulos a quem o Buda pediu que aguardassem na montanha a emergência do Maitreya, o buda do futuro. Mas o que prende o olhar de todos é a aparição de um dragão, o agente das infinitas metamorfoses da Natureza que foi libertado, a partir dos vapores de um pequeno vaso, por um dos discípulos. A sua mão alçada, semelhante à de um pintor segurando um pincel, será um gesto visionário, uma iluminação como a que as mãos do Buda têm o poder de revelar.

11 Jan 2021

Exposição | Antigo Tribunal acolhe mostra de pintura chinesa 

[dropcap]É[/dropcap] inaugurada na próxima sexta-feira, dia 11, a “Exposição das Obras dos Membros da Associação dos Calígrafos e Pintores Chineses Yu Un”, uma iniciativa do Instituto Cultural (IC) e da Associação dos Calígrafos e Pintores Chineses Yu Un de Macau.
De acordo com um comunicado, a mostra apresenta 162 peças (conjuntos) de pinturas chinesas tradicionais, caligrafias e gravação de sinetes, cobrindo uma vasta gama de temas, incluindo paisagens, flores, pássaros, características naturais e poesia clássica antiga, entre outros. As peças são criadas de várias formas e estilos diferentes, reflectindo a herança criativa e artística dos membros que participam na exposição.
A mostra estará patente entre 12 de Outubro e 2 de Novembro, sendo a entrada livre e aberta ao público diariamente de terça-feira a sexta-feira, entre as 10:00 e as 20:00 horas, incluindo os dias feriados.
A Associação dos Calígrafos e Pintores Chineses Yu Un de Macau foi fundada há mais de 60 anos, sendo considerada o pilar da arte tradicional chinesa local. Tem como objectivo de promover a pintura, a caligrafia e gravação de sinetes chineses, herdando de forma activa a cultura chinesa e a essência nacional, com o apoio de um grupo de antecessores e académicos.
Uma nota oficial aponta que, ao longo dos anos, a associação tem realizado exposições, reuniões académicas, intercâmbios com o exterior, entre outras actividades, a fim de fornecer uma plataforma de exibição e apreciação para os amantes da pintura, caligrafia e escultura de sinetes locais, para que mais velhos e mais novos possam aprender e trocar informações.

4 Out 2019

Exposição | Antigo Tribunal acolhe mostra de pintura chinesa 

[dropcap]É[/dropcap] inaugurada na próxima sexta-feira, dia 11, a “Exposição das Obras dos Membros da Associação dos Calígrafos e Pintores Chineses Yu Un”, uma iniciativa do Instituto Cultural (IC) e da Associação dos Calígrafos e Pintores Chineses Yu Un de Macau.

De acordo com um comunicado, a mostra apresenta 162 peças (conjuntos) de pinturas chinesas tradicionais, caligrafias e gravação de sinetes, cobrindo uma vasta gama de temas, incluindo paisagens, flores, pássaros, características naturais e poesia clássica antiga, entre outros. As peças são criadas de várias formas e estilos diferentes, reflectindo a herança criativa e artística dos membros que participam na exposição.

A mostra estará patente entre 12 de Outubro e 2 de Novembro, sendo a entrada livre e aberta ao público diariamente de terça-feira a sexta-feira, entre as 10:00 e as 20:00 horas, incluindo os dias feriados.

A Associação dos Calígrafos e Pintores Chineses Yu Un de Macau foi fundada há mais de 60 anos, sendo considerada o pilar da arte tradicional chinesa local. Tem como objectivo de promover a pintura, a caligrafia e gravação de sinetes chineses, herdando de forma activa a cultura chinesa e a essência nacional, com o apoio de um grupo de antecessores e académicos.

Uma nota oficial aponta que, ao longo dos anos, a associação tem realizado exposições, reuniões académicas, intercâmbios com o exterior, entre outras actividades, a fim de fornecer uma plataforma de exibição e apreciação para os amantes da pintura, caligrafia e escultura de sinetes locais, para que mais velhos e mais novos possam aprender e trocar informações.

4 Out 2019

Hong Wai, artista plástica: “Trago a mulher contemporânea em tinta-da-china”

Foi para Paris para fazer um mestrado em arte e não voltou. A artista local Hong Wai usa as técnicas mais tradicionais chinesas para representar a beleza da mulher emancipada e os seus trabalhos andam um pouco por todo o mundo

[dropcap]C[/dropcap]omo é que apareceu a criação artística?
Sempre gostei de desenhar. Do que me lembro, já desenhava muito quando andava no infantário. No ensino primário passava os meus tempos livres a pintar e os meus colegas começaram a pedir-me alguns trabalhos. Queriam que lhes pintasse os cães, que desenhasse bonecas. Mas as aulas de desenho não me atraiam, eram muito monótonas. Aos 14 anos experimentei ter uma aula de pintura tradicional chinesa e gostei muito. Neste tipo de pintura é preciso conjugar vários factores. Há a incerteza da tinta no papel e os próprios gestos que se fazem com o pincel demonstram a energia e as emoções do artista durante o processo de criação. É uma pintura muito especial. Também tive uma excelente orientação dada pelo professor Ieong Deang Sang. Foi quem me ensinou os princípios da pintura chinesa: a relação entre a tinta e a água, entre o espaço cheio e vazio, entre a parte da luz e da escuridão no desenho. São princípios também filosóficos e que têm que ver com o Livro das Mutações. Fui aprendendo e tive a minha primeira exposição individual em Macau, aos 17 anos. Fui a artista mais nova no território a ter uma exposição individual o que significou muito para mim e acabou por me levar a ganhar confiança no meu talento. Acabei por mudar de opção académica de biologia para arte. Saí do território depois do liceu quando fui para a Universidade Nacional de Taiwan e acabei por seguir os estudos com o mestrado em arte em Paris onde vivo até agora. No início da minha carreira tive algumas pequenas exposições. Em 2013 criei a série “Secret de Boudoir” que foi uma alavanca para o reconhecimento do meu trabalho e foram muitas as galerias interessadas. Foi com esta cooperação com as galerias que acabei por participar em várias feiras de arte internacionais como a “Arte Stage Singapore”, a “Art Taipei” e a “Art Central Hong Kong”. Os meus trabalhos têm também passado por Nova Iorque e por Miami. Depois de “Secret de Boudoir” criei “Feminine Landscape” e “Lumière Nocturne – La Foret”. Neste momento coopero também com várias galerias em Miami, Taiwan, Macao, Paris e posso dizer que sou artista a tempo inteiro.

Estudou arte tradicional e caligrafia. O seu trabalho é conhecido pela mistura que faz destas áreas com o que se pode chamar de arte contemporânea. O que é que vai buscar a cada género?
Na minha abordagem artística, o uso e a interpretação da tinta-da-china é uma jornada diária. Procuro criar novas fronteiras usando técnicas tradicionais antes reservadas aos letrados, à classe intelectual oficial (cuja teoria deriva da dinastia Song), com a minha forma pessoal, feminina e misteriosa. Através do uso de tinta e papel chineses, e de imagens que sugerem fortemente o mundo feminino, questiono o poder masculino. Tradicionalmente, a tinta-da-china era um campo exclusivamente de homens. Foi a classe letrada chinesa que decidiu os temas da pintura com montanhas, rios e paisagens, como representação filosófica da harmonia entre a natureza e o homem. Através da arte, pretendiam ilustrar o país imperial. Estas obras-primas da paisagem pertencem à Colecção Oficial de Arte da China Imperial das Cinco Dinastias e vai até os tempos modernos. Eu, em vez de representar a virtude através da arte ou da moda tradicional chinesa, prefiro expressar e ilustrar a feminilidade com imagens contemporâneas e não convencionais. As minhas paisagens com montanhas e rios transformam-se em lingerie entrelaçada. A ode ao céu e à terra torna-se uma ode ao “yin” sensual, oculto e incontornável.

É tratada pela crítica como a “Fille Mysterieuse” que dá sentido, de alguma forma, ao Taoismo.
Na minha última criação “Feminine Landscapes” o corpo feminino é tratado como se fosse uma paisagem com as suas diferentes camadas. A crítica de arte Myriam Dao classificou este trabalho como “de mulher misteriosa” em que o Taoismo ganha uma forma contemporânea. Penso que Myriam Dao integrou o Taoismo no meu trabalho por causa das imagens femininas desta filosofia. A figura da deusa é uma das personagens principais em muitas histórias taoistas. A diferença mais óbvia entre um deus e uma figura comum está na imortalidade. Os deuses conseguem sempre manter a vida e a juventude. A beleza e juventude são, nos contos taoistas, a grande tentação. Tal como eu, os contos taoistas gastam muita tinta na descrição da beleza imortal das deusas.

É conhecida pela sua abordagem feminista. Como é que a descreve?
A minha perspectiva feminista está próxima do “Lipstick” no século XX.
O chamado feminismo do batom é uma variedade de feminismo de terceira geração que procura abraçar conceitos tradicionais de feminilidade, incluindo o poder sexual das mulheres. Ao contrário das primeiras campanhas feministas que se concentraram nos direitos fundamentais das mulheres, e que começaram pela exigência do direito ao voto, o feminismo do batom procura perceber se as mulheres podem ser feministas sem ignorar ou negar a sua feminilidade, nomeadamente no que respeita à sexualidade. Durante a segunda geração de feminismo, as activistas concentraram-se unicamente na igualdade jurídica e social das mulheres e recusaram-se a “abraçar” a sua sexualidade. Algumas mulheres abominavam a ideia da sua feminilidade e muitas vezes assumiam características físicas masculinas. Queriam distanciar-se da imagem da mulher tida como normal e acabaram por criar uma série de estereótipos associados à imagem do que seria uma feminista. O feminismo do batom, por outro lado, dá importância os conceitos de feminilidade, sexualidade feminina emitida pelo corpo de uma mulher e à necessidade de assumir o sexo. O feminismo do batom também procura recuperar algumas palavras depreciativas e transformá-las em ferramentas de poder feminino. É o caso da palavra “vagabunda” no movimento “SlutWalk”. Esta é uma ideia que se desenvolveu como resposta às ideologias mais radicais do feminismo de segunda geração que deram relevo à “feminista feia” ou “feminista anti-sexo”. No fundo esta terceira geração de feminismo veio adoptar o que a segunda tinha condenado.

O que é que as mulheres escondem, que a Hong Wai revela?
Tradicionalmente, a pintura com tinta da China era apenas reservado aos homens, como já disse. O que tento fazer é “dobrar” esta ideologia masculina neste tipo de pintura. Quero trazer a imagem estereotipada para uma nova fronteira, a mais feminina e escondida. Por exemplo, na pintura tradicional chinesa, “Maids of honour”, está representada a virtude. No meu trabalho “Secret de Boudoir”, não desenho sequer as mulheres não pretendo descrever as virtudes de uma mulher (que de si transporta já para a prestação de um serviço, normalmente a homens), o que faço é um retorno à própria mulher, à sua vida privada, aos seus bens. Faço isso com todo o detalhe, tanto na lingerie, como nos saltos altos, nos perfumes, etc. Trago a mulher contemporânea em tinta-da-china, uma técnica confinada durante séculos aos homens.

Considera-se provocadora?
Sim, e por isso que que o meu trabalho é divertido e tem significado.

O que acha da arte feita em Macau?
Temos bons artistas em Macau que têm de trabalhar muito para viverem das suas criações. Muitos deles estudaram na China Continental e trazem consigo muita energia e surpresa.

Na sua opinião, o que poderia ser feito em Macau para promover mais os artistas locais?
Os artistas precisam de duas coisas: um lugar para trabalhar onde possam criar e que seja acessível e estável e de galerias e colecionadores que promovam e vendam o trabalho feito. Para promover mais os artistas locais, primeiro há que ajudar os criadores a terem um local de trabalho em que não se tenham de preocupar com o aumento das rendas. Em França, por exemplo, há uma lei que protege o inquilino e o aluguer só pode aumentar até cinco por cento por ano durante o contrato. Depois há que promover mais galerias profissionais que tenham as suas redes de coleccionadores que comprem arte local.

Considera que o mundo ocidental está cada vez mais interessado no que é feito no oriente? Porquê?
Sim, sinto o mundo ocidental cada vez mais interessado em arte oriental e o contrário também acontece. Esta era, a da globalização, gera a interdependência das actividades económicas e culturais do mundo. O extremo oriente já não é tão longe, o mundo ocidental quer entender cada vez mais o que lá se passa e a melhor maneira é através da sua arte e cultura.

21 Ago 2017

Exposição | Fanny Lam mostra pintura chinesa

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] inaugurada amanhã uma exposição individual de Fanny Lam. A mostra da artista local tem lugar na Fundação Rui Cunha e traz ao território a pintura tradicional chinesa, com especial incidência na figura humana e na arte da caligrafia

Caligrafia e pintura tradicional chinesa são os temas que vão estar representados, a partir de amanhã, na galeria da Fundação Rui Cunha.

A inauguração da mostra da artista local Fanny Lam é às 15h e, expostas, vão estar 20 obras, todas elas produzidas nos últimos dez anos. “A exposição vai ter obras de pintura chinesa, sendo que sete são dedicadas à arte da caligrafia, área em que vou mostrar vários estilos de escrita de caracteres”, diz Fanny Lam ao HM.

Dentro da pintura tradicional, a artista tem um gosto especial pela representação da figura humana, temática que tem destaque nesta exposição.

Fanny Lam conta que a representação do ser humano é um gosto que tem desde a infância. “Sempre gostei de pintar pessoas”, afirma. Para Lam, é neste âmbito que encontra características específicas que também representam desafios técnicos e de expressão. “Gosto de trabalhar com a vitalidade do humano, de tratar as posturas que só são possíveis com pessoas”, explica. Por outro lado, a figura humana traz a Fanny Lam “um sentimento especial” que não sabe descrever.

Mas não é só de gente que se fazem os seus trabalhos. Fiel à pintura tradicional chinesa, a artista local não deixa de lado a representação de paisagens, com as suas montanhas, vegetação e rios. A vida animal também não é esquecida. “Gosto ainda de pintar animais selvagens”, acrescenta, apesar de admitir que são temas que aparecem menos nas suas telas.

Uma década de tradição

A pintura tradicional chinesa apareceu na obra de Fanny Lam há mais de uma década. A razão, apontou ao HM, tem que ver com as suas particularidades. “São imagens com características muito fortes e representativas do Oriente”, diz. Associados ao trabalho estão os materiais específicos deste tipo de produção. Para a artista, são meios capazes de se fazer expressar. “Com estes materiais e temas consigo transmitir o que sinto, e isso é um factor que contribui para a própria obra”, sublinha.

Fanny Lam continua a sua aprendizagem junto dos mestres e vai a Hong Kong beber conhecimento e inspiração dos melhores, entre eles os consagrados Lai Meng e Hu Junming.

As obras que vão estar patentes na galeria da Fundação Rui Cunha têm o cunho dos grandes da região vizinha. “Muitos destes trabalhos foram feitos tendo em conta os ensinamentos que tive com eles, bem como a aprendizagem das características que lhes são próprias”, conta a artista.

De Hu Junming, o mestre que lhe ensinou os segredos da caligrafia chinesa, aparecem agora os quadros dedicados a esta arte. “Quem conhecer este artista vai identificar nos meus trabalhos características da sua caligrafia”, diz.

Com Lai Meng, Fanny Lam aponta os momentos que passou em sua casa a ter aulas. Com o mestre aprendeu os traços. “Passava horas a imitar as suas obras com a sua supervisão”, refere. “A pintura tradicional chinesa, sobretudo as paisagens naturais com as suas flores e pássaros, têm o toque dos ensinamentos de Lai Meng”, aponta.

 

Música | Orquestra Chinesa de Macau assinala 30 anos

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]á estão à venda os bilhetes para a nova temporada de concertos da Orquestra Chinesa de Macau, que arranca a 1 de Setembro com “A Ponte”, uma actuação dirigida pelo maestro Yan Huichang. Em nota de imprensa, o Instituto Cultural (IC) garante que será “um magnífico prelúdio” à 30.a temporada de concertos da formação.

Para este novo ano de concertos, a Orquestra Chinesa de Macau promete continuar a trabalhar de acordo com os seus princípios. “Explorar as raízes de Macau, actuar ao nível internacional, e integrar o legado da China e do Ocidente” são os grandes objectivos da formação.

Os 30 anos da orquestra vão ser assinalados com oito novos ciclos de concertos, a saber: “Ciclo Clássicos”, “Trabalhos Realizados”, “Festividades Musicais”, “Melodias Celestiais de uma Herança Ancestral”, “Passeando no Jardim, Ouvindo Música”, “Herança Musical”, “Envolvimento da Comunidade com a Música” e “Museus Musicais”.

Para o “Ciclo Clássicos”, descreve o IC, foram convidados vários “aclamados maestros contemporâneos que colaboraram com a orquestra nas últimas três décadas”.

Quanto ao concerto de abertura da temporada, o maestro Yan Huichang vai dirigir a orquestra na estreia de obras encomendadas pela formação de Macau ao compositor Robert Zollitsch. Do repertório fazem ainda parte obras dos compositores Wu Zhuoxian e Wang Yiyu. O violoncelista Qin Li-Wei foi também convidado para a actuação de 1 de Setembro. Vai interpretar o concerto para violoncelo “O Sonho”, de Zhuang Zhou.

8 Ago 2017

O que tem a Primavera chinesa a ver com Picasso? 毕加索的山水画

Pois, realmente o que será?

Vou começar por uma pessoa que quase ninguém conhece

[dropcap style≠’circle’]G[/dropcap]uo Xi 郭熙 (1020 – 1090) foi um pintor chinês shanshui que viveu durante a Dinastia Song do Norte. Era um cortesão, um literato, um pintor culto que desenvolveu um sistema incrivelmente detalhado de pinceladas distintivas. Este sistema veio a revelar-se importante para artistas que vieram depois dele.

Guo X- “Árvores velhas, distância nivelada” (1080)

O que é uma pintura Shanshui. As pinturas Shanshui retratam montanhas e temas aquáticos e implicam um grande rigor na criação de um equilíbrio quase místico entre uma série de requisitos complexos, a composição e a forma. Todas as pinturas shanshui devem ter três componentes básicos:

Os Trilhos – Os trilhos nunca devem ser a direito. Devem ser sinuosos como um curso de água. Este truque ajuda a dar profundidade à paisagem conferindo-lhe vários planos. O trilho, ou passagem, pode ser um rio, o caminho que o ladeia, ou um raio de sol que atravessa o céu sobre o dorso da montanha. Prevalece o conceito de nunca criar padrões inorgânicos, mas sim de mimar os padrões criados pela Natureza.

O Limiar – Os trilhos devem conduzir a um limiar. O limiar está lá para nos receber e para nos dar umas especiais boas vindas. O limiar pode ser uma montanha, a sua sombra projectada no solo, ou o seu recorte contra o horizonte. A ideia é que a montanha, ou o que a contorna, sejam definidos claramente.

O Coração – O coração é o ponto focal da pintura e todos os elementos devem conduzir-nos a ele. O coração define o significado do quadro. Cada quadro deve ter um único ponto focal e todas as linhas desenhadas devem levar-nos directamente para lá.

Uma verdadeira pintura shanshui não deve representar a paisagem que o pintor viu, mas sim a paisagem que o pintor “pensou”. Ninguém quer saber se as cores e as formas do quadro são parecidas com a realidade. A pintura shanshui vai contra as ideias feitas sobre o que um quadro deve ser. Os quadros não são uma janela aberta aos nossos olhos, são uma janela aberta à nossa mente. A pintura shanshui é um veículo para a Filosofia.

Guo Xi – “Primavera Antecipada” (datada de 1072)
Colecção do Museu do Palácio Nacional, Taiwan

Uma das obras Shanshui mais famosas de Guo Xi é a Primavera Antecipada, datada de 1072. Nela podemos ver as técnicas inovadoras na criação de múltiplas perspectivas, que ele designava por “ângulo da totalidade”, mas que também ficou conhecida por “Perspectiva Flutuante,” uma técnica que faz deslocar o observador e o seu olhar. As montanhas de Guo e os seus cursos de água primaveris são luminosos e sedutores como um sorriso…

O jardim do Templo Ditoku-ji em Quioto, construído originalmente em 1509, é uma cópia viva das pinturas de Guo Xi, inspirado na estética da Perspectiva Flutuante. Para apreciar cada canto e cada pedra do jardim, o visitante deve deslocar-se à sua volta e mudar de posição. Aqui, o jardim passou a ser um modo de vida.

Muitos anos mais tarde, quando ainda estava na China e andava no Liceu, vi pela primeira vez rostos e corpos femininos de Picasso e aí compreendi, de repente, o significado do “ângulo da totalidade” de Guo Xi.

8 Mar 2017