Ana Cristina Alves Via do MeioUma Perspectiva Filosófica sobre A Nova Rota Marítima da Seda e o princípio da Conectividade * Investigadora Auxiliar e Coordenadora do Centro Científico e Cultural de Macau I As Antigas Rotas da Seda Duas rotas ligaram a dinastia Han ao Ocidente a partir do século II a.C. a Rota do Sul e a do Norte, ambas se estendiam de Chang´ an/Xi´na até ao Ocidente, a do Norte através da Ásia central, do Mar Cáspio e do Mar Negro, a do Sul conduzia ao mediterrâneo, a Génova e Veneza, via Irão e Iraque. Historicamente, a antiga Rota da Seda dividiu-se em quatro períodos: Do século II a.C ao século VI, tendo como pontos altos a difusão do Budismo e emergência do Islamismo; 2) Do início do século VII a finais do século X, sendo o ponto alto a difusão da porcelana; 3) do século XI a Século XV, com o apogeu da difusão das religiões islâmica e hindu e do comércio tributário na Ásia Oriental, as relíquias dos naufrágios e as 7 viagens do almirante Zheng He (鄭和), entre 1405-1431, bem como o surgimento de comunidades multiculturais como as de Guangzhou, Malaca (Malásia) e Galle (Sri Lanka); 4) Meados do séc. XV ao XIX, com ênfase para a troca de mercadorias porcelanas, pimentas e especiarias, globalização das rotas e difusão do Catolicismo, e a predominância de outras rotas, como as abertas pelos portugueses no Atlântico até ao Pacífico, passando pelo Índico, sobretudo a Rota do Cabo. Esta rota iniciada nos séculos XV e XVI em Lisboa atingiu a Índia, a China e o Japão, particularmente Nagasáqui, e mais além, Timor, num projeto que começa a ser delineado por D. joão II em 1487, sendo concretizado por D. Manuel 1, com a frota comandada por Vasco da Gama que nos conduziria à Índia, próximo de Calecute a 17 de maio de 1498. Mas haveríamos de chegar mais longe, a Macau, onde nos estabelecemos entre 1555 e 1557, havendo estudiosos, como Eduardo Kol de Carvalho, que defendem a interessante tese de tal ter sucedido para assegurar a Rota do Japão, aberta a partir de 1543 e garantida pela Nau do Trato, que fazia a ligação entre a Índia e o Japão, tendo elegido Macau para entreposto comercial necessário à nova rota marítima da seda portuguesa “Deste comércio nasce o território de Macau em 1557, a base que os portugueses fundam na costa chinesa para apoiarem o trato” (Carvalho, 2018, 77). Por estes canais das antigas rotas da seda chinesa, a seda, a laca, a porcelana e o chá chegavam à Europa, sendo transmitidos para a China o vidro, as gemas ou pedras preciosas, certos frutos e frutos secos, especialmente uvas, goiabas, pepinos, bem como outros produtos hortícolas, por exemplo, o alho e as cenouras. Além das trocas agrícolas, também as invenções tecnológicas chinesas, como a pólvora, o fabrico do papel, a impressão e a bússola, ou a circulação de ideias e, sobretudo, das que compunham filosofias religiosas. Depois, com rota marítima da seda portuguesa, entre os séculos XV e XVI o comércio globalizou-se inteiramente, tudo se trocava e negociava, se transmitia e influenciava. II A Nova Rota da Seda, incluindo as marítimas do século XXI Se o termo “rota da seda” remonta aos antigos geógrafos gregos e, em especial, a Marinus, já “rota marítima da seda”, é do século XX, uma nomenclatura surgida numa aliança entre o sinólogo francês Édouard Chavannes (1865-1918) e os japoneses com os seus estudos do comércio de porcelana marítima na década de 60 do século XX. Os chineses começam a mencionar a “rota da seda do mar” em 1974, primeiro com o estudioso Jao Tsung-I (饒宗頤, 1917-2018), depois explicitamente com Chen Yan ( 陳炎) “Rota Marítima da Seda” (丝绸之路) a partir de 1980. A versão “renovada” que nasceu em 2013, anunciada no Cazaquistão, enquanto Faixa e Rota (一带一路) por iniciativa do atual presidente chinês, Xi Jinping (习近平), assentando no princípio da conectividade, tem como objetivo conectar a Ásia, Europa e África através de rotas terrestres e marítimas. Os seis corredores terrestres bem e resumidamente sistematizados pela Professora Fernanda Ilhéu em “A Última Rota da Seda que a História Conheceu e a Nova Rota da Seda que a História vai Conhecer” (Ilhéu, 2018: 145) são: China-Mongólia-Rússia; 2) China-Paquistão; 3) China-Bangladesh-Índia- Myanmar; 4) China- Península da Indochina; 5) Nova Ponte Terrestre Euroasiática; 6) China-Ásia Central-Ásia Ocidental. Convergem todas as faixas para a Europa, Duisburg, na Alemanha, incluindo a marítima, de grande importância para a China, já que 90% do comércio chinês é realizado por esta via. Naturalmente que a China pretende garantir as suas fontes de fornecimento energéticas, quer de petróleo, quer de gás natural, para as quais contribui um hub de alguns países da Ásia Central, como sejam o Turquemenistão, o Cazaquistão, o Uzbequistão e a Rússia, “sendo a China desde 2014 o maior importador mundial de petróleo” (Ibidem). Ainda segundo dados fornecidos por Fernanda ilhéu, desde que a China aderiu à Organização Mundial do Comércio em 2001, foi preparando o seu caminho de modo a tornar-se uma economia cada vez mais internacional, atingindo em 2010 o estatuto de segunda economia mundial (Ilhéu, 2018, 147). O país para manter este estatuto, ou quem sabe até superá-lo, precisa de continuar com o seu plano das 4 ou 5 modernizações, mantendo a ligação ao exterior para esse efeito, ou seja, a política de going out tem de continuar. Transita assim de uma primeira fase de globalização, a das exportações ativas diretas e do investimento direto estrangeiro no exterior (IDEE), para uma segunda fase de globalização, como salienta Ilhéu (2018, 149) na forma de fusões e aquisições na Ásia, na Europa e em África, bem como nas Américas ou Oceânia. Surge então uma Nova Rota Marítima da Seda que se estende de Chongqing até Fuzhou no Sul da China, passa por Malaca na Malásia, segue para Mombaça no Quénia (ramificação para Cabo Verde e Santos no Brasil), dirige-se para a base militar africana chinesa em Djibouti, daí para o porto de Pireu na Grécia (Ramificações para Madrid e Sines e Brasil), para Veneza em Itália e Roterdão na Holanda (ramificações para o Panamá e países da América do Sul). Locais relacionados com a Rota Marítima da Seda dentro da China são as regiões costeiras de Hebei, Jiangsu, Xangai, Zhejiang, Fujian, Guangdong, Guangxi, Hainan e região Administrativa Especial de Macau, bem como os Mares Huang-Bohai, Bacia do Rio Changjiang, Mar da China Oriental e Estreito de Taiwan, mar da China Meridional, Arquipélago do Japão, península da Coreia, sendo esta a placa da Ásia Oriental. Entretanto, começa a desenhar-se uma nova Rota da Seda Marítima, a Rota da Seda Polar, que supõe parecerias da China com a Rússia, Noruega e Gronelândia, via Ártico, para facilitar o comércio entre a Ásia, a Europa e a América. A rota do Ártico sai de Xangai passa pelo Alaska atravessa o Polo Norte rumo à Dinamarca até Roterdão, e daí pode seguir por terra, passando por Moscovo até à China, ou utilizando a rota da seda marítima que de Roterdão vai para o Pireu, atravessa o Canal do Suez, Mombaça, Kolkata (Índia), estreito de Malaca, Jakarta até Zhanjiang (China). A evolução da Nova Rota da Seda na próxima década vai depender do crescimento da economia chinesa, que segundo Thiago Codongo, gerente comercial da China Link, terá de crescer mais de 6% ao ano para sustentar apoios e investimentos, como os que tem realizado em Angola, Venezuela, Paquistão e Mongólia, todos estes países com grandes dívidas para com a China. Como bem viu o Professor Carlos Gaspar (2020) em O Mundo de Amanhã: Geopolítica Contemporânea, a China realiza através da Iniciativa da Faixa e da Rota (BRI) dos seus vários corredores da seda, terrestres, marítima e polar, uma estratégia de conectividade política, económica, cultural e tecnológica. Aqui se distinguem avanços notáveis nas telecomunicações móveis, como a rede 5G e, também, nas infraestruturas portuárias e ferroviárias. Além do mais, possui o controlo dos principais portos marítimos de Darwin no Pacífico, hambantota no Índico, Pireu no Mediterrâneo, Kirkenes no Ártico, tendo construído no Cazaquistão o porto seco de Khorgos, além do porto seco de Duisburg na Alemanha. Note-se que estas rotas são essencialmente comerciais e o seu impacto no comércio exterior é imenso, desenvolvendo-se a partir da compra e aquisição de portos. Ainda segundo Thiago Codongo, “Para a China também é muito mais interessante ter o controle marítimo de vários mares, lagos e estreitos que são importantes para as suas mercadorias, tanto para adquirir quanto para poder vender”. Entre estes portos, encontram-se: os já citados porto de Pireu na Grécia (60%); muitos portos africanos entre os quais o maior, o porto de Djibouti, próximo da Etiópia no Nordeste africano, construído pelos chineses, além de portos na Etiópia e no Uganda e, em muitos outros países africanos, entre os quais Guiné, Angola e Moçambique. A China tem fornecido ajuda, em termos de construção de infraestruturas concretas, aos países menos favorecidos, sendo de realçar a edificação de Addis Ababa na Etiópia. Ainda a respeito de portos, destacam-se no Brasil, o porto de Paranaguá (90%), no Estado de Paraná. Segundo investigação da jornalista Cecília Barría, eram em 2021 cerca de 115 portos em mais de 60 países, além de possuir sete dos dez principais portos do mundo, a saber: 1) Xangai; 2) Ningbo-Zhoushan; 3) Shenzhen; 4) Qingdao; 5) Guangzhou; 6) Tianjin e 7) Hong Kong. De acordo com dados mais recentes fornecidos por Zongyuan Zoe Liu de 26 de agosto de 2024, o país tem 129 projetos de portos, dos quais 115 estarão ativos, entre estes haverá portos em que terá maior ou menor participação, ou até 17 com posse total ou maioritária dos mesmos, os 14 remanescentes terão sido suspensos ou cancelados, como por exemplo o do porto khalifa nos Emirados Árabes. Ainda de acordo com os dados apresentados por Zongyuan Zoe Liu, o país está a investir em portos com altos índices de conectividade de transporte regular, indicados entre parêntesis: Coreia do Sul (640); Singapura (586); Estados Unidos (504); Malásia (486); Japão (423); Vietname (403); Reino Unido (381); Países Baixos (380); Hong Kong (376); Bélgica (343); Índia (342); Taiwan (340); Alemanha (305), Emirados Árabes (296); Itália (286); Turquia (283); Tailândia (267); França (263); Marrocos (263) (https://www.cfr.org/tracker/china-overseas-ports) Paira o receio de que a estratégia chinesa de aquisição de portos seja dupla, militar e comercial, e que em caso de conflito generalizado as empresas portuárias possam ser utilizadas pelo governo chinês e, sobretudo, pelos navios de marinha de guerra do Exército de Libertação Popular. E citam-se exemplos: porto de Singapura, de Dar es Salaam na Tanzânia, do Pireu na Grécia, de Haifa em Israel, de Veracruz no México, ou de Balboa no Panamá, estes últimos perto de importantes bases navais. Recorde-se que relativamente, por exemplo, ao Canal do Panamá, o país marcou presença em dois portos, o de Colón e o de Balboa. Um outro porto altamente estratégico para a China é o Freeport nas Bahamas, Caraíbe. Há, ainda, uma outra questão relevante, as dívidas financeiras de certos países de economia fragilizada para com a China, alguns exemplos a ter em conta são: o Sri Lanka que arrendou o seu porto por 99 anos como modo compensatório da sua dívida, bem os já mencionados países muito endividados: Angola, Mongólia, Paquistão e Venezuela. Entre portos importantes na América do Sul, destacam-se um no Peru, perto de Lima, o terminal portuário multipropósito de Chancay, 100% privado e detido pela Cosco Shipping (China Ocean Shipping Company).Há também a referir o Porto multipropósito de Rio Grande na Argentina. A propriedade chinesa no setor portuário encontra-se sobretudo nas seguintes empresas: 1) Cosco, estatal; China Merchants, estatal e 3) Hutchinson Ports, privada. Na estratégia de controlo de portos estão envolvidas empresas como a Cosco (portos de Pireu e Hamburgo) e o Shanghai International Port Group (porto israelita de Haifa). Em Portugal operam a Cosco, através da Agência Marítima Euronave do Porto, situada em Matosinhos e há, ainda, investimentos relativos ao porto de Sines, tais como a fábrica de baterias para carros elétricos Calb, bem como interesse manifestado na expansão deste porto. Do memorando de entendimento bilateral celebrado entre a China e Portugal em 2018, constam 17 acordos, dos quais o primeiro é relativo à chamada Nova Rota da Seda, nas suas vertentes terrestre e marítima, enfatizando nesta cooperação bilateral a “conectividade” e a “mobilidade elétrica” 1. De acordo com Yuan Peng, Vice-Presidente do Instituto de Relações Internacionais Contemporâneas a nova ordem mundial, segundo a visão chinesa do mundo, caracteriza-se por uma estrutura de círculos concêntricos, pertencendo à China três anéis: o anel interior dos 14 países com fronteira com a China; o anel intermédio de países marítimos vizinhos, as áreas do Pacífico Oriental, Oceano Índico e Médio Oriente, incluindo Ásia Central e Rússia, e o anel exterior ao qual pertencem a África, a Europa, América e os dois polos. A grande questão é a de se saber se o domínio dos mares equivale ao do mundo, o que na era espacial não parecer ser o caso, muito embora a China tenha vindo a rivalizar com os Estados Unidos também neste domínio, e não apenas na qualidade da segunda maior potência económica, as ambições são igualmente políticas desejando oferecer uma contrapartida a uma ordem unipolar longamente dominada pelos EUA. Nos dias de hoje e, sobretudo, no nundo de amanhã, como enfatiza o Professor Carlos Gaspar, as ambições políticas quer da Rússia quer da China favorecem um quadro geoestratégico multipolar, no mínimo bi ou tripolar, com três grandes potências em lugar de destaque: Os Estados Unidos, a Rússia e a China. Se estas duas últimas potências entrassem em ligação duradoira, o que não parece ser o caso, haveria uma alternativa ao poder americano pelo eixo euroasiático. No entanto, a China necessita de consolidar a sua posição como principal potência asiática, ligando a Ásia Oriental à Ásia do Sul, sendo atualmente o principal parceiro económico de países asiáticos tão importantes como a Coreia do Sul, as Filipinas e a Tailândia, entre outros. Que a China deseja oferecer-se como uma alternativa pacífica ao poder hegemónico dos Estados Unidos, parece não restarem dúvidas, até pelo insistente cultivo de uma política de neutralidade no país liderado pelo presidente Xi Jinping. Há ainda um outro aspeto importante a salientar: a Iniciativa da Faixa e da Rota (BRI) com as suas ligações marítimas e terrestres, surge na sequência de um movimento interno da China em relação com o seu desenvolvimento e reação a “um século de humilhações”, o XIX das duas Guerras do Ópio. Quando a meio do século XX, em 1949, o PCC tomou o poder na China iniciou o primeiro ciclo de poder da “nova era”, como bem notou o Professor Carlos Gaspar2, o Maoísmo de Mao Zedong, que teve em vista a unificação do estado chinês, ao qual se seguiu o segundo ciclo de florescimento económico do país levado a cabo por Deng Xiaoping, culminando nas celebração dos 100 anos do PCC em 2021, ao que se seguiu o terceiro ciclo, após 2013, com a ascensão do presidente Xi Jinping, que procura concretizar cabalmente o objetivo de erguer a China à categoria de Grande Potência, ciclo este possivelmente muito desenvolvido ou até concluído em 2049 para celebração dos 100 anos da chegada do PCC ao poder.(Gaspar, 2020, 44), cumprindo-se assim o “sonho chinês” da entrada “numa nova era”, que implica o renascimento da China como grande potência e, quem sabe, até a reunificação com Taiwan. Por fim, resta saber de que modo ficaremos todos conectados, se a bem de uma nova ordem mundial e de um futuro compartilhado, se a mando autocrático de uma potência dominante sobre as restantes. Invocando a bondade de intenções, acredito que não vamos assistir à emergência de uma nova potência imperial com conexões a todos os cantos do globo, auxiliada pelo uso indevido das novas tecnologias, mas antes de uma conectividade de um país que se estende em rede por motivos económicos, respeitador da soberania dos restantes estados, que evitará ingerências políticas internas, praticando uma política de estrita neutralidade em nome de antigos princípios confucionistas, que privilegiam a Humanidade e a Harmonia, bem como outras virtudes constantes: os Ritos, a Sabedoria, a Confiança e a Justiça. Referências bibliográficas Agência Lusa (2024) “Construção de Parque para Empresas Chinesas inicia-se este ano”. 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Roderick Ptak VozesA Doutrina Monroe: 200 Anos de Padecimento Há duzentos anos, no início de Dezembro de 1823, o Presidente americano James Monroe proferiu um discurso no Congresso onde enfatizou a sua visão para o futuro da política externa dos Estados Unidos. Mais tarde, esta visão ficou conhecida como a Doutrina Monroe. Entre outras coisas, Monroe propagandeava a existência de duas esferas. Declarou que deixava de ser tolerável que as potências europeias continuassem a interferir nas Américas. Simultaneamente, ameaçava que Washington entraria em acção se os europeus ignorassem esta nova regra. A América passaria a ser para os americanos; as potências coloniais europeias deveriam manter-se afastadas do Novo Mundo. O contexto político da nova doutrina configurava um cenário complexo. A Grã-Bretanha estava em ascensão. A França tinha perdido algumas colónias, mas continuava a ser a rival da Grã-Bretanha. A Rússia tinha passado a marcar presença no Norte do Pacífico e no Alasca. Muitas das colónias espanholas da América do Sul e da América Central tinham-se tornado independentes. Washington temia que as potências europeias tentassem reverter a situação. Os EUA tinham acabado de expandir o seu território ao anexarem a Louisiana e a Flórida. Embora Washington não tenha conseguido incorporar vastas zonas, agora pertencentes ao Canadá, a economia americana crescia, e foi-se tornando gradualmente evidente que a América ia tentar expandir a sua influência política ao Pacífico e ainda mais além – contra os interesses da Espanha, da Rússia e de outros países. Historiadores sugeriram alguns factores que possam ter motivado o discurso programático de Monroe. Um desses factores era o interesse económico de longa data nos novos mercados emergentes. O comércio entre os Estados Unidos e o universo onde se fala castelhano era ainda diminuto em comparação com o comércio entre os americanos e outras zonas, mas havia planos para explorar o mundo latino através de empresas americanas. A ideologia é outro aspecto a ter em consideração. Visto de uma perspectiva de maior alcance, este factor passou a ser um elemento dominante na política dos EUA. Simplificando, Monroe estava convencido de que o seu país tinha uma missão especial: Acreditava na superioridade dos EUA. Era suposto Washington exportar o modelo republicano americano, que ele acreditava ser mais progressista do que outras formas de governação. Os EUA tinham o dever de propagar as ideias americanas pelo mundo; A América agia bem, enquanto os outros agiam mal. Estes ideais entrosam no princípio do chamado “destino manifesto” – um princípio com dimensões religiosas. Nos seus corações, os líderes políticos de Washington opunham-se ao Catolicismo; favoreciam as ideias Protestantes e Calvinistas. Pregavam a liberdade, mas na essência a sua “jihad” ideológica servia os interesses nacionais ou, mais precisamente, os interesses de capitalistas gananciosos. Especialistas em História americana analisaram como a “doutrina Monroe” foi posta em acção durante o séc. XIX e em períodos mais recentes. A Guatemala é um exemplo negro desta doutrina. Na década de 50 do séc. XX, a CIA interveio com sucesso neste país – para apoiar a “United Fruit Company”, uma grande empresa americana. Cuba é outro exemplo. Tentou defender os seus legítimos interesses contra a pressão de Washington. No entanto, as elites “iluminadas” da Casa Branca e do Pentágono ignoraram esses interesses. Nos anos 60, estas fricções quase conduziram a um conflito nuclear com a União Soviética. Muito depois, tropas americanas desembarcaram na ilha de Granada, apenas para mencionar mais uma de muitas histórias tristes. O panorama no Pacífico não era melhor. Já no séc. XIX, os Estados Unidos anexaram o Havai. Também forçaram o Japão a abrir as suas portas e instaram os japoneses a expandir-se ao continente asiático. A ideia era levar o Japão a impedir o fortalecimento das posições russas no Nordeste asiático. A China foi vítima deste processo. Os americanos estavam envolvidos no tráfico de ópio e de trabalhadores chineses para a América. Evidentemente, a “constituição liberal” tinha algumas deficiências. Milhares morreram durante a longa viagem através do Oceano Pacífico. Infelizmente, Macau serviu como porto no comércio de “coolies”, mas era a procura americana que incrementava este negócio sujo e Hong Kong passou a toma-lhe as rédeas. Isto porque os britânicos também transportavam milhares de chineses para o Sudeste asiático e para outros destinos. Em resumo, a “Doutrina Monroe” legitimava Washington para gradualmente expandir as suas “fronteiras” para Oeste, através do Oceano Pacífico em direcção à costa Leste da Ásia, em prol dos interesses dos empresários e dos políticos racistas que acreditavam serem melhores e mais civilizados do que os outros. Depois da 2ª. Guerra Mundial, a chamada “Doutrina Truman” e a “Política de confinamento” americana tornaram-se os novos rótulos para as antigas ideias de Monroe. A América proclamava a liberdade e a independência, mais apoiava muitos governantes criminosos em todo o mundo, porque estes indivíduos serviam as necessidades económicas americanas. Mas pior do que isso: As tropas americanas intervieram na Coreia e no Vietname. Apesar de enormes quantidades de bombas químicas terem sido lançadas durante a guerra do Vietname, esta terrível “aventura” do imperialismo americano terminou em desastre. Podíamos argumentar que, nessa altura, poderia ter havido um ponto de viragem na História da política externa de Washington. Outra faceta desta questão foi a crise das Ilhas Falkland (ou Ilhas Malvinas). Os britânicos travaram teimosamente uma guerra contra a Argentina. Estranhamente, os EUA não intervieram. A atitude passiva de Washington não estava claramente em consonância com a antiga ideia de que a América deveria pertencer aos americanos. O que é que isto nos diz? Diz-nos que Washington e Londres se movem na mesma direcção. Com efeito, os dois já se tinham tornado aliados há muito tempo. Washington aceitou o seu antigo professor na qualidade de parceiro júnior. Ambos estavam empenhados em explorar terceiros. Mais recentemente, lutaram juntos no Médio Oriente. Actualmente, jogam o jogo de “divide et impera” no continente europeu. Entretanto, a “liaison” anglo-americana também conduziu ao tratado AUKUS e à ideia dos chamados “Cinco Olhos”, uma espécie de aliança dos serviços secretos dos cinco países anglófonos mais poderosos, os EUA, a Grã-Bretanha, a Austrália, a Nova Zelândia, e – paradoxalmente – o Canadá (“paradoxalmente”, porque o Canadá é bilingue). Até onde podemos observar, a “doutrina Monroe”, embrulhada em novas e coloridas vestimentas, está bem viva. Centenas de livros muito vendidos, escritos por académicos e políticos dos Estados Unidos, dão conselhos sobre o que o público e os líderes locais norte-americanos devem fazer: Não devem apenas estar atentos ao universo latino, mas também devem prestar atenção a todas as áreas deste planeta, e devem preparar-se para intervenções militares e também para outro tipo de intervenções. O direito dos povos à auto-determinação não é claramente compatível com a ideologia de Washington. Washington ignorou mais do que uma vez a voz das Nações Unidas. Os slogans “Excepcionalismo americano” e “América em primeiro lugar” tornaram-se ingredientes importantes da política americana. Colocar a culpa nos outros é mais uma ferramenta. A América criou uma identidade para si própria– uma identidade cheia de contradições. Isso explica o “cultivo” sistemático de imagens negativas: Indivíduos, comunidades e países que não querem aceitar o “American way” são inimigos potenciais. Passam a ser considerados responsáveis por todo o mal e por todas as desgraças que acontecem à nossa volta. Uma vez a Grã-Bretanha ensinou o mundo a enegrecer a história dos ibéricos e do catolicismo. Nasceu daí a “leyenda negra”. Entretanto, existem muitas “leyendas” deste tipo. Uma delas é que a China é agressiva, que deseja controlar tudo através da iniciativa “Nova Rota da Seda”. Notícias falsas, mentiras, e manipulação da opinião pública de outros países – todos estes elementos “enriqueceram” o catálogo de ferramentas das políticas originais de Monroe. A China tentou persuadir Biden a agir com sensatez, mas irão estas tentativas de “détente” ajudar? Poderá uma ideologia cegar uma nação? Duzentos anos de uma doutrina que causou muito sofrimento e ameaça o mundo de muitas maneiras: não há certamente nada para celebrar, mas devemos, pelo menos, chamar a atenção para este perigo permanente e para a ideologia absurda que lhe está subjacente.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteMaria Fernanda Ilhéu, economista: Uma Rota de “aprendizagem conjunta” Conversámos com a presidente da Associação Amigos da Nova Rota da Seda (ANRS) por ocasião da celebração do sexto aniversário da instituição. A economista Maria Fernanda Ilhéu acredita que os casinos vão continuar a ser fundamentais, enquanto o país assim o entender, e que serão criadas alternativas em prol do “equilíbrio” económico São seis anos de existência da ANRS. Que balanço faz? Registámos a associação no dia 21 de Dezembro de 2016, e foram 21 os sócios fundadores. Começámos a trabalhar com o objectivo de dar a conhecer o projecto da nova rota da seda e tentar identificar áreas de cooperação entre Portugal e China no âmbito desta iniciativa. Logo em 2017 produzimos um documento de trabalho utilizando várias áreas de cooperação. Foi um pontapé de saída para a reflexão. Fizemos variadas conferências sobre esse tema. Queríamos que as pessoas entendessem o que estava patente nesta iniciativa, como efectivamente ela se financiava e quais as áreas de interesse. Todos os anos fazemos uma grande conferência que vai focando em várias áreas desta Iniciativa. Queremos que as pessoas e as empresas se consciencializem da importância do relacionamento com a China e da forma de trabalho conjunto com diversas entidades de Portugal, China e terceiros mercados, de forma a conseguirmos um desenvolvimento sustentável global. Como encara a evolução da Iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” ao longo dos últimos seis anos? Evidentemente que com o contexto da pandemia e, mais recente, da desestabilização que a guerra na Ucrânia tem provocado, dificultou ou atrasou alguns projectos, mas a Iniciativa continua a funcionar do ponto de vista das entidades envolvidas. Há dias vi que a Argélia aderiu. Nos últimos anos, foi sempre agregando mais vontades no sentido de cooperação. Neste momento, 141 países e 32 organizações internacionais assinaram acordos de cooperação com a China no âmbito da Iniciativa, e foram assinados cerca de 207 projectos de grande envergadura. A nova rota da seda, além dos grandes projectos de cooperação, tem também uma posição de cooperação entre a China e os parceiros que engloba várias áreas. Em Portugal, verificamos o bom relacionamento que continua a existir com a China e que proporciona diálogo que continua a existir com essas parcerias. No entanto, a Iniciativa tem sido criticada pela dependência financeira, em relação à China, da parte de alguns países. Há aí uma série de pontos que são politizados de uma forma que não tem uma análise racional da situação. Temos de ver que esta Iniciativa e as políticas de financiamento ao longo do tempo. Quando surgiu a Iniciativa, constituíram-se, na China, fundos de investimento, nomeadamente o “Fundo Rota da Seda” e outro ligado ao Banco de Desenvolvimento chinês. Foi-se vendo, aos poucos, que esses projectos não podiam ser feitos sem uma análise financeira que permitisse concluir se o país que queria desenvolver determinado projecto tinha capacidade financeira para explorá-lo de forma sustentável. A primeira grande ideia, e que marcou, de certa forma, a ideia que as pessoas tinham dessa Iniciativa, é que eram, sobretudo, infra-estruturas de comunicação, nomeadamente comboios. Esses países tinham necessidade disso, na via-férrea, portos ou barragens. O que aconteceu é que não foi feita uma análise inicial séria desses países. A China não acautelou algumas situações, nomeadamente a construção de um porto no Sri Lanka, uma vez que o país não tinha capacidade nem de investimento nem de exploração do porto. Estes investimentos não são ofertas. No caso do Sri Lanka, a entidade financiadora teve de assumir a gestão do porto por cerca de 100 anos. Nesse consórcio estavam também entidades francesas, pelo que não foram apenas financiadores chineses. Ao longo do tempo algumas coisas se concluíram. Tais como? Em primeiro lugar são projectos que se pagam a longo termo e é necessário ter análises sérias financeiras e económicas para a sua sustentabilidade. Depois são investimentos muito grandes e a China não é o grande investidor. Há cada vez mais o recurso às multilaterais financeiras e já foi feito o apelo para a participação de entidades privadas. Há uma evolução, que é de análise racional e económica, com efeitos de progressão do relacionamento entre países. Há movimentação de pessoas, equipamentos e conhecimento, e há uma interligação entre entidades. O país que está à cabeça destes projectos tem sido a China, mas o país vê com muitos bons olhos parcerias trilaterais. A estrita politização da análise da Iniciativa pode ser, de certa forma, tendenciosa para servir determinados fins e objectivos políticos. Portugal tem sabido tirar partido da nova rota da seda, ou há ainda um grande desconhecimento de empresas e outras entidades? Esta é uma Iniciativa de longo prazo e de aprendizagem conjunta, e o pontapé de saída foi muito orientado para a construção de projectos de comunicação, como disse. Mas tem evoluído. Hoje em dia fala-se da Rota da Seda digital, por exemplo, da saúde e bem-estar, na Rota da Seda Cultural. Há várias áreas em que se pode cooperar e algumas nem exigem um investimento muito avultado. Em relação às parcerias com Portugal, elas têm existido em várias áreas, nomeadamente na área da saúde e bem-estar, bem notória quando começou a covid-19 na China. Várias entidades portuguesas disponibilizaram-se a apoiar a China e depois vimos o reverso. Não há um grande projecto de infra-estruturas a decorrer, mas há investimento chinês que tem sido bastante importante na sustentabilidade e desenvolvimento das empresas onde foi feito. Relativamente ao Porto de Sines, a forma como o concurso público [para a sua exploração] foi feito não atraiu nenhum investidor, e não apenas os chineses. É sempre num contexto de concurso público internacional que as infra-estruturas se desenvolvem. Não há uma situação em que o Governo chinês vem falar com o Governo português para desenvolver algo, nunca será por essa via. A China está a relaxar gradualmente as restrições no âmbito da pandemia. Isso poderá criar uma nova fase para a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”? Sem dúvida. Por muito que funcionem as relações online não há nada como o contacto e diálogo com diversos agentes económicos. Falamos de relações de cooperação que são muito dinâmicas e que estão em permanente alteração. O que era importante há três anos hoje terá outra perspectiva. Em 2019 essas relações estavam a sofrer um boom enorme, e vimos a quantidade enorme de entidades chinesas que vieram a Portugal em várias áreas. Esperemos que em 2023, com estes sinais de abertura, esses contactos possam recomeçar lá mais para meados do ano. A Iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” está muito presente no discurso político de Macau. O território está a aproveitar devidamente esta matéria ou poderia ser um actor mais activo? Temos sempre dificuldade em fazer esse tipo de análise. É certo que em Macau existem as plataformas certas para desenvolver essa parceria, mas se podem ser melhoradas, podem. Porque é que a sua dinâmica, às vezes, não é tão profunda? Porque uma coisa são políticas, outra coisa são os tecidos empresariais. É necessário que os tecidos de Macau e de Portugal se acertem, e penso que isso ainda não aconteceu. As empresas podem não ter tido ainda os diálogos certos. Aí podemos tentar apostar em mais plataformas, e isso tem sido fomentado pelos Governos, mas talvez da parte das empresas não tenha ainda a dimensão necessária. A ANRS quer participar nisso. Macau está numa fase de transição, com as novas licenças de jogo, enquanto o Governo mostra sinais de querer menos dependência dos casinos. É o desígnio certo para que o território possa corresponder à Iniciativa? Sim. Esse é o grande desafio de Macau, mas não é de agora, é de há muitos, muitos anos. Quando fui para Macau, em 1979, fui precisamente para desenvolver o Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização, cujo objectivo era apoiar a economia para não depender do jogo. A minha função era apoiar a internacionalização das empresas de Macau e reforçar as suas vantagens competitivas. Mas encontrámos uma série de obstáculos. Quais? Muitos foram resolvidos enquanto esteve lá a Administração portuguesa. Até 1999 houve surtos de desenvolvimento, construção, formação de pessoas, criação de universidades… tudo se passou no caminho certo. Mas temos de perceber que o jogo é avassalador, traz rendimentos enormes. Quando temos uma actividade que, de repente, permite às pessoas viver bem economicamente, as pessoas perguntam porquê fazer outra coisa. Isso aconteceu consigo? Sim. Cheguei à Universidade de Macau e o meu papel era trazer jovens para estudarem no ISEG [Instituto Superior de Economia e Gestão], onde era professora. Os professores que falaram comigo disseram-me que os alunos não queriam vir para Portugal, queriam acabar os cursos e começar a trabalhar porque em Macau tinham muitas solicitações de emprego. Vamos ter sempre essa situação, o jogo vai ser sempre a grande centralização económica e as pessoas vão sempre ter uma grande dependência do jogo. Mas podem-se criar áreas alternativas, e penso que a Grande Baía e a expansão de Macau para Hengqin são grandes oportunidades, porque trazem dimensão, o que Macau já não tem, e outros activos humanos. Enquanto houver jogo em Macau essa área vai ser sempre importante, pode é ser equilibrada e não haver uma substituição. São precisos apoios e entidades empresariais nessas actividades. O desemprego aumentou e têm-se verificado situações sociais graves devido à pandemia. Isso pode mudar o paradigma que falou? Acredito que empresas e jovens vão começar a olhar mais para fora. Os jovens estavam muito acomodados e tranquilos com o seu futuro. Este foi um grande acordar para a realidade. Daqui para a frente vamos assistir uma grande evolução em Macau. Ontem celebrou-se mais um aniversário da transição. Que olhar traça relativamente à Macau de hoje? A economia sempre foi dominada pelo jogo, mas quando fui para lá havia um sector fabril muito interessante que se desenvolveu mais a partir de 1979 e meados dos anos 80. O sector de exportação foi importante e viveu de vantagens competitivas externas, da existência de quotas de exportação do sector têxtil. Os empresários de Macau aproveitaram essas oportunidades e isso deu azo a uma actividade industrial interessante que proporcionou também um grande desenvolvimento da área urbana. Em função das novas zonas industriais foram construídas mais infra-estruturas de saneamento básico e comunicações. Acredito que se podem criar dinâmicas que equilibrem o peso do jogo, mas não acredito no total desaparecimento dos casinos enquanto a China decidir que eles têm de estar ali. Enquanto existir aval político o jogo não vai desaparecer e até se pode reforçar. Penso que esta lição de crise foi também para o jogo e não apenas para os jovens. Os casinos perceberam que têm de criar novas formas de expansão. Mas com a integração de Macau na China vão-se potenciar oportunidades de investimento noutras actividades. Mas respondendo à sua pergunta, Macau vai ser sempre uma plataforma entre a China e os países de língua portuguesa e penso que isso poderá ser reforçado. O país tem feito bastante esforço para que isso continue. O jogo vai continuar, mas serão criadas outras actividades e outros modos de vida. Macau estava confinado à sua dimensão física e humana, e não podem ser feitas omeletes sem ovos.
Hoje Macau China / ÁsiaNova Rota da Seda | Projecto reforçado com a participação da Argélia A Argélia e a China assinaram esta terça-feira um documento para a concretização do envolvimento do Estado africano no projecto chinês conhecido como ‘Nova Rota da Seda’, designado em Inglês como ‘One Belt, One Road’. O Ministério dos Negócios Estrangeiros argelino informou, em comunicado, que a cerimónia, realizada por via virtual, contou com o seu titular, Ramtane Lamamra, e o presidente da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China, He Lifeng. Estes dirigentes assinaram um acordo de cooperação trienal, para o período 2022-2024, focado nas principais áreas económicas comuns. Esta cerimónia, que ocorreu pouco antes da primeira sessão da Cimeira Sino-Árabe, desenrolou-se “no âmbito da consolidação da associação estratégica global em curso entre a Argélia e a República Popular da China e do fortalecimento das relações históricas entre os dois países amigos em vários campos”, segundo o documento. Há um mês, os dois Estados tinham assinado o II Plano Quinquenal de Cooperação Estratégica Global 2022-2026. As relações sino-argelinas estão a desenrolar-se desde que em 2014 assinaram um acordo similar e, quatro anos depois, a Argélia juntou-se ao projecto chinês da Nova Rota da Seda. Em Novembro, o presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune, apresentou a candidatura do seu Estado a membro dos BRICS, bloco integrado por Brasil, Federação Russa, Índia, China e África do Sul, também designado por BRICS, depois de em Setembro na ONU, em Nova Iorque, o seu homólogo chinês ter apoiado esta pretensão.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteAnabela Santiago, académica: “Vão aparecer alternativas à política zero casos” Anabela Santiago, doutoranda pela Universidade de Aveiro e investigadora na área dos assuntos chineses, aponta que não é possível a China desconfinar da mesma forma que o Ocidente está a fazer, mas defende que poderão surgir “em breve” alternativas à política de zero casos covid-19. A académica aponta ainda que, com Xi Jinping, a propaganda chinesa passou a ter um maior foco na legitimidade do Partido Como tem evoluído a propaganda na China nos últimos anos? Encontramos grandes diferenças entre líderes, sobretudo desde que Xi Jinping subiu ao poder? A propaganda na China tem evoluído, tal como no resto do mundo, na forma como ela é veiculada e nos seus meios de suporte essencialmente. Refiro-me em concreto às plataformas digitais, às redes sociais mais populares da China como o Weibo ou o WeChat, por exemplo. Os meios de suporte dos mass media é que sofreram uma alteração devido à entrada na chamada era digital e aos milhões de utilizadores da Internet na RPC. A essência da propaganda, essa, também se foi moldando (embora mais lentamente) às mudanças ocorridas na sociedade chinesa, nomeadamente à melhoria da qualidade de vida da população em geral, o que acarretou um aumento exponencial da classe média chinesa e uma maior procura por fontes de informação. No que diz respeito aos sucessivos líderes e ao actual – Xi Jinping – a propaganda sempre serviu como um modo de difusão dos vários “motes” políticos adoptados ao longo das lideranças: o desenvolvimento com base na inovação científica, a criação de uma sociedade harmoniosa e mais recentemente o “sonho chinês”. Com Xi Jinping uma das principais diferenças é o retorno a um maior enfoque na legitimidade do PCC como via única para o progresso com um forte apelo ao nacionalismo e aos valores confuccionistas mais tradicionais. Até que ponto tem sido feita uma adaptação às redes sociais e à comunicação social por parte do aparelho de propaganda? Há uma maior capacidade de atracção das gerações mais jovens ao Partido? Tem havido uma adaptação à era digital no sentido de atrair mais população jovem. O Partido está consciente das mudanças ocorridas na sociedade e o facto de a população estar mais instruída e pedir mais informação levou a essa preocupação nos meios de comunicação social. Também a preocupação com a imagem internacional levou a propaganda a assumir um papel cada vez mais de instrumento de “nation branding”, quer a nível interno, com um forte apelo ao nacionalismo e ao “grande rejuvenescimento da nação chinesa”; quer a nível externo, com um esforço nítido de se afirmar como actor relevante e responsável na nova ordem internacional. Afirmou que a propaganda é uma ferramenta de soft power, sobretudo aplicada ao projecto da Rota da Seda da Saúde. Com o conflito na Ucrânia, acredita que a China terá de redefinir a sua estratégia de propaganda no que diz respeito à diplomacia, fomentando ainda mais a imagem de um actor mundial que não procura conflitos bélicos? Creio que a China irá manter esta ambiguidade de posicionamento em que tem estado até agora desde o início da invasão russa à Ucrânia. Isto porque apesar das diversas transformações geopolíticas ocorridas no mundo globalizado nas últimas décadas, a China mantém-se fiel em termos de política internacional aos princípios que resultaram da Conferência de Bandung, em particular, os da não-ingerência nos assuntos internos de outros Estados-nação, o respeito pelas soberanias nacionais e integridade territorial. Portanto, apesar da “amizade” que tem com a Rússia e da rejeição no que diz respeito à acção da NATO, a RPC não apoia a invasão da Ucrânia. Pode até perceber os motivos, mas não aprova os meios bélicos para atingir os objectivos que a Rússia pretende atingir. Julgo que a China, nesta matéria, não irá mudar a sua posição nem a mensagem que tem vindo a passar nos meios de comunicação relativamente a este assunto. A manutenção da política de casos zero de covid-19 no país e os impactos que esta está a ter na economia vai obrigar a um redesenhar da estratégia de propaganda a nível interno? Dada a dimensão da população chinesa e a densidade populacional, sobretudo nas cidades, não é possível aliviar as medidas na China do mesmo modo que tem sido feito no Ocidente. Os confinamentos em massa continuam a ser a solução a mais curto prazo para conter surtos. No entanto, e muito devido aos impactos económicos e sociais causados por estes confinamentos e quarentenas prolongadas, o Governo chinês já manifestou a sua preocupação na busca por um modelo de combate que seja mais “científico e específico”. A retórica da “saúde das pessoas em primeiro lugar” vai ser mantida nos próximos tempos, mas a divulgação de novas alternativas à política de zero casos covid-19 irá começar a aparecer em breve com base em evidência científica, dando, quiçá, origem a uma “política anti-covid com características chinesas”. Em relação ao conceito de Nation Branding, a China fá-lo de forma diferente face a outros países? A China tem sentido uma necessidade acrescida de desenvolver campanhas no sentido de promover a sua imagem externa, visto que a sua rápida ascensão económica e o seu peso crescente na esfera política internacional a colocam no centro de muitos debates, ora numa posição de poder em ascensão pacífico, ora como uma ameaça ao status quo e ao equilíbrio mundial. Em 2003, encetou uma grande campanha de marketing externo se assim se pode chamar com o mote da ascensão pacífica (“PRC’s peaceful rise”). Outra grande manifestação de ‘Nation Branding’ ocorreu em 2008, com a realização dos Jogos Olímpicos em Pequim, que amplamente contribuiu para difundir a imagem de uma nação próspera, mas também coordenada, harmoniosa, integradora e acolhedora. As estratégias de ‘Nation Branding’ são amplamente estudadas ao pormenor, mas não diferem assim tanto das estratégias usadas noutros países. O esforço de legitimação do Partido Comunista Chinês (PCC) poderá ser feito de outras formas, além da propaganda? O esforço de legitimação do PCC é um trabalho implícito em toda a acção económica, política e social do Partido. Os resultados falam por si, mas começam a haver cada vez mais gerações na China que não conheceram outra realidade a não ser esta da China moderna e próspera. Portanto, a necessidade de lhes transmitir que isso só foi possível graças a uma economia de mercado socialista com características chinesas em que o PCC foi sempre o eixo central das políticas levadas a cabo é essencial do ponto de vista dos altos dirigentes do PCC e, acima de tudo, do actual líder Xi Jinping. A propaganda estatal nisso tem um papel fundamental e continuará a tê-lo. Propaganda no CCCM Anabela Santiago foi uma das oradoras do ciclo de conferências de Primavera promovido pelo Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM). No passado dia 31 a doutoranda da Universidade de Aveiro deu a palestra intitulada “A dimensão externa das políticas públicas da China contemporânea: O papel da propaganda”, que deu origem a esta entrevista. O ciclo de conferências no CCCM acontece novamente entre os dias 18 e 23 deste mês, com um painel de conversas sobre a Ásia.
Hoje Macau China / ÁsiaArgentina confirma adesão à iniciativa Nova Rota da Seda A Argentina confirmou hoje a adesão à Nova Rota da Seda, uma iniciativa da China que pretende estreitar a cooperação económica e política entre as entidades aderentes, sejam países ou organizações internacionais, adianta a Efe. Segundo a agência de notícias espanhola, a adesão ao projeto “Uma Faixa, Uma rota” (BRI) daquele país da América do Sul foi confirmada após um encontro entre o presidente da Argentina, Alberto Fernández, e o homólogo chinês, Xi Jinping. Num comunicado, refere a Efe, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês indica que ambos os países assinaram um “Memorando de Entendimento”, a forma mais elevada de adesão, para a cooperação no âmbito do programa BRI. A vontade da Argentina em aderir à BRI foi anunciada no final de 2020 pelo embaixador argentino na China, Sabino Vaca Narvaja, que, segundo a imprensa chinesa, assumiu ainda que Buenos Aires planeava abrir uma nova ramificação diplomática na cidade central de Chengdu em 2022. O presidente argentino viajou para a capital da China, Pequim, para assistir à cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim 2022 como parte de uma digressão internacional que o levou à Rússia e que terminará em Barbados. Esta é a primeira visita oficial do presidente argentino à China, país que foi o segundo maior parceiro comercial da Argentina em 2021, atrás do Brasil.
João Romão VozesNovas rotas dos Impérios Está a fazer dois anos: foi a 28 de Junho de 2019 que aqui publiquei “Muros e estradas”, uma crónica em que comparava o abnegado esforço do então presidente dos Estados Unidos da América para a construção de muros que protegessem o seu país de potenciais invasões de imigrantes, com a iniciativa que a China designou como a “nova rota da seda”, a reactivação dos caminhos que ligam o extremo oriente asiático à Europa, desta vez através de um programa de investimentos promovidos pelo estado chinês e destinados a reforçar as infraestruturas e capacidade produtiva de países com recursos mais escassos, não só na Ásia mas também em África, que as rotas de hoje têm maior amplitude e flexibilidade geográfica – também à medida das ambições de quem pode adaptar-se às circunstâncias ou disputar em várias frentes territoriais as competições desenfreadas que a globalização capitalista vai promovendo. Na altura olhava-se desde os Estados Unidos e da Europa com manifesta desconfiança e animosidade para esta iniciativa chinesa, percebida como uma tentativa de aumentar a influência económica, cultural e política do país com o pretexto do apoio ao desenvolvimento – enfim, o discurso habitual sobre os perigos e consequências do imperialismo, das pouco democráticas implicações da expansão da hegemonia política por via da dominação económica. A curiosidade, desta vez, é que o discurso sobre estes perigos vinha precisamente do governo de um dos países mais desenvolvidos do mundo – os Estados Unidos, com toda a sua longa tradição e pergaminhos no assunto em questão – com o diligente e dedicado apoio de governos e instituições europeias. Na minha crónica de há anos comparava então a nova “Rota da Seda” promovida pelo governo chinês com o que ficou conhecido como o “Plano Marshall”, financiado sobretudo pelos Estados Unidos, que apoiou programas de larguíssima escala para a reconstrução de infra-estruturas e capacidade produtiva após a II Guerra Mundial. Foi um plano altamente apreciado, não só por quem o promoveu, mas também pelos países que receberam os investimentos – e até pela generalidade dos analistas e estudiosos de políticas económica nas décadas que se seguiram, à esquerda e à direita do espectro ideológico. Foi um plano que claramente beneficiou os países que receberam os investimentos e que tiveram oportunidade de promover um ciclo longo de acelerada e intensa recuperação económica, que levaria até a que se viessem a questionar os limites destes acelerados processos de desenvolvimento, com a inerente delapidação de recursos e degradação ambiental, já no final dos anos 1960. Na altura, evidentemente, o plano também contribuiu – e muito largamente – para se afirmar no planeta uma hegemonia económica, cultural e política dos Estados Unidos que até então se desconhecia. Havia Hollywood, o jazz e viria o rock’n’roll, que dificilmente teriam a expansão global que tiveram se não fosse o ambiente de generalizada expansão económica, aumento do consumo, florescimento de novas actividades e interesses culturais, abertura de horizontes e perspectivas mais cosmopolitas, pelo menos para quem não vivesse sob a tenebrosa sombra de regimes ditatoriais, pobres e broncos, como o que assombrou o povo português por quase meio século. A consolidação dos EUA na hegemonia política do planeta é largamente tributária da sua liderança económica no período do pós-II Guerra e isso muito se deve a este portentoso programa internacional de investimentos. Dois anos volvidos sobre a tal crónica que aqui publiquei, muda então o cenário: há um novo governo nos Estados Unidos e uma outra percepção sobre as novas rotas da seda – que são, na realidade, novas rotas da finança: não basta olhar com desconfiança e discurso crítico para o papel que a China está a assumir ou a reforçar no apoio ao desenvolvimento económico da regiões mais desfavorecidas do planeta: se se quer disputar o inerente reforço da influência económica, cultural e política, não há outra alternativa senão fazer o mesmo. Nasce agora então novo plano, apresentado esta semana pelo presidente dos Estados Unidos aos seus parceiros líderes das potências económicas planetárias, o chamado G7, um dos símbolos máximos do imperialismo económico do planeta, disposto agora a mobilizar 40 mil milhões de dólares para apoiar investimentos na América Latina, Caraíbas, África e Indo-Pacífico. Posicionam-se então os impérios para nova disputa sobre a economia do planeta e a inerente hegemonia política. A China retomou a velha Rota da Seda para propor uma modernização acelerada de países menos desenvolvidos. Os Estados Unidos aproveitam a crise provocada pela pandemia de covid-19 para oferecer apoios à recuperação económica. Em ambos os casos, mobilizam-se os recursos da sobre-acumulação de capital que vai engordando bilionários avarentos, alimentando processos globais de especulação imobiliária ou financeira e criando sucessivas novas oportunidades para branqueamento de capitais variados. Pelo menos parte do que estes respeitáveis larápios vai acumulando retornará à esfera da produção. Já não é mau de todo.
Hoje Macau China / ÁsiaNova Rota da Seda é “iniciativa diferente” que se baseia “em colaborações” [dropcap]A[/dropcap] presidente da Associação Amigos da Nova Rota da Seda (ANRS), Fernanda Ilhéu, defende que o projecto da Nova Rota da Seda no continente africano é “uma iniciativa diferente” que pretende basear-se na cooperação. “Esta iniciativa é diferente, baseia-se numa colaboração bilateral ou multilateral que tem como objectivo desbloquear certas lacunas que impedem que esses países consigam estabelecer um desenvolvimento sustentado que os leve ao maior bem-estar”, disse Fernanda Ilhéu à Lusa. Fernanda Ilhéu, professora universitária no Instituto Superior de Economia e Gestão, considerou que a relação entre China e o continente africano é “uma relação que vem de há muitos anos” A professora defendeu que “há uma preocupação muito grande para que a ajuda seja feita sob a forma de cooperação”, sublinhando que “não é uma dádiva”. A iniciativa, referiu Fernanda Ilhéu, “está aberta a quem colaborar com a China nesse sentido”, sendo para isso necessário que “os países envolvidos tenham uma grande relação com a China”. A professora universitária referiu que a Nova Rota da Seda “não é um Plano Marshall”. “Os países deverão, eles próprios, ter a iniciativa de propor à China os projectos que consideram ser fundamentais”, acrescentando que tem de haver uma avaliação para que estes projectos “depois não se venham a mostrar ruinosos”. Todos juntos Fernanda Ilhéu defende que o interesse da China em investir nestes países passa pelo “novo modelo de globalização” e pelo “crescimento da economia global”. “Ou crescemos todos, ou dificilmente a China também crescerá. Precisamos do crescimento dos países menos desenvolvidos para nos equilibrarmos todos”. Para a presidente da ANRS, os projectos de desenvolvimento conjunto são uma forma de ultrapassar o desemprego no continente africano. Fernanda Ilhéu falou à Lusa dias antes da apresentação do livro “The New Silk Road and the Portuguese Speaking Countries in the New World Context”, que redigiu em pareceria com Francisco Leandro, professor da Universidade de São José e Paulo Duarte, professor do Departamento em Relações Internacionais e Administração Pública da Universidade do Minho.
admin China / ÁsiaNova Rota da Seda é "iniciativa diferente" que se baseia "em colaborações" [dropcap]A[/dropcap] presidente da Associação Amigos da Nova Rota da Seda (ANRS), Fernanda Ilhéu, defende que o projecto da Nova Rota da Seda no continente africano é “uma iniciativa diferente” que pretende basear-se na cooperação. “Esta iniciativa é diferente, baseia-se numa colaboração bilateral ou multilateral que tem como objectivo desbloquear certas lacunas que impedem que esses países consigam estabelecer um desenvolvimento sustentado que os leve ao maior bem-estar”, disse Fernanda Ilhéu à Lusa. Fernanda Ilhéu, professora universitária no Instituto Superior de Economia e Gestão, considerou que a relação entre China e o continente africano é “uma relação que vem de há muitos anos” A professora defendeu que “há uma preocupação muito grande para que a ajuda seja feita sob a forma de cooperação”, sublinhando que “não é uma dádiva”. A iniciativa, referiu Fernanda Ilhéu, “está aberta a quem colaborar com a China nesse sentido”, sendo para isso necessário que “os países envolvidos tenham uma grande relação com a China”. A professora universitária referiu que a Nova Rota da Seda “não é um Plano Marshall”. “Os países deverão, eles próprios, ter a iniciativa de propor à China os projectos que consideram ser fundamentais”, acrescentando que tem de haver uma avaliação para que estes projectos “depois não se venham a mostrar ruinosos”. Todos juntos Fernanda Ilhéu defende que o interesse da China em investir nestes países passa pelo “novo modelo de globalização” e pelo “crescimento da economia global”. “Ou crescemos todos, ou dificilmente a China também crescerá. Precisamos do crescimento dos países menos desenvolvidos para nos equilibrarmos todos”. Para a presidente da ANRS, os projectos de desenvolvimento conjunto são uma forma de ultrapassar o desemprego no continente africano. Fernanda Ilhéu falou à Lusa dias antes da apresentação do livro “The New Silk Road and the Portuguese Speaking Countries in the New World Context”, que redigiu em pareceria com Francisco Leandro, professor da Universidade de São José e Paulo Duarte, professor do Departamento em Relações Internacionais e Administração Pública da Universidade do Minho.