Hoje Macau China / ÁsiaNanjing | Sobrevivente do massacre morre aos 99 anos Zhou Zhilin, um dos últimos sobreviventes chineses do Massacre de Nanjing, morreu a 20 de Julho, aos 99 anos de idade, informou ontem a instituição que preserva a memória do massacre. O Centro de Memória das Vítimas do Massacre de Nanjing afirmou, em comunicado, que a morte de Zhou fixa em 32 o número de sobreviventes do massacre, cometido pelas tropas japonesas no final de 1937. Zhou Zhilin, nascido em 1925, tinha 12 anos na altura do ataque e, segundo o seu testemunho, conseguiu esconder-se junto a um lago com o tio, que acabou por ser executado pelos soldados japoneses com uma baioneta. O então jovem Zhilin salvou-se fingindo-se de morto. Os relatos destas vítimas foram incluídos em 2015 no Registo da Memória do Mundo da Unesco. A 13 de Dezembro de 1937, o Exército japonês invadiu Nanjing e, nas seis semanas seguintes, as suas forças queimaram e pilharam, violaram em massa dezenas de milhares de mulheres e mataram entre 150.000 e 340.000 pessoas, de acordo com diferentes fontes históricas. Todos os anos, nesta data, a China comemora o seu próprio “holocausto” no período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial com uma cerimónia no Memorial às Vítimas do Massacre de Nanjing perpetrado pelos invasores japoneses.
Hoje Macau China / ÁsiaAutor confesso do massacre de 19 deficientes condenado à morte no Japão [dropcap]O[/dropcap] autor confesso do maior massacre no Japão nos últimos 75 anos, o de 19 pessoas deficientes, foi condenado hoje à morte e durante o julgamento insistiu que a felicidade das suas vítimas foi a sua motivação para os crimes. O Tribunal Distrital de Yokohama condenou Satoshi Uematsu, de 30 anos, à pena de morte pelo assassínio de 19 moradores de um centro para deficientes em Sagamihara, a cerca de 50 quilómetros a oeste de Tóquio. Uematsu entrou na madrugada de 26 de julho de 2016 num centro dedicado a pessoas com problemas mentais e, depois de imobilizar a equipa de funcionários que estava no local, esfaqueou os residentes enquanto estes dormiam. O ataque durou cerca de 50 minutos, durante os quais matou 19 pessoas com idades entre 19 e 70 anos e feriu outras 24, de um total de 149 pessoas com deficiências que residiam nas instalações. O japonês também foi acusado de causar ferimentos a dois dos cinco funcionários do centro a quem amarrou antes do ataque. O autor do crime, que tinha trabalhado no centro três anos e meio e morava a apenas 500 metros, escolheu como vítimas alguns dos pacientes com maior grau de deficiência, segundo o seu próprio relato. Uematsu entregou-se numa esquadra perto da sua residência carregando três das facas usadas no ataque. Em declarações à polícia e no julgamento, insistiu que sua motivação era “salvar” as suas vítimas e torná-las “felizes”. Na decisão, o juiz do Tribunal Distrital de Yokohama, que presidiu o julgamento, Kiyoshi Aonuma, disse que, embora pudesse “entender o sentimento” que motivou o ataque, a decisão leva em consideração “a enorme crueldade” do crime e a sua “grave” consequência”, de acordo com trechos do texto difundidos pelo canal público de televisão NHK. “A sua maneira de pensar sobre várias pessoas com deficiência baseia-se na sua experiência de trabalho. Não podemos dizer que seja um pensamento patológico”, disse Aonuma, referindo-se à responsabilidade criminal do acusado, cujas capacidades mentais foram avaliadas pela sua defesa durante o processo. Uematsu não se arrependeu do assassínio depois de se render nem durante o julgamento e em audiências nos últimos meses, garantindo, antes que a decisão fosse conhecida, que ele não recorreria. Quando o juiz Aonuma estava a preparar-se para encerrar a sessão, o condenado pediu para dizer algumas palavras, mas não lhe foi permitido. O caso de Sagamihara é o maior massacre cometido no Japão desde o final da Segunda Guerra Mundial e chocou e indignou o país, onde alguns acreditavam que a tragédia poderia ter sido evitada. Meses antes do evento, em fevereiro, Uematsu enviou uma carta que chegou à polícia, detalhando o seu plano e dizendo que o seu objetivo era “alcançar um mundo em que pessoas com múltiplas deficiências pudessem ser sacrificadas”, já que enfrentavam uma vida “extremamente difícil”. Uematsu também comunicou os seus planos a colegas de trabalho e conhecidos, pelo que foi investigado pela polícia e temporariamente internado num centro psiquiátrico. O homem foi libertado após doze dias, depois de os psiquiatras concluírem que a sua condição mental havia melhorado. Isso, juntamente com o facto de Uematsu começar a usar drogas como haxixe naquela altura, levou a defesa de Uematsu a alegar distúrbios mentais que o impediriam de responder criminalmente, mas o argumento foi rejeitado pelo tribunal. Uematsu junta-se ao smais de cem presos que aguardam no corredor da morte que a sua sentença seja executada no Japão.
Hoje Macau China / ÁsiaFilipinas | Familiares das vítimas denunciam impunidade em massacre [dropcap]F[/dropcap]amiliares das vítimas do massacre que fez 58 mortos, incluindo 32 jornalistas, na ilha filipina de Midanau, denunciaram ontem a impunidade e a lentidão da justiça, numa cerimónia para assinalar a passagem de 10 anos sobre a data. Familiares e amigos das vítimas acenderam velas e largaram balões ontem próximo da localidade de Ampatuan, na ilha de Mindanau, no Sul, onde decorreu o massacre em 23 de Novembro de 2009. As 58 vítimas viajavam numa caravana na região quando foram alvo de uma emboscada, tendo sido mortas e enterradas no local. Jornalistas, na sua maioria, os passageiros da caravana acompanhavam o candidato a Governador e opositor do então titular do cargo e líder de um poderoso clã local. Governador de Maguindau durante quase 10 anos, o chefe Andal Ampatuan queria que o seu filho, Andal Ampatuan Júnior, considerado o principal suspeito do crime, lhe sucedesse. “Há muito que sabemos quem são os culpados. Agora deve ser tomada a decisão certa”, disse Jergin Malabananan, de 15 anos, filho de uma das jornalistas assassinadas. Um helicóptero deixou cair uma ‘chuva’ de flores quando mil familiares e amigos, jornalistas e políticos se reuniram em torno de um monumento com os nomes das 58 vítimas. Cerca de 100 pessoas, incluindo muitos membros do clã Ampatuan, foram acusados do crime, mas o processo arrastou-se nos tribunais durante anos, com os advogados de defesa a apresentarem sucessivos recursos. O julgamento terminou em Julho e o Supremo Tribunal deu à juíza responsável pelo processo até 20 de Dezembro para examinar todas as provas e proferir a sentença. “Esperemos que meu irmão e as outras vítimas finalmente tenham justiça”, disse Freddie Ridao, um político local.
João Luz Internacional Manchete SociedadeMyanmar | Relatório da ONU revela detalhes do genocídio dos rohingya Relatos de genocídio, violações, tortura e bombardeamentos indiscriminados são algumas das atrocidades denunciadas numa investigação das Nações Unidas aos crimes cometidos pelas autoridades birmanesas contra a minoria rohingya. O relatório apresentado pelo Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU releva provas detalhadas dos “mais graves crimes à luz do direito internacional” [dropcap style≠‘circle’]Q[/dropcap]uando o exército do Myanmar entrou na aldeia Min Gyi, no Estado de Rakhine na parte oeste do país, colocou em acção um plano genocida contra a minoria rohingya que ficará para a história como uma das mais chocantes atrocidades cometidas neste início de século. Metodicamente, os soldados separam todos os homens da povoação para os colocarem em frente do pelotão de fuzilamento. Depois de dispararem, cortaram friamente as gargantas daqueles que ainda se mexiam. Depois da matança meticulosa dos homens, a atenção dos militares virou-se para mulheres e crianças. Desta vez, o método e o calculismo foi substituído pelo caos. Famílias foram trancadas em casas regadas com gasolina e queimadas vivas. Crianças que tentaram escapar foram baleadas, algumas jogadas ao rio e outras atiradas para o fogo, incineradas perante a dor incalculável das mães. Mulheres e raparigas foram violadas até à exaustão, mutiladas e mortas. Estes são alguns dos horrendos detalhes revelados pelo relatório das Nações Unidas sobre as atrocidade cometidas contra a minoria muçulmana rohingya na Birmânia, consideradas “os crimes mais graves à luz da lei internacional”. As 444 páginas apresentadas esta semana em Genebra pelo Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU são uma compilação dos episódios de barbárie que levaram mais de 750 mil muçulmanos rohingya a fugir para o Bangladesh. O documento serve de base a acusações de genocídio. Em resposta ao relatório, o Governo do Myanmar negou categoricamente que as forças armadas tenham cometido as atrocidades descritas pelos observadores internacionais. Aliás, as autoridades birmaneses defenderem que as suas tropas se limitaram a reagir aos ataques de militantes rohingya contra a polícia fronteiriça e algumas povoações. Por seu lado, o painel de observadores da ONU respondeu às autoridades birmanesas referindo que “as explicações apresentadas não fazem sentido”, e que “as matanças foram generalizadas, sistemáticas e brutais”. Aliás, Marzuki Darusman, que liderou a investigação, disse ao Altor Comissariado para os Direitos Humanos que “no centro de todas as violações de direitos humanos analisadas esteve sempre a extrema brutalidade usada pelas forças militares birmanesas”. “A matança de civis de todas as idades, incluindo bebés, não pode servir de justificação para acções de contra-terrorismo. Não há como justificar a violação de mulheres e raparigas, ou queimar pessoas vivas. Estas acções são um ataque deliberado contra um povo específico”, acrescenta Darusman. Processo penal O painel de observadores requereu ao Conselho de Segurança da ONU que os responsáveis por estes crimes sejam julgados no Tribunal Penal Internacional. Um dos acusados deverá ser o líder máximo das forças armadas do Myanmar, identificado como um dos responsáveis pela barbárie. Foi também sugerido ao Conselho de Segurança a imposição de um embargo à venda de armas ao Myanmar, aplicação de sanções a indivíduos específicos, incluindo o congelamento de activos e proibição de viajar. “Qualquer relação com as forças armadas birmanesas, os seus líderes e parceiros de negócios é indefensável”, foi apontado pelo painel de observadores. Não é usual que uma investigação a violações de direitos humanos proponha o desmantelamento de hierarquias militares, ou alterações constitucionais para acabar com o domínio político de generais. Ainda assim, o painel de observadores apelou à substituição dos líderes do Tatmadaw (exército birmanês), e aconselhou a supervisão dos poderes políticos e civis das forças armadas e ao fim do controlo apertado do parlamento pelos generais. A transição de um Governo liderado por militares para um dirigido por civis, que permitiu a ascensão ao poder de Aung San Suu Kyi como Chefe de Estado, foi travada e, de certa maneira, até regrediu desde que a laureada pelo Prémio Nobel da Paz tomou posse. A opinião foi expressa por Christopher Sidoti, um dos observadores responsáveis pelo relatório da ONU. Sidoti acrescentou ainda que “a democracia não pode ser construída com base em alicerces de genocídio, crimes de guerra e contra a humanidade”. O caso de Min Gyi O relatório tornado público esta semana está repleto de descrições de mulheres atadas a árvores pelas mãos, ou cabelos, e subsequentes violações, crianças que correm de casas a arder e que são forçadas a voltar a entrar nas habitações em chamas, uso generalizado de tortura com paus de bambu, pontas de cigarros e cera quente. Existem também relatos de colocação de minas em caminhos usados pela minoria muçulmana na fuga às atrocidades cometidas pelo exército birmanês. De acordo com o relatório, pelo menos 750 habitantes de Min Gyi morreram na sequência do ataque dos militares. Desde que começaram as “operações”, que duram há mais de dois meses, estima-se que pelo menos 10 mil pessoas tenham sido assassinadas. Esta foi a realidade resultante de mais de 875 entrevistas a vítimas e testemunhas dos mais variados grupos étnicos e religiosos. Imagens de satélite mostram que 40 por cento das povoações no norte do Estado de Rakhine foram totalmente ou parcialmente destruídas. De acordo com o líder do painel de observadores da ONU, todas as circunstâncias que rodeiam as “operações de liberação” evidenciam intenções genocidas e flagrante desproporcionalidade face a qualquer possível ameaça de militantes radicais. Aliás, o relatório refere que não houve sequer tentativas para identificar possíveis terroristas ou alvos militares, ou mesmo distinções entre militantes e civis. O sistemático incremento de tropas na região, antes de acontecerem ataques de militantes, revela o envolvimento das mais altas esferas de comando militar e “um plano organizado de destruição com intenções genocidas”. Aliás, os métodos bárbaros utilizados na campanha contra os muçulmanos rohingya não são novos. Por exemplo, a instrumentalização das violações como táctica de guerra aplicada em Rakhine, tem sido usada pelas autoridades birmanesas há décadas em conflitos com outras minorias no Myanmar. As tropas violam mulheres e raparigas sistematicamente e matam específica e deliberadamente crianças. De acordo com o relatório, oitenta por cento dos casos de violação relatados acontecem em grupo, acompanhados frequentemente pelo assassinato dos filhos da vítima enquanto esta é violada. O resultado da investigação da ONU mostra também que muitas vezes as mulheres são mordidas na cara, peito ou coxas e mutiladas nos órgãos reprodutivos como forma de serem “marcadas”. Uma mulher, que foi violada em conjunto com a irmã, contou ao painel de observadores que os soldados lhe disseram que a iriam violar até à morte. “Vamos matar todos os rohingya, este não é o vosso país”, terá sido uma das frases ouvidas pela vítima. Morte em crescendo A missão da ONU conclui que o que aconteceu no Estado de Rakhine foi um desastre que se via a milhas. Depois de décadas de discriminação oficial que limitou o acesso da minoria rohingya à cidadania e à educação, e da disseminação de discursos políticos inflamados por ódio, o desastre humanitário era uma inevitabilidade à espera de acontecer. Ultranacionalistas e extremistas religiosos têm acentuado o antagonismo racial diabolizando os rohingya como imigrantes “bengalis” que representam um ameaça existencial à identidade budista do Myanmar. Um dos líderes militares que alinha nesta violenta doutrina é o General Min Aung Hlaing, que durante as campanhas de matança referiu que “o problema bengali é um trabalho por terminar”, acrescentando que o Governo estava a “tratar do assunto”. Tanto as forças armadas como o Governo civil, liderado por Aung San Suu Kyi, têm descrito as acções militares como respostas apropriadas para combater o terrorismo. Como tal, não de estranhar que, além das acusações ao exército birmanês, o relatório da ONU critique o papel passivo de Aung San Suu Kyi no último ano. “Ela não usou a posição de Chefe de Estado, nem a sua autoridade moral, para atenuar ou prevenir o desenrolar dos acontecimentos no Estado de Rakhine”.
Hoje Macau China / ÁsiaTaiwan assinala 70.º aniversário de massacre Taiwan assinalou ontem o 70.º aniversário da sangrenta repressão de protestos contra o governo, numa altura de renovada tensão entre Pequim e Taipé. [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s protestos, que começaram a 28 de Fevereiro de 1947, foram dirigidos contra a administração corrupta do Partido Nacionalista da China, de Chiang Kai-shek. Tropas governamentais abriram fogo sobre manifestantes que protestavam pacificamente contra a morte de civis em confrontos com a polícia na sequência do espancamento de uma vendedora de cigarros. Entre 18.000 e 28.000 pessoas terão morrido no incidente, ocorrido entre a derrota dos japoneses que ocuparam Taiwan até 1945 e a retirada para a ilha das forças nacionalistas, de Chiang kai-shek, que na altura controlavam ainda a China. A China considera a revolta popular parte da luta global que levou à vitória comunista em 1949, enquanto muitos taiwaneses a vê como uma reacção contra as tentativas da China para governar a ilha sem o consentimento da sua população nativa. Suprimidos sob o governo nacionalista, a revolta tornou-se um ponto aglutinador para os taiwaneses que dizem que a ilha e a China são nações separadas. Achas para a fogueira As comemorações deste ano são particularmente especiais, porque o governo está a preparar uma lei que poderá rebaptizar um monumento histórico no centro da capital, Taipé, dedicado a Chiang kai-shek e remover a sua estátua do local. A administração independentista de Taiwan, liderada pela Presidente Tsai Ing-wen, também está a revelar todos os documentos governamentais secretos sobre o incidente. O Kuomintang, que Chiang dirigia quando foi derrubado pelo Partido Comunista Chinês (PCC) de Mao Tse Tung que, nesse ano, fundou a República Popular da China levando Chiang Kai-shek a refugiar-se em Taiwan, que liderou sob lei marcial até à sua morte em 1975. O então governo nacionalista pediu desculpa às vítimas do massacre em 1995, mas movimenta-se para excisar a memória de Chiang que se manteve intacta sob a administração do anterior Presidente nacionalista Ma Ying-jeou, que deixou a liderança de Taiwan no ano passado.