Internet | Modelo de lei do Interior para proteger menores

O deputado ligado à Associação das Mulheres, Ma Io Fong, considera que deve haver um maior controlo da Internet, para evitar que as crianças entrem em contacto com conteúdos impróprios para menores

 

O deputado Ma Io Fong defende que o Governo deve copiar o “espírito” da lei do Interior de regulação da Internet, para proteger os menores de modo a evitar que estes tenham contacto com conteúdos sexuais. As declarações do legislador apoiado pela Associação das Mulheres foram prestadas no domingo durante um seminário sobre educação sexual e citadas pelos Jornal do Cidadão.

Segundo Ma Io Fong, apesar do Governo de Macau incentivar e tomar várias medidas para garantir protecção dos menores face a “conteúdos impróprios” na Internet, falta um documento legal que integre as diferentes vertentes das medidas tomadas e que tenha uma orientação mais geral.

Face a esta lacuna, Ma Io Fong sugeriu que Macau copie o espírito da nova lei do Interior, que entrou em vigor em Outubro, e que define as condições em que os menores podem ter contacto com a internet, além das exigências impostas aos operadores.

Segundo o documento mencionado pelo legislador, a protecção online dos menores deve “obedecer à liderança do Partido Comunista da China” e “aderir aos valores nucleares e liderança socialista”.

Além disso, nas escolas e para as famílias é criado o dever legal de “educar e guiar” os menores na participação em actividades “benéficas para a saúde física e mental”, assim como no desenvolvimento de uma utilização “científica, civilizada, segura e razoável” da Internet, de forma a evitar o vício.

Exigência de identidade

Um dos grandes capítulos da lei da Internet do Interior visa o combate ao vício. O documento que Ma Io Fong sugere copiar exige assim que qualquer aplicação ou site que disponibilize serviços de mensagens para menores peça aos utilizadores os dados pessoais reais, assim como os dos pais. Esta é uma obrigação estendida a todas as plataformas que “disponibilizem serviços para menores”.

No caso de as exigências não serem cumpridas, a lei do Interior indica que serão aplicadas várias multas. Quando se registam crimes, o diploma informa que as situações são resolvidas “de acordo com a lei”.

A lei do Interior dá igualmente poderes às autoridades para retirar da Internet, ou bloquear o acesso, a qualquer wesbite ou aplicação que não cumpra com as exigências expostas.

Também desde 2021, as leis do Interior obrigam os menores a registarem-se com os dados pessoais para jogarem online, sendo que as contas ficam bloqueadas após jogarem mais de três horas por semana.

Ma Io Fong defendeu ainda que toda a sociedade se deve envolver na protecção dos menores, e que as operadoras, as famílias e as escolas devem desenvolver um esforço comum para criarem um ambiente “amigo dos menores” online. Por último, o deputado alertou que é muito importante avisar os menores sobre os perigos de fazerem amizades online.

19 Dez 2023

Internet | Ma Io Fong pede mais actividades para evitar vício

Com o aproximar das férias de Verão, o deputado Ma Io Fong veio a público mostrar-se preocupado com os perigos de os adolescentes navegarem na Internet, sem controlo. Neste sentido, o legislador apoiado pela Associação das Mulheres apela ao Governo que lance mais vagas para as actividades de Verão, para haver um melhor controlo sobre os mais jovens.
“As férias de Verão estão a chegar e os adolescentes têm muito tempo para fazerem actividades fora das escolas”, pode ler-se no comunicado emitido em nome do deputado. “Com muitos planos para este período de férias, os adolescentes ficam expostos a muitos perigos. Por isso, é recomendado que utilizem a Internet de forma cuidadosa, de forma racional, filtrem a informação e se protejam, para evitarem serem alvos de criminosos”, acrescentou.
No entanto, Ma Io Fong considera que o Governo deve ter um papel mais activo, de forma a ocupar e controlar os jovens. “Recomenda-se ao Governo que abra mais vagas para estágios e visitas de estudo, para ajudar os estudantes a estabelecerem valores correctos e positivos e fazerem mais amigos”, frisou.
Ma Io Fong afirma ainda que a “utilização prolongada da Internet durante as férias” é “uma forma de relaxar para muitos alunos”, mas que pode levar a outros problemas, como o vício ou fazer com que sejam alvo de crimes, como burlas ou extorsão.

Tempo da família
Por outro lado, o deputado apelou às famílias para que aproveitem as férias para passarem mais tempo com os filhos e não se limitarem a deixarem as crianças nos centros de estudos.
Segundo as palavras de Ma, “as férias de Verão são uma oportunidade de ouro para promover a interacção entre pais e filhos e construir um ambiente de confiança e intimidade”. Para promover uma relação familiar saudável, o legislador sugeriu assim que os pais “estabeleçam com bom canal de comunicação com as crianças, sobre uma premissa do respeito mútuo”, de forma a construir “um ambiente harmonioso e bonito em casa”.
Finalmente, Ma Io Fong recordou que as férias de Verão são utilizadas por muitos jovens para adquirirem experiência de trabalho e obterem rendimentos extra, com trabalhos temporários. Sobre este aspecto, o deputado apelou aos pais para ajudarem as crianças, de forma a que possam evitar os perigos de burlas na escolha de um emprego temporário.

9 Jul 2023

Censura | Conselheira Comunitária quer que Governo “purifique” a Internet”

Liu Fengming, directora da creche “O Traquinas” entende que o Governo deve monitorizar sempre a internet dos menores e purificar os conteúdos disponíveis, como acontece no Interior da China. O objectivo é proteger a saúde mental e física dos mais novos

 

A coordenadora-adjunta do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários das Ilhas, Liu Fengming, apelou ao Governo que purifique a Internet, tal como acontece no Interior da China, para que as crianças não entrem em contacto com conteúdos “nocivos”. As declarações foram prestadas antes da sessão do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários das Ilhas, na terça-feira, e citadas pelo jornal Ou Mun.

Segundo Liu, que é igualmente membro da Federação das Associações dos Operários de Macau e directora da creche “O Traquinas”, está na altura de o Governo de Ho Iat Seng lançar uma “operação de ordenamento de internet ambiental para os menores”, de forma a proibir que as crianças acedam a “informações que podem afectar a saúde mental e física”, nomeadamente no que diz respeito a conteúdos pornográficos.

De acordo com a directora, a medida deve ser implementada através da instalação obrigatória de “aplicações” nos dispositivos electrónicos, que exigem sempre a identidade aos utilizadores, mesmo aos maiores, e que depois fazem a filtragem dos conteúdos.

Apesar deste tipo de aplicações e filtros parentais já se encontrarem disponíveis nos dispositivos electrónicos, que qualquer pai pode activar quando pretende controlar o acesso de menores a determinados portais, Liu insistiu que deve ser o Governo a monitorizar o que as crianças podem ou não aceder online.

Solução mais fácil

A preocupação foi levantada por Liu, que diz ter recebido muitas queixas de encarregados educação. Como não houve escola, devido ao confinamento imposto pelo Governo, face ao surto mais recente, e às férias de Verão, as crianças foram forçadas a ficar em casa.

A limitação de movimento e espaço de acção imposta pelas restrições pandémicas criou a tempestade perfeita, na óptica da coordenadora do conselho consultivo que reconheceu que os dispositivos electrónicos são utilizados para passar o tempo.

Contudo, segundo a directora da escola, muitos pais mostraram-se preocupados “porque temem que os filhos possam aceder a conteúdos prejudiciais à saúde mental e física”.

Neste sentido, e em vez de defender que os pais devem educar os filhos, Liu Fengming aponta que o Executivo deve monitorizar as informações acedidas, principalmente as navegações nas redes sociais, e declarar guerra a conteúdos com violência, pornografia, alusões sexuais, entre outros.

8 Set 2022

Internet | Deputado alerta para “armadilhas” de influencers e pede fiscalização

Ma Io Fong está preocupado com os menores que são levados a gastar dinheiro em jogos online e transmissões em troca de upgrades ou de “um sorriso de um influencer”. Para o deputado, o Governo deve ponderar alterações legislativas que permitam maior fiscalização e apostar na sensibilização e formação dos encarregados de educação

 

O deputado Ma Io Fong considera que o Governo deve tomar medidas para fiscalizar o acesso de menores a jogos online que envolvam o pagamento de montantes em troca de recompensas e sensibilizar os encarregados de educação para a “obscuridade” da prática. Segundo o deputado, a massiva utilização dos smartphones com acesso à internet e a influência de celebridades em diversas plataformas online, tem contribuído para levar menores a despender avultadas quantidades de dinheiro.

“Diversos jogos alegam ser grátis, mas, geralmente, têm itens àenda, atraindo os jogadores a injectar dinheiro no jogo. Mais, com o desenvolvimento do entretenimento no mundo da internet, surgiram as gorjetas para as celebridades ou influencers”, começa por explicar através de uma interpelação escrita.

“Esta variedade de produtos, a publicidade e a influência das celebridades constituem um grande atractivo para os menores, enquanto grupo que não tem ainda conceitos amadurecidos sobre o dinheiro e a sua gestão. Assim, muitas vezes pagam fortunas só para comprar uma coisa ou conseguir um sorriso duma qualquer celebridade ou influencer. Com a generalização dos telemóveis inteligentes, este fenómeno passou a ser um problema social”, acrescentou.

Ma Io Fong classifica ainda como “armadilhas psicológicas” os sorteios de recompensas incluídos nos jogos online, que, de acordo com deputado, levam os menores a gastar dinheiro, acreditando que estão “quase a conseguir alcançar uma determinada meta”. Além disso, citando um estudo realizado em 2017 por uma instituição de aconselhamento sobre o vício do jogo, o deputado aponta que 62 por cento dos inquiridos efectuou pagamentos envolvendo, na sua maioria, montantes entre 1.001 e 5.000 patacas.

Obscurantismo digital

Neste contexto e lembrando que muitos países, incluindo a China, têm tomado medidas para “reprimir” empresas que desenvolvem jogos ou plataformas de transmissão em directo, como o Twitch, quanto à prática de incluir menores no seu público alvo, Ma Io Fong defende que o Governo de Macau deve também ponderar alterações legislativas nesse sentido.

Além disso, tendo em conta que os servidores dos respectivos jogos e plataformas se encontram instalados na China, o deputado pede mesmo ao Executivo para dialogar com os serviços competentes do Interior para “prevenir, através das políticas e legislação” os menores de participar nestas actividades.

“O Interior da China já recorreu à políticas e legislação para restringir os actos de injecção de dinheiro nos jogos virtuais e de pagamento de gorjetas na internet por parte dos menores e até criou mecanismos para a devolução das quantias pagas”, começou por indicar.

“O acto de injectar dinheiro pode até envolver o elemento jogo, assim, as autoridades devem rever a legislação vigente, estudando a viabilidade de fiscalizar as actividades de sorteio nos jogos virtuais. Já o fizeram?”, questionou.

Por último, perante a “obscuridade subjacente à (…) práticas de injectar dinheiro e de pagar gorjetas”, Ma Io Fong defendeu ainda o reforço da sensibilização e educação destinados a encarregados de educação. O objectivo passa por “aumentar os conhecimentos dos pais sobre o desenvolvimento da Internet e (…) o bom aproveitamento das funções de filtragem, ajudando-os a reforçar a guarda das contas destinadas ao pagamento electrónico”.

28 Jun 2022

Mais de 74 mil pessoas não utiliza a internet

Numa altura em que o Governo obriga, em termos práticos, as pessoas a terem telemóvel e internet para poderem entrar em restaurantes, serviços públicos ou jardins, há cerca de 74 mil pessoas que não utilizam internet em Macau.

Os dados podem ser calculados através dos resultados do “Inquérito à utilização da tecnologia informática dos agregados familiares em 2021”, publicado na passada sexta-feira pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC).

Num total de 644.068 pessoas, que não inclui crianças com menos de três anos, os dados mostram que 570 mil eram utilizadores frequentes de internet, no que é considerado uma taxa de penetração de 88,5 por cento. Para a estatística, são contabilizadas as pessoas que acedem à “rede” não só através dos telemóveis, mas também dos computadores.

Os dados mostram também que apesar de as pessoas serem obrigadas na prática a utilizarem telemóveis diariamente, e a preencherem o código de saúde, para poderem ir ao hospital ou aos tribunais, existem 74.068 indivíduos que não utilizam a internet.

Idade é um posto

A penetração da internet é mais reduzida no escalão etário de cidadãos com mais de 65 anos, onde menos de um terço utiliza a internet. Em cerca de 92.650 indivíduos com mais de 65 anos, apenas 30.500 utilizam “a rede”. Já no escalão das crianças com três a 14 anos, a taxa de penetração é de 68,3 por cento. Em todos os outros escalões etários, a penetração é superior a 90 por cento.

Ao nível dos telemóveis, a situação não é muito diferente. Entre uma população de 644.068 pessoas, 604.500 têm o equipamento que o Governo tornou indispensável para preencher a declaração de saúde através da aplicação que regista a circulação. A taxa de penetração em 2021, era assim de 93,8 por cento, o que significa que 34.568 pessoas não têm telemóvel.

Contudo, os dados mostram que entre 2020 e 2021, e numa altura em que as pessoas já eram obrigadas a apresentar a declaração de saúde, houve uma redução de indivíduos com telemóvel. Em 2020, 606.600 pessoas declaravam ter telemóvel, ou seja, uma redução de 2.100 utilizadores.

21 Mar 2022

Chan Hong quer que jovens evitem “conteúdos sujos” na internet

Chan Hong, representante de Macau na Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), considera que é preciso ensinar os mais novos a utilizar a internet, para que eles não gastem tempo a ver “conteúdos sujos”. A mensagem foi apresentada por Chan Hong, na quarta-feira, segundo o Jornal do Cidadão, e segue a missão atribuída pelo presidente Xi Jinping à nação.

A vice-directora da Escola Hou Kong sublinhou a necessidade de as instituições de ensino transmitirem os bons valores na navegação na internet, que vão muito além de impedir que os jovens passem tempo a jogar. “Não é apenas um problema dos jovens se deixarem levar pelos jogos online, mas há muitos conteúdos sujos na Internet que afectam a mente dos menores”, afirmou Chan, a recordar as declarações de Xi Jinping. “São problemas sociais que exigem um esforço comum de todos os sectores da sociedade e um estudo dos departamentos respectivos para que sejam resolvidos”, acrescentou.

Além da guerra à internet, Chan Hong defendeu, durante as reuniões magnas, que as escolas locais devem abrir os respectivos polos de ensino na Ilha da Montanha.

Melhor ensino

Segundo a vice-directora da Escola Hou Kong, as escolas de Macau podiam levar para Cantão um ensino característico, com escolas de alta qualidade e uma educação de coordenação entre os ensinos de Cantão e Macau, o que levaria a uma maior integração. Ao mesmo tempo, Chan Hong considerou que as escolas locais podem levar para o Interior um dos ensinos mais avançados.

Outro dos compromissos, que Chan Hong considera dever ser assumido no âmbito da educação, é a promoção de valores patrióticos, dentro do princípio “Um País, Dois Sistemas da Nova Era”. Segundo Chan, a população do país e de Macau têm a expectativa e a exigência de que as instituições de ensino tenham como principal missão transmitir o amor pela pátria, acima da aquisição de valências por parte dos alunos.

11 Mar 2022

Internet | Ho Iat Seng quer ordem na informação disponível

O Chefe do Executivo afirmou ontem que “a Internet não é um sítio sem lei” e que não pode haver “liberdade sem ordem”, anunciando mudanças na cibersegurança no território. “A Internet não é um sítio sem lei e nada pode ser feito sem normas, não havendo liberdade sem ordem”, afirmou Ho Iat Seng, no China Internet Media Forum 2021.

O Chefe do Governo frisou ainda que “com evolução das tecnologias digitais, diferentes formas de difusão de conteúdos na Internet já penetraram no quotidiano das pessoas, tornando-se numa fonte importante de obtenção de informação”.

Por essa razão, o responsável defendeu a regulamentação e ordem da Internet, caso contrário vai inquietar e afectar a estabilidade da sociedade. “Além das possíveis irregularidades na difusão de informações pelos ‘media’ na Internet, vários órgãos governamentais ou empresas privadas em todo o mundo, incluindo Macau, sofreram ataques cibernéticos, o que fez soar o alerta da cibersegurança no território”, disse.

Por essa razão, Ho Iat Seng prometeu que o Executivo dá e continuará a dar “elevada importância à questão da cibersegurança”, adoptando “medidas de resposta para garantir que a segurança da sociedade de Macau e do país não sofre eventuais ameaças”.

26 Nov 2021

CTM | Escavação destrói ligações e causa apagão na Zona Central

As obras de construção na Rua da Sé deixaram o Centro de Macau sem telecomunicações durante várias horas, devido à destruição de um cabo. A CTM esteve no local a fazer reparações e diz que os custos vão ser discutidos com a construtora

 

A escavação numa obra na Rua da Sé destruiu um cabo de telecomunicações e causou um apagão que afectou mais de 1.000 utilizadores de serviços de comunicações e gerou 400 pedidos de esclarecimentos. O incidente aconteceu na segunda-feira, por volta das 17h00, e resultou em vários cabos de rede fixa de telefone, internet, serviços de televisão por cabo, entre outros, destruídos.

O apagão afectou residências, espaços comerciais e serviços da Administração e obrigou a Companhia de Telecomunicações de Macau (CTM) a fazer uma intervenção de emergência, que começou logo na segunda-feira e se prolongou até terça-feira, inclusive durante a madrugada. Nas reparações esteve envolvida uma equipa com cerca de 30 engenheiros.

Segundo os dados apresentados pela CTM, ao canal chinês da Rádio Macau, por volta das 08h30, ou seja, cerca de 12 horas depois do início dos trabalhos de reparação, 90 por cento dos serviços tinham sido reestabelecidos.

Contudo, muitos outros continuavam com problemas durante a maior parte do dia, como aconteceu na redacção do HM, que só voltou a ter acesso à internet cerca das 22h30.

Em contra-relógio

Após o sucedido, o vice-presidente do Serviço de Rede da CTM, Declan Leong, deslocou-se ao local na manhã de ontem para acompanhar o andamento das reparações e fazer um ponto da situação.

À emissora local, Declan Leong afirmou que tinham sido afectados cerca de 1.000 clientes da empresa e que houve mais de 400 pedidos de esclarecimento sobre o sucedido. Sobre as operações de reparação, o responsável afirmou que houve uma estratégia de dar prioridade aos serviços tidos como mais importantes, como os centros de saúde e Administração Pública.

Leong reconheceu ainda que os danos foram sérios e que a reparação é apenas uma solução temporária, o que significa que nos próximos dias a CTM vai pedir à empresa responsável pelas obras para fazer uma intervenção permanente.

O representante da CTM também não quis entrar em detalhes sobre eventuais compensações e custos de reparação do serviço, limitando-se a dizer que era uma questão que irá ser discutida com a construtora, nos próximos dias.

A CTM pareceu também afastar responsabilidades no sucedido, uma vez que segundo Declan Leong é disponibilizado às construtoras um mapa com a localização da passagem dos cabos e toda a informação considerada essencial para que não haja acidentes durante as escavações.

1 Set 2021

A internet é um monte de informação falsa

Estamos a viver em Portugal a era da informação desinformada. Cada vez mais a informação que temos é uma aldrabice. Tudo se inventa, tudo se especula, tudo se mente, enfim, o que se passa? Acontece que os jornais portugueses não têm nada de interessante a não ser os recados do Governo que digam respeito à vida das pessoas.

Os jornais existentes apenas contratam miúdos com salários que antigamente nem a um estagiário se pagava e estes passam a vida a sacar informação da internet. As redacções não têm quem saiba da história portuguesa e da internacional muito menos. Gramaticalmente são um zero e os erros são diários. Não são as chamadas gralhas, são mesmo erros de ortografia, de falta de conhecimento da língua portuguesa. A um jovem jornalista foi-lhe perguntado por um familiar o que era uma vacina e para o que servia e ele respondeu que ia ver na internet e já respondia.

A organização do sistema de vacinação na luta contra a covid-19, que os jornais já não sabiam o que publicar, mudou de um dia para o outro com a nomeação do vice-almirante Gouveia e Melo. Em boa hora este militar colocou ordem, disciplina e trabalho sério para que o país fosse vacinado.

– É pá, a AstraZeneca é que eu não tomo, pode matar!
– Ó pá, quem é que te disse isso?
– Li na internet…

– Ouve bem o que te digo, não te vacines!
– Porquê, meu?
– Porque se te dão a Pfizer podes ficar com lesões cerebrais.
– Onde ouviste tal coisa?
– Li na internet…

– Sabes que a vacina que andam a dar às pessoas é perigosíssima?!
– Porquê?
– Porque tem morrido muita gente!
– Ouviste isso na CNN?
– Não, pá! Li na internet…

– Já te vacinaste, meu querido filho?
– Não, pai! Isso das vacinas tem que se lhe diga… estão a criar graves problemas nas pessoas que são vacinadas!
– Mas eu e a tua mãe já fomos e nada aconteceu!
– Vocês são do número das excepções…
– Mas quem é que te informou disso?
– Ó pai, li na internet…

– Ó tio, estou cheio de medo de ser vacinado!
– Tás doido, pá! Aquilo não custa nada e toda a gente deve ser vacinada!
– E o perigo que é depois de se ser vacinado?
– Qual perigo?
– Uma pessoa pode morrer…
– Como é que soubeste tal disparate?
– Li na internet…

Não se admite este estado de espírito que certas empresas estão a criar propositadamente no seio da população, entendendo que o importante é prejudicar as multinacionais que fabricam as vacinas. Que absurdo o que estamos a assistir nas redes sociais, onde se espalham as maiores invenções informativas sobre a vacinação e os males que pode provocar. É a isto que eu chamo a informação desinformada, ou melhor, afincadamente criminosa. Afinal, para que servem os cientistas? Temos confiança na ciência ou não? Acreditamos que trabalham para o bem da humanidade ou para o extermínio global?

As campanhas que assistimos contra a vacinação deviam ser investigadas até ao último pormenor informático. O número de infectados com a covid-19, infelizmente, voltou a aumentar na Área Metropolitana de Lisboa e no Algarve. Pudera, são as zonas do país onde a falta de cumprimento das regras estipuladas mais se verifica. E esse aumento regista-se agora nas camadas jovens. Tinha de ser porque a juventude não usa máscara, junta-se em grupos de duas dezenas a beber nos jardins depois dos restaurantes encerrarem, organizam festas com cerca de 400 inscritos onde vale tudo desde o beijar na boca entre quem não se conhece, até às conversas onde a distância entre eles é de dois palmos. Em Albufeira, chegaram ingleses aos magotes e é na Inglaterra que se desenvolvem cada vez mais as variantes do coronavírus e esses ingleses, todos sem máscara, enchem as artérias principais com cerveja na mão, abraçados e aos beijos uns aos outros. Como é que será possível que o sistema de vacinação possa ter êxito?

Não o creio, apesar de no passado fim-de-semana já ter sido decretado que ninguém podia entrar ou sair na Área Metropolitana de Lisboa.

Toda a gente sabe que a situação é séria em qualquer local do mundo. Portugal começou a melhorar substancialmente e o desconfinamento estava a ser progressivo. Tudo indica que está tudo a ir por água abaixo porque a ajuda principal para tal é a informação falsa e a desonestidade dos prevaricadores incivilizados.

*Texto escrito com a antiga grafia

21 Jun 2021

Ensino | Governo aponta Internet como factor de perturbação

O Governo duvida dos motivos que levam alunos a desenvolver problemas emocionais. “Sabemos e também concordamos que os nossos alunos sentem pressão nos estudos. Isso também é natural. Mas será que essa pressão de trabalhos de casa e dos estudos é a causa principal para os seus problemas emocionais? É [algo] que questionamos”, apontou Elsie Ao Ieong U.

A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura apontou que “a educação através dos encarregados de educação e também a informação que recebem da internet podem também constituir factores que perturbam emocionalmente os jovens”.

Em causa estava uma interpelação oral de Sulu Sou sobre mecanismos para reduzir a “pressão excessiva” dos alunos e a promoção de um “crescimento feliz”. A secretária da tutela defendeu que a ausência de regimes de exame geral de acesso ao ensino secundário ou ao ensino superior, bem como de exame unificado do secundário complementar, leva a que a pressão seja “relativamente menor, em comparação com os alunos de outras regiões”.

30 Mar 2021

Alen Tagus ao vivo em estúdio

Alen Tagus ao vivo no Studio Canoa

[dropcap]S[/dropcap]im, de um lado Sines do outro Paris, uma linha pelo meio. Charlie Mancini encontrou Pamela Hute online e com o despertar da curiosidade, por empatia no gosto mútuo pela composição musical, estabeleceu a ligação e começou a enviar-lhe ficheiros sonoros com composições suas, elaboradas nas teclas do seu piano. A luzinha acendeu do outro lado e desse primeiro embate, Pam resolve colocar a sua técnica apurada e a voz, misturando os fios para a eternidade do que à partida seria um encontro efémero, na verdadeira glória da partilha electrónica.

Assim nasceram os Alen Tagus, nome que não é preciso descodificar. A conexão prosseguiu durante meses a fio, numa ligação criativa vivida apenas à distância. Os temas começaram a sair do forno como pãezinhos quentes e de repente tinham um álbum nas mãos para apresentar ao mundo, “Paris, Sines”. Em Portugal, passaram pelas rádios e novos brilhos se acenderam. O passo seguinte seria, finalmente, o encontro cara-a-cara e a formação física de uma banda. De novo de cá e de lá surgiram os outros elementos: Eva Tribolles, no baixo; Miguel Sousa Moreira, nas guitarras; e Pedro Sousa Moreira, na bateria. A simbiose para um equilíbrio perfeito.

A estreia deu-se no Festival Termómetro, um concurso musical que decorreu no último Outono/Inverno. Com datas marcadas para os primeiros concertos em Portugal e com uma residência artística agendada para Sines, deu-se o isolamento forçado pela pandemia mundial do vírus que deixa todos em casa. Sem a possibilidade da digressão prevista, o forno voltou a ter a sua chama e novos temas surgem com regularidade. O sabor é distinto, como uma iguaria da cuisine française elaborada no Alentejo.

ALEN TAGUS

Projecto franco-português, imaginado entre Sines e Paris, Alen Tagus criam uma indie-pop introspectiva influenciada pelos sons dos anos 70. O primeiro single questiona a evolução do amor e da amizade nas relações humanas e revela uma composição sensível e elegante. Nascida da inesperada associação entre o músico português Charlie Mancini – pianista e compositor de filmes – e a artista francesa Pamela Hute – melodista e roqueira no coração – Alen Tagus exploram bases musicais incomuns.

Alen Tagus

PAMELA HUTE, CHARLIE MANCINI, EVA TRIBOLLES, MIGUEL SOUSA MOREIRA, PEDRO SOUSA MOREIRA

27 Mar 2020

Pasto para o bicho

[dropcap]H[/dropcap]á vários tipos de cegueiras e talvez a mais perigosa seja aquela em que não só um sujeito pensa que vê como acredita que está no ponto mais adequado para dar conta do que se passa. Esta é a terrível cegueira que, em graus distintos, nos afecta a todos. Contra mim falo.

A internet transformou o mundo assíncrono e exótico do século passado num espectáculo incessante de simultaneidade e uniformidade, de tal modo que tudo quanto nos surge nas mais diversas plataformas onde voluntaria ou involuntariamente somos expostos a informação nos parece mais ou menos compreensível. A globalização e a informação instantânea operaram uma lenta mas inexorável desexotificação do mundo.

Tirando locais excepcionalmente remotos – não tanto a nível geográfico, mas sobretudo a nível da presença das múltiplas formas de redes de comunicação imediata – tudo nos parece mais ou menos igual, mais ou menos previsível, mais ou menos compreensível, seja um desastre nuclear no Japão, uma perseguição de cariz étnico em Myanmar ou uma luta armada na América do Sul. Parece que está tudo aqui ao lado, a decorrer no quintal da nossa vasta argúcia.

Temos um ponto de vista essencialmente preguiçoso, como dizia Nietzsche, dado que funciona no modo da abreviatura, focando-se de modo muito mais agudo naquilo que realidades muito diversas têm de comum e sendo bastante mais permissivo em relação às diferenças que apresentam. Dir-se-á que é uma questão de sobrevivência. Somos animais, pelo que o processo de categorização, por muito atabalhoado que seja, é uma das formas mais eficazes que temos de mapear o nosso millieu e os perigos que nele podem ocorrer.

O problema é quando desatentos ao laxismo constitutivo no nosso ponto de vista nos deixamos enredar numa pseudo-compreensão da realidade nas suas múltiplas iterações, tomando as notas comuns pelo essencial e as diferenças pelo acessório. É assim que cresce, obscenamente, o especialista instantâneo que cada um alimenta dentro de si.

O mais interessante é que esta criatura viciada numa compreensão tão superficial como automática das coisas não perde força quando confrontada com os inúmeros erros de análise que produz. Ela própria acaba por ler esses erros pela óptica do fundamental e do detalhe: enganei-me, sim, mas são erros no âmbito do acessório. O essencial, esse, está perfeitamente dominado.

Reconhecem este animal? Das caixas de comentários? Dos artigos de opinião? Das conversas de café? Do espelho? Ele está em todo o lado.

Ao invés das beatificadas técnicas de mindfullness e de pensamento positivo, que mais não são do que a inversão do ónus da prova em relação às causas dos nossos destinos tremendamente minúsculos (se não és feliz ou bem-sucedido é porque não estás a querer sê-lo verdadeira ou suficientemente), devíamos ter muito cuidado com o pasto que damos a esta criatura para que não cresça para além da dimensão em que é verdadeiramente útil, sob pena de nos atermos de forma permanente a um modo de pensar rudimentar, infantil e, sobretudo, tremendamente erróneo.

22 Nov 2019

O fim da individualidade 

[dropcap]D[/dropcap]e um lado Edward Snowden a falar dos perigos do mundo digital e de como os Governos da era moderna estão a usar os nossos dados pessoais para nos controlar, qual “Big Brother is Watching You” do século XXI. Do outro, o presidente da Huawei, Guo Ping, a falar das maravilhas da rede 5G, bastante questionada pelo mundo ocidental pela forma como os nossos dados vão ou não ser protegidos, uma vez que na China não existe um regulamento geral sobre dados pessoais.

Contradições à parte, foi assim a tarde de ontem na maior cimeira de tecnologia do mundo, a WebSummit. Milhares de pessoas acorreram à zona do Parque das Nações, em Lisboa, para ouvir dizer que estamos a ser manipulados e controlados e nem sabemos muito bem como. Vivemos agarrados aos ecrãs, apps atrás de apps, e nem temos consciência do perigo que estas plataformas constituem.

Talvez seja o fim da nossa individualidade preconizada por Edward Snowden. O bom samaritano do mundo tecnológico deixou de trabalhar para o inimigo para nos proteger desse mesmo inimigo. Hoje, vive exilado. Enquanto isto, casos como o da Cambridge Analytica acontecem e nada muda verdadeiramente na forma de operar de gigantes digitais como o Facebook ou a Google. Somos cada vez mais globais e digitais, mas não de uma forma positiva.

6 Nov 2019

A opressão digital

“When there is oppression and dictatorship, by not speaking out, we lose our dignity”.
Asma Jahangir

 

[dropcap]O[/dropcap]s Estados globalmente preeminentes tendem a moldar o mundo de várias formas. Obviamente, fazem de maneira bastante directa através das suas actividades geoestratégicas, mas o fenómeno vai muito além e de propósito ou por acidente, tais Estados exportam os seus acordos internos para todo o sistema internacional. Os efeitos políticos, económicos, sociais, culturais e legais globais desse processo são profundos. A preeminência global britânica e depois a americana é responsável pelo facto de que é a língua inglesa ter acabado por ser a língua internacional do planeta, não o francês ou o alemão.

O comércio de escravos teve um golpe fatal em 1807, quando desenvolvimentos políticos e filosóficos na Grã-Bretanha resultaram na sua proibição, e porque era a Grã-Bretanha que tinha a força naval para efectivamente fazer cumprir a proibição, apesar de Portugal ter sido o primeiro país a abolir a escravatura em 1761. Actualmente existem no mundo entre vinte e um milhões a quarenta e seis milhões de pessoas que vivem em estado de escravatura. A vitória ocidental na I Guerra Mundial instalou a forma democrática de governo na vanguarda da moda política mundial, onde permanece até hoje.

As implicações do potencial sucesso dos regimes totalitários na sua procura por hegemonia durante a II Guerra Mundial ou a Guerra Fria são tão claras quanto desagradáveis. Desde a primeira metade do século XX, os Estados Unidos deixaram uma marca enorme no mundo globalizado, que vai muito além da geopolítica e um fluxo incessante de valores políticos, actividades financeiras e cultura que flui da América e tem efeitos incalculáveis. A soma total de várias manifestações de influência americana desempenhou um papel crucial na formação do mundo moderno. A preeminência americana é desafiada pela China e os dois países esforçam-se para não deixar a sua concorrência sair de controlo e são economicamente interdependentes.

A essência do que está a acontecer, é de que a China se tornou a segunda potência mundial e quer ocupar o primeiro lugar destronando os Estados Unidos. Os Estados Unidos não estão dispostos a ser substituídos na sua posição de liderança e nada há de incomum nessa situação. A luta pela preeminência vem acontecendo, com apenas breves pausas, desde a Idade Moderna.

Durante os períodos posteriores do Renascimento e das guerras religiosas, foi a Espanha contra a França. Desde o final do século XVII até o final das guerras napoleónicas, foi a França contra a Inglaterra e depois a Grã-Bretanha. Durante grande parte do século XIX, foi a Grã-Bretanha contra a Rússia. No início do século XX foi a Grã-Bretanha contra a Alemanha. Na II Guerra Mundial foram os Estados Unidos contra a Alemanha e o Japão. Durante a Guerra Fria, foram os Estados Unidos contra a União Soviética. Hoje são os Estados Unidos contra a China.

Tal luta não está necessariamente destinada a ser uma guerra directa (embora possa) que nunca será um tipo de Guerra Fria, mas quaisquer que sejam as formas que a competição sino-americana irá assumir, as apostas são incrivelmente altas, e não apenas para as duas potências concorrentes.

Se a China substituir os Estados Unidos no papel de líder global, a sua realidade interna moldará o mundo exterior, assim como o da Grã-Bretanha e o da América ainda o fazem. A realidade interna em questão não é totalmente agradável pois a China está em processo de transferência de um autoritarismo relativamente moderado (bem, “moderado” em comparação com o tempo de Mao) e que teve desde Deng Xiaoping para um novo modelo que se afasta da definição de totalitarismo.

A característica fundamental que difere um modelo totalitário de um autoritário é que, sob o totalitarismo, não é suficiente que os cidadãos apenas cuidem da sua vida e evitem a oposição política ao regime. Em vez de ficar satisfeito com a sua complacência política, um regime totalitário exige uma estrita adesão às suas regras e ideias no quotidiano das pessoas, inclusive nos assuntos que nada têm a ver com política. Assim, com efeito, procura controlar a vida de todos. O regime chinês não está a trabalhar para atingir tal desiderato. As modernas tecnologias digitais oferecem a possibilidade de construir uma distopia real no sentido até agora descrito apenas na ficção científica, algo que os regimes totalitários do passado não podiam fazer por razões práticas.

O sistema chinês, que depende da vigilância total e do “big data” para observar e avaliar as acções quotidianas dos cidadãos, não deverá entrar em operação em 2020 como muitos analistas afirmam. No entanto, está funcionar com outros propósitos o sistema de vigilância existente e é errado admitir que apenas em alguma das suas manifestações, vinte e três milhões de cidadãos chineses foram proibidos de comprar passagens para levar a cabo várias actividades das suas vidas e que o sistema desaprovou. O novo totalitarismo digital pode ser mais suave em comparação com os regimes tecnologicamente mais primitivos do passado e tem limites legais. Todas as técnicas de estatística não são realmente algo que alguém gostaria de ver mais difundido no mundo e tal aconteceria em relação à China em todos os domínios se vier a tornar-se a grande potência preeminente do mundo.

O Camboja, por exemplo, capacita a supressão da democracia pelo regime autoritário local. As práticas de vigilância estão a espalhar-se além das suas fronteiras. Entre os exemplos desse processo, está a decisão do Zimbabué de instalar um sistema de reconhecimento e monitorização em todo o país. A Tanzânia adoptou legislação de segurança cibernética que restringe a liberdade de conteúdo da Internet. O mesmo acontece com o Uganda. No Paquistão, um sistema de vigilância foi estabelecido ao longo da rota do “Corredor Económico China-Paquistão”. O relatório de 2018 da “Freedom on the Net”, que não parece totalmente imparcial, revelou que as empresas chinesas forneceram ferramentas de vigilância de alta tecnologia a governos que não respeitam os direitos humanos. A “A Freedom on the Net” tem sede nos Estados Unidos e é um projecto da “Freedom House” que consiste na análise de ponta, defesa baseada em factos e capacitação no local.

A característica principal da análise é o relatório anual que apresenta uma avaliação classificada por país da liberdade “on-line”, uma visão geral dos últimos desenvolvimentos e também relatórios aprofundados por país. Além disso, lançou recentemente um monitor para a liberdade na Internet com o fim de estimar o risco de restrições à liberdade na Internet durante as eleições.

As principais tendências e ameaças emergentes destacadas nos relatórios são usadas nas campanhas de defesa nacionais e internacionais. As suas descobertas também são usadas por activistas em todo o mundo no trabalho pela mudança local, por agências internacionais de desenvolvimento na criação de programas e na determinação de beneficiários de ajuda, por empresas de tecnologia para negócios e avaliação de riscos, por jornalistas que cobrem os direitos da Internet e por estudiosos e especialistas.

O projecto cria a capacidade de uma rede de pesquisadores, como os que escrevem em “blogs”, académicos, jornalistas e especialistas em tecnologia escolhidos pela sua experiência, fornecendo as ferramentas analíticas para servir como a futura geração de defensores da liberdade da Internet em todo o mundo. O projecto “Freedom on the Net” é apresentado como um recurso indispensável para quem se preocupa com a liberdade na era digital. O relatório fornece uma análise das restrições existentes à transmissão de informação “on-line” e destaca as ameaças emergentes que se combate nos próximos meses e anos e conta com a ajuda financeira do “Bureau de Democracia, Direitos Humanos e Assuntos Laborais (DRL)” que é um departamento dentro do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Google, The New York Community Trust e Yahoo. O projecto da “ Freedom House” contou dezoito países em que as empresas chinesas estão a combinar avanços em inteligência artificial e facial como reconhecimento para criar sistemas capazes de identificar ameaças à “ordem pública” o que parece ser algo aceitável.

Os representantes de trinta e seis países participaram de seminários em que autoridades chinesas partilharam o seu conhecimento sobre a gestão de informações. A noção do modelo tecno-distópico chinês, que se espalha internacionalmente, mencionado no relatório, está agora a entrar no discurso público mais amplo. Se a China liderasse o mundo, a democracia seria pressionada a permanecer a forma principal de regime político que tem sido no último século. As normas e práticas políticas e legais da China moderna seguiriam de perto a expansão global do domínio geopolítico e económico chinês. É por isso que a concorrência contínua entre os Estados Unidos e a China decidirá muito mais do que apenas as carreiras das duas grandes potências. Essa competição é, de facto, uma luta sobre em que tipo de mundo todos nós vamos viver.

A internet está a ficar menos livre em todo o mundo, e a democracia está a definhar sob a sua influência. A desinformação e a propaganda disseminada “on-line” envenenaram a esfera pública.

A colecta desenfreada de dados pessoais quebrou as noções tradicionais de privacidade e um conjunto de países está a mover-se em direcção ao autoritarismo digital, usando extensos sistemas de censura e vigilância automatizada e como resultado dessas tendências, a liberdade global da Internet diminuiu pelo oitavo ano consecutivo em 2018.

Os eventos desse ano confirmaram que a Internet pode ser usada para perturbar democracias com tanta certeza quanto pode desestabilizar ditaduras. Em Abril de 2018, o fundador, presidente e director executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, testemunhou nas duas audiências no Congresso sobre o papel da sua empresa no escândalo da “Cambridge Analytica” que é uma empresa de consultoria política britânica que combina mineração, corretagem e análise de dados com comunicação estratégica durante os processos eleitorais, no qual foi revelado que o Facebook havia exposto os dados de oitenta e sete milhões de usuários à exploração política. O caso foi uma chamada de atenção de como as informações pessoais estão a ser cada vez mais usadas para influenciar os resultados eleitorais.

Os piratas informáticos russos miraram a lista de eleitores dos Estados Unidos em vários Estados como parte dos esforços mais amplos da Rússia para corroer a integridade das eleições de 2016 e, desde então, pesquisadores de segurança descobriram novas violações de dados que afectaram cento e noventa e oito milhões de americanos, noventa e três milhões de mexicanos, cinquenta e cinco milhões de filipinos, e cinquenta milhões de eleitores turcos, e com ou sem intenção maligna, a Internet e as médias sociais, em particular, podem empurrar os cidadãos para as câmaras de eco polarizadas e atrair a estrutura social de um país, alimentando a hostilidade entre diferentes comunidades. Nos últimos dois anos no Bangladesh, Índia, Sri Lanka e Myanmar, boatos falsos e propaganda odiosa que foram espalhadas “on-line” incitaram surtos de violência contra minorias étnicas e religiosas. Tais brechas costumam servir aos interesses das forças antidemocráticas na sociedade, no governo ou em países estrangeiros hostis, que os incentivaram activamente através da manipulação de conteúdo.

Enquanto as sociedades democráticas lutam com os desafios de uma esfera “on-line” mais perigosa e contestada, alguns países intensificam os esforços para usar a média digital para aumentar o seu poder, tanto a nível interno quanto externo. O autoritarismo digital está a ser promovido como uma forma de os governos controlarem os seus cidadãos através da tecnologia.

Os países autoritários e não só têm usado alegações de “notícias falsas” e escândalos de dados e governos de países como o Egipto e Irão reescreveram leis restritivas da média para aplicar a usuários de médias sociais, prenderam críticos sob medidas projectadas para conter notícias falsas e bloquearam serviços de comunicação e média social estrangeiras. Alguns estados autoritários e outros repressivos também estão a exigir que as empresas armazenem os dados dos seus cidadãos dentro das suas fronteiras, onde as agências de segurança podem ter acesso às informações.

As democracias são lentas em responder a crises e os seus sistemas de freios e contrapesos e deliberação aberta e participação do público não são propícios para a tomada rápida de decisões.

Mas essa cautela interna ajudou alguns países semidemocráticos a defenderem-se dos controlos autoritários da Internet no ano passado. Os escritores de “blogs” quenianos em Maio de 2018, contestaram a constitucionalidade de disposições criminais contra a disseminação de notícias falsas, ganhando a suspensão de regras enquanto aguardavam uma sentença judicial final. No mesmo mês, os malaios votaram por um primeiro-ministro que prometeu rescindir uma lei recentemente adoptada contra notícias falsas que foram usadas pelo seu antecessor em uma tentativa fracassada de influenciar as eleições. Alguns países não estão apenas a resistir a reveses, mas a fazer progressos reais na liberdade da Internet dando um passo significativo e por vezes imperfeito para garantir a privacidade do usuário.

É de acreditar que proteger a liberdade da Internet contra o surgimento do autoritarismo digital é fundamental para proteger a democracia como um todo. A tecnologia deve capacitar os cidadãos a fazer as suas escolhas sociais, económicas e políticas sem coerção ou manipulação oculta. A internet tornou-se a esfera pública moderna, e as médias sociais e os mecanismos de pesquisa têm um poder extraordinário e a responsabilidade pesada de garantir que as suas plataformas atendam ao bem público. Se as entidades antidemocráticas efectivamente capturarem a Internet, será negado aos cidadãos um fórum para articular valores compartilhados, debater questões políticas e resolver pacificamente disputas intra-sociais. A democracia também requer uma esfera privada protegida.

A colecta irrestrita e amplamente não examinada de dados pessoais inibe os mais elementares direitos e para que a democracia sobreviva à era digital, empresas de tecnologia, governos e sociedade civil devem trabalhar juntos para encontrar soluções reais para os problemas de manipulação da média social e colecta abusiva de dados. É necessária uma coordenação multilateral e intersectorial para promover a alfabetização digital, identificar actores mal-intencionados e negar-lhes as ferramentas para amplificar fraudulentamente as suas vozes.

Quando se trata de proteger dados, os usuários devem ter o poder de impedir invasões indevidas nas suas vidas pessoais, tanto pelo governo quanto pelas empresas. A liberdade global da Internet pode e deve ser o antídoto para o autoritarismo digital. A saúde das democracias do mundo depende da garantia desse direito.

1 Nov 2019

A verdadeira rede

[dropcap]O[/dropcap]s bons hábitos são para ser mantidos. Infelizmente nesta altura este aparente truísmo tende a ser mais valorizado na promoção de exercício físico para uma “vida saudável” do que no que diz respeito às relações humanas e aos múltiplos aspectos em que interagimos uns com os outros.

Existe um bom hábito de que me orgulho de ter e sobretudo de o conseguir manter. Trata-se de poder contar com vários interlocutores (amigos, conhecidos) cuja opinião sobre variadíssimas matérias me merece confiança. É uma declinação adulta da troca de cromos: mostramos uns aos outros coisas que potencialmente achamos que o outro poderá gostar. Como esta actividade exige reciprocidade, toda a gente fica ganhar. E eis a raridade nestes tempos entrincheirados: muitas vezes discordamos e argumentamos, não para termos razão mas apenas para dizermos o que pensamos e dessa forma prestarmos um elogio a quem nos anunciou o que discutimos.

Este ritual tomou formas diversas aos longos dos anos: primeiro em reuniões adolescentes, com discos ou livros a serem exuberantemente dissecados com a palermice e a paixão da juventude; depois em conversas mais restritas, jantares, almoços, coisas de crescidos; e agora, de forma mais abrangente e imediata, graças à internet e às redes sociais.

Sim: nem tudo que a social media faz é mau. A sua função matricial – a partilha de informação – cumpre-se da melhor maneira quando alguém nos chama a atenção no momento. A função de argumentação é que já não corre tão bem; mas isso advém também deste clima e já são outros quinhentos.

Por isso resolvi fazer de vós interlocutores disto que vos quero mostrar. Melhor: de partilhar o conhecimento de alguém que na minha modesta opinião vale a pena. Chama-se David Brooks, tem vários livros publicados e nesta altura é colunista no New York Times. Uma pesquisa simples dir-vos-á que Brooks é um conservador da linha Edmund Burke (e da sua derivação americana, Alexander Hamilton), um homem de centro-direita excomungado pelos Republicanos pelas suas posições anti-Trump ou pró –casamento entre pessoas do mesmo sexo (coisa que qualquer conservador que se preze defende sem problemas em qualquer lado menos num país onde a direita religiosa tem um peso antigo e forte).

Mas apesar de me identificar com a família política de Brooks não é por isso que aqui o trago: é pelo que escreve, pelo que defende e que vai além da política. As suas colunas no NYT falam de valores, de comportamentos éticos: lealdade, moderação. São, neste tempo de radicalismos fáceis, beneficamente subversivas. Brooks fala de comunidade – abrangente, diversa – por oposição a tribo – exclusivista, beligerante. É um royceano: adjectivo que criei agora e que vem do filósofo americano Josiah Royce que cunhou uma expressão mais tarde utilizada por Martin Luther King, Jr – “the beloved community”, uma comunidade onde os opositores políticos reconhecem e honram a lealdade dos seus antagonistas às causas que defendem e sobre essa base as discutem.

Se isto parece distante aos valores propalados pela ortodoxia em que vivemos é porque é. Se puderem, um conselho: da mesma forma que um amigo me chamou a atenção para um podcast de uma entrevista de David Brooks assim eu o faço perante os que me lêem. Trata-se de uma espantosa conversa com Ezra Klein (“The Ezra Klein Show”) a partir do último livro de Brooks, The Second Mountain: The Quest For A Moral Life, um livro mais biográfico e escrito durante o seu annus horribilis, 2013, em que perdeu muito. A dada altura confessa: “Sobrepus o tempo às pessoas”. E di-lo não de uma forma salvífica ou de auto-ajuda: apenas uma constatação de que houve ali uma altura em que foi menos humano.

Se alguém for conhecer o que este homem pensa e escreve, mesmo que mais tarde vá discordar dele, já fico feliz. Porque acredito – acredito mesmo – que esta partilha simples, apaixonada e aberta de conhecimento é que continua a ser a verdadeira rede.

22 Mai 2019

Amazon quer criar rede de satélites para levar a internet a zonas excluídas

[dropcap]A[/dropcap] Amazon confirmou na quinta-feira que está a desenvolver um projecto de criação de uma rede de satélites para fornecer um serviço de internet de alto débito em regiões do mundo onde as ligações são más ou inexistentes.

Este projecto da empresa norte-americana de comércio ‘online’, baptizado de Kuiper, foi mencionado pela primeira vez pelo sítio especializado em notícias de tecnologia GeekWire, referindo-se a documentos depositados junto de agências de regulação norte-americanas, nos quais é detalhado o projecto, orçado em vários milhares de milhões de dólares.

“O projecto Kuiper é uma nova iniciativa para lançar uma constelação em baixa órbita terrestre de satélites que vão fornecer ligações de alto débito a comunidades mal ou não servidas no mundo”, indicou fonte da Amazon à agência de notícias France-Presse.

“Trata-se de um projecto de longo prazo que prevê servir dezenas de milhões de pessoas”, acrescentou a mesma fonte.

A GeekWire detalhou que os documentos entregues descrevem um projecto de colocação em órbita baixa de 3.236 satélites a altitudes que vão de 590 a 630 quilómetros.

A convenção internacional estabelece a fronteira do espaço a 100 quilómetros da superfície terrestre, na designada ‘linha de Karman’.

O grupo, sediado em Seattle, no noroeste dos EUA, procura associar-se a outras empresas.
Mas nada indica que neste momento o projeto possa envolver também a sociedade espacial Blue Origin, propriedade do presidente e fundador da Amazon, Jeff Bezos, que realizou este ano o décimo voo de ensaio do seu novo foguetão, New Shepard.

5 Abr 2019

Tecnologia | Angela Leong quer Internet mais rápida

[dropcap]A[/dropcap]deputada Angela Leong defende que a Grande Baía necessita de ligações de Internet de topo para poder funcionar e acredita que compete ao Governo criar uma rede em Macau, em vez de deixar a tarefa aos privados. “Hoje em dia, a construção das infra-estruturas de Internet são como estradas ou pontes. É o Governo que tem de assumir as pesadas responsabilidades da construção. Só desta forma se podem concretizar os objectivo de Cantão, Hong Kong e Macau no âmbito de Grande Baía e concretizar uma política de Internet com grande velocidade”, afirmou a legisladora. Em relação à RAEM, Angela Leong considerou que o serviço de utilização de dados é muito caro, quando comparado com as outras cidades da Grande Baía.

 

18 Mar 2019

Corrupção| Lançada “Sky Net 2019” para capturar funcionários fugitivos

[dropcap]A[/dropcap] China lançou a campanha deste ano para capturar funcionários corruptos que fugiram do país.

A campanha, “Sky Net 2019”, pretende capturar suspeitos fugitivos e prevenir a fuga de mais funcionários corruptos, segundo o departamento de busca de fugitivos e activos roubados em países estrangeiros, sob o comando do gabinete anticorrupção, informa o Diário do Povo.

A campanha será executada por diversos órgãos. A Comissão Nacional de Supervisão (CNS) será encarregada de procurar e capturar funcionários suspeitos de crimes relacionados com o trabalho, o Supremo Tribunal Popular será encarregado de procurar bens ilícitos e o Ministério da Segurança Pública (MSP), de realizar a operação “Caça à Raposa” que visa os suspeitos em crimes económicos que fugiram para o exterior, acrescenta a publicação estatal.

O Banco Popular da China e o MSP prevenirão e combaterão a transferência de dinheiro roubado, e o Departamento de Organização do Comité Central do Partido Comunista da China e o MSP vão lidar com a aquisição ilegal de documentos de viagem.

O vice-secretário da Comissão Central de Inspecção Disciplinar do PCC e subchefe da CNS, Li Shulei, apontou que mais esforços devem ser feitos para aprofundar a cooperação em assistência judicial e prática de lei internacional para combater os casos de corrupção e melhorar o sistema que previne a fuga de mais suspeitos.

A China lançou a primeira operação “Sky Net” em Abril de 2015

 

1 Fev 2019

Estudo diz que sair das redes sociais não garante privacidade

[dropcap]U[/dropcap]ma pessoa que saia das redes sociais não tem garantia de privacidade porque os amigos que lá deixou continuam a permitir prever com alguma certeza as suas atividades, segundo um estudo científico publicado ontem.

A investigação da equipa das universidades de Vermont (Estados Unidos) e Adelaide (austrália) centrou-se em trinta milhões de publicações públicas feitas por 13.905 utilizadores da rede social Twitter e concluiu que se uma pessoa deixar de estar activa, as publicações e palavras dos seus amigos permitem prever com 95 por cento de exactidão actividades futuras dessa pessoa, mesmo que esta deixe publicar seja o que for.

O líder da equipa, o matemático James Bagrow, afirma que quando se adere a uma rede social, se pensa que se está a dar informação apenas pessoal, mas o que acontece é que “também se entrega os amigos” ao Twitter, Facebook, Instagram ou outra rede social.

Uma das conclusões a tirar é que empresas, governos ou outras pessoas podem traçar um perfil rigoroso de uma pessoa, incluindo partido político, produtos preferidos ou religião só a partir da informação recolhida entre os amigos, mesmo que essa pessoa deixe as redes sociais ou nunca lá tenha entrado.

“Não nos podemos esconder numa rede social”, afirmou o investigador Lewis Mitchell, co-autor do estudo hoje publicado no boletim científico Nature Human Behavior.

“Só por si, uma pessoa não controla a sua privacidade nas redes sociais”, afirmou James Bagrow, salientando que “os amigos da pessoa têm algo a dizer”.

22 Jan 2019

A confiabilidade da inteligência artificial (II)

“Artificial intelligence is changing our world faster than we can imagine? It will impact every area of our lives. And this is happening whether we like it or not. Artificial intelligence will help us do almost everything better, faster, and cheaper, and it will profoundly change industries, such as transportation, tourism, healthcare, education, retail, agriculture, finance, sales, and marketing. In fact, AI will dramatically change our entire society.”
“Artificial Intelligence: 101 Things You Must Know Today About Our Future” – Lasse Rouhiainen

[dropcap]A[/dropcap] segunda área-chave diz respeito à força de trabalho ensinando os cidadãos e os especialistas de IA a trabalharem em conjunto. A melhoria da qualificação de profissionais não conhecedores da Ciência de Dados e IA para trabalhar com esta, tornou-se uma parte crucial da estratégia da força de trabalho, e uma nova classe de ferramentas, incluindo a Aprendizagem Automática de Máquina (AutoML na sigla em língua inglesa) que é a automatização do processo total de aplicação de aprendizagem de máquina a problemas do mundo real e que simplificam e automatizam parte do processo de criação de modelos de IA, está a democratizá-la e cerca de 38 por cento dos líderes empresariais concentrarão esforços em ferramentas de IA para pessoas envolvidas em negócios, como a capacidade de segundo nível que cultivarão por trás de conjuntos de dados e modelos reutilizáveis.

Todavia a IA amigável ao utilizador ainda é um processo complexo e mesmo com formação básica, os líderes empresariais podem não entender completamente os diferentes parâmetros e níveis de desempenho dos seus algoritmos e poderiam acidentalmente aplicá-los de forma errada, com resultados não intencionais. A resposta é uma estratégia de força de trabalho que cria três níveis de funcionários experientes em IA, e fornece meios para que todos trabalhem em conjunto com êxito. A força de trabalho é composta por cidadãos utilizadores, desenvolvedores de cidadãos e cientistas de dados.

À medida que a IA se dissemina, a maioria dos funcionários de uma empresa precisará de formação para se tornarem cidadãos utilizadores do sistema, aprendendo como devem usar os aplicativos avançados da empresa, dar suporte à boa governança de dados e obter ajuda especializada quando necessário. Um grupo mais especializado, talvez de 5 a 10 por cento da sua força de trabalho, deve receber formação adicional, para se tornarem desenvolvedores de cidadãos que são profissionais de negócios, utilizadores avançados e podem identificar casos de uso e conjuntos de dados e trabalhar em estreita colaboração com os especialistas de IA.

Quanto às novas aplicações de IA, um pequeno mas crucial grupo de engenheiros e cientistas de dados fará o trabalho pesado para criar, implantar e gerir aplicativos de IA. Para colocar esses três grupos em funcionamento, é necessário identificar sistematicamente novas competências e funções profissionais e desde logo surgem perguntas como o tipo de trabalho que é necessário para que os utilizadores ou desenvolvedores possam manipular? Quais os aplicativos que exige um cientista de dados experiente? É necessária então uma abordagem igualmente sistemática para preencher esses papéis, interna e externamente, e incentivar os diferentes grupos a colaborar.

A qualificação profissional em toda a empresa deve abordar tanto as competências técnicas quanto as formas digitais de trabalho. As estruturas de desempenho e compensação terão que se adaptar, e muitos trabalhadores serão bem-sucedidos na qualificação para preencher novas funções, mas alguns não poderão fazer a transição, e nesse caso torna-se imprescindível a preparação para algum volume de negócios.

Conhecer o desafio de empregos da IA é essencial e para muitos líderes empresariais, tentar dimensionar o impacto da IA nos empregos tornou-se uma tarefa absurda, pois sabem o que acontece e qual a quantidade do que está em jogo, seja grande ou pequeno em número, e quando constitui tema de debate.

As previsões variam amplamente, incluindo as do estudo de automação de empregos internacionais, que colocaram o impacto de curto prazo em menos de 3 por cento dos empregos perdidos até 2020, mas chega a 30 por cento na metade da década de 2030. Os líderes empresarias sondados, concordam que, por enquanto, a IA não está a tirar empregos nas suas organizações e de facto, o dobro de executivos afirmou e que a IA levará a um aumento no número de funcionários (38 por cento), e os que disseram que a IA levará a cortes de empregos (19 por cento) na sua organização. O desafio, neste momento, é de preencher vagas e 31 por cento dos líderes empresariais estão preocupados com a incapacidade de dar resposta à procura por competências de IA nos próximos cinco anos.

O ensino de competências adicionais a um empregado pode criar utilizadores e desenvolvedores de cidadãos, mas é provável que se necessite de contratar programadores e cientistas de dados altamente treinados. Forjar parcerias com universidades e alunos é uma forma de começar. A cultura do local de trabalho também é um grande factor. Muitos especialistas em IA querem trabalhar para uma empresa que pense em usar o sistema por longo prazo e também valorizam os locais de trabalho com a configuração organizacional, recursos, definição de funções, pesquisa empolgante e empoderamento individual que os inspirará a fazer um óptimo trabalho em colaboração com outras pessoas talentosas.

A terceira área-chave contende com a confiança traduzida em responsabilizar a IA em todas as suas dimensões, pois aumentaram as preocupações sobre a mesma, que pode afectar a privacidade, segurança cibernética, emprego, desigualdade e o meio ambiente. Os clientes, trabalhadores, consultores, reguladores e parceiros corporativos questionam se podem confiar na IA, daí que não seja surpresa que os líderes empresariais digam que garantir que os sistemas de IA sejam confiáveis é o principal desafio de 2019, e como vão superar esse desafio, depende se estão a trabalhar com todas os aspectos da IA responsável, como seja a justiça, interrogando se estão a minimizar os dados e modelos da mesma e estarão a trabalhar com preconceitos quando a usam?

A questão de interpretabilidade é importante pois derivam várias questões como a possibilidade de explicar como um modelo de IA toma decisões? Se podem garantir que essas decisões sejam precisas? A questão da robustez e segurança traz interrogações sobre a possibilidade de confiar no desempenho de um sistema de IA? Se os sistemas de IA estão vulneráveis a ataques? A questão da governança põe questões sobre quem é responsável pelos sistemas de IA? Se existem os controlos apropriados? A questão da ética do sistema interroga se os sistemas de IA estão em conformidade com os regulamentos e como afectarão os trabalhadores e clientes?

É necessário construir a responsabilidade por cada área, seja dentro da IA CoE ou em um grupo adjacente que trabalhe de perto com o CoE. Um número cada vez maior de empresas está a supervisionar a IA responsável por meio de conselhos de ética ou directores de ética em tecnologia, como parte das suas atribuições. É uma tendência encorajadora, que é de esperar que se desenvolva. É também necessário criar funções de trabalho que combinem conhecimento técnico com um entendimento de preocupações reguladoras, éticas e de reputação.

É importante configurar controlos e balancear conflitos de escolha e para estabelecer controlos sobre os dados, algoritmos, processos e estruturas de relatórios da IA, é fundamental a existência de equipas combinadas de especialistas técnicos, comerciais e de auditoria interna que testem e monitorizem continuamente os controlos. Tais equipas terão que considerar as compensações apropriadas e com a interpretabilidade, por exemplo, podem encontrar o equilíbrio certo entre desempenho, custo, importância do caso de uso e extensão da experiência humana envolvida. É de entender que um carro autónomo, um diagnóstico de assistência à saúde por IA e uma campanha de marketing conduzida por IA exigiriam diferentes níveis e tipos de interpretabilidade e controlos relacionados.

As outras formas de tornar a IA mais confiável vêm dos seus avanços, particularmente na área da IA Explicável (XAI na sigla em língua inglesa). O programa XAI da Agência de Projectos de Pesquisa Avançada de Defesa dos Estados Unidos (DARPA na sigla em língua inglesa), por exemplo, está a trabalhar em algoritmos mais interpretáveis. A XAI é uma agência do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, responsável pelo desenvolvimento de novas tecnologias para uso militar. Foi criado em 1958 como uma consequência tecnológica da Guerra Fria e da qual surgiram as bases da ARPANET, a rede que deu origem à Internet.

[primeira parte]
17 Jan 2019

O excesso de tudo

• “Qual a sua opinião sobre a situação na Síria?”
• “Acha que devemos dar voz, no seio da democracia, aos movimentos políticos de matriz anti-democrática?”
• “Como vê o conflito no Iémen? E o papel da Arábia Saudita na geopolítica do Médio Oriente?”
• “O futuro treinador do Benfica deveria ter que tipo de perfil?”
• “É um anacronismo anunciado falarmos de «trabalho humano» num tempo em que a Inteligência Artificial parece cada vez mais ser capaz de fazer qualquer tipo de tarefa?”
• “Depois do Bosão de Higgs, que nos falta descobrir a nível de partículas elementares?”

[dropcap]C[/dropcap]om o advento da Internet, a informação massificou-se. O que não tornou especialmente fácil a tarefa de analisá-la convenientemente. Ao acréscimo da quantidade de dados não correspondeu qualquer incremento na capacidade de processamento do humano. Continuamos a ser as criaturas excepcionais mas excepcionalmente limitadas que éramos antes da World Wide Web. Pelo contrário; a desproporção entre o acesso rápido e maciço à informação e a nossa módica capacidade de analisá-la tornou-nos coxos. E não se vê como colmatar a lacuna que só agora se fez ver.

É comum assistirmos, no decurso de um noticiário televisivo, a uma ou mais rubricas de comentário, normalmente de cariz político ou generalista. Quando estas são de teor político, o convidado é quase sempre um senador do regime, ou seja, um tipo que activamente contribuiu para a erosão do estado-de-coisas no rectângulo sem nunca mostrar o ensejo ou a capacidade de alterar a percentagem de inclinação negativa do declive. A maior parte das vezes até foi parte activa na sua acentuação. O sucesso em Portugal não se mede pelos resultados obtidos. Os critérios pelos quais se afere o sucesso e correspondente visibilidade mediática são da ordem do oculto.

Quando o comentário é de índole generalista, o convidado – muitas vezes um senador ou figurão do regime, as únicas criaturas com passe vitalício e dispensa de exame de comentador – é inquirido sobre os mais diversos temas. Como procurámos caricaturar no início deste texto, é a guerra na Síria, a validade científica da homeopatia, a relação preço-custo dos vinhos chilenos ou a recente alunagem chinesa. Ninguém, a não ser duas ou três pessoas que se escusam a aparecer publicamente, sabe alguma coisa interessante e esclarecedora de matérias tão diferentes e específicas. A verdade é que o comum dos mortais, preocupado em conseguir fazer da vida um terreno menos inóspito, também não. E é por isso que a coisa passa e la nave va. Se cada um de nós conseguisse alçar o pescoço além do horizonte da mediocridade difusa, a nudez do rei apareceria sem qualquer esforço de focagem.

A grande petulância do desconhecimento nunca foi a da sua admissão. A ignorância confessa sempre foi – e é-o sobretudo nestes tempos – um sinal de lucidez: é normal não se saber de um assunto, ora por este ser extremamente complexo ora por falta de interesse ou de tempo para estudá-lo. O que nunca foi normal foi saber um pouco de tudo sobre tudo, e este é precisamente a aura que preside ao nosso tempo e que de algum modo reflecte, em jeito de acto falhado, a aura da nossa época: o de não sermos capazes de admitir que enquanto indivíduos – o grande credo da modernidade – estamos votados a saber muito pouco e a contar para muito pouco. Ao contrário do que prometiam as nossas mães, não somos especiais.

Haverá excepções, homens e mulheres que sozinhos empurram continentes história adentro. E talvez a evolução, no sentido lato, seja de facto a marca filigranar que une os indivíduos excepcionais ao longo do tempo. Mas isso não resolve nada, em termos de aquietar o espírito. Nós, os que porfiam para se manter à tona, não somos excepções. E saber que há tanta coisa que poderíamos ser mais do que somos só nos parece esmagar ainda mais.

7 Jan 2019

China aprova lei do e-commerce para combater a pirataria

Quase dois anos depois o Governo atende ao pedido do Alibaba por leis mais rígidas para combater a venda de produtos piratas e fazer valer os direitos de propriedade intelectual das marcas nacionais e internacionais

 

[dropcap]A[/dropcap] China é o maior mercado de e-commerce do mundo, com as vendas a crescer 32,2% por ano em 2017, atingindo 7,18 trilhões de yuans. Durante uma conferência de imprensa, na sua sede em Hangzhou, em Fevereiro de 2017, o Alibaba disse que as leis existentes na China para regulamentar a propriedade intelectual eram “ambíguas” e argumentou que essas leis estavam a impedir a capacidade das autoridades de criar processos legais contra falsificadores, resultando numa baixa taxa de condenações que é “a razão fundamental para a ineficiência no combate à falsificação e protecção da propriedade intelectual”.

Agora, quase dois anos depois, o governo aprovou a primeira lei específica de comércio electrónico do país em Novembro, a nova lei entra em vigor a partir de 1 de Janeiro de 2019.

Cumprir a nova lei será um desafio para o Alibaba e seus pares, incluindo JD.com e Tencent? A lei inclui cláusulas que visam remediar a ampla disponibilidade de falsificações on-line e responsabilizará os mercados por produtos falsificados e outras mercadorias violadas vendidas por comerciantes terceirizados nas suas plataformas.

Especificamente, a legislação aplica-se a portais individuais das empresas, bem como aos vendedores e aos operadores / proprietários de plataformas de comércio electrónico, como o TaoBao, do Alibaba. A lei exige que tais operadores de comércio electrónico se registem como entidades de mercado e respeitem as leis e regulamentações chinesas existentes com relação à protecção dos dados pessoais dos consumidores (incluindo, mas não se limitando a apagar imediatamente as informações de um usuário do portal mediante solicitação).

Mais, os operadores não se devem envolver em publicidade enganosa (incluindo a não divulgação de mensagens pagas, a fabricação de informações falsas sobre transacções e a publicação de apreciações falsas de usuários ou a exclusão de apreciações de usuários genuínos e que falem coisas negativas sobre um determinado produto).

De acordo com a lei, se a loja ou a plataforma falhar em tomar medidas preliminares e, em última instância, apropriadas com relação aos produtos falsificados ao receber uma notificação judicial, por parte de alguma marca detentora de propriedades intelectuais, será solidariamente responsável pelos danos causados ao detentor dos direitos. E, além disso, a lei estabelece que “sempre que um operador de plataforma sabe ou deveria saber que um [vendedor] na plataforma infringiu os direitos de propriedade intelectual, mas não toma as medidas preliminares necessárias, o operador da plataforma é conjuntamente responsável por todos os danos causados. ”

“A lei tem como objectivo apoiar e promover o desenvolvimento do comércio electrónico, regulamentar a ordem de mercado e proteger os direitos e interesses legítimos de todas as partes no comércio electrónico”, disse Cong Bin, vice-presidente do Comité de Constituição e Direito da APN. em um relatório para os legisladores quando o projecto de lei foi divulgado através do Comité Permanente do Congresso Nacional do Povo neste verão.

Não é novidade que a lei está a ser bem recebida por marcas de luxo, que têm sido rotineiramente atormentadas por falsificações chinesas. O director financeiro da LVMH, Jean-Jacques Guiony, pareceu optimista durante a mais recente divulgação de resultados do conglomerado de luxo sediado em Paris, cujas marcas, incluindo Louis Vuitton e Dior, são constantemente algumas das mais atingidas pelo comércio global de falsificação. De acordo com Guiony, a legislação mais estrita e a fiscalização de dentro da China são bem-vindas, e “o [governo] chinês que se move nessa direcção é bom para nós”.

21 Dez 2018

Afinal está tudo na net

[dropcap]U[/dropcap]ma vez passeava de barco num dos canais da cidade de Utreque e, a alguns metros de mim, percebi que dois barcos iriam inevitavelmente colidir. A velocidade e a direcção em que ambas as embarcações seguiam tornava inevitável o choque. E aconteceu. No entanto, durante aqueles breves instantes que antecederam o embate, fui invadido pela conhecida sensação de quem não consegue acreditar no que está a ver. Foi como se agora desse com Theresa May encostada à nespereira do meu pátio a fumar erva.

Para acreditar não basta que as coisas possam ter ou não sentido, é necessário sobretudo que quem acredita sinta na mão o leme que não é o seu e o articule com o desejo. Isto é, quando acredito, desdobro-me (no ‘outro’ ou em ‘outrem’) e logo regresso ao meu próprio encontro. Um ‘boomerang’ que decorre num ápice, a maior parte das vezes de modo involuntário. Naquele dia, em Utreque, eu não consegui rever-me na quilha das embarcações que iriam embater entre si e o meu desejo, parece, estava longe de acompanhar o arroubo do contratempo.

As propósito destes vaivéns, verdadeiros anjos da guarda que nos colam ou descolam da vida, soube, na passada semana, de um caso particularmente interessante: uma amiga minha recebeu em casa um livro de poesia acabadinho de vir da gráfica e o filho, com doze anos de idade, agarrou no livro, folheou-o de ponta a ponta e inquiriu: “Ó mãe, foste mesmo tu que escreveste isto, ou viste na net?”. O rapaz também não queria acreditar na colisão de Utreque e muito menos na desenxabida aparição de Theresa May.

Aproveitemos a concordância para permanecer em Utreque, cidade a que costumava chegar de comboio, todas as manhãs, durante alguns anos. Relembro ainda que a palavra holandesa “beeldenstorm” significa literalmente “tempestade de imagens”, mas, na realidade, é utilizada no dia-a-dia para designar a guerra contra as imagens que começou em 1566 e que se estendeu à região de Utreque no verão de 1580. A revolta levou o poder protestante a cortar cabeças de santos em diversas esculturas da catedral do Dom. Uma iconoclastia anti-católica que deixa ainda hoje à mostra, na capela Van Arkel, superfícies rasas e brancas por cima dos pescoços das imagens. A primeira vez que vi aquelas decapitações nem queria acreditar. Eu estava como o rapaz de doze anos, que se chama Duarte, mas sem qualquer net para poder atribuir a autoria de tais sórdidos actos.

Os iconoclastas daqueles tempos praticavam actos à talibã, porque a coisa rimava com fé. Uma pessoa, quando crê, não se imagina a desdobrar-se ou a desejar seja lá o que for; apenas disfere, dispara, investe. Nem interessa em que direcção, pois, de um lado, o mundo é negro e do outro torna-se logo redentor. Coisa perigosa. Crer é bem distinto de acreditar, acreditem-me. Se não vejamos: no início deste ano, num famoso museu de Manchester, a direcção achou por bem retirar da exposição um quadro de William Waterhouse, intitulado ‘Hilas e as Ninfas’ (1896). O ‘pecado’, aparentemente, não se baseava em questões de fé, nem teria resultado da faina de possíveis plágios. O que estava em causa era a “forma decorativa passiva” com que as mulheres haviam sido registadas pelo pintor vitoriano (que deveria sofrer de patologia contemplativa). Para que não se pensasse que o arrojo pudesse ter conotações de crença talibã, a curadoria do museu comunicou publicamente a iniciativa iconoclasta como se fosse, ela mesma, uma obra de arte. Eu nem queria acreditar e fiquei com dúvidas, se foi o curador que teve a ideia, ou se ‘viu aquilo na net’.

Entendamo-nos: “ver na net” quer dizer, no nosso tempo, bem mais do que copiar ou do que cumprir uma simples moda ou ensinamento. “Ver na net” significa essencialmente viver, respirar e até acreditar. Num caso limite, implicará “crer”, separar, disferir. “Ver na net” é imitar tendências e fazê-lo cegamente e em fluxo: repetir, reverberar, reiniciar. A perífrase “Ver na net” estará mais em linha com um certo modo de rectifcar o mundo, tornando-o mais ‘correcto’. Como se fosse um imenso shopping digital em que tudo se expõe de uma maneira formatada, precisa, higiénica.

Há uma proto-ideologia em crescimento no planeta, de que um pós-‘millenial’ como o Duarte dá conta que nem peixe na água, que nos diz que as embarcações de Utreque vão mesmo embater uma na outra. Iremos ainda, um dia destes, ver quadros de Picasso retirados dos museus, azulejos taurinos recolhidos das estações da CP e pinturas de batalhas famosas irradiadas dos salões. Iremos ainda ver um mundo sem autoria seja de quem for, mas todo ele esquematizado, denunciado e sem qualquer ironia (com excepção para aquela menina que faz os anúncios da Trivago).

As mãos que arrasaram as esculturas de Gerrit Splintersz na catedral de Utreque e as mãos que privaram um museu de Manchester do quadro de William Waterhouse têm em comum um ideal de pureza. Mas uma pureza que exclui a conhecida sensação de não conseguir acreditar no que se está a ver. Banhados por esse brilho de pureza, ver torna-se sinónimo de crer. Coisa perigosa. Quer no devir protestante, quer no devir da correcção ‘millenial’, a realidade é uma plasticina criada pela re-arrumação permanente de bits (antes designados através do fogoso ímpeto do ‘espírito santo’).

E já se sabe que, no tempo digital, uma simples imagem numérica, não analógica, livre de referentes e apenas subordinada à linguagem que a gera, decompõe ou programa… pode fazer de cada um de nós um iconoclasta em potência, ou até, no limite, um internauta com claras inclinações talibãs. Afinal de contas, o Duarte tinha razão: está tudo na net.

22 Nov 2018

Criador da ‘web’ defende contrato para tornar internet “num sítio melhor”

[dropcap]O[/dropcap] criador da internet, Tim Berners-Lee, defendeu em Lisboa, na Websummit, a criação de “um contrato” entre utilizadores, empresas e governos de todo o mundo para “tornar a ‘web’ num sítio melhor”, reduzindo desigualdades e melhorando questões como a privacidade.

“Temos de criar um contrato para a ‘web’. […] E esse deve ser um contrato com vários princípios para as pessoas se juntarem. Por isso, estou a pedir a vossa ajuda, seja através da vossa empresa ou por vocês próprios”, disse o responsável.

Falando na cimeira de tecnologia Web Summit que decorre até quinta-feira no Altice Arena (antigo Meo Arena) e na Feira Internacional de Lisboa (FIL), no Parque das Nações, Tim Berners-Lee vincou: “Somos todos responsáveis por tornar a web num sítio melhor”.

“Proponho-vos que façam parte disto. Nós conseguimo-lo fazer juntos”, acrescentou, alargando o pedido ainda a “governos de todo o mundo”, que devem ser “sensibilizados”.

Tim Berners-Lee assinalou que, em 1989, quando criou a ‘web’ queria que esta fosse uma rede de livre acesso e que servisse a humanidade.

“E quando ninguém esperava, a ‘web’ criou coisas incríveis”, observou.

Porém, a seu ver, “sugiram algumas preocupações”, nomeadamente em questões como a privacidade e a segurança ‘online’, o que assinalou mostrando imagens referentes a perfis falsos em redes sociais e a manipulação na internet.

“Devemos proteger-nos”, notou Tim Berners-Lee.

Outro desafio é como possibilitar o acesso à internet a todas as pessoas, já que, de momento, apenas “uma metade” do mundo consegue ter.

É nesse contexto que o criador defende este “contrato”, que tem como mote “Pela Web” (ou como ‘hashtag’ #fortheweb), visando criar valores de equidade e de segurança para todos os utilizadores da internet.

“Precisamos ter a certeza de que as pessoas que estão ligadas à ‘web’ podem criar o mundo que desejam e usá-lo para corrigir os problemas que existem”, adiantou, defendendo que a internet seja “mais pacífica e mais construtiva”.

Para esta edição, a terceira em Lisboa, a organização já prometeu “a maior e a melhor” de sempre, com novidades no programa e o alargamento do espaço, sendo esperados mais de 70 mil participantes de 170 países.

A cimeira tecnológica, de inovação e de empreendedorismo Web Summit nasceu em 2010 na Irlanda e mudou-se em 2016 para Portugal e desde essa altura terá gerado um impacto económico de mais de 500 milhões euros.

Inicialmente, estava previsto que a cimeira ficasse por apenas três anos, mas em outubro deste ano foi anunciado que o evento continuará a ser realizado em Lisboa por mais 10 anos, ou seja, até 2028, mediante contrapartidas anuais de 11 milhões de euros e a expansão da FIL.

No ano passado, o evento reuniu na capital portuguesa cerca de 60 mil pessoas de 170 países, das quais 1.200 oradores, duas mil ‘startups’, 1.400 investidores e 2.500 jornalistas.

6 Nov 2018