Fringe | Palestras sobre crítica de arte antecedem abertura oficial do festival

A edição do festival Fringe tem início oficial esta sexta feira, mas as actividades começam hoje com um ciclo de palestras dedicado à crítica de arte. O debate e a troca de ideias são a novidade deste ano do festival que tenciona promover formas alternativas de expressão artística no território

[dropcap]P[/dropcap]alestras e debates fazem parte, pela primeira vez, da edição do festival Fringe. Este ano o evento prevê três momentos, com temáticas diferentes, dedicados à troca de ideias, sendo que o primeiro, de um ciclo dedicado à crítica artística, tem inicio já hoje.

O objectivo, afirma a organização na apresentação do evento, é guiar os interessados “pelo mundo da arte e da escrita cultural através de dicas de escrita, palestras, entrevistas com artistas, desenvolvendo a tua capacidade de apreciação, competência analítica e observação atenta dos espectáculos”.

“Crítica de Arte 101” é o tema que vai preencher três palestras. A primeira tem lugar hoje pelas 20h na Macao Theatre Library e é dedicada à discussão da diversidade da crítica artística. A coordenar a conversa vai estar Mok Sio Chong, crítico de teatro local, dramaturgo e encenador. Mok Sio Chong é também editor-chefe da publicação trimestral Performance Arts Forum e de Reviews, sendo presidente do Macao Theatre Culture Institute.

Carol Law vai estar à frente da conversa agendada para amanhã, à mesma hora e no mesmo local, que se vai debruçar na preparação técnica para entrevistas a artistas. Carol Law, fez o mestrado em Jornalismo e Gestão Cultural pela Universidade Chinesa de Hong Kong e foi repórter de televisão responsável pela realização de entrevistas, redacção de notícias, edição de vídeo tendo trabalhado ainda na área de investigação. Actualmente, é escritora freelancer e trabalha com diferentes média, focando-se em temas como o desenvolvimento da indústria artística de Macau, estilo de vida ecológico e a história de Macau.

Sexta feira é dedicada ao debate sobre a questão “quão no limite é o festival Fringe?”. No Macau Theater Library vai estar Hui Koc Kun . Conhecido por “Big Bird”, Hui é dramaturgo, encenador e actor de teatro há mais de três décadas. Licenciado pela Faculdade de Letras da Universidade de Macau, foi também um dos primeiros licenciados do Programa de Administração de Arte do Centro de Artes de Hong Kong, e graduado pelo Programa de Pós-Graduação em Indústrias Culturais e Criativas da Academia de Artes e Design da Universidade de Tsinghua.

Hui tem na sua carreira a coordenação de eventos culturais e artísticos, incluindo o Festival de Música Pop de Macau, as Apresentações de Teatro Conjuntas de Macau, e o projecto Ano Novo Chinês em Lisboa. O dramaturgo foi um dos elementos envolvidos na criação do Festival Fringe e coordena o evento há mais de uma década. Actualmente, está envolvido na área da programação e os seus mais recentes projectos incluem o HUSH! Full Music e o Desfile por Macau, Cidade Latina.

Os interessados em participar têm que ter mais de 16 anos e para se inscreverem devem produzir um pequeno texto de 200 palavras a ser entregue no momento de chegada e onde descrevem os motivos da sua presença.

Fronteiras discutidas

As fronteiras entre a arte e o quotidiano são o tema que vai ocupar a palestra marcada para sábado, às 15h na galeria At Light. “A linha entre a arte e o quotidiano” é o tema de conversa que vai estar a cargo de Pak Sheung Chuen que vem de Hong Kong, Siraya Pai de Taiwan, e Cherrie Leong e Lei Sam I, de Macau. A conversa tem como objectivo possibilitar um espaço de debate acerca do papel da arte no dia a dia de cada um e debater a fronteira entre expressões artísticas e o quotidiano.

“Cada vez mais as actividades artísticas interagem com o nosso dia-a-dia e cada vez mais os espectáculos entram no nosso quotidiano. A arte está ultrapassar os limites e a entrar nas nossas rotinas diárias? Ou já estamos a envolver a arte na nossa vida diária e já não há mais fronteiras?”, questiona a organização na apresentação do evento. A participação é limitada a 30 pessoas com idades acima dos seis anos e as inscrições são feitas por ordem de chegada. A palestra vai ser conduzida em cantonês e mandarim.

No sábado, dia 26, é o momento de balanço com o encontro entre o público e críticos convidados para partilharem as suas opiniões sobre os espectáculos do Fringe.

9 Jan 2019

Festival Fringe arranca esta sexta-feira com espectáculos para todos os gostos

[dropcap]O[/dropcap] 18º Festival Fringe da Cidade de Macau, organizado pelo Instituto Cultural, arranca já esta sexta-feira e prolonga-se até ao próximo dia 27 deste mês. A inauguração terá lugar no pelas 19:30 horas, no Edifício do Antigo Tribunal.

Na altura, será apresentado o “18.º supermercado do Fringe”, sendo que à noite o espectáculo Sigma, produzido pelo grupo Gandini Juggling e pela coreógrafa premiada Seeta Patel, ambos do Reino Unido sobe ao palco mostrando, segundo o comunicado da organização, geometrias virtuosas através de circo e dança clássica indiana. Os bilhetes disponíveis para alguns espectáculos do festival já são limitados, adverte ainda a organização.

Da mescla de espectáculos constam também Conjunto de Música Urbana Interactiva com instalações artísticas e orquestra ao ar livre que mostra uma instalação com desenhos de diferentes instrumentos musicais para o público tocar. Janelas Efémeras – Arte Urbana nos Terraços usa papel de arroz para mostrar a arte de rua não agressiva, convidando as pessoas a trocar pontos de vista e a participar, mudando a fisionomia da cidade através da arte. Flash Mob – Phubber Drama irá apanhar phubbers em paragens de autocarro numa actividade interactiva com o público.

O programa do Fringe apresenta ainda outros espectáculos, como The Icebook, apresentado por artistas também provenientes do Reino Unido, Davy e Kristin McGuire, com o primeiro livro pop-up do mundo em vídeo mapping.

Em Sê Meu Velho Amigo, produzido pela companhia local Dream Theater Association, através de objectos de estimação, velhos amigos contam-nos histórias pessoais, lembrando os dias de Macau do antigamente; na leitura de teatro ao ar livre Sonia, escrita pelo dramaturgo local Ma Wai In e encenada por Ku Ieng Un, o público vai ouvir uma história que, dando vida a personagens não-humanas, reproduz a realidade; já o espectáculo Peixe-dourado, apresentado por Four Dimension Spatial de Macau e pela Companhia de Dança Moderna de Changde, revela as memórias ocultas de tabus emocionais sob a lógica do sonho, informa a organização.

O Festival Fringe realiza ainda 10 actividades de extensão, incluindo workshops, palestras, crítica artística e sessões de partilha. Os bilhetes para os espectáculos estão disponíveis na Bilheteira Online de Macau.

8 Jan 2019

Festival Fringe apresenta grafites em papel de arroz no Porto Interior

Uma exposição de intervenção urbana não evasiva é a proposta de “Janelas Efémeras”, um projecto que pretende por as famílias locais a produzir grafites em papel de arroz, acompanhadas pelo conhecido artista Barlo. O objectivo é expor, na Ponte 9, um conjunto de “janelas” que contenham a expressão do imaginário de cada um

 

[dropcap]“J[/dropcap]anelas Efémeras – Arte Urbana nos Terraços” é o projecto de arte de rua que reúne o famoso artista Barlo e residentes de todas as idades para criarem uma série de ilustrações em papel de arroz que representem o seu imaginário. O evento itegra a programação do Festival Fringe de 2019 e tem lugar entre os dias 12 de Janeiro e 9 de Fevereiro, sendo constituido por dois momentos: a produção das obras e a sua exposição.

O objectivo é, de acordo com a curadora Filipa Simões, “divulgar o papel de arroz como técnica de arte urbana não agressiva”, ao mesmo tempo que proporciona “um momento de partilha e de relacionamento entre diferentes camadas da sociedade, promovendo uma transformação cívica através da arte”.

A ideia é “criar janelas”, refere ao HM, inicialmente produzidas num workshop que vai ter lugar a 12 e 13 de Janeiro na Ponte 9. A iniciativa é fomentar a intervenção feita em família, “trazer as crianças porque são as gerações futuras e são responsáveis muitas vezes por puxar os adultos para outros campos”.

O workshop que pretende ser uma plataforma de partilha que reúne o artista de rua Barlo, a curadora Filipa Simões e todos os participantes e onde serão criadas ilustrações em papel de arroz que retratam pessoas e as suas histórias vai dar origem às obras que integram a exposição homónima.

No final, são os “artistas” que vão montar a mostra, no terraço da Ponte 9, para que tenham acesso a todos os passos de uma exposição, aponta Filipa Simões.

A iniciativa aceita até dez pares de participantes – pais e filhos – e tem o valor de inscrição de 100 patacas. A exposição vai estar patente de 13 de Janeiro a 9 de Fevereiro.

As “janelas” são o meio para colocar no papel o imaginário de cada um dos participantes, adianta a curadora. “A ideia é criar janelas de um prédio que mostram as pessoas. São janelas para o imaginário em que cada um vai mostrar um bocadinho do seu mundo, colocando o que lhes vai na imaginação no papel e transformando as ideias em imagens”, acrescenta.

Suporte delicado

Já a escolha do papel de arroz enquanto suporte destes trabalhos tem que ver não só com a sua origem chinesa mas também por proporcionar uma base “não invasiva”. “Já tínhamos vistos este material pelas ruas de Macua, até porque de vez em quando aparecem uns grafites feitos em papel de arroz”, recorda Filipa Simões. Mas o mais importante, considera “é o facto de se tratar de um material não invasivo e que pode ser tirado em qualquer altura”.

A actividade que conta com o apoio da CURB – Centro de Arquitectura e Urbanismo, já faz parte do interessa da entidade na promoção da arte de rua. “A street art é um tema pelo qual nos interessamos há muito tempo e com o Fringe tivemos esta oportunidade”, explica Filipa Simões.

O interesse nesta demonstração artística tem que ver com o seu potencial, nomeadamente quando se fala de reabilitação urbana, até porque “pode reactivar zonas da cidade que já estão um bocado decadentes e pode trazer artistas para uma zona da cidade que tende a ficar esquecida, o que já é uma coisa que acontece internacionalmente”, refere a curadora de “Janelas Efémeras”.

É neste sentido que o projecto ganha forma na zona do Porto Interior que “tem estado um pouco esquecido e em que as preocupações são só com as inundações. Mas é uma zona que tem vindo a decair com a redução da pesca e de toda a indústria relacionada”, remata.

21 Dez 2018

Festival Fringe regressa em Janeiro com um total de 18 propostas

O Fringe está de regresso. O cartaz do festival, que vai decorrer entre 11 e 27 de Janeiro, contempla 18 propostas pensadas para “quebrar as barreiras e as convenções e a redescobrir o excepcional da vida quotidiana”

 

[dropcap]É[/dropcap]com “Sigma”, uma produção do grupo Gandini Juggling (Reino Unido), que combina ritmos, padrões e cores exuberantes num cenário de espelhos, celebrando o diálogo entre os mundos do malabarismo, da música e da dança clássica indiana que vai abrir o XVIII Festival Fringe, cujo cartaz foi ontem apresentado.

Subordinada ao tema “Extra. Ordinário”, a iniciativa, organizada pelo Instituto Cultural (IC), pretende levar o público a “quebrar as barreiras e as convenções e a redescobrir o excepcional da vida quotidiana” através de um total de 18 propostas, a terem lugar entre 11 e 27 de Janeiro.

É também do Reino Unido que chega “Wet Sounds”, um concerto subaquático “sem precedentes”, apresentado por Joel Cahen que vai transformar uma piscina comum num espaço para música, bem como “The Icebook”, o “primeiro livro pop do mundo em vídeo ‘mapping’, dos artistas britânicos Davy e Kristin McGuire. Já com a marca dos Estados Unidos surge “Transmissão Silenciosa”, pela mão da artista Morgan O’Hara, conhecida pelo desenho ao vivo “Live Transmissions”, que vai juntar-se à Associação de Desenvolvimento Comunitário para explorar o significado do desaparecimento e da incompletude da vida. “Peixe-dourado” titula a peça da Four Dimension Spatial de Macau e da Companhia de Dança Moderna de Changde (China), que se propõe a revelar memórias ocultas de tabus emocionais sob a lógica do sonho.

Desenhos que soam

O Conjunto de Música Urbana Interactiva, por seu turno, vai apresentar uma instalação com desenhos de diferentes instrumentos musicais que podem ser tocados. “É uma instalação interactiva baseada nas formas de arte de rua. Basicamente, é uma parede de seis por três metros com desenhos de instrumentos que ao serem tocados vão dar som”, explicou o português João Oliveira, sem esconder a expectativa de ver a reacção do público.

“Hei-de vir todos os dias para filmar, porque, para mim, o que tem piada é isso mesmo, não haver distanciação entre os artistas e quem observa. Na realidade, o público é o artista, eles é que vão fazer algo”, sublinhou. João Oliveira explicou ainda que estarão patentes instrumentos distintos, desde chineses a indianos, ou mesmo da música electrónica, como sintetizadores. Em paralelo, vão ter lugar pequenas performances com o objectivo de explicar um pouco o conceito a quem passar pela Praça de Jorge Álvares.

O programa tem, de resto, uma forte componente local, como “Pequeno Escape”, que revela histórias de vida entre os corredores de um supermercado, da autoria de Lei Sam I, bem como “Sê Meu Velho Amigo”, produzido pela companhia local Dream Theater Association, em que, por via de objectos de estimação, velhos amigos contam histórias pessoais, lembrando a Macau do antigamente. Destaque também para “Flash Mob – Phubber Drama”, de Cherrie Leong, que reflecte sobre a sociedade actual, centrada no mundo dos “phubbers”, ou seja, dos que ignoram alguém por estar constantemente fixado no telemóvel ou para “Sonia”, escrita pelo dramaturgo local Ma Wai In e encenada por Ku Ieng Un, em que o público vai ser convidado a ouvir uma história que, dando vida a personagens não-humanas, reproduz a realidade.

A oferta inclui ainda espectáculos transdisciplinares e fruto de colaborações inter-regionais, como “Horizonte Corporal”, da Companhia de Dança Amálgama (Portugal), Dancecology (Taiwan) e Stella e Artistas de Macau, que apresentará uma nova perspectiva que permitirá ver Macau de um outro ângulo, através das linhas da paisagem com a extensão dos corpos.

O Fringe contempla ainda espectáculos para públicos de diferentes idades, tais como “Magia de Luz e Sombra”, apresentado pelo mimo francês Edi Rudo e pelo CANU Theatre, os quais irão criar um mundo teatral absurdo, usando luzes e sombras com as mãos; e o concerto “Era uma vez a cantar em Português”, da Casa de Portugal em Macau, que apresenta clássicos da Disney e canções tradicionais infantis portuguesas.

O XVIII Festival Fringe, com um orçamento de três milhões de patacas, oferece 18 programas, duas exposições e instalações, sete ‘workshops’ e três palestras temáticas, num total de mais de 100 sessões ao longo de 17 dias.

7 Dez 2018

Artes | Fringe promove a descoberta de Macau e a interacção entre pessoas

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] 17ª edição do Festival Fringe, que decorre entre 12 e 21 de Janeiro, tem dois objectivos que ultrapassam a apreciação artística: O desvendar dos segredos escondidos de Macau e o aprofundamento da forma como as pessoas se relacionam umas com as outras.

Além dos 23 espectáculos que enchem o cartaz do Festival Fringe deste ano, o Instituto Cultural (IC), que organiza o evento, tem programado uma dezena de workshops, palestras, sessões de crítica de arte, entre outros eventos que pretendem envolver a cidade durante os dez dias do festival.

Um dos intentos da organização é proporcionar a participação activa do público. Nesse capítulo, não há como fugir ao “Leilão de Histórias de Amor”, um espectáculo que se realiza no Mico Café, no dia 14 de Janeiro às 17h e às 21, e nos dias 15 e 17 de Janeiro às 19h30. Neste espectáculo tudo é possível e nada é posto de lado, assim sendo, serão leiloados artigos carregados de romantismo tais como amuletos tailandeses, brinquedos para adultos e essências amorosas.

O espectáculo traça uma viagem entre Taipé e Macau, à procura de recordações de namoros extintos mas que se mantém vivos em objectos como cartões feitos à mão ou cantigas de amor.

O leilão será preenchido também pelas histórias submetidas pelos participantes em palavras, vídeos ou movimentos corporais.

Outra das actividades do cartaz do Fringe é o Teatro para Bebés – Workshop de Produção Criativa, ministrado pelo grupo australiano Polyglot Theatre e o Big Mouse Kids Drama Group, que terá lugar no Anim’Arte NAM VAN, a 20 e 21 de Janeiro, das 10h às 13 e das 14h30 às 18h30. O objectivo é envolver a família no Fringe 2018, com um evento em que bebés e crianças em idade pré-escolar exploram e interagem com experiências sensoriais que estimulam a imaginação. Os membros do Polyglot Theater vão ensinar técnicas de actuação, como expressão facial e corporal, assim como formas de relação entre público e artistas.

Caçar tesouros

Um dos destaques do cartaz do Fringe recria um habitual fragmento de quotidiano de quem vive em Macau e que na maioria das vezes não é encarado como algo positivo ou artístico. A Dream Theater Association apresenta uma peça itinerante intitulada “O Meu Pai é Motorista de Autocarro”, que tem como ponto de partida a Rua de Lei Pou às 14h30 dos dias 13 e 14 de Janeiro, sábado e domingo.

O fio condutor que orienta a peça é o ambiente que se vive no cenário de transição onde todos actuam diariamente. O espaço limitado, os estridentes anúncios das próximas paragens, o linguajar variado à nossa volta, a publicidade que nos entra pelos olhos adentro e os solavancos que tornam a viagem numa acrobacia colectiva são cenário da peça. O protagonista é um motorista aposentado e os seus velhos colegas de profissão que testemunharam durante décadas dramas pessoais e mudanças históricas na cidade.

O areal negro da praia da Hac Sa será palco para uma peça encenada pelo Rolling Puppet Alternative Theatre e Teatro Langasan, de Taiwan, na próxima sexta-feira às 20h, e no sábado e domingo às 15h30. A peça chama-se “Niyaro: Anseio pela Pátria”, e conta a versão poética da história dos Amis, um grupo nativo de Taiwan, através de cantos, danças e cerimónias rituais que representam mitos tribais e o anseio pela terra natal.

A peça é um grito de identidade de uma alma antiga que vive cercada por arranha-céus e que procura encontrar um pedaço de terra onde assentar as raízes culturais tradicionais do grupo indígena a que pertence.

O Teatro Langasan, originário do vale de East Rift em Taiwan, cria uma fusão entre a cultura aborígene, o teatro moderno e a arte de representação em torno do conceito “o palco é um local de rito”. A actuação única que será apresentada na praia de Hac Sa foi aclamada no Festival Fringe de Edimburgo e no Festival OFF d’Avignon.

Sono e sonho

Ao contrário do que é normal, a companhia Co-coism, também de Taiwan, convidar os espectadores ao sono. A intervenção artística que dá pelo nome de “Pode Dormir Aqui” tem data e hora marcada para sexta-feira e sábado, às 21h30, em lugar incerto. O objectivo é tornar indistinguível o espaço público do espaço privado e transformar Macau numa imensa cama. A companhia que já havia participado no Fringe do ano passado, junta-se ao produtor local Ieong Pan e convida o público a “viver em lugares abandonados”. O espectáculo de difícil definição convida a um cochilo ou a uma conversa em ambiente recatado em plena via pública. A organização pede a quem esteja interessado que se prepare para dormir fora de casa. Veremos se São Pedro colabora.

O espaço Anim’Arte NAM VAN apresenta no próximo sábado e domingo, entre as 11h e as 19h, uma exposição de pintura que sai das telas e ganha pulso, nomeadamente no museu vivo, com hora marcada entre as 14h30 e as 16h30. A iniciativa intitula-se “Laboratório Miró”, da autoria da Macau Artfusion, e convida o público a perder-se na arte de Joan Miró.

O evento tem várias facetas. Workshops de expressões criativas, movimento, desenho, caracterização, pintura corporal, sessões fotográficas e museu vivo, apresentando a obra do pintor surrealista espanhol em telas de pele.

Estas são alguns dos exemplos de intervenções artísticas de difícil definição que preenchem o cartaz de um festival onde a indefinição é um conceito fundamental.

10 Jan 2018

Festival | Fringe invade a cidade com performances artísticas contemporâneas

A 17º edição do Festival Fringe já mexe com mais de duas dezenas de performances de artistas e grupos locais e estrangeiros. Já a partir de sexta-feira, o Fringe oferece um vasto leque de peças de teatro, dança, performances interactivas, exposições e animação espalhada pela cidade

 

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]e todos os eventos culturais organizados em Macau, o Festival Fringe é aquele que mais arrisca em termos de arrojo performativo. Apesar de já ter alguma actividade na rua, o Fringe 2018 arranca esta sexta-feira, com mais de duas dezenas de espectáculos, performances e exposições em mais de vinte locais.

Com a organização do Instituto Cultural (IC), o festival oferece também uma série de actividades de divulgação e sensibilização artística onde se incluem palestras, workshops e crítica de arte com o intuito de alargar os horizontes da percepção do público local.

Na área da dança destaque para “Trinamics”, um espectáculo da autoria de duas companhias, a Unlock Dancing Plaza, de Hong Kong e a Namstrops do Japão, que será apresentada nos dias 20 e 21 de Janeiro o edifício do Antigo Tribunal. “Trinamics” divide-se em três actos, com coreografias escritas e interpretadas pelas duas companhias. Os Unlock Dancing Plaza são vencedores recorrentes da Hong Kong Dance Awards, enquanto que a companhia japonesa é um grupo jovem que produz uma larga gama de espectáculos baseados no improviso, na força física e no arrojo dos movimentos corporais. A peça promete levar ao Antigo Tribunal uma performance vigorosa onde a agilidade leva os bailarinos a desafiar a gravidade.

No dia 16 e 17 de Janeiro, o mesmo palco do Antigo Tribunal recebe a performance de dança, “Idiot – Syncrasy” da dupla baseada em Londres Igor Urzelai e Moreno Solinas. O duo é inspirado pelas tradições folclóricas da Sardenha e do País Basco, as origens dos bailarinos, levando a dupla a usar o movimento como forma de comunicar ideias. A actuação que trazem ao Fringe 2018 é conceptualmente simples mas poderosa, séria e divertida, procurando demonstrar as mais puras das aspirações presentes na natureza humana.

Teatro marginal

Com a chancela da Comuna de Pedra, em parceria com o Hao Theater de Taiwan, o Teatro Experimental Hiu Kok recebe nos dias 19 e 20 a peça “Holidays”. O conto de Gabriel Garcia Márquez “Só Vim Telefonar”, serviu de base para três anos de trabalho de produção conjunta entre Jenny Mok e Shanshan Wu. O resultado foi esta peça que mistura o teatro físico e os fantoches. O movimento é o principal elemento da narrativa, que usa o mínimo essencial de palavras na procura da exploração daquilo que há de mais insuportável na natureza humana. A peça é um hino ao sarcasmo e ao humor negro. “Holidays” assenta na situação de duas personagens, A e B, que encaram a deportação, torturas e penas a que foram condenados por serem trabalhadores pouco produtivos como umas aprazíveis férias.

Outro dos destaques na área do teatro é a peça “White Rabbit Red Rabbit”, apresentado peça companhia do Teatro Inside-Out, do Interior da China, e Chan Si Kei, que subirá ao palco no dia 18 de Janeiro no edifício do Antigo Tribunal.

O conceito inusitado da peça parece feito de propósito para o cartaz de uma edição do Fringe, no entanto já foi interpretada mais de um milhar de vezes pelo mundo fora. Ainda assim, Macau tem o privilégio de assistir à estreia da peça em cantonês, através da performance do actor local Wong Pak Hou.

“White Rabbit Red Rabbit” é um jogo teatral de interacção com o público, uma peça que dispensa sinopse onde a direcção, o palco, os ensaios e mesmo as palavras são supérfluas. Aliás, não existe nada que se possa saber de antecedência que potencie o prazer de assistir e participar na performance.

O autor iraniano Nassim Soleimanpour escreveu a peça quando foi proibido pelo Governo de passar as fronteiras do Irão. O teatro era o seu álibi para conseguir fugir do país e viajar pelo mundo fora. Toda a performance é envolvida em mistério, o actor recebe o guião mesmo à última hora, quando entra em palco já com as luzes acesas e quando encara a audiência.

Numa experiência que sai da internet para as ruas de Macau, “Bear with Us”, produzido pela companhia de teatro australiana Memetica e a Point View Art Association, propõe uma expedição pela cidade. Como tal, Macau será invadida por três ursos gigantes que vão andar pelas ruas da cidade numa senda exploratória com imparável vontade que promete desvendar os mistérios de todos os cantos do mundo.

Esta actividade é assente nas tropelias de três ursos fantoches que prometem surgir do nada e convidar pessoas para partilhar aventuras. As companhias sugerem que se sigam as páginas de Facebook e o Instagram “Bear with Us”.

A 17ª edição do Fringe 2018 terá ainda uma série de outros eventos que aliciam o público a explorar Macau e a olhar para a cidade com uma perspectiva nova, uma perspectiva Fringe.

9 Jan 2018

Performance | Festival Fringe apresenta trabalho de Jenny Mok

O edifício do antigo tribunal recebe a performance “Paisagem Entrelaçada: Maré da Noite” amanhã e domingo, pelas 20h. Fomos conhecer Jenny Mok, a coreógrafa que pisará o palco numa dança mais que plástica

 

[dropcap style≠’circle’]“É[/dropcap] uma coreografia pensada para materiais, em vez de ser para feita da forma tradicional, para o corpo humano.” As palavras são de Jenny Mok, a performer e coreógrafa que apresentará ao público do Festival Fringe este fim-de-semana o seu espectáculo sobre paisagens naturais em movimento. Anteriormente, a artista de Macau já havia trabalhado com tecidos no seu processo criativo, nomeadamente o algodão. Neste espectáculo, “Paisagem Entrelaçada: Maré da Noite”, o material escolhido foi o plástico. Esta exibição foi preparada a meias com a sua amiga e designer visual Nip Man Teng.

Há dois anos que a coreógrafa começou os seus trabalhos a solo. Primeiro começou por explorar a interacção entre corpo, som e luz, como partes iguais, que se fundiam numa linguagem única. Depois veio a preocupação com o que mais se poderia fazer em palco, além do trabalho físico com o corpo. Os materiais vieram por arrasto, naturalmente. “Quisemos fazer coreografias para corpos não-humanos, foi o primeiro passo”, comenta a coreógrafa. Jenny explica também que tenta dirigir o material enquanto representa, “mas o material fixa o tom” do que transmite, uma vez que a textura se conjuga com os restantes elementos em palco.

Jenny Mok considera que o plástico, sacos em particular, carregam uma carga negativa nos dias de hoje, muito ligados à deterioração do ambiente e ao excesso de consumo, e são o resultado de manipulação, outra palavra com uma conotação negativa. Paradoxalmente, usa estes dois elementos para transmitir algo natural.

“O que é engraçado é que, quando se tenta trabalhar com estes materiais manipulados, artificiais, em coreografia, eles dão uma impressão de paisagem natural”, explica a performer. “Também Macau é muito trabalhado, em constante transformação, e pegámos neste conceito de paisagens alteradas para fazer coreografia”, explica.

Mundo plástico

Jenny Mok tem formação em literatura inglesa, algo que considera importante na sua formação como artista, uma vez que lhe deu perspectiva para melhor entender o processo artístico. Durante o seu tempo como estudante universitária, começou a interessar-se por artes performativas, algo que ao primeiro contacto lhe “acelerou o coração”. O arrebatamento chegou antes de ter iniciado qualquer tipo de formação na área artística. A porta de entrada para a criação cultural foi como espectadora, mais precisamente no Festival Fringe de 2001. Sem ter compreendido muito bem o que tinha visto, Jenny ficou muito impressionada com a performance vanguardista a que assistiu. Um ano depois estaria a ter aulas de dança com a companhia que a tinha impressionado, depois de se voluntariar para ajudar no que fosse preciso.

Na primeira vez que pisou o palco, a artista confessa que não sabia muito bem o que estava a fazer, apenas tentou expressar-se da melhor forma que conseguiu. O seu processo criativo foi-se apurando até chegar a uma mensagem que transmite ao público usando a linguagem do movimento corporal.

Macau foi uma das inspirações para a artista, uma vez que a manipulação de paisagens atinge uma intensidade muito grande, comparando com outras cidades do mundo. “Esta não é uma performance sobre as mudanças nos horizontes de Macau, mas a cidade tem um enorme impacto em mim, enquanto criadora”, explica Jenny Mok. A artista completa que “é impossível não sentir a influência do sítio onde vivemos”.

Apesar do elemento de improviso, os espectadores terão uma visão de algo detalhadamente planeado. Ainda assim, “com este material nunca sei muito bem o que vai acontecer, eu tento manipular esse o plástico mas, por vezes, ele é que acaba por me manipular”.

20 Jan 2017

Fringe | Edição de 2017 começa na próxima sexta-feira

A edição deste ano do Fringe fica marcada pela busca de uma direcção para os artistas locais. Há cada vez mais gente de Macau a querer participar num festival que pretende ser alternativo

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m cartaz cheio com nomes vindos de Portugal, Jordânia, República Checa, China e Macau, e espectáculos que podem acontecer numa sala de espectáculos, mas também no mercado, no salão de cabeleireiro, numa estrada ou num jardim. É esta a proposta para a edição de 2017 do Fringe.

Mas, este ano, o objectivo da organização vai além da programação: a ideia é apontar uma direcção para abrir portas aos artistas locais. “Queremos que o Fringe se transforme numa plataforma para os artistas do território terem acesso a outros destinos e, neste sentido, estamos a tentar criar uma direcção para o festival”, disse o membro da organização Billy Hui.

Para o efeito, o cartaz inclui uma sessão de partilha onde estarão presentes sete representantes de festivais que, de alguma forma, estão relacionados com o Fringe e que vão apresentar o que fazem, explicou Paula Lei, que também organiza o evento a cargo do Instituto Cultural (IC).

O Fringe começou em 1999. “Era uma altura de mudança e pensámos em fazer um festival que trouxesse uma lufada de ar fresco e pronto para receber a nova era”, recorda Hui. A organização, na altura, deslocou-se a algumas cidades europeias para ver o que por lá se fazia. Voltou com ideias da Europa distante que deram o tema à primeira edição: “European Small Theater Window”. “Vieram artistas de Portugal e Inglaterra, e só tínhamos três grupos de Macau. Ninguém sabia o que era ou como se juntar ao evento”, recordou Billy Hui.

Festival fora de portas

Com a experiência, os horizontes mudaram e o objectivo passou a ser a criação de algo realmente diferente. O primeiro passo a dar foi a saída dos espaços fechados e assumir a rua como palco. Billy Hui não deixa de mostrar o contentamento com a iniciativa: “Queríamos sair do teatro e fomos para as ruas, para a praia, lojas e mercados, queríamos aproveitar a beleza e a mistura cultural de Macau”.

Se em 1999 apenas participaram três grupos locais, 18 anos depois a presença da prata da casa é notável. São vários os artistas que, em nome individual ou em grupo, associados a colegas da terra ou da vizinhança, apresentam as ideias concretizadas. Agora, os interessados podem enviar os projectos no mês de Junho para o IC e, para este ano, a organização recebeu cerca de 20 propostas de Macau.

Para o IC, é também lema do festival a motivação para a produção e o Fringe terá, à sua maneira, contribuído para o incentivo à liberdade criativa. “Por vezes, os artistas apenas têm uma ideia mas não sabem como concretizá-la, e é aí que aparece o festival: uma entidade que apoia qualquer ideia que apareça, por mais louca que possa parecer, e que ajuda na sua materialização”, afirma Billy Hui. Por outro lado, é esta liberdade que atrai os artistas, “porque sabem que o Fringe apoia sem limitações”.

Muitos anos com algumas histórias

“Lembro-me que, em 2001, havia uma ideia de um criativo de fazer uma produção apenas iluminada pelas luzes das motas. Encontrámos uma companhia de dança que aceitou o desafio e o resultado foi surpreendente pelas possibilidades que criou: o palco era a rua e a coreografia foi criada para este tipo de iluminação ainda experimental”, exemplificou o membro da organização.

As memórias são muitas e, a par das “estrelas”, o caminho do Fringe foi marcado pela ajuda da própria população. “Lembro-me de uma produção feita num local sem luz eléctrica e precisávamos de lá fazer chegar cabos. O curioso foi que, sem nos darmos conta, a população ajudou: abriu as portas de casa e dos carros para que pudéssemos passar os cabos e fazer o espectáculo naquele lugar”, recorda Hui.

No entanto, a sociedade mudou muito e os desafios para a organização também. Se, em tempos, os residentes eram os primeiros a colaborar, até na cedência de espaços, actualmente a situação é bem diferente. “Encontrar locais alternativos agora é muito difícil. Os espaços são caros e, mesmo que queiramos arrendar ou pedir, deparamo-nos com outra situação: os donos dos locais já não são de cá e nem conseguimos chegar a eles”.

Billy Hui recorda uma edição em que uma das apresentações foi feita no Largo do Senado: “Tínhamos exposições em algumas lojas e DJs a tocar em varandas que davam para a praça. Agora, se queremos pedir, ou não temos acesso ao gerente ou quando temos a resposta é sempre a mesma, o dono está em Hong Kong ou na China, ou em qualquer outro lado, porque não é daqui. Antigamente o patrão era de cá, entrávamos e pedíamos para falar com ele. Agora isso é impossível”, lamentou.

Ainda assim, para os organizadores, o estado da criação artística local actual é caracterizado pelo optimismo. As mudanças são muitas e, para Billy Hui e Paula Lei, há esperança também, até porque “agora as pessoas estudam artes”. “Estou muito entusiasmado por ver o futuro”, concluiu Hui.

11 Jan 2017