Transição | Paulo Cunha Alves elogia gestão de Macau

[dropcap]O[/dropcap] Cônsul-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Paulo Cunha Alves, elogiou os feitos alcançados pelo território após a transferência de soberania. Numa entrevista à Xinhua, o diplomata sublinhou igualmente o papel de Macau como uma plataforma. “Macau sempre funcionou como um elo de ligação entre Portugal e a China e como uma porta de chegada ao Oriente. Neste sentido, Macau assume um papel de catalisador nas relações bilaterais nos mais diversos domínios, desde o político ao comercial, do cultural ao da educação”, disse Paulo Cunha Alves, à agência estatal noticiosa.

“As principais vantagens de Macau têm a ver com a concentração de esforços e meios numa plataforma única que é o Fórum Macau”, sublinhou.

O Cônsul-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong destacou também que desde a transição, há 20 anos, que o país europeu tem prestado atenção à aplicação do princípio um país, dois sistemas, que está a ser bem concretizado e ao desenvolvimento do território, que segundo a Xinhua, foi elogiado na vertente política, económica e social.

A cooperação entre Macau e Portugal no turismo foi outra das áreas mencionadas, e Paulo Cunha Alves afirmou que “não só é essencial treinar os profissionais do sector, como também promover uma maior fluxo de turistas entre Portugal e Macau”.

11 Dez 2019

Consulado | Paulo Cunha Alves quer criar posto de cônsul-adjunto

O aumento de solicitações no Consulado de Portugal relacionadas com a situação de Hong Kong levou o cônsul-geral a pedir a Lisboa a autorização para estabelecer o cargo de cônsul-adjunto

 

[dropcap]O[/dropcap] crescente número de pedidos junto do Consulado Geral de Portugal levou o cônsul-geral Paulo Cunha Alves a requerer ao Governo de Lisboa autorização para criar a posição de cônsul-adjunto em Macau. O objectivo passa por agilizar os procedimentos consulares, numa altura em que a instabilidade política em Hong Kong fez disparar os pedidos de solicitações.

O HM confrontou o cônsul-geral com o pedido, com as eventuais tarefas do cônsul-adjunto em Macau e o tempo previsto para obter uma resposta. No entanto, numa reacção por escrito, o Consulado recusou comentar estes pontos concretos porque “as questões relevam da vertente de gestão interna do Consulado Geral e do Ministério dos Negócios Estrangeiros”, o que faz com que a discussão pública não seja “apropriada”.

A representação de Portugal em Macau, e que serve igualmente Hong Kong, foi igualmente questionada sobre se os serviços consulares poderiam estar próximos de uma fase de ruptura, mas o cenário foi recusado. De acordo com a missiva, o crescimento no número de pedidos de informações e outros procedimentos apenas representa “um aumento das muitas solicitações” recebidas diariamente.

Encerrado em 2003

Segundo o HM apurou, entre os argumentos utilizados por Paulo Cunha Alves para a criação do cargo de cônsul-adjunto consta o aumento de pedidos ligados à situação de Hong Kong.

Por outro lado, o pedido do cônsul explica que desde 2003, quando o Consulado Geral de Portugal em Hong Kong foi encerrado, que os pedidos de esclarecimentos e os procedimentos de renovação de documentos foram todos reencaminhados para Macau. Na altura estavam cerca de 38 mil portugueses inscritos na representação de Hong Kong. No entanto, nunca houve tantas solicitações como nesta fase, o que justifica que o número de trabalhadores em Macau possa ser aumentado, com um reforço dos recursos humanos.

Terá já sido devido ao aumento das solicitações que a 22 de Novembro foi lançado um concurso para a contratação de um assistente técnico que vai exercer tarefas de apoio administrativo, secretaria, caixa ou atendimento ao público.

Recebidos registos de 27 alunos portugueses

Entre 13 de Novembro e ontem o Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong tinha recebido um total de registos de 27 alunos com passaporte português a estudar na RAEHK. A medida começou a ser promovida no dia 13 com o objectivo de se compilar informação sobre os estudantes portugueses em Hong Kong, numa altura em que os confrontos entre a polícia e o manifestantes entraram pelas universidades. “Estas informações são essenciais para o Consulado poder prestar qualquer apoio em caso de necessidade”, explicou na altura o comunicado emitido pelo consulado.

29 Nov 2019

Hong Kong | Corrida à renovação de passaportes no Consulado

[dropcap]D[/dropcap]esde há dois ou três meses a esta parte, notámos um aumento da procura por parte dos utentes que residem em Hong Kong, no que diz respeito à revalidação de passaportes e de cartões de cidadão” portugueses, confirmou ontem o cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong à Rádio Macau.

Paulo Cunha Alves comentou aos jornalistas que, desde o início dos protestos contra o Governo da ex-colónia britânica, cresceu a procura dos serviços consulares por parte de cidadãos nacionais ali residentes. “Muitos deles são titulares destes documentos, mas não os costumavam renovar regularmente. Eventualmente, agora estarão mais interessados em tê-los regularizados”, justificou.

Sobre um maior interesse da população vizinha numa alternativa à instabilidade política e económica que se vive em Hong Kong, o cônsul-geral português adiantou ainda, que não é só a renovação de documentos nacionais que tem aumentado, mas também a emissão de vistos de residência e de investimento em Portugal.

O diplomata esteve com a comunicação social ontem, durante a entrega da Medalha de Mérito das Comunidades Portuguesas, atribuída pelo Governo português à Santa Casa da Misericórdia de Macau.

29 Ago 2019

Justiça | Rita Santos revela envio de explicações ao Governo Português

Rita Santos confessou ter tomado comprimidos para dormir após um artigo em que foi acusada, a par de José Pereira Coutinho, de vender passaportes portugueses. O Ministério Público (MP) pediu a condenação do director do jornal pela prática do crime de abuso de liberdade de imprensa

 

 

[dropcap]R[/dropcap]ita Santos precisou de tomar comprimidos para conseguir dormir, logo após a publicação do artigo de opinião do jornal San Wa Ou que acusava os conselheiros das comunidades portuguesas de venderem passaportes.

A versão foi relatada ontem em tribunal, no processo em que o director do jornal, Lam Chong, responde pela prática do crime de abuso de liberdade de imprensa, na forma de difamação agravada. Além disso, os conselheiros das comunidades portuguesas, Rita Santos, José Pereira Coutinho e Armando de Jesus, exigem-lhe o pagamento de uma indemnização que ronda as 50 mil patacas, cada, num total 167.748 patacas.

“Não consegui dormir. Tomo comprimidos todos os dias para poder dormir. Pode perguntar ao meu médico. Não entendo as razões que levaram Lam Chong a fazer isto connosco. Ainda mandámos um esclarecimento por escrito para ser publicado no jornal, mas não publicou nada”, disse Rita Santos, no Tribunal Judicial de Base (TJB).

Contudo, apontou que Lam Chong mudou de comportamento face às pessoas com passaporte português, após a transição e o estabelecimento da RAEM. “Agora quando nos encontra no elevador nem nos fala. Antes do estabelecimento da RAEM ainda falava. Não sei porque mudou de atitude para com os portugueses”, revelou.

Durante o depoimento a conselheira emocionou-se algumas vezes, o que levou o representante do Ministério Público (MP) a pedir-lhe que se acalmasse.

Segundo a também presidente da Assembleia Geral da Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), o artigo publicado em 2017 colocou o Conselho das Comunidades Portuguesas em causa e motivou uma reunião com o então cônsul português, Vítor Sereno.

“Nenhum facto do artigo é verdadeiro. Foi dado a entender que na altura havia conluio com o cônsul. Por isso, reuni com o cônsul e tivemos de enviar uma carta imediatamente para o Ministério dos Negócios Estrangeiros [do Governo Português] e para o Gabinete de Ligação”, explicou.

Rita Santos relatou ainda que o conselho das comunidades, que funciona na sede da ATFPM, apenas se limita a ajudar idosos e não-falantes de portugueses a marcar deslocações ao consulado para renovar passaportes. A conselheira negou qualquer cobrança pelo serviço e disse desconhecer a origem do valor de 18.000, que o artigo indicava como custo de um passaporte.

MP pede condenação

Nas alegações finais, o MP pediu a condenação de Lam Chong com base em dois argumentos: a ausência de provas nos autos para o conteúdo do artigo e ainda porque o arguido optou por manter o silêncio, em vez de apresentar factos para substanciar o que tinha sido escrito.

No mesmo sentido, também o advogado de acusação, Bruno Nunes, pediu a condenação e sublinhou que Lam Chong havia enlameado o nome dos três conselheiros. “Acusou os conselheiros de cobrarem 18.000 renminbis e deu a entender que havia conluio com o Consulado [de Portugal], sabendo que ia atingir e enlamear o nome dos conselheiros perante a Assembleia Legislativa, Conselho das Comunidades, Governo Português, Assembleia da República e, não menos importante, perante as famílias”, realçou Bruno Nunes.

Por sua vez, o advogado de defesa, Vong Keng Hei, defendeu a absolvição, argumentando não haver provas dos alegados danos cometidos. Além disso, o advogado referiu que os nomes dos conselheiros nunca foram mencionados no artigo.

A decisão ficou agendada para o dia 26 de Abril. Em caso de condenação, Lam Chong arrisca uma pena de prisão até 2 anos ou uma multa de, pelo menos, 120 dias.

Consulado em causa

Uma das questões que levou os conselheiros a apresentar queixa deveu-se aos danos para o nome do Consulado de Portugal em Macau e Hong Kong. A situação foi reconhecida, ontem, por Rita Santos. “Ele [cônsul de Portugal] está ciente da gravidade do artigo, porque fala de conluio com funcionários do consulado. Foi por isso que decidimos avançar com o caso. Queríamos mostrar que era uma pura mentira e que afecta a nossa imagem”, apontou.

28 Mar 2019

Paulo Cunha Alves, cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong: “Não encontrei emigração económica”

Há quatro meses como cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Paulo Cunha Alves garante que Vítor Sereno deixou poucos trabalhos pendentes. Os desafios continuam a ser os baixos salários e a falta de pessoal, para os quais ainda não há solução. Estão também a ser elaborados relatórios sobre a necessidade de obras nos edifícios Bela Vista e do consulado

[dropcap]P[/dropcap]orque é que decidiu enveredar pela carreira diplomática? Foi uma profissão que sempre quis?
Foi, desde muito jovem. Sempre tive interesse por culturas de outros países, línguas estrangeiras, e geografia. Por estranho que pareça, este amor pelos mapas fez-me descobrir o mundo muito jovem, ainda antes de começar a viajar. Lembro-me de quando tinha 10 ou 11 anos já passeava pelo mapa mundo e conhecia os países todos de cada continente. É capaz da génese vir daí. Um dia mais tarde, quando já estava no fim do liceu, fiz um teste psicotécnico, porque estava um pouco hesitante, e acabei por ficar com a certeza absoluta de que o queria mesmo estudar era relações internacionais. Quando fiz o 12º ano não havia, sequer, curso de relações internacionais em Lisboa, apenas na Universidade do Minho. Estava hesitante porque não era comum os jovens saírem de casa para estudar, até porque eu também gostava de fazer história da arte. O curso abriu na antiga Universidade Técnica de Lisboa, em 1982, com 40 vagas. Acabei em 1986, depois fiz o mestrado entre 1986 e 1988, mas aí já tinha entrado para a carreira. Concorri em 1986, e em 1987 comecei a trabalhar.

Qual foi o primeiro cargo que teve?
Quando começamos entramos sempre como adidos de embaixada. Fui colocado no serviço de informação e imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Os meus primeiros passos na casa foram dados na área da comunicação social.

Quando assumiu pela primeira vez um posto diplomático fora de Portugal?
Foi em Bruxelas, em Abril de 1993, na embaixada de Portugal, onde fiquei quatro anos e meio. Essa foi a primeira longa experiência no estrangeiro.

A assinatura do tratado de adesão de Portugal à CEE aconteceu em 1985. Quando esteve em Bruxelas, como se viviam esses períodos de integração europeia do país?
Portugal tem uma missão separada para a União Europeia. Depois viria a trabalhar mais tarde [nessa área], em 2004, mas na embaixada [em 1993] seguíamos apenas matérias do foro bilateral. Mas era uma Europa muito diferente, muito mais pequena também, pois o grande alargamento só aconteceu em 2004. Era uma época interessante, mas menos viva em termos de debate europeu, nessa altura não se falava tanto de alargamentos. E eu também não era especialista no acompanhamento dessas matérias. Hoje, 2019, é um momento muito interessante para estar em Bruxelas.

FOTO: Sofia Margarida Mota

De todos os postos diplomáticos por onde passou, que diferenças aponta, ao nível da adaptação ao trabalho e da comunidade portuguesa em si?
Cada posto é muito diferente um do outro. Quando saí da embaixada em Bruxelas fui para Moçambique, Maputo, onde estive três anos e meio. Foi uma experiência muito interessante e diversificada. Foi completamente diferente, apesar de ser também um posto bilateral, mas mais virado para a cooperação. Sendo um país dos PALOP, para nós tinha uma outra dimensão. Às vezes perguntam-me qual foi o posto diplomático que mais gostei, e pelo conjunto, no trabalho e vertente pessoal, acho que foi Moçambique. Foi muito gratificante e aprendi bastante do ponto de vista humano e da relação com os outros. Nós, ocidentais, vivemos rodeados de coisas que não fazem falta e quando se vive em África aprende-se a viver com o essencial e a dar valor ao que é importante.

O trabalho mudou-o como pessoa?
Diria que fez-me crescer como pessoa, o facto de ter tido essa experiência. E dou-lhe só um exemplo: íamos à padaria comprar o pão e quando saíamos com o saco havia crianças cá fora com dificuldades, a pedir, e começávamos a distribuir o pão. No segundo dia, passámos a comprar o dobro do pão necessário, porque havia outros clientes lá fora à espera. Essa foi uma experiência única. Além do crescimento profissional, pelo facto de ter lidado com matérias diferentes com que tinha lidado em Bruxelas. Todos os postos são diferentes e têm os seus desafios. Boston foi também muito interessante do ponto de vista pessoal e profissional, embora já tivesse tido responsabilidades antes, Boston foi a primeira missão que chefiei e o contacto era muito mais intenso. Era uma comunidade portuguesa muito vasta, muito dispersa e tinha à minha guarda 150 mil pessoas. O estado de Massachusetts tem quase 300 mil pessoas, quase todas dos Açores. Tinha quase 50 associações [portuguesas] que me obrigavam a um trabalho muito intenso, de semana e aos fins-de-semana, na estrada.

O que é essencial para se ser um bom diplomata?
(Risos) É preciso muita coisa, mas, em primeiro lugar, é preciso bom senso. Uma pessoa com bom senso consegue calcular o que é essencial no momento certo, com a pessoa certa. Um bom diplomata tem de saber adaptar o seu discurso e postura consoante o interlocutor. É preciso alguma razoabilidade e flexibilidade de pensamento na forma como se transmitem as ideias. Para se ser um bom embaixador é importante ter a experiência prévia de um cônsul-geral. Acho importante um contacto directo e próximo das nossas comunidades, e isso só é feito no cargo de cônsul-geral.

Teve de lidar com algum processo complicado?
É difícil seleccionar. Há sempre coisas que são mais complicadas. Relações pessoais, por exemplo. Às vezes, há membros da comunidade que são complicados e é preciso usar muitos paninhos quentes, ou fazer ouvidos de mercador a algumas críticas. Do ponto de vista político, também há situações que é preciso acompanhar. Há situações em que os portugueses ficam retidos nos aeroportos e depois telefonam-nos para casa às duas da manhã a dizer que precisam de apoio. São situações de emergência e é preciso estarmos sempre disponíveis e preparados. A última coisa que podemos esperar é um emprego das 9h às 17h. Isso nunca acontece.

Agora está em Macau e, decerto, já terá tomado o pulso à comunidade portuguesa. Como a descreve?
É uma comunidade bastante diversa e multifacetada. Quase que arriscaria a chamar-lhe complexa. Mas deveria começar por dizer que, no fundo, não há uma comunidade, há várias comunidades. Há a comunidade dos expatriados, a comunidade dos macaenses, a comunidade chinesa, que é portadora de passaporte.

Ou seja, é um conjunto de grupos.
Sim, exactamente. É por isso que temos quase 170 mil passaportes portugueses. São chineses, macaenses e portugueses, e todos eles têm as suas especificidades e necessidades. Uns porque não dominam a língua portuguesa e precisam de apoio, outros têm o peso histórico de fazerem parte da sociedade. Os macaenses merecem uma atenção especial nessa medida, porque podem ser a chave para a compreensão da nossa presença aqui e do que Portugal pode fazer em Macau. Há, depois, os portugueses, os cerca de sete mil que vivem aqui expatriados. Em termos gerais, são pessoas altamente qualificadas, não encontrei até agora emigração económica, ao contrário de outros postos diplomáticos por onde passei. Todas as pessoas que encontro têm qualificações e um emprego. Macau não será o sítio ideal para os portugueses que não têm emprego virem procurar trabalho.

Isso faz da comunidade portuguesa diferente das outras?
Faz. É, para mim, e no geral, pelo que tenho conversado com os meus colegas que passaram por aqui. É uma comunidade portuguesa sui generis e com especificidades. O nosso papel enquanto cônsul-geral é acompanhar a comunidade, ouvindo as suas preocupações e anseios.

Quando chegou, o que faltava arrumar na casa? Quais os desafios com que se deparou, que dossiers estavam por concluir?
Diria que me deparei mais com desafios. Quando se trabalha para o Estado é muito difícil ter prazos curtos para concluir tarefas. Há problemas que vão sendo resolvidos a pouco e pouco, mas depois surgem sempre outros. Quando pensamos que o quadro de recursos humanos está completo, de repente há alguém que rescinde o contrato e vai embora. Os desafios são os recursos humanos e os salários insuficientes.

O salário de um funcionário ainda ronda as 11 mil patacas?
Não tenho números concretos, mas comparativamente a trabalho idêntico executado no Governo ou em casinos é bastante inferior. Essa é uma questão que quer eu, quer os meus antecessores, informámos Lisboa por escrito, e sabemos apenas que a questão está a ser avaliada. Temos também o desafio da manutenção das instalações.

Há problemas, são necessárias obras de reparação?
São dois edifícios muito grandes. Em ambos há problemas de infiltração de água, problemas nos terraços, telhados, na parte eléctrica. Mas esses são problemas que estão a ser objecto de relatórios e vamos ter os resolver, não tão rapidamente como eu gostaria, porque não temos dinheiro para isso. Vou tentar chamar a atenção de empresas portuguesas que estejam aqui activas no domínio da construção e engenharia, apelar a benfeitores, para ver se criamos uma equipa, e também com o apoio do Instituto Cultural, que é responsável pela protecção do património. Tudo para que, em conjunto, possamos preservar o edifício do Bela Vista. Se nos descuidarmos, daqui a quatro ou cinco anos, quando eu sair, pode estar a cair, e não pode ser.

Falávamos das dificuldades sentidas pela comunidade portuguesa. Disse em entrevista ao Plataforma, que nota uma estagnação na emigração portuguesa para Macau nos últimos dois anos. A dificuldade na obtenção do BIR tem existido, acredita que os dois factos estão relacionados?
Penso que isso se deve, sobretudo, à melhoria da situação económica em Portugal e ao facto de termos saído da crise financeira internacional. O que está a acontecer é que alguma emigração está a regressar. Dificuldades com o BIR, tenho lido mais sobre o assunto na imprensa do que ouvido da boca de membros da nossa comunidade. Obviamente que ficarei atento ao que as pessoas disserem. Diria apenas que as pessoas têm de ter consciência de que, num ambiente de pleno emprego, obviamente que quem tem as melhores qualificações é quem é seleccionado. Daí ser muito importante aos mais jovens apostarem nas qualificações.

Na mesma entrevista disse que foi nomeada uma delegada para o Fórum Macau em regime de exclusividade? É Maria João Bonifácio?
É. Ainda não foi formalmente comunicado, teremos de fazer uma nota para o Fórum, mas o que está a ser previsto é que a partir do dia 1 de Fevereiro a doutora Maria João, que, no fundo, já era representante no Fórum, passe a sê-lo sem acumulação de funções. Ela terá muito mais tempo disponível para acompanhar projectos e missões e para fazer valer a nossa voz dentro do Fórum Macau. Não posso dar-lhe exemplos concretos de trabalho, mas o nosso objectivo enquanto Estado português é que o Fórum Macau seja mais pró-activo, que conte com mais iniciativas, apoie mais projectos. Vamos ver como as coisas correm, este é um trabalho de equipa.

Os 40 anos do restabelecimento das relações diplomáticas entre Portugal e a China celebram-se já a 8 de Fevereiro. Xi Jinping esteve recentemente em Portugal. Espera grandes mudanças no papel que tem sido atribuído a Macau?
Foi uma visita de carácter excepcional. O Presidente da China não visita todos os anos os países com quem tem relações diplomáticas, o que mostra que esta foi uma visita especial. É uma relação secular, mas não só. Penso que temos uma relação económica e comercial profunda, e agora com os protocolos que foram assinados, e o projecto “Uma Faixa, Uma Rota” vai certamente aproximar-nos mais. Quanto ao papel de Macau é fundamental, porque é de charneira. A China considera Macau uma plataforma e acho que, na perspectiva de Lisboa, Macau é um dos principais elos de ligação. A nossa comunidade e o nosso papel, aqui, podem vir a ser desenvolvidos e aprofundados. Com a criação do projecto da Grande Baía, será importante ver como é que as regiões administrativas especiais poderão dar o seu contributo para desenvolver mais o sul da China. Ao nível da comunidade portuguesa, Macau poderá vir a ser, no futuro, considerado como um ponto para o ensino do português, mas para os chineses da China continental, em particular para aqueles que vivem na Grande Baía. Pode ser um pólo de desenvolvimento, um sítio onde as pessoas podem vir estudar.

Acha que há know-how suficiente, nessa e outras áreas, para responder a esse desafio? Macau tem de dar um salto maior do que aquele que está a dar?
É preciso que todas as partes se envolvam. Portugal tem mais-valias em termos de recursos humanos, temos professores de português e podemos colocá-los aqui nas universidades e escolas nos próximos cinco a dez anos. Em termos de apoio dos bancos às empresas, tem de ser visto caso a caso, mas seria bom que houvesse mais empréstimos para empresas que queiram investir aqui ou na zona da Grande Baía.

Relativamente ao pedido de mudança do nome do consulado por Pequim, há alguma novidade?
Não há novos desenvolvimentos.

22 Jan 2019

Futebol | Bessa Almeida distinguido pelo consulado

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]onhecido como um apaixonado do futebol local e figura presente nos jogos do território com a sua máquina de fotografar, Bessa Almeida foi distinguido ontem pelo Consulado de Portugal e pela Casa de Portugal, ao receber duas camisolas assinadas pelos representantes das instituições.

“Foi uma surpresa, porque me tinham pedido para passar no Consulado para receber uma camisola. Mas depois acabei por receber duas, uma para colocar dentro de moldura que está assinada pelo Cônsul [Vítor Sereno] e pela Dr.ª Amélia António [presidente da Casa de Portugal] e outra para vestir nos estádio”, relatou, ao HM, Bessa Almeida, também responsável pela página Macau Bolinha Bolão.

“É normal trocarem-se e darem-se camisolas, mas chamarem-me assim e depois receber uma camisola assinada, deixou-me muito contente. É um presente muito especial até porque estamos no mês de Portugal!”, acrescentou.

Depois de ter vivido vários anos em Macau, Bessa Almeida voltou a Portugal, ainda antes da transição, regressando definitivamente ao território em 2012. Desde então, tem sido uma presença constante nos estádios, também com o intuito, confessa, de promover o desporto-rei em Macau. Foi também por esse motivo que já anteriormente tinha recebido uma camisola do Sporting de Macau, assinada pelos responsáveis e jogadores.

6 Jun 2018

Património | Sugerida mudança de local do consulado-geral de Portugal

Um ouvinte do programa matinal do canal chinês da Rádio Macau sugeriu a mudança de local do consulado-geral de Portugal em Macau, para que o actual espaço passe a ser uma atracção turística. Leong Wai Man, vice-presidente do Instituto Cultural, disse que, a longo prazo, irão pensar no uso turístico deste tipo de infra-estruturas

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] programa matinal de ontem do canal chinês da Rádio Macau destinou-se a debater o património de Macau, tendo contado com a presença de Leong Wai Man, vice-presidente do Instituto Cultural (IC). Durante o programa, um ouvinte sugeriu a mudança de instalações do consulado-geral de Portugal em Macau, para que este local passe a receber a visita permanente de turistas e cidadãos.

A vice-presidente não deu uma resposta concreta sobre este assunto, tendo apenas declarado que, no passado, o IC recebeu várias opiniões sobre a abertura ao público de infra-estruturas históricas utilizadas por serviços públicos. Leong Wai Man disse que, no futuro, o Governo vai ter isso em conta, mas que será sempre um trabalho a longo prazo.

Contactada pelo HM, Amélia António, presidente da Casa de Portugal em Macau, considerou que esta sugestão é pouco viável.

“O edifício do consulado é propriedade do Estado português, não é nenhum edifício da RAEM, cedido ou alugado. Não vejo que isso tenha alguma viabilidade, além de que é um edifício que, por dentro, está arranjado para funcionar com escritórios e não tem qualquer interesse nos seus interiores. O interesse do edifício está na construção em si, que é relevante.” O cônsul-geral de Portugal em Macau, Vítor Sereno, não quis fazer qualquer comentário sobre este assunto.

Em estado de ruína

Durante o programa, a vice-presidente do IC adiantou que os trabalhos do organismo, que recentemente conheceu a sua nova presidente, Mok Ian Ian, visam não apenas proteger o património mas também garantir a sua dinamização.

Um outro ouvinte criticou o IC por não ter protegido alguns espaços históricos, tal como o restaurante Lok Kwok, localizado na avenida Almeida Ribeiro. O IC foi também criticado por ter deixado muitos espaços em ruínas ou num estado de degradação.

A vice-presidente sublinhou que o IC tem comunicado com os proprietários privados para que façam obras de revitalização e preservação dos edifícios. Em relação às ruas das zonas antigas, a responsável adiantou que é necessário fazer uma avaliação das ruas que possam ser consideradas património.

Leong Wai Man defendeu que, caso sejam protegidas todas as ruas sem uma avaliação prévia, a medida acabará por não surtir o efeito desejado.

 

Desilusão quanto ao plano para gestão do centro histórico

Chan Ka Leong, vice-presidente do Centro da Política da Sabedoria Colectiva, ligado aos kaifong, disse ao Jornal do Cidadão que está desiludido quanto ao plano de salvaguarda de gestão do património, uma vez que, passados quatro anos, o documento de consulta pública continua a ter falta de informações. O responsável defendeu que os conteúdos não estão devidamente aprofundados e que há uma grande incerteza em relação ao desenvolvimento do centro histórico. “Qual é o próximo passo a ser tomado pelo Governo? Quais os trabalhos que serão feitos entre o IC e as Obras Públicas?”, questionou.

20 Fev 2018

Futebol | Consulado apresentou equipa com 22 atletas mas a porta está aberta para reforços

A formação do Consulado de Portugal fez ontem a apresentação para este ano. O embaixador e capitão Vítor Sereno garante que mesmo que tenha de sair a meio da temporada, que as bases para terminar a época estão estabelecidas

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Consulado de Portugal em Macau e Hong Kong apresentou ontem a formação com que vai atacar a nova temporada do futebol de Macau. Neste momento, o plantel ainda está em aberto, mas conta com 22 atletas, 19 portugueses e 3 brasileiros.

Entre as principais novidades em termos do plantel, destacam-se as saídas de Alex Irimbeira, atacante que foi um dos atletas mais influentes na temporada passada, e do guarda-redes Juninho, que se mudou para o Ching Fung, da primeira divisão. Por outro lado, regressa para orientar a equipa José Rocha Diniz. O treinador veterano regressa a um lugar que já tinha ocupado em 2016, na época em que o Consulado subiu da 3.ª para a 2.ª Divisão, em que se encontra actualmente.

A apresentação foi feita pelo próprio embaixador e capitão de equipa, Vítor Sereno, que garantiu que mesmo que ele abandone Macau a meio da época, que estão reunidas as condições para que a equipa técnica e os atletas terminem a temporada.

“Este projecto está assegurado até ao final da época, não fazia sentido se não fosse assim. Mesmo sem mim, tenho 23 fervorosos irmãos que vão dar tudo para defender estas cores”, disse Vítor Sereno, embaixador, quando confrontado com a questão.

Vítor Sereno deixou ainda elogios a todos os que constituem o plantel esta temporada, e sublinhou o fair-play da equipa. “Aos nossos colegas desta família desportiva, um grupo coeso, uma família unida constituída por 19 portugueses e 3 brasileiros. Têm um espírito competitivo e um fair play é inigualável”, frisou.

Vítor Sereno fez igualmente questão de apontar os méritos deste projecto, que diz contar com a autorização e apoio do Ministério dos Negócios Estrangeiros, e mostrou-se orgulhoso dos convites recebidos pela equipa para disputar competições em outras jurisdições.

“Os convites das autoridades de Hengqin, Cantão, Hainan, Filipinas, Camboja, entre outras, mostram a dimensão que este projecto diplomático alcançou”, disse.

A equipa volta a contar com os patrocinadores do ano passado, nomeadamente a SuperBock, EDP e CESL Asia.

Fazer o melhor

Por sua vez, o treinador José Rocha Diniz recusou estabelecer qualquer objectivo para a época, justificando esta posição com o facto do futebol ser “imprevisível”. No entanto, garantiu que nem a pinhões gosta de perder.

Ao mesmo tempo, aproveitou a conferência de imprensa para deixar explicar a razão de ter aceitado o convite e deixou um primeiro aviso aos atletas: “Não se pode dizer que não a uma pessoa que tem dado tanto à comunidade portuguesa. Isto é também um alerta para os jogadores. Não se pode dizer que não a este homem [Vítor Sereno]”, disse.

O novo treinador do Consulado elogiou também a qualidade dos atletas: “Esta equipa ainda está em aberto, mas tem jogadores com muito talento. Resta saber se eu, como treinador, vou conseguir tirar de cada um o talento que eles têm. Há jogadores muito interessantes”, apontou.

José Rocha Diniz afirmou também que apesar das diferenças de idades todos os atletas começam do mesmo ponto de partida, e que para ele “são todos iguais”.

Ainda não há data prevista para o arranque da 2.ª Divisão, mas deverá acontecer depois do Ano Novo Chinês.

30 Jan 2018

Baixos salários no consulado de Macau motivam queixas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s salários dos funcionários do consulado-geral de Portugal em Macau, considerados baixos para a média do território, motivaram ontem queixas ao secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, que disse não ter solução para o problema.

“O consulado tem uma grande falta de pessoal. Espero que olhe para Macau por um prisma diferente, porque Macau é uma cidade que ama muito Portugal”, disse Rita Santos, conselheira das comunidades portuguesas pelos círculos da China, Macau e Hong Kong, durante um encontro com José Luís Carneiro.

A conselheira explicou que os salários dos funcionários consulares rondam as 11 mil patacas, o que, “reduzindo os impostos” resulta em cerca de sete mil patacas. “É muito baixo”, frisou.

A queixa foi repetida por António José de Freitas, provedor da Santa Casa da Misericórdia: “Um funcionário público do cargo mais baixo, um servente, ganha cerca de 12 mil patacas, que é para ver como o pessoal do consulado ganha mal”.

As queixas foram feitas durante um encontro de Carneiro com 23 representantes de todas as associações de matriz Portuguesa, em que também esteve presente o cônsul-geral. Vítor Sereno lembrou que muitos dos funcionários falam quatro línguas – português, inglês, cantonês e mandarim –, o que os torna ainda “mais apetecíveis” em Macau.

“O custo de vida é dos mais altos do mundo”, alertou Sereno, lembrando que, entre 2013 e 2014, o consulado fez 16 rescisões. “As pessoas batiam-me à porta e diziam-me ‘A felicidade não enche a dispensa, não aguento mais’”, recordou.

Dilema partilhado

O problema dos salários é antigo e os conselheiros já o levaram à reunião plenária do Conselho das Comunidades Portuguesas, no ano passado, em Lisboa. Desta vez, a resposta não foi diferente.

“Não temos solução, temos uma vontade de encetar diálogo com os sindicatos. É uma questão complexa, muito difícil de resolver. Mexer nas condições remuneratórias de Macau significa mexer nas condições remuneratórias de todo o mundo. Passa por uma revisão global das carreiras”, disse Carneiro.

O problema não é exclusivo de Macau, sublinhou o responsável português. Em São Francisco (Estados Unidos) e Londres, por exemplo, foram abertos concursos e as vagas ficaram por preencher devido aos montantes oferecidos, acrescentou.

24 Mar 2017