China inicia retirada dos seus cidadãos da Ucrânia

A China retirou da Ucrânia o primeiro grupo de cidadãos chineses, incluindo 200 estudantes, residentes em Kiev, e outros 400 em Odessa, e planeia retirar hoje mais mil chineses do país, segundo a embaixada chinesa.

Os estudantes foram primeiro retirados para a Moldávia, onde chegaram após seis horas de carro, detalhou a chancelaria, citada pelo jornal oficial Global Times.

Segundo a embaixada da China, outros países vizinhos, como a Moldávia, Roménia, Eslováquia, Hungria e Polónia, vão ajudar os cidadãos chineses a entrar no seu território, garantindo-lhes temporariamente a entrada sem visto.

Na sexta-feira, a embaixada publicou um comunicado sobre a retirada dos cerca de 6.000 cidadãos chineses radicados na Ucrânia.

A China tem mantido uma posição ambígua em relação ao conflito. Pequim insiste no “respeito pela integridade territorial de todos os países”, mas diz entender as “legítimas exigências de segurança” da Rússia.

O país asiático absteve-se, na sexta-feira passada, na votação de uma resolução a condenar a Rússia, no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, explicou nos últimos dias que a estabilidade de um país “não pode ser conseguida à custa da de outros”, embora os seus porta-vozes tenham evitado referir-se às ações russas com a palavra “invasão”.

Em 4 de fevereiro, os presidentes russo e chinês, Vladimir Putin e Xi Jinping, anunciaram, após reunião em Pequim, a entrada das relações bilaterais numa “nova era”, e sublinharam o bom estado das relações entre a Rússia e a China.

A Rússia lançou na quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já mataram mais de 350 civis, incluindo crianças, segundo Kiev. A ONU deu conta de mais de 100 mil deslocados e quase 500 mil refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia.

O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a “operação militar especial” na Ucrânia visa desmilitarizar o país vizinho e que era a única maneira de a Rússia se defender, precisando o Kremlin que a ofensiva durará o tempo necessário.

O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de armas e munições para a Ucrânia e o reforço de sanções para isolar ainda mais Moscovo.

1 Mar 2022

Xi Jinping elogia “amizade de ferro” entre a China e a Sérvia

O presidente chinês, Xi Jinping, elogiou a “amizade de ferro” entre a China e a Sérvia num encontro com o presidente sérvio, Aleksandar Vucic, no sábado em Pequim. Xi afirmou que os dois países desfrutam de confiança mútua política de alto nível, e que as relações bilaterais resistiram aos testes e se tornaram ainda mais fortes, estabelecendo um modelo de relações internacionais.

O presidente sérvio veio à China para participar da cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim 2022.

Saudando o salto no desenvolvimento dos laços bilaterais nos últimos anos, Xi disse que os dois lados implementaram vários projectos de cooperação que abrangem vários campos, incluindo infraestruturas, energia e capacidade de produção.

Vucic disse que a Sérvia é uma verdadeira amiga da China, e que o lado sérvio respeita a China e admira a sua liderança, acrescentando que não importa que pressão ou dificuldades venham à frente, a amizade de ferro entre os dois países permanecerá forte.

Em questões como Xinjiang e Taiwan que envolvem os interesses centrais da China, o lado sérvio ficará do lado do povo chinês como sempre. Vucic disse ainda que o lado sérvio espera aumentar ainda mais a cooperação com a China em áreas como negócios, comércio, investimento e intercâmbios interpessoais. Vucic também expressou a esperança de que Xi visite a Sérvia o mais breve possível após a pandemia.

7 Fev 2022

O desenvolvimento da China fortalece os países de língua portuguesa

Por Rui Lourido

 

A China tem-se revelado um parceiro comercial da maior importância para os oito Países de Língua Portuguesa (PLP). Estas nações têm uma enorme diversidade geográfica, uns são continentais, outros são arquipélagos e estão dispersos por todos os continentes: na África estão cinco – Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe; na Ásia está Timor-Leste; na América está o imenso Brasil; e na Europa está Portugal. Contudo, todos têm uma característica comum com a China, o facto de terem o oceano a uni-los e, nos últimos anos, todos têm vindo a celebrar acordos económicos significativos com este país. Estas características são importantes para os PLP explorarem, a seu favor, as respectivas participações na iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota”.

Os PLP usufruem de vantagens concorrenciais, se beneficiando de um melhor acesso a financiamento, crédito e facilidades económicas da China, pelo facto de terem estreitas relações com a cidade chinesa de Macau (de origem portuguesa). Desde o regresso de Macau à China (criação da RAEM em Dezembro de 1999) que o governo central do país tem vindo a promover o desenvolvimento da região, nomeadamente, com a criação, em 2003, do Fórum para a Cooperação Económica e o Comércio entre a China e os Países de Língua Portuguesa, mais conhecido por Fórum Macau.

A importância do Fórum Macau foi expressamente destacada pelo presidente chinês, Xi Jinping, e pelo primeiro-ministro, Li Keqiang, nas duas reuniões realizadas com o Governo da RAEM, em Pequim, no passado dia 21 de Dezembro. Para além da integração de Macau no projecto da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau (iniciativa que agrega 11 cidades, onde se incluem Macau e Hong Kong), o Governo central reforçou o apoio a Macau com o projecto da “Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin”, iniciativa que pretende promover a diversificação e sustentabilidade das actividades económicas de Macau, para “contribuir para o novo avanço da integração de Macau no desenvolvimento” da parte continental da China. Tendo Xi Jinping referido que “a pátria é sempre o forte apoio para a manutenção da estabilidade e da prosperidade de Macau a longo prazo.

Deste modo, o Governo Central vai continuar a cumprir firme e escrupulosamente o princípio de Um País, Dois Sistemas’ e apoiar plenamente a diversificação adequada da economia” de Macau.

As trocas comerciais entre a China e os Países de Língua Portuguesa foram de US$167,565 mil milhões, entre Janeiro e Outubro de 2021, um aumento homólogo de 40,92%. As importações Chinesas dos Países de Língua Portuguesa foram de US$115,431 mil milhões, um aumento homólogo de 35,12%, sendo as exportações da China para os Países de Língua Portuguesa de US$52,134 mil milhões, correspondendo a 55,69% de aumento homólogo1. Podemos constatar que a balança comercial é, globalmente, muito favorável aos PLP, com um superavit de 63,297 mil milhões.

Os valores das trocas comerciais da China com os PLP colocam o Brasil em primeiro lugar, seguido de Angola, Portugal, Moçambique e com valores bem inferiores Timor-Leste, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

Desde 2009 que o Brasil tem feito da China o seu principal parceiro comercial, quer ao nível das exportações, quer das importações, substituindo cerca de um século de primazia dos EUA. A imensidão continental do Brasil justifica que ocupe, isolado, o primeiro lugar nas trocas comerciais dos PLP com a China. Só as trocas do Brasil, entre Janeiro e Outubro de 2021, totalizam US$138,005 mil milhões, sendo a balança comercial favorável ao Brasil em US$51,774 mil milhões. Algumas previsões internacionais, nomeadamente do FMI, assinalam as potencialidades económicas do Brasil que, ao recuperar da grave crise pandémica, poderá ascender da actual situação de 12.ª maior economia do mundo, em termos de PIB, em 2020, para a 7.ª e mesmo, a médio prazo, para a 4.ª economia do mundo. Não é assim de estranhar que o Brasil tenha sido escolhido para integrar a plataforma de relacionamento internacional com a China – os Brics, que partilha com a Índia, a Rússia e a África do Sul.

O relacionamento da China com os Países Africanos de Língua Portuguesa acompanha o sucesso da China na África, o qual pode ser explicado com base em três principais razões: a China não é um novo parceiro, desde muito cedo que apoiou a independência dos países africanos do colonialismo europeu; a China não impõe a sua visão ou modelo político, como condição para apoiar o desenvolvimento dos países africanos, ao contrário dos governos dos EUA e da Europa; por fim, e não menos importante, os investimentos da China respondem às necessidades estruturais dos países que pedem esse apoio, investindo, nomeadamente, em infraestruturas essenciais ao desenvolvimento autónomo desses países. O comércio entre a China e a África atingiu US$167,8 mil milhões nos primeiros 11 meses de 2020, sendo Angola o terceiro maior parceiro comercial da China no continente africano.

Desde 2012 que a União Europeia deixou de ser o principal parceiro de África. A China é um dos mais importantes parceiros comerciais deste continente tendo, em 2009, ultrapassado os EUA e é o principal parceiro comercial da África do Sul (absorve 2/3 do capital chinês investido na África).

Apesar da pressão contra e ilegítima do governo dos EUA, Portugal e os Países de Língua Portuguesa integraram a Iniciativa Chinesa “Uma Faixa, Uma Rota”, o maior projecto mundial de comunicação intercontinental, de adesão voluntária e baseado no interesse comum dos países participantes.

Durante a visita de Xi Jinping a Portugal, em Dezembro de 2018, foram assinados 17 protocolos, entre os quais podemos destacar: a abertura de portos portugueses ao transporte marítimo chinês para a Europa e para a África; a abertura às novas tecnologias e ao apoio a centros de investigação científica dedicados ao Espaço e aos Oceanos.

Dando continuidade aos compromissos assumidos, Portugal foi o primeiro país da União Europeia a emitir obrigações do tesouro em Renminbi (Panda Bonds, em maio de 2019, cuja emissão foi um sucesso).

É nossa firme convicção, ser do interesse estratégico da Europa, de Portugal e de todos os países de língua portuguesa, reforçarem as respectivas Parcerias Estratégicas com a China (sem esquecer a Rússia e a Índia e, naturalmente, sem hostilizar a América). É neste contexto que a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” se transformou num importante e consistente projecto para promover um mundo pacífico, através de uma rede de comércio ligando o Oriente e o Ocidente.

Portugal e a Europa devem rejeitar hostilizar a China, recusando o espírito de guerra fria ou de cruzada de nós (os “bons”, os “democratas” do Ocidente) contra os outros (os “maus” do Oriente, o papão do comunismo e da China).
É possível, é necessário, contar com a China para reforçar o espírito de confiança mútua entre os países, para o sucesso urgente no triplo combate, deste mundo globalizado, à pandemia da Covid-19, às alterações climáticas e à diminuição da iníqua partilha de riqueza.

1 Segundo as estatísticas dos Serviços da Alfândega da China, de janeiro a outubro de 2021, https://www.forumchinaplp.org.mo/pt/trocas-comerciais-entre-a-china-e-os-paises-de-lingua-portuguesa-de-janeiro-a-outubro-de-2021-foram-de-us167565-mil-milhoes/

26 Jan 2022

Pequim acolhe cimeira entre a China e cinco países da Ásia Central

O Presidente chinês presidiu ontem em Pequim a uma cimeira virtual com os líderes da Ásia Central. Na mesa esteve a influência desestabilizadora do Ocidente e a promessa de mais cooperação, num momento em que se diz ter-se atingido, nas relações diplomáticas, económicas e políticas, um “máximo histórico”

 

O Presidente chinês, Xi Jinping, disse nesta terça-feira que “as chaves para a cooperação bem-sucedida entre a China e cinco países da Ásia Central (Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Turquemenistão e Uzbequistão) são respeito mútuo, boa vizinhança e amizade, solidariedade e benefício mútuo”. Xi fez as observações numa cimeira virtual em comemoração do 30º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e cinco países da Ásia Central.

“Os quatro princípios são valiosas experiências e riqueza compartilhada para os países, e servem como garantias políticas para relações estáveis e duradouras entre a China e os cinco países, bem como a fonte de força para trocas amigáveis no futuro”, disse Xi.

O Presidente chinês disse ainda que a China está pronta para trabalhar com os países da Ásia Central na construção de uma comunidade mais próxima com um futuro compartilhado.

Por seu lado, os líderes dos cinco países da Ásia Central disseram que estão “ansiosos para ir à cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim 2022”, na próxima semana.

A primeira grande acção

A cimeira foi a primeira grande acção diplomática da China na Ásia Central este ano e a primeira reunião de chefes de Estado entre a China e os cinco países da Ásia Central. “A cimeira tem grande significado para todas as partes por resumir as realizações e experiências nas relações China-Ásia Central, e procurar coordenação e fazer planos para uma futura cooperação bilateral em toda a linha num novo ponto de partida histórico”, disse Zhao Lijian, um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

“A cimeira irá também adoptar e divulgar uma declaração conjunta dos líderes no 30º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas”, disse Zhao, acrescentando que as relações entre a China e os países da Ásia Central atingiram “um máximo histórico”.

“A cooperação tem produzido resultados e avanços históricos e icónicos, dando o exemplo de um novo tipo de relações internacionais e contribuindo para a construção de uma comunidade de futuro comum para a humanidade”, concluiu Zhao.

“A China está disposta a trabalhar com os países da Ásia Central para levar por diante o passado e forjar o futuro, continuar a aprofundar a confiança mútua política e expandir a cooperação em todas as frentes, de modo a melhorar ainda mais a relação e levá-la a novos patamares”, disse Zhao.

Graças ao sucesso das últimas décadas, especialistas previram que os dois lados teriam uma cooperação mais profunda em matéria de comércio, energia e intercâmbios interpessoais, para melhorar a coordenação em assuntos internacionais no momento histórico em que as situações regionais e internacionais estão a ter grandes mudanças.

Pan Zhiping, director do Instituto da Ásia Central na Academia de Ciências Sociais de Xinjiang, disse que as relações da China com cada um dos cinco países e a região como um todo estão a desenvolver-se solidamente.

Laços a múltiplos níveis

A China e os países da Ásia Central forjaram laços sólidos no quadro da Organização de Cooperação de Xangai (SCO), que acaba de celebrar o seu 20º aniversário. A China também construiu parcerias estratégicas com o Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Turquemenistão e Uzbequistão.

“A confiança mútua política de alto nível e os frequentes intercâmbios de alto nível tornaram as relações China-Ásia Central resilientes à instigação e às tentativas de atrair a discórdia”, disseram os especialistas, insinuando o papel dos EUA na região.

Graças a essa confiança mútua entre a China e os países da Ásia Central, Pan apontou uma cooperação frutuosa em múltiplos campos, muitos deles centrados na iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” na qual a Ásia Central desempenha um papel fulcral, citando como exemplo os comboios de mercadorias China-Europa.

A iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” foi proposta pela primeira vez na Ásia Central, durante a visita do Presidente Xi ao Cazaquistão em 2013. Em 2020, 91% dos 900.000 contentores que o Cazaquistão transportou foram para comboios de mercadorias China-Europa, informou a agência de notícias Xinhua.

De acordo com dados divulgados pelo Ministério do Comércio chinês, o comércio entre a China e os cinco países saltou de menos de 500 milhões de dólares há 30 anos para 50,1 mil milhões de dólares, o que representa um aumento de 100 vezes.

Existem múltiplas áreas onde a China e a Ásia Central podem aprofundar a cooperação, incluindo a redução da pobreza, a prevenção de pandemias, a segurança dos cereais e o financiamento do desenvolvimento, disseram os peritos, observando que a China também pode trabalhar em mais projectos de infra-estruturas com o Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Turquemenistão e Uzbequistão.

Durante a pandemia, a China não só enviou fornecimentos médicos e equipas de peritos para a Ásia Central, como também forneceu vacinas, em termos de doses reais, bem como de capacidades de produção. Em Setembro de 2021, uma linha de produção de COVID-19 de Anhui Zhifei Longcom começou a fabricar no Uzbequistão, com uma capacidade anual de 100 milhões de doses, informou a Xinhua.

Conter a influência do Ocidente

Segundo especialistas, a China e a Ásia Central têm uma tradição de comunicação desde a antiga Rota da Seda, e o espírito de diálogo entre civilizações foi herdado, com ambos os lados a respeitarem a cultura e o caminho de desenvolvimento um do outro. As duas partes estão a coordenar estreitamente os assuntos regionais, nomeadamente, a questão do Afeganistão, bem como outras ameaças à paz e segurança regionais.

Na sequência da recente agitação em grande escala no Cazaquistão que ameaçou a paz regional, a China expressou vontade de apoiar firmemente o governo na manutenção da estabilidade e no fim da violência no momento crítico relativo ao futuro do Cazaquistão.

Yang Jin, um investigador associado do Instituto de Estudos Russos, da Europa Oriental e da Ásia Central da Academia Chinesa de Ciências Sociais, disse que “apesar dos EUA e o Ocidente investirem e gastarem esforços nestas áreas para competir com a Rússia e conter a China, a Ásia Central trabalharia no sentido de estreitar as relações com a Rússia e estaria atenta à interferência dos EUA e do Ocidente”.

Pan disse que a Rússia tem uma forte influência na Ásia Central. “As melhores relações de sempre China-Rússia e uma boa coordenação também abriram o caminho para a estabilidade e desenvolvimento das relações China-Ásia Central, e as três partes podem lidar conjuntamente com os desafios, quer se trate de infiltração dos EUA ou de forças terroristas regionais”, disse Pan.

Na segunda-feira, os meios de comunicação quirguizes noticiaram que o Presidente quirguize Sadyr Zhaparov visitará a China de 3 a 5 de Fevereiro, durante a qual participará na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim 2022, informou a agência de notícias do Quirguizistão AKIpress.

26 Jan 2022

Procura por profissionais que falem português continua alta na China

A China continua a sentir uma forte procura por profissionais que falem português, disseram à Lusa duas das co-autoras de uma obra académica sobre os estudantes chineses da língua portuguesa, que será apresentada na sexta-feira.

A obra “Referencial Ensino de Português Língua Estrangeira na China” pretende “traçar um perfil mais atual dos alunos, com bases em dados concretos, através de um inquérito”, explica Catarina Gaspar.

A professora da Universidade de Lisboa diz que os estudantes chineses têm “um contacto bastante assíduo” com falantes de português, nomeadamente através de “experiências profissionais que muitos começam a ter cada vez mais cedo”.

Há alunos chineses que decidiram aprender português já depois de entrarem no mercado de trabalho, porque “querem progredir em termos profissionais”, refere Madalena Teixeira.

“Há a expectativa de terem um emprego até melhor remunerado ou até de virem a ser funcionários públicos”, sublinha a docente da Universidade de Aveiro.

Existe na China “essa procura e esse mercado de trabalho” para pessoas que sabem chinês e português, confirma Catarina Gaspar.

Mesmo os estudantes mais jovens “já estão com perspectivas de trabalho, dando apoio às empresas no âmbito das relações económicas e políticas entre a China e os diferentes países de língua portuguesa”, explica a investigadora.

Outra característica dos alunos chineses é “a experiência de pelo menos um ano em Portugal, no Brasil, ou num outro país de língua portuguesa”, acrescenta Catarina Gaspar.

A oportunidade de “imersão linguística” em português facilita a aprendizagem, mas a pandemia de covid-19 tornou a mobilidade internacional mais difícil, admite Madalena Teixeira.

Catarina Gaspar acredita, no entanto, que é possível colmatar essa dificuldade recorrendo à tecnologia, não apenas na sala de aula, mas também para “seguir programas de rádio ou televisão ‘online’, ou falar assiduamente com amigos em português”.

O livro, que tem ainda como autoras Maria José Grosso e Zhang Jing, professoras da Universidade de Macau, é apresentado pela universidade e pelo Centro Científico e Cultural de Macau, com sede em Lisboa.

A China realizou em junho os primeiros testes de acreditação de tradutores e intérpretes chinês-português e português-chinês. Só quem passa nestes testes pode trabalhar na Administração de Publicações em Línguas Estrangeiras da China.

Em janeiro de 2021, a Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim abriu o Centro Nacional de Formação de Professores de Espanhol e Português, para reforçar a qualidade do ensino da língua portuguesa na China.

Cerca de 50 instituições chinesas de ensino superior têm cursos de língua portuguesa, disse à Lusa, em novembro de 2020, Gaspar Zhang Yunfeng, coordenador do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau.

14 Jan 2022

Xi e Biden baixam o tom agressivo dos últimos tempos

A cimeira China-EUA conseguiu trazer alguma “normalidade” à conversa entre os dois países

 

O Presidente chinês Xi Jinping apelou na terça-feira ao desenvolvimento de uma relação sólida e estável entre a China e os EUA durante uma reunião virtual com o Presidente dos EUA Joe Biden. “A China e os Estados Unidos deveriam respeitar-se mutuamente, coexistir em paz, prosseguir uma cooperação vantajosa para ambas as partes, e gerir bem os assuntos internos, assumindo simultaneamente responsabilidades internacionais”, disse Xi, que tratou o presidente americano por “velho amigo”, dando o tom a uma conversa mais afável que o esperado.

O presidente chinês salientou que tanto a China como os EUA se encontram em fases críticas de desenvolvimento, e que a “aldeia global” da humanidade enfrenta múltiplos desafios.

 

Assumir a responsabilidade de ser grande

Xi Jinping afirmou que ambos devem assumir as responsabilidades de grandes países e liderar a resposta global aos desafios pendentes. Para o presidente chinês, a China e os Estados Unidos precisam de apelar ao estabelecimento de um mecanismo de cooperação para a saúde pública global e a prevenção e controlo das doenças transmissíveis, e promover mais intercâmbios e cooperação internacional.

“A COVID-19 não será a última crise de saúde pública que a humanidade enfrenta”, salientou Xi. “A resposta a qualquer doença importante deve basear-se na ciência”, disse, acrescentando que politizar doenças não faz bem mas apenas mal.

Xi disse também que a prioridade premente na resposta global da COVID é abordar os défices de vacinas e colmatar as lacunas. A China está entre os primeiros a oferecer vacinas aos países em desenvolvimento carenciados, fornecendo mais de 1,7 mil milhões de doses de vacinas acabadas e a granel ao mundo e irá considerar fazer doações adicionais à luz das necessidades dos países em desenvolvimento, referiu Xi.

 

Igualdade e benefício mútuo

“A China e os EUA devem respeitar-se mutuamente, coexistir em paz, e prosseguir uma cooperação vantajosa para ambas as partes”, disse Xi, expressando a sua disponibilidade para trabalhar com o Presidente Biden para construir um consenso e tomar medidas activas para fazer avançar as relações entre a China e os EUA numa direcção positiva. “Se o fizermos, tal será no interesse dos dois povos e irá ao encontro das expectativas da comunidade internacional”, acrescentou Xi.

Xi Jinping descreveu as relações económicas e comerciais entre a China e os EUA como sendo de natureza mutuamente benéfica, e disse que as questões económicas e comerciais entre os dois países não devem ser politizadas. “Os dois lados precisam de tornar o bolo maior para a cooperação”, disse Xi.

O presidente chinês acrescentou que “a China leva a sério os desejos da comunidade empresarial dos EUA de viajar mais facilmente para a China”, e concordou em actualizar o acordo acelerado, o que irá melhorar ainda mais as trocas económicas e comerciais entre a China e os Estados Unidos e impulsionar a recuperação das duas economias. “Os Estados Unidos deveriam deixar de abusar ou de esticar demasiado o conceito de segurança nacional para reprimir as empresas chinesas”, concluiu.

 

Taiwan: sem descarrilar

“A China será obrigada a tomar medidas resolutas, caso as forças separatistas para a ‘independência de Taiwan’ nos provoquem, forcem a nossa mão ou mesmo atravessem a linha vermelha”. Xi atribuiu as actuais tensões às repetidas tentativas das autoridades de Taiwan de procurar o apoio dos EUA para a sua agenda para a independência, bem como à intenção de alguns americanos de utilizar Taiwan para conter a China. “Tais movimentos são extremamente perigosos, tal como brincar com o fogo”, disse Xi. “Quem brincar com o fogo, será queimado”.

“O princípio de uma só China e as três declarações conjuntas China-EUA são a base política das relações China-EUA”, disse Xi, observando que as anteriores administrações dos EUA assumiram todas compromissos claros sobre este assunto.

“O verdadeiro status quo da questão de Taiwan e o que está no coração de uma China”, salientou Xi, “são os seguintes: existe apenas uma China no mundo e Taiwan faz parte da China, e o Governo da República Popular da China é o único governo legal que representa a China”.

Chamando à realização da reunificação completa da China uma aspiração partilhada por todos os filhos e filhas da nação chinesa, Xi disse: “Temos paciência e lutaremos pela perspectiva de uma reunificação pacífica com a máxima sinceridade e esforço”. “Dito isto, se as forças separatistas para a ‘independência de Taiwan’ nos provocarem, forçarem as nossas mãos ou mesmo atravessarem a linha vermelha, seremos obrigados a tomar medidas resolutas”, disse Xi.

Por seu lado, o presidente dos EUA, Joe Biden, reafirmou a política de longa data do governo dos EUA de uma só China, e declarou que os EUA não apoiam a “independência de Taiwan” e expressou que a paz e a estabilidade devem ser mantidas no Estreito de Taiwan.

Xi Jinping acrescentou ainda que “a China não aprova a utilização dos direitos humanos para se imiscuir nos assuntos internos de outros países”, referindo-se a Hong Kong e Xinjiang. “A China não tem intenção de vender o seu próprio caminho de desenvolvimento em todo o mundo. Pelo contrário, a China encoraja todos os países a encontrar caminhos de desenvolvimento adaptados às suas respectivas condições nacionais”, disse Xi.

 

Cooperação em grandes questões

“Sendo as duas maiores economias mundiais e membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, a China e os EUA precisam de aumentar a comunicação e a cooperação, cada uma delas gerir bem os seus assuntos internos e, ao mesmo tempo, assume a sua quota-parte de responsabilidades internacionais, e trabalha em conjunto para fazer avançar a nobre causa da paz e desenvolvimento mundiais”, disse Xi. “Este é o desejo partilhado pelos povos dos dois países e de todo o mundo, e a missão conjunta dos líderes chineses e americanos”, concluiu.

Xi salientou que uma relação sólida e estável entre a China e os EUA é necessária para fazer avançar o respectivo desenvolvimento dos dois países e para salvaguardar um ambiente internacional pacífico e estável, incluindo encontrar respostas eficazes aos desafios globais como as alterações climáticas e a pandemia da COVID-19.

Para Xi, “é imperativo que a China e os Estados Unidos mantenham a comunicação sobre políticas macroeconómicas, apoiem a recuperação económica mundial e se protejam contra riscos económicos e financeiros”.

“Os Estados Unidos deveriam estar atentos aos efeitos colaterais das suas políticas macroeconómicas internas, e adoptar políticas macroeconómicas responsáveis”, acrescentou Xi.

17 Nov 2021

China testou míssil supersónico em órbita, escreve Financial Times

A China testou em órbita, em agosto, um míssil hipersónico com capacidade nuclear, noticiou o Financial Times, citando várias fontes com conhecimento da realização deste teste.

De acordo com as fontes citadas pelo jornal, na edição de sábado, o míssil circulou a terra em órbita baixa antes de descer em direção a um alvo, que falhou. Três das fontes disseram ao jornal que o planador hipersónico foi lançado por um foguete “Long Marche”, tendo o teste sido mantido em segredo.

O progresso da China em armas hipersónicas surpreendeu os serviços secretos dos EUA, segundo o artigo. O porta-voz do Pentágono, John Kirby, não comentou os detalhes do artigo, mas mostrou preocupação.

“Exprimimos claramente as nossas preocupações sobre o desenvolvimento militar que a China continua a prosseguir, que aumenta as tensões na região e arredores. Esta é uma das razões pelas quais consideramos a China como o nosso desafio número um”, disse.

Além de Pequim, também os Estados Unidos, a Rússia e pelo menos cinco outros países estão a trabalhar em tecnologia hipersónica.

Os mísseis hipersónicos conseguem voar ultrapassando mais de cinco vezes a velocidade do som, tal como os tradicionais mísseis balísticos que podem transportar armas nucleares.

Enquanto os mísseis balísticos voam alto no espaço, fazendo um arco para atingir o seu alvo, um míssil hipersónico faz uma trajetória baixa na atmosfera, podendo atingir o seu alvo mais rapidamente.

Por outro lado, um míssil hipersónico é manobrável, dificultando um contra-ataque para o derrubar.

O teste agora relatado ocorre no momento em que as tensões entre os EUA e a China aumentaram e Pequim intensificou as atividades militares perto de Taiwan, a democracia autónoma alinhada a Washington que a China vê como uma província à espera da reunificação.

17 Out 2021

Coutinho quer injecção de 10 mil patacas e abertura de fronteiras

Face aos novos casos de covid-19, Pereira Coutinho defende a injecção de mais 10 mil patacas nos cartões de consumo até ao final de 2021. A pensar nas minorias, estrangeiros e na recuperação económica, o deputado quer que o Governo elabore uma estratégia de abertura de fronteiras mais ambiciosa

 

[dropcap]À[/dropcap] luz do impacto que os novos surtos de covid-19 estão a provocar na economia e no tecido social de Macau, Pereira Coutinho defende que o Governo deve atribuir mais 10 mil patacas a cada residente e apresentar “com precisão” uma estratégia de abertura ao exterior.

O deputado considera “fundamental” recarregar os cartões de consumo dos residentes até ao final do ano, dado que os montantes já estão “esgotados” devido à necessidade de saldar despesas individuais e familiares, e para ajudar as Pequenas e Médias Empresas (PME), que continuam a sofrer com a falta de turistas.

“O Governo deve (…) proceder, de imediato, à injecção de verbas nos cartões de consumo. Esta é a única forma directa para resolver os problemas familiares e sociais dos cidadãos de Macau e dar um pouco de fôlego às PME. Há um mês tínhamos proposto a injecção de 5 mil patacas ao Chefe do Executivo, mas, neste momento, sugerimos 10 mil patacas, pois com a evolução da pandemia, o encerramento de espaços e as restrições de entradas e saídas dos residentes [é preciso mais]”, apontou ao HM.

Contudo, Pereira Coutinho considera que, “mais importante”, é o Governo resolver, a médio e longo prazo, a questão da abertura das fronteiras de Macau ao exterior. Para isso, o deputado defende a elaboração de um plano de abertura, a partir do momento em que a taxa de vacinação do território atinja os 80-85 por cento, que não deixe de fora os “direitos das minorias” e dos estrangeiros.

“O Governo tem de dizer, com precisão, qual o caminho e qual a estratégia de abertura de Macau ao exterior. Ou seja, definir em que condições a sociedade civil deve colaborar para que Macau volte à normalidade. Não podemos estar fechados eternamente. Se não morremos de covid-19, vamos morrer dos problemas financeiros. Há muita gente que está sob pressão, nomeadamente jovens, famílias, pessoas que perderam o emprego e outros que estão a meio-gás e só trabalham 15 dias por mês”, vincou o deputado.

 

Ir mais longe

 

Apontando que, à luz da actual política nas fronteiras, “estamos a viver uma situação dramática e caótica”, tanto os residentes como o Governo têm de se “consciencializar” de que “vamos viver com a covid-19 durante muito tempo” e a única solução passa pela vacinação.

Por isso, Pereira Coutinho é da opinião de que, ao abrigo do princípio “Um País, Dois Sistemas” e das especificidades de Macau, o Governo deve ponderar “abrir um pouco mais” ao exterior do que a China. Isto, quando, do lado de lá, a criação de uma barreira imunológica não garante a abertura das fronteiras.

“Ao abrigo do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’, temos de trabalhar por nós próprios e fazer valer a nossa circunstância, de que há situações em que teremos de abrir um pouco mais do que o Interior da China”, começou por sublinhar ao HM.

“Se seguirmos a perspectiva do Interior da China, mesmo que os cidadãos de Macau estejam todos vacinados, podemos não abrir as fronteiras. Em Macau temos minorias, há estrangeiros que não têm facilidade de entrar na China ou que nem conseguem entrar em Macau. Isto prejudica muito, além de que os 21 dias de quarentena actualmente em vigor (…) são um grande obstáculo”, rematou.

Sobre a alteração repentina das medidas nas fronteiras que deixou mais de um milhar de estudantes e trabalhadores desalojados em Macau e sem a possibilidade de regressar a Zhuhai, o deputado fala em “drama social”. Assim sendo, pede maior clarificação da população acerca das implicações de viver do outro lado da fronteira. Sobretudo quando está em marcha a promoção da cooperação entre Macau e Guangdong em Hengqin.

“O Governo tem de dizer, com toda a honestidade e seriedade, que as pessoas ao fazerem a mudança da sua residência habitual além das fronteiras de Macau, podem ter esses problemas [nas fronteiras] que depois afectam o seu dia a dia”, referiu.

7 Out 2021

China pede à Rússia, Irão e Paquistão trabalho conjunto no Afeganistão

O ministro dos Negócios Estrangeiros da China pediu sexta-feira aos homólogos da Rússia, Irão e Paquistão que adoptem uma “voz comum” para enviar um “sinal claro e coerente” que promova uma “transição suave” no Afeganistão.

“O Afeganistão atravessa um período crítico para passar do caos à estabilidade governativa”, apontou Wang Yi, durante uma reunião com os seus homólogos, em Duchambé.

“A guerra acabou, mas a nova estrutura política afegã ainda não foi estabelecida. Existem conflitos intrincados, de natureza étnica e religiosa, e há incertezas sobre o seu desenvolvimento”, acrescentou.

O diplomata sugeriu aos representantes da Rússia, Irão e Paquistão que reforcem a comunicação e exerçam uma “influência positiva” e desempenhem um papel construtivo no Afeganistão.

“Um governo foi estabelecido no Afeganistão, mas ainda não acabou de formular as suas políticas internas e externas. Devemos respeitar a soberania, independência e integridade afegãs, mas também devemos orientá-los para formar uma estrutura política inclusiva, com políticas moderadas”, apontou Wang.

O representante chinês ressaltou que estas políticas devem “respeitar os direitos básicos das minorias étnicas, mulheres e crianças”, numa referência à ascensão dos Talibã ao poder, cujo regime anterior – entre 1996 a 2001 – relegava o papel das mulheres a uma interpretação restrita do Islão, proibindo-as de trabalhar ou ir à escola.

Linhas claras

“Devemos também pedir aos Estados Unidos que honrem os seus compromissos. Devemos trabalhar com outros países para exigir que Washington aprenda com os seus erros e forneça ajuda económica e humanitária ao Afeganistão”, acrescentou o ministro chinês.

Wang Yi também enfatizou a importância de prevenir que forças terroristas se alastrem pela região, apontando que os talibãs se comprometeram “repetidamente” com aquela tarefa.

“Disseram que não vão permitir que nenhuma força use o território afegão para prejudicar os interesses de segurança dos países vizinhos”, observou.

“Esperamos que o novo regime afegão honre este compromisso e estabeleça uma linha clara contra as forças terroristas, especialmente aquelas que visam os países vizinhos”, destacou.

Wang assegurou que, a longo prazo, os quatro países devem ajudar o Afeganistão a integrar-se nos mecanismos de cooperação regional, para que o país possa criar as suas próprias capacidades de desenvolvimento.

“Tolerância, contra-terrorismo, boa vizinhança. Estes são os três pontos mais importantes para que o Afeganistão avance a longo prazo e para que o resto dos países da região salvaguardem os seus legítimos interesses”, acrescentou.

O encontro foi realizado na véspera da cimeira entre os líderes dos oito países membros da Organização de Cooperação de Xangai (SCO), em Duchambé, e que abordará a crise no Afeganistão.

A SCO inclui a Índia, Cazaquistão, Quirguistão, Paquistão, Rússia, Tajiquistão, China e Uzbequistão e tem também quatro países observadores: Afeganistão, Bielorrússia, Irão e Mongólia.

20 Set 2021

Pequim enaltece formação de governo no Afeganistão

O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês congratulou-se com a formação do governo dos talibãs que, segundo Pequim, vem pôr fim à anarquia vivida no país nas últimas três semanas

 

A China destacou ontem a importância da formação de um governo provisório pelos talibãs, no Afeganistão, afirmando que põe fim a “mais de três semanas de anarquia” no país da Ásia Central.

Em conferência de imprensa, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros Wang Wenbin indicou que a formação de um governo é “um passo necessário para restaurar a ordem no Afeganistão e a reconstrução após a guerra”.

Wang confiou que o “Afeganistão criará um governo aberto e inclusivo, lutará com firmeza contra o terrorismo e manterá boas relações com os seus vizinhos”.

Pequim “respeita a independência e apoia a escolha do povo afegão de acordo com a sua situação nacional”, disse.
No final de Julho passado, o ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, recebeu uma delegação de líderes dos talibãs, na cidade de Tianjin, no nordeste da China.

De acordo com o texto sobre o encontro publicado então pelo Ministério, Wang disse que os talibãs são uma “força militar e política crucial” no Afeganistão e expressou a sua esperança de que o grupo desempenhe um “papel importante no processo de paz”.

Aos seus lugares

O gabinete provisório, anunciado na terça-feira pelos talibãs, é chefiado por Mohammad Hassan Akhund, anunciou o principal porta-voz dos talibãs, mais de três semanas depois da tomada do poder pelo movimento extremista islâmico.

O co-fundador dos talibãs Abdul Ghani Baradar será o número dois do novo executivo, precisou Zabihullah Mujahid numa conferência de imprensa em Cabul.

Segundo a agência noticiosa norte-americana Associated Press, o ‘mullah’ Hassan Akhund chefiou o Governo dos talibãs durante os últimos anos do seu anterior regime (1996-2001) e o ‘mullah’ Baradar, que liderou as negociações com os Estados Unidos e assinou o acordo para a retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão, é um dos seus dois adjuntos.

9 Set 2021

Afeganistão | China contra imposição de sanções aos talibãs

A China disse hoje que a comunidade internacional deve apoiar oportunidades para desenvolvimentos positivos no Afeganistão, em vez de impor sanções aos talibãs.

“A comunidade internacional deve encorajar e promover o desenvolvimento da situação no Afeganistão numa direção positiva, apoiar a reconstrução pacífica, melhorar o bem-estar das pessoas e aumentar a sua capacidade de desenvolvimento independente”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Wang Wenbin, aos jornalistas, em conferência de imprensa. “Impor sanções e pressão a cada passo não resolve o problema e é contraproducente”, disse Wang.

A China, que compartilha fronteira com o Afeganistão, aproveitou o caos no aeroporto de Cabul para redobrar as suas críticas à intervenção dos EUA no país, particularmente a tentativa de instalar uma democracia ao estilo ocidental. Pequim manteve aberta a sua embaixada em Cabul e procurou manter boas relações com os Talibã.

24 Ago 2021

Zhangjiajie isolada e funcionários locais punidos devido a surto de covid-19

As autoridades chinesas colocaram a cidade turística de Zhangjiajie sob isolamento, e puniram os funcionários locais, numa altura em que o país enfrenta o pior surto desde o início da pandemia de covid-19, há um ano e meio.

Situada na província de Hubei, a cidade de Zhangjiajie fica perto de uma paisagem pitoresca, famosa pelos penhascos de arenito, cavernas, florestas e cachoeiras que inspiraram a paisagem do filme Avatar.

As autoridades da cidade ordenaram que as comunidades residenciais locais fossem fechadas no domingo, interditando a saída de casa das pessoas.

Num despacho emitido na terça-feira, os responsáveis disseram que ninguém, turistas ou residentes, pode deixar a cidade.

O órgão de disciplina do Partido Comunista divulgou também ontem uma lista de autoridades locais que tiveram “impacto negativo” na prevenção da pandemia e no trabalho de controlo, para que sejam punidos.

A própria cidade registou apenas 19 casos de contágio pelo coronavírus responsável pela doença, desde a semana passada. No entanto, casos individuais ligados ao surto de Zhangjiajie alastraram-se por pelo menos cinco províncias, de acordo com o jornal oficial The Paper.

 

Estado de alerta

Desde que o surto inicial foi dominado, no ano passado, a população da China viveu praticamente livre do novo coronavírus, com controlos de fronteira extremamente rígidos e medidas locais de distanciamento e quarentena, que permitiram eliminar pequenos surtos esparsos.

O país voltou agora a entrar em alerta máximo, pois um grupo de casos relacionados com o Aeroporto Internacional na cidade de Nanjing, no leste do país, atingiu pelo menos 17 províncias.

A China relatou 71 novos casos por transmissão local nas últimas 24 horas, mais da metade na província costeira de Jiangsu, da qual Nanjing é a capital.

Yangzhou, cidade próxima a Nanjing, registou 126 casos até terça-feira.

Em Wuhan, a cidade central onde os primeiros casos de covid-19 foram identificados no final de 2019, testes em massa mostraram que alguns dos novos casos relatados são semelhantes aos casos descobertos na província de Jiangsu.

Estes casos pertencem à variante Delta, altamente transmissível, e que foi identificada pela primeira vez na Índia.

5 Ago 2021

Global Times: Ocidente não pode impedir a China de se tornar um grande país socialista moderno

Um jornal do Partido Comunista Chinês (PCC) afirmou na sexta-feira que o Ocidente “não pode impedir” a China de atingir o objectivo de se tornar um “grande país socialista moderno”, numa altura de crescentes tensões.

“Os chineses sentem-se agora muito confiantes em (…) construir um grande país socialista moderno”, aponta o Global Times, jornal em língua inglesa do grupo do Diário do Povo, o órgão central do PCC.

O único partido do poder na China celebrou na quinta-feira, 1 de Julho, cem anos desde a sua fundação, com uma cerimónia na Praça Tiananmen, em Pequim, e avisos de que a China não se deixará intimidar.

Quem tentar parar o país vai acabar com a “cabeça partida e o sangue derramado perante a Grande Muralha de ferro constituída por 1,4 mil milhões de chineses”, avisou o Presidente chinês, Xi Jinping.

A data coincide com um período de crescentes tensões com o Ocidente, em torno do comércio, tecnologia, a soberania do Mar do Sul da China ou o estatuto de Taiwan e Hong Kong.

Em editorial, o Global Times escreve que as “conquistas do povo chinês sob a liderança do Partido e a bela visão do desenvolvimento futuro da China estão a aumentar o sentido de crise entre algumas elites ocidentais”.

“Enquanto falam mal da China, eles estão preocupados porque sentem que o desenvolvimento da China continuará a ser imparável”, realça.

Placas e actividades comemorativas vincaram o papel do Partido na ascensão da China, desde a fundação da República Popular, em 1949, até às reformas económicas que permitiram ao país converter-se na segunda maior economia mundial.

As políticas desastrosas que marcaram o maoismo, como o “Grande Salto em Frente”, a campanha de coletivização e industrialização lançada em 1958 que causou milhões de mortos, ou a Revolução Cultural, que mergulhou o país numa década de caos e isolamento, foram omitidas, assim como outros episódios suscetíveis de abalar a legitimidade do PCC.

Até ao centenário da fundação da República Popular, em 1949, o PCC estipulou como meta a ascensão do país a nível militar, tecnológico e na influência na governação das questões internacionais.

Para o Global Times, no entanto, o “sucesso” da governação comunista é um sinal de que a “abordagem ocidental não é universal”.

“Percebemos que podemos estar a criar uma nova forma de civilização. Agora, é o Ocidente que mostra a sua falta de confiança no seu caminho, enquanto a China está gradualmente começar a ganhar vantagem na batalha pela confiança”, sublinha.

O jornal considera que com “muitos factores favoráveis sob o [seu] controlo, a China pode prever o futuro com segurança”. “A China será a vencedora final”, conclui.

4 Jul 2021

Novas rotas dos Impérios

Está a fazer dois anos: foi a 28 de Junho de 2019 que aqui publiquei “Muros e estradas”, uma crónica em que comparava o abnegado esforço do então presidente dos Estados Unidos da América para a construção de muros que protegessem o seu país de potenciais invasões de imigrantes, com a iniciativa que a China designou como a “nova rota da seda”, a reactivação dos caminhos que ligam o extremo oriente asiático à Europa, desta vez através de um programa de investimentos promovidos pelo estado chinês e destinados a reforçar as infraestruturas e capacidade produtiva de países com recursos mais escassos, não só na Ásia mas também em África, que as rotas de hoje têm maior amplitude e flexibilidade geográfica – também à medida das ambições de quem pode adaptar-se às circunstâncias ou disputar em várias frentes territoriais as competições desenfreadas que a globalização capitalista vai promovendo.

Na altura olhava-se desde os Estados Unidos e da Europa com manifesta desconfiança e animosidade para esta iniciativa chinesa, percebida como uma tentativa de aumentar a influência económica, cultural e política do país com o pretexto do apoio ao desenvolvimento – enfim, o discurso habitual sobre os perigos e consequências do imperialismo, das pouco democráticas implicações da expansão da hegemonia política por via da dominação económica. A curiosidade, desta vez, é que o discurso sobre estes perigos vinha precisamente do governo de um dos países mais desenvolvidos do mundo – os Estados Unidos, com toda a sua longa tradição e pergaminhos no assunto em questão – com o diligente e dedicado apoio de governos e instituições europeias.

Na minha crónica de há anos comparava então a nova “Rota da Seda” promovida pelo governo chinês com o que ficou conhecido como o “Plano Marshall”, financiado sobretudo pelos Estados Unidos, que apoiou programas de larguíssima escala para a reconstrução de infra-estruturas e capacidade produtiva após a II Guerra Mundial. Foi um plano altamente apreciado, não só por quem o promoveu, mas também pelos países que receberam os investimentos – e até pela generalidade dos analistas e estudiosos de políticas económica nas décadas que se seguiram, à esquerda e à direita do espectro ideológico. Foi um plano que claramente beneficiou os países que receberam os investimentos e que tiveram oportunidade de promover um ciclo longo de acelerada e intensa recuperação económica, que levaria até a que se viessem a questionar os limites destes acelerados processos de desenvolvimento, com a inerente delapidação de recursos e degradação ambiental, já no final dos anos 1960.

Na altura, evidentemente, o plano também contribuiu – e muito largamente – para se afirmar no planeta uma hegemonia económica, cultural e política dos Estados Unidos que até então se desconhecia. Havia Hollywood, o jazz e viria o rock’n’roll, que dificilmente teriam a expansão global que tiveram se não fosse o ambiente de generalizada expansão económica, aumento do consumo, florescimento de novas actividades e interesses culturais, abertura de horizontes e perspectivas mais cosmopolitas, pelo menos para quem não vivesse sob a tenebrosa sombra de regimes ditatoriais, pobres e broncos, como o que assombrou o povo português por quase meio século. A consolidação dos EUA na hegemonia política do planeta é largamente tributária da sua liderança económica no período do pós-II Guerra e isso muito se deve a este portentoso programa internacional de investimentos.

Dois anos volvidos sobre a tal crónica que aqui publiquei, muda então o cenário: há um novo governo nos Estados Unidos e uma outra percepção sobre as novas rotas da seda – que são, na realidade, novas rotas da finança: não basta olhar com desconfiança e discurso crítico para o papel que a China está a assumir ou a reforçar no apoio ao desenvolvimento económico da regiões mais desfavorecidas do planeta: se se quer disputar o inerente reforço da influência económica, cultural e política, não há outra alternativa senão fazer o mesmo. Nasce agora então novo plano, apresentado esta semana pelo presidente dos Estados Unidos aos seus parceiros líderes das potências económicas planetárias, o chamado G7, um dos símbolos máximos do imperialismo económico do planeta, disposto agora a mobilizar 40 mil milhões de dólares para apoiar investimentos na América Latina, Caraíbas, África e Indo-Pacífico.

Posicionam-se então os impérios para nova disputa sobre a economia do planeta e a inerente hegemonia política. A China retomou a velha Rota da Seda para propor uma modernização acelerada de países menos desenvolvidos. Os Estados Unidos aproveitam a crise provocada pela pandemia de covid-19 para oferecer apoios à recuperação económica. Em ambos os casos, mobilizam-se os recursos da sobre-acumulação de capital que vai engordando bilionários avarentos, alimentando processos globais de especulação imobiliária ou financeira e criando sucessivas novas oportunidades para branqueamento de capitais variados. Pelo menos parte do que estes respeitáveis larápios vai acumulando retornará à esfera da produção. Já não é mau de todo.

18 Jun 2021

China aumenta para três limite de filhos por casal

A China decidiu hoje aumentar de dois para três o limite de filhos por casal, quando se adivinha uma crise demográfica no país, como resultado da política de filho único, que vigorou até 2016.

Três semanas após serem conhecidos os resultados do último censo demográfico, que se realiza a cada dez anos e que revelou forte desaceleração no crescimento populacional, a liderança chinesa decidiu flexibilizar a sua política de controlo da natalidade, mas mantendo um limite: não mais do que três filhos por casal.

“Em resposta ao envelhecimento da população (…) um casal passa a poder ter três filhos”, avançou a agência noticiosa oficial Xinhua, que citou as conclusões de uma reunião entre os membros permanentes do Comité Permanente do Politburo do Partido Comunista Chinês liderada pelo Presidente Xi Jinping. A política vem acompanhada de “medidas de apoio” às famílias, acrescentou a Xinhua, sem avançar detalhes.

No início de maio, os resultados do censo realizado em 2020 revelaram um envelhecimento mais rápido do que o esperado da população chinesa.

A população aumentou em 72 milhões de pessoas nos últimos 10 anos, para 1.411 milhões, segundo os dados oficiais. O crescimento médio anual fixou-se em 0,53%, em termos homólogos, uma queda de 0,04%, em relação à década anterior.

No ano passado, marcado pela epidemia da covid-19, o número de nascimentos caiu para 12 milhões, face a 14,65 milhões, em 2019, quando a taxa de natalidade (10,48 por 1.000) foi já a menor desde a fundação da República Popular da China, em 1949.

A China praticou um rígido controlo de natalidade, entre 1980 e 2016, em nome da preservação de recursos escassos para a sua economia em expansão.

A queda na taxa de natalidade é vista agora, no entanto, como grande ameaça ao progresso económico e à estabilidade social no país asiático.

A política de filho único foi abolida em 2016, mas os casais permanecem reticentes em ter mais filhos, face aos elevados custos de vida e discriminação das empresas contra as mães.

No outro extremo da pirâmide etária, a China tinha mais de 264 milhões de pessoas com 60 anos ou mais no ano passado.

Aquela faixa etária passou a representar 18,7% do total da população, um aumento de 5,44%, em relação ao censo de 2010. Em contrapartida, a população em idade ativa (15 a 59 anos) representa agora 63,35% do total, uma queda de 6,79%.

Em março passado, a Assembleia Popular Nacional, o órgão máximo legislativo da China, votou um plano para aumentar gradualmente a idade de reforma ao longo dos próximos cinco anos. Os detalhes desta política não foram divulgados.

Especialistas alertaram o país contra um desenvolvimento ao estilo japonês ou sul-coreano, com um declínio da população e um excesso de idosos em relação aos jovens e trabalhadores.

A China poderá ser ultrapassada nos próximos anos pela Índia como o país mais populoso do mundo, segundo estimativas das Nações Unidas.

Pequim previu que a sua curva de crescimento populacional atingirá o pico em 2027. A população chinesa começará então a diminuir para atingir 1,32 mil milhões de habitantes em 2050.

A China, juntamente com a Tailândia e outros países asiáticos em desenvolvimento, enfrenta o risco de envelhecer antes de enriquecer. Alguns especialistas consideram que o país asiático enfrenta uma “bomba-relógio demográfica”.

Refletindo a sensibilidade da questão, o gabinete de estatísticas da China tomou a decisão invulgar, no mês passado, de reagir a uma notícia do jornal The Financial Times, que avançou que o último censo tinha revelado um declínio demográfico.

Os casais que desejam um filho enfrentam grandes desafios. Muitos dividem apartamentos com os pais em cidades densamente povoadas no litoral do país.

Os cuidados infantis são caros e a licença de maternidade curta. A maioria das mães solteiras está excluída do seguro médico e dos pagamentos da previdência social. Algumas mulheres temem mesmo que o parto possa prejudicar as suas carreiras.

Japão, Alemanha e alguns outros países ricos enfrentam o mesmo desafio de sustentar populações envelhecidas com menos trabalhadores, mas podem recorrer ao investimento em fábricas, tecnologia e ativos estrangeiros. Em contraste, a China continua a ser um país de rendimento médio, com agricultura e manufactura intensivas em mão-de-obra.

31 Mai 2021

Primeira-ministra da Nova Zelândia fala de diferenças com a China “difíceis de reconciliar”

A primeira-ministra neozelandesa Jacinda Ardern apelou à China para agir de uma forma consistente com as suas responsabilidades como potência em crescimento. Num discurso na Cimeira Empresarial da China em Auckland, na segunda-feira, Ardern sublinhou as tensões nas relações entre a China e a Nova Zelândia, dizendo que as diferenças entre os dois países estavam “a tornar-se mais difíceis de reconciliar” e que não havia “garantias” dentro da relação.

O discurso surge depois da a Nova Zelândia ter sofrido pressões de outros países devido à sua relutância em utilizar o grupo Five Eyes para criticar directamente a China em bloco. A China é o maior parceiro comercial da Nova Zelândia, sendo responsável por 29 por cento das exportações no ano passado.

A relação tem sido complicada por países com os quais a Nova Zelândia tende a alinhar, como a Austrália, que adoptou uma linha mais dura nas suas relações com a China. Como resultado, a China tem colocado tarifas e restrições às importações australianas de cevada, vinho, carne, algodão, madeira, carvão e lagostas, prejudicando essas indústrias.

“Não terá escapado à atenção de ninguém aqui que, à medida que o papel da China no mundo cresce e muda, as diferenças entre os nossos sistemas – e os interesses e valores que moldam esses sistemas – estão a tornar-se mais difíceis de reconciliar”, disse Arden.

“Esperamos que a China também aja no mundo de forma consistente com as suas responsabilidades como potência crescente, incluindo como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU”.
Ardern disse também que a relação da Nova Zelândia com a China continuava a ser “forte”. No entanto, “dadas as diferentes histórias, visões do mundo e sistemas políticos e jurídicos dos países, a Nova Zelândia e a China iriam assumir perspectivas diferentes sobre algumas questões importantes. A Nova Zelândia é uma democracia aberta, pluralista, com foco na transparência e no estado de direito”, afirmou.

“Há algumas coisas em que a China e a Nova Zelândia não concordam, não podem e não vão concordar”, disse. Contudo, “isto não precisa de fazer descarrilar a nossa relação, é simplesmente uma realidade”.
“Como potência importante, a forma como a China trata os seus parceiros é importante para nós”, disse Arden. “Continuaremos a promover as coisas em que acreditamos, e a apoiar o sistema baseado em regras que sustenta o nosso bem-estar colectivo”.

Embaixadora pede objectividade e justiça

Em resposta, a embaixadora chinesa Wu Xi apelou para que a Nova Zelândia mantenha uma posição “objectiva e justa” e não interfira nos assuntos internos da China. A embaixadora apelou aos princípios de igualdade, respeito mútuo, e confiança mútua nas relações entre estados. “Esperamos que o lado neozelandês possa manter uma posição objectiva e justa, respeitar o direito internacional, e não interferir nos assuntos internos da China, de modo a manter o bom desenvolvimento das nossas relações bilaterais”, afirmou.

“Tentativas de impor ideologia aos outros e envolver-se em políticas de grupo apenas envenenariam a cooperação internacional e empurrariam o mundo para a divisão ou mesmo para o confronto”, disse Wu. “Não podemos enfrentar desafios comuns num mundo dividido e o confronto não nos levará a lado nenhum”, concluiu.

“As questões relacionadas com Xinjiang e Hong Kong são assuntos internos da China, envolvendo a soberania, segurança e interesses de desenvolvimento da China”, disse a embaixadora. Para ela, alegações de trabalhos forçados ou genocídio em Xinjiang são “mentiras totais e rumores fabricados por algumas forças anti-China sem quaisquer provas”.

“Ao defendermos os princípios de respeito mútuo, igualdade e cooperação vantajosa para ambas as partes, desfrutaremos de realizações mais sustentáveis em benefício dos nossos dois povos”, disse Wu. “A China está pronta a trabalhar com a Nova Zelândia para pressionar no sentido de um maior desenvolvimento das nossas relações”.

4 Mai 2021

Alemanha e China intensificam cooperação sobre alterações climáticas

A Alemanha e a China concordaram na segunda-feira aumentar a cooperação bilateral no combate às alterações climáticas com a intenção de impedir o aumento da temperatura média global acima dos 1,5 graus centígrados até 2100. Os países estão a ficar sem tempo para alcançar este objectivo, definido no Acordo de Paris em 2015, porque a temperatura média global já aumentou 1,2 graus centígrados desde o período pré-industrial, afirmam cientistas,

“Precisamos de fazer todo o possível para reduzir as emissões de gases com efeitos de estufa mais depressa do que planeado até agora”, afirmou a ministra do Ambiente da Alemanha, Svenja Schulze. “Juntamente com os grandes países industrializados, também precisamos da China para isto”, acrescentou.

A China tornou-se o maior emissor mundial de gases com efeito de estufa, passando os EUA, que agora é o segundo. Prometeu parar de acrescentar dióxido de carbono, o principal gás com efeito de estufa, à atmosfera até 2060 – uma década depois dos EUA e da União Europeia. O acordo sino-alemão foi alcançado antes da cimeira governamental dos dois países na quarta-feira.

Schulze disse que ela e o seu homólogo Huang Runqui discutiram a forma de Pequim conseguir antecipar o calendário de reduzir emissões e o uso do carvão, um combustível particularmente poluente. A Alemanha tenciona deixar de usar o carvão na produção de electricidade até 2038.

Travão no carvão

Na segunda-feira, três centros de reflexão ambiental alemães sustentaram que o país pode antecipar a sua meta em cinco anos, se deixar de usar carvão até 2030, aumentar de forma significativa a geração de energia renovável, substituir o gás natural por hidrogénio até 2040 e proibir a matriculação de veículos com motor de combustão até 2032. Em conjunto, estas medidas poderiam ajudar a Alemanha a evitar a emissão de mil milhões de toneladas, afirmaram.

O plano recebeu o apoio do partido ambientalista Verdes, que está a liderar as sondagens, cinco meses antes das eleições federais. Annalena Baerbock, a candidata do partido à sucessão da chanceler Angela Merkel, afirmou que a proposta mostrou que “reformular a indústria alemã com um ambicioso objectivo é mais do que possível”.

28 Abr 2021

Myanmar | China menciona “exigências razoáveis’ do movimento social

A China mencionou as “exigências razoáveis” do movimento social em Myanmar e esforçou-se para promover o diálogo enquanto exortava todas as partes a permanecer calmas e contidas, evitando a violência, disse o embaixador chinês na terça-feira.

Chen Hai negou rumores recentes sobre a China estar envolvida em transporte de técnicos para Mianmar e ajudar o país a construir uma firewall na internet. “O actual desenvolvimento em Myanmar não é absolutamente o que a China deseja. Esperamos que todos os partidos de Myanmar possam lidar com as diferenças de maneira adequada no âmbito da constituição e das leis para manter a estabilidade política e social”, disse o embaixador.

“A China apoia os esforços de mediação da ASEAN e do enviado especial do Secretário-Geral da ONU para Myanmar. A China também está a desempenhar um papel construtivo, promovendo a paz e o diálogo em sua essência”, disse Chen.

Em resposta aos recentes encontros fora da embaixada da China durante o “Movimento de Desobediência Civil”, Chen disse que “algumas pessoas fizeram uma petição diante de embaixadas e organizações internacionais em Myanmar. Entendemos as suas aspirações. E também mencionamos as suas exigências razoáveis. Nós esforçamos-nos para promover o diálogo entre as diferentes partes. Esperamos que todas as partes possam ficar calmas e contidas, evitando fazer coisas que possam intensificar os conflitos e aumentar as tensões. Na situação actual, a violência deve ser evitada e os direitos básicos das pessoas precisam ser protegidos”, disse.

Chen negou rumores recentes, incluindo transporte de técnicos para Myanmar, construção de uma firewall na internet e de soldados chineses nas ruas. “Para que conste, essas são acusações completamente sem sentido e até ridículas”, disse Chen. “Esperamos sinceramente que o povo de Myanmar possa distinguir o certo do errado e proteger-se contra a manipulação política, a fim de evitar minar a amizade entre os dois povos.”

De acordo com Chen, as aeronaves eram voos de carga normais entre a China e Myanmar, cuja frequência caiu de 15 para 18 voos por dia antes da pandemia para cerca de 5 voos por dia. “Os voos transportam frutos do mar e outras exportações de Myanmar para a China.” Alguém disse que os voos transportavam “armas”. “China e Myanmar são vizinhos que não se podem afastar um do outro. Vizinhos amigos desejam bem uns aos outros. Esperamos que tudo corra bem em Myanmar, em vez de se tornar instável ou mesmo cair no caos”, disse Chen.

18 Fev 2021

China financia assistência técnica a agricultura cabo-verdiana com aposta nas algas

O Governo chinês assinou esta quinta-feira um acordo com Cabo Verde para o financiamento de quase 1,5 milhão de dólares em assistência técnica, a implementar pela FAO na atividade agrícola e segurança alimentar, apostando na produção de algas no arquipélago.

O projeto de assistência técnica a Cabo Verde, a três anos (2021 a 2024), surge no âmbito do Programa de Cooperação Sul-Sul entre a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a China, e deverá abranger 4.500 agricultores das ilhas de Santo Antão e de Santiago, além de 100 investigadores, estudantes e técnicos, no reforço das capacidades.

“Não se trata de um projeto de infra-estruturas, em que cerca de 1,5 milhões de dólares irão ser empregues em equipamentos e infra-estruturas. Não é nada disto. Trata-se essencialmente de partilha de conhecimento e de boas práticas no domínio da agricultura, da pecuária e da produção de algas marinhas como uma novidade no contexto dos projetos técnicos que temos estado a desenvolver aqui em Cabo Verde”, destacou o ministro da Agricultura, Gilberto Silva.

O governante cabo-verdiano falava após a assinatura, na Praia, do acordo tripartido para implementar o projecto. Durante três anos, o projecto financiado pela China, com a presença de sete peritos chineses, vai fornecer a Cabo Verde assistência técnica na promoção da horticultura, com apoio à gestão dos solos, água e fertilizantes, e na promoção da proteção das plantas, através da introdução de métodos e da organização de formações de campo para a gestão integrada de pragas do milho e os métodos de controlo biológicos sobre as pragas de solo.

Envolve ainda a “promoção do pequeno produtor pecuário”, através da melhoria da produção animal e da melhoria da genética animal, do reforço da vigilância epidemiológica e da valorização dos produtos animais.

O projecto prevê ainda um estudo sobre a eco-fisiologia e o potencial do cultivo de algas marinhas e da cadeia de valor em Cabo Verde, bem como o desenvolvimento e implementação de “sítios-piloto para introduzir e promover a cultura de algas marinhas”, explicou a FAO.

“Temos um imenso mar e é possível tirar melhor proveito deste imenso mar na produção de algas e introdução de algas como alimentos, mas também, e porque não, utilizar as algas para outros fins, como a cosmética e efeitos farmacêuticos. Temos de começar a tirar melhor proveito dos recursos marinhos”, enfatizou o ministro da Agricultura.

O objectivo, explicou Gilberto Silva, é tirar partido da “experiência” da China nesta actividade. “Não tendo nós tradição nem experiência neste domínio, entendemos que é bom começar com estudos e com a partilha de conhecimentos que nos levem a definir melhor o caminho e empregar uma boa franja da nossa população, sobretudo aquela que se vem dedicando à extração de areias nas praias, à produção de algas. Portanto, encontrar um caminho mais sustentável para assegurar o emprego e o rendimento, e acima de tudo proteger o ambiente”, disse ainda o governante.

O montante estimado do projeto é de quase 1,5 milhão de dólares, financiados pelo Governo da China, sendo a execução e gestão a cargo da FAO, através do acordo tripartido assinado. De acordo com Ana Touza, representante da FAO em Cabo Verde, o arquipélago será o décimo país a implementar um projeto ao abrigo do Programa de Cooperação Sul-Sul/FAO-China.

“Em temos de inovação o destaque vai para a possibilidade de aquacultura em algas marinhas, área ainda não muito estudada e aproveitada em Cabo Verde, um país com 99% de mar e com grande potencial na matéria”, destacou a representante da FAO, sublinhando igualmente a atenção que será dada ao combate às pragas que afetam a produção agrícola no país.

O embaixador da China em Cabo Verde, Du Xiaocong, assumiu que este projeto é um dos passos para assinalar, em 2021, os 45 anos das relações diplomáticas entre os dois países, reforçando a cooperação bilateral. “E demonstra que no futuro próximo, a China vai apoiar mais parceiros internacionais e oferecer mais apoio aos países africanos, na agricultura”, destacou o diplomata chinês.

“Leva-nos a crer que vamos no caminho certo, no caminho de uma agricultura cada vez mais resiliente e adaptada às mudanças climáticas, mais inteligente e voltada para o reforço da segurança alimentar e nutricional, tendo em conta que é necessário produzir mais alimentos saudáveis e colocar na mesa dos cabo-verdianos”, concluiu o ministro Gilberto Silva.

5 Fev 2021

A Qubit

“What is a Qubit? You guessed it – it’s a Quantum Bit. A Qubit is a Basic unit of information on a quantum computer. Just like bits on normal computers, qubits are used to store, transmit, and process information, but in much higher quantities.”
San Satoshi
Hymn Of Modernity: Machine Learning, Augmented Reality, Big Data, Qubit, Neuralink and All Other Important Vocabulary

 

A 29 de Setembro de 2018, cientistas chineses e austríacos ligaram-se numa videoconferência. Essa imagem de homens e mulheres, sentados em cadeiras e com a intenção de ouvir mensagens do outro lado do mundo, tornou-se uma das fotografias simbólicas da nova era. Porquê?

Era uma videoconferência diária, mas o evento representou uma novidade extraordinária, pois as equipas chinesa e austríaca estiveram em videoconferência encriptadas através de um sistema quântico. Tudo graças a Micius (um nome derivado do filósofo chinês Mozi, latinizado em Micius), um satélite que a China lançou em 2016, e cujo objectivo era precisamente assegurar a possibilidade de guardar informação através da utilização da mecânica quântica. Como acontece frequentemente na China, este resultado depende do trabalho do cientista, Jian-Wei Pan, elogiado até pelo Presidente Xi Jinping e considerado o “pai chinês do quantum” e que é professor na Universidade de Ciência e Tecnologia da China que com cinquenta anos de idade, produziu uma série de descobertas que o tornaram famoso na sua terra natal.

O seu trabalho, como habitualmente, não vem do nada, mas de um esforço excepcional da China para desenvolver perante outros o chamado “computador quântico”, que é extraordinariamente poderoso. Numa entrevista à “MIT Technology Review”, Pan recordou que na China foi primeiro um “estudante” de tudo o que foi descoberto no Ocidente, mas agora pode tornar-se um líder na sua área. Este é um pensamento que percorre a mentalidade de cada chinês. O principal objectivo de Pan era construir computadores quânticos poderosos, cujas unidades de computação, as qubits, ao contrário dos bits, podem ocupar simultaneamente um estado quântico de 0 e 1. Ao ligar as qubits através de um fenómeno que o próprio diário do MIT chama “quase místico” e conhecido como emaranhamento, os computadores quânticos podem gerar aumentos exponenciais no poder de processamento. No futuro, as máquinas poderiam portanto ser utilizadas “para descobrir novos materiais e medicamentos através da realização de simulações de reacções químicas que actualmente exigiriam demasiado tempo de processamento por computadores clássicos”.

Os “PCs Quantum” poderiam também impulsionar a Inteligência Artificial (IA) porque as redes ultra seguras que utilizam a distribuição quântica de chaves poderiam ser particularmente úteis para o sector financeiro (uma das áreas em que a recente aceleração da tecnologia produziu as mudanças mais radicais, embora nem sempre no centro da cena mediática) e para os militares. Os investigadores chineses estão, de facto, a trabalhar em “sensores quânticos” especiais com o objectivo de favorecer a navegação dos seus submarinos. Em suma, seria uma verdadeira revolução. E quem chegar primeiro, como de costume, será favorecido. É uma guerra em curso, na qual também há bolsas de cooperação, pois cientistas chineses e americanos colaboram entre si, mas os governos têm muito mais ciúmes das descobertas das suas próprias equipas. O confronto entre Oriente e Ocidente joga-se muito mais em pc quântico do que em sistemas de reconhecimento facial, onde as técnicas podem ser alcançadas, embora mais tarde do que os concorrentes, mais rápida e facilmente do que a criação de um computador quântico capaz de funcionar realmente.

A China já construiu a mais longa rede terrestre de “chaves criptográficas quânticas” do mundo. A ligação terrestre de 2032 quilómetros entre Pequim e Xangai foi concebida por Pan e envia chaves criptográficas quânticas. É um serviço cívico aos municípios, que começaram a utilizar esta nova forma de transporte de dados, bem como para a transmissão de dados financeiros. Segundo os analistas, é difícil medir exactamente quanto a China está a investir nestes e noutros projectos quânticos, pois é difícil medir tudo na China, considerando que alguns dados são confidenciais (mesmo o número exacto de “reservas estatais de carne de porco”, útil para acalmar os preços, como no caso da epidemia de peste suína que eclodiu em 2019, é um segredo de Estado) e outros são sempre susceptíveis de ajustamento por parte daqueles que os recolhem. Certamente que os investimentos são massivos.

O governo está há muito empenhado neste esforço, encorajando a produção de artigos científicos e o número de patentes relacionadas com comunicações e criptografia quântica. O número de patentes chinesas excede em muito o dos Estados Unidos. Para ajudar a desenvolver os futuros investigadores quânticos, o país está a construir em Hefei um laboratório nacional de mil milhões de dólares para a ciência da informação quântica, que abriu em 2020 para reunir especialistas de várias disciplinas, tais como física, engenharia eléctrica e ciência dos materiais. A China lançará também mais quatro satélites quânticos de baixa órbita, a serem seguidos por um satélite geoestacionário de alta órbita. A visão a longo prazo é criar uma Internet que cubra o continente e que, protegida pela criptografia quântica possa eclipsar aquilo a que agora chamamos de Internet, com tudo o que implica para a chamada “soberania digital” que caracteriza a China.

Mas olhando muito mais longe, e pensando nos consumidores, esta tecnologia poderia ser utilizada para proteger tudo, desde smartphones a portáteis. A grande questão é a vontade do Estado de investir em certos sectores e uma das razões pelas quais a China tem feito tão bem neste campo, é a estreita coordenação entre os seus grupos de investigação governamentais, a Academia Chinesa de Ciências e as universidades do país. A Europa tem o seu plano director quântico “para estimular tais colaborações, mas os Estados Unidos têm sido lentos em produzir uma estratégia abrangente para desenvolver as tecnologias e criar uma futura mão-de-obra quântica”. Que este desafio entre a China e o Ocidente também é fundamental foi demonstrado recentemente. A “supremacia quântica por meio de um processador supercondutor programável” é o título de um texto assinado por investigadores que colaboram com o Google e a NASA no desenvolvimento de novos computadores, o qual apareceu no website da Nasa e foi depois removido. Não foi feito tão depressa, porque o “Financial Times” conseguiu guardar uma cópia do documento e publicá-lo no seu site.

O texto ocupa-se precisamente dos computadores quânticos. Se houvesse casas de apostas para o desafio quântico entre a China e o Ocidente, até há pouco tempo a maioria teria aconselhado a apostar na China. O anúncio do Google, então, com ou sem publicidade, deve ter cientistas chineses inquietos nas suas cadeiras, assumindo que tudo é verdade. Não vai demorar muito tempo a perceber-se, porque as coisas avançam sempre muito rapidamente na China. E é precisamente a velocidade que distingue o desenvolvimento chinês. Os Estados Unidos pensaram, por exemplo, que a vantagem 5G da China poderia ser de alguma forma gerida, e depois tornar-se cada vez mais sólida com o passar dos anos.

A China navega com ventos devastadores em termos de velocidade de execução, podendo contar com financiamento e um sistema educativo que, embora com falhas, é capaz de gerar talentos, aproveitando o tamanho da população local e a riqueza que tem sido criada ao longo dos últimos quarenta anos.

O desafio tecnológico será o terreno em que o Ocidente terá de competir nos próximos anos; pensemos apenas nos dados, e em breve, perguntar-nos-emos, de facto já o fazemos, se a natureza extractiva do capitalismo actual, presente tanto no Ocidente como na China, dará origem a um sistema governado por empresas ou por um Estado, como o chinês. Para a Europa, então, o destino poderia parecer inexoravelmente ligado à seguinte questão se será que preferimos que os nossos dados estejam em mãos chinesas ou em mãos americanas?

Esta perspectiva deveria levar-nos a pensar no peso dos dados e no seu “processamento”, pelo qual passará o nosso mundo do futuro, como elaborar uma estratégia global e considerar os dados como um bem comum poderia permitir à Europa, por exemplo, não ser apenas uma periferia do mundo ou uma terra de conquista das superpotências, mas um lugar capaz de prever um novo modelo de transparência e de utilização pública dos dados.

Desta forma, poder-se-ia evitar os erros do passado. Se a Europa conseguir fazê-lo, tanto na China como no Ocidente, cidades inteligentes, por exemplo, poderiam realmente tornar-se o lugar capaz de produzir uma nova forma de cidadania, em vez de novas divisões sociais. De facto, a aspiração deve ser que as tecnologias possam tornar-se um instrumento para melhorar a vida das pessoas e a sua relação com o ambiente, em vez de uma arma de controlo social nas mãos dos estados e plataformas tecnológicas. Em finais de Janeiro de 2020, o Covid-19 atacou o mundo. O surto começou na região Hubei da China, na capital Wuhan, uma cidade de onze milhões de pessoas. Desde finais de 2019 que têm sido comunicados casos anormais de pneumonia na China. Alguns médicos pensavam que se tratava da SRA (Síndrome Respiratória Aguda Grave) novamente, outra forma de coronavírus registada na China e identificada por um médico italiano, que mais tarde morreu de SRA na Tailândia, desde finais de 2002. Durou até 2003 e fez setecentas e setenta e quatro vítimas em dezassete países. Alguns países sem qualquer comprovação científica em mero discurso político consideram as autoridades chinesas como responsáveis pela propagação do vírus, afirmando que minimizaram a epidemia durante muito tempo sem dar o alarme, contribuindo assim para atrasar fatalmente a adopção de contramedidas. Depois foi a vez de Guangdong, e depois de Hubei. O atraso das autoridades chinesas na comunicação da emergência foi mínimo, e para não incorrer em “outra SRA”, a China comunicou a existência do vírus, primeiro à Organização Mundial de Saúde (OMS) e só mais tarde à sua população.

Uma vez iniciada a resposta, no entanto, a China agiu como habitualmente, com a máxima velocidade para remediar o problema. Wuhan foi colocado em quarentena juntamente com quinze outras cidades, num total de pelo menos sessenta milhões de habitantes, correspondente à população da Itália inteira, que ficaram em lugares selados, dos quais era impossível entrar e sair; tendo sido a maior quarentena da história da humanidade, uma solução que é frequentemente considerada tardiamente pela comunidade científica, mas que demonstra a determinação chinesa em lidar com a epidemia. O facto de tudo ter provavelmente uma razão e onde a verdade científica está por determinar e de ter começado dentro de um mercado em Wuhan, onde animais selvagens são abatidos e vendidos, destaca o que ainda é visível, de um país lançado para o futuro, mas que ainda mantém hábitos tradicionais e culturais de mil anos de idade, capazes de afectar o tecido social se tal for comprovado.

Em quarentena e com as grandes cidades desertas, com escolas e escritórios fechados, uma sequência de imagens icónicas passou rapidamente perante a população chinesa como o grito dos edifícios na noite de Wuhan, de encorajamento, a contagem dolorosa dos mortos e a necessidade de abastecer os hospitais com material médico, a construção em dez dias de dois hospitais de emergência, o despedimento de centenas de funcionários considerados “incompetentes”, a morte de Li Wenliang, um médico de trinta e quatro anos de idade que tinha relatado casos de pneumonia anormal mas em que não se acreditava.

Li Wenliang teve de receber uma reprimenda, depois foi ilibado e finalmente morreu do Covid-19. Em todo este estremecimento de tragédia e esperança, a principal preocupação de muitos chineses continuava a temer a proximidade com qualquer pessoa infectada nos dias que antecederam o surto. E as respostas chegaram, porque o saber na China tornou-se muito fácil, pois as companhias telefónicas e algumas aplicações (por exemplo, as dos caminhos-de-ferro estatais) criaram sistemas através dos quais as pessoas puderam verificar se, durante as suas viagens de comboio ou avião, estiveram perto ou em contacto com aqueles que mais tarde adoeceram ou que foram hospitalizados. A China-Mobile, um dos maiores operadores telefónicos do país, disse aos cidadãos de Pequim que poderiam verificar os seus movimentos durante os últimos trinta dias através de um serviço ad hoc.

Parece inacreditável aos nossos olhos, uma afronta à privacidade de cada um dos passageiros dos comboios e aviões, que desconheciam os controlos do seu estado de saúde, no entanto, na China, revelou ser um passo bastante positivo, de acordo com o feedback dos utilizadores sobre estes serviços, para tranquilizar as pessoas. O poder das aplicações chinesas, dedicadas ao controlo rigoroso dos movimentos das pessoas foi apresentado pelo governo chinês e pelos operadores como um grande serviço numa situação de emergência.

Como a agência Reuters referiu, a Covid-19 teria feito emergir o sistema de vigilância chinês “das sombras”. Mais do que uma emergência, na realidade, poder-se-ia dizer que o vírus permitiu uma utilização ad hoc de instrumentos que os chineses estão habituados a utilizar todos os dias. A Covid-19, de facto, é a primeira emergência sanitária global na era da IA e, embora numa situação dramática e complicada, mais uma vez a China mostrou um caminho. Aqui, por exemplo, há outro uso da IA na China quando um homem de Hangzhou que tinha acabado de regressar de Wenzhou, um lugar considerado altamente infectado, foi avisado pela polícia para não sair de casa e a matrícula do seu carro foi gravada pelas câmaras de vídeo. Por causa da sua origem, deveria ter ficado em casa, ter medido a sua temperatura e contactado as autoridades sanitárias da cidade, se necessário. Mas, aborrecido, decidiu sair e foi contactado não só pela polícia, mas também pelo seu empregador. O homem tinha sido visto perto do lago Hangzhou por uma câmara de reconhecimento facial e as autoridades também tinham alertado a sua empresa de que não estava a cumprir as directivas impostas.

Na China existem novas possibilidades para as empresas de alta tecnologia e neste momento, embora nunca o admitam, deparam-se com uma oportunidade única de aumentar o combustível principal para as suas invenções, que são os dados. A China tem muito e de qualidade, mas com a Covid-19 a quantidade de informação aumentou. Abalados pelo medo e pela preocupação, os chineses enterraram a sua fraca resistência à invasão da sua privacidade com a empresa de reconhecimento facial. Foi desenvolvida uma nova forma de detectar e identificar pessoas com febre, graças ao apoio do Ministério da Indústria e Ciência. O novo “sistema de medição de temperatura” utiliza dados corporais e faciais para identificar pessoas doentes. Este é apenas um exemplo (Baidu, o principal motor de busca da China, anunciou também que o seu Laboratório de IA estaria a fazer um dispositivo semelhante) que permite detectar tendências que têm vindo a ocorrer no país há algum tempo como empresas privadas, apoiadas pelo Estado, desenvolvem novos produtos “intrusivos” (e, neste caso, também úteis, dir-se-á); a empresa pode então vender no estrangeiro a sua criação, aperfeiçoada graças à possibilidade de acesso a todos os dados.

O governo tem movimentos e dados na ponta dos dedos para se certificar de que tudo está a correr de acordo com as suas directivas. A frente do reconhecimento facial, não termina aí, pois o SenseTime, outra das bandeiras do sistema, afirmou ser capaz de identificar até pessoas que usavam máscaras. Este é um aspecto importante, especialmente durante os dias mais complicados da Covid-19, para além do smartphone, para fazer uma enorme quantidade de coisas (pagar, reservar, executar tarefas no banco ou em repartições públicas) precisa sobretudo da cara. Com a utilização massiva de máscaras, a tecnologia tem dado sinais de imperfeição (também ironicamente sublinhada nas redes sociais chinesas por pessoas que, devido à máscara, falharam o reconhecimento para entrar nas suas casas).

A empresa de câmaras de vigilância Zhejiang Dahua disse que pode detectar febre com câmaras de infravermelhos com uma precisão até 0,3 graus. Uma utilização específica para lugares com muita gente, como um comboio. De facto, numa entrevista à Xinhua, a agência estatal chinesa, a Academia das Ciências da China explicou como a tecnologia pode ajudar as autoridades a encontrar pessoas num comboio que possam estar expostas a um caso confirmado ou suspeito de Covid-19, pois obtém informações relevantes sobre o passageiro, incluindo o número do comboio, e informações sobre passageiros que estiveram próximos da pessoa. Outras aplicações para lidar com a Covid-19 estão em curso sendo o mais famoso que está relacionado com o uso de drones para convidar as pessoas a usar máscaras (um vídeo em que, na Mongólia Interior, uma senhora idosa recebeu uma visita de um drone foi muito filmada na rede); depois há os robôs que dentro dos hospitais cuidam de actividades que poriam em perigo a saúde dos operadores, tais como desinfestação, entrega de refeições ou limpeza nas áreas dos hospitais utilizadas para os infectados e doentes de Covid-19, bem como assistentes de voz, que usando IA são utilizados para pedir informações a pessoas em casa, armazenar dados e sugerir tratamentos ou hospitalização imediata. Em cinco minutos, os assistentes de voz chineses fazem duzentas chamadas, aliviando muito o trabalho dos hospitais.

Como o portal mandarim Yesky salientou, “este serviço de chamadas robotizadas pode ajudar os médicos da linha da frente a controlar a situação. Com tecnologias como o reconhecimento de voz, compreensão semântica, e diálogo homem-máquina, os robôs são capazes de compreender com precisão as línguas humanas, obter informações básicas e dar respostas”. O “lado” da investigação médica não está ausente.

A este respeito, o website da Administração do Ciberespaço da China, num artigo intitulado “Inteligência artificial e grandes dados ajudam a investigação e desenvolvimento de novos medicamentos contra o Covid-19”, anunciou o lançamento de um plano de “investigação e desenvolvimento de medicamentos graças à IA e plataformas de partilha de grandes dados, bem como todo o tipo de investigação e material bibliográfico sobre a Covid-19. Sobre esta questão, contudo, apesar dos anúncios, a comunidade científica é bastante unânime em salientar que o prazo para uma cura, para não mencionar as vacinas, não está exactamente ao virar da esquina. Finalmente, há o aspecto ligado às conferências virtuais e ao e-learning, em que a China tem vindo a investir há algum tempo e que em 2020, devido ao encerramento de escolas e escritórios, tem visto uma atenção e experimentação renovadas. Para as escolas, foram utilizados programas prontos que permitem a ligação de vários alunos ao mesmo tempo, fornecendo ao professor todos os dados necessários, incluindo os gravados por câmaras fotográficas sobre a atenção demonstrada pelo aluno durante a aula. Para além da actual situação de emergência, esta é uma realidade na China.

5 Fev 2021

China disposta a partilhar tecnologia nuclear

A China promoverá a cooperação internacional no uso pacífico da energia nuclear, partilhando a tecnologia de seu novo reactor de terceira geração, que acaba de entrar em uso comercial, informou um especialista no domingo.

A unidade nº 5 do reactor começou a gerar electricidade para venda no sábado na cidade de Fuqing, na Província de Fujian, leste da China, a primeira unidade de energia nuclear do país que usa a tecnologia Hualong One, um reactor de terceira geração desenvolvido pelo próprio país.

“Estamos dispostos a fornecer a outros países do mundo a tecnologia Hualong, incluindo componentes principais, treino de pessoal, bem como as nossas experiências em cooperação global”, disse Xing Ji, designer-chefe da Hualong One, em entrevista à Xinhua.

“Também esperamos uma cooperação mais ampla com outros países no desenvolvimento de novas tecnologias de energia nuclear”, afirmou Xing, também engenheiro-chefe da China Nuclear Power Engineering Corporation. A China tem participado activamente de organizações internacionais no campo da energia nuclear, como a Agência Internacional de Energia Atómica, para promover intercâmbios tecnológicos internacionais.

O país também desempenha um papel significativo no ITER, a maior experiência de fusão nuclear do mundo, e trabalha com outros países para enfrentar desafios a este respeito.

Com 716 patentes nacionais e 65 internacionais, mais de 200 marcas registadas no exterior e 125 direitos autorais de software, o Hualong One é o modelo nacional da China para o reactor de terceira geração mais seguro e eficiente.

A segurança é geralmente uma grande preocupação para as centrais nucleares, algo ainda mais sublinhado desde o desastre de Fukushima, no Japão, em 2011. O Hualong One tem uma vida útil de 60 anos e cumpre os mais rigorosos padrões de segurança do mundo.

De acordo com Xing, o núcleo do reactor do Hualong One contém 177 conjuntos de combustível. O projecto pode aumentar a potência da unidade e torná-la mais segura.

O reactor vem completo com uma combinação de sistemas de segurança activa e passiva. O sistema de segurança passiva, que depende de forças naturais como a gravidade, fornece uma rede de segurança extra para o reactor quando todos os abastecimentos energéticos são desligados em emergências, observou Xing.

O Hualong One foi projectado para resistir a danos equivalentes a um terramoto de magnitude 9 ou ao impacto de uma aeronave, acrescentou. O reactor pode evitar vazamentos nucleares e reiniciar rapidamente as operações, mesmo em circunstâncias extremas como as de Fukushima, onde um terramoto foi associado a um tsunami.

A energia nuclear é considerada uma fonte de energia limpa, promovida para o desenvolvimento global de baixo carbono. O passo à frente do Hualong One nas operações comerciais demonstra “o compromisso da China com o desenvolvimento verde como um país responsável”, destacou Xing.

A China prometeu atingir o pico das suas emissões de dióxido de carbono até 2030 e alcançar a neutralidade de carbono até 2060. Xing acredita que essas metas exigem muito mais confiança em alternativas de baixo carbono, como a energia nuclear.  A unidade nº 5 provavelmente gerará quase 10 biliões de kWh de eletricidade por ano, reduzindo potencialmente as emissões de dióxido de carbono em 8,16 milhões de toneladas em termos anuais, mostraram os dados da China National Nuclear Corporation. O Hualong One também estendeu o intervalo de reabastecimento para 18 meses, tornando-o mais económico, segundo Xing.

O engenheiro também mencionou que a China obteve resultados frutíferos na pesquisa de tecnologia de energia nuclear de quarta geração para uso comercial. O país fez avanços nas tecnologias de reactores de neutrões rápidos e reactores de alta temperatura refrigerados a gás.

2 Fev 2021

Covid-19 | China oferece 500 mil doses de vacina ao Paquistão

A China vai oferecer 500 mil doses de uma das vacinas contra a doença covid-19 desenvolvidas naquele país ao Paquistão, anunciou o chefe da diplomacia paquistanesa, Shah Mahmood Qureshi.

“O Paquistão manifesta grande apreço pelas 500 mil doses de vacina oferecidas pela China”, referiu o ministro dos Negócios Estrangeiros do Paquistão, numa mensagem publicada na rede social Twitter.

Já em declarações à imprensa, o ministro frisou que Pequim prometeu a Islamabad que esta primeira entrega de meio milhão de doses seria gratuita e que iria chegar ao Paquistão antes do final do corrente mês.

A China também prometeu enviar ao Paquistão outra entrega, desta vez de um milhão de doses, antes do final do mês de fevereiro, acrescentou Shah Mahmood Qureshi, precisando que as autoridades paquistanesas já autorizaram o uso de emergência da vacina desenvolvida pela farmacêutica estatal chinesa Sinopharm.

Desde o diagnóstico do primeiro caso da doença covid-19 no país, em fevereiro de 2020, o Paquistão totaliza 527.146 casos e mais de 11.000 vítimas mortais.

Outros países asiáticos, como Filipinas, Camboja ou Myanmar (antiga Birmânia), já anunciaram doações de vacinas por parte de Pequim, uma ofensiva diplomática da China que já foi apelidada como “a diplomacia das vacinas”.

Em maio de 2020, durante a reunião anual da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Presidente chinês, Xi Jinping, anunciou que Pequim ia oferecer dois mil milhões de dólares (cerca de 1,64 mil milhões de euros) em assistência aos países afetados pela pandemia da covid-19, sobretudo aos mais pobres.

Na mesma altura, Xi Jinping disse ainda que as potenciais vacinas que a China previa desenvolver contra a doença iriam estar disponíveis “como um bem público global para que fossem acessíveis a todos os países em desenvolvimento”.

22 Jan 2021

Pequim pede a Londres para parar de “interferir nos assuntos internos da China”

O embaixador chinês na Organização das Nações Unidas, Zhang Jun, pediu ontem ao Reino Unido para que “pare de interferir nos assuntos internos da China”, após Londres ter anunciado medidas sancionatórias por causa da perseguição aos uigures em Xinjiang.

O Reino Unido anunciou que vai proibir o comércio de mercadorias relacionadas com o trabalho forçado da minoria muçulmana dos uigures, em Xinjiang, no momento em que escalam as tensões entre o Londres e Pequim e semanas depois de um polémico acordo de princípio sobre investimentos entre a China e a União Europeia, de que os britânicos já não fazem parte.

O chefe da diplomacia britânica, Dominic Raab, disse que a atitude de Pequim face aos uigures é uma “barbárie” que está a ser cometida sob pretexto de combate ao terrorismo e ao radicalismo islâmico.

Em resposta, durante uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, Zhang Jun disse que esta medida de Londres é um ataque “puramente político” e “sem fundamento” e aconselhou a diplomacia britânica a não “interferir nos assuntos internos da China”.

Zhang referia-se ao facto de Raab ter criticado o que chamou de “violações inaceitáveis dos direitos humanos”, anunciando medidas para proibir as importações e exportações vinculadas ao trabalho forçado dos uigures.

Os uigures são o principal grupo étnico em Xinjiang, uma enorme região no noroeste da China que tem fronteiras comuns com o Afeganistão e com o Paquistão. De acordo com especialistas estrangeiros, um milhão de uigures foram detidos nos últimos anos em campos de reeducação política, apesar dos desmentidos de Pequim, que afirma tratarem-se de centros de treino vocacional, destinados a manter as pessoas longe da tentação do islamismo radical.

13 Jan 2021

Espaço | Cápsula chinesa regressa à Terra com detritos e rochas lunares

Mais de 40 anos após as últimas amostras trazidas da Lua por uma nave da antiga União Soviética, a sonda chinesa regressou ontem a casa com rochas que se estima serem milhares de milhões de anos mais recentes do que as anteriores e que poderão permitir dar importantes passos em frente no conhecimento da Lua e de outros corpos celestes

Uma cápsula lunar enviada pela China regressou ontem à Terra com a primeira recolha de amostras de rocha e detritos da Lua em mais de 40 anos, noticiou a imprensa estatal.
A cápsula da sonda Chang’e-5 pousou cerca das 02:00 no distrito de Siziwang, na região da Mongólia Interior.
A cápsula separou-se do módulo orbital e projectou-se para embater contra a atmosfera da Terra, visando perder velocidade, antes de entrar e flutuar com um paraquedas rumo ao solo.
Dois dos quatro módulos da Chang’e-5 pousaram na Lua, no início de Dezembro, e recolheram cerca de dois quilogramas de amostras, incluindo recolhas à superfície e a dois metros de profundidade na crosta lunar.
As amostras foram depositadas num recipiente lacrado que foi levado por um veículo de volta ao módulo de regresso.
A missão constituiu o mais recente avanço para o programa espacial da China, que prevê uma missão a Marte e planos para construir uma estação espacial.
Em comunicado, lido a partir do Centro de Controlo Aeroespacial de Pequim, o Presidente chinês, Xi Jinping, considerou a missão uma grande conquista e um passo em frente para a indústria espacial da China, noticiou a agência oficial chinesa Xinhua.
Xi disse esperar que os participantes na missão continuem a contribuir para transformar a China numa grande potência espacial, como parte da visão de rejuvenescimento da nação chinesa, acrescentou a agência.
A equipa preparou helicópteros e veículos para identificar os sinais emitidos pela nave lunar e conseguir localizar a cápsula na escuridão que envolve a vasta região coberta de neve no extremo norte da China.

Novas descobertas

Esta foi a primeira vez que cientistas obtiveram amostras de rochas lunares desde uma missão enviada pela antiga União Soviética (URSS), em 1976.
As rochas agora recolhidas deverão ser milhares de milhões de anos mais recentes do que as obtidas anteriormente pelos Estados Unidos e pela ex-URSS, proporcionando novas descobertas sobre a história da Lua e de outros corpos celestes.
As rochas vêm de uma parte da Lua conhecida como Oceanus Procellarum, perto de um local chamado Mons Rumker, que se acredita ter sido vulcânico outrora.
Tal como aconteceu com os 382 quilogramas de amostras lunares trazidas pelos astronautas dos Estados Unidos, entre 1969 e 1972, as rochas serão estudadas e deverão ser partilhadas com outros países.
A idade das amostras vai ajudar a preencher uma lacuna no conhecimento sobre a história da Lua, de entre cerca de mil milhões e três mil milhões de anos, indicou o director do Centro McDonnell para Ciências Espaciais, na Universidade de Washington, Brad Jolliff, citado pela agência de notícias norte-americana Associated Press.
As amostras também poderão fornecer pistas sobre a disponibilidade de recursos economicamente úteis na Lua, como hidrogénio concentrado e oxigénio, disse Jolliff.
“Tiro o chapéu aos nossos colegas chineses por realizarem uma missão muito difícil. Os avanços científicos que resultarão da análise das amostras devolvidas vão ser um legado que durará por muitos e muitos anos e, espero, envolverá a comunidade internacional de cientistas”, acrescentou.

19 Dez 2020