Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeCESL-Ásia | 35 anos celebrados de olhos postos no futuro A CESL-Ásia celebra este ano 35 anos de existência, assumindo-se como uma “empresa de pessoas” e com os olhos postos no futuro, dando cartas nas áreas da gestão energética e de infra-estruturas, sem esquecer uma maior sustentabilidade alimentar. Empresa acaba de assinar novo acordo com o grupo EREN, da Turquia A CESL-Ásia assinou ontem um novo acordo com o grupo turco EREN com vista à aposta, através de uma joint-venture, em soluções tecnológicas para o mercado da Grande Baía. Em declarações à TDM Rádio Macau, António Trindade, CEO da empresa que celebra 35 anos de existência, disse que a empresa “continua a tentar desenvolver soluções na aplicação da inteligência artificial e ‘Big Data'”. “Já o fazemos diariamente, e essas soluções não funcionam sozinhas, precisando sempre do factor humano e práticas”, declarou ainda o empresário, que assegurou que o novo acordo vai permitir à empresa ser “muito mais eficiente” em termos de gestão energética. Nascida e criada em Macau há três décadas e meia, a CESL-Ásia assume-se como uma empresa que aprende com o conhecimento que tem e que o aplica na vida diária. Em declarações ao HM, António Trindade defendeu que a entidade está em “constantemente em mudança”, sendo “uma empresa de know-how que aposta na sua aplicação no dia-a-dia para criar valor à economia e à vida das pessoas”. “As mudanças na economia fazem parte do nosso ADN. Temos um constante cuidado em estarmos sempre actualizados, lidando com o conhecimento e a experiência”, declarou ainda. A celebração do aniversário da CESL-Ásia decorreu ontem com a realização de uma palestra intitulada “O Futuro Hoje: Cultivando Estilos de Vida, Energia e Alimentação Sustentáveis” [The Future Today: Cultivating Sustainable Energy, Food and Lifestyles] que reuniu nomes da génese da empresa, nomeadamente Teresa Moreira, ligada ao projecto do Monte do Pasto, de produção de carne biológica em Portugal, ou ainda Bruno de Pellegars, vice-presidente do grupo EREN. Do Cotai ao futuro António Trindade destacou, destes 35 anos de actividade, “o desenvolvimento do Cotai, onde tivemos um papel de muita relevância”, e, neste local, as “operações em resorts integrados, que são edifícios únicos no mundo, em que praticamente estivemos na sua origem e desenvolvimento, e que mantemos a funcionar”. O projecto do Monte do Pasto, herdade em Portugal onde a CESL-Ásia investiu a partir de 2019 merece também destaque. Trata-se de uma actividade “mais visível [da empresa], pois tem a ver com o consumidor e que tem tido um grande impacto e visibilidade”. “A forma de celebrarmos os 35 anos é perspectivarmos os próximos 15”, contou ainda o CEO da empresa, que fala ainda que “lidar com a complexidade social e económica de Macau permite-nos retirar ensinamentos”. “Consideramos que somos uma empresa de pessoas, que são essas que conseguem lidar com a adversidade. Mas pretendemos usar ferramentas como a inteligência artificial ou o ‘Big Data’ [Dados] para criarmos mais valor”, rematou.
Hoje Macau SociedadeCESL Asia lança em Hong Kong carne sustentável do Alentejo A empresa de Macau CESL Asia vai começar a comercializar em Hong Kong carne de vaca sustentável produzida no Alentejo, disse à Lusa o presidente António Trindade. “Neste momento, está a chegar [a Hong Kong] o primeiro contentor, foi estabelecida uma parceria com os distribuidores locais e vai ser lançada agora” a marca de carne ‘True Born’, produzida pelo Monte do Pasto, sublinhou o empresário. António Trindade salientou que, além dos desafios logísticos causados pela pandemia de covid-19, a ‘True Born’ “não é só uma marca nova, é uma área nova, que pouco existe no mercado” da região administrativa especial chinesa. O Ministério da Agricultura anunciou em 2020 que seis empresas portuguesas, incluindo uma do Alentejo, estavam habilitadas a exportar carne de bovino para Hong Kong. A carne é produzida no Monte do Pasto, uma área de montado alentejano, em Cuba, no distrito de Beja, onde a empresa tem contribuído para aumentar o investimento e a produção económica da zona rural. Cerca de 98 por cento da produção do Monte do Pasto é exportada, disse o presidente da CESL Asia, nomeadamente para Israel e outros mercados do Médio Oriente e do Norte de África. A marca ‘True Born’ já é comercializada em Macau. António Trindade lamentou, no entanto, não ser ainda possível exportar para a China, algo que considera “incompreensível”. Casas de pasto Em 2019, Portugal assinou um acordo de cooperação para facilitar, através da simplificação de procedimentos, a exportação de produtos alimentares para a China, incluindo a carne de ovino e de bovino. O Monte de Pasto anunciou na quarta-feira a aquisição da Herdade das Gregas de Cima, com 455 hectares, elevando para 4.200 hectares a área que a empresa vai dedicar a agricultura de regadio e pecuária sustentável. António Trindade disse que a compra representa um aumento de quase 15 por cento na área disponível, o que irá permitir à empresa começar a apostar também na produção de carne de ovino. As vendas do Monte do Pasto têm vindo a aumentar, tanto no que toca ao volume de carne como às receitas, “o que hoje em dia não é difícil, porque os preços estão a subir”, lembrou o presidente da CESL Asia. Em 2021, “foram quase 50 por cento acima do que tínhamos planeado e este ano vai continuar a aumentar, menos porque nem sequer temos ainda capacidade para produzir mais”, admitiu o empresário.
Pedro Arede Grande BaíaAntónio Trindade, Presidente e Director Executivo da CESL-Ásia: “É preciso passar das palavras à implementação” António Trindade não tem dúvida que a economia da Grande Baía tem um potencial “enorme” para Macau, mas sublinha que é imperativo passar das palavras aos actos e definir direcções claras sobre a Zona de Cooperação em Hengqin. Além disso, o Presidente da CESL-Ásia considera que Macau deve ser capaz de localizar soluções diferenciadoras e de “alto valor”, assumindo definitivamente o seu papel de Plataforma de cooperação entre a China e os países de língua portuguesa De que forma Macau pode ajudar o desenvolvimento económico da China através da Grande Baía? A sustentabilidade é uma das coisas boas que a China começou a fazer há 30 ou 20 anos, quando decretou que, verdadeiramente, o desenvolvimento depende de factores relacionados com a sustentabilidade, como a energia, a eficiência energética e a disponibilidade de recursos para o seu desenvolvimento. Exemplo disso, são as questões relacionadas com a alimentação, que é um dos cavalos de batalha fundamentais do futuro. A riqueza de Macau, centrada no jogo, não se esgota aí. O que acontece é que Macau, só serve a economia chinesa e o desenvolvimento da China pode ser servido de muitas maneiras. A Plataforma é uma dessas formas de servir efectivamente o desenvolvimento da China. As grandes questões e virtudes do desenvolvimento chinês, passam pelo desenvolvimento da qualidade de vida e o combate à pobreza extrema, por exemplo. Que tem sido, de facto, um sucesso enorme, juntamente com o facto de se ter tornado na fábrica do mundo. Tudo isso, permitiu tirar da pobreza uma série de gente que passou para a classe média e média baixa e a quem foi dada educação. Vou à China desde meados dos anos 80 e a diferença é abissal. Em Portugal temos uma noção daquilo que a educação fez à sociedade, mas na China fez ainda mais. Há um salto enorme que fez com que a aplicação das novas tecnologias, como a Inteligência Artificial, o Big Data e o Machine Learning, tivesse um impacto no desenvolvimento económico e social. Foi isso que retirou as pessoas da pobreza e as passou para a classe média. Ao mesmo tempo, podemos falar da transferência de uma enorme quantidade de pessoas do campo para a cidade e dos desafios a isso inerentes. Perante um admirável mundo novo, as novas tecnologias e a sustentabilidade têm permitido lidar com essa complexidade do desenvolvimento. Este é o paradigma e, para Macau, isto tem uma relevância enorme porque o que Macau faz há 500 anos é o trabalho da Plataforma, ou seja, a ligação do melhor dos dois mundos: o mundo ocidental e o oriental da China, que são fundamentalmente diferentes e que aqui funcionam. Então, considera que Macau deve apostar no desenvolvimento tecnológico? Em Macau nunca se desenvolveu tecnologia. Macau não tem dimensão nem mercado e nada disso faz parte do seu maior potencial. O grande potencial de Macau está na adaptação, ou melhor dizendo, na personalização das soluções. Ninguém pensava ser possível que Macau fosse capaz de absorver os biliões de investimento estrangeiro que recebeu [devido ao sector do jogo] e que houvesse a capacidade de construir milhões de metros quadrados dos mais sofisticados edifícios do mundo e produzir serviços dos mais avançados que há, a nível técnico, energético e na restauração. O pior é que corremos o risco de perder esse conhecimento porque não existe retenção. O que é relevante avaliar não é a tecnologia, porque a tecnologia não é inventada em Macau, mas sim a sua aplicação, ou seja, o valor que é criado. As pessoas não têm noção do que é preciso para alimentar os 40 ou 50 mil empregados directos que trabalham diariamente nos resorts, nem o que são aquelas cantinas do pessoal, que trabalham 24 horas por dia. São verdadeiras cidades que existem lá em baixo com vários serviços, que servem o propósito de produzir a economia de biliões que é Macau. E o que é que disto se retém em Macau e se transmite para a Grande Baía? O que é que disto se vende para o mundo exterior? Articular e responder a estas questões deve ser o papel da Plataforma. Ultimamente, fala-se muito em lavagem de dinheiro e em tudo o que há de negativo no progresso dos últimos 20 anos, mas então e a parte positiva? O positivo é que Macau pode, de facto, ser a Plataforma, tirando partido daquilo que aprendeu com as soluções que tem vindo a criar. De que forma é que a pandemia tem afectado a CESL-Asia e o crescimento da Grande Baía? O cancelamento do Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau (MIECF) é um exemplo desse efeito. O propósito da MIECF é servir a economia chinesa, quer com transferência de know-how e tecnologia, quer com a exportação de tecnologia. Se não há interesse não se faz. É uma pena porque nós achamos que tem um interesse muito grande e Macau era onde estavam as maiores referências mundiais em termos de sustentabilidade. O MIECF é das coisas mais importantes que aqui se passavam e tem uma história de mais de 20 anos mas, infelizmente, nunca foi posto no contexto de servir as economias e o desenvolvimento social e a sustentabilidade dos Países de Língua Portuguesa [PLP], dos países emergentes, da Europa e da Grande Baía. Se fosse colocada nesse contexto, tornava-se muito mais atractivo, pois o objectivo aqui não passa apenas por se vender mais uns autocarros eléctricos. Macau tem poder económico para comprar, e deve, adoptar ou escolher soluções locais. Actualmente, Macau não tem empresas locais. Não se desenvolveu know-how local para adaptar soluções. Hoje, ninguém compra tecnologia por si só, compra soluções. O mundo virou-se para as soluções e Macau é uma solução há 500 anos. A razão porque Portugal e a China têm uma relação de sucesso é porque apresentam soluções de valor acrescentado para ambas as sociedades e nações. O mundo desenvolveu-se a um ponto (…) em que, hoje, o dinheiro, não é o maior recurso disponível para o desenvolvimento. O recurso mais importante para o desenvolvimento são as soluções, porque o dinheiro é universal. Que papel pode Macau desempenhar no desenvolvimento da Grande Baía e de que forma a Grande Baía pode desenvolver o tecido empresarial local? Macau precisa de se reorientar para servir o desenvolvimento da Grande Baía nas áreas em que é capaz e em complementaridade com tudo o que existe. Macau não vai competir com Hong Kong, a ideia é precisamente a inversa. Ou seja, pretende-se alcançar a complementaridade na diversidade, em ambos os sentidos. A China tanto precisa de exportar soluções, como de comprar soluções de valor acrescentado. Portanto, as soluções têm de ser adaptadas ao mercado e é isto que Macau deve e pode fazer de uma maneira clara. Se o fizer com o mesmo empenho com que fez a modernização do sector jogo, acho que estamos a falar de uma economia potencial muito maior do que a dos casinos. Isto quer dizer que temos escolher o que vamos fazer, nomeadamente, aquilo que me parece ser extremamente óbvio: Macau vai ter de se concentrar no modelo de desenvolvimento da China e na inovação, apostando nas soluções que vão singrar daqui a 10 ou 20 anos. A CESL-Ásia, como empresa de serviços, pensa o que é que vai servir não só hoje, mas daqui a 10 anos. Não nos interessa nada fazer coisas como se fazia há 20 anos, não retendo conhecimento e existindo hoje o maravilhoso mundo novo da inteligência artificial, que funciona para tudo e que cria uma série de desafios, mas, principalmente, permite democratizar o desenvolvimento. A democracia na perspectiva mais abrangente possível torna-se acessível a toda a gente. Como é que se criam essas soluções? Temos que arranjar maneira de as encontrar. Na transformação a que estamos a assistir no sector do jogo, coloca-se a mesma questão. A passagem de uma solução de jogo para outra, tem custos inerentes e, esse custo, vai ser, por exemplo, acabar com os casinos satélite. Vai ser pior? Acho que não, mas vai custar. Agora temos de encontrar um custo que seja razoável. É como tratar uma doença difícil. Como é que vamos manter a nossa qualidade de vida? Não vale a pena morrermos todos. Macau tem de encontrar soluções dessas e considero que não é tão complicado quanto isso. Acho que Macau deve definir e apoiar com clareza soluções que se traduzam em mais valias, apostar nas PME e em empresas inovadoras e com provas dadas. Agora, as pessoas têm de continuar a comer. Não podemos deteriorar a qualidade de vida das pessoas de Macau e tem de ser economica e socialmente eficiente. Temos que escolher empresas com valor, atraí-las e dar-lhes as condições. O que falta para Macau começar a assumir um papel relevante na Grande Baía? Falta claramente haver um farol em termos de política, porque o plano da Grande Baía define claramente aquilo que se vai fazer, nomeadamente em termos de apoio às pequenas e médias empresas e da conversão da industria chinesa para exportação e importação com os PLP, através de Portugal. Isto, porque Macau sozinho não consegue ser Plataforma porque não tem recursos suficientes e a capacidade necessária. Com Portugal podemos atingir os outros países emergentes e os PLP. Agora, como é que a partir de Macau se consegue servir a economia chinesa? Não é preciso ir muito longe para identificar pontos de melhoria. Por exemplo, no nosso caso, não conseguimos exportar para o mercado chinês e nós estamos a desenvolver uma coisa [projecto do Monte do Pasto] que é altamente inovadora em vários aspecto, nomeadamente na produção de comida sustentável e do desenvolvimento rural. Em relação ao desenvolvimento rural, Portugal e a Europa têm mais 10 ou 20 anos de experiência do que a China. O Monte do Pasto tem conseguido atrair atenção para o Alentejo profundo, que é uma das zonas menos desenvolvidas económica e socialmente, criar uma economia local que vale 30 milhões de euros e reter população com qualidade de vida. Pelo seu modelo de desenvolvimento, a China não pode continuar a levar pessoas para a cidade. A Europa já fez isso há mais de 20 anos e a China tem não pode continuar a tirar pessoas da pobreza do campo e levá-las para a cidade. Estas soluções têm de ser adaptadas e é isso que Macau pode fazer. Ou seja, estabelecer uma direcção clara e mecanismos de desenvolvimento. Para atrair as empresas para Macau é preciso criar condições para elas virem para cá e dar-lhes acesso ao mercado português ou ao chinês. Portanto, Macau tem um papel a desempenhar nisto tudo e não é pequeno, porque a economia da Grande Baía é enorme. Não vejo o Governo ou as associações profissionais ou industriais a estabelecer ligações ou a perguntar a Portugal ou às cidades da Grande Baía: “então mas afinal o que é que nós podemos fazer para vos ajudar?”. Ou seja, estabelecer soluções de negócio que, como em todas as outras, tem um papel de valor acrescentado para Macau, que paga impostos e retém conhecimento. Por exemplo, a CESL-Ásia paga mais de 100 milhões de patacas em salários. É uma grande contribuição. Imagine o que isto não será [e os proveitos que isso poderá trazer para a economia de Macau] se houver um nicho da economia da Grande Baía que, de facto, passa por aqui. Considera então que falta dizer claramente qual a direcção a seguir? Tem que haver direcção. Macau não é uma economia livre, ao contrário do que se possa eventualmente pensar. Macau é uma economia pequena em que, quando se dá uma concessão para o jogo, a economia é precisamente essa, está ali. No contexto actual, é o jogo, que tem que ajudar a desenvolver empresas locais. Não são os fornecedores e outras actividades económicas que vão alavancar a tal diversificação económica que se pretende alcançar. Qual a importância para Macau e para o tecido empresarial do território, da criação da zona de cooperação aprofundada entre Macau e Guangdong em Hengqin? Aqui na CESL-Ásia estamos convencidos de que há na Ilha da Montanha um potencial de valor maior do que a economia de jogo, só que é preciso passar da palavra e das políticas para a implementação e, como é lógico, esse processo ainda é um processo político. Falta estabelecer as relações entre Macau, a Ilha da Montanha, Zhuhai, Cantão e Pequim, definir de que forma é que a Zona de Cooperação se vai coordenar em relação ao que vão fazer as outras zonas económicas especiais, [como Zhongshan] e a sua integração com as economias das próprias cidades da Grande Baía. Mais concretamente sobre Hengqin, o que acontece é que se está a criar aquilo que parece óbvio, ou seja, um espaço que eu imagino que seja mais direccionado para o apoio a soluções de serviços dedicadas a ajudar as economias da Plataforma. No entanto, ainda não existe uma solução, porque faltam soluções financeiras e detalhes mais precisos sobre as áreas de actuação e a integração entre as várias entidades. No entanto, se me perguntar quais são os nossos parceiros chineses, eu digo que não temos nenhum. Nós conseguimos estabelecer soluções por nós próprios, mas parcerias não. Alguma razão haverá, mas são razões que nos são externas. Infelizmente, até hoje, não conseguimos convencer ninguém, apesar da bondade, do apoio e do reconhecimento de que somos uma grande empresa e um grande sucesso. Porque é isso acontece? O problema é que as empresas estatais ou privadas vão para Portugal sem vir a Macau. O engraçado é que há empresas que vão a Portugal e só depois vêm a Macau. Daquilo que vi, isto acontece porque essas empresas não têm mais vantagens do que as que nós temos em fazê-lo através de Macau. Resumindo, o valor existe, mas é preciso que haja clareza em dizer o que deve ser apoiado ou promovido. Não podemos estar a competir com empresas estatais ou concessionárias em Macau, como a CEM ou os casinos. É preciso encontrar soluções de parceria. Quando se quer encontrar uma solução para a China, as empresas vão continuar a ir para Hong Kong primeiro e não vêm a Macau. Continua a faltar o papel de Plataforma, quando há vantagens em relação a Macau. Como é que a Grande Baía pode contribuir para a diversificação económica de Macau? A diversificação económica tem que ser local. Macau tem que desenvolver as empresas locais. É como em Singapura. Quais são as empresas em Macau que tiveram sucesso nos últimos 20 anos como produtoras de valor e de serviço? Não há, mas acho que não é sonhar muito. Devia haver liderança no processo e essa liderança tem que ser um misto entre o Governo e os privados, porque o Governo não se pode meter na execução destas coisas e Macau não tem os recursos suficientes. Devemos ser capazes de atrair soluções exteriores. Veja-se o que aconteceu com o sector jogo. Pode dizer-se o que se quiser, mas as entidades exteriores é que criaram valor. Quem são as grandes referências do sector do jogo moderno em Macau? O Galaxy, Venetian, Wynn, MGM, tudo o que veio de fora. Isto não quer dizer que elas não sejam localizáveis. Basta ver que actualmente o Governo está localizar partes importantes do sector do jogo. A economia não é Macau. Estamos aqui para servir a China e a servir o exterior e, para isso, é possível utilizar soluções portuguesas ou alemãs. É preciso localizar. Contam-se pelos dedos das mãos as empresas industriais da China que têm acesso aos mercados emergentes e europeus. Não há aqui uma clara oportunidade? Não é isto que é a Plataforma? A Plataforma não é estar a produzir tecnologia em Macau. Isso não existe. Claro que ajuda e pode contribuir, mas estamos a falar da economia daqui a 20 ou 30 anos. O que estamos a falar é de localizar soluções. Um exemplo. Fui júri num evento espectacular de startups portuguesas e brasileiras, que o Governo de Macau organizou. O vencedor foi uma empresa que descobriu uma solução para eliminar gorduras e foi uma vitória unânime por parte dos júris. O Governo de Macau anda a tentar levar o projecto para a China e não compreendo porque razão não se começa por tentar aplicar esta solução em Macau. Até porque os esgotos de Macau estão cheios de gordura. O problema da gordura e dos óleos que saem da alimentação e são despejados para o esgoto são um dos problema de Macau e aquela é a solução óbvia ou, pelo menos, deve ser aqui testada. Tivemos um trabalho dos diabos para procurar e seleccionar o projecto, toda a gente arregalou os olhos com a solução, que ainda por cima é polivalente, mas não foi testada aqui. Mas será que é assim tão difícil criar novas empresas? Não é, ainda por cima há soluções para o fazer. Quer na China, quer em Portugal essas soluções existem. Em Macau é preciso desenvolver a economia própria e as empresas. Estou a falar de empregar 400 ou 500 pessoas, dedicá-las à plataforma e ao conhecimento, dedicá-las a trazer tecnologias e soluções exteriores e localizá-las Em que fase considera estar o desenvolvimento do projecto da Grande Baía? Ao nível do plano de desenvolvimento da Grande Baía, é na China e em Hong Kong que eu vejo que se estão a desenvolver soluções de uma sofisticação considerável, mas em Macau ainda estamos no princípio. Macau é muito pequeno e, por isso, é fácil fazer tudo o resto. Macau veio de uma mono-economia dedicada a uma actividade e, por isso, estamos em processo básico de desenvolvimento. Em seis meses, num ano ou dois anos, Macau pode criar uma economia desenvolvida. É só precisa vontade. Com os recursos que Macau tem e a vontade da China isso vai ser possível. É lógico que vai ser preciso criar essa economia, mas acima de tudo é preciso criar relações específicas com a China e com Portugal. Não estamos a falar da amizade que existe, mas sim da formação de quadros que têm acesso ao mercado português e europeu. Portugal tem muito a fazer para descobrir a própria importância que tem como plataforma económica para a Europa, para os EUA e para os mercados emergentes. Este papel de Portugal tem muito que se lhe diga, porque não há muitos países no mundo em que os auditores, os advogados e os bancos têm relações directas com economias emergentes. Não há. Como é que isto não é valorizado por Portugal, tanto quanto devia ser? Sobretudo, quando a prestação de serviços à economia chinesa ou à economia da Grande Baía tem um potencial enorme. Na sua opinião, que passos importantes foram dados ultimamente para que o projecto da Grande Baía se concretize na sua plenitude? Houve evolução. Em relação a Macau começou-se a falar numa zona de cooperação em Hengqin, mas o que é que esta zona vai fazer? É preciso perceber, porque os agentes económicos têm que entender o que é que se passa. Temos genericamente a percepção de que se vai conseguir alcançar os objectivos, mas o processo todo de estabelecimento daquela zona ainda está limitado precisamente à zona, está-se a fazer lá algumas habitações e outras coisas. No entanto, ainda não se sabe o que vai ser feito em termos de economia, infraestruturas, os impostos, o financiamento e como é que se importa e exporta. Também não se sabe como será possível chegar ao mercado interno. Há muitas soluções que já existem na perspectiva do acordo do CEPA (Closer Economic Partnership Arrangement) que só precisam de ser adaptadas para produzir um incentivo brutal para criar uma economia de grande escala, por exemplo, no sector agro-alimentar. A carne, o azeite e outros que possam produzir valor acrescentado aqui. É preciso criar a cadeia de valor económica e estabelecer o que é que Macau retém e a Ilha da Montanha retém. É preciso tomar decisões, como acontece actualmente na área do jogo: “só pode haver seis concessionárias”. Tem que se saber quais são as áreas que são de alto valor e que precisam de ser desenvolvidas. Por exemplo, a medicina tradicional chinesa, qual é o papel que se pretende? É para Macau ou para a Grande Baía? O que é que acrescenta para a China ou para o mundo? É para exportar? Se é esse o objectivo, o que é que se está a fazer para exportar? Qual é a relação disto com a indústria farmacêutica portuguesa ou com a medicina tradicional que se faz em África, por exemplo em São Tomé, ou no Brasil, onde Portugal tem um Centro de Medicina Tropical? Que cidades da Grande Baía têm maior potencial de futuro? Todas as cidades da Grande Baía têm as suas particularidades, mas sinto que o mais importante é saber o que é que essas cidades pensam de Macau. Se pensam que Macau acaba em si mesma não vão querer vir nem exportar nada para cá, apesar de haver cerca de 30 milhões de turistas por ano que vêm aqui fazer refeições durante a sua visita. Mas, o caso muda de figura se for para aceder ao mercado mundial ou importar know-how e soluções para ser integradas ou importar capital e financiamento. Fala-se no sistema de obrigações, mas em Macau estamos ainda na infância. Não existe ligação nenhuma com Portugal ou com os sistemas financeiros europeus. Será que as leis de Macau estão a ser desenvolvidas à imagem do sistema português, a pensar na integração com a Europa ou, de outra forma, a pensar na integração com o sistema de Hong Kong? Qual é a origem dos fundos que vão ser atraídos, quais são as exigências e o que é que a gente pode oferecer em termos de acesso ao mercado chinês que necessita do capital? O que importa em relação às várias cidades é que, em vez de olharem para Macau como um concorrente ou um impedimento, olhem para Macau como uma forma de ir além das soluções que já têm em termos de qualidade e quantidade. Macau não se pode ficar por oferecer soluções secundárias ou piores que as de Hong Kong. Estas soluções têm de ser altamente diferenciadoras e têm que criar alto valor. Não é muito difícil fazê-lo, porque Macau tem a tradição de ter soluções. Basta pensar que, em Macau não existe uma entidade certificadora de produtos chineses para as normas europeias. Há muito potencial, mas falta dar o último passo? Esse passo que falta não é inocente. Falta porque não é prioritário ou não é visto como uma vantagem e pessoalmente acho que é uma pena, porque o potencial é enorme. Imagine-se o valor das exportações chinesas para a Europa, que é o segundo mercado depois dos EUA, e das quais Macau poderia beneficiar. Se um décimo, um quinto ou até mesmo uma fracção desse negócio fosse feito através de Macau seria uma riqueza enorme. Somos 500 mil pessoas que nos últimos 20 ou 30 anos têm uma percentagem relevante de formação académica superior. Espero que essas pessoas não estejam no Karaoke. Qual o papel que a comunidade portuguesa pode ter no desenvolvimento de Macau na Grande Baía? O papel da comunidade portuguesa é tão importante como o papel da comunidade chinesa. Se virmos bem, qualquer pessoa das elites de Macau, quando vai a Pequim, Shenzhen ou a Cantão, fala da importância da Lusofonia e da amizade com os portugueses. Mas como é que esta amizade se traduz em valor? Temos que produzir profissionais que possam perceber em Macau, aquilo que vão precisar de explicar às empresas chinesas sobre o que se passa em Portugal. Quando vim para Hong Kong em 86, percebi, pela primeira vez, que o valor da personalidade e da identidade é algo que temos de lidar em contexto de complexidade e multiculturalidade. Não é muito difícil, mas é preciso haver essa consciência. Quando as pessoas chegam a Macau têm de olhar para os profissionais de Macau, tal como diz o plano da Grande Baía, como aqueles que têm a experiência de aplicar o conhecimento de forma única, neste caso sobre o mundo lusófono. Não o conhecimento que está acessível a todos e que é dos médicos, dos advogados e dos engenheiros. A aplicação desse conhecimento é local e o nosso local é a Plataforma, ou seja Portugal, Angola, Moçambique e a Europa. É em Macau que bebemos vinho português e café expresso. O resto não é nosso. É uma coisa que nós gostamos, mas não é a nossa identidade. Isto é Macau e é a China. O facto de um chinês beber um expresso não lhe retira a sua identidade, como é óbvio. Antes pelo contrário. Eu revejo-me nos chineses quando vou a Portugal. Vim de África, fui para Portugal e depois para Hong Kong e sou valorizado pelas pessoas por aquilo que sou. Não por quanto consigo imitar os costumes dos que lá estão.
Hoje Macau SociedadeCESL Asia lança carne sustentável produzida no Alentejo O produto da CESL Asia, made in Portugal, visa reduzir a emissão de gases com efeitos de estufa. A carne pode ser experimentada no restaurante The Manor, no Hotel St. Regis A CESL Asia vai lançar em breve, em Portugal, carne de vaca sustentável, produzida no Alentejo, e já comercializada em Macau, revelou o presidente da empresa, António Trindade. No lançamento público de um menu sustentável, de autoria do ‘chef’ Michele Dell’Aquila, que integra a carne “True Born” do Monte do Pasto, António Trindade sublinhou, à Lusa, que a empresa está a “desenvolver todos os padrões de sustentabilidade [da carne] de raiz”, numa aposta no futuro de alimentação sustentável que vai exigir “uma variedade de estratégias”. O desenvolvimento da alimentação sustentável até 2050 é necessário para alimentar 10 mil milhões de pessoas sem usar mais terra e, ao mesmo tempo, reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, afirmou. Isso passa por considerações do bem-estar animal, por “inovação e por reequacionar toda a produção, logística, alimentação, tudo, do pasto ao prato”, disse. “Significa, do lado do consumidor, alterar a dieta, de modo a consumir a quantidade e qualidade adequada de carne, adoptar hábitos alimentares sustentáveis, usar produtos sustentáveis, reduzir o desperdício. Do lado do produtor, significa melhorar o bem-estar animal, a alimentação do gado, a utilização dos solos e também o apuramento genético, produzir carne com mais eficiência, melhor proteína, mais saudável e menos desperdício”, explicou. Produzida no Monte do Pasto “True Born”, a carne de vaca comercializada em Macau e a lançar em Portugal, é produzida no Monte do Pasto, em 2.500 hectares de montado alentejano, em Cuba, no distrito de Beja, onde a empresa tem contribuído para aumentar o investimento e a produção económica da zona rural, uma das mais pobres em Portugal. “Talvez a partir ainda deste mês, vamos lançar esta carne em distribuidores específicos e numa grande superfície [em Portugal]. Até ao fim deste ano, esperamos estar também em Hong Kong”, adiantou o responsável, lamentando não ser ainda possível “exportar para a China, tanto mais que se trata de inovação pertinente à segurança alimentar”. O empresário salientou que este conceito de “carne sustentável”, vendida em porções preparadas para o consumidor doméstico, e diferentes cortes, concebidos para reduzir o desperdício, num processo de produção totalmente controlado pela empresa do “pasto ao prato”, ainda está a ser desenvolvido “desde Portugal e testado no mercado em Macau”, por “exigir também uma mudança de mentalidades”. “Neste aspecto, a contribuição dos ‘chefs’ é importante, através das escolhas que fazem no menu, podem fazer a diferença em termos de influenciar os consumidores a aderirem ao conceito de qualidade associado à sustentabilidade alimentar”, considerou, sobre a colaboração com Dell’Aquila, no restaurante The Manor, no Hotel St. Regis do resort Londoner, onde o menu sustentável está disponível.
Pedro Arede Entrevista MancheteAntónio Trindade, Presidente e Director Executivo da CESL-Ásia: “É em Macau que a gente se entende” António Trindade considera que só será possível alcançar a sustentabilidade, se Macau for capaz de reter o conhecimento produzido ao longo dos anos. Para o CEO da CESL-Ásia, o Governo deve decidir urgentemente qual o caminho para a diversificação económica. Além disso, defende que a plataforma de cooperação entre a China e os países de língua portuguesa só existe no papel, quando na realidade ainda se impõem “barreiras artificiais” Depois de décadas de experiência acumulada, que posição ocupa hoje a CESL-Ásia em Macau? A empresa tem hoje quase 500 pessoas. No ano passado, tivemos quase 650 milhões de patacas de faturação só com serviços. Do zero a isso, em 30 anos, não é brincadeira, além de que somos uma empresa de referência em Macau. Empregamos muita gente de alto valor. Temos a experiência que poucas empresas no mundo têm em áreas como a gestão de património, de activos e manutenção de operações. Nem toda a gente compreende que a sofisticação de certas operações em Macau é única no mundo. Edifícios como os resorts no Cotai podem ter entre 100 a 150 mil pessoas a entrar e a sair por dia e 20 mil funcionários. Nós operamos uma lavandaria que trata diariamente entre 120 e 130 toneladas de lençóis e roupa, incluindo a lavagem e transporte. No mundo não há nada parecido e isto é de uma sofisticação enorme. Por exemplo, quando o aeroporto abriu em 1996, montámos um sistema de gestão de infra-estruturas, em funcionamento há cerca de 27 anos, que é uma coisa única no mundo. De cada sistema de lâmpadas, motor e peças que compõe uma infra-estrutrura sofisticada como esta, criámos uma base de dados. Isto não é só informação, é conhecimento que acumulamos há 30 anos. Um dos destaques recentes da CESL-Asia é o lançamento da plataforma Ortux. Em que se materializa esta solução? Há três ou quatro anos começámos a desenvolver a nossa própria plataforma de apoio e gestão que se chama Ortux e, no fundo, sofistica o tratamento de dados e é útil para o nosso pessoal. O nosso pessoal pode usar a plataforma para gerir equipas e comunicar sobre trabalho que tem de fazer, ajudando a reprogramar o serviço e a oferecer bem-estar a cada pessoa. O nosso sistema tem a diferença de enquadrar as questões financeiras. Esta solução é para ser usada por qualquer pessoa, desde os que asseguram o funcionamento adequado dos espaços, até aos proprietários que precisam saber custos e graus de eficiência. Como é que essa informação pode ser utilizada para garantir a sustentabilidade das operações ou de um território como Macau? A nossa experiência não é intangível porque temos a informação. Ao fim de 30 anos, temos milhares de terabytes de informação. O nosso sistema combina tudo e sabe o que pode acontecer em determinadas situações. Isto permite melhorar a qualidade de vida, aumentar o ciclo de vida, a utilidade das infra-estruturas e reduzir custos. Aí entramos na questão sobre o que é a sustentabilidade e como é que ela se consegue alcançar. Temos de usar a experiência acumulada e ter valores éticos. Hoje fala-se muito no desperdício, a questão não é nova. Estamos a gerar informação e temos capacidade para a processar. Há hoje pessoas capazes de analisar os dados e existe muito mais capacidade de computação, o que nos leva à inteligência artificial. Isto traduz-se em projecções que aumentam a sofisticação da previsibilidade e o aumento da qualidade de vida. A informação por si, só serve quem precisa de a utilizar. É um desafio grande porque a inteligência artificial, o Big Data, as cidades inteligentes não resolvem coisa nenhuma. Este é que é o problema. Considera que o rápido desenvolvimento de Macau tem implicado acções contraproducentes ao nível da sustentabilidade? É um desafio interessante porque, como sabemos, Macau desenvolveu-se inegavelmente nos últimos anos a nível económico, mas com uma iniquidade muito grande. Mas, quem é que tem acesso aos recursos, aos terrenos, à criação de valor e aos empregos que são úteis? Não estamos só a falar do bem-estar dos funcionários, mas sim da própria sustentabilidade das empresas, porque as empresas que não oferecem perspectivas de carreira, não estão a reter conhecimento e não estão a conseguir aplicar conhecimento no seu desenvolvimento, sobretudo porque Macau é uma terra de serviços. Em Macau faz-se tábua rasa do conhecimento adquirido, mesmo em situações em que já se deram passos importantes? Acontece muito porque as pessoas querem esconder o passado. Há dificuldade em lidar com factos. Veja-se, por exemplo, o que se passa, não só em Macau, mas em todas as sociedades modernas com as questões importantes de privacidade e informação. Hoje em dia é impossível fugir a isso. Na minha perspectiva, o Big Data tem um grande potencial de melhoria da qualidade de vida de cada um e não há nenhum trade-off a fazer ao nível da protecção de dados. Que medidas ou incentivos podem ser criados para tornar Macau mais sustentável? O maior desafio da sustentabilidade é sempre o Governo e o próprio Governo tem consciência disso. Os maiores contributos para a sustentabilidade e a para qualidade de vida das comunidades são os seus hábitos, a educação, a maneira de consumir, de produzir e acrescentar valor. Nestas comunidades inclui-se o Governo que é o líder principal disto tudo. Isto traduz-se, por exemplo, no facto de o Governo ter reconhecido recentemente a existência de problemas gravíssimos a nível ambiental quando, quem os denunciava anteriormente, eram grupos externos, nomeadamente a própria CESL-Ásia. O Governo diz que estamos a despejar mais de metade dos esgotos para a natureza, ou seja, a cada duas vezes que despejamos o autoclismo, uma vai directa para o mar. Pela primeira vez em 20 anos, o Governo, está finalmente a reconhecer isto. É uma verdade óbvia. A outra questão, também reconhecida pelo Governo, é a necessidade de diversificar a economia. O crescimento passou a significar regressão. Por cada mesa de jogo que se põe a mais em Macau, está-se a tirar produtividade às outras mesas de jogo. Isto é a insustentabilidade da vida real. A maioria das questões da sustentabilidade são resolvidas pelas comunidades e individualmente por cada um de nós, através dos nossos comportamentos. Como é que se envolve a comunidade nessa mudança de paradigma? Estamos a falar de qualidade de vida e de assegurar que amanhã a nossa pegada ecológica é menor. Muitos Governos ainda acham que se está a falar de compromissos e sacrifícios, quando é exactamente o contrário. Para isto acontecer, os Governos, as pessoas e as empresas têm de trabalhar em conjunto é o que faz sentido em termos económicos. Macau tem de começar a reter a riqueza que produz, no sentido de desenvolver a sua comunidade. Veja por exemplo os empregos que foram criados em Macau. Há 20 anos não havia muita gente formada em Macau, agora há muitas dezenas de milhares. O tecido empresarial não é capaz de absorver essas pessoas qualificadas? Não é só o tecido empresarial, é a sociedade toda. Desde o Governo às empresas. Nós oferecemos carreiras porque estamos a reter conhecimento e experiência e a usar esse conhecimento para acrescentar valor e ser competitivo no futuro e no imediato. Isto é o grande desafio que encontramos em Macau. Como dever ser concretizada diversificação económica de Macau? Não há nada mais fatal do que um serviço e o jogo é um serviço que tem que mudar. Temos uma ideia geral de como vamos diversificar e o Governo deu-nos nota do sistema financeiro. Faz sentido porque vai servir a economia da China. A minha opinião ponderada é que a economia de jogo não é a economia de maior valor para Macau. Não tenho dúvidas que a sabedoria indicaria para a necessidade de pegar na ideia da Plataforma, que não é de hoje. A Plataforma existe há pelo menos 500 anos. É aqui, em Macau, que a gente se entende e que e, nos últimos 20 anos, apesar de muitos acharem impossível, foram criados edifícios como os resorts e meteram-se cá 30 milhões visitantes por ano. Alguma coisa altamente sofisticada está a ser feita e isto é um valor intangível que traduz a direcção definida do Governo. Da mesma forma que o Governo criou um sistema de jogo altamente valioso, pode criar outro sistema. Que outros caminhos podem ser seguidos? O Governo só tem de definir [o caminho], porque depois é quase impossível errar. O papel que Macau pode ter para acrescentar valor à Grande Baía, basta o Governo definir com a China. Se é para apostar no sector financeiro, é preciso dizer o que não há em Hong Kong, o que falta às empresas chinesas e o que elas precisam que Macau faça é estabelecer vantagens de acesso aos mercados exteriores. E aqui já existe a Plataforma e a Lusofonia. Macau tem que olhar para os dois lados. Há então a necessidade de apontar um caminho mais claro? Claro, sem dúvida. Precisamos de uma perspectiva de valor. Em Macau diz-se que a economia é livre, mas não é tão livre como isso. A economia de Macau é dominada pelo jogo, mas o jogo resulta de uma concessão. Se isto acaba temos de encontrar uma solução para saber onde vamos aplicar o conhecimento e as capacidades que temos e com que sentido. Para que o sistema financeiro se desenvolva, vai ter que ser criada uma economia de serviços mais sofisticada e outras infraestruturas. Porque não há mais empresas a apostar na Plataforma? Há quantos séculos a actividade económica entre Portugal e a China é negligente, apesar da amizade secular e da criação de tanto valor de cooperação? Alguma coisa os dois beneficiaram, mas é completamente desproporcional ao potencial que isto tem. Faz algum sentido que para fazer um investimento em Portugal só exista um banco em Macau, o BNU? Ainda hoje não existe infra-estrutura. A Plataforma não existe. Só existe no conceito, mas não é difícil de construir. O Governo tem os mecanismos para gerir as actividades económicas e as empresas chinesas são empresas estatais que funcionam como veículos da política económica. Não é muito difícil liderar um processo e estabelecer uma cadeia de valor nova altamente promissora. Porque ainda existem estes constrangimentos? Isto não é um constrangimento. O constrangimento é artificial. O Governo de Macau tem poder e capacidade para estabelecer a Plataforma e diversificar a economia. Deus queria que o faça. Agora, para o fazer tem que ser com a mesma intenção e sabedoria com que estabeleceu o maior e mais sofisticado mercado de jogo do mundo. Os técnicos, engenheiros e advogados que Macau formou nos últimos 15 anos estão a tratar de questões de crime, de cobrança, em vez de estar focados a criar conhecimento para a Plataforma. Alguma coisa tem sido feita no âmbito fiscal, como acordo da dupla tributação com Portugal. Mas isso são coisas pontuais e não contribuem para criar a Plataforma ou servir a economia da Grande Baía. Depois do investimento no Monte do Pasto, os objectivos têm sido cumpridos apesar da pandemia? Passámos razoavelmente bem pela pandemia, porque o Monte do Pasto é uma actividade com um nível de sofisticação pouco comum. Exportamos para mercados como o de Israel, onde cumprimos com requisitos de clientes exigentes e padrões religiosos como o Halal ou Kosher. Antes de investir eu próprio tive um debate duro sobre como é que uma empresa que se preocupa com sustentabilidade ia apostar em gado. A conclusão foi muito simples, pois existe a perspectiva de multiplicar valor através da aposta na sustentabilidade alimentar. Escolhemos Macau e começamos a desenvolver a nossa oferta de carne sustentável. Estamos a olhar para as coisas de uma perspectiva completamente diferente e a perguntar qual é o nosso contributo para a Humanidade. O negócio vem depois. No entanto, é impensável não termos autorização para exportar esta carne de alto valor para a China. Se as pessoas de Macau podem comer porque é que as de Zhuhai não podem? Estamos a falar das tais barreiras artificiais que podiam ser facilmente resolvidas. Na sua opinião, qual o futuro de Macau na Ilha da Montanha, quando até o Chefe do Executivo disse que, em breve, o Governo Central vai dar uma prenda a Macau? Acho que o Chefe do Executivo está a querer dar um sinal positivo para o futuro e a assumir um compromisso de que as coisas vão melhorar. Hoje a situação é stressante, na medida em que estamos aqui fechados, mas a vida em Macau é uma maravilha. O Chefe do Executivo está a dizer que há um futuro em Hengqin, mas vai ter de dizer que futuro é esse. Hengqin é uma infra-estrutura para um processo de criação de valor que nós, na nossa economia, e o Governo, temos de fornecer, principalmente, à economia chinesa, atraindo os agentes externos que se queiram relacionar. A ideia de Hengquin representa o compromisso assumido sobre a diversificação económica e a redução do peso que o jogo tem na utilização dos recursos de Macau. Ficamos à espera que o Chefe do Executivo nos diga o que precisa de nós, onde vamos poder acrescentar valor e quem serão os nossos clientes.
Hoje Macau SociedadeNegócios China-Portugal têm potencial de crescimento, diz presidente do BNU O presidente do Banco Nacional Ultramarino (BNU) em Macau disse ontem à Lusa que os negócios entre Portugal e a China têm potencial de crescimento, ainda que até Maio o comércio bilateral tenha registado um aumento de cerca de 18 por cento. “Sem pandemia podiam ter sido melhores”, afirmou Carlos Álvares, acrescentando que ainda assim em 2020, ano em que a pandemia se fez mais sentir em termos económicos, já se tinha verificado um crescimento homólogo. As trocas comerciais aumentaram 4,82 por cento em 2020, para 6,9 mil milhões de dólares, de acordo com dados oficiais no portal do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os países de língua portuguesa (Macau), com base nas estatísticas dos Serviços de Alfândega chineses. Em termos de investimento entre os dois países, explicou Carlos Álvares, há ainda uma disparidade grande entre os dois: a China investe cerca de 75 vezes mais do que Portugal. À margem do Seminário sobre o Estado de Investimento e Desenvolvimento das Relações Luso-Chinesas no âmbito da covid-19, a consultora especial da MdME Lawyers Un I Wong disse à Lusa que as dificuldades de circulação entre os dois países, assim como restrições as restrições fronteiriças impostas no regresso à China têm causado uma redução geral nos investimentos. Há investidores que “investem mesmo sem ver os imóveis”, disse, ainda que tenha sentido, “em geral, uma redução de investimentos”. “O interesse está lá”, frisou a também vice-presidente da Associação de Jovens Empresários Portugal-China, mostrando-se confiante que muitos negócios se concretizarão após a pandemia. Até lá, a responsável disse que tem verificado que muitos projectos em curso têm sido “adiados e alguns cancelados, por causa da incerteza” e que os investidores estão “mais prudentes e cautelosos”. Para além da pandemia, detalhou Un I Wong, tem-se registado nos últimos tempos “cada vez mais restrições por parte do Governo Central para investimento para fora da China”. Novas exigências Também à margem deste seminário realizado no Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, o presidente da CESL Asia, António Trindade, afirmou à Lusa que prevê “um aumento de potencial de valor à relação económica entre Portugal e China”. Na sua opinião, “as exigências de valor acrescentado e a aversão ao risco aumentou o potencial de actividades económicas que têm maior credibilidade estabelecidas”, num contexto em que há uma mudança estrutural na economia chinesa e de restruturação do sistema financeiro, investimento estrangeiro e das próprias empresas estatais. Numa outra via complementar, frisou, a China pode utilizar Macau para atrair mais investimento em Portugal e consequentemente, via Portugal, aumentar o investimento na Europa.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeCESL-Ásia | Carne produzida no Monte do Pasto chega aos supermercados de Macau em breve António Trindade, CEO da CESL-Ásia, adiantou que “nas próximas semanas” a carne produzida pelo Monte do Pasto, onde a empresa investiu, deverá começar a ser vendida nos supermercados locais. O objectivo será depois expandir para mercados como Hong Kong e China, assegura Foi em 2019 que a CESL-Ásia anunciou o investimento de 37,5 milhões de euros no Monte do Pasto, um dos maiores produtores de gado bovino em Portugal. Desde então que a pandemia da covid-19 alterou um pouco a estratégia da empresa, mas não a sua expansão. Prova disso, é o arranque da comercialização, dentro de semanas, da carne produzida no Monte do Pasto nos supermercados de Macau. “Lançamos uma linha de carne sustentável que vai ser lançada no mercado de Macau nas próximas semanas. Estamos a preparar a comercialização”, adiantou ao HM António Trindade, CEO da CESL-Ásia. “Pensamos que há a perspectiva de podermos estar em alguns supermercados um pouco antes do ano novo chinês. Temos trabalhado muito bem com as cadeias mais tradicionais de Macau na perspectiva de lançar novas ideias de produto alimentares com versões mais sustentáveis. Iremos fazer uma comercialização directa, com doses individuais”, frisou. Em expansão Quando anunciou o seu investimento, a CESL-Ásia apresentou um plano estratégico que previa um aumento do volume de negócios para 70 milhões de euros até este ano. A pandemia “causou grandes mudanças em tudo”, uma vez que o Monte do Pasto exporta grande parte daquilo que produz. Mas António Trindade assegura que a expansão continua. “Fizemos uma parceria com uma empresa para desenvolver mil hectares de agricultura biológica e frutos secos no Monte do Pasto, um investimento considerável, mas que também leva a um aumento de actividade económica no concelho [o Monte do Pasto está situado nas zonas de Cuba e Alvito, no Alentejo].” “Temos o objectivo de aumentar entre 10 a 20 por cento a nossa capacidade produtiva”, esclareceu o CEO da CESL-Ásia. “As coisas têm estado a correr bem. Há grandes dificuldades, mas estamos a aproveitar isto para fazer um processo de mudança estratégica que iniciámos no Monte do Pasto.” Em Portugal trabalham neste momento quase 60 pessoas e o objectivo é não parar por aqui em termos de presença de mercado. “Queremos apostar em Portugal, Europa, Hong Kong, China e outros sítios. Estamos a montar a nossa equipa de comercialização de produtos premium e sustentáveis”, concluiu.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeEFACEC | CESL-Ásia recebeu convite do Governo português para investir A CESL-Ásia vai associar-se à Alpac Capital através de um consórcio para a compra da portuguesa EFACEC, nacionalizada após o arresto da participação da angolana Isabel dos Santos. Ao HM, António Trindade confessa ter recebido uma proposta de investimento por parte do Governo português e que já estava nos planos da CESL-Ásia apostar na empresa [dropcap]A[/dropcap] EFACEC, empresa portuguesa ligada à tecnologia que foi nacionalizada após o arresto da participação da empresária angola Isabel dos Santos, pode vir a ser adquirida pelo consórcio CESL-Ásia – Alpac Capital. A notícia é avançada pelo semanário português Expresso. Ao HM, António Trindade, CEO da CESL-Ásia, confessou que a empresa de Macau recebeu um convite por parte do Governo português no âmbito do processo de nacionalização. “Fomos convidados pelos representantes do Governo para apresentar uma proposta para a aquisição da EFACEC. A Alpac também foi convidada e achámos que seria uma boa ideia juntarmo-nos para preparar uma proposta. Informámos o Governo na sexta-feira de que estávamos interessados e ficamos à espera do desenrolar do processo.” A proposta do Executivo português acabou por cair bem nos planos da CESL-ÁSIA. “Tivemos relações com a EFACEC e estávamos inclusivamente a estudar uma parceria com a empresa no último ano. [Este investimento] faz todo o sentido para nós e também para Macau.” António Trindade adiantou que a parceria com a Alpac assenta numa base de complementaridade. “A Alpac é uma entidade com base financeira e nós somos uma empresa de know-how e de serviços. Temos a experiência de trabalhar em mercados ocidentais e também em mercados de serviços de valor acrescentado e de energia.” Ao Expresso, o director-geral da Alpac, Luís Santos, explicou que a CESL-Ásia entra no consórcio através da empresa portuguesa Focus Platform Group. O consórcio será também composto por outros empresários portugueses que terão participações minoritárias. Caberá ao banco de investimento Haitong a condução do processo de venda da EFACEC. Na sexta-feira a Alpac Capital entregou junto do banco a carta de intenção para a privatização da empresa. Mais serviços O CEO da CESL-Ásia reforça a ideia de que esta parceria “faz todo o sentido” e que tem como objectivo aproveitar o papel de Macau como plataforma económica. “A Ásia é o mercado de maior desenvolvimento nas próximas décadas e penso que a EFACEC vai beneficiar bastante [disso]. Uma das grandes perspectivas que temos é a presença da empresa no mercado global, uma vez que tem uma presença pouco significativa na Ásia, tem maior representação em Portugal e América do Norte. Somos uma empresa de serviços e é uma área que a EFACEC pode desenvolver mais.” Questionado sobre os investimentos que a CESL-Ásia está a fazer na área da agricultura em Portugal, António Trindade revelou algumas novidades. “Estamos a desenvolver no Monte do Pasto uma linha de carne sustentável. Nos próximos dois meses vamos começar a introduzir no mercado essa linha de produtos e vamos começar, precisamente, por Macau.” A CESL-Ásia promete ter ainda, este ano, um novo investimento na área agrícola “com parceiros internacionais, para que haja mais investimento estrangeiro para Portugal”, rematou António Trindade.
Andreia Sofia Silva SociedadeMonte do Pasto | Investimento da CESL-Ásia abre portas ao mercado chinês Decorreu ontem, em Lisboa, a cerimónia de apresentação do investimento de 37,5 milhões de euros que a CESL-Ásia fez com a aquisição do Monte do Pasto, um dos maiores produtores de gado bovino em Portugal. António Trindade, CEO da CESL-Ásia, não descarta a possibilidade de criação de porcos como porta de entrada para o mercado chinês e como resposta à crise gerada pela gripe suína [dropcap]O[/dropcap] secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, esteve ontem presente na cerimónia de apresentação do mais recente investimento de 37,5 milhões de euros realizado pela CESL-Ásia em Portugal na área da agricultura. A compra do Monte Pasto, herdade alentejana que tinha uma participação de 16 por cento do Novo Banco através de um fundo de capital de risco, vai permitir uma nova vida a um projecto agrícola de produção de gado bovino, que exporta cerca de 90 por cento daquilo que produz. Além da participação do Banco da China neste negócio, através de um acordo de cooperação estratégica assinado com a CESL-Ásia, o Novo Banco foi a entidade financiadora do projecto de reestruturação da dívida e recuperação da Monte do Pasto. Com o investimento da empresa de Macau, não só se permite a estabilidade financeira da empresa, que conta também com accionistas individuais, como se abre a porta a novos mercados, garantiu aos jornalistas António Trindade, CEO da CESL-Ásia. Além da produção de gado bovino, o Monte do Pasto pode vir a criar suínos, constituindo uma porta de entrada para o mercado chinês. “A decisão ainda não está tomada. A China consome 60 a 70 por cento de suínos do mundo e está a enfrentar uma peste suína africana muito grave”, frisou, admitindo que este cenário representa “uma oportunidade”. Ainda assim, “há muito para fazer, porque em Portugal não há explorações de suínos de grande tamanho”, apontou o empresário, que não soube apontar outros projectos específicos de desenvolvimento do Monte do Pasto a curto prazo. Ainda assim, António Trindade adiantou que “nos próximos quatro a cinco anos o Monte do Pasto vai gerar pelo menos entre 10 a 15 milhões de investimento”. A aquisição por parte da CESL-Ásia foi feita através das subsidiárias Focus Platform e Focus Agriculture. Até 2021, o objectivo da empresa, que, em Macau, opera também na área da construção civil, é aumentar o volume de negócios para cerca de 70 milhões de euros, com 550 funcionários, dos quais mais de 100 baseados em Portugal. “É, sem dúvida, o início de uma nova era no investimento de empresas privadas de Macau em prósperas empresas portuguesas. Cabe, também, à CESL-Ásia consolidar a estratégia de crescimento e o caminho para a excelência na nossa Plataforma de Macau para financiamento, gestão e operação de negócios na Grande Baía e nos países de língua portuguesa”, disse António Trindade. Assim, com o Monte do Pasto, “a CESL-Ásia quer desenvolver uma plataforma Portugal-Macau que potencie as produções existentes, permita o lançamento de novas actividades agrícolas e pecuárias sustentáveis e contribua para o desenvolvimento de toda a região do Alentejo e da economia portuguesa”, acrescentou. O objectivo da CESL-Ásia é ainda intensificar as exportações para os mercados de Macau e China e aproveitar as oportunidades a serem criadas pela plataforma de Macau para a cooperação social e económica entre China, Portugal e os países de língua portuguesa. Manter postos de trabalho O CEO do Novo Banco, António Ramalho, mostrou-se satisfeito com o facto do projecto do Monte do Pasto poder continuar com uma melhor saúde financeira. “Como financiadores, estamos muito satisfeitos pelo facto de estarmos perante uma empresa hoje saudável e muito importante para o ecossistema da região. Porque ela corresponde também a um conjunto, na cadeia de valor, de mais de cem produtores, um importante suporte para o desenvolvimento de todo o gado bovino na região”, disse. Tal constitui “uma prova de que o trabalho de reestruturação e renovação que foi encetado pelo banco foi bem sucedido e vimos isso não apenas como um ponto de chegada, mas como ponto de partida para novos investidores e novos negócios.” A proposta da CESL-Ásia foi a única apresentada. Aquando da venda do Monte do Pasto, o Novo Banco pretendia “manter os postos de trabalho e descobrir novos mercados para assegurar a exportação”, além de tornar o Monte do Pasto num projecto “aliciante para vir a ter um novo accionista de profundidade, como veio a ter”, explicou António Ramalho. Mais regadio em 2020 O Monte do Pasto está localizado no Alentejo, nas regiões de Cuba e Alvito, tendo uma proximidade com a barragem do Alqueva. Com 3700 hectares (que compreendem nove herdades) e um entreprise value na ordem dos 36 a 40 milhões de euros, o Monte do Pasto pretende ganhar uma nova dimensão nos próximos anos com a entrada da CESL-Ásia, conforme explicou Clara Moura Guedes, uma das accionistas e administradora-delegada do espaço. A entrada na China é, uma vez mais, uma forte possibilidade. “Vamos continuar (o projecto), mas seguramente que vamos diversificar e abrem-se mais perspectivas com esta ligação a novos mercados e produtos, nomeadamente a China.” Actualmente o Monte do Pasto é das empresas portuguesas com maior dimensão ao nível da produção e engorda de gado bovino, bem como da produção de rações agrícolas. Para o próximo ano está prevista o aproveitamento de mil hectares para regadio, o que irá aumentar o leque de produções. “Não temos regadios, mas (o Monte do Pasto) está dentro do perímetro da barragem do Alqueva, portanto, em princípio, no próximo ano, teremos mais mil hectares de regadio. Ainda não está definido (o aproveitamento) mas há imensas possibilidades para pastagens ou outro tipo de culturas. Não temos de nos limitar à agropecuária e está em causa a utilização racional de activos”, defendeu Clara Moura Guedes. O Monte do Pasto já opera de acordo com estudos de impacto ambiental efectuados. Clara Moura Guedes assegura que sempre foi feita uma produção animal de forma sustentável, apesar do intenso debate sobre o consumo de carne que tem surgido em Portugal e no mundo. “Há muita desinformação relativamente a esse tema porque a pecuária é um sistema integrado, não é retirar o efeito de vacas isoladamente do resto, porque as pastagens são sequestradoras de carbono e há um contributo muito grande para o ambiente em terrenos que não tem outra utilização e onde há risco de incêndios ou desertificação.” A administradora-delegada do Monte Pasto recorda que “o consumo de carne de bovino está a crescer a nível mundial e há cada vez mais procura de proteína em países com um PIB mais elevado”. “Há cada vez mais procura de proteína, na Europa há um decréscimo, mas há procura noutros países. É preciso é produzir de maneira sustentável e é isso que procuramos fazer, de maneira a que contribua para um melhor ambiente para nós”, concluiu. O Monte do Pasto começou a produzir gado bovino em 1981, tendo feito um investimento a nível tecnológico em 2015, depois de, dez anos antes, ter lançado uma unidade industrial de produção de rações. O ano passado, em que a empresa registou lucros na ordem dos 24 milhões de euros, foi dado o primeiro passo para a internacionalização do Monte do Pasto, com a abertura da empresa em Espanha.
Andreia Sofia Silva SociedadeMonte do Pasto | Investimento da CESL-Ásia abre portas ao mercado chinês Decorreu ontem, em Lisboa, a cerimónia de apresentação do investimento de 37,5 milhões de euros que a CESL-Ásia fez com a aquisição do Monte do Pasto, um dos maiores produtores de gado bovino em Portugal. António Trindade, CEO da CESL-Ásia, não descarta a possibilidade de criação de porcos como porta de entrada para o mercado chinês e como resposta à crise gerada pela gripe suína [dropcap]O[/dropcap] secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, esteve ontem presente na cerimónia de apresentação do mais recente investimento de 37,5 milhões de euros realizado pela CESL-Ásia em Portugal na área da agricultura. A compra do Monte Pasto, herdade alentejana que tinha uma participação de 16 por cento do Novo Banco através de um fundo de capital de risco, vai permitir uma nova vida a um projecto agrícola de produção de gado bovino, que exporta cerca de 90 por cento daquilo que produz. Além da participação do Banco da China neste negócio, através de um acordo de cooperação estratégica assinado com a CESL-Ásia, o Novo Banco foi a entidade financiadora do projecto de reestruturação da dívida e recuperação da Monte do Pasto. Com o investimento da empresa de Macau, não só se permite a estabilidade financeira da empresa, que conta também com accionistas individuais, como se abre a porta a novos mercados, garantiu aos jornalistas António Trindade, CEO da CESL-Ásia. Além da produção de gado bovino, o Monte do Pasto pode vir a criar suínos, constituindo uma porta de entrada para o mercado chinês. “A decisão ainda não está tomada. A China consome 60 a 70 por cento de suínos do mundo e está a enfrentar uma peste suína africana muito grave”, frisou, admitindo que este cenário representa “uma oportunidade”. Ainda assim, “há muito para fazer, porque em Portugal não há explorações de suínos de grande tamanho”, apontou o empresário, que não soube apontar outros projectos específicos de desenvolvimento do Monte do Pasto a curto prazo. Ainda assim, António Trindade adiantou que “nos próximos quatro a cinco anos o Monte do Pasto vai gerar pelo menos entre 10 a 15 milhões de investimento”. A aquisição por parte da CESL-Ásia foi feita através das subsidiárias Focus Platform e Focus Agriculture. Até 2021, o objectivo da empresa, que, em Macau, opera também na área da construção civil, é aumentar o volume de negócios para cerca de 70 milhões de euros, com 550 funcionários, dos quais mais de 100 baseados em Portugal. “É, sem dúvida, o início de uma nova era no investimento de empresas privadas de Macau em prósperas empresas portuguesas. Cabe, também, à CESL-Ásia consolidar a estratégia de crescimento e o caminho para a excelência na nossa Plataforma de Macau para financiamento, gestão e operação de negócios na Grande Baía e nos países de língua portuguesa”, disse António Trindade. Assim, com o Monte do Pasto, “a CESL-Ásia quer desenvolver uma plataforma Portugal-Macau que potencie as produções existentes, permita o lançamento de novas actividades agrícolas e pecuárias sustentáveis e contribua para o desenvolvimento de toda a região do Alentejo e da economia portuguesa”, acrescentou. O objectivo da CESL-Ásia é ainda intensificar as exportações para os mercados de Macau e China e aproveitar as oportunidades a serem criadas pela plataforma de Macau para a cooperação social e económica entre China, Portugal e os países de língua portuguesa. Manter postos de trabalho O CEO do Novo Banco, António Ramalho, mostrou-se satisfeito com o facto do projecto do Monte do Pasto poder continuar com uma melhor saúde financeira. “Como financiadores, estamos muito satisfeitos pelo facto de estarmos perante uma empresa hoje saudável e muito importante para o ecossistema da região. Porque ela corresponde também a um conjunto, na cadeia de valor, de mais de cem produtores, um importante suporte para o desenvolvimento de todo o gado bovino na região”, disse. Tal constitui “uma prova de que o trabalho de reestruturação e renovação que foi encetado pelo banco foi bem sucedido e vimos isso não apenas como um ponto de chegada, mas como ponto de partida para novos investidores e novos negócios.” A proposta da CESL-Ásia foi a única apresentada. Aquando da venda do Monte do Pasto, o Novo Banco pretendia “manter os postos de trabalho e descobrir novos mercados para assegurar a exportação”, além de tornar o Monte do Pasto num projecto “aliciante para vir a ter um novo accionista de profundidade, como veio a ter”, explicou António Ramalho. Mais regadio em 2020 O Monte do Pasto está localizado no Alentejo, nas regiões de Cuba e Alvito, tendo uma proximidade com a barragem do Alqueva. Com 3700 hectares (que compreendem nove herdades) e um entreprise value na ordem dos 36 a 40 milhões de euros, o Monte do Pasto pretende ganhar uma nova dimensão nos próximos anos com a entrada da CESL-Ásia, conforme explicou Clara Moura Guedes, uma das accionistas e administradora-delegada do espaço. A entrada na China é, uma vez mais, uma forte possibilidade. “Vamos continuar (o projecto), mas seguramente que vamos diversificar e abrem-se mais perspectivas com esta ligação a novos mercados e produtos, nomeadamente a China.” Actualmente o Monte do Pasto é das empresas portuguesas com maior dimensão ao nível da produção e engorda de gado bovino, bem como da produção de rações agrícolas. Para o próximo ano está prevista o aproveitamento de mil hectares para regadio, o que irá aumentar o leque de produções. “Não temos regadios, mas (o Monte do Pasto) está dentro do perímetro da barragem do Alqueva, portanto, em princípio, no próximo ano, teremos mais mil hectares de regadio. Ainda não está definido (o aproveitamento) mas há imensas possibilidades para pastagens ou outro tipo de culturas. Não temos de nos limitar à agropecuária e está em causa a utilização racional de activos”, defendeu Clara Moura Guedes. O Monte do Pasto já opera de acordo com estudos de impacto ambiental efectuados. Clara Moura Guedes assegura que sempre foi feita uma produção animal de forma sustentável, apesar do intenso debate sobre o consumo de carne que tem surgido em Portugal e no mundo. “Há muita desinformação relativamente a esse tema porque a pecuária é um sistema integrado, não é retirar o efeito de vacas isoladamente do resto, porque as pastagens são sequestradoras de carbono e há um contributo muito grande para o ambiente em terrenos que não tem outra utilização e onde há risco de incêndios ou desertificação.” A administradora-delegada do Monte Pasto recorda que “o consumo de carne de bovino está a crescer a nível mundial e há cada vez mais procura de proteína em países com um PIB mais elevado”. “Há cada vez mais procura de proteína, na Europa há um decréscimo, mas há procura noutros países. É preciso é produzir de maneira sustentável e é isso que procuramos fazer, de maneira a que contribua para um melhor ambiente para nós”, concluiu. O Monte do Pasto começou a produzir gado bovino em 1981, tendo feito um investimento a nível tecnológico em 2015, depois de, dez anos antes, ter lançado uma unidade industrial de produção de rações. O ano passado, em que a empresa registou lucros na ordem dos 24 milhões de euros, foi dado o primeiro passo para a internacionalização do Monte do Pasto, com a abertura da empresa em Espanha.
Hoje Macau SociedadeCólera | Cheoc Van pode ter sido contaminada com esgotos não tratados [dropcap]O[/dropcap] caso de cólera detectado na água da praia de Cheoc Van pode estar relacionado com o mau tratamento dos esgotos no território, alertou na sexta-feira o presidente da CESL Ásia, citado pelo Macau Daily Times. António Trindade, CEO da empresa de energia e ambiente local, suspeita que existe uma relação entre a recente análise positiva à bactéria e a falta de tratamento das águas dos esgotos que são descarregadas no mar. Segundo a publicação, o responsável da CESL afirmava em entrevista no início de 2019, que “mais de 80 por cento das águas do sistema de esgotos em Macau é despejada sem tratamento nas águas costeiras”. E terá lembrado agora que as autoridades sanitárias têm como confirmar ou despistar esta afirmação, bastando “analisar os germes do lixo recolhido ou dos esgotos tratados nas diversas estações da cidade”. Se compararem esses resultados com a estirpe encontrada na praia, na semana passada, vão saber de onde provém a contaminação. Mesmo que parte da água seja tratada antes de se proceder à descarga dos efluentes, esta poderá não estar livre de perigo, como entende António Trindade, já que Macau “continua hoje a aplicar níveis de segurança datados de 1992 para gerir e tratar os resíduos líquidos”. Esta “é uma situação de terceiro mundo” para um território que tem uma das “mais ricas economias do mundo” e “recebe dezenas de milhões de turistas a cada ano”, comentou ao Macau Daily Times, acrescentando que, “não podemos aceitar esses riscos”. Uma epidemia de cólera pode ser desencadeada através de contaminação da água ou de alimentos por parte de agentes infectados ou de fezes. A doença pode espalhar-se rapidamente em regiões com tratamento ineficaz de esgotos e de água potável, associadas a condições de higiene precária.
Andreia Sofia Silva SociedadeCESL-Ásia perde contrato público para gerir novo terminal [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]CESL-Ásia, através da sua empresa subsidiária FOCUS – Gestão, Operação e Manutenção de Instalações, SA, vai mesmo perder o contrato que lhe foi adjudicado pelo Governo para fazer a “prestação do serviço de manutenção das instalações do terminal marítimo de passageiros da Taipa”. Isto porque o Tribunal Administrativo (TA) considerou que o despacho proferido pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, no passado dia 26 de Abril, é para cumprir. Este despacho determina que a decisão do Tribunal de Última Instância (TUI), que pede a anulação do contrato, deve ser concretizada. Em Abril, a FOCUS – Gestão, Operação e Manutenção de Instalações, SA tentou suspender os efeitos do despacho assinado por Raimundo do Rosário através de um recurso para o Tribunal de Segunda Instância (TSI). Contudo, os juízes do TSI entenderam que “não é possível suspender a eficácia de um acto administrativo que determinou o cumprimento espontâneo de uma decisão judicial transitada em julgado”. A FOCUS tentou então novo recurso através do TA. Contudo, o tribunal considerou que “o acto que se pretende suspender não é recorrível, por não produzir efeitos externos” ao abrigo do Código de Processo Administrativo Contencioso. Além disso, foi considerado “ilegal o recurso contencioso”, pelo que é impossível suspender a eficácia do despacho assinado por Raimundo do Rosário. O processo diz respeito ao concurso público para a adjudicação dos serviços de manutenção do Terminal Marítimo da Taipa. Houve três empresas concorrentes para a prestação deste serviço, sendo que duas delas era a Focus – Gestão, Operação e Manutenção de Instalações e a CCCC Terceiro Macau Limitada, uma empresa estatal chinesa com inúmeros contratos no território. O contrato foi adjudicado à Focus e a CCCC requereu junto do Tribunal de Segunda Instância (TSI) a anulação da adjudicação, sendo que os juízes acabaram por decidir a favor desta empresa. A CCCC argumentou que, na avaliação da proposta da Focus, que obteve dez valores na classificação (o limite máximo era 16 valores), foi analisada a experiência de empresas subsidiárias (Focus Technical and Energy Services, Limited, Dafoo Facilities Management Limited e Dafoo Facility Management Limited” e não da empresa mãe. Os juízes entenderam que o Governo não cumpriu as regras do concurso público e que, por isso, deve ser feito um novo concurso
João Santos Filipe Manchete SociedadeJustiça | Tribunal diz que DSPA queria CESL Ásia fora de concurso público [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Tribunal de Última Instância (TUI) deu como provado que o Governo queria as empresas do consórcio CESL Ásia, Indaqua e Tsing Hua Tong Fang fora do “próximo concurso público” para a modernização da ETAR da Península de Macau, mas recusa a ideia que esse próximo concurso tenha sido o de Agosto de 2016, que resultou no diferendo com a Cesl Asia. É esta a leitura do TUI, que recusou a ideia que a Direcção de Serviços e Protecção Ambiental (DSPA) tivesse prejudicado a CESL Ásia e demonstrado má-fé no concurso de 2016 de atribuição da operação e manutenção da ETAR da Península de Macau. Em 2016, a DSPA atribuiu a operação e manutenção da ETAR ao consórcio BEWG-Waterleau, preterindo o consórcio CESL ÁSIA e Focus Aqua. As empresas que perderam levaram o caso para o tribunal e sustentaram que terá havido má-fé contra si, por terem revelado as incapacidades de funcionamento da ETAR, e por considerarem que os critérios do concurso foram feitos de forma a excluí-las. Confrontados com os factos, os juízes do TUI reconheceram que houve uma reunião entre as empresas CESL Ásia, Indaqua e Tsing Hua Tong Fang e um representante da DSPA, a 30 de Outubro de 2015, em que o Executivo pediu às companhias para não participarem no concurso público. Na base do pedido do Executivo esteve o facto da empresa Tong Fang ter participado no estudo de impacto ambiental da operação de melhoria da ETAR. Porém, com base num documento sobre a reunião, o tribunal entendeu que o concurso em causa era o “próximo concurso público dos trabalhos de melhoria da ETAR de Macau, que será associado aos serviços de operação e manutenção para diversos anos” e não o concurso de 2016, que tinha como objecto “apenas a operação e manutenção da ETAR”, apesar deste último concurso ter sido o imediatamente a seguir à reunião. Sem sustentação Sobre o facto das empresas CESL ÁSIA e Focus Aqua argumentarem que foram prejudicadas por se terem tornado incómodas, “após terem revelado a incapacidade da ETAR”, o tribunal considerou que não tinham razão, nem que isso possa ser prova de falta de boa-fé. “Trata-se da afirmação pessoal e subjectiva das próprias recorrentes, que não nos convence, até porque, tal como já foi dito, a Administração baixou, no concurso público de 2016, a exigência quanto à capacidade de tratamento de águias residuais”, é justificado. “Mesmo existindo incómodo [por parte do Governo], não é suficiente para fundamentar a pretensão das recorrentes”, é acrescentado.
João Santos Filipe Manchete SociedadeCESL Ásia perde recurso para anular concurso público A empresa de matriz portuguesa registou a segunda derrota nos tribunais da RAEM, num processo em que pretendia declarar inválido o concurso público de atribuição da operação e manutenção da ETAR de Macau [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] CESL Ásia perdeu o recurso no Tribunal de Segunda Instância para cancelar o concurso público que resultou na adjudicação da Operação e Manutenção da Estação de Tratamento de Águas Residuais da Península de Macau, ao Consórcio BEWG-WATERLEAU. Os juízes José Cândido de Pinho, Tong Hio Fong, Lai Kin Hong e Joaquim Teixeira de Sousa consideraram que não ficou provado que o Governo tenha violado “os princípios da igualdade, da imparcialidade e boa-fé, justiça e proporcionalidade”. A decisão foi tomada a 25 de Janeiro, depois de já ter havido uma primeira contestação, que o colectivo do Tribunal de Segunda Instância adoptou integralmente como a sua resposta ao novo recurso do consórcio composto pela CESL Ásia e Focus Aqua. O grande argumento da empresa de matriz portuguesa prendia-se com o facto dos critérios do concurso para a atribuição dos serviços de Operação e Manutenção da ETAR entre 2010 e 2016 terem sido alterados. No ano mais recente foram exigidos às empresas certos requisitos que a CESL Ásia considerou que “foram feitos à medida, quer para impedir a avaliação” da sua “experiência anterior [de 5 anos na mesma ETAR] e das suas sociedades subsidiárias”. Na sua defesa, a CESL Ásia argumentou que estas alterações criaram obstáculos para que a empresa se apresentasse a concurso “em condições de o ganhar”. Porém, tal como já tinha acontecido na primeira instância, o TSI limitou-se a citar a primeira decisão considerando que “a diferença das exigências, por comparação com o concurso de 2010 [vencido pela CESL Ásia] nada prova ou demonstra”. “É natural que, à medida que os conhecimentos e as técnicas vão evoluindo, numa área que se pode considerar relativamente recente, como é o tratamento de águas residuais, as exigências se vão tomando paulatinamente maiores e diversas”, é acrescentado na primeira decisão, citada pelo TSI. Por outro lado, foi defendido que a experiência não impediria a CESL Ásia de ser excluída do concurso, se esta tivesse participado no mesmo em consórcio com outra empresa, que permitisse cumprir os requisitos mínimos. Tribunal evoca separação de poderes Por outro lado, o TSI evoca a separação de poderes para recusar aceitar o recurso da CESL Ásia. Defendem-se os juízes, citando outros acórdãos, que apenas avaliam se houve erros grosseiros na tomada de decisão e não a natureza das mesmas. “Os tribunais administrativos não podem sindicar as decisões tomadas pela Administração no exercício de poderes discricionários, salvo nos casos extremos de erro grosseiro ou manifesto ou quando sejam infringidos os princípios gerais que limitam ou condicionam, de forma genérica, a discricionariedade administrativa, designadamente os princípios constitucionais, o princípio da imparcialidade, o princípio da igualdade, o princípio da proporcionalidade, o principio da boa-fé, etc”, é citado. A CESL Ásia foi a responsável pela gestão da ETAR de Macau entre 2011 e 2016, na altura consórcio com as empresas Indaqua e Tsing Hua Tong Fang. No último concurso [a CESL Ásia] participou apenas com a subsidiária Focus Aqua. O concurso acabaria por ter como vencedor consórcio BEWG-WATERLEAU, que conta com a participação da empresa Beijing Water Group.
Andreia Sofia Silva SociedadeTerminal Marítimo da Taipa | Governo acusado de violar normas na avaliação de propostas para concurso público [dropcap]O[/dropcap] Tribunal de Última Instância (TUI) considerou que o Governo violou as normas relativas à avaliação das propostas no concurso público para a “prestação do serviço de manutenção das instalações do terminal marítimo de passageiros da Taipa”, realizado em Agosto de 2016. Segundo o acórdão, havia três empresas concorrentes para a prestação deste serviço, sendo que duas delas era a Focus – Gestão, Operação e Manutenção de Instalações, ligada à CESL-Ásia, e a CCCC Terceiro Macau Limitada, uma empresa estatal chinesa com inúmeros contratos no território. O contrato foi adjudicado à Focus, tendo a CCCC pedido, junto do Tribunal de Segunda Instância (TSI), a anulação da adjudicação, sendo que os juízes acabaram por decidir a favor desta empresa. A CCCC argumentou que, na avaliação da proposta da Focus, que obteve dez valores na classificação (o limite máximo era 16 valores), foi analisada a experiência de empresas subsidiárias (Focus Technical and Energy Services, Limited, Dafoo Facilities Management Limited e Dafoo Facility Management Limited” e não da empresa mãe. O Chefe do Executivo, Chui Sai On, e a própria Focus decidiram recorrer da decisão, alegando que “em relação à experiência da empresa, a experiência de empresas subsidiárias dos concorrentes também pode ser valorada”. Contudo, o TUI não entendeu assim, uma vez que as cartas apresentadas pela Focus no concurso público “referem-se a outras entidades”. “De acordo com o programa do concurso, o que relevava era a experiência do concorrente, não de empresas que participassem no capital de concorrente ou de empresas em cujo capital social a concorrente participasse, nem de empresas subsidiárias, nem de empresas que pertencessem ao mesmo grupo”, pode ler-se. O TUI considerou, portanto, que “a Comissão de Avaliação das Propostas violou o Programa do Concurso ao valorizar experiência de empresas com personalidade jurídica diversa de concorrente ao concurso, a quem é imputada a mencionada experiência”. Desta forma, o TUI mantém a decisão do TSI, que “anulou o acto de adjudicação” à Focus, tendo absolvido a empresa da “instância quanto ao pedido de determinação da prática do acto administrativo formulado pela Companhia de CCCC Terceiro Macau Limitada, para a qual a forma processual não era a indicada”. Ao HM, António Trindade, CEO da CESL-Ásia, garantiu que o contrato foi assinado e já está a ser executado.
Hoje Macau SociedadeTUI rejeita apelo da CESL Ásia/Focus Aqua sobre ETAR de Macau [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Tribunal de Última Instância (TUI) rejeitou um recurso interposto pelas empresas CESL Ásia e Focus Aqua por erro na forma de processo. De acordo com um comunicado enviado ontem pelo TUI, o caso diz respeito ao concurso público para a prestação de serviços de operação e manutenção da Estação de Tratamento de Águas Residuais da Península de Macau, um processo lançado em Abril do ano passado. Segundo a mesma nota de imprensa, a proposta da CESL Ásia, em consórcio com Focus Aqua, foi excluída pela comissão de avaliação do concurso por não reunir os requisitos de qualificação exigidos no programa. Em Setembro último, os serviços foram adjudicados a outro concorrente, o consórcio BEWG-Waterleau. Inconformadas, a CESL Ásia e a Focus Aqua interpuseram recurso contencioso do despacho do secretário para os Transportes e Obras Públicas que aprovou o programa, o caderno de encargos e outras peças procedimentais para o concurso público em questão. O Tribunal de Segunda Instância (TSI) rejeitou o recurso por erro na forma de processo, pelo que as duas empresas decidiram apelar ao TUI, que conheceu do caso. A decisão da Última Instância manteve o entendimento do TSI. O TUI fez uma distinção entre normas regulamentares e actos administrativos, para concluir que “os textos que regulam o concurso dos autos e o respectivo caderno de encargos (…) aplicam-se a todos os concorrentes ao concurso público em causa, [pelo que] são normas regulamentares e não actos administrativos”. O tribunal faz ainda uma explicação sobre os meios para impugnar normas regulamentares, para indicar em seguida que houve “uma errada escolha da forma de processo”, dando razão ao TSI. “Por outro lado, esta decisão também não violou o princípio da tutela jurisdicional efectiva, porque este resultado foi causado pelas recorrentes por desconhecerem as regras processuais”, acrescenta o TUI, negando provimento ao recurso.
Hoje Macau BrevesTSI indefere providência cautelar da CESL-Ásia [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] concurso para a exploração da ETAR de Macau continua a correr, depois de o Tribunal de Segunda Instância ter indeferido, ontem, providência cautelar apresentada pela CESL-Ásia. De acordo com notícia da Rádio Macau, a empresa, actual concessionária e concorrente, avançou para tribunal e a acção levou à suspensão temporário do concurso, entretanto reaberto por interesse público e com esta decisão o Governo pode continuar a avaliar as propostas apresentadas por quatro empresas neste concurso público.
Andreia Sofia Silva ManchetePorto Interior | Governo salda dívida a empresa 14 anos depois A Macau Professional Services, empresa ligada à CESL-Ásia, recebeu finalmente as mais de 600 mil patacas que lhe eram devidas após o Governo ter suspendido o projecto de requalificação da zona da Barra e do Porto Interior. O último pagamento tinha sido feito em 2002 [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]ais vale tarde do que nunca. Este poderia ser o lema aplicado à história do “projecto de reformulação urbanística parcial do Porto Interior e da Barra”, que foi encomendado em 2001 pelo então Chefe do Executivo, Edmund Ho, à Macau Professional Services (MPS), ligada ao universo CESL-Ásia. Só ontem é que foi confirmado à empresa o último pagamento que a Administração tinha de fazer à empresa. O despacho publicado em Boletim Oficial (BO) revela que a MPS recebeu as mais de 626 mil patacas que ainda faltavam pagar, sendo que o último pagamento feito pelo Governo data de 2002 e está também orçado acima das 600 mil patacas. O contrato inicial tinha um valor superior a três milhões de patacas. Ao HM, o director da MPS, Miguel Campina, explicou que este despacho representa o fim de um projecto há muito morto e enterrado, e que visava requalificar zonas que anualmente são afectadas por cheias. “Suspenderam o projecto e nunca mais quiseram saber disso. Fomos insistindo no sentido de sermos ressarcidos de alguns prejuízos em que incorremos, por todo o trabalho que fizemos. É fechar o assunto do ponto de vista financeiro, porque as questões que existiam são hoje muito mais graves e a resolução que devia ter sido feita na altura infelizmente não aconteceu, a zona continua a degradar-se e vão destruindo aquilo tudo”, disse Campina. Afinal havia outra Miguel Campina recorda um projecto que foi abandonado em prol da construção do actual Sofitel Ponte 16, da Sociedade de Jogos de Macau (SJM). “A encomenda foi feita, o projecto foi desenvolvido, as conclusões foram apresentadas, mas chegou-se depois à conclusão que a intenção não era a de pôr aquilo em prática. A conclusão era ter um pretexto para tomar uma decisão que veio a ser tomada pelo Governo para entregar o aproveitamento da Ponte 16 directamente à Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM). Naquela altura não havia uma entidade que estivesse designada para fazer a exploração daquilo”, referiu. O director da MPS esteve directamente envolvido nessa intenção de requalificação que continua por concretizar. “Parte da estratégia que a STDM tinha pensado e posto em prática era segurar todos os terrenos em Macau para impedir a concorrência de se instalar. No Porto Interior, na sequência dos estudos que tinham sido feitos e nos quais eu tinha estado envolvido, de reformulação do Porto Interior e da Avenida Almeida Ribeiro, o Governo encomendou uma actualização desse estudo, o que aconteceu. Foram feitas uma série de propostas para que fosse feita a recuperação do Porto Interior e a zona da Barra. Mas tudo tinha um outro destino e uma outra razão. Ficou a dívida, que nunca tinha sido resolvida”, rematou.
Andreia Sofia Silva SociedadeIPOR | CESL-Ásia continua a ser um dos associados [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] CESL-Ásia mantém-se, afinal, como um dos associados do Instituto Português do Oriente (IPOR). O HM confirmou esta informação junto do próprio director do IPOR, João Laurentino Neves, que referiu que a empresa “se mantém como um dos associados e não formalizou a sua saída”. “Não lhe posso dizer se vai ou não sair, é uma decisão do próprio associado”, disse ainda Laurentino Neves. António Trindade, CEO da CESL-Ásia, referiu não ter informações sobre o assunto. O director do IPOR confirmou que a única saída de facto concretizada foi a do Banco Espírito Santo (BES, actual Novo Banco). O HM questionou o IPOR depois de ver que, um ano depois de noticiar a saída destes dois associados, os logótipos das empresas se mantém no website da entidade de ensino do português. Em Maio de 2015 o HM questionou António Trindade sobre o assunto, o qual se justificou com a saída da Somague do quadro accionista da CESL-Ásia. “Tínhamos uma pequena participação no IPOR, que foi correspondendo a uma indicação do então sócio maioritário da CESL-Ásia, a Somague, a quem tinha sido pedida a participação no IPOR. A CESL-ÁSIA deixou de ter raízes no IPOR em Portugal e o papel no IPOR deixou de fazer sentido”, disse o CEO na altura. João Laurentino Neves não confirmou quando é que o lugar deixado vago pelo antigo BES vai ser ocupado.