Apoios | Residentes que recorrem à Caritas aumentaram dez por cento

Há cada vez mais pessoas que recorrem à Caritas Macau para pedirem ajuda para comer. A organização acredita que a subida se deve ao facto de ter, neste momento, um serviço mais próximo da população que precisa. Mas ainda há quem tenha vergonha

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]ntre Janeiro e Julho deste ano, quase 2700 pessoas inscreveram-se no serviço de fornecimento temporário de alimentos da Caritas Macau. O número representa um aumento de dez por cento em relação ao período homólogo do ano passado, indicava ontem o canal chinês da Rádio Macau.

Para a organização, esta subida poderá ter que ver com o facto de terem sido alterados os pontos de distribuição dos bens alimentares. Estão agora mais perto das habitações públicas, o que facilita o acesso dos cidadãos que precisam deste tipo de ajuda.

Mok Lai San, coordenadora do serviço, falou à emissora das características das pessoas que procuram apoio para as refeições: os utentes enfrentam pressões económicas e são, por norma, pessoas com poucos recursos sociais e familiares.

Muitos indivíduos não têm apenas que lidar com problemas de natureza financeira, acrescentou a responsável, sem entrar em detalhes. Mas por terem outros dilemas que necessitam de intervenção, Mok Lai San garante que a Caritas Macau está atenta e avalia a situação em que se encontram. Se forem necessários outros recursos, os casos são encaminhados para serviços perto da área da residência, sendo as pessoas em causa incentivadas a procurarem ajuda.

A coordenadora do serviço de fornecimento temporário de alimentos diz também que há muitos utentes preocupados com a discriminação, que se sentem envergonhados por terem de recorrer à Caritas. Mok Lai San afiança que, para estes casos, existe uma solução: a instituição apoia igualmente quem opta por se deslocar aos serviços fora da comunidade a que pertence.

Consumo | Centros de explicações sem regras por escrito

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m terço dos centros de explicações do território não disponibiliza aos utentes o regulamento de admissão. A conclusão é do Conselho de Consumidores (CC). Em Macau, existem cerca de 300 centros de explicações com alvará válido, o que, para o CC, reflecte que existe “uma procura intensa” em relação aos serviços de explicações. Mas nem todos têm o cuidado de informar por escrito os consumidores acerca dos preços praticados e das formalidades de inscrição. “O regulamento de admissão serve de prova em caso de surgir litígio de consumo, dado que define previamente os direitos e deveres das partes da transacção”, sublinha o organismo. “Tendo em conta a diferenciação nas cláusulas de reembolso e de confirmação da reserva dos serviços de explicações”, o CC aconselha os centros a reforçarem a transparência das informações sobre os serviços prestados, nomeadamente sobre o âmbito e horário, o preçário e o reembolso.

Crime | Onda de burlas não pára

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Polícia Judiciária disse ontem que o número de casos de burlas telefónicas aumentou e, em 30 casos, os prejuízos foram de cinco milhões de patacas. “Recentemente houve um enorme pico no número de burlas telefónicas em Macau. Trinta casos foram registados com perdas de aproximadamente cinco milhões de patacas”, informou a PJ numa mensagem enviada aos residentes. Na mensagem, a polícia alertou que o ‘modus operandi’ dos burlões está a mudar e, além de se fazerem passar por agentes dos serviços de migração de Macau ou da China, dizem também ser da própria Judiciária. No início desta semana, a PJ tinha indicado que entre 20 de julho e o passado dia 6 tinha registado 2247 denúncias de cidadãos que se queixaram terem sido alvo de burlas. Destes, 30 transferiram o dinheiro exigido. Só entre sexta-feira e domingo foram feitas 257 denúncias, com oito casos de prejuízos que totalizaram 1,24 milhões de patacas. Apesar do elevado número de casos, a PJ só deteve ainda um suspeito, no passado dia 31.

 

9 Ago 2017

Cáritas | Paul Pun sem enfermeiros locais. Pedido auxílio ao Governo

A falta de enfermeiros habilitados já ocupa 80% dos lugares vagos da Cáritas. Contratações de fora são uma possibilidade mas são difíceis e demoram tempo. O Governo poderia dar uma ajuda, considera o responsável da instituição

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]desenvolvimento dos novos serviços da Cáritas em Macau encontram nos seus principais obstáculos a escassez de funcionários. O problema não se circunscreve às dificuldades na contratação de não residentes, mas tem também por base a demora na formação de quadros. A informação é dada por Paul Pun, secretário-geral da instituição.
O responsável adianta que, com a nova ronda de recrutamento de enfermeiros realizada pelo Governo, a Cáritas perdeu grande parte do pessoal de enfermagem, contando com uma baixa em 80%. Se a diminuição se continuar a constatar, a instituição considera recorrer a mão-de-obra estrangeira para conseguir preencher as vagas que ficam em aberto. No entanto, segundo Paul Pun, o tempo de formação para um não residente é muito maior do que para os locais.

Mais necessidades, menos pessoal

Contactado pelo HM, Paul Pun revelou que, no ano passado previa a perda de 60% do pessoal mas tal chegou efectivamente aos 80%. O responsável refere que esta situação não é nova e que já há quatro anos a Cáritas passou por uma fase idêntica.
No entanto, frisa, os últimos dois anos vão de mal a pior. Uma das razões apontadas é ainda o envelhecimento da população. “O Governo está a contratar cada vez mais pessoas, mas a necessidade da sociedade também tem aumentado. Não temos pessoas suficientes para preencher as vagas nem responder à procura”, afirma. “Para formar um enfermeiro a partir de um trabalhador estrangeiro o processo tem início com o desempenho de funções enquanto assistente clínico.” Outra dificuldade é a língua, não sendo falada nem entendida por muitos dos estrangeiros no território.

Querem o Governo

Este ano teve início um novo processo de formação para a instituição, mas as esperanças são poucas. Paul Pun sabe que os formandos não irão permanecer muito tempo na Cáritas e darão prioridade a uma oportunidade de trabalho no Governo, onde os altos salários são um chamariz muito forte e fonte de expectativa para muitos pais que querem ver os filhos na Função Pública. O responsável deixa a sugestão ao Executivo de considerar enviar alguns dos seus quadros de enfermeiros experientes em auxílio de instituições como a Cáritas.


* por Angela Ka

21 Jul 2016

Caritas LifeHope | Mais de cem a ligar para linha de apoio

Num ano de existência a linha de apoio da Cáritas para os não falantes de Chinês recebeu 164 pedidos de ajuda. Casos de potenciais suicídios, violência doméstica e abuso sexual de crianças foram os mais referidos

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]ntre Julho do ano passado e Março deste ano um total de 164 pessoas pediram ajuda à Cáritas através da linha telefónica de apoio intitulada Caritas LifeHope, destinada apenas aos residentes e não residentes que não dominam o Chinês.
“Vemos que há poucos serviços de apoio para a comunidade não falante de Chinês. Neste momento a linha de apoio está a trabalhar algumas horas por dia e temos alguns voluntários. É bom ter este serviço, é muito importante”, disse Paul Pun, secretário-geral da organização, ao HM.
Os casos mais comuns ouvidos pelos voluntários estão relacionados com pessoas que vivem sozinhas ou que sofrem de doenças mentais. Há ainda casos de pessoas que pedem aconselhamento por estarem a sofrer de uma doença terminal, sem esquecer aqueles que falam em suicídio. Contudo, Paul Pun referiu também que muitas das chamadas remetem para problemas familiares, como abuso sexual infantil e violência doméstica.
“Também recebemos chamadas de pessoas que vivem à distância, mas o nosso foco vai para aqueles que vivem em Macau”, disse Paul Pun.
Um ano de existência da Caritas LifeHope serviu para mostrar, segundo Paul Pun, que o Governo necessita fazer uma aposta no tipo de serviços do foro psicológico, médico e social para os não residentes e para quem não fala a língua principal de Macau.
“A criação desta linha de apoio é apenas um passo para reforçar os serviços de apoio para aqueles que não falam Chinês. Teremos de compilar os casos e recolher mais dados e precisamos de partilhar estas informações com a sociedade. Então aí o Governo terá conhecimento dos casos e terá maior consciência das medidas a implementar para as comunidades que não falam o Chinês”, explicou.

Escassos recursos

No segundo ano de existência será difícil expandir a área de actuação da Caritas LifeHope, dada a falta de recursos humanos que estejam dispostos a trabalhar neste serviço.
“Não podemos expandir a linha de apoio neste momento, precisamos de um bom número de voluntários primeiro. Sem eles não podemos expandir o serviço. Neste momento trabalhamos apenas com oito voluntários e precisamos de chegar aos 15”, rematou o secretário-geral da Cáritas.
Para além desta linha, a organização abriu o ano passado o Centro de Recursos Educativos para a Vida, que funciona na Ilha Verde e que pretende dar resposta aos casos de pessoas que sofrem de solidão ou de outro tipo de problemas.

13 Abr 2016

Obra de Céu Azul | Caritas já tem instalações prontas a receber alunos

A Escola da Cáritas vai ser a primeira a ter instalações novas, no âmbito do projecto Céu Azul. A direcção diz que não podia estar mais contente, até porque o novo espaço vem colmatar algumas falhas do antigo

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s novas instalações educativas para a Escola da Cáritas de Macau já estão prontas, apesar de só estarem operacionais em Setembro de 2016.
“As novas instalações que o Governo nos atribuiu no projecto Céu Azul estão prontas para nos receber já no próximo ano lectivo. Neste momento funcionam apenas como centro de adaptação a estudantes que por uma razão ou outra foram expulsos das suas escolas”, explicou ao HM Cheung Shek Chiu, director da escola da associação.
Devido ao baixo número de alunos a ocupar as instalações a Direcção para os Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) considerou ser “mais útil” atribuir estas instalações à escola, que precisa ainda de mais instalações sem barreiras.
“Neste momento a única coisa que é preciso é aumentar o número de instalações adaptadas para os nossos alunos, que são todos alunos com necessidades especiais”, explicou o responsável.
Dentro de um mês, conta, espera-se que tudo esteja pronto e o entusiasmo não podia ser maior. “Quando soubemos que éramos uma das escolas escolhidas pelo Governo ficámos todos muito sensibilizados”, disse Ao Ieong, professora de ensino especial.
Actualmente, conta, a escola e os seus trabalhadores enfrentam muitas dificuldades. “Temos ao todo 64 crianças em sete turmas e a falta de espaço é uma enorme batalha nossa. Até as crianças ficaram emocionadas por saber que vão ter um espaço com ar livre para estar”, relatou.
A contar com uma equipa de docentes e técnicos, como terapeutas da fala, fisioterapeutas e oferecendo ainda aulas de musicoterapia, a docente explica que a nova escola permitirá fazer evoluir o tipo de actividades disponíveis para os alunos.
Com instalações nos NAPE, a transferência para a Taipa é aplaudida. “Vamos finalmente sair da proximidade dos casinos, algo que é prejudicial para os alunos”, explica o director.

Tudo muito rápido

Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, indicou esta semana que, até ao momento, em todas as abordagens do seu gabinete às escolas – sem indicar quantas –, apenas uma escola recusou aderir ao projecto Céu Azul.
“Não sei bem qual a situação da escola que recusou, mas não estranho que as pessoas – incluindo os directores dessa instituição – estejam a reagir assim. Temos de perceber que isto aconteceu tudo muito rápido, um dia o Secretário visitou uma escola e lançou este plano. As coisas feitas de forma muito rápida podem causar estranheza. O efeito surpresa é muito grande, portanto é normal que as pessoas estejam a estranhar”, justificou Cheung Shek Chiu.
Depois de sete mudanças de instalações, a Escola da Cáritas espera agora poder “pousar definitivamente”. “As altas rendas fizeram com que, ao longo dos anos, tivéssemos de mudar sempre de um lado para o outro. Neste momento estas instalações são muito pequenas para o número de crianças e, para piorar, temos de dividir o espaço com outra instituição aqui ao lado. Esta escola vem mudar isso, finalmente”, remata a docente.

11 Dez 2015

Linha de Prevenção da Cáritas salva vidas há mais de 30 anos

Tem mais de 30 anos. Toca muitas vezes por dia e do outro lado da linha nada mais surge do que medo, angústia e desespero. Em anonimato, mais de 80 voluntários dão o seu tempo por aqueles que querem desistir. Paul Pun guiou-nos naquele que é o trabalho diário da equipa “Esperança na Vida”

[dropcap style=’circle’]“C[/dropcap]ada telefonema que atendemos é uma vida que salvamos”. É desta forma que Paul Pun, Secretário-geral da Cáritas de Macau começa a nossa visita guiada a um dos projectos mais antigos: a linha de prevenção do suicídio, “Esperança na Vida”.
“Esta linha de apoio festeja agora 31 anos de existência. No início funcionava apenas durante 11 horas por dia. Tínhamos uma equipa de alguns voluntários e seis funcionários contratados. Quando tivemos pernas para crescer, fizemo-lo e agora somos 80 voluntários – só para a linha chinesa – com 10 funcionários contratados a funcionar 24 sob 24 horas. O ano passado lançámos a linha em inglês que conta com quatro voluntários, todos falam inglês e dois deles também falam português”, explica.
O local, esse, “é preferível manter em segredo”, assim como o nome de qualquer voluntário. “Isto funciona de forma mundial. Nenhum dos voluntários diz o seu nome, ou dá qualquer informação pessoal, cada um de nós é um número e é só por esse número que a pessoa que liga – no caso de ligar mais do que uma vez – poderá requerer a mesma pessoa”, esclarece, corrigindo-se, “quer dizer, há uma coisa que os voluntários podem dizer, mas apenas para orientação do nosso utente, que é o turno em que está a trabalhar”. Este sistema permite à pessoa que liga pedir para voltar a falar com o mesmo voluntário, estando ele já a par da sua história. 17815P2T1
“No ano passado a linha de prevenção em língua chinesa recebeu mais de 17 mil chamadas”, indica.
Do outro lado da linha está uma equipa pronta a perceber o problema, a conversar mas, principalmente, a ouvir. “Não é qualquer pessoa que pode ser voluntário para a linha de prevenção. Pensarmos que temos formação para isso, por sermos enfermeiros, assistentes sociais ou outros profissionais não nos torna aptos para prestar este tipo de trabalho de ajuda. Achar que queremos ajudar não é suficiente. Aqui não é o mesmo que ir a casa das pessoas, olhá-las frente a frente. Não. Todos os nossos voluntários receberam formação. Agora os novos, da linha de apoio em língua inglesa receberam formação com outros voluntários de Hong Kong. Aqui o que é preciso é saber ouvir, só isso: saber ouvir. É o mais importante”, relata.

Saídas de emergência

Ainda não existia a linha inglesa quando Jo Hin ligou para a única que funcionava, as discussões e os maus tratos que recebia da mãe tinham chegado ao limite e o suicídio era a única saída que a jovem de 17 anos conseguia ver. “Ligou-nos com muita infelicidade na voz. Estava cansada dos maus tratos, tinha decidido matar-se com uma tesoura. Sentia-se perdida, não sabia o que fazer”, relembra Paul Pun. Durante a conversa o voluntário percebeu que este era um dos casos em que a equipa de trabalho teria de ir ao encontro do utente. “A opção de irmos ao encontro das pessoas é sempre a última, só quando percebemos que só há essa solução, e, também, nunca são enviados voluntários, só os trabalhadores”, anota o Secretário-geral, indicando ainda que no ano passado, entre 17 mil pedidos de ajuda, foi necessário ir ao encontro de 41 casos.
Jo Hin contou ao voluntário que estava perto do antigo tribunal. “Como só há um não foi nada difícil descobrir e ir até lá”, relembra. Em pouco minutos a equipa estava junto da jovem que ao final de “uma hora de conversa” ficou mais calma. “Neste caso especifico, a jovem contou-nos todos os maus tratos que recebia da mãe, mas também nos falou da boa relação que tinha com a avó. Esse foi o nosso ponto chave. Falámos no desgosto que seria a avó perder a própria neta”, conta, sublinhando a necessidade de mostrar sempre o lado positivo que existe em cada situação.
“São pequenas frases ou até uma palavra que pode mudar o estado de espírito da pessoa e, claro, a sua decisão”, remata. O caso de Ip Fong, uma mulher na casa dos 40, é sinal disso mesmo. Ip sentia-se profundamente infeliz, durante muito tempo. “Nesta idade é comum termos um trabalho, família, ter dinheiro e algumas economias”, anota Paul Pun. A verdade é que Ip Fong tinha tudo isso, mas ainda assim tudo parecia muito vazio na sua vida. “Esta mulher sentia-se inútil, não se sentia integrada na sociedade, não sentia que era um membro importante para a comunidade, fosse qual fosse a sua função. Sentia-se invisível e por isso, não percebia porque tinha de continuar a viver”, recorda.
Uma vez mais, depois de um telefonema preocupante, conta, a equipa saiu à rua e decidiu combinar um encontro com a mulher antes desta tomar qualquer decisão. “Combinámos com ela na Igreja da Nossa Senhora do Carmo e ela lá estava”, relembra. A conversa durou “mais ou menos” uma hora e em todo o momento Ip esteve cabisbaixa. “Porque é que se olha também como um ser invisível?”, foi a pergunta feita pelo trabalhador que despertou a atenção da mulher. “Ainda hoje me emociono quando conto a história desta mulher. Foi automático, quando lhe fizemos aquela pergunta ela olhou para nós e percebeu. Percebeu a importância que cada um de nós tem no seu próprio bem-estar. Mesmo que a sociedade não a quisesse, mesmo que ela fosse invisível, porque terá ela de se olhar e ver como tal? Se ela mudar, a sociedade muda”, argumenta. Depois de alguns encontros, Ip Fong é agora uma mulher coesa e estruturada, membro da comunidade de Macau.

Maiores causas

Relacionar a indústria do Jogo ao número de tentativas de suicídio é um erro e quem o diz é o próprio Paul Pun. “Não, não é o Jogo a maior causa que leva as pessoas a ligarem para aqui, a verdade é que o motivo que mais faz tocar o telefone é o facto das pessoas se sentirem como parte separada da sociedade. Sentem que são inúteis, como se fossem invisíveis”, explica, indicando que este motivo é o mais apresentado na linha chinesa.
Relativamente à linha de língua inglesa, o Secretário-geral indica os problemas com a entidade patronal como o motivo mais apresentado. “Estamos a funcionar desde o dia 22 de Junho, num regime de quatro horas diárias [das 10 às 14 horas]. A primeira chamada que recebemos foi logo no dia 24 de Junho e temos recebido uma chamada por dia. De várias nacionalidades as pessoas queixam-se maioritariamente de problemas com a entidade patronal”, conta.
Jason Miry, natural das Filipinas, é uma das pessoas que já usufruiu da nova linha de prevenção da Cáritas. Jasom sofreu uma lesão nas costas que o impossibilita de trabalhar, mas isto não passa de uma desculpa para o patrão do filipino. “Ele ligou-nos muito perturbado com a situação, não aguentava mais. Tinha dores e era obrigado a trabalhar, caso não o fizesse era despedido”, explica Paul Pun, rematando que “há muitas situações que deixam as pessoas a pensar que não têm saída”.
Pouco mais de um mês depois da linha inglesa estar disponível, foram muitos os telefonemas recebidos. “Portugueses, filipinos e até indianos” são algumas das nacionalidades abrangidas, mas nem todos pensam no suicídio. “É preciso fazer essa separação. Muitas chamadas que recebemos são de pessoas que têm dúvidas sobre determinados assuntos, por exemplo sobre a homossexualidade. Querem conversar, apresentar as suas dúvidas, perceber o que devem pensar ou não. Nem todos os telefonemas se resumem a um ‘quero matar-me’. A linha inglesa está com uma média de um ou dois telefonemas por dias, naquelas quatro horas, mas apenas quatro telefonemas mostraram vontade de praticar o suicídio”, clarifica.

Números explosivos

Iong Si, um homem com mais de 50 anos, ligou para a linha de apoio em profundo desiquilíbrio. Estava desesperado e queria pôr termo à vida. Para isso, comprou uma garrafa de gás e estava numa loja, provocar uma explosão era a sua intenção. “Neste caso tivemos de ir no imediato, não era só a vida daquela pessoa que estava em causa, mas sim a segurança de terceiros. Tudo acabou bem, felizmente”, relembra. Mas nem sempre corre, e essa é uma verdade que a equipa não pode esquecer. “Nunca perdemos ninguém. Já encontrámos pessoas em situações de estados inconscientes ou quase”, indica.
Segundo os dados oficiais mais recentes dos Serviços de Saúde, que dizem respeito ao ano de 2013, a taxa global de suicídio em Macau correspondia a 11,5 por cada 110 mil habitantes, tendo o território registado 68 casos. Problemas de depressão, emocionais, financeiros, relacionados com o Jogo ou doença foram as principais razões apontadas como motivo de suicídio.
Há 30 anos a ouvir as pessoas, a linha de apoio vê o seu trabalho reforçado com o recente projecto Centro de Recursos de Educação para a Vida. Um espaço que vem prestar apoio a pessoas que pensam ou já tentaram o suicídio, oferecendo-lhes workshops, palestras e outras actividades.

*De forma a salvaguardar a identidade dos utentes, todos os nomes acima referidos são fictícios.

17 Ago 2015