Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteANIMA | Zoe Tang eleita presidente da associação para os próximos dois anos Billy Chan está de saída do cargo de presidente não executivo da ANIMA após dois anos de mandato marcados por alguns conflitos internos. Sem conseguir reunir consensos, Billy Chan passou a testemunho a Zoe Tang, que fala da “pior situação” financeira de sempre da ANIMA devido à situação pandémica “A ANIMA é a minha segunda casa”. É desta forma que Zoe Tang fala ao HM do novo compromisso que estabeleceu com a associação de defesa dos direitos dos animais que conseguiu manter o seu legado desde a saída de Albano Martins, hoje presidente honorário. As eleições para os novos órgãos dirigentes da ANIMA decorreram no passado domingo e resultaram na eleição de Zoe Tang como presidente não executiva, assinalando a saída de Billy Chan do cargo. “Trabalho na ANIMA há mais de dez anos e espero continuar a dinamizar o objectivo da criação da ANIMA, para que continuemos a providenciar serviços para os animais de rua com a mesma filosofia [do início do projecto]. Não apenas eu, mas os candidatos da lista que estão na minha equipa, sendo que alguns colegas trabalham também na ANIMA há muitos anos”, apontou. Para já, a missão da lista eleita é desenvolver “campanhas específicas e actividades sociais ou culturais, com o compromisso de providenciar tratamentos adequados que preservem a dignidade dos animais abandonados”. Para os cães e gatos abandonados, a ANIMA quer continuar a disponibilizar serviços de veterinário. Zoe Tang diz-se disposta a continuar o trabalho de muitos anos apesar dos desafios que a esperam. “Nas eleições de 2020/2021, assumi a posição de CEO e vice-presidente, o que não é um trabalho fácil. Por vezes, trabalhei mais de 20 horas diárias a tratar de assuntos relacionados com a ANIMA. Mas, felizmente, esse trabalho sempre teve o apoio da minha equipa”, assumiu. A associação depara-se com severas dificuldades financeiras, à semelhança de outras associações de defesa dos direitos dos animais. Encontrar dinheiro para as actividades diárias continua a ser um dos grandes desafios. “O apoio da nossa sociedade e o financiamento das operações, sobretudo para pagar comida para os animais, despesas médicas e manutenção do canil e gatil são os nossos grandes desafios. Com o desenvolvimento da pandemia, não apenas nós, mas todos os negócios enfrentam as mesmas difíceis questões.” O financiamento dos casinos, grande apoio para muitas actividades de cariz social, também diminuiu. “As doações baixaram de 400 ou 300 mil patacas para apenas 80 mil patacas por casino e no ano passado nem todos os casinos fizeram donativos. Felizmente, recebemos 70 por cento das cinco milhões de patacas, ou seja, 3.5 milhões, da Fundação Macau (FM), há duas semanas, o que vai permitir pagar as nossas dívidas de Janeiro que são, aproximadamente, de 1.6 milhões de patacas. São despesas relacionadas com veterinários, salários de dois meses dos funcionários e fornecimento de comida para os animais.” A ocorrência de um novo surto veio piorar a situação, já de si débil. “Os subsídios da FM de cinco milhões de patacas não são suficientes para a ANIMA se manter este ano. O nosso orçamento para 2022 é de cerca de 8.8 milhões de patacas. A nossa situação financeira nunca foi tão má, e estes três anos têm sido difíceis para todos nós porque não paramos de trabalhar para salvar animais.” Zoe Tang recorda que, no início deste ano, chegou a ser anunciado que a ANIMA ia deixar de resgatar animais abandonados na rua devido a dificuldades financeiras, mas um mês depois retomaram o trabalho habitual. “Não temos escolha”, confessa. Terreno à espera Questionada sobre a concessão do terreno que a ANIMA ocupa na zona do Pac On, um dossier que se arrasta há muito tempo, a presidente não-executiva revela outra situação de difícil resolução. “Estamos à espera da concessão definitiva, mas temos uma área com cães que deve ser destruída antes que o processo avance. Temos nesse local cerca de 33 cães e, se não encontrarmos um sítio para a sua deslocação, ou se não pudermos pagar por um terceiro abrigo, o processo não irá para a frente. O Governo sabe disso”, frisou Zoe Tang. Para os próximos meses, a ANIMA vai continuar a apostar nos mesmos mecanismos de recolha de fundos, de sócios ou adoptantes. A pandemia originou o cancelamento de muitas actividades. “Acredito que a ANIMA vai ficar numa melhor situação depois da pandemia, mas agora enfrentamos uma situação muito séria. Apelamos a todas as pessoas que nos ajudem com os custos operacionais”, rematou. A aposta de Zoe Tang à frente da associação passa, acima de tudo, por mais acções educativas de consciencialização sobre os direitos dos animais. Além disso, é esperada “uma solução que possa reduzir o número de cães e gatos abatidos pelo Canil Municipal”, tendo em conta que a ANIMA sempre trabalhou de perto com o Instituto para os Assuntos Municipais. “Temos feito vistorias às casas dos candidatos que querem adoptar um animal do Canil Municipal, para garantir que a casa é segura o suficiente para receber um novo animal e para aconselhar o adoptante nos cuidados a ter. A adopção suave é uma das muitas soluções para as quais a ANIMA tem ajudado.” Actualmente, a associação tem à sua guarda cerca de 400 cães e 300 gatos. “Estes números vão manter-se inalterados por muito tempo, pois a seguir a uma adopção há outro animal que precisa ser resgatado. Temos ainda mais de 500 cães e gatos abrangidos pelo Programa Especial de Protecção Animal. São animais que vivem fora do nosso abrigo, na rua ou em estaleiros, mas que estão sob responsabilidade de voluntários.” Mesmo recebendo comida e tratamentos, cabe à ANIMA financiar estes cuidados. “Reformas eram necessárias”, diz Billy Chan Ao fim de um mandato de dois anos, Billy Chan está de saída do cargo de presidente não executivo da ANIMA, sendo substituído por Zoe Tang, que até então liderava a comissão executiva da associação de defesa dos direitos dos animais. Ao HM, Billy Chan fala em alguns problemas internos. “Houve muitos acontecimentos e tempos desafiantes na ANIMA nos últimos dois anos. As reformas eram necessárias para manter a continuação do trabalho e permitir o desenvolvimento sustentável da associação.” Além disso, “ocorreram conflitos entre membros da equipa”. “Diria que não fui bem-sucedido a convencer os membros da direcção mais seniores, incluindo Albano [Martins], destas mudanças. Disponibilizei-me como voluntário para a direcção, incluindo outros voluntários, mas não consegui um consenso. Não fui tido em conta para este novo mandato”, adiantou. Ao HM, Albano Martins confirma a existência de problemas internos. “Propus Zoe Tang como presidente. O mandato terminou no final de 2021 e as coisas foram-se arrastando até às novas eleições. O Billy sairia porque era vice-presidente há muitos anos, mas fez questão de ser presidente. Poucas reuniões de direcção foram realizadas, havia uma comissão executiva para as decisões não serem bloqueadas.” “Esperava que o Billy apresentasse uma lista de consenso, mas pelos vistos ele nem contactou os colegas. Nos últimos meses senti que havia uma espécie de atrito, porque o Billy Chan, que é não executivo, queria começar a interferir na vida da comissão executiva. É ainda meu dever fomentar o aparecimento de uma lista, mas as pessoas não queriam trabalhar com ele. Duas trabalhadoras que eram membros da comissão executiva pediram a demissão em Junho, porque as interferências dele levantaram muitos problemas e as pessoas não se sentiam confortáveis”, acrescentou. FM dá 5 milhões Mesmo que a Fundação Macau (FM) tenha atribuído um subsídio para este ano no valor de cinco milhões de patacas, a vida financeira da ANIMA continua a não ser fácil. “A tranche do ano passado, de 500 mil patacas, só foi entregue em Maio [deste ano], ou seja, muito tarde. A ANIMA foi acumulando muitas dívidas e as pessoas sentem muito stress. Uma lista única é importante, mas o Billy não fez contactos. Ele não está a par das questões da ANIMA, que são muito complexas.” Sobre a continuação do trabalho com Zoe Tang, Albano Martins fala de uma “boa solução”, mas lamenta que “no final dos últimos meses [do mandato] houvesse tentativas de controlo da parte executiva por uma pessoa que não era da área executiva”. A associação tem agora na direcção membros que são trabalhadores da ANIMA, o que permite garantir a fiscalização do trabalho feito pela restante equipa. Questionado sobre a situação da ANIMA com o panorama de surto pandémico, Albano Martins mostra-se apreensivo. “A situação vai piorar. Se houver trabalhadores infectados, quem vai tomar conta dos animais? Pela política de zero casos do Governo, as pessoas são enviadas para casa. É o Instituto para os Assuntos Municipais que vai fazer esse trabalho? É preciso bom senso em tudo isto”, rematou.
João Santos Filipe Manchete SociedadeAnima | Dificuldades financeiras levam à suspensão de resgate de animais Com cerca de 700 animais nos abrigos e dívidas de 2,4 milhões de patacas, a associação está a promover uma nova campanha para aumentar as doações financeiras e adopções As grandes dificuldades financeiras levaram a Anima – Sociedade Protectora dos Animais de Macau a suspender praticamente o serviço de resgate de animais. Em causa, está uma redução muito significativa dos apoios recebidos nos últimos anos do sector privado, devido aos efeitos da pandemia. Segundo a informação divulgada pela associação, no final de Janeiro havia uma dívida acumulada de 2,4 milhões de patacas, restando em caixa 70 mil patacas. “Sabemos que muitas empresas estão com dificuldades e não nos podem apoiar como acontecia antes. As empresas ainda nos apoiam, com doações e voluntários, mas há uma grande diferença”, explicou Billy Chan, presidente da Anima, ao HM. “As dificuldades das empresas prolongam-se há dois anos e é natural que quem nos apoia não o consiga fazer como no passado. E isso nota-se a nível das nossas finanças”, acrescentou. As dívidas acumuladas estão relacionadas com a comida para os animais resgatados, despesas com veterinários e até salários dos funcionários dos abrigos. Perante este cenário, a Anima teve de optar por suspender o serviço de resgate de animais. Segundo os dados da associação, só no ano passado foram resgatados 197 gatos, 128 cães e 41 hamsters, coelhos, chinchilas, tartarugas, pássaros, entre outros. Contudo, o número de animais acumulados nos abrigos torna-se incomportável. “Temos 700 animais acumulados nos nossos abrigos. O número é muito superior à nossa capacidade, os abrigos estão cheios e isso consome os nossos recursos muito rapidamente, quer seja ao nível de dinheiro como de tempo”, afirmou Billy Chan. “O assunto não é novo. Mas está a ficar pior, e a redução do financiamento torna tudo mais grave”, vincou. Nova campanha Para tentar reduzir o número de animais nos abrigos, a Anima lançou no mês passado uma campanha para aumentar as adopções e também pedir mais financiamento junto da população. Segundo o presidente da associação, uma das grandes prioridades é aumentar o número de adopções, para também permitir que se salvem mais animais. Quanto mais animais deixarem o abrigo, mais vagas haverá para que outros sejam resgatados. Para Billy Chan, os primeiros resultados foram animadores: “Acho que nos primeiros dias as pessoas se têm envolvido na campanha e mostram que não querem que a Anima encerre”, reconheceu. Contudo, realçou que ainda se está muito longe de encontrar uma solução para o problema. Quanto ao financiamento público, e através da Fundação Macau, o presidente da Anima realçou que tem sido cumprido. “Nos últimos dois anos cumpriram sempre e ajudaram-nos. Foi muito importante. Esperamos que a situação se mantenha neste ano, caso contrário os nossos problemas vão ser muito maiores”, reconheceu.
Andreia Sofia Silva EntrevistaBilly Chan, presidente da ANIMA: “Ter patrocínios vai ser cada vez mais difícil” Com a saída de Albano Martins da presidência da ANIMA, Billy Chan, engenheiro civil, assume agora as rédeas da associação de defesa dos direitos dos animais. Até ao final do ano a ANIMA precisa de 1.5 milhões de patacas para se manter à tona, mas Billy Chan mantém um discurso optimista em relação à obtenção de apoios. O novo presidente da ANIMA quer promover a cooperação com outras associações para que juntos possam dialogar melhor com o Governo [dropcap]C[/dropcap]omo nasceu a sua paixão pelos animais? Há cerca de 12 ou 13 anos recebi um e-mail a pedir ajuda por causa de um cão que não conseguia andar. Senti uma mudança porque nunca tinha recebido nada do género, nem por parte de amigos. Fiquei curioso e liguei a um amigo que é fisioterapeuta, e naquela altura fomos a casa da pessoa que me pediu ajuda e descobrimos que tinha entre 10 a 20 cães em casa. Estava tudo uma confusão e os animais estavam muito magros. Nessa noite fizemos um tratamento ao animal. Repetimos o tratamento durante cinco noites e o dono depois disse-nos que o cão já conseguia andar. Senti-me muito bem com isso. Aí percebi que há pessoas que amam mesmo os seus animais. Comecei a trabalhar com estas pessoas e a ajudá-los, e eram pessoas que faziam parte da direcção da ANIMA. Foi a partir daí que decidi começar a ajudá-los e a trabalhar com eles. Descobri que é uma coisa com muito significado e agora tenho a oportunidade de liderar estes assuntos. A ANIMA não foi uma coisa que apareceu de repente. Mas porque decidiu ter funções de gestão na associação e não ter uma posição apenas como voluntário? Na altura, quando me convidaram, precisavam de ter mais opiniões por parte da sociedade. A ANIMA costumava ser uma associação com muitos estrangeiros, expatriados e portugueses, mas não havia muitos chineses, particularmente locais, e queriam que nós fizéssemos esse trabalho de chegar mais à sociedade. Agora temos mais pessoas a participar. Também temos mais ligações a outros grupos da sociedade. Pelo menos mais locais percebem o que é a ANIMA. Mas as minhas primeiras impressões foram essas, queríamos que a associação fosse mais local. Esse objectivo já foi atingido? O nosso trabalho é muito conhecido, mas a colaboração que temos com outras associações de defesa dos animais não funciona muito bem. Ainda estamos a trabalhar de forma individual. Não digo que isso seja bom ou mau, mas se queremos ser uma das mais importantes associações de Macau devemos cooperar com as restantes. Mas há associações que são pró-Governo ou que têm uma posição diferente em relação à protecção dos direitos dos animais. Estamos todos a trabalhar na protecção dos direitos dos animais, mas a forma como abordamos os problemas é diferente. Por exemplo, nós nunca colocamos os animais em jaulas, mas há associações, devido à falta de recursos, que adoptam outros métodos. Todas as associações estão a colocar todos os seus esforços em prol da defesa dos direitos dos animais, mas quando levamos a cabo uma campanha ou quando discutimos com o Governo algum assunto, estas acções não são suficientemente fortes. Se tivéssemos uma espécie de aliança com outras associações teríamos uma posição mais forte para falar com o Governo. Com o fecho do Canídromo a ANIMA assumiu um papel de destaque. Considera que está mais preparada para discutir com o Governo face a outras associações? Refere-se a privilégios? Não, refiro-me ao facto de o Governo poder ouvir melhor a ANIMA em relação a outras associações devido ao trabalho já realizado. Se olharmos do ponto de vista do apoio financeiro essa interpretação é correcta. As outras associações não recebem apoio financeiro do Governo. Mas em termos de políticas e discussão de leis, não vejo que a ANIMA seja tratada de forma diferente. A Fundação Macau alterou os critérios de concessão de subsídios. Até que ponto isso pode afectar a ANIMA? Temos vindo a ser patrocinados pela Fundação Macau nos últimos anos. Têm apoiado muito as nossas acções e acho que compreendem a nossa situação. Acredito que quando nos aproximarmos do fim do ano as respostas vão aparecer. Mantenho-me optimista em relação ao apoio do Governo. A ANIMA está sempre a lutar pelo financiamento. Como está a situação financeira neste momento? Albano Martins é o nosso presidente honorário e continua a dar-nos apoio em muitas áreas. Neste momento ele está mais focado nos patrocínios. Nos últimos meses temos reunido com representantes de casinos e estamos a ver como podemos obter patrocínios. Temos visitado também muitas pessoas. Mas falando do financiamento para este ano, recebemos o dinheiro da Fundação Macau e alguns patrocínios individuais, mas continua a não ser suficiente. Ainda faltam três meses para o final do ano e estamos a confirmar os donativos junto de algumas pessoas que nos prometeram apoio. Albano Martins acredita que conseguimos sobreviver, mas, de novo, ter patrocínios no futuro vai tornar-se cada vez mais difícil. Por isso temos de nos preparar. Como? A primeira forma é obtermos mais patrocínios, mas isso nem sempre é sinónimo de dinheiro. Pode também ser ajuda de pequenas entidades. Vamos tentar obter patrocínios de residentes e temos de arranjar uma forma de reduzir as despesas. Neste momento temos colegas a tempo inteiro e em part-time, gastamos dinheiro em vacinas e outro tipo de tratamentos. Também ajudamos outras pessoas que cuidam de animais. Mas estamos mais focados nas grandes tarefas da ANIMA. Mas voltando ao financiamento, a pandemia dificultou as coisas, porque os casinos também atravessam um mau período. Na primeira metade do ano normalmente obtemos o dinheiro da Fundação Macau e conseguimos sobreviver com ele. Mas na segunda metade do ano dependemos mais dos recursos dos casinos, e até agora os casinos ainda têm de confirmar quanto é que nos podem dar. Mas vamos acompanhar essa questão. Quanto dinheiro necessitam até Dezembro? Cerca de 1.5 milhões de patacas. A Fundação Macau já nos apoiou este ano. Procuramos ter a ajuda dos casinos e chegar a mais pessoas que nos possam ajudar. É importante que as pessoas saibam a situação em que estamos. Se não obtiverem o dinheiro, quais são as alternativas? Sem dinheiro não conseguimos fazer nada. Como alimentamos os animais, e fazemos outras coisas? Podemos sempre tentar chegar às pessoas para que nos emprestem dinheiro, ou junto dos bancos, mas não é uma solução definitiva. Em relação à concessão definitiva do terreno onde estão situados, em Coloane, acredita numa resolução em breve? Existe a questão dos esgotos que têm de estar ligados ao edifício da ANIMA. Temos um projecto para resolver esse problema, e por isso é que o assunto da concessão ainda não está concluído. Espero que esse trabalho fique feito este ano, mas ainda não sabemos se o Governo não vai alterar a sua posição. Só depois de concluído o projecto dos esgotos é que falaremos com o Governo para termos a concessão definitiva do terreno. Como presidente qual é a sua estratégia principal para os próximos anos? Não vão haver grandes mudanças. Vamos continuar a trabalhar como temos feito e penso que até agora conseguimos mostrar que a ANIMA faz um bom trabalho. No entanto, também precisamos de resolver algumas coisas. Uma delas é algo urgente, porque temos 800 animais nas nossas instalações. Estamos a 200 por cento da nossa capacidade (risos). Temos um grande número de animais e há coisas que não conseguimos fazer tão bem, como acções educativas ou discutir com o Executivo questões relacionadas com a lei de protecção dos animais. Quero reduzir o número de animais que temos nas nossas instalações. Não falo em abatê-los, mas podemos ter mais adopções ou dá-los temporariamente a famílias de acolhimento. Dessa forma poderíamos libertar parte das nossas instalações e ter menos despesas. As acções de educação são muito importantes e também queremos passar mais tempo nas escolas a falar com os alunos. Também queremos tornar a ANIMA mais local e ser mais cooperante com outras associações. Mas voltando ao financiamento, não nos devemos focar nas grandes entidades ou indivíduos. Steve Wynn, por exemplo, é um dos parceiros da ANIMA, Edmund Ho, ex-Chefe do Executivo também. A ANIMA pretende manter esses nomes, mas trabalhar mais com associações locais? Sim. Essas duas personalidades têm-nos apoiado muito no passado. Albano Martins mantém contacto com Steve Wynn sobre aquilo que se passa na ANIMA, o que está a mudar, mas também sobre o financiamento no futuro. Também mantemos contacto com Edmund Ho para o informar sobre o que se passa e também pedimos ajuda de várias formas. Essa ajuda faz as coisas funcionarem, mas temos de ter uma boa relação com diferentes entidades e temos de continuar a manter esta postura. A ANIMA tem como objectivo o fim das corridas de cavalos. Que acções estão a ser planeadas? Actualmente temos três grandes preocupações: a campanha para o fim das corridas de galgos em Portugal, o fim das corridas de cavalos e o encerramento do Matadouro. Ainda não lançámos nenhuma campanha sobre estes dois assuntos, estamos a fazer um levantamento da situação. Penso que neste momento não posso falar muito sobre isso porque estamos apenas no começo, mas esperamos avançar com algo em breve. Em relação à lei de protecção dos animais, quais os problemas que se mantém e que deveriam ser resolvidos? Antes da lei ser implementada a ANIMA sempre deu sugestões e apoiou esta lei. Mas quando o diploma foi implementado os comentários da ANIMA não foram tidos em conta e actualmente dizemos ao Governo que a lei não é suficiente. Tem muitas questões que não são práticas e faltam muitos detalhes. Por exemplo, temos poucos casos de abusos de animais, e a lei até determina pena de prisão para quem pratica esses actos. Mas como é que podemos acusá-las. Há também problemas com as lojas de animais, pois a lei não é clara. Como é que as lojas põem os animais em jaulas? Quem é que pode comprar um cão? Se comprar um cão e abandoná-lo, amanhã posso comprar outro sem problema. A lei funciona mais do ponto de vista da sociedade e menos do ponto de vista do bem-estar animal. Como assim? Se eu abandonar um animal na rua, estou a cometer uma ilegalidade, mas se o deixar no Instituto para os Assuntos Municipais já não. Temos de olhar para os animais e a sua relação com as pessoas. No futuro teremos a oportunidade de falar com o Governo sobre isto, mas se nos juntarmos a outras associações será melhor. Acredita numa boa relação com o Governo de Ho Iat Seng? Não sei dizer (risos). Neste momento estamos a trazer mais pessoas para a direcção, personalidades ou pessoas com posições de liderança na sociedade. Queremos pluralidade e assim teremos uma melhor ligação com o Governo. Temos de rever a lista dos membros da direcção. Até agora a nossa lista é muito boa comparando com outras associações, mas de tempos a tempos temos de fazer uma actualização.
Salomé Fernandes Manchete SociedadeAnima | Billy Chan eleito para assumir a presidência da associação Assume a presidência da Anima consciente de que a protecção dos animais é uma área com desafios. Billy Chan, que já foi vice-presidente, frisou o trabalho feito pela associação ao longo dos últimos anos. Albano Martins considera que foi “a escolha ideal” [dropcap]B[/dropcap]illy Chan foi a pessoa escolhida para ocupar o cargo de presidente da Anima, cargo anteriormente ocupado por Albano Martins, noticiou a TDM Canal Macau. As eleições realizaram-se no sábado. Ao HM, o novo presidente descreve que “a protecção animal em Macau nunca vai ser um trabalho fácil”. De entre os trabalhos desenvolvidos ao longo dos últimos anos, destacou que “a Anima tem salvo muitos animais”, apontando para um número superior a dez mil, nomeadamente ao ajudá-los a encontrar casa e assegurar que estão de boa saúde. Um caminho que quer manter. Apesar de já estar ligado à associação, a nível pessoal sente que a posição que passa a ocupar “é muito desafiante”. Quando questionado sobre os principais desafios que a Anima enfrenta, a resposta é curta e grossa: “recursos”. Mas para além de temas como a necessidade de espaço para cuidar dos animais, Billy Chan também entende serem precisas mudanças no sentido de as pessoas compreenderem que os animais “devem fazer parte da sociedade humana” e ser protegidos. Para além disso, reconheceu a importância da ajuda dada por Albano Martins e espera que se mantenha no futuro, para assegurar uma transição suave nos trabalhos da Anima. “Agora a posição dele é presidente honorário vitalício”. Uma ligação para a vida “São pessoas que conhecem a Anima desde longa data, da Comissão Executiva são quase todos eles trabalhadores da Anima. Portanto, conhecem já os meandros dos problemas que a Anima defronta”, descreveu Albano Martins, acrescentando que Billy Chan já foi vice-presidente da associação e “é uma pessoa cuidadosa, pragmática, defensora dos direitos dos animais desde longa data e a escolha ideal nesta fase”. Enquanto presidente honorário vitalício, Albano Martins fica agarrado à Anima para toda a vida. Nos próximos meses, vai passar os dossiers e apoiar as pessoas que vão assumir as funções que desempenhava. “Ainda há muitos trabalhos que eu tenho que fazer por detrás, até termos a máquina toda preparada para poder executar isso. (…) Mas a responsabilidade será da Anima”, observou. Uma das questões que tem em mãos este mês é a apresentação do pedido de subsídio à Fundação Macau para 2021, em três línguas. Quanto ao papel de liderança, mostrou confiança de que “pessoas jovens com o tempo vão lá chegar”, frisando que têm muito presente o quão fundamental é seguir o que está previsto no código de ética.