Benfica de Macau defronta hoje 25 de Abril

As águias vão ter pela frente o principal favorito a qualificar-se neste Grupo I da Taça AFC. Um empate ou uma vitória colocam o Benfica de Macau definitivamente na luta pelo apuramento para a próxima fase da competição

 

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Benfica de Macau regressa estar tarde aos palcos da Taça AFC, para defrontar o 25 de Abril, às 16h, hora de Macau. No plano teórico, este vai ser o encontro mais complicado para a equipa orientada por Bernardo Tavares, que desde segunda-feira está na Coreia do Norte, onde vai entrar em acção no Estádio 1.º de Maio. Este é o recinto onde habitualmente joga a selecção norte-coreana.

Após duas jornadas, o 25 de Abril e o Benfica de Macau lideram com os mesmo pontos o Grupo I da Taça AFC. No entanto, os norte-coreanos tem a vantagem devido a um maior número de golos apontados, após as vitórias por 1-0 diante do Hwaepul SC e por 5-1 frente ao taiwaneses do Hang Yuen. Já o Benfica chega a esta partida depois da vitória por 3-2 com o Hang Yuen, na primeira jornada do grupo, e por 3-2 com o Hwaepul SC, numa partida que também foi disputada na Coreia do Norte.

No que diz respeito à equipa orientada por Yun Son O, tida como a grande favorita do grupo, o maior perigo surge do jogador An Il-Born, que em dois encontros apontou três golos. O avançado da turma norte-coreana, apontou o tento que derrotou o Hwaepul e, já em Taiwan, ainda fez balançar as redes da baliza do Hang Yuen em duas ocasiões. Ainda em termos dos atacantes, Om Chol-Song será outro dos principais perigos para a baliza do guarda-redes dos encarnados, Batista.

No jogo de hoje a formação do 25 de Abril deverá alinha no 4-4-2, que utilizou nas duas partidas anteriores, tendo ainda como ponto forte o facto dos jogadores se conhecerem muito bem. Além de jogarem juntos na liga do país, o clube forneceu nove atletas à selecção da Coreia do Norte, como aconteceu na última convocatória. Nesse encontro, realizado a 27 de Março, os coreanos derrotaram Hong Kong por 2-0, e cinco jogadores foram titulares, nomeadamente os defesas Kim Chol-Bom e Sim Hyon-Jin, o médio So Kyong-Jin e o atacante Kim Yu-Song. Pak Myong-Song começou no banco, mas acabou por entrar na segunda parte.

Esta é mais uma prova da valia da associação coreana, que ocupa actualmente o 119.º lugar do ranking FIFA, enquanto Macau está na 186ª posição.

 

Aposta em Carlos Leonel

Nas águias, o avançado Carlos Leonel tem-se destacado como a grande referência da equipa, nas partidas já disputadas. Nos dois encontros  do Benfica na competição, o internacional por Macau foi responsável por quatro golos, com dois tentos em cada jogo.

Nesta partida, o Benfica perde um pouco o factor surpresa, uma vez que esta é a segunda partida que vai disputar uma partida em território norte-coreano. No entanto, a motivação está em alta, depois das duas vitórias na estreia nesta fase da competição.

 

 

 

 

Hwaepul esmaga Hang Yuen por 6-1

 

O Hang Yuen, que se estreia na competição, provou mais uma vez que é a equipa em maiores dificuldades no Grupo I da Taça AFC, após ter sido goleada na Coreia do Norte, diante do Hwaepul, por 6-1.

No estádio Kil Il Sung, e diante cerca de 4 mil adeptos, o marcador foi inaugurado aos 19 minutos por Ri Yong-gwon. O mesmo jogador bisaria momentos mais tarde, aos 36 minutos, fazendo o 2-0 com que a partida chegou ao intervalo.

No segundo tempo, o defesa do Hang Yuen, Yen Ting-yuen, apontou um autogolo, aos 50 minutos, mas sua equipa reagiu fazendo o 3-1, ao 55 minutos.

As esperanças de uma recuperação morreram três minutos depois, com o 4-1 por intermédio de Jong Chol-hyok. Até ao final Ri Song e Jong-min apontaram os restantes golos que colocaram o resultado em 6-1.

11 Abr 2018

25 de Abril já, ou tudo preso!

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão sei se os estimados leitores deram conta disso, mas foi dia 25 de Abril na passada quarta-feira, há dois dias. Ah, pois é. Foi dia vinte e cinco no mundo inteiro, de facto, mais cedo para uns do que para outros, mas no mundo que fala português (menos no Brasil), comemorou-se o 43º aniversário da Revolução dos Cravos, conhecido para os mais novos sobretudo como “aquele dia que é feriado, cabom”. Nem de propósito, foi dos mais novos que a TDM se lembrou, e foi Escola Portuguesa adentro fazer às angelicais criaturas que por lá proliferam fazer uma sacramental pergunta: o que é para ti o 25 de Abril. Uma versão adaptada do Bastos, “olha lá, onde é que tu estavas no 25 de Abril?”. Aqui as criaturas obviamente que simplesmente não estavam, e em muitos casos nem os respectivos paizinhos delas – olha eu aqui que não me deixo mentir.

As respostas foram do mais surreal que há, mas fiquei contente por saber que as criancinhas tentam explicar a coisa, pelo menos. Ah, e tal, ditadura. Ah, e tal, liberdade. Aqui não é feriado, que pena. Fiquei boquiaberto de espanto ao ouvir coisas do calibre de “o 25 de Abril aconteceu porque o Salazar não nos dava liberdade”, mais o Salazar para aqui, mais o Salazar para acolá, olha, até cheguei a ter pena do tirano beato de Santa Con…Comba. O senhor já tinha morrido quatro anos antes, ó meninos. A natureza encarregou-se disso, portanto como podem ver não há mal que sempre dure. A reportagem terminou com chave d’ouro, com a jornalista a perguntar a uma estudante do ensino básico “o que seria se não tivesse acontecido o 25 de Abril”, ao que a pequena retorquiu “estávamos todos presos!”. Toma lá que já abrilaste!

Ora bem, fiquei encantado com a criançada, a quem no meu tempo era muito mais difícil perdoar a ignorância – e havia burrice a rodos, se havia. O que não me encanta assim tanto é ver a quantidade de resmungões. Sim, resmungões, e nestas contas não entra a idade. Há por aí muito menino e menina que há 43 anos ainda andava a balançar entre o esquerdo e o direito a proferir chorrilhos de inanidades do tipo “antes é que se estava bem”, e “havia respeito, e não se viam as poucas vergonhas que se vêem agora por aí”, ou ainda “os pretos estavam todos em África” (menos o Eusébio e outros quadros especializados do desporto e das artes). Então vá lá, querem saber uma coisa: NÃO! É MENTIRA! Pela enésima vez: quem não gostou do 25 de Abril porque estava então ou estaria agora mais bem acomodado, paciência. É entre os tais resmungões que se encontram muitos destes desatinados com a vida, a quem a tal liberdade e democracia não lhe fez sair a sorte grande, então pronto, que se lixe, bardamerda para a liberdade e para a democracia. Que bonita figura.

Para mim foi porreiro pá, achei óptimo, como acho cada vez que se derruba a canalhada fascista e ditadora. Depois houve o PREC e mais não sei o quê – e depois, o que é que o 25 de Abril tem a ver com isso? Comemora-se o dia, não o que se fez depois com ele, umas vezes bem, quase sempre mal. E não é para isso que serve a liberdade, para se poder fazer asneiras à vontade, e eventualmente pagar por isso? É a outra face de ser recompensado por se fazer o bem, é a dialéctica da liberdade. Com Salazar, que desta vez foi “injustiçado” pela rapaziada da EPM é que não se fazia nada, meus amigos. Não vos quero maçar mais – e tinha pano para mangas – e assim sendo termino. Não sem antes desejar um feliz Dia da Liberdade para todos  os leitores do Hoje Macau. Sim, todos, mesmo os resmungões. Feliz 25 de Abril, ó chefe.

27 Abr 2017

25 de Abril | Data é celebrada com a realização de três jantares

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]elebrar Abril em Macau continua a ser uma realidade. A data que marca o fim do Estado Novo e o começo da democracia em Portugal é todos os anos lembrada com a realização de várias actividades, e este ano não é excepção. Grupos diferentes compostos por membros da comunidade portuguesa promovem hoje três jantares de celebração do 25 de Abril, sendo que não há o objectivo de politização desses encontros.

“Havendo três jantares, há sempre o risco de poder ser interpretado como sendo actividades divisionistas. Mas essa não é a minha leitura”, começa por dizer João Pedro Góis, organizador de um convívio na zona do NAPE.
“Há diversos grupos de pessoas que, por comodidade ou maior aproximação, acabam por organizar jantares distintos. Mas não são contrários, nem contraditórios. Todos eles têm a mesma missão, que é celebrar a liberdade. Não me parece grave haver mais do que um jantar, porque isso significa que, em diversos focos e espaços, há pessoas a celebrar esta data”, contou ao HM.

João Pedro Góis costuma organizar todos os anos um jantar via Facebook, convidando o círculo de pessoas que conhece. Ainda assim, aponta, “este jantar não é institucional, mas sim transversal, aberto a todos os que gostam da liberdade, sejam de direita, esquerda, católicos ou monárquicos”.

Também Tiago Pereira partilha do mesmo pensamento. É secretário-coordenador do Partido Socialista em Macau, mas não é nessa qualidade que ajuda a organizar o jantar que decorre hoje no Clube Militar.

“Este é um jantar informal, uma festa, no fundo. Vamos ter o convívio com música e poesia, até porque o lema do jantar é ‘traz um poema e um amigo também’”, contou ao HM.

“Queremos mesmo que seja um jantar em que esteja presente o espírito de Abril. O jantar está a ser organizado por um grupo de cidadãos de diferentes cores partidárias e que resolveram celebrar o 25 de Abril à sua maneira”, acrescentou Tiago Pereira.

A Casa de Portugal em Macau organiza o jantar habitual. Amélia António, presidente da associação, fala da importância de celebrar o 25 de Abril. “É uma data em que prestamos homenagem aos que lutaram para que o país se tornasse mais alegre e democrático. Estamos também a lembrar às nossas gerações que é preciso estar sempre atento e defender esses valores.”

Comunidade atenta

Mesmo à distância, a comunidade portuguesa em Macau nunca deixou de celebrar o 25 de Abril. António Katchi, jurista, lembra os habituais jantares e as actividades da Escola Portuguesa de Macau, a título de exemplo.

“Tem havido iniciativas importantes e, às vezes, vêm aqui personalidades a convite, ou são exibidos filmes. Penso que o facto de aqui não ser feriado diminui a presença de pessoas nessas actividades. Mas, de qualquer modo, nunca foi esquecido”, observou.

Para Amélia António, “há pessoas que se mantém indiferentes à data, mas há muita gente que reconhece a sua importância e a comemora com grande empenho”. “Graças ao 25 de Abril, toda a gente pode ter as suas opções e fazer as suas escolhas, e comemorar ou não conforme os seus sentimentos e convicções”, disse ainda a presidente da Casa de Portugal em Macau.

João Pedro Góis acredita que “a globalidade da comunidade portuguesa residente em Macau celebra esta data e considera-a importante”. Já Tiago Pereira destaca a importância do 25 de Abril ser celebrado no mundo inteiro. “Independentemente de estarmos em Macau, o 25 de Abril ganha uma importância maior visto estarmos a assistir ao crescimento do populismo e de movimento segregacionistas na Europa. Não é o caso em Portugal, mas temos visto os partidos de extrema direita a ganharem força”, concluiu.

25 Abr 2017

25 de Abril | Memorial a Zeca Afonso inaugurado em Lisboa

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m memorial dedicado ao músico Zeca Afonso vai ser inaugurado no dia 25 de Abril no Jardim das Francesinhas, junto à Assembleia da República, em Lisboa, numa cerimónia que vai contar com o presidente da Câmara Municipal da capital portuguesa, Fernando Medina.

O Memorial a José Afonso “nasce de uma proposta de Orçamento Participativo e foi desenvolvida em parceria com a Associação José Afonso – AJA”, referiu em comunicado a Câmara Municipal de Lisboa.

“Este memorial reúne um conjunto de elementos biográficos patentes na sua construção e na sua localização: o jardim encontra-se junto ao poder político da Assembleia da República, do Ensino e da Juventude (aqui corporizado pelo ISEG) e da própria AJA, entidade que promove o conhecimento e a valorização da vida e obra do cantautor”, destacou a autarquia.

O município acrescentou que “a esta simbologia acresce o facto de o memorial, propriamente dito, ter sido concebido como parte do trabalho de curso dos alunos de Escultura da Faculdade de Belas-Artes, sob orientação do professor Sérgio Vicente, e a placa em bronze concebida por Luísa Barros Amaral”.

Segundo a Câmara, o Memorial a José Afonso, recuado no espaço do jardim, pretende, no futuro, ser ponto de encontro para leituras de poesia e outros momentos de celebração cultural dinamizados pela AJA.

José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos nasceu a 2 de Agosto de 1929, em Aveiro. Estudou em Coimbra, no curso de Ciências Histórico-Filosóficas da Faculdade de Letras, foi professor em vários pontos do país e também viveu em Moçambique.

Ao longo da sua carreira como cantor e músico interpretou o fado de Coimbra, mas ficou mais conhecido pelas suas canções de intervenção, contra o regime ditatorial. Morreu, aos 57 anos, a 23 de Fevereiro de 1987.

24 Abr 2017

Os homens do meu país

Carlos André

vêm da raiz do tempo
os homens do meu país
já não sabem
já não lembram
a raiz com sua chama

[…………………..]

foram ossos a arder em piras de chamas que chispam ódio
ódio surdo e cego de lei
que manda que se não diz
que nos homens deste povo
há país e há raiz!
mas na cinza desses ossos
nos restos desses brasidos
crepitam olhos e gritos com ecos na voz do vento:
‘ainda não fomos vencidos!’

sentiram correr nos corpos a seiva do pensamento
tiveram nome de antero de martins ou de queirós
e viram que a voz de dentro
só é viva se for voz
deram tiros
conspiraram no segredo das conjuras
e mataram
e gritaram ao seu povo que era sua a praça pública
que viesse
que estivesse
que dissesse que era gente
e que ser dono de um país
seu
era imperioso
e urgente

acreditaram
na força de sua mão
e ao porem pedra por pedra
nessa nova construção
descobriram que um país
com homens feitos raiz
não é vão

rasgaram em barcos novos os sonhos despedaçados
fincaram olhos num gongo ouvido em nambuangongo
estiveram em bissau
em terras desconhecidas
foram alcântara-partidas
e alcântara-chegadas
e partiam
regressavam
e iam
e não voltavam
combateram sem vontade
contra a vontade dos outros
e mataram
e espancaram
incendiaram queimaram ceifaram e deceparam
deitaram fogo a choupanas
sem saber serem humanas
uns foram voz de metralha
voltaram outros mortalha

ficava a terra viúva
dos homens que ia perdendo
dos homens que iam partindo
rumo ao norte
em busca doutras paragens
outro vento
outras aragens
com a sorte a soprar mais forte
saíram em austerlitz
povoaram champigny
construíram com suor
o futuro de morrer aqui

também ficaram
apodreceram aos poucos nos poços doutras masmorras
perderam o sono
e o sangue
no sol que nunca viam
mas mantiveram de pé a certeza da vontade
doutro sol que acreditavam
com nome de liberdade

uns foram nomes pra sempre
outros pra sempre sem nome
nome de sérgio
de bento
de humberto
de catarina
nas balas doutra metralha
mandada ser assassina
usaram armas
e redes
e martelos
pás
enxadas
terras crestadas de sedes que esperam ver saciadas
e de novo guitarras
e violas
e vozes que valem balas
e esfarrapam as mordaças com que as querem caladas
voz de zeca
voz de graça
de zé gomes
de adriano
palavras que a gente ouvia
sentia
repetia
que a vontade de ser dia
não pode chamar-se engano

foram alvoradas novas
nas ruas
nas avenidas
nos canos das espingardas
empunhadas
por esperanças reacendidas
e floridas

acreditaram possível uma nova construção
e em volta da liberdade
com vontade de querer
apertaram mão com mão

sem estar certos do caminho estão certos de caminhar
e nas veias misturadas
no sangue que ferve fundo
a esperança
a vontade
a certeza
de ser gente
de ser mundo

vêm da raiz do tempo os homens do meu país
sem que saibam
sem que lembrem
têm bem fundo de si a raiz e sua chama

2 Mai 2016

Revolução dos Cravos | Data é assinalada em Macau, mas deveria “ser feito mais”

A Revolução dos Cravos faz hoje 42 anos e deste lado do mundo a comunidade portuguesa brinda à liberdade. Quem por aqui está diz que a data não é esquecida, mas há quem assuma que muito mais se devia fazer

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong está fechado por ser feriado nacional, mas ainda assim, pela quarta vez consecutiva, o Cônsul-Geral, Vítor Sereno, irá discursar num jantar comemorativo do 25 de Abril, organizado pela Casa de Portugal. A data não é passada em branco. Mas, se há quem concorde que um jantar chega, outras opiniões mostram insatisfação.
“É uma data importante para a história de Portugal e, no caso concreto de Macau, até deveria ser mais comemorado do que aquilo que é. Porque aquilo que hoje é Macau, e a maneira como foi feita a transição da soberania, tem muito a ver com o 25 de Abril, com a democracia e com a abertura que houve aos ditos territórios ultramarinos de então”, começou por defender o historiador Fernando Sales Lopes.
No “suave acordo” durante a transição de soberania entre a China e Portugal, os feriados civis portugueses deixaram de existir em Macau, mas este, aponta ainda o também investigador, “deveria ter ficado”. “A transição não teria sido da maneira que foi se não fosse o 25 de Abril. Macau não seria o que é hoje, acho que este feriado deveria ter ficado”, acrescentou.

Celebração popular

Apesar das celebrações oficiais, representadas pela Casa de Portugal, o território conta ainda com outros momentos. “Todos os anos há um jantar com umas 20 ou 30 pessoas”, aponta Sales Lopes, que relembra “outros tempos em que se fazia mais”.
Um grupo, “dos anos 80”, que todos os anos não deixa passar a data em claro. “Antes, mesmo antes da Casa de Portugal assumir uma comemoração mais oficial, comemorava-se de outra maneira, mas a verdade é que não existiam as chamadas comemorações oficiais. Mas na altura fazíamos algumas coisas interessantes, superavam estes jantares típicos”, explica o historiador, contando que vários lançamentos de livros, peças de teatro, exposições de pintura e espectáculos de música, sem nunca esquecer a participação da Escola Portuguesa de Macau, marcavam o dia.
O grupo nunca deixava que a data passasse em branco, “mas a realidade é que as comemorações nunca foram muito activas ou oficiais”. Agora, diz, “as coisas mudaram”. Depois da transição as coisas “ficaram um bocado diferentes, mas as pessoas também são outras”, apontou.
Para Sales Lopes não há dúvidas: o 25 de Abril merece “sempre ser comemorado condignamente”. “Deve ser ensinado às crianças e jovens, deve também ser lembrado aos mais velhos”, sublinhou.

Lembrar, sempre

Mais importante que ser comemorado é ser um “direito assegurado”, diz Francisco Cordeiro. “Ignoro que alguma vez tenha existido entraves à comemoração da efeméride por qualquer parte, individual ou colectiva, vindos do Governo. Entendo que o importante é que esse direito seja assegurado”, explicou, assumindo que não vê “razão para que [o 25 de Abril] deva ser” feriado em Macau.
Da experiência de Francisco Cordeiro deveria falar-se e debater mais o que foi, na realidade, a Revolução dos Cravos, em vez de “abordar o feriado formalmente em exposições de pintura e jantares”. “Deveria haver mais debate, fomentado o sentido crítico relativamente ao que foi o 25 de Abril e não cair na ‘festivalização’ do dia com jantares e exposições. Sem cair no endoutrinamento também. É preciso falar do bom e do mau”, argumentou o português radicado em Macau.
Tiago Pereira, representante do Partido Socialista (PS) em Macau, considera que o que se faz por cá “é suficiente”. “Estamos num território estrangeiro e considero que as pessoas celebram o feriado com os jantares anuais e outras comemorações”, sublinhou. Também o PS “sempre celebrou a data em Macau” e irá continuar a fazê-lo, acrescentou.
O economista José Sales Marques não acredita que a data esteja, por cá, esquecida, mas acusa alguma inércia. “Não é celebrado com a importância que a data merece, por um lado por estarmos longe e, por isso, não há nenhuma celebração oficial do 25 de Abril e do seu significado, mas também porque as novas gerações não fazem a mínima ideia do que havia antes dessa data”, explicou.
Sales Marques considera existir um “défice quanto às celebrações do 25 de Abril”, mas, por outro lado, é “difícil de imaginar um cenário diferente na medida em que Macau, hoje, é uma Região Administrativa Especial da China e, naturalmente, as autoridades chinesas não dão, nem têm de dar, um significado a esta data”.

25 Abr 2016