Filipa Araújo Manchete SociedadePapa Francisco | Às portas da estreia do filme na Ásia, religiosos elogiam “coração simples” De uma espontaneidade inconfundível e carregado de bom humor são algumas das características atribuídas ao Papa Francisco por religiosos locais. Com dois anos de pontificado e um filme sobre si a estrear este mês, o Papa Francisco trouxe mudanças que outros papas nunca conseguiram. O segredo é a sua simplicidade, defendem devotos [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]último tweet assinado pelo próprio Papa Francisco diz: “Que todas as paróquias ou comunidades religiosas na Europa recebam uma família de refugiados”. Com direito a ‘hashtags’, os perfis da rede social Twitter do Papa existem em quase todas as línguas. Jorge Bergoglio, ou Papa Francisco, é já considerado o Papa mais social de toda a história dos Sumo Pontífices. Mas este foi apenas um dos seus muitos momentos que causaram estranheza e surpresa na sociedade mundial. Sem passar indiferente a ninguém, religiosos ou não, Bergoglio conseguiu o que “muitos outros Papas não conseguiram”, como defende a directora do Centro do Bom Pastor, Juliana Devoy. Foi em Março de 2013, depois do segundo dia de conclave, que, pelo fumo branco, se anunciou a nomeação de um novo Papa, lugar deixado em aberto por Bento XVI, ou Joseph Ratzinger, por questões de saúde. Bergoglio tornou-se assim o primeiro jesuíta a ser eleito Papa, assim como o primeiro originário do continente americano, tornando-se assim o primeiro Papa não europeu em mais de 1200 anos. Pela primeira vez foi também feita a escolha do nome Francisco. Bergoglio explicou que a escolha se baseou em Francisco de Assis, padroeiro de Itália e fundador da família franciscana, pela sua simplicidade e dedicação aos pobres. “Foi a escolha do Espírito Santo e o Espírito Santo escolhe sempre a pessoa mais apropriada para o momento”, começa por explicar o Padre José Mario Mandía ao HM, quando questionado se, de facto, este Papa terá sido a melhor escolha para a Igreja Católica. Um caminho diferente Pouco depois da nomeação, Francisco começou a surpreender a sociedade, crentes e não crentes, a começar pela abdicação de toda a ostentação que durante anos caracterizou o Vaticano e seus representantes. Vestes simples, sem ouro, sem tecidos caros, e uma cadeira modesta foram algumas das medidas logo impostas pelo novo Chefe do Estado do Vaticano. Também os carros com tejadilho e vidros à prova de bala foram dispensados e muitos foram os passeios dados por Francisco. Uma tentativa de levar uma “vida normal” marcada pelos seus hábitos e momentos rotineiros era o que o novo Papa defendia. “Gosto imenso dele. Muita gente gosta dele, o seu jeito simples conquistou, ele não finge ser, ele é e isso não se consegue esconder”, defende a irmã Juliana Devoy. As acções simples e caridosas mantiveram-se. E agora, dois anos e meio de pontificado, a colecção já vai longa. No início deste ano morreu Willy Herteller, um sem-abrigo que vivia há 25 anos no Vaticano e que muito se dedicava à propagação da religião. Em sua memória, o Vaticano – o Papa – decidiu que Willy deveria ser sepultado no cemitério reservado para os membros da Santa Sé, o Campo Santo Teutónico, localizado, claro, junto da Basílica de São Pedro. A porta do Vaticano foi também aberta para os transexuais e homossexuais. Depois de receber uma carta de Diego Lejárraga, um devoto espanhol que se viu muitas vezes rejeitado pela própria paróquia da sua cidade natal, Francisco decidiu receber o transexual, acompanhado pela sua namorada, no próprio Vaticano. “Claro que és filho da igreja”, foram as palavras do Papa para com o jovem. Segundo o jornal El Mundo, foi o próprio Papa que ligou a Diego depois de ter lido a sua carta, passando-lhe a mensagem que estava a par da sua situação e a convidá-lo então para a visita. Em 2013, depois de visitar o Brasil, o Papa Francisco, durante a viagem de avião, explicou aos jornalistas presentes que não seria ele que iria julgar os homossexuais. “Se uma pessoa é homossexual e procura Jesus, e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la? O catecismo diz que não se deve marginalizar essas pessoas por isso. Elas devem ser integradas à sociedade. O problema não é ter esta tendência. Devemos ser irmãos”, disse. Muito de muita coisa Ainda dentro dos assuntos polémicos, Francisco tomou uma posição firme quanto à questão da pedofilia que envolveu vários membros da igreja católica. “Corresponde aos Bispos diocesanos e aos superiores maiores a tarefa de verificar que nas paróquias e nas outras instituições da Igreja se garante a segurança das crianças e dos adultos vulneráveis”, apontou numa mensagem enviada aos bispos de todos os países, frisando que “não existe qualquer espaço no sacerdócio para pessoas que abusam de menores”. No mesmo documento, Bergoglio explicava que depois de vários encontros com as vítimas, a emoção foi incontrolável. “Esta experiência reafirmou a minha convicção de que devemos fazer tudo o que for possível para livrar a Igreja do flagelo do abuso sexual de menores e abrir caminhos para a reconciliação e cura dos que foram abusados”, defendeu. Os jovens e as mulheres têm sido também uma grande área de dedicação do Chefe do Estado do Vaticano que muita preocupação tem mostrado para com os mais carenciados. “As mulheres são a coisa mais bela que Deus fez”, afirmou ao jornal italiano Il Messagero, referindo-se ao papel necessário da mulher na Igreja. No início deste mês, o Papa Francisco chocou quando ofereceu o perdão às mulheres que abortaram e aos presos que “tomaram consciência da injustiça cometida”. Rasgando uma postura sempre defendida pela Igreja – a de rejeição do aborto – Francisco vem atribuir agora o perdão a todas as mulheres que abortaram, indicando que todos os padres católicos o deverão fazer. “Ele não está a dizer que a Igreja passa a aceitar ou que pode ser feito, o que está a fazer é a perdoar. Porque todos nós erramos. O Vaticano, a Igreja, os seus membros também erram. Somos humanos e é isso que este Papa não esconde, é isso que ele mostra ser: humano”, defende Juliana Devoy. Um Papa diferente Questionada sobre o rumo diferente que Francisco trouxe à Igreja e à própria religião, Juliana Devoy não tem dúvidas. “Ele é totalmente diferente de outros Papas. Claro que cada um tem a sua personalidade e, por isso, todos tiveram o seu próprio estilo, mas eu gosto deste. O Papa [Francisco] tem um estilo diferente, algo muito próprio. Acho que ele sabe muito bem como comunicar com as pessoas, acho que ele é altamente verdadeiro e focado nos objectivos, por isso, diz coisas que muitas pessoas não diriam em voz alta. Ele não se importa, porque ele não está a fingir ser qualquer coisa, ele é íntegro, assume os seus defeitos, e da Igreja, e quer resolvê-los”, argumentou. Para o Padre José Mario Mandía, talvez a mudança mais forte seja a capacidade que o Papa tem em mostrar como colocar a teoria em prática. “Ele é o próprio exemplo, um modelo, ele cumpre aquilo que diz. A doutrina é passada por acções que se tornam exemplos para qualquer pessoa”, defendeu. Pegando no exemplo dos refugiados, sendo que esta semana o Papa pediu que todas as paróquias da Europa recebam pelo menos duas famílias de refugiados tal como o Vaticano vai fazer, o Padre José Mario Mandía mostra a postura de exemplo que este Papa pretende ser. “Se todas as paróquias católicas em Espanha, Itália, Alemanha e França responderem à sua sugestão e receberem estas famílias, isto poderá significar que mais de 75 mil famílias encontrem um lar na Europa”, frisa. Na terça-feira passada, o Papa decidiu reformular o procedimento da própria igreja na anulação dos matrimónios, tornando-o mais rápido e simples. Agora, segundo um “motu proprio”, uma carta papal, uma sentença será suficiente para anular o casamento, ao contrário do que acontecia anteriormente, em que eram necessárias duas sentenças. Todo o processo será ainda, decidiu Francisco, grátis. “O conselho aos casais que ele deu [foi] ‘ganhem o hábito de dizer estas três palavras, Por favor, Obrigada, Desculpa’”, relembrou o também director do jornal O Clarim. Para o padre, o Papa Francisco não veio mudar a doutrina da Igreja em nada, mas veio, sim, “mostrar em acções concretas o que significa colocá-la em prática”. Um bom tipo Numa entrevista ao jornal argentino Voz del Pueblo, o Papa Francisco reforçou o seu jeito simples e bem-humorado. “Quero ser lembrado como um bom tipo”, foi a resposta quando questionado sobre a imagem que quer deixar no fim do seu papado. Assumindo-se como alguém que pouco segue o protocolo, Francisco diz-se um cobarde quanto sente dores físicas. O “indisciplinado”, como o tratam no Vaticano, tem saudades de ir comer pizza à rua, mas mais que isso, sente falta dos seus passeios lá fora. “Quando era cardeal adorava caminhar pela rua, andar de autocarro e de metro. A cidade encanta-me, sou citadino de alma (…) Não conseguiria viver no campo”, admite. Antes de dormir, lê São Silvano do Monte Athos, que considera ser “um grande mestre espiritual”. No fim do papado, apenas quer ser recordado como “um bom tipo que tentou fazer o bem. Não tenho outra pretensão”, argumentou na entrevista, citada pelo Observador. Numa das suas viagens, durante este ano, sobre a sua morte, Francisco terá dito “dois ou três anos e depois vou ter com o Senhor”. Uma previsão que pouco agrada aos seus seguidores que consideram que ainda “muito há a fazer”. “Bergoglio, o Papa Francisco” ou “Papa Francisco: A História do Papa Francisco”, um filme de 2015, estreou no passado Julho na Argentina e estreia já este mês nos cinemas na Europa e na Ásia, com data marcada para 30 de Setembro nos cinemas das Filipinas.
Flora Fong SociedadeIPM | Estudantes locais acusados de serem “estúpidos” por aluno do continente [dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m estudante do Instituto Politécnico de Macau (IPM), proveniente do interior da China, terá criticado, através das redes sociais, os estudantes locais por estes não terem um nível considerado alto de conhecimento de Mandarim. Na página do Facebook “New UM Secrets” foi publicado, no sábado passado, um artigo escrito em Chinês simplificado, que relatava uma situação numa aula em que um professor explicava em Mandarim um termo profissional da língua inglesa, tendo sido pedido pelos estudantes locais a explicação em Cantonês ou em Inglês por estes não entenderem Mandarim. O autor do artigo acusou os estudantes de Macau de serem “estúpidos” e “terem um nível baixo [de conhecimento] da língua”. “No nosso lado (interior da China), quem fala Cantonês é quem não tem nenhuma educação, nem tem nenhum conhecimento. Vocês (estudantes de Macau) podem manter o vosso idioma até ao fim da vida, mas serão sempre estúpidos”, podia ler-se no artigo publicado nas redes sociais. O autor criticou ainda que o IPM só consiga a classificação de universidade de quatro estrelas devido à inclusão dos estudantes da China continental. É a presença deles que aumenta a qualidade da instituição, diz. “Caso contrário, vocês não passavam de uma instituição não reconhecida”, escreveu o autor. Em resposta, Bill Chou, ex-professor da Ciência Política da UM, também na mesma rede social, deu a sua opinião defendendo que se deve “respeitar a hospitalidade daqueles que nos recebem”. Este tipo de postura arrogante e de superioridade não deve ser uma postura nos tempos que correm, frisou o académico. O autor do artigo ainda está por identificar, sendo que se aponta para um aluno que frequenta as aulas no IPM, devido ao uso do discurso directo.
Flora Fong SociedadeTurismo | Sugeridas medidas para atrair classes média e alta A líder do grupo Energia Cívica, Agnes Lam, acha que o Governo não se pode esquecer do problema da capacidade turística que Macau tem, mas sugere o incentivo ao turismo das classes média e alta oriundas do continente e de Hong Kong [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]presidente do colectivo Energia Cívica, Agnes Lam, pede que o incentivo à vinda das excursões seja substituído, começando por se traçar um plano de incentivo ao turismo das classes média e alta do continente e de Hong Kong. A também professora pede ao Governo para gerir a situação do decréscimo no número de entradas no território, não a considerando, contudo, preocupante. Segundo dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), o número de turistas, de Janeiro a Julho passados, diminuiu 3,8% comparado com o período homólogo do ano de 2014. O Chefe do Executivo, Chui Sai On, e a directora da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), Helena de Senna Fernandes, já vieram na semana passada anunciar a implementação de medidas activas para recuperar deste número reduzido de turistas. Tal terá em conta planos de promoção de agências de viagem, hotéis e companhias aéreas. No entanto, segundo o Jornal do Cidadão, Agnes Lam, também professora de Comunicação da Universidade de Macau (UM), discorda desta necessidade de recuperar números. “A recessão económica não foi causada pela diminuição de visitantes, mas sim pelas medidas de combate à corrupção do interior da China e a sua influência nos negócios das salas VIP”, começou Lam por dizer. “O que aconteceu é que as receitas de Jogo ficaram abaixo da linha inicialmente prevista, altura em que o Governo começou a entrar em pânico e se esqueceu de que a implementação de certas medidas pode culminar em conflitos de políticas”, defendeu. Que limites? A académica acrescentou que, nos últimos anos, o número de visitantes tem vindo a aumentar exponencialmente e as ruas estão sempre cheias, pelo que urge o Governo a repensar a questão da capacidade turística da cidade. “Na verdade, a redução de turistas não foi significativa, apenas de 3,8%, e segundo o sector turístico, a diminuição mais visível teve lugar na área das excursões, incluindo as de Hong Kong”, explicou Agnes Lam. A líder do grupo acrescentou ainda que estes colectivos apenas vêm ao território para comprar “lembranças e bolachas” e “nem sequer passar a noite”, pelo que acredita não ser o tipo de turista a atrair em primeiro lugar. “Estes turistas não ajudam à mudança ou à diversificação do sector de turismo”, colmatou. Agnes Lam defendeu ainda que seria frutífero investir na atracção de turistas das classes médias e altas do interior da China e de Hong Kong, como forma de desenvolver o turismo de alta qualidade, tal como o Governo havia anunciado recentemente. Turismo | DST quer receber mais visitantes de Taiwan A Direcção dos Serviços de Turismo (DST) quer ter em Macau mais turistas oriundos de Taiwan. A ideia foi transmitida durante uma visita de um grupo de trabalho de Taiwan à RAEM e a Zhuhai, que teve como objectivo promover a realização de viagens em pacote multidestinos, abarcando as duas regiões vizinhas. “O objectivo da visita é impulsionar o turismo regional e atrair mais visitantes de Taiwan a fazerem roteiros multidestinos, beneficiando a construção de um Centro Mundial de Turismo e Lazer”, escreve a DST em comunicado. O grupo, acolhido na região entre os dias 4 e 7 deste mês, compreendia 40 responsáveis de agências de viagens e meios de comunicação de Taiwan. Além de visitar uma série de instalações da região, o colectivo teve ainda oportunidade para visitar o Centro Histórico, a vila velha da Taipa, uma exposição de arte e assistir ao concurso de fogo de artifício. Esta viagem surgiu na sequência da assinatura do Acordo entre o interior da China e Macau sobre a Criação de uma Comissão Conjunta de Trabalhos para Impulsionar a Construção de Macau num Centro Mundial de Turismo e Lazer, que permitiu a criação de uma Comissão de Trabalho especializada em lidar com estes assuntos.
Flora Fong SociedadeÁguas | Inaugurada estação de Tratamento. Planeada outra para Seac Vai Pan [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Sociedade de Abastecimento de Águas de Macau (SAAM) garante que a Fase III da Estação de Tratamento de Água do Reservatório Principal tem capacidade para satisfazer a necessidade de fornecimento para os próximos cinco anos. A construção da outra estação em Seac Pai Van tem conclusão prevista para 2019, mas ainda é preciso aguardar pela avaliação do Governo. Na cerimónia da inauguração de ontem, a directora executiva da SAAM, Kuan Sio Peng, afirmou que a obra da estação foi concluída depois da resolução de uma série de problemas, incluindo 12 suspensões da produção de engenharia para a execução das obras. Apesar de tal não ter afectado o abastecimento de água, obrigou ao investimento de 120 milhões de patacas. “O funcionamento oficial da Fase III da Estação de Tratamento de Água do Reservatório Principal simboliza a conclusão de todas obras de expansão da estação”, começou por referir. “A sua capacidade atinge os 390 mil metros cúbicos, que satisfaz a necessidade do abastecimento de água em Macau para os próximos cinco anos” afirmou a directora executiva. No entanto, a construção desta infra-estrutura não se fica por aqui. Kuan Sio Peng afirmou que já apresentou pedido ao Governo para a criação da Estação de Tratamento de Água em Seac Pai Van, cujo design está em andamento, e poderá aumentar, em 200 mil metros cúbicos, a capacidade do fornecimento de água em Macau, prevendo que a obra poderá ficar concluída em 2019. No entanto, a directora da Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA), Susana Wong, também esteve presente e afirmou que o pedido está a ser analisado. “Uma vez que esta estação envolve um grande investimento é necessário analisar a proposta da construção. Ainda não há um calendário para a conclusão da análise, mas tentaremos fazer mais rápido possível” disse, concordando com a necessidade da construção da estação de tratamento em Seac Pai Van. Água sem problemas Depois de uma visita à estação de tratamento de água da SAAM, o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, afirmou que a água “não tem nenhum problema”, e todos os cidadãos podem consumi-la com confiança. Pac On pode abrir em meados de 2016 O terminal marítimo do Pac On poderá abrir em meados de 2016, confirmou ontem Susana Wong à TDM. Em declarações reproduzidas pela rádio, a directora dos Serviços dos Assuntos Marítimos e da Água disse que, “se tudo correr bem”, o Gabinete para o Desenvolvimento das Infra-Estruturas vai entregar a estrutura principal do novo terminal à DSAMA no final deste ano, sendo que após “seis meses” poderá estar tudo operacional. O terminal tem sido alvo de sucessivos atrasos.
Flora Fong SociedadeCasamentos falsos | Pedida investigação e revisão da lei [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Associação de Mútuo Auxílio dos Operários de Macau e a Macau Civil Power afirmaram que existem pessoas a oferecer casamentos falsos para ganhar lucros. A Direcção dos Serviços de Identificação (DSI) já tem um mecanismo para perceber os casos, cooperando com o interior da China. Segundo os dados da Polícia Judiciária (PJ), de Janeiro a Julho deste ano foram 112 os casos de casamento falso, enquanto em todo o ano passado foram apenas 43 os casos registados. Ao Jornal Exmoo, as duas associações apontaram que existem pessoas que questionam os residentes homens de meia idade no Jardim Iao Hon e Jardim Triangular sobre se são solteiros e dizem que, se ajudarem as mulheres do interior da China a casar – ainda que de forma falsa – em Macau, podem ganhar entre 60 a cem mil patacas. Acrescentaram ainda que, quando os residentes de Macau e os seus cônjuges da China continental mudam de residência quatro anos depois do casamento, podem pedir ao organismo competente do interior da China a residência em Macau, ganhando BIR e as regalias do território. As associações pedem, por isso, ao Governo uma investigação profunda e a revisão da lei para impedir as ilegalidades. O Secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, afirmou também em Abril que muitas mulheres de diferentes regiões da China continental têm vontade de casar com residentes de Macau apenas para ter BIR e ganhar as regalias do Governo.
Hoje Macau SociedadePedras gigantes superam Stonehenge e podem ser descoberta sem precedentes [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]rqueólogos acreditam que cerca de uma centena de monolitos descobertos a poucos quilómetros do misterioso monumento arqueológico de Stonehenge poderão ser a maior estrutura neolítica da Grã-Bretanha. As pedras de 4,5 mil anos, algumas com mais de 4 metros de altura, estão enterradas a cerca de um metro de profundidade e foram identificadas com o uso de um radar no «Super-henge» de Durrington Walls, um enorme círculo de pedras, muito maior do que Stonehenge, na mesma região do monumento. O monumento, que terá 1,5 km de circunferência e 500 m de diâmetro, é de uma «escala extraordinária» e único, de acordo com os pesquisadores. A área de Durrington Walls terá cinco vezes o tamanho de Stonehenge. O grupo de cientistas do Stonehenge Hidden Landscapes está a trabalhar num mapa subterrâneo da área há cinco anos. O novo monumento situa-se a apenas três quilómetros de Stonehenge e acredita-se que era um lugar destinado à realização de rituais. As pedras foram erguidas ao lado de uma vala circular de cerca de 20 m de diâmetro. Os cientistas descobriram que as pedras ficavam de pé, no que poderia ser um monumento mais impressionante do que o outro. «Pensamos que não há nada como isto no mundo», disse o investigador que liderou o grupo, Vince Gaffney, da Universidade de Bradford. «Isto é completamente novo e a escala é extraordinária», sublinhou. O uso de radar permitiu mapear estrutura sem fazer escavações. A presença do que parecem ser pedras, cercando o local de um dos maiores estabelecimentos neolíticos da Europa, acrescenta um novo capítulo à história de Stonehenge. As descobertas estão a ser anunciadas no primeiro dia do Festival de Ciência Britânico, na Universidade de Bradford.
Leonor Sá Machado SociedadeGPDP | Queixas aumentam. Organismo precisa de mais pessoal Já foi publicado o novo relatório do GPDP e os dados são claros: as queixas de infracções no tratamento de dados pessoais aumentaram substancialmente e são precisos mais funcionários para dar conta do recado [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]m 2014, o Gabinete para a Protecção dos Dados Pessoais (GPDP) abriu 194 processos de investigação, número que aumentou 37,6% face ao ano anterior e a maioria diz respeito a casos de falta de legitimidade do tratamento destes dados. De acordo com o mais recente relatório do GPDP, 74,2% dos casos chegaram às mãos do Gabinete através dos próprios titulares da informação, sendo que a grande maioria dos casos remete para entidades privadas e não públicas. “Incluem principalmente as entidades dos sectores do Jogo e do comércio por grosso e retalho enquanto as entidades dos serviços pessoais e do sector de telecomunicações ocuparam o segundo lugar”, escreve a entidade no relatório do ano passado. Também no ano passado foram concluídos 143 casos, tendo sido aplicadas sanções a entidades em 16,8% dos processos de investigação. Em termos de trabalho jurídico, o mesmo relatório indica que foram tratados 59 pedidos de parecer, 45 de autorização e 608 notificações de tratamento de dados pessoais. Mais pessoal Em comunicado, o GPDP refere que o Coordenador, Vasco Fong, acredita haver “enormes desafios para as autoridades”. No mesmo documento, o Gabinete mostra necessidade de aumentar o volume de recursos humanos. “[O GPDP] espera reforçar os recursos do Serviço, incluindo o nível técnico e o estatuto da instituição, com o objectivo de se aproximar aos padrões internacionais e se dedicar ao estabelecimento de um regime efectivo de protecção de privacidade”, refere o documento. Para o Coordenador do GPDP, um dos passos mais importantes é o esclarecimento da população relativamente à importância do tratamento dos dados pessoais. “O GPDP vai promover, gradualmente, divulgação de informações com conteúdo mais profissional, no intuito de consciencializar os cidadãos sobre as noções dos dados pessoais – formar a consciência da população em geral, elevar os seus conhecimentos até um nível suficiente para saber auto proteger os seus dados pessoais”, explica a entidade no relatório. Além disso, o GPDP tem feito uma série de cursos e participado em workshops e seminários de actualização de temas, incluindo reforço da privacidade em rede global. Também em 2014 o GPDP marcou presença na Conferência Internacional de Autoridades de Protecção de Dados e Privacidade e na Conferência do Grupo de Orientação do Comércio Electrónico da APEC. Para além disso, o GPDP realizou 160 sessões de esclarecimento, cursos de formação, seminários e palestras com a participação de mais de nove mil pessoas. “Através de várias formas de divulgação, o GPDP espera elevar a consciência da população em geral sobre a protecção de dados pessoais”, escrevem.
Hoje Macau SociedadeIPM | Alunos de países lusófonos deverão duplicar em 2016 [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]presidente do Instituto Politécnico de Macau (IPM) disse ontem que os alunos em intercâmbio dos países lusófonos deverão duplicar para cem no próximo ano lectivo, quando o instituto ganhar espaço nas antigas instalações da Universidade de Macau (UM). “A falta de espaço é a primeira dificuldade com que nos deparamos na formação de bilingues”, afirmou Lei Heong Iok à agência Lusa, à margem de um seminário que decorre até terça-feira no IPM. Em Agosto do ano passado, o Governo anunciou que as antigas instalações da UM, localizadas na Taipa, vão ser reservadas para o ensino superior, após terminada a respectiva transferência para a Ilha da Montanha. Várias universidades manifestaram interesse, tendo o Governo atribuído as concessões este ano. “Felizmente, o Governo cedeu ao IPM cinco edifícios no antigo campus da UM. No próximo ano vamos deslocar para lá o nosso Centro Científico e Pedagógico da Língua Portuguesa e um dos edifícios será para dormitórios. Nessa altura, teremos melhores condições, em particular para os dormitórios”, explicou. Actualmente, as residências dos estudantes funcionam dentro do IPM, além de outros alojamentos fora do instituto. Segundo Lei Heong Iok, o número de estudantes de intercâmbio de países lusófonos no IPM passou de cerca de 30 em 2014 para um pouco mais de 40 este ano e a meta é chegar a cem no próximo ano. A maior parte destes alunos vem de Portugal, nomeadamente no âmbito da licenciatura em Tradução e Interpretação Português/Chinês – Chinês/Português, em parceria com o Instituto Politécnico de Leiria. Este ano, o IPM reforçou a oferta na área com o curso de Relações Comerciais China-Países Lusófonos, uma licenciatura que para Lei Heong Iok “resulta da consciência clara da importância do português no diálogo empresarial entre a China e a lusofonia”. Também presente no seminário de ontem, o secretário-geral do Secretariado Permanente do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países da Língua portuguesa, Chang Hexi, salientou o aumento da procura de quadros bilingues em Macau, mas também no interior da China, graças ao desenvolvimento das relações económicas e comerciais com o universo lusófono e, em especial, às políticas de Pequim para estimular a internacionalização das empresas chinesas. “Registou-se, nos últimos anos, um grande aumento de investimento chinês nesses países, pelo que, as empresas chinesas também carecem urgentemente de talentos bilingues”, referiu. Chang Hexi estimulou ainda os participantes no seminário “a apresentarem propostas para um melhor aproveitamento das vantagens de Macau para o ensino bilingue”.
Leonor Sá Machado SociedadeTabaco | Quase 29 mil pessoas multadas desde 2012 [dropcap style=’circle’]J[/dropcap]á quase 29 mil pessoas foram multadas, desde Janeiro de 2012 até Agosto passado, por fumarem em locais proibidos. Os dados, que chegam dos Serviços de Saúde (SS), apontam para a realização de 874,8 mil inspecções a estabelecimentos. Os cibercafés continuam a ser os locais onde mais pessoas infringem os regulamentos, havendo cerca de mil casos só nestes primeiros seis meses do ano. Os mesmos dados indicam que a esmagadora maioria dos infractores nos casinos era turista e foi detectado num total de 301 inspecções a estes locais. Entre o total de 298 multados, 239 eram estrangeiros, 58 residentes locais e um TNR. No que diz respeito ao resto do território, mais de 188 mil destas fiscalizações foram efectuadas este ano, tendo sido registadas 4683 acusações, sendo a maioria dos casos de pessoas a fumar em locais proibidos, outros 27 casos de “ilegalidades nos rótulos dos produtos de tabacos” e outros seis de estabelecimentos que vendiam tabaco de forma igualmente ilegal. A esmagadora maioria dos infractores apanhados em locais proibidos era do sexo masculino – cerca de 92,7% do total – residente na RAEM, apenas 214 das situações tendo envolvido TNR. As infracções em espaços públicos exteriores como zonas de lazer e parques e centros comerciais ficaram-se pelas 1200 no total. No entanto, as forças policiais tiveram de intervir em 206 do total de casos, desde Janeiro deste ano. Os SS avançam que 78,9% dos multados já efectuaram o pagamento devido.
Filipa Araújo Manchete SociedadeSJM |Coreia pede silêncio à família sobre morte de trabalhador. Resultados da autópsia atrasados O caso do jovem trabalhador da SJM que morreu na Coreia do Norte ainda não terminou, com a família a não ter acesso aos resultados da autópsia por faltar autorização do MP. De Pyongyang chegam convites para que se mantenham em silêncio [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]jovem trabalhador que morreu na Coreia do Norte, onde trabalhava num casino do grupo da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), ainda não foi enterrado e não há ainda resultados da sua autópsia. No final do Julho, o HM avançou com o caso da morte do trabalhador da SJM, que fora transferido para o Casino Pyongyang, na Coreia do Norte. Sem encontrar grandes explicações para a morte do jovem Lei Weng Fu, de 29 anos, a família não acreditou nas justificações do casino norte-coreano que indicavam suicídio, tendo até a equipa médica do casino em causa avançado que o trabalhador em causa sofria de uma deficiência mental. Sem quase nada perceber, a família entrou em contacto com a SJM exigindo que o corpo do jovem fosse trazido para Macau – custos da transladação assumidos por Angela Leong – e que aqui fosse feita uma autópsia para perceber a possível causa da morte de Lei. Mais de um mês decorrido e o desenvolvimento do caso pouco ou nada de novo traz, excepto que a família não teve ainda acesso aos resultados da autópsia e que o funeral ainda não aconteceu. “O funeral do meu sobrinho era para ser realizado no início de Agosto, depois de termos conseguido trazer o corpo dele para Macau, mas o casino [da Coreia do Norte] disse que pagava o funeral e nós esperámos”, explicou ao HM Mei Chao, tia do trabalhador, adiantando que esta é apenas uma das razões para que o funeral ainda não tenha acontecido. “O corpo continua no Hospital Conde São Januário”, indicou ao HM. O preço do silêncio “Depois da publicação da notícia no jornal português [HM], o advogado do casino contactou-nos e disse que se não falássemos mais sobre o casino que eles nos davam dinheiro para fazermos um funeral melhor, mas já passaram duas semanas e ainda não recebemos nada, não sabemos de nada”, contou a tia da vítima, indicando que a família aceitou não voltar a falar sobre o casino até agora. Com alguns problemas financeiros, a família mostra-se exausta e cansada de uma situação com contornos pouco normais, não sabendo como agir. Feitas as contas, explica a tia, são necessários mais de 50 mil patacas para todo o processo, dinheiro que a família não tem. MP mudo e calado A segunda razão pelo qual o funeral ainda não aconteceu, explica a familiar, deve-se ao silêncio do Ministério Público (MP) de Macau. No seu direito, a família exigiu que quando o corpo entrasse em território de Macau fosse realizada uma nova autópsia para verificar a veracidade do exame feito pelos médicos norte coreanos. “Sabemos que a autópsia já foi feita, mas nós [família] não temos acesso ao resultado porque ainda não houve um juiz do MP que desse a autorização, é preciso isso para as autoridades nos darem o resultado. Até hoje, continuamos sem saber as causas da morte do meu sobrinho”, explicou. O exame feito pelas autoridades médicas da Coreia do Norte indicavam que Lei se suicidou, algo em que a família nunca acreditou. As mesmas autoridades indicaram ainda que o trabalhador sofria de uma doença mental, mas, sabe-se agora, que nunca foram realizados quaisquer exames. “Foi diagnosticada uma doença mental ao meu sobrinho, mas afinal nunca foi feito nenhum exame, essa informação foi apenas espalhada pelos colegas de trabalho, há muitas coisas que não batem certo”, indicou. As perguntas que foram feitas pela família às autoridades da Coreia do Norte, à SJM e até ao amigo mais próximo do jovem morto nunca foram respondidas. O assunto continua a ser uma incógnita e aquele jovem com apenas 29 anos continua sem ter direito ao seu último adeus, o funeral.
Filipa Araújo Manchete SociedadeAutocarros | Assinatura de novo contrato com a TCM para breve O Governo anunciou ontem que a assinatura do novo contrato com a TCM – que vem substituir um ilegal – está para muito breve. Criado com base no actual contrato da operadora Nova Era, a TCM terá que mostrar um maior respeito pelo meio ambiente e controlar os seus lucros [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]ntem, em Boletim Oficial, foi publicada uma ordem executiva, assinada por Chui Sai On, Chefe do Executivo, que atribui a Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas, os poderes necessário para representar a RAEM na revisão do novo contrato relativo ao serviço público de transportes colectivos rodoviários de passageiros, entre o Governo e a operadora Sociedade de Transportes Colectivos de Macau (TCM). Este é o contrato que vem substituir o actualmente utilizado pela operadora, considerado ilegal pelo Comissariado contra a Corrupção. Num comunicado à imprensa, o Governo explica que as negociações com a operadora foram “relativamente satisfatórias”, algo que não acontece com a Transmac. “Ambas as partes concluíram já as negociações sobre a revisão do contrato, reunindo condições para a celebração da escritura pública relativa à revisão”, indica o comunicado. O novo contrato irá permitir o “aumento das obrigações contratuais [da TCM] destacando-se, entre outras: a observância ao regime das concessões de serviços públicos, a indexação das receitas à avaliação dos serviços, o maior respeito da frota para com o meio ambiente e o controlo de lucros”. Descubra as diferenças O novo mecanismo de exploração é “mais ou menos idêntico ao da Macau Nova Era de Autocarros Públicos, mas há uma ligeira diferença nos contratos das duas companhias face ao ajustamento de direitos e obrigações contratuais no contrato inicial da TCM, como por exemplo, prazo da concessão e limite máximo da assistência financeira”, indica o Governo, explicando que posteriormente serão tornados públicos os pormenores do novo contrato. Questionada pela Rádio Macau, a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) explicou que o novo contrato será assinado “dentro de um curto espaço de tempo”. Relativamente à outra operadora ainda com contrato antigo, a Transmac, o Governo explica que os “trabalhos estão a ser feitos de forma acelerada e a companhia mostra-se positiva com o processo”. Apesar disso, ainda não foram terminadas as negociações, indicando o Executivo que tal irá acontecer o mais breve possível. As duas operadoras funcionam com um contrato que, aos olhos do Comissariado contra a Corrupção, são ilegais por não darem poder ao Executivo na prestação dos serviços das operadoras.
Flora Fong SociedadeAves | Oposição à substituição de vivos por congelados [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]proposta de acabar com o abate das aves de capoeira e passar a importar directamente aves congeladas não agradou aos grossistas do sector. O Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) foi quem apresentou a proposta, mas o sector considera que esta ideia vai destruir a sobrevivência do mercado. A proposta chegou depois da propagação da gripe das aves, que atingiu a China o ano passado. O IACM considera que a importação de frangos congelados seria melhor para evitar esta doença, mas os comerciantes dizem que as inspecções actuais são suficientes e que não permitem grandes hipóteses de contaminação. “Actualmente, as aves vivas não podem ser importadas sem a inspecção, nem são guardados para o dia seguinte caso não consigam ser vendidas. O mercado abastecedor faz limpezas várias vezes por mês e está distante das habitações, pelo que a hipótese de haver esta estirpe da gripe é muito pouca”, defendeu ao Jornal do Cidadão o representante dos grossistas de aves de capoeira de Macau, Chao Wa Seng. O Conselho de Administração do IACM explicou no início deste ano que a ideia de haver um abate centralizado permitiria escolher sítios mais distantes da população. Chao Wa Seng diz contudo que o sector está já em extinção e não recebe apoio do Governo, pelo que criticou a proposta do IACM em substituir os frangos vivos pelos refrigerados. O sector vai perder todo o espaço de sobrevivência, diz, e todos os trabalhadores podem passar a estar desempregados. O representante quer que as coisas se mantenham iguais, mas o presidente do Conselho do IACM revelou na semana passada que a província de Guangdong apresentou a mesma proposta e que esta pode mesmo a vir ser aplicada em Macau, ainda que venham a ser realizadas consultas públicas no segundo semestre do ano.
Hoje Macau SociedadeJockey Club | Governo renova contrato de concessão por mais dois anos Apesar das quebras consecutivas nos lucros e da torrente de críticas face às condições do Jockey Club, o Governo renovou por mais dois anos o contrato exclusivo para as corridas de cavalos [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Macau Jockey Club conseguiu a renovação do contrato exclusivo das corridas de cavalos, apesar dos prejuízos e críticas às condições a que estão sujeitos os animais. O Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, confirmou a renovação do contrato de concessão por um período de dois anos à Companhia de Corridas de Cavalos, que opera o espaço. A decisão do Governo, que já tinha sido avançada a semana passada pelo Jornal Tribuna de Macau, não foi ainda publicada em Boletim Oficial, mas Lionel Leong disse na sexta-feira à imprensa que o novo contrato seguia os mesmos termos do que expirou a 31 de Agosto. “O departamento relevante sugeriu a renovação da licença por mais dois anos. De acordo com a actual situação, devemos utilizar estes dois anos para procurar desenvolver mais o Macau Jockey Club. Isto fará com que estejam de acordo com o desenvolvimento económico, incluindo a posição de Macau como centro de turismo internacional”, disse Lionel Leong, citado pela TDM. A renovação da concessão acontece numa altura em que a empresa tem prejuízos acumulados de 3,8 mil milhões de patacas até 2014. Apesar de anos consecutivos com as contas no vermelho, a empresa manifestou sempre o interesse de continuar. Numa resposta escrita à Lusa no início de Agosto, o director-executivo, Thomas Li, afirmou que o agravamento dos prejuízos de 2013 para 2014 “deve-se à tendência de baixa do volume de negócios, a qual é semelhante à experimentada pelo sector do Jogo em Macau e também noutros clubes de corridas na Ásia”. As perdas da empresa arrastam-se, no entanto, desde 2005, enquanto a rota descendente das receitas brutas dos casinos só foi encetada em Junho de 2014. Para fazer face a essa “tendência”, o Macau Jockey Club “considera que o mais importante é melhorar as instalações, bem como os serviços (…), sendo a primeira prioridade a renovação das pistas”. “Os futuros aperfeiçoamentos vão levar-nos em direcção a padrões internacionais e a atrair mais clientes”, acrescentou. ANIMA desagradada A renovação da concessão do Macau Jockey Club foi já contestada pela Sociedade Protectora dos Animais – ANIMA, que questiona a gestão da empresa e as condições em que vivem os cavalos, nomeadamente os já retirados das provas. “Não conseguimos perceber (…) como é que uma empresa que está insolvente, quase tecnicamente falida, pode fazer mais. Modernizar o quê, se os estábulos estão a cair (…) e as instalações completamente degradadas? Durante tantos anos essa empresa foi incapaz de gerir o Jockey Club de forma eficiente e agora o Secretário [para a Economia e Finanças] entende que em dois anos esses senhores vão fazer um grande investimento”, disse o presidente da ANIMA, Albano Martins, na TDM. “A ANIMA protestou junto do Secretário [para a Economia e Finanças] e enviou uma carta ao Comissariado contra a Corrupção (CCAC) para que a empresa seja investigada, porque nós não conseguimos acreditar como é que uma empresa que tem (quase) quatro milhões de patacas de prejuízos entende que deve continuar a fazer esse negócio”, acrescentou. Dados consultados pela Lusa mostram que a Companhia de Corridas de Cavalos soma prejuízos anuais consecutivos desde 2005. O pior registo financeiro remonta a 2006 com perdas de 286,6 milhões de patacas. Desde 1999, teve lucros apenas em quatro anos, com o mais recente a remontar a 2004, de acordo com os mesmos dados. Os anos seguintes oscilaram entre ligeiros altos e baixos, mas as contas mantiveram-se negativas até 2014, ano que encerrou com prejuízos de 51,2 milhões de patacas. As receitas das corridas de cavalos no cômputo do sector do Jogo: em 2014 totalizaram 306 milhões de patacas, ou seja, apenas 0,08%. Já era Numa visita, a Lusa viu que as corridas estão reduzidas a meia dúzia por mês e as bancadas estão [geralmente] “às moscas”. Funcionários do Jockey Club, que falaram sob a condição de anonimato, apontaram como principal motivo “a concorrência dos casinos” e também o facto de terem as obras do metro ligeiro – em construção – literalmente à porta há um par de anos. “Com tantas construções à volta agora quase nem se percebe onde é a entrada”, afirmou uma funcionária. Esse argumento é utilizado para justificar, em parte, a degradação das infra-estruturas do local, com um desgaste visível incluindo nas áreas públicas. O mau estado das infra-estruturas é do conhecimento público e foi inclusivamente exposto numa carta aberta de membros clube, cujos excertos foram reproduzidos pelo jornal South China Morning Post. Esta missiva surgiu pouco depois de um cavalo ter sofrido lesões na sequência da queda de um bloco de cimento do teto dos estábulos, o que o afastou temporariamente da competição. Tanto as críticas dos membros do clube como as notícias de que as precárias instalações têm estado na origem de acidentes foram desvalorizadas pelo Macau Jockey Club na conversa com a Lusa. “Às vezes as reparações podem demorar mais por causa do tempo ou dos materiais. Aconteceram um ou dois acidentes, mas estão sempre a decorrer reparações”, afirmou um dos responsáveis. Em resposta escrita à Lusa, o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) – que procede a fiscalizações não periódicas às cavalariças e a inspecções sanitárias aquando da importação e exportação – disse ter verificado recentemente que os animais recebiam os “devidos cuidados e que a limpeza, na maioria das cavalariças, atingia o nível satisfatório”. Este instituto aconselhou, porém, o Jockey Club “a prestar atenção à manutenção e gestão das instalações e, ao mesmo tempo, à limpeza, desinfecção e prevenção de doenças, bem como à eliminação de perigos para a segurança no interior das cavalariças, de modo a garantir a protecção dos cavalos e trabalhadores”. Segundo dados facultados à Lusa pela empresa, o Macau Jockey Club tem actualmente cerca de 430 cavalos, incluindo duas dezenas de retirados das competições, a maioria de residentes de Hong Kong e da China. Deputados esperam novo modelo de operação Os deputados Si Ka Lon e Zhen Anting consideram que não faz sentido o Jockey Club manter a situação actual e esperam que a empresa comece as novas operações durante mais dois anos com um diferente “pensamento de negócio” e diferentes projectos. Em declarações ao Jornal Ou Mun, Si Ka Lon apontou que o Jockey Club já perdeu lucros há mais de um ano, algo que significa, para o deputado, que o espaço não está a ser bem aproveitado. Apesar de considerar “aceitável” que o Governo renove por mais dois anos a concessão – considerando a necessidade de diversificação económica –, Si Ka Lon acha que o Jockey Club tem de mostrar que merece manter-se. “O actual modelo de operação não é viável. Caso haja novos pensamentos e planeamento de negócios, é bom que a concessão seja renovada, caso continue a perder lucros não faz grande sentido continuar por mais dois anos. Em primeiro lugar, o Jockey Club deve fazer parar a queda das receitas, depois pensar em desenvolver-se. Por exemplo, poderia pensar em promover mais o hipismo.” Zheng Anting concorda e diz que, actualmente, o Jockey Club abre apenas quando há corridas, mantendo-se silencioso nos restantes dias, pelo que considera também que este espaço “tão grande” não foi aproveitado de forma apropriada. O deputado sugere que a operadora introduza factores não jogo como parques de diversões, actividades para famílias e espaços criativos e culturais, criando mais movimento no local.
Joana Freitas SociedadeDados Pessoais | Sites visitados por adolescentes sem protecção Sem protecção de dados e com muita facilidade em desencaminhar os adolescentes. São assim quase todos os sites e aplicações visitados pelos jovens de Macau [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s sites visitados pelos adolescentes de Macau não estão bem sinalizados no que à protecção de dados pessoais diz respeito. A conclusão é do Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais (GPDP), depois da participação deste na terceira edição da acção “Privacy Sweep”, que juntou 29 autoridades da privacidade de todo o mundo. Dados publicados pelo GPDP mostram que “nenhum dos sítios avaliados fornece vias para os utilizadores cancelarem a conta, permitindo que os dados pessoais no perfil e os dados publicados através da conta possam ficar guardados permanentemente e ser lidos por outros”. Quase 1500 sites e aplicações móveis foram avaliadas – nove delas pelo GPDP, que indica ainda que nenhum dos sítios “define medidas de controlo e de protecção pelos pais dos adolescentes”. A maior parte dos sites pode guiar os utilizadores ou fazer ligação a outros locais na rede, permite a inserção de publicidade por terceiros e facilita o contacto dos adolescentes com informações inesperadas. O relatório indica ainda que a maior parte “não fornece informações suficientes aos utilizadores para conhecerem bem a política de tratamento de dados pessoais”. Situação que, para o GPDP, merece atenção. “O GPDP espera que possa ser elevada a atenção sobre a utilização da internet pelos utilizadores, sobretudo pelos adolescentes, consciencializando-os de que os dados pessoais publicados na internet não podem ser cancelados. Por outro lado, os operadores também têm que tomar em consideração os utilizadores adolescentes, adoptar medidas de controlo convenientes, fiscalizar e cancelar oportunamente as informações que envolvem a privacidade dos adolescentes e outras informações adversas.” Faltava o quase O estudo no qual participou o GPDP foi levado a cabo pela Global Privacy Enforcement Network (GPEN), em Maio. O tema deste ano foi a “privacidade do adolescente” e consistia em avaliar os riscos para a privacidade encontrados em sites ou em aplicativos móveis destinados principalmente a esta faixa etária. A avaliação dividiu-se em questões como quais os dados pessoais dos utilizadores necessários na altura do registo, se existe ou não a função de cancelamento da conta, quais as medidas de protecção destinadas aos adolescentes e qual o grau de transparência das informações fornecidas aos utilizadores. O resultado não foi animador. “O GPDP pesquisou na internet nove sítios que permitem uma inscrição e utilização pública, destinados principalmente aos adolescentes, abrangendo fóruns de discussão das escolas primárias, secundárias e das universidades, fórum de animação e de jogo e de temas adultos. Nenhum dos sítios avaliados adopta o sistema de autenticação do nome real, fiscaliza a idade, ou confere se o utilizador é ou não menor. À excepção de um, dão um elevado grau de liberdade aos utilizadores, permitindo-lhes carregar fotos/filmes/ficheiros de som e divulgar mensagens por escrito. Os visitantes podem navegar pelos ficheiros e publicações sem se registar. Além disso, uma parte dos sítios tem fórum de temas adultos, mas não define medidas de controlo e de protecção nem pede a idade dos utilizadores. Entre os sítios avaliados, somente dois oferecem aos utilizadores declaração da política de privacidade.” O relatório indica ainda que os locais na rede recolhem dados pessoais dos utilizadores mas não os alertam para o facto de que os dados pessoais correm o risco de ser vistos e utilizados por terceiros. Segundo o resultado da avaliação, o organismo assegura que vai enviar ofícios aos exploradores dos sites, sugerindo-lhes que melhorem as situações.
Joana Freitas SociedadeFitch mantém avaliação de Macau apesar das quebras [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Agência de Notação Fitch manteve a avaliação de crédito de Macau como “AA”, notação anteriormente atribuída à RAEM pelas agências financeiras. Num comunicado à imprensa, a Autoridade Monetária de Macau (AMCM) explica ainda que a agência mantém a previsão de contracção da economia a 16%. “A Fitch emitiu um comunicado onde diz que, apesar de a economia da RAEM ter continuado a registar uma contracção, no segundo trimestre de 2015, tendo presente a capacidade financeira estável do Governo e a favorável situação em termos de pagamentos externos, tomou a decisão de manter a classificação da RAEM no nível de AA-, com a perspectiva de ‘Estável’”, pode ler-se no comunicado da AMCM. No relatório sobre Macau, a Fitch destaca o facto de todos os casinos continuaram a lucrar. A agência diz admite que existem “sinais de que a economia começou a abrandar” e de que “o consumo das famílias e crescimento do investimento de capital caíram”, mas explica que esta descida partiu de uma base financeira elevada. A inexistência de dívidas é um dos pontos mais favoráveis à avaliação da RAEM, como indica a AMCM. “A Fitch apontou que as vantagens gerais de crédito da RAEM consistem, principalmente, [no facto de que] a solvência externa da RAEM é positiva, sem quaisquer encargos de dívidas, enquanto que a dimensão actual da Reserva Financeira excede a do produto interno bruto, sendo suficiente para cobertura de seis vezes do valor das despesas públicas orçamentadas no ano económico de 2015”, começa por apontar o comunicado, que acrescenta que “a sólida capacidade financeira confere ao Governo uma margem suficiente para ajustar e controlar a economia local, estimulando o desenvolvimento económico que se quer diversificado”. Vantajoso e diversificado O Governo realça que a economia tem entrado numa fase de ajustamentos, mas indica que a manutenção da nota AA só demonstra a capacidade da RAEM em manter as suas vantagens de crédito. A AMCM admite que o comportamento face à economia vai ter de ser “de grande prudência”, ainda que assegure que, segundo as suas estimativas, o sector bancário vai continuar a suportar a boa qualidade dos activos e “uma situação relativamente estável do capital”. A Fitch prevê que, no segundo semestre, as receitas dos casinos continuem “estáveis” da forma que estão – uma vez que a descida é vista como a normalização dos lucros depois de um primeiro ‘boom’ do Jogo – e admite mesmo a possibilidade de os novos empreendimentos turísticos do Cotai ajudarem a diversificar a economia local, uma vez que, cita a AMCM, “captam mais turismo A Fitch mantém as suas previsões de 16% na contracção da economia para este ano.
Filipa Araújo Manchete SociedadeImobiliário | Queda é uma falácia, dizem economistas O vice-presidente de uma associação de imobiliário avança com números de 30% na queda do sector, mas para alguns economistas tudo isto não passa de propaganda fantasiosa [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]notícia foi avançada por William Kuan, vice-presidente da Associação dos Empresários do Sector Imobiliário: o mercado imobiliário apresentou uma queda de 30%, só este ano. Contudo, as contas podem não ser bem assim, conforme dizem ao HM alguns economistas. William Kuan afirmou, ao canal chinês da Rádio Macau, que na origem da queda estão “factores psicológicos” da sociedade e não factores monetários. Adiantou ainda que, com a queda sentida, os preços estão a atingir o “limite mínimo”, afectando os investidores. A concordar esteve também o subdirector da Associação Promotora da Economia, Tong Kai, que defende uma continuidade de “ajustes” nos preços do sector imobiliário. Areia para olhos Questionado sobre os números avançados, o economista Albano Martins alertou para a falácia que as declarações dos representantes podem significar. “Não é nada disto”, garantiu o economista, explicando que “não existe nenhum factor da ordem psicológico”. O que existe, diz, “é uma bolha de imobiliário que começa a rebentar por não haver a procura do imobiliário, como se vê pelo número de acções que têm vindo a cair e [pela queda das receitas] do Jogo”. As declarações dos representantes do sector do imobiliário são consideradas por Albano Martins uma “propaganda” que fomenta e cria a ilusão de que o mercado tem casas a um menor custo. “Isto não passa de publicidade para que as pessoas pensem ‘bem, vou comprar a minha casa agora porque isto já não vai cair mais’. Não é verdade”, argumenta Albano Martins, que defende que a bolha imobiliária tem sido alimentada também pelas quedas contínuas das receitas do Jogo. Também o economista José Sales Marques argumenta que “as previsões das agências do imobiliário são sempre de uma qualidade duvidosa, no sentido em que não são eventualmente imparciais. A gestão da informação por parte das agências tem sempre uma intenção de agitar o mercado”. Já para Gabriel Tong tem existido de facto um movimento inferior do que aquele que já se fez sentir anteriormente no mercado imobiliário, mas o deputado confia nas contas feitas. “Não tenho acesso à taxa de crescimento, [mas] acredito que os representantes das associações tenham as suas fontes de informação, por isso não posso verificar a veracidade dos dados”, diz. Sobre o factor psicológico avançado pelo vice-presidente da Associação dos Empresários do Sector Imobiliário, Gabriel Tong acredita que possa ter influência. A queda do mercado pode ser reflexo da ideia da sociedade, diz, mas “também existem outros factores, como o preço das casas, que continua a ser alto”. Para um cidadão dito normal, com um padrão de vida normal, “continua a não ser muito fácil comprar uma casa”. Queda bem maior Sem comentar a percentagem da queda apresentada por William Kuan, Albano Martins acredita que os números serão bem maiores. “Não sei se são 30%, 40% ou 50%, mas a verdade é que [o sector] vai cair muito mais”, diz. O limite mínimo que o vice-presidente indica também é desvalorizado pelo economista. “Claro que não atingiu o limite, o sector imobiliário mais do que duplicou, triplicou nos últimos anos, portanto a queda terá que ser muito mais acentuada para se aproximar dos valores reais do mercado”, defende. “Não tenho dúvidas em achar que o mercado [imobiliário] em Macau continua sobreaquecido. Os preços que se praticam são preços que em muito pouco estão relacionados com a realidade aqui vivida, e das suas pessoas, com a realidade com a situação económica e eventualmente com a realidade da própria procura real que existe, porque efectivamente esses preços subiram de uma forma muito especulativa”, argumenta Sales Marques. Também o economista acredita que uma queda de 30% não será suficiente para “colocar os preços a um nível que em princípio seria um nível determinado pelas forças de mercado sem sofrer influência especulativa”. Sales Marques afirma existir ainda “muito espaço” para melhorias do mercado. Gabriel Tong frisa ainda que não se pode “subestimar” um sector tão delicado como o imobiliário. Auto-Silos | Governo aumenta preços de 11 parques Os preços dos parques de estacionamento vão aumentar. A decisão do Conselho Consultivo do Trânsito, que se reuniu na sexta-feira, é a de aumentar o preço de 11 auto-silos até ao final de 2015, subida que posteriormente será estendida para todos os parques de Macau. Em termos práticos, os preços irão aumentar apenas das 8h00 às 20h00, sendo que durante a madrugada o preço irá manter-se como está. Os parques com lugares fixos sofrerão ajustes em mais de 50%, passando para as 2300 patacas, e os sem lugares fixos passam para as 1600 patacas. Em declarações à Rádio Macau, o Director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego, Lam Hin San, diz que “há vários anos” que não era feita uma actualização dos valores. A decisão contou com factores de análise como a “situação do mercado privado, a inflação e as necessidades dos residentes”. Relativamente ao plano de execução, o director explicou à rádio que a aplicação deste será dividida em quatro fases. Uma primeira começará a ser implementada na zona da Portas do Cerco, no terminal dos autocarros, sendo que a ideia principal é fazer com que os autocarros utilizem a zona superior, em vez de passarem por baixo. Numa segunda fase tentar-se-á aumentar este parque, para melhorar o tráfego dos autocarros, sendo que o que está disponível actualmente não é suficiente. A Rádio Macau indica ainda que o Governo quer atenuar o tráfego na zona do Jardim Triangular, aplicando um só sentido de circulação na zona.
Flora Fong SociedadeBarra é novo ponto de entrada ilegal [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Alfândega (SA) revelaram que foram detidos 21 imigrantes ilegais, de Janeiro a Agosto deste ano, só na costa e mar da zona da Barra. O curso das obras no terminal e o sistema de iluminação avariado permitem que imigrantes ilegais tentem entrar no território. A autoridade afirmou que vai estudar a viabilidade de montar um sistema de videovigilância no local. Depois do Jornal Ou Mun ter avançado, na segunda-feira, que a área de costa desde a Escola de Pilotagem até às obras do Centro Modal de Transportes da Barra se tem tornado um ponto de acesso de imigração ilegal, os SA confirmam a notícia, informando, numa resposta ao HM, que até ao momento foram detidos 15 homens e seis mulheres. O chefe do Departamento de Gestão Operacional, Chao Chak Sam, afirmou que a autoridade tem dado muita atenção à situação de entrada ilegal a ocorrer nesta zona e vai, por isso, consolidar o patrulhamento terrestre e marítimo para aumentar a segurança. Quanto à questão do sistema de iluminação avariado, Chao Chak Sam afirmou que como não pertence ao âmbito de gestão da Alfândega, irá transferir a questão para que o organismo competente acompanhe a situação. Ainda assim, a autoridade garantiu que “vai estudar activamente a viabilidade de montagem de câmaras de videovigilância”, de acordo com o Regime Jurídico da Videovigilância em Espaços Públicos. F.F.
Flora Fong SociedadePME | Defendida entrada prioritária nas operadoras de Jogo [dropcap style=’circle’]R[(dropcap]icardo Siu Chi Sen, professor associado de Gestão Empresarial da Universidade de Macau, sugere que as operadoras de Jogo reservem espaços nos seus empreendimentos para o estabelecimento de marcas locais e de pequenas e médias empresas (PME), assim fomentando a diversificação do mercado através da integração de factores não Jogo. Segundo o Jornal Ou Mun e declarações do Chefe do Executivo na passada quarta-feira, apesar da austeridade de despesas desnecessárias, vai ser realizado um estudo e publicadas medidas para reforçar a promoção de Macau enquanto destino mundial turístico, mas não só. Serão ainda criadas mais medidas para apoiar as PME e manter a taxa de empregabilidade alta, fazendo com que não se consolide apenas a base, mas também se desenvolva a economia, mesmo durante o ajustamento. Medida fulcral Ricardo Siu Chi Sen considera que o apoio às PME é a mais importante de todas as políticas referidas. “Ao longo do tempo, o papel das PME tem sido de passividade. Futuramente, caso se pretenda conjugar os factores não Jogo com o desenvolvimento do sector recreativo, seria positivo viabilizar a reserva de sítios para negócios de retalho e restauração de PME nos complexos hoteleiros, não esquecendo produtos locais”, começou o académico por sugerir. “Para uma maior efectividade, o Governo deve tentar, ao máximo, coordenar esta medida com a melhoria do sistema dos transportes públicos”, acrescentou. Questionado sobre a possibilidade de implementar um “fundo de desenvolvimento das PME”, como acontece com o Conselho de Estado da China, o académico referiu que o Governo de Macau tem vindo a promover um plano de apoio ao empreendedorismo de jovens ainda que este, aponta, não tenha atingido os objectivos de eficiência. Ricardo Sen defende que os subsídios do Governo não podem ser criados sem uma meta e sugeriu a criação de uma equipa de conselheiros para acompanhar cada um dos casos.
Leonor Sá Machado SociedadeUM | Alunos abrem lojas para pôr em prática empreendedorismo e gestão Restauração, venda de lembranças e aluguer de bicicletas são agora os novos negócios de estudantes da UM, que gerem lojas para colocar em prática o que aprenderam com os cursos [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Universidade de Macau (UM) permitiu a abertura de quatro novas lojas no seu campus com o objectivo de ensinar aos seus alunos técnicas de Empreendedorismo e como gerir um negócio. De acordo com um comunicado, os alunos que criaram estes espaços dizem que “gerir uma loja no campus ajuda a pôr em prática os seus conhecimentos e promover o seu sentimento de pertença” à instituição. A loja Creatist foi fundada por seis alunos – cujo nome alia “criatividade” a “artista” – e especializa-se na venda de lembranças da UM, localizando-se na Galeria E1 da Universidade. “Deparámo-nos com vários problemas na organização, gestão e promoção, mas apesar destes, vamos trabalhar bastante para lançar mais lembranças alusivas à UM para que os alunos se sintam mais integrados”, disse Lai, um dos criadores da loja. Outros serviços A Umake, por outro lado, mora no Complexo Desportivo N8 da UM e vende postais feitos à mãos e snacks, o nome aludindo à fonética da anterior nomenclatura dada à Universidade: UMAC. Um dos co-fundadores, Cai, garante ter já aprendido “muito” com a abertura do espaço. O jovem estuda na Faculdade de Gestão Empresarial. A terceira loja chama-se On the Run [Na Corrida, em Português] e promove a prática de uma vida saudável, gerindo serviços de aluguer de transportes sustentáveis, como bicicletas para andar no campus. Para os membros da Universidade, a On the Run também funciona como serviço de entregas. “A nossa intenção é fornecer serviços de aluguer de bicicletas a baixo custo para estudantes, mas também uma oportunidade de estágio para outros alunos que também querem integrar esta indústria”, disse Li, uma das criadoras deste negócio. Finalmente, surge a Miss U, loja dedicado à venda de snacks, com o intuito de dar aos alunos mais oferta ao nível da alimentação. Abrir uma loja deste género “sempre foi o meu sonho”, conta Wan, um estudante da Faculdade de Ciências Sociais, que parece ter visto nesta medida da UM uma oportunidade imperdível. “Agradeço sinceramente esta oportunidade e vou recolher opiniões dos clientes para continuar a melhorar o serviço”, destaca.
Hoje Macau SociedadeGalaxy | Kevin Kelley nomeado novo Chefe de Operações [dropcap style=’circle’]K[/dropcap]evin Kelley é o novo Chefe de Operações do grupo Galaxy, de acordo com um comunicado da empresa lançado ontem. Kelley tem mais de 40 anos de experiência na área de Jogo, Hotelaria e Entretenimento, supervisionando funções de Desenvolvimento Empresarial, Premium Internacional e Desenvolvimento do Mercado de Massas no Galaxy, no Hotel Starworld e no Broadway Macau. O novo responsável vai igualmente gerir o desenvolvimento das novas fases do empreendimento. O vice-presidente do grupo, Francis Lui, referiu ser “um grande prazer ter um executivo tão experiente na equipa” do Galaxy. “Estamos ansiosos por trabalhar com Kelley na evolução dos nossos planos para as fases 3 e 4 e levar o GEG [Grupo Entertainment Galaxy] a novos voos, transformando-a na empresa líder do mercado asiático de Jogo e entretenimento”, acrescentou Lui. Já Kelley disse sentir-se “honrado” por fazer parte da equipa, “especialmente numa altura como esta”. O responsável ocupou posições de relevo em vários hotéis e casinos de Las Vegas e Macau, conhecendo tanto o ambiente do Jogo em termos internacionais, como o da região, ao nível local.
Hoje Macau SociedadeSS | Confirmado primeiro caso de brucelose em Macau Foi confirmado o primeiro caso de brucelose em Macau, doença infecciosa que não assolava o território há mais de 25 anos e que atacou uma criança residente de 11 anos. A brucelose é transmitida através do contacto com carne infectada ou lacticínios não pasteurizados. De acordo com um comunicado dos Serviços de Saúde (SS), a jovem apresentou, entre os dias 10 e 12 de Agosto, febre, úlceras no lábio, erupções cutâneas e dores articulares no cotovelo. As queixas levaram a criança ao Hospital São Januário por várias vezes, depois de haver melhorias do seu estado. Finalmente, o corpo médico procedeu a análises que confirmaram a existência de brucelose. No entanto, os SS não conseguiram ainda descobrir a fonte da infecção. A brucelose é causada pela bactéria Brucella e existe em bovinos, cães, porcos, ovelhas e cabras, sendo mais comuns em zonas pouco higiénicas, segundo os SS, do Médio Oriente, África Oriental, América do Sul e Central, Mediterrâneo, entre outros. Pode manter-se no sistema de cinco dias a dois meses e os sintomas são semelhantes aos de uma gripe, mas os doentes em estado mais grave podem apresentar meningite e encefalite. Em último caso, pode mesmo ser fatal. Os SS aconselham à prevenção de brucelose com a melhoria das condições de higiene pessoal e alimentar e utilização de protecção quando em contacto com carnes ou lacticínios.
Filipa Araújo Manchete SociedadeRefugiados | ONU deve “agir” e China ser país participante, defendem especialistas São aos milhares, dezenas de milhares. Os relatos de horror chegam-nos todos os dias e em número cada vez maior. A Europa não consegue encontrar soluções para os refugiados, um problema que nunca foi deles, mas sim de todos nós, da humanidade. Mesmo longe, a China pode e deve assumir uma função, defendem especialistas [dropcap style=’circle]A[/dropcap]ssinalou-se ontem o 70.º aniversário da derrota do Japão na II Guerra Mundial. Macau, como parte integrante da China, não poderia deixar passar a data em branco e também representantes da RAEM marcaram presença nas cerimónias agendadas em Pequim, a capital chinesa. Contava-se o dia 19 de Setembro de 1931 quando o Japão ocupou uma parte do território chinês. A ocupação manteve-se até o fim da Segunda Grande Guerra. Ainda hoje a capital chinesa critica a homónima japonesa por esta não reconhecer a amplitude dos crimes de guerra nipónicos durante a ocupação. Há 70 anos a RAEM – ainda com administração portuguesa – manteve-se neutra e acolheu meio milhão de refugiados na sequência da intervenção japonesa na China e aqui ao lado, em Hong Kong. O Governo de Macau, escreveu – a fim de assinalar a data – que o “grande número de refugiados” que entrou no território “levou a que se excedessem largamente as capacidades do território quanto a bens alimentares, alojamento, higiene, educação e segurança pública”, tendo isto provocado um grande impacto na vida dos residentes locais e tornando “igualmente difícil a assistência e realojamentos desses refugiados”. “As actividades de ajuda humanitária de Macau e as campanhas patrióticas de apoio à China deram origem a um sem número de comoventes histórias sobre a resistência na guerra, escrevendo uma outra história de guerra da população chinesa, possuindo um especial significado e características regionais no seio da história da resistência chinesa nesta guerra”, assinala o Executivo. Também nas décadas de 70 e 80, Macau começou por receber os refugiados do Vietname que gradualmente ocuparam um grande espaço do território. “Nesta altura ainda havia a possibilidade de absorver parte destes refugiados na própria economia. Hoje seria muito difícil Macau conseguir isso”, começou por argumentar ao HM Albano Martins, economista, quando questionado sobre uma possível reacção da Ásia à problemática actual dos refugiados, maioritariamente sírios. Do outro lado Em 2015, 70 anos depois, no outro lado do mundo, os refugiados sírios ultrapassam o meio milhão, em larga escala. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) alertou que o número de refugiados sírios nos países vizinhos bateu recordes passando os quatro milhões, estimando-se ainda que – em Julho passado – o número de deslocados internos tenha ultrapassado os 7,6 milhões. William Spindler, porta-voz da ACNUR, afirmou aos meios de comunicação que a situação “é muito preocupante (…) porque essa população tem uma necessidade de apoio, de toda a parte do mundo, mas até agora não recebeu esse apoio”. “[A população] vive em condições desastrosas, num nível de pobreza absoluta nos países onde se refugiou. Nesses países as condições estão a deteriorar-se e muitos refugiados sírios continuam em busca de protecção e assistência em outras regiões, principalmente na Europa”, afirmou. António Guterres, Alto-Comissário da ONU para os Refugiados, terá ainda classificado esta massa migratória como a “maior população de refugiados vindos de um único país no período de uma geração”, sendo altamente necessária a ajuda de todo o mundo. Questionado sobre o assunto, Albano Martins explica que o cenário é uma clara demonstração de “que a classe política mundial está longe, longe, muito longe, dos grandes líderes do século passado”. Uma questão mundial O problema dos refugiados, diz o economista, é algo muito presente na actualidade. “Seja o caso dos refugiados asiáticos que querem entrar na Austrália, que procuram outros países com alguma dignidade, ou ao olhar para a Europa e toda a questão dos refugiados sírios e líbios, percebemos que se trata de uma consequência de questões mal resolvidas pelas Nações Unidas”, argumenta. Para o também comentador, enquanto estas questões não forem resolvidas, as levas de refugiados “irão continuar a bater à porta”. O ser humano, os países e os seus líderes, não podem “simplesmente fechar os olhos”, diz. “Temos de ter uma solução que passará pela resolução dos problemas destas pessoas, nos sítios de onde eles vêm. No local”, seja na Síria, ou em outro país. A segunda grande potência mundial, a China, apesar de ser uma “economia autoritária, centralizada, sem grandes princípios de liberdade ou iniciativa” deveria dar o exemplo. “Independentemente do seu estatuto político, da sua cor política, a China devia começar a dar o exemplo de comunidade internacional responsável, tendo imensa área onde poderia colocar as pessoas”, argumenta. O problema vivido agora na Europa acontece, diz, por ser o sítio mais próximo dos países africanos em conflito. “Mas estes movimentos devem ser absorvidos por toda a comunidade internacional responsável. As Nações Unidas deviam abrir as portas para que estes refugiados se fossem diluindo ao longo das fronteiras de todos os países, mesmo nos sítios mais contíguos, porque um dia destes vamos ter um problema grave, que é a Europa a dizer que não consegue controlar a situação, até porque tem os seus próprios problemas, e começar a fechar fronteiras, como já está a acontecer”, frisa, referindo-se aos países como a Hungria, Polónia e Áustria. “A Europa tem de dizer às Nações Unidas que isto é um problema mundial e todos os países devem participar na resolução. Isto é como se fosse uma guerra, temos de ter capacidade para, mesmo países com culturas diferentes, dar a volta e resolver este problema de fundo. No local. Não há lógica no desaparecimento de uma população porque meia dúzia de extremistas decidiram matar toda a gente”, argumenta. Admitindo a dificuldade na participação da China, José Sales Marques, presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau, acredita que com uma acção da ONU poderia ser possível. “Claro que se houvesse uma acção coordenada das Nações Unidas, por exemplo, de protecção aos refugiados e de combate às redes de tráfico humano, a China poderia ter eventualmente alguma participação”, explicou, frisando que seria “algo muito positivo”. O problema é que, diz, este tipo de refugiados têm uma perspectiva de “irem para a Europa e assumir este continente como o seu destino”, por isso é complicado. “Há a ideia de que a viver na Europa é um paraíso”, que muitas vezes é uma ideia fomentada pelas próprias redes de tráfico. Neste momento, as coisas estão a agravar-se e para Sales Marques há de facto necessidade, ideia já defendida, em criar uma organização internacional para tratar deste assunto, como foi o caso do “PIA – Plano Integrado de Acção para os Refugiados Indo-chineses”, em 1989, que serviu para ajudar os mais de 840 mil refugiados oriundos do Vietname. Migrantes ou Refugiados? Importante é ainda clarificar os conceitos que a própria comunicação social, um pouco por todo o mundo, tem vindo a utilizar. Não é raro encontrar em notícias o termo “migrantes” quando a refugiados se diz respeito. Por isso mesmo, um dos porta-vozes da ACNUR, Adrien Edwards, explicou – no final do mês de Agosto num comunicado tornado público no site oficial da organização – que a definição correcta é demasiado importante para ser tratada com leviandade e a confusão entre ambos poderá “ter consequências graves para a vida e segurança dos refugiados”. No comunicado, o organismo explica que refugiados “são pessoas que fogem de perseguições ou de conflitos armados”, sendo que a situação que estes vivem é “tão perigosa e intolerável que atravessam fronteiras à procura de segurança nos países vizinhos”. O porta-voz frisa ainda que a recusa de asilo poderá levar a “consequências fatais” para estes refugiados. Em situação diferente estão os migrantes que, por opção, viajam para outros países procurando, por norma, melhores condições de vida. Sendo que sempre que quiserem retornar ao seu país poderão fazê-lo, tendo por garantidos os seus direitos. Algo que não acontece ao refugiado pois, conforme Adrien Edwards cita, existe o direito dos refugiados não serem reencaminhados para os países de onde fugiram, estando isso contemplado na Convenção dos Refugiados de 1951, que define quem é refugiado e os seus direitos básicos. Quatro longos anos Foi em Março de 2011 que rebentou a guerra civil na Síria. Depois de vários protestos da população, nos três meses anteriores, as manifestações começaram a aumentar de tom, evoluindo para rebeliões armadas baseadas e influenciadas pelos conflitos que ao mesmo tempo aconteciam no Médio Oriente – Egipto e Turquia – tão bem conhecido como a Primavera Árabe. Com o objectivo de derrubar o presidente Bashar al-Assad, da minoria étnico-religiosa alauíta, para a renovação política os conflitos duram há quatro anos ceifando a vida a milhares de pessoas. A tensão não é recente mas sim desde há vários anos, quando o pai do actual presidente, Hafez al-Assad – considerado um ditador – assumiu o poder durante três décadas, passando depois, em 2000, o cargo para o seu filho. Depois de muitos conflitos entre os manifestantes e as forças militares, que mataram maioritariamente civis, muitos destes abandonaram o exército e uniram-se aos manifestantes. Criando mais tarde o Exército Livre da Síria, que no segundo semestre do ano de 2011 se tornou na organização Conselho Nacional da Síria. É aqui que os confrontos se tornam ainda mais fortes e mortais levando a que muitos sírios vissem a fuga como a única solução. Números negros Números da ONU mostram que esta guerra civil já matou mais de 230 mil sírios nos últimos quatro anos. No que respeita aos refugiados, os dados apontam que até ao final do ano se ultrapasse a barreira dos 4,2 milhões, sendo que muitos destes morrem nas tentativas de travessia. A ONU prevê uma passagem de três mil refugiados diariamente do Mediterrâneo. Mar que só este ano já viu 300 mil refugiados tentarem chegar a terra, muitos morrendo no caminho, e sendo alvo de extorsão por parte dos criminosos e redes de tráficos de seres humanos. No total, até ao mês passado, 1/6 da população da Síria tentou escapar ao conflito que se mantém a ferro e fogo. “A maior crise humanitária da nossa geração”, tal como António Guterres classificou, tem mexido com todos os países. Líbano, Jordânia, Grécia, Alemanha, Portugal são alguns dos que já contam com asilo a refugiados. A Turquia até ao momento recebeu cerca de dois milhões de sírios, sendo o país que mais dá asilo a estas pessoas. A Alemanha conta receber 800 mil durante o presente ano, a Grécia recebeu, desde Janeiro, 200 mil refugiados e a Itália 110 mil. A Jordânia acolheu 290 mil enquanto o Líbano ultrapassou um milhão de sírios. massimo sestini Foi o acidente junto à ilha de Lampedusa – em Abril – que chocou o mundo para o estado de calamidade. Na altura mais de 700 refugiados, oriundos do Egipto, perderam a vida num naufrágio. Na semana passada um barco lotado de refugiados matou mais de uma centena. Ayman Talaal, um dos sobreviventes sírios, explicou aos meios de comunicação que o barco estava em más condições. “Fomos forçados a usar esta rota, agora é chamada de sepultura do mar Mediterrâneo”, afirmou. Por terra, são inúmeros os relatos tornados públicos. Também na semana passada um camião foi encontrado, na Áustria, com 71 pessoas que morreram por asfixia. Com o aumento de tráfico humano, agora também dentro da Europa, os casos sobem cada vez mais. O jornal português Público indica que, dentro do camião que partia de Budapeste, estavam “59 homens, oito mulheres e quatro crianças, uma rapariga de um ou dois anos e três rapazes de oito, nove ou dez anos”. O camião pertenceu, explica o diário, a uma empresa de derivados de frango até 2011, estando agora registado no nome de um cidadão da Roménia. A informação foi o ponto de partida para o início das investigações, que juntaram a polícia húngara e austríaca e que levaram à detenção de três húngaros e de um afegão (dois deles os motoristas, um deles, disse a polícia, sugeriu no interrogatório que os passageiros sufocaram). Nenhum deles pertence à chefia da rede de tráfico que assassinou estas 71 pessoas, avisou Hans Peter Doskozil, chefe de polícia de Burgenland. “Esperamos que [estes detidos] nos levem a outros criminosos”, cita ainda o jornal. Na quarta-feira o mundo chocou-se com a imagem de uma criança de três anos morta por afogamento após tentativa fracassada de navegar para a ilha grega de Kos. A cada dia que passa, mais e mais relatos chegam através dos meios de comunicação. Albano Martins acredita que o problema poderá tomar proporções ainda maiores, sejam elas em acidentes, crimes ou xenofobia. “Arriscamo-nos a ter um problema de xenofobismo. A grande maioria da população não consegue perceber as entranhas deste problema. Os líderes europeus e mundiais têm mostrado não estar à altura para resolver questões tão melindrosas como esta, questões de dignidade humana”, remata.
Joana Freitas Manchete SociedadeII Guerra | Macau comemora 70 anos. Investigadores divididos com feriado Macau comemorou ontem os 70 anos do final da Segunda Guerra com uma mensagem dirigida aos idosos e aos jovens. Wong Sio Chak assegura que é importante que se perceba a história para valorizar Macau como é, mas especialistas dividem-se sobre a implementação deste dia como feriado [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s 70 anos do fim da II Guerra Mundial foram ontem assinalados na China (ver página 12) e Macau não escapou às celebrações. Por cá, há muito que se faz anunciar a data que, em 2014, se tornou feriado para comemorar o Dia Nacional da Vitória da China na Guerra de Resistência contra a Agressão Japonesa, sendo que numa das praças principais da cidade, o Leal Senado, enormes cartazes celebram “a vitória do povo chinês na guerra contra a Japão” e a “vitória mundial contra o fascismo”. Para Wong Sio Chak, Secretário para a Segurança, o dia foi também marcado em Macau para “endereçar aos soldados e ao povo da Pátria o maior reconhecimento pela excelência dos históricos contributos e heróicos sacrifícios que protagonizaram”, bem como para relembrar os compatriotas “inocentes que pereceram” e apresentar aos mais velhos cidadãos de Macau agradecimentos pela prestação do apoio e da ajuda aos soldados na Guerra contra o Japão. Provas irrefutáveis No discurso da cerimónia, Wong Sio Chak disse que, apesar de terem passado 70 anos, as provas dos actos violentos dos agressores são irrefutáveis e incontestáveis e relembrou que, por cá, a constituição de grupos de apoio ao continente foi algo bastante comum. “Durante a Guerra, para ajudar aos compatriotas da China continental submetidos aos sofrimentos extremos, os cidadãos de Macau participaram activamente no ensejo de salvação da Pátria, estabelecendo [por vontade própria] associações aglutinadoras do amor à Pátria e desencadeando acções de grande envergadura para a sua salvação. Todo o povo, independentemente do seu extracto social, dedicou-se e contribuiu generosamente para o financiamento da guerra e muitos jovens, que ao tempo viviam uma vida caracterizada por uma estabilidade raramente encontradas nessa época, regressaram à China continental e correram para a linha da frente para servir e participar naquela contenda bélica, acontecendo que muitos deles resultaram gloriosamente feridos ou morreram heroicamente.” Wong Sio Chak disse ainda esperar, através das comemorações, que os jovens possam retirar lições. “Temos de aproveitar este dia comemorativo para veicular, ano após ano, aos nossos descendentes, as humilhações e sofrimentos a que foram submetidos os antepassados há 70 anos, sendo que não nos move o ódio, mas sim a missão de lhes lembrar as lições que podemos retirar desta guerra, para que aprendam com a história e jamais permitam que tal volte a acontecer”, frisou o Secretário, explicando que a ideia não é “hipervalorizar a história mas sim para que os jovens sintam o ambiente de estabilidade, paz e desenvolvimento em que vivemos”. Estranho, mas entranhado Apesar de Macau ter sido neutro, recebeu meio milhão de refugiados e atravessou um período de grande dificuldade em que muitos passaram fome. No entanto, foi também um território povoado por “milícias pró-japonesas”, responsáveis pelos conflitos e maus-tratos que o exército nipónico não podia realizar, como explica à agência Lusa o jornalista e investigador João Guedes. A contradição de sentimentos em relação à proclamação deste feriado, tanto na China, como em Hong Kong e Macau, é salientada por quatro especialistas ouvidos pela Lusa. Se por um lado, explicam, persiste uma memória dolorosa acerca da presença japonesa em todo o território chinês, por outro, esta conflitua com a atracção dos chineses pelo Japão contemporâneo, cultura, produtos e gastronomia. “Ninguém do Governo disse que [a criação deste feriado] está relacionada com as tensões actuais. Dizem que tem que ver com a importância de lembrar a história. Claro que fazer este tipo de declaração é já uma indicação de que está, sim, relacionado com tensões actuais”, comenta Barry Sautman, académico da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, que investiga questões relacionadas com o nacionalismo chinês. “Quando se tem uma grande parada militar e centenas de milhares de espectadores a assistir é uma grande oportunidade de passar uma mensagem política”, comenta. You Ji, académico da Universidade de Macau especializado em política externa chinesa, é um entusiasta do feriado: “Ele existe para se lembrar que se mataram pessoas a sangue frio. Acho que é uma boa lição sobre o certo e o errado. Mesmo que as pessoas não leiam livros, nem participem nas actividades, acabam por pensar nestas coisas”. O investigador acredita que, tal como defende o Governo chinês, o Japão não efectuou um “sincero e adequado” pedido de desculpas pelas “atrocidades” da guerra, e que é por isso que a China “não consegue virar a página”, ao contrário da Europa.[quote_box_right]“Temos de aproveitar este dia comemorativo para veicular, ano após ano, aos nossos descendentes, as humilhações e sofrimentos a que foram submetidos os antepassados há 70 anos”, Wong Sio Chak, Secretário para a Segurança[/quote_box_right] A parafernália comemorativa – cujos cartazes foram fotografados e reproduzidos nas redes sociais – gerou, em Macau, alguma estranheza, em parte devido à linguagem utilizada. You Ji admite o seu “potencial” de desconforto, mas considera, no entanto, que é “difícil condenar que se use este tipo de linguagem porque nos corações [dos chineses] há feridas que ainda não foram curadas”. Bill Chou, politólogo do Instituto de Educação de Hong Kong e antigo docente da Universidade de Macau – de onde saiu depois de acusar a instituição de perseguição política – lembra que “estas comemorações não são um plano do Governo de Macau, que está apenas a organizar um programa de uma autoridade superior”. O investigador alerta para o facto de a história ser pouco debatida em Macau, algo que não é tão gritante no território vizinho: “A maioria das pessoas de Macau nasceu na China, é de uma geração que não foi educada com factos históricos, mas apenas com propaganda”. “Ao nível civil [em Macau], acho que as pessoas não estão realmente comprometidas com isto, o que se verifica pela forte presença nos restaurantes japoneses e pelo interesse pela cultura japonesa”, comenta Bill Chou. You Jia discorda: “Temos de distinguir os dois fenómenos. As pessoas de Macau, e até da China, não detestam os japoneses, basta olhar para os números do turismo. Distinguem a história do presente”. O Japão ocupou uma parte da China, desde 1931 até ao fim da guerra. Razões históricas e disputas territoriais têm intensificado o nacionalismo nos últimos anos. Pequim e Tóquio disputam, por exemplo, a soberania das ilhas Diaoyu ou Senkaku, no Mar da China Oriental. O evento de ontem contou com a presença de cerca de 440 personalidades, entre as quais o sub-director do Gabinete de Ligação do Governo Central da RPC na RAEM, Yao Jin, sub-comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros na RAEM e Cai Siping, director do departamento político de Guarnição em Macau do Exército de Libertação do Povo Chinês, Zhang Jian.
Joana Freitas SociedadeLeitura | Governo abre bibliotecas por 24 horas [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]lexis Tam quer promover o hábito de leitura dos residentes e, para isso, o Governo vai abrir algumas bibliotecas 24 horas. Falando à margem da inauguração da nova Biblioteca da Taipa, na quarta-feira, o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura anunciou que a ideia é permitir aos cidadãos que trabalham por turnos acesso aos livros. “Algumas bibliotecas irão entrar, de forma experimental, em funcionamento com um horário de 24 horas, tendo como objectivo servir melhor a população e satisfazer as suas necessidades de leitura e o desejo do saber”, pode ler-se num comunicado que cita o responsável. “Macau, enquanto cidade de cultura, necessita criar um ambiente que promova a leitura, e, sobretudo, encorajar e estimular as crianças e os jovens a formar hábitos da leitura desde cedo, aumentando os seus conhecimentos e formação cultural, fazendo com que Macau progrida no futuro.” Salientando que o prolongamento do horário de funcionamento das bibliotecas deve ter em consideração o princípio de boa utilização dos recursos, Alexis Tam diz que a ideia é, com a fase experimental dos novos horários, perceber se se poderá abrir todas as bibliotecas 24 horas. “[Isto] pode ajudar o Governo avaliar os seus resultados”, disse, citado no comunicado. Maior investimento A promoção do hábito de leitura junto dos residentes “constitui uma importante política cultural do Governo”, pelo que o Executivo quer também reforçar o investimento de recursos nestes espaços. “Neste sentido, o Governo irá continuar a reforçar o investimento de recursos nas bibliotecas em Macau, melhorando os websites das bibliotecas e outros serviços.” A Biblioteca da Taipa é, actualmente, a maior biblioteca em Macau, com uma área de cerca de 2200 metros quadrados, sendo que esta poderá ser uma das que fará o prolongamento do horário. Certo é já o caso da Biblioteca do Mercado Vermelho que será o primeiro ponto experimental, estando já a ser feitos os preparativos para tal.