Menina morre após ter sido mandada para casa duas vezes no Kiang Wu

Uma criança de quatro morreu ontem devido a complicações criadas por uma gripe. Antes de ser internada, a menina tinha ido ao Hospital Kiang Wu duas vezes, sendo enviada para casa. O Governo e a unidade hospitalar garantem que todos os procedimentos da Organização Mundial de Saúde foram cumpridos

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma criança com quatro anos morreu ontem no Hospital Kiang Wu, onde estava em estado crítico desde terça-feira, devido a uma falha renal, originada por complicações causadas por gripe. Apesar da menina ter sido levada ao hospital por duas vezes, antes de ser internada, o governo e a direcção da unidade hospitalar garantem que todos os procedimentos da Organização Mundial de Saúde foram seguidos neste caso.

A criança de quatro anos e três meses, que não tinha sido vacinada contra a gripe sazonal, foi pela primeira vez ao hospital a 19 de Janeiro, com febre e tosse. Nessa altura, fez um teste rápido de despistagem de gripe, que deu negativo, e foi enviada para casa, para descansar e tomar medicação.

Um dia depois, na terça-feira, regressou, com sintomas semelhantes, ou seja com tosse e febre. Nesta segunda visita ao Kiang Wu não lhe foi feito o teste de despistagem da gripe. Porém os médicos reforçaram a medicação da criança e enviaram-na novamente para casa.

“O médico que viu a menina registou os sintomas de febre e tosse, que são frequentes nas crianças. Mas as gripes precisam de tempo para se curarem. Foi prestada toda a atenção necessária pelos médicos, que aumentaram e ajustaram a medicação na segunda consulta” afirmou Li Peng Bin, vice-director do Departamento de Administração Médica do Hospital Kiang Wu, em conferência de imprensa, sobre o facto da menina não ter sido logo internada.

Em relação a não ter sido feito um teste de despistagem de gripe na segunda visita, a explicação foi dada por Kuok Cheong U, director do Centro Hospitalar Conde de São Januário: “Os procedimentos seguidos respeitaram as orientações da Organização Mundial de Saúde. A despistagem também tem limitações, não é 100 por cento eficaz, nem é a despistagem que define o tipo de tratamento a adoptar. É por isso que a OMS não obriga a que seja feita nas suas orientações”, clarificou.

Urgência e morte

Já na terça-feira a vítima foi internada, após ter dado entrada no hospital durante a tarde, com febre baixa e aceleramentos cardíacos. Nesse dia foram feitas análises e um raio-X que mostraram a existência de uma pneumonia, através de uma infecção por pneumococo, e gripe do tipo H3N2. Esta infecção fez com que o estado da criança se agravasse, com o surgimento de vómitos, tosse sangrenta e sinais de hemorragia digestiva, acabando por ser levada para a Unidade dos Cuidados Intensivos, onde foi ligada a um ventilador mecânico.

Na madrugada do dia seguinte, e apesar dos tratamentos com Tamiflu, por volta das três da manhã, a criança desmaiou e alguns órgãos começaram a falhar. Ontem, por volta das 13h00, a vítima acabaria mesmo por morrer devido a uma falha renal associada ao síndrome de hemolítico-urémica. Na origem deste síndrome, que se caracteriza por insuficiência renal, destruição de glóbulos vermelhos e plaquetas, esteve a pneumonia que infectou a vítima devido à gripe.

Também a irmã da vítima, de dois anos, foi diagnosticada com pneumonia, mas está a ser acompanhada pelo Hospital Kiang Wu. A sua condição é estável. À família da vítima foi prestado apoio psicológico, por parte do governo.


Apelo à vacinação

Lam Chong, chefe do Centro de Prevenção e Controlo de Doença Serviços de Saúde, apelou ontem aos pais para que vacinem as crianças. Durante a conferência de imprensa de ontem, o responsável revelou que 30 por cento das crianças nos jardins-de-infância e escolas primárias não tinham sido vacinadas e pediu aos pais para vacinem tão depressa quanto possível os seus filhos.

26 Jan 2018

Exclusivo: De Joana a Jo-B, a história em curso do primeiro transexual masculino de Macau

Ao longo da vida ocultou os vestígios de feminidade que as cirurgias plásticas têm extinguido passo a passo. Aguentou e recuperou com rapidez das operações, feito que lhe valeu a alcunha de Super-homem entre o pessoal da clínica tailandesa onde removeu os seios, útero e ovários. Hoje em dia, Jo-B De Souza está a um passo de completar a metamorfose e tornar-se um homem. O HM conta-lhe a jornada de coragem, sofrimento e amor de uma pessoa determinada a viver a sua identidade

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] caminho do bar, Jo-B De Souza caminha com virilidade para dar e vender. Cabelo penteado para trás com gel e rapado dos lados, ombros largos, braços que denotam frequência regular no ginásio e um sorriso malandro. Lança um “hey, man!” e cumprimenta com um aperto de mão vigoroso.

Quem não o conhece nunca imaginaria que Jo-B De Souza nasceu Joana um dia antes do início do Verão de 1988, e é esse nome que ainda figura no seu Bilhete de Identidade de Residente. Algo que vai tentar alterar num futuro próximo e que será um dos passos na caminhada para se tornar um homem. Ao longo dos últimos dois anos, a sua vida tem sido um corrupio de entradas e saídas de uma clínica na Tailândia onde removeu os seios, útero e ovários. É também em Pattaya que é acompanhado na terapia hormonal por uma equipa clínica chefiada por um médico norte-americano.

À entrada de 2018, resta-lhe uma última cirurgia: A faloplastia – a construção do órgão sexual masculino – uma etapa que terá de adiar devido às anestesias gerais que tomou recentemente. Será o fim da metamorfose que se iniciou quando era demasiado novo para sequer ter noção do que estava a acontecer.

“Cresci a pensar que era um rapaz, desde pequenino, praticamente bebé. Quando a minha mãe estava grávida fez dois testes que indicaram que teria um filho”, conta. A família estava preparada para receber um rapaz em casa, previsão que se reflectia na decoração do quarto e nas roupas que os pais compraram para o novo membro da família.

Este pequeno detalhe familiar tornar-se-ia premonitório da pessoa que Jo-Bo viria a ser, uma pessoa com uma feminidade rarefeita. Aliás, tão rarefeita que praticamente não teve menstruação, apenas uma vez por ano, ou de dois em dois anos. Esta particularidade biológica deu-lhe descanso quanto a um trauma muito frequente entre maria-rapazes: a necessidade de terem de conviver e esconder todos os meses a menstruação.

Verdes anos

Olhando para trás, Jo-B De Souza recorda-se de achar que era um menino. Porém, o embate com a realidade do género com que nasceu deu-se cedo, entre os três e os quatro anos, durante os tempos de jardim de infância. O episódio deu-se quando estava na casa de banho com o seu melhor amigo e lhe perguntou porque é que ele estava de pé em vez de estar sentado. O amigo respondeu que era por ser um menino e ela uma menina.

A dureza da verdade desencadeou um autêntico drama infantil, que mais de vinte cinco anos depois estampa um sorriso na cara de Jo-B. “Corri para casa a chorar e fui contar tudo aos meus pais. Foi aí que percebi que era uma rapariga e senti que era o fim do mundo. Lembro-me de ter chorado muito”, recorda.

A história de Jo-B De Souza é recorrente no dia-a-dia de Graça Santos, Psiquiatra e Terapeuta Sexual, coordenadora da Unidade de Reconstrução Génito-Urinária e Sexual (URGUS) do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. “São pessoas que, na grande maioria dos casos, desde a infância manifestam preferência pelo papel e expressão do género do outro sexo, que no caso de FtM (abreviatura para female to male), será uma menina “Maria-rapaz”, explica Graça Santos.

“Ao olhar a sua infância a própria pessoa e os familiares relatam-nos uma preferência por brincar com rapazes, jogar à bola, ser mais activa fisicamente, recusar ou manifestar desagrado por usar vestidos ou adereços de menina”, conta a coordenadora da URGUS.

Seguindo os seus desígnios, Jo-B De Souza continuou a vestir calções e t-shirts até ingressar no Colégio do Sagrado Coração de Jesus, uma escola feminina onde a farda era obrigatória. Aí descobriu que não estava sozinha e que havia outras marias-rapaz, “talvez entre 12 a 15”. Nesse período, com cerca de 6 ou 7 anos, via-se obrigada a usar um vestido, facto que conseguiu contornar através da prática desportiva. “Adorava jogar basquetebol. Então, foquei-me no desporto e não me importava como as pessoas me viam porque debaixo do vestido usava os calções de basquetebol”, conta.

Jo-B De Souza sente-se um sortudo devido ao apoio incondicional que teve da família desde cedo. “O meu pai é o meu grande suporte, a minha mãe uma cuidadora incansável, a minha irmã e o seu namorado têm estado sempre disponíveis para me ouvir, a minha namorada é quem dá mais força”, conta.

Era dos descobrimentos

A adolescência quando chega molda aquilo que será a nossa personalidade, quem somos, a partir da revolução hormonal. Esta fase, que pode ser um purgatório de crescimento, tem uma outra dimensão em pessoas como Jo-B De Souza.

À medida que foi crescendo procurou ser cada vez mais masculino, um salto evolutivo que foi recebido de forma distinta pelos seus pais. Enquanto o pai lhe deu sempre total apoio e lhe fez as vontades, a mãe tentava convencê-lo a usar roupas femininas ou a deixar crescer o cabelo. “Se ela me perguntava se eu achava um vestido bonito eu dizia que sim, que era muito bonito mas nela”, recorda com humor.

Apesar das ténues tentativas maternas para que fosse uma menina durante a infância e início de adolescência, Jo-B nunca se sentiu reprimido pela família. Muito pelo contrário, a relação que tem com os pais assenta em fortes pilares de respeito, aceitação e amor. “O meu pai costuma dizer coisas do género: vou agora para o escritório, o meu filho dá-me boleia e a minha mãe costumava dizer quer tinha duas filhas, mas agora diz que tem um casal”, exemplifica.

Por volta dos 13/14 anos, Jo-B De Souza atravessava um período de descoberta. Não apenas em termos de revelação sexual, mas também de conhecimento que haveria de lhe abrir as portas para a metamorfose que o esperava.

“Já na altura dizia às pessoas que iria mudar de sexo, sem ainda saber se isso era possível”, recorda deixando claro que nunca gostou de não cumprir com a sua palavra, ou de perder face em relação a aspirações partilhadas socialmente. A realidade entrou-lhe pelos olhos adentro numa pesquisa online em que descobriu que afinal havia quem mudasse fisicamente de sexo.

Começou a seguir bloggers que relatavam as várias etapas da transformação que haveria de iniciar uma década mais tarde. “Comecei a seguir um blogger, via as fotos e as mudanças na pessoa, ouvia também a forma como a sua voz mudava e comecei a ficar cada vez mais intrigado”, relembra.

Foi também nessa altura que começaram as primeiras experiências sexuais e a rebeldia adolescente materializada em múltiplos piercings e tatuagens. “Todos queriam pertencer ao nosso grupo porque nos estávamos nas tintas. No fim das aulas, ainda com uniforme, íamos fumar e beber cerveja e como era muito popular era fácil ter parceiras”, conta.

Jo-B De Souza explica que beneficiou de dois factores: ter uns pais compreensivos e o facto de “Macau ser mais aberto a lésbicas e marias-rapaz, por ser uma cidade que se habituou a isso, mais do que a gays”. Mesmo em termos de transexuais, entende que é mais facilmente aceite uma mulher transformar-se em homem do que o inverso.

Este é um fenómeno que não é estranho para Anthony Lam, presidente da Associação Arco-Íris de Macau. “Acho que a explicação pode estar no facto da sociedade de Macau ser muito patriarcal daí ser mais fácil aceitar uma mulher que se transforme num homem”, teoriza.

Fora do lugar

Em 2016, a Associação Arco-Íris de Macau fez um inquérito sobre a incongruência entre o sexo atribuído à nascença e a identidade de género, para o qual foram ouvidas 715 pessoas locais. O resultado revelou que 41,54 por cento dos inquiridos demonstravam alguns níveis de inconsistência entre o sexo biológico e a identidade de género.

Apesar dos números serem consideráveis estão longe de representar a parcela demográfica que leva até às últimas consequências a incongruência de género que vivem. Neste aspecto, a experiência de Anthony Lam diz-lhe que os transexuais são pessoas que “ficam mais no seu ciclo e que se sentem mais confortáveis na sua bolha social, em vez de se revelarem ao público”. Principalmente, no que toca a transexuais que fazem a transição de homem para mulher. “Macau não é uma cidade suficientemente progressiva, não é acolhedora para a comunidade LGBT”, explica o presidente da Associação Arco-Íris de Macau.

Em termos de aceitação social, Jo-B De Souza não tem dúvidas de que tem sorte por estar no lado mais facilmente aceitável da transexualidade em Macau, onde a sociedade aceita melhor a transformação para o lado masculino.

Porém, o residente de Macau entende que não existe uma comunidade de pessoas que se encontrem numa situação similar à sua, circunstância que explica com a fluidez entre maria-rapazes, que podem oscilar entre períodos másculos para depois regressarem a um vivência totalmente feminina.

“Há pessoas que são atraídas pelo mesmo sexo, mas que estão felizes com a forma como nasceram, é aí que eu não me encaixo, porque não é a minha preferência sexual que está em causa, ou seja, a pertencer a algum grupo pertenceria a algo completamente diferente e que em Macau é muito pequeno”.

Esta falta de pertença a um ciclo social dominado pela preferência sexual, ou género, não é algo que aflija Jo-B De Souza, ainda para mais no momento em que se prepara para dar o último passo, o que agudiza a falta de identificação com qualquer categoria da comunidade LGBT. “Agora estou no meio, estou perdido”, diz antes de soltar uma gargalhada sonora.

Primeiras etapas

Ao longo da adolescência, Jo-B De Souza continuou a ter casos com mulheres. Porém, havia algo dentro de si que o distinguia de todo o universo lésbico. “Há mulheres que só querem estar com outras mulheres, a mim o que me preocupa é não estar no papel de mulher”, conta.

Apesar de ainda estar preso ao sexo com que nasceu, Jo-B De Souza considera-se e comporta-se como um macho alfa, ao ponto de não se sentir cómodo em mostrar as partes íntimas durante relações, a menos que seja com alguém com quem tem uma relação longa e de profunda confiança. “Quando estou com uma mulher, fora do contexto de namoro, não me sinto confortável sem roupa à frente delas, nem permito que me toquem abaixo da cintura”, explica.

Após algumas relações longas e experimentação, Jo-B De Souza teve de encarar a transição que se impunha e que desde sempre germinava dentro de si. Em 2016 começou a aplicar um gel com hormonas masculinas e iniciou o processo da sua reconstrução física.

“Andei a procrastinar a mudança de sexo. Primeiro não tinha dinheiro, mas depois comecei a ter medo de dar o próximo passo, andava sempre a adiar, dizia sempre para mim que seria amanhã, que ainda era jovem, que era muito cedo”, confessa.

Outra das hesitações de Jo-B De Souza era o receio em revelar aos pais que queria embarcar numa viagem biológica sem retorno, mesmo sabendo que os seus pais são pessoas bastante abertas. Não era uma questão de falta de confiança, mas da dificuldade em contar que se quer fazer algo tão drástico.

“Eles têm feito um excelente trabalho em fazer-me feliz e a ideia de lhes dizer que havia algo tão grande reprimido dentro de mim, ao longo de todos estes anos, é muito triste”, explica.

Apesar de não ser segredo para quem era próximo de Jo-B De Souza, a efectiva mudança de sexo era algo que parecia distante, mas inevitável.

Mas o seu corpo era um empecilho com o qual tem sido obrigado a viver todos os dias da sua vida. “Impediu-me de fazer muitas coisas, adoro nadar e não posso, gosto de ir à praia e não quero ter de vestir biquínis, gosto de jogar basquete mas não conseguia devido ao peso do peito, também não podia comprar a roupa que queria”, enumera.

Salto em frente

Jo-B De Souza virou a página da sua identidade de género numa altura que decidiu encerrar um capítulo amoroso com uma pessoa que entrava e saía da sua vida há algum tempo.

Cansado da falta de eficácia do gel com testosterona e posta de parte a hipótese de congelar óvulos para uma futura maternidade, decidiu dar os passos que a cirurgia reconstrutiva lhe permitem dar.

Em todas as etapas médicas, Jo-B De Souza recorreu sempre a uma clínica na Tailândia e passou a ser seguido por um médico norte-americano que opera em Pattaya. É de salientar que em Macau não existem este tipo de serviços médicos. Aliás, solicitados pelo HM, os Serviços de Saúde locais não responderam se existe algum plano de no futuro virem a providenciar serviços cirúrgicos, ou mesmo de substituição hormonal.

Assim sendo, em Maio do ano passado, Jo-B De Souza removeu os seios na clínica que o vinha seguindo. “Passei a poder vestir o que me apetece, sem sentir que tenho um segredo a esconder. Agora quando vou ao ginásio já não vou para o balneário feminino, estou no balneário dos homens e ninguém sequer duvida, desde que tenha uma toalha à cintura”, conta.

A partir de Outubro de 2016 começou a injectar testosterona, um processo que se iniciou com umas análises que revelaram uma quantidade anormalmente grande de hormonas masculinas. Desde então, recebe todos os trimestres uma encomenda de injecções.

Como nunca teve uma relação confortável com agulhas, tirando as que tatuam, Jo-B De Souza recorreu a alguém em quem sabia que podia confiar, a sua irmã, um dos seus principais pilares de apoio, sem esquecer o cunhado.

“Há dias que é doloroso e outros dias em que não há sensação”, conta acrescentando que as injecções passaram a ser um ritual que tem de cumprir a cada três dias. “Comecei com 0.2 mg e agora tomo 0.35 mg. Isto vai ser para sempre, mas não com esta frequência”.

Começou assim o processo de modificação total das hormonas, antes do adeus final à produção de estrogénio que viria em Novembro último, altura em que removeu o útero e os ovários. Esta fase significaria o armistício de uma guerra hormonal que durara a sua vida inteira.

Super-homem

Antes de começar com as injecções, Jo-B De Souza teve de fazer análises. “Quando fiz o meu primeiro teste ao sangue na clínica o médico perguntou-me se já tinha feito algum tratamento hormonal porque, normalmente, os níveis de testosterona de uma mulher vão até 30, mas eu tinha 61”, conta. Níveis que não são surpreendentes face à fisionomia de Jo-B De Souza, que sempre teve, por exemplo, ombros largos e dedos grossos.

Desde a primeira intervenção, em que removeu os seios, o residente de Macau ganhou uma reputação de homem de ferro entre os pessoal médico e de enfermagem na clínica tailandesa que o tem acompanhado.

“No hospital deram-me a alcunha de Super-homem”, conta bem humorado. A remoção do peito, mastectomia, é um procedimento doloroso que implica o reajuste do torso. Como tal, após a cirurgia os pacientes podem ter de ficar duas semanas imobilizados numa cama de hospital.

“No dia seguinte à operação, acordei e não senti dor e como precisava de ir à casa de banho e não havia ninguém por perto, levantei-me e fui à casa de banho. Ainda não tinha decorrido 24 horas desde que tinha saído do bloco operatório. Os médicos ficaram alarmados mas eu acalmei-os e disse-lhes que não sentia dor, que estava tudo bem”, recorda.

A partir desse momento, começou a circular entre o pessoal da clínica e pacientes a alcunha “Super-homem”, uma alcunha que se foi disseminando das empregadas de limpeza, enfermeiras, até ao pessoal médico.

A reputação aprofundou-se quando chegou a altura de remover órgãos. Em Novembro, Jo-B De Souza deu entrada na clínica da Pattaya para fazer uma histerectomia e ovariectomia, o que trocado por miúdos significa a remoção do útero e ovários.

Mais uma vez, o natural de Macau tinha pela frente uma recuperação lenta, dolorosa, que implicaria cerca de duas semanas de cama. Ainda assim, no dia seguinte à cirurgia resolveu pôr-se de pé, ao lado da cama, tranquilamente a ver televisão. Sem grande disposição para ficar deitado, Jo-B De Souza, após exame médico, teve alta e regressou a Macau, encurtando o período de convalescença na cama da clínica de duas semanas para dois dias. A forma como o seu corpo recuperou de uma intervenção que não é definitivamente pêra doce em termos médicos surpreendeu o médico e aumentou a sua reputação de super-herói.

Durante estes complicados processos, Jo-B De Souza contou com o apoio incondicional da sua namorada e de uma nova família que conheceu na Tailândia a partir de um amigo que fez na clínica.

Mesmo durante os períodos de curta convalescença, o natural de Macau teve sempre uma rede de apoio que não o largou, desde a família e a namorada à distância, passando pela família do amigo tailandês que o acompanhou nos momentos mais frágeis. Ficaram tão próximos que Jo-B passou a visitá-los regularmente à Tailândia.

Homem novo

Com a remoção do útero e ovários, Jo-B De Souza deixou de produzir estrogénio. Juntando a esse facto as injecções de testosterona, pode-se dizer que em termos hormonais é um homem, algo que lhe dá uma vantagem de perspectiva que poucas pessoas alguma vez irão experimentar.

“Como fui exposto a ambos os mundos, nunca imaginava que as emoções de uma mulher são assim tão doidas, porque as considerava normais”, conta. Hoje em dia, Jo-B De Souza sente-se nas nuvens, “high” como diz em inglês, e congratula-se porque nada o chateia como antes. “Saí dessa montanha russa emocional, estou focado e não fico tão facilmente agitado ou irritado com as coisas”, revela.

O residente de Macau sempre entendeu que as suas emoções representavam dois extremos pendulares que eram, em simultâneo, a maior fraqueza e a maior força. Até à remoção de parte do sistema reprodutor feminino, a sensibilidade, a empatia e mesmo a atribuição de significado a coisas triviais para os outros foram motivos para altos e baixos de ânimo.

Neste momento, vive uma espécie de segunda puberdade enquanto as hormonas masculinas tomam conta do seu corpo. No seu rosto começa a despontar uma mais que bem-vinda barba e a voz torna-se mais funda. Aliás, este é um dos detalhes que o faz recuar em sentimentalismo.

Jo-B De Souza sempre gostou de cantar, nesse aspecto a perda da sua antiga voz é algo que o emociona, principalmente quando ouve antigas gravações que fez. Porém, já se aventura com a voz masculina, enquanto a intensidade de interpretação se mantem.

“Acho que vou apreciar estas mudanças, que são de médio longo-prazo, não chegam de repente. Agora vou fazer a viagem de um rapaz dos 12 anos aos 18 anos. Existe essa margem, um homem não se faz assim de repente e eu quero saborear esse longo período”.

Última fronteira

Depois de duas anestesias gerais em menos de um ano, Jo-B De Souza não pode voltar tão cedo ao bloco operatório. Porém, no horizonte falta um passo, a faloplastia, ou seja, a construção do órgão sexual masculino.

Esta cirurgia, a derradeira, pressupõe algum planeamento pois requer uma recuperação mais lenta e complicada, mesmo para um Super-homem. A faloplastia implicará muitas horas de fisioterapia e de recuperação muscular.

Outra questão na mente de Jo-B De Souza é de natureza monetária. Além do preço da cirurgia, o residente de Macau quer amealhar dinheiro para estar confortável por um período de tempo, que se prevê largo, durante o qual não poderá trabalhar.

“Preciso de saber como será a recuperação mas não estou com pressa, desde que esteja bem de saúde estou óptimo”, explica com simplicidade.

Além da mudança física, Jo-B De Souza vai tentar alterar o seu género juntos da Direcção dos Serviços de Identificação. “As leis em Macau não regulam estas situações, mas acho que encontrei uma lacuna. Ao que parece, desde que um médico escreva uma carta a dizer que o corpo da pessoa é 75 a 80 por cento daquele sexo, eles têm de adequar essa realidade com o género que está no BIR”, conta. Aliás, Jo-B De Souza apronta-se para fazer a análise de sangue que servirá de argumento para a oficialização junto dos serviços públicos da pessoa que existe além da identidade no papel.

Essa será a derradeira fase da metamorfose de Jo-B De Souza, o momento em que lhe será restituído algo que nunca teve, mas que sempre sentiu. Será, também, um passo que lhe trará esclarecimento, mesmo dentro de uma comunidade LGBT com a qual nunca se identificou completamente. “Não julgo as pessoas gays, nem lésbicas, mas não quero ser uma delas. Só quero ser normal, não quero casamento gay, quero um casamento normal, heterossexual”, comenta Jo-B De Souza, que simplesmente repudia que o tratem como mulher.

Apesar de conhecer um residente local que fez a transição de masculino para feminino, igualmente operado na Tailândia, Jo-B não conhece ninguém que tenha feito o percurso pioneiro que se prepara para completar.

Com a determinação e força que o caracterizam, Jo-B De Souza está perto de finalizar um caminho nunca antes trilhado por ninguém em Macau. Entre dois tragos num cigarro, diz com leveza: “Vou fazer todas as etapas porque se começo algo tenho de ir até ao fim”.


A perspectiva clínica

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] transtorno da identidade de género ainda é considerado umapatologia pelo Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais. Facto que irá mudar na próxima revisão do documento, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Está em curso “a despatologização dos transgéneros, a autodeterminação e as identidades de género não binárias e flutuantes, que são noções e conceitos que desafiam as ideias milenarmente instituídas na sociedade”, explica Graça Santos, psiquiatra e coordenadora da URGUS (Unidade de Reconstrução Génito-Urinária e Sexual) do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.

A coordenadora da unidade que providencia em Coimbra hormonoterapia, assim como histerectomia, ovariectomia e faloplastia, considera que estes casos têm, normalmente, uma elevada dose de sofrimento implícito. “Muitas vezes isolam-se dos seus pares e não adquirem as necessárias competências de socialização, têm dificuldade em ter relações de amizade, namoro etc”, explica a psiquiatra. Os constrangimentos físicos e psicológicos pode valer a “perda de experiências como a prática desportiva, ir à praia, nadar e situações em que o corpo se desnuda”.

Se à falta de apoio se juntar a discriminação e o bullying, os jovens transgéneros podem mesmo a sofrer “episódios depressivos, ansiedade elevada, ideação suicida, tentativas de suicídio e auto-mutilações”.

Após uma primeira fase de avaliação em consulta em sexologia (psiquiatra ou

psicólogo) é feito o diagnóstico de Disforia de Género. No caso do indivíduo o desejar (o mais comum é desejarem-no) o utente deve ser acompanhado na especialidade de endocrinologia para iniciar tratamento hormonal de feminização ou masculinização.

“Estas alterações são vividas com agrado, muitas vezes com euforia, embora a

terapêutica hormonal também possa induzir alguma instabilidade emocional. As

modificações são muito bem-vindas e permitem que a pessoa transexual possa

afirmar-se socialmente como sendo do género que pretende ser e não daquele que lhe foi atribuído à nascença. Esta conformidade entre corpo e identidade traz sentimentos de bem-estar e uma perspectiva positiva do futuro. Agora podem ser o que sempre sentiram que eram”, explica a coordenadora do URGUS.

Quem embarca neste processo no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, tem uma equipa multidisciplinar ao seu serviço, que inclui clínicos de psicologia, psiquiatria, endocrinologia, urologia, ginecologia, cirurgia plástica, terapeuta da voz e assistente social.

26 Jan 2018

Macau com 3.800 estacionamentos para carros da RAEHK

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Ilha Artificial de Macau da ponte que faz a ligação até Hong Kong vai ter 3.800 lugares de estacionamento para viaturas privadas da região vizinha. A informação foi avançada, ontem, por Frank Chan Fan, secretário para os Transportes e Habitação de Hong Kong, em reposta à pergunta de Hon Wilson Or, deputado da RAEHK.

“Em relação a Macau vai haver um parque de estacionamento à entrada da fronteira, que vai ter 3.800 lugares de capacidade máxima para os carros privados de Hong Kong. Os carros de Hong Kong não precisam de quotas para estacionarem, mas a reserva do estacionamento tem de ser feita com antecedência”, pode ler-se na resposta de Frank Chan Fan.

“Após estacionarem e completarem os procedimentos normais para entrarem em Macau, os visitantes podem apanhar outros tipos de transportes para se deslocarem para outras áreas de Macau. Os governos de Hong Kong e Macau estão a finalizar os detalhes sobre os lugares de estacionamento para os veículos que chegam a Macau e vão fazer um anúncio tão brevemente quanto possível”, é acrescentado.

O secretário de Hong Kong não fez qualquer comentário sobre o número de lugares de estacionamento que vão estar disponíveis no território vizinho para viaturas de Macau. Contudo, admitiu que as negociações sobre esse aspecto estão a entrar na última fase e que os resultados vão ser conhecidos, quando houver uma decisão final.

25 Jan 2018

CPU | Zona A dos novos aterros terá dois traçados do metro ligeiro

O planeamento da zona A dos novos aterros começou ontem a ser discutido no Conselho do Planeamento Urbanístico. Esperam-se 96 mil moradores e dois traçados do metro ligeiro, um deles subterrâneo, e prédios com um limite máximo de cerca de 100 metros de altura

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s membros do Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU) começaram ontem a discutir o futuro planeamento da zona A dos novos aterros, onde os edifícios de habitação pública deverão ocupar 31,7 por cento da área total. Segundo a apresentação dos membros do Governo, espera-se que os edifícios venham a ter entre 103 a 107 metros de altura.

Foi também referido que a zona terá dois traçados do metro ligeiro, um deles subterrâneo. “O Gabinete de Infra-estruturas de Transportes (GIT) referiu-nos que está a ser feito o seu planeamento”, adiantou um membro da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT). “O plano geral prevê que no eixo norte-sul o traçado deverá ser subterrâneo”, explicou o mesmo responsável.

Um dos membros do CPU mostrou-se preocupados com o eventual impacto deste sistema de transporte junto dos moradores. “Vai passar perto das habitações e temos de pensar no seu trajecto. Como não temos tantas restrições podemos fazer um melhor planeamento”, defendeu.

GCS

Neste momento, o CPU está a discutir o planeamento dos primeiros oito lotes de terreno da zona A, mas já foram emitidas plantas para 11 lotes. “A curto prazo vamos divulgar mais informações”, afirmaram.

Alerta congestionamento

Apesar de estar prevista a passagem do metro ligeiro na zona A, os membros do CPU lembraram o atraso do projecto e questionaram o Governo sobre os estudos já feitos sobre o trânsito. Os seus representantes afastaram a possibilidade de ocorrência de congestionamentos frequentes.

“Já fizemos uma avaliação e publicamos o relatório. Tivemos em conta o número de 96 mil moradores e achamos que o resultado é positivo, tendo em conta as vias principais e entradas dos auto-silos. Claro que a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego também vai fazer um ajustamento.”

O deputado Mak Soi Kun, também membro do CPU, acusou o Governo de fazer estimativas irrealistas. “Parece-me que os cálculos que fizeram não correspondem à realidade, tendo em conta que na zona das Portas do Cerco há muito trânsito e engarrafamento. Vai ser feita a articulação desta zona A com as Portas do Cerco, para evitar engarrafamentos?”, questionou.

Mais zonas verdes

Na zona A dos novos aterros o Governo quer construir uma aldeia escolar, que vai ocupar 15,6 por cento da área total, e vários espaços verdes, incluindo uma ciclovia à semelhança da que já existe à entrada da Taipa.

O responsável da DSSOPT adiantou que vão ser criados muitos sistemas pedonais na zona A “para facilitar a circulação dos residentes”. “Podemos ter vários tipos de arborização e reservamos 1/5 da área para jardins e corredores na marginal. Teremos jardins em quase todas as zonas marginais e faremos ligações com jardins para ligar uma ponta à outra. A percentagem de arborização é maior do que na cidade antiga. O que está na Planta de Condições Urbanísticas (PCU) são as exigências mínimas, mas não se exclui a possibilidade das zonas verdes serem maiores”, frisou.

O arquitecto Rui Leão, membro do CPU, falou da necessidade de estabelecer uma maior ligação com os espaços verdes e a zona envolvente. “Esta parece-me uma solução interessante como forma de distribuir a densidade populacional, se não cria-se uma cidade muito precária e pouco qualificada, como temos no NAPE e ZAPE. Este será um espaço verde qualificado se não tiver a linha do metro ligeiro aérea, caso contrário será subserviente ao metro. Este espaço central parece importante, mas não vejo informação sobre isso.”

A PCU ontem apresentada mostra que a zona A dos novos aterros terá ligações com a zona da areia preta, reservatório e ilha fronteiriça artificial da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. Rui Leão defendeu a aposta em espaços pedonais.

“Há quatro ligações com a península, uma através de um túnel e três através de pontes. Fazia sentido ter ligações pedonais com o resto da cidade, se não é pouco sustentável obrigar as pessoas a andar de carro nestas zonas. Como isto não está reflectido e vai ser uma realidade mais cedo ou mais tarde, mais vale prever já isso no planeamento.”

O arquitecto fez ainda queixas ao planeamento ontem apresentado. “Estamos a analisar estas PCU mas infelizmente não temos acesso à memória descritiva do plano, que é um documento que reflecte as suas prioridades. Assim parece que o plano se refere apenas ao loteamento, mas isso não é verdade.”

O deputado Wu Chou Kit, também engenheiro e membro do CPU, abordou a necessidade de se construírem infra-estruturas subterrâneas, como colectores.

“Como vamos proceder com os canais e colectores unitários na zona subterrânea? Nas zonas antigas não conseguimos fazer isso, porque já tinha o planeamento feito. Na zona A temos de ter em consideração uma parte subterrânea, porque não é depois do planeamento que vamos pensar nas escavações e canalizações.”

O membro do Governo adiantou que “na zona A vamos ter, a título experimental, esses colectores”. “Já estamos a planear isso para as zonas principais”, concluiu.

 

 

Aprovado novo projecto para o canil municipal

O CPU aprovou ontem o novo projecto de renovação do actual canil municipal do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), que servirá para albergar “um serviço de laboratório e de quarentena para os animais domésticos, porque temos cada vez mais procura da parte dos veterinários”, frisou o responsável do IACM. O novo edifício mantém a actual construção deverá ter uma altura máxima de 3,5 metros.

25 Jan 2018

Hospital | Utente esteve mais de 30 horas à espera de operação

Paciente teve de interromper medicação para o coração e ficar em jejum, apesar de sofrer de hiperglicemia, para poder ser operado a uma perna partida, mas mesmo assim teve de aguardar mais de 30 horas para ser levado para o bloco operatório

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]pesar de ter parado de tomar medicação necessária para o coração por ter de ser operado a uma perna partida, sofrer de hiperglicemia e estar sem comer, Fernando Nunes esteve mais de 30 horas à espera para ser operado no Hospital Conde São Januário. A situação foi denunciada pelo residente de 50 anos, ao HM, ontem à tarde, numa altura em que ainda não sabia quando ia ser operado.
Na quinta-feira passada, Fernando Nunes dirigia-se para o trabalho de bicicleta, quando na Avenida Comercial de Macau a porta de um carro mal estacionado o atingiu. Como consequência o residente acabou com uma perna partida e foi transportado para o Hospital Conde São Januário.

“Quando cheguei ao hospital o médico disse-me que era preciso ser operado imediatamente. Mas como tive há 10 anos um problema no coração preciso de tomar comprimidos, o que impediu que a operação fosse feita imediatamente”, contou Fernando Nunes.

Além da medicação para o coração, que deixou de ser tomada, o paciente teve de aguardar de cinco dias, por indicação dos médicos, para que passasse o efeito dos comprimidos. Só depois poderia ser operado. Por outro lado, nas horas antes da cirurgia, que ficou agendada para terça-feira, teve de deixar de comer, apesar de sofrer de hiperglicemia. Por essa altura, começou a receber soro.

“Quando chegou ao quinto dia de espera, a médica disse-me: amanhã [terça-feira] vamos operá-lo. Não disse que era uma possibilidade e que poderia dar-se o caso de não ser feita. Foi informado como se aquilo fosse mesmo acontecer”, recordou.

“Depois ontem [terça], vieram limpar-me a preparar-me para a operação. Só que às 18h00 disseram-me que não me iam operar, porque tinham surgido outros casos mais urgentes. Eu respondi que ia esperar. Até que às 23h00, finalmente, uma enfermeira disse-me que já não ia ser operado. Nessa altura fiquei algo desorientado”, admitiu.

Ao HM, Fernando Nunes fez questão de sublinhar que compreende que haja casos mais urgentes do que o seu. Porém, destaca que a sua condição também exige cuidados: “Eu estou a soro por isso não estou com fome. Mas tenho hiperglicemia e não convém estar muito tempo sem comer. É uma agravante, e há outra que são os problemas do coração. Eu preciso dos medicamentos e já estou há mais de seis dias sem tomá-los. São problemas que deveriam ser tidos em conta”, apontou.

Falta de recursos

Internado há mais de seis dias nas urgências, Fernando Nunes explica a demora com a falta de recursos, até porque considera que tem sido bem tratado pelos funcionários do hospital público.

“Eu sinto que não é um problema de má vontade humana. Eu tenho sido bem tratado. É devido à falta de recursos, acredito que não haja médicos disponíveis ou blocos operatórios”, justificou, o paciente que chegou a trabalhar no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, no serviço de ortopedia.

“Ou marcam a data da cirurgia ou libertem-me para ir para outro hospital. Nem me operam, nem me deixam sair. Isto mostra que há falta de recursos, mas como não querem assumir isso, não me mandam para outro hospital”, acrescentou.

O HM contactou os Serviços de Saúde de Macau em relação a este caso, mas até ontem à noite não tinha recebido uma posição oficial do Governo.

25 Jan 2018

Habitação pública | CEM desiste oficialmente de sete parcelas de terreno

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi ontem publicado em Boletim Oficial (BO) um despacho que oficializa a entrega de sete parcelas de terreno por parte da Companhia de Electricidade de Macau (CEM) ao Governo, situados na avenida Venceslau de Morais e Estrada D.Maria II.

Os terrenos em causa vão servir para a construção de habitação pública, sendo que a actual central eléctrica será demolida. Os terrenos que passam para a alçada do Governo têm uma área global de 14 637 metros quadrados, tendo sido concedidos à empresa de electricidade em Maio de 1988.

O despacho do BO dá conta que a entrega dos terrenos se faz “com vista a viabilizar a construção de habitação pública, equipamento social e centro de serviços da Região Administrativa Especial de Macau no terreno formado pelas referidas parcelas”, o que levou a CEM a desistir da concessão, depois de um acordo com o Executivo. Os terrenos em causa têm um valor superior a 91 milhões de patacas.

A Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) ainda não anunciaram quaisquer detalhes sobre o futuro complexo de habitação pública na zona da areia preta, o que já levou o deputado Ho Ion Sang a questionar uma possível demora no processo de construção e planeamento.

25 Jan 2018

Jogo | Lucros da Wynn quase que triplicaram

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s lucros da Wynn Macau, referentes apenas às operações no território, quase que triplicaram no último trimestre do ano passado, atingido o valor de 179,2 milhões de dólares norte-americanos. O montante representa um crescimento de 284 por cento, face aos 46,6 milhões acumulados nos últimos três meses de 2016. Os números foram avançados pela Wynn Macau, ontem, num comunicado à Bolsa de Hong Kong.

Em relação aos resultados do último trimestre do ano passado da empresa-mãe, a Wynn Resorts, o montante arrecadado foi de 491,7 milhões de dólares, o que representa um crescimento superior a 300 milhões, face ao valor de 113,8 milhões arrecadado nos três últimos meses de 2016.

Foi por esta razão que Steve Wynn se mostrou muito optimista face ao futuro de Macau, durante a apresentação dos resultados: “Um dos absurdos modernos deve-se ao facto das pessoas ficarem todos os meses à espera dos dados da DICJ [Direcção de Inspecção de Coordenação de Jogo] para depois começarem a jogar com as acções, como se estivessem no casino”, começou por explicar o magnata, aos analistas.

“Se há algo de positivo que posso dizer às pessoas que querem investir nas acções dos casinos é que não, repito, que não, apostem contra Macau. É atirar dinheiro fora”, acrescentou.

Por outro lado, Steve revelou que neste momento a companhia já está a trabalhar no projecto para o desenvolvimento da segunda fase do Wynn Cotai. O magnata confirmou que o projecto vai ter mesas de jogo, mas quer que o principal foco esteja no desenvolvimento de hotéis personalizados com um grande elemento de fantasia. Porém, não adiantou mais pormenores sobre o projecto.

24 Jan 2018

Tribunal anula despedimento de funcionário dos Serviços de Alfândega

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Tribunal de Segunda Instância (TSI) anulou o despedimento promovido pelo Secretário para a Segurança de um verificador dos Serviços de Alfândega acusado da prática de exploração da prostituição. O colectivo de juízes, composto por Tong Hio Fong, Lai Kin Hong e Fong Man Chong, considerou que o despedimento foi feito sem que houvesse o cuidado de provar a culpa do funcionário envolvido.

O verificador dos SA foi despedido em Novembro de 2016, após ter sido acusado de um crime da prática de exploração de prostituição. Enquanto o julgamento decorre na primeira instância dos tribunais, o Secretário para a Segurança tomou a decisão de avançar para o despedimento imediato, no âmbito de um processo disciplinar interno.

No entanto, segundo o TSI, não houve o cuidado de investigar internamente se o agente tinha realmente cometido o crime. Pode ler-se no acórdão revelado, ontem, que as provas para o despedimento se limitaram a um interrogatório ao funcionário – que optou por não responder à maioria das perguntas – à acusação do Ministério Público, que ainda decorre no Tribunal Judicial de Base, e a um recorte de jornal.

“Analisando o conteúdo do processo disciplinar instaurado contra o recorrente [funcionário demitido], somos a entender que efectivamente não foram realizadas diligências probatórias pertinentes para comprovar a responsabilidade disciplinar do mesmo”, consta no acórdão.

“Em processo disciplinar, à semelhança do que sucede no processo penal, não cabe ao arguido provar a sua ‘inocência’, mas sim compete ao titular do poder disciplinar o ónus da prova dos factos constitutivos. Não logrando cumprir tal ónus, outra solução não resta senão julgar procedente o recurso contencioso”, é considerado.

Ainda assim, o tribunal realça que a Administração pode avançar para o despedimento do funcionário em causa, se o julgamento ditar que é culpado, ou se internamente forem apuradas provas suficientes para tal.

24 Jan 2018

Patuá | Estudo destaca influências do hokkien e cantonense no crioulo local

Apesar de muitas vezes serem desvalorizadas as influências do hokkien e do cantonense no patuá são também estas que dão ao crioulo local características únicas e o separam, em parte, do kristang, de Malaca. A conclusão faz parte de um artigo do académico Giorgio Arcodia

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]lgumas construções frásicas do patuá como a utilização do verbo “chomá”, que significar “chamar” em português, mostram que em certos aspectos o crioulo local está mais próximo do hokkien e cantonense do que do malaio-português, a grande base do patuá. A conclusão é do académico Giorgio Arcodia, num artigo publicado na revista Language Ecology com o título “Sobre as Influências Chinesas no Macaense”.

Ao HM, o italiano, que é especialista no estudo do chinês, justificou o trabalho com o facto de se tratar de uma área do patuá pouco explorada e no futuro espera continuar a desenvolver mais artigos do género.

“Acho que a influência do chinês tem sido, de certa forma, ignorada no estudo do patuá porque até ao artigo publicado por Umberto Ansaldo e Stephen Matthews [A origem da reduplicação no Macaense, de 2004] nenhum especialista em linguística chinesa tinha focado este crioulo. Isto fez com que facilmente tenham sido ignorados sinais subtis da influência chinesa”, começou por dizer Giorgio Arcodia, ao HM.

“A maior parte dos trabalhos sobre o patuá assume que a língua era, na sua essência, extremamente próxima do kristang de Malaca. Isto é verdade, mas o próprio kristang também esteve sujeito a influências chinesas, através do hokkien, assim como também os falantes de patuá estiveram em contacto muito próximo com os falantes das outras línguas chinesas durante séculos”, apontou o professor da Universidade de Milão-Biccoca, para explicar as influências no crioulo de Macau.

O hokkien é um grupo de dialectos com origem no sul da província de Fujian, que a comunidade académica acreditar ser muito falado em Macau, quando os portugueses se estabeleceram no território. Por sua vez, o cantonês é o principal meio de comunicação ainda hoje em Macau. Por estas razões, acredita Arcodia, dificilmente o patuá conseguiria evitar estas influencias.

Apaixonado pelo patuá

Nascido em Milão, Girogio Acordia estudou em Bolonha, Pavia, Pequim e Taipé na área da linguística. Especialista em Linguística Chinesa, a curiosidade e interesse pelo patuá surgiu em 2008, em Amesterdão, quando assistiu a uma aula com Umberto Ansaldo, também ele um académico abordou em alguns trabalhos o patuá. Foi devido esse interesse que em 2011 esteve em Macau, onde se apaixonou pela cultura macaense.

“Só estive em Macau um vez, em 2011, para tentar saber mais sobre o patuá: fiquei surpreendido porque só ouvi falar inglês, cantonense e mandarim. Nessa altura, ainda achava que o macaense era uma língua falada, ou pelo menos usada na escrita”, recorda.

“Tive também a oportunidade de ir à biblioteca para recolher um amostra enorme do trabalho de José dos Santos Ferreira (Adé), e foi nessa altura ao ler as suas histórias, os registos sobre a gramática do patuá e os artigos existentes que comecei a aprender mais sobre a língua. Apaixonei-me literalmente pela língua e pela cultura macaense”, acrescentou.

Durante a visita de 2011, Arcadio teve ainda um encontro com Mário Pinharanda Nunes, da Universidade de Macau, que partilhou parte dos seus registos com o italiano.

Em relação ao futuro, o académico admite o regresso de Macau com o objectivo de entrevistar membros do grupo de teatro Dóci Papiaçam di Macau.

 

Lamento por Carlos Coelho

Ao HM, Giorgio Arcodia considerou que os próximos tempo vão ser um grande desafio para a recolha de material que permita no futuro estudar o patuá, pelo facto da língua estar cada vez menos presente. Nesse sentido, o italiano lamentou a morte do macaense Carlos Coelho: “Era uma das últimas pessoas que falava a língua desde a infância”, apontou.

24 Jan 2018

Turismo | Mais de três milhões de visitantes

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau recebeu, em Dezembro passado, mais de três milhões de visitantes, o número mensal mais elevado desde Agosto de 2014. De acordo com a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), estes 3,053 milhões de visitantes representam um aumento de 8,5 por cento em termos anuais e de 7,8 por cento no mês.

No ano passado chegaram a Macau 32,61 milhões de visitantes, mais 5,4 por cento do que em 2016, indicou a DSEC, confirmando os dados preliminares avançados pela directora dos Serviços de Turismo, Helena Senna Fernandes, na quarta-feira passada.

Em 2017, os visitantes da China continental (22,196 milhões) subiram 8,5 por cento, seguidos pelos da Coreia do Sul (874.253), que aumentaram 32 por cento. Ao contrário, Hong Kong (6,165 milhões) e Taiwan (1,06) recuaram 4,0 por cento e 1,3 por cento, respectivamente.

O número de visitantes dos Estados Unidos, Austrália, Canadá e Reino Unido também registou quedas anuais. O período médio de permanência dos visitantes situou-se em 1,2 dias, tal como em 2016. Mantiveram-se também os períodos médios de permanência dos turistas e dos excursionistas em 2,1 dias e 0,2 dias, respectivamente, indicou a DSEC.

O visitante refere-se a qualquer pessoa que tenha viajado para Macau por um período inferior a um ano, um termo que se divide em turista (aquele que passa pelo menos uma noite) e excursionista (aquele que não pernoita).

24 Jan 2018

Poluição | Doenças respiratórias levaram 40 por cento ao hospital

Por uma centena de doentes atendidos nos Serviços de Saúde, 40 por cento detinham doenças respiratórias. Lei Chin Ion, director dos serviços, defende que é impossível estabelecer uma ligação directa entre a poluição e o número de casos, assegurando que Macau tem melhor qualidade do ar do que Pequim

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s níveis elevados de poluição registados nos últimos dias, cinco vezes superiores ao que a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda, terão originado um maior fluxo de doentes no serviço público de saúde, mas não foi o único factor.

Em conferência de imprensa promovida pelos Serviços de Saúde (SS), foi revelado que, de uma centena de doentes atendidos, cerca de 40 por cento tinham doenças respiratórias de todo o tipo. Contudo, os responsáveis apontaram que não é possível apontar uma ligação directa com a poluição registada nos últimos dias.

“Não há uma grande probabilidade de apanhar doenças. Não podemos confirmar se a poluição vai ou não afectar o estado de saúde destas pessoas, porque não há uma relação directa. Não acho que a poluição cause uma doença imediata, mas apelamos às pessoas com doenças crónicas ou respiratórias para que evitem actividades ao ar livre”, explicou Lei Chin Ion.

Os SS não têm qualquer sistema de medição da qualidade do ar ou medidas especiais para lidar com esta problemática, sendo que os Serviços Meteorológicos e Geofísicos apenas fazem uma média diária dos níveis de qualidade do ar.

Lei Chin Ion considerou, contudo, que o ar em Macau é mais respirável do que em Pequim. “A qualidade do ar em Macau é melhor do que em Pequim. Em Pequim não fazem este tipo de estatísticas e não fazem estas conferências de imprensa. Temos vindo a contactar com os SMG”, revelou.

Lam Chong, chefe do centro de prevenção e controlo das doenças, adiantou que “a poluição do ar pode, na verdade, levar a que haja mais pacientes, mas não é uma relação directa”. “Não conseguimos dizer quantos doentes vieram à consulta com doenças provocadas pela poluição do ar. São os SMG que fazem o alerta quanto à qualidade do ar”, acrescentou.

Gripe sob controlo

O número de casos com doenças respiratórias está também associado ao facto do território estar a atravessar a fase sazonal de gripe, que tem gerado uma maior afluência aos hospitais. Ainda assim, Lei Chin Ion garantiu que a situação está controlada, com “um maior tempo de espera nas urgências e um aumento da taxa de ocupação de camas”. “Estamos numa situação aceitável e é suficiente [os recursos disponíveis]. Ainda temos camas de reserva que não foram utilizadas e temos uma reserva de medicamentos para três meses.”

Lam Chong revelou que na terceira semana de Janeiro “houve um aumento do número de casos” face à segunda semana do mesmo mês. “Houve 65 casos por cada mil pessoas, e na pediatria houve 213 casos para cada mil, quando na semana anterior tinha havido 181 casos.”

Só nos últimos dois dias foram atendidas 1136 pessoas por dia, disse Lei Wai Seng, director substituto do Centro Hospitalar Conde de São Januário. “Houve um aumento de 40 por cento comparando com os dias normais. Mais crianças com menos de três anos vieram à urgência. Temos vindo a destacar mais pessoal para atender os nossos utentes. A taxa de internamento tem sido de 90 por cento e registamos um ligeiro aumento, para 95 por cento”, frisou.

No caso da pediatria têm sido atendidas 190 crianças, com sintomas leves, disse Jorge Sales Marques, director do serviço. Apesar de não terem sido registados casos de internamento ou falecimento, houve sete casos de gripe que acabaram por originar pneumonia. Contudo, seis dos sete pacientes não tinham tomado a vacina contra a gripe.

Também em relação às vacinas a situação está controlada, garantiu o director dos SS. “Encomendamos 120 mil doses de vacinas e foram vacinadas 103.500 mil pessoas. Podemos criar uma barreira contra a gripe sazonal, cuja situação em Macau está melhor do que nas regiões vizinhas. Há mais dez mil doses de vacinas disponíveis.”

Lei Chin Ion espera ainda que o elevado número de casos de gripe possa estar controlado. “A taxa de vacinação é bastante elevada, as crianças e os idosos tomaram as suas vacinas e achamos que não vai haver uma taxa de propagação muito grande.”

Clínica TaivexMalo poderá ter nova licença

Os SS continuam a aguardar que a clínica TaivexMalo faça as devidas melhorias nos seus serviços para voltar a operar, depois de ter sido suspensa pelo período de 180 dias. Lei Chin Ion adiantou que a clínica poderá receber nova licença para operar caso melhore os serviços de medicina prestados. O Jornal Tribuna de Macau noticiou ontem que a TaivexMalo recebeu uma ordem de despejo do Venetian pelo tribunal a pedido do Banco Nacional Ultramarino, por alegadas dívidas.

SS recebem 35 candidaturas de médicos portugueses

Lei Chin Ion adiantou ontem que os SS já receberam 35 candidaturas de médicos portugueses, no âmbito de um processo de recrutamento que ainda está em curso. Os currículos ainda estão a ser analisados e destinam-se a responder a 21 vagas existentes, 13 delas para áreas de especialidade. “Recebemos 35 pedidos: cinco não são da nossa especialidade, dois são de enfermagem. Estamos a avaliar 30 currículos, 11 são para áreas em que temos vagas”, disse o director substituto do hospital, Lei Wai Seng.

24 Jan 2018

Incêndios | IC reuniu com 30 representantes de templos chineses

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ecorreu recentemente uma reunião entre os dirigentes do Instituto Cultural e 30 representantes de templos chineses, com o objectivo de debater “os trabalhos de segurança contra incêndios e de gestão dos templos” e para “reforçar a sensibilização dos funcionários destas entidades para a prevenção contra incêndios e trabalhos relativos de gestão dos templos”.

Um comunicado oficial aponta que algumas regras de segurança têm sido mantidas. “De acordo com as conclusões da última inspecção realizada pelo IC aos quarenta e três templos de Macau, a maior parte revelou manter apagados os incensos nos espaços interiores dos templos durante a noite ou em caso de ausência de vigilantes no local.”

Além disso, foi referido o último caso do incêndio ocorrido no templo de Tin Hau, há cerca de dois meses. O mesmo comunicado aponta que o fogo foi resultado de má gestão. Descobriu-se que “foram erigidas no templo construções adicionais, além da existência de pilhas e de objectos sem valor, entre outros problemas que indicam uma má administração do local e que se traduzem em risco de incêndio”.

Na reunião foi ainda referido que “alguns templos apresentam condições particulares e uma rápida deterioração de cabos eléctricos, tendo sido sugerido que a substituição dos mesmos seja feita regularmente e que se considerem exemplos do estrangeiro, em que se acende apenas um pau de incenso”.

23 Jan 2018

Índices elevados de poluição atmosférica mantêm-se hoje

[dropcap style≠‘circle’]D[/dropcap]esde ontem que os ares de Macau têm estado irrespiráveis, registando índices de poluição atmosférica muito acima das concentrações máximas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde. Nomeadamente, no que toca às partículas PM 2.5 que têm registado valores cinco vezes acima do recomendado. Tal como ontem, hoje a qualidade do ar vai-se manter insalubre, assim como a má visibilidade.

De acordo com informação divulgada pela Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG), a fraca qualidade do ar e pouca visibilidade que se faz sentir desde ontem deve-se à conjugação de dois factores. Por um lado, o vento fraco que criou condições atmosféricas estáveis e pouco propícias à dissipação dos poluentes que ficam acumulados no Delta do Rio das Pérolas. Por outro lado, a humidade relativa da região tem-se mantido em níveis altos.

Espera-se que uma corrente de ar do quadrante leste aumente e a visibilidade melhore a meio desta semana. Os SMG aconselham que se reduza ao mínimo o esforço físico e que se evitem actividades ao ar livre, uma vez que hoje o índice da qualidade do ar pode atingir o nível insalubre.

23 Jan 2018

CEAM | Um grupo macaense onde a opinião pública impera

Chama-se “Conversa entre a Malta”, existe no Facebook desde 2011 e tem pouco mais de dois mil membros. No grupo discutem-se temas da actualidade mas um dos seus administradores garante que muitos não expõem publicamente a sua opinião por medo de represálias no emprego

 

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]erão poucos os macaenses ou falantes de português que não conhecem o grupo intitulado “Conversa entre a Malta” (CEAM). Activo na rede social Facebook desde 2011, o grupo foi criado por um grupo de amigos macaenses, mas depressa passou a ser um espaço onde se toma o pulso à opinião pública e à actualidade local.

Alguns dos seus administradores usam pseudónimos como “Falamau da Silva” ou “Zico Fantasma” e são os principais dinamizadores da página, publicando diariamente notícias sobre o que se passa em Macau, sobretudo nas áreas da política e sociedade.

Ao HM, Hugo Silva Júnior, ou “Falamau da Silva”, considera que o CEAM se tornou num importante meio de debate, numa altura em que tem mais de dois mil seguidores. “Começámos por ser um grupo pequeno e estão a entrar membros que vivem em Macau e que estão interessados em saber mais sobre a vida quotidiana aqui. Se entram como membros é porque o grupo tem algum interesse.”

Hugo Silva Júnior, que trabalha como funcionário público, conta que muitos membros não revelam a sua opinião por receio de sofrerem represálias no trabalho. “Há muitos que, por razões óbvias, não fazem comentários, mas depois ligam a dizer que gostaram muito das publicações. Há muita gente com esse medo.”

No entanto, Hugo Silva Júnior assegura que nunca deixou de escrever e de partilhar aquilo que pensa. “Sou funcionário público e acho que em Macau ainda temos liberdade de expressão. Não sou daqueles que come e cala. Há algumas pessoas que ficam no grupo só a observar as publicações para garantir o emprego e para não terem pressões, porque houve pessoas que sentiram pressões por terem feito críticas”, contou.

Sem ofensas

A ideia inicial dos fundadores do CEAM era utilizar a rede social para comentar não apenas as notícias mas outros assuntos. “Queríamos aproveitar a rede social para debater assuntos do quotidiano local, apesar de não constituírem matéria noticiosa.”

O CEAM, além de ser um espaço de debate, assume-se como um lugar onde a coscuvilhice pode acontecer. “Há um outro tipo de influência cultural, arreigada num costume típico local, que é praticado entre a malta e que supostamente beneficia a nossa saúde e nos torna mais produtivos – a coscuvilhice ou a bisbilhotice.”

Apesar disso, há um código de conduta para que não haja lugar a discriminações ou ofensas. “Tentamos não ter ofensas pessoais, em ter atenção naquilo que escrevemos para não haver difamações ou queixas. Nós, administradores, temos as nossas regras de conduta que temos de seguir.”

O nome do grupo está intimamente ligado à própria cultura macaense. “A ‘malta’ confunde-se, na sua história secular, com o sentido singular atribuído por alguns à identidade macaense. Para a ‘malta’ ser-se macaense não basta ser de Macau. O macaense até poderá, eventualmente, nascer fora de Macau, mas ele encontra-se inelutavelmente ligado a esta terra, quer por laços sanguíneos, quer por qualquer circunstância que evoque sentimentos fortes de pertença a um mundo enraizado em Macau.”

No CEAM não há temas preferidos, mas as notícias sobre o trânsito e os problemas relacionados com a acção governativa dominam. Os jornais portugueses têm lugar de destaque e não apenas pelo facto de alguns dos seus administradores não dominarem o chinês escrito.

“Penso que há mais liberdade na imprensa portuguesa. A imprensa chinesa é muito limitada”, rematou.

23 Jan 2018

Obras de Vítor Cheung Lap Kwan dependem de silêncio público

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado e empresário Vítor Cheung Lup Kwan espera concluir a construção de uma marina junto ao hotel Pousada Marina Infante até Novembro de 2021, altura em que termina o prazo de aproveitamento do terreno.

Segundo o canal chinês da Rádio Macau, o projecto foi explicado, ontem, em conferência de imprensa, mas o deputado sublinhou que é necessário que a opinião pública não levante ondas, para que os trabalhos possam começar tão depressa quanto possível. “Apesar de ainda não termos começado o trabalho, acredito que existe a possibilidade das obras serem concluídas antes do fim do prazo de aproveitamento”, disse Vitor Cheung Lup Kwan, ontem. Contudo, o deputado não deixou de considerar que em Macau são vários os projectos abortados devido às opiniões da população, que fazem com que o Governo não permita avançar com a velocidade desejada.

Por sua vez, Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas, afirmou desconhecer os detalhes do projecto em causa, remetendo explicações para o Director das Obras Públicas, mas garantiu que na zona vão ser construídas 2 mil habitações sociais: “Quando tomei posse estavam previstos 4.600 fogos de habitação pública. Cerca de 2.000 fogos são na Taipa Este e outros 2.000 nesse sítio perto da Pousada”, começou por dizer. “Sobre a parcela de terreno nessa zona que foi revertida para o Governo, o que posso dizer é que vai ser destinada para estas 2.000 unidades de habitação pública”, acrescentou.

23 Jan 2018

Centro histórico | As lacunas do documento de consulta

Linguagem pouco clara, a falta de ligação entre o património e o ambiente envolvente e a ausência de obrigatoriedade de análise de impacto patrimonial em obras ou edifícios. Três arquitectos falam das falhas do documento de consulta relativo ao Plano de Salvaguarda e Gestão do Património

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Plano de Salvaguarda e Gestão do Património está em consulta pública até ao próximo dia 20 de Março, mas três arquitectos contactados pelo HM consideram que existem lacunas que deveriam estar contempladas.

Na visão de Mário Duque, o documento de consulta está escrito numa linguagem pouco clara e quando muito acessível apenas a técnicos. Por outro lado, considera o arquitecto, é um planeamento que deveria ser parte do plano director do território, que ainda não foi elaborado. “Numa consulta pública tem de se saber o que é que está em causa e que assuntos são do domínio das pessoas no âmbito da sua sensibilidade. Não são questões técnicas, não são questões de princípio, não são questões formais nem sequer questões legais”, começa por dizer ao HM.

Num documento com mais de 150 páginas faltam dados concretos, que as pessoas conheçam e que saibam o que é para se poderem pronunciar. “Caso existam estruturas com certas características ou com valor histórico associado ao sítio classificado, as mesmas deverão ser preservadas” é uma das frases que se podem ler repetidamente no documento em consulta relativamente, por exemplo, às restrições de construção.

Para Mário Duque, “no caso deste tipo de informação estar escrita, deve existir, pelo menos, uma nota a dizer o que são essas características”. Não existindo, “tratando-se de um documento escrito dessa forma é um documento técnico que pressupõe uma consulta para perceber quais são os valores culturais a que se deve dar prioridade e as pessoa dizem do seu sentimento”.

Está em causa uma verdadeira legitimidade do processo de consulta pública, mas mais, o envolvimento da comunidade. “É fundamental que as pessoas saibam responder ao documento porque o que a população diz confronta a própria comunidade com o seu sentido ético, de pertença, os seus ensejos e as coisas a que dão valor”, afirma.

Falta impacto patrimonial

A arquitecta Maria José de Freitas aponta que há muitas áreas importantes na gestão do património que não foram contempladas no documento. “Esta é uma proposta que praticamente se restringe ao centro histórico que está classificado pela UNESCO e a zona de protecção. A sensação que tenho é que se faz com que haja uma inclusão deste espaço como se fosse uma paragem no tempo. Coloca-se uma redoma de vidro sob este património, que é classificado, para que não seja tocado. Por outro lado não se aborda a ligação deste património com o meio envolvente, os turistas e os seus habitantes.”

Apesar de notar que esta proposta revela trabalho desenvolvido pelo IC, a arquitecta alerta para o facto de não se exigir a “obrigatoriedade de um impacto patrimonial de todas as obras ou edifícios em zonas classificadas”, algo que “acontece em todos os países”.

Já André Ritchie referiu ser normal um documento de consulta não contemplar todas as medidas que serão implementadas. “Trabalhei em muitas consultas públicas e vai ser sempre assim, com pessoas a dizer que os documentos estão incompletos. Uma consulta pública é uma ferramenta democrática que procura recolher a opinião dos cidadãos. Mas o facto de não existir ainda um plano director… uma coisa não impede a outra.”

O ex-coordenador do Gabinete de Infra-estruturas de Transportes aponta que nunca é tarde a adopção de medidas como o limite máximo de 20 metros para os edifícios do centro histórico. “Tenho ouvido umas vozes um pouco sarcásticas sobre o facto de se estar a fazer isto nesta altura do campeonato. Mas não partilho dessa opinião, pois acho que as coisas têm de começar de alguma forma. Se Macau nunca teve [estas directrizes], acho saudável que se discuta este assunto agora e que se procure uma medida destas.”

Legitimidade formal

De acordo com Mário Duque, a questão da consulta pública é absolutamente ilusória, e que este é um processo que deveria ser feito para ser legítimo. Além disso, para o arquitecto, falta a implementação do plano director para se concretizar um justo processo de gestão do património. “Não se pode fazer um plano de salvaguarda à margem de um plano de ordenamento territorial, porque é dentro de ordenamento territorial e dentro do território que existem depois  subscrições onde as questões do património ou dos valores culturais são alvo de particular cuidado”, diz.

O pano de salvaguarda e gestão do centro histórico de Macau deveria ter sido concluído em 2015 ao abrigo do plano de salvaguarda do património. No entanto, os trabalhos atrasaram-se.

23 Jan 2018

Angola prevê encerrar consulado de Macau

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo angolano está a estudar a possibilidade de encerrar nove embaixadas e 18 consulados-gerais, nomeadamente em Lisboa, Faro e Macau, além de 10 representações comerciais, incluindo em Portugal, para poupar mais de 66 milhões de dólares. A informação consta da proposta elaborada pelo secretário para os Assuntos do Diplomáticos do Presidente da República de Angola, Victor Lima, antigo embaixador em Espanha, entregue este mês ao Ministério das Relações Exteriores (MIREX) e à qual a Lusa teve hoje acesso, no âmbito do redimensionamento da rede diplomática angolana.

No documento, da Casa Civil do Presidente da República, é proposta, como primeira medida, o encerramento das embaixadas em Singapura e Indonésia, Vietname, Holanda, México, Canadá, Grécia, Hungria, Polónia e Guiné Conacri, prevendo poupar aos cofres do Estado mais de 18,552 milhões de dólares, “em conformidade com o mapa de orçamento adstrito às missões diplomáticas elaborado pelo Ministério das Finanças”.

A segunda medida envolve o encerramento de 18 missões consulares e a consequente transformação em sector consular junto da missão diplomática (embaixadas), alegando que “não se justifica” a manutenção de consulados gerais instalados em capitais dos países onde existem missões diplomáticas: “Por razões várias, de entre as quais destacamos uma espécie de bicefalia, com todos os inconvenientes que daí derivam”, lê-se no documento.

Neste caso é proposto o encerramento dos consulados-gerais em Londres, Guangzhou (China), Dubai, Nova Iorque, Roterdão (Holanda), Hong Kong, Paris, Los Angeles e Houston (Estados Unidos), Lisboa e Faro (Portugal), Venezuela, São Paulo (Brasil), Macau, Frankfurt (Alemanha), Toulouse (França), Cidade do Cabo e Joanesburgo (África do Sul), estimando uma poupança de 41,585 milhões de dólares (34 milhões de euros).

“Pensamos que nesta fase é absolutamente conveniente que exista um mando único, concentração de meios e racionalização de custos para atingirmos o máximo de objectivos”, sublinha o documento.

Uma terceira medida, estimando uma poupança de 6,190 milhões de dólares, passa pelo encerramento das representações comerciais em Itália, China, Brasil, Espanha, Portugal, Estados Unidos, África do Sul, Bélgica, Macau e Suíça, com a integração nas missões diplomáticas dos atuais representes comerciais, “com a categoria de adidos comerciais ou adidos económicos”

“Não deve ser aberta nem mais uma Representação Diplomática enquanto não se consolidar as medidas do redimensionamento ora propostas e deve-se, sobretudo, ser firme nas decisões que vierem a ser tomadas de modo a evitarem-se excessivas considerações que poderão de alguma forma comprometer o objectivo fundamental deste processo de redimensionamento”, alerta a proposta, que estima uma poupança directa anual de 66,3 milhões de dólares só no encerramento de representações.

O quarto vector deste redimensionamento defende o corte no pessoal afecto às missões diplomáticas, nomeadamente através da redução de funcionários de nomeação central com categoria diplomática em 30% a 40%, “em função da importância estratégica de que se reveste o país de acreditação”.

Os diplomatas e o pessoal técnico e administrativo das missões a encerrar deverão regressar a Angola, refere o documento, que também admite a possibilidade, em algumas situações excepcionais, de recolocação noutras representações no exterior. Prevê ainda que os diplomatas com mais de 75 anos passem à reforma.

Sobre o património imobiliário do Estado angolano “nos países ou cidades onde serão encerradas missões diplomáticas ou consulares”, como chancelarias, residências oficiais, complexos residenciais e outros imóveis, é sugerida a sua adjudicação “à gestão de empresas privadas de direito angolano”. “Mediante concurso público, para garantir a sua rentabilização a manutenção, mediante regras que também contemplem ganhos para o Estado”, aponta ainda.

22 Jan 2018

Óbito | Filho da Terra Carlos Manuel Coelho morre aos 64 anos

Professor, falante fluente de Patuá e actor, Carlos Manuel Coelho morreu na passada sexta-feira, após se ter sentido mal em casa. Ao HM, várias personalidades da comunidade elogiaram o contributo do professor para a difusão da cultura macaense

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] macaense e professor Carlos Manuel Coelho morreu na sexta-feira, com 64 anos, após se ter sentido mal em casa. Conhecido pelo talento com que falava patuá, a devoção à Igreja e as qualidades culinárias, os membros da comunidade macaense, ouvidos pelo HM, recordam o homem “carinhoso”, “afável”, bem-disposto.

Filho de pai português e mãe portuguesa de Macau, Carlos Coelho nasceu no território, no ano de 1953, e seria no território que passaria toda a infância e adolescência. Enquanto professor, tendo leccionado na antiga Escola Luso-Chinesa, que ficava situada junto ao Jardim Vasco da Gama, Carlos Coelho integrou um dos primeiros grupos de professores do ensino primário de Macau que foram enviados para Portugal, com o objectivo de terem formação pedagógica. Isto numa altura em que havia falta de quadros qualificados para ensinar português, como recorda o médico e amigo Fernando Gomes, que leccionou a tempo parcial sobre a orientação de Carlos Coelho.

“Apesar dele ser cerca de 13 ou 15 anos mais velho do que eu, sempre nos demos muito bem, enquanto mantivemos um contacto próximo. Eu na altura também dava aulas em part-time de português na Escola Luso-Chinesa, onde ele ensinava, e recordo que as orientações que ele nos dava eram muito importantes”, afirmou Fernando Gomes, ontem, ao HM.

“Era muito bom professor. E na altura foi um dos primeiros professores locais que foram enviadas para Portugal com o objectivo de aprenderem a pedagogia para ensinar as crianças”, recorda.

Memória semelhante foi partilhada por Rita Santos, presidente do Conselho Regional da Ásia e Oceânia do Conselho das Comunidades Portuguesas: “Era uma pessoa muito atenciosa, e sabia-se que os alunos gostavam muito dele e das suas aulas”, disse, ao HM.

Amor pelo Patuá

Característica igualmente marcante de Carlos Coelho era a forma como conseguia expressar-se em patuá, com uma grande fluência. Foi também por este motivo que o professor foi um dos escolhidos para recitar na reabertura do Teatro D. Pedro V, em Patuá, durante a visita do então presidente português Mário Soares, em Outubro de 1993. Também nesse ano que surge o grupo de teatro Dóci Papiaçám, com vários fundadores, como Miguel de Senna Fernandes, o próprio Fernando Gomes, entre outros.

“Quando surgiram os Dóci Papiacám, ele era o actor principal e ficou conhecido como uma pessoa com grande talento para o teatro. Recordo-me que participou durante três ou quatro anos de forma activa nos Dóci Papiacám”, contou Fernando Gomes.

Uma característica reforçada por Rita Santos: “Contribuiu muito para a preservação do Patuá, que ele gostava muito de falar, depois era simplesmente um actor natural”, apontou.

Além disso, enquanto membro dos antigos Serviços de Educação, onde estava ligado à área cultural, dedicou-se a dirigir o Rancho Folclórico, português. Ao mesmo tempo, dançava em part-time no restaurante Portas do Sol, no Hotel Lisboa, o então salão de festas da elite português ligada ao Governo.

Mudança com a transição

Com o aproximar da Transferência da Soberania, Carlos Coelho optou por ir para Portugal, mas acabaria por regressar no início dos anos 2000. Antes, foi o principal entrevistado da TVB de Hong Kong, num programa sobre as perspectivas da comunidade portuguesa no pós-transição. Um programa que filmou o professor a deixar Macau, com as lágrimas nos olhos.

“Como macaense que era gostava muito de Portugal e era patriótico, apesar de também gostar da China. Quando se mudou de bandeira, ele optou por ir para Portugal. Só que depois, acredito que não se tenha adaptado bem e acabou por regressar”, lembra Jorge Fão, presidente da mesa da Assembleia-Geral da APOMAC.

No entanto, Fernando Gomes acredita que mudança foi principalmente motivada pelas saudades do território, que amava: “Não acredito que ele tivesse regressado desiludido com Portugal. Ele voltou para a terra onde tinha nascido, crescido e vivido. Também não nos podemos esquecer que do clima de apreensão e incerteza com que se encarava a transição”, frisou o amigo.

“Regressou quando as coisas já estavam mais estáveis. Acho que foi o amor por Macau que falou mais alto, porque foi algo que ele nunca esqueceu. Em jeito de brincadeira até lhe cheguei a dizer que o amor pela ‘Mátria’ tinha sido maior do que o amor pela Pátria”, acrescentou.

Mestre na cozinha

Quando regressou a Macau, Carlos Coelho apostou nas suas raízes e abriu um restaurante de comida macaense na zona do NAPE. Um local que ainda hoje é recordado pela qualidade da comida, apesar de ter estado aberto durante um pequeno espaço de tempo.

“Era descendente de uma família que tinha muito jeito para a culinária e era por isso que ele também fazia comida muito boa. Era comida macaense e o espaço tinha muito fregueses. Nunca percebi porque fechou”, recorda Xeque Hamja, membro da comunidade local.

“Ele era muito pegado à cultura macaense e tentava sempre valorizá-la, além de também valorizar as culturas portuguesa e chinesa. O restaurante oferecia comida macaense com elementos das outras culturas, mas não durou muito tempo”, explica Jorge Fão.

 

Morreu António Marques Baptista

O último director da Polícia Judiciária de Macau sob administração portuguesa, António Marques Baptista, morreu na sexta-feira devido a acidente vascular cerebral. No território, António Baptista foi uma das principais figuras da administração no combate às tríades. Foi na consequência do alegado ataque falhado à sua viatura, que Pan Nga Koi acabaria por ser detido. Em declarações ao portal All About Macau, o Secretário para a Segurança Wong Sio Chak, elogiou os esforços do ex-director d PJ na “manutenção da ordem pública”.

22 Jan 2018

Plano director | Quatro empresas passam à 2ª fase de avaliação

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] avaliação das propostas da primeira fase do concurso por pré-qualificação para “Elaboração do Plano Director de Macau” foi concluída e já teve inicio a segunda fase. Das cinco propostas que passaram à segunda fase do concurso, foram admitidas quatro. Os preços variam, entre os 11 milhões e os 80 milhões de patacas. A proposta rejeitada não avançou devido à falta de apresentação de documentos exigidos, refere o comunicado oficial.

A primeira fase do acto público da abertura das propostas foi realizada no dia 6 de Outubro de 2017 e os critérios de avaliação foram o prazo de prestação de serviços, a capacidade e experiência da empresa, bem como a distribuição dos recursos humanos. Para a segunda fase os critérios de avaliação basearam-se no preço e no plano de estudo.

Da lista dos seleccionados iniciais faziam parte o Consórcio Companhia de Construção de Obras Portuárias Zhen Hwa, Limitada, Shenzhen LAY-OUT Planning Consultants Ltd. e CCCC-FDHI Engineering Co., Ltd., o Consórcio Shanghai Tongji Urban Planning & Design Institute e Companhia de Consultadoria de Engenharia Kit & Parceiros, Limitada, o Ove Arup & Partners Hong Kong Ltd., o Consórcio CAA, Planeamento e Engenharia, Consultores Limitada, China Academy of Urban Planning and Design (CAUPD) Planning & Design Consultants Co. e CONSULASIA — Consultores de Engenharia e Gestão, Limitada e o Consórcio Beijing Tsinghua Urban Planning and Design Institute (THUPDI) e King Honor International Design Consultancy Limited. O Consórcio CAA, Planeamento e Engenharia, Consultores Limitada é presidida pelo deputado Chui Sai Peng enquanto que a Kit & Partners Consulting Engineering Limited tem à frente também deputado Wu Chou Kit.

22 Jan 2018

IACM | Centro de Segurança Alimentar aplicou mais de 60 multas em 2017

De um total de 11 mil inspecções efectuadas a espaços de comida e supermercados o ano passado, o Centro de Segurança Alimentar do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais aplicou 66 multas. Para este ano está prevista uma acção de formação em Portugal, em parceria com a ASAE, na área do azeite

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]pesar da medalha de mérito atribuída pelo Chefe do Executivo ao Centro de Segurança Alimentar (CSA) do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), os fiscais continuam a ter de enfrentar a resistência de proprietários que recusam adoptar novas regras de higiene ou que simplesmente não aceitam as acções de inspecção de bom grado.

Dados facultados ao HM revelam que, o ano passado, as 11 mil inspecções efectuadas a locais como restaurantes, supermercados ou espaços de venda de comida de rua resultaram em 66 multas.

“Os espaços de comida que é vendida para fora estão abertos há muito tempo e é difícil para eles aceitarem os nossos avisos”, disse ao HM Luisa Lei, técnica superior da divisão de gestão e planeamento do CSA. “Temos sempre de trabalhar em conjunto e mostrar que estamos ali para que a comida que vendem esteja melhor para ser consumida pelo cliente”, apontou.

Os hábitos permanecem na pele de quem faz negócio na área da restauração há décadas. “Os proprietários dos restaurantes nem sempre estão conscientes das regras de higiene que devem ter nos seus estabelecimentos, porque usam as suas próprias regras há muito tempo. Muitas vezes ignoram-nos”, explicou a responsável.

Todos os dias são efectuadas inspecções a espaços pré-seleccionados de forma aleatória. Luisa Lei garante que os pior problemas registados no sector da restauração prendem-se com as más infra-estruturas. As visitas repetem-se nos locais que podem constituir um maior risco para o consumidor ou onde haja uma maior resistência às regras aplicadas pelo CSA.

“Há muitos problemas relacionados com as infra-estruturas, porque os proprietários precisam de fazer um grande investimento e muitas vezes as cozinhas não estão nas melhores condições. Tentamos que preencham os requisitos sem que haja uma grande alteração no espaço. Muitas vezes a estrutura do restaurante não se adapta às nossas regras, por ser muito antiga”, frisou Luísa Lei.

Apesar disso, Duarte Rosário, da divisão de informação de riscos do CSA, denota uma melhoria nos espaços que vendem comida de rua, como é o caso das lojas de biscoitos ou de carne seca.

“O ano passado recomendámos aos lojistas para não darem carne seca a provar aos turistas que passam na rua.” Apesar deste tipo de acções continuarem a ser comuns, sobretudo na zona das Ruínas de São Paulo, Duarte Rosário garantiu que os fiscais estão sempre atentos.

“Não recomendamos que isso seja feito, tentamos fazer o melhor possível e convidamos a associação do sector para reunir connosco.”

Hoje muitas das carnes secas que estavam expostas estão cobertas por estruturas de vidro. “Foi um grande progresso que fizemos”, acrescentou Duarte Rosário.

Por um melhor azeite

Foi em 2016 que o CSA assinou um protocolo com a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), a entidade congénere em Portugal. Todos os anos há acções de formação e reuniões bilaterais. Este ano, contou Duarte Rosário, está prevista a ida dos fiscais do IACM a Portugal para aprenderem mais sobre a fiscalização do azeite que é importado para o território.

“A reunião deverá acontecer em Abril ou Maio e iremos visitar os laboratórios da ASAE. Há muitos produtos portugueses a serem importados para Macau por isso damos uma grande importância a esta cooperação, sobretudo na área da tecnologia para testar o azeite”, concluiu.

22 Jan 2018

Alexis Tam | Alunos de intercâmbio podem vir a ter dupla titulação

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]lunos de intercâmbio que estudem em Macau e nos estabelecimentos portugueses de ensino superior e técnico com acordos com o território podem vir a ter os seus diplomas reconhecidos duplamente.

A ideia ficou do encontro da semana passada entre o secretário para os assuntos sociais e cultura, Alexis Tam e o presidente do conselho coordenador dos institutos politécnicos portugueses (CCISP), Nuno Mangas. “Os membros do CCISP mostraram-se interessados na criação de soluções para a sua concretização eventualmente através da dupla titulação de graus”, refere o comunicado enviado à comunicação social.

Para o secretário as soluções que têm sido desenvolvidas entre Macau e Portugal no sentido do intercambio de estudantes são um “êxito”. Mais do que aprender uma língua, estudar fora implica um enriquecimento adicional. “Alexis Tam mencionou, em especial, o êxito e a utilidade das soluções com desenvolvimento de estudos em Macau e Portugal através de um processo de aprendizagem de uma língua em total imersão linguística e cultural e portanto não apenas na vertente académica mas também na humana o que contribui para os alunos abrirem os seus horizontes”, lê-se em comunicado.

O secretário considera ainda que a experiência internacional adquirida abre inúmeras oportunidades e dá exemplos: “na concretização de Macau como “Plataforma de Serviços Comerciais”, como “Centro Mundial de Turismo e Lazer” e como “Plataforma Cultural com os países de língua portuguesa”, referiu. Por outro lado, o território pode “ser uma porta privilegiada de acesso à China em especial ao projecto da “Grande Baía””, apontou Alexis Tam.

22 Jan 2018

Lai Chi Vun | Estaleiros classificados até Dezembro

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]zona dos estaleiros de Lai Chi Vun em Coloane pode ser classificada até ao final do ano. A consulta pública relativa ao procedimento de classificação daquela área arranca no próximo dia 22 e terá a duração de 60 dias. A proposta do Instituto Cultural (IC) vai no sentido de que os estaleiros sejam classificados como “sítio”, esclareceu ontem a vice-presidente substituta, Leong Wai Man, em conferência de imprensa.

De acordo com a responsável, a escolha da categoria em que se insere Lai Chi Vun tem que ver com o facto de se tratar de “uma obra do homem e da natureza notável pelo seu interesse cultural” além de ser um local em que “há uma relação entre as montanhas e a costa com um grande valor paisagístico”, completou.

Depois de uma demolição e da destruição de alguns do estaleiros, restam 12 que já foram alvo de “consolidações estruturais”. O objectivo é que se mantenham de pé, mesmo com a passagem de tufões, até que sejam classificados e realizadas obras. Entretanto, a zona dos estaleiros vai ser sujeitas “a uma fiscalização intercalar” visto que, disse o presidente substituto do IC, Ieong Chi Kin, o Governo “está muito preocupado”.

19 Jan 2018

Consulta pública | Centro histórico deverá ter edifícios com um máximo de 20 metros de altura

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]rranca amanhã a segunda fase de consulta pública do plano de salvaguarda e gestão do centro histórico de Macau. De acordo com a vice-presidente substituta do Instituto Cultural, Leong Wai Man, trata-se de um documento “muito complexo” que só vai ser conhecido na primeira sessão de recolha de opiniões.

A responsável avançou que dentro das medidas que visam condicionar a construção na zona de protecção do centro histórico, a altura dos edifícios será limitada a 20 metros, sendo que há ainda que ter em conta “que há diferentes tipos de edifícios”.

As regras que vão condicionar a construção no centro histórico não se ficam por aqui, e vão inclui normas sobre o controlo e gestão das paisagens sobretudo dos corredores visuais e do enquadramento urbano, medidas sobre a restrição do tecido urbano, limitações concretas à sua transformação e critérios específicos que vão regular os procedimentos de restauração.

O plano em consulta inclui 11 corredores visuais, e define 24 ruas “com necessidades de protecção especial”, referiu Leong Wai Man, em conferência de imprensa realizada ontem.

Há ainda as “ruas pitorescas”, para já são 19, em que os pavimentos e a instalação de tabuletas vai ser alvo de atenção especial.

À prova de risco

A possibilidade de ocorrências de acidentes também está prevista pelo que o documento explicita algumas medidas de gestão de risco. Os tufões estão aqui considerados dentro da subcategoria de riscos gerais.

No que respeita à gestão, com o plano de salvaguarda do centro histórico, vão ser monitorizados 22 bens imóveis e oito largos classificados.

A segunda fase de consulta pública já era para ter sido realizada em 2016, foi adiada para o ano seguinte e está agora em andamento, depois do alerta da UNESCO, no ano passado, que denunciava que Macau não estaria a cumprir com os seus deveres. O plano de salvaguarda do centro histórico deveria estar concluído em 2015. Trata-se de um documento previsto na lei de salvaguarda do património que se encontra em vigor desde 2013.

De acordo com o Instituto Cultural, o plano em causa vai proteger uma área com características únicas. “O centro histórico de Macau oferece um testemunho único do encontro entre influências orientais e ocidentais , a nível estético, cultural, religioso, arquitectónico e tecnológico”, referiu a responsável.

19 Jan 2018

Hotel Imperial Beijing | Grupo condenado a pagar mais de quatro milhões

O Grupo de Entretenimento Mitologia Grega, que detém o hotel Imperial Beijing, na Taipa, foi condenado pelo Tribunal Judicial de Base ao pagamento de multas superiores a quatro milhões de patacas. Em causa estão violações da lei laboral e lei de contratação de trabalhadores não residentes

 

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]á muito que o Hotel Imperial Beijing, antes New Century, não recebia hóspedes e tinha contas a prestar à Direcção dos Serviços de Turismo (DST) e também aos seus trabalhadores, pela falta de pagamento de salários. O veredicto saiu ontem: o Tribunal Judicial de Base condenou o Grupo de Entretenimento Mitologia Grega e a Empresa Hoteleira de Macau Limitada, que detém o hotel localizado à entrada da Taipa, ao pagamento de multas superiores a 4.43 milhões de patacas, que deverão ser pagas por quatro administradores.

O grupo empresarial é acusado de violar não só a lei das relações do trabalho como também a lei de contratação dos trabalhadores não residentes, pelo facto de não terem sido pagos salários, “as compensações por trabalho extraordinário, as compensações pelos dias de descanso semanal, as compensações pelos dias de descanso anual e as compensações pelos feriados obrigatórios, entre outros”, lê-se no acórdão.

Os 24 processos instaurados pelo próprio Ministério Público junto do TJB envolvem um total de 614 trabalhadores. O caso arrancou nos tribunais ainda antes da DST ter decidido suspender o funcionamento da unidade hoteleira.

Um caso antigo

Os juízes do TJB entenderam que os quatro administradores do Grupo de Entretenimento Mitologia Grega (Macau) S.A. e da Empresa Hoteleira de Macau Limitada “asseguravam a gestão das operações, dos movimentos financeiros e do pessoal das sociedades, nomeadamente o tratamento dos assuntos relativos aos salários” e demais compensações ao nível das folgas e feriados. Por essa razão, deveriam “responder, solidariamente, pelo pagamento de multas aplicadas às sociedades supra mencionadas em vários processos convencionais”.

A polémica à volta do Hotel Imperial Beijing começou em Julho de 2016, quando a DST decidiu encerrar provisoriamente a unidade hoteleira por estarem em causa “graves infracções administrativas” e devido “à insuficiência da segurança contra incêndio” no local. O hotel ficou encerrado durante seis meses, mas a 12 de Janeiro de 2017, foi o próprio proprietário do Hotel Imperial Beijing que pediu o cancelamento definitivo da licença.

19 Jan 2018