Andreia Sofia Silva Perfil PessoasPedro Lemos, produtor de televisão [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s imagens, reais ou imaginárias, fazem parte do seu dia-a-dia, seja no trabalho, seja nos tempos livres. Pedro Lemos, produtor de televisão, chegou a Macau há quatro anos e continua embrenhado naquilo que o apaixona desde sempre: o mundo das Artes. Licenciado em Som e Imagem pela Universidade Católica do Porto, Pedro Lemos conseguiu adaptar-se ao Oriente e compreender um território tão diferente de Portugal, apesar dos laços históricos que persistem. “É uma sociedade diferente de lá, não tem o perfeccionismo europeu de que estamos sempre à espera, mas tem outras coisas. É difícil explicar por palavras quando vou lá [a Portugal] e as pessoas me perguntam como é. Por mais que descreva, é muito difícil, porque quando as pessoas cá vêm percebem que por mais palavras que use é complicado descrever esta realidade”, contou ao HM. Para Pedro Lemos, Macau tem algo que não se encontra em territórios vizinhos como China, Hong Kong ou Taiwan. “Todos esses locais são diferentes. A força trabalhadora que trazem para cá faz com que esta sociedade seja claramente diferente de Hong Kong ou Taiwan. As pessoas que chegam trabalham em casinos ou obras, não é propriamente o género de pessoas que encontramos em Hong Kong, que têm ambições e o desejo de sucesso.” Antes de se embrenhar pelo mundo das Artes, Pedro Lemos chegou a estudar Desporto, mas depressa percebeu que o seu caminho profissional não passava por aí. “Sempre tive queda para as artes no geral, desenhei a vida toda. Sempre tive esta necessidade de criar, de fazer coisas. Era um impulso inevitável, embora goste de praticar desporto. Mas o curso de desporto é mais virado para o ensino e achei que era uma área vazia para a minha personalidade”, apontou. Terminada a licenciatura, Pedro Lemos teve várias experiências de trabalho, mas só na RAEM encontrou algo que o preenche. “Deram-me aqui a oportunidade de trabalhar nesta área. É mais interessante, não faço só produção”, contou. Em Portugal vivenciou a precariedade do mercado de trabalho. “Trabalhei como freelancer para empresas na área gráfica e também fazia alguns trabalhos de produção. Fazia um pouco de tudo dentro dessa área para sobreviver, não fui servir à mesa”, ironizou. Desenhos nos tempos livres Quando não está a editar imagens ou a produzir conteúdos, Pedro Lemos pega no lápis ou na caneta e desenha o que vê ou lhe passa pela mente. Os seus rabiscos mostram sobretudo caras e corpos de homens ou mulheres, ou remetem para algum tipo de mensagem. “É um impulso, uma expressão muito natural em mim. Desenho tudo o que vejo e, às vezes, viro-me para o inconsciente e desenho o que me dá na cabeça, como caras e corpos. Surge espontaneamente, não tenho uma explicação natural. Há pessoas que escrevem, eu vou mais para o desenho para explicar alguma coisa. Viro-me muito para a figura humana, acho que é interessante. Gosto de misturar personalidades nas caras e nos corpos, nunca é alguém específico. Não estou sempre no mesmo género de desenho, às vezes vou mais para a banda desenhada. Acho que tenho várias personalidades no desenho”, revelou. Para além do desenho, Pedro Lemos é um apaixonado por cinema. “Vejo bons e maus filmes. Gosto de ver maus filmes porque vê-se o que é mau, o que aconteceu de errado, e por isso é que há bons filmes. Só vendo o mau é que se consegue o bom.” David Lynch é o primeiro realizador que lhe vem à cabeça, quando lhe perguntámos, pela sua forma diferente de fazer filmes. “Tenho muitos realizadores, apaixono-me por diferentes realizadores. Posso falar de alguns que me educaram, vou para o David Lynch em primeiro lugar, porque no fundo é um designer e usa isso na sonoplastia e na imagem. Usa isso para passar a emoção que quer, porque o cinema é isso, são emoções.” Após alguns anos a viver na Ásia, Pedro Lemos garante querer continuar deste lado do mundo. “Estou a pensar continuar por aqui, para já. Não estou à espera de nada, estou numa onda mais budista (risos). Não penso tanto assim nisso. Tenho sonhos, sim, mas se mudar de sítio os sonhos continuam lá, não é o local que faz a diferença”, rematou.
Leonor Sá Machado PerfilRostam Neuwirth, professor de Direito na UM [dropcap style=’circle’]R[/dropcap]aro é saber de quem tenha memórias para lá dos seus cinco anos de idade. Foi na Universidade de Macau que encontrámos Rostam Neuwirth, professor de Direito com especial interesse por legislação internacional e económica. A primeira memória que o académico tem de Macau remonta à sua infância, mais precisamente de quando tinha quatro anos de idade e era criança de brincar no chão, com pequenos carros “Made in Macau”. No entanto, só mais tarde, quando veio à China visitar a sua irmã, que por aqui tinha arranjado um emprego em 1986, deu com as maravilhas da Ásia. “Voámos via Hong Kong e vim a Macau nessa altura. Era uma cidade completamente diferente, mas a diferença que senti de vir da Europa e chegar à Ásia foi profunda”, conta. Rostam viajava numa altura em que a China estava relativamente fechada ao mundo. No entanto, conseguiram, “sem guias”, fazer grande parte do país: da experiência fizeram parte os pais e a irmã. O regresso para a sua terra-natal, a Áustria, foi feita via Transiberiano, uma das linhas ferroviárias mais conhecidas e cobiçadas do mundo. Esta liga a China a Berlim, passando pela Mongólia e Rússia. “Esta foi a primeira memória que criei da China”, sublinha. Volta ao mundo em 30 anos De Viena partiu para um programa de Direito em França, saltando para a Bélgica e Venezuela em trabalho, mas as coisas não ficaram por aqui. “Entretanto licenciei-me e não consegui ficar parado”, continua. Dali mudou-se para o Canadá, o “que teve bastante influência” no seu trabalho, mas foi em Itália que fez o doutoramento. “Depois disso trabalhei para o governo austríaco, mas como já sabia que o contrato ia acabar, comecei a procurar trabalho e o próximo destino foi a Índia, onde leccionei em duas universidades durante um ano”, relata o professor da UM. Foi já deste lado do mundo que começou a crescer o bichinho pelo Oriente, tendo Rostam voltado a procurar trabalho. É em 2006 que surge então a oportunidade de vir para Macau, devido à proximidade do Direito europeu e que aqui vigora. Em grande parte, o académico quis também experienciar Macau devido ao facto de também a RAEM ser território da China, que por sua vez, estava a ter um crescimento anormalmente positivo por volta dessa altura. Até à crise das bolsas mundiais, em 2008. Faz agora oito anos que o austríaco faz vida na cidade, onde até já casou e teve dois filhos. Todos vivem confortavelmente nas instalações de alojamento para professores da UM, na Ilha da Montanha. A experiência, diz, é certamente diferente de viver no centro da península, já que ali imperam os espaços verdes, a ausência de buzinas, de fumo de restaurantes e tubos de escape. Enfim, a calmaria no centro do caos. Os filhos, que não têm mais de seis anos de idade, lidam agora com quatro diferentes línguas em casa, mas o Alemão não convence os pequenos. “Eu tento falar com o mais velho em Alemão e sei que percebe tudo, mas às vezes olha para mim como se eu fosse o único a falar uma língua esquisita porque não ouve alemão em mais lado nenhum”, brinca o professor. Ambos sabem já falar Inglês, Cantonês e Mandarim e a ideia é que assim se mantenha a tradição. Talvez até possa ser poliglotas, quem sabe. Economias criativas “Macau tem exactamente o benefício de ser pequeno. Aqui, é possível observar e tomar nota das várias diferenças e, numa perspectiva mais abrangente, de apreender a economia num sentido macro, porque as distâncias são mínimas”, continua. Rostam está presentemente a estudar a relação entre o Direito e oximoros – paradoxos na linguagem – para, em última instância, compreender se em determinados casos o culpado pode também ser inocente. “É muito interessante olhar para Macau do ponto de vista académico”, confessa. Numa perspectiva pessoal, o professor diz gostar da cidade, mas não só do ponto de vista investigativo. “Toda esta combinação entre Ocidente e Oriente e a forma como o pensamento pode ser diferente de cultura para cultura. Tudo isto é interessante”, disse. Austríaco de gema, confessa por vezes ter saudades da neve e dos espaços verdes, onde frequentemente fazia caminhadas pelas montanhas. A falta de espaços verdes e paisagens de horizonte a perder de vista é, ressalva, uma falha a apontar. No entanto, é o Cantonês que mais dores de cabeça dá a Rostam. Pai de filhos locais, afasta a ideia de ser difícil viver por estes lados, afirmando até que gosta bastante da terra. É que Macau “tem um magnetismo inexplicável”.
Filipa Araújo PerfilPalmira Pena, empresária e trainning manager [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hama-se Palmira Pena. É definitivamente “macaense” e tem 29 anos. Uma descrição que fica aquém de tudo aquilo que a filha da terra, como se auto intitula, é. De sangue jovem e muito dedicada, Palmira Pena é um caso verdadeiro de empreendedorismo, sucesso e realização. “Nasci em Macau, sou filha de pai português e mãe chinesa, aquilo que chamam de macaense”. Assim começa a conversa da jovem empresária com a equipa do HM. Palmira Pena recebeu-nos no seu mais recente negócio, a Casa de Churros. Por entre interrupções profissionais, a macaense nunca deixou de sorrir, fosse para quem fosse. Ora connosco, ora para o seu sócio, ora para o cliente que entrava. Simpatia é, sem dúvida, a imagem de marca desta jovem. Tentar perceber o dia a dia de Palmira é uma verdadeira emoção. Não nasceu para estar parada e ver a vida acontecer, antes pelo contrário. A macaense é activa, dinâmica e não pára um segundo. “Trabalho num casino como trainning manager”, começa por esclarecer quando percebeu que nos deixara confusos depois de tantas informações de projectos e sonhos. “Por influência do meu pai, nasci e cresci num ambiente de restaurante e logo aprendi a cozinhar com ele. Sempre dizem que, filho de cozinheiro, cozinhar tem de saber, não é?”, brincou. Gastronomia portuguesa é a praia daquela que foi a jovem aprendiz do seu pai, um chef conhecido da praça pública. “Gosto muito de cozinhar, fazer bolos. Gosto da criatividade, tenho sempre muitas ideias. Invento muitas coisas, por isso é que abri os negócios que abri”, explica. De Macau para o mundo Os estudos, esses, foram feitos em Macau. “Até ao 12º ano frequentei a Escola Portuguesa de Macau, depois segui para Hotelaria na Suíça”, relembra, assinalando que, na altura, os tempos eram diferentes. “Eu e uma colega fomos as primeiras a ir estudar Hotelaria para a Suíça, depois mais tarde é que os estudantes de Macau passaram a ir também”, aponta. Sair de Macau foi uma aposta de sucesso. “Isto [o território] é muito pequeno, sair de Macau faz bem, para ver outras coisas”, conta-nos. O tempo passou e Palmira Pena com ele viveu as várias transformações de Macau. “A vida está bastante cara agora. Para os jovens é muito difícil, porque não têm espaço para evoluírem e terem oportunidades para avançarem com os seus negócios.” Ainda assim, Palmira Pena reconhece que “Macau é um sítio muito bonito” que, de facto, pode oferecer várias oportunidades aos seus residentes, ainda que seja preciso procurá-las. “É preciso ir ver onde é que podemos ir buscar essas oportunidades.” A jovem empresária é o exemplo vivo disso. Para além da Hotelaria, Palmira Pena apostou na sua paixão pela manicura, estética e beleza e abriu o seu próprio negócio. Também tem agora um novo projecto, como referido em cima, na sector da culinária. Empreendedora e dedicada, Palmira não pretende deixar Macau nos próximos anos. “Esta é a minha terra, tenho cá a minha família, os meus negócios”, afirmou, entre sorrisos. Taipa no coração Questionada sobre o seu local favorito em Macau, sendo a jovem da terra, Palmira Pena nem hesitou: a zona da Taipa Velha. “Adoro esta parte. É um sítio que mantém estas casas características [longe dos prédios e arranha céus], tem por aqui os idosos que passam a tarde a jogar Mahjong”, relata. O sentimento de bairro é um dos pontos destacados pela jovem empresária. “Aqui as pessoas passam na rua e cumprimentam-se todos, dizem bom dia, boa tarde, um olá. É uma coisa diferente. É um estilo de aldeia, de vila”, elogiou. O gosto é tanto que Palmira Pena confessa que são muito poucas as vezes que vai a Macau. “Moro aqui perto e por isso quase que nem vou a Macau. Ainda por cima aos fins-de-semana é para esquecer”, diz, referindo-se à grande afluência de turistas. “Há muitos casinos e como também trabalho num casino não tenho interesse em estar a ir para outros. Por isso prefiro estar em zonas mais calmas, nesta zona da vila da Taipa, com os meus amigos. Tomamos um café num sítio mais calmo. Isto aqui é tão bonito”, reforça. Palmira Pena não esconde a gratidão que sente por ter tido várias oportunidades no território. “Já pensei em sair de Macau, mas agora essa ideia não faz sentido. Não quero ir embora”, assina. Apesar dos “poucos sítios para sair” para os jovens da sua idade, Macau é um “sítio especial”. “Esta é a minha terra”, rematou.
Flora Fong Perfil PessoasFelix Januário Vong: “As minhas memórias estão em Macau” [dropcap style=’circle’]É[/dropcap] um jovem finalista da licenciatura em Design Gráfico do Instituto Politécnico de Macau (IPM) e conta-nos que o seu grande interesse é ser fotógrafo. Felix Januário Vong nasceu em Macau e por cá cresceu e assume, em conversa connosco, que tem um hábito diário: colocar todos os dias na sua página do Facebook e do Instagram as fotografias que vai tirando. A ideia? Chamar a atenção das pessoas para aquilo que gosta mesmo de fazer. Apesar de chamar casa a Macau, a verdade é que esta terra não é, para Felix, muito atractiva. Algo que pode ter ajudado o jovem a descobrir a sua paixão: é que o interesse de Félix pela fotografia chegou devido a um problema próprio – depois de não ter descoberto nada mais para fazer, mesmo estando há mais de 20 anos a viver em Macau. A terra era, para ele, demasiado pequena e “uma seca”. “Quando comecei a sair à rua com a máquina, obriguei-me a ver mais coisas à minha volta”, conta-nos, dizendo que agora até tem um sítio preferido, que é o Leal Senado. “Não tenho um destino certo para tirar fotografias, tiro à vontade. Mas gosto do Leal Senado durante a noite. É o sítio onde passo mais vezes, também é simbólico para Macau. Acho que consigo observar muitas coisas lá.” Quase todas as suas fotografias são tiradas nas ruas, mas não é só pelo trabalho final que Felix carrega consigo a sua câmara. Para o jovem, este interesse fá-lo também perceber uma coisa. “Na verdade, as pessoas são muito interessantes, muitas são inesperadas. Por exemplo, tirei a fotografia de um grupo de turistas do interior da China. Eles e nós próprios construímos uma cena interessante e única, porque não se pode tirar a mesma fotografia se eles tivessem viajado em Taiwan ou Hong Kong. As pessoas são as mesmas mas as ruas e os edifícios são de tipo europeu. Acho uma coisa muito interessante e que só nós temos aqui”. Paixão pela arte Cada vez que passeava, Felix tirava fotografias das ruas, janelas ou apenas das luzes, que começou depois a colocar nas redes sociais. Os passeios surgiram por necessidade. “No meu curso tenho sempre muitas horas de aulas e muitos trabalhos. Comecei a ter o hábito de me deitar muito tarde durante vários anos. Assim, quando estou de férias ou não tenho nada para fazer, não consigo dormir à meia-noite. Tento, então, passear nas ruas para conseguir dormir melhor”, disse, acrescentando que começou em 2013. Na altura nem tinha uma máquina boa. Todas as fotos eram tiradas com o telemóvel. Até porque pensou que o interesse nunca seria tão grande: mesmo tendo uma disciplina obrigatória de fotografia no seu curso, Felix gostava mais de ouvir música nos tempos livres. Mas, a paixão não se escolhe e cada vez mais Felix se apaixonou pela arte de tirar fotografias. Especialmente a preto e branco. Especialmente tiradas à noite. Vai daí, comprou uma câmara melhor. “Só comprei uma máquina mais profissional no ano passado. Estabeleci uma meta para mim próprio: tirar uma fotografia por dia e pô-la nas redes sociais. Estou sempre com a máquina, até quando vou à casa de banho”, conta a sorrir. No final de 2014, Felix conseguiu conhecer vários fotógrafos profissionais que também tiram fotografias nas ruas e assim decidiu desenvolver este interesse mais seriamente. Além das técnicas básicas que aprendeu no seu curso de Design, até agora ainda não tirou um curso profissional de fotografia, sendo que aprendeu apenas por apreciar obras de outros. Sonhos Através das fotografias que Felix nos mostra, podemos ver que o jovem vai frequentemente a Hong Kong durante as férias ou festivais especiais. Além de ruas, luz e pessoas, este fotógrafo gosta de capturar circunstâncias acidentais. Mais recentemente, o jovem tenta tirar fotografias onde os objectos olham para o foco da máquina. Mas, mais do que tudo, para Felix o mais importante é ter histórias para contar. “Quero mostrar personagens nas fotografias, além dos sentimentos e ambientes reais. Por exemplo, quando fotografei um ferreiro, capturei não só a pessoa mas também o ambiente de trabalho lotado, porque esta é uma cultura única que só existe em Macau e Hong Kong. Assim crio um significado e deixa as pessoas a pensar na cultura”. Para o jovem, actualmente Macau está lotada de pessoas e não é fácil procurar espaços tranquilos. Mesmo assim, Felix conta-nos que consegue descobrir características únicas desta pequena cidade. “Macau é especial na mistura Oriental e Ocidental e eu gosto disso. Nasci e cresci aqui e, mesmo que existam cada vez mais elementos culturais e políticos diferentes, bem como pensamentos e imagens diferentes, a minha raiz e as minhas memórias estão aqui. Gosto de ficar em Macau”. O jovem estudante de Design admite ser uma pessoa “aborrecida”. Perguntámos porquê e ele explica, na sua visão, o que quer dizer: além de ser fotógrafo, gosta de assistir concertos de rock, ouvir música indie e electrónica, bem como assistir a exposições. Olhando para futuro, Felix quer fazer documentários de fotografia depois da licenciatura. Acabou de participar na elaboração de uma curta-metragem onde documenta a situação dos mercados, mercearias, fachadas de antigos prédios e os que simbolizam Macau. “Agora estou a demonstrar a minha faceta mais artística. No futuro, queria fazer fotografias documentais, porque é uma forma de mostrar preocupação por este mundo”, disse. Mas, Felix gosta do território e não vê muitas oportunidades para isso em Macau. Por isso é provável que volte a trabalhar na área de Design. Por enquanto, as fotografias que o jovem vai tirando podem ser vistas na sua página do Facebook.
Leonor Sá Machado Perfil PessoasDaisy Semedo, estudante: “Em Macau é tudo muito simples” [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] perfil desta semana nasceu numa ponta do mundo, para crescer noutra e vir parar a uma terceira. Daisy Semedo é uma angolana de sangue, que nasceu em Roma. Mudou-se para a Namíbia, mas é em Macau que vive desde a adolescência. Tudo isto, explica, aconteceu graças ao facto dos seus pais serem diplomatas e terem exercido funções um pouco por todo o mundo. “Sou quase mais namibiana do que outra coisa”, diz, garantindo, no entanto, que o seu coração está em Macau. “Sinto-me mais daqui, porque foi onde passei a minha juventude, aquela altura em que amadurecemos, em que melhor nos apercebemos das coisas”, conta. O ensino secundário foi completado na Escola Portuguesa e depois disso, Daisy seguiu para um “gap year” na África da Sul. É aos 20 anos que volta para o território, decidida a ingressar num curso relacionado com Ciências Políticas. Foi então que começou a licenciatura em Estudos Governamentais na Universidade de São José. Actualmente, vive sozinha na residência universitária, mesmo virada para a Rua do Campo. “Estou num sítio super-central da cidade, tenho tudo aqui, incluindo restaurantes e supermercados”, diz. Facto inegável é a existência escassa de pessoas africanas no território, embora nos últimos anos o número tenha aumentado devido à promoção das relações entre a China e os Países de Língua Portuguesa. Da Namíbia, com amor Questionada sobre a adaptação a um local tão fora do comum – quando comparado com a Namíbia, Itália, Portugal ou Angola – Daisy confessa que “ao início foi difícil”, mas agora está totalmente integrada na sociedade. É até conhecida pelos amigos como “a que conhece toda a gente”. Para os pais, contudo, a adaptação não foi pêra doce: “a minha mãe raramente saía de casa, tinha dificuldade em fazer amizades e não gostava de algumas coisas”, acrescenta. No entanto, não pense o leitor que Daisy deixou de ter histórias para contar. A jovem deixou de pensar no número de vezes em que foi abordada na rua, nos cafés e na universidade por pessoas que tendem em achar a diferença peculiar e não censurável. “Quando cheguei a Macau, achei que ia sofrer muito com racismo, mas passado algum tempo percebi que os chineses ficam simplesmente fascinados e curiosos, até porque alguns nunca viram na vida”, começa por explicar, entre risos. Daisy admite que chega mesmo a achar “engraçadas” as perguntas que lhe são feitas. Entre a sua lista de favoritas estão questões relacionadas com a sua cor de pele ou ondulação do cabelo. “Já me perguntaram se na minha terra o sol está mais perto, por ser mais escura que eles, mas as perguntas mais frequentes são sobre o cabelo. Querem tocar e saber se cresce mais rápido do que os outros”, conta. Não permanente “O que mais gosto é a diversidade cultural”, adianta. Pena é que Macau seja, como costuma dizer, “uma terra temporária”, onde poucos ficam para sempre, mas muitos passam uns tempos. Este é o facto que, aliado ao conforto e segurança da cidade, faz com que a licenciada queira por cá ficar mais um pouco. É certamente difícil comparar Macau a uma cidade como Luanda, mas Daisy fê-lo: “Luanda é muito confuso, tem imenso trânsito, muitas pessoas. E em Macau é tudo muito simples”. Já a Namíbia, descreve como “o sítio mais calmo” onde já viveu. “É bom para a reforma”, brinca. O bichinho da aventura está na família, já que os pais diplomatas pouco gostavam de estar parados. Esta característica deu à jovem a oportunidade de palmilhar o mundo, uma das razões que permitiu a Daisy estar inteiramente à vontade com outras culturas, até porque na Namíbia e na África do Sul há uma harmonização entre população africana e europeia. Entre dois mundos Além de estudar, a jovem também trabalhou durante um ano no restaurante vegetariano Blissfull Carrot, na Taipa. “Adorei a experiência, muito em parte por causa das pessoas, que são muito calmas e simpáticas”, admite. A clientela é maioritariamente estrangeira e Daisy ainda lá ajuda quando pedem e quando pode. Foi precisamente ontem que Daisy completou a sua licenciatura, mas a história não acaba aqui. O próximo passo é aprender Mandarim e seguir com o mestrado em Comércio Internacional. “Eventualmente vou voltar para Angola, mas também gostava de continuar ligada, em termos profissionais, à China”, lembra. A jovem pensa mesmo em manter-se em contacto com ambas as pontas do mundo, colocando até a hipótese de ter uma ponte constantemente criada.
Filipa Araújo Perfil PessoasVanessa Santos, empresária: “Ser macaense é especial” [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]studou Gestão Empresarial, em Londres, com o “sonho desde pequena” de se tornar empresária como o pai. “Sou fã número um do meu pai e sinto-me orgulhosa em poder aprender e trocar umas ideias de negócios com ele”, frisa Vanessa dos Santos ao HM. Graduada com “muito boas notas”, a jovem empresária tinha apenas uma coisa em mente: “voltar para a terra” que a viu nascer e crescer – Macau. “Tenho muito orgulho por ser de Macau, adoro viver aqui e não quero sair. Nunca pensei nisso. Tenho aqui a minha família, o meu namorado, os meus irmãos e somos todos muito unidos. Tenho o meu trabalho. É um orgulho ser de Macau”, partilha com o HM, numa conversa entre brindes e com música natalícia como banda sonora. “Adoro isto, isto que os portugueses tanto gostam, conversar, jantar, conviver”, começa por dizer enquanto olha, um por um, os seus amigos à volta de uma mesa. As diferenças entre a cultura portuguesa e a chinesa são indiscutíveis para Vanessa e quem sabe, como a família da jovem soube, tirar partido disso, consegue garantir uma diversidade cultural “única”. “Eu adoro a marca portuguesa existente em Macau, adoro a cultura portuguesa e a língua”, diz com um Português perfeito. “Na minha casa não se come só comida chinesa, nada disso. A minha família tem o hábito da tão típica sopa portuguesa, do incrível bacalhau. Esta época [Natal] é levada muito a sério, já não vamos à igreja porque os meus avós já estão velhinhos mas assistimos todos à missa na televisão. Assim como no Ano Novo Chinês vamos ao templo e seguimos todas as tradições. Não é óptimo conseguirmos juntar estas duas culturas?”, argumenta. Ser macaense Para a pergunta de um milhão de patacas – o que é ser macaense? -, Vanessa dos Santos permanece num silêncio hesitante. “É difícil, é difícil conseguirmos explicar o que é ser macaense. Há associações a tentar, há pouco tempo foi avançado um inquérito online – que todos nós preenchemos – mas é difícil de explicar”, apontou. “Ser macaense é especial, nós sentimos aqui”, disse, colocando a mão sobre o peito. Sem dúvidas, Vanessa dos Santos acredita que a marca portuguesa e a cultura macaense nunca irão desaparecer do território. “Eu sei que agora Macau pertence à China, mas há muita gente, nós macaenses e não só, a lutar para que a nossa marca – e a portuguesa – não desapareça. Acredito que vamos todos conseguir”, afirmou, fazendo o brilho da esperança inundar a mesa cheia de amigos atentos ao desejo da empresária. Vinho e futebol Profissionalmente, Vanessa dos Santos está ligada ao mundo da importação e distribuição de vinhos e produtos alimentares. “Estamos a apostar mais na área dos produtos alimentares porque o sector do vinho, principalmente do português, está um bocado sufocado”, aponta. A receptividade é boa e o desenvolvimento do sector do Jogo, com a construção de mais casinos, permite uma “abertura do mercado” e, por isso, uma possibilidade de aumentar a sua carteira dos clientes. Com ou mais vendas, os negócios estão no sangue da família e a jovem empresária não podia estar mais feliz com o sonho de menina concretizado. “Eu adoro vinho, adoro apreciar um bom vinho e partilhar esse momento com amigos e família”, remata, entre sorrisos. “Adoro vinho e futebol”, acrescenta. A apostar na carreira de vinhos, Vanessa dos Santos está a preparar-se para o quarto e último nível do curso de WSET em Hong Kong, um curso de vinhos e bebidas espirituais. E, diz, não quer deixar de evoluir como profissional. Desportista desde sempre, a jovem empresária sentiu-se condicionada por não existir abertura para uma equipa de futebol feminina. “Eu sempre gostei de jogar futebol, mas não ia jogar com os homens, até porque eles não têm muita paciência. Falei com algumas equipas e ninguém quis avançar com uma equipa de futebol feminina, os treinadores não pareciam estar muito convencidos. Até que os que menos dinheiro tinham foram o que apresentaram mais disponibilidade e criou-se o Show di Bola”, partilha. Sempre a marcar presença, Vanessa dos Santos leva o desporto muito a sério e estreia-se agora na equipa que representa a Selecção de Macau. “Está a correr muito bem, estou a adorar, espero dar o meu melhor”, termina, rematando a conversa com um brinde à família e aos amigos e, mais que isso, ao seu grande amor: Macau.
Andreia Sofia Silva Breves PerfilJoana Ieong, professora do ensino secundário [dropcap=’circle’]A[/dropcap] pouca experiência que ainda tem na área do ensino já lhe mostrou que ensinar os mais novos não é pêra doce. Por entre a papelada burocrática das aulas, dos testes e exames, há que ensinar letras e números a crianças que nem sempre querem estar sentadas a aprender. Professora na secção inglesa do ensino secundário do Colégio do Sagrado Coração de Jesus, das Irmãs Canossianas da Caridade, Joana Ieong, de 24 anos, reconhece as dificuldades. Mas, para já, estar numa sala de aula é mesmo aquilo que a jovem de Macau quer fazer. O percurso académico foi feito na Universidade de Macau, com uma licenciatura em Educação, com especialização no Chinês. “Pensei que poderia ser professora, então escolhi estudar Chinês, mas também domino o Inglês e tenho conhecimentos de Matemática. Fiquei em Macau por causa da minha família, porque não tinha condições financeiras para ir estudar para fora. E também queria estudar Chinês, então pensei que estudar em Macau fosse a melhor opção. Na escola também dou aulas de Cantonês, então acho que o ter estudado em Macau foi a melhor opção”, contou ao HM. Joana Ieong considera que não é fácil dar aulas e muito menos a alunos locais, que nem sempre querem trabalhar. “Os estudantes de Macau são um pouco preguiçosos, porque penso que tudo começa nos pais, que trabalham fora de casa e não têm tempo para cuidar dos filhos. Então as crianças gostam de brincar e têm muitas actividades depois das aulas e ficam com menos tempo para os estudos. Preferem brincar em vez de estudar.” Casas e velhice Ao olhar para a terra que a viu nascer, Joana Ieong encontra as dificuldades normais de uma economia que sofreu o ‘boom’ que ninguém esperava. Ainda vive com os pais, mas o facto de ter de entrar no mercado imobiliário deixa-a com vários receios. “Em relação aos problemas existentes, só aponto a questão da habitação e da economia, porque as coisas em Macau estão muito caras. O meu salário, comparando com outros, é mais baixo e também é impossível comprar uma casa. Talvez até à minha velhice tenha de pagar uma renda de casa e esse é o problema mais grave. Tenho 24 anos, mas daqui a uns anos quero casar, mas talvez eu e o meu namorado não possamos pagar uma habitação. Preocupo-me bastante em relação a esse ponto”, disse. Quando não dá aulas, Joana Ieong opta por ficar em casa aos fins-de-semana, uma vez que, fora de portas, encontra apenas uma cidade em constante rebuliço. “Macau é uma cidade muito pequena e há casinos por toda a parte, então não há muitos lugares de entretenimento em que possamos relaxar. Há demasiados turistas e, nos fins-de-semana em que passeio por Macau, só encontro pessoas, então normalmente prefiro ficar em casa.” Apesar de ter estudado Chinês, Joana Ieong ficou com a curiosidade desperta em relação ao Português, até porque o namorado aprendeu a língua de Camões na universidade. “Gostaria de sair daqui e ir a Portugal. Tenho muitos amigos que foram estudar para Portugal e disseram-me que é um bom sítio para ir e onde as coisas são mais baratas”, assume. Joana Ieong não acha mal algum que o território ainda possua uma comunidade portuguesa com alguma expressão. “É muito importante termos uma comunidade portuguesa aqui, porque o Português também é uma língua de Macau. Mas não há muitas pessoas que falem o Português hoje em dia. Eu gostava de aprender Português também, mas trabalho aqui e tenho muitas coisas para fazer, por isso ainda não encontrei tempo para estudar. Talvez deixe de ser professora para estudar”, admite ao HM. Olhando para o sistema de ensino, a professora do ensino secundário considera que o Executivo deveria investir ainda mais no ensino das línguas e não apenas da segunda língua oficial. “As crianças deveriam aprender mais línguas e não apenas o Inglês. Hoje em dia a maioria das pessoas diz que o Inglês é importante, mas penso que deviam aprender mais línguas estrangeiras, a língua materna, o Inglês e outra”, conclui.
Leonor Sá Machado PerfilFrancisco Carvalho, engenheiro electrotécnico [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]rancisco Carvalho veio para Macau em busca de experiência profissional, tal como tantos outros portugueses. Desde a chegada até agora passaram-se dois anos, que descreve como “espectaculares”, tanto ao nível profissional como pessoal. Aterrou na região por via de um “grande amigo” e foi no terreno que foi ganhando nome e capacidade no mundo da construção. O jovem, agora na casa dos 30, licenciou-se na Universidade de Trás-Os-Montes e Alto Douro em Engenharia Electrotécnica. “Não estava satisfeito com o que estava a fazer em Portugal e isso, aliado à vontade de ter uma experiência fora, fez-me procurar”, descreve Francisco ao HM. É “na obra” que o seu talento ganha vida. Preocupa-se com as instalações eléctricas, circuitos e uma série de outros pormenores que o comum mortal desconhece, mas dão – literalmente – luz aos casinos, prédios habitacionais e industriais por essa cidade fora. Pergunte-se a um engenheiro português o que acha de Macau e a resposta está na ponta da língua: “Esta cidade é um estaleiro gigante, há sempre uma grua em qualquer lado”. Francisco congratula a celeridade com que as obras privadas são concluídas, mas também a qualidade dos trabalhos e a dimensão que os projectos têm na cidade. Pastel de Macau À parte das já conhecidas barreiras culturais que se experienciam num primeiro contacto com a região e a população residente, Francisco garante recordar para sempre um episódio caricato, esparrela na qual já muitos emigrantes caíram certamente: “Antes de vir para cá, falei com um amigo de longa data que vivia em Macau e ele aconselhou-me a não trazer roupa de Inverno porque aqui não fazia frio. Ora eu cheguei em Janeiro e estava mesmo muito frio, pelo que pensei logo ‘já fui enganado!’”. Um português em Macau que nunca tenha ouvido falar da Tarte de Ovo Portuguesa passa certamente pouco tempo na rua. À conversa com um macaense, Francisco quis saber qual a doçaria típica da região. Do outro lado da linha, prontamente se disse “tens que provar o pastel de nata”. E Francisco ficou certamente confuso. Não serão estes dos mais tradicionais doces de Portugal? Um sem norte agradável Há quem prefira sempre saber onde e quando se vai dar o próximo passo, mas Francisco não. “Vou à procura da confusão nas ruas mais pequenas e movimentadas da cidade”, confessa. Tal será, certamente, tarefa que não agrada a gregos e troianos, mas uma que o engenheiro garante fazer com quem chega para o visitar. “Gosto de levar as pessoas para o meio de zonas movimentadas, mostrar-lhes a cidade e andar a passear por lá”, acrescentou. É também da Vila da Taipa que os seus dias livres são preenchidos. Francisco não deixa de aproveitar a oportunidade para agradecer à “equipa espectacular” que o recebeu quando sentiu a humidade no ar asiático pela primeira vez. No entanto, esta zona do mundo é à primeira estranha, mas acaba por se entranhar. O jovem português ganhou o vício de viajar por estes lados e não perde uma oportunidade para ganhar asas e voar até ao Vietname, Tailândia ou até mesmo China. “Já percorri as capelinhas quase todas, até porque todos os feriados que temos permitem que isso aconteça. Estamos perto de sítios tão incríveis”, comenta. Neste momento, considera-se um jovem relativamente conhecedor desta zona do globo, com um currículo relativamente sólido e alguma experiência na bagagem. Sempre aberta, mas neste momento agarrada ao chão do local que já considera casa: a Taipa. Um ser adaptável Nem tudo soa bem a Francisco. Neste caso, sabe e cheira bem. “O ar é muito poluído e isso sente-se imenso, principalmente no início. Ao fim de algum tempo deixa de se sentir com tanta intensidade, mas mesmo assim sabe-se que os níveis de poluição são grandes”, lamenta. O círculo estável e sólido de amigos macaenses e portugueses vem equilibrar a balança, à qual se acrescenta o conforto de uma vida fácil e desafiante ao mesmo tempo. “Há dias em que me apetece ir embora e outros em que não penso nisso”, explica-nos Francisco, quando questionado sobre a vontade de por cá ficar. É que pesadas as balanças, Macau é, diz, um local “bom para trabalhar”, mas talvez “não tão bom para se viver”, como quem fala em criar família e fixar um sítio ao qual chamemos lar. Quem por cá passa sabe, no entanto, que Macau fica na memória até ao último suspiro, já que por aqui se fazem “amigos para toda a vida”, com quem o jovem pretende manter contacto, mesmo que se mude para o outro lado do mundo. “Costumo dizer que vivo um mês de cada vez, até porque tem sido assim até agora e vai continuar”, conta. A pressa não parece existir na vida de Francisco. Para já, interessa a carreira, o constante desafio que o trabalho traz e a velocidade com que esta cidade se vai construindo sobre si mesma.
Filipa Araújo PerfilRui da Silva, docente: “A vida em Macau é muito interessante” [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oi a leitura que despertou Rui da Silva, docente de Língua Portuguesa na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST), para o mundo e a cultura orientais. “Desde sempre que tive muito interesse na aprendizagem de línguas e conhecimento de novas culturas e, na altura, quando estava no ensino secundário, comecei a ler muitos romances cujas histórias se passavam na China e no Japão. Foi aí que comecei a desenvolver um gosto especial por estes dois países”, explicou o professor ao HM. Rui da Silva está em Macau há muito pouco tempo. “Cheguei em Agosto, são quase três meses”, indica. Mas só como residente, pois como turista já tinha visitado o território. “Já tinha vindo a Macau duas vezes antes de me mudar definitivamente para cá”, contou, sublinhando que a “primeira impressão foi de uma enorme confusão”. “Estava a viver no norte da China e estava à espera que fosse algo semelhante. Contudo, quando cheguei ao território descobri que era completamente diferente”, admitiu. O cunho português foi o que mais sobressaiu. A sensação era estranha porque “algumas zonas são bastantes semelhantes a Portugal, mas eu não estava em Portugal”, partilha. Ida e voltas Depois de decidir que queria dedicar-se às línguas chinesa e japonesa, Rui da Silva avançou com a candidatura para a licenciatura em Línguas e Culturas Orientais, na Universidade do Minho, onde acabou por se especializar em chinês e japonês. “Durante esse tempo fui duas vezes à China Continental fazer alguns cursos de Língua Chinesa e de ensino”, conta. Os estudos prosseguiram e Rui da Silva inscreveu-se no mestrado, também na Universidade do Minho, em Estudos Interculturais Português/Chinês. “No primeiro ano do mestrado fui para a Universidade de Nankai, em Tianjin, onde continuei a estudar Língua Chinesa, depois disso voltei para Portugal para terminar o mestrado e, ao mesmo tempo, comecei a trabalhar na universidade onde estudava como professor, leccionando Língua Chinesa e Comunicação Intercultural”, relembrou. Durante o seu percurso académico, a paixão pela língua chinesa ganhou terreno. “Apaixonei-me completamente pela China, pela sua cultura e língua”, disse, admitindo que o que mais gosta na língua é a escrita. “A escrita chinesa é muito visual e cada carácter tem uma história por trás que está intimamente ligada à forma de pensamento do povo chinês e como vê o mundo”, partilha, desmitificando a dificuldade tão comummente atribuída ao acto da escrita. “A escrita não será o mais difícil, mas é talvez o que dá mais trabalho para aprender”, anotou. Arriscar para viver Um dia, enquanto estava a viver em Tianjin, local onde frequentava um ano de intercâmbio na Universidade de Nankai, no âmbito da investigação de doutoramento, decidiu que estava na hora de arriscar e tentar outra coisa: Macau. “Como a minha investigação está relacionada com Macau e eu gostava de experimentar dar aulas de Português a chineses – porque até então só havia dado aulas de Chinês a portugueses – decidi procurar emprego em Macau”, lembra. Juntando a isto, o caminho de Rui da Silva foi facilitado pelo facto de ter alguns amigos chineses no território, amizades que fez até com o intercâmbio das universidades locais com Portugal. Para o jovem docente, Macau não o faz sentir que está na China, mas também não o faz pensar que está em Portugal: “Macau tem a sua própria identidade, o que faz desta cidade um local muito especial”. Um registo diferente Na MUST, Rui da Silva tem ao seu encargo cinco disciplinas: Fonética com 30 alunos, Gramática com 22 alunos, Escrita com uma turma de 28 alunos, Introdução ao Português com 14 alunos e ainda dá “aulas de Mandarim aos alunos estrangeiros de intercâmbio que fazem uma turma de 15 alunos”. Questionado sobre o diferente método de ensino e até de aprendizagem, o docente explica que a maioria dos alunos “são da China Continental e não de Macau, como se possa pensar, e nota-se uma diferença entre os dois”, até mesmo comparado com Portugal. “A atitude dos alunos de Macau é mais parecida com os alunos portugueses, ou seja, eles estudam mas, ao mesmo tempo, querem usufruir da vida. Os alunos da China Continental, por questões culturais e também por se encontrarem tão longe de casa, sentem que estudar é de facto o seu ‘trabalho’, por isso, empenham-se muito mais e dedicam-se por completo aos estudos”, explica, frisando que, no fim, “acabam por ser todos bastante interessados, dedicando-se muito à aprendizagem da língua portuguesa”. Macau, para já, é um projecto a médio prazo, como conta o jovem docente. “Ainda não decidi quanto tempo irei ficar por cá”, assinalou, indicando que, “fora das aulas, a vida em Macau é muito interessante”. As diferenças entre a China e Portugal tornam a vivência aqui “muito estimulante”. Do Cotai à Taipa a zona preferida é mesmo Macau “por causa da sensação de estarmos a viver num local cheio de história”. Apesar de Coloane ser muito agradável para uns passeios e por ter praia, Taipa e Cotai são “demasiado modernas”. As saudades da família e dos amigos são inegáveis, “até da cultura do Alto Minho”, sendo Rui da Silva de Viana do Castelo. “Mas não sinto saudades de estar em Portugal, acho que já estou habituado a estar longe e gosto tanto de cá estar que acabo por nem sequer sentir vontade de voltar”, termina.
Flora Fong PerfilDinizio Silva, jogador de futebol [dropcap style=’circle’]T[/dropcap]em apenas 17 anos, mas a vida deste jovem já está cheia de aventuras e esperanças para o futuro, bem como missões para cumprir. “Actualmente sou jogador de uma equipa de futebol local, a MFA Development, e jogo como avançado e médio. Fui também seleccionado para a selecção de Macau”, começa por dizer ao HM Dinizio Silva. Dinizio começou a ter contacto com este desporto quando tinha apenas quatro anos. A tenra idade para começar a dar pontapés na bola deve-se à influência da família, já que o pai também era jogador de futebol. “O meu pai ensinou-me a jogar futebol nos campos desde que eu era muito pequenino, porque o meu pai era futebolista a tempo inteiro.” Dinizio já teve a sorte de jogar em competições no interior da China, na Mongólia Interior, e na Tailândia. Experiências diferentes para quem joga futebol no território. “Nas competições, tivemos concorrentes muitos fortes, sobretudo das equipas nacionais. Normalmente a equipa de Macau perde nos jogos, mas esforçamo-nos ao máximo e ganhámos experiência, usufruindo também do jogo.” Em breve, Dinizio vai participar numa actividade maior, o Campeonato do Pacífico, na Austrália, e não consegue esconder a excitação. “Estou muito contente por ter sido escolhido entre muitos jovens locais para a selecção que representa a minha terra natal. É sinal de que o treinador reparou no meu progresso”. Mas, como todas as histórias, também a deste jovem jogador não se pode focar apenas no actual sucesso. Dinizio também passou tempos difíceis no que à bola diz respeito. “Pensei em desistir deste desporto. Em anos anteriores, não jogava bem e fui muitas vezes chamado à atenção pelo treinador. Foi muito frustrante.” Dinizio não parece ter muito tempos livre para a diversão como os outros jovens da sua idade, já que os treinos de futebol, como admite, são muitos e muito duros. “Tenho treinos todos os dias, três horas por dia.” Dar o salto Dinizio nasceu e cresceu em Macau, mas considera a sua cidade “um bocado seca”, como nos diz. “Vou sempre aos mesmos sítios nos tempos livres. Normalmente assisto a filmes, faço natação durante o Verão, passeio e faço compras com amigos, mas jogo mais futebol e fico em casa.” Se calhar é por causa disso mesmo que o jovem quer sair do território. “Estou a pensar frequentar uma universidade onde possa beneficiar também de treinos de futebol, para que possa jogar no estrangeiro. Se conseguir, queria ser jogador fora de Macau. Já acho bom ser jogador em Hong Kong ou em Portugal”, disse, acrescentando que, além de pensar em ser futebolista, ainda não escolheu qualquer outra profissão. Dinizio vive entre as comunidades e as culturas chinesa e macaense. Ele próprio considera-se “meio macaense”, porque a mãe é macaense e o pai é chinês. “Tenho muitos contactos com jogadores macaenses e gosto de conversar com eles. Acho que, por estar dentro destes grupos, posso fazer mais amigos.” O jovem estudou na Escola Secundária Luso-Chinesa da Flora, depois passou a estudar na Escola Portuguesa de Macau a partir do oitavo ano, por decisão da mãe. Depois, pôde seguir a sua “vontade” e mudar para a Escola Secundária Pui Va, onde está no décimo ano. “Foi divertido estar na Escola Portuguesa, tinha colegas chineses, portugueses e mistos. No entanto, achei muito duro para mim. Por exemplo, estudar a História em Língua Portuguesa é muito difícil para mim, o horário das aulas também era muito longo, mais de uma hora por aula, e às vezes tínhamos duas aulas seguidas.” Para o jovem, os estudos são mais relaxados nesta escola chinesa e não se arrependeu da decisão. Como joga bem futebol, é considerado a “estrela do futuro” na sua escola. Mas o jovem diz-nos, sem qualquer arrogância, que há sempre forma de melhor e ainda não é um futebolista “muito, muito bom”. Muitos estudantes, com 17 anos, conseguem apenas focar-se nos estudos. Mas Dinizio, assegura-nos que consegue manter o equilíbrio entre as duas coisas mais importantes na sua vida actual: a escola e o futebol. “Consigo gerir bem o uso do tempo, tanto as tarefas e exames na escola, como o futebol. Pelo menos nunca reprovei”, conta. Dinizio gosta que a família lhe dê um certo grau de liberdade, tanto nos estudos, como nas coisas que gosta de fazer. O futebol, claro, é uma dessas. E o jovem diz achar muito engraçado ter o mesmo gosto por este desporto desde que se lembra de existir.
Filipa Araújo Perfil PessoasJosé Macedo, arquitecto [dropcap style=’circle’]J[/dropcap]á viveu em quase todos os continentes. O Rio de Janeiro foi, e continua a ser, a sua cidade de eleição. José Macedo, um português a viver na Ásia desde 2010 não controla o brilho no olhar quando relembra o Ipanema, a água de côco e a bossa nova. O mundo gira e com ele gira também a vida. Quis o programa Inov Contacto trazer o arquitecto para Hong Kong e foi lá que ficou por quatro anos seguidos. “Vim nesse programa para Hong Kong, mas o ano passado fui convidado para pertencer ao projecto do Galaxy e abracei essa aventura”, conta ao HM. Porque não há coincidências, quis o acaso que a conversa do arquitecto com a equipa do HM acontecesse no dia em que José Macedo comemorava um ano de estada neste território. “A verdade é que é muito pouco comum alguém passar de Hong Kong para Macau, o mais habitual é o contrário. Confesso que é um trajecto que poucas pessoas fazem, mas como eu gosto de experimentar e já vivi em quatro continentes decidi arriscar”, conta. Na região vizinha, José Macedo trabalhava na área de arquitectura empresarial e decidiu experimentar “trabalhar para o cliente”. Música no coração No saco das paixões, carrega o gosto e a dedicação pela música. O brilho no olhar volta a invadir a nossa conversa e José Macedo explica que a dada altura, durante a sua permanência em Hong Kong, sentiu carência “de festas mais indie, mais alternativas”. Pela necessidade nasceu um duo de DJ. Com um amigo, de origem espanhola, nasce um projecto que vem trazer, ou pelo menos tentar, aquilo que os amigos procuravam. “Começámos devagar, passo a passo, até que começámos a ser convidados para festivais de música e festas. É um bichinho que sempre tive”, partilha. A chegada a Macau pareceu-lhe agridoce. “Não gostei logo de Macau porque tirou-me esta parte da minha vida na música. Sabia que não ia encontrar aqui o mesmo que estava a fazer em Hong Kong, mas, também sabia, que há sítios em que as coisas não vêm ter contigo de forma natural, tens de as procurar ou criar. Macau dá-te essa oportunidade. A oportunidade de criares. Só falta que as pessoas sejam abertas e aceitem”, assina. Locais como a Live Music Association, ou bares de música mais alternativa foram os espaços escolhidos pelo arquitecto. Ainda assim, nos momentos de mais calma é Coloane que se destaca. “É um sítio que dá para te refugiares um bocadinho”, remata. Paraíso fiscal Assumindo que tudo depende de pessoa para pessoa, José Macedo, entre gargalhadas, assume que olha para Macau como um “paraíso fiscal”. “É fácil viver aqui e tens alguma qualidade. Tudo depende de pessoa para pessoa. A mim, Macau não me preenche a 100%, mas vejo que há muitas pessoas que, por tudo o que o território é, se deixam estar e ‘metem as pantufas’, ficam acomodadas. Faltam algumas coisas aqui”, partilha. Uma grande escola de artes seria ouro sobre azul para o território. “Isso iria trazer novas visões, novas experiências e, mais que isso, espírito crítico”, aponta. O crescimento veloz da cidade exige alguma preparação, organização, criatividade e “de novo o espírito crítico”. Paciência de chinês Ainda no mundo da música, durante o ano que marcou a sua passagem por aqui, José Macedo foi conhecendo pessoas e projectos locais. Uma maior aposta no que é local e bom deveria fazer parte dos planos de quem manda, defende. Para o arquitecto não se pode desistir, e quem quer vingar terá de ser muito paciente e tentar, “tentar sempre”. Assumindo-se como “um bicho da Taipa”, José Macedo lamenta não ter tido muito tempo para conhecer o verdadeiro lado de Macau. “Se vives e trabalhas na Taipa vives o que aquilo é, e lá não é o que de Macau tem de verdadeiro”, aponta. A compra de uma mota ajudou a colmatar as escassas visitas, brinca. “Tive de facto mais acesso e fui descobrindo aos poucos, gostei”, remata. Por razões pessoais, José Macedo deixa, em breve, Macau para trás. Consigo leva momentos, muitos momentos, pessoas e aprendizagens para a vida. Voltar nunca será carta fora do baralho, mas neste momento não existe uma resposta. Por enquanto a única certeza com que nos deixa é a saudade.
Andreia Sofia Silva Perfil PessoasBrook Yang: “Macau precisa de promover mais o espírito académico” [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]onhou cuidar de doentes e ajudar a curar as maleitas dos outros, mas acabou a escrever em Inglês sobre a realidade de um pequeno território no sul da China. Foi uma volta de 180º aquilo que aconteceu à jovem Brook Yang. Natural da cidade de Nanyang, província de Henan, Brook Yang estudou Jornalismo em Xangai e depois acabou por escolher a RAEM para fazer os seus estudos de pós-graduação. Mas antes não foi fácil o processo de entrada no ensino superior. “Queria tirar Medicina, mas a competição no exame nacional é muita, especialmente numa província com muita população mas com poucos recursos como é a minha. Candidatei-me a um programa de Jornalismo em Xangai, que só aceitou três candidatos em toda a província, mas não sei como fui escolhida. Não tínhamos hipótese de escolher outras opções ou de sequer deixar cair uma lágrima quando víssemos os resultados das candidaturas. Mas assim que o semestre começou, descobri que o jornalismo encaixava perfeitamente e que queria ter uma voz”, disse Brook Yang ao HM. Na hora de entrar na universidade, o Inglês acabou por representar o seu calcanhar de Aquiles, mas hoje Brook Yang olha para isso com ironia. “Ainda me lembro de como o meu pai ficou desapontado por eu ter tirado 46 pontos em 100 no meu exame de Inglês. E quando soube que na Universidade de Macau (UM) se privilegiava o ensino do Inglês, então achei atractivo. Hoje acho engraçado o facto de me ter tornado uma jornalista de língua inglesa e isso é algo que me faz sentir bem nesta pequena cidade: sem quaisquer ligações podemos ter boas oportunidades.” A escolha de Macau acabou por surgir por intermédio de um amigo dos pais. “Foi uma escolha rápida para fazer os meus estudos de pós-graduação. Nessa altura falhei nos exames para entrar em Jornalismo em Pequim, especialmente no exame de Inglês. Nunca me candidatei a estudar no estrangeiro porque seria muito caro. Um amigo dos meus pais viu um anúncio da Universidade de Macau, que dizia que o período de candidaturas terminava dentro de três dias. Candidatei-me ao único programa da minha área – Comunicação e Novos Media. Foi assim que vim para Macau”, contou ao HM. Com os estudos terminados e à procura de novos desafios profissionais, Brook Yang quer continuar a viver a vida intensamente e a procurar coisas novas noutros lugares. A viver no território há algum tempo, a jovem chinesa já começa a olhar para o lado menos bom de uma sociedade de pequena dimensão. “A sociedade de Macau não parece integrada, apesar de ser multicultural e de ter muitos grupos de emigrantes, de diferentes lugares. A cidade é muito familiar para os rostos estrangeiros, mas há diferentes comunidades que vivem em mundos diferentes e muitos residentes não parecem ter uma atitude de respeito. Mas esta falta de atenção não se vê só nas pessoas mas também ao nível do ambiente e natureza. Vemos preocupação no consumo, grande desperdício de recursos e falta de reciclagem.” A jovem não deixa de apontar o dedo àqueles que fazem as leis e as políticas da RAEM. “Vemos muitos locais e deputados a construir lobbies para restringir o número de trabalhadores migrantes em espaços públicos e ao nível dos recursos e vemos trabalhadores da construção civil, da hotelaria, empregadas de limpeza que vivem em condições difíceis.” Um bom lugar A jovem jornalista considera que o ensino superior local ainda tem muito espaço para crescer e aponta várias sugestões. “As universidades de Macau não estão suficientemente desenvolvidas para corresponder aos recursos do território e das suas ambições, mas estão a fazer esforços para melhorar. Contudo, construir mais infra-estruturas e atrair estudantes de fora não é suficiente para fazer uma universidade crescer. Macau precisa que as suas instituições promovam mais o espírito académico e as responsabilidades sociais.” Contudo, Brook Yang continua a achar que este é um bom lugar para os jovens do continente que buscam por novas experiências. “Para os estudantes da China, Macau representa um caminho para atingirem objectivos a nível académico. Quer estejam a estudar ou a trabalhar, é definitivamente uma experiência fora do comum do outro lado da fronteira. Comparando com Hong Kong e os países ocidentais, Macau é um sítio não muito caro e menos competitivo. Quem quer viver e trabalhar aqui, Macau pode ser um pouco mais confortável com boas paisagens, melhores salários e com fáceis acessos a outros países, com mais actividades de entretenimento”, concluiu.
Leonor Sá Machado PerfilSara Justino, Engenheira do Ambiente [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]acau é um lugar sui generis e Sara Justino é bem capaz de saber isso. Mais do que uma experiência totalmente aventureira, esta cidade trouxe à jovem portuguesa um primeiro e fresco olhar para a Ásia. Algo que se assumiu como o início de uma óptima experiência, tanto profissional como pessoal. Sara tem, certamente e como vários outros emigrantes portugueses na região, família e amigos lá bem longe, mas quando se quer muito uma coisa, dizem, é preciso mergulhar de cabeça. A jovem, agora na casa dos 20 e poucos anos, conta com uma licenciatura e um mestrado feitos em Portugal e foi numa parceria neste último programa académico que Sara conheceu esta terra que diz ser “bastante familiar”. No âmbito de um estágio, foi parar à Macao Water, empresa onde actualmente trabalha. “Gosto muito de Macau e mesmo muito do que faço”, disse. É que Engenharia do Ambiente não parece ser uma área fácil, principalmente para quem lida com as águas do território. O mais complicado, revela, foi lidar com o choque cultural em termos de idiomas. “Continua a ser muito complicado comunicar, mas no início foi ainda mais difícil porque trabalho maioritariamente com pessoas chinesas e a comunicação pode ser difícil”, diz. No entanto, Sara parece ter-se adaptado bastante bem à realidade local – ao contrário de outros tantos. Se nos três meses do estágio viveu nas residências da Universidade de Macau, actualmente mudou-se sozinha para uma casa numa zona que, curiosamente, não atrai muitos estrangeiros. “Moro perto da Ilha Verde, junto ao trabalho, num bairro completamente chinês, em que nenhum dos meus vizinhos é ocidental”, revela. “Tem as suas coisas boas, como poder sair à rua de pijama e ser uma coisa perfeitamente normal”, brinca. Há voltas e regressos “No início [da proposta para ficar em Macau] não sabia bem se queria mesmo ficar, até porque Macau é do outro lado do mundo”, confessou. Em Abril passado foi quando Sara se decidiu a pôr pela segunda vez os pés nesta terra. A sua primeira experiência em Macau começou de forma meio atabalhoada. A viagem inaugural, em Setembro de 2014, aconteceu precisamente no dia seguinte à defesa da tese, momento que marca o estudante, mais que não seja pelo passo académico que representa. Quando as asas do avião deixaram mostrar Hong Kong, Sara percebeu que era época de feriados, mais conhecida como a Semana Dourada. As ruas abundavam de gente e sacos, pessoas e saquinhos. O tempo foi deixando que Sara se ambientasse e fizesse amigos, conhecesse pessoas na universidade e no local de trabalho. Cedo percebeu que era um local agradável para viver. “É um ambiente familiar”, reforça na conversa com o HM. “A primeira impressão? Que calor!”. “Apesar de ser tudo muito diferente e de ser a única estrangeira, tenho muita sorte com a empresa onde estou”, adianta. É que Sara sente-se a trabalhar com uma equipa que valoriza o seu trabalho. “Eles adoptaram-me, por assim dizer, e às vezes na brincadeira, até digo que são a minha família chinesa”, revela. Por enquanto, está-se bem por aqui. Ou pelo menos é essa a ideia transmitida pela especialista em Ambiente. Assegura que fica por estes lados até que seja preciso mais para evoluir. “Fico cá enquanto sentir que estou a aprender e a partir do momento em que não é possível evoluir mais, penso em ir embora”, frisa. Debaixo de um guarda-chuva Para Sara, o mais complicado de ultrapassar é mesmo a barreira linguística, mas acredita que “se se quiser muito cá viver e ficar a longo prazo, é fácil ter aulas e aprender em alguns meses” de muito esforço. No entanto, fossem esses todos os males. É que, ao contrário de muitos outros lugares, Macau parece trazer a várias pessoas a sensação de conforto e uma familiaridade que, diz Sara, “não tem nada a ver com o sítio de onde vimos”, mas está presente a cada canto, esquina de prédio, pastelaria e restaurante. Caso a ideia fosse ficar por aqui por tempo indefinido, a jovem confessa que gostaria de ter “uma casa em Coloane”, aquela que considera ser “a zona mais bonita de Macau”. O território tem, diz, “ainda muito por onde evoluir” na área da poluição e de formas de ajudar o ambiente. Quando questionada sobre momentos estranhos, que só teriam lugar em Macau, Sara não demora a recordar aquele que considera melhor espelhar o choque cultural entre a China e Portugal. Um dos episódios mais caricatos que marcam a estada de Sara no território aconteceu debaixo de uma chuva torrencial, com um grande amigo seu de naturalidade local. Chinês de alma e sangue. “Estávamos os dois debaixo do mesmo guarda-chuva, estava a chover imenso e eu, num gesto de amizade, cruzei o braço ao dele para não ficarmos desfasados debaixo do chapéu. Mas ele ficou agitadíssimo, a dizer que não podíamos fazer aquilo porque a namorada ia pensar que existia alguma coisa”, recordou, ao mesmo tempo que se ria. Quando Sara finalmente explicou ao seu amigo a natureza altamente inócua da acção, riram-se os dois ao perceber que também na amizade existia uma espécie de “protocolo cultural”. Sara sabe que tem ainda “imensa coisa para ver e aprender” por essa Ásia fora, especialmente aqui ao lado. “Adorava pegar numa mochila e fazer uma viagem pela China, mas sei que não sabendo Mandarim não ia correr bem”, lamenta. Assim, as viagens vão-se fazendo ao passo de quem trabalha e aproveita o tempo livre. Por enquanto, Sara parece feliz com o que faz, mas essencialmente, com quem é.
Andreia Sofia Silva Perfil PessoasSuraphou Kanyukt: “Estou feliz se o meu país estiver em paz” [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]scolheu fazer parte do exército do seu país, a Tailândia, como quem escreve uma cruz num qualquer papel sem pensar muito no assunto. De facto, Suraphou Kanyukt nunca quis ser um militar no activo, mas escolheu essa opção de vida como poderia ter optado por outra qualquer. Mas há quatro anos este jovem, oriundo de Banguecoque, decidiu que a farda de cor verde escura e as armas já não lhe serviam como projecto de vida. Foi então que decidiu vir para Macau. Suraphou Kanyukt optou por estudar Comunicação Social na Universidade de São José (USJ) e não se arrepende da sua decisão. “Decidi sair de Banguecoque em 2011, depois de ter servido o meu país no exército. Decidi vir para Macau estudar porque em termos pessoais gosto de aprender sobre outras culturas e línguas, então porque não escolher um sítio algures? Na altura não fazia ideia. Tudo o que sabia sobre Macau é que era uma pequena cidade, a Las Vegas da Ásia, onde poderia comer pastéis de nata”, contou ao HM. Apesar de Macau ter uma forte comunidade tailandesa, no início Suraphou Kanyukt sentiu-se totalmente um peixe fora de água. “Adorei a vida universitária aqui, mas foi um grande desafio conquistar os corações dos locais, já que estive muito tempo na luta de um estrangeiro que vive fora do seu país. Senti-me um pouco em baixo, mas depois percebi que fui eu que não me abri a eles”, aponta. Hoje tem vários amigos, não só tailandeses como também chineses, que o tratam por Justin. Suraphou sabe que o seu nome não é de fácil compreensão, pelo que, num primeiro contacto com as pessoas, pede sempre para ser tratado pelo nome inglês. De Macau, Suraphou Kanyukt, que não gosta de jogar em casinos, só tem a apontar de negativo o sistema de transportes. Mas até lhe dá jeito. “Não foi fácil deslocar-me pela cidade enquanto andava na universidade. Comecei a andar a pé, porque é fácil deslocarmo-nos a todos os sítios e isso é o que eu mais gosto em Macau, especialmente no Inverno.” Atentado à distância O atentado terrorista que ocorreu em Banguecoque há meses não passou despercebido a Suraphou Kanykt, tal como a todos os membros da comunidade tailandesa aqui presente. O receio da quebra no sector do turismo, principal motor da economia do país, fez-se sentir, aliado aos conflitos políticos internos que não estão totalmente dissipados. Meses depois, e já com dois suspeitos identificados pela polícia tailandesa, o jovem espera que as autoridades e a sociedade encontrem soluções para que tudo volte à normalidade. “Estou feliz se o meu país estiver em paz. Penso que precisamos de mudanças que sejam o melhor para nós.” Actualmente à procura de trabalho, o regresso a Banguecoque não está posto de lado. “Se alguém me oferecer uma oportunidade de trabalho, porque não? Gostaria de trabalhar na área da música, crítica gastronómica, lifestyle, arte, uma área na qual eu me pudesse envolver. Não quero sequer ter um pé na política”, frisou. Apesar disso, Suraphou Kanykt confessa que ficar em território chinês é a primeira opção. Na qualidade de jornalista estagiário experimentou as várias vertentes da profissão, desde a imprensa escrita ou ao online, ao trabalhar no diário inglês Macau Post Daily e no grupo de media Macaulink. Na Fundação Rui Cunha, experimentou durante seis meses a área multimédia, ao produzir filmagens dos eventos e alguns filmes. Optimista e à espera do que o futuro lhe pode trazer, Suraphou Kanykt continua a olhar para diversas oportunidades de trabalho, seja em Macau, Hong Kong ou até em territórios vizinhos, como é o caso de Singapura. “O melhor para mim seria ter uma oportunidade de trabalho aqui, mas recentemente ouvi que há muitas mudanças, porque a economia está a abrandar”, referiu. Suraphou, ou Justin, vai continuando pela RAEM por estar tão perto de Hong Kong. Aqui já se candidatou a vários trabalhos na área da hotelaria e turismo, mas chama a atenção para o facto da língua ser um entrave. “Sei que há muitas oportunidades em Hong Kong, porque é mais internacional, as empresas não estão preocupados com o facto de eu não falar Chinês”, rematou.
Leonor Sá Machado Perfil PessoasJoana Dillon, licenciada em Gestão Empresarial: “Macau é a minha casa” [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oi no restaurante de comida portuguesa e macaense do casal Dillon que o HM se encontrou com Joana, uma jovem local de 27 anos. Em Londres, tirou uma licenciatura em Gestão Empresarial, mas não sem primeiro experimentar o curso de Hotelaria e Gestão na Suíça. “Era muito aborrecido e percebi que não era aquilo que queria e foi então que mudei para Londres”, começou por dizer. Ainda de tenra idade, não sabe exactamente, como milhares de jovens por esse mundo fora, o que quer fazer no futuro. Entre os serões passados em casa dos pais e de amigos, Joana entretém-se a passear os cães e a ouvir música. Questionada sobre o seu percurso, a jovem confessa ter sempre sentido que Macau simboliza conforto e à vontade. Enfim, tudo aquilo que procuramos quando falamos de um lar. “Macau é a minha casa”, diz sem hesitações. Por esse mundo fora Ir para fora sempre esteve nos seus planos, mas não para sempre. É que é com os nossos que mais queremos estar quando o tempo passa pelo corpo e pela alma. Ao contrário de vários residentes locais, viajar é uma das coisas que a licenciada mais gosta de fazer. Nos planos futuros estão caminhadas pela Índia e pelo Egipto, mas os pais temem que ambos sejam territórios “perigosos”. Será, certamente, um assunto a discutir em seio familiar. Entre uma vida (agora) pacata, Joana ajuda os pais no restaurante, aceitando pedidos nas mesas e fazendo as contas ao final da hora de ponta. O restaurante, mesmo ao pé dos Lagos Nam Van, enche a olhos vistos às horas de almoço e jantar. São os macaenses, portugueses e turistas chineses que mais lucro dão à casa. A jovem gosta de ajudar a família, mas sabe que não será para sempre. “Estou aqui e de momento não estou a trabalhar, por isso ajudo-os no restaurante, acho que é uma coisa normal”. Supermercados à maneira Embora Macau seja o lar de Joana, a licenciada macaense gostou muito da sua experiência na Europa, continente que visita com uma regularidade a que poucos têm acesso. Seja por falta de interesse, posses ou horizontes. No entanto, há uma coisa em particular da qual tem realmente saudades: “Os supermercados europeus são enormes, tão grandes que sou capaz de lá estar a ver produtos durante umas três horas”. Comparativamente, prefere os portugueses e espanhóis aos de Londres ou Suíça. Primeiro, por serem mais perto do centro das cidades, mas também por terem “produtos de qualidade a preços muito acessíveis”. Para Joana, é lamentável que não haja em Macau locais como aqueles. “O único que temos é o New Yaohan e mesmo assim nem é muito grande, só tem um piso e é muito caro”, explica. A capital inglesa e a Suíça são países nos quais o Inverno é lei e muitas vezes acompanhado de neve. Por contraste, Macau é um território virado ao lado exótico, onde o tempo frio faz das suas, mas que passa quase sem que percebamos. Talvez parte da vontade de sair tivesse sido motivada pela diferença de climas e culturas. Foi graças à frequência do antigo Colégio Canadiano de Macau que Joana hoje em dia fala Inglês fluentemente, a juntar ao Cantonês de língua materna e Mandarim de língua segunda. A pequenez faz a regra Não é novidade dizer que Macau se pode tornar um tanto ou quanto claustrofóbico. Tratando-se de um território com pouco mais de 30 quilómetros quadrados, traz em si o espírito de aldeia, onde cada passo é um cumprimento ao transeunte que nos passa ao lado. Nascida em Hong Kong, mas a viver no território desde bebé, Joana não vê as mudanças sofridas na cidade como algo negativo. Antes, como um factor “natural” de qualquer sociedade que se quer evoluída. “Macau é muito pequeno”, explica Joana. No entanto, aponta que esta característica pode funcionar bem e mal para a sua população. Por um lado, torna-se pouco possível fugir ao efeito de aldeia aqui criado, mas por outro, “sabe bem porque é uma cidade muito familiar, faz-me sentir em casa”. Por estas paragens, mais especificamente na Universidade de São José, frequentou o curso de Design, mas rapidamente percebeu que “não era aquilo para o qual havia sido talhada”. Neste momento, contenta-se com serões com a família e amigos a descobrir novos nomes da música electrónica e rock mundial e a dar longos passeios na zona das Casas-Museu da Taipa. “É um dos espaços mais calmos e bonitos da cidade”, diz. “Antigamente, saía muito à noite, mas cansei-me desse tipo de vida e já não consigo achar piada aos bares e discotecas de Macau. Temos pouca escolha e a música não é muito boa”, queixa-se. Quando o intuito é comprar produtos mais internacionais, diz, Hong Kong é a cidade a frequentar. “O ambiente nocturno dos bares, a música, as lojas, os supermercados e os centros comerciais são todos muito maiores e sempre que quero comprar uma coisa específica, é a Hong Kong que vou”, acrescentou. Para já, Joana desconhece aquilo que o futuro lhe reserva, mas sabe que será certamente sumarento. Entre temporadas na Europa, serões bem passados em família e a falta de supermercados grandes, Joana lá se vai entretendo nesta cidade que considera ser sua. Como é já de todos nós um pouco.
Filipa Araújo Perfil PessoasAngeline Silva, educadora de infância: “A oportunidade que nunca tive” [dropcap style=’circle’]É[/dropcap]o olhar mais recente que a equipa do HM tem a oportunidade de partilhar. Chama-se Angeline Silva, mas é por Angie que a tratamos. Foi em Fevereiro que visitou pela primeira vez Macau. “O meu marido veio trabalhar para um projecto aqui em Macau”, começa por explicar. Um projecto que deu frutos e abriu a porta à possibilidade de Angie se ficar pelo território. “Vir para Macau tornou-se um objectivo pela presença do meu marido aqui, isso e a falta de oportunidades em Portugal”, partilha. A conversa começou logo ali, num parque exterior carregado de baloiços e risadas de mais de 20 crianças. Um choro aqui, um corrida para ali, o ambiente não podia ser mais descontraído e isso era evidente na cara de Angie: as crianças são a sua praia. “Tenho de colocar os meus meninos na aula de Mandarim, já volto”. É assim que a educadora de infância interrompe a conversa com o HM. Ao seu lado uma criança chorava, outra sentava-se no chão sem vontade de parar de brincar. Em Inglês, Português e noutras expressões que, para nós, são difíceis de perceber, Angie coloca ordem na turma e todos focam a atenção na aula que ia começar. Oportunidade de ouro “Adoro o que faço”, reinicia a conversa, explicando que as aulas começaram há poucas semanas e que todas as crianças ainda estão em fase de adaptação. “São muito pequeninos, é uma nova fase da vida deles é normal”, explica quando percebe que à nossa volta estavam pelo menos três crianças a chorar. Numa sala que parecia de contos encantados, em cadeiras para pessoas de tamanho pequeno, a educadora mostra o brilho do olhar típico de quem acabou de aterrar no território. “Gosto muito de estar cá, não tive medo nenhum em vir viver para aqui”, indica. A verdade, confessa, é que Macau deu à educadora “a oportunidade que Portugal nunca deu”. Angie está a fazer o que realmente gosta: ser educadora de infância, algo que nunca conseguiu naquele país. “A crise, mais a vontade de estar com o meu marido, trouxe-me aqui. E gosto”, partilha. Num cenário cheio de cor, numa mesa com sete pratos pequenos, sete colheres e sete guardanapos para um almoço que iria acontecer num par de horas, Angie ri-se ao contar que está em fase de adaptação. Sim, Yes, Ci Um dos maiores desafios que esta aventura lhe trouxe foi a multiculturalidade existente na turma pela qual é responsável. “Aquilo fala-se em Chinês, Inglês e Português, tem sido um desafio. Quando dou por mim estou a dizer ‘sim’ e olho para o lado e digo ‘yes’”, relata. A sua turma tem meninos chineses que nada falam em Inglês e por isso Angie tem-se esforçado para captar e aprender a língua, permitindo uma comunicação para além de gestual com essas crianças. “Já vou percebendo palavras soltas, já reconheço alguns sons e sei o que eles querem dizer com isso, mesmo que não os consiga perceber. Mas quero tentar aprender a língua local”, adianta. O jardim de infância proporciona a cada sala uma auxiliar intérprete para melhor facilitar a comunicação, algo que tem sido uma ferramenta muito útil. Mudam-se os hábitos O trânsito é de facto o que mais estranheza lhe causa. “Nunca vi um sítio assim, mesmo que tente não sei explicar como é que eles conduzem. Os taxistas… Já para não falar dos condutores de autocarros em que as pessoas, com as travagens bruscas, com os buracos, balançam como bailarinas”, relata, entre gargalhadas. A massa populacional é também uma novidade para a educadora. “Nunca vi tanta gente em ruas tão pequenas e parece que eles se movem de forma automática, nem olham para os lados ou para a frente, e se for preciso vão contra as pessoas”, brinca. O mar, esse é o que mais falta lhe faz. “Vivia perto do mar, tenho uma ligação muito forte com o mar. Sempre que me sentia triste, ou precisava de pensar em alguma coisa, ou só porque sim, ia passear à beira-mar, ia ver o meu mar. Aqui não posso fazer isso”, anota. Curiosamente, Angie conseguiu encontrar um substituto para o seu mar. É um espaço que não se assemelha a ele, mas que o substituiu. O Bellini. “Eu sei que é estranho, mas agora é um ritual. Todas as quartas feiras vou àquele bar, dançar, ouvir música. Descontrai-me”, anota. Entre passos de dança e rodopios, Angie vai-se adaptando ao novo mundo que a acabou de receber.
Filipa Araújo PerfilVasco Flores, engenheiro electrotécnico [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hama-se Vasco Flores, é engenheiro electrotécnico e abraçou a aventura de viver em Macau por tempo indeterminado. “Em Macau devemos viver um dia de cada vez, tudo pode mudar, as coisas não são lineares como pensamos”. É assim que Vasco Flores abre a conversa com o HM. Depois de muito viajar pelo mundo, o engenheiro começou a dar sinais de cansaço devido às “muitas horas de trabalho e a uma remuneração insuficiente”. Portugal, um país de sonhos, fez acordar a população com a sua crise e falta de condições de trabalho. O desemprego bateu à porta de muitos e cortou nas remunerações de outros. Depois de passar por vários países – Cabo Verde, Suíça, Irlanda, Cuba, Angola – o engenheiro electrotécnico começou a pensar de forma mais séria na possibilidade de sair do país de forma fixa. E como quem procura, encontra, Vasco Flores acabou por receber um convite para voar para este lado do mundo. “Através de amigos comuns fui contactado com esta oportunidade, aqui para Macau”, explicou, acrescentando que, depois de tudo definido, embarcou “nesta aventura” que supostamente seria apenas de um ano, terminando em Julho de 2015. Culturalmente diferente O bom trabalho e o conhecimento prestado pelo engenheiro levaram a que outras oportunidades surgissem e, depois de terminado o projecto que trouxe Vasco Flores ao território, a possibilidade de ficar por cá tornou-se uma realidade. O primeiro impacto foi claro: o clima e a diferença cultural. “Apesar do choque cultural, nomeadamente dos hábitos cívicos, ainda se nota uma certa influência portuguesa, como o nome das ruas, os restaurantes. Mas é evidente que há pequenas coisas que fazem sentir que estamos do outro lado do mundo, como por exemplo o clima” argumenta. “A humidade é das coisas mais impressionantes aqui, quando damos por nós estamos a suar de cima a baixo”, explica, admitindo traços de recém-chegado a Macau. Ser coordenador de uma equipa de nacionalidade chinesa também não se mostrou tarefa fácil. “Tenho experiência profissional em vários países e culturas e trabalhar com chineses não é fácil. Como orientador de uma equipa temos de assumir muitas vezes uma postura mais séria, ao contrário de outros países. Por exemplo, em Angola se falamos de forma mais ríspida é muito possível que o trabalhador olhe para o chefe e vire as costas, aqui é diferente, eles vêem o coordenador com uma postura mais autoritária”, relata. Ainda assim uma coisa é certa: “somos nós [portugueses] que somos a matéria estranha ao território e somos nós que, se estivermos mal, temos que ir embora”. Intensamente amigos A decisão foi tomada e, sem fechar a porta às mudanças da vida, Vasco Flores acabou por aceitar ficar por cá. A maior prova disso foi o convite que se estendeu à sua esposa, para que o casal se aventurasse na Ásia. Ainda assim, mesmo com amigos e família do outro lado do mundo, aqui, neste pequenino espaço da China, os novos amigos parecem de sempre. “Macau aproxima as pessoas, as relações são intensas. É mesmo muito fácil fazer amigos, até porque fazemos muitas coisas e mais vezes com eles. Os almoços, os fins-de-semana. Estamos do outro lado do mundo, sem a família é normal que isto aconteça. Isso é muito bom”, enumera. A comunidade portuguesa patente em Macau é também apontada como uma vantagem que facilita a integração. “Acho que a comunidade portuguesa sabe receber e acaba por nos integrar e mostrar sítios e outras coisas. Caso contrário, se estivéssemos do outro lado do mundo, sem ninguém, seria mais difícil”, defende. De sorriso na cara Macau deve ser encarada com a mente carregada de optimismo, caso contrário as viagens de táxi, exemplifica, poderão tornar-se uma tragédia. “Temos que nos rir, temos que encarar isso de forma positiva, se nos enervamos só vai complicar”, conta, relembrando várias aventuras que já teve com as viagens de táxis. “É uma problemática de Macau e isso já se sabe”, remata. Os menus de vários restaurantes só em Chinês, ou a incapacidade de falar Inglês dos funcionários são outro dos exemplos dados pelo engenheiro. “Fazemos à sorte e arriscamos. Pode calhar uma coisa boa ou não, até podemos não saber o que estamos a comer, mas temos de nos rir com isso”, acrescenta. Macau e as suas pessoas fazem parte da vida de Vasco Flores e agora também da sua esposa e isso o tempo não mais vais apagar. O futuro é uma incógnita e o que interessa é “o dia que se está a viver” e o hoje é aqui, deste lado do mundo.
Flora Fong Perfil PessoasGemmany Cheong, artesã [dropcap style=’circle’]U[/dropcap]ma pessoa pode ter vários papéis. Quando não se conhece e se olha para Gemmany pela primeira vez, podemos achar que esta jovem é apenas uma secretária normal de uma empresa normal, que entra e sai de trabalho à mesma hora normal de todos os dias. Que gosta de maquilhagem e de pintar as unhas. Mas esta jovem de 26 anos faz coisas que a maioria de nós não faz. “De dois em dois dias, vou alimentar os cães abandonados em vários sítios de Macau com comida cozinhada pela minha mãe, nas noites depois do trabalho.” Já há algum tempo que a mãe da jovem faz arroz com frango todas as semanas, pondo a comida em caixas para que Gemmany se dirija aos locais onde se passeiam animais vadios e possa alimentá-los. Sempre que alimenta um animal, ela passar a conhecer bem os sítios onde vivem os cães abandonados em Macau – normalmente vai às zonas da Areia Preta, das Portas do Cerco e aos lotes de construção desocupados. É possível que este interesse da jovem tenha surgido por causa da mãe, que adora cães, e passa este gosto aos familiares. “Agora temos oito cães e um gato em nossa casa. A minha mãe começou por adoptar primeiro o cão de uma vizinha quando eu andava na escola primária. No início, o meu pai não gostava de ter tantos cães mas, passo a passo, a mãe convenceu-o e ele aceitou. Desde então, adoptámos cada vez mais animais nos locais de construção e noutros sítios”, conta Gemmany ao HM. Um dos oito cães foi também encontrado mais recentemente pela sua mãe na rua. Ambas tentaram durante muito tempo procurar um novo dono, mas não conseguiram, pelo que resolveram levá-lo para casa, sendo este agora mais um membro da família. Se a despesa com os animais é grande? Gemmany não acha. “É apena comida e champôs para tomar banho. O dinheiro gasto é limitado, não é muito.” Trabalhos diversos Há vários anos, a jovem começou por dar atenção a cães abandonados quando trabalhava como uma espécie de cabeleireira numa loja de animais. Gemmany não percebia como é que alguns donos podiam ser tão cruéis para com os seus bichos e surgiu, então, a ideia de os ajudar, através da criação de uma página no Facebook denominada “I See You”. E foi também aqui que a jovem encontrou a sua nova vocação. “Como sempre gostei de fazer arte, comecei a fazer peças de artesanato. Depois de vendidas, o lucro que faço pode ajudar a comprar comida para os cães abandonados” explicou. As peças de artesanato são normalmente instrumentos para gatos e cães, gravatas, molduras, roupas e objectos de decoração, que são colocados à venda num canto especificamente feito para “I See You”, na loja de animais onde trabalhava. Mas como este não é o seu trabalho a tempo inteiro, o lucro não é estável. Felizmente, Gemmany consegue todos os meses doações em dinheiro e comida para os cães. “Normalmente são os clientes da loja que me conhecem e têm sempre vontade de doar comida à ‘I See You’”, conta. Amor em tempos de abandono Nos tempos livres, Gemmany frequenta cursos de formação de software de design, mas a vida desta jovem não podia ser contada sem se falar dos animais. Gemmany gasta todos os fins-de-semana a dar banhos aosn cães. Olhando para o futuro, não tem planos para suspender a alimentação dos cães abandonados, a criação de artesanato ou, obviamente, deixar de ter os oito cães e o gato que pertencem à sua família. A criação de artesanato começou em Outubro do ano passado, ainda que, como lamenta, o tempo seja escasso para a criação, já que o seu trabalho de secretária não lhe permite total dedicação. Mas a jovem nunca parou ou parará de ajudar os animais. A página da rede social que criou ajuda também os donos a procurar os animais perdidos nas ruas, partilhar ofertas e pedidos de comida para cães abandonados de forma a alertar a consciência dos outros e tenta também ajudar a procurar donos para os animais, cooperando com a Associação de Protecção de Animais Abandonados (AAPAM) e o Canil de Macau. Algo que pode não ser fácil. “Uma vez, uma cadela teve seis bebés num local de construção. Tentei com muito esforço e havia muitas pessoas a mostrar vontade de adoptar pelo facto de eles serem de graça. Mas, depois, começam a pensar e muitos contactaram-me a dizer que já não conseguiam adoptar por diversas razões. Este problema é comum e frustrante.” Através do Facebook, a jovem quer ainda promover o conceito da substituição de compra de animais por adopção. Na opinião da Gemmany, a alimentação dos cães abandonados é um trabalho significativo e a vida de Gemmany é, por isso, gratificante. “Eles agradecem-me por encontrá-los e lhes dar amor e comida. Acredito.”
Filipa Araújo Perfil PessoasCélia Boavida, consultora informática [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]empre pronta para viajar e com sorriso na cara são as linhas base na vida de Célia Boavida. Argentina, Estados Unidos, Holanda, Suíça, Japão, Singapura e Xangai são apenas alguns dos sítios por onde a consultora informática já passou. “A empresa onde trabalho está a apostar muito na internacionalização e temos um cliente muito forte na Ásia, o que faz com que surjam oportunidades no Oriente”, começa por contar ao HM. Um dia o convite surgiu. A empresa onde Célia Boavida trabalha avançou com a decisão de abrir um escritório em Macau e a consultora não hesitou quando a administração – sabendo do seu gosto pela Ásia – lhe apresentou a proposta. “Como há alguns anos já tinha assumido projectos internacionais, fizeram-me o convite quando quiseram criar uma equipa”, acrescenta, sublinhando que sempre gostou “imenso da Ásia”. Macau é a experiência profissional internacional mais longa em que, até à data, a consultora embarcou. “Estou em Macau há dois anos e meio, é o sítio em que estou há mais tempo”, conta, relembrando que o primeiro impacto, embora já tivesse contacto com o mundo asiático, foi “estranho”. “Embora já tivesse trabalhado na China, em Xangai, são realidades distintas. Chegar a Macau foi um bocadinho, posso dizer, [um] choque”, partilha, frisando que visualmente foi um grande impacto. “Macau pareceu-me um pouco ‘selva urbana’, mas não bem estruturada e por isso no início foi um bocadinho difícil de me adaptar”, conta. A equipa de trabalho – permitindo que a consultora não viesse sozinha – foi um grande suporte no processo de adaptação. “A equipa serviu muito para se apoiar entre si. Dávamos muito apoio uns aos outros, isso foi óptimo, super vantajoso”, assinala. Viver a viajar Natural de Lisboa, mas sempre a viver em Alverca do Ribatejo, Célia Boavida não esconde a vontade que tem em abraçar o mundo e viajar sem parar. Macau é um ponto estratégico nesse aspecto, defende. “É muito fácil viajar aqui à volta, isso para mim é muito positivo, é mesmo muito bom”, remata. O ordenamento do território e a falta de espaços verdes são os aspectos menos positivos aos olhos da consultora. “Tenho mesmo muita pena que não existam mais espaços verdes para a população poder passear e usufruir. Há muita aposta no jogo e no imobiliário e falta, por isso, essa qualidade de vida, a capacidade de oferecer às pessoas uma forma melhorada de aproveitarem a sua cidade”, defende. O caminho para o estatuto de qualidade de vida ainda é longo, mas ainda assim viver em Macau oferece algumas coisas que outras cidades não conseguem. “Não é das cidades que eu consiga dizer que tem muita qualidade de vida, mas temos vantagens, a monetária é uma delas”, remata. Carinho na bagagem Sem esconder o seu lado doce e carinhoso, Célia não hesita quando lhe perguntamos o que de melhor Macau trouxe à sua vida: as pessoas. “O que vou levar, quando for embora, com muito carinho é o grupo de amigos que criei e que vou conhecendo”, aponta.[quote_box_left]“Nós aqui socializamos muito, não sei se é efeito das comunidades expatriadas, ou das pessoas que estão fora, mas as coisas e as relações são vividas de forma mais intensa. Tudo é intenso”[/quote_box_left] O território chinês é marcado por um processo social bem mais forte que no país natal, diz. “Nós aqui socializamos muito, não sei se é efeito das comunidades expatriadas, ou das pessoas que estão fora, mas as coisas e as relações são vividas de forma mais intensa. Tudo é intenso. E o que de facto levo com maior carinho é o convívio com os meus amigos, a interacção, o apoio, as coisas que fazemos juntos, os jantares, as saídas. Vou levar isto para Portugal, com grande afecto”, argumenta. Os afectos, que aqui são vividos com mais intensidade, fazem deste Macau um território especial, tão especial que parece que se entranha na vida de cada que por aqui passa. “Acontece, muitas vezes, por ser um ponto de passagem das pessoas, que alguns chegam e outros vão. A diferença é que mesmo indo embora, acho que aqui se fazem amizades para a vida, sinto isso. Talvez por as coisas se viverem intensamente, as amizades que se fazem, independentemente onde as pessoas possam estar ou ir, são relações que ficam para sempre. É muito positivo. E posso dizer que falo por experiência própria”, explica. Uma marca para sempre Entre sorrisos, Célia Boavida assume que nem sempre é fácil viver em Macau, e que há muitas pessoas a defender essa ideia. Ainda assim é inegável que “todos nós, mais cedo ou mais tarde, quando formos embora de Macau vamos ter saudades”. “É um traço comum a toda a gente, sinto isso. Tenho certeza que vou ter saudades. Macau faz parte da minha história”, remata. Sem planos a longo prazo, a consultora vai abraçando as oportunidades conforme surgem. “Ao final de cada ano de contrato a empresa pergunta se quero continuar ou não e eu aceitei agora por mais um ano, depois logo vejo”, termina.
Flora Fong PerfilFrancisco Song, professor de língua portuguesa na MUST “Estar em Macau é a vida ideal para mim” [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]acau, Pequim e Braga são as cidades mais importantes para o jovem natural da capital chinesa. Francisco Song fala fluentemente português depois de ter optado por estudar esta língua na universidade, tendo feito uma licenciatura, mestrado e doutoramento. Neste momento Francisco Song passa os seus conhecimentos na língua de Camões aos mais novos na Universidade de Ciências e Tecnologia (MUST). Em 2006 Francisco Song terminou a escola secundária em Pequim e optou desde logo para começar a sua vida universitária em Macau. “Nessa altura não tinha nenhuns conhecimentos sobre Macau ou Portugal, só sabia que tinha sido uma colónia portuguesa e que Portugal era um país que tinha começado os Descobrimentos e uma terra de futebol. Comecei a conhecer mais depois de chegar ao território. Pensava que Macau era igual a Hong Kong, mas na realidade é totalmente diferente. Aqui há muito o estilo europeu e características históricas, enquanto que na cidade vizinha só observo edifícios modernos”, contou ao HM. Francisco Song gosta do património cultural, da segunda língua oficial de Macau e nunca se arrependeu da sua decisão. “Fiz a escolha certa em vir para Macau, porque na China é impossível termos tanto contacto com a língua portuguesa. Consegui conhecer professores portugueses e brasileiros, as placas das ruas estão em português e vivem muitos portugueses e pessoas que falam a língua, o que só beneficia o estudo.” Em 2009, depois de terminada a licenciatura na Universidade de Macau (UM), Francisco Song escolheu fazer o mestrado na Universidade do Minho, em Braga, na área dos Estudos Interculturais Português-Chinês, bem como o doutoramento em Cultura do Extremo Oriente. A estadia de Francisco Song em Portugal foi longa e só acabou no passado mês de Julho, quando defendeu a sua tese de doutoramento. Apesar de ter gostado de viver no outro lado do mundo, Francisco sempre pensou que Macau é um bom sítio para se ter oportunidades e trabalhar. Ao viver aqui, realizou o seu sonho. Na MUST, o curso de português é ainda recente, tendo só começado em 2012. Francisco Song começou a trabalhar na universidade privada em 2012. “Fui recomendado por um professor da UM para dar aulas na MUST, mas na altura, como ainda não tinha concluído o meu doutoramento, só trabalhava a tempo parcial. Agora é que me dedico a tempo inteiro à carreira académica”, referiu. Apesar de estar numa universidade diferente daquela onde estudou, Francisco Song não se importa, defendendo que cada curso de português tem as suas características. “Até gosto do curso na MUST, porque não se aprendem só línguas. É obrigatório os alunos escolherem uma área no segundo ano do curso, entre Gestão de Turismo, Comércio, Média e Comunicação. O curso pretende que os alunos tenham vantagens na procura de emprego e não apenas dominarem a língua, mas também terem outras capacidades”, explicou o docente. Francisco Song tem uma boa relação com os alunos, devido à idade próxima, já que entre professor e estudantes há apenas cinco a seis anos de diferença. Como a maior parte dos alunos vem do interior da China, não há obstáculos à comunicação. O professor revela ficar contente com os progressos na aprendizagem e a participação dos alunos nas actividades, tal como o concurso de interpretação em português-chinês e o Dia da Língua Portuguesa. Fora da sala de aula o professor gosta de futebol, paixão que manteve quando esteve em Portugal, onde viu muitos jogos, incluindo os da selecção portuguesa. Viajar faz também parte das suas paixões, e quando estudava em Portugal visitou a maioria dos países europeus. Em Macau, visitou a Indonésia e Taiwan. Passeios à parte, é em Macau que Francisco Song quer continuar a fazer a sua vida. “Falando das três cidades onde já estive, penso que Pequim não é ideal para viver devido aos problemas ambientais e à questão política, já não consigo habituar-me a viver lá. Quanto a Portugal, mesmo que a qualidade do ar seja muito boa, há diferenças culturais que, a meu ver, fazem com que ache que não é adequado viver lá. Só em Macau é que existe a cultura chinesa ligada à portuguesa, e o meu pensamento aqui pode ser muito livre. Estar em Macau é o ideal para mim.” Dentro da cultura portuguesa, a gastronomia não poderia faltar no leque de preferências do professor da MUST, que não esquece a enorme variedade de restaurantes. Apesar de estar em Macau há muito tempo, o professor nunca se cansa de visitar o património. Paixões à parte, Macau tem um problema: o trânsito excessivo. “Apanhar autocarros ou táxis é mesmo chato, sobretudo um táxi. Quase que pagamos cem patacas para ir do Instituto Politécnico de Macau às Portas do Cerco.”
Andreia Sofia Silva Perfil PessoasYujin Katsube, jornalista: “Interessa-me o futuro desenvolvimento de Macau” [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]m 1997 ficou para a história a visita oficial da Princesa Diana a Angola, para conhecer de perto o drama das minas de guerra e as vítimas feitas ao longo destes anos. Na sua casa, em Quioto, a visita também ficaria para sempre na mente de Yujin Katsube. Este jornalista japonês, residente em Macau, já então queria escrever histórias e ajudar as pessoas, mas a visita da “Princesa do Povo” acabaria por ser determinante na sua escolha do percurso. Actualmente residente em Macau, Yujin Katsube é editor do órgão de informação “The Macau Shimbun”, virado para o público japonês que quer conhecer mais sobre Macau. Actualmnte sente-se a concretizar o sonho de uma vida, mas não esquece o momento em que, no final da década de 90, se decidiu pelo estudo da língua portuguesa. Hoje, com um sorriso tímido, lá vai dizendo algumas palavras da língua de Camões, depois de ter esquecido muitas outras. “Os japoneses sentem-se muito próximos à língua portuguesa, porque mantemos uma longa amizade desde os tempos dos Descobrimentos. Quando andava na escola secundária na minha cidade, Quioto, já sonhava em ser jornalista. Para aumentar os meus conhecimentos decidi aprender uma língua e cultura estrangeira. Quioto é a antiga capital do Japão e mantém um estilo de vida mais tradicional e conservador, então senti que seria muito difícil concretizar os sonhos lá. Decidi ir viver para Tóquio e tirar o meu curso superior”, conta ao HM. A decisão de aprender português teve muito a ver com o seu pai, professor e auto-didacta da cultura pop dos Estados Unidos. “Perguntei-lhe que línguas é que deveria aprender, e ele recomendou-me as românicas. Disse-me que o inglês era muito popular e que não era nada de especial, e eu estava muito interessado na história portuguesa, especialmente a época dos Descobrimentos e o futebol, então pensei que se aprendesse português teria mais oportunidades de me tornar jornalista.” Estudou na Universidade Sofia, fundada pelos jesuítas, onde aprendeu o idioma com professores de Portugal e do Brasil. Assim que acabou o curso começou a trabalhar na área editorial, a editar uma revista e a coordenar um conjunto de guias de viagem, que incluíam viagens a Macau e a Hong Kong. A paixão por Macau foi imediata. Visitou o território em 2006 e não mais o largou. Hoje é casado com uma residente local e tem um filho, que já domina o cantonês. “Tornei-me um grande fã de Macau e quis conhecer mais sobre a cidade. Em 2007, a empresa onde trabalhava planeou o lançamento de uma nova revista em Macau, Hong Kong e China. Procuravam alguém que coordenasse o projecto, tive muita sorte.” No “The Macau Shimbun”, Yujin Katsube garante que não escreve apenas sobre o sector do jogo, “mas também do turismo e da cultura de Macau, para que o público japonês tenha mais interesse. Através do meu trabalho penso que posso construir uma ponte entre Macau e o Japão.” “Enquanto jornalista interessa-me o futuro desenvolvimento de Macau e quero ver com os meus próprios olhos o desenvolvimento dos actuais projectos que estão a ser feitos no Cotai. Também me interessa o que a China espera de Macau enquanto plataforma entre a China e os países de língua portuguesa. É um papel único que Macau pode fazer”, conta ao HM. O filho de Yujin acabou de entrar na escola e Macau é o lugar onde se sente em casa. Os pais preferem a pequenez do território ao frenesim constante de Hong Kong, mas já tomaram a decisão de ir ficando, consoante a vontade do filho. “Espero que o meu filho possa ter amigos e oportunidades para ficar mais ligado à cultura portuguesa. Estou à procura de uma equipa de futebol onde ele possa jogar. Os jogadores portugueses sempre atraíram a atenção dos japoneses e se o meu filho jogar à bola com eles, vou ficar muito feliz”, remata.
Filipa Araújo Perfil PessoasSoraia Ramos Almeida, consultora fiscal [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hama-se Soraia Ramos Almeida, tem 27 anos e é natural de Águeda, ainda que seja em Lisboa que se sente em casa. “Vivi lá nove anos, desde os meus 18. Quando penso em casa é Lisboa que surge no meu pensamento”, começa por contar ao HM. De olhos brilhantes e sorriso sempre presente, Soraia abraçou a ideia de vir para Macau fazer um estágio na área fiscal. “Tudo isto foi muito estratégico”, brinca, explicando-se: “formei-me em Direito e depois tirei o mestrado em Gestão, trabalhei durante três anos em Portugal, mas sempre quis internacionalizar a carreira. Esse era o meu objectivo e por isso sabia que no final do ano me iria despedir”. Candidatando-se para um LLM [programa de mestrado internacional na área de Direito], Soraia sabia que sem experiência no estrangeiro a selecção ficaria mais difícil. “Foi aí que pensei em candidatar-me para o programa Inov, que me permitia ganhar esta experiência internacional caso não fosse seleccionada [para o LLM]. A verdade é que consegui ser admitida para o mestrado, mas ainda assim, estava muito curiosa em saber onde é que seria o meu estágio Inov. Estava mesmo curiosa”, relembra entre sorrisos. Ser mais que estagiária Foi Macau que ouviu como destino. A surpresa, essa, não foi grande. “Na área de Direito sabemos sempre que só podemos calhar em países com o nosso Direito, portanto não há muitas opções”, remata. Depois de uma reflexão decidiu: o mestrado ficaria adiado para Setembro e iria abraçar Macau nos próximos seis meses. “Vim de cabeça aberta, numa perspectiva a curto prazo”, conta. Mas mais que isso, a profissional da área fiscal veio “disposta a dar tudo o que conseguisse pela experiência de trabalho”, retirando o máximo da experiência. “Já não há espaço no mercado para assumirmos um papel de estagiário que apenas obedece e espera por ordens. Devemos e temos de ser proactivos, querer saber e, mais que isso, fazer [mais]”, defende. Seis meses depois foi isso mesmo que aconteceu. Admitindo que não foi o “maior desafio da vida”, até pelo curto prazo de duração, Soraia deixa Macau com o sentimento de dever cumprido e com óptimas recordações. “Correu lindamente, participei em projectos muito giros”, admite. A hipótese de ficar pelo território esteve sempre em cima da mesa, até porque as ligações com os colegas são muito positivas, mas outros desafios surgiram na vida da jovem. “Recebi um convite de trabalho para o Vietname e, contrabalançando a economia em expansão que aquele país está a passar com o pouco desenvolvimento do Direito Fiscal em Macau, não poderia dizer que não”, explica. O mestrado esse, foi adiado de novo. Quem sabe no futuro. De turista a residente Foi durante uma viagem, no ano passado, de mochila às costas, que visitou Macau pela primeira vez. “São coisas completamente diferentes”, diz sem hesitar, quando questionada sobre as diferenças de olhar o território como turista e residente. “Vim aqui apenas um dia, achei tudo muito escuro, apesar de estar um dia de sol. Achei os prédios escuros, não conseguia perceber as centenas de ourivesarias que enchem a área que envolve os casinos. Não conseguia associar ao Jogo. Achei as diferenças entre Macau e o Cotai esquizofrénicas. Era para dormir cá essa noite e desisti, voltei para Hong Kong”, relembra. Meio ano depois de assumir o papel como residente e parte integrante de Macau a opinião é bem diferente. “O melhor de Macau é este espírito de bairro. Conhecemos as pessoas, conhecemos os sítios, se estivermos sozinhas sabemos onde é que os nossos amigos estão, nem precisamos de perguntar”, conta, sublinhando as festas e momentos de convívio à volta de uma mesa. Afinal de contas “somos portugueses, gostamos de comer, beber e ficar na conversa”. A melhorar ainda há muito, como em todo o lado. A começar pela necessidade de abandonar a ideia, diz Soraia, de que “em Macau não se passa nada”. “Acho que as pessoas se habituaram um bocado a esse ideia. Passa. Macau tem momentos culturais, não tanto quanto Lisboa ou Porto, ou até Hong Kong, mas tem os seus momentos, é preciso procurá-los”, defende. A própria é exemplo disso, já que em seis meses muitos convites recebeu para diversas coisas – exposições, concertos, festas – com muitas gargalhadas à mistura. Pessoas que levo comigo Quando pedimos a Soraia para nos fazer um resumo da sua passagem por Macau de imediato o olhar perde-se. Mexendo nas pulseiras que envolvem os pulsos, a emprestada alfacinha relembra, ri e solta um sincero “foi óptimo”. “Não tinha grandes amigos em Macau, mas tinha imensos amigos de amigos que me receberam muito bem. A integração é fácil, foi muito fácil. As pessoas aqui são fantásticas, abrem-nos a porta de casa”, conta, constatando divertidamente “são portugueses”. São as pessoas e os momentos com elas vividos que a aguedense leva na bagagem. “As minhas experiências são sempre à volta das pessoas que conheço. Se pensar em viagens que fiz, tenho alguma dificuldade em lembrar-me de tal monumento ou um sítio, mas se pensar nas pessoas que conheci e nos momentos que tivemos é mais fácil. Comigo levo pessoas e momentos e isso é também o que levo de Macau”, conta num misto de nostalgia e timidez. De malas feitas, Soraia Ramos Almeida deixa Macau, com a garantia de que voltará. “Estou perto, a duas horas de distância, se me apetecer venho aqui um fim-de-semana comer um prato português”, garante, com o brilho no olhar e a certeza que Macau fica na história de quem por aqui passa.
Filipa Araújo Perfil PessoasJoaquim Alves, engenheiro electrotécnico [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]passagem de Joaquim Alves por Macau é diferente daquela a que estamos habituados. “Comecei a vir para Macau em 2012, na altura para uma obra da CEM”, contou ao HM o engenheiro electrotécnico, natural de Santa Maria da Feira, acrescentando que a empresa onde trabalha, em Portugal, começou a ter mais clientes. É por isso que são muitas as vezes que tem que vir a este lado do mundo. “Desde 2012, sem ter um número certo, acho que já viajei para Macau umas dez vezes”, relembra. A sua estada no território quase nunca ultrapassa os quatro meses seguidos, mas não é por isso que deixa de gostar mais ou menos, de ter menos ou mais saudades de Macau. Por entre o barulho ensurdecedor de uma obra, Joaquim Alves partilha o misto de sensação e a dualidade de sentimentos que Macau lhe provoca. “A adaptação é muito fácil aqui. Acho que não está relacionado com o pouco tempo que aqui passo. Claro, é diferente de estar aqui muito tempo, mas não implica que não sinta as coisas à minha maneira. Acho Macau um território fácil para um português se adaptar. As pessoas são diferentes, a condução, mas há outras coisas… A comida, a comunidade portuguesa, os meus colegas de trabalho que já cá estão adaptados, por já estarem há mais tempo. Tudo isto fez, e faz, sempre que venho, que a adaptação seja fácil, não sinto qualquer dificuldade”, partilha. Caro mas seguro Macau é, diz o engenheiro, uma “coisa difícil de explicar”. “Macau com o passar do tempo torna-se, para mim, um bocado monótono. É um meio muito pequeno, muito limitado e quem habita aqui está um bocado restringido ao que aqui existe”, partilha. Ainda assim, mesmo com a questão de este ser um território pequeno, “há muitas atracções”, ainda que muito caras. “Qualquer coisa aqui em Macau está muito inflacionada para quem vem cá trabalhar e que pretende juntar algum dinheiro. Apesar dos ordenados serem bons em Macau, para fazer coisas diferentes ao fim-de-semana, como por exemplo ir ao cinema, ver um concerto ou um espectáculo, é caro, não o podemos negar. Ser um ponto turístico tem vantagens e desvantagens e esta é uma delas. Para se ter um fim-de-semana para descontrair da semana de trabalho tem que se gastar algum dinheiro”, argumenta. Mas na segurança ninguém bate o território. É inegável, diz o engenheiro, a segurança que se sente a viver aqui. Joaquim Alves, para além de Portugal e Macau, já trabalhou no Brasil e em Angola, países com taxas de criminalidade elevadas, e por isso, melhor que ninguém percebe a enorme vantagem que é viver em Macau, nesse aspecto. “Não há melhor. Macau é um território bastante acolhedor e sentimo-nos seguros, podemos andar à noite à vontade, não temos zonas perigosas. Isso é muito bom. Temos liberdade em ir a qualquer lado a qualquer hora, é seguro, mais do que em Portugal. E claro, quem viaja muito em trabalho este é um dos pontos mais importantes, a segurança”, remata o jovem que completa este ano 33 primaveras. Odeio-te meu amor Sejam dois ou quatro meses, as saudades de Portugal batem à porta sempre. “Mesmo quando só fico dois meses aqui, quando chego a meio, quando passou um mês, começo a ter saudades de algumas coisas”, conta, apontando as suas pessoas, famílias e amigos como a primeira coisa que lhe vem ao pensamento. As praias, que tanto falta fazem em Macau, os passeio à beira rio e as esplanadas são outras regalias que Portugal consegue oferecer e que “muita falta fazem” à sua ex-morada. Mas, curiosamente, o mesmo acontece quando volta para Portugal. “Macau é um amor-ódio, acho que esse é o melhor termo para definir esta região. Macau fica sempre a mexer-te por dentro. Há qualquer coisa que nunca passa. Quando volto para Portugal, passado duas ou três semanas começo a sentir falta de Macau, das pessoas. Começo a conversar com os colegas que aqui ficam e apetece-me estar com eles, ir aos jantares que eles estão a combinar, ir passar fins-de-semana fora. Não sei. Este é o poder de Macau”, relata o engenheiro. São esses passeios que Joaquim Alves tenta sempre fazer quando está cá. “Com visto de grupo ou individualmente facilmente conseguimos passar as fronteiras para a China e isso faz com que possamos conhecer mais coisas, que nos distraem e que faça passar o tempo sem pensarmos no que ganhamos ou perdemos estando longe”, diz. Várias cidades da China, Hong Kong e as suas praias são uma constante nos fins-de-semana entre Joaquim e os amigos.
Filipa Araújo Perfil PessoasLiliana Noronha Medalha, professora de Português [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]asceu nas Caldas da Rainha mas bem cedo se mudou para a capital portuguesa, Lisboa. Licenciada em Línguas e Literaturas Clássicas e mestre em Ensino de Português como Língua Segunda e Estrangeira, Liliana Noronha Medalha decidiu arriscar e concorrer a uma vaga disponível para docente no Instituto Português do Oriente (IPOR). “Cheguei a Macau no final de Maio do ano passado”, relembra a jovem professora. Em conversa com o HM, Liliana, sempre de sorriso tímido, mostrava-se atenta ao que ao seu lado acontecia. Uma criança empoleirada na cadeira a espreitar para a professora, uma mãe concentrada no telemóvel, um empregado de mesa que pouco percebia e falava Inglês. Liliana ri-se e comenta: “o mais estranho foi isto tudo”. Assume-se como “perfeitamente adaptada”, mas consciente de que Macau não será um local onde vai ficar durante muito tempo. A sua ligação com o estilo europeu é inegável e isso nota-se a cada palavra que a professora diz. “Sim, gosto muito da Europa, apesar de Macau ser a primeira experiência fora das fronteiras portuguesas, portanto não tenho termo de comparação. Mas identifico-me muito com o estilo europeu”, partilha. Vir para “o outro lado do mundo” nunca foi ideia que passasse pelos planos da docente de Língua Portuguesa. “É engraçado não é? Nunca pensei, nunca me tinha passado pela cabeça vir para a Ásia, nunca esteve nos meus planos, mas com a situação económica de Portugal quando vi a vaga disponível quis arriscar, e aqui estou”, explica. Diferenças acentuadas As diferenças culturais são notórias, não fosse estarmos na China. “O primeiro impacto são as diferenças, em tudo. Comportamentos das pessoas, o clima e tantas outras coisas. Mas no início tudo é surpresa, tudo é novo, assumimo-nos como turistas, parece que as coisas não são reais”, partilha Liliana, depois de conseguir pedir o almoço, numa mistura de Cantonês com Português e Inglês. Canalizando o nervosismo da sua “primeira entrevista” para o garfo que tinha nas mãos, Liliana volta a olhar para a crianças e diz-nos “depois, quando assumimos que vivemos em Macau, que não somos turistas, temos de saber lidar com essas diferenças, porque elas podem ser boas ou más, dependendo da nossa capacidade de gerir [as situações]”. Amores meus Sem esconder, Liliana Noronha Medalha conta que a maior motivação para aguentar as saudades que sente de casa e da sua família são os seus “miúdos”. O amor pelo ensino sempre esteve muito presente na sua vida. “Adoro dar aulas, adoro os miúdos”, conta, acrescentando que tem turmas de várias faixas etárias, dependendo dos cursos, mas que maioritariamente são adolescentes “que em breve vão para Portugal” que ensina. “Essa troca de informações é muito simpática. Falamos muitas vezes sobre a minha experiência como portuguesa, a viver em Lisboa. Como eles vão para lá agora é giro”, explica. Mas o mais interessante é saber “que os alunos são todos iguais seja em que país for”, ainda que haja claramente “um maior respeito pela figura do professor aqui em Macau”. Os hábitos e posturas na sala de aula trouxeram a Liliana histórias para a vida. “No início, estava cá há pouco tempo, e os miúdos comiam na sala, mas não era uma espécie de snack, eram bolas de peixe, ou fast-food, comida de faca e garfo”, partilha, entre risos. “Não sabia muito bem como reagir, mas assumi que era uma coisa natural para a cultura chinesa. Foi um jogo de adaptação entre mim e eles”, acrescenta. Amizades no território Não foi difícil para a docente “conhecer pessoas” e a própria garante que, entre portugueses, é fácil conhecer muita gente. “Mas acredito que seja um bocadinho mais difícil criar relações de profunda amizade. Para aqueles que ficam aqui um período de tempo”, defende. Ainda assim, em pouco mais de um ano, Liliana já tem amigos com quem irá tentar manter relação, seja onde for. Nos seus tempos livres, aos fins-de-semana ou até ao final do dia, o que mais sente faltam são “cafés ou esplanadas” em que possa estar e descomprimir de um dia ou semana de trabalho. Ainda assim, na falta desses espaços, a jovem professora gosta de partilhar momentos com os amigos, nas suas casas ou em lugares em que todos possam estar tranquilos. “Não é importante os sítios, mas sim os momentos que partilhamos todos juntos”, remata. Apesar de Macau não fazer parte dos seus planos a longo prazo, e “embora toda a gente diga isso”, Liliana está convicta que isto será uma experiência para vida.