João Luz Manchete PolíticaTecnologia | Ho Iat Seng diz que Macau tem condições ideais para inovar O Chefe do Executivo considera que a inovação é o novo cartão de visita de Macau, realçando que o território tem características únicas que propiciam o desenvolvimento tecnológico. Estes foram alguns dos pontos centrais do discurso de Ho Iat Seng na cerimónia de abertura da Beyond Expo 2023, um evento co-fundado e organizado pelo seu filho “Nos últimos anos, com o apoio vigoroso do Governo Central e do Interior da China, bem como com o esforço concertado da indústria, Macau tem registado um desenvolvimento progressivo notável na área da inovação científica e tecnológica. A tecnologia inovadora tornou-se o novo cartão de visita da cidade.” Foi com este mote que Ho Iat Seng presidiu ontem à cerimónia de abertura da Beyond Expo 2023, a feira de tecnologia que vai decorrer no Centro de Convenções e Exposições do Venetian até amanhã, co-fundada e organizada pelo filho do Chefe do Executivo, Jason Ho Kin Tung. Ho Iat Seng sublinhou que a RAEM oferece condições privilegiadas para o desenvolvimento de indústrias centradas na inovação e tecnologia. Macau “é uma cidade com um porto franco internacional, politicamente neutra”, que oferece “um ambiente empresarial livre, políticas preferenciais de comércio externo e um sistema fiscal simplificado”, apontou o governante. Continuando a elencar os trunfos de Macau, Ho Iat Seng não passou ao lado do que descreveu como a posição de centralidade do território no projecto de integração da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, com uma economia “intimamente ligada ao mercado internacional”. Outro dos pontos de destaque do discurso do líder do Governo, focou-se nos “laços tradicionais de Macau com os países lusófonos”, descritos como a “força da cidade” no desempenho do papel de “plataforma de serviços entre a China e os países de língua portuguesa”. Futuro é agora As políticas estratégicas da RAEM não foram esquecidas por Ho Iat Seng, que enumerou o “papel crucial das novas tecnologias nas estratégias” de diversificação económica “1+4” e nas oportunidades nascidas pelo desenvolvimento da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin. Ho Iat Seng enalteceu ainda a Beyond Expo, referindo que o evento “está a ganhar raízes que crescem com força no solo de Macau, tornando-se numa plataforma para as indústrias chinesas e internacionais mostrarem” os encorajadores frutos do seu trabalho.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteLivro | Representações de Macau como símbolo de ostentação e riqueza na cidade de Salem O académico Rogério Miguel Puga lança este ano, com o cunho da Fundação Macau, o livro “To the Farthest Gulf for the Wealth of India – Representações de Macau no Peabody Essex Museum (Salem)”, que revela fotografias, diários, objectos e quadros de americanos que viveram em Macau no século XIX, então símbolo de negócio, ostentação e riqueza Salem, cidade norte-americana do estado do Massachusetts, é conhecida do imaginário de todos pelas “bruxas de Salem”, mas a verdade é que no museu Peabody Essex da cidade perduram objectos, quadros, fotografias e escritos que constituem representações do que Macau foi no século XIX: um rico interposto comercial que acolhia todos os estrangeiros e portugueses que ambicionavam fazer negócio com a China. De Salem, partiam famílias norte-americanas para explorar as oportunidades de comércio, vivendo em Macau por um período de tempo. Já nos EUA, mostravam às famílias o pitoresco território onde viveram e as vivências culturais que experienciaram, embora muitas destas pessoas, de religião protestante, tenham falecido em Macau e sido sepultadas no cemitério protestante junto ao jardim Luís de Camões. Rogério Miguel Puga, professor associado do departamento de línguas, culturas e literaturas modernas da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa, e com extensa pesquisa sobre Macau, lança este ano uma obra bilingue sobre essas representações, intitulada “To the Farthest Gulf for the Wealth of India – Representações de Macau no Peabody Essex Museum (Salem)”, livro que nasce de uma investigação realizada entre 2009 e 2011 e que já se encontra à venda no território na livraria Plaza Cultural Macau, Livraria Seng Kwong (Starlight Bookstore) e no Centro de Informações ao Público da Fundação Macau. A obra será ainda lançada em Portugal este ano. Ao HM, Rogério Miguel Puga conta que esta aventura começou em 2005 com uma visita ao museu Peabody Essex, “o museu mais antigo dos EUA que nunca fechou portas”. “Percebi que numa das salas do museu estavam várias representações de Macau. Achei curiosa a ligação [do território] a Salem. Estava um quadro identificado como sendo Macau, mas era, na verdade, uma representação de Xangai. Falei com o curador do museu que me disse que havia mais obras de reserva que não estavam expostas, nomeadamente de George Chinnery e outros artistas.” No museu, constam diversos objectos como leques, mesas de encaixe, tampos de mesas, retratos, mesas de costura com representações de Macau ou retratos encomendados por norte-americanos. Rogério Miguel Puga escreve não apenas sobre esses objectos, mas também sobre o contexto histórico da época, tendo realizado também investigação em cidades como Nova Iorque, Filadélfia e Washington. Diários e pinturas Chegados a Macau, e sem a hipótese de irem à China, nem sequer a Cantão, as famílias norte-americanas viam-se obrigadas a viver uns meses no território que servia como interposto comercial, disponibilizando serviços em matéria de transporte, tradução ou desalfandegamento de mercadoria, entre outros. Foi assim até à fundação de Hong Kong, em 1841, altura em que o comércio ganhou fulgor do outro lado. Rogério Miguel Puga destaca os diários de Rebecca Kinsman, que acompanhou o marido numa viagem ao Oriente, e Harriet Low, que viajou com os tios. Existe ainda o caso de Lucy Cleveland, que esteve em Macau em 1829 e que viajou com o marido até Timor. Esta reproduziu quadros do conhecido pintor George Chinnery, deixando diversas ilustrações em cadernos. “Lucy Cleveland ficou na casa de Harriet Low, que escreveu um diário. Lucy, como ficou adoentada, parou de escrever no seu diário e começou a desenhar. Assim, usei o diário de Harriet Low para estudar os desenhos de Lucy Cleveland”, contou. O académico analisou também um álbum de Leonel Forbes Backwith, membro da família Forbes. Destaque ainda para a obra de George Chinnery, onde se vislumbra uma importante representação etnográfica do território e, sobretudo, da comunidade chinesa, com os pescadores, as tancareiras, os vendedores ambulantes. Os seus quadros constituem, portanto, um exemplo de um “orientalismo visual”, descrevendo as “figuras tipo” dos chineses que, então, habitavam no território. “George Chinnery saía de manhã com um banco, desenhava, tomava anotações para depois terminar e melhorar os desenhos que fazia no seu estúdio.” Ricos tempos De todos estes objectos e imagens fica a ideia de que Macau era representada como “um símbolo de riqueza para os EUA e para os norte-americanos”. “Ir para Macau e para a China equivaleria a fazer ou refazer fortuna, em alguns casos. Macau era um símbolo de riqueza e ostentação. Muitos destes quadros que têm a vista da baía da Praia Grande eram levados para os EUA para decorar as casas”, como exibição de riqueza e “dessa pertença ao grupo do ‘China Trade’ [comércio com a China]”. O território, então administrado por portugueses, era um “espaço com exoticidade, que os estrangeiros tentavam descodificar através da escrita e dos quadros, que eram levados pelos viajantes para as casas para estes mostrarem às famílias onde tinham vivido”. Muitos destes quadros eram, aliás, pintados das varandas das casas onde moravam, situadas, na maioria, nas zonas da baía da Praia Grande e Penha. “O curioso é que quando lemos relatos de viajantes do século XIX, sejam ingleses, portugueses ou norte-americanos, ou mesmo franceses, estes funcionam como uma legenda perfeita para os quadros do George Chinnery. Os seus quadros funcionam como uma ilustração perfeita dos apontamentos e descrições dos ferreiros, barbeiros e ruas de Macau, desses tipos sociais”, descreveu o autor. Em Macau os norte-americanos tinham acesso a um mundo duplamente exótico. “Falamos de protestantes que tiveram, pela primeira vez, contacto com católicos. Uma procissão católica era, para os protestantes, tão estranha como uma dança do dragão ou do leão. Há este confronto com dois outros mundos que tem de ser compreendido. Ir a Macau, para os norte-americanos, era como ir à China, pois não podiam passar das Portas do Cerco. “Macau era a primeira e única porta de acesso à China, e o interessante é que os diários destas mulheres eram enviados para Salem, Nova Iorque e familiares, sendo lidos em grupo nos EUA em voz alta. Podem, assim, ser considerados instrumentos de uma sinologia amadora, porque bairros inteiros liam as suas descrições de rituais chineses e portugueses.” Todas estas representações presentes no museu Peabody Essex permitem também compreender “o planeamento urbano de Macau em muitas dimensões”. De frisar que muitas das obras de George Chinnery eram imitadas em estúdios de artistas chineses que as vendiam aos ocidentais que passavam por Macau para levar como recordação, num período em que a fotografia era algo raro. “Estes objectos foram parar a Salem devido ao intercâmbio comercial e ao facto de os norte-americanos que compravam chá e outras mercadorias à China viverem em Macau até à fundação de Hong Kong. Era de Macau que levavam esses quadros, comprados muitas vezes em colecção. Muitas famílias de Salem estão historicamente ligadas ao comércio com a China e que ainda hoje apoiam financeiramente o museu, fazendo ainda doações de peças familiares ao museu”, apontou Rogério Miguel Puga. O académico lança o repto de se fazer uma investigação transversal sobre as representações de Macau nos vários museus dos cinco continentes. “Seria interessante estudar a representação de Macau em várias instituições ou num determinado período, para termos uma ideia mais abrangente, mas aí seria fundamental ter uma grande equipa. Em Nova Iorque, por exemplo, encontrei um museu com uma imagem legendada como sendo de Macau, mas que é uma representação de Xangai.”
João Santos Filipe Manchete SociedadeImobiliário | Bens da Jiayuan International vendidos por ordem judicial A empresa que em 2017 comprou o terreno mais caro de sempre em Macau está em situação de incumprimento. Os tribunais de Hong Kong impuseram a venda de bens para saldar uma dívida superior a 100 milhões de dólares de Hong Kong Um tribunal de Hong Kong declarou a venda de bens do Grupo Jiayuan International para pagar dívidas de 112,8 milhões de dólares de Hong Kong. A decisão contra a imobiliária responsável pela construção do projecto Ocean Hill, na Avenida Dr. Sun Yat-Sen na Taipa, foi conhecida na semana passada. A obrigação de vender o património da imobiliária resulta de dois casos que decorriam nos tribunais da região vizinha relacionados com uma dívida de 112,8 milhões de dólares de Hong Kong, ligada à emissão de um empréstimo obrigacionista e respectivos juros. De acordo com a agência noticiosa Bloomberg, a reclamação da dívida deve-se a um único subscritor do empréstimo obrigacionista. Os dois casos tinham sido tornados públicos em Junho do ano passado, e, na altura, o Grupo Jiayuan International afirmou que “segundo a informação disponível” os pedidos de insolvência não teriam “um impacto material ou significante nas operações ou na situação financeira” da empresa. No entanto, desde essa data, e na sequência da crise financeira do sector imobiliário no Interior da China, que a situação de solvência do grupo tem sofrido uma rápida deterioração. A Jiayuan International entrou no mercado de imobiliário de Macau em 2017, quando adquiriu pelo preço recorde de 3,51 mil milhões de dólares de Hong Kong dois terrenos na Taipa, na Avenida Dr. Sun Yat-Sen. A compra foi feita à Companhia de Fomento Predial San Kin Tai, na altura detida a 40 por cento por William Kuan, condenado a 18 anos de prisão no processo que em que foram também considerados culpados os ex-directores das Obras Públicas, Jaime Carion e Li Canfeng. O projecto Ocean Hill, actualmente em construção, é composto por habitações e lojas. No total, os dois terrenos implicam uma área de 5.597 metros quadrados, o que significa que o negócio foi feito com o pagamento de 627,1 mil dólares de Hong Kong por metro quadrado. Acções suspensas Também desde o início de Abril, a transacção das acções da Jiayuan International na Bolsa de Hong Kong foi suspensa, medida que entrou em vigor depois de o grupo ter falhado a apresentação dos resultados financeiros, como exigido. Os atrasos na publicação dos resultados foram explicados com três motivos: falta de mão-de-obra no departamento de contabilidade da empresa, falta de tempo dos directores da empresa, por estarem em curso negociações com credores, e ainda devido à mudança de auditora. As dificuldades do Grupo Jiayuan International acompanham a tendência das construtoras do Interior, depois da grave crise financeira que começou a afectar o sector no ano de 2020. Nesse ano o Governo Central começou a impor limites ao endividamento destas empresas, o que contribuiu para que várias atravessassem grandes dificuldades, como aconteceu com a Evergrande, Grupo Kaisa, Fantasia Holdings, ou Sinic Holdings.
João Santos Filipe Manchete SociedadeEmprego | Aposta na arte de cultura portuguesa pouco atraente O Inquérito de Satisfação e Confiança no Emprego da MUST mostra que o “mercado artístico” com base na cultura portuguesa é pouco atraente. Os resultados revelam ainda que a população está cada vez mais confiante no mercado de trabalho A aposta na arte com base na cultura portuguesa foi considerada a opção menos atraente para o desenvolvimento das indústrias criativas e culturais e para a diversificação económica, de acordo com o Inquérito de Satisfação e Confiança no Emprego, publicado ontem pela Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST, na sigla em inglês). Entre os mais de 800 inquiridos, apenas 7,3 por cento considerou o mercado artístico com base na cultura portuguesa como atraente e eficiente para promover a diversificação económica. No polo oposto, as apostas na cultura gastronómica, entretenimento e mercado de produtos com características de Macau são tidas como as mais atraentes, por 48,9 por cento, 46,2 por cento e 33,1 por cento dos inquiridos, respectivamente. Também as apostas nos museus (28,5 por cento) e leilões (25,2 por cento) foram consideradas mais interessantes do que o mercado artístico com base na cultura portuguesa. Ainda de acordo com o Inquérito de Satisfação e Confiança no Emprego, a confiança e contentamento dos inquiridos com a situação do mercado de trabalho cresceu 8,37 por cento este ano, em comparação com 2022. Grande parte desta tendência mais optimista ficou a dever-se a uma visão mais optimista do mercado e do surgimento de oportunidades de emprego, onde se constatou um aumento da confiança de 11,87 por cento. Abaixo da pré-pandemia No entanto, quando se compara o nível de satisfação geral no trabalho entre 2019, o último ano antes do surgimento da pandemia da covid-19, e os primeiros meses deste ano, os dados do estudo da MUST revelam uma quebra na satisfação dos trabalhadores de 2,6 por cento. A diminuição da satisfação no trabalho deve-se essencial a dois factores: a qualidade do emprego e a estabilidade do mesmo. Em relação à qualidade dos empregos, ainda se verifica um grau de satisfação inferior em 4,1 por cento em comparação com os valores apurados em 2019. No que diz respeito à estabilidade, houve uma quebra do nível de satisfação de 2,6 por cento entre os dois períodos. Face a estes resultados, a equipa liderada por Liu Chengkun, director do Instituto de Desenvolvimento Sustentado da MUST, apontou que “o impacto negativo da pandemia na qualidade e na estabilidade do emprego ainda não foi totalmente eliminado”. No entanto, indicaram que “se a economia de Macau continuar a mostrar sinais de recuperação, que os níveis de satisfação vão aumentar”. O inquérito foi realizado entre 24 de Março e 1 de Abril deste ano, e contou com a participação de 807 empregados a tempo inteiro.
João Luz Manchete Política1º de Maio | PJ conclui que não houve pressão a Wong Wai Man A Polícia Judiciária adiantou ontem em que o cancelamento do pedido de manifestação para o Dia do Trabalhador não se deveu a pressão policial a Wong Wai Man, mas a “pressão pessoal”. De seguida, as autoridades fizeram um inventário das infracções de trânsito cometidas pelo dirigente associativo. O CPSP pondera responsabilização criminal O presidente da única associação que apresentou um pedido para manifestação no Dia do Trabalhador pode vir a ser responsabilizado criminalmente na sequência de um artigo em que terá afirmado que o cancelamento da manifestação se deveu a pressões policiais. Depois de o gabinete do secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, ter adiantado no sábado que a Polícia Judiciária (PJ) iria investigar o caso, no mesmo dia, Wong Wai Man, presidente da Associação dos Armadores de Ferro e Aço e ex-candidato a deputado que apresentara o pedido para manifestação, foi “convidado a prestar declarações” nas instalações da PJ durante quatro horas. O porta-voz da PJ, Chan Wun Man, indicou que as autoridades concluíram que o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) não foi responsável por qualquer pressão para que o cidadão desistisse da manifestação requisitada. Aliás, a PJ indica que Wong Wai Man terá afirmado ter sentido apenas “pressão pessoal”, não explicando o que isso significa, acrescentando que não houve aplicação selectiva da lei e que o cidadão terá dito à PJ que as declarações prestadas ao All About Macau não corresponderam ao artigo publicado. Recorde-se que o All About Macau referiu que Wong Wai Man terá afirmado que depois de apresentar o pedido para marcha do 1.º de Maio, recebeu mensagens da polícia, a sede da sua associação foi visitada por agentes, e o prédio onde se situa chegou a ser vigiado pelas autoridades, com agentes no local. A PJ afirmou ontem ter analisado as imagens de videovigilância e não descortinou qualquer agente a vigiar o local. Em relação às mensagens que Wong Wai Man disse ter recebido via WeChat, a PJ não foi clara. O porta-voz da PJ disse que o dirigente não revelou todas as mensagens, mas que o conteúdo mostrado às autoridades não indica pressões de qualquer espécie. Questionado sobre quem teria enviado essas mensagens, foi dito que como estas são do foro privado, adiantar mais informações seria contrário à protecção de dados pessoais. Vilão do trânsito Grande parte da conferência de imprensa e da apresentação feita ontem pela PJ sobre a eventualidade de Wong Wai Man ter sido pressionado pela polícia recaiu sobre a quantidade de multas de trânsito que este terá acumulado desde 2018. A polícia declarou ainda que, segundo informações do CPSP, desde 2018, foram recebidas cinco denúncias de que na sede da associação presidida por Won Wai Man haveria exploração de jogo ilegal. Por quatro vezes, agentes do CPSP foram ao local, onde encontraram várias pessoas e quatro mesas de mahjong, sem que tenham recolhido provas da prática de crimes. Após a conferência de imprensa da PJ, o CPSP emitiu um comunicado a vincar que a investigação confirmou que os “relatos não são verdade”. O CPSP indicou ainda que “tem vindo a garantir, de forma suficiente, o exercício do direito de reunião e de manifestação, nos termos da Lei Básica e das respectivas leis”, abrindo a possibilidade de responsabilizar criminalmente Wong Wai Man. “Os comentários do residente de apelido Wong (…) são completamente contrários aos factos objectivos, violando gravemente o prestígio da polícia e prejudicando a boa reputação da polícia. Esta Corporação condena de forma veemente o assunto, irá acompanhar as possíveis infracções envolvidas no incidente, estudando que as pessoas em causa serão responsabilizadas criminalmente”.
João Luz Manchete PolíticaPME | Abertura de fronteiras afasta consumo de residentes Após três anos a depender de subsídios e consumo interno, a normalidade fronteiriça e a possibilidade de levar o automóvel para o Interior afastou o consumo de residentes e prejudicou as PME locais. Leong Sun Iok pede diminuição de custos intermediários na importação de produtos para aumentar a competitividade Entre os muitos vícios nascidos da clausura fronteiriça imposta pelo combate à pandemia, a dependência exclusiva do consumo interno parece estar a afectar as pequenas e médias empresas que subsistiam com base nas despesas dos residentes. Segundo relatos do deputado Leong Sun Iok, comerciantes e gestores de pequenas e médias empresas (PME) referem que desde que a normalidade nas fronteiras foi reposta, e implementado o Programa de Veículos de Macau para Norte, o consumo dos residentes também migrou para o Interior, onde os produtos são muito mais baratos. O deputado da Federação das Associações dos Operários de Macau afirmou que, devido às oscilações socioeconómicas que o território atravessou, o tecido empresarial e o Governo devem pensar em conjunto os caminhos para aumentar a competitividade, cabendo ao Governo de Ho Iat Seng ajudar as PME e microempresas a reduzir custos operacionais, actualizar operações e reestruturar o negócio com vista a reduzir os preços finais ao consumidor. O Executivo deve encontrar também formas de cortar nos custos de importação de bens, diminuindo o peso dos intermediários, para aumentar a competitividade das empresas. As queixas mais frequentes vieram de responsáveis por oficinas de reparação de automóveis, restaurantes fora dos pontos turísticos e retalhistas, que se queixaram a Leong Sun Iok que os negócios estão piores do antes da pandemia. Custos de vida Enquanto o comércio nos pontos turísticos, como nas imediações das Ruínas de São Paulo e a Taipa Velha facturaram bem nos feriados do Dia do Trabalhador, muitas lojas dos bairros comunitários optaram por fechar as portas durante esses dias devido à falta de movimento. Na óptica de Leong Sun Iok, uma das razões que leva os residentes a consumir no Interior é a inflação que se sente em Macau, alavancada pela subida das taxas de juro. Assim sendo, além do corte nos custos intermediários na importação de bens, o deputado sugere a organização de mais eventos como os carnavais de consumo e programas de promoção do consumo dos residentes nos bairros em que vivem. Apesar de compreender que a população deseja uma nova ronda de cartão do consumo, o deputado da FAOM mostra-se compreensivo face às justificações do Governo para não avançar com a medida. Em termos de promoção, Leong Sun Iok acha que as PME devem recorrer à publicidade online, através de conteúdos concebidos por influencer, usando métodos que envolvam inteligência artificial, sem, no entanto, explicar como isso poderia ser alcançado.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteFarol da Guia | Estudo de impacto patrimonial peca por tardio, dizem arquitectos Maria José de Freitas e Francisco Vizeu Pinheiro defendem que o estudo de “Avaliação do impacto patrimonial e concepção urbana da zona ao redor da Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues” deveria ter sido feito há mais tempo, destacando, no entanto, o lado positivo de serem propostos sete corredores visuais relativos ao Farol da Guia, ao invés dos três apresentados pelo Instituto Cultural em 2018. Mário Duque entende que o estudo nada traz de novo face ao que o Governo poderia fazer O passar dos anos foi fazendo de Macau cada vez mais uma cidade mais moderna, de edifícios altos, em detrimento de uma cidade de comércio com embarcações estacionadas no Delta do Rio das Pérolas. Mas o património desses tempos mantém-se e tenta sobreviver no meio da construção, sendo o caso do Farol da Guia o mais paradigmático. Tendo em conta a divulgação, na última sexta-feira, de algumas conclusões do estudo de “Avaliação do impacto patrimonial e concepção urbana da zona ao redor da Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues”, o HM questionou três arquitectos sobre a sua importância e carácter inovador. Na visão de Maria José de Freitas, arquitecta e vogal do Conselho do Património Cultural, este trabalho deveria ter sido feito logo em 2008, quando a publicação de um despacho pelo então Chefe do Executivo, Edmund Ho, interrompeu a construção em altura de um edifício habitacional na Calçada do Gaio, que tapou a vista do Farol da Guia, pois já tinha 81,32 metros de altura. O despacho determinou um limite máximo de construção em altura para o local de 52,5 metros. “Se calhar este estudo já deveria ter sido feito em 2008 quando foi publicado o despacho”, apontou. “Foi importante encomendá-lo e estou muito satisfeita com o teor do documento, pois era mesmo isto que era necessário ser focado quando se fala da protecção do património, sobretudo no caso de bens incluídos na lista classificada da UNESCO.” A responsável lamenta que o estudo não seja mais incisivo relativamente à questão do prédio na Calçada do Gaio, cuja construção prossegue com a altura existente. “Parece-me importante a questão da Calçada do Gaio neste enquadramento e deveria ser revista. Espero que essa situação [da altura] venha a ser negociada tendo como base os pressupostos deste estudo. Estas situações têm de ser vistas caso a caso. São muito corajosos os passos dados, que vão no sentido de proteger o património”, frisou Maria José de Freitas. Sem regra Também Francisco Vizeu Pinheiro entende que este estudo “deveria ter sido feito há muito tempo”. “Em muitas cidades existe o chamado ‘Heritage Impact Assessment’, um parecer sobre o impacto do património e ambiente. Essa legislação determina as condições urbanísticas e isso é importante se quisermos ter uma cidade sustentável e manter o património. Em Macau, infelizmente, não é obrigatória essa análise, só em algumas situações, quando se faz uma intervenção numa zona ou edifício classificados”, disse. Cabe agora remediar e preservar o que é possível, tendo em conta que, “durante muito tempo, não houve definição clara para estas zonas históricas”. “Tínhamos o antigo plano do ZAPE quando a classificação da UNESCO não existia e, portanto, não havia problemas de altura. Agora existe. A cidade é um organismo vivo e a legislação tem de se adaptar”, frisou. Francisco Vizeu Pinheiro espera que teor deste estudo “venha a ser aberto ao público para poder haver comentários”. “Normalmente a UNESCO pede transparência e uma decisão de baixo para cima. O estudo está bem feito, foi desenvolvido por uma empresa de Pequim que já fez mais de mil estudos, e como académico e cidadão estou interessado em vê-lo.” O arquitecto Mário Duque, por sua vez, entende que este trabalho poderia ter sido feito há muitos anos pelas Obras Públicas. “Do que foi explicado serem as recomendações, não me ocorre nada de urbanisticamente extraordinário que o Departamento de Planeamento Urbanístico da Direcção dos Serviços de Solos e Construção Urbana não pudesse lá ter chegado sozinho, há mais tempo.” Exemplo disso é a sugestão de “escalonar” os andares para aliviar um “constrangimento” ou “recuar” os pavimentos em altura, quando “surgiu o alerta de que a cidade se estava a tornar numa tremenda escadaria para o céu”, algo que “já se fazia em consequência da lei das sombras, entretanto revogada”. Mário Duque aponta que “das situações que requerem maior escrutínio, a melhor salvaguarda que se obtém é por planos de pormenor com condições descritivas, em vez de prescritivas. Ou seja, definições volumétricas que já são geométricas, em vez de meramente algébricas”. Além disso, “os residentes já estavam seguros de que ‘os edifícios existentes não serão afectados’ pelo ordenamento jurídico da RAEM, na medida em que as autorizações já proferidas não são livremente revogáveis, e que as novas leis só dispõem para o futuro. Por isso, é melhor que se apressem”, declarou. Mais corredores Francisco Vizeu Pinheiro destaca ainda o facto de o estudo realizado pela consultora Conservision propôr sete corredores visuais em redor do Farol da Guia. “Na consulta pública que foi feita pelo Instituto Cultural em 2018 eram previstos três corredores visuais [do Farol da Guia para a Fortaleza do Monte, praça do Tap Seac e Porto Exterior] e agora vemos sete corredores, o que prova que há mais zonas em que se prevê uma protecção da visualização da colina da Guia e do farol. Estes corredores visuais vão limitar as alturas dos edifícios, mas deveriam ser definidas separações entre os edifícios. Para mim, o grande problema não é a altura, mas o espaço entre os edifícios, sendo de evitar o surgimento de uma espécie de ‘muralha’ entre edifícios que estejam muito colados uns aos outros.” Também Maria José de Freitas se mostra surpreendida “de forma positiva” pela definição de mais corredores visuais, o que “denota uma abertura e preocupação de que este estudo tenha sido feito com bases muito objectivas”. “O farol, que existe praticamente a uma cota 100 metros acima do nível do mar, que permite visualizar a envolvente de Macau e marítima, a 360º, ficou praticamente inviabilizado com os edifícios que já estão construídos na avenida dr. Rodrigo Rodrigues e ficaria ainda mais ameaçado se fossem construídos mais lotes na continuidade dos que já estão edificados. Na zona virada para o Porto Interior [a vista do farol] também já está praticamente inviabilizada.” Negociar é preciso Recorde-se que o estudo propõe a redução do limite máximo de construção dos edifícios em torno do Farol da Guia, com diferentes valores. Um dos projectos de construção situa-se no lote de terreno número 134, junto ao Arco do Oriente, alvo de críticas por prever uma altura máxima de 90 metros. Este estudo vem sugerir uma redução para 60 metros, sugerindo ainda, para o terreno ao lado do edifício do Ministério Público, prédios com uma altura que não vá além dos 15, 22 e 28 metros acima do nível da água do mar, de sul a norte. São, no total, 21 as zonas consideradas problemáticas e visadas por este estudo, tendo Lai Weng Leong, director da DSSCU, confirmado que serão suspensas as plantas de condições urbanísticas já emitidas. Chan Tak Seng, responsável pelo Grupo para a Salvaguarda do Farol da Guia, queixou-se esta segunda-feira ao HM de que a sugestão de diferentes alturas máximas podem gerar desigualdade entre promotores dos projectos de construção. Se Maria José de Freitas defende uma revisão do projecto da Calçada do Gaio, Francisco Vizeu Pinheiro também acredita que um diálogo com os promotores será sempre possível e necessário. “Parece-me bem que se crie o chamado ‘zoneamento’ no planeamento e que haja maior definição do que se pode ou não construir. Claro que isso irá afectar o valor da propriedade e comercial [da construção], mas isso também existe noutras cidades. Por exemplo, em Lisboa, em zonas como a Mouraria e Bairro Alto, não se podem construir arranha-céus, havendo uma altura máxima estabelecida. É algo normal em cidades históricas e não me parece que seja uma injustiça”, disse Vizeu Pinheiro. Cinco dias depois da divulgação do estudo em chinês, não está ainda disponível uma versão do mesmo em português. Segundo uma nota da DSSCU, o estudo foi encomendado no contexto da aprovação, em 2021, na 44.ª sessão do Comité do Património Mundial da UNESCO, de uma resolução relativa ao Centro Histórico de Macau. A área de estudo abrange ambos os lados da Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues e estende-se à Zona de Aterros do Porto Exterior (ZAPE) e aos Novos Aterros do Porto Exterior (NAPE), localizados nas zonas de controlo de 2 a 5 delimitadas pelo despacho do Chefe do Executivo n.º 83/2008. São, assim, sugeridos, “sete corredores visuais e vistas” classificadas em dois níveis, além da já referida proposta de redução do limite máximo de construção nas zonas limítrofes do farol. O estudo conclui que as “vistas a partir da Fortaleza de N.ª Sr.ª da Guia e do Farol para o mar estão bem preservadas”, apresentando-se medidas de controlo para as restantes zonas.
João Luz Manchete SociedadeFilipina com gripe A morre após tratamento cosmético Uma mulher oriunda das Filipinas morreu no sábado em circunstâncias que as autoridades ainda estão a investigar, sem haver, para já, uma causa de morte apurada. De acordo com a Polícia Judiciária (PJ), a mulher, com idade na casa dos 30 anos, sentiu-se mal depois de ter sido submetida a um tratamento cosmético clandestino de clareação da pele. A vítima deu entrada nos serviços de urgência do Centro Hospitalar Conde de São Januário na sexta-feira, com sintomas de febre alta sem conseguir responder a questões, apesar de estar consciente, onde lhe foi diagnosticada gripe A. A sua colega de quarto informou as autoridades de que no dia em que se sentiu mal, a mulher teria recebido uma de três doses intravenosas de um produto para clarear a pele num apartamento na Travessa dos Calafetes, perto do Jardim Camões. As autoridades sublinham que já no dia anterior ao “tratamento” cosmético, a vítima teria sido afectada por febre. Branca da cobra De acordo com a PJ, a administração das injecções terá sido feita por uma empregada doméstica, oriunda da Indonésia. No apartamento, foram encontradas grandes quantidades de material de clareação de pele, assim como seringas para administrar os produtos, que terão chegado a Macau por via postal. A mulher acabou por ser detida e admitiu ter servido dez outras pessoas, cobrando 1.000 patacas por tratamento. Quanto às habilitações para administrar as clareações, apesar de não ter qualificações profissionais para o fazer, a suspeita argumentou ter efectado alguns cursos de enfermagem, onde aprendeu a administrar injecções, na Indonésia há mais de uma década. Segundo o jornal Ou Mun, a PJ indicou que se as autoridades apurarem que a causa de morte foram as injecções, a mulher pode responder criminalmente. Para já, o caso foi encaminhado para o Ministério Público pela suspeita dos crimes de usurpação de funções e por praticar actos médicos sem licença para o fazer.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeFarol da Guia | Grupo queixa-se de falta de comunicação do Governo Chan Tak Seng, representante do Grupo para a Salvaguarda do Farol da Guia, defendeu ao HM que houve falta de comunicação da parte do Executivo para a elaboração do estudo de impacto patrimonial relativo à urbanização da avenida dr. Rodrigo Rodrigues. O responsável teme maior desigualdade pelo facto de serem definidos diferentes limites máximos de construção nas áreas em torno do farol O Grupo para a Salvaguarda do Farol da Guia aponta o dedo ao Governo relativamente à alegada falta de comunicação com a sociedade civil para a elaboração do estudo de impacto patrimonial à concepção urbana na avenida dr. Rodrigo Rodrigues, cuja paisagem é marcada pelo Farol da Guia. Em declarações ao HM, Chan Tak Seng, responsável do grupo e antigo vogal do Conselho do Património Urbanístico (CPU), entende que o Governo deveria ter comunicado mais com esta entidade e com a sociedade civil durante o período de elaboração do estudo. “Quanto à gestão do centro histórico de Macau deveria haver uma consulta pública em vez de serem consultadas apenas certas associações ou individualidades. Pedimos a atenção do comité do património mundial da UNESCO e queixamo-nos de que o Governo não comunicou connosco, mesmo depois de eu ter apresentado imensas sugestões para o território [na qualidade de vogal do CPU]”, defendeu. O responsável lembrou que, quando estava no CPU, pediu várias vezes a divulgação do plano urbanístico para a zona da colina da Guia, mas o CPU não só não respondeu como apenas tornou públicas algumas partes do plano. “Sempre apresentei várias opiniões sobre a prática do Governo em relação ao planeamento urbanístico e preservação do património, pois não consegue atingir um nível internacional e não tem uma perspectiva [global]. O actual Governo faz os trabalhos do dia a dia e não tem em conta os projectos a desenvolver pelos futuros Executivos. Realizar um planeamento urbanístico exige perspectiva e inovação.” Desigualdades? Outro ponto destacado por Chan Tak Seng, prende-se com o caso da construção do prédio na Calçada do Gaio que esteve embargada desde 2008 devido ao facto de a altura máxima, de 81,32 metros, ultrapassar os 52,5 metros definidos pelo despacho de 2008 assinado pelo então Chefe do Executivo, Edmund Ho. Contudo, o promotor já tem uma nova licença para construir, com validade até Janeiro de 2026. O Instituto Cultural explicou, em 2019, em resposta ao então deputado Sulu Sou, que a UNESCO não se opôs à manutenção da actual altura do prédio, mesmo que tape a vista do farol. “Porque é que o Governo entregou um estudo à UNESCO e, ao mesmo tempo, permitiu a execução da obra de um edifício que já tinha ultrapassado o limite máximo de altura? Se não houve consenso, tal também nos deveria ter sido indicado.” O estudo, apresentado na sexta-feira, propõe uma redução da altura dos edifícios a construir à volta do farol, nomeadamente o limite máximo de 28 metros de altura para o lote do edifício do Ministério Público, entre 60 e 90 metros para o lote 133 e 70 metros para o lote 134, ambos próximos do Arco do Oriente. Chan Tak Seng entende que a definição de diferentes alturas de construção pode originar uma situação de desigualdade entre promotores de obras. “Porque é que se define uma altura máxima de construção inferior [à do prédio da Calçada do Gaio], permitindo-se que um edifício não inaugurado continue a ser construído? A lei deve ser igual para todos. Os lotes de terreno têm diferentes limites máximos de construção em altura, porque é que se regula desta forma? Não é justo para os restantes promotores de empreendimentos”, acusou.
Hoje Macau Manchete SociedadeBeyond Expo | Startups lusófonas procuram investimento em Macau Dez startups do Brasil e de Portugal vão participar na feira de tecnologia Beyond Expo 2023, que arranca em Macau amanhã. O organizador do evento, Jason Ho (filho do Chefe do Executivo), quer aproximar os investidores chineses dos mercados lusófonos Uma dezena de startups portuguesas e brasileiras vão marcar presença na Beyond Expo 2023, que decorre entre amanhã e sexta-feira no Centro de Convenções do Venetian, num evento que se propõe a fomentar contactos empresariais entre China e os países lusófonos. “Sendo Macau uma cidade onde se fala português, creio ser muito importante manter esta tradição e esperamos ajudar as startups lusófonas a conhecer melhor os mercados chinês e asiáticos”, disse o cofundador da Beyond Expo, Jason Ho Kin Tung, filho do Chefe do Executivo Ho Iat Seng, em declarações à Lusa. O programa da feira inclui, na quinta-feira, a segunda edição do Brazil-Portugal Innovation Company Roadshow (em português, Mostra de Empresas de Inovação Brasil-Portugal). A Beyond Expo vai contar com “pelo menos 60 grandes fundos de capital de risco”, incluindo o fundo soberano de Singapura, Temasek, para os quais os países lusófonos ainda estão “algo fora do radar”, disse Jason Ho. Apesar de admitir que “vai haver um período de aprendizagem”, o empresário acredita que vários grandes grupos financeiros chineses poderão investir em startups como um primeiro passo para entrar nos mercados de Portugal e Brasil. Jason Ho elogiou ainda “o espírito de aventura” das startups que tentam, através de Macau, dar o salto para a China, “um mercado imenso, com muito potencial, mas também com enorme competição”. Céu é o limite Quatro das dez startups foram distinguidas em concursos de inovação e empreendedorismo organizados em Macau para tecnológicas de Portugal e do Brasil, incluindo a Biosolvit, biotecnológica luso-brasileira na área da protecção ambiental que venceu em 2021 a primeira edição do concurso. Duas outras empresas distinguidas em 2021 vão participar: as brasileiras Bioo, que desenvolve soluções de saúde para diabéticos, e Pocket Clinic, que quer desenvolver uma seringa inteligente para doenças crónicas que requerem injecção contínua de medicamentos. A lista inclui ainda a vencedora da segunda edição do concurso, em 2022, a portuguesa Virtuleap, que combina neurociência e realidade virtual para ajudar a aumentar os níveis de atenção, no tratamento de doenças cognitivas e para retardar o início do declínio cognitivo. Após duas edições da Beyond Expo limitadas pela pandemia, Jason Ho disse que não foi possível convidar mais startups, porque Macau abriu as fronteiras a todos os estrangeiros “de forma tão repentina”, a 5 de Janeiro. O organizador disse esperar que em 2024 possa contar com mais projectos de países lusófonos além de Portugal e do Brasil, mercados onde “o ecossistema para startups já está mais maduro”. Mais de 600 empresas vão participar este ano na feira, mas Jason Ho não esconde uma ambição maior: “até 2026, queremos que, quando o mundo quiser conhecer a inovação tecnológica na Ásia, venha à Beyond Expo”.
João Luz Manchete SociedadeCovid-19 | Novos casos provocam 15 internamentos em três dias Entre sexta-feira e domingo, 15 pessoas foram submetidas a internamento hospitalar na sequência de infecções por covid-19, numa altura em que se estima que os novos casos diários ultrapassem os 20. As autoridades garantem que vão continuar a monitorizar a evolução das infecções, apesar de a OMS ter declarado o fim da pandemia No espaço de três dias, foram sujeitos a internamento hospitalar 15 pessoas em resultado de infecções por covid-19. Segundo avançou ontem o Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus, no domingo foram internados nas instalações de isolamento e tratamento dos Serviços de Saúde sete doentes, seis dos quais foram admitidos no Hospital Kiang Wu e o outro foi internado no Centro Hospitalar Conde de São Januário. No sábado, as autoridades contabilizaram cinco internamentos, enquanto que na sexta-feira foram internadas três pessoas infectadas com covid-19, revelando uma tendência ascendente dos casos que obrigam a hospitalização. O centro de coordenação e contingência salienta, porém, que não foram registadas mortes resultantes de infecções por covid-19. O aumento do número de infecções já havia sido mencionado várias vezes por responsáveis governamentais da área da saúde, através do alerta para um eventual surto pandémico este mês. Em declarações proferidas no fim-de-semana, o director do Centro Hospitalar Conde de São Januário, e subdirector dos Serviços de Saúde, Kuok Cheong U afirmou que o número de novos casos diários de covid-19 no território deve ultrapassar as duas dezenas. Em declarações citadas pelo jornal Ou Mun, o responsável salientou que o ressurgimento das infecções, passados cinco meses na vaga de Dezembro que infectou quase toda a população de Macau, é um fenómeno imunológico normal. Ciclo da vida Kuok Cheong U realçou que os Serviços de Saúde vão continuar a acompanhar de perto a propagação da nova estirpe da covid-19, assim como os casos de gripe, monitorizando aspectos como o tempo de espera dos doentes no serviço de urgências e, se necessário, destacar pessoal e material adicional para fazer face a situações de emergência. Recorde-se que na sexta-feira o director-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o fim da emergência global para a covid-19 a nível global, aceitando a recomendação do comité de emergência. “No último ano, o comité de emergência e a OMS têm analisado os dados com cuidado, considerando quando seria o tempo certo para baixar o nível de alarme. Ontem [quinta-feira], o comité de emergência reuniu-se pela 15.ª vez e recomendou-me que declarasse o fim da emergência global. Eu aceitei esse conselho”, afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus em conferência de imprensa. Segundo afirmou, o levantamento da emergência de saúde pública global (PHEIC, na sigla em inglês), o nível mais alto de alerta que pode ser decretado pela organização, “não quer dizer que a covid-19 terminou como uma ameaça de saúde”. “Na última semana, a covid-19 reclamou vidas a cada três minutos e estas são apenas as mortes que sabemos. Actualmente, milhares de pessoas em todo o mundo estão a lutar pela vida nos cuidados intensivos e outros milhões continuam a viver com os efeitos debilitantes da condição pós-covid-19”, alertou o director-geral da OMS. De acordo com Tedros Adhanom Ghebreyesus, o coronavírus SARS-CoV-2 “está para ficar” e continua a evoluir, o que faz com que permaneça o risco do surgimento de novas variantes eventualmente causadoras de surtos e mortes. Com Lusa
João Luz Manchete PolíticaFábrica de Panchões | Coutinho alerta para “estado degradante” e lixo Pereira Coutinho denuncia a “sensação de completo abandono” sentida por quem visita o espaço da antiga Fábrica de Panchões Iec Long, na Taipa Velha. Desde a inauguração do passadiço da antiga fábrica, o deputado recebeu queixas de visitantes sobre a degradação de paredes, a abundância de lixo, serpentes e insectos A dois dias do Natal, o passadiço da antiga Fábrica de Panchões Iec Long foi inaugurado. Em pleno surto de covid-19 que varreu o território, a inauguração da estrutura foi o resultado de um projecto de restauro e reabilitação liderado pelo Instituto Cultural (IC), cuja concepção pretendia “apresentar as memórias históricas e os elementos do ambiente original da antiga fábrica, permitindo ao público apreciar a beleza natural das estruturas históricas e das plantas do local.” Cerca de cinco meses após a inauguração, Pereira Coutinho denuncia aquilo que caracteriza como “estado degradante de muitas das estruturas físicas, nomeadamente as paredes de grandes dimensões, em risco de desabamento”. Em interpelação escrita, o deputado aponta que as estruturas correm risco agravado com a aproximação da época em que normalmente Macau é assolada por “fortes chuvas e tufões”. Citando queixas recebidas no seu gabinete de atendimento aos cidadãos, Coutinho indica que “as estruturas físicas se encontram comprometidas pela envolvência do arvoredo circundante, num cenário de emaranhamento que transmite a sensação de completo abandono”. Mas não é só a flora que afecta a antiga Fábrica de Panchões Iec Long, a fauna também é mencionada na interpelação, com Coutinho a referir que proliferam “na área grandes quantidades de centopeias que deambulam pelas extensas paredes internas, e externas da fábrica e pequenas serpentes”, tornando o local perigoso “para os visitantes e principalmente os trabalhadores encarregados da segurança do recinto.” Coutinho chega mesmo a indicar que os seguranças do recinto têm de usar botas de borracha grossa para evitar picadas das cobras. Sombras e detritos Outra presença indesejada no local, é a paleta variada de detritos. “Os visitantes assinalaram também a acumulação de grande quantidade de lixo, tais como garrafas e outros produtos de plástico, vidro e chinelos, meio soterrados em extensas áreas de terrenos baldios, para além de pequenos montes de terra batida alguns contendo parte de ossadas desconhecidas”, indica o deputado. Na óptica de Pereira Coutinho, este cenário é o ideal para a proliferação de “focos de reprodução de grande quantidade de mosquitos, que constitui uma ameaça à saúde pública, aumentando o risco de transmissão de doenças”. Face ao panorama apresentado, o deputado pergunta ao Governo que medidas concretas serão implementadas para salvaguardar as actuais estruturas físicas da antiga Fábrica de Panchões Iec Long. Coutinho questiona ainda se o Instituto para os Assuntos Municipais irá efectuar vistorias e poda das árvores do local, e sugere uma operação de limpeza geral dos terrenos baldios da antiga Fábrica de Panchões Iec Long.
João Santos Filipe Manchete SociedadeCrime | Discussão resulta em homicídio num hotel do Cotai Há cerca de meio mês que a vítima e o homicida partilhavam um quarto de hotel no Cotai. O atacante, que estava em excesso de permanência, conseguiu fugir para o Interior, mas foi capturado e reencaminhado para a RAEM Uma discussão sobre dinheiro esteve na origem do homicídio descoberto na tarde de quinta-feira num quarto do hotel The Parisian, no Cotai. O homicida fugiu para o Interior da China para evitar ser preso, mas foi capturado quando se encontrava em Chaozhou, a mais de 350 quilómetros de Macau. A informação sobre o crime foi divulgada numa conferência de imprensa da Polícia Judiciária (PJ) na sexta-feira, horas depois de o homem de 44 anos ter sido entregue às autoridades locais pela polícia chinesa. Segundo a versão apresentada pela PJ, uma discussão sobre dinheiro terá despoletado os acontecimentos que terminaram no crime. No entanto, no depoimento prestado na sexta-feira o atacante recusou entrar em pormenores sobre a disputa. A investigação preliminar levou as autoridades a concluírem que a vítima, um homem de 27 anos, também do Interior, foi sufocado, depois de ter sido atingido na cabeça várias vezes com um termo de água quente. Quando as autoridades chegaram ao quarto do hotel, ainda na quinta-feira, depararam-se com um corpo com várias marcas de agressão na cabeça e no pescoço. O alerta para o homicídio foi dado pelos trabalhadores do hotel, por volta das 17h de quinta-feira, quando entraram no quarto para serviço de limpeza e encontraram o corpo. Troca de dinheiro Na conferência de imprensa de sexta-feira, as autoridades reconheceram que o alegado autor do crime estava em Macau desde 13 de Abril e que, apesar de ter entrado no território com um visto válido, se encontrava em excesso de permanência. O homem foi encaminhado para o Ministério Público e está indiciado pelos crimes de homicídio qualificado, que implica uma pena que pode chegar aos 25 anos de prisão, e ainda de roubo, que nos casos que resulta em morte pode ser punido com uma pena de prisão de 20 anos. A vítima tinha 27 anos, estava em Macau desde o dia 28 de Abril e dedicava-se à troca de dinheiro, partilhando o quarto de hotel com o autor do crime. Segundo as imagens de videovigilância, o suspeito de homicídio entrou pela última vez no quarto onde o crime aconteceu às 23h de 3 de Maio. Duas horas depois, à 1h de quinta-feira, foi visto a sair com uma mala, tendo deixado a RAEM pelas 6h, através da Fronteira de Qingmao. Quando foi capturado pela polícia do Interior, às 23h de quinta-feira, o homicida estava a cerca de 350 quilómetros da RAEM, em Chaozhou, e as autoridades acreditam que tinha em sua posse 170 mil dólares de Hong Kong, um anel de ouro e um telemóvel que pertenciam à vítima. Excesso de permanência Desde Janeiro, este é o segundo homicídio cometido por homens que se encontravam em excesso de permanência no território. O primeiro caso do ano aconteceu em Março, depois de um residente de Hong Kong, que estava na RAEM há mais de um ano e que se declarou ser sem abrigo, ter assassinado uma prostituta. O crime aconteceu na Pensão Residencial Florida, situada perto da Avenida Almeida Ribeiro, e a motivação, de acordo com o depoimento do sujeito às autoridades, terá sido um comentário feito pela prostituta durante a relação sexual. No entanto, os investigadores consideram haver indícios para acreditar que, ao contrário da confissão do suspeito, o crime terá sido premeditado e que tinha como objectivo roubar a prostituta. O último homicídio em quartos de hotéis de casinos tinha acontecido em Maio do ano passado, no dia 7, quando um homem do Interior da China levou para um quarto de hotel duas prostitutas, que terá assassinado para as roubar. Também neste caso, o homicida fugiu para o Interior, mas foi preso em Hunan, 10 dias depois do crime.
João Santos Filipe Manchete SociedadeMalásia | Primeiro-ministro admite conversações para extraditar Jho Low Nos últimos anos, as autoridades e imprensa da Malásia têm insistido que Jho Low está em Macau, e em Setembro do ano passado surgiu uma fotografia do alegado fugitivo num dos principais casinos de Macau O primeiro-ministro da Malásia, Anwar bin Ibrahim, afirmou estar em negociações com “vários países” para conseguir a extradição de Jho Low. O foragido é procurado na Malásia, por um crime de desfalque de fundos públicos no valor de 4,5 mil milhões de dólares norte-americanos, que envolve a companhia 1Malaysia Development Berhad (1MBD). Na sexta-feira, Anwar bin Ibrahim explicou, de acordo com o jornal The Malaysian Insight, que o processo é encarado pelas autoridades malaias como extremamente complexo porque implica “negociações diplomáticas” com vários países. No entanto, o líder do Governo da Malásia recusou adiantar os países com os quais decorrem negociações, ou até indicar a localização de Jho Low, que também é conhecido por Low Taek Jho. “Acha que até agora, não conseguimos localizá-lo?”, perguntou de forma retórica o ministro. Depois respondeu: “O que posso dizer com toda a certeza, é que o processo de extradição de Low Taek Jho é muito difícil, envolve muitos países e um trabalho profundo de investigação, além da Interpol”, apontou. Anwar bin Ibrahim garantiu também que está comprometido com o objectivo de trazer para a Malásia o mentor do escândalo 1MBD, que ficou conhecido em Hollywood pelas festas extravagantes com estrelas como Leonardo DiCaprio ou Paris Hilton. Presença negada Em 2020, a extradição de Jho Low criou um momento de tensão nas relações entre Macau e a Malásia. Nesse ano, o Inspector-Geral da polícia da Malásia, Abdul Hamid Bador, afirmou que Low estava em Macau, onde conseguia fazer os seus negócios, sem qualquer restrição. “Queremos que as autoridades locais e a polícia de Macau ajam com responsabilidade. Será que as autoridades de Macau não têm o instinto policial para nos ajudar?”, questionou Abdul Hamid Bador. Na altura, Wong Sio Chak respondeu à polícia da Malásia e negou as acusações, além de acusar a congénere de se comportar incorrectamente. “A Polícia da Malásia, contrariando as regras e as práticas no âmbito de cooperação policial internacional, divulgou unilateralmente que o Lao XX [Jho Low] se encontra em Macau, informação que não corresponde à verdade”, afirmou o gabinete do secretário, em comunicado, em Julho de 2020. Contudo, no dia seguinte, Abdul Hamid Bador voltou a insistir na presença de Jho Low em Macau. Também a presença de Low em Macau tem sido notícia regular na imprensa malaia, e em Setembro do ano passado o jornal New Strait Times publicou uma fotografia que alegadamente mostra Jho Low num dos espaços de acesso ao público do hotel MGM Macau. O dinheiro alegadamente subtraído por Low fazia parte do fundo nacional da Malásia para subsidiar deslocações de crentes a Meca.
Hoje Macau Manchete Sociedade1º de Maio | Aeroporto a 50% dos níveis pré-pandemia Durante a Semana Dourada do 1º de Maio, o Aeroporto Internacional de Macau recebeu quase 66 mil passageiros. Em cinco dias, foram registados 572 movimentos de aeronaves, numa média diária de 144 voos Quase 66 mil passageiros passaram pelo Aeroporto Internacional de Macau durante os cinco dias da Semana Dourada do 1.º de Maio, um dos picos turísticos do Interior, o que representa cerca de 50 por cento dos níveis antes da pandemia. De acordo com um comunicado divulgado pela entidade que gere o aeroporto, a infra-estrutura realizou um total de 572 voos entre 29 de Abril e 3 de Maio, equivalente a 53 por cento do registado em igual período de 2019. O aeroporto registou uma média de cerca de 144 voos e 13.178 passageiros por dia durante a Semana Dourada, referiu na quinta-feira a CAM – Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau. O comunicado sublinhou que os passageiros vindos ou tendo como destino a China continental representaram dois terços do total, seguidos do Sudeste Asiático (24 por cento) e de Taiwan (10 por cento). A CAM lembrou que em Abril foram retomadas ligações aéreas que estiveram suspensas durante a pandemia da covid-19, nomeadamente para Seul, na Coreia do Sul, e para as Filipinas. O regresso do tigre A companhia aérea ‘low-cost’ Tigerair Taiwan vai retomar voos entre Macau e a ilha em Julho, revelou a operadora do aeroporto. A empresa garantiu estar a “activamente explorar a retoma de serviços aéreos para destinos na China continental e a expansão do mercado aéreo do Sudeste Asiático”. A 14 de Abril, o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, admitiu insuficiências no aeroporto ao nível de recursos humanos e capacidade, que limitam a chegada de turistas estrangeiros, prioridade do Governo para reduzir a dependência do mercado chinês. A ocupação hoteleira durante a Semana Dourada do 1º de Maio foi de 85 por cento, um aumento de 26,5 pontos percentuais em relação a igual período de 2022, tendo atingido um pico de 93,2 por cento em 30 de Abril, revelou a Direcção dos Serviços de Turismo (DST). Num comunicado, a DST destacou ainda que o preço médio de um quarto de hotel em Macau durante os feriados ultrapassou 1.804 patacas (201 euros), mais do dobro do registado no mesmo período do ano passado. Macau recebeu perto de meio milhão de visitantes durante a Semana Dourada, de acordo com dados divulgados pelo Corpo da Polícia de Segurança Pública. A média diária de turistas ficou perto de 100 mil, mais de três vezes maior do que em igual período de 2022, altura em que algumas das principais cidades chinesas, incluindo Pequim e Xangai, enfrentavam confinamentos devido a surtos de covid-19.
João Luz Manchete Política1º de Maio | Investigação a alegadas pressões a organizador de marcha O organizador do único pedido para manifestação no Dia do Trabalhador disse que desistiu da marcha depois de ter sido pressionado, através de chamadas e mensagens de WeChat e com a presença de polícia na sede da associação a que preside. Wong Sio Chak diz que as acusações são graves e que a Polícia Judiciária irá investigar o caso “O secretário para a Segurança presta a maior atenção ao assunto, e visto que a alegação do dito cidadão constituiu uma acusação grave para com a polícia, instruiu de imediato a Polícia Judiciária para proceder a uma investigação aprofundada, e tornará público o resultado, caso haja um novo desenvolvimento.” A mensagem divulgada no sábado pelo gabinete do secretário para a Segurança surge na sequência das declarações prestadas por Wong Wai Man, presidente da Associação dos Armadores de Ferro e Aço e ex-candidato a deputado, que afirmou ter retirado o pedido de manifestação para o Dia do Trabalhador depois de ter sido pressionado pelas autoridades. Recorde-se que Wong Wai Man foi o único dirigente associativo que apresentou um pedido de manifestação para o passado 1.º de Maio, marcando assim o quarto ano consecutivo em que o Dia do Trabalhador não é assinalado nas ruas de Macau, como vinha sendo tradicionalmente marcado na agenda política do território antes da pandemia. Em declarações ao HM, Wong Wai Man já havia reconhecido que teria retirado o pedido por temer que a manifestação fosse aproveitada para outros propósitos. “Depois de considerar os interesses gerais de Macau e o impacto para a sua imagem, optei pela estabilidade [para o território]. Se fizesse uma manifestação estava a entrar em conflito com o interesse público, e o interesse público deve prevalecer sobre os interesses privados”, contou. As declarações de Wong Wai Man, citadas pelo jornal All About Macau, foram prestadas à margem da entrega de uma carta na Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego devido aos congestionamentos de trânsito na zona da Pérola Oriental. Companhia constante Wong Wai Man afirmou que cerca de duas horas depois de ter apresentando o pedido de manifestação para o Dia do Trabalhador, com a intenção de chamar a atenção para o problema do desemprego, recebeu uma chamada telefónica anónima a avisar que membros dos Falun Gong estariam na sede da associação a que preside. O alerta fez com que Wong Wai Man se deslocasse com urgência à sede da Associação dos Armadores de Ferro e Aço, na Areia Preta. Quando lá chegou, terá encontrado quatro pessoas a jogar mahjong e agentes da polícia a pedir identificações. Passados alguns dias, o dirigente alega que, “pelo menos, sete ou oito polícias à paisana” passaram a rondar o edifício. Além disso, Wong Wai Man afirma ter sido seguido e recebido mensagens de um agente policial via WeChat a questionar as suas intenções para o pedido de manifestação. Face a este cenário, o dirigente acabou por anular o pedido de marcha para o 1.º de Maio. O gabinete do secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, voltou a repetir o cumprimento da lei e o respeito pelas liberdades e direitos consagrados na Lei Básica. “As autoridades da segurança reiteram que os direitos e interesses legais são protegidos pela lei, e a Polícia tem sempre respeitado os direitos de reunião e manifestação, procedendo aos avisos das actividades nos termos da lei, no sentido de assegurar a liberdade do exercício dos direitos fundamentais dos residentes, bem como defender efectivamente a ordem e segurança pública”, é assinalado.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteCooperação | Vice-Presidente chinês em Portugal até quarta-feira Han Zheng, vice-Presidente chinês, chegou este domingo a Portugal após assistir à coroação do rei Carlos III. Da agenda da visita, que termina esta quarta-feira, só se conhece, para já, a realização, hoje, de um almoço com Marcelo Rebelo de Sousa. Jorge Tavares da Silva, académico, entende que este acto diplomático tem “uma importância relativa”, mas não deixa de ser sinal de reforço da cooperação bilateral O mundo assistiu, no sábado, a um acto monárquico já raro nos dias de correm. Na cerimónia de coroação do rei Carlos III de Inglaterra, que sucedeu à sua mãe, a já falecida rainha Isabel II, esteve presente Han Zheng, vice-Presidente da China. O braço direito de Xi Jinping na governação do país aproveitou a proximidade entre o Reino Unido e Portugal, e a presença na Europa, e iniciou ontem uma visita a Portugal que termina esta quarta-feira. Da agenda oficial pouco ou nada se sabe, conhecendo-se apenas a realização, hoje, de um almoço com o Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, em Belém. Segundo uma nota divulgada pela Presidência da República, citada pela Lusa, “o almoço de trabalho visará prosseguir o aprofundamento das excelentes relações entre os dois países, momento onde, em conjunto, serão analisados e desenvolvidos assuntos da agenda bilateral entre a República Popular da China e Portugal, bem como matérias referentes à actualidade internacional”. No sábado à noite, depois de ter estado no Banco Alimentar Contra a Fome (BA), em Lisboa, o Presidente da República referiu-se às relações diplomáticas com a China na actual conjuntura mundial. Depois de salientar o alinhamento de Portugal com as posições da NATO e da União Europeia em matéria de segurança, Marcelo Rebelo de Sousa falou de “países que têm posições mais distanciadas, mas que não são menos preocupadas com a situação na Ucrânia, caso do Brasil e da China”. “Vem a Portugal o vice-presidente chinês. A China tem assumido agora um papel mais intenso em relação a este problema, e Portugal é uma plataforma importante de diálogo. Naturalmente, estamos onde estamos, somos aliados da Ucrânia, somos aliados da NATO e da União Europeia, mas mantemos diálogo com tudo aquilo que possa no momento seguinte, a prazo, ajudar a construir a paz”, frisou. Ao HM, o académico Jorge Tavares da Silva, professor auxiliar na Universidade da Beira Interior e investigador associado da Universidade de Aveiro, diz que esta visita tem “uma importância relativa, tendo em conta que a vice-presidência da China representa essencialmente uma função de cortesia, um cargo nominal para representações no estrangeiro. Han Zheng tem como funções oficiais “auxiliar o Presidente no seu trabalho” e “quando lhe for incumbido pelo Presidente, exercer parte das funções e poderes do presidente em seu nome”, escreveu o semanário Expresso. Jorge Tavares da Silva explica que esta é, acima de tudo, uma “visita de oportunidade, mas um nível mais modesto que os contactos efectuados por outros parceiros europeus”. “Lembro as ambiciosas visitas do presidente Emmanuel Macron e do primeiro-ministro Pedro Sánchez. Portugal procura também intensificar os contactos com a China por uma via mais modesta, mas que pode abrir portas para novas visitas oficiais do primeiro-ministro português à China ou do Presidente da República, reavivando dossiers que estão adormecidos desde 2018, quando o Presidente chinês Xi Jinping visitou Portugal”. Tavares da Silva entende que a agenda da visita misteriosa pode passar “pela actualidade internacional” marcada “inevitavelmente pelo conflito na Ucrânia”, sendo que as “relações bilaterais serão centrais, com uma especial atenção para o domínio económico, financeiro, tecnológico, educativo e cultural”. “Tal como outros parceiros europeus, a atracção de investimento chinês é um ponto fundamental numa altura que o Governo português procura contrariar os indicadores económicos mais negativos. Procura-se que a China invista de forma directa em unidades industriais e infraestruturas, não tanto na aquisição de capital de empresas, de forma a ajudar a economia portuguesa após o período de confinamento e no quadro do conflito da Ucrânia”, adiantou. Tavares da Silva destaca também “a possibilidade de alargamento da Nova Rota da Seda a Portugal, lembrando que esta foi a vontade dos dois países expressa no memorando de entendimento de 2018”. “O investimento chinês no Porto de Sines acabou por não se concretizar, mas poderá ser também um tema de conversa”, frisou. De frisar que esta visita acontece dias depois do fim da visita a Portugal do Chefe do Executivo da RAEM, Ho Iat Seng, que “também se enquadra na tentativa de reforçar a cooperação de Portugal e a China, reatando pontes de diálogo e negócios”. Recorde-se que Ho Iat Seng foi recebido pelo Presidente da República portuguesa dia 19 de Abril. Assim, a “visita de Han Zheng é de oportunidade, mas Portugal não deixa de aproveitar a presença do vice-presidente na Europa para o receber”. Falamos ainda de uma personalidade política do país que está especialmente ligado às regiões administrativas especiais, por ter sido responsável pelo Grupo de Liderança para os assuntos de Hong Kong e Macau. Por isso, Han Zheng é alguém “conhecedor das preocupações e oportunidades” dos dois territórios. Trata-se de “um claro sinal diplomático de que Portugal quer reavivar as áreas de cooperação bilateral desenhadas no memorando de entendimento, procurando abrir o país a novos negócios”. Pela estabilidade No território britânico o vice-presidente chinês, Han Zheng, pediu, na sexta-feira, esforços conjuntos para construir uma relação estável entre a China e o Reino Unido. De acordo com a agência noticiosa oficial Xinhua, Han Zheng fez o apelo durante um jantar, na quinta-feira à noite, oferecido por membros das comunidades empresariais chinesa e britânica. Como representante especial do Presidente chinês, Xi Jinping, o vice-presidente chegou a Londres na quinta-feira para assistir à coroação do Rei Carlos III, na Abadia de Westminster, no sábado. Sobre as relações entre os dois países, o alto representante chinês enfatizou que, à medida que a modernização da China avança, a cooperação bilateral tem um “bom futuro”. “A China vê o papel internacional e a influência do Reino Unido de forma positiva e sempre trata o país como um parceiro estratégico”, disse o político, segundo a Xinhua. O governante garantiu também que Pequim está disposto a conceder às empresas britânicas que investirem na China um “tratamento igual ao dado às empresas domésticas” e a ampliar a abertura dos mercados de capitais entre os dois países. Han Zheng expressou ainda a sua esperança de que o Reino Unido crie um ambiente de negócios aberto, justo e não discriminatório para as empresas chinesas, relatou ainda a agência Xinhua. Além das passagens por Portugal e pelo Reino Unido, Han Zheng desloca-se ainda aos Países Baixos, num périplo que termina sexta-feira, descreveu a porta-voz da diplomacia chinesa, Mao Ning, na última quinta-feira. Numa nota também difundida pela Xinhua, tanto Xi Jinping como a primeira-dama Peng Liyuan enviaram uma mensagem de felicitações a Carlos III e à rainha consorte Camilla pela coroação. A mensagem destaca que o mundo “tem vindo a enfrentar profundas e complexas transformações”, com a comunidade internacional “a enfrentar desafios sem precedentes”. “A China e o Reino Unido, sendo ambos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, deveriam adoptar uma estratégia conjunta de longo prazo para promover a tendência histórica da paz, desenvolvimento e cooperação com ganhos mútuos”, descreve a nota. Além disso, Xi Jinping e Peng Liyuan destacam que a China pretende “trabalhar conjuntamente com o Reino Unido para reforçar a amizade entre as populações dos dois países, expandir a cooperação com benefícios mútuos e aprofundar o intercâmbio cultural, a fim de trazer mais benefícios aos dois países”. Com Lusa
João Luz Manchete SociedadeJogo | Mercado de massas recupera para mais de 90% pré-covid Os analistas da J.P. Morgan estimam que a procura do segmento de massas tenha ascendido a mais de 90 por cento dos nível pré-pandémico durante os feriados do Dia do Trabalhador. O período das férias de Verão, entre Julho e Agosto, pode trazer mais uma época alta para a indústria do jogo Menos de meio ano depois do levantamento de restrições fronteiriças impostas pelo combate à pandemia de covid-19, a indústria do jogo de Macau apresenta resultados que apontam para a recuperação quase total. O banco de investimento J.P. Morgan emitiu ontem uma nota onde refere que a procura do mercado de massas poderá ter recuperado para mais de 90 por cento dos níveis verificados em 2019, antes da pandemia. “Os feriados do Dia do Trabalhador foram muito fortes, bastante acima das expectativas do mercado”, refere o analista DS Kim, num comunicado divulgado ontem, citado pela Macau News Agency. O especialista salienta os impressionantes números de visitantes que Macau recebeu durante os feriados, que chegou quase a meio milhão (ver página 5), acrescentando que “a qualidade dos turistas deve manter-se a um nível superior ao período antes da covid-19”. O analista contextualiza o bom resultado da indústria durante os feriados de Maio sublinhando que procura do segmento de massas superou em muito a média verificada nos primeiros três meses do ano, quando o mercado recuperou para cerca de 65 por cento dos níveis de 2019. Patinho feio A nota do analista do banco de investimento realça também a performance do sector VIP, segmento onde as expectativas eram quase nulas, mas que tem demonstrado níveis de recuperação entre 150 a 200 por cento dos níveis pré-pandémicos para alguns operadores de salas VIP. Os resultados devem traduzir-se numa recuperação para 30 por cento das receitas brutas apuradas pelo segmento, apesar da quase destruição do mercado depois da queda em desgraça dos maiores junkets de Macau. Tudo somado, os analistas da J.P. Morgan estimam que durante os feriados de Maio os casinos de Macau apuraram receitas brutas entre 65 e 70 por cento dos níveis pré-pandémicos, bastante acima dos 45 por cento verificados durante os primeiros três meses do ano. É ainda apontado que a retoma da indústria é uma demonstração de resiliência, especialmente tendo em conta que Macau ainda tem lacunas a nível de transportes e de capacidade hoteleira. Os analistas apontam agora para o período das férias de Verão, entre Julho e Agosto, como o próximo pico de procura no mercado do jogo, empurrando a retoma para um nível superior.
Hoje Macau Manchete SociedadeEconomia | Monte do Pasto aposta na exportação para a Ásia O Grupo Monte do Pasto, que produz gado bovino nos concelhos alentejanos de Cuba e Alvito (Beja), quer aumentar a exportação de carne para a Ásia, nomeadamente para os mercados japonês e chinês China e Japão estão na mira do Grupo Monte de Pasto, companhia de produção de gado bovino que faz parte do Grupo CESL Asia, para a exportação de carne. Segundo adiantou ontem à agência Lusa a directora executiva da empresa, Clara Moura Guedes, neste momento, o Monte do Pasto exporta carne de bovino “para Macau e Hong Kong” e, no próximo mês de Julho, vai estar no Japão, integrando uma comitiva liderada pelo comissário europeu de Agricultura, o polaco Janusz Wojciechowski. “Estamos a tentar abrir outros mercados [na Ásia]”, justificou Clara Moura Guedes, apontando como exemplos “o Japão, Coreia do Sul, Singapura e Vietname”. A empresa alentejana, que produz bovinos e ovinos em 4.200 hectares nos municípios de Cuba e Alvito, tem também a entrada no mercado chinês no ‘horizonte’, dada “a dimensão e o potencial que este tem”. “O mercado da China já está aberto para a carne de porco de Portugal, mas ainda não está para a carne de bovino e estamos a desenvolver um conjunto de ‘démarches’ para conseguirmos essa licença para exportar”, revelou Clara Moura Guedes. Fundado em 1981, o Monte do Pasto foi adquirido, em 2019, pelo grupo CESL Asia, com sede em Macau, exportando actualmente 95 por cento da produção e tendo várias áreas de negócio. Pão e vinho sobre a mesa “Controlamos toda a cadeia, do prado ao prato”, explicou à Lusa Clara Moura Guedes, acrescentando que a empresa “exporta animais vivos, sobretudo para o norte de África e Médio Oriente, e carne de bovino, sobretudo para a Ásia”. O mercado asiático é um dos “alvos” da nova marca do Monte do Pasto, a ‘Autêntico Portuguese Cuisine’, inspirada na gastronomia portuguesa e apresentada oficialmente durante a feira agropecuária Ovibeja, que decorreu em Beja, entre os dias 27 de Abril e 1 de Maio. “Estamos com um interesse grande em desenvolver o conceito da gastronomia portuguesa, que achamos que está subvalorizada e não está a ser suficientemente explorada pelo turismo português”, explicou Clara Moura Guedes. De acordo com a administradora, a nova marca “é destinada à restauração” e conta no seu portefólio, além da carne de bovino, com carne de porco preto ou de borrego, peixe e mariscos. “Queremos alargar isto a um conjunto de produtos portugueses, genuínos e sustentáveis, para conseguir exportar um conceito e não um conjunto de produtos”, frisou. Os primeiros produtos com o selo ‘Autêntico Portuguese Cuisine’ serão exportados esta semana, com destino a Macau, seguindo-se Hong Kong. “Em Macau há um enorme potencial, pois é a região do mundo com maior densidade de restaurantes com estrela Michelin e 35 milhões de visitantes por ano. Portanto, tem um potencial na área da restauração gigante que nós vamos tentar aproveitar”, observou. Segundo a directora executiva do Monte do Pasto, “Portugal não tem dimensão para competir em preço, no entanto, tem produtos de altíssima qualidade”. “Acho que devemos encontrar nichos de mercado e é isso que temos vindo a fazer”, concluiu.
Hoje Macau Manchete Sociedade1º de Maio | Macau recebeu quase meio milhão de turistas durante feriados Entre 29 de Abril e 3 de Maio, o território recebeu 491.968 turistas e ultrapassou todas as expectativas das autoridades. Feito o balanço, a média diária de turistas ficou perto de 100 mil, mais de três vezes maior do que em igual período de 2022 Macau recebeu perto de meio milhão de visitantes durante os cinco dias da chamada Semana Dourada do 1.º de Maio, um dos picos turísticos da China continental, foi ontem anunciado. De acordo com dados divulgados pelo Corpo da Polícia de Segurança Pública (CPSP), a RAEM acolheu 491.968 turistas entre 29 de Abril e 3 de Maio. O pico foi atingido no domingo, dia em que Macau recebeu 133.911 visitantes, o valor diário mais elevado desde o início de 2020, antes do início da pandemia. A média diária de turistas ficou perto de 100 mil, mais de três vezes maior do que em igual período de 2022, altura em que algumas das principais cidades chinesas, incluindo Pequim e Xangai, enfrentavam confinamentos devido a surtos de covid-19. Durante os primeiros três dias dos feriados do 1.º de Maio em 2019, a cidade recebeu 531.503 visitantes, uma média diária de mais de 177 mil. Os dados ficaram também muito acima da previsão feita na semana passada pela directora dos Serviços de Turismo, Maria Helena de Senna Fernandes: uma média de 70 mil visitantes por dia. Na quarta-feira, o vice-presidente da Associação das Agências de Turismo de Macau disse numa conferência de imprensa que a Semana Dourada estava a ser melhor do que as expectativas. Tang Ka Man revelou que cerca de 300 excursões organizadas tinham vindo da China continental para Hong Kong e Macau durante os feriados. Quartos mais caros Na mesma conferência de imprensa, a vice-presidente da Associação dos Hoteleiros de Macau, Wong Lai Mei, disse que a ocupação hoteleira era, em média, de 85 por cento, semelhante a 2019, e que os preços dos quartos estavam mesmo 2 por cento acima dos níveis pré-pandemia. No entanto, em 15 de Abril, o presidente da Associação dos Hotéis de Macau, Luís Heredia, disse à televisão pública TDM que cerca de 15 por cento dos quartos iriam permanecer fechados durante os feriados do 1.º de Maio devido à falta de mão de obra. De acordo com o CPSP, quase 2,7 milhões de pessoas atravessaram as fronteiras do território durante os cinco dias, sendo que a maioria passou pelas Portas do Cerco, no norte da península. Macau, que à semelhança da China seguia a política ‘zero covid’, anunciou em meados de Dezembro o cancelamento gradual da maioria das medidas de prevenção e contenção, depois de quase três anos de rigorosas restrições. A China levantou em 6 de Fevereiro todas as restrições devido à pandemia de covid-19 nas deslocações para Hong Kong e Macau, permitindo o reinício das excursões organizadas para as duas cidades.
João Santos Filipe Manchete PolíticaAviação Civil | Governo avança com novo regime de liberalização Nas próximas semanas deve dar entrada na Assembleia Legislativa a nova proposta de lei que vai acabar com a exclusividade da Air Macau. O fim do monopólio estava prometido desde 2019, mas foi adiado devido à covid-19 O Governo concluiu a proposta de lei que vai acabar com a exclusividade da Air Macau. O novo regime deve dar entrada na Assembleia Legislativa nas próximas semanas, de acordo com a informação avançada ontem pela TDM-Rádio Macau. O contrato para o serviço público de transporte aéreo de passageiros, bagagem, carga, correio e encomendas postais de e para Macau, foi assinado a 8 de Março de 1995, com validade de 25 anos, contados a partir da entrada em exploração do Aeroporto Internacional de Macau, que aconteceu a 9 de Novembro de 1995. No entanto, a nova legislação vai permitir a liberalização do sector aéreo, uma intenção que esteve para avançar em 2019, como noticiou na altura o HM, mas que acabou adiada devido à pandemia da covid-19. Em 2019, a Autoridade da Aviação Civil informou a Air Macau que ia avançar para a liberalização, mas em Setembro de 2020 optou por prolongar a concessão em regime de monopólio por três anos adicionais. No entanto, o contrato assinado entre o Governo e a companhia detida pela Air China previa que o regime de monopólio podia ser encurtado, se entrasse em vigor um novo regime de exploração concorrencial das actividades concessionadas. Aposta internacional O fim do monopólio do contrato para o serviço público de transporte aéreo de passageiros, bagagem, carga, correio e encomendas postais de e para Macau enquadra-se na nova política de internacionalização do mercado, e nas recentes obras de expansão do aeroporto. Ao longo dos anos, o regime de exclusividade, em vigor desde Novembro de 1995, tem sido apontado como um dos grandes entraves à internacionalização do mercado de aviação em Macau. Em causa está o facto de a Air Macau focar a sua atenção quase exclusivamente no mercado do Interior, sem oferecer aos consumidores grandes alternativas regionais. Também apesar de o contrato autorizar a Air Macau a ceder, total ou parcialmente, os direitos de tráfego, as tentativas feitas de subconcessão com a low-cost Macau Asia Express – fruto de uma joint-venture entre a Air Macau, CNAC (China National Aviation Corporation) e Shun Tak – e com a Golden Dragon Airlines (detida na altura por Stanley Ho) falharam. Ambas perderam a licença de subconcessão sem nunca terem levantado voo. A Viva Macau, declarada falida em 2010, foi pelo mesmo caminho, ao fim de aproximadamente três anos de operações. No entanto a liberalização pode trazer um novo interesse para o sector da aviação em Macau. Por exemplo, em 2019, quando se começou a falar da liberalização, a operadora malaia Air Asia demonstrou interesse no mercado local.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteVasco Wellenkamp, director da Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo: “Sinto-me completamente realizado” Sobe hoje ao palco do Centro Cultural de Macau o espectáculo “Na Substância do Tempo”, da Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo. Eis o mote para uma conversa com o seu director e fundador, Vasco Wellenkamp, um dos mais importantes coreógrafos portugueses da actualidade, que fala sobre a sua carreira e o lugar que a coreografia tem hoje na sua vida, mais ligada ao experimentalismo Foto: D.R. Que expectativas tem quanto à apresentação deste espectáculo em Macau? Há uns anos apresentámos o espectáculo “Amaramália” que teve muito sucesso em Macau e daí resultou o convite mais tarde, quando começou a pandemia. Por questões profissionais e devido a alguns problemas complicados que tivemos na companhia vamos fazer este ano uma outra apresentação com uma boa coreógrafa, Margarida Belo Costa [e não com o projecto feito em parceria com Miguel Ramalho]. Abrimos com um programa dela [Em Redor da Suspensão], seguindo-se um dueto meu [Outono para Graça] e “Requiem”, a peça fulcral da obra, por ser uma homenagem à Sophia. Esta é, aliás, uma versão de uma obra que fiz há uns anos e que percorreu a Europa, com muito sucesso. Ficámos todos muito orgulhosos. Devo dizer que fomos muito bem recebidos, da primeira vez, em Macau. Os chineses estão muito habituados à estética europeia [da dança]. Têm visto muita dança europeia e não tenho nenhuma dúvida de que estamos completamente enquadrados. Essa é a impressão que eu tenho do público, mas o público é sempre uma incógnita, porque é sempre muito vago, não sabemos muito bem que público vamos ter. Mas estou convencido de que vai ser um espectáculo bem recebido. Qual a ideia por detrás de “Na Substância do Tempo”? Esta é uma expressão de um poema de Sophia de Mello Breyner. Mantivemos esse título em homenagem a uma das maiores poetisas portuguesas de todos os tempos. Direi que o “Requiem” foi uma obra muito dançada na Europa, uma primeira versão, e foi feita há muito tempo, nos anos 90. Mas tem sofrido muitas alterações devido a várias questões. E eu sou um coreógrafo que não me importo nada de fazer novas versões, porque tudo depende dos bailarinos que temos. As características dos bailarinos contam muito. Esta obra já foi feita muitas vezes, mas, na verdade, é uma obra nova que teve um sucesso enorme. Estamos numa fase em que trabalhamos com um grupo de bailarinos absolutamente maravilhosos e acho que uma das coisas belas na Companhia é termos gente muito jovem e bonita. São bailarinos formados em escolas portuguesas e esse é outro orgulho que temos de ter. A Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo surgiu em 1997. Que balanço faz do trabalho desenvolvido até aqui? A Companhia fez um percurso absolutamente excepcional e isso deve-se ao seu profissionalismo e à exigência dos bailarinos, que estão ali a dançar cada vez melhor e sempre à procura de melhorar as suas condições estéticas, físicas, de linguagem. Introduzimos, nesta Companhia, a técnica de Martha Graham [com quem Vasco estudou em Nova Iorque], que é muito particular, com os seus códigos, e não era isso que queria fazer na minha carreira, nunca o fiz. Procurei sempre fazer a minha própria linguagem, descobri-la. E descobri. Mas a técnica que usamos na Companhia tem evoluído consoante a evolução da dança no mundo, nem fazia sentido ser de outra maneira. Trabalhamos sempre de forma evolutiva. O que é realmente importante é saber tirar partido dos meus bailarinos e fazer com que eles fiquem bem, apareçam bem em público e estejam no máximo das suas competências. Quando temos uma Companhia clássica ou neoclássica, os bailarinos são escolhidos a dedo para serem todos iguais, onde o sentido colectivo é muito importante. A dança contemporânea é feita por individualidades. Cada bailarino que chega tem de se habituar a trabalhar com o conjunto, pois usamos o mesmo estilo e técnica, mas não posso pedir aos bailarinos que sintam as coisas de maneira igual. Eles sentem à sua maneira, cada um é diferente. Isso é uma riqueza enorme. Além disso, numa obra, a música e a dança têm uma grande irmandade. A música não tem um sentido, um significado. Mas tem um propósito. Claro. É o de tocar as pessoas. Mas a música, ainda assim, diz-nos a todos qualquer coisa que não se pode pôr em palavras. A história da música é muito mais longa do que a história da dança, que tem cerca de 200 anos. A história da música é milenar. Dançamos no silêncio e há coreógrafos que já o fizeram. É interessante, mas não é a minha onda. Já teve obras que correram menos bem? Tenho muito pudor em falar do meu trabalho. Mas nunca fiz uma obra que tenha sido um desastre. Sempre tive o cuidado de apresentar bons bailarinos, para que não se ponham em causa as suas interpretações. Isso permite-me logo uma obra com um grande grau estético e de profissionalismo. Sou muito exigente com os meus bailarinos, mas mais comigo próprio. Mas tive obras de que não gostei, que não estavam no plano que eu queria, que não estavam ao nível deste programa [Na Substância do Tempo] ou do “Amaramália”. Cada vez que surge uma oportunidade de mudar um trabalho do qual não gosto tanto, vingo-me e mudo, seja à primeira, segunda ou terceira vez. Um dos projectos que não precisava de mudar era o “Amaramália”, e mudei-o muitas vezes. Mas deixe-me dizer-lhe que o trabalho que temos feito não é só meu, diz respeito a todos os bailarinos que dançaram comigo. Assim tem sido a nossa vida. Fala sempre dos bailarinos com quem trabalha e do seu trabalho com uma perspectiva colectiva. Grande parte do seu sucesso nasce desta ligação. Pode ter a certeza disso. Dá-me uma alegria enorme. Passo a vida no estúdio a discursar sobre aquilo que eu quero que eles sintam, que pratiquem do ponto de vista de uma relação entre eles. Quando estão em cena são uma unidade, influenciam-se entre si, têm de ter um espírito colectivo no sentido espiritual. Há qualquer coisa de importante na forma como eles se manifestam nos seus trabalhos e é isso que mais me apaixona. Quando vejo os bailarinos que tenho fico apaixonado. Começou a estudar bailado no período do Estado Novo, nos anos 60. Sendo homem, como foi escolher a dança, vista à época como uma coisa de mulheres? Foi uma grande aventura. Fui para a dança porque namorava uma jovem, aos 18 anos, que fazia ballet. Ia ver as aulas dela e a professora convidou-me a dançar com eles. Primeiro disse que não, mas quando via aquelas coisas ficava… nunca tinha visto nada daquilo. Ela viu que eu tinha todas as condições para dizer que sim. Mas eu tinha um dilema: “Gosto, mas será que gosto mesmo?”. Naquela altura já trabalhava, comecei muito cedo, aos 13 anos, tive de ajudar os meus pais que não tinham meios para sustentar três filhos. Nunca tinha visto dança, mas já tinha uma relação com as artes. Fui sempre bom aluno nas disciplinas ligadas à criatividade. Sempre quis ser artista de cinema e de teatro, mas isto [a dança] surgiu na minha vida como um sonho, que realizei por uma circunstância única da vida, e com esse convite que foi a coisa mais importante que tive. Primeiro fiz uns trabalhos, para aprender, e depois comecei a experimentar. A professora foi para uma Companhia, os Bailados Verde Gaio, havia falta de rapazes e chamou-me. Mas depois pensei: “E agora, como é que eu conto aos meus pais? O que é que o meu pai vai pensar de mim?”. Sobre os homens bailarinos havia uma espécie de espada em cima da cabeça, essa atitude. Disse primeiro à minha mãe, que reagiu pessimamente. Pior do que o seu pai? Muito pior. Disse-me: “Vai falar com o teu pai, que não quero ouvir mais falar sobre isso”. Ela queria que eu fosse bancário, mas era a última coisa que eu queria. O meu pai perguntou-me se era isso que eu queria fazer, e para ser o melhor de todos. Foi francamente maravilhoso. Depois fui à tropa, fui para Angola e quando voltei para Portugal regressei aos Verde Gaio, onde trabalhei loucamente para recuperar tudo o que eu tinha perdido. Na tropa não parei, fui fazendo uns exercícios de dança. Consegui manter-me em forma em termos de flexibilidade. Depois fui para o Ballet Gulbenkian, a origem daquilo que foi importante na dança em Portugal. Os Bailados Verde Gaio era algo muito amador. Depois ganhei uma bolsa e fui para a América [Nova Iorque] estudar dança contemporânea, onde estive três anos. Vim para o Conservatório [em Portugal] dar essa disciplina. Depois, em 1997, criei a Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo [com a bailarina Graça Barroso]. Mas devo dizer-lhe que não somos apoiados pela DGArtes [plataforma pública de concessão de subsídios às artes em Portugal]. Isso é algo inexplicável. Fazemos serviço público puro. Que papel tem hoje a coreografia na sua vida? Ainda é o mesmo que era no início da carreira? Não é o mesmo. Sinto que consegui construir [coisas] por mim próprio e manter a mesma linguagem. Posso fazer coisas novas, mas não deixo de ser eu. É sempre algo que tem a ver com aquilo que eu sou. Ninguém consegue fugir aquilo que é, se não é forçado. Não há que forçar nada. Quando vou para o estúdio deixo que as coisas aconteçam por si. Antes ia com toda a matéria na cabeça, mas agora já não consigo fazer isso. Vou para o estúdio, fico em frente dos bailarinos e começo a fazer material, a experimentar coisas que estejam de acordo com o espírito que quero para aquela obra. Sinto-me infeliz, nem é por mim, pois já não há nada que me toque. Estou-me nas tintas para a crítica, para o que dizem ou não. A minha Companhia é invejada e todos acham que somos um pouco antigos. E eu pergunto-me: “Se assim fosse, tínhamos o sucesso que temos?”. Mas fico infeliz porque depois vejo os meus bailarinos a ganhar 400 euros, que só estão comigo porque querem muito e gostam muito de dançar. Ainda pretende desenvolver novos projectos? Neste momento estou numa fase em que não me sinto ainda acabado. Mas já me sinto completamente realizado na vida. A minha carreira foi tão longa que não me deixava mágoa parar nesta altura. Parar é sempre uma coisa difícil nas profissões, mas não me importava de parar. Mas ainda penso nos meus bailarinos. A Companhia está bem dirigida pela Cláudia Sampaio, mas o que conta é continuar a trabalhar com eles. É alimentar artisticamente os bailarinos, que gostam e precisam disso.
Hoje Macau Manchete SociedadeMetro Ligeiro | Recorde de passageiros batido no mês passado Perto de 6.500 passageiros usaram diariamente o Metro Ligeiro durante o mês de Abril. A média diária traduz-se no recorde absoluto dos últimos três anos, desde que o transporte deixou de ser gratuito O Metro Ligeiro de Macau registou, em média, cerca de 6.500 passageiros por dia em Abril, o número mais elevado desde que o meio de transporte começou a cobrar tarifas, em Fevereiro de 2020. De acordo com dados oficiais divulgados pela operadora, a Sociedade do Metro Ligeiro de Macau, a média de passageiros aumentou mais de um terço, em comparação com Março, e quase quadruplicou em relação ao mesmo mês de 2022. O Metro Ligeiro foi inaugurado a 10 de Dezembro de 2019 e esse mês continua a deter o recorde, com uma média diária de 33 mil passageiros, seguido de Janeiro de 2020, com uma média de 16 mil, sendo que em ambos os meses as viagens eram gratuitas. Em Fevereiro de 2020, com o início da cobrança de tarifas e a detecção dos primeiros casos de infecção pelo novo coronavírus em Macau, a média diária de passageiros caiu para 1.100. O Metro Ligeiro voltaria a registar este valor mínimo em Julho de 2022, mês em que a cidade esteve em confinamento durante duas semanas devido a um surto de covid-19. Este meio de transporte opera actualmente apenas uma linha, na ilha da Taipa, com uma extensão de 9,3 quilómetros e 11 estações, com uma frequência de 10 a 15 minutos, durante quase 17 horas diárias. Durante os feriados do 1.º de Maio, um dos picos turísticos da China continental, o operador do Metro Ligeiro aumentou a frequência de circulação das carruagens para intervalos de entre nove e 12 minutos. Com a extensão do Metro Ligeiro, as autoridades preveem que o volume de passageiros atinja 137 mil pessoas por dia, em 2030. A ligação do metro até à Barra, no sul da península de Macau, através do piso inferior da Ponte Sai Van, já começou a ser testada, anunciou no início de Março a Direcção dos Serviços de Obras Públicas. Em Março de 2021, arrancou a construção da linha de Metro Ligeiro entre o território e Hengqin, que vai custar 3,5 mil milhões de patacas, e deverá estar concluída até 2025. Projecções e derrapagens O Governo lançou no final de Outubro os concursos para a concepção e construção da Linha Leste do Metro Ligeiro, que fará a ligação ao norte da península de Macau. As Linhas da Acção Governativa para 2023 prevêem que a construção da Linha Leste do Metro Ligeiro arranque na primeira metade do ano e esteja concluída até ao final de 2028. O Metro Ligeiro, uma das principais obras públicas de Macau desde a transferência da administração de Portugal para a China, em 20 de Dezembro de 1999, sofreu significativas derrapagens financeiras, bem como nos prazos de execução. A primeira linha, prometida durante mais de uma década, custou 10,2 mil milhões de patacas.
João Santos Filipe Manchete SociedadeEnsino Superior | Estudo aponta influências neoliberais e nacionalistas Dois académicos analisaram o desenvolvimento do ensino superior de Macau desde a transferência e identificaram o neoliberalismo e o nacionalismo como as principais linhas orientadoras Desde a transferência que o desenvolvimento do ensino superior no território tem sido orientado pela adopção de políticas neoliberais e nacionalistas. A conclusão faz parte de um estudo da académica Vong Sou Kuan, da Universidade de Macau (UM), e do académico William Yat Wai Lo, da Universidade de Durham (Reino Unido), com o título “Em movimento: a exploração da governação do sistema superior em Macau no período pós-colonial”. No trabalho publicado no mês passado na revista “Discursos: Estudos da Cultura Política da Educação”, os investigadores recorreram ao exemplo da Universidade de Macau para analisarem as mudanças ocorridas nas políticas de ensino superior desde 1999. Na perspectiva apresentada pelos investigadores, a ideologia neoliberal aplicada ao ensino superior tem sido caracterizada por um ambiente em que se promove a competição internacional entre universidades, mas também pela preparação dos alunos para serem competitivos no mercado laboral e criarem oportunidades de mobilidade social. Um dos grandes momentos de mudança sobre a implementação das políticas neoliberais aconteceu em 2006, quando foram aprovados os novos estatutos da UM. Para os investigadores, este momento foi o adeus ao modelo português de gestão do ensino superior, e a adopção do modelo norte-americano, mais virado para a internacionalização, onde o conselho de administração assume mais poderes do que o reitor. Sobre o facto de a instituição ser financiada principalmente com transferências do orçamento da RAEM, em vez do pagamento das propinas pelos alunos, o que na teoria contraria o modelo neoliberal, os investigadores indicam como justificação o rápido crescimento do jogo. “Apesar da ênfase na necessidade de aumentar a competitividade, o Governo da RAEM não introduziu os princípios de mercado e outros mecanismos relacionados no sistema de Ensino Superior durante as ondas reformistas das décadas de 2000 e 2010, porque o rápido crescimento da indústria do jogo fornecia receita fiscal abundante”, foi explicado. No entanto, com a crise económica nascida da pandemia de covid-19, Vong Sou Kuan e William Yat Wai Lo notam que o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, trouxe para o discurso político a necessidade de “mercantilizar” o ensino superior. A referência foi feita pela primeira vez em 2020, no âmbito da apresentação das Linhas de Acção Governativa e na sequência de um aumento das propinas. Discurso nacionalista A par da gestão inspirada pela ideologia neoliberal, os autores notam que o outro princípio orientador do ensino universitário na Era pós-colonial é o nacionalismo e a integração no Interior. Também neste aspecto existe um grande momento-chave para os investigadores, nomeadamente a mudança da Universidade de Macau para a Ilha da Montanha, onde se instalou num campus universitário 20 vezes maior do que o anterior. “O regresso de Macau à soberania chinesa introduziu o nacionalismo como a racionalidade política do Estado, o que levou à formação de um conjunto de políticas e discursos, como a promoção do patriotismo, que balizam os comportamentos dos indivíduos e organizações, assim como as suas aspirações e desejos”, foi indicado. Os autores apontam também que nos últimos anos, com os esforços da “integração nacional” de Macau e Hong Kong, o discurso nacionalista se tem tornado mais frequente, e apontam a necessidade de aposta na Grande Baía como um desses exemplos.