Edifício Ka On Kok | Moradores desalojados devido a desmoronamento

Um deslizamento de terras provocado por uma obra, na quinta-feira, levou à destruição parcial de apartamentos do edifício Ka On Kok, junto ao Centro Hospitalar Conde de São Januário. Não houve mortos nem feridos, mas há vários desalojados. Moradores de prédios adjacentes temem pela segurança

 

Vincent Cheang não ganhou para o susto. Poucos minutos depois de o filho ter saído do quarto para ir ter consigo a uma outra divisão da casa, um deslizamento de terras destruiu o quarto por completo. Tal como ele, outras famílias do edifício Ka On Kok, na Estrada de São Francisco, perto do Centro Hospitalar Conde de São Januário, ficaram com as casas parcialmente destruídas.

Segundo o Governo, uma obra privada terá causado o deslizamento de terras ocorrido junto ao tardoz do prédio. O local do acidente fica ao lado do troço da antiga muralha da cidade, que também ficou parcialmente destruída. Os apartamentos sofrem agora com diversas infiltrações.

A Direcção dos Serviços de Solos e Construção Urbana (DSSCU) efectuou, na quinta e sexta-feira, inspecções no local, incluindo ao estaleiro da obra, tendo concluído que a estrutura do prédio “não apresenta perigo iminente de desmoronamento”.

No entanto, tendo em conta a ocorrência de chuvas intensas nos próximos dias, tanto a DSSCU como a Direcção dos Serviços de Obras Públicas (DSOP) iniciaram “obras urgentes de protecção” e de limpeza do local com a remoção dos pedregulhos.

Em relação à obra em curso, actualmente suspensa, as autoridades apontam que “o projecto de arquitectura foi aprovado dentro da validade da planta de condições urbanísticas e presentemente é ainda válida a licença de obra deste empreendimento”.

Vincent Cheang está neste momento a residir num hotel. Até sábado não havia água e luz nas casas. “Pelo menos agora já posso ir lá lavar a minha roupa. O Governo já nos contactou para discutirmos o que vai acontecer no futuro.

Sei que neste momento é difícil remover todas as pedras do local. Espero que possam resolver a situação rapidamente”, contou ao HM.

A culpa é do centro?

Ontem, os moradores de edifícios adjacentes ao local do acidente realizaram uma conferência de imprensa onde revelaram temer pela sua segurança. É o caso de um morador do rés-do-chão do edifício Kam Lai Kuok, de apelido Ng. “Caso chova muito vou ter infiltrações de água no prédio e em minha casa, pois moro num rés-do-chão. Isto aconteceu também em Outubro quando houve o tufão. Queixei-me aos bombeiros, à Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes e ao Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas. Vieram cá pessoas para fiscalizar, disseram que não havia riscos imediatos, mas depois não houve mais avanços”, adiantou. Ng vai precisar de renovar a casa por completo, uma vez que o soalho é de madeira e apodreceu com a água.

Muitos moradores descrevem que as infiltrações nunca ocorreram antes do arranque das obras de construção do edifício de doenças infecto-contagiosas junto ao hospital público, mesmo com os tufões Hato e Mangkhut. “As infiltrações já nos perturbam há cerca de meio ano e não temos meios para nos queixarmos. Com os danos causados no edifício Ka On Kok, estamos preocupados e queremos que haja medidas preventivas. Chegámos a recrutar um técnico para analisar a origem das infiltrações, que não nos deu certezas, mas que falou da possibilidade de virem da zona montanhosa ao lado. Não podemos fazer nada, porque se a obra é do Governo este é que tem de verificar”, explicou Ng.

Os deputados Song Pek Kei, Nick Lei e José Pereira Coutinho estiveram ontem presentes na conferência de moradores. Ao HM, Coutinho disse já ter recebido pedidos de ajuda de residentes de dois blocos habitacionais adjacentes às obras do centro de doenças infecto-contagiosas.

“Esta questão é bastante urgente e exige cuidados redobrados por parte das autoridades para evitar que as situações se repitam, nomeadamente a fixação de materiais que impeçam o deslizamento de terras e a queda de grandes pedras.”

Coutinho descreve que, neste momento, há sete pedregulhos caídos junto ao edifício Ka On Kok. “Se as águas fizerem deslizar essas pedras, então vamos ter acidentes graves porque a maior parte das fracções voltadas para o local da construção são quartos de crianças. Vejo esta situação com alguma apreensão. Estamos a analisar a que nível iremos interceder”, concluiu.

Segundo a imprensa chinesa, a presidente do Instituto Cultural, Leong Wai Man, prometeu recuperar da parte danificada da antiga muralha, de cerca de 18 metros. Para já, assegurou, a prioridade é garantir a segurança dos moradores.

13 Jun 2022

Covid-19 | Período de quarentena baixa de 14 para dez dias

A partir da meia noite desta quarta-feira o período de quarentena passa de 14 para dez dias, incluindo sete dias de auto-monitorização de saúde. Tal implica ter o código de saúde verde e a realização de testes de despistagem à covid-19

 

O Governo anunciou este sábado que os dias de quarentena obrigatória para quem entra em Macau vindo de Hong Kong, Taiwan e países estrangeiros vão passar dos actuais 14 para dez dias, incluindo o cumprimento de um período de auto-monitorização de saúde, o que significa que a pessoa fica com o código verde, podendo, portanto, entrar em todos os locais do território, mas terá de realizar testes de ácido nucleico no 11.º, 12.º, 14.º, 16.º e 17.º dias após a entrada.

Segundo uma nota de imprensa divulgada pelo Centro de Coordenação e de Contingência do novo coronavírus, esta medida foi adoptada “tendo em conta o curto período de incubação da infecção da estirpe variante Ómicron”, uma vez que “as pessoas infectadas podem ser detectadas através de um teste de ácido nucleico no prazo de sete dias após o contacto com este vírus”.

As autoridades dizem ter tomado esta decisão “após [ser realizada] a análise à experiência recente do interior da China e os dados da RAEM”. O modelo “10+7”, assim descrito pelas autoridades, só pode ser aplicado a pessoas totalmente vacinadas contra a covid-19 e que tenham todos os testes negativos aquando da entrada no território.

O período de auto-monitorização de saúde inicia-se no primeiro dia após a realização da quarentena, sendo que “o dia da entrada em Macau, e até às 6h do dia seguinte, é considerado como dia zero”. Caso não sejam realizados os testes neste período de sete dias, o código de saúde passa então de verde a amarelo. Quem não realizar o teste obrigatório dentro das 24 horas após a data agendada, passa a ter um código vermelho.

Além disso, “as pessoas provenientes de Hong Kong, região de Taiwan ou de países estrangeiros não estão autorizadas a deslocar-se ao Interior da China através da RAEM até que o teste de ácido nucleico no 14.º dia, após a entrada, tenha um resultado negativo”, aponta ainda a mesma nota.

Sete dias em análise

Esta medida foi anunciada dois dias depois da conferência de imprensa semanal do Centro de Coordenação e de Contingência do novo coronavírus, onde as autoridades admitiram estar ainda a estudar a possibilidade de reduzir os dias de quarentena.

“Vamos primeiro reduzir de 14 para dez dias a título experimental e veremos se há a possibilidade de reduzir para sete dias. Estamos a analisar a situação no Interior da China, pois a medida de quarentena de sete dias difere de cidade para cidade”, disse Leong Iek Hou. Nesse dia, foi também anunciada a entrada a todos os trabalhadores não residentes (TNR) estrangeiros, sendo que a partir de hoje podem entrar os TNR com blue card válido, oriundos do Interior da China. Trabalhadores estrangeiros especializados devem candidatar-se ao processo de entrada a partir de 24 de Junho.

Recorde-se que na última semana, o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, avançou com a possibilidade de reduzir a quarentena de 14 dias no período do Verão, sem adiantar uma data concreta.

“Há quatro cidades piloto do Interior da China que, durante cerca de um mês, experimentaram implementar um período de quarentena de 10 dias mais sete [de auto-gestão]. Estamos a continuar o nosso trabalho, pois esta parece ser a tendência. Depois de avaliarmos as nossas medidas (…) iremos tentar que sejam 10 dias mais sete. Esperamos atingir essa meta durante o Verão”, adiantou Ho Iat Seng à TDM-Rádio Macau.

Para Xangai e Mongólia

Desde a 1h de hoje que é obrigatório o cumprimento da quarentena de 14 dias para quem tenha estado em diversos locais das cidades de Erenhot e Chifeng, na Região Autónoma da Mongólia Interior. A medida aplica-se também a quem tenha viajado de vários locais da cidade de Xangai, nomeadamente de diversos complexos residenciais. Quem tenha estado no distrito Fengxian, em Xangai, deverá “estar atento ao seu estado de saúde e ser sujeito a testes de ácido nucleico por iniciativa própria”, no primeiro, quarto e sétimo dia, sendo que o código de saúde ficará verde neste período.

13 Jun 2022

Fundação Macau | Aprovação de apoios com critérios mais apertados

As novas regras apresentadas pelo Conselho Executivo prevêem que o regulamento de apoio financeiro da Fundação Macau seja aprovado pelo Chefe do Executivo. Os mandatos dos cargos superiores terão duração máxima de dois anos

 

Com o objectivo de assegurar o bom uso do erário público, o Conselho Executivo apresentou na sexta-feira um regulamento administrativo que visa alterar os critérios de apreciação e aprovação dos apoios financeiros concedidos pela Fundação Macau.

Entre as principais alterações para “apreciar, autorizar e fiscalizar” os apoios de forma mais “aberta transparente e institucionalizada”, conta-se a obrigatoriedade de a Fundação Macau, à semelhança de outros organismos públicos, ter o seu regulamento de apoio financeiro aprovado por despacho do Chefe do Executivo.

“O modelo anterior já foi experimentado durante 20 anos e, por isso, (…) achamos que este novo modelo consegue padronizar melhor as regras para conceder apoios financeiros e assim vamos tentar ter um ambiente mais aberto e transparente”, detalhou na sexta-feira o presidente da Fundação Macau, Wu Zhiliang.

O novo regime prevê ainda que o prazo dos mandatos dos membros do Conselho de Curadores, Conselho Fiscal e Conselho de Administração da Fundação Macau passem a ser, no máximo, de dois anos. Ao nível das competências, o Conselho de Administração estará a cargo de apreciar e aprovar apoios financeiros de valor não superior a um milhão de patacas, ao passo que pelo Conselho de Curadores passará a aprovação de apoios superiores a um milhão de patacas.

Por último, a alteração dos estatutos da Fundação Macau passa a prever “a transferência dos capitais acumulados da Fundação Macau para os resultados acumulados”, em resposta à “exigência de uma boa gestão administrativa e orçamental”.

“Esperamos aproveitar melhor e de forma racional o erário público. Temos agora programas específicos com regulamentação detalhada (…) sobre as condições dos requerentes, o âmbito da concessão de apoios, documentos necessários, deveres e obrigações dos requerentes. Estamos a implementar este modelo de funcionamento e com este aperfeiçoamento vamos melhorar ainda mais no próximo ano”, disse Wu Zhiliang.

Grão a grão

Durante a conferência de imprensa de sexta-feira, Wu Zhiliang revelou ainda que já foram distribuídos mais de 50 mil vales de 250 patacas a idosos vacinados e que a iniciativa da Fundação Macau tem contribuído para aumentar a taxa de vacinação contra a covid-19 da população idosa.

“Antes desta sensibilização, havia apenas cerca de 64 mil pessoas [com mais de 65 anos] vacinadas e actualmente já foram vacinadas cerca de 68 mil pessoas. Achamos [que a iniciativa] conseguiu produzir o efeito desejado”, referiu em relação ao aumento de 6,25 por cento.

Sobre o facto de algumas associações responsáveis pela distribuição dos vales terem decidido atribuir descontos em cadeias de fast food, Wu Zhiliang admitiu haver críticas na comunicação social e adiantou ter transmitido a preocupação às associações.

“As associações conhecem melhor as necessidades dos idosos e, por isso, não estabelecemos um critério muito rigoroso para a escolha dos estabelecimentos. Até ao momento, não recebemos qualquer queixa, mas há jornais a criticar que dar fast food [comida rápida] a idosos não é bom e, por isso, alertámos as associações. Se calhar esses idosos compram esse tipo de comida para dar aos netos”, acrescentou.

Casa de Portugal | Atribuição de subsídios desbloqueada

A Fundação Macau garantiu que a Casa de Portugal irá receber em breve o apoio financeiro que está em atraso. Na passada sexta-feira, o presidente do organismo, Wu Zhiliang, reconheceu que o impasse na distribuição de verbas tem causado dificuldades às associações e que, no máximo, dentro de um mês a situação da Casa de Portugal estará resolvida.

“A questão da Casa de Portugal já está resolvida. Desde a aprovação pelo Conselho de Curadores em Abril, estamos a contactar gradualmente todas as associações para assinar uma declaração de consentimento para a recepção de apoio financeiro. Após a assinatura dessa declaração, entre, mais ou menos, três e quatro semanas já podemos transferir essa verba. Compreendemos que algumas associações estão a sentir dificuldades com os respectivos orçamentos e podem sofrer problemas até meados do ano, mas a maioria (…) já aceitou as cláusulas e vai receber as verbas”.

13 Jun 2022

10 de Junho | Cônsul enaltece legado português e relativiza saídas

Naquela que terá sido a última celebração do 10 de Junho enquanto cônsul, Paulo Cunha Alves vincou que “Macau é o que é” devido à presença portuguesa e lembrou que “houve sempre momentos” em que a saída da comunidade se fez notar mais. Além disso, considera a permissão de entrada de portugueses um “sinal de carinho” e diz que a comunidade tem mostrado “resiliência e determinação”

 

Por ocasião do dia de Portugal, o Cônsul-geral de Portugal em Macau, Paulo Cunha Alves, reiterou a importância de celebrar o legado português, quer seja “em ambiente de pandemia ou de guerra” e que “Macau é o que é” devido à presença portuguesa. Quanto ao crescente número de portugueses que decidiram abandonar Macau nos últimos anos, o cônsul diz tratar-se de uma “questão temporal”, que começou gradualmente a ser amenizada com a permissão de entrada nacionais no território.

“Durante estes séculos da nossa presença em Macau houve sempre momentos em que a comunidade saiu mais e outros em que saiu menos. Apenas encaro isso como uma questão temporal, que é fruto da conjuntura da pandemia e que tem obrigado as pessoas a tomar decisões sérias e que devem ser (…) assumidas por si”, apontou na sexta-feira, à margem da cerimónia do hastear da bandeira nacional, integrada nas comemorações do 10 de Junho.

“Temos de celebrar Portugal porque, em qualquer circunstância, quer seja em ambiente de pandemia ou de guerra, há sempre que relevar os valores nacionais, a nossa cultura e tradições e lembrar que existimos, estamos presentes em todo o mundo e que somos um povo bastante considerado onde quer que estejamos”, acrescentou.

Confrontado com os cortes financeiros que as associações de matriz portuguesa têm sofrido e a necessidade, vincada há dias pela Presidente da Casa de Portugal, Amélia António, de serem dados “sinais” de apoio à comunidade, Paulo Cunha Alves frisou a importância da presença portuguesa em Macau.

“Os sinais dependem sempre de quem os dá e julgo que essa questão deve ser colocada às autoridades locais, pois saberão certamente julgar o que é importante para manter este ambiente de boa convivência que temos tido ao longo dos últimos quase 500 anos. Macau é o que é hoje, e todos o reconhecem, portugueses e chineses, devido à presença portuguesa aqui. O facto de o centro de Macau ser património da Humanidade, resulta do facto de termos deixado aqui muitas marcas culturais, arquitectónicas, gastronómicas e outras”, apontou.

Para o cônsul, “se toda a gente quiser que Macau continue a ser um local especial e até único na Ásia”, é preciso preservar esse legado no futuro. “Não conheço outra cidade como Macau”, rematou.

Sobre a falta de apoios, o responsável referiu que, apesar de ser um “sinal menos positivo” a limitação é compreensível e as próprias associações devem agora “adaptar-se às circunstâncias e encontrar novas formas de financiamento”. “É preciso que todos nós façamos esse esforço para continuar com a nossa actividade aqui em Macau”.

Resiliência e determinação

Contudo, Paulo Cunha Alves não deixou de saudar o programa de entrada de não-residentes portugueses, que considerou ser “um sinal de carinho”.

“É difícil dizer o que são sinais de carinho. Penso que tem havido medidas bastante positivas nas últimas semanas, como, por exemplo, a criação do projecto-piloto que permite aos portugueses não-residentes na RAEM virem até cá visitar familiares e amigos. Consideraria isso um sinal de carinho”, sublinhou.

Mais tarde, no discurso que dirigiu à comunidade antes do concerto de tributo a Rui Veloso, Paulo Cunha Alves fez questão de sublinhar a “resiliência e determinação” da comunidade portuguesa, perante as restrições impostas desde Fevereiro de 2020.

“A Comunidade portuguesa de Macau tem mostrado a sua resiliência e determinação no combate à pandemia, aceitando sacrifícios e as limitações impostas pelas regras em vigor desde Fevereiro de 2020. Estou certo de que as medidas recentemente anunciadas que permitem a entrada de portugueses não-residentes na RAEM irão ajudar na suavização da distância que sentimos dos nossos familiares e amigos”, disse.

O cônsul apontou ainda que “as relações de Portugal com a China são seculares e isso a Macau o devemos”, esperando que as relações entre Portugal e Macau contribuam para o bem-estar de toda a população, o desenvolvimento do território e a diversificação da economia. Além disso, Paulo Cunha Alves deixou ainda votos para que tanto o turismo como o intercâmbio de estudantes entre Macau e Portugal alcancem novos patamares, à medida que a pandemia de covid-19 abrandar.

“É fundamental que se desenvolva o turismo entre Portugal e Macau e que se desenvolva ainda mais o intercâmbio estudantil. Façamos votos para que o evoluir da pandemia nos permita alcançar estes objectivos e reconquistar a tão desejada normalidade na circulação de pessoas no mais curto prazo possível”, apontou.

Em nome da comunidade

Paulo Cunha Alves admitiu também que o passado dia 10 de Junho, celebrado na sexta-feira, terá sido o “último dia de Portugal” enquanto cônsul em Macau.

“Completo quatro anos aqui em Macau no dia 30 de Setembro e, portanto, julgo que até 31 de Dezembro deverei ser colocado noutro posto. Durante o Verão deverei ter novidades”, explicou.

Quanto às prioridades para o seu sucessor, Paulo Cunha Alves lembra que em seis meses “muita coisa pode acontecer”, mas defende que a aposta terá que continuar a estar virada para a melhoria dos serviços consulares e dá com exemplo a implementação do voto electrónico.

“Penso que a prioridade das prioridades será continuar a zelar pelo bem-estar da comunidade portuguesa aqui em Macau e proporcionar uma melhoria contínua dos serviços consulares, através de novos instrumentos e técnicas. Estou a pensar, por exemplo, na questão do voto electrónico e outras que merecem discussão pelos órgãos competente em Lisboa, nomeadamente a Assembleia da República”, partilhou.

Comunidades Portuguesas | Rita Santos vai a Portugal

A presidente do Conselho Regional da Ásia e da Oceânia das Comunidades Portuguesas, Rita Santos, vai estar em Portugal para participar numa reunião do Conselho Permanente do organismo, onde promete transmitir as preocupações das associações de matriz portuguesa e cidadãos portugueses que estão em Macau.

“No dia 19 de Junho vou a Portugal para uma reunião do Conselho Permanente, com o Ministro dos Negócios Estrangeiros, parlamentares e o Presidente da República”, revelou à margem da cerimónia do hastear da bandeira.

“Vou ouvir as opiniões dos portugueses e contactar individualmente as associações de matriz portuguesa e enviar mails para todos, para saber o que gostariam de transmitir”, acrescentou.

Sobre as comemorações do dia de Portugal, Rita Santos vincou tratar-se de uma data “muito importante para assinalar a presença portuguesa” e mostrar que ainda há “muitos portugueses a residir em Macau”.

A presidente do Conselho Regional da Ásia e da Oceânia das Comunidades Portuguesas apontou ainda o desejo de ver o período de quarentena para quem chega a Macau reduzido para sete dias. Isto, depois de admitir que já foi dado “o primeiro passo” com a redução das quarentenas e a permissão de entrada de cidadãos portugueses.

“Gostaríamos que pudessem reduzir ainda mais a quarentena para sete dias. Isso seria muito importante para que os portugueses possam viajar de e para Macau, porque muitos têm saudades dos pais e alguns decidiram mesmo voltar definitivamente para Portugal por não poderem ficar tanto tempo aqui em Macau”, partilhou.

Amélia António: Comunidade deve ser estimada

A presidente da Casa de Portugal em Macau, Amélia António considera que, numa altura em que muitos portugueses deixaram o território, a comunidade portuguesa tem de estar unida e “mostrar a sua cara”, para que seja estimada pelo seu valor. “A comunidade tem de estar presente, unida e mostra a sua cara, mostrar que está cá, para que ninguém esqueça que esta comunidade tem muito valor para a RAEM e que deve ser estimada”, disse à margem da cerimónia do hastear da bandeira.

Sales Marques: “É fundamental continuar a celebrar”

O presidente do Conselho das Comunidades Macaenses, José Luís Sales Marques considera ser “fundamental” continuar a celebrar “sempre” o dia de Portugal em Macau, independentemente das restrições inerentes à pandemia de covid-19. “É um acto solene e muito simbólico. Acho que é fundamental continuar sempre [a celebrar], não obstante das circunstâncias que possam existir nomeadamente ao nível das restrições”, começou por dizer, lembrando que o dia de Portugal “existe em todo o mundo onde existem comunidades portuguesas” e que continuou a ser assinalado mesmo depois da transferência de soberania.

Sales Marques sublinhou ainda que a saída de “muitos portugueses” do território, prende-se não só com as restrições pandémicas, mas também com as “dificuldades económicas” potenciadas pela “situação frágil da economia de Macau”. Ainda assim, o responsável acredita que “a comunidade que está cá está viva e continua bem”.

13 Jun 2022

Covid-19 | Governo abre portas a TNR de todas as nacionalidades 

A partir de segunda-feira, os trabalhadores não-residentes com blue card válido estão autorizados a entrar para Macau, enquanto que quem tem autorizações de trabalho pode candidatar-se ao processo de entrada a partir de 24 de Junho

 

O Governo decidiu levantar algumas restrições de entrada no território, permitindo a vinda de trabalhadores não-residentes de todas as nacionalidades. Foram ontem anunciadas regras para três grupos de trabalhadores, sendo que já a partir da meia-noite de segunda-feira será permitida a entrada de trabalhadores não-residentes (TNR) com um blue card válido, sem necessidade de requerimento prévio emitido pelos Serviços de Saúde (SSM).

Em relação aos TNR especializados com autorização de trabalho emitida pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) e Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), bem como quem tenha autorização especial de permanência, podem candidatar-se ao processo de entrada a partir de 24 de Junho. As regras completas serão publicadas no dia 17 de Junho pelas autoridades.

Cabe às entidades empregadoras de TNR especializados fazer o pedido de requerimento aos SSM, enquanto os próprios trabalhadores devem tratar do processo para os familiares.

As autoridades sublinharam que é obrigatória a vacinação contra a covid-19 para quem entra em Macau, sendo que os empregadores devem assumir o pagamento da quarentena caso os TNR não tenham condições económicas para o fazer. Na conferência de imprensa de ontem do Centro de Coordenação e de Contingência, foi ainda referido que os cidadãos do Nepal, Sri Lanka, Bangladesh, Nigéria e Paquistão devem requerer um visto junto da embaixada ou consulado da China antes de entrarem em Macau pela primeira vez.

Recorde-se que desde 27 de Maio é possível a entrada de portugueses não-residentes e que, até à data, foram recebidos 54 pedidos, estando todos em processo de análise. Em relação à vinda de trabalhadores domésticos, o Governo recebeu 100 pedidos e aceitou 55. Apenas cinco requerimentos foram cancelados a pedido do empregador.

Redução em análise

Em relação à redução do período de quarentena, Leong Iek Hou deu eco às palavras de Ho Iat Seng, mas não adiantou datas concretas. “Vamos primeiro reduzir de 14 para dez dias a título experimental e veremos se há a possibilidade de reduzir para sete dias. Estamos a analisar a situação no Interior da China, pois a medida de quarentena de sete dias difere de cidade para cidade.

Há pessoas que precisam de ficar em casa e outras que saem no período de auto-gestão de saúde”, adiantou Leong Iek Hou, médica e coordenadora do centro. As autoridades anunciaram também o encerramento, a partir de segunda-feira, do centro de vacinação de Mong-Há.

10 Jun 2022

Emprego | Deputado ligado aos Operários pede que residentes baixem as expectativas

Lei Chan U deixou ontem um aviso aos residentes: ou baixam as expectativas ou ficam sem emprego. Esta é a nova realidade, que, para o deputado, resulta em grande parte do “ajustamento” da indústria do jogo, que vai para além da pandemia. Já Che Sai Wang, recusa que os residentes tenham expectativas elevadas, e fala num mercado difícil até para os mais qualificados

 

Lei Chan U, deputado dos Operários, considera que os residentes têm de baixar as expectativas e aceitar os empregos disponíveis. Num discurso em que fez eco das palavras do Governo, o legislador pró-laboral apelou aos residentes para tomarem uma atitude “pragmática” e aceitarem a realidade, que é afectada não só pela pandemia, mas pelo “ajuste do sector do jogo”.

“Há dias, a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais reconheceu que muitos trabalhadores do sector do jogo têm dificuldade na colocação profissional e a razão principal é faltar vagas”, começou por afirmar Lei Chan U.

“Assim, é de salientar, mais uma vez, que, perante o duplo impacto resultante da pandemia e do ajustamento profundo do sector do jogo, se os trabalhadores continuarem com grandes expectativas de emprego e falta de flexibilidade na sua procura, vão estar numa posição social fraca, sob a realidade em que a procura de trabalho é maior do que a oferta”, acrescentou.

Lei Chan U deixou ainda um recado para os residentes e avisou-os que está na altura de aceitarem os empregos disponíveis, antes de pensarem na carreira: “Espero que os residentes à procura de emprego ou desempregados, tendo em conta as condições e a realidade social, da actual situação do mercado laboral, ajustem a sua atitude e mentalidade, e adoptem a estratégia de ‘primeiro, ter um emprego e, depois, fazer escolhas entre os empregos disponíveis’, ou ‘primeiro, acumular experiência e, depois, escolher o rumo de desenvolvimento profissional’”, apelou.

O deputado, eleito pela via indirecta, pediu ainda na intervenção antes da ordem do dia aos residentes que adoptem esta atitude para contribuírem para o esforço comum de combate à pandemia.

Mais alternativas

Se Lei Chan U pediu aos residentes para baixarem as expectativas, num polo oposto, Che Sai Wang apelou ao Governo para arranjar soluções para os quadros qualificados recém-licenciados.

Segundo o deputado ligado à Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), os residentes não têm medo de trabalhar, e até aceitam empregos que não correspondem à área da formação. Para Che, o problema é outro: “Devido ao impacto da pandemia, a economia está em baixa, por isso muitos recém-licenciados estão desempregados, e depois optam por trabalhar na entrega de comida ou em lojas que vendem refrigerantes de chá, empregos que não correspondem à sua formação”, apontou.

Também muitas vezes os residentes não são vistos como qualificados para as posições disponíveis, por falta de experiência. “Muitos estudantes inscreveram-se no ‘dia aberto da feira de emprego’ organizado pela DSAL, mas os postos de trabalho disponíveis eram apenas para lavagem de loiça e segurança, não correspondendo aos cursos de formação da sua graduação. Mais, a maior parte destes postos exige dois a três anos de prática profissional e esta exigência dificulta a vida das pessoas que não têm experiência de trabalho”, justificou.

Os não-residentes

Também na bancada da ATFPM, José Pereira Coutinho indicou que a falta de empregos para os residentes locais está relacionada com a importação de trabalhadores não-residentes, que aceitam condições laborais inferiores às dos residentes.

“As principais razões, de termos ainda 167.738 trabalhadores não residentes na RAEM deriva da tolerância do Governo em autorizar de forma ‘desnorteada’ a importação de mão-de-obra barata e não qualificada. Muitos destes trabalhadores de segunda classe são explorados nos seus direitos e regalias, como acontece todos os dias, com o não pagamento de horas extraordinárias”, afirmou Coutinho.

O deputado defendeu também que existem vários trabalhos não-qualificados em mercados como o do imobiliário, banca, seguradoras e financeiro que podiam ser ocupados por residentes. “Porque é que os jovens e os desempregados não têm capacidade de ocupar as cerca de 15 mil vagas ocupadas pelos trabalhadores não residentes e não especializados que trabalham no ramo imobiliário?”, questionou. “A razão é simples. Os trabalhadores não residentes têm de ser mais obedientes e não se atrevem a reclamar dos seus direitos, caso contrário serão de imediato despedidos e recambiados para os seus locais de origem”, respondeu.

Uma visão contrária foi apresentada por Ip Sio Kai, deputado eleito pela via indirecta, que fala de uma situação em que as empresas não podem contratar não-residentes, mas também não conseguem contratar residentes. “Segundo os dados, até ao final de Abril de 2022, o número de trabalhadores não residentes diminuiu cerca de 30 mil, em comparação com o final de Dezembro de 2019, mas o desemprego local não melhorou muito, o que demonstra que não existe uma relação de complemento entre os postos de trabalho libertados pelos não residentes e os postos de trabalho pretendidos pelos residentes”, argumentou.

“As necessidades de mão-de-obra das empresas locais são diferentes das intenções dos candidatos locais, o que resulta numa situação de ‘haver pessoas sem emprego e postos de trabalho sem candidatos’, e a mão-de-obra não se forma nem pode melhorar dum dia para o outro através de políticas”, completou.

10 Jun 2022

Aprovadas medidas contra cigarros electrónicos. Pedida proibição total do tabaco

A Assembleia Legislativa aprovou ontem na generalidade e por unanimidade a revisão à lei do tabaco, para proibir o fabrico, distribuição, venda, importações e entrada no território de cigarros electrónicos, assim como de outros produtos de tabaco consumidos de forma oral. No entanto, entre os deputados houve pedidos para que se vá mais longe. Ip Sio Kai, ligado ao sector bancário, pediu que o consumo do tabaco seja totalmente proibido. E não foi o único.

Quando apresentou a proposta de revisão à lei, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, alegou que as alterações visam combater a popularidade dos cigarros electrónicos entre os jovens dos 13 aos 15 anos, faixa etária que registou um aumento de 1,4 por cento no consumo, de 2015 para 2021.

Mas houve deputados que não se mostraram satisfeitos com as alterações. Ip Sio Kei considerou que todo o tabaco devia ser proibido no território, com multas para os fumadores. “Eu não percebo, porque é que não proibimos todo o consumo de tabaco?”, questionou. “Era muito mais simples que estas medidas todas. Aliás, como o consumo não é sancionado, acho que não vai ser possível alcançar os objectivos das alterações à lei”, afirmou.

Ip mostrou-se ainda preocupado com o que diz ser uma nova tendência, em que os mais jovens consideram que têm um ar “cool”, quando fumam cigarros electrónicos. “Eu não sei fumar, mas parece que as pessoas acham que é muito estiloso fumar”, atirou.

Passo a passo

Também Leong Sun Iok considera que o Governo deve ter poderes para controlar os fumadores, com multas, se necessário. “Não podemos afastar o cenário das pessoas recorrerem a meios ilícitos para obterem cigarros electrónicos, por isso, o uso também devia ser ilegal”, argumentou Leong. “Actualmente, o Governo não pode sancionar uma pessoa que fuma cigarros electrónicos, mas esse poder devia estar nesta proposta”, defendeu.

Contudo, a secretária defendeu que o trabalho de combate ao tabaco vai ser feito progressivamente. “Em relação à proibição de fumar, temos o objectivo de fazer os trabalhos de forma gradual. A nossa experiência mostra-nos que esta forma de trabalho é eficaz”, justificou. “Os nossos dados mostram-nos que há menos pessoas a fumar, mas entre os jovens o consumo aumentou, e isso faz com que apresentamos estas alterações à proposta vigente”, explicou.

Elsie Ao Ieong U defendeu ainda que é preciso “dar tempo” para que as pessoas possam “passo a passo” deixar de fumar. A secretária destacou também que a aposta vai passar por acções de campanha a explicar os malefícios do tabaco.

10 Jun 2022

Censos 2021 | Mais residentes têm curso superior, mas mercado não absorve graduados 

Numa década, o número de residentes com curso superior mais que duplicou. A maior parte opta por licenciaturas em ciências empresariais, línguas e turismo. Entre 2011 e 2021, quase metade dos diplomas foram obtidos nas universidades locais. Analistas ouvidos pelo HM assumem que o mercado laboral não consegue absorver todos os licenciados

 

Em dez anos, a fatia da população com curso superior quase duplicou, segundo os resultados dos Censos 2021, que traçam o retrato de um período marcado não apenas pelo investimento público no ensino superior, aponta o relatório. “A tendência para a formação contínua foi impulsionada pelo aumento da procura de quadros qualificados, que se deve ao desenvolvimento económico”, lê-se.

Da população com mais de 15 anos, num total de 583.089 pessoas, 175.956, ou seja, 30,2 por cento, tinha curso superior, quando esse valor era em 2011 de apenas 18,1 por cento, o que constitui um aumento de 99,9 por cento.

Relativamente aos locais, deu-se um aumento de 97,9 por cento do número de residentes com formação superior, sendo que as maiores proporções se registam nas pessoas com idades compreendidas entre 25 e 29 anos e dos 30 aos 34 anos, com percentagens de 72,2 e 61 por cento.

A grande escolha dos residentes recai na licenciatura, que representa 69,8 por cento, enquanto que apenas 14,7 dos residentes tem mestrado e 1,6 por cento doutoramento. Relativamente às áreas de ensino, os cursos de “ciências empresariais e administração” são os mais procurados, com uma fatia de 30,5 por cento, enquanto os cursos de “humanidades e línguas” representam nove por cento. Seguem-se os cursos de “turismo, hotelaria e serviços de catering”, com 8,4 por cento.

Apesar de muitos locais optarem por estudar no estrangeiro, a verdade é que a procura por cursos em Macau aumentou, com 44,2 por cento dos diplomas a serem obtidos no território. Segue-se o Interior da China com 29,5 por cento, Taiwan com 10,5 por cento e Hong Kong com 2,8 por cento. Portugal representa apenas 1,3 por cento dos destinos para frequentar o ensino superior.

Ainda no sector educativo, os Censos mostram que “com a elevação do nível de escolaridade da população, 29 por cento dos trabalhadores detinham cargos de ‘directores e dirigentes administrativos’, ‘especialistas das profissões intelectuais e científicas’ e ‘técnicos e profissionais de nível intermédio’”, um aumento de 6,2 por cento face a 2011.

Estes trabalhadores mais qualificados eram, no total, 10.5432, sendo que 73,8 por cento tinha estudado no ensino superior.

E encontrar emprego?

Para Agnes Lam, académica e ex-deputada, estes dados são “um bom sinal” e reflectem “o investimento que tem sido feito pelo Governo no que diz respeito à escolaridade gratuita e concessão de bolsas”. No entanto, acredita que, com o actual cenário de crise económica, “o mercado não consegue absorver todas as pessoas”.

“Deveria haver um mecanismo para ajudar licenciados a iniciarem os seus próprios negócios em determinadas áreas, e não apenas a abrirem cafés. Há pequenos negócios que podem ser criados, mas serão precisos mais dez anos para vermos algum desenvolvimento [a este nível]. Deveríamos apostar também na educação profissional. Não podemos ter os mesmos empregos que tínhamos nos anos 90 e as pessoas também têm de encarar essa realidade”, admitiu.

Rui Martins, vice-reitor da Universidade de Macau (UM), interpreta os dados demográficos do ensino como o reflexo do investimento público e privado no ensino superior. “A nível de licenciatura creio que grande parte dos alunos são de Macau, mas ao nível de mestrado e doutoramento este panorama inverte-se um bocado”, disse.

Antes da pandemia, 30 por cento dos graduados da UM encontravam emprego assim que terminavam o curso, mas o cenário mudou um pouco. “Estamos numa situação de crise devido à pandemia e isso afecta grandemente a economia dos casinos. Estes têm, à sua volta, uma série de empresas e indústrias que permitem a criação de muitos empregos. Até 2019/2020, costumava dizer que bastava a um aluno de Macau entrar na UM para ter emprego. Mas a economia está a abrandar e os licenciados começam a ter mais dificuldades em encontrar emprego.”

No entanto, Rui Martins acredita que, levantadas as restrições pandémicas e com mais visitantes, a situação laboral “entrará no ritmo normal que tínhamos”.

Por sua vez, Carlos Noronha, docente da UM, destaca o “grande encorajamento para que os residentes trabalhem em Hengqin”, embora haja ainda poucas vagas no contexto dos projectos de cooperação existentes.

“Temos de esperar mais um tempo porque a economia está a ser muito afectada pelas restrições. Como se pode atrair os jovens a trabalhar em Hengqin? Por exemplo, na Grande Baía, existe um sistema jurídico diferente e estas coisas têm de ser resolvidas.”

Carlos Noronha entende, contudo, que existe “receio de ir trabalhar para outros locais”, pois em Macau “os jovens são muito protegidos e talvez queiram manter-se por perto ou mesmo “procurar emprego em Hong Kong”.

“Não há emprego se a porta para a internacionalização continuar fechada. [Seria importante] enviar estudantes universitários para o estrangeiro para absorverem mais conhecimentos e deixá-los regressar a Macau ou para Hengqin para transferir ferramentas e capacidades. Macau vai conhecer um retrocesso se continuar desta forma”, rematou o docente da UM.

Tudo para Coloane

Coloane registou, em dez anos, um aumento de moradores de 753,7 por cento, e uma subida vertiginosa de 900 por cento no número de habitações. Por sua vez, a Ilha Verde teve um aumento de 143,9 por cento, devido à construção “de edifícios novos e empreendimentos habitacionais públicos de grande envergadura”. Entre 2011 e 2021 registou-se uma quebra de 6,8 por cento no número de pessoas a viver na península, enquanto que a proporção a residir na Taipa aumentou 16,4 por cento.

Os mais velhos residem sobretudo em zonas como a Praia Grande e Penha, numa proporção de 18,4 por cento, e avenida Conselheiro Ferreira de Almeida, com 17,1 por cento. Em termos de dimensão do território, Macau tinha em 2021 mais 3,14 quilómetros quadrados, sendo que na baixa da Taipa residem 75.689 pessoas, 11,1 por cento da população total. Na zona da Areia Preta reside 10,4 por cento.

TNR no activo

Entre 2011 e 2021, deu-se um aumento de 8,8 por cento das pessoas em idade de trabalhar “em consequência dos incrementos de imigrantes e de trabalhadores não-residentes”. A população activa feminina cresceu 14,6 por cento, sendo superior à masculina em 3,3 por cento. Em termos gerais, Macau a população activa no ano passado era de 377.071 pessoas. A população empregada global era, em Agosto de 2021, composta por 364.043 pessoas, mais 7,8 por cento em relação há dez anos atrás.

Sectores como o do jogo, inserido nas “actividades culturais e recreativas, lotarias e outros serviços”, comércio por grosso e retalho, hotelaria e restauração tinham 48 por cento da população empregada global, uma quebra de 4,1 por cento em relação a 2011. A área do “trabalho doméstico” tinha, em 2021, mais cinco por cento de pessoas empregadas, num total de 30.242 pessoas, em relação a 2011. No ano passado havia também mais pessoas empregadas nos sectores da educação (5,4 por cento), saúde e acção social (4,3 por cento) e actividades financeiras (3,9 por cento).

Salários em alta

A mediana do rendimento dos trabalhadores de Macau subiu 5.600 patacas em dez anos, situando-se, em Agosto do ano passado, em 15.600 patacas. Os funcionários públicos apresentam a mediana de rendimento mensal mais elevada, com 40.000 patacas, seguindo-se os sectores da “educação”, com uma mediana de 27.000 patacas, e “produção e distribuição de electricidade, gás e água”, com 25.500 patacas.

Idosos em casa

A população idosa mais que duplicou, com um aumento de 107,2 por cento em relação a 2011. Os idosos representavam no ano passado 12,1 por cento da população, mais 4,9 por cento face a 2011, sendo que mais de metade dos dependentes, 63,7 por cento, vivem em casas de família, enquanto que 34,5 por cento estão em lares.

Ainda assim, 95,5 por cento dos idosos com 60 ou mais anos afirma ter capacidade para levar uma vida autónoma.

A solidão na terceira idade é cada vez mais comum, uma vez que, em dez anos, houve um aumento de 80,3 por cento de idosos a morar sozinhos. Francisco Manhão, presidente da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC), considera que, em termos gerais, os mais velhos têm uma boa vida em Macau, sendo importante o regresso da injecção das sete mil patacas anuais nas contas individuais de previdência. Isto porque o Governo “deveria partilhar mais a sua riqueza com os residentes, em particular com os da terceira idade”. Além disso, Francisco Manhão defende a criação “de uma cidade satélite” para albergar os idosos.

Rendas mais caras

Olhando para o contexto da habitação privada arrendada, os Censos mostram que em Agosto do ano passado as zonas do Pac On e Taipa Grande são as que têm a renda média mensal mais elevada, no valor de 16.300 patacas. Pelo contrário, viver nas zonas do Patane e São Paulo era mais barato, com uma renda média mensal de 5.500 patacas. A renda média mensal das casas paga por agregado familiar atingiu, em 2021, o valor de 8.700 patacas.

Português menos falado

Em matéria de domínio de línguas, os Censos revelam que, em dez anos, houve uma ligeira descida de 0,1 por cento das pessoas que falam fluentemente português, representando apenas uma fatia de 2,3 por cento. Entre 2011 e 2021, Macau passou a ter mais pessoas a dominar o inglês, um aumento de 1,3 por cento, representando uma proporção de 3,6 por cento. Tal deve-se “ao crescimento da população imigrante oriunda de outros países ou territórios”. Em termos de domínio geral de línguas, 86,2 por cento da população usava o cantonense como meio de comunicação, enquanto que 45 por cento falava mandarim, menos 3,8 por cento e mais 3,6 por cento, respectivamente.

10 Jun 2022

Chuva | Inundações e aulas canceladas após sete horas de sinal vermelho

Inundações nas zonas baixas, autocarros e parques de estacionamento alagados e o cancelamento das aulas marcaram grande parte do dia de ontem. Sinal vermelho de chuva intensa esteve em vigor durante quase sete horas. Encarregados de educação defendem que suspensão das aulas devia ter acontecido logo de manhã. Mau tempo vai continuar

 

Ao fim de praticamente de sete horas em que o sinal vermelho de chuva intensa esteve em vigor, Macau registou ontem várias inundações nas zonas baixas da cidade, provocando fortes constrangimentos à circulação e levando mesmo ao cancelamento das aulas durante tarde. Além disso, através de vários vídeos publicados nas redes sociais foi possível ver autocarros alagados, parques de estacionamento inundados e estradas submersas, com especial incidência nas zonas da Taipa e no Porto Interior.

Num desses vídeos, divulgados pelos canais online do jornal Ou Mun, é possível observar uma intensa enxurrada de água a correr ao longo da Calçada de São Paulo, localizada junto às Ruínas de São Paulo. Noutro vídeo, utentes de um parque de estacionamento subterrâneo deslocam-se com água pelas canelas ao longo do piso submerso do recinto.

De acordo com dados da Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG), até às 16h00 de ontem choveu o equivalente a 234,8 litros por metro quadrado na zona da Taipa, 184,4 litros por metro quadrado em Coloane e 182,8 litros por metro quadrado na península de Macau. Isto, quando até ao meio-dia já tinha caído o equivalente a 120 litros por metro quadrado de chuva na península de Macau, 140 na Taipa e 110 em Coloane.

Segundo o canal chinês da TDM-Rádio Macau, no Porto Interior, o efeito da chuva intensa que caiu durante toda a manhã e ao início da tarde era notório. Por volta do meio-dia, na Rua do Almirante Sérgio, era impossível andar sem que os pés estivessem debaixo de água. Comerciantes ouvidos pela emissora pública deram nota que, apesar da intensidade da chuva, a água não alagou o interior dos estabelecimentos.

No entanto, o registo ficou longe de ombrear com o recorde de chuva por dia alcançado sensivelmente há um ano no dia 1 de Junho. Na altura, a precipitação diária registada pela estação da Fortaleza do Monte chegou aos 408,8 litros de água, num dia que ficou marcado pela emissão do sinal preto de chuva intensa e mais de 30 casos de cheias.

O sinal vermelho de chuva intensa foi accionado às 9h15 juntamente com o de trovoada, acabando por ser cancelado às 16h05. Por volta das 13h00, a Direcção Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) emitiram uma nota a anunciar a suspensão do ensino secundário, primário, infantil e educação especial durante a tarde. No mesmo comunicado, a DSEDJ avisou os estabelecimentos de ensino para permanecer de portas abertas e assegurar pessoal para prestar apoio aos alunos até ao seu regresso a casa.

Tarde de mais

Após o anúncio da suspensão das aulas, vários encarregados de educação voltaram às escolas onde tinham deixado os filhos durante a manhã para os levar de volta a casa.

Segundo o canal chinês da TDM-Rádio Macau, os pais dos estudantes lamentaram que a DSEDJ apenas tenha suspendido as aulas da parte da tarde, defendendo que a decisão devia ter sido tomada logo ao início do dia. Isto, quando de manhã, a chuva já tinha deixado muitos alunos “encharcados”.

Devido à instabilidade do tempo e a continuação da ocorrência de chuvas intensas e trovoada nos próximos dias, a Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico (DSEDT) e o Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia (CPTT) emitiram uma nota onde alertam as empresas e lojas localizadas nas zonas baixas de Macau para tomar medidas preventivas contra as inundações.

Segundo os SMG, hoje e amanhã Macau “continuará a ser afectada por aguaceiros e trovoadas (…) fortes”, que podem provocar “inundações severas” e “deslizamentos de terra”. O organismo alerta ainda para o facto de a “aleatoriedade” da chuva e o reduzido tamanho de Macau, tornar impossível prever “com precisão” a hora, localização a intensidade das áreas de chuva.

9 Jun 2022

Hengqin | Trabalhadores com subsídios cortados e sem meio para fazer queixa

A Macau Investimento e Desenvolvimento, empresa de capitais públicos da RAEM que opera na Hengqin, cortou o “subsídio regional” sem qualquer explicação. Os trabalhadores não sabem a quem devem apresentar queixa

 

Vários trabalhadores de Macau do Parque de Medicina Tradicional Chinesa, investimento público da RAEM na Ilha da Montanha, viram um “subsídio regional” de 1.000 renminbis cortado, sem qualquer justificação, e não conseguem fazer queixa. Em causa está o facto de os trabalhadores não quererem ser identificados, e, ao contrário do que acontece em Macau, as autoridades do Interior não investigarem queixas laborais anónimas.

O caso foi revelado por trabalhadores afectados que telefonaram para o programa Fórum Macau, do canal chinês da Rádio Macau. Na sequência, o jornal All About Macau tentou perceber os mecanismos de protecção laboral dos trabalhadores locais empregados em Hengqin, que resultou num pingue pongue entre o secretário da Economia e Finanças e as duas empresas com capitais da RAEM, a Macau Investimento e Desenvolvimento e a Guangdong-Macau Tecnologia da Medicina Tradicional Chinesa Desenvolvimento do Parque Indústria. No final, não foi obtida nenhuma resposta esclarecedora.

Na primeira troca de correspondência, Lei Wai Nong remeteu explicações para a Macau Investimento e Desenvolvimento e para a subsidiária Guangdong-Macau Tecnologia da Medicina Tradicional Chinesa Desenvolvimento do Parque Indústria.

Por sua vez, a Macau Investimento e Desenvolvimento não confirmou a existência de cortes, mas também não desmentiu. A empresa limitou-se a agradecer ao jornal a “a atenção prestada ao parque industrial”, além de afirmar que lida com todos os assuntos “de acordo com as legislações locais”.

Silêncio ensurdecedor

Não é a primeira vez que queixas laborais entre as duas jurisdições causam polémica. Anteriormente, um funcionário da Macau Investimento e Desenvolvimento na Ilha da Montanha apresentou uma queixa na Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), depois de lhe ter sido recusado várias vezes um pedido para tirar seis dias seguidos de férias. Contudo, a DSAL recusou a queixa, por entender que o assunto compete às autoridades do Interior.

O All About Macau tentou também apurar os mecanismos laborais que existem no Interior para lidar com disputas que implicam os trabalhadores da RAEM. Esta é uma preocupação crescente, uma vez que cada vez mais o Governo incentiva residentes a procurar emprego no Interior, nomeadamente na Grande Baía.

Contudo, como aconteceu com a questão dos cortes de subsídios, tanto o secretário para a Economia e Finanças como a empresa Macau Investimento e Desenvolvimento ignoraram as perguntas colocadas.

Outra pergunta que Lei Wai Nong e a Macau Investimento e Desenvolvimento também ignoraram foi sobre o número de trabalhadores locais no Parque de Medicina Tradicional Chinesa. No entanto, o jornal indica que o número deverá rondar 10 trabalhadores, com os restantes a serem do Interior.

Cortes de Natal

Segundo os trabalhadores citados pelo All About Macau, a Macau Investimento e Desenvolvimento começou a pagar o “subsídio regional” de 1.000 renminbis aos funcionários de Macau em Agosto do ano passado. Contudo, o pagamento foi suspenso em Dezembro, sem qualquer explicação dada aos trabalhadores. Na sequência, os administradores da empresa foram confrontados, mas o grupo presidido por Lu Hong apenas respondeu que “a redução do salário foi feita de acordo com os procedimentos legais”.

O “subsídio regional” foi criado no ano passado para fazer frente a “uma onda de demissões” de residentes de Macau no parque e também para a empresa cumprir a “responsabilidade social de diversificar a economia” da RAEM.

9 Jun 2022

Farol da Guia | Defendida redução da altura do edifício da Calçada do Gaio

Proposta do Governo de permitir que o edifício na Calçada do Gaio mantenha os actuais 82,32 metros não convence o Grupo para a Salvaguarda do Farol, nem o ex-deputado Sulu Sou

 

O Grupo para a Salvaguarda do Farol da Guia está contra a decisão do Governo de permitir que o edifício na Calçada do Gaio seja concluído com a altura actual, de 82,32 metros. A solução, para um problema que vem de longe, foi anunciada na terça-feira, durante uma reunião do Conselho do Património Cultural, mas ainda está dependente das decisões dos departamentos relevantes.

Apesar de manter o tamanho actual, segundo a presidente do Instituto Cultural, o edifício vai utilizar materiais transparentes, como vidro, no topo da infra-estrutura, no que foi justificado como uma forma de reduzir o impacto visual.

No entanto, as duas sugestões não convencem o Grupo para a Salvaguarda do Farol da Guia, que, através de um comunicado, aponta que a melhor solução passa por reduzir a altura do edifício para 52,5 metros.

A associação explicou também que a UNESCO tinha pedido para que “o desenho e a construção dos andares superiores fosse feita com materiais menos volumosos e mais transparentes para reduzir o impacto ambiental”.

Contudo, para o Grupo para a Salvaguarda do Farol da Guia a proposta não cumpre com o que tinha sido requisitado. “Não percebemos como é que o actual desenho do edifício pode satisfazer as exigências da UNESCO”, argumentam.

Por estes dois motivos, o grupo insiste na demolição dos andares superiores para que a altura se mantenha nos 52,5 metros e não bloqueie o corredor visual para o farol.

Solução desadequada

Também o ex-deputado Sulu Sou, que fez da questão do Farol da Guia um dos principais temas da sua agenda, mostrou desagrado com a solução encontrada.

Através das redes sociais, Sulu Sou recordou que em 2016 a UNESCO deixou muito claro que não concordava com a construção em altura do edifício, porque teria um impacto irreversível para o corredor visual para o Farol da Guia.

Contudo, agora o Governo diz que a solução encontrada cumpre os requisitos da UNESCO. Para o ex-deputado e vice-presidente da Associação Novo Macau, a postura do Executivo foi de atrasar ao máximo a resolução do problema, e adoptar uma solução que não se adequa à realidade actual, de 2022, muito diferente da vivida em 2008.

Em 2006, quando foi aprovada a licença de construção, surgiu um plano para que o edifício tivesse mais de 120 metros. Foi devido à altura do prédio e à necessidade de proteger o corredor visual que as obras estão suspensas desde 2008.

9 Jun 2022

Governo vai apresentar orçamento rectificativo

O orçamento da RAEM para 2022 será rectificado para disponibilizar recursos financeiros adequados à despesa pública, afirmou ontem o secretário para a Economia e Finanças. Para já, a estimativa das receitas do jogo para este ano não será revista, apesar de Lei Wai Nong referir que as previsões acabam por ser diferentes dos resultados concretos

 

O secretário para a Economia e Finanças revelou ontem que o orçamento da RAEM será revisto para cobrir a despesa pública mediante a injecção de recursos financeiros adicionais. Lei Wai Nong revelou o plano de revisão orçamental à margem da cerimónia de abertura da “4.ª Competição de Aptidão Profissional das empresas de turismo e lazer de Macau, 2022”, que se realizou ontem no MGM Cotai. O governante acrescentou que o Executivo está a preparar a proposta de lei para apresentar à Assembleia Legislativa, de acordo com o canal chinês da TDM.

Recorde-se que no ano passado o Governo viu-se forçado a rectificar o orçamento três vezes, recorrendo a processo legislativo de urgência.

Também a previsão das receitas do jogo para este ano, pode ser revista em baixa do valor inicial de 130 mil milhões de patacas, uma vez que as receitas do primeiro semestre não corresponderam às expectativas, apesar de Lei Wai Nong ter recusado fazer uma nova previsão.

“Na primeira metade do ano, a situação da pandemia no estrangeiro e nas regiões vizinhas agravou-se. Durante os meses de Janeiro e Fevereiro, as receitas dos casinos foram relativamente boas, mas a partir de Março a pandemia voltou a trazer incerteza. Muitas das coisas que previmos acabaram por não corresponder aos resultados concretos. Vamos tratar as previsões económicas de forma dinâmica”, afirmou.

Nos primeiros quatro meses de 2022, as receitas do jogo registaram uma quebra de mais de um terço em relação ao mesmo período do ano passado.

À espera de sol

Sem adiantar números, mas a ressalvar que o Governo irá adoptar uma postura dinâmica nas previsões económicas, Lei Wai Nong mostrou-se esperançado quanto à segunda metade do ano.

“Não vou fazer previsões, mas destaco que o segundo semestre é um período dourado para a indústria do turismo. Se a situação pandémica permitir, vamos envidar todos os esforços para alargar as origens e o número de visitantes. Mas estamos prontos para fazer uma nova avaliação”, acrescentou o governante.

O secretário para a Economia e Finanças referiu ainda que a nova lei do jogo não teve impacto nos casinos-satélite e que a decisão de manter estes espaços de jogo a operar é do foro comercial das respectivas empresas. O governante afirmou ter esperança na sobrevivência dos casinos-satélite e no contributo para a estabilidade do emprego.

9 Jun 2022

Alexandre Pais, director do Museu Nacional do Azulejo: “Portugueses não tinham o segredo da porcelana” 

Estudioso da influência da porcelana chinesa na cerâmica portuguesa, Alexandre Pais é um dos contribuídores do livro “Rotas da Cerâmica”, que conta a história do comércio da porcelana e da sua produção em Jingdezhen, na China. O livro editado pelo Instituto Confúcio da Universidade de Aveiro também aborda o período de grande exportação para a Europa, sobretudo para Portugal, a partir dos séculos XVI e XVII

 

 

Como surgiu a possibilidade de participar nesta obra?

Já tinha tido contactos com o professor Carlos Morais e fizemos uma série de projectos. O meu texto é sobre a integração da faiança portuguesa de inspiração oriental e é um resumo da minha tese de doutoramento. O livro, em si, é importante porque nos apresenta o ponto de vista do Oriente em relação à porcelana. Normalmente, tudo o que existe é sempre do ponto de vista do Ocidente. Pelo que li, há muita bibliografia oriental à qual os ocidentais não têm acesso, incluindo sobre escavações arqueológicas.

Como chega porcelana chinesa a Portugal ao ponto de inspirar a nossa cerâmica?

Ela entra nos finais do século XV e início do século XVI, após a descoberta do caminho marítimo para a Índia. Portanto, com Vasco da Gama chega logo uma série de porcelanas. Ela depois começa a ser comercializada em grande quantidade, e Portugal é o primeiro país europeu a comercializar grandes quantidades de porcelana, mas também outro tipo de materiais e objectos. A porcelana entra de facto no gosto de toda a sociedade, com objectos para todas as bolsas, menos para as classes mais desfavorecidas.

Até à burguesia, digamos assim?

Do que chamamos burguesia, que na altura não existia, mas mercadores, classes um pouco mais abastadas que não pertenciam à nobreza. A porcelana é disseminada por todo o mercado europeu, e depois, quando perdemos a independência e ficamos sob alçada da coroa espanhola, outros países começam a cobiçar as rotas portuguesas do Oriente, nomeadamente os holandeses. [Chega mesmo a haver] a apreensão de diversas caravelas que transportavam porcelanas, que depois são vendidas no mercado de Amesterdão, e a partir daí a Holanda começa a querer o caminho e perdemos essa rota comercial pela associação com Espanha. Não quer dizer que deixe de entrar porcelana em Portugal, mas entra pouca, e não temos já essa importância. Não temos provas, mas parece-nos que as olarias portuguesas começam a produzir um tipo de decoração que, não sendo porcelana, invoca o Oriente. Existe um produto genuíno que é mais raro e caro, mas os portugueses começam a consumir esta faiança que tem qualquer coisa de exótico. E é por aí que vai sendo feita esta produção. É curioso porque surge um pouco também como contraponto às produções espanholas, que são diferentes. Depois também terá algumas componentes exóticas. A sensação que tenho é que a nossa faiança surge como contraponto ao que é produzido na península e como resposta à perda da rota e da quantidade de porcelana que vinha para a Europa.

O domínio espanhol levaria a porcelana chinesa também para Espanha.

Não estudei muito esse ponto, mas é óbvio, porque os espanhóis, ao ficarem com o reino português, ficaram com todas as rotas comerciais. Depois havia a rota de Manila para compensar a questão das rotas holandesas, e a porcelana e os espanhóis também faziam encomendas específicas à China, como os portugueses anteriormente também faziam. Mas Espanha acaba por beneficiar do facto de nos ter sob sua alçada.

Depois de 1640 como ficou o comércio da porcelana? Reforçou-se, houve uma expansão no mercado?

Não inicialmente, porque os primeiros 20 anos não foram fáceis. Falamos de 1640, mas o processo da restauração da independência foi longo. Isso nota-se pela própria produção de faiança: numa fase inicial, ainda tenta acompanhar a questão do exotismo, mas começamos a notar uma certa decadência. À medida que vai havendo dinheiro e reforço das rotas comerciais portuguesas, e como depois começa a ser possível encomendar directamente na China, a produção passa a ser completamente diferente da que era no século XVI. Aí era o azul e branco, mas a partir desta altura, em finais do século XVII, começamos a ter as chamadas famílias, verde, rosa. Começamos a ver, como há uma alteração do gosto e da própria utilização, pois a sociedade torna-se mais complexa, uma mesa portuguesa começa a ter mais produtos, surgem mais exigências em termos de higiene, por exemplo. Aí começam a ser encomendadas à China uma série de formas diferentes e objectos com outras características, surgem as peças brasonadas. Com o século XVIII dá-se uma grande expansão da loiça brasonada para o mercado interno, e aí a faiança deixa de ter qualquer importância.

Além do brasão, que elementos destaca nessas peças?

Algumas obras são encomendas específicas com elementos relacionados com os locais a que se destinam, como é o caso das casas religiosas. As grandes alterações prendem-se com a morfologia, a quantidade de peças que são encomendas com novas utilidades. São produzidas terrinas com a forma de animais, vegetais e frutas, o que tem a ver com a cenografia barroca das mesas temáticas.

Eram, portanto, feitas encomendas específicas aos fabricantes chineses.

Sim, mas isso já no século XVI. Havia motivos que eram levados para o centro produtor e que às vezes não eram bem interpretados. Mostrava-se um motivo e ele era invertido, por exemplo. Há erros porque o oleiro chinês não sabia interpretar bem as instruções, frases ou palavras invertidas, por exemplo.

O livro fala dos centros de produção na China, nomeadamente em Jingdezhen. Era uma importante actividade económica na altura?

Sim. Jingdezhen é uma região quase totalmente dedicada à olaria. Havia mais centros produtores na China, mas esta região era o ponto principal. Produziam também para outros centros na Ásia, mas era em Jingdezhen que estavam os centros de produção imperiais. Havia loiça para a corte, para o imperador e para exportação. Este centro ainda hoje está activo e replica muitas produções antigas.

O que revela o comércio de porcelana sobre as ligações entre Portugal e a China?

O Oriente sempre foi um foco de interesse para o Ocidente. Os portugueses são um povo muito curioso em relação a outras culturas e povos. Nota-se essa predisposição até na nossa expansão. O Oriente era uma civilização muito requintada e avançada e suscitava curiosidade. Ter objectos de uma cultura que não é próxima, com uma noção de exotismo, é sempre um factor apetecível, e dá uma dimensão mais sofisticada a quem a possui. Despertou-me curiosidade, na caracterização da cidade de Lisboa no século XVII e dos tipos de população, com pessoas oriundas da Índia, do Japão, da China. A convivência era relativamente estável entre essas populações e a população portuguesa.

Nós mostrávamos as nossas faianças no Oriente? Os missionários levavam algumas peças?

Suponho que seria algo residual. Tentei perceber se na China e Japão haveria faiança portuguesa, e tenho informação escrita de que haveria alguns exemplares em Hiroshima, mas não tenho mais dados.

Portugal importava mais porcelana chinesa do que outros países europeus?

Não sei se isso está estudado. Inicialmente, no século XVI, até à perda da rota comercial, tínhamos mais comércio com o exterior. Éramos os maiores importadores de produtos chineses, nomeadamente de porcelana. Nos séculos XVII e XVIII já existiam as companhias orientais holandesas e inglesas. Tendo em conta a quantidade de serviços de porcelana brasonados que há em Portugal dessa época, mostra que tínhamos um papel muito destacado na importação.

Ainda se encontram influências dessa ligação na cerâmica de hoje em dia, por exemplo?

Não. Essa influência dura todo o século XVII, e um dos últimos anos começa a ser já muito residual. A partir do momento em que retomam as rotas comerciais com a China, no final desse século, a faiança volta a ser um produto para classes menos endinheiradas, sem necessidade de grande decoração. Nessa altura as olarias portuguesas começam a trabalhar mais no azulejo. A cerâmica passou para segundo plano.

Há visões do Oriente no azulejo português, por exemplo?

Sim, visões da China e do Japão feitas com base em gravuras europeias. Muitas retratam um quotidiano que é imaginado, sempre com a ideia do exótico. Não é o retrato real de uma sociedade, mas a fantasia sobre o que é a vida do outro. Falamos de uma sociedade que, para nós, era pagã, adorava vários deuses, tinha hábitos estranhos. Mas ainda no século XVII, encontramos alguma influência exótica no azulejo português, embora não seja determinante. No caso da faiança, essa influência está muito presente inicialmente, mas progressivamente o que interessa é uma recriação de elementos que vão sendo aplicados na faiança. Depois adicionam-se elementos ocidentais, criando-se um produto híbrido. Nós não tínhamos o segredo da porcelana.

Porquê?

Não se percebia que material era, e pensava-se que a matéria de porcelana era um tipo de búzio específico. A produção de porcelana nunca foi privilegiada porque tínhamos imenso comércio com a China e, provavelmente, terão pensado que não valeria a pena produzir em Portugal. Demora algum tempo até a Vista Alegre começar a produzir porcelana, já no século XIX, ainda que o segredo do material tivesse sido descoberto antes.

 

A história do comércio 

Editado pelo Instituto Confúcio da Universidade de Aveiro, “Rotas da Cerâmica” conta com a participação de diversos autores, com a edição por Carlos Morais e Ying Han. Além da colaboração de Alexandre Pais, o livro tem ainda a colaboração de Guo Mo, da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau, que aborda “os motivos chineses na faiança portuguesa: três exemplos de ‘venerar sem subserviência’”. Destaque ainda para o capítulo dedicado à “expansão e influência da cultura da cerâmica chinesa no sudeste asiático”, da autoria de Han Yeliang e Zhi Rui, da Universidade de Línguas Estrangeiras de Dalian, na China.

9 Jun 2022

Património | Projecto para Lai Chi Vun com orçamento de 42 milhões

O novo plano para os estaleiros de Lai Chi Vun foi apresentado ontem ao Conselho do Património Cultural e inclui restaurantes, zonas de exposição, espaços ao ar-livre e estacionamento

 

O Instituto Cultural apresentou ontem o plano para o reaproveitamento dos estaleiros de Lai Chi Vun ao Conselho do Património Cultural. O projecto terá um orçamento de 42 milhões de patacas. No final, Deland Leong, presidente do Instituto Cultural, revelou que o espaço vai incluir restaurantes, exposições e zonas ao ar-livre.

“Vamos iniciar as obras para dinamizar e renovação de Lai Chi Vun. São cinco terrenos, com uma área total de 4.600 metros quadrados”, anunciou a responsável do IC. “Após a renovação vamos ter restaurantes, espaços ao ar-livre, uma zona de exposição, uma feira de artesanato e ainda uma exposição sobre a cultural dos estaleiros navais e os procedimentos para a construção de um navio”, acrescentou.

De acordo com o plano, que não foi mostrado aos jornalistas, os terrenos são identificados como X11, X12, X13, X14 e X15. O X11 vai manter a estrutura de aço existente e terá em exposição um “cortador de madeira”. Nos terrenos X13 e X14, os estaleiros vão ser reconstruídos, e a estruturas de madeira substituídas por aço, devido ao elevado grau de decomposição.

Ainda de acordo com a presidente do IC, os terrenos X12 e X15 serão destinados a espaços ao ar-livre para complementar as actividades dos espaços fechados.

Por sua vez, Wu Chou Kit, deputado e porta-voz do Conselho do Património Cultural, adiantou que vai haver um estacionamento no local.

Calçada do Gaio avança

Também ontem, foi apresentado o novo design do edifício da Calçado do Gaio, cujas obras estão suspensas há vários anos. A obra vai manter a altura actual de 82,32 metros e 19 pisos. “Devido à situação especial e após uma troca de opiniões entre o Governo e o Comité Cultural da UNESCO, foi emitido um parecer técnico sobre o edifício inacabado”, afirmou Deland Leong. “Segundo as instruções da deliberação, mantendo a altura, o proprietário alterou o design do edifício e com esta novidade consegue cumprir os requisitos”, justificou. Inicialmente, em 2006, a licença de construção previa 36 pisos e altura de 126,12 metros.

No entanto, antes de recomeçar as obras, ainda é necessário obter as restantes licenças emitidas pelos outros departamentos. Além do limite de altura, vão ser instalados vidros no topo do edifício, para não afectar a área da zona.

300 mil para altar

O Instituto Cultural e o Conselho do Património Cultural concordaram com o pedido de apoio da Associação dos Moradores para renovar o Altar de Terra, no Pátio do Banco, perto da Rua do Campo. O preço da obra está avaliado em 300 mil patacas e a necessidade de intervenção foi justificada com o elevado estado de degradação de uma estrutura com valor arquitectónico e cultural.

8 Jun 2022

Censos revelam crescimento mais lento da população 

A população de Macau tem vindo a crescer de forma mais lenta em comparação a 2011. Esta é uma das conclusões dos resultados globais dos Censos 2021 ontem divulgados, que mostram que a taxa de crescimento médio anual foi de 2,1 por cento, inferior à taxa de 2,4 por cento, registada entre os anos de 2001 e 2011.

Por sua vez, a população total em 2021 era de 682.070 pessoas, mais 23,5 por cento em relação a 2011. Excluindo estudantes do exterior e trabalhadores não residentes, Macau tinha apenas, em 2021, 568.662 pessoas, mais 17,2 por cento, em relação a 2011.

O envelhecimento contínuo da população é outra das conclusões dos Censos. A população idosa, composta por pessoas com mais de 65 anos, era constituída por 82.812 pessoas, um aumento de 107,2 por cento em relação a 2011. Os idosos representam hoje 12,1 por cento da população, mais 4,9 por cento face a 2011. Por sua vez, o índice de envelhecimento cresceu 23,0 pontos percentuais para 83,7 por cento.

Mais mulheres e solteiros

O relatório de 2021 conclui também que Macau tem hoje mais mulheres do que homens, e também mais solteiros. A população feminina era de 361.785 pessoas e a masculina de 320.285 pessoas, representando 53 e 47 por cento da população total, respectivamente.

Em relação à população com idade igual ou superior a 16 anos, 27,4 por cento era solteira, o que representa um aumento de 2,8 por cento em relação a 2011. Os casados eram, em 2021, 64,1 por cento, menos 3,3 por cento por comparação a 2001. Os dados mostram ainda que os jovens casam cada vez mais tarde, por volta dos 30 anos, quando em 2001 se casavam por volta dos 28 anos.

Outra das conclusões, passa por uma maior escolaridade da população, uma vez que, no ano passado, 30,2 por cento da população com mais de 15 anos tinha frequentado um curso do ensino superior, num total de 175.956 pessoas. Trata-se de um crescimento de quase 100 por cento em relação a 2011.

Olhando para a génese das famílias, houve um aumento de 18,7 por cento no número de agregados familiares face à última edição dos Censos, no entanto, hoje a sociedade tem mais famílias compostas por duas pessoas. Este tipo de agregado familiar é actualmente “predominante”, representando 25,6 por cento, um aumento de 2,3 por cento em relação há dez anos. Os Censos revelam, portanto, “uma redução contínua da dimensão dos agregados familiares”.
Em dez anos, deu-se ainda um aumento da oferta de habitação pública. Só em habitações económicas moram hoje mais 61,3 por cento das famílias.

8 Jun 2022

Emprego | Mais de 90% dos recém-licenciados está pessimista

Estudo da Associação de Nova Juventude Chinesa de Macau revela que 97 por cento dos recém-licenciados mostra-se pessimista quanto à possibilidade de encontrar emprego. Criação de plataforma online dedicada ao emprego jovem é a medida mais solicitada

 

De acordo com um inquérito da Associação de Nova Juventude Chinesa de Macau, 97 por cento dos recém-licenciados está pessimista em relação às perspectivas de emprego no território, considerando mesmo que encontrar um “trabalho satisfatório” em Macau pode levar mais de seis meses após a conclusão da formação académica.

Entre as principais necessidades apontadas pelos entrevistados, segundo uma nota oficial divulgada ontem, está a criação de uma plataforma online dedicada a listar oportunidades de emprego para os jovens.

Intitulado “Inquérito sobre as Necessidades de Emprego dos Licenciados entre 2020-2022”, o estudo incidiu sobre as opiniões de 358 residentes recém-licenciados em instituições de ensino superior, que consideraram, na sua grande maioria, que “perante o actual contexto económico é mais difícil encontrar trabalho em relação ao período anterior”.

Durante a apresentação do estudo, os responsáveis da Associação de Nova Juventude Chinesa de Macau partilharam ainda que as suas conclusões demonstram a situação “complicada e severa” da situação de emprego dos recém-licenciados. Exemplo disso, é o facto de 72 por cento dos entrevistados ter apontado que a oferta global de emprego é “insuficiente para satisfazer a procura” e 66 por cento, referir como maior desafio “a falta de empregos adequados” em Macau.

Por outro lado, menos de 30 por cento dos recém-licenciados inquiridos participou em acções ou actividades de apoio à procura de emprego, como o programa de estágios para jovens ou feiras de emprego. Dado o actual contexto de crise, cerca de 50 por cento dos recém-licenciados diz estar disposto a trabalhar em cidades do Interior da China ou na Zona de Cooperação entre Macau e Guangdong em Hengqin.

Discos pedidos

Neste contexto, 87 por cento dos inquiridos considerou que o Governo deve criar uma plataforma online dedicada ao emprego jovem, para que os recém-licenciados possam ter conhecimento e candidatar-se a postos de trabalho.

Nessa linha de pensamento e no seguimento da apresentação do estudo, a Associação de Nova Juventude Chinesa de Macau sugere criar “o mais rápido possível” a plataforma apontada pelos inquiridos, que deve ser capaz de centralizar informação sobre os empregos disponíveis, proporcionar serviços de orientação profissional de qualidade e permitir solicitar aconselhamento profissional, através de uma linha de contacto telefónico.

Por último, a associação considera que o Governo deve fornecer serviços de apoio ao emprego direccionados a três grandes grupos: jovens desempregados, recém-licenciados, e estudantes a frequentar o ensino superior.

8 Jun 2022

Construção | Song Pek Kei considera que empresas estatais são beneficiadas

A deputada Song Pek Kei está preocupada com as relações de proximidade entre o Governo da RAEM e empresas de construção estatais. Como tal, argumenta que o sector privado local está a ser prejudicado nos concursos públicos

 

A deputada Song Pek Kei defende que as empresas estatais chinesas são sempre beneficiadas nos concursos para obras públicas em Macau, e que o Governo tem de garantir igualdade de oportunidades para o sector privado. As posições foram tomadas ontem através de uma interpelação escrita, em que pede equilíbrio ao Executivo de Ho Iat Seng.

“O Governo lançou várias obras públicas, mas os contratos principais são sempre atribuídos às empresas estatais. As empresas privadas locais só conseguem participar nos trabalhos como subempreiteiras ou como subempreiteiras de subempreiteiras, o que faz com que os seus lucros sejam muito limitados”, indicou a deputada ligada à comunidade de Fujian. “Que medidas vão ser adoptadas pelo Governo para se conseguir obter equilíbrio no mercado da construção, principalmente das grandes obras públicas, e assim maximizar investimentos?”, questionou.

Na perspectiva da deputada, a atribuição de mais obras ao sector privado do território vai fazer com que mais residentes encontrem trabalho, e atenuar parte dos efeitos da crise.

Song Pek Kei critica também as ligações estabelecidas e argumenta que empresas estatais “têm uma relação de muita proximidade com o Governo”, o que faz com que as pequenas e médias empresas locais sejam ainda mais prejudicadas.

Mais de 3 mil empresas

Sobre o sector da construção local, Song Pek Kei recordou que existem mais de 3.000 empresas de construção em Macau e a maioria é constituída por pequenas e médias empresas (PME). Por isso, defendeu que é necessário que os concursos sejam realizados de forma justa e equilibrada, para que tanto o sector público como o privado possam assegurar os seus negócios e empregos, num espírito de competição.

Apesar da crítica aos resultados dos concursos públicos, Song elogiou os esforços do Governo no investimento em obras, por considerar que mantém a estabilidade no mercado e empregos.

No âmbito da política de obras, Song Pek Kei apelou ao Executivo para acelerar o processo das obras no âmbito do programa Céu Azul, ou seja, de renovação e melhoria das condições das escolas.

8 Jun 2022

Wynn | Pagamento de salário em acções viola lei laboral

Em resposta ao deputado Ron Lam, a DSAL confirmou que o facto de a Wynn ter proposto o pagamento de dez por cento do salário mensal em acções constitui uma violação da lei laboral. Para o organismo, dado que a remuneração não é feita totalmente em patacas, é como se o acordo fosse “inexistente”

 

A Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) considera que o acordo que a Wynn Macau propôs aos seus trabalhadores, onde consta o pagamento de dez por cento do salário mensal em acções da empresa, não cumpre os requisitos plasmados na Lei das Relações Laborais.

A confirmação chegou ontem por escrito, depois de o deputado Ron Lam ter alertado o organismo para o facto e acusado a Wynn de violar a lei laboral.

“A remuneração paga pelo empregador ao trabalhador deve ser em dinheiro e paga na moeda legal de Macau (patacas). Se o empregador e o empregado concordarem em pagar a remuneração de uma forma não monetária, tal não cumpre os requisitos legais acima referidos”, pode ler-se na resposta enviada pela DSAL ao deputado, via email.

Além disso, o organismo cita o artigo da Lei das Relações Laborais relativo à “celebração do contrato” para lembrar que o acordo é considerado “inexistente”, caso as cláusulas contratuais “estabeleçam condições de trabalho menos favoráveis para os trabalhadores”.

“Segundo a Lei das Relações Laborais, o acordo é considerado inexistente. Como indicado (…), a empresa em questão não pode pagar remuneração aos empregados sob a forma de acções, de acordo com os requisitos legais”, acrescenta a DSAL.

Voluntários à força

No email enviado a Ron Lam, o organismo diz ainda que “vai continuar a assegurar o cumprimento da lei laboral” e que, caso os trabalhadores se sintam lesados a nível salarial “sem o seu consentimento”, devem levar o assunto à DSAL.

“Se ficar provado que o empregador violou a lei, a DSAL irá impor sanções e exigir o cumprimento de todas as obrigações legais, a fim de proteger os legítimos direitos dos trabalhadores”, acrescenta o organismo.

Recorde-se que no final de Maio, Ron Lam revelou ter recebido várias queixas de trabalhadores da Wynn, a quem foi pedida “assinatura voluntária do acordo” para que fossem autorizados a “deixar a sala de reuniões” para onde foram encaminhados na ocasião.

Além disso, o deputado lembrou que o valor das acções só será transferido para os funcionários da Wynn a 3 de Janeiro de 2023 e que a quebra no valor leva a um corte indirecto de salário.

“O sector do jogo funciona há mais de 20 anos e as seis concessionárias ganharam muitos milhões de patacas. Qual é a sua responsabilidade social se só pagarem parte dos salários com acções em bolsa, tendo em conta as perdas que tiveram no curto espaço de tempo de dois anos em que dura a pandemia?”, questionou na altura.

Ouvida pelo HM quando o assunto veio a lume, Cloee Chao, presidente da Associação Novo Macau pelos Direitos dos Trabalhadores de Jogo, referiu que o “mais importante” é assegurar que o acordo “não é obrigatório”.

8 Jun 2022

Quarentena | Redução não é suficiente para fomentar turismo, dizem analistas 

Ho Iat Seng admitiu reduzir o período de quarentena para dez ou sete dias. Analistas ouvidos pelo HM consideram que a medida não é suficiente para impulsionar a economia e o turismo. Óscar Madureira acredita que reduzir quarentenas vai, sobretudo, trazer benefícios para os residentes

 

O Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, admitiu na segunda-feira a possibilidade de reduzir no Verão o período de quarentena obrigatória à chegada ao território de 14 para dez ou sete dias, embora não tenha avançado com datas para a entrada em vigor da medida.

“Há quatro cidades piloto do Interior da China que, durante cerca de um mês, experimentaram implementar um período de quarentena de 10 dias mais sete [de auto-gestão]. Continuamos o nosso trabalho, pois esta parece ser a tendência. Depois de avaliarmos as nossas medidas (…) iremos tentar que sejam 10 dias mais sete. Esperamos atingir essa meta durante o Verão”, disse Ho Iat Seng, segundo a TDM-Rádio Macau.

Analistas ouvidos pelo HM afirmam, contudo, que a medida está longe de poder causar um boom turístico em Macau. Primeiro, porque o sector do jogo já está a sofrer com outras políticas, e depois porque, com a permanência de restrições, a atracção para jogar no território ou para o visitar vai continuar a ser menor.

O advogado Óscar Madureira, especialista na área do jogo, não tem dúvidas de que “a medida é boa, essencialmente, para os residentes”, que desejam sair de Macau para visitar o seu país e as famílias.

“Não acredito que seja fácil, enquanto durarem as restrições, começar a receber turistas de fora. Continua a ser exagerado alguém fazer quarentena de sete dias para jogar num casino. Apesar de ser uma redução significativa, continuo a achar que o impacto será pouco relevante”, adiantou ao HM.

Ainda assim, o responsável defende que a medida acaba por ser positiva. “Tudo o que ajude a facilitar a vinda de turistas para Macau é bom e aumenta o número de potenciais clientes, mas depende de qual vai ser o resultado deste aligeirar de medidas.”

“Macau e a China eram, até há bem pouco tempo, os únicos territórios do mundo que não permitiam a entrada de estrangeiros, e é bom saber que eles estão a inverter a política, a considerar outras possibilidades. Sem dúvida que é bom, embora seja uma medida que peque por tardia”, frisou.

Para o economista Albano Martins, o impacto também será reduzido. “A medida é um passo em frente em relação à situação absurda que se vive hoje, não apenas em Macau como em toda a China. Trata-se de uma opção claramente política e, portanto, em Macau tem de se respeitar. Mas continua a ser uma medida obsoleta, porque fora da China as pessoas já se habituaram a conviver com a covid-19 e ao fim de uma semana de auto-isolamento em casa estão preparadas para regressar ao trabalho.”

Relativamente ao jogo, Albano Martins aponta que este já está a definhar há muito, e não apenas com as restrições pandémicas. “O jogo está a ser praticamente liquidado, e é também uma decisão claramente política. A China considera que viola a sua cartilha e o cerco aperta-se cada vez mais. Apesar do estatuto autónomo de Macau, o certo é que, de há dois anos para cá, a China começou a apertar essa actividade económica. Os resultados das operadoras mostram que o sector do jogo está muito mau. Está melhor do que antes [em relação ao período da pandemia], mas a medida não vai resolver nada.”

O economista estima que a China vai ter de pôr um ponto final às políticas altamente restritivas de controlo da pandemia. “É uma mudança que a China vai ter de fazer, mais dias menos dia, porque não vale a pena o país continuar fechado. Esta pandemia vai ser endémica e vamos ter de nos habituar a viver com ela.”

Menos dias, mais quartos

Luís Herédia, presidente da Associação dos Hotéis de Macau, também frisou que estamos perante uma decisão positiva, mas que não chega para impulsionar a economia. “Esta possibilidade é, com certeza, baseada em estatísticas que podem demonstrar que continua a haver alguma segurança, mas também no sentido de apontar o caminho para a abertura. Evidentemente, é uma acção positiva e não só serve a todos os que vivem cá, mas também aos que nos visitam. [Se estas medidas se concretizarem] o impacto é menor. Mas, ainda estamos longe de atingir o que desejamos, que é uma abertura maior.”

Ainda assim, o presidente da Associação dos Hotéis de Macau dá conta que o território tem de se preparar para a ocorrência de um novo surto, à medida que vai abrindo portas. “Já há, passo a passo, alguma intenção de um dia virmos a abrir totalmente. São necessários cuidados, incluindo o plano de vacinação”, lembrou.

Para o responsável, reduzir a quarentena vai permitir, acima de tudo, “um maior fluxo de residentes e não-residentes”, pois “os que nos são próximos podem entrar e sair”.

“Todos desejamos [a abertura]. Não tem sido fácil, pois não têm entrado turistas suficientes. Mesmo assim, o sector hoteleiro e as operadoras têm tentado fazer o seu melhor para minimizar o impacto das perdas”, acrescentou.

Em relação ao número de quartos de hotel, a redução de quarentena também poderá proporcionar vagas para todos os que desejem vir para Macau. “É uma medida importante, porque não havendo muitos quartos disponíveis, pois nem todos os hotéis têm características para possibilitar a logística desejada, acabará por haver mais disponibilidade, dado que o tempo de estadia será reduzido.”

O afluente de Hong Kong

Outro dos cenários que poderá mudar com a redução dos dias de quarentena será as ligações com Hong Kong, que tem uma grande importância para Macau não apenas no turismo, mas também nas áreas da saúde, imobiliário ou empresarial.

“A redução dos dias de quarentena pode ser convidativa para que os próprios técnicos possam vir cá resolver questões pendentes. Mesmo ao nível da saúde, temos alguma dependência de Hong Kong. O mesmo se passa com questões técnicas ao nível da reparação de tecnologia.  Por isso, pode vir a ajudar, mas não será um fluxo muito grande que se vá sentir na economia”, lembrou Luís Herédia.

As palavras de Ho Iat Seng são um sinal de esperança para muitos, mas, acima de tudo, não vão ainda originar “uma massa de pessoas a querer vir para Macau”, tendo em conta que, além dos 10 ou sete dias de quarentena, terá de ser cumprido um período de auto-gestão de saúde de sete dias. Só depois será possível entrar em locais como restaurantes, lojas e hotéis, com o código de saúde verde.

Acima de tudo, “é uma medida que convida empresas a enviar pessoas para tratar de assuntos importantes, que podem agora ser resolvidos”, rematou o Luís Herédia.

Covid-19 | Sector do turismo aguarda resultados positivos

As declarações de Ho Iat Seng foram recebidas com algum agrado por parte de representantes do sector hoteleiro e do turismo. Tai Cheng, vice-presidente da Associação de Hoteleiros de Macau, apontou ao jornal Ou Mun que a redução do período de quarentena constitui um forte estímulo para o sector, uma vez que se pode recuperar o número de visitantes estrangeiros, melhorando a baixa moral que o mercado vive.

Por sua vez, Andy Wong, presidente da Associação da Indústria Turística de Macau, frisou que as declarações do Chefe do Executivo são uma mensagem positiva e sinal de que o Governo está a reagir à nova fase da covid-19.
Andy Wong acredita que a mensagem traz confiança às pequenas e médias empresas, tendo em conta que a economia necessita de recuperar para níveis pré-pandemia.

Apesar de a Direcção dos Serviços de Turismo ter afastado a possibilidade de abrir as fronteiras com Hong Kong em Agosto, Andy Wong defende que a decisão deverá ser tomada mediante uma junção de opiniões das autoridades do Interior da China, Macau e Hong Kong para a abertura gradual das fronteiras. Isto porque os visitantes de Hong Kong representam uma fatia importante dos negócios das PME locais, frisou.

A deputada Wong Kit Cheng lembrou que o Governo fez esforços para atingir a taxa de vacinação de 90 por cento, além de ter criado um plano de resposta de emergência caso ocorra um surto em Macau. Ainda assim, Wong Kit Cheng não considera que a medida anunciada por Ho Iat Seng vá atrair mais visitantes a curto prazo, apesar de ser uma medida favorável. Com Pedro Arede e Nunu Wu

8 Jun 2022

Associação confirma encerramento de casinos-satélite

Kwok Chi Chung recusa adiantar um número concreto, mas aponta que entre seis e oito casinos-satélite vão encerrar. O presidente da Associação de Mediadores de Jogos e Entretenimento de Macau estima que entre 200 a 300 trabalhadores vão perder o emprego

 

O presidente da Associação de Mediadores de Jogos e Entretenimento de Macau, Kwok Chi Chung, confirmou ao jornal Exmoo que até ao final de Junho vão encerrar entre seis e oito casinos-satélite. As informações vinham a circular no sector nos últimos meses face à degradação do ambiente de negócios no sector.

As licenças das actuais seis concessionárias expiram a 26 de Junho e os casinos-satélite têm de pedir autorização para continuar a operar até ao final do corrente ano. No entanto, alguns casinos-satélite não têm interesse em manter-se no mercado. O primeiro a confirmar a opção foi o Hotel e Casino Emperor, que vai encerrar a área de jogo a 26 de Junho.

Kwok Chi Chung veio confirmar que mais casinos estão na mesma situação, apesar de ter recusado adiantar os espaços em causa por considerar “não ser conveniente”.

Nos últimos tempos, têm surgido informações que um dos casinos que pode encerrar é o Million Dragon, ligado ao empresário Chan Meng Kam, que até terá comunicado a alguns funcionários que haverá despedimentos. Contudo, a informação ainda não é oficial.

Sem esperança

Ainda de acordo com as explicações de Kwok, as decisões são motivadas pela descrença generalizada sobre o futuro do sector.

Este é um sentimento que não sofreu alterações, apesar de o Governo ter recuado na proposta de lei do jogo, e ter desistido da intenção de obrigar que os imóveis onde os casinos-satélite operam sejam propriedade das concessionárias.

Segundo o presidente da associação de junkets, actualmente as preocupações prendem-se com a falta de clientes, que são insuficientes para que os espaços possam ser lucrativos.

Face a este cenário, o dirigente avisa que os despedimentos em massa vão ser uma realidade e que, pelo menos, um dos casinos deverá despedir entre 200 a 300 pessoas.

O presidente da associação avisou ainda que os sectores da saúde, financeiro, tecnologia de ponta e desportivo/cultural, apontados como a aposta do actual Governo, não vão ter capacidade para substituir a perda de empregos do jogo.

7 Jun 2022

Ministério Público aceita absolvição de Frederico do Rosário

O Ministério Público aceitou a decisão do tribunal que absolveu Frederico do Rosário, apesar de ainda estar a decorrer o prazo para interpor recurso. A opção de não recorrer da sentença reflecte as alegações finais, quando não foi pedida a condenação do empresário local

 

O Ministério Público (MP) aceitou a decisão do Tribunal Judicial de Base (TJB) que absolveu Frederico do Rosário e condenou Dennis Lau, no caso das criptomoedas. A decisão foi comunicada ao HM, numa altura em que ainda decorre o prazo para interpor recurso.

“O Ministério Público, no processo em causa, respeita a sentença proferida pelo tribunal sem interpor qualquer recurso”, respondeu ao HM, numa troca de emails.

Segundo o HM apurou, devido ao facto de o filho da Rita Santos não ter comparecido na audiência de leitura da sentença, e de a notificação ter atrasado, o prazo para a apresentação do recurso ainda decorre, quando em condições normais devia ter terminado na segunda semana de Maio.

No entanto, até ontem ao almoço também não tinha entrado no tribunal qualquer recurso por parte dos representantes dos dois arguidos, Luís Almeida Pinto, advogado de Frederico do Rosário e Leong Ngai In, mandatário de Dennis Lau. Após ter sido conhecida a sentença, a defesa de Rosário admitiu ponderar a apresentação de recurso.

Nos idos de Abril

A sentença do caso foi conhecida a 22 de Abril, quando o empresário Frederico do Rosário foi absolvido da prática de 47 crimes de burla que terão gerado perdas de 21 milhões de patacas.

Apesar de ter participado em acções de promoção relativas às burlas orquestradas pelo empresário de Hong Kong Dennis Lau, que decorreram na sede da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau, o tribunal considerou que Rosário nunca teve intenção de levar os investidores a perderem dinheiro. “O tribunal é da opinião que [Frederico Rosário] agiu com negligência e que também não cumpriu o dever de prudência”, foi considerado na altura.

Por sua vez, Dennis Lau foi condenado a pena efectiva de prisão de 10 anos. “O Tribunal tem a opinião de que o primeiro arguido agiu de acordo com os factos de que foi acusado e que são todos dados como provados. Tinha a intenção de enganar as vítimas e fê-lo através do segundo arguido”, foi apontado na leitura de sentença.

Contudo, Lau não deverá ser afectado pela decisão, desde que permaneça em Hong Kong, o que lhe permite não cumprir a pena, nem ter de devolver o dinheiro, que terá sido utilizado para comprar uma habitação na cidade vizinha.

7 Jun 2022

Covid-19 | Ho Iat Seng admite reduzir quarentenas para 10 ou 7 dias

O período de quarentena pode vir a ser reduzido de 14 para 10 ou sete dias. Ho Iat Seng admitiu que o Governo está a “fazer o máximo” para atingir a meta no Verão, mas que tudo depende da situação pandémica. Chefe do Executivo espera ainda um alívio na emissão de vistos a partir do Interior e descarta entradas do Japão sem restrições

 

O Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, admitiu ontem que as quarentenas de 14 dias obrigatórias para quem chega a Macau do estrangeiro, podem vir a ser reduzidas para 10 ou sete dias durante o Verão. A possibilidade, avançada à margem da inauguração do Centro de Saúde de Seac Pai Van, implicará sete dias adicionais de auto-gestão em casa e está ainda dependente de um eventual alívio da situação pandémica.

“Há quatro cidades piloto do Interior da China que, durante cerca de um mês, experimentaram implementar um período de quarentena de 10 dias mais sete [de auto-gestão]. Estamos a continuar o nosso trabalho, pois esta parece ser a tendência. Depois de avaliarmos as nossas medidas (…) iremos tentar que sejam 10 dias mais sete. Esperamos atingir essa meta durante o Verão”, começou por dizer Ho Iat Seng segundo a TDM-Rádio Macau.

Contudo, o Chefe do Executivo apontou que o cenário só será uma realidade se “a situação pandémica aliviar” e lembra que o período de quarentena para entrar em Macau já chegou a ser de 21 dias, mais sete de auto-gestão.

“Só depois de a situação pandémica aliviar é que vamos avançar com este objectivo, porque quando há muitos casos, nem se fala de 14 dias e até usamos medidas de 21 dias mais sete, mas iremos tentar aliviar até aos 10 dez dias mais sete”, vincou.

Sobre a possibilidade de reduzir as quarentenas para sete dias, mais sete de auto-gestão, Ho Iat Seng apontou não negar essa possibilidade e sublinhou que o Governo está a “tentar fazer o máximo”.

Temos pena

À margem da inauguração, Ho Iat Seng revelou ainda esperar que a flexibilização da emissão de vistos de entrada em Macau a partir do Interior da China possa ser concretizada, impulsionado assim a recuperação económica do território.

No entanto, segundo o canal chinês da TDM-Rádio Macau, o responsável acredita que isso poderá vir a acontecer apenas quando a situação epidémica no Interior da China melhorar, até porque actualmente, existem restrições de circulação, “não só para vir a Macau”, mas também para “viajar entre províncias” chinesas.

Questionado sobre a inclusão de Macau lista de países de “categoria amarela” (risco médio) por parte do Japão, Ho Iat Seng começou por dizer que as medidas dos outros países e regiões devem ser respeitadas e afastou a possibilidade de permitir a entrada, sem restrições, de nacionais japoneses em Macau.

“Só se levantarmos as medidas de restrições para os japoneses é que eles vão também levantar as medidas (…) mas será que agora podemos abrir para o Japão? Estamos a estudar a situação porque as restrições foram aliviadas para Portugal, mas mesmo assim as pessoas que quiserem vir para Macau também têm que cumprir as nossas regras”, sublinhou de acordo com a TDM-Rádio Macau.

Sobre a reabertura das fronteiras entre Macau e Hong Kong, Ho Iat Seng referiu “não haver novidades” e que essa decisão não depende de si. “Vamos deixar que os departamentos de saúde e segurança dos dois territórios se coordenem entre si”, disse.

Direitos humanos sem relação

O confinamento por zonas, previsto no plano de resposta de emergência caso haja um surto de covid-19 de grande escala em Macau, não está relacionado com questões inerentes aos direitos humanos. A ideia foi deixada ontem pelo Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, quando confrontado com eventuais preocupações relativas aos direitos humanos, caso sejam aplicados confinamentos por zonas. Citado pelo canal chinês da TDM-Rádio Macau, Ho Iat Seng vincou que, caso as medidas sejam aplicadas, os residentes terão acesso à rede de supermercados do território para comprar bens de primeira necessidade e que o principal objectivo do trabalho de prevenção epidémico passa, essencialmente, por prevenir o surgimento de novos casos.

Na corda bamba

O Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, considera que a construção do teleférico entre o Centro de Ciência e a Zona A dos Novos Aterros, previsto no Planeamento Geral do Trânsito e Transportes Terrestres de Macau (2021-2030), é para avançar apenas se colher a aprovação da população. Para Ho Iat Seng, a questão “é muito simples” e “não há necessidade de contestar”. Isto, porque a opinião da população ainda vai ser ouvida através da consulta pública e, de acordo com os resultados, “se não valer a pena”, a ideia do teleférico “vai ser excluída” do plano.

7 Jun 2022

Associação das Mulheres quer jovens a contribuir para Shenzhou-14

Embalada pelo lançamento da missão tripulada Shenzhou-14, a Associação das Mulheres defendeu que o Governo deve ajudar os jovens de Macau a integrar a indústria espacial do país. O contributo de Macau para a construção de talentos aeoroespaciais é ainda visto como mais um passo para concretizar o “rejuvenescimento da nação chinesa”

 

A presidente da Associação Geral das Mulheres de Macau, Lau Kam Ling considera que o facto de a indústria aeroespacial ser cada vez mais uma “força integrante do desenvolvimento científico e tecnológico” da China, deve motivar o Governo a criar oportunidades para os jovens de Macau contactarem e incorporarem futuras missões espaciais do país.

Para a responsável, o facto de no passado domingo a China ter lançado um foguetão com três astronautas a bordo (Shenzhou-14) para concluir os trabalhos na estação espacial chinesa Tiangong (“Palácio Celestial”) é mais um capítulo do “milagre chinês” e um motivo de orgulho, que deve inspirar os jovens de Macau a perseguir uma carreira no espaço.

Recorde-se que foguetão Longa-Marcha 2F, com a cápsula da missão Shenzhou-14, descolou às 10h44 do centro espacial de Jiuquan, no deserto de Gobi e pretende materializar a ligação de dois módulos de laboratório, ao módulo Tianhe, lançado em Abril do ano passado.

A China pretende terminar a construção da estação este ano e as autoridades tinham anunciado planos para enviar para a Tiangong “dois módulos experimentais, duas naves tripuladas e duas naves de carga”. A estação, de 70 toneladas, deverá manter-se em funcionamento durante 15 anos, a orbitar a cerca de 400 quilómetros da superfície terrestre.

Lau Kam Ling, sublinhou ainda o facto de, no período de apenas 10 anos, duas mulheres chinesas terem ido ao espaço, destacando que a primeira vez que isso aconteceu foi em 2012 e teve como protagonista Liu Yang, que integra agora também a missão Shenzhou-14.

“Em apenas 10 anos duas mulheres do nosso país já foram ao espaço por quatro vezes, o que demonstra que a indústria espacial é uma força que se tornou já parte integrante do desenvolvimento científico e tecnológico do país e vai desempenhar um papel cada vez mais importante”, começou por dizer, segundo o jornal Ou Mun.

“Com o desenvolvimento cada vez maior da indústria espacial, tanto em Macau como na China, acredita-se que o contributo para a criação de uma frota de talentos espaciais será cada vez maior”, acrescentou.

O céu é o limite

Nesse sentido, Lau Kam Ling lembrou a existência em Macau do Laboratório Estatal de Referência das Ciências Lunares e Planetárias e frisou que a recente palestra “diálogo entre o céu e a terra” com os três astronautas da missão Shenzhou-13, permitiu aos estudantes e jovens de Macau desenvolver “significativamente” o “sentido de missão e identificação com o país”.

Por isso, a presidente da Associação das Mulheres espera que o Governo crie mais oportunidades para os jovens de Macau se deslocarem à China, compreendendo e contribuindo assim para as missões espaciais do país. Além disso, Lau Kam Ling defende que, esta seria mais uma forma de Macau contribuir para a concretização do “rejuvenescimento da nação chinesa”.

“Esperamos que, no futuro, sejam criadas novas oportunidades para os jovens de Macau irem ao Continente (…) de modo a fomentar, ainda mais, as suas aspirações de perseguir os seus sonhos e participar activamente no desenvolvimento da indústria espacial da China. Através do desenvolvimento da indústria aeroespacial será possível aos jovens contribuir para o rejuvenescimento da nação chinesa”, apontou.

7 Jun 2022

Trabalho | Relatório revela dificuldades de contratação no Interior da China e Hong Kong

A consultora Manpower Group concluiu que é cada vez mais difícil contratar trabalhadores em todo o mundo. A empresa de assessoria de recursos humanos indicou num relatório global que o Interior da China, Hong Kong e Taiwan enfrentam as situações mais críticas. Dois empresários locais traçaram o retrato da situação de Macau, destacando os entraves impostos pelas restrições pandémicas e a revolução no sector do jogo

 

O mercado laboral está a mudar em todo o mundo e, apesar de haver maior vontade de contratar em muitos países, não há quadros qualificados para preencher vagas. A conclusão é do mais recente relatório do Manpower Group, uma empresa internacional de assessoria em recursos humanos, que estudou a intenção de reforço de recursos humanos para o terceiro trimestre deste ano.

Dois anos depois do início da pandemia, vive-se actualmente um maior optimismo sobre a possibilidade de novas contratações em alguns países, “a níveis que não eram vistos desde o início da pandemia”. Mas a verdade é que o cenário em alguns países e regiões da Ásia, não é assim tão positivo. “Os empregadores reportam dificuldades no preenchimento de novas vagas, com os maiores impactos a serem sentidos em Taiwan, Portugal, Singapura, China, Hong Kong e Índia”, pode ler-se no documento. Em relação aos sectores mais afectados, a Manpower Group destaca “educação, saúde, trabalho de acção social, função pública e imobiliário”.

O relatório conclui que as perspectivas de contratação para os meses de Julho a Setembro são mais fracas em Taiwan, com apenas mais três por cento, ou Japão, com mais quatro por cento. A nível mundial faltam talentos, “com 75 por cento dos empregadores a reportar dificuldades no preenchimento de vagas”, número que representa mais de o dobro face a 2010, que era de 31 por cento.

Na zona da Ásia-Pacífico, Hong Kong apresenta o aumento das intenções de contratação na ordem dos 11 por cento, uma melhoria de oito por cento face ao segundo trimestre deste ano, e de dez por cento face a igual período do ano passado. Relativamente à China, o intuito de recrutar diminuiu em oito sectores, com apenas a banca e finanças a registarem subidas de quatro por cento em termos trimestrais.

Macau não surge no relatório, mas dada a proximidade com China e Hong Kong, o HM convidou dois empresários para comentar o actual cenário económico e laboral. Para António Trindade, CEO da CESL-Ásia, Macau tem “condições muito particulares” relacionadas com o sector do jogo, além de o factor pandemia, “que tem sido extremamente importante”.

“Nota-se que, como não há uma perspectiva do que se vai passar em relação às concessões de jogo, e sabendo-se que vai acontecer uma grande mudança, a economia está praticamente parada. Não só as concessionárias deixaram de fazer investimentos como estão a despedir pessoas ligadas às actividades de jogo e às restantes operações.”

A RAEM vive, portanto, “uma situação de completa paralisia”, defende António Trindade, que não assume uma postura optimista. “O que se percebe e vê é que, por exemplo, os grandes empregadores estão a despedir muitas pessoas. Os despedimentos em massa vão continuar nas próximas semanas, porque não vejo uma mudança de perspectiva. Não se sabe muito bem como vai ser a economia no ano que vem. Esperamos a renovação das concessões por mais seis meses e um concurso público, mas não sabemos a implicação da nova lei do jogo em relação ao concurso. Vai haver uma redução do mercado de trabalho.”

As restrições de entrada no território e a obrigatoriedade de cumprir quarentena afastaram muitos quadros estrangeiros de Macau, e para o CEO da CESL-Ásia o cenário não deverá mudar tão cedo. “A economia está a reduzir, muita gente vai deixar Macau e não prevejo que voltem tão cedo. Se voltarem, não serão as mesmas pessoas. A economia vai voltar a crescer, mas não sabemos quando”, acrescentou António Trindade.

Em relação à China, “existem outros factores, como a guerra na Ucrânia e o impacto prolongado e combinado de situações que não se notam muito ainda, embora exista alguma percepção”. “Mesmo nas economias do resto do mundo só iremos sentir o impacto de uma maneira generalizada nos próximos dois ou quatro meses, dependendo [da evolução] do conflito”, adiantou o empresário português.

Lei fora da realidade

O empresário macaense Jorge Valente entende que, “provavelmente devido aos confinamentos, na China, Hong Kong e Macau muitos expatriados ou talentos optam por ir para outros locais com menos restrições”, defendeu ao HM. “Repare que, quem tem talento é cobiçado em todo o mundo e pode escolher o emprego que quer, no local que gostar mais. Hong Kong tem a agravante da instabilidade política, e os talentos fogem para Singapura, isto para quem quer sair da China”, exemplificou.

No caso de Macau, a legislação laboral “está totalmente desvinculada das necessidades reais”, acusou Jorge Valente. “Os deputados e as associações de trabalhadores não sabem o que estão a fazer e defendem as causas erradas, não apresentado soluções reais.”

O empresário aponta que a situação dura há muitos anos e que passa pela defesa de “mão-de-obra não habilitada” ou “dificultar a importação de mão-de-obra”. “[Deputados e dirigentes associativos] estão ainda muito virados para pensar nos trabalhadores da construção civil, sendo esta uma das causas para a dificuldade de diversificação [económica], pois estas medidas entram em conflito. O Governo não está a conseguir impulsionar a economia e diversificá-la”, frisou o responsável.

Jorge Valente vai mais longe e refere que as autoridades “estão apenas preocupadas com medidas de combate à covid-19, deixando as pessoas passarem fome ou ficarem no desemprego”. Apesar de ser permitida, desde 27 de Maio, a entrada de não residentes oriundos de Portugal, por exemplo, Jorge Valente acredita que faltam condições para que estas pessoas possam cumprir a quarentena obrigatória. “Os únicos hotéis com saída são os da quarentena, estão cheios e não são suficientes.”

Poucas habilidades

Tal como António Trindade, também o empresário macaense pensa que não deverá haver nenhuma melhoria na área do emprego até que fique resolvida a renovação das concessões de jogo e dos casinos-satélite. De frisar que, numa primeira fase, o Governo avançou para o fim destes espaços de jogo fora dos grandes empreendimentos geridos pelas seis concessionárias, mas, entretanto, recuou na medida face às várias críticas que a medida mereceu.

Além disso, Jorge Valente acredita que a qualidade da mão-de-obra disponível em Macau “não é suficiente e não corresponde às necessidades do mercado”. Os exemplos trazidos para o debate são o desenvolvimento de Macau como plataforma comercial entre a China e os países de língua portuguesa sem trabalhadores bilingues suficientes.

“A Direcção dos Serviços de Economia e antigos secretários para os Assuntos Sociais e Cultura deveriam ter apostado, desde 1999, na educação em língua portuguesa, mas apenas a partir [do mandato] de Alexis Tam se começou a falar nisto, e só no fim se começou a fazer qualquer coisa”, descreveu.

Jorge Valente não tem dúvidas: “mesmo os [trabalhadores não residentes] do interior da China já não querem vir para Macau para serem trabalhadores de segunda [blue cards]”. “Se a economia começar a melhorar, a escassez vai ser ainda mais notória”, rematou.

Olhemos para números mais concretos descritos no último relatório do Manpower Group: uma em cada cinco empresas de todo o mundo têm dificuldades em encontrar pessoas qualificadas na área da tecnologia. Mais de 40 mil empregadores responderam ao inquérito, sendo que em 28 de 40 países e regiões foram reportadas para o terceiro trimestre de 2022 perspectivas consideráveis de recrutamento face ao trimestre anterior. Segundo o documento, “os empregadores de todo o mundo esperam ainda contratar mais trabalhadores no terceiro trimestre de 2022, reportando um ajustamento sazonal”. Surge, aqui, o crescimento de 33 por cento nas intenções de recrutamento em termos globais, com 47 por cento a planear contratar e 34 por cento a programar manter estável a força laboral. Apenas 15 por cento dos patrões acreditam que o número de trabalhadores irá diminuir.

7 Jun 2022