RUC | Trinta anos de rádio celebrados na RAEM

A Rádio Universidade de Coimbra (RUC) celebra 30 anos e, em Macau, um grupo de ex-DJs da estação prepara-se para assinalar a ocasião com uma festa onde vamos ouvir, garantem, “coisas que só se ouvem na RUC”. Uma sessão eclética, alternativa e independente é a promessa para o evento, que acontece na Live Music Association (LMA), no próximo dia 27.
Corria o período que ficaria para a história como o das “Rádio Piratas” quando surgiu a RUC. Uma estação intimamente ligada com o movimento estudantil de Coimbra, alternativa e por onde passaram muitos profissionais actuais dos média portugueses.
“A única rádio local de Coimbra, a única rádio-escola da Península Ibérica e uma das últimas rádios verdadeiramente livres” – assim se define a RUC no seu site, ao introduzir as comemorações do aniversário.
Celebrar os 30 anos vai merecer a realização de uma série de actividades durante o ano, que vão de concertos a emissões especiais, passando pela edição de livros. O lema? “Há 30 anos em todo o lado” – um slogan que surge do facto da RUC, adianta o site, “ter sócios pelo mundo fora, através dos mais diversos e abrangentes cargos, muitos dele de responsabilidade.”
Alguns desses sócios estão em Macau e é por isso que o aniversário da estação também aqui será lembrado mais uma vez. Os suspeitos por detrás do desafio chamam-se José Carlos Matias (jornalista da TDM) e Rui Farinha Simões (advogado) ambos ex-DJs da RUC.
Na primeira mensagem ao “auditório macaense”, via Facebook, a organização afirma que “há coisas que só se ouvem na RUC e que se vão voltar a ouvir em Macau” garantindo ainda que “um contingente de DJs RUC (Macau-based) vai partir a loiça.”
Portanto são de esperar sons que irão dos Pixies ao Kid Loco, passando por rock independente e “quiçá alguma música étnica”, confessa ao HM José Carlos Matias.

17 Fev 2016

Cinema | Macau recebe Festival Internacional com Marco Mueller e Elvis Mitchell

Pode custar cerca de 80 milhões de patacas e pretende levar Macau para o grupo dos grandes festivais de cinema. Deverá acontecer em Dezembro deste ano entre o Centro de Ciência e o Galaxy. À frente, dois nomes de peso – Marco Mueller e Elvis Mitchell – e um programa que prevê 45 filmes, galas, prémios e muitas estrelas internacionais

[dropcap]M[/dropcap]acau vai albergar de 8 a 14 de Dezembro o seu “primeiro” Festival Internacional de Cinema, já baptizado como International Film Festival Macao (IFFM). A notícia é avançada por vários meios internacionais especializados e foi confirmada ao HM pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST), ainda que não tenha havido qualquer anúncio oficial.

Com um orçamento estimado em cerca de 80 milhões de patacas, valor considerado suficiente para que a organização possa transportar e albergar as delegações dos filmes e os principais média da Ásia, a maior parte da factura vai ser paga pelo Governo de Macau e o remanescente suportado por patrocinadores.

Nesta edição inaugural do IFFM, o foco vai ser para o cinema comercial com diversos géneros em presença. Está também prevista competição, galas e uma mostra temática. O Centro de Ciência de Macau constituirá o centro nervoso do evento, que se alargará para o Galaxy, onde as exibições para o mercado serão efectuadas.

A data escolhida (8-14 Dezembro) surge como aposta numa transição lógica a partir da Convenção CineAsia, que acontece na semana anterior – de 6 a 8 – em Hong Kong,

À frente do certame estará Marco Mueller, que já dirigiu festivais como os de Veneza, Locarno e Roma, e foi consultor artístico do Festival de Cinema de Pequim e do Festival Silk Road. Mueller terá o apoio de Elvis Mitchell, apresentador do programa de rádio “The Treatment”, leitor visitante de Harvard e crítico de cinema que ficará responsável pela selecção de títulos no mercado norte-americano.

A chegada de Mueller a Macau acontece depois deste ter trabalhado com os festivais de Pequim e Silk Road, e terá a ver com as restrições governamentais implementadas na China aos eventos competitivos, o que não acontece em Macau.

Os últimos a saber

A notícia chegou claramente mais depressa aos meios internacionais do que mesmo a Macau, já que os departamentos do Governo contactados pelo HM ou não sabiam do evento, ou sabem mas não estão prontos a anunciar. Todavia, as nossas fontes garantem que o evento cairá sob a alçada da Direcção dos Serviços de Turismo. Contactados estes serviços, foi-nos apenas autorizado a dizer que “os Serviços de Turismo estão a preparar a organização”, não confirmando em que papel, nem o orçamento, e prometendo uma divulgação com maior detalhe durante o próximo mês de Março.

Contactado o Instituto Cultural, cuja assessoria de imprensa não tinha conhecimento de qualquer envolvimento do organismo no festival, quisemos apurar a hipotética constituição de uma Comissão de Cinema ou de um Sistema de Incentivos Financeiros – algo também anunciado pela imprensa internacional (ver caixa). Contudo, até ao fecho desta edição, não nos foi possível qualquer tipo de comentário.

No fecho da edição, a Macau Films & Television Production and Culture Association enviou um comunicado, onde confirma o convite a Marco Mueller, as datas do Festival e uma conferência de imprensa para meados de Março.

Comissão de Cinema e apoio financeiro em estudo?

Segundo a revista Variety é ainda divulgado, sem referir fontes, que este evento enquadra-se na política do Governo de Macau de desenvolvimento da indústria do cinema, estando ainda previstas a constituição de um comissão de Cinema e da criação de um Sistema de Incentivos Financeiros para a indústria. Recorde-se que há uns anos surgiu em Macau um festival intitulado “Macau Internacional Film Festival (MIFF)”, numa organização que suscitou muita celeuma por entre a comunidade local do sector e muitas as interrogações sobre a apropriação da designação para um festival que segundo os seus críticos não tinha estatuto para isso, sendo que foi ainda questionado o apoio do Governo à iniciativa.

17 Fev 2016

Pintura, Fotografia e Multimédia | [X], de Rhys Lai, dia 20 na FRC

Quebrar a tradição e explorar novas possibilidades é a proposta do artista local Rhys Lai, que inaugura já esta semana a exposição [X], na Fundação Rui Cunha. Em Março, o artista volta à carga com um workshop de pintura acrílica para pais e filhos

[dropcap style=’circle’]R[/dropcap]hys Lai inaugura no sábado a exposição [X], na Fundação Rui Cunha. A designação da mostra fica a dever-se, segundo o artista, “ao desconhecido, a algo misterioso, ao inexplicável e, por outro lado, à pronúncia em Chinês de [X] – lê-se “乘”(Cheng), que tem o mesmo som de “承”que significa herança.”
Quebrar a tradição e explorar as possibilidades das artes em diferentes formas de apresentação da mesma, tais como pintura, fotografia, ou outros meios, é o objectivo desta exposição que vai ser montada em diferentes zonas da galeria, sendo uma delas intitulada “Eu Penso e Tu Reflectes”, onde o artista pretende estimular a interacção com o público. A exposição abre dia 20 de Fevereiro de 2016, pelas 17h00 horas e a entrada é livre. A mostra estará patente até 13 de Março.
Como jovem artista local, e membro activo da Associação de Desenvolvimento Artístico da Juventude de Macau, Rhys Lai tem a ambição de herdar e divulgar a arte e cultura de Macau. É também nesse sentido que dedica grande parte do seu tempo à formação e que no dia 5 de Março, pelas 16h00, vai promover um workshop de pintura acrílica destinado a pais e filhos, para que ambos possam explorar a sua expressão e a própria relação através da pintura, mas também para sensibilizar as crianças para as artes.
‘Técnicas básicas da pintura acrílica’ é o tema do workshop que é totalmente gratuito (incluindo material de pintura). Além disso, os participantes podem ficar com o produto do seu trabalho e com um livro de colecção das obras do artista. A lotação máxima é de dez pares – sendo aberto a crianças entre os três e os dez anos de idade – e é obrigatório inscrição.

16 Fev 2016

USJ | Palestras sobre tecnologias de ponta e música electrónica

[dropcap style=’circle’]É[/dropcap]já nos próximos dias 25 e 26 deste mês que estarão entre nós Martin Kaltenbrunner e Miha Ciglar, académicos que chegam à Universidade de São José para duas conferências onde a música assume o papel central, mas onde numa se fala da interacção tangível entre pessoas e computadores na produção de música electrónica e na outra das últimas tecnologias áudio onde expressões como “acústica não linear” e “sensibilidade táctil ultrasónica” fazem sentido.
Kaltenbrunner, que toma o lugar no dia 25, é professor do interface Culture Lab da Universidade de Arte e Design de Linz, foi investigador e docente na universidade Pompeu Fabra de Barcelona, entre outras instituições, e é um dos fundadores da Reactable Systems, empresa que tem sido responsável pela integração de conceitos de design desenvolvidos para o Reactable, um sintetizador modular tangível.
O instrumento tem vindo a ser mostrado em diversas feiras de arte e festivais de música e recebeu o Nica de Ouro para Música Digital conferido pelo importante festival Prix Ars Electronica. 16216P8T3
Em Macau, Martin vai falar do Reactable, introduzir as bases do design tangível de interacção e abordar a relação humana com a música electrónica. Esta conferência surge numa época em que os interfaces tangíveis se tornaram no paradigma emergente na concepção de instrumentos musicais electrónicos.
No dia seguinte, 26, é a vez de Miha Ciglar nos falar da sua empresa, a Ultrasonic, sendo que vai apresentar produtos actuais e futuros e introduzir os tópicos da acústica não linear e sensibilidade táctil ultrasónica.
Miha é compositor e investigador na área das tecnologias áudio e fundador do Instituto Pesquisa para Artes Sónicas (IRZU na designação inglesa) e do Festival Internacional de Artes Sónicas EarZoom, que acontece todos os anos desde 2009 em Ljubljana, na Eslóvenia.
A Ultrasonic, que fundou em 2011, é uma ‘startup’ especializada em tecnologias áudio produzindo controladores de interface sem contacto táctil ou altifalantes direccionais baseados em ultra-sons.
As palestras têm início às 18h30 em ambos os dias 25 e 26 de Fevereiro, na USJ. Ambas têm duração estimada de duas horas e são abertas ao público.

16 Fev 2016

Creative Macau | Workshops de arte com Ana Maria Pessanha

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Creative Macau vai organizar dois workshops ministrados pela artista plástica Ana Maria Pessanha. Um incidirá sobre a importância da brincadeira no desenvolvimento infantil, o outro levará os participantes para um mergulho na obra do impressionista Matisse.
As acções decorrerão em Abril mas as inscrições já estão abertas, sendo que o primeiro worskhop, agendado para 5 a 9 de Abril, convidará os participantes a redescobrirem o conceito artístico de Matisse e compreenderem a personalidade de um dos mais representativos artistas do séc. XX. A parte prática também vai ser privilegiada com o ensino de técnicas de pintura, de entre elas o processo que Matisse começou a aplicar no final da sua vida – o método de colagens de diversos papéis coloridos. Para a monitora, este curso “permitirá aos participantes descobrirem não apenas o legado de Matisse, mas também o conhecimento de diversas técnicas de composição com colagens e técnicas mistas e a utilização de a materiais novos e reciclados”.

Brincar é preciso

No segundo workshop, de 11 a 15 de Abril, pretende-se revelar a importância da brincadeira no desenvolvimento das crianças ao promover a literacia derivada das actividades lúdicas. Segundo a artista, “brincar e jogar desenvolvem diversos campos cognitivos possíveis e proporcionam uma reflexão cuidada sobre a selecção dos jogos e dos brinquedos educacionais que permitem a promoção de uma educação harmoniosa”. No curso, os participantes vão aprender a produzir vários brinquedos e jogos para crianças por via de técnicas como recortes, montagens e pintura. Uma acção que visa ainda enfatizar o papel dos pais na promoção de momentos de educação não formal para assim abrirem espaços para a interacção familiar, essenciais para atenuar pressões e proporcionar momentos de prazer

Bilhete de identidade

Ana Maria Pessanha frequentou os primeiros três anos da Escola de Pintura da Faculdade de Belas Artes do Porto e, em 1970, viria a concluir o seu grau em pintura na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Actualmente é professora de Arte e coordenadora do programa de Mestrado da Escola Superior de Educação Almeida Garrett da Universidade Lusófona.
Como artista participou em diversas exposições colectivas e, em 2011, apresentou a exposição a solo “Eu Vejo o Mar”, entre outras nos anos seguintes. Mais recentemente, em 2014, realizou outra exposição a solo, desta feita na Casa Garden da Fundação Oriente, em Macau, intitulada “Atravessando o Mar”.
O workshop de “Jogos, Brincadeiras e a Importância da Brincadeira no desenvolvimento Infantil terá sessões de segunda a sexta das 14h30 às 17h30 ou das 18h30 às 21h30. O de Matisse acontecerá de terça a sexta-feiras das 14h30 às 17h30 e sábado das 09h30 às 12h30 ou então de segunda a sexta das 18h30 às 21h30 e sábado das 14h30 às 17h30. Ambos os cursos têm um custo de 1200 patacas, um limite de dez lugares disponíveis e são destinados a pessoas com mais de 12 anos.

16 Fev 2016

Investigadora local com exposição que alerta para o consumismo

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]omprar roupas apenas pela marca que ostentam e sem pensar na sua utilidade é um dos resultados da sociedade de consumo em que vivemos. É essa análise que Cheong Siwai faz e pretende reflectir numa exposição, que intitulou “Loja Pop Up para Alguma Coisa ﹣As Experiências com Roupa de Siwai”.
Para a jovem de Macau formada em Moda, “nesta sociedade consumista, as pessoas preocupam-se exclusivamente com uma foram materialista de viver e, por isso, as marcas servem de guia de compras”. Siwai é uma investigadora de moda que tem vindo a trabalhar na indústria depois de se formar no Instituto Politécnico de Macau em Design de Moda e de ter um mestrado em Gestão de Moda no Reino Unido. Agora de volta a Macau, Siwai pretende desenvolver uma carreira baseada na sua visão do fenómeno, apesar de cedo ter percebido da sua incapacidade para fazer frente à pressão de um mercado onde, como ela própria diz, “as marcas têm de seguir as tendências das estações, desenvolver produtos ‘quentes’ baseados nelas e até imitar marcas maiores para atraírem e manterem clientes”. picture_4
Um processo que choca de frente com a sua visão mais ligada a uma moda com base nas pessoas e na sustentabilidade.
Na sua procura de “pensar fora da caixa”, Cheong Siwai vai transformar o segundo andar da galeria do Armazém do Boi numa loja temporária de moda onde os visitantes podem assistir ao processo de produção, dos tecidos à peça final, incluindo mesmo a promoção e logística envolvidas.
Em exposição estarão também uma série de protótipos e peças imperfeitas – daquelas que podem acabar no lixo – mas às quais a artista pretende conferir um novo significado, algo que obrigue os visitantes a reflectirem sobre o consumismo.
Todas as peças em exposição poderão ser adquiridas e os proveitos reverterão para a Oxfam Hong Kong. A abertura da exposição acontecerá no próximo dia 20 de Fevereiro (sábado) pelas 16h00 e estará aberta ao público até ao dia 27 de Março. A entrada é gratuita.

15 Fev 2016

Pintura | “Ma-Boa Lis-Cau”, de Charles Chauderlot, inaugura dia 23

São retratos com algum humor, detalhados, produtos do confronto entre as duas cidades das sete colinas, onde o espectador é impelido a confundir-se apesar das evidências. São as pinturas de Charles Chauderlot que trazem Macau e Lisboa à Creative Macau na quinta-feira

[dropcap style=’circle’]“[/dropcap]São diferentes mas parecem-se”, garante Charles Chaderlot a propósito de Macau e Lisboa. É isto, aliás, que o pintor vai tentar provar na sua próxima exposição de desenhos e litografias na Creative Macau: a visão do artista ao combinar as duas.
“Gosto do sabor especial dos tabacos no meu cachimbo, da mistura dos diferentes tabacos”, garante Chauderlot para ilustrar o espírito desta exposição que, significativamente, intitulou “Ma-Boa Lis-Cau”.
Segundo o pintor, “Macau e Lisboa têm muitos aspectos diferentes como a sua a história e a própria localização. Mas também têm muitas semelhanças, como a cancela chinesa, as igrejas, as pequenas lojas, etc.” Nesta descoberta, Chauderlot retrata diversas cenas das duas cidades, na visão composta delineia entre Macau e Lisboa. chauderlot
Das ruas de Madrid aos recantos inacessíveis da Cidade Proibida, num percurso de pintura ocidental e chinesa com passagens por Lisboa e Macau, onde vive desde 2006, Charles Chauderlot tem um longo percurso na pintura. Nasceu em Madrid, em 1952, no seio de uma família franco-espanhola com uma árvore genealógica cheia de reconhecidos escultores, pintores, arquitectos e gente das Artes.
Começou a pintar aos 11 anos, em Bordéus, com um professor de Belas Artes, até que em 1996 vem pela primeira vez à China e em 1997 muda-se para Pequim onde acaba a pintar em zonas restritas da Cidade Proibida, numa época em que estudava as técnicas de pintura chinesa e desenvolvia capacidades para explorar a pintura a preto e branco.
Em 2006, muda-se para Macau, onde continua a pintar. Um percurso que o levou a expor um pouco por todo o mundo e a participar em várias feiras de arte. Em 2011 o IACM organiza-lhe uma exposição de dois meses e publica um importante catálogo da sua obra. Em 2013, no Museu do Oriente, em Lisboa, Chauderlot também viu a sua obra exposta por cinco meses no contexto das celebrações dos 500 Anos das Relações entre Portugal e a China.
Agora, a sua mais recente exposição inaugura no próximo dia 23 pelas 18h30 na Creative Macau, sendo a entrada gratuita. A organização promete uma tarde de refrescos e animação intermitente. Os trabalhos de Charles Chauderot estarão disponíveis ao público todos os dias, de segunda a sábado, entre as 14h00 e as 19h00 até ao dia 19 de Março.

15 Fev 2016

Arte | José Drummond e Peng Yu apresentam-se em Berlim

Um encontro de almas predestinadas a estarem juntas é o tema da exposição de vídeo-arte que José Drummond e Peng Yun desenvolveram e vão inaugurar em Berlim já amanhã. No dia 20, os artistas seguem para a vizinha Áustria, onde dão uma palestra e apresentam trabalhos para o Festival de Vídeo Arte do Danúbio
A inspiração para o novo projecto de José Drummond e Peng Yun perpassa pelo antigo ditado chinês “embora nascido a mil li de distância, as almas que são uma vão encontrar-se” e é esse o tema da exposição de vídeo-arte que os artistas vão inaugurar em Berlim já amanhã.
O projecto alerta para algum tipo de força predestinada que une as pessoas mesmo que estejam distantes. A configuração deste reencontro traz um nível perturbador, embora criativo, existencial, onde o ponto de encontro predestinado é alcançado através de uma perspectiva nómada. Segundo os artistas, ela pressupõe que uma, ou ambas as “almas”, devam viajar para um determinado ponto para assim se realizarem.
Em declarações à imprensa, o par declara ainda que “este conceito de unicidade das almas concorre com a ideia de alma gémea que tem a sua origem no ‘Simpósio’ de Platão”. Nas imagens, “a ideia de quatro braços, quatro pernas e uma única cabeça feita de duas faces leva um valor interessante quando aplicado ao conceito de dois artistas trabalhando em conjunto para o mesmo objecto, o mesmo objectivo”. Uma reflexão sobre um caso específico de artistas que “embora nascidos separados por mais de mil li” reúnem-se num novo lugar como “almas que são uma”, trabalhando em conjunto e onde cada identidade individual é uma contribuição para um objecto que existe entre lugares, como garantem José e Yun.
Peng Yun nasceu na província de Sichuan, na China, e é bacharel do Departamento de Pintura a Óleo da Academia de Belas Artes de Sichuan, tendo ainda um mestrado em Belas Artes conferido pelo Departamento de Novos Média da Academia de Artes da China. O seu trabalho incide especialmente em imagens em movimento, fotografia e instalação tal como o de José Drummond.
Nascido em Lisboa, este residente de Macau estudou pintura e cenografia sob orientação do professor Pedro Morais e possui um mestrado do Instituto Transart. O par conheceu-se em Macau em 2010 e, em 2015, decidiram começar a trabalhar juntos em projectos relevantes.
No dia 20, os artistas seguem para a Áustria, onde dão uma palestra e apresentam trabalhos para o Festival de Vídeo Arte do Danúbio.

12 Fev 2016

Hélder Beja, sub-director do Rota das Letras: “Vamos ter Bocage neste festival”

Com mais autores de língua inglesa, a quinta edição do festival Rota das Letras mostra que a internacionalização é o caminho a seguir, bem como o reconhecimento aos clássicos autores chineses e portugueses. Hélder Beja garantiu que, a par de Camilo Pessanha, também Bocage será recordado

[dropcap]U[/drocpap]ma ideia pensada desde o inicio transforma-se cada vez mais em realidade. A quinta edição do festival literário Rota das Letras começa também a pensar nos autores ingleses vindos de vários lugares do mundo e com diversos tipos de escrita. Jane Camens, da Austrália, Bengt Ohlsson da Suécia e Jordi Punti de Espanha são alguns dos nomes que provam isso mesmo. Pelo meio, Macau vai receber dois poetas filipinos, Ângelo R. Lacuesta e Mookie Katigbak Lacuesta, por forma a responder a uma das maiores comunidades aqui residentes.

Ao HM, Hélder Beja, sub-director e programador do festival Rota das Letras, fala de um encontro que se irá pautar ainda mais pela diversidade de palavras e de ideias. “Ao fim de duas edições começámos a perceber que era o que fazia sentido, avançar para um modelo que fosse ao encontro dos autores de língua chinesa e portuguesa, mas que se estende a outras nacionalidades”, disse em entrevista.

“Queremos posicionar o festival como sendo verdadeiramente internacional, para conseguirmos estar a par de outros festivais e fazer parcerias. A ideia de responder a outras comunidades existe, mas não é a dominante. Queremos trazer autores de outras proveniências e tornar o festival cada vez mais rico”, apontou Hélder Beja.

Para fazer esta edição, a direcção do festival decidiu desafiar Rui Zink e Lolita Hu, autores convidados de anteriores edições, para serem “padrinhos” e escolherem alguns escritores. Foi Rui Zink, por exemplo, que propôs o nome de Bengt Ohlsson.

“Vamos abrir a discussão a outras nacionalidades e a outras literaturas, que também são bastante ricas. Na Europa do Norte são mais conhecidos pelos trillers, por exemplo, e isso pode ser um processo importante para Macau”, garantiu Hélder Beja.

Parcerias a caminho

Se no início caminhava sozinho para construir um evento que une várias culturas, hoje o Rota das Letras é cada vez mais contactado por outras entidades do meio literário para parcerias e participação de escritores. Foi o que aconteceu com Jordi Punti e Owen Martell, por exemplo. “É uma coisa que nos vem acontecendo cada vez mais, e são solicitações que não implicam investimento da parte do festival. Com diferentes nuances conseguimos encontrar uma forma inteligente de internacionalizar o festival, sem queimar muitos recursos”, explicou o sub-director do evento.
Do lado luso, o destaque vai para Matilde Campilho, a jovem autora que foi a que mais livros vendeu no Festival Literário do Paraty, no Brasil. Nascida em Lisboa, Matilde viveu no Rio de Janeiro e os seus poemas ousam misturar palavras em inglês com o português de Portugal e do Brasil.

“Antes de ela ter o brilharete em Paraty já tínhamos pensado nela. Quando as notícias do Paraty saíram, tomámos uma decisão. Há uma nova geração de poetas da qual ela é apenas uma das representantes, mas acho que faz sentido. Ela é a grande estreia da literatura dos últimos anos”, confessou Hélder Beja.

Apostar nos clássicos

A quinta edição do Rota das Letras vai recordar Camilo Pessanha, autor intimamente ligado a Macau, com a presença de Paulo Franchetti, Daniel Pires e Pedro Barreiros, académicos que estudaram os poemas de Pessanha. Mas a ideia é lembrar também o poeta português Bocage.

“Bocage esteve em Macau e estamos a preparar alguma coisa, que vamos avançar em breve. Vai haver Bocage neste festival”, garantiu Hélder Beja.

Lembrar os clássicos será uma nova aposta do Rota das Letras. “Não pensamos em fazê-lo todos os anos, mas quando houver um motivo muito óbvio iremos fazê-lo. O festival tem de ter esse papel, mas temos de trazer para o presente autores que estiveram em Macau ou que têm uma relação com Macau, e que estão um pouco caídos no esquecimento. Vamos fazer esse trabalho para o Pessanha e Bocage, por exemplo, mas também para outros autores de língua chinesa”, disse o sub-director.

Luís de Camões, autor também ligado a Macau, será também recordado com o espectáculo de António Fonseca, que fará um monólogo com os poemas de Os Lusíadas. “O festival volta às artes de palco, o ano passado não teve em português, este ano vai ter com um monólogo. É notável poder ver um homem que decorou os Lusíadas todo. Acho que vai ser um momento bonito deste festival”, considerou.

O regresso ao Fado

Depois dos concertos de Camané e Aldina Duarte, a direcção do Rota das Letras sentiu que tinha de regressar ao tradicional Fado, com a presença de Cristina Branco. “Tínhamos de voltar ao Fado, e em cinco edições vamos ter três com Fado. O maior desafio é inovar, mas também diversificar. Do lado chinês tivemos uma movida mais jovem o ano passado, mas para o ano podemos trazer de novo um rapper ou um cantor de intervenção, por exemplo”, referiu.

Prestes a estabelecer uma parceria com o Festival Literário Internacional de Hong Kong, o Rota das Letras cada vez mais atravessa fronteiras, mas ainda não atingiu a desejada maturidade. “Ainda há muito para fazer, acho que o festival caminha para a maturidade, mas ainda não chegou lá. O festival precisa de uma estrutura que acompanhe o festival ao longo do ano, ainda mais profissionalizada”, rematou Hélder Beja.

10 Fev 2016

Literatura | Acabou VI Encontro de Escritores de Língua Portuguesa

No último dia do encontro, que decorreu na Cidade da Praia, em Cabo Verde, o escritor e jornalista angolano José Luís Mendonça descreveu o seu país como sendo uma “ilha cultural e linguística”

O escritor e jornalista angolano José Luís Mendonça apresentou ontem Angola como “uma ilha cultural e linguística” que vive um dilema de não reencontro com África, com o inglês a dominar numa sociedade cada vez mais americanizada. Para o autor de “Gíria do Cacimbo” (1986) ou “Poemas de Amar” (1998), os angolanos são “mais europeus que os países vizinhos” e estão cada vez “mais europeizados”, o que os isola no continente africano.
“As línguas que falamos são as línguas europeias: o português, inglês e o francês, que fazem de Angola uma ilha cultural e linguística. Não temos contacto com os criadores, principalmente escritores de países vizinhos”, disse. Sublinhou que, em 40 anos de descolonização, o país não conseguiu reencontrar-se com a “essência, o âmago e a forma de viver africano”.
José Luís Mendonça defende que os angolanos conhecem melhor a literatura portuguesa e brasileira do que a de Moçambique, por exemplo, e que a literatura angolana está pouco divulgada em todo o mundo. “Em Angola não temos nenhum empresário que possa fazer esse negócio, não temos quem pegue no livro e faça essa aposta”, disse, considerando que para ter sucesso é preciso sair do país.
“Um escritor que tenha projecção em Lisboa, o centro difusor, consegue ter traduções na Alemanha, na Inglaterra e na América, como os casos de Pepetela, Agualusa e Ondjaki, porque investiram muito fora de Angola”, disse.
Por outro lado, considerou que o português “está a desaparecer paulatinamente de Angola” e a ganhar cada vez mais preponderância a língua inglesa e o estilo de vida americano, onde as línguas nacionais praticamente não existem na literatura.

Outras insularidades

A insularidade e a existência ou não de uma literatura das ilhas foi o tema do principal painel do segundo dia do VI Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, que chegou ontem ao fim na cidade da Praia, Cabo Verde.
O açoriano de São Miguel João de Melo e o cabo-verdiano da Boavista, Germano de Almeida, abordaram as vivências de infância nas ilhas de origem, tempos em que, apesar da dimensão, as ilhas pareciam enormes e em que o movimento de emigração era constante.
“O movimento de saída era impressionante. O despovoamento dos Açores marcou-me de tal forma que elaborei uma geografia compensatória para recriar um mundo em extinção”, disse João de Melo.
Por seu lado, Germano de Almeida disse que há vários anos que não vai à Boavista “para conservar a memória da ilha da infância”, substituída hoje pelos empreendimentos turísticos. A dicotomia entre a ilha/prisão, ilha/paraíso foi também abordada, com os escritores a concordarem que pode ser perfeitamente as duas coisas.
Na parte do debate, escritora e presidente da Academia Cabo Verdiana de Letras, Vera Duarte, lançou uma vez mais o desafio aos escritores presentes para que advoguem, em cada um dos seus países, a favor da introdução no ensino fundamental de uma disciplina que estude a cultura dos países lusófonos.
João de Melo recordou, neste contexto, uma ideia lançada pelo também escritor presente no encontro, José Fanha, de criar um espaço de continuado de circulação de livros. “Só assim a lusofonia faz sentido no plano cultural”, disse, lembrando que é Portugal é mais fácil traduzir um livro em outra língua do que editá-lo no Brasil ou em Cabo Verde.
João de Melo sustentou ainda que “todos os movimentos culturais que se geram nas ilhas devem ter como sentido a universalidade”. “A geografia não pode ser vista como forma de contenção literária. Culturalmente temos que levantar e projectar estas ilhas para mais longe”, disse.
Também presentes no debate os escritores moçambicano Luís Carlos Patraquim, brasileiro João Paulo Cuenca e o timorense Luís Cardoso, falaram das suas relações e experiências de insularidade.
O encontro de escritores, promovido pela União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) em parceria com a câmara da Praia, teve ontem um debate sobre poesia e música.

4 Fev 2016

Venetian | Celebração de Novo Ano traz símios para a cidade

Tudo começou quando Mica Costa Grande e Sofia Salgado voltaram a Macau há uns anos atrás e decidiram ficar. Uma ideia nascida a partir da “Cow Parade” organizada pela primeira vez em Chicago em 1999, como Mica confessa: “vim cá para fazer uma exposição no MAM, lembrei-me disto, em 10 minutos desenvolvi um esboço de proposta, em duas horas mandei-a para vários casinos e 24 horas depois tinha uma resposta positiva do Venetian”. O primeiro evento funcionou por convites mas a partir do segundo os curadores resolveram começar a contactar associações artísticas que assim enviam os seus representantes, além de ainda contarem com artistas individuais, como Sofia Salgado nos adiantou que todos os anos “nos enviam os seus trabalhos e querem participar”.

Menos dinheiro mas muita exposição

Na sua totalidade este evento tem um orçamento de 800 mil patacas sendo que uma escultura custa cerca de 25 mil patacas a produzir em fibra de vidro e cada artista recebe quatro mil para gastar em materiais. “Não dá para muitas grandezas, mas fazemos o que podemos”, diz Bárbara Ian uma das participantes que este ano resolveu “fazer um bocado de moda” baseando-se na ideia das máscaras venezianas que, segundo a tradição, permitem ao utilizador agir de forma mais livre ao poder interagir com os outros livre dos limites da identidade e das convenções diárias. Outro dos artistas convidados foi o cartoonista Rodrigo de Matos que trouxe um macaco disfarçado de panda, baseado na ideia de “ser um animal querido na região e por estar em extinção”, adianta Rodrigo para passar a ideia que “todos nós somos pandas, todos somos animais em vias de extinção”. Relativamente ao montante recebido, Rodrigo acha que “chega para pagar os materiais mas é manifestamente insuficiente para pagar as nossas horas de trabalho”. Confrontado com a redução do orçamento e o valor recebido pelos artistas , Scott Messinger, vice-presidente sénior de Marketing do Venetian alega que “nós também lhes damos uma plataforma de exposição muito grande pois todos estes trabalhos são divulgados nas nossas redes sociais e nas nossas publicações que são globais. A nossa Cotai Style Magazine que está nos quartos do nosso hotel também é distribuída em Singapura e nas nossas propriedades de Las Vegas e Bethlehem, Pensilvânia, portanto os artistas têm uma grande exposição”, explica.

E um leilão?

Até hoje nenhuma das obras produzidas foi vendida. Confrontado com a possibilidade de organizar um leilão, Mica Costa Grande diz-nos que “faz sentido mas como sou de uma família de artesãos tenho muito medo do comércio. Já me falaram disso mas eu tenho muito medo que não funcione. Mas talvez este ano, porque tivemos um corte tão grande no orçamento possamos desenvolver alguma actividade comercial.” Uma opção que para Rodrigo “seria brilhante se pudéssemos ser mais recompensados pelo esforço”. Bárbara partilha as dúvidas de Mica interrogando-se sobre “quem iria ao leilão?”. Quisemos também saber o que o patrocinador Venetian pensa da ideia e a resposta de Scott Messinger não se fez esperar: “Adorávamos fazer parte de uma coisa dessas! Até poderíamos comprar umas peças nós mesmos. Temos aqui trabalhos excelentes e muitos têm a ver connosco.”
As peças vão agora estar expostas na Lagoa do Venetian, no Sands e, em breve, serão distribuídas por vários pontos da cidade como tem sido hábito nos anos anteriores para assim cumprirem a sua premissa de peças de arte urbana. Para o ano vêm os galos pois, a julgar pela conversa que tivemos com Scott Messinger, o Venetian continua interessado na aposta.

3 Fev 2016

Rota das Letras | Cristina Branco vem a Macau em Março

A fadista portuguesa Cristina Branco é um dos nomes confirmados para os espectáculos do festival literário Rota das Letras, a par de João Caetano e Yao Shisan. De Portugal chega ainda António Fonseca para interpretar Os Lusíadas no Teatro D.Pedro V

[dropcap]A[/dropcap] área dos espectáculos do festival literário Rota das Letras vai pautar-se por uma mistura plena das culturas chinesas e portuguesa. O nome de Cristina Branco, uma das mais conhecidas fadistas da nova geração, vai actuar no Centro Cultural de Macau (CCM) no dia 12 de Março. Para além disso, o músico de Macau João Caetano dará um espectáculo em conjunto com Yao Shisan, artista folk chinês que ficou conhecido do grande público com a publicação do single “Blind” em 2011. As suas músicas são cantadas no dialecto da sua terra natal, Guiyang, da província chinesa de Guizhou, enquanto que as letras “reflectem situações do quotidiano, salpicadas de grandes doses de um humor perspicaz”.

Cristina Branco começou a sua carreira na música na década de 90, tendo sido uma das artistas a mudar a forma como o Fado é cantado nos dias de hoje. Para a organização do Rota das Letras, a fadista “definiu o seu percurso, no qual o respeito pela tradição e o desejo de inovar andam de mãos dadas”. Cristina Branco já gravou letras e poemas de Luís de Camões, Fernando Pessoa, David Mourão-Ferreira ou José Afonso, para além de compositores internacionais como Paul Éluard ou Léo Ferré.

Outras músicas

Ainda nos palcos, o Rota das Letras assinala o 400º aniversário da morte de Tang Xianzu, dramaturgo da dinastia Ming, e traz a ópera chinesa Pavilhão das Peónias, uma das mais famosas, com o grupo de Ópera Cantonesa de Foshan. No dia 6 de Março o público poderá assistir a uma adaptação da ópera Pavilhão das Peónias, no Teatro D.Pedro V.
Ainda neste icónico espaço haverá lugar para o teatro luso. António Fonseca vai interpretar o texto de Os Lusíadas, do escritor português Luís de Camões, em duas horas e meia de espectáculo. António Fonseca levou quatro anos a decorar os mais de oito mil versos que compõem a mais importante obra de literatura portuguesa, tendo estreado o espectáculo em 2012.

O espectáculo de ópera chinesa terá lugar às 20h00 e os bilhetes custam 50 patacas, podendo ser adquiridos na Livraria Portuguesa ou no Edifício do Antigo Tribunal a partir dos dias 15 e 29 de Fevereiro. O espectáculo de Os Lusíadas tem entrada livre e começa às 19h30. Os lugares são limitados a um máximo de dois bilhetes por pessoa, podendo ser adquiridos nas mesmas datas e lugares acima descritos. Já os espectáculos de música custam 150 patacas.

3 Fev 2016

Fotógrafo António Mil-Homens abre e reabre estúdio

A proposta é de um espaço de cultura com a fotografia ao centro. Um local para conviver e ser fotografado por quem faz disso a sua profissão há mais de 40 anos. A propósito da ocasião falámos sobre o espaço e respectivos projectos, claro, mas também sobre as indústrias criativas de Macau

Existe há três anos mas só agora António Mil-Homens sentiu que tinha as condições reunidas para abrir ao público. A grande inauguração foi na passada sexta-feira mas este sábado pelas três da tarde vai haver uma reinauguração. Demonstrar que em Macau existe capacidade, qualidade e condições para trabalho profissional de fotografia sem que tenha sempre de se requisitar os serviços de Hong Kong é o principal objectivo de António Mil-Homens. Mas, para além da fotografia, está apostado em transformar o espaço num clube de amigos, um local que se preste a encontros, a troca de experiências, espaço para poesia, música, tertúlias mas tendo, naturalmente, em vista a angariação de mais clientes. “Dou um exemplo: às vezes a malta não sabe o que fazer, porque não reunir os amigos e vir até ao estúdio beber uns copos, ouvir música, passar um bom bocado e fazer uma sessão fotográfica? Para além das fotografias profissionais que normalmente são solicitadas para websites, ou outros fins mais sérios, porque não fazer uma sessão fotográfica na brincadeira?”, sugere António. Não está, todavia, nos planos do fotógrafo ter uma programação regular até porque isso poderia complicar as marcações das sessões de fotografia que são a sua actividade profissional. “Isto não é uma sala de espectáculos, nem sequer um bar ou uma discoteca”, garante, “é, isso sim, um espaço de convívio, um local de cultura onde aproveitámos o facto de estarmos num edifício industrial, logo não temos problemas de ruído”, acrescenta.

O drama do “vão de escada”

A democratização da fotografia que o digital introduziu facilitando imagens de alta resolução a qualquer pessoa trouxe ao mercado de fotografia pessoas que, garante António Mil-Homens, “nunca viriam a ser fotógrafos e digo isto completamente convicto. Compram uma máquina e uma ou duas objectivas e vão para o mercado. A maioria são jovens, não têm encargos e, por isso, rebentam com os preços”. Esta situação tem vindo a colocar muitos profissionais fora do mercado e é também por isso que surge a necessidade de abrir espaços como este que agora se inaugura vendo nesta iniciativa uma forma de diversificação e sofisticação da sua oferta. “O que estes miúdos não percebem”, explica Mil-Homens, “é que, se realmente pretendem fazer uma carreira na fotografia, com este tipo de actuação estão não só a dinamitar o mercado actual como também a comprometer o seu próprio futuro.” E dá o exemplo de Portugal, um mercado que conhece bem, onde hoje apenas meia dúzia (mesmo) de fotógrafos consegue viver bem da profissão.
“O mercado”, considera, “é exíguo mas eu acredito que ainda pode ser mais explorado”. Todavia, António Mil-Homens não tem dúvidas que tudo passa por exportar e dá o exemplo de Hong Kong há 60 ou 70 anos atrás, quando o conceito desenvolvido na região vizinha ultrapassava fronteiras e fazia com que grandes clientes mundiais fossem de propósito a Hong Kong para fotografar os seus produtos. “Desde que me comecei a interessar por fotografia”, diz-nos, “Hong Kong era uma referência para mim. Os fotógrafos de Hong Kong tinham sempre um cunho de inovação e qualidade que era único no mundo na época.”, revela António. Mais feiras de arte, mais festivais, mais intercâmbios até que um dia seja possível desenvolver um conceito criativo original em Macau é a receita do fotógrafo, “mas não falo apenas de fotografia. Falo de dança, de escultura, de cinema, música.” A este propósito cita o exemplo da Unitygate, uma plataforma de intercâmbio cultural entre Macau e Portugal e na qual também já participou como exemplo a seguir e a repetir.

Controlar a especulação imobiliária

Conforme aconteceu em Nova Iorque, aqui ao lado em Hong Kong, em Pequim e em muitas outras cidades, a deslocalização de unidades fabris permitiu a muitos artistas “invadirem” os espaços das ex-fábricas para aí montarem os seus ateliers e espaços de cultura. Em Macau isso está a acontecer agora mas grande parte dos artistas foram ultrapassados pelos especuladores e o valor de aluguer de espaços como estes, de há dois ou três anos, praticamente duplicou. “A grande maioria dos artistas trabalha para sobreviver, produzem arte para darem vazão à sua criatividade e não propriamente para enriquecerem”, diz António Mil-Homens, e continua, “entendo perfeitamente que quem adquiriu os espaços pretenda fazer dinheiro mas têm de perceber que se os preços sobem demasiado toda esta explosão criativa pode vir a ser aniquilada.” Como solução, fazendo fé na visão que o Secretário Alexis Tam tem demonstrado, António julga que “talvez o governo pudesse comprar alguns desses espaços e depois cedê-los a preços mais controlados porque os que existem, como o Macau Design Centre, não chegam para a procura”.

Formação e diversificação da oferta turística

“Adoro trabalhar em estúdio. Criar a minha própria luz, este intimismo… A não interferência de factores externos”, confessa António vendo no estúdio uma oportunidade de dar continuidade às acções de formação que tem desenvolvido com a Casa de Portugal, podendo agora adicionar a experiência de fotografia em estúdio. E vai mais além sugerindo a possibilidade de adicionar um workshop de fotografia ao menu dos turistas que nos visitam: “unir a visita ao território com a aprendizagem de fotografia parece-me uma boa ideia. No fundo, formação, para mim, é uma forma de transmissão dos meus conhecimentos e de eu próprio aprender”. O intercâmbio é mesmo uma preocupação fundamental do fotógrafo que vê no estúdio uma base para a troca de experiências: “porque existe a técnica mas depois a abordagem em termos estéticos varia de pessoa para pessoa, por isso o diálogo é fundamental para a evolução mútua”, ajuíza.
A abertura deste estúdio vem na sequência da inauguração, há cerca de dois meses, do “Core Studio” de Nuno Veloso, também ele um conhecido fotógrafo profissional residente no território e com quem António Mil-Homens mantém “uma relação de estreita colaboração e não de concorrência”, como o próprio nos garante.

2 Fev 2016

Moda | Ana Cardoso aborda traje macaense de casamento em palestra

A designer Ana Cardoso vai participar numa palestra numa universidade do Canadá em Julho onde irá abordar o traje de casamento na cultura macaense durante o tempo colonial. “Vou falar sobre a indústria da moda no século XXI e também das fusões interculturais que houve em Macau e em Portugal. Na época colonial os portugueses casavam com as chinesas, e foi aí que surgiu a ideia”, contou a doutoranda da Universidade de São José (USJ) ao HM, que está a abordar este tema na sua tese.
Segundo Ana Cardoso, não foi fácil a fusão de trajes nos casamentos ocorridos em Macau naquela época. “Em Macau sempre existiu a parte chinesa e os portugueses que vinham de fora. Primeiro aos portugueses que chegavam era difícil o acesso aos chineses porque eles não tinham a parte católica, e só muito depois é que houve uma influência. Inicialmente os portugueses casavam com malaios e filipinos, era mais fácil em termos de casamento. Ao nível do traje de cerimónia, em Macau começou a fazer-se o duplo casamento, em que havia a cerimónia portuguesa e chinesa. O noivo e a noiva usavam dois tipos de traje, entre o século XVI até ao século XIX e XX. No inicio foi um bocado complicada (a adaptação), porque ou se casava de uma maneira ou outra. A partir de 1900 o noivo casava com o fato e a noiva tinha um fato branco, com rendas, e gola asiática e botões chineses. Mas isso quase a entrar no século XX”, contou a estilista.
Ana Cardoso considera que cada vez mais os noivos em Macau optam por casar de ambas as formas. “Essa tradição não se tem vindo a perder, e usa-se cada vez mais. No inicio havia muita aceitação do lado asiático casar com a moda europeia e ficar por aí. Só depois é que a parte asiática começou a fazer uma maior ligação. Começou a surgir uma espécie de mistura, com dois tipos de cerimónia. Antes não havia o duplo casamento. Antes os macaenses faziam tudo à moda europeia.”
Para a estilista, que também é formadora no Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau (CPTTM), são necessários mais trabalhos sobre a moda dos antepassados. “Em termos do traje temos muito pouca informação e fazem falta mais estudos”, rematou.

1 Fev 2016

Barnabas Koo, historiador, apresenta biografia sobre Gary Ngai

[dropcap=’circle’]B[/dropcap]arnabas H.M. Koo apresenta este sábado em Macau “A Witness to History: an Overseas Chinese in Mainland China and Macau”, uma biografia de Gary Ngai. O historiador conta curiosidades sobre o passado, o presente e o futuro da RAEM e fala sobre um livro que promete aprofundar a vida de uma das personagens fundamentais do território nos últimos 50 anos. Quem se deslocar à sessão receberá uma cópia gratuita do livro

O que o levou a escrever uma biografia sobre Gary Ngai?
Porque o senhor Ngai ainda está vivo e pode responder às questões sobre as suas experiências e motivações durante vários momentos históricos importantes. Pode não ser a mesma de outros, mas é autêntica – e como tal deve ser conhecida. Também é uma história única. Não conheço ninguém, morto ou vivo, que tenha voltado à China ainda jovem, tivesse estudado e servido como um dos tradutores de Mao, sobrevivesse à Revolução Cultural, se tornasse conselheiro do governador Português, assistisse às suaves negociações Sino-Portuguesas e, depois da passagem de Macau, tivesse continuado a enfatizar a identidade separada que é a RAEM e a sustentar a sua relevância neste século. front cover

O que podemos aprender com a vida de Gary Ngai?
Naturalmente, diferentes pessoas tirarão diferentes coisas do livro. Mas talvez a possibilidade de compreender quão precárias eram as circunstâncias para os chineses nos estrangeiro durante o século XX. A ascensão comunista na China, complementada com os processos de descolonização no Sudoeste Asiático, colocaram dilemas sérios para eles devido à concorrência de lealdades e identidades complexas que eram parte integrante do seu código genético. Espero que as pessoas na China reconheçam o sacrifício que muitos chineses emigrados fizeram, ou foram forçados a fazer, na jornada para que a China se tornasse numa superpotência mundial.  

De onde surge o seu interesse, como autor, sobre Macau, a presença portuguesa na região e a China?
Ao viajar pela China no princípio da década de 70, tive o privilégio de ficar alojado em alguns dos grandes hotéis estilo ocidental e mansões convertidas nos antigos ‘estabelecimentos estrangeiros’. Como é normal, fiquei extremamente consciente da presença ocidental na China e muito interessado na interacção com o Ocidente, como começou, como evoluiu e o seu impacto nas relações da China com o mundo. Inevitavelmente, esta história de convulsões trouxe-me a Macau – onde tudo começou.

É o responsável pelo “Desfile por Macau, Cidade Latina”. Macau e o Mundo Latino: o que é que isso realmente significa para as pessoas de ambos os lados?
É difícil de dizer, mas acredito que depende muito do tipo de contacto e se ele é prazenteiro ou traumático. Um ponto chave enfatizado por Gary Ngai no livro é que a educação e o contacto pessoa a pessoa são muito importantes. Quanto mais melhor, quanto mais feliz melhor. O Festival Latino de Macau e a promoção turística da cidade no estrangeiro são experiências positivas, especialmente se envolverem comida, entretenimento e desporto. Muitas pessoas concordarão com a dimensão do impacto que o cinema indiano e chinês têm na percepção que as pessoas têm dos povos, culturas e nações. Um jogo amigável de futebol entre um país da América Latina contra uma equipa de Macau, seja a que nível, pode ser um promotor efectivo da boa vontade e da compreensão. Este tipo de coisas deixam uma impressão muito mais profunda nas pessoas comuns do que quaisquer trocas de visitas entre funcionários governamentais. Barnadas Koo

Se fosse possível uma testemunha sobreviver em Macau durante 500 anos, quais seriam os destaques do seu relatório?
Que acabou tudo em bem e, acima de tudo, que subsistiu sempre a amizade durante o processo. Também os benefícios para ambas as partes, as contribuições foram adequadamente documentadas por outros. Mas acredito que um destaque saliente seria um povo – os macaenses. Eles são um povo de fusão, um cadinho de culturas, uma miríade de influências que convergiram na China durante esses 500 anos. Isto é algo que deve ser estimado, nutrido e celebrado. 

Recentemente tem-se falado muito sobre a identidade cultural de Macau. Na sua perspectiva, que identidade é essa?
A identidade de Macau – como a beleza – está nos olhos do observador. Nós vemos o que quisermos ver e isso depende muito do nosso círculo de amigos e das influências a que estamos expostos. No que me diz respeito, como historiador, a identidade de Macau é o seu património histórico – uma fusão de muita gente que fez de Macau a sua casa. Essencialmente chineses, portugueses e macaenses. Mas é uma realidade em permanente mutação. À medida que surge em Macau mais influência de filipinos e de americanos, eles também darão a sua contribuição para uma maior diversidade em Macau. Ao abraçarmos o passado podemos começar a olhar para o futuro com mais confiança.

Acha que a cultura de Macau tem tendência a desaparecer ou nem por isso?
Nem por isso. A cultura é dinâmica e responde aos esforços do Governo e grupos comunitários para a manter vibrante, útil e relevante. Tal como os imóveis na lista do património mundial, de que Macau tem muitos, a cultura requer um programa regular de manutenção e uma mentalidade inovadora para se adaptar às necessidades e às mudanças.   

Como vê Macau em 2049?
Vejo Macau firmemente integrado na Região do Delta do Rio das Pérolas económica e logisticamente. Na realidade, esta já é uma tendência actual. Administrativamente, apesar de estar programada a integração na R.P. China, não acho que Macau venha a ser automaticamente absorvida na província de Cantão. Independentemente daquilo para que o Governo Central possa evoluir, existem suficientes desafios estruturais e invejas domésticas para evitar que as ricas RAE’s sejam entregues de mão beijada a Cantão, o que só iria acentuar desequilíbrios. Neste cenário, acredito que será mais fácil para as ex-RAEs serem mantidas como entidades administrativas isoladas, directamente dependentes de Pequim. A natureza e extensão da representação democrática vai depender em muito da velocidade e da natureza das transformações políticas na China.

Da sua pesquisa sobre a presença portuguesa nesta zona do mundo, quais são os factos mais espantosos, ou interessantes, que descobriu?
Que apesar do declínio do império transoceânico de Portugal, Macau se tivesse aguentado durante tanto tempo sob o seu controlo. Claro que o debate sobre isto está aberto – se isso foi devido à ameaça da diplomacia de barcos de guerra, à utilidade de Macau para a China, ou a sua relativa insignificância para Pequim, ou outras razões.

Quase 500 anos após a chegada dos portugueses a esta região, como vê a evolução da relação entre Portugal, China e Macau e que retrato faz da situação actual?
É como se toda a gente estivesse a dançar com parceiros diferentes e músicas diferentes na mesma pista de dança. Portugal está sintonizado com a União Europeia, a China está focada em reclamar o seu ‘legítimo lugar’ no palco mundial, ao passo que Macau está focada no seu futuro económico. Espero que se ajudem e encorajem mutuamente para que representem bem o seu papel e fiquem todos bem vistos nessa pista de dança.    

Nota
O livro “A Witness to History: an Overseas Chinese in Mainland China and Macau” vai ser apresentado sábado pelas 15h00 na Associação de Ciências Sociais de Macau, Academia Jao Tsung-I, na Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida, nº 95 C-D.

29 Jan 2016

Vergílio Ferreira nasceu há cem anos

Apaixonado por questões existenciais, Vergílio Ferreira foi quem um dia disse que “o amor afirma, o ódio nega”. “Mas por cada afirmação há milhentas de negação. Assim o amor é pequeno em face do que se odeia. Vê se consegues que isso seja mentira. E terás chegado à verdade”

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]omemora-se hoje o centenário do nascimento do autor de “Manhã Submersa” ou “Esplanada sobre o Mar”, no seio de uma obra extensa onde a reflexão sobre a condição humana, as grandes interrogações do homem ou a procura de sentido para a vida foram uma tónica dominante. Para assinalar a efeméride dos cem anos de nascimento de Vergílio Ferreira, a Câmara Municipal de Gouveia inicia hoje um ciclo de um ano de comemorações para assinalar a vida e obra de uma das figuras incontornáveis das letras portuguesas.
O programa arranca com três dias consecutivos de actividades onde se incluem o lançamento da reedição das obras de Vergílio Ferreira (pela editora Quetzal), a reposição de um busto na praça de São Pedro (no centro da cidade de Gouveia), a inauguração de uma exposição e a realização de um colóquio.
Nascido em Melo, aldeia do concelho de Gouveia, no ano de 1916, o escritor viu os pais emigrarem para o Canadá quando tinha apenas nove anos ficando ele em Portugal com os irmãos mais novos. Uma experiência dolorosa que exorciza em “Nítido Nulo”. Aos 12 anos, após uma peregrinação a Lourdes, entra no seminário do Fundão e por lá fica seis anos. Uma experiência que mais tarde viria a dar origem a “Manhã Submersa”, um livro que retrata a vida de um conjunto de seminaristas oriundos de famílias pobres que se encontram num beco sem saída, entre uma suposta perspectiva de vida boa mas cheia de limitações em contraste com uma suposta liberdade em más condições de vida. Em 1980, Lauro António viria a trazer a história para o cinema e Vergílio Ferreira desempenha mesmo um dos principais papéis, ironicamente o de Reitor do Seminário. vergílio ferreira
Até se formar em Filologia Clássica em 1940, Vergílio – que apenas deixou o seminário quatro anos antes – dedica-se à poesia, nunca publicada, salvo alguns versos lembrados em Conta-Corrente e, em 1939, escreve o seu primeiro romance, “O Caminho Fica Longe”. Depois foi professor estagiário no Liceu D.João III em Coimbra e aí arranca a sua carreira docente que o levou a leccionar em Faro e no liceu de Gouveia (período em que escreveu “Manhã Submersa), acabando por se fixar no Liceu Camões até ao final da sua carreira.
Em 1992, recebe pelo conjunto da sua obra o “Prémio Camões” entre muitos outros galardões ao longo da sua vida. Faleceu no dia 1 de Março de 1996 em Lisboa e foi sepultado no cemitério de Melo, sua terra-natal, com o caixão virado para a Serra da Estrela, conforme era seu desejo.

“Não se pode esquecer Vergílio”

Em declarações à Lusa, a escritora Lídia Jorge, diz que Vergílio Ferreira precisa de ser lembrado e queixa-se do quase esquecimento a que o autor tem sido sujeito, dizendo que como o “mundo está organizado, neste momento, é muito difícil recuperar figuras como [a de] Vergílio Ferreira”, que considera “estarem um pouco afastadas, injustamente”. A escritora acrescenta ainda que “a escola e a universidade estão a descurar muito a obra de Vergílio, inclusive o romance ‘Aparição’ que é fundamental para os rapazes, entre os 16 e os 17 anos, que encontravam nessa obra uma grande projecção interior e aprendiam muito com esse livro, que desapareceu, e praticamente já não se lê”.


“Está a ser uma perda muito grande. Do ponto de vista estilístico, [Vergílio Ferreira] é irrepreensível, tem humor na escrita, tem caricatura, por alguma coisa era um admirador do Eça de Queiroz. Não é um sarcástico, mas um irónico, ele ensina”, rematou.
Antes de morrer, Vergílio Ferreira contou a Lídia Jorge o enredo do romance que contava ainda escrever. “É essa alegria de narrar que devia ser sublinhada” nestas celebrações, defendeu a autora.

“Fixei muito bem a história e pensei: é um livro semelhante aos outros, a história é a mesma, e, com o impacto da morte [dele], que aconteceu dois ou três dias depois, não fui capaz de a contar. A história era a mesma: a impossibilidade de amar a mulher, uma adoração pela mulher que desaparece, era a mesma fixação literária, que dá a impressão que nunca leu Freud”.

Obra Completa

Ficção
1943 O Caminho Fica Longe
1944 Onde Tudo Foi Morrendo
1946 Vagão “J”
1949 Mudança
1953 A Face Sangrenta
1954 Manhã Submersa
1959 Aparição
1960 Cântico Final
1962 Estrela Polar
1963 Apelo da Noite
1965 Alegria Breve
1971 Nítido Nulo
1972 Apenas Homens
1974 Rápida, a Sombra
1976 Contos
1979 Signo Sinal
1983 Para Sempre
1986 Uma Esplanada Sobre o Mar
1987 Até ao Fim
1990 Em Nome da Terra
1993 Na Tua Face
1995 Do Impossível Repouso
1996 Cartas a Sandra

Ensaios
1943 Sobre o Humorismo de Eça de Queirós
1957 Do Mundo Original
1958 Carta ao Futuro
1963 Da Fenomenologia a Sartre
1963 Interrogação ao Destino, Malraux
1965 Espaço do Invisível I
1969 Invocação ao Meu Corpo
1976 Espaço do Invisível II
1977 Espaço do Invisível III
1981 Um Escritor Apresenta-se
1987 Espaço do Invisível IV
1988 Arte Tempo
1998 Espaço do Invisível V (póstumo)

Diários
1980 Conta-Corrente I
1981 Conta-Corrente II
1983 Conta-Corrente III
1986 Conta-Corrente IV
1987 Conta-Corrente V
1992 Pensar
1993 Conta-Corrente-nova série I
1993 Conta-Corrente-nova série II
1994 Conta-Corrente-nova série III
1994 Conta-Corrente-nova série IV
2001 Escrever (póstumo)

28 Jan 2016

Fadas, luzes e muito amor nas vésperas do Ano Novo Chinês

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Turismo organizam, em conjunto com o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), realizam de 7 a 29 de Fevereiro, nas Casas Museu da Taipa e noutros pontos de Macau, um espectáculo de luzes com o objectivo de atrair visitantes para umas férias prolongadas e proporcionar um programa de lazer aos residentes. Assim, vão surgir instalações luminosas em mais de dez locais, mas o evento prevê ainda espectáculos de vídeo mapping 3D e um jogo interactivo para crianças.
Os contos de fadas e as histórias de amor são o tema deste evento que pretende interligar, a 14 de Fevereiro, a véspera de Ano Novo Lunar, o Dia de São Valentim, o sétimo dia do Ano Novo Lunar (Dia de Aniversário para todos) e o Dia dos Namorados Chinês (Festival de Lanternas). As instalações luminosas prometem 9999 rosas que estarão dispostas nas Casas Museu e na Freguesia de Nossa Senhora do Carmo – na Escadaria da Rua do Cunha, na Calçada do Quartel, na Av. Carlos da Maia, na Rua da Restauração, na Calçada do Carmo, no Jardim do Carmo e na Escadaria do Largo do Carmo.
O sapato de cristal da Cinderela serve de tema para a exibição de vídeo mapping em 3D numa história de reencontro de uma rapariga com um príncipe que viaja no tempo, em Macau, na noite do dia dos namorados. O jogo interactivo acontece após cada exibição de vídeo mapping e será ligado por via de uma bicicleta.

Concerto de São Valentim antecipado

O Concerto do Dia de S. Valentim, pela Orquestra Chinesa de Macau, que estava originalmente programado para o dia 14 de Fevereiro, foi antecipado para o dia 13, sábado, pelas 14h00 horas, continuando a acontecer na Igreja de Santo António. Com o intuito de promover a cultura chinesa, a Orquestra irá apresentar uma série de obras conhecidas, como a “Virgem Maria”, “Louvar a Deus”, “Amazing Grace”, “O Teu Doce Sorriso”, “Por Causa do Amor” e “Os Ratos Adoram o Arroz”, entre outras, de modo a promover a música chinesa. A entrada é gratuita e os bilhetes começam a ser distribuídos no local uma hora antes da actuação.

28 Jan 2016

Sir James Galway sobe ao palco do CCM esta sexta-feira

Dois ícones da música mundial – James e Jeanne Galway – estão em Macau. Na sexta-feira o casal de mestres fã do Rigoletto vai estar no Centro Cultural de Macau, mas não sem antes falar da vida e da música que o fez cá chegar

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]James Galway é sinónimo de flauta. “Um som único, inesquecível, que, por mais anos que oiça, nunca conseguirei imitar”, confessa Jeanne Galway, a esposa do artista há 32 anos e, também ela, considerada uma das melhores flautistas mundiais. Os dois conheceram-se em 1978 em Nova Iorque era Jeanne uma estudante finalista. Um dia, o mestre que todos ouviam na rádio vinha visitá-los. Foi o delírio.
“Trouxe aquela energia forte dele que a nossa classe tanto precisava. Lembro-me como se fosse ontem: entrou, abriu a mala e tirou de lá uma série de flautas douradas que distribuiu pelos mais de cem alunos. Depois tocou e nós maravilhámo-nos.”
Quisemos saber o que de tão especial tem o som de Galway, mas Jeanne ficou sem palavras apesar da sua expressão de profundo encanto quase as dispensasse. James Galway veio em seu socorro: “Eu explico”, disse, “é assim”, continua, “muita gente limita-se a soprar para a flauta mas este instrumento requer muito mais do que isso”. Para ilustrar a sua ideia, dá o exemplo dos Beatles, começando a trautear os primeiros versos de “With a Little Help From My Friends”. “Se eu cantasse fora de tom, será que te levantavas e te ias embora?”.
“O segredo é esse”, diz, “desafinar”, garante. “Algo apenas a acessível a executantes como Pavarotti, Callas… Foi isso que fez deles o que são.”

Não há tv, há flauta

Tudo começou para James por falta de melhor para fazer. Só havia rádio e a televisão ainda não tinha chegado a Belfast, pelo que as pessoas criavam o próprio divertimento.
“Na minha rua havia um tocador de trompete, dois que tocavam clarinete, um tocador de banjo, gaita de foles, eu, com a flauta, e mais uma série de gente que cantava. Havia até um que a gente chamava de Bing Crosby (risos). E assim passávamos o tempo.” Tinha menos de nove anos. Aos 11 já começava a levar o assunto a sério e aos 13 tocava em pequenas orquestras de escolas. Teve sempre professores mas foi o seu tio Joe – que “tinha paciência para o aturar” – que o ajudou a dar os primeiros passos. Já o tio tinha aprendido com o avô de Galway. Assunto de família, portanto.

“Karajan? Éramos os dois bons”

Mais tarde, aos 21 era solista na ópera de Londres onde ficou seis anos, “até não aguentar mais”, como confessa, seguindo-se a Sinfónica da BBC, a de Londres e a Royal Philarmonic, onde esteve já como solista, chegando depois a Berlim ainda antes de completar 30 anos, altura que enfrenta o lendário Herbert Von Karajan. Quisemos saber como foi e a resposta não tardou: “Éramos os dois bons no que fazíamos por isso não houve problema. Assim consegui o emprego.” E o maestro gostou tanto do trabalho dele que até criou programas especiais para destacar a flauta.

“Vamos já a correr”

James Calway tem feito parcerias com os mais variados músicos, como Elton John, Stevie Wonder ou BB King. “Só depois de estar em palco com eles percebi a diferença entre mim e estas grandes estrelas”, diz James . Mas tocar com Ray Charles foi memorável: “Que concerto! Impressionante, impressionante com letras grandes, garanto. Quando ele começou a tocar os primeiros acordes de Geórgia… Meu Deus”, diz entusiasmado.
Além destes casos, Galway adora colaborar com outros artistas, mas o critério de escolha é bastante importante, como diz Jeanne. “Depois de tocar com mestres como Karajan, o nível dele é muito alto”, pelo que se torna necessário um conhecimento prévio antes de se partir às cegas numa tournée.
Galway dá o exemplo do músico que os acompanha nesta deslocação a Macau, Phillipe Moll, que é alguém com quem já toca há muitos anos. “Mas, claro”, diz Jeanne “se o Roger Waters e os Pink Floyd nos ligarem para ir gravar, aí vamos a correr e depois esperamos que corra tudo bem”, brinca.
Trabalhar com este tipo de artistas é “uma experiência incrível”, garante Galway, “é impressionante como eles têm um grupo tão organizado, onde tudo bate certo. Bandas como os Pink Floyd, Supertramp, os Beatles, ou outras do género têm níveis de execução e de harmonia de conjunto ao nível dos melhores quartetos de cordas de música clássica do mundo”, assegura o mestre flautista.

Nunca é tarde para começar

A paixão que o casal nutre pelo ensino é uma das suas características salientes, que se materializa na sua escola virtual online (firstflute.com) onde ensina estudantes de todo o mundo. “Um projecto que surgiu por não existir uma escola tradicional de flauta com violino ou piano”, diz Jeanne, e que foi idealizada como um complemento às aulas que os alunos têm com o seu próprio tutor.
Não é todos os dias que se pode ter um acesso destes a um mestre, a grande particularidade deste projecto, mas os dois também fazem mentoria com vários dos seus alunos. “Às vezes tenho umas 20 mensagens para responder no Facebook”, confessa Jeanne.
Um curso que começa “mesmo do princípio”, diz James, “desde [aprender] como tirar a flauta do estojo sem a danificar.” E não há falta de interessados: “a flauta é como uma doença”, garante. “Há imensos miúdos loucos por tocarem flauta.”
Há também não tão miúdos, como uma aluna que começou a estudar flauta aos 70 anos. De resto, o legado de James Galway parece bem entregue aos seus ex-alunos na filarmónica de Los Angeles ou na orquestra sinfónica da BBC. “Estão por todo o lado e a gravarem”, afiança-nos.

O mito do apito

Diz-se que começou por tocar um apito ainda criança, mas Galway desmente por completo e conta o que de facto aconteceu: já estava na Filarmónica de Berlim quando se juntou com uns amigos e alugaram o Queen Elizabeth Hall para assim ficarem com o dinheiro todo dos bilhetes. “Ganhámos imenso dinheiro”, lembra-se divertido.
Correu tudo pelo melhor: casa cheia, público em delírio, imensos encores, mas às tantas o tocador de cravo decidiu não tocar mais, “que nem músico clássico”, acrescenta Galway ironizando. Assim, para contentar o público, resolveu tocar umas coisas num apito – assim nasceu o mito.

Música? Beethoven sempre

Jeanne prefere os compositores românticos italianos, mas James vira-se mais para Wagner e, acima de tudo, Beethoven, “Ele é o meu gajo! Oiço muito Beethoven.”
Também ouve outras coisas, claro, mesmo que a flauta pareça estar sempre presente, pois recomendou-nos vivamente o último álbum do flautista canadiano de jazz Bill McBirnie, que faz “um trabalho impressionante”, diz Galway, “do melhor que pode haver”.
Antes de nos despedirmos, Jeanne desafiou-nos a assistir ao concerto para percebermos o tal som inconfundível de que fala e depois irmos explicar a sensação ao camarim. Dá para recusar? A noite de sexta feira está reservada para assistir às composições de Philippe Gaubert, Cécile Chaminade ou do mestre do Barroco Marin Marais, entre outras lendas da música, tocadas pelos que serão os melhores flautistas do mundo. O concerto acontece às 20h00 de dia 29, sendo que os bilhetes custam entre as 150 e as 300 patacas.

27 Jan 2016

Blademark lançam faixas de novo EP e têm novos projectos

Querem ser estrelas do rock, lutam contra as dimensões de Macau – materiais e mentais – mas continuam a trabalhar. Separaram-se da 100PlusMusic e estão a montar o seu próprio estúdio. Edições anuais, merchandising e concertos lá fora são aposta dos Blademark, a banda de Macau que pisca agora o olho à China. É o que conta Fortes Pakeong Sequeira, o líder do grupo

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]no novo, vida nova parece mesmo ser o lema para os Blademark neste início de 2016. A banda de Macau terminou a ligação à 100PlusMusic para seguir o seu próprio caminho e está em negociações adiantadas com um investidor privado interessado no desenvolvimento da cultura local, para montar o seu próprio estúdio e dedicar-se em exclusivo à produção de música.
“A grande diferença em termos de posicionamento”, adianta-nos Fortes Pakeong Sequeira, fundador da banda, “é começarmos a olhar mais para nós como um produto cultural que pode gerar rendimentos complementares para além dos concertos”. pakeong fortes sequeira
Por isso mesmo, os Blademark querem iniciar a produção de merchandising próprio da banda, como t-shirts ou outros gadgets. “É a nossa bandeira. É a marca da nossa banda. Além da música queremos criar coisas que as pessoas usem, agarrem e sintam.”
Para já, as pessoas podem sentir três músicas do EP que os Blademark esperam que esteja concluído este Verão: duas em Mandarim que servem como “um ‘olá’ ao público do outro lado das Portas do Cerco”, como adianta Fortes, e que se chamam “Just a little thing” e “Livin’ Off The Wall”, e uma em Cantonês, “Rainy Night Dream”, numa sentida homenagem à mãe de Fortes.
“A minha querida mãe faleceu em Outubro de 2013. Não há dor maior que esta na vida. Nos dias que se seguiram sentia-me com um patinho perdido às voltas no lago. Felizmente esses dias passaram e a minha tentativa foi a de transformar o negro em energia positiva, para ser capaz de enfrentar com coragem desafios ainda maiores que esse grande mundo com certeza tem para mim.”

Cresçam e apareçam

Sabemos que não é fácil viver como artista em muitos sítios e em Macau não é excepção, mas quisemos saber como Fortes Pakeong lida com isso. A exiguidade do local é claramente um dos principais problemas: “Não é fácil. Não temos estruturas sociais de apoio”, pois a mentalidade não ajuda. “Artista? Os locais são capazes de reconhecer valor artístico a músicos de Hong Kong, da China ou de outros lados, mas com os daqui é diferente. Olham para nós e acham ‘tu és apenas o meu vizinho…’”.
Fortes Pakeong, todavia, assume a inexistência de uma cultura rock em Macau, “As pessoas têm dificuldade em entender a cultura rock porque a verdade é que apesar de alguns ouvirem as músicas e irem aos concertos, acho que não entendem o que estamos a fazer. E não entendem porque precisam de crescer culturalmente”, rematou.

Artistas unam-se

Umas das preocupações de Fortes Pakeong é o isolamento a que muitos criadores se votam. Para ele, os artistas têm de fazer mais, de cooperar mais, não sendo correcto assacar sempre as culpas ao Governo. Segundo ele, o Governo até tem desenvolvido uma acção positiva ao “disponibilizar financiamento e criar acções de apoio”. Contudo, diz o músico, as pessoas trabalham demasiado em pequenas ilhas isoladas e colaboram de menos.
“Claro que podemos e devemos fazer espectáculos e eventos a solo, mas também devemos pensar em formas de colaboração mais abrangente. Alguns preocupam-se apenas em receber os subsídios e fazerem as coisas para eles próprios em vez de criarem bases para o nosso futuro. Isso é muito errado.”
Depois da nossa entrevista, Fortes Pakeong tinha ir para um concerto privado, um lançamento de produto, num dos hotéis do Cotai, pois assim se vão pagando as contas. Enquanto não temos datas ao vivo dos Blademark para anunciar, fique com um excerto da letra de “Rainy Night Dream”, um tema, tal como os outros dois, disponível na internet.

“(…) On the day when all was gone
Only left an unfinished dream
Who can understand?
A million words hidden in my heart
Hard to be burnt, in this broken dream
I wish for a reunion with you, in heaven (…)”

26 Jan 2016

Museu de Transferência | Exposição de escultura contemporânea até Junho

[dropcap style=’circle’]I[/dropcap]naugura amanhã a exposição de “Caixa de Música”, uma escultura contemporânea feita por um artista local. Inserida na série “Uma Escultura” do Museu de Arte de Macau (MAM), que reúne exposições de obras de arte de escultura contemporânea destinadas a promover o desenvolvimento desta arte em Macau, a mostra está patente até 19 de Junho.
A obra desta primeira exposição é a mais nova peça de grande escala do escultor local Sou Pui Kun. Nascido em Macau em 1959, Sou Pui Kun concluiu a licenciatura no caixa de música mamDepartamento de Belas-Artes da Universidade Normal de Taiwan, o mestrado em Cerâmica e Design Industrial na Academia de Belas-Artes de Guangzhou e o doutoramento em História pela Universidade de Jinan, em Guangzhou. Sou Pui Kun é actualmente professor associado da Escola de Artes do Instituto Politécnico de Macau, tendo publicado a obra “Estudos sobre Interacção Cultural: Função da Loiça azul e branca na Dinastia Ming”, em 2007.

Arte e ambiente

O escultor quer mostrar como transformar “antiguidades” descartadas numa caixa de música ou num megafone que torne o seu barulho em belas melodias, tendo escolhido fazer a sua obra com material velho por ser um amigo do ambiente. “Sou considera que uma vida com baixos níveis de carbono está cada vez mais próxima, dado que autocarros eléctricos já começam a circular entre as grandes cidades das redondezas e que as ruas, ainda que não se tornem mais sossegadas, testemunharão um decréscimo gradual nos barulhentos motores a diesel”, frisa o comunicado da organização.
A cerimónia de inauguração de “Caixa de Música” acontece amanhã pelas 18h30, no Museu das Ofertas sobre a Transferência de Soberania de Macau e a exposição estará patente até 19 de Junho. A entrada é livre.

25 Jan 2016

Rota das Letras | Festival Literário de Macau de 5 a 19 de Março

Traz-nos um prémio Pulitzer, vários autores de renome, dois regressos, mais dias de festival, mais idiomas e duas dedicatórias especiais: a Camilo Pessanha e Tang Xianzu. O Festival Literário Rota das Letras está de volta em Março

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]briu com um toque de classe com o cenário da biblioteca do edifício do Leal Senado de fundo. A organização do Festival Literário Rota das Letras levantou ontem a ponta do véu do evento que regressa em Março. Para abarcar três fins-de-semana o Festival passa de 12 para 15 dias de exposições, cinema, debates, palestras nas escolas e música ao vivo. Garante-se o Fado, anuncia-se um enigmático regresso a Macau e espera-se fechar em breve a contratação de um músico chinês de relevo. A sede dos concertos também muda, passando da Arena do Venetian para o Grande Auditório do Centro Cultural.

camilo-pessanha

Celebrar Pessanha

A homenagem a Tang Xianzu e a Camilo Pessanha são o grande destaque do Festival para este ano. Tang Xianzu por ser um dos primeiros autores chineses a estabelecer contacto com estrangeiros em Macau, tendo visitado a cidade em 1591. Um dos dramaturgos mais aclamados da dinastia Ming e da literatura chinesa em geral, Tang imortalizou Macau em vários poemas e é autor da peça de referência da dramaturgia chinesa “Pavilhão das Peónias”, tradicionalmente representada no estilo Kunqu, desenvolvido durante os primórdios da dinastia Ming (séc. XVI), e quase desaparecido durante o séc. XX tendo sido em 2001 considerado pela UNESCO como “Obra Prima do Património Oral e Intangível da Humanidade. Camilo Pessanha, o autor de “Clepsidra”, viveu e morreu em Macau e deixou um legado valioso que continua a ser objecto de estudo até hoje. Para aprofundar a sua obra, o Festival convidou Paulo Franchetti, Daniel Pires, Pedro Barreiros e Carlos Morais José.

Lolita e Zink outra vez

Regressam ao festival duas das figuras com mais impacto no contexto da edições anteriores: Rui Zink e Lolita Hu. Desafiados a trazerem um “acompanhante”, Zink escolheu o escritor sueco Bengt Olsson e Lolita o escritor de Xangai Chan Koonchung. Chan é o fundador da “City Magazine” e seu editor por 23 anos, sendo ainda guionista e produtor de cinema, co-fundador do grupo ambientalista de Hong Kong Green Power e antigo membro da direcção da Greenpeace. O seu maior sucesso até à data é “Gregorius”, que recupera uma das personagens mais repulsivas da literatura sueca: o Pastor Gregorius do romance clássico de Hjalmar Söderberg Doctor Glas, de 1905. Um dos seus últimos livros, “Rekviem för John Cummings”, sobre a vida e a morte do guitarrista de punk rock Johnny Ramone, foi nomeado em 2011 para o August Prize.

Pacheco Pereira (é desta)

José Pacheco PereiraQuase participou nas edições anteriores do Festival mas desta é que é. Conhecido comentador político, Pacheco Pereira chega a Macau. Lançou recentemente o IV volume da sua obra de maior fôlego, “Álvaro Cunhal, uma biografia política”, esperando-se vivos debates sobre a personalidade que marcou o movimento comunista em Portugal.

De Portugal, estão ainda confirmados Matilde Campilho, Luísa Fortes da Cunha, Paulo José Miranda, Pedro Mexia, Ricardo Adolfo e Graça Pacheco Jorge. O premiado autor brasileiro Luiz Ruffato também estará entre nós, assim como Marcelino Freire, Carol Rodrigues e Felipe Munhoz. A Guiné-Bissau assinalará a primeira presença no Festival com a vinda de Ernesto Dabó, do qual se espera revelar ainda os seus dotes musicais.

Letras chinesas

Além de Can Koonchung e Lolita Hu contam-se ainda confirmados na área das letras chinesas Chen Xiwo, Zhou Jianing, Wu Mingy, Shen Haobo, Zheng Yuanjie, Yang Chia-Hsien e Zhang Yueran, considerada, em 2012, como uma das 20 escritoras do futuro pela People’s Literature. O seu romance “The Promise Bird” foi considerado o Melhor Romance Saga em 2006 e o seu conto “Ten Loves” foi nomeado para o Frank O’Connor Award.

Pulitzer e Filipinas


Os idiomas Português e Chinês continuam a dominar o Festival, mas a organização pretende continuar a apostar na diversidade não só de autores e trabalhos mas também de idiomas. Assim surgem o Espanhol e o Inglês, idiomas em que se destaca Junot Diaz, o escritor dominicano naturalizado americano, professor do MIT e premiado com o Pulitzer para melhor ficção em 2008 com o livro “The Brief Wondrous Life of Oscar Wao”.

Activista conhecido pela sua participação em organizações comunitárias em Nova Iorque, no Pro-Libertad e no Partido dos Trabalhadores Dominicanos, Diaz trará na sua bagagem a prosa humorística e sarcástica que o caracteriza.
Pela primeira vez, foram ainda convidados escritores das Filipinas – um tributo da organização ao que considera uma das comunidades mais importantes da cidade.

Assim surgem Angelo R. Lacuesta e Ana Maria Katigbak-Lacuesta. Angelo recebeu diversos prémios pela sua ficção, incluindo dois National Book Awards, o Madrigal Gonzalez Best First Book Award e vários Palanca e Philippines Graphic Awards e foi director-executivo da comissão de cinema no Film Development Council das Filipinas. Ana Maria obteve, em 2014, o primeiro lugar na categoria de Poesia no Don Carlos Palanca Memorial Awards for Literature, considerado o Prémio Pulitzer das Filipinas em termos de prestígio. Jordi Puntí (Espanha), Owen Martell (País de Gales), Jane Camens (Austrália), Angelo Lacuesta (Flipinas), Ana Maria Katigbak-Lacuesta (Filipinas) e Marita Conlon-McKenna (Irlanda) fecham esta lista.

Cinema e outras artes

Os cineastas locais Tracy Choi, Emily Chan e Cheong Kin Man irão apresentar filmes seus, ao lado de Luís Filipe Rocha, o adaptador ao cinema do livro de Henrique de Senna Fernandes “Amor e Dedinhos de Pé”.

Chega ainda a documentarista portuguesa premiada Sofia Marques e, para breve, aguarda-se a confirmação de um prestigiado cineasta chinês.

No campo das artes visuais poderão ser contempladas obras do artistas locais Alexandre Marreiros e Eric Fok; do Hunan chega o pintor e calígrafo Oyang Shijian. Mu Xinxin (também na qualidade de especialista de Tang Xianzu)e Carlos Morais José), a poeta Un Sio San, o tradutor literário e poeta Carlos André e o jornalista e escritor Mark O’Neill, que divide o seu tempo entre Hong Kong, Macau e a China continental, são outros dos convidados.

O orçamento para o Festival não irá sofrer grandes alterações em relação ao do ano transacto, continuando a custar cerca de 2,3 milhões de patacas dos quais 1,4 milhões serão providenciados pelo erário público.

O centro nervoso deste evento continuará a ser o edifício do velho tribunal.

22 Jan 2016

Cinema | DocLisboa até 5 de Fevereiro no Consulado de Portugal

De 27 de Janeiro a 5 de Fevereiro vai poder assistir a filmes de realizadores portugueses e chineses de Macau. O DocLisboa regressa pela terceira vez ao território e traz consigo uma dezena de filmes

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Festival Internacional DocLisboa chega pela terceira vez a Macau, através de uma extensão trazida pelo Instituto Português no Oriente (IPOR), e este ano integra também uma secção dedicada às produções e realizadores de Macau. De 27 de Janeiro a 5 de Fevereiro são exibidos no Consulado-Geral de Portugal os nove filmes de realizadores portugueses que competiram no DocLisboa’14 e os vencedores das edições de 2014 das competições locais Sound & Image Challenge e European Union Short Film Challenge, além de uma sessão para outros realizadores de Macau.
O festival abre com “Mio Pang Fei”, um documentário do realizador de Macau Pedro Cardeira sobre o conceituado artista plástico chinês que se interessou pela arte moderna numa época em que esta era considerada anti-revolucionária pelo regime do continente. Mio Pang Fei acabou por se refugiar em Macau onde desenvolveu um novo estilo de pintura “baseado no cruzamento das técnicas artísticas ocidentais com o espírito cultural chinês, a que chamou Neo-Orientalismo”, segundo explica o IPO.
No dia 28 é exibido “Volta à Terra”, do português João Pedro Plácido, que estará presente para falar sobre o filme e responder às perguntas da audiência. A película conta a história de uma “comunidade em extinção”, de 49 camponeses que praticam agricultura de subsistência numa aldeia, Uz, nas montanhas do norte de Portugal.
A terceira sessão, no dia 29, é dedicada ao filme “Fado Camané”, de Bruno de Almeida, sobre o processo de criação do artista, e a quarta, a 2 de Fevereiro, “As Cidades e as Trocas”, aborda a chegada da economia de escala a Cabo Verde e os efeitos que esta teve na transformação da paisagem física e humana da ilha.

Três em um

Na quinta sessão vão ser exibidos três filmes, dois de Portugal – “Triângulo Dourado”, de Miguel Clara Vasconcelos, e “Da Meia Noite para o Dia”, de Vanessa Duarte – e um de Macau, “Um Olhar sobre os Deficientes”, de Zélia Lai.
“Triângulo Dourado” dá voz às “memórias, encontros e sentimentos” das viagens que levaram a personagem principal até Paris e “Da Meia Noite para o Dia” lança um olhar sobre a “memória colectiva e sentido de identidade dos trabalhadores fabris da Covilhã”. Por fim, “Um Olhar sobre os Deficientes”, vencedor do Sound & Image Challenge, reflecte sobre as dificuldades dos portadores de deficiência.
No dia 4 de Fevereiro é exibido “Flor Azul”, do português Raul Domingues, e “São”, de Susana Valadas, sobre um dia na vida de uma operária fabril.

Para acabar

O último dia é dedicado a três obras: “O Pesadelo de João”, do português Francisco Botelho, e “Western Star” e “Fonting the City”, dos realizadores de Macau Wu Hao I e Wallace Chan, respectivamente.
“Western Star”, vencedor do European Union Short Film Challenge, relata o encontro de “uma mulher natural de Macau, que tem feito a sua vida no estrangeiro, com um homem” que conhece na sua cidade natal, quando a visita como turista. “Fonting the City” conta a história de um grupo de designers que percorre Macau em busca de “caligrafias esquecidas”, encontrando “letreiros de lojas antigas, caracteres manuscritos de antigos artesãos e até exemplos de caligrafia pós-década de 80 numa ementa de chá”.
As sessões decorrem às 18h30 no auditório do Consulado-geral de Portugal em Macau e têm entrada livre.

21 Jan 2016

Hip hop com artistas locais para apresentação de EP

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]grupo de hip hop Macau Blacklist apresenta, esta sexta-feira, o seu mais recente EP. Composto por LH, Key, Tickman, AK e 7DC, o colectivo junta-se a outros músicos e artistas para uma festa no Golden Bar do casino Kam Pek.
Composto por cinco músicas, o EP – intitulado “União”, na tradução literal para Português – vai ser dado a conhecer ao público ao lado do grupo local Macau Human Beatbox, que utiliza o próprio corpo para fazer música, e de outros convidados. kam_face
Rocklee é um deles. Desde os 15 anos a fazer breakdance, o também DJ é um apaixonado por hip hop, mas também r&b, funk, soul e música dos anos 70, o que o leva a apresentar uma mistura de “velha e nova escola”. Luka é outros dos convidados, este vindo de Hong Kong. Influenciado por rock & roll desde jovem, o músico começou também a interessar-se por música étnica, coleccionando inclusive instrumentos musicais utilizadas por minorias.
Entre outros convidados, está ainda o grupo Fission, que tem como membros Kreezy, Ah Tong e Mu Ben, rappers que assumem um estilo “diverso”, e o músico Kwokkin.
O Macau Blacklist começou por ser composto por AK e Key 0713, passando depois a integrar o rapper LH e MC Tikman. Desde 2014 que 7DC integra o colectivo, que produz músicas originais desde o beat à letra. O concerto de dia 22, marcado para as 21h00, é o primeiro para a apresentação do EP dos Blacklist, que se deslocam a Guangdong no dia a seguir. Os bilhetes custam entre 80 a 150 patacas.

21 Jan 2016

MDMA une-se a Pacha para festa underground e prepara festival de música

São dos mais antigos na quase inexistente cena musical de Macau e querem continuar a tentar mudar a forma como se faz e sente música no território. Os membros da MDMA organizam este sábado uma festa no Pacha e já se preparam para apresentar por cá um festival internacional de música

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]arka, D-Hoo e Erick L. vão fazer a noite do próximo sábado no recentemente inaugurado Pacha, no Macau Studio City. Todos são Djs e pertencem ao colectivo local Macau Dance Music Association (MDAM). Não só prometem uma noite diferente para este fim-de-semana, como já têm na manga planos para trazer mais ao público de Macau.
“Vai ser um grande desafio”, diz-nos Derek, ou D-Hoo, justificando com o facto do seu som não ser, normalmente, tão comercial como o que passa neste clube internacional. Os que se deslocarem ao Studio City no sábado devem esperar um lado mais profundo da música house, que progredirá para uma versão de estilo tech, batido com pitadas, aqui e ali, de trechos techno, para ver como o público reage.

Desde 1999

D-Hoo, em conjunto com Roberto Osório, o seu “parceiro de crime” como o próprio define, são dos mais antigos organizadores de festas em Macau. Tudo começou em 1999, como diz D-Hoo ao HM: tinha vivido uns anos em Londres e, ao voltar para Macau, em 97, deparou-se com uma cena vibrante em Hong Kong e um deserto no território. Começaram, por isso, a tentar organizar festas por estas bandas, com a primeira a acontecer em 1999. derek hoo roberto osório mdma
“Correu muito bem”, assegura D-Hoo, que nos diz que, depois houve mais umas quantas que não correram exactamente assim. Alguns anos de inactividade, até que, em 2012, os dois músicos resolveram constituir a MDMA – desde então as coisas têm começado a acontecer.
O grande objectivo da associação é o de juntar as pessoas através da música e criar experiências para aliviar a tensão através da dança, já que “a vida em Macau é tão stressante nos dias de hoje”, como desabafa Derek. Mas, acima de tudo, o que pretendem é criar uma plataforma para expor artistas locais.

Festival Internacional em preparação

Um dos grandes objectivos da MDMA é o de organizar um festival de música electrónica ao ar livre com músicos internacionais, DJs e bandas com um pendor alternativo. Ainda não sabem se será possível já em 2016, mas em 2017 esperam que a ideia venha mesmo a tornar-se realidade, assim que consigam os apoios públicos necessários.
Entretanto, a MDMA pretende continuar a colocar os seus DJs em eventos importantes da região: Derek classifica como exemplos a Secret Island Party e o Clockenflap, em Hong Kong, ou o One Love Festival (Shenzhen), Labyrinth 2016 (Japão) e o Wonderfruit (Tailândia).

Cena local? Qual Cena?

O pior mesmo para Derek é a cena de música local. Quando confrontado com o seu potencial calibre, o Dj não foi de meias medidas: “Qual cena? A dos casinos? Ou a dos karaokes? Não há cena de clubbing. Uns andam demasiado ocupados a fazer dinheiro nos casinos e os outros a assinarem e a jogarem esses jogos estúpidos das salas de karaoke… Claro que existem pessoas que gostam de ir a um clube e eu vejo potencial de crescimento. Mas a cena mesmo, a real, ainda é muito fraca por aqui”, diz ao HM.

EDM? Cox e Sascha!

Nos últimos anos tem ganho terreno junto de uma geração mais jovem um novo conceito de música de dança designado por EDM (Electronic Dance Music), um significado provavelmente abusivo pela caracterização genérica que apresenta. Mas a realidade é que define um estilo que, para Derek, se explica mais ou menos assim: “Se fizermos uma pesquisa no Google por EDM vamos descobrir falsos DJs a tocarem barulho puro para uma nova geração de ‘clubbers’, a destruírem-lhes ouvidos e mente apenas para fazerem paletes de dinheiro. Uma música sem profundidade, sem história, mesmo sem qualidade.”
Seguramente, isso não irá acontecer no próximo sábado. Para D-Hoo, a qualidade descobre-se mais a montante em personagens como Carl Cox que, diz-nos o DJ, “mesmo aos 53 anos continua forte com uma grande adesão”.
Cox, recorde-se, foi grande estrela em Portugal na época das ‘rave parties’, tocando para milhares de pessoas em lugares icónicos como o Castelo de Vila da Feira ou os estaleiros navais de Figueira da Foz durante o mundial de surf aí organizado em 1996. Mas as influências de D-Hoo não ficam completas sem uma referência especial a um galês DJ, produtor, vencedor de vários Prémios Internacionais de Música de Dança e nomeado para os Grammies: Sascha.
“Ele é mesmo o meu exemplo. Fez muito… Foi chamado ‘Filho de Deus’ em tempos e ouvir as suas misturas é pura alegria. Oiço-o há 20 anos e, de vez em quando, ainda me consegue surpreender. Assim sejamos também nós surpreendidos este sábado no Pacha. Até lá!”
A entrada na festa da MDMA no mais novo clube de Macau custa 200 patacas e começa às 22h00. Para os “amigos do MDMA”, os bilhetes ficam a metade do preço.

20 Jan 2016