Joana Freitas Eventos“Macau Século XXI” apresentado dia 15 no Clube Militar [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]obra “Macau Século XXI”, um “livro de reflexão sobre os 15 anos da RAEM”, vai ser apresentado em Macau, depois de já ter sido dado a conhecer em Lisboa. Editado pela Liga da Multissecular Amizade Portugal-China, vai ser lançado no próximo domingo, às 17h00, no Clube Militar, numa apresentação a cargo de Rui Rocha, da Universidade Cidade de Macau. A apresentação na RAEM conta com a presença de uma delegação da Liga, chefiada pelo seu presidente General Pinto Ramalho. A organização adianta que Aniceto Afonso, Mestre em História Contemporânea de Portugal e coordenador da edição, apresenta a obra como “uma reflexão sobre Macau, sobre o seu passado e o seu futuro” e refere que “o leitor encontrará interrogações suficientes para uma saudável inquietação, mas também encontrará respostas e perspectivas que o tranquilizam e o vão despertar. ” “Os diferentes colaboradores trazem-nos múltiplos pontos de vista sobre Macau, especialmente focados nos quinze anos como Região Administrativa Especial da China. São abordagens distintas e polifacetadas, mas sempre serenas, afirmativas, inovadoras em muitos aspectos”, adianta Aniceto Afonso. Ao longo de quase 400 páginas, a edição bilingue (Português e Chinês) aborda “Os Antecedentes de Macau”, uma síntese histórica por Alfredo Gomes Dias, “A Miscigenação do Pensamento Urbano”, por Rui Leão, a “Organização Política e Social”, por João Guedes e o “Sistema Político e Administrativo”, por Sofia Jesus. Destaque ainda para a “Economia da RAEM, aos 15 Anos”, por José I. Duarte, a “Arquitectura: o Legado e o Inesperado”, por Rui Leão e Jorge Figueira, o “Ensino e Ciência em Macau”, por Rui Rocha e Ana Paula Dias e a “Saúde e Assistência Social”, por Jorge Humberto Morais. O livro não se fica por aqui, dividindo-se em capítulos como a “Arte , Cultura e Património”, por Cecília Jorge, a “Comunicação na RAEM: um Desafio Permanente”, por Rogério Beltrão Coelho, o “Desporto na RAEM: Esforço, Glória e Desilusões”, por Marco Carvalho e “Macau-Cronologia”, por Rui Guerra Ribeiro e Aniceto Afonso. A obra inclui ainda textos sobre as obras emblemáticas da RAEM e sobre a “Alma de Macau”. “Macau Século XXI” é ilustrado com fotografias de António Mil-Homens, Eduardo Magalhães (também autor da foto da capa), Gonçalo Garcia dos Santos (que também assina a direcção gráfica e design), Joaquim de Sousa e José Romano, para além de instituições particulares e oficiais que cederam imagens de arquivo. A edição e revisão são da responsabilidade de Dulce Afonso e a tradução para chinês de Mónica Chan. A Liga da Multissecular Amizade Portugal-China, constituída em 1991, tem como objectivo “estreitar a amizade entre as nações portuguesa e chinesa com vista ao desenvolvimento das relações dos respectivos povos”.
Joana Freitas EventosVenetian com actuação dos Blue Man Group [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]acau vai ser palco do espectáculo internacionalmente premiado “Blue Man Group” pela companhia homónima, de 11 a 28 de Agosto. O espectáculo tem lugar no Venetian Theatre. Com 25 anos de existência os Blue Man Group são Matt Goldman, Phil Stanton e Chris Wink. Juntos, os três amigos imaginaram uma performance que combina música, comédia e tecnologia e que já foi vista por mais de 35 milhões de pessoas em 15 países diferentes. “O show é continuamente refrescado com novas músicas, novas histórias, novos instrumentos e nova tecnologia. O grupo já produziu cinco álbuns e contribui para inúmeros filmes”, indica o site do colectivo. Nascido na necessidade criativa de explorar e celebrar a condição humana, é um momento que convida o público a imergir numa experiencia audiovisual com características exclusivas e que ultrapassa idades, linguagens ou culturas. Os espectáculos estão marcados de terça-feira a domingo de 11 a 28 de Agosto, havendo sessões às 14h00, 17h00 e 20h00. Os bilhetes custam entre as 380 e as 880 patacas, havendo desconto de 20% para quem marcar lugar nas sessões das terças ou quintas-feiras até 18 de Junho.
Hoje Macau EventosFestival de Artes | Espectáculos de todos e para todos [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Festival de Artes de Macau (FAM) soma e segue com mais espectáculos dedicados a Shakespeare, ópera, teatro e dança. De 12 a 15 a Praça Jorge Álvares é palco de um espectáculo de entrada livre dedicado a Shakespeare. A companhia espanhola Teatro Laitrum vem com “Micro-Shakespeare”, numa produção em que condensa cada uma das obras do dramaturgo em cinco peças de oito minutos que contam com interactividade com o público. O espectáculo entra em palco dias 12 e 13 às 12h30 e 14 e 15 às 15h00. Na Casa do Mandarim, no mesmo dia pelas 15h00 e 20h00, a Trupe de Ópera Yue Zhejiang Xiaobaihua, do interior da China, volta a subir ao palco, desta feita com excertos de “O Pavilhão das Peónias”. Este é um dos Quatro Grandes Dramas Clássicos Chineses em que, através dos sonhos e da morte é narrado um drama de amor, desta que também é considerada a mais famosa peça Tang. Os dias que vão de 13 a 15 de Maio continuam com Shakespeare também em formato condensado, com a Godot Art Association a apresentar “As Obras Completas de William Shakespeare (Resumidas)”, sempre às 20h00. Segundo a organização é uma interpretação feita a três em que as obras são interpretadas através de vários meios, entre os quais o canto, a esgrima o malabarismo ou a magia. Jerome Bel vem de França com o Teatro HORA da Suíça para apresentar “Disabled Theater” também de 13 a 15 no Edifício do Antigo Tribunal, em que os primeiros dois dias contam com sessão às 20h00 e no domingo às 15h00. Sendo do interesse do coreógrafo francês o que fica para além da representação, em Disabled Theater, Jerome Bell conta com a companhia suíça que trabalha com actores com deficiência de modo a “lançar luz sobre a dinâmica da exclusão”. Para tal expõe antes a sua capacidade em questionar os mecanismos de representação, sendo que a peça levanta questões relativas à representação da deficiência no domínio público num espectáculo “honesto e altamente provocador”, adianta a organização. Domingo às 20h00 no Centro Cultural é também altura de dança com 6&7 pela companhia vinda do interior da China Tao Dance Theater. Descrito pela New York Times como “extraordinário e atraente” a companhia do coreógrafo Tao Ye promete fazer os encantos dos apreciadores do espectáculo do movimento. Os preços dos bilhetes são diversos. Exposição incluída A Exposição Anual de Artes Visuais de Macau 2016, iniciativa promovida anualmente pelo Instituto Cultural (IC) que integra o FAM, será inaugurada a 13 de Maio pelas 18h00 no Edifício do Antigo Tribunal. Esta é uma iniciativa que pretende promover o desenvolvimento nesta área bem como encorajar e cultivar o talento e a inovação local. Desde 2013 que a exposição é dividida em duas categorias, nomeadamente “Pintura e Caligrafia Chinesa” e “ Meios de expressão Ocidentais”. Este ano é mais um evento dedicado à expressão ocidental e inclui trabalhos de pintura, fotografia, gravura, cerâmica escultura, meios de expressão mistos, instalações e vídeo. A organização recebeu cerca de 361 obras candidatas ao evento das quais o júri, composto por cinco artistas provindos de diferentes áreas, seleccionou 83. A organização adianta que nas dez melhores obras estão “Série Árvores Pessoa” de Lee On Yee; “Estaleiro de Coloane” de Sam Pak Fai; “Camisola de Malha” de Wu Hin Long; “Séries 1 e 2 – Criaturas” de Cheong Hang Fong; “Refúgio para Todos” de Leong Wai Lap; “Biombo” de Chan Un Man; “Cidade em Mudança” de Chan Hin Io; “Ruínas de S. Paulo n.º 1” de Mak Kuong Weng; “Shushan 02” de Ieong Man Pan; e “Transversal” de Cai Yi Lang.
Manuel Nunes EventosMúsica | Michael DeWolfe aka 5ivestar em visita ao território Michael DeWolfe é o cirurgião, 5ivestar o artista. A viver em Chicago, esteve em Macau porque ficou com “a sensação que é uma terra de oportunidades na música, no cinema ou na moda”. A possibilidade de entrar num filme feito em Macau foi outra das razões que o trouxeram até nós mas também espera desenvolver laços com os artistas locais [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]visita foi curta mas o suficiente para deslumbrar este norte-americano que é cirurgião plástico durante o dia e artista pop no tempo que lhe resta. De Macau, para já, leva os prazeres da gastronomia e as vistas do património graças a uma visita guiada proporcionada pela Direcção dos Serviços de Turismo. “Apaixonei-me por Macau. Vejo a cidade como um lugar ainda numa fase de tremendo crescimento na área do entretenimento”, diz o artista, que assegura ao HM que “tem muita satisfação nas duas coisas” que faz na vida. “Não conseguiria viver sem ambas, acho que perderia o equilíbrio. A medicina traz-me o processo científico, técnico, mecânico e a música permite-me criar coisas a partir do nada”. Para já, Michael DeWolfe ainda não tem resultados concretos da visita mas espera voltar em Outubro para participar num filme a ser feito no território e agora em fase de pré-produção. Espera também desenvolver laços artísticos localmente. “Quero trazer a minha música para Macau e colaborar com músicos locais, desenvolver sinergias e iniciar um processo criativo”. Combinar tudo Combinar estilos é a sua grande paixão dando o exemplo de “Cola”, um dos seus últimos temas. “Nunca tinha visto um tema dos anos 50 arranjado como um tema pop e quis experimentar”. Já pronto para lançar está também outro tema do mesmo período onde recria o lendário “Great Balls of Fire” de Jerry Lee Lewis. No futuro espera combinar jazz com hip hop. “Gosto do ambiente de espectáculo de variedades que o jazz aporta”, diz. A música chinesa dos anos 40 ou 60 também pode ser uma possibilidade apesar de ainda não se sentir suficientemente familiarizado com os temas. Nasceu na Califórnia, cresceu na Flórida e foi para Chicago para ser médico mas o ambiente da cidade inspirou ainda mais a sua veia artística. “Chicago é um cenário super urbano”, explica, “cheio de música e arte e isso alimentou muito a minha criatividade”. Estrelas a desaparecer Falámos de influências e Michael confessa que Prince era um dos seus favoritos. “O seu estilo e individualidade sempre me cativaram”, explica. Mas porque o seu som bebe muito no hip hop, Outkast surge como uma das suas principais influências. A maior dificuldade surgiu quando pretendemos saber com quem gostaria um dia de trabalhar. Depois de uma longa pausa, acabou por dizer que “estão todos a morrer (risos)… dos vivos alguém interessante seria o Pharrel porque está sempre a quebrar barreiras”. Aí falámos da ideia que corre de já não existirem estrelas rock. Será apenas mercantilismo, hoje? Michael acha que “existe o perigo de as perder se deixarmos a indústria tomar conta de tudo e decidir o que as massas ouvem, pois o desenvolvimento dos artistas desaparece e ficamos apenas com receitas rápidas de sucesso para repetir ad aeternum”. A esperança reside no mundo da distribuição pois, explica, “os artistas têm mais facilidade de publicarem e distribuírem conteúdos”. Para já, 5ivestar faz a música que lhe apetece. “Tive muita gente a tentar manipular a minha música mas continuo a fazer o que quero. O que sair, saiu. Umas vezes acústico, outras pop. Se sinto que um ‘beat’ mexe comigo vou por aí”, explica. Estado de emergência Michael define-se, acima de tudo, como um escritor. Já escreveu livros, começando pela poesia, fez ‘spoken word’ e passou a MC. Foi assim que um dia surgiu o patrocínio da Nike. “Eles perceberam que a poesia em ‘spoken word’ tinha muito impacto junto da juventude de Chicago e patrocinaram-me para me apresentar nas escolas. Não me marcaram uma agenda de temas, diz-nos, enquanto continuou a falar do que o celebrizou em Chicago: “a desigualdade, a brutalidade policial, o sistema educativo”, apesar de abordar outros temas como as relações amorosas ou textos para inspirar. Entrávamos na mundo da política e quisemos saber a sua visão do que se passa no seu país. “A política americana está em estado de emergência”, diz. “Temos candidatos muito maus e não me consigo rever em nenhum”, confessa. Acha Bernie Sanders transformador mas não acredita que os americanos estejam preparados para tanta mudança apesar de reconhecer o impacto que o candidato tem vindo a exercer junto das camadas mais jovens. “São políticas nunca aplicadas VS coisas que as pessoas conhecem” explica para comparar o senador com Hillary Clinton. “O problema”, diz, “é estarmos a vir ladeira abaixo quando comparamos com Obama. Ele é inteligente, carismático e dominou a cena. Nenhum destes candidatos chega sequer perto”, afirma. O fascínio de reconstruir corpos Da sua prática como médico para a música, o que passa é, diz, a ética de trabalho. “Muita gente pensa que ser artista é fácil, natural, mas todos sabem que em medicina é preciso esforçarmo-nos muito”. Michael confessa aplicar a dedicação que a profissão de médico lhe exige à música também, pois “o divertimento só acontece quando vamos para palco. O resto é muito trabalho, muita dedicação”, garante. Queríamos saber um pouco mais desse seu outro lado na mesa de operações e Michael confessa que o que mais o satisfaz, o que mais o espanta é “tirar um bocado de tecido de uma parte do corpo para aplicar noutra. Quando o tiras, desligas o suprimento de sangue e o tecido está morto. Mas depois voltas a ligá-lo noutra zona e ele volta à vida. Acho isso fabuloso”. Fala-nos ainda que a cirurgia plástica não é apenas fazer pessoas bonitas mas salvar situações graves. “Faço muita reconstrução de seios, ou de maxilares perdidos por causa do cancro. Neste caso, tiro um bocado de osso de uma perna, religo-o na boca, ele volta à vida e a pessoa recupera a cara. Dá-me um grande prazer, a sensação que fiz algo de fenomenal”. Um sentimento semelhante ao que deseja para o seu lado de músico: “ter milhões de pessoas a volta do mundo a ouvirem a minha música e a gostarem dela é o que pretendo. Quero criar um impacto”.
Manuel Nunes EventosCabo-verdiano Sérgio F. Monteiro na Livraria Portuguesa [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Livraria Portuguesa anuncia a presença hoje do escritor cabo-verdiano Sérgio F. Monteiro, naquele espaço. Num comunicado à imprensa divulgado em Inglês, a livraria explica que o autor vai apresentar o seu primeiro livro, intitulado “Other American Dreams”, uma história sobre traição como último recurso espoletada pela descoberta de 12 corpos torturados num barco de pesca senegalês. São migrantes africanos, vem-se a descobrir, facto que motiva uma investigação policial levando-nos a um mundo de corrupção e de gangues ligados ao tráfico de narcóticos. O cenário é Cabo Verde e a cultura emergente de gangues chegados ao arquipélago, constituídos por deportados cabo-verdianos dos Estados Unidos. Um trabalho de investigação sobre a desintegração da unidade familiar, um dos principais factores por detrás da crescente taxa de criminalidade naquele país. “Queria explorar as motivações que fazem as pessoas saírem das suas casas deixando tudo o que lhes é familiar e amado para trás, para arriscarem as vidas em barcos rudimentares e mal comandados para demandarem a terras estranhas onde têm de começar tudo do zero”, diz o autor. Sérgio, que foi criado em Washington e posteriormente em Hong Kong, diz ter-se sentido muitas vezes como observador externo, olhando de fora para dentro para as comunidades entre as quais viveu incluindo a sua própria. Crescer no mundo do protocolo internacional e diplomacia conferiu-lhe “uma perspectiva única da geopolítica, política externa e de relações raciais, e a consciência de que o instinto humano procura sempre uma vida melhor”, garante. Uma história onde o autor pretende contar “as histórias de muitos migrantes que, de outra forma, nunca seriam ouvidas”, explica ainda. Um assunto actual que pode ser debatido ao vivo e em directo com o próprio autor, hoje, na Livraria Portuguesa a partir das 18h30. A entrada é livre.
Manuel Nunes EventosAgnes Lam lança livro sobre passado da imprensa de Macau Agnes Lam arregaçou as mangas e pôs-se a investigar a história da imprensa em Macau. O resultado vai obrigar a mudar os livros de história: revelações como o território ter sido berço para o primeiro jornal chinês de sempre e de que o primeiro jornal de Macau afinal não foi “A Abelha da China” são feitas no novo livro, lançado ontem [dropcap style=’circle’]“[/dropcap]Esta descobertas obrigam a que vários pontos da História contemporânea chinesa tenham de ser modificados”. É assim que Agnes Lam apresenta a sua mais recente obra, o livro “The Begining of The Modern Chinese Press History/Macau Press History 1557-1840”, ontem lançado. O estudo da professora de Comunicação da Universidade de Macau reporta-se a um período de 300 anos entre 1557 a 1840. Esta época marca o princípio da história conhecida de Macau, o da chegada e estabelecimento dos portugueses e a declaração de guerra da Grã-Bretanha à China, o chamado período Pré-Guerra do Ópio. Neste trabalho, ontem apresentado em Pequim, a autora revela que o primeiro jornal moderno não foi, como se julgava até agora, o semanário português “Abelha da China” mas sim um diário, também português, chamado “Iníco do Diário Noticioso” lançado em 1807. De qualquer forma, garante Agnes Lam, o “Abelha da China continua a manter o crédito de ter sido a primeira publicação a ir para a estampa na História de Macau por razões políticas.” “Antes disso”, explica ao HM, “todas as publicações de Macau eram apenas resultado do trabalho missionário das ordens religiosas cristãs ou fruto da necessidade de intercâmbio cultural”. Primeiro jornal chinês Já se sabia que, para os historiadores, Macau foi o local de nascimento da moderna imprensa chinesa. O que não se sabia era que o primeiro periódico também tinha sido lançado em Macau. Chamava-se “Tsŭ-wăn-pien” e foi fundado por Robert Morrison. Este missionário protestante inglês esteve mesmo, segundo a autora, na origem da história tipográfica moderna do território, tendo produzido várias publicações em tipos móveis ocidentais para além de várias outras na impressão tradicional chinesa com blocos de madeira. Por estes factos agora revelados, a autora alega mesmo que a história da impressão em Macau no período compreendido entre 1822 e 1807 tem de ser revista. De acordo com Agnes Lam, “as imensas publicações de Morrison tiveram uma grande influência na História das publicações em Macau e da China e tal facto não tinha sido registado pelos investigadores até agora”, frisa ao HM. A imprimir desde 1588 As primeiras publicações, todavia, já vêm de longe. Segundo a autora, o início da História das publicações em Macau está directamente ligado ao trabalho dos missionários jesuítas. As primeiras registadas ainda foram produzidas segundo o método tradicional chinês de impressão com blocos de madeira e efectuadas pelo padre jesuíta Michele Ruggieri. O legado inclui panfletos chineses e vocabulários romanizados. Contudo, explica a académica, “os jesuítas trouxeram para Macau a primeira impressora de tipos móveis alguma vez presente em solo chinês e com ela imprimiram o primeiro livro no ano de 1588”. Neste livro agora publicado por Agnes Lam, para além de acertar os registos históricos, a autora também faz análises de conteúdo tendo descoberto, entre outros factos, que “o formato das notícias publicadas em Macau no século XIX foi mais tarde herdado pela maioria dos jornais chineses no continente”. Além disso, a autora revela ter descoberto “alguns factos interessantes sobre como as pessoas se apaixonavam por drama e algumas histórias políticas brutais passadas na China continental”.
Sofia Margarida Mota Entrevista EventosAntónio Caetano Faria, realizador de “Caminhar no Escuro”, e Ka Chon Leong, protagonista “Eric – Caminhar no escuro” é uma homenagem ao que um filme transformou em conhecimento e amizade. É uma forma de descobrir receios, como o de ficar cego, sem tocar na parte mais dramática da tragédia. É um documentário que estreia a 10 de Maio às 19h30 no Centro Cultural, fazendo parte da edição deste ano do Festival de Cinema e Vídeo de Macau e que traz um protagonista com ideias bem fixas [dropcap]A[/dropcap] sua carreira enquanto realizador tem sido fortemente dedicada ao documentário. Porquê? ACF – Posso dizer que foi um acaso. Acho que comecei a fazer realização de documentários por gostar muito de filmagem. Talvez por ter criado uma relação com a câmara de filmar, porque acabamos por construir essa relação. Não é só um objecto. E essa relação fez com que explorasse mais alguma ideias além da imagem, de modo a tirar dela mais do que ela própria. Por isso, e também pela necessidade, por Macau ter poucos técnicos na área. Ajudou com que espoletasse o interesse na forma de contar histórias e de dizer o que sinto e procurar alguns tópicos em que o documentário me ajudou a exprimir. Como é que aparece Macau na sua vida profissional? ACF – Sou nascido e criado em Lisboa. Vim com uma relação que tinha na altura e apaixonei-me pela cidade. Começaram a sair ideias que estavam na gaveta e a partir daí comecei a explorar Macau a partir da imagem e também da mensagem… Macau como fonte de inspiração? ACF – Claramente. É uma cidade que me cativa imenso. Em que posso explorar tanto a minha relação com a câmara, como histórias diferentes que não tenho em Portugal, pelo menos, tão diferentes. Acho que aqui também existe um clima mais relaxado porque a economia é mais pujante e a vida acaba por ser mais fácil. Naturalmente, tendo a vida mais facilitada, consegue-se pensar em coisas mais pessoais. Como é viver do cinema em Macau? ACF – Não vivo do cinema em Macau. As pessoas estão todas enganadas. Vivo porque sou operador de câmara e editor. Realizo projectos também e acima de tudo tenho ideias e vou à procura de financiamento. Mas acaba-se por não se viver do cinema. Não dá o salário fixo nem há projectos fixos. Não temos muita coisa a ser filmada em Macau. Como vê então a “indústria” do cinema em Macau? ACF – Nos últimos oito anos há efectivamente um crescimento acentuado. Derivado das políticas do Governo, acima de tudo por causa do jogo. Querem dar a faceta do entretenimento e “lavar uma bocado a cara”. E isso faz com que em todas as áreas artísticas estejam a crescer. Mas não se pode dizer que seja possível viver disso. Que sugestões daria para que isso fosse possível? ACF – São vários factores. Precisa acima de tudo de haver um instituto de cinema e audiovisual em Macau, uma entidade do Governo que se dedique só a essa área. São projectos longos e que por vezes exigem muito financiamento e ao mesmo tempo envolvem muitas outras artes. Para um documentário, temos que arranjar compositores, cenários, direcção de actores. Por isso agora quando tenho uma ideia, normalmente uma que me toque a mim, parto depois à procura de financiamento. Este documentário que vai apresentar, “Eric – Caminhar no escuro”, também foi uma dessas ideias que, de alguma forma, o tocam pessoalmente? ACF – Claro que sim. Este documentário vem de algumas perguntas que tinha para comigo. Perguntas, receios e medos e essa ideia da possibilidade de ficar cego. Como é viver sem luz? Sem imagens? Dependo dessas imagens e por isso foi um documentário que fez sentido para mim, até para combater esse receio, essa forma de ver a cegueira. Foi a forma de tentar explorar o tópico. E como é que apareceu o Eric? Como é que se encontraram? ACF – Encontrei o Eric depois de alguma investigação acerca do tema e acerca de invisuais aqui. Queria especificar a vida de uma pessoa, queria pegar nessa pessoa e tentar explorar ao máximo como é que observa e sente as coisas. Os invisuais observam, podem não ver, mas observam. A visão é um complemento da nossa linguagem. O Eric foi uma forma de me descobrir a mim próprio e enfrentar os meus receios. Se o estou ou não a usar para isso, é uma questão que me coloco, mas acho que também que estou a ajudar a dar voz a estas pessoas. Que voz têm estas pessoas, agora, depois de fazer o filme? ACF – Não queria fazer o documentário do cego, o coitadinho da bengala. Não era isso que queria fazer. Espero que as pessoas quando saírem do filme não fiquem com esse sentimento. Mas é óbvio que tive que passar por partes trágicas da vida dele. Não nasceu cego, ficou cego. Por isso nesse sentido é óbvio que é uma história que mexe com todos nós. Mexeu imenso comigo e só posso agradecer pelo facto de o ter conhecido. Foi um privilégio fazer este documentário com ele. Houve abertura da parte do Eric desde o início para colaborar no documentário? ACF – Completamente. Encontramo-nos num café e a abertura foi automática. Começámos a falar imediatamente a mesma língua. Claro que, com o tempo, fui aprendendo outras formas de comunicação, visto ser uma pessoa que fala muito com gestos. Tive que aprender a comunicar com um invisual. Depois foi fazer um filme sem guião e as coisas foram-se proporcionando. Infelizmente, o tempo que tínhamos não era o necessário para fazer este documentário, acho que deveria ser mais explorado. No total tivemos apenas cerca de cinco, seis meses, o que não é muito tempo para se conhecer uma pessoa. Queria também ter uma relação de amizade para além de trabalho porque só assim é que se consegue chegar aos significados e às coisas mais profundas. Tenho agora com o Eric a construção de uma amizade. Como é que estabeleceu os limites face ao “coitadinho”, numa história que tem, efectivamente, muito de drama? ACF – Por um lado para fazer um documentário uma pessoa tem que ser nua e crua. Tentei ir buscar coisas minhas e gostos meus e fazer perguntas que eu achasse que até se relacionassem mais comigo do que com ele. A partir daí quis perceber as nossas semelhanças e não as nossas diferenças. Ele gosta de futebol e eu adoro futebol. As diferenças acabaram por não ser assim tantas. São perspectivas diferentes, só isso. Porque a realidade acaba por ser uma imaginação de todos nós. O Eric trabalha com invisuais e está a acabar o mestrado em Psicologia. Que motivações? KCL – Sou trabalhador estudante. Trabalho numa associação de invisuais de Macau em que organizo actividades lúdicas e de reabilitação. Para mim, a Psicologia é uma [forma de compreender] o que também sentem os invisuais. Por exemplo aqueles que tarde na vida perdem a visão, o que é isso para eles? Para mim será mais fácil entender essas pessoas. Mas principalmente quero usar o meu conhecimento para trabalhar. Quero ajudar também os jovens na vida normal. Dar-lhes alguma orientação, até porque normalmente não falam muito com outras pessoas. Alguns jovens são incríveis. Eles não gostam de falar com os pais ou os seus amigos que têm visão e preferem falar comigo. Por outro lado, eu também não sigo as regras standard da sociedade. Gosto de as quebrar. Como assim? KCL – Se seguisse as regras, e sendo invisual, teria que aprender por exemplo a fazer massagens ou tocar música clássica, mas escolhi estudar em escolas normais, aprender música mas não clássica. Toco guitarra, baixo e bateria e gosto de rock. Gosto também de ensinar as pessoas a usar a tecnologia porque é um meio que me é muito útil para comunicar. Não nasceu invisual. Recorda o que já viu? KCL – Quando era pequeno não via imagens claras, mas lembro-me de ver algumas cores e algumas sombras. Gostava muito de ver o pôr-do-sol da janela. Era uma altura do dia muito bonita, com todos aqueles laranjas que me traziam sentimentos especiais. Da minha infância e do tempo em que via, guardo essencialmente o pôr-do-sol. Também era um momento familiar em que a família se juntava. Lembro-me também de estar muito perto da televisão para tentar perceber as caras das pessoas. Como é que constrói a sua imaginação e concepção do mundo? KCL – A imaginação é uma coisa muito visual. Normalmente é baseada no que se viu antes. Aquilo em que toco, por exemplo, nas últimas duas décadas, posso pensar que cor teriam. Para mim o cor-de-rosa é o sentimento das pessoas a irem para casa, o vermelho é o tempo à tarde, azul depende, se for escuro é um pouco deprimente e próximo do preto, se for claro é o céu. ACF – Quando apresentei este projecto o título era precisamente “A imaginação de um invisual”, foi assim que apresentei a proposta. Como é ser agora um actor? KCL – Foi muito fácil porque me estava a representar a mim. Não tinha experiência mas como era para me divertir também, e usufruir, não foi nada difícil. Mas não penso que no futuro possa ser um bom actor. Como sente Macau? KCL – Macau é como um quarto muito pequeno onde se põe tudo dentro. Não sei se um dia não irá explodir. As pessoas que aqui vivem têm ideias muito diferentes. Precisamos de ser uma cidade internacional, mas internamente isso não acontece. Por outro lado, e para nó invisuais, como não assinamos não podemos usar uma série de coisas que nos ajudariam a viver. Por exemplo, não podemos usar paypal, nem levantar dinheiro porque não consideram que possamos ter cartão multibanco. Falta ainda a Macau tomar mais iniciativas nomeadamente na área tecnológica de forma a que possamos ter uma vida quotidiana mais independente. Não se promove a independência dos invisuais, muito pelo contrário. Por outro lado até nós poderíamos ser mais úteis, com o avanço tecnológico, e ajudar as outras pessoas a lidar com as novas tecnologias nomeadamente as aplicadas aos invisuais. Como é para si não ver o seu filme? KCL – Acho que preciso de me basear no que aconteceu a fazer o filme. Mas noutros filmes, existe este dispositivo, chamado áudio-descrição. Já é utilizado nos Estados Unidos e outros lugares e deveria existir aqui também. É uma tecnologia que acompanha o filme com descrições para os invisuais. Nós também gostaríamos de o ter aqui. O cinema é para todos.
Hoje Macau EventosFestival de Artes de Macau com ópera, patins, fadas e patuá O FAM continua em mais uma semana que não esquece a tradição das óperas chinesas, às quais junta o patuá e uma pitada de histórias de (des)encantar com toques de patinagem artística [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]fim-de-semana começa com um dos destaques temáticos da edição deste ano do Festival de Artes de Macau (FAM). O evento começa com a “Lenda do Gancho de Cabelo Púrpura”, a ser apresentada por Chu Chan Wa e Artistas de Macau da Ópera Cantonesa, no próximo sábado e domingo pelas 19h30 no Cinema Alegria. Seguem-se os tradicionais Dóci Papiaçam e uma surpresa em patins do Canadá. A “Lenda do Gancho de Cabelo Púrpura” é uma história de amor com contornos trágicos e apoiada num gancho de cabelo enquanto amuleto. A peça foi escrita durante a dinastia Ming, por Tang Xianzu, tendo sido posteriormente adaptada para a ópera cantonesa por Tong Dik Sang. A 12 de Maio no Centro Cultural de Macau, a Trupe de Ópera Yue Zhejiang Xiaobaihua traz a palco “Lu You e Tang Wan”, um clássico de 1989, considerado pela organização como a peça imperdível do estilo Yue. Este é uma abordagem nascida na cidade de Shengzhou, Zhejiang, e conta com mais de um século de existência. É ainda reconhecido como o segundo principal género na China, sendo ainda caracterizado pelas vozes femininas nos papéis principais. Sete e 8 de Maio são dias de patuá com a peça “Unga Chá di Sonho” (Um chá de sonho) pelo Grupo de Teatro Dóci Papiaçám di Macau, no Centro Cultural de Macau pelas 19h30. O teatro em Patuá, dialecto integrante da Lista de Património Local Imaterial da RAEM desde 2012, é anualmente convidado a encenar uma peça para este festival, de modo a manter vivas as suas características de humor e sarcasmo. Aqui, são abordadas as questões sociais e humanas actuais que reflectem a vida em Macau e este é um dos preferidos do FAM. Na dança, é altura de “deslizar” com a companhia canadiana Le Patin Libre. O espectáculo terá lugar no Ringue de Patinagem Future Bright às 13h00 e 20h00 de sábado e domingo. Le Patin Libre é a única companhia de patinagem artística contemporânea do mundo, sendo o espectáculo agora apresentado uma produção feita especialmente para esta sua primeira apresentação na Ásia. Dentro das apresentações interdisciplinares, o Teatro D. Pedro V é palco de “Contos de Fadas do Mundo do Caos” pela Associação Breakthrough, sexta e sábado às 20h00. São contos que juntam talentos do meio literário, teatral e musical num misto de tristeza e humor negro em que as questões mais sérias da sociedade humana são abordadas num contexto de “encantar”, numa produção a cargo de artistas locais. Os bilhetes para o FAM têm preços diferentes, havendo ainda espectáculos com entrada livre.
Hoje Macau Eventos MancheteFilipa Queiroz, realizadora de “Boat People”: “Uma mensagem de esperança, coragem e gratidão” “Boat People” dá nome ao filme que será exibido a 10 de Maio, pelas 19h30, dentro da programação do Festival Internacional de Cinema e Vídeo. A história dos refugiados vietnamitas que a região acolheu, numa produção de Lina Ferreira, com realização de Filipa Queiroz. Entre histórias mais ou menos escondidas, a realizadora fala do seu percurso entre o jornalismo e o cinema e das vidas que por cá passaram fugazmente por entre guerras e esperanças [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]documentário, no seu caso que também é jornalista, pode ser tido como outra forma de fazer jornalismo? Na minha vida, apareceu primeiro o documentário. Até fui para o Audiovisual na universidade por causa do documentário e de alguns registos televisivos nomeadamente ligados ao National Geographic ou canais como o “História”. Foi isso que primeiro me atraiu, porque, na verdade ia fazer rádio, que não tinha nada a ver. Por outro lado desde que me conheço que também gosto de jornalismo, mas já era apaixonada pelo género documental. Entretanto comecei a trabalhar no jornalismo, estagiei em televisão e continuei a trabalhar nessa área, mas o documentário sempre esteve na minha mira e continua a estar. Posso dizer até que gostava de acabar a fazer mais documentários do que propriamente jornalismo diário. É uma maneira de aprofundar temas, de fazer o verdadeiro jornalismo, a investigação, descobrir histórias através das próprias histórias, o que é uma coisa que o jornalismo diário não nos permite. Também tem os seus encantos mas não nos permite. Considera que há um imediatismo no jornalismo que não há no documentário? O documentário também pode ser construído no imediato, mas ganha toda uma dimensão cinematográfica que é diferente. Pode-se potenciar a questão da imagem, pode-se elaborar, condimentar de outras maneiras. Daí o deslumbre, para mim. Como surgiu o primeiro trabalho nesta área? Já tinha feito uma pequena experiência em Portugal. Foi uma pequena curta num festival para amadores em Braga, onde estudei. Depois, aqui, surgiu a oportunidade de fazer “Era uma vez em Ká Ho”. Esse sim, foi efectivamente o primeiro documentário em que participei. Dessa vez tivemos o subsídio do Centro Cultural, o que permitiu que fosse feito de outra forma. Acho que é importante haver este tipo de eventos para puxar pelas pessoas. Se calhar, se isso não tivesse acontecido, não teria pensado tão cedo em fazer um documentário, ainda tão verde. Só tenho dez anos de jornalismo, o que não é nada por aí além. Se não fosse realmente o desafio do Centro Cultural… Acabou por correr bem. O Hélder Beja foi o realizador e eu acabei por fazer de tudo um pouco. Gosto de trabalhar na parte da filmagem, do argumento, da fotografia. Foi uma primeira experiência que correu muito bem. Eu, pelo menos, gosto imenso daquele trabalho. Não que ache que seja genial, mas pela experiência e pelo contacto com aquelas pessoas. Em Ká Ho falamos da comunidade leprosa em Macau, um tema não muito abordado… Foi um trabalho com a comunidade de leprosos a viver em Macau, num isolamento total. Foi graças ao nosso interesse por esta história que a viemos a descobrir e até a desenvolver algumas amizades. Continuei a ter contacto com um dos protagonistas, visto o outro já ter falecido. Mas a protagonista que até é a mais visível, no que respeita à doença, viveu cerca de 80 anos ali encarcerada, completamente isolada da família. Voltei a visitá-la com a Stephanie que foi a nossa tradutora (sem ela seria impossível) e ela fica muito contente. Falámos um pouco, levamos uns doces. Só isso já vale a pena. O sucesso com o público, se tiver, tanto melhor. Na altura teve. Para mim foi muito importante ouvir pessoas de Macau, principalmente mais velhas, e não tinha a mínima ideia de que isto existia aqui. Foi um sentimento de missão cumprida. Esta foi a minha primeira experiência realmente. Depois veio a segunda: o desafio de 48h em Macau, promovido pelo Centro Cultural e que foi engraçado tendo valido um pequeno prémio. Estas coisas ajudam-nos a acreditar que, se calhar, fazemos alguma coisa de jeito. “Boat People” aborda os refugiados do Vietname. Actualmente os refugiados são tema constante. Neste caso, a temática foi coincidência, ou apanhou “boleia” das notícias do ocidente? Desta vez, tinha realmente uma ideia do que queria fazer. Essa questão é realmente interessante até porque em Macau muitas histórias estão postas debaixo dos buracos, nos recantos empoeirados do Governo, etc. Há muitas histórias que não são contadas. Mas foi uma história gira. Até porque foi o documentário que veio ter comigo e não eu a ir ter com o documentário. A ideia de fazer algo sobre refugiados em Macau já existia e partia da Lina Ferreira, minha colega e produtora deste filme. Ambas gostaríamos de fazer uma história à parte do nosso trabalho na TDM. Ela tinha muito interesse nos refugiados de Xangai. Como tínhamos lido alguns artigos, ela tinha tido conhecimento de um doutoramento sobre isso, [sobre] as pessoas que estiveram em Xangai [sendo que] muitas teriam vindo para Macau e outras até mesmo para Portugal. Andámos atrás disso. Ela perguntou-me se achava que poderia dar alguma coisa e achei que sim. Sou a parte mais visual do documentário. E precisamente por isso disse logo à Lina que isso seria muito complicado porque precisávamos das pessoas e dos locais, o que seria um grande problema. Não só as pessoas como também os locais desapareceram. Ir buscar histórias que já “morreram” acarretará dificuldades específicas. No vosso caso, quais foram? Essa ideia estava em banho-maria porque realmente não conseguíamos encontrar ninguém vivo, ou que nos quisesse contar a história ou que nos pudesse acompanhar a Xangai. De repente, por mera coincidência, um rapaz do Canadá contactou-me. Andava à procura e tropeçou no nosso documentário sobre Ká Ho. Gostou imenso e mandou-me um email. Apresentou-se, agradeceu o trabalho, disse que estava uma história muito muito interessante e depois contou a história dele. A história dele é de uma pessoa refugiada de Macau que, mais do que isso, iria regressar a Macau 30 anos depois de ter deixado o território e gostava de conhecer gente de cá. Perguntou-me se eu estaria disponível. É uma “win win situation aqui”: através de mim ele conheceria pessoas daqui e se quisesse registar o momento também eu ficaria a ganhar com isso. Foi quando disse “Lina temos a nossa história”. Mas depois foi tudo em tempo recorde. Ele falou connosco em Setembro e em Outubro já cá estava. Ele e a pessoa que o acompanha, que agora prefiro não revelar porque isso é a parte gira para se descobrir no filme. Essas duas pessoas vieram cá, estivemos com elas durante nove dias, andámos pela cidade. Foi tudo de improviso. Não tinha muitos meios, contei com a ajuda preciosa do Pedro Lemos com a câmara e do meu marido a fazer o som, o Francesco. E trabalhámos nisto de uma forma inicialmente muito rudimentar, mas foi sobretudo uma coisa feita com muito amor e muito interesse e improviso. Uma experiência fantástica que agora já me parece muito distante mas que resultou também numa bela amizade. Ficámos muito próximos. E como é que, a partir de um só relato, as histórias se foram desenvolvendo? Tínhamos inicialmente só esta história. Depois percebemos que a história era muito mais interessante do que parecia à superfície. Eram refugiados. O tema está na ordem do dia, sim. Mas de facto não foi o ponto de partida. É impossível fugir a isso e é uma questão à qual somos sensíveis. Até porque somos emigrantes, pessoas que se movem no mundo por impulsos e necessidades diferentes. As outras personagens surgiram para contar melhor a história. Mesmo assim não está totalmente contada. Acho que ficou espaço para muito mais. Nós é que simplesmente tínhamos uma “deadline” e poucos recursos. Queríamos fazer uma coisa completamente independente e não tínhamos apoios. Depois conseguimos ir buscar outras pessoas. Uma que na altura trabalhou na polícia marítima e que assistia à chegada dos vietnamitas a Macau e que na altura trabalhava com o padre Lancelote e o padre Ruiz, que eram as pessoas que recebiam cá os refugiados. Fomos também buscar dois jornalistas que, mais do que historiadores, são pessoas que estiveram no terreno. Fomos à procura de outros elementos para compor o ramalhete. Mas muito fica ainda por dizer. Enquanto histórias também escondidas, que entraves ou “escavações” tiveram que fazer? Curiosamente o Governo foi muito acessível. Sabemos que as coisas às vezes não são muito claras, mas neste caso tivemos que contactar o Governo para algumas situações. Foi a Lina que o fez e recordo que ela disse que tinham sido muito prestáveis. Filmámos, por exemplo, dentro dos Serviços de Identificação e tivemos algumas explicações da parte deles. Mas por exemplo no Centro de Formação Juvenil Dom Bosco, que era o antigo campo de refugiados aqui, não nos deixaram entrar. Desconfiaram muito quando só queríamos saber o que tinha acontecido com as pessoas que viveram lá. Ficámos à porta. Essa foi a maior dificuldade. E a barreira cultural que é inevitável porque as pessoas não falam da mesma maneira. Foi por isso também que recorremos a outros entrevistados. As pessoas chinesas não desenvolviam algumas questões. Os protagonistas falavam bastante mas as outras pessoas que tentamos procurar – existe também uma enfermeira que na altura trabalhou no campo – não dão detalhes, não são descritivos, não dão datas ou nomes. Era tudo um bocadinho complicado. Essa barreira existiu e ou se contorna se se tiver mesmo muito tempo para ganhar confiança ou então tenta-se de outras formas. Foram essas essencialmente as nossas barreiras. Entretanto do nosso bolso também conseguimos melhorar o filme. Procurámos a ajuda de técnicos profissionais que em Macau já se encontra muito. Macau já desenvolveu muito pessoal especializado. Faz cinema em Macau. Como vê a situação da industria na região? Qual o estado do cinema aqui? Acho que está óptimo. Da parte da comunidade chinesa ainda acho que é um pouco monotemático. Costumo assistir a vários filmes e vou a festivais e anda tudo muito à volta do mesmo tipo de temas – o amor, o drama. Por acaso até é curioso porque isso vai ao encontro da tradição portuguesa que também é muito dramática. O cinema em Macau tem muito de fado. Acho que até é uma herança que nem eles, jovens que estão a fazer cinema, têm noção. Mas o momento actual do cinema em Macau é óptimo, não só por causa dos apoios que o Governo tem, de facto, dado com estas iniciativas e festivais, não só para os filmes serem feitos como na recuperação de espaços. Por exemplo, a Cinemateca Paixão. Acho que o Capitol também deveria ser recuperado. Macau já teve muitos cinemas e tem uma história de cinema incrível, mais como cenário para o cinema e não a ser Macau a fazê-lo. Acho que está no bom caminho. Público também tem. Já vi filas no Cineteatro como nunca vi em Portugal, exceptuando as grandes estreias. “Boat People” não é uma mensagem de tragédia, é um filme de esperança? Sim, é uma mensagem de esperança, de coragem e de gratidão. As pessoas que aqui vieram não vieram só visitar Macau, vieram agradecer. Sobretudo gratidão. Senti isso e elas também o disseram. Isto ainda não o tinha dito antes. Mas sim, existe não só a coragem de ter apanhado o barco para vir parar a Macau, ficar aqui uns anos sem saber o que lhes iria acontecer e depois serem enviados para um outro país que não conheciam de lado nenhum e terem uma vida nova outra vez. Uma das personagens lamenta muito o facto de ter saudades de algo que já não existe, as lembranças que tinha de Macau, dos lugares que tinha conhecido, que já não existem. É quase estar a procura de uma memória, de uma identidade que se perdeu. Por exemplo um elemento muito importante na altura e que já faleceu [foi] o padre Lancelote e eles queriam muito estar com ele também. Estiveram através de outras pessoas. Mais uma vez o papel do jornalista vem a tona, no deixar os relatos. Sem isso não há nada.
Manuel Nunes Eventos MancheteJosé Drummond, artista plástico : “Macau é um embaraço para os artistas” Define-se como um existencialista interessado na dualidade entre o visível e o invisível, no amor e na morte, pois “não existe mais nada que valha a pena falar”. Artista e curador, José Drummond foi recentemente convidado a representar Macau no prestigiado Sovereign Asian Art Prize. Uma foto para “construir uma narrativa existencialista” para um artista a quem a única coisa que interessa é “continuar a ter condições para trabalhar” [dropcap style=’circle’]Q[/dropcap]ual a história por detrás da imagem escolhida para o Sovereign Asian Art Prize? “Parachute” faz parte de uma série de fotografias realizadas em Nova Iorque a que dei o nome de “There is no place like it”, frase de Walt Whitman num texto relativo à cidade. Escolhi o parque de diversões de Coney Island para construir uma narrativa existencialista onde, durante o Inverno e com a ausência de corpos humanos, é conferido um sentido único de isolamento e deslocamento, enquanto somos imersos pelas estruturas num desencanto cativante. Depois apeteceu-me trabalhar o efeito cinematográfico “day for night” onde a câmara é alterada na sua leitura de luz. Um efeito muito comum no cinema americano dos anos 50 e 60. Coney Island, um dia considerado “The Greatest Show on Earth” é um espaço que desafia a gravidade. No Inverno é uma paisagem fantasmagórica que reduz o humano à sua própria fragilidade. Como surgiu a participação no concurso? O Sovereign Asian Art Prize funciona por nomeação de um curador, não é de público acesso. A fundação nomeia um número de curadores que por seu lado decidem quais os artistas a nomear nas 16 regiões contempladas. Por isso, só a nomeação é um reconhecimento importante. Gary Mok, curador baseado em Pequim com largo conhecimento sobre o que se faz em Macau e Hong Kong, foi quem me nomeou para representar Macau. Alguma expectativa para o desenlace? Para dizer a verdade não gasto muito tempo em expectativas. O tempo que tenho gasto-o a trabalhar. Encaro concursos como exposições ou ‘screenings’. Como um veículo importante que confere visibilidade ao trabalho desenvolvido em estúdio. É uma faceta essencial do profissionalismo. Nos últimos anos tornei-me num verdadeiro ‘workaholic’. A experiência em Nova Iorque e Berlim terá contribuído para algum esclarecimento e amadurecimento do meu trabalho. Acredito que tanto a nomeação como a consequente selecção é fruto disso mesmo. Mesmo não vencendo em que medida pode esta participação mudar o seu panorama? Não sei bem. Por um lado vou continuar a ser o mesmo, ou seja, vou continuar a trabalhar e a emocionar-me com tudo o que o trabalho envolve e com todas as experimentações que ainda quero tentar. Por outro lado, acredito que os artistas são como esponjas que absorvem água e sabão e, quando se aperta, expelem um fluido com bolhinhas. Quero dizer com isto que obviamente trabalhamos em sequência do que nos acontece na vida, do que vemos, sentimos, etc. Nessa perspectiva, já mudou. A nível de reconhecimento do trabalho é obviamente muito bom estar nesta fase. O resto logo se vê. “Parachute” foi a obra escolhida para o prémio E se ganhar? Isso seria fantástico. Mas não penso nisso. Pés na terra, concentrado nos próximos projectos. O mais importante são os trabalhos. É isso que importa. Quais os próximos projectos? Muita coisa em filme. Mas demora tempo. Acabar a edição de algumas coisas. Duas novas séries de fotos que ainda não consegui ter meios para fazer. Depois gostava de conseguir trabalhar em espaço de exposição, uma reunião de disciplinas entre teatro, cenário, música e imagens em movimento. O meu maior problema é investimento. A minha produção actual exige um alto nível de profissionalismo que obriga a um exercício financeiro constante e sem expectativas de reembolso. Artista a full-time agora? Como se sobrevive dessa forma em Macau? Não nos fazemos artistas. Ou somos ou não somos. Quando és sabes que és. Não é um hobby. Sobreviver é difícil. Um artista em full-time deve ter uma certa noção comercial que por vezes entra em conflito com aquilo que se pretende da arte. A capacidade de continuar a inovar. A possibilidade de se fazerem coisas só porque sim, sem ter que se considerar que é uma comodidade, um produto adquirível com valor de mercado. Ser artista implica ser perseverante. Mas está dedicado em full-time? Se sim, qual a vertente comercial que paga as contas? Não pago as contas. A minha produção é sempre mais. Por isso, aqui e ali tenho de me desenrascar. Macau é um embaraço para os artistas. Com rendas e comida mais cara que Berlim, por exemplo, é impossível viver a full-time da Arte. Um artista precisa de um estúdio para além de um tecto para dormir. Em Macau isso parece impossível. Ou então faz pintura e mesmo assim não dá. Uma coisa é certa. Macau não chega. Ou temos galeria fora, ou fazemos projectos internacionais ou, se estamos à espera que Macau nos compreenda e chegue para pagar as contas, desaparecemos. Descobri entretanto que tenho um espaço de contribuição para o meio através da educação. O workshop que tenho leccionado tem sido bastante apreciado pelos estudantes. É um trabalho complementar como é o de curador. Naturalmente, estas respostas dão lugar a novas perguntas. Por exemplo, porque é que os projectos arquitectónicos de Macau não incluem artistas locais… (risos) Pegando nisso, que impacto esta participação pode ter e está a ter no meio local? Pessoalmente espero que sirva de incentivo aos artistas locais para acreditarem no seu trabalho e não terem medo de procurar uma voz única. Acho que há espaço para tudo e arte não tem de ser pintura. Pelo contrário. Quando Macau perceber isso dará um salto grande. Os artistas em Macau parecem-me, por vezes, pouco convictos da possibilidade de terem um trabalho mais contemporâneo. A que chama um trabalho mais contemporâneo? Corre-se sempre o risco de ser deselegante quando se fala de colegas ou se critica o meio em que se está. Afinal estamos, de algum modo, todos juntos. Mas faltam coisas em Macau. Nem tudo é representação. Tem de haver algo mais. Acho absolutamente fascinante que aquilo que melhor caracteriza a cultura de Macau seja também a razão da sua pouca importância. Demasiado umbilical. É uma cultura que vive muito fechada sobre si própria e impressionantemente tradicional. Existe medo de arriscar. Existem muitos ‘velhos do restelo’ que não deixam isto andar. Macau vive sempre preocupado com o que se vai dizer. O melhor é não levantar muito a bolinha. Que o faz ‘correr’? Não sei fazer mais nada? É mais forte que eu? Estou sempre a pensar em Arte. Sou um dos gajos mais aborrecidos possível. Por isso as namoradas não aguentam (risos). Estou a brincar claro. A falar verdade, no meu caso, o ‘correr’ obriga a um espaço considerável de isolamento e solidão em estúdio, onde ler, questionar, escrever, experimentar alternativas são importantes para tomar decisões. Fazer arte não é uma questão de ter jeito para o desenho. Pelo menos não é assim há pelo menos cem anos. Felizmente, os média com que tenho trabalhado mais, como o vídeo, obrigam a um envolvimento com outras pessoas. Desse modo, sinto que continuo sempre a aprender. A vida é uma aprendizagem contínua. A arte também. Onde pretende chegar? Não sei. Os objectivos depois de ultrapassados dão lugar a outros. Para já quero acabar uma série de projectos nos quais tenho andado a trabalhar nos últimos dois anos. Depois logo se vê. Quero continuar a trabalhar. Que legado imagina um dia deixar? Não penso nisso e não tenho medo de não vir a ser reconhecido. As coisas são o que são. Vou citar dois nomes que não são referências imediatas minhas mas servem para ilustrar um ponto: Louise Bourgeois, uma das artistas mais importantes dos últimos 50 anos, só foi realmente reconhecida depois dos 70 anos. O Manoel de Oliveira só após o seu segundo filme de ficção, com 63 anos, começou a ser reconhecido. É certo que um viveu até aos 98 e o outro até aos 106. O que pretendo dizer é que o ‘calling’ ou o ‘reconhecimento’ podem aparecer tarde. Precisamos é de capacidade para continuar a trabalhar. É o que eu quero e ter condições para continuar. Se o meu trabalho poder contribuir de algum modo tanto melhor. Qual a pergunta para a qual mais procura uma resposta? O meu trabalho é existencialista por natureza. Mas de um existencialismo beckettiano, kafkiano, até freudiano. As minhas duas grandes ‘questões’ são eros e thanatos. Amor e morte. Não existe mais nada que valha a pena falar. É nessa dualidade ‘absurdista’ que o meu trabalho se insere. Há quem já me tenha considerado como um ‘ultra-romântico’ e, nesse sentido, é uma vertente que parece ir no sentido oposto às vertentes actuais, que se focam numa certa frieza. A mim interessa-me o reino da emoção na arte. Não só o de poder representar emoção, como também o de poder causar emoção. Interessam-me certos autores e o meu trabalho está nessa linha de continuidade. Existe um certo sentido teatral que acho ser absolutamente importante para o seu entendimento. Altamente fascinado pelo trabalho de Fassbinder e Bergman, por exemplo. Existem muitas referências, todas no mesmo sentido. Plath, Duras, Pessoa, Sá-Carneiro, Lacan, etc… A máscara. A fragmentação do ser ou a sua multiplicidade. A solidão. A ilusão. A possibilidade ou impossibilidade do amor. O falhanço – “Fail again, fail better”, Beckett dixit. A morte é a única certeza da vida. Interessa-me também a percepção do mundo que cada um de nós tem. A Anaïs Nin disse: “nós não vemos o mundo como ele é, vemo-lo como nós somos”. Estar em Macau abriu mais ou menos possibilidades para desenvolver o seu trabalho? Porquê? Chego a esta fase por estar a representar Macau. Mas, por outro lado, existem aspectos do meu trabalho característicos de uma certa fantasia, de uma certa utopia para a qual torna-se necessário que o trabalho seja feito na China. Pelo menos por agora. Existe uma certa noção que envolve um espaço migratório que é essencial. Quero continuar por aqui. Ainda tenho muito sobre o qual quero falar. Além disso, torna-se curioso que esse hipotético ‘exotismo’ do espaço migratório e de confluência de culturas seja visto com interesse por Hong Kong, Pequim, Lisboa, Berlim e Nova Iorque e que Macau pareça, por vezes, ainda não ter realmente percebido, o que me leva muitas vezes a questionar sobre o é que estou aqui a fazer. Aliás, sem ter nada a ver com esta questão, o HM está a publicar um thriller poético/psicológico com esse nome: “Que estamos nós aqui a fazer, tão longe de casa?” Sim, é verdade. Mas isso espoleta três perguntas: que estamos a fazer, que está a fazer e onde é ‘casa’? Embora a ‘novela’ semanal até possa dar a ideia de estar a falar de estrangeiros imediatos, na realidade está a falar de uma nova condição, que é esta: o Macau do futuro é um Macau estrangeiro onde todas as pessoas são fruto da emigração em primeira mão ou em segunda, terceira ou quarta geração. Isso já se sente. A ideia de ser de Macau só pode ser isso mesmo. Nesse sentido ninguém é realmente de Macau e somos todos de Macau. Sei que é uma visão polémica, mas este é o maior trunfo da cidade. Esta vocação natural para a multiplicidade de culturas. Acho absolutamente paradigmático que o melhor realizador de cinema de Macau seja português, que os melhores pintores sejam de Xangai e da Rússia e por aí adiante. Para mim, a melhor artista de Macau, na actualidade, é de Sichuan. Pelo meu lado, estou a fazer aquilo que é suposto fazer. Questionar, apontar ideias, contribuir para o mundo em geral. A casa é aqui mas isso não quer dizer que não mude. Estou sempre a viajar.
Hoje Macau Eventos MancheteCatarina Cortesão Terra e Tomé Quadros: “Há uma identidade própria de Macau através do cinema” Catarina Cortesão Terra e Tomé Quadros dão voz e imagem à identidade de Macau e “Tempo de Bambu” não é excepção. Uum trabalho que vai ao que nunca foi escrito e que pretende eternizar uma já quase memória num filme, que passa no Festival de Cinema e Vídeo de Macau a 13 de Maio, no CCM, às 21h30 [dropcap]A[/dropcap] Catarina vem do Direito. Como é que apareceu a realização na sua vida? O Direito sempre foi uma paixão e sempre gostei muito da parte jurídica ligada à reflexão e ao diálogo do pensamento. O Direito baseia-se sempre em vários pontos de vista e é necessário perceber as suas ligações e encontrar uma solução justa, tendo em conta também a sociedade em que se está integrado, os seus valores e as suas regras, deveres e garantias. Esta passagem para o cinema em termos de pensamento é um bocadinho parecida. E porquê a opção pelo documentário? O documentário também acaba por aparecer na minha vida por esse interesse e essa reflexão social que me caracteriza desde a adolescência, a partir do momento em que despertei para todas as questões da sociedade e dos espaços urbanos e históricos. Estudei em Coimbra onde havia uma reflexão diária acerca da cidade e do seu património. Depois vim para Macau e essa reflexão continuou, agora também relativa ao desaparecimento de algum património inicial com que eu identificava Macau. Queria procurar formas de dialogar com essa memória e apontar soluções contemporâneas à sociedade que ia surgindo, porque eu própria também ia mudando. Constitui família, desenvolvi a minha própria profissão e isso também se reflecte no olhar que uma pessoa tem sobre a própria cidade. Em Coimbra também já tinha uma actividade associativa muito grande em que estava ligada ao teatro e à fotografia, portanto já estava ligada ao cinema. Isso sempre fez parte da minha vida. Esta associação com o Tomé Quadros tem sido uma constante em todos os filmes que tem feito. Como é que apareceu e o que é que a mantém? TQ – Em primeiro lugar surgiu de uma vontade comum relativamente à fotografia e ao cinema em particular. Surgiu a vontade de fazer cinema e tínhamos ideias muito próximas. Em segundo lugar, em 2008 o Centro Cultural de Macau lança a primeira iniciativa de financiamento na área e decidimos concorrer porque tínhamos uma ideia muito forte ligada à questão da identidade de Macau, que se tem desenvolvido ao longo deste tempo. Se repararmos, a questão da identidade de Macau está sempre presente no nosso trabalho. É uma constante… TQ – Ao início, com [o nosso primeiro documentário] “Music Box”, era a questão da música. De que forma é possível cartografar Macau, as suas gentes e comunidades e a forma como elas se expressam ou não. Isto através da música e da sua tipicidade. Em segundo lugar foi o “Chá Gordo”, através do qual conseguimos ver as diferentes camadas da viagem que foi feita de Portugal e que passou por Macau através da mesa. Conseguimos ter um mapa mundo das descobertas através dos ingredientes e da apropriação das cozinhas portuguesas e chinesas e por aí fora. Agora é a questão do bambu, sendo que é um projecto essencialmente concebido pela Catarina, mas em que ambos temos abordagens idênticas. Introduzimos características da ficção no documentário. Os entrevistados são como se de personagens se tratasse que depois conduzem o espectador ao longo da narrativa. O documentário como forma de alerta para o desaparecimento da identidade de Macau e, neste caso, do bambu? O que nos diz “ O Tempo do Bambu”? CCT– Não gostamos de criar aquele argumento escrito em que depois vamos colando imagens. Para nós, o documentário é uma concepção dialógica entre todas as personagens que o constituem. Esta reflexão que fazemos sobre o ofício do bambu é integrada nesta travessia galopante da urbanização de Macau, neste crescimento em que se interroga se o ofício do bambu tem lugar numa sociedade contemporânea e, se o tem, como é que isso está a acontecer agora. Resolvemos fazer uma radiografia entre todos os intervenientes que se interligam e trabalham juntos. Por um lado temos as estruturas como se de personagens se tratasse, como o pavilhão de Á-Ma. Já abordámos o Pak Tai e o Tou Tei. Ainda estamos a trabalhar no de Coloane que é o maior. Como é feito este caminho por um ofício já tão raro? CCT – Partimos destas figuras que são estes pavilhões e depois os seus mestres. Os mestres locais já são muito poucos. Contactamos com mestre Chio, responsável pela estrutura de Á-Ma, o mestre Leong de Coloane e depois o mestre Chan que é o responsável das grandes obras provisórias do Cotai. Isto num diálogo com os arquitectos que já trabalharam, e ainda o fazem, com o bambu como é o caso de Carlos Marreiros, Carlos Couto, etc. Tentamos ao mesmo tempo perceber como é que o bambu, numa linguagem contemporânea, se poderia adaptar ao futuro. Numa continuidade do seu uso tradicional mas também em estruturas actuais, em instalação, por exemplo. Falámos com o João Ó e a Rita Machado que viram nisto o seu nicho de mercado, ou mesmo com Kristoff Crolla que agora está em Hong Kong a usar o bambu em estruturas provisórias. O vosso trabalho vai buscar a memória, quase num alerta da possibilidade do desaparecimento. Querem ir além do registo da memória? Querem intervir na preservação e transformação? CCT – A nossa abordagem parte sempre da nossa observação da cidade, não como “voyeurs”, mas como participantes que sentem a responsabilidade de acrescentar alguma coisa à cidade a que pertencem. Queremos de alguma forma ajudar, porque também temos essa vontade de permitir a continuidade. Como agentes que somos, sabemos que o crescimento é muito rápido e que as coisas aparecem e desaparecem de uma forma quase invisível. Sempre que fazemos um documentário, costumamos colocar várias questões e ir à procura das respostas para as mesmas. Sentimos também necessidade de apontar soluções. Não é meramente contemplativo, é também uma observação criativa e construtiva mas que não parte de nós como realizadores, mas sim dos próprios intervenientes. Ao serem solicitados para participar nesta reflexão é uma forma de apontarem soluções para a mesma, sendo eles as personagens principais que lidam directamente com o bambu. Já no “Chá Gordo” fizemos isso com a própria comunidade macaense: pusemos a própria comunidade a pensar em “então e isto vai acabar? A identidade macaense vai durar? O que é que é a identidade macaense? Isto a partir da comida [que tinha] a história da comunidade macaense que é a história dos 400 anos do crescimento desta comunidade. Aqui é a história de 200 anos do ofício do bambu. TQ – Ao estarmos a falar de identidade estamos realmente a falar de memória e este é um trabalho da memória dentro da sua memória. A memória vista como futura é algo que corresponde ao passado e o presente é algo que corresponde ao futuro. Acontece na construção da memória de Macau. Devido a este crescimento tão esmagador quanto invisível, uma pessoa acaba por não o sentir. Mas esse desaparecimento acaba, segundo dizem, entre cinco e 10 anos e é algo que não vemos mas é verdade. Por isso este documentário é algo que no fundo é um cancioneiro de um conhecimento que tem passado de mão em mão, de geração em geração que não se encontra escrito. Estamos a falar de um conhecimento que não se encontra registado… TQ – Não. Os personagens dos nossos documentários também não trabalham a partir de um registo escrito, trabalham a partir de uma memória visual. Não há ciência. Tal como em todos os documentários que fizemos não há ciência escrita. CCT- Na sociedade macaense há muito pouca coisa escrita. Por exemplo os livros de receitas não saem da família, não passam, não se partilham. A história do bambu também é um pouco isso. Começamos a notar que o uso do bambu estava a começar a ser substituído em Macau, que era cada vez menor. Quisemos investigar o bambu e não encontramos nada escrito, nada científico. O material não é analisado. É associado a um material pobre, de estrutura provisória, não é um material nobre. Uma arquitectura popular. Este documentário apresentou vários desafios. O que ficou e como os ultrapassaram? Qual a receptividade dos mestres da terra? CCT – A aproximação foi difícil. Houve uma certa desconfiança, olharam inicialmente para nós com a expressão do género “mas porque é que vocês têm interesse nisto? Vocês nem são de cá.” Tivemos que abordar muitas vezes mesmo com intérprete, porque só falam Chinês. Devido ao analfabetismo não há escrita e o próprio Chinês é um pouco rudimentar. O mais interessante foi que, dada a nossa insistência, conseguimos transmitir a nossa paixão e eles foram confiando. A partir desse momento houve uma abertura total. Foram simpatiquíssimos. Também os abordámos em várias facetas. Não só no seu trabalho, como no seu espaço de lazer, a nível pessoal em que partilhámos refeições. Outro aspecto foi o facto de os termos posto em contacto com outros mestres. Acabou por ser muito gratificante e eles já começam a ter a sensibilidade de que o bambu pode ter outra vertente e poder ser associada a contemporaneidade, criatividade e à imaginação. Que não é meramente mecânico e funcional e que pode ter um função contemplativa através de um conceito que eles entendem que é o de “belo”. Em suma, Macau tem sido efectivamente a fonte de toda a vossa inspiração e caminho. CCT – O meu tema é realmente sempre o mesmo. Ando sempre a reflectir nesta cidade e nos seus paradigmas. Somos curiosos e acabamos por estar muito atentos ao que vai acontecendo à nossa volta. O obstáculo linguístico, o ser outra comunidade com outros valores. Todos fazemos parte de uma só humanidade que convém ser partilhada e o nosso trabalho passa por aí. Partilhar o nosso conhecimento através de uma experiência visual é algo que sempre me fascinou. TQ – É uma cidade que tem muitas camadas. Pode parecer um lugar comum mas é verdade. Tem muitas camadas e tem várias cidades dentro do mesmo território. No entanto não estão propriamente entrecruzadas. Coabitam e depois surgem as tais camadas. Ainda há muito por descobrir. É como o guardador de memórias, todos sabemos que em 2049 o território terá outra configuração formal, que, naturalmente, já está a ser construída. Assim sendo acho que se torna ainda mais pertinente este papel activo através do cinema. Como olham para o futuro de Macau? CCT – Macau tem características próprias e uma coisa que estou assistir hoje em dia é essa “achinecização” de Macau. Aquilo a que chamamos de mosaico humano em Macau, com a toda a diversidade histórico-cultural, pode estar a ser homogeneizado. É uma pena porque assim será igual a qualquer outra cidade chinesa. Por isso é também interessante perceber esta cidade que é construída sobre os aterros, sobre a natureza, tem possibilidade de continuar a assumir a sua diferença num contexto contemporâneo. De alguma forma, queremos contribuir para isso com uma mensagem de continuidade, de memória e património e de felicidade também. Através da vossa experiência como é que vêem a produção cinematográfica em Macau? TQ – Macau é um território jovem na produção de uma forma sistematizada. Representado pelo cinema tem uma vastíssima obra ao longo dos anos 40 a 60, por parte de realizadores de todo o mundo. Macau na primeira pessoa já é mais nos 70 e 80 e de uma forma mais acentuada na viragem do século e na transição da soberania. Estas iniciativas que vão acontecendo por parte do CCM ou por parte do IC que chama agora a si essa produção ou por parte de associações como por exemplo a CUT – Audiovisual, através da Macau Stories. Estes contributos vão ser fundamentais para configurar aquilo que se pode vir a entender como a indústria cinematográfica de Macau. Pode e deve-se falar de projectos audiovisuais, de projectos cinematográficos, que estão a acontecer de uma forma mais espontânea. Vão a breve trecho ter lugar outro tipo de situações através de associações. Quando falamos do cinema chinês falamos forçosamente dos cinemas chineses. Isto é, da china continental, de Hong Kong, de Taiwan e do cinema ultramarino. E agora, a propósito da minha tese de doutoramento, eu e outras pessoas estamos a analisar o cinema chinês e o cinema chinês em Macau para o colocar no mapa. Faz sentido. Macau faz parte da China, desta reconfiguração. Há uma identidade muito própria de Macau através do cinema.
Hoje Macau EventosFAM | Arranca este fim-de-semana 27ª edição Este fim-de-semana marca o início da 27ª edição do Festival das Artes de Macau (FAM) e, na semana de abertura, haverá espectáculos que integram teatro, música, dança e produções a pensar na família [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]ob o mote do “Tempo” e da passagem do mesmo em data que celebra a morte do dramaturgo William Shakespeare, está agendado para abrir as hostes do Festival de Artes de Macau (FAM) o “Sonho de Uma Noite de Verão” pela Shakespeare Theatre Company que vem dos Estados Unidos. Segundo a organização, a peça integra, sob a direcção e encenação de Ethan McSweeny, a mistura de sonhos e realidade em que “é utilizada alguma da mais provocante e deslumbrante poesia dramática” do autor. O espectáculo tem lugar nos dias 30 de Abril e 1 de Maio, às 20h00. Ainda no Dia do Trabalhador, pelas 16h00 e 16h30, a produção abre as portas dos bastidores aos interessados em conhecer os adereços e cenários mais de perto. A participação é limitada a 25 pessoas por horário, segundo a ordem de inscrição. A rubrica “Essência e Tradição” vai ocupar o Cinema Alegria no domingo às 19h30, com o espectáculo “A luta de Mu Guiying na Cidade de Hongzhou”. Uma peça que enquadra o canto e as artes marciais num transbordar de vitalidade enquanto narra a história de um casal guerreiro durante a dinastia Song do norte. A peça é interpretada pelo Grupo Juvenil de Ópera Cantonesa dos Kaifong. Na dança, haverá “Prazo de Validade”, no edifício do Antigo Tribunal no sábado e domingo, pelas 20h00. É uma coreografia que “combina uma variedade de artes e instalações visuais” e retrata a possibilidade de deterioração da relação entre indivíduos. Depois do espectáculo de dia 30 está ainda agendada uma conversa com o público. Todos juntos O FAM não esqueceu a família e a 1 e 2 de Maio, numa produção da Casa de Portugal em Macau, é apresentado “Em Cantos” , que conta com seis mini histórias acompanhadas de música que lhes vai dando a devida vida. Este é um momento que convida crianças entre os seis meses e os três anos de idade a virem no colo dos pais para ver e ouvir a actriz e encenadora Elisa Vilaça, acompanhada por Tomás Ramos de Deus em viagens de encantar. Este momento tem lugar no auditório do conservatório de Macau e conta com três apresentações diárias, às 11h00, 15h00 e 17h30. Ainda para os mais pequenos, 5 e 6 de Maio pelas 20h00 no edifício do Antigo Tribunal tem lugar a “Montagem de Animais” que vem do Reino Unido e junta ciência e fantoches para criar uma série de “esculturas performativas”. Aqui, os artistas procedem à montagem e animação de um conjunto de animais particularmente construídos com materiais invulgares. Após o espectáculo é lançado o convite ao público para, pessoalmente, explorar os objectos e o seu funcionamento. O FAM continua até final de Maio.
Hoje Macau Eventos MancheteZhang Bin, pintor : “Encontrei neste trabalho um esconderijo” “O Sonho do Pavilhão Vermelho”, de Cao Xueqin, foi a obra literária que serviu de inspiração a Zhang Bin, para que começasse a pintar. O artista diz ter encontrado neste trabalho uma utopia para fugir às questões políticas da China e à rotina do dia-a-dia, ainda que veja no continente uma sociedade mais desenvolvida. O trabalho ainda não acabou, mas até 19 de Maio vai poder ver algumas das pinturas na Casa Garden [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]asceu em Harbin, no norte da China, uma cidade também conhecida pelo frio e brancura. O que veio desses tempos para o seu trabalho? Sim, nasci em Harbin e já na altura passava o tempo a desenhar as montanhas cobertas de neve. Por outro lado, Harbin também pode ser considerada um lugar de passagem, por onde circularam vários povos diferentes que com eles trouxeram novas culturas, ideias e cores. Era uma espécie de “colónia”. Por lá passaram judeus da Europa que deixaram características, por exemplo, na construção. Passaram também russos e japoneses que deixaram a sua marca cultural. Neste sentido até se poderia fazer uma comparação com Macau, enquanto ponto de passagem e cruzamento entre diferentes povos provindos de diversas origens e que me deram acesso também a uma grande variedade humana e cultural. Como fica no norte da China, também é uma região com estações muito distintas e com elas a paisagem também adquire uma riqueza de cores particular a cada estação. Este factor também foi muito importante para a minha criação artística, na medida em que me deu oportunidade de começar a sentir as cores. Aos 20 anos fui para Pequim, para a Universidade, e foi a partir daí que comecei a utilizar outras técnicas e que comecei a pintar a óleo. Também é um conceituado designer de palco. Que ligação há entre a cenografia e a pintura? Durante os cinco anos em que frequentei a Universidade em Pequim onde me licenciei em Design de Palco, tive oportunidade de ter um treino, apesar de não muito longo, muito intensivo, na área da pintura, onde aprendi a técnica de pintar a óleo e onde tínhamos formação no desenho de modelo clássico. Por outro lado, a minha formação em Design de Palco acrescentou-me um espaço para uma outra dimensão da imaginação que posteriormente transportei para a pintura. O pensar um palco também é uma ajuda a alargar a criatividade e a visão para que depois tenha um conteúdo adicional para o trabalho de pintura. “O Sonho do Pavilhão Vermelho” é uma das quatro grandes obras clássicas da literatura chinesa. É também uma obra muito explorada tanto internamente como no estrangeiro. Porquê voltar a interpretá-la? Já entes de me dedicar à pintura era um grande apreciador da mesma. Frequentava muitas exposições mas, no entanto, não encontrava nada em especial que me inspirasse para pintar. “O Sonho do Pavilhão Vermelho” é de facto uma das quatro grandes obras clássicas da literatura chinesa e, para mim, a melhor de todas. Foi nesta obra que encontrei a possibilidade da imaginação e inspiração que ainda não tinha encontrado antes. Também acho que é uma obra importante até no desenvolvimento da arte contemporânea que junta elementos factuais a imaginários, assentes em características tradicionais não só da cultura chinesa como ao nível estético da paisagem característica dos clássicos chineses. Já foram realmente feitas diversas abordagens, do teatro à ópera e estudos culturais ou vários tipos de dramatização. Eu peguei no óleo e fiz uma série de pinturas baseadas nos cenários que imaginei ao ler as várias passagens do livro. A utilização do óleo também é uma técnica que acaba por realçar as características das paisagens clássicas chinesas, nomeadamente aquelas que depois da leitura são criadas pela imaginação. Foi o que fiz, criar a paisagem e os seus actores ou personagens. Há partes da obra que incluem poesia. Isso serviu de inspiração? [Sim], um outro aspecto consiste no facto de ser uma obra que integra poesia. Em que o autor inicia capítulos com um poema, por exemplo, ou então faz da poesia um tipo de comentário. Estes poemas são para mim muito sugestivos e muito do meu agrado e foi neles que também encontrei grande parte da inspiração que precisava para o meu trabalho na pintura. É uma obra repleta de ideias capazes de pôr a imaginação a trabalhar. A pintura da época também representa um tempo de auge dourado na história da pintura chinesa em que as personagens são inseridas na paisagem natural, o que também é muito característico da pintura tradicional chinesa em que há um mundo entre o céu, o homem e a terra, em que recorro ao óleo para melhor o ilustrar. Trabalha nesta obra há oito anos. Porquê tanto tempo? Que desafios? Fazer este tipo de trabalho também é um tipo de fuga para mim, uma busca do lugar da natureza utópica de modo a fazer face às coisas medíocres do dia a dia, como determinadas situações políticas ou mesmo a mercantilização da arte ou do mercado da pintura que não me agrada nada. Encontrei na realização deste trabalho o que há muito procurava, um esconderijo de tranquilidade e segurança, uma espécie de utopia em que posso viver. Continuo a trabalhar na mesma série. Aqui só estão algumas das obras que fazem parte do meu “O Sonho do Pavilhão Vermelho”. Este livro tem um sentido que não se esgota e, como pintor, trabalhar esta obra é algo contínuo. Noutras áreas esta é também uma obra infinitamente explorada, eu faço o mesmo na minha pintura. Sem fim. Nesta exposição encontramos uma sociedade chinesa que remonta há 200 anos. Como era e como é? Ao contrário da sociedade espelhada na obra, agora estamos não num sistema feudal, mas socialista. Faz este ano 300 anos que Cai Xueqin nasceu. A sociedade naquele tempo e no contexto onde se passa o romance era mais realista, até no que se refere à história nuclear à volta dos protagonistas. Apesar de ainda só existir um partido na China, comparativamente a outros países em que existem vários, penso que a sociedade de agora tem vindo a ter um grande progresso. Um outro aspecto é também o desejo de uma sociedade ideal, sem maldade, em que até na perversão poderá haver limitações. O modelo social desta obra agrada-me particularmente. Esta obra reflecte também um processo vital, do nascimento à morte. Para pintar esta obra é necessário o furor do espírito. Gostaria também de passar mais tempo a criar livremente. Pessoalmente também aspiro a afastar-me das banalidades e da mediocridade da vida, o que me é possível fazer enquanto pintor. Projectos futuros, que continuidades e que mudanças? Pretendo continuar a trabalhar nesta obra, mas agora de uma forma diferente. No regresso a Pequim se calhar irei proceder a algumas alterações, por exemplo ao nível da paisagem, tornando-a mais abstracta e ambígua. Pretendo também uma melhor representação das personagens, com mais complexidade. Se calhar dar-lhes mais efeitos dramáticos. Dar mais energia vital às minhas pinturas, para que os meus quadros reúnam a vitalidade que pretendo tornando-os mais ricos. Dar-lhe mais vitalidade através da criação de uma estrutura mais complexa e ao mesmo tempo fugir da cultura pop que pessoalmente não gosto e da qual me tento sempre afastar, por ser muito virada para o mercado o que também não me agrada.
Hoje Macau EventosFestival de Documentários continua com histórias de todo o mundo [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Festival Internacional de Cinema Documental de Macau (FICDM) continua na Cinemateca Paixão e hoje é dia de exibição de “Wansai Back Home” às 14h00 e “First Cousin Once Removed” pelas 16h30. O primeiro é uma co-produção do Japão e Taiwan realizada por Huang Ming-cheng. Wansai é referente aos filhos de japoneses nascidos em Taiwan durante o período colonial. Quase todos os japoneses foram repatriados aquando da rendição, tendo como resultado um conjunto de histórias marcadas pela dor da separação. Esta produção é o resultado de 12 anos de investigação e cinco de filmagens e conta a história dos laços familiares e de amizade que transcendem a vida e a morte. Uma história de descoberta e coragem perante a adversidade. “First Cousin Once Removed” é uma produção norte-americana de Alan Berliner em que o realizador se propõe a fazer retrato pessoal do seu “bom amigo, primo e mentor” Honig, ao longo do processo de perda de memória deste devido à doença de Alzheimer. Um lembrete acerca do papel da memória na vida de cada um, em que a fragilidade de se ser humano é contemplada. Filmado ao longo de cinco anos, este trabalho documenta “com carinho e compaixão o percurso” de Hodig. Sessão tripla Quarta-feira conta com três sessões. “Chuck Norris V Communism” é exibido às 14h00 e tem realização de Ilinca Calugareanu. Uma produção romena, alemã e do Reino Unido, que retrata a vida ou falta dela, reduzida ao isolamento e à censura. A determinado momento foi aberta uma janela a todos os que se atravessem a espreitar um mundo livre quando, em meados dos anos oitenta, mil filmes de Hollywood dão entrada clandestina na Roménia através de uma operação criteriosamente preparada. Estes filmes terão sido traduzidos por uma tradutora destemida que acabou por cativar toda uma nação e ser símbolo de liberdade. Às 19h30 é hora de “China Heavyweight” de Yung Chang que acompanha o treinador de boxe Qi Moxiang na sua viagem à China rural em busca de crianças que representassem potenciais atletas olímpicos. Neste documentário é acompanhada a sua visita a Huili, na província de Sichuan, onde encontra dois talentos, Miao Yunfei e He Zhongli. Quinta-feira é dia de “Death Japanese Salesman”, às 14h30, um filme em que Mami Sunada conta a história do seu pai, Tomoaki Sunada. A película é baseada num diário que mostra a vida do progenitor após ter sido diagnosticado com um cancro incurável.
Hoje Macau EventosLe French May | Degas, cinema e muito mais Tem por lema “tocar em tudo” e apresenta diversas formas de arte: do património ao contemporâneo, passando também por vários estilos musicais, a edição de Macau do “Le French May” deste ano inclui esculturas de bronze de Degas, um ciclo de cinema, pintura de Borget e a música clássica de Michel Dalberto [dropcap style=’circle’]L[/dropcap]ançado em 1993 em Hong Kong, como um evento cultural multidisciplinar para a Ásia, o “Maio Francês”, organizado pela Alliance Française, entra agora na sua 24ª edição. Em conferência de imprensa, a organização revelou a intenção de explorar a imaginação de novas regras, novas histórias e novos mundos na pintura, na escultura, no design, música, teatro, cinema e gastronomia sob o tema “Sonhos e Maravilhas”. O programa de actividades de Macau inclui uma mostra da colecção de 74 esculturas em bronze de Edgar Degas: “Figuras em Movimento” estará exposta no MGM de 29 de Abril a 16 de Novembro, com entrada livre. Um recital de piano de Michel Dalberto pode ser visto e ouvido no Clube Militar, pelas 20h00 de dia 2 de Maio. Os bilhetes custam 50 patacas para o recital e 250 com jantar. O evento conta ainda com um ciclo de cinema francês, com a apresentação de oito películas. Intitulado “Sonhos de um outro mundo – Utopias”, tem lugar nos Cinemas do Galaxy, onde está em exibição até 31 de Maio. Os bilhetes custam 90 patacas. Na calha, está ainda uma exibição de pinturas do sul da China de Auguste Borget, que vão estar patentes de 29 de Junho a 29 de Outubro, no Museu de Arte de Macau. FAM e vinho A edição deste ano colabora com o Festival de Artes de Macau (FAM), sendo a partir desse acordo que surge a peça do Disabled Theater desempenhada por actores com deficiências cognitivas. E também o encontro do inovador coreógrafo francês Jérôme Bel e dos artistas do Teatro de Zurique HORA. O Maio francês entrará ainda pelo mundo da gastronomia, com emparelhamentos de menus com vinhos da Alsácia em vários restaurantes locais e a participação de chefs cotados no guia Michelin e vários negociantes de vinho. Para o Cônsul-Geral de França, Eric Berti, “o festival é conhecido por ser um emblema” do país, “na medida em que pugna pela inovação, diversidade e excelência.” Julien-Loïc Garin, o grande responsável do evento, destacou a singularidade das obras que vão ser apresentadas e afirmou que “esperam atrair turistas para região e oferecer mais conteúdo cultural aos residentes locais.” Mais detalhes do evento no seu sítio oficial em www.frenchmay.com.
Hoje Macau EventosMorreu o príncipe do Funk, Prince Rogers Nelson Prince não foi apenas um génio excêntrico da música. Muito mais que isso, era um acumular de talentos em pouco mais de metro e meio. Multi-instrumentista, compositor, actor, performer. Cabe-lhe o reconhecimento consensual enquanto um dos mais influentes artistas desde a década de 1970 [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]morte de Prince Rogers Nelson apanhou todos de surpresa, na passada quinta-feira. O príncipe do Funk contava com 57 anos e foi encontrado inanimado no elevador da sua casa-estúdio, em Paisley Park, em Minneapolis, no estado do Minnesota. A morte do cantor foi confirmada à Associated Press pouco depois, pela sua representante, sendo que a causa é ainda desconhecida. Segundo a Reuters, na semana anterior Prince terá dado entrada no hospital com o que seria, supostamente uma gripe, tendo no sábado seguinte dado o seu último espectáculo numa festa na sua própria casa. Segundo declarações de alguns dos presentes e perante alguma preocupação relativa ao estado de saúde do músico, o mesmo terá dito: “esperem uns dias antes de desperdiçarem as vossas orações”. Ao mesmo tempo, alguns dos concertos da digressão “Piano & A Microphone Tour”, também tinham sido recentemente cancelados. Outros sites de música, como o TMZ, dão conta de uma possível entrada no hospital com uma overdose, mas ainda não há resultados dos testes toxicológicos ou da autópsia, sendo que a única coisa que se exclui é que a morte foi provocada por suicídio ou agressão. O cantor, entretanto, já foi cremado no sábado numa cerimónia privada, sendo que haverá um evento público ainda com data a anunciar. Contra a massificação Conhecido também pelas suas excentricidades, os últimos anos de Prince foram marcados pela sua quase “auto-exclusão” da internet e pelo limite de entrevistas que se disponibilizava a dar, bem como a ausência do mediatismo. Por outro lado associava-se cada vez mais a serviços de streaming como o Tidal, em jeito de protesto à massificação da divulgação musical da internet, sendo que actualmente encontrar Prince online, registos de concertos, fotos ou entrevistas não é tarefa fácil, a pedido do próprio artista. No entanto, não é por isso que Prince deixa de ser uma referência da cultura musical, do Jazz ao Funk, contando com inúmeras colaborações e excentricidades, mesmo no que respeita às mudanças que o seu nome sofreu. Prince é sem dúvida um nome a ficar na história da música. Nascido em Mineeapolis, filho de pai pianista e mãe cantora de Jazz, começou a sua carreira no final da década de 70. Pouco depois, em 84, lança “Purple Rain” que marca não só o início do seu sucesso à escala internacional, como ainda a música que lhe valeu o Óscar de melhor banda sonora em 85. O filme homónimo de Albert Magnoli, marca também a estreia do músico como actor. Em 93 muda efectivamente de nome para o símbolo , voltando mais tarde a ser Prince. Da sua carreira contam 39 álbuns, tanto a solo como com a New Power Generation, nos anos 90, ou com Eye Girl, em 2010. Testemunha de jeová, vegetariano, com milhões de discos vendidos e sete grammys amealhados, Prince tinha o lançamento das suas memórias anunciado para o próximo ano.
Hoje Macau EventosOrquestra de Macau celebra Shakespeare com Sayaka Shoji [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]“Concerto para Violino N.o 2 em sol menor” de Prokofiev vai ter lugar no próximo dia 29 de Abril pelas 20h00 no auditório da Torre de Macau. O concerto contará com Lu Jia, director musical e maestro principal da Orquestra de Macau e a participação da violinista japonesa Sayaka Shoji. O evento integra a série de espectáculos promovidos pelo Instituto Cultural (IC) dedicados ao tema “Mundo de Shakespeare”. Segundo a organização, Sayaka Shoji é descrita pela revista Gramophone como “[uma artista] formidável, capaz de extrair enormes reservas de energia a qualquer coisa que se proponha fazer”. Vencedora do Concurso Internacional Paganini aos 16 anos de idade, foi a primeira japonesa e mais jovem artista a consegui-lo. É também conhecida internacionalmente como uma revelação no violino contando já com inúmeras participações em orquestras de renome incluindo a BBC Philharmonic de Inglaterra, a Wiener Symphoniker de Viena de Áustria, a Orquestra Sinfónica Nacional da Dinamarca ou a Orquestra Sinfónica NHK do Japão. Em Janeiro de 2016, Sayaka Shoji recebeu o prestigiado Prémio de Arte Mainichi. O espectáculo na RAEM marca a primeira colaboração com a Orquestra de Macau e a interpretação do concerto de Sergei Prokofiev nas comemorações do 400º aniversário da morte de Sheakespeare, por esta obra ser também conhecida pela sua integração no ballet “Romeu e Julieta”. Está ainda programada a apresentação de “Aberture de Le Roi Lear de Berlioz”, que se baseia no obra homónima de Shakespeare e que conta com contrabaixos e oboés para promover a dramatização do ambiente. O concerto termina com a “Sinfonia No 4 em ré menor de Schumann”. Os bilhetes para o espectáculo já se encontram à venda e os preços variam entre as cem e as 200 patacas.
Hoje Macau EventosFotografia | Exposição da Coreia nas Casas-Museu da Taipa [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]streia quinta-feira a exposição “Narrativas”, do fotógrafo sul-coreano Park Seung Hoon. Numa co-organização do Instituto Cultural (IC) e da PYO Gallery, a mostra abre às 18h30, na Galeria das Casas-Museu da Taipa. A exposição contará com a apresentação de 16 obras do jovem artista coreano e abrange duas séries de trabalhos. Da série “TEXTUS” são exibidas imagens fotográficas capturadas em película de 16mm em que o artista tece várias tiras de película, produzidas durante vários anos pelo mundo fora, que se apresentam aqui unidas numa só imagem, de forma a concretizar “um cenário perfeito”. A série “Uma melhor explicação” , também a mais recente criação de Park Seung Hoon, é uma manifestação também fotográfica da transformação ao longo do tempo e do espaço da paisagem ribeirinha do rio Arno, em Florença. São apresentados cenários momentâneos que retratam simultâneamente o desenvolvimento histórico e social à volta deste rio. É objectivo da organização que através da presente exposição os visitantes se “sintam inspirados a potenciar a sua própria imaginação bem como a exploração de novas possibilidades artísticas”. “Narrativas” está patente até 26 de Junho de 2016 e tem entrada livre.
Hoje Macau EventosMacau celebra Dia Internacional do Jazz Martin Luther King Jr. terá dito que o “jazz expressa a vida” e é sob este mote que a Unesco terá criado o Dia Internacional dedicado a este estilo musical. Macau junta-se à celebração com uma programação que convida todos a comemorar o Jazz no mundo O Dia Internacional de Jazz é comemorado a 30 de Abril desde 2012, mas as celebrações vão começar mais cedo em Macau. A Associação para a Promoção do Jazz de Macau apresenta hoje, na Casa Garden, pelas 20h00, um concerto que conta com Zé Eduardo – músico, compositor e pedagogo português. Destacado também pelo seu papel no que respeita à divulgação e promoção deste estilo musical através da criação de escolas e orquestras, Zé Eduardo tem como pontos altos da sua carreira, entre outros, o convite em 2007 para dirigir o European Movement Jazz Orchestra aquando da Presidência Portuguesa na UE. Já tocou também com Mário Laginha, Maria João ou o falecido Bernardo Sassetti e tem um projecto que junta três contrabaixos, onde se alia a Carlos Barretto e Carlos Bica. Ainda em 1988 entrou para o Guinness Book of Records, com a ajuda de outros músicos, estabelecendo o recorde de 24 horas consecutivas a tocar o blues mais longo, num tema da sua autoria. Já a dia 30, também na Casa Garden e numa iniciativa da Associação para a Promoção de Actividades Culturais (APAC), tem lugar um workshop de canto a cargo da croata Ines Trickovic. Segundo José Duarte, membro da Associação, o workshop vai “directamente ao encontro de um dos grandes objectivos deste dia, comportando o lado pedagógico do evento”. Acontece às 14h00, antes do concerto de jazz da banda japonesa T-Trip, que é apontada por José Duarte como uma referência do que se faz neste momento no país do sol nascente e que está marcado para as 21h30. O convite é feito para que os interessados que possam e o desejem venham um pouco antes do horário do concerto e assistam em vídeo à comemoração deste dia no ano passado, em Istambul. Todos os anos o Dia Internacional do Jazz tem um local que funciona como “centro”, sendo que este ano é em Washington e conta com a presença de Barak Obama. A noite acaba com o convite para uma ‘jam session’, que está marcada para as 23h00. Já o Clube de Jazz de Macau organiza o concerto dos “Souling”, banda de Zhuhai que, segundo o presidente José Luís Sales Marques demonstra o jazz que também se faz na China. A banda é constituída por Kenny Du na guitarra, Anselmo Luisi na bateria e Katrina Lau na voz, estando também agendada a presença do músico local e professor de guitarra Lobo Ip, mas agora enquanto DJ. O local deste espectáculo ainda não está definido sendo que num primeiro momento foi agendado para o Espaço Fantasia 10. O Dia Internacional do Jazz foi criado pela UNESCO, que pretende lembrar a importância deste género musical, bem como o seu contributo na promoção de diferentes culturas e na luta pela liberdade. Jazz, Macau e associações Promoção conjunta pelo mesmo estilo de música A RAEM conta neste momento com cerca de três associações cujo intuito é a promoção do Jazz. Depois do Clube de Jazz de Macau, associação pioneira na promoção deste estilo musical, aparece a Associação para a Promoção do Jazz de Macau. Mars Lei, membro da mesma, diz ao HM que a natureza desta Associação é tida na perspectiva dos músicos, ao invés de se destinar aos amantes do estilo, como os clubes. Relativamente à universalidade do estilo e em contraponto com a sua criação na China, Mars Lei refere que o jazz não é efectivamente um estilo chinês sendo que agora, dada a sua universalidade, se espalha muito pelo mundo. Salienta também o jazz japonês e o seu estilo próprio de criação. “É como o chá e o café, que apesar de serem já internacionais, são distintos nas várias partes do mundo”. A Associação para a Promoção de Actividades Culturais (APAC) afirma-se como uma associação que pretende, mais do que divulgar o jazz, promover actividades ligadas à cultura em vários sentidos. José Duarte, membro do grupo, refere que estão agora a ser dados os primeiros passos, salientando que o próximo ano já tem previsto um plano mais ambicioso. José Duarte refere ainda que “a Ásia é hoje uma área onde existe uma grande actividade na área do jazz” e distingue o género como “uma forma musical capaz de estimular o diálogo entre os músicos, tendo nele uma mensagem de liberdade criatividade e tolerância”. Diferente de outros géneros, o jazz contém elementos de improvisação e diálogo únicos.
Hoje Macau Eventos MancheteDocumentários | Festival arranca hoje na Cinemateca Paixão Este fim-de-semana marca o início do Festival Internacional de Cinema Documental de Macau, que conta no arranque com o trabalho da local Tracy Choi e três projecções de origem portuguesa [dropcap]T[/dropcap]em início hoje, na Cinemateca Paixão, o Festival Internacional de Cinema Documental de Macau (FICDM), com a exibição de “Taste of Youth” de King Wai Cheung, às 20h00. O filme aborda o inevitável conflito geracional em que os desejos de auto-conhecimento e descoberta, característicos da juventude, são confrontados pela ânsia dos pais de que os seus filhos encontrem estabilidade na sociedade, através da vida dos jovens de Hong Kong. King Wai Cheung, realizador premiado, chama a atenção para esta geração tripla em que a X é detentora das preocupações materiais e a Y e Z priorizam a espiritualidade. Domingo dá-se destaque a documentários portugueses com a exibição dos filmes “(Be) Longing”, “Night Without Distance” e Three Weeks in December”, todos com projecção marcada para as 16h30. “(Be) Longing”, uma co-produção entre Portugal, Suíça e França, conta com a realização de João Pedro Plácido e aborda a vida de uma aldeia remota de seu nome Uz, situada nas montanhas do norte de Portugal. Aqui, vive um grupo de cerca de 50 pessoas que reúne quatro gerações e a vida depende da solidariedade interna, sendo que outras dificuldades sentidas são colocadas nas mãos de Deus. Poderiam ter emigrado como tantos outros, mas escolheram antes continuar a viver longe da confusão da modernidade e preservar um estilo de vida já por muitos esquecido. “Night Without Distance” do português Lois Patino aborda a vida dos contrabandistas por entre as montanhas do Gerês no norte de Portugal e a Galiza espanhola. São as rochas, o rio e as árvores que testemunham silenciosamente o negócio, enquanto ajudam os seus actores quando se escondem. A eles, só cabe esperar pela noite para atravessar a distância que separa os dois países. Laura Gonçalves realiza “Three weeks in December”, que conta a história pessoal da formação de laços familiares tendo como referência o seu caderno de esboços pessoal e como conteúdo a sua família. É um filme realizado em formato “diário” que revela uma série de situações e acontecimentos que fazem parte da cultura portuguesa aquando das tradições natalícias em Belmonte, terra natal da realizadora. Estas projecções repetem-se a 28 de Abril à mesma hora. Ainda no domingo, a Cinemateca Paixão exibe às 14h30 “Trucker and the Fox” e às 19h30 “The Look of Silence”. O primeiro vem do Irão e conta com a realização de Arash Lahooti, versando na história de vida do camionista e realizador amador Mahmoud Kiana Falavarjani, que protagoniza as suas produções com animais. Após passar algum tempo internado num hospital psiquiátrico devido ao estado maníaco-depressivo depois da morte de uma raposa, seu animal de estimação e estrela dos seus filmes, Mahmoud recomeça a sua vida à volta de um novo projecto protagonizado pela história de amor de um burro. Será também exibido no domingo, pelas 14h00. O segundo, “The Look of Silence”, é uma co-produção entre Indonésia, Dinamarca e Reino Unido com a realização de Joshua Oppenheimer, em que o realizador segue as pegadas dos perpetradores do genocídio indonésio de 1965. O documentário incide num optometrista de seu nome Adi que decide romper com o sufoco da submissão e terror fazendo o inimaginável dentro de uma sociedade dominada por assassinos. “Sister Kim” é exibido na segunda-feira, às 16h30. Uma realização de Lo Chun Yip de Hong Kong, em que a “irmã Kim”, por detrás da Rua Portland em Mongkok, além dos cafés “artsy” e da música francesa que se vai ouvindo, vive num mundo completamente diferente. Trabalha dia e noite a lavar pratos e é uma das muitas vidas que assim sobrevivem em Hong Kong. À mesma hora há também “I’m here” da local Tracy Choi, e “32+4”, de Chan Hau Chun. No primeiro é abordada a homossexualidade e são focados neste filme os constrangimentos diários de quem vive em cidades pequenas. O segundo retrata a história verídica do realizador, que cresceu separado da família e pouco sabe da sua história. Trauma, tristeza e intrigas num documentário pessoal. O Festival decorre até 1 de Maio.
Joana Freitas EventosCinema | Festival Internacional arranca hoje [dropcap style=’circle’]É[/dropcap]hoje o primeiro dia do Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Macau (MIFVF, na sigla inglesa), que arranca pelas 19h30 com o filme “Mamã”, no Centro Cultural de Macau. “Mamã” é uma produção canadiana da autoria de Xavier Dolan que retrata a história de uma mãe viúva que dá por si a viver com um filho diagnosticado com hiperactividade e défice de atenção. Os dois mudam de cidade e tentam adaptar-se à nova vida, contando com a ajuda de uma vizinha. Ainda assim, as coisas não são fáceis e a mãe tem de enfrentar diversas crises de violência. Vencedor do Prémio do Júri em Cannes, em 2014, o filme de 138 minutos estreia em Macau hoje, antes de “De Longe”, a história de Lorenzo Vigas sobre dois homens que se encontram numa relação difícil ao mesmo tempo que enfrentam problemas de ordem social e pessoal. Um filme made in Venezuela e México que conta uma história de amor numa sociedade homofóbica e de famílias disfuncionais. Esta, que é a primeira película do realizador, foi vencedora do Leão de Ouro para Melhor Filme em Veneza, e passa no CCM amanhã, pelas 21h30. Sempre a rodar O MIVFV continua sábado, desta vez com “Rapazes Bailarinos”, pelas 16h30, e “Se as Montanhas se Afastam”, pelas 21h30. Domingo é a vez de “Coração Canino”, pelas 16h30, e “A Façanha”, marcado para as 19h30. “Rapazes Bailarinos”, de Keneth Elvebakk, da Noruega, retrata a vida de três jovens que dançam Ballett e têm de enfrentar olhares críticos até chegarem ao ponto mais alto da sua carreira. O segundo filme marcado para amanhã, da autoria da chinesa Jia Zangke, retrata a paixão de dois homens por Tao, “a rapariga mais bela da cidade”, que opta por se casar com o mais rico deles e com quem tem um filho. Mas a criança é afastada da mãe pelo pai, após uma separação, e parte para a Austrália, esquecendo-se de toda a sua vida anterior. “Se as Montanhas se Afastam”, de 126 minutos, conseguiu o Prémio de Melhor Guião Original no Festival de Cinema Cavalo Dourado, em Taiwan. “Coração Canino”, de Laurie Anderson, esposa do músico Lou Reed, fala da morte do artista, da mãe e da sua cadela. Um filme que explora “a relação pioneira que temos com os animais”, como indica a organização, ao mesmo tempo que “é também pessoal”. Já “A Façanha”, de Christian Zubert, conta a história de um homem com uma doença fatal que viaja, pela última vez, com o seu grupo de amigos. O Festival continua em Maio, com os Macau Indies e outros filmes internacionais. Os bilhetes custam 60 patacas e os filmes passam no pequeno auditório do CCM.
Hoje Macau Eventos MancheteTashi Norbu, pintor: “O meu trabalho não é político, é cultura” Tashi Norbu é um dos artistas presentes na exposição “Tibete Revelado”, que inaugura amanhã na Galeria iAOHiN. Nascido exilado no Butão e de ascendência tibetana, Norbu fala do seu percurso e da arte que pretende fazer o upgrade dos tradicionais thangka, uma linguagem universal [dropcap style=’circle’]T[/dropcap]odas as carreiras têm um início. Como é que foi no seu caso o começo do gosto pela pintura? Nasci no exílio. Os meus pais foram para o Butão ainda eram crianças, com os meu avós. Nasci no Butão em 1974. Desde criança que sempre gostei de ver quadros e de desenhar. Há poucos anos reencontrei uma prima minha do Butão que me disse que eu mesmo a dormir sonhava e mexia as mãos como se estivesse a desenhar. Já desenhava a sonhar. Lembro-me também que passava o tempo a desenhar no chão, não havia livros de desenho ou de esboços e os cadernos que existiam era para escrever documentos e coisas importantes. Por isso, eu só tinha o chão para desenhar. Foi também nessa altura que o meu avô me disse que eu iria tornar-me um “Lhabri”, que quer dizer um pintor Thangka, ou pintor de Deus, e isso foi uma grande inspiração para mim. Na altura, fiquei surpreendido porque não sabia grande coisa do que era Arte e ainda hoje acho que esta foi uma situação que me inspirou para o futuro. E como é que começou efectivamente a aprendizagem? Depois do Butão fui para a Índia, para uma para uma escola normal tibetana, que também está na origem de ter feito o livro que lancei recentemente. De onde venho no Butão – e depois na Índia – não havia nenhuma arte contemporânea, lembro-me de ver a arte tradicional que se fazia e que era, para mim, tão aborrecida que não conseguia sequer ver o Buda. Lembro-me que um dia espreitei para o salão onde estavam os pintores e não conseguia ver nada, eram demasiadas coisas, não era inspirador, para mim. Não havia lá nada. Nesta escola havia também um professor de desenho que só nos pedia para desenhar pássaros e coisas do género, para mim não havia nada naquilo. Aprendia mais até por mim, sentava-me e desenhava sem parar, aqui já em papel. Mais tarde entrei para o liceu, mas continuava sem inspiração exterior, tudo o que fazia vinha de mim. Depois comecei a desenhar na escola. Estava num dormitório e comecei a pintar as paredes de lá e a fazer outros desenhos. As pessoas começaram a querer os meus desenhos e mais tarde já me davam comida e outras coisas em troca deles. Digamos que viver como artista terá começado no liceu, o que foi muito engraçado. Depois também tinha o hábito de fazer retratos e toda a gente mos pedia. Mas o estudo de Artes mesmo é devido efectivamente à directora da escola onde andava que foi a primeira mulher a ser directora de uma escola tibetana. Era uma pessoa muito moderna, tendo sido convidada pelo Dalai Lama para trabalhar com ele. Mas ela gostava era de crianças e de ensinar, vindo a ser responsável pelo funcionamento de várias escolas naquela região. Esta directora foi uma influência muito importante para mim e foi ela que me quis mandar para uma escola de Arte na Índia. A ideia no início não me agradou, porque queria era estudar arte ocidental e não era possível ter aceder a ela na Índia. Já tinha então contacto com a arte ocidental… Sim, tinha. Quando andava no liceu tinha conseguido arranjar uma pequena colecção de livros que se chamava “Grandes artistas” e que era referente aos artistas ocidentais da Renascença como Miguel Ângelo, e era o trabalho deles a minha maior inspiração. Na arte do Renascimento o corpo tem movimento. Não era grande adepto de Van Gogh, Cézanne ou Monet, para mim era aborrecido. Gostava mesmo era da arte figurativa dos renascentistas, especialmente de Miguel Ângelo e de Da Vinci. Por exemplo, nos meus “Monges Voadores” (pintura em exposição) penso que se percebe bem a influência desses artistas. A pintura thangka para mim também era uma pintura parada, sem movimento, e eu queria era movimento. Estes artistas renovaram a arte antiga e eu queria fazer o mesmo com os thangkas tradicionais tibetanos. Sair do ouro e do detalhe e fazer o upgrade. Tashi Norbu por Sofia Mota Mas a sua formação também passou pelos thangka… Sim, a directora da minha escola acabou mesmo por me enviar para uma escola de arte na Índia. No início, não queria ir porque já tinha a minha inspiração da pequena colecção que possuía e pensei, sendo esses artistas da Europa, seria para aí que eu deveria ir, para a fonte da minha inspiração. Mas depois pensei que os thangka só existem no Tibete e também na Índia e foi quando achei que poderia ser uma oportunidade de estudar essa arte e foi isso que fiz. E acabou por ser a melhor coisa que fiz na minha vida. Porquê? O que foi que o fez mudar de opinião? Depois do liceu fui então para a Escola de Arte de Dharamsala onde aprendi com um grande mestre thangka, que tinha vindo recentemente do Tibete e que era recomendado pelo próprio Dalai Lama. O seu nome era Ven Sangye Yeshi e ter estudado com ele foi muito positivo durante os cerca de sete anos que essa aprendizagem durou. Foi engraçado eu ter ido estudar Artes porque todos os meus colegas ingressaram na universidade e eu fui para uma escola de pintura e eles riam-se de mim. Na Índia, só se vai aprender Arte se não se for bom para mais nada. Eles pensavam que eu tinha sido um fracasso. Mas não, foi uma escolha minha e foi muito difícil, porque os nossos pais também esperam que sigamos outro tipo de carreiras. Após os sete anos em que estudei arte tibetana, fui para a Bélgica onde estudei arte ocidental. Depois disso, fiquei na Holanda, onde desenvolvi a minha carreira e onde também resido. Aqueles anos que passei na Índia a aprender thangka foram realmente a melhor parte da minha carreira porque há milhões de pessoas a pintar arte ocidental, mas eu era o único que também sabia a arte thangka. E por causa disso, podia combinar ambas e, se não tivesse sido nessa altura, nunca mais poderia ter tanto tempo para a aprender, o que foi óptimo. Como é para si juntar a arte tradicional com a arte ocidental? Os meus estudos ocidentais são talvez os meios que encontrei para falar ao mundo. Com essa linguagem contemporânea utilizo uma forma de comunicar que se entende e o que eu coloco no interior são motivos tibetanos, mais precisamente no que respeita ao desenho ou à cor, ou padrão. Então, estes juntos conseguem comunicar com o mundo. O budismo tibetano neste momento é muito popular em todo o lado, especialmente no sentido em que é uma filosofia que pode ser considerada benéfica para o mundo. É uma filosofia altamente académica que quer servir o mundo inteiro cujas imagens são representadas pela pintura thangka. Eu estudei isso e, então, de alguma forma, também pretendo trazer essa parte artística da teoria budista que muitos não vêem. E quero trazer isto através da minha arte contemporânea, o que faz com que me sinta uma espécie de artista do Renascimento entre os tibetanos. Acho que sou um romântico, no fundo. O que pensa então acerca do conhecimento do mundo sobre a arte no Tibete? A arte tibetana é essencialmente a pintura thangka, feita nos últimos 2000 anos, o que significa que falar de arte contemporânea do Tibete ou thangka, neste sentido, é o mesmo. Penso que o início da arte tibetana contemporânea está a acontecer agora que está a chegar ao mundo. No mundo da Arte em termos gerais, o próximo tópico de discussão será mesmo a arte do Tibete. Nos últimos anos já se sente que as pessoas fazem muita perguntas e isso faz com que eu também esteja mais ciente do meu papel. Neste momento continuo a estudar muito, não é que puxe o assunto da arte do Tibete, mas o mundo procura-o e precisa dele e penso que este será o maior tópico na arte nos próximos cinco a dez anos. Não só por causa do talento artístico mas devido a toda a filosofia que está por detrás dele. Enquanto que outras artes antigas já são exploradas no mundo, como a japonesa ou a coreana que também já passaram por transformações recentes, a nossa ainda continua antiga e ao mesmo tempo muito nova e desconhecida no mundo. Um novo diferente que também está a ser criado e que virá brevemente ao conhecimento geral. Sente que tem um papel nessa história? Se calhar sim. Por exemplo, convivo com cerca de dez ou 12 artistas do Tibete que também levam essa arte ao mundo, o que para mim é muito, mas que para o mundo são muito poucos. Acho que de alguma forma temos muita sorte por isso, mas por outro lado temos que ter muito cuidado na forma como lidamos com isso. Eu e os meus amigos tibetanos discutimos frequentemente este assunto, o que dizer e como. O Tibete é a fonte da sua arte. Já teve oportunidade de o conhecer? Nunca lá fui, mas gostava muito. Não sei como é o Tibete. É a primeira vez que mostra o seu trabalho na China. O que representa para si? Acho que pode ser um bom começo. O meu trabalho não é político, é cultura. Sendo eu tibetano não poderia pintar de outra forma. Infelizmente ser tibetano muitas vezes já implica política. E acho que é muito bom estar a expor em solo chinês, enquanto artista exilado que veio de tão longe para mostrar o seu trabalho. As pessoas na China percebem o meu trabalho. Projectos futuros? Neste momento [estou focado] no livro que lancei recentemente que contém imagens de trabalhos meus dos últimos anos e que quero utilizar para ajudar no desenvolvimento da educação artística, essencialmente na Índia. É um livro que irei distribuir em todas as escola tibetanas e imprimimos cerca de sete mil para distribuir em todo o mundo. Não tive esta inspiração quando estudava, por isso vou fazer isso pelos que estão agora a estudar e sinto-me muito orgulhoso com isso. Em Setembro, Outubro e Novembro vou andar a dar palestras nas escolas tibetanas acerca de arte contemporânea.
Joana Freitas EventosModa | Paulo de Senna Fernandes vence concurso em Itália [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]estilista macaense Paulo de Senna Fernandes venceu o prémio “Silver Prize” do concurso internacional A’ Design Award 2015-2016, que teve lugar em Itália. Num comunicado enviado aos média, Senna Fernandes explica que foram mais de dois mil os participantes. “Foi uma honra e sinto orgulho em ter competido num concurso de alto nível. Foram os famosos júris do mundo a avaliar os concorrentes e acharam que o meu vestido era um dos mais belos, revelando ser de alta costura por isso deram um valor de +4 e assim ganhei o Silver Prize”, indica. A apresentação de “Wonderful World”, tema escolhido por Paulo de Senna Fernandes, de um vestido preto e vermelho ao estilo Oriental foi feita tendo em conta a vontade do estilista em “mostrar que em Macau há talentos e levar o nome da RAEM a todo o mundo”. Até porque, assegura, o também presidente da Associação Moda Macau acredita “ter capacidade de transformar uma cidade tão pequena numa ‘Fashion City’”. No comunicado, Paulo de Senna Fernandes frisa ser o único estilista da RAEM a procurar o reconhecimento de prémios internacionais, sendo este o seu nono prémio. “Desejo que o Governo possa dar mais apoio e que esta indústria da moda não pare.” Para vencer o prémio Silver, o júri valoriza o design a função da peça em conjunto com a facilidade de utilização.
Hoje Macau EventosTibete | Mestre thangka pela primeira vez na RAEM A primeira saída do mestre da arte thangka Liben Tashi do Tibete é para marcar presença na exposição “Tibete Revelado” em Macau, que inaugura amanhã na Galeria iAOHiN. Perante a “surpresa e a alegria”, Tashi salienta o orgulho e importância do seu trabalho enquanto forma de divulgação das especificidades que o compõem [dropcap style=’circle’]L[/dropcap]iben Tashi é um mestre da arte tradicional dos thangka tibetanos e está em Macau, naquela que é a primeira vez em que sai do Tibete. Chega ao território para apresentar os seus trabalhos na exposição “Tibete Revelado” que inaugura amanhã na Galeria iAOHiN, pelas 18h00. O artista de 29 anos começou a sua aprendizagem quando tinha 13 – idade tibetana, que, como disse ao HM, seriam os 12 na contagem tradicional, uma vez que no Tibete no momento da nascença já se tem um ano. Nesta altura, e ao contrário dos seus contemporâneos, foi aprender com um mestre desta arte que não era um monge, mas sim um local de Rebgong, onde Tashi agora vive e desenvolve o seu trabalho. A sua dedicação aos thangka vem do amor pela cultura tibetana e pela sua comunidade, ao mesmo tempo que representa uma forma de sobrevivência. Sendo a primeira vez que está fora da região, o artista menciona que ainda não teve tempo de detalhar as diferenças mais do que de forma geral e apontando a arquitectura ou o movimento das ruas como algumas delas. Ter a sua arte fora do Tibete não é novidade, visto os seus trabalhos já terem sido expostos várias vezes pelo mundo. Novidade é Tashi poder estar presente visto ser uma oportunidade para que o artista possa conviver com outras perspectivas e outros colegas e assim partilhar experiências e conhecimentos, concretizando um momento muito especial, como confessa ao HM. Perpetuar conhecimento Acerca do papel da arte tibetana, o artista aponta a necessidade de a manter viva, sendo da maior importância este tipo de divulgação bem como o sucesso que com ela se tem registado. Alerta que neste momento há muitas minorias culturais no Tibete a morrer, sendo que esta exposição e este tipo de divulgação crescente representam uma forma de protecção da cultura tibetana no geral por possibilitar o acesso à mesma por cada vez mais pessoas. A arte thangka em particular é tida pelo artista como uma forma especial e única de contar uma história e não pedaços da mesma, visto estas telas de rolo serem sempre a representação do todo. Para o futuro está a vontade de continuar a estudar para que Tashi, agora também ele mestre que ensina, possa transmitir mais e melhores conhecimentos aos seus alunos, no desejo de perpetuação do conhecimento dos thangka.