Mercado Vermelho é peça central para celebrar Dia Internacional dos Museus

O Dia Internacional dos Museus celebra-se a 18 de Maio. No entanto, dada a temática e o feriado que se aproxima, a próxima quarta-feira é o dia em que muitas das actividades vão ter lugar. A ideia é juntar a efeméride às tradições locais. Na sua concretização estão 17 museus

 

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau escolheu como tema para este ano do Dia Internacional dos Museus “O museu móvel – Mercado Vermelho e Festival do Dragão Embriagado”. Na edição de 2017 da iniciativa, o Mercado Vermelho e as suas imediações são o grande palco do evento.

A intenção é dedicar cada edição a um local com relevância para o território, sendo que o Mercado Vermelho “é um espaço com significado arquitectónico que tem testemunhado as mudanças da cidade”, disse ontem a chefe de Departamento de Museus do Instituto Cultural (IC), Lei Lai Kio, na sessão de apresentação de actividades.

O “Festival do Dragão Embriagado” junta-se ao espaço de eleição e acompanhará as iniciativas com a mostra de tradições associadas à distribuição do arroz do barco do dragão.

Em dia de feriado, muitas das bancas do edifício da Horta e Costa estarão vazias, mas a actividade de venda não será interrompida e será estabelecida uma ligação com as exposições. A organização destaca a exibição referente à distribuição do arroz, que irá alternar com as bancas do interior do mercado.

As imediações do edifício vão misturar as habituais tendas de vendedores a outras que contam histórias do passado. Uma exposição sobre a história dos vendilhões irá misturar-se com as frutas e legumes do quotidiano.

Workshops no mercado

Ainda com o Mercado Vermelho como palco, os cidadãos são convidados a fazerem peças que poderiam estar expostas num qualquer museu. Isto porque o IC vai promover uma série de workshops em que o festival do barco do dragão é protagonista. A criação de postais será uma das actividades. Com recurso à cianotipia, técnica fotográfica de impressão do séc. XIX que recorre ao sol para fazer aparecer a imagem em tons de azul, os interessados são convidados a criar história com história.

Os leques também fazem parte do programa, através da pintura de telas com motivos associados aos dragões, de modo a juntar o objecto do Oriente a uma tradição que o acompanha.

Como a história também é feita no presente, a construção em legos e a sua pintura pretende juntar pais e filhos no Museu da Ciência. Da vasta agenda consta também a produção de objectos úteis e decorativos. Para o efeito está marcado um workshop de gravação de porta-chaves e de pulseiras com peixes. Paralelamente, está agendado um conjunto de visitas guiadas dedicadas ao próprio Mercado Vermelho.

Museus no festival

Da história também consta o vinho e o Museu do Grande prémio e o Museu do Vinho juntam-se à iniciativa. O dia 3 de Maio é também o dia escolhido para a realização de provas gratuitas, a terem lugar numa das tendas nas imediações do Mercado Vermelho.

O convite é dirigido aos residentes e turistas para que se juntem aos peritos e possam adquirir um conhecimento mais aprofundado sobre o vinho e a sua degustação.

Cada um dos 17 museus participantes vai organizar exposições, workshops e palestras de modo a que exista um “pretexto para promover junto da população as características culturais e comunitárias das festividades de Macau”, acrescentou Lei Lai Kio.

Este ano, a organização conta ainda com o apoio da Associação do Peixe Fresco de Macau, sendo que a ligação ao evento inclui as cerimónias tradicionais da associação. A agenda prevê também a realização de oferendas aos deuses, danças do dragão e do leão e desfiles pelas ruas da cidade, bem como a distribuição de arroz. A tradição será chamada à rua para que os museus cheguem mais perto das pessoas e saiam das quatro paredes onde habitualmente estão inseridos.

 

Dia dedicado a museus dá relevo à natureza

O Museu Natural Agrário é uma das 17 instituições envolvidas na celebração local do Dia Internacional dos Museus. O primeiro espaço museológico sobre a natureza de Coloane é um lugar que pretende manter vivas as características que, um dia, pertenceram à ilha.

“Como o primeiro museu sobre a natureza da Ilha de Coloane, [o local] oferece um toque de nostalgia com exposições que mostram o estilo de vida que seria único nos ilhéus”, lê-se num comunicado.

O museu serve ainda para mostrar o tempo em que havia agricultura em Macau, com destaque dado para a ligação das pessoas à terra, e o respeito pela flora e fauna locais. A ideia é proporcionar aos residentes e turistas um contacto mais directo com a história recente daquele lugar e das suas tradições, ao mesmo tempo que alerta para a importância da biodiversidade do território.

Cultivar em casa

A mesma instituição vai promover, perto do Mercado Vermelho, na próxima quarta-feira, a exposição “Hortaliças indispensáveis à vida”. A ideia é juntar a botânica à saúde e dar a conhecer os legumes que são fundamentais para se ser saudável.

“Nos mercados encontram-se hortaliças e legumes de diversas espécies. No 8.º dia da quarta lua do calendário lunar, Dia do Buda e aniversário do deus Tam Kung, e também o dia do festival do dragão embriagado, [procura-se saber] quais as melhores hortaliças para se consumir”, refere o comunicado.

Está também programada a realização de um workshop que ensina o cultivo de legumes e que tem como título “plantação doméstica, faça você mesmo”.

No final, os participantes podem levar para casa aquilo que aprenderam a cultivar, para que “sintam a responsabilidade e alegria no cultivo e na sua manutenção”.

O espaço museológico sobre Coloane vai, durante o mês de Maio, realizar o workshop “Educação agrícola doméstica”, para ensinar a promover a plantação sazonal de acordo com os 24 termos solares chineses.

Para celebrar a integração de Macau nas dez terras húmidas da China, e de modo a chamar a atenção para a sua conservação, a instituição vai organizar passeios para a observação de aves que habitam o território e que dependem da manutenção destas terras para sobreviver.

20 Abr 2017

Carlos Botão Alves, autor de “O Oriente na Literatura Portuguesa”: “Uma cultura procura na outra o que lhe falta”

 

“O Oriente na Literatura Portuguesa – Antero de Quental e Manuel da Silva Mendes” é o mais recente trabalho de Carlos Miguel Botão Alves, professor e investigador no Instituto Politécnico de Macau. É uma análise de textos dos autores portugueses com vidas e reconhecimentos diferentes mas, que em comum, têm uma forte influência da cultura oriental, e dos princípios budistas e taoistas

 

Como é que escolheu a temática deste livro?

Vem na linha de várias discussões que tive com professores de Portugal que me alertaram, desde a minha formação inicial na Universidade Católica, para a necessidade de explorar não tanto a filosofia, porque não é um saber racional autónomo no Oriente, mas antes a sabedoria oriental que tem vindo a ser aperfeiçoada. Depois, em Paris, quando fiz a minha formação específica em Tradução, o estudo foi melhorado com o diálogo muito próximo com a professora Helena Carvalhão Buesco. Apareceu uma área de estudo de Antero de Quental que teria que ver com o Budismo. Eram pesquisas do final de séc. XIX e tinham uma perspectiva assumidamente eurocêntrica. Quando fui leitor de português em Deli, de 1993 a 1995, tive ocasião de apurar ainda mais o campo de estudo da influência budista e pude delimitar mais concretamente o âmbito da minha análise. Foi um trabalho que esteve a marinar e a ser desenvolvido desde 2001/02 até 2014/15, quando acaba por ser redigido.

E porquê o paralelismo com Manuel da Silva Mendes, autor que viveu em Macau?

Tive contacto com os textos de Manuel da Silva Mendes já em Macau em 1990. Apercebi-me que o que se tinha escrito até à data sobre ele tinha muito que ver com a vertente da reflexão política e, sobretudo, com a análise que fazia pelo empenhamento que tinha na política portuguesa. Era republicano, do Norte, e com génese num proletariado que poderia existir na época. Explorava-se muito os seus escritos no sentido da análise de um socialismo utópico e mesmo anárquico. Mas muito pouca coisa, ou mesmo quase nada, apareceu relativamente aos textos que fez e a que chamo de ensaios. São artigos que publicava dedicados à exploração que fazia das temáticas da filosofia oriental. Quando comecei a colocar a par os textos de Antero de Quental e os de Manuel da Silva Mendes pensei que faria todo o sentido aproximá-los no sentido de criar linhas de leitura que pudessem ser exploradas por quem quisesse estar interessado pela sabedoria do Oriente. Esta parceria entre os autores pode parecer um pouco desequilibrada porque Antero de Quental tem um lugar mais que estabelecido no panorama literário português e Manuel da Silva Mendes nem tanto. Mas a literatura comparada tem também este objectivo, o de trazer para o palco autores não tão conhecidos por via de outros já reconhecidos. Pensei ainda que seria interessante fazer este paralelismo porque desenvolvi a minha vida em França e Portugal, e depois em Macau e na índia. Aqui tenho os dois mundos. Tive sorte por ter dedicado mais de dez anos a leituras para poder escrever o livro. Tive uma mulher que tomava conta de mim e das crianças, o que é muito importante. Pude analisar os textos em profundidade e dar uma visão cultural da segunda metade do séc. XIX e da primeira do séc. XX. O virar do século é fundamental na formação de consciências tanto a Oriente, como a Ocidente. São dois autores empenhados politicamente, ou seja, o que fazem não é uma mera reflexão filosófica, não é uma satisfação individual, quase egoísta. São autores que procuram precisamente, no aliar da tradição ocidental com a oriental, instrumentos de análise para poderem ter uma praxis. São homens extremamente activos, homens que escrevem, que insultam, que vão para os jornais. Mas, ao mesmo tempo, eram pessoas que percebiam que esta prática intensa só faria sentido se fosse bem grudada na realidade, e a realidade é reflexiva. Não se trata de uma mera erupção intelectual e é isso que está pouco estudado na literatura portuguesa. Em Portugal não temos muitos exemplos de autores que estejam no entrecruzamento dos registos literário e filosófico. Literariamente somos riquíssimos mas, do ponto de vista de uma reflexão metafísica e ético-moral, será bastante difícil encontrar nomes. O virar do século proporcionou alguns enquanto excepção: o Feijó, o Quental, o Silva Mendes em Macau e, mais tarde, o Luís Gonzaga Gomes. Os textos em que me baseei foram precisamente os da compilação de Luís Gonzaga Gomes. Era o principal discípulo de Manuel da Silva Mendes, no sentido de que é filho da terra e tinha a riqueza de poder ler e escrever a “outra língua”.

O livro começa precisamente com uma frase do Umberto Eco acerca da tradução de conceitos. Como é que estes autores, do final do séc. XIX, desenvolviam estes conceitos que, muitas vezes, não existiam na sua própria cultura?

O despertar dos estudos orientais acabou por ser um conceito abusado no sentido mais negativo de uma imposição europeia face ao outro, para o minimizar. Os estudos orientais eram uma tentativa de tornar o Oriente manejável e dominável aos olhos de um Ocidente que imperava. Muito além disso, os estudos orientais começam precisamente pela análise filológica, primeiro em França e depois nas universidades alemãs, no final do séc. XVIII, início do séc. XIX. Na viragem do séc. XIX para o séc. XX temos um retorno à filologia. Temos uma tentativa de procurar nos textos uma verdade, ou aspectos dessa verdade, percebida como o entendimento que o Homem pode ter de si na realidade, baseando-se na compreensão dos textos orientais por defeito da filosofia e do pensamento europeu. Digamos que é por deficiência, mas os contactos culturais são sempre assim, uma cultura procura na outra o que lhe falta. Institucional e politicamente, os impérios estendiam-se pelo Oriente mas, culturalmente, estes homens não tinham uma pretensão de domínio. Silva Mendes sentava-se nos templos de Macau a falar com os monges. Estes homens estavam numa tentativa de procurar, na cultura oriental, o que não era visível e podia colmatar deficiências que, naquele momento, a cultura europeia tinha – uma cultura muito marcada pela industrialização e pelo positivismo que também teve o despontar da procura do novo homem com Feuerbach e Nietzsche. Antero de Quental e Silva Mendes procuravam, aqui, um novo sopro de espiritualidade que a Europa não teria de forma tão vibrante. É essa confluência que quero mostrar quando falo de tradução cultural. Não é propriamente uma tradução de termos, mas sim a procura que uma cultura faz de elementos na outra cultura por deficiência e a capacidade que determinados autores têm de se apropriarem desses conhecimentos que observam na outra cultura, e de os trazerem e tornarem palavras na própria para que façam sentido. É o que me parece que estes dois autores fizeram: uma leitura do mundo e do percurso humano. São homens muito empenhados na renovação do ser humano com ideias de igualdade.

Um pensamento ainda muito actual?

Deveríamos voltar às línguas clássicas. A gritaria que se passou em França pela tentativa de tornar opcionais as línguas clássicas europeias, como o grego e o latim, é um exemplo dessa necessidade. Há uma urgência em voltar a encontrar a origem e o sentido de determinadas culturas num mundo que pode vir a perder sentido quando demasiadamente globalizado. Quando a ênfase da globalização reside na mera globalização – e a globalização não é propriamente uma troca ou um encontro, mas antes o esbater de características –, podemos correr um risco e, daí, a actualidade dos estudos deste tipo. Há a necessidade de procurar num mundo globalizado, não só as nossas raízes, mas também aquelas que temos através do confronto, do contraste e do diálogo com a alteridade. Para o fazer, é necessário estarmos conscientes daquilo que somos. Só há diálogo quando há troca e só há troca quando temos alguma coisa para dar. São autores que fazem uma reflexão própria e a tradução cultural que operam não é só de termos budistas e taoistas para análise metafísica mas, sobretudo, para orientações ético-morais. São autores de charneira e formativos da nossa cultura. O texto da não-acção, por exemplo, tem uma ressonância extremamente oriental, mas se lermos os textos pré-socráticos o conceito já lá está. Claro que os franceses vão de imediato dizer: “Pois, mas os textos pré-socráticos são da Ásia Menor”. A não-acção não tem a ênfase no não, mas sim na acção. Não é não fazer nada mas é, sobretudo, a promoção máxima do ser humano em reflexão. É isso que é o Oriente. A procura que o sujeito faz dentro de si e da sua própria natureza. Quando isso acontece, a acção exterior, a do fazer, deixa de ter sentido porque passa a ficar orientada por esse autoconhecimento. O “conhece-te a ti mesmo do Sócrates”, não é se não isto.

Os autores de Macau são muito pouco conhecidos internacionalmente e este é um livro que tenta promover um deles. Porque é que a literatura feita cá não chega a Portugal?

Macau tem autores diferentes. Tem pessoas que pensam sobre determinadas questões e fazem-no de uma forma diferente. Na Índia é a mesma coisa, existem vários autores que não são conhecidos de todo em Portugal, no Brasil, etc., porque as edições portuguesas não são feitas para serem publicadas nos lugares onde se fale o português. Se olharmos para a Oxford University Press e para a Cambridge University Press, promovem um mesmo título e uma edição aparece ao mesmo tempo nos vários centros do mundo anglófono. Nós não temos essa tradição, não temos a divulgação feita e agilizada de tal forma que permita que o mundo de língua portuguesa lhe aceda. É um mundo muito vasto, o que é bom, mas muito disperso geograficamente e sem essa ligação de editoras, de crítica textual e de academias. Outra questão é a da tradução. Os meus colegas, por exemplo da Universidade de Hong Kong, não conhecem as obras de autores portugueses porque não estão traduzidas. Se nos quisermos dar a conhecer, temos de dar o texto preparado com outras linguagens e não podemos fugir à tradução para as línguas principais: o inglês e o francês. A língua portuguesa tem um papel fundamental no diálogo entre Oriente e Ocidente. Foi a primeira a chegar e a última a ir embora, mas tem de saber traduzir-se para outras línguas. A língua, quando comunica, comunica também a cultura. A língua é sobretudo cultura, é uma visão do mundo. Ao se conhecer uma língua percebemos o mundo de uma forma diferente, mais rica.

19 Abr 2017

Centro de Design de Macau acolhe “Eu”, uma mostra de trabalhos de design gráfico

O Centro de Design de Macau acolhe até Junho a exposição “Eu”, da autoria de dois estudantes da Universidade Cidade de Macau. São trabalhos de design gráfico que visam mostrar as reflexões que se vivem no período da adolescência

 

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ichael pegou na sua própria imagem e transformou-a para mostrar aquilo que ele e os jovens da sua idade pensam. As fotografias, feitas com recurso ao Photoshop, mostram um jovem pensativo em relação ao mundo que o rodeia, muitas vezes “perplexo” com o que vê, onde o cigarro acaba por ser a melhor companhia. São, no fundo, pensamentos de quem já não é adolescente, mas também ainda não é adulto.

Michael, juntamente com o seu colega Manson, são ambos estudantes do curso de design gráfico da Faculdade de Estudos e Gestão Urbana da Universidade Cidade de Macau e foram convidados a partilhar o seu trabalho no Centro de Design de Macau. A exposição, intitulada “Eu”, mostra um lado mais introspectivo da juventude e estará patente até Junho.

“Tudo isto é sobre os adolescentes e os jovens que atravessam um período de lutas interiores”, contam os artistas ao HM. “Os jovens passam, muitas vezes, por um período de grande reflexão e esta exposição pretende mostrar esse lado.”

Os trabalhos estão divididos por vários temas e mostram as vozes que os mais jovens têm e que nem sempre conseguem partilhar. “Nós pertencemos a esta geração, nós próprios somos jovens. E queremos dizer ‘olha para mim, é desta forma que eu penso e sinto’”, contou Michael.

Para os autores, ser jovem nem sempre é fácil, sobretudo ao nível da afirmação de cada um na sociedade em que se insere. “Os jovens são sempre alvo de uma certa negligência, e não conseguem expressar a sua voz. Ainda não estão devidamente estabelecidos na sociedade e, muitas vezes, é dada mais atenção aos adultos”, acrescentou o estudante.

Uma oportunidade

Esta é a primeira vez que os dois jovens têm a oportunidade para expor os seus trabalhos. Tudo começou através de um docente da Universidade Renmin, em Pequim, que os convidou a mostrar as suas obras em Macau.

“Todos estes trabalhos estão relacionados com diferentes personalidades, é sobre uma pessoal enquanto individuo. A ideia por detrás desta exposição é mostrar tudo o que um jovem pode ter dentro de si. Há também imagens abstractas, cujos nomes remetem para determinadas emoções ou acções”, contou Manson.

Oriundos da China, Michael e Manson assumem que esta exposição está também relacionada com a pressão que os jovens sentem no seio das famílias chinesas.

“Tem um pouco a ver com isso, porque há a ideia de que os mais jovens representam a família a devem mostrar algo de diferente, por aprenderem mais depressa e terem acesso a coisas novas. Independentemente da idade que tenhas, há a ideia de que tens de fazer isso”, referiu Michael.

A iniciativa no Centro de Design de Macau abriu portas aos dois jovens, que já foram convidados para realizar um trabalho de decoração de interiores em dois cafés. Contudo, Michael e Manson falam da existência de algumas dificuldades para singrar no mercado.

“Há alguma limitação no mercado local, porque as empresas pensam que somos demasiado jovens e dão mais atenção aos profissionais que são mais conhecidos. É difícil ter oportunidades para quem está a começar. Por isso é que esta exposição é importante para mostrar o nosso trabalho”, afirmam.

18 Abr 2017

Hong Kong | Roland Flexner e Ai Weiwei juntos em exposição

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá patente até 13 de Maio, na Galeria Massimo De Carlo em Hong Kong, a exposição única que reúne trabalhos de Roland Flexner e Ai Weiwei.

Os artistas, que se cruzaram pela primeira vez em Nova Iorque nos anos 80, apresentam agora uma mostra que junta as tintas icónicas de Roland Flexner e dois trabalhos de Ai Weiwei, sendo uma das obras produzida durante a estadia na cidade americana.

O artista chinês, apresenta uma instalação dedicada à delicadeza humana feita com um conjunto de ossos de porcelana. Paralelamente, Ai Weiwei mostra, pela primeira vez, uma escultura em peças de lego dedicada à temática da pintura. Para o efeito, o artista apresenta um conjunto de trabalhos realizados no início dos anos 90 em que, em cada um dos quadrados de cor preta, removeu parte da pintura acrílica de modo a chegar às camadas subjacentes. “É uma obra em que, através da exploração das camadas pintadas, é questionado o papel da pintura tradicional”, lê-se na apresentação do evento.

Já Roland Flexner apresenta duas séries de desenhos que integram o seu já conhecido corpo de trabalho. O artista explora aqui a forma como o acaso e a oportunidade podem interferir na criação. Para o efeito recorre a uma série de técnicas que evitam o contacto directo entre o artista e o papel. Flexner usa a respiração, a manipulação, e mesmo o trabalho através do uso de água e da gravidade para dar movimento à tinta sobre o papel. O resultado final consiste em pictogramas que documentam o potencial do próprio material e o controlo do gesto e do movimento.

De acordo com a apresentação da exposição, Ai Wei Wei e Roland Flexner estão, nesta mostra, unidos na exploração dos limites da pintura em que o movimento e a técnica ultrapassam o limite das características dos materiais e incorporam, no processo, a narrativa.

Os autores

Ai Weiwei, nascido em 1957 na China, reside e trabalha entre Pequim e Berlim. Em 1958, o Partido Comunista denunciou o pai, o poeta Ai Qing, e a família foi enviada para os campos de trabalho, perto da fronteira da Coreia do Norte e depois para província de Xinjiang. Regressa a Pequim com a família em 1976 onde estudou animação na Academia de Cinema. Foi para Nove Iorque no início dos anos oitenta e ao voltar à China, uma década depois, Ai Weiwei dedicou-se, além da criação própria, à promoção do trabalho de artistas independentes e à curadoria de exposições muitas vezes não autorizadas. Trabalha com recurso a vários meios e é um defensor dos direitos humanos e da liberdade de expressão. Foi ainda vencedor do Prémio Václav Havel em Dissidência Criativa em 2012 e do Prémio Embaixador da Consciência da Amnistia Internacional em 2015. Ai Wei Wei viu autorizada a sua primeira exposição na China Continental em 2015.

Roland Flexner nasceu em Nice (França) em 1944. Vive e trabalha em Nova Iorque e o trabalho que tem produzido consta das exposições de algumas das mais prestigiadas instituições, entre as quais o Centro Pompidou em Paris, o Albright Know Museum, o Museu de Arte Contemporânea de Xangai e o Museu de Arte Nacional de Tóquio. O trabalho de Flexner foi ainda exibido na Whitney Biennial do Whitney Museum of American Art em Nova Iorque.

18 Abr 2017

Maria Helena do Carmo, escritora: “São todas histórias de ‘filhas’ minhas”

Maria Helena do Carmo está em Macau para apresentar o seu sétimo livro. “Estórias de Amor em Macau” reúne doze contos sobre mulheres e percorre quatro séculos de história do território. Ao HM falou do trajecto até à escrita de romances históricos e do livro que vai ser apresentado a 18 de Abril no Instituto Internacional de Macau

Começou por trabalhar em rádio. Como foi o trajecto até chegar à literatura?

Foi a própria evolução da vida. Fui para a rádio quando estava em Goa. Era estudante e tive um convite para participar num programa porque o meu português não tinha sotaque. Fiquei a participar em programas infantis porque só tinha 15 anos. Depois entrei como locutora, a tempo inteiro, na emissora oficial de Goa aos 18 anos. Saí quando teve de ser, refugiada como todas as senhoras em Dezembro de 1961. Continuei esse trabalho em Angola até que resolvi continuar a estudar. As minhas habilitações literárias tinham ficado em Goa e não tinha nada que comprovasse os meus créditos literários. Comecei a fazer o 7º ano por disciplinas e acabei por continuar os estudos. Fui locutora até ao meu segundo casamento e, a partir daí é que enveredei pelo ensino de história.  A vida de locutora em que não se tem horários não se coadunava com a vida familiar. Acabei no ensino que está ligado à comunicação. Um professor também é um actor num palco e fui professora até à reforma. Depois tinha de continuar a comunicar e a forma que encontrei para o fazer foi através da escrita.

Porquê o romance histórico?

Porque são factos verídicos. Prefiro sempre situações da vida real do que a ficção e o romance histórico tem um fundo verdadeiro, apesar de, por vezes, ser ficcionado, mas é sempre baseado numa história que existiu.

Depois de Goa, Angola e mesmo Moçambique, como é que apareceu Macau?

O meu marido veio para cá trabalhar e as mulheres vão sempre atrás dos maridos. Ainda hoje não são elas que dizem que vão trabalhar para fora. Nessa altura já a lei permitia que as mulheres que viessem e tivessem o seu emprego poderiam continuara  trabalhar aqui. Fui professora de história, mas como não preenchia o horário tinha de dar desenvolvimento pessoal e social. Considero-me uma cidadã do mundo. Nasci na Madeira, fui para o continente muito pequena, aos doze anos fui para a Índia, fui para Angola, Moçambique e regressei a Angola. Todos eles me agradaram e por minha vontade teria ficado em cada um deles para sempre. No fundo, fui obrigada pelas circunstâncias, pela política e pelas guerras a ter de mudar de vida e a ter de me adaptar a novas situações.

A escrita acerca de Macau começou com a tese de mestrado, “Os Interesses dos Portugueses em Macau na primeira Metade do Século XVIII”. A partir daí, e já no romance, Macau continuou a ser o cenário. Alguma razão especial?

Quando vim para Macau consegui aqui fazer muita pesquisa. Ia muitas tardes para o arquivo histórico e com os documentos que recolhia fui tendo pistas para trabalhos futuros. Também gostei sempre do oriente e ao estudar a história de Macau fiquei fascinada com determinadas situações e incongruências. Há gestos e atitudes que têm uma grande diferença entre o ocidente e o oriente. Senti-me bem em Macau e tinha material para escrever. O primeiro livro que fiz foi a partir do projecto para a universidade. Verifiquei que o trabalho tinha alguns erros, por ter sido influenciada por autores que não estavam correctos, e quando fui aos documentos é que os verifiquei. Foi quando escrevia o meu primeiro romance, “Uma Aristocrata Portuguesa no Macau do Século XVII – Nhónha Catarina de Noronha”. Escolhi esta personagem por se destacar. Naquela altura, não era fácil para uma mulher viajar. Viajavam as escravas porque não eram ninguém. O facto de ela ter ido para Timor e ter regressado sozinha com a filha foi uma atitude que me encheu de admiração e por isso tentei aprofundar a sua vida. Foi assim que nasceu o livro.

Todos os seus livros se debruçam sobre uma personagem histórica. No “Estórias de Amor em Macau” temos doze. Porquê esta opção?

Foi por acaso. Já me tinham dito que deveria escrever contos por serem mais sucintos e interessantes. Nunca fui muito por aí porque quando pego numa personagem tenho tanta coisa para dizer que não estava a ver reduzida uma história a um conto. Uma vez, em conversa com o meu ex-orientador, ele sugeriu-me que pegasse no Tomé Pires e fazer a história da filha dele, Inês de Leiria, que o Fernão Mendes Pinto encontrou na China. Eu concordei e recordei que quando li a peregrinação também achei o facto curioso. Fiz um conto porque achei que a matéria não dava para fazer um romance. Depois de fazer um, surgiram outros. A seguir apareceu um conto a pedido do Instituto Internacional de Macau para uma revista. Havia uma história de uma menina, a “Menina Mulher”, deste livro, que me impressionou. Era uma menina de 15 anos que morreu a dar à luz. Já tinha dois contos, porque não fazer um terceiro? Numa vinda a Macau visitei o Museu da Santa Casa da Misericórdia. Vi o retrato da Marta  Merop e fui ler o livro. Sintetizei a história e fiz um conto, o “Serva, Senhora”. Trata-se de uma menina que foi posta à porta da igreja de S, Domingos. Foi recolhida por uma madre que a levou para o colégio. Teve uma história atribulada mas acabou por ser amada e por ser tornar  a mulher mais rica de Macau na altura.

Que histórias salienta?

Para mim são todas histórias de “filhas” minhas. Umas escolhi pela época em que viveram e outras por se terem salientado.

São só mulheres. Uma forma de as tirar da sombra?

São mulheres com os respectivos amores. A descriminação aqui na China ainda é mais evidente. Os pais gostam todos de ter meninos mais do que meninas e, até há pouco tempo, eram mesmo rejeitadas. Depois a mulher sempre esteve, de facto, em segundo plano. Aliás, logo no início deste livro tenho este verso feito por mim: “Na China permanece o velho ditado: as mulheres sustentam metade do céu. Os homens brilham no espaço estrelado. Elas ocupam o negro desse extenso véu”. Geralmente os homens é que brilham e as mulheres estão sempre delegadas para um outro plano. Sinto desde miúda que o homem é a pessoa importante, é ele o chefe de família. A mulher dependia da sorte: do marido que tinha ou do pai.

É também um livro que acompanha cerca de quatro séculos da história local. 

Sim. Começa desde o tempo de Tomé Pires e vai até à transferência de administração. Acompanha a evolução de Macau nos aspectos económico, político e social. O social foi, sempre o mais difícil até ao século XX. O sector económico começou a registar mudanças quando o território deixou de viver só do comércio para passar a viver de outras actividades com o aparecimento de fábricas como a de panchões, de vestuário e de brinquedos. Acompanha ainda a própria orgânica política. No início, era o capitão das viagens que mandava até termos um governador. Este livro tem um conto do séc. XVI, dois do XVII, três do XVIII, três do XIX e três do XX. Abarca a evolução do território ao longo destes quatro séculos, do espaço físico e das suas gentes. De uma forma sucinta temos o evoluir de uma cidade e foi isso que mais me entusiasmou.

Como é que é este processo de ficcionar a história?

Se não vivemos na época e não conhecemos a vida da pessoa, temos de a imaginar. Isso acontece de acordo com o quadro em que se vivia. Temos de imaginar a mentalidade e os costumes e descrevê-los de acordo com o que terá acontecido a uma ou outra pessoa. Estou a pensar por exemplo, na Harriett Low, uma americana que chegou a Macau no principio do séc. XIX. Solteira e livre mas era mulher e, por isso, teve os seus problemas. Sofreu da maledicência de muitas pessoas que a criticavam e foi uma figura também importante. Teve um amor não correspondido apesar de ser uma pessoa de quem se gostava por ser invulgar. Mas neste livro também temos o amor ao próximo. Sobretudo o da madre Teresinha. Esteve cá numa época em que existiam muitos casos de cólera e de febre tifóide, numa economia em mudança. Já havia liceu e algum progresso em determinados aspectos mas a acção social ainda era muito precária. Não existia assistência às crianças e aos inválidos. A madre Teresinha teve uma acção tão importante que tem uma rua com o seu nome. Mereceu ser destacada nesse amor ao próximo.

Tem tido livros publicados em Portugal. Considera que a literatura com ligação a Macau chega ao público português? 

Consegue chegar a um determinado público. A maioria da população, hoje em dia, não é de leituras. A televisão veio roubar muito o hábito da leitura, à noite, na mesa de cabeceira. A televisão apoderou-se de um espaço e de um tempo que era dedicado à leitura. Por outro lado, os jovens gostam mais de brincar com aparelhos electrónicos e a literatura não os entusiasma muito. Se não há publico para as coisas do oriente também não há para as outras. Acho mesmo que o facto de existirem livros que tratam do oriente atrai muita gente porque é diferente e exótico. Fiz dois livros com a Chiado Editora e o facto de não serem muito vendidos, além de a época ter sido economicamente difícil, teve muito que ver com a falta de promoção. Mas acho que esse não é um problema da Chiado, mas sim de uma situação transversal a todas as editoras que depois se reflecte nas vendas.

Vamos ter mais livros sobre o território?

Macau é uma possibilidade  de voltar a ser o cenário de mais livros. Já fiz o séc. XVII, XVIII e XIX. Falta me o XX.

13 Abr 2017

Música | Jazz alastra pela cidade com múltiplos eventos

Depois de décadas de relativa inactividade, vive-se na cidade nos dias de hoje uma renascença jazzística. A acrescentar às noites de domingo de jazz no LMA, outros concertos aparecem na agenda. No próximo 23, o Chef’s Corner recebe o All That Jazz, sob a batuta do baixista Zé Eduardo

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]om raízes na escravatura afro-americana, o Jazz é, hoje em dia, uma música abraçada pelas elites sociais, numa interessante inversão sociocultural.

Em Macau, passou de um panorama musical relativamente incipiente, tirando alguns eventos como o Festival de Jazz, para uma cena com alguma vibração.

Neste trajecto de crescimento, o baixista Zé Eduardo tem sido um fio condutor que tem atravessado décadas da música no território.

Veio a Macau pela primeira vez em 1979 para participar na segunda edição do Festival de Jazz de Macau, com a banda de Rao Kyao. Passados 27 anos, Zé Eduardo passa pela cidade convidado pelo Jazz Club. “O panorama era muito diferente do que é agora, isto ainda era território português”, recorda. “Ainda cá estava um grande número de funcionários portugueses, havia um clube mas era uma comunidade muito fechada, onde os chineses não se aventuravam. Aliás, não havia grande propensão por parte da comunidade chinesa para o estilo musical. A insondável hermética chinesa estava no seu melhor, depois de milénios de isolamento”, conta Zé Eduardo.

Também a população portuguesa se encerrava sobre si própria, nos seus costumes. “Ficavam a ver a RTP Internacional e o futebol”, recorda. Como o Jazz Club era predominantemente português, à excepção de um par de músicos amadores apaixonados pelo saxofone, o estilo musical sofreu com a debandada aquando da transferência. Antes, Zé Eduardo dava workshops que estavam repletos de filhos de engenheiros, arquitectos, doutores portugueses, que mantinham alguma afinidade com o Jazz. Desse tempo, apenas um par de macaenses permaneceu ligado à música, apesar de ser ao rock.

Beat de abertura

Com a génese da RAEM, a vinda dos casinos, a extensão dos aterros e a construção de arranha-céus, houve uma viragem no panorama do jazz de 180 graus. “Uma pessoa já via que ia acontecer qualquer coisa de mirabolante”, recorda o baixista e professor de música jazz. “Em 2001 estava tudo mudado, os meus alunos já não eram putos portugueses, eram quase só chineses e eu disse: até que enfim!”, recorda Zé Eduardo.

Para o músico, o China americanizou-se “a toda a força” e, com essa abertura, o jazz tornou-se popular.

Algo que não é de estranhar, dadas as características do estilo musical que se tornou património mundial da humanidade. “O jazz é uma música planetária, criada por escravos mas que tem uma mensagem incrível de liberdade”, explica Zé Eduardo.

Para o músico, o jazz em Macau tem penas para andar, isto porque, “finalmente, é feito por malta daqui”. Inclusive, por alguns portugueses que por cá vivem. Vive-se um período de renascença das sonoridades que ofereceram ao mundo génios como Coltrane, Gillespie, Davis, Monk, entre outros.

“Há um grupo de malta jovem, na casa dos 30 e poucos anos, que fala sobre jazz e que sabe do que fala e isso é algo que acho porreiro e me deixa contente”, confessa o baixista que viu o estilo musical evoluir em Macau.

12 Abr 2017

CCM | “Arroz” traz a Macau a simbiose entre Homem e natureza

[dropcap style≠’circle’]“A[/dropcap]rroz” é a coreografia que marca o regresso ao território a companhia de dança taiwanesa “Cloud Gate”. O espectáculo acontece no dia 15, pelas 20h no grande auditório do Centro Cultural de Macau (CCM).

Sob a direcção de Lin Hwai-min, a coreografia, indica a organização, é a “celebração do ciclo da natureza em paralelo com o drama humano”. “Entre grãos e frondosos campos verdes, o espectáculo junta projecções de vales e arrozais a uma mescla coreográfica de dança contemporânea e artes marciais internas”, indica o CCM.

No som sobressaem os ritmos das canções tradicionais Hakka e as composições clássicas de Camille Saint-Saëns e Richard Strauss. A dança dos elementos, tecida a partir da terra, da luz, do vento, da água e do fogo, representa conceitos entre a morte e o renascimento, “entre o ocidente e oriente”.

Fundada em 1973, a “Cloud Gate” tem-se dedicado à transformação estética numa celebração contemporânea do movimento físico. Descrita como uma das melhores companhias de dança e teatro do mundo, a trupe tem sido convidada frequente do festival “Next Wave” de Nova Iorque.

A “Cloud Gate” também tem marcado presença em eventos e palcos internacionais como no Teatro Sadlers Wells, no Centro Barbican de Londres, no “Festival Internacional de Teatro Chekhov” e no “Movimentos” na Alemanha.

O regresso da “Cloud Gate” ao CCM cimenta uma longa relação com o território com o sucesso de “Moon Water” e “Nove Canções”. De acordo com a organização, a companhia é “inconfundível nos seus movimentos meticulosos e precisos em que os bailarinos sobem ao palco numa demonstração de capacidade e precisão”.

11 Abr 2017

Fundação Rui Cunha | Os serões que dão a conhecer as ruas de Macau

A rubrica nasceu da vontade de reunir pessoas ao fim do dia e conversar sobre o passado de Macau. O objectivo é a partilha de informações sobre a cultura local para que a memória não se perca

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] proposta de passar o final do dia a contar as histórias antigas de Macau é da Associação dos Antigos Alunos da Escola Comercial Pedro Nolasco. O evento acontece na Fundação Rui Cunha e conta, esta quarta-feira, com a terceira edição, a cargo de Jorge Cavalheiro com o tema “Conhecer a História de Macau, percorrendo as suas ruas”.

“A sessão será sobre os primeiros tempos dos portugueses em Macau”, referiu José Basto da Silva, presidente da associação, ao HM. “Na altura existia um muro que separava a parte portuguesa da parte chinesa e vamos abordar o que se passava com essa divisão e nas ruelas que circundavam o muro”, explicou.

Depois da palestra, a associação já tem pensado um segundo momento: “A ideia é convidar os interessados visitar a esse recantos que vão ser abordados no dia 12”.

Juntos à conversa

A criação de encontros para partilhar acontecimentos de outros tempos nasceu da vontade de reunir pessoas a conversar sobre o que é a cultura local. “Queríamos juntar um grupo de amigos no final do dia para recuperar histórias antigas do território ao mesmo tempo que, à volta delas, as pessoas teriam um pretexto para estarem juntas e passarem um final de tarde diferente, depois de um dia de trabalho”, disse José Basto da Silva.

De acordo com o responsável, a importância destes pequenos encontros está ainda na surpresa que acarretam. Apesar de o público ser, na sua maioria, residente, muitas vezes não sabe pequenos detalhes sobre o que o rodeia e que acabam por dar outro valor à realidade.

O objectivo, disse, é evitar que o conhecimento que, muitas vezes passa de boca em boca, se perca. “A informação dilui-se de geração para geração e este é um espaço para que possa ser partilhada e evitar que as memórias se percam com o tempo”.

11 Abr 2017

Exposição | Anabela Canas mostra série de desenhos feitos para Macau

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ão dois anos de ilustrações de Anabela Canas que têm a sua exibição marcada para a próxima quarta-feira, na Galeria da Livraria Portuguesa. A acompanhar o evento está o lançamento do álbum que acompanha as imagens com pequenos trechos dos textos que escreveu para a secção do HM,  “De tudo e de nada”

“Iluminação Artificial” é a exposição de Anabela Canas que vai ser inaugurada esta quarta-feira na Galeria da Livraria Portuguesa.

A mostra reúne um conjunto de desenhos que ainda estão a ser seleccionados. “É um conjunto impreciso”, afirma a artista, e sai de uma escolha entre os 78 trabalhos que produziu para a rubrica do HM, “De tudo e de nada”.

“Gostaria de os expor todos porque todos fazem sentido, mas há um limite de visibilidade, de elegância e de clareza na galeria que tem de ser respeitado e vou tentar encontrar um limite razoável, sendo que o critério é sempre a escolha dos trabalhos que, considero, mais conseguidos”, conta.

Porém, não se trata de uma exposição de meros desenhos, são antes, ilustrações “por estarem ligados a um texto e terem um fim específico.” “São feitos de propósito e podem acrescentar mais às palavras ou dar origem a outros sentidos”, diz.

Por outro lado, a exposição só poderia acontecer no território. A explicação é simples: “foram feitos para Macau”.

Imagens legendadas

A mostra acompanha o primeiro livro da artista que é, de acordo com Anabela Canas, “um álbum” e não um catálogo da exposição porque tem fragmentos das crónicas. “São excertos muito curtos mas que tinham de existir pela ligação existente e que podem fugir para diferentes sentidos”.

Anabela Canas queria, nesta estreia, um objecto bonito capaz de guardar as imagens pelas quais, diz, “tem um grande carinho”. “Gosto dos meus desenhos e quando estão feitos olho para eles de um ponto de vista exterior, como se não fosse eu, e quando gosto sinto mesmo muito carinho”, contou. Por isso queria que fossem guardados como merecem. “Não queria que ficassem enterrados”.

A escolha de Macau para a estreia das palavras publicadas em livro  representa “um dilema enorme depois de 15 anos de ausência para arrumar bem as nostalgias”. Macau é agora uma segunda terra que faz com que o que está a acontecer “ainda faça mais sentido”.

Iluminação artificial

Um dia, por um daqueles puros e aleatórios acasos, encontrei-me com um aspecto ligado à antiga arte de iluminar, que me encantou. Monges copistas, na sua tarefa de horas perdidas, horas e horas, dias e anos “num trabalho que não tinha pressa de chegar ao fim”, outros, ou os mesmos, a tecer iluminuras preciosas, a ouro ou prata, a negro e a cores, e que de caminho, talvez os primeiros, anotavam nas margens dos manuscritos os seus desabafos nocturnos e humanos. E por temor ao esquecimento, de seres porque sem nome, em que ficariam caídos pelos caminhos longos e infindáveis da posteridade, o costume melancólico de deixar uma impressão condoída no final. Uma assinatura, um desabafo que enaltece a nobreza do trabalho, do esforço, um anseio de que lhes rezasse pela saúde e pela alma, alguém.

Imaginá-los ao lado, em noites húmidas a entrar nos ossos e a sair de um sono mal entrado, tocadas a aragens arrefecidas pelas pedras. Agrestes. A fazer dançar chamas a iluminar o cansaço. A ensombrar. E sempre, quase a apagar uma vela grossa mas consumida e suada em grossas lágrimas de cera como gotas alongadas da luz produzida com esforço. A rodeá-los a escuridão povoada de sombras enormes e inquietas, nas velhas abadias medievais, quando as tarefas insaráveis lhes curvavam as costas em dor e tolhiam os dedos. O desenho de uma escrita trabalhosa, vingada em lamentos nas margens do texto. Desabafos esquecidos ao apagamento, ou deixados porque sim. A distinguir o fim antes da madrugada, ou o início no fim da noite. Porque as horas se alongam e a tarefa não tem fim. Porque a tinta está demasiado fina. Porque já mereciam um copo de vinho espesso a aquecer a alma e ou pés. Invento.

E assim me podia fantasiar, por vezes, com eles e pela noite fora a tentar laboriosamente vencer o tempo e o sono, e iluminar um texto que só a meio se me começava a desvendar, e só então e não mais, e porque noutros momentos o sentia fechar sobre si, ou a desviar sentidos a meio ou à procura de um reforço a apontar para outros lugares do texto entre linhas. Entre as linhas, como nas margens e como eles, que aí colocavam glosas a desvendar um latim longínquo do falado. Entre as linhas ou nas margens se caminhou para o futuro dicionário de sentidos. A ficar pelos tempos no imaginário da língua, a insinuação sobre as palavras ocultas agora, entre as linhas visíveis e o discurso não dito. A ler nas entrelinhas.

E de uma só vez, me surge uma amálgama de três formas objectivas de ocupar aquelas páginas, em que tudo o que menos se esperava seria a da pequena subjectividade de formiga laboriosa a ganhar um espaço clandestino e que ficou esquecido por entre as páginas. Esquecido de apagar ou, perversamente a imiscuir-se na nobreza suposta do manuscrito, a sua pequena significância tornada existente, real e ancorada no texto.

Texto que não era deles mas sim ditado, copiado, como a ficção literária não é do autor mas de uma existência própria alheia. Imiscuída também ela de desabafos nas linhas, nas margens brancas de silêncio, ou nas entrelinhas. E tal como a iluminura fugia ao texto nas suas figurações icónicas, antropomórficas ou zoomórficas, motivos florais ou entrançados…tudo para trazer a luz da folha de ouro e prata e só assim a verdadeira luz sem outros sentidos, às escuras páginas de letras apertadas e negras, a poupar o espaço e a fugir para o cimo da página para se desviarem do terreno chão oposto. Terreno demasiado terreno. Uma luz real a iluminar o texto numa fuga ao sentido. As dores do humano nas margens do saber… Luz real, se real é o reflexo.

E também eu com a luz ao lado mas de sombras quietas na parede. Vigilantes e meio adormecidas, mesmo as mais ferozes. Roubar tempo ao tempo.

Ilustrar. Tornar nobre e iluminar. De ilustris, em latim, o que é claro iluminado. Ou a raiz indo-europeia lux, de onde vem a luz da lucidez, e a dar lugar ao latim, de novo, em luminis, lucubrare, iluminar, elucubrar. Saborosas palavras de luz. Sempre a luz. E, nas iluminuras medievais, uma luz que se ficava pelo brilho denso da folha de ouro, ou da prata, e das cores fortes dos óxidos. Acompanhar o texto ou produzir significados livres. Sem ambições a aprofundar sentidos. Às vezes só o de humor. De revolta. De monge sem outro lugar para desentorpecer a voz.

Nada mais nobre – para quê ilustrar –– ou subtil e ambíguo – como iluminar – do que as palavras. Não mais, nem menos do que uma imagem. Mas há o acrescentar, o tornar ainda mais divergente aquilo que por palavras e só, já o é. Aquilo que numa imagem o é por inerência também. Há, pois um diálogo de titãs entre umas e outras. Em que a cada uma das subjectividades se acrescenta a das outras, desmultiplicando sentidos ou ilusoriamente clarificando. Iluminando. Mas por vezes de uma luz enganosa. Acrescentar uma leitura/luz diferente, ou simplesmente aumentar as camadas de leitura do texto com a imagem. E vice-versa.

E fez-se uma luz artificial, na fuga irreprimível das linhas insubmissas, ao texto. Estas dos desenhos. Talvez falsas iluminações a fingir a incidência de uma luz polarizada a rir dos sentidos únicos e últimos. Em fuga, sempre. Alumiar noutros sentidos é o desafio do desenho a fugir ao texto, a produzir zonas de sombra, às vezes.

O fabuloso desafio do Jornal Hoje Macau, pela voz do seu director Carlos Morais José. Escrever um texto para um dia da semana – faz dois anos. Setenta e oito dias de hoje, sem carta de marear. E o desafio meu. Iluminar todas as semanas as palavras esquivas e, claro, a negro de fumo. Às vezes, depois, as cores a querem chegar. É o que fica neste livro, e pedaços soltos dessa escrita, aqui, já a ilustrar com as suas sombras e sentidos, o desenho. Agora. O sentido contrário. Sem nunca fugir à luz artificial. Do candeeiro ao lado. Já pelo fim da noite ou na frescura da madrugada. Que lança afinal também ela sombras fluidas. Zonas onde a luz não chega. Falsos brilhos e reflexos enganadores. Talvez. Enormes possibilidades e incomensuráveis impossibilidades que se fundam numa mesma incerteza. De desenhar um sentido. Uma certeza, uma luz, uma escuridão. É isso.

Iluminar. Artificialmente.

Anabela Canas

10 Abr 2017

Live Music Association recebe amanhã a música da dupla britânica Majik

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Live Music Association continua a fazer jus ao nome que tem. Amanhã, as portas do LMA abrem às 21h para oferecer mais uma noite de música, desta vez com a banda Majik, oriunda de Inglaterra. “É um dueto que faz um pop calmo, que usa batida electrónica como fundo, uma guitarra e voz”, explica Ryoma Ochiai, um dos organizadores do concerto.

Apesar de a banda ter nascido em terras de sua majestade, é composta por um escocês e um inglês de Marlow. Porém, o duo londrino conheceu-se em Leeds, onde partilharam casa. Logo ao início, Marcus testemunhou o experimentalismo musical do amigo e começaram a cozinhar algo que só viria a ser servido totalmente mais tarde em Londres.

Os Majik funcionam com um motor a dois-tempos, Jaime e Marcus. O primeiro é o homem por detrás das batidas e da guitarra, quem compõe a paisagem sonora onde encaixam as letras e voz de Marcus. A mistura resulta numa atmosfera que marca a nova pop britânica, feita de ambientes introspectivos para dançar de olhos fechados. A espaços fazem lembrar uma versão simplificada dos The xx.

Hoje em dia, os vídeos da banda no Youtube têm dezenas de milhares de visualizações, com destaque para “Closer”, “It’s Alright” e “Save Me”.

Não é de estranhar que rapidamente estejam a ganhar fãs um pouco por todos os cantos da Internet, com sons bem trabalhados e que ficam no ouvido.

Toque de magia

De momento encontram-se em tournée e passam por Macau, vindos de Kuala Lumpur e antes de se fazerem aos palcos de Guangdong, Xangai e Pequim.

O nome da banda vem do uso de chavão que os Queen imortalizaram. Marcus, o vocalista dos Majik, costumava dizer que testemunhar a mestria de Jamie a compor era como assistir a magia. Daí o nome do dueto.

A jovem banda ainda não conta com nenhum disco na bagagem, mas tem uma colecção de músicas com que conseguem compor um concerto. Aliás, parecem talhados numa geração para quem os discos são despicientes, num mundo de listas de spotifys e soundclouds. Os Majik são uma banda nova, fresca a ter em atenção no futuro.

As portas do LMA abrem às 21h e as hostes serão iniciadas por RyomA, que receberá o público com um set relaxado, chill out para abrir o apetite para o que se segue. A fechar a noite, para convidar os presentes a um pezinho de dança, o DJ local Kit Leong estará nos pratos a debitar house e disco. O LMA oferece mais um sábado de música aos noctívagos de Macau.

7 Abr 2017

Declaração Conjunta | TDM assinala 30 anos com série de reportagens

Foi um período decisivo para a Macau que hoje conhecemos. Perderam-se batalhas, garantiram-se conquistas, chegou-se a um acordo que permitiu desenhar o futuro do território. Em sete reportagens, a TDM conta o que é preciso não esquecer

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s canais portugueses de televisão e rádio da TDM exibem, a partir da próxima segunda-feira, uma série de reportagens sobre as negociações que conduziram à assinatura da Declaração Conjunta sobre o futuro de Macau, a 13 de Abril de 1987.

Num trabalho assinado pelo jornalista Gilberto Lopes vão ser relatados, na primeira pessoa, os momentos mais sensíveis e polémicos do processo negocial. A série de sete reportagens inclui depoimentos de membros da delegação portuguesa que negociaram a Declaração Conjunta, como o embaixador João de Deus Ramos e Carlos Gaspar que, na altura, era assessor político do ex-Presidente da República Portuguesa, Mário Soares.

“Declaração Conjunta 30 anos” conta também com o testemunho de António Vitorino, antigo membro do Governo de Macau e que nos primeiros dois anos da transição integrou o Grupo de Ligação Conjunto, o órgão de consulta dos Governos de Lisboa e Pequim para o período da transição (1987-1999).

O investigador Moisés de Silva Fernandes, com vários livros publicados sobre as relações entre Portugal e a China, é outro dos intervenientes na “Declaração Conjunta 30 anos”.

A antiga presidente da Assembleia Legislativa, Anabela Ritchie, e o ex-deputado e actual presidente da Associação dos Advogados de Macau, Jorge Neto Valente, descreveram à TDM como viveram, em Pequim, aquele dia histórico.

Duas regiões que foram quase uma

“Declaração Conjunta 30 anos” é emitida a partir de 10 de Abril. Na Rádio Macau, a série de programas passa às 8h30 e às 17h30, de segunda a sexta-feira; ao sábado e domingo, às 12h e às 16h30. No Canal Macau, o trabalho será exibido de segunda a domingo depois do Telejornal das 20h30.

No dia 10 é transmitida a primeira reportagem “Tudo começou em Paris”, onde se relata que foi com o reatamento das relações diplomáticas, em 1979, que a questão de Macau começou a ficar definida.

Na terça-feira e na quarta-feira, serão exibidas reportagens sobre a “Data” e a “Nacionalidade”, as duas questões que mais dividiram os negociadores portugueses e chineses.

Na quinta-feira, será a vez de “Uma Só Região Administrativa Especial”, onde se fala da ideia inicial da China em criar uma Região Administrativa Especial que juntasse Hong Kong e Macau e do projecto em ter uma transferência de administração simultânea para Macau e Hong Kong, em 1997.

Na sexta-feira, os negociadores Carlos Gaspar, João Deus Ramos e também António Vitorino falam da experiência que tiveram nas conversações com os negociadores chineses.

No sábado, o grande destaque vai para como Macau viveu as negociações. Em “Macau não foi consultado”, Jorge Neto Valente e Anabela Ritchie dão conta de que os residentes portugueses e chineses de Macau não foram ouvidos em todo o processo e que o Governo português não convidou os portugueses de Macau para a cerimónia em Pequim.

No domingo, realce para um depoimento gravado, em exclusivo para a TDM e Agência Lusa, do antigo primeiro-ministro, Cavaco Silva, que assinou com o líder chinês, Zhao Ziyang, a Declaração Conjunta, a 13 de Abril de 1987, no Palácio do Povo, em Pequim. António Vitorino e Carlos Gaspar falam dos grandes objectivos definidos para o período de transição, e Anabela Ritchie e Jorge Neto Valente dos vários diplomas aprovados e os que ficaram por aprovar na Assembleia Legislativa durante o período de transição.

“Declaração Conjunta 30 anos” terá uma exibição, em compacto, segunda-feira, 17 de Abril, a partir das 10h30, na Rádio Macau. A TDM explica que o trabalho tem locução do jornalista Rui Cid, grafismo e mistura final de Pedro Lemos, imagens de Bernardo Vieira, Chang Iong Long, Fernando Poon, Arquivo TDM e Arquivo RTP, e a colaboração de José Costa Santos e Pedro Benjamim.

7 Abr 2017

Cinema | “Peregrinação” de João Botelho até ao final do ano

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] realizador João Botelho inicia, na próxima segunda-feira, a segunda fase de rodagem do filme “Peregrinação”. O realizador entra na etapa final de filmagens da obra de Fernão Mendes Pinto, agora em Portugal, e pretende que a película estreie ainda este ano nos cinemas.

Depois de ter estado, no Verão passado, em filmagens na China, Macau, Japão, Índia, Malásia, Vietname e Indonésia, João Botelho está agora na segunda fase de rodagem em Portugal, com o elenco encabeçado por Cláudio da Silva no papel do explorador português do século XVI.

Na nota de intenções, o realizador descreve “Peregrinação” como “um filme de aventuras, literário e uma epopeia musical”, a partir de fragmentos de um “desmedido e louco romance de mil páginas”.

Além de Cláudio da Silva, o filme conta ainda com Cassiano Carneiro, Pedro Inês, Catarina Wallenstein, Maya Booth, Rui Morisson, Jani Zhao e Zia Soares.

Haverá também um coro de marinheiros a cantar músicas do álbum “Por este rio acima”, de Fausto Bordalo Dias.

Esta segunda fase da rodagem de “Peregrinação”, que se estende até Maio, passará por Sintra, Vila do Conde, Carrasqueira, Lisboa, Torres Novas, Tomar e Almada. A produção é de Alexandre Oliveira e a fotografia de João Ribeiro e Luís Branquinho.

“Ao trazer esta obra máxima da literatura portuguesa para o cinema, acho que cumpro a mais bela das missões: um realizador deve encontrar uma empatia emocional e verdadeira com as muitas pessoas a quem o filme se destina”, escreveu João Botelho.

Impresso pelo primeira vez em 1614, “Peregrinação” é um relato da presença dos portugueses no Oriente e uma crónica de viagens de duas décadas de vivência de Fernão Mendes Pinto.

João Botelho já adaptou outras obras literárias para cinema como “O livro do desassossego”, de Fernando Pessoa, “A corte do norte”, de Agustina Bessa-Luís e clássico “Os Maias”, de Eça de Queirós.

6 Abr 2017

Chan Hin Io faz radiografia à cidade com imagens panorâmicas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] afastamento visual pode dar perspectiva ao observador e revelar algo que a proximidade esconde. Este é o mote ao livro “Paisagem Pitoresca – Fotografias Aéreas de Macau Captadas por Chan Hin Io”, lançado hoje na Academia Jao Tsung-I sob a égide do Instituto Cultural (IC).

O público que se deslocar à festa de lançamento poderá apreciar fotografias e vídeos da cidade vista de grande altitude.

O fotógrafo local captou imagens de cortar a respiração de diversos cenários da cidade, formando um mosaico composto por edifícios, festividades, pontes e projectos de construção. As imagens mostram o tecido de que é feito Macau, colocando a nu o desenvolvimento urbano e a rede de artérias da cidade. As imagens parecem retiradas de um compêndio de cartografia, por vezes revelando uma perspectiva quase surrealista do chão.

À medida que fotografava, Chan Hin Io filmou um vídeo que será exibido hoje durante o lançamento do livro.

O fotógrafo local, que pegou nos últimos anos no tema da paisagem urbana de Macau, assim como nos costumes do território, tem sido galardoado com alguma frequência com prémios de fotografia. Com a cidade como musa transversal à sua carreira, Chan Hin Io fotografou os bairros de Macau, as memórias de ofícios e negócios tradicionais e o património arquitectónico da cidade. A sua obra tem como pontos altos os livros “Bairros de Macau: Fotografia Documental por Chan Hin Io”, “Memórias dos Ofícios e Negócios Tradicionais de Macau” e “Vida em Macau 2012 – Fotografias de Chan Hin Io”.

Outro dos destaques maiores na carreira do fotógrafo é o livro “O Lugar onde o Património Mundial Brilha – Fotografia do Centro Histórico de Macau”, que originou uma exposição que está patente em Lisboa, no Centro Científico e Cultural de Macau até 31 de Maio. Depois da capital portuguesa, a exposição será mostrada em Guimarães, no Palácio Vila Flor entre 23 de Junho e 15 de Agosto.

6 Abr 2017

Exposições | Le French May traz Louvre até Hong Kong

A edição deste ano do Festival Le French May traz alguns dos tesouros do espólio do Louvre à região vizinha de Hong Kong. Vão estar em exibição mais de uma centenas de obras, entre pintura, escultura, estátuas e antiguidades

 

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]a sequência da invasão artística francesa de Hong Kong que é o Festival Le French May 2017, destaque para a mostra que traz obras de um dos mais famosos museus do mundo. Durante três meses o Museu Heritage recebe peças históricas de enorme relevo. A mostra dos tesouros do Museu do Louvre vem a tempo de celebrar o vigésimo aniversário da fundação da Região Especial de Hong Kong, assim como o vigésimo quinto aniversário do festival artístico.

As exposições tem como nome “Inventing le Louvre: From Palace to Museum over 800 years”, e são organizadas numa parceria entre o museu francês e o Museu Heritage de Hong Kong. A exibição tem levado obras-primas de um dos mais prestigiados museus do mundo à volta do globo e dará ao público da região vizinha a oportunidade única para explorar os tesouros do museu francês.

A exposição ilustra a vitalidade e universalidade que caracteriza o espírito do Louvre, com uma selecção de obras transversais aos diversos períodos da história do museu, desde a sua fundação.

Desde a sua origem, nascido das colecções reais de Francisco I e Luís XIV, até aos tempos modernos, o museu francês tem sofrido imensas renovações e mudanças profundas.

A mostra atravessa também a arte produzida durante o período que passa pelo reinado de Napoleão e a época das ideias do movimento intelectual republicano.

Museu nação

Ao longo do último século o Louvre continuou a aumentar a sua colecção, alicerçado numa política de aquisição de obras de arte dos sucessivos reis franceses, ou seja, a história do museu está intrinsecamente ligada à história francesa.

O Le French May contará com uma sucessão de obras divididas em secções temporais. As colecções reais e o Palácio, depois de Francisco I e Luís XIV, do século XVII. O século XVIII terá, inevitavelmente, como foco o Iluminismo e a época de Denis Diderot, assim como o período que vai da revolução francesa a Napoleão. As obras dos século XIX têm como tema Napoleão III e a Terceira República. Finalmente, na actualidade, Louvre Hoje.

Entre as peças que visitam a região vizinha contam-se a estátua do escritor Jean de la Fontaine, Cabeça de Cavalo (fragmento de estátua) do departamento de antiguidades gregas, etruscas e romanas do Louvre, que saem do museu francês pela primeira vez.

A exposição conta com 126 peças e abre portas ao público a partir do dia 26 de Abril e estará em exibição até 24 de Julho no Museu Heritage de Hong Kong.

6 Abr 2017

Phil M. Reavis, músico da banda “The Bridge”: “A música, com o tempo, torna-se visceral”

Phil M. Reavis é professor de Inglês e músico em Macau desde 1982. Veio para dar aulas e agora é um dos rostos associados ao jazz local. Autodidacta, toca saxofone tenor com a banda local “The Bridge”. Ao HM, falou do que pensa relativamente ao estado do género musical no território

Como é que veio para Macau?

Vim para o território em 1982. Já tocava, na altura, mas só para mim. Apesar de professor era, acima de tudo, um desportista e treinador. Tive muita sorte. Cresci numa cidade operária dos Estados Unidos que tinha muitos campos para a prática de desporto. Com o salto em altura consegui uma bolsa que me deu acesso à universidade, com pagamento total de propinas. Acabei os estudos e comecei a trabalhar como professor, mas acabei por ir para o Camboja como treinador de uma equipa internacional que englobava várias modalidades. Com o agravamento da situação política naquele país fui destacado para o Vietname. Foi aí que conheci a minha mulher. Por sermos de cores diferentes, não éramos um casal bem visto. Recordo-me quando os Estados Unidos obrigaram todos os dependentes de quem estava no exército ou a trabalhar para o Governo a irem embora, e queriam que a minha mulher também o fizesse. Mas não éramos casados e, por isso, ela conseguiu ficar. Acabámos por ir para o Laos ensinar Inglês cerca de seis anos. Voltámos aos Estados Unidos. Pensava que poderia ter mais oportunidades se fizesse um mestrado em Estudos Migratórios, mas acabei por aceitar um emprego numa universidade. Na Universidade do Minnesota o movimento negro estava no auge, o que me incomodava muito. A minha mulher era branca e nada daquilo fazia sentido para mim. Aliás, durante a minha infância e adolescência não senti, de todo, a discriminação. Lembro-me da primeira vez que senti isso na pele. Estava no ensino secundário quando vi uma caixa enorme que tinha lá dentro um saxofone e fiquei encantado. Um amigo disse-me que podíamos ter aulas a um preço simbólico e o direito a ter o instrumento. Fui falar com o professor, que não me aceitou. O meu amigo voltou a insistir e lá consegui, mas em vez de uma caixa grande, tive uma caixa pequena com um clarinete. Agora, enquanto docente, estava no meio das questões raciais mais profundas dos Estados Unidos. Convidámos, na altura, um poeta para vir falar com os estudantes e, quando ele chegou e se deparou com uma plateia de brancos e negros, não quis falar para os brancos. Era tudo tão absurdo. Apareceu, mais tarde, a oportunidade de vir para Macau dar aulas de Inglês numa escola chinesa. Tínhamos, eu e a minha mulher, de ficar cinco anos para dar início ao departamento de Inglês. Tivemos muita sorte. Naquela altura, em Macau, já havia uma consciência muito grande de que se as pessoas quisessem progredir na vida teriam de aprender línguas. Tinha alunos espectaculares e que aprendiam muito depressa. Havia a combinação de dois factores fundamentais: queriam muito aprender e o território estava aberto. Acabaram-se os problemas raciais e essas coisas absurdas.

Onde é que andou a música durante esse tempo?

Comecei a tocar ainda no ensino secundário. Dada a situação em que me senti discriminado, acabei por aprender sozinho. Ao longo do tempo, chegava a casa e “fechava-me no armário” para tocar. Tinha um bom ouvido e achava que, se tocasse o que ouvia de forma perfeita, podia ir avançando. A música, com o tempo, torna-se visceral. Mas foi realmente em Macau que comecei a tocar para os outros. Vi um folheto de um concerto de jazz promovido pelo clube da altura. Ao perceberem que também tocava, convidaram-me a fazê-lo, mas em público. Foi em Macau que comecei a tocar realmente.

Como era a cena musical local da altura e em que aspectos tem mudado, nomeadamente no jazz?

Era muito limitada. Dentro da comunidade chinesa, a única coisa que era considerada como música era a clássica. O único instrumento real era o piano, por vezes o violino e, quanto muito, a flauta. A cena musical estava parada e agarrada ao virtuosismo da música clássica. Por exemplo, sempre que tínhamos concertos, os professores de música não apareciam. Lembro-me apenas de duas situações em que estiveram presentes. A ideia de ter música num clube ou num bar, penso, parecia-lhes motivo para ser desconsiderada. Mais tarde, tivemos a Casa de Vidro. Foi um grande salto na nossa visibilidade, era perfeita. Já não era a falácia de música nos bares. Era um passo em frente. Acabámos por ter festivais com alguma regularidade e o género teve um grande desenvolvimento no território. Actualmente, as diferenças são muitas e considero que está tudo melhor, principalmente com as novas gerações de músicos.

O que é que aconteceu?

Os jovens agora vão para a universidade para seguir música, por exemplo. Isso dá-lhes competências muito fortes. A escola de música está também muito bem organizada e há toda uma geração de novos artistas. Por outro lado, estamos numa sociedade altamente consumista e isso também se nota na música. As pessoas pensam que se conseguem ganhar dinheiro com ela, então é melhor aprender.

O que é preciso ao nível pessoal para tocar, especificamente, jazz?

O que quer que seja, vem com o tempo. Por exemplo, Ella Fitzgerald, enquanto jovem, canta bem mas, com a idade, a voz dela atingiu outra intensidade. É a maturidade que passa para a música. O mesmo se passa com o jazz. Esta nova geração começa agora a ter uma noção da expressão. Já não se trata unicamente de tocar as notas certas nos tempos certos. Um músico de jazz faz outra coisa: sente. É o sentimento que demora tempo. Se calhar, nos Estados Unidos, pode ser mais fácil para os mais novos que começam a ouvir jazz desde pequeninos na rádio mas, ainda assim, depois vem o tempo. No entanto, os miúdos que saem das escolas correm um grande risco. Quando os ouvimos, são todos iguais e não se pode fazer nada contra isso. Têm o grau académico, mas a questão é saber se conseguem fazer música daquilo. No território, temos uma grande referência que está a fazer muito pelo jazz e pelo seu ensino: José Eduardo.

Há um público em Macau?

Costumava existir, mas foram-se todos embora. Era, em grande parte, a comunidade portuguesa. Na noite de domingo, que marcou o regresso do Clube de Jazz, fiquei muito surpreendido com o público no Live Music Association. Vi jovens chineses, além dos portugueses. Mas lá está, é uma sociedade virada para o consumo e, em Macau, isso é mais evidente ainda. O jazz tem dificuldades. Foi sempre um género alternativo e nunca foi para maiorias. É triste, mas penso que será sempre considerado, de alguma forma, um género menor, até mesmo nos Estados Unidos. Há dois ou três anos, estava num bar com uns amigos que não ganhavam mais de 50 dólares por concerto. É terrível. Muitos deles acabam por saber interpretar mais do que um instrumento, porque lhes dá mais oportunidades de tocar. Mas há muita necessidade de instrumentistas, principalmente que saibam tocar baixo. É o instrumento em que é mais difícil encontrar um substituto e não há banda que não precise dele. Se tivesse agora um filho que quisesse seguir música, o meu conselho seria só que aprendesse baixo.

O que pensa do regresso do Clube de Jazz de Macau?

É um renascer da vontade de ouvir o género com frequência ao mesmo tempo em que se aposta numa geração mais nova, tanto de público, como de músicos. O jazz não tem a visibilidade que deveria, nem nunca teve. Não é ainda visto como uma música séria. É importante também perceber que o mito dos negros tocarem jazz é apenas isso, um mito e uma estupidez. Toda a gente o pode tocar, e bem. Esta política identitária não faz sentido algum.

5 Abr 2017

Albergue | Dez anos de desenhos de Daniel Vicente Flores

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s desenhos de Daniel Vicente Flores vão estar em exposição a partir do dia 19 no Albergue SCM. “Desenhos 2006-2016” é um conjunto de 33 obras a tinta-da-china “onde o artista explora o traço carregado de ângulos e variações representando a mancha de forma figurativa e abstracta, e onde se encontram por vezes apontamentos de cor”, lê-se em comunicado de imprensa.

De acordo com a organização, a mostra representa um imaginário íntimo em tom provocatório, onde o significante e o mundo identitário do artista se confundem. “Os meus desenhos não são estudos de sombra e luz a partir da observação, mas da luz e da cor em si, que formam o desenho relacionado com o mundo exterior apenas simbolicamente”, refere o artista.

Daniel Flores nasceu em Macau em 1989 e aqui viveu até 1999. O interesse pelo desenho enquanto expressão vem desde muito jovem, sendo que a literatura e a poesia surgem mais tarde. A residir em Lisboa, concluiu o ensino secundário na Escola António Arroio, na componente de Encenação. Frequentou a Faculdade de Belas Artes de Lisboa (Artes Multimédia) e a Escola de Jazz do Hot Club Portugal. Prossegue, em simultâneo, com todas as suas actividades artísticas: desenho, literatura e música.

Daniel Vicente Flores não deixou, no entanto, de visitar Macau com frequência e “Desenhos 2006-2016” é um marco “natural na terra natal”.

No mesmo dia, é lançado o Livro “Impressões” com desenhos e poemas do artista, com a chancela da editora Livros do Oriente.

5 Abr 2017

AFA | Aguarelas de Cai Guo Jie expostas a partir de hoje

São paisagens locais vistas com olhos de pássaro. A proposta é de Cai Guo Jié que adoptou Macau como casa e a quer mostrar a todos. A exposição é uma organização da Art for All Society e está patente até 23 de Abril no Art Garden

[dropcap style≠’circle’]“O[/dropcap]verlook the Macau City” é a exposição de Cai Guo Jie que está, a partir de hoje, aberta aos visitantes no Macau Art Garden. A iniciativa promovida pela Art for All (AFA) traz uma série de 14 aguarelas que representam alguns dos espaços mais emblemáticos da cidade, produzidos pelo artista.

A escolha da técnica, disse o autor ao HM, tem a ver com motivos históricos e culturais. “Antigamente, a aguarela era utilizada na cerâmica que, antes de ser levada para cozedura, era pintada com esta técnica”, explicou.

A aplicação é realizada na pintura de espaços como Mong Ha, o Porto Interior, as Ruínas de São Paulo, a Igreja de São Lourenço e o Alto de Coloane. O objectivo é dar um panorama geral do território. “É um retrato dos lugares por onde passo todos os dias e que fazem parte da cidade”, disse.

Depois de várias exposições com passagens por Pequim, a mostra que hoje inaugura representa ainda uma mudança na perspectiva do artista. As paisagens agora elevadas a um plano superior do olhar, pretendem mostrar os lugares comuns de residentes e visitantes quando passeiam pela cidade.

“Na pintura `Camões Olhando para o Leste´,  o espectador parece ter sido levantado no ar e colocado num ponto mais alto, o horizonte também se levanta e a maior dimensão é ampliada à utilização de uma folha de aguarela completa”.

Cai Guo Jie, natural de Taiwan veio para Macau à cerca de cinco anos. “Era o local onde tinha o coração”, disse ao HM. Ao longo da carreira, passou por várias fases e, se num momento inicial tinha como meta a adaptação e técnicas ocidentais a motivos do oriente, com o tempo o objectivo também se transformou: “tornou-se fundamental dar mais relevo às técnicas locais”.

“Prefiro exportar a cultura a importar o que vem de fora e, quando me senti preparado, decidi produzir uma série de trabalhos sobre Macau”, recordou.

Liberdade local

Vindo de fora e com os olhos postos nos jovens criadores, Cai não tem dúvidas de que, em Macau, a liberdade é um marco na criação artística capaz de levar ao sucesso. Em contraponto está a realidade de Taiwan. “A maioria dos alunos de arte de Taiwan estudam muito mas o objectivo não passa de tentarem passar nos exames. Os estudantes de Macau são diferentes: “são muitos os que se dedicam à arte por sentirem um verdadeiro interesse e gosto por ela e, como tal, trabalham muito para conseguirem fazer o que gostam”, apontou Cai.

Por outro lado, a diferença pode estar na formação, até porque “os professores de Taiwan não consideram a questão da carreira. Como tal, aquando de dificuldades, os estudantes acabam por optar por outras carreiras. “Já aqui, e baseado na minha experiência no Instituto Politécnico de Macau, sinto que as escolas estão mais empenhadas em ajudar os artistas no encontro de um caminho profissional”.

É a autonomia que sente na vida artística de Macau que dá a Cai Guo Jie confiança para ficar e trabalhar no território. “Aqui, há liberdade e possibilidade de cada um de nós desenvolvermos as nossas características”, concluiu o artista.

3 Abr 2017

Clube de Jazz | Live Music Association acolhe concertos ao domingo

O Clube de Jazz de Macau vai promover concertos no espaço Live Music Association. A iniciativa acontece todos os domingos e o objectivo é, para já, levar os jovens músicos a mostrar o seu trabalho a um público que tem sede de concertos ao vivo

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] lugar remete-nos para uma onda underground. O palco é pequeno, o espaço quase faz lembrar uma caixa preta colocada num edifício industrial, mas o ambiente é o ideal para encontros onde o jazz é rei. É esta a ideia que está por detrás da mais recente iniciativa de três amigos, amantes deste estilo musical, que se associaram ao Clube de Jazz de Macau.

A ideia é que todos os domingos possam acontecer concertos no Live Music Association (LMA), ao final do dia. O primeiro decorre já este domingo, 2 de Abril, com a banda The Bridge, que nos anos 90 fez as delícias do público que frequentava o espaço do Clube de Jazz de Macau.

Henrique Silva, designer, fala em nome dos três amigos e lembra-se bem desses tempos. Anos depois, é muita a vontade de trazer de volta esses momentos de música. “Somos todos da velha guarda e decidimos logo juntarmo-nos ao clube. O jazz em Macau tem uma tradição muito antiga e podemos, de alguma forma, voltar a revitalizar [as sessões de música], nem que seja só ao domingo, aquele dia que serve para terminar a semana de uma forma calma”.

Até agora, o Clube de Jazz de Macau vinha promovendo concertos esporádicos em vários lugares, sendo que a Casa Garden, da Fundação Oriente, era o local mais escolhido. A organização dos concertos no LMA vai permitir uma melhor logística.

“Somos todos amantes e sócios do Clube de Jazz de Macau e, existindo o LMA, que é um espaço montado, com todo o equipamento necessário, achamos que, não existindo tantas oportunidades para haver música ao vivo, era uma pena ver aquela casa fechada e a ser utilizada só de vez em quando”, contou Henrique Silva ao HM.

“Decidimos criar algo mais regular, para as pessoas poderem contar com isso e saberem que, aos domingos, há sempre jazz”, acrescentou Henrique Silva, que fala de uma “solidariedade natural” com o Clube de Jazz de Macau.

“Relançar” o clube

José Luís Sales Marques, presidente do Clube de Jazz de Macau, explica a forma como vai funcionar a iniciativa. “Será importante fazermos uma mobilização dos sócios, estarmos lá presentes, organizar as coisas. Vamos também proporcionar algum apoio financeiro para esta primeira fase, uma vez que o clube tem tido uma actividade muito diminuta, que se limita à apresentação da banda The Bridge no Lago Nam Van. Mesmo isso, neste momento, não está a acontecer.”

Para Sales Marques, os domingos com jazz no LMA constituem “uma oportunidade para relançar a actividade do clube, num ambiente de música ao vivo, e mais informal do que aquele que costumamos ter na Casa Garden, que continua a ser um lugar importante, que nos tem dado muito apoio”.

Para já, a ideia é organizar os concertos apenas no LMA. “A aposta, por enquanto, é essa. É um espaço que é interessante e está localizado num edifício com algum charme”, considera Sales Marques.

Henrique Silva explicou que, daqui a uns tempos, poderão ser feitos convites a bandas de fora. “Consoante o que isto crescer e a adesão que tiver, e também quando percebermos as necessidades que houver por aqui, queremos trazer bandas de fora, seria fantástico, até para os estudantes de música tocarem com pessoas de fora e aprenderem um pouco mais.”

Mostrar o que se toca cá

Se os The Bridge representam a velha geração do jazz local, a verdade é que continua a formar-se uma nova geração de jovens músicos que não tem oportunidades para tocar ao vivo. É a esse segmento que os mentores desta ideia querem chegar e dar uma resposta.

“Há muito jazz que se faz em Macau. Há muitos miúdos a tocar jazz e não têm muitos sítios para o fazer. Essa foi uma das nossas ideias iniciais, criar um espaço onde estes miúdos possam dar asas à sua criatividade e à sua música. Estamos muito abertos à realização de jam sessions, com pessoas a tocar e a improvisar”, diz Henrique Silva.

José Sales Marques assume querer “explorar um pouco essa via nos próximos tempos”. “Em Macau não há tantas oportunidades para se ouvir música ao vivo, num ambiente relaxado. Há muita gente em Macau que precisa de tempo de palco, enfrentar uma audiência. Essa é a nossa abordagem.”

O objectivo é também chegar a um público expatriado que, nos seus países de origem, já tem o jazz como referência musical. “Há muita gente que gosta de jazz em Macau e há uma comunidade estrangeira que vem dos Estados Unidos, onde há uma cultura muito grande do jazz, e também da Europa. Esperamos que essas pessoas adiram, que a mensagem chegue e que façam parte do nosso clube”, disse Henrique Silva.

 

 

Festival internacional pode reaparecer este ano

Pouco se tem ouvido falar do Clube de Jazz de Macau, mas há uma vontade da parte do seu presidente de alterar o panorama, através do regresso do Festival Internacional de Jazz este ano, que não se realizou em 2016 por falta de apoios. “Temos sempre um alinhamento preparado, mas o festival não se consegue fazer se não tivermos um apoio oficial. Isto porque os apoios da privada, quanto muito, são logísticos.” Além disso, o Clube de Jazz de Macau depara-se com a dificuldade de não ter um espaço próprio para concertos. “Em 2014 e 2015 ainda fizemos bastantes espectáculos, fizemos o festival de jazz que até correu muito bem. Fizemos algumas colaborações com o IACM e com o Instituto Cultural, fizemos umas produções conjuntas”, recorda. “A questão essencial é não haver capacidade de autofinanciamento. Não temos outras actividades se não o que resulta das nossas profissões e, hoje em dia, qualquer espectáculo custa logo dinheiro. Há também uma falta de meios”, explicou José Sales Marques.

31 Mar 2017

Cinemateca Paixão mostra filmes de Macau a partir do dia 14

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] já nos próximos dias 14 e 28 de Abril que a Cinemateca Paixão acolhe uma das suas primeiras iniciativas, no âmbito da nova gestão. O ciclo de filmes “Panorama do Cinema de Macau” vai mostrar o que já se filmou por cá no tempo da Administração portuguesa e o que se tem vindo a fazer desde 1999.

Na visão dos gestores da Cinemateca Paixão, esta iniciativa visa “permitir aos cidadãos de Macau um melhor conhecimento do passado e do presente do cinema [local]”, sendo que serão transmitidos “filmes importantes, produzidos antes e depois da transferência de soberania de Macau, assim como as mais recentes longas e curtas-metragens, filmes de animação e documentários com características especificamente locais”.

O público poderá assistir, logo no dia 14, pelas 21h30, ao filme “Sisterhood”, de Tracy Choi, que venceu o prémio do público no Festival Internacional de Cinema de Macau. Nesse dia passa também “Ontem mais uma vez”, às 16h30. Além dos filmes, a Cinemateca Paixão vai também promover o seminário “Cinema de Macau, Presente e Futuro”, com entrada gratuita. As inscrições devem ser feitas até ao dia 10 de Abril através do email cinemathequepassion@gmail.com.

Na secção “Revisitar os clássicos” serão transmitidos os filmes “A Macau de Ah Ming”, dia 15 de Abril às 14h30, bem como o filme “O Homem da Bicicleta, Diário de Macau”. Dia 16 de Abril, às 16h30, é dia de transmitir o filme “A Trança Feiticeira”, uma adaptação da obra do escritor macaense Henrique de Senna Fernandes.

Serão ainda projectados filmes inseridos na “Série Histórias de Macau” e “Pegadas da Cidade”, bem como curtas-metragens recentemente produzidas.

“Antes da transferência de administração para a República Popular da China, em 1999, um grupo de cinéfilos de Macau, juntamente com estudantes recém-formados que regressavam do estrangeiro, começara a realizar os seus próprios filmes independentes, sem grandes preocupações comerciais. Era este o protótipo dos filmes aqui realizados”, lê-se no folheto de promoção do evento.

Após 2000, o panorama do cinema local mudou. “O Governo da RAEM começou a apoiar substancialmente o cinema local, tanto em termos de política cultural, como em termos de financiamento, levando um grupo cada vez mais alargado de pessoas a envolverem-se na realização de documentários, filmes de animação e curtas-metragens. Foi assim que as duas últimas décadas viram surgir todo um conjunto de cineastas talentosos”, escrevem os gestores da Cinemateca.

30 Mar 2017

Música | Marcel Khalife toca no Centro Cultural de Macau

Há quem diga que é “o Bob Dylan do Médio Oriente”. O músico e compositor Marcel Khalife está em Macau a 17 de Junho. O libanês vai explicar no Centro Cultural de Macau porque é que deu a volta ao oud

 

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão têm semelhanças na música, mas sim na forma como encaram a política. É por isso que, em certos circuitos, Marcel Khalife é equiparado a Bob Dylan, mas no contexto do Médio Oriente. A música que faz tem contornos políticos, porque canta a liberdade.

A emissora NPR contextualiza: Khalife distinguiu-se por traduzir poesia em música. Durante anos, colaborou com o poeta palestiniano nacionalista Mahmoud Darwish. “Tudo começou quando acabei o conservatório de música em Beirute. A guerra civil tinha rebentado no Líbano. Eu queria mudar o mundo com a música”, contou Marcel Khalife à estação de rádio.

A guerra civil deixou o músico cercado na sua terra natal, Amchit. “Não tinha nada na minha solidão, a não ser as colecções de poesia de Mahmoud Darwish”, recorda. “Disse para mim mesmo: tenho de fazer música com estes poemas. Desde então que a minha carreira musical tem estado ligada à poesia de Mahmoud Darwish.”

Por altura da Primavera Árabe, a música de Marcel Khalife serviu de linguagem à revolução. À época, explicava que aquilo que estava a acontecer no mundo árabe era uma inevitabilidade, que “deveria ter acontecido há muito tempo”, por ser necessário “sair da estagnação”. Mas o compositor não alimentava ilusões: “Nenhuma revolução no mundo tem resultados positivos de um dia para o outro”.

Da erudição

Nascido em Junho de 1950, Marcel Khalife estudou oud, o alaúde árabe. Terminou o conservatório em 1971 e desde então que tem dado uma nova vida ao instrumento de corda, cuja origem remonta aos primeiros séculos da civilização árabe.

Logo no início da carreira, deu aulas em conservatórios e universidades, mas cedo começou a levar a música do Médio Oriente a outras paragens, incluindo à Europa e aos Estados Unidos. Conhecido por ser um instrumentista exímio, consegue libertar-se das restrições que o oud impõe, dizem os críticos.

Em 1972, Khalife cria um grupo em Amchit, com o objectivo de recuperar o património musical libanês. Quatro anos mais tarde, surge o Marcel Khalife’s Al Mayadine Ensemble e a carreira do compositor ganha projecção internacional. Tem um vasto currículo no que toca a participações em festivais internacionais, em todos os continentes.

Da obra do músico libanês, destaque ainda para a composição de instrumentais que foram interpretados por várias orquestras e formações, tanto no Médio Oriente, como no Ocidente. A música que faz deu ainda origem a um novo tipo de dança dentro da cultura libanesa.

Dedica-se também, há mais de 30 anos, à escrita de livros sobre música. Tem editados mais de 20 álbuns e DVDs.

No comunicado enviado à imprensa, o Centro Cultural de Macau (CCM) destaca que a contribuição de Marcel Khalife para promover as artes e a cultura foi reconhecida através de diversos galardões, como o Prémio Palestina para a música em 1999, a designação de Artista para a Paz da UNESCO, em 2005, e o prémio da Academia Charles Cross, em 2007.

A anteceder o concerto, o CCM organiza um tertúlia durante a qual “serão desvendados os mistérios do oud, um instrumento com uma tradição antiga”. A sessão é apenas em cantonês.

Os bilhetes para o espectáculo são colocados à venda no próximo domingo.

30 Mar 2017

Marionetas | Exposição e espectáculos para ver esta semana

No início, era a religião. Depois, passou a ser a sátira e a crítica social. As marionetas estão de regresso pela mão de Elisa Vilaça, para uma exposição e espectáculos na Casa Garden. Há oferta para todas as idades

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]a cultura ocidental, a leitura que comummente se faz dos espectáculos de marionetas remete-nos para o universo infantil. Mas nem sempre foi esse o caso – antes pelo contrário. Os “bonecos”, como carinhosamente lhes chama Elisa Vilaça, tiveram a religião na origem. Foi assim na Ásia e no resto do mundo. A Oriente, as marionetas continuam a ser muito associadas à divulgação de princípios religiosos e morais; a Ocidente, a realidade alterou-se com o Concílio de Trento. Passaram a ter como função a sátira. Mereceram as composições de nomes como Schumann.

E por cá? Por aqui, é uma forma de expressão artística que começa a ter mais entusiastas, apesar de ainda ser incipiente. Elisa Vilaça, pedagoga, detentora de uma colecção de marionetas que chega aos 900 exemplares, tem procurado dinamizar a arte. O encontro de marionetas e a exposição que pode ser já vista na Casa Garden são a prova deste trabalho.

“É um esforço que tem dado alguns frutos principalmente na parte da comunidade educativa”, conta Elisa Vilaça. “Nas escolas tem havido mais interesse, as pessoas têm pedido inclusive para se fazerem espectáculos. As escolas chinesas têm-nos pedido para fazermos workshops de construção de marionetas de sombras e de pinturas de máscaras”, relata. Estas “abertura e maior sensibilização” na comunidade educativa são “extremamente importantes”.

Fora das escolas, a história tem outra narrativa. “No âmbito geral, como há pouca oferta deste género em Macau, as coisas são muito pontuais, não há fluidez. Esporadicamente faz-se um encontro, uma vez por ano, quando se pode.” É difícil trazer para Macau grupos de outros locais e, no território, só há duas formações a trabalharem com marionetas.

Porque considera que vale a pena tornar este tipo de arte mais acessível a quem cá vive, Elisa Vilaça ainda não desistiu da criação de um centro, “um espaço onde as pessoas pudessem ter workshops de construção de várias técnicas de manipulação, construção de bonecos e aprender a manipulá-los”. Trata-se de uma ideia que “não é fácil” de concretizar.

Com vida

Enquanto Elisa Vilaça não cria o seu espaço, as marionetas vivem do encontro que se realiza no próximo fim-de-semana na Casa Garden, organizado pela Casa de Portugal em Macau (CPM) com o apoio da Fundação Oriente. Ao todo, são três os intervenientes: um grupo que chega de Hong Kong, Elisa Vilaça e Sérgio Rolo.

A formação da região vizinha “traz espectáculos muito típicos da tradição chinesa, com marionetas de fios e marionetas de vara”. Os espectáculos de sábado e domingo estão agendados para o espaço exterior da Casa Garden, junto à escadaria, e têm início às 15h. Uma hora mais tarde, às 16h, há um espectáculo para bebés, no auditório, da responsabilidade de Elisa Vilaça.

No domingo, há uma performance extra: na blackbox da Escola de Artes e Ofícios da CPM, Sérgio Rolo apresenta um espectáculo “mais alternativo, diferente, numa linha mais moderna, não tão tradicional, que se chama ‘Mono’”, descreve a organizadora. A entrada para todos os eventos é livre.

Quem passar pela Casa Garden até ao próximo dia 15 de Abril pode ainda ver a “Exposição de Marionetas Asiáticas – Vozes da Terra”. Elisa Vilaça é a curadora da exposição e proprietária de todo o espólio. A investigadora tem marionetas de quase todo o mundo mas, nesta mostra, estão em destaque cerca de 50 marionetas, provenientes de vários países orientais e com diferentes técnicas de manipulação.

“Esta exposição tenta dar uma breve imagem da enorme diversidade e características de uma arte milenar, que se mantém cada vez mais viva no tempo e reconhecida mundialmente”, lê-se no comunicado sobre a exposição. A escolha do título “Vozes da Terra” tem que ver com a origem remota das peças exibidas.

Elisa Vilaça começou a coleccionar marionetas na década de 1980, nas viagens que ia fazendo pela Ásia e também pela Europa. Com um mestrado em História, decidiu começar a fazer investigação em torno destes “bonecos”, que carregam um contexto histórico, social e cultural. As marionetas dizem mais do que aquilo que são.

Ao longo de 38 anos de vida profissional, Elisa Vilaça foi utilizando as marionetas sobretudo numa vertente pedagógica, construindo os bonecos que manipula. Ainda assim, vai fazendo alguns espectáculos fora do contexto escola, sobretudo em festivais internacionais. Já levou as suas marionetas a Portugal, à Tailândia, ao Brasil e a Hong Kong. No fim-de-semana, há uma oportunidade de ver os bonecos de Elisa em Macau.

29 Mar 2017

Poly Auction | Leilão traz obra de Zeng Fanzhi a Macau

O Poly Auction Hong Kong colabora pela primeira vez com a organização homónima local. O objectivo é trazer a arte chinesa a ambos os territórios e traduz-se numa exposição de uma das obras emblemáticas de Zeng Fanzhi. Depois do Louvre, o n.º 6 da “Mask Series” está no Regency Hotel

[dropcap style≠’circle’]“F[/dropcap]usão” é o nome do certame do Polly Auction que, pela primeira vez, conta com a colaboração entre as delegações de Hong Kong e de Macau. Com a iniciativa, a cargo de Sabrina Ho, pretende-se mostrar o que de melhor se faz na arte moderna e contemporânea chinesa. A ideia é partilhar entre os dois territórios a arte, em exposição e de olhos postos no mercado, que se faz no Continente.

Em Macau a “Fusão” acontece no Regency Hotel com a mostra de um dos nomes mais importantes da expressão plástica chinesa da actualidade, Zeng Fanzhi. Depois de passar pelo Louvre, o n.º 6 da colecção “Mask Series” está até 5 de Abril no átrio do Regency para quem o quiser apreciar.

A pintura a óleo sobre tela, de larga escala, data de 1996. Três anos antes, Zeng mudou-se para Pequim e “sobreviveu num tempo de grandes mudanças”, lê-se no catálogo do evento. Terá sido a dinâmica histórica que o incentivou à realização da série. Marcado pelo expressionismo que já caracterizava o seu trabalho, “exagera na proporção das mãos e da cabeça, enquanto esconde expressões por detrás das máscaras, brancas e frias, que sorriem”.

Ao contrário dos primeiros quadros da série, em que as personagens apareciam bem vestidas e com ar contemporâneo, o n.º 6 é o primeiro trabalho que “envolve a narrativa de uma terceira pessoa na elaboração de uma perspectiva individual”. Situa-se já longe de uma experiência pessoal, mas “permanece nas memórias de quem a viveu de perto e remonta à juventude da Revolução Cultural”. “As máscaras, os sorrisos, os corpos e os contrastes compõem uma imagem íntima e cheia de hipocrisia”, ilustra a organização. A obra de Zeng Fanzhi vai a leilão, mas não é revelado o valor de licitação.

Obras preciosas

Já os restantes cinco trabalhos que integram o evento deste ano, e que vão estar em exposição no Grand Hyatt Hong Kong. de 1 a 4 do próximo mês, perfazem uma base de licitação de quase cinco milhões de dólares americanos. O conjunto é constituído por obras de Zao Wou-Ki, Wu Guanzhong, Chu Teh-chun, Li Keran e Xu Beihong.

De Zao Wou-ki é a tela “06.02.74”, que marca uma ruptura dentro do trabalho do artista. Produzido após a morte da segunda mulher, é uma obra que deixa para trás o recurso às cores ricas que marcavam os trabalhos do mesmo período. “06.02.74” é considerado um quadro de transição técnica que revela “uma composição complexa, traços dinâmicos e uma gradiente delicada de cores, num trabalho clássico que integra a pintura a óleo do Ocidente e o a tinta do Oriente”, lê-se na apresentação.

“Reclining” de Wu Ganzhong data de 1990 e é dedicado à expressão do nu, tema pelo que o artista é também conhecido e que marca “a primeira metade do seu período criativo”. Wu Ganzhong diz ter percebido, enquanto jovem estudante em França, que “toda a beleza plástica está relacionada com o corpo humano”. A partir desse momento, as suas obras passaram a retratar a nudez de forma a conceber paisagens. Foi esta abordagem que fez com que todos os seus trabalhos viessem a ser queimados durante a Revolução Cultural. “Reclining” é um regresso às origens produzido já com 72 anos de idade, motivo que tem levado à sua exibição por todo o mundo.

A utilização de tons de azul é o mote para “Summer”, de Chu Teh-Chun, na representação de profundidade espacial. A ideia é a “perseguição da evolução da natureza, mais do que a combinação de elementos abstractos”.

Das cinco obras presentes em Hong Kong, “Summer Mountains” de Li Keran tem a base de licitação mais valiosa. Com um valor inicial acima dos dois milhões de dólares americanos, é um “exemplo excepcional de estética da paisagem” do artista. Datado de 1986, já na final de carreira, o clássico da pintura chinesa combina técnicas orientais com ocidentais para a expressão “de uma atmosfera poética na representação de bosques e montanhas”.

De 1939 é “Standing Horse” de Xu Beihong. O quadro foi criado durante a guerra sino-japonesa em que o artista foi também activista, empenhado na recolha de donativos. De acordo com a organização, “Standing Horse” é uma obra particularmente importante porque representa uma das maiores especificidades de Xu Beihong na pintura de cavalos, ao mesmo tempo que é uma representação simbólica da força chinesa”.

28 Mar 2017

Curta-metragem “Uma Ficção Inútil” volta a ser distinguido

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]om apenas uma curta-metragem Kin Man Cheong, realizador e antropólogo de Macau, ganhou um punhado de prémios, obtidos em vários festivais de cinema pelo mundo fora. Recentemente “Uma Ficção Inútil” obteve o seu sexto e sétimo prémio na Índia, onde foi considerado o Melhor Filme Documentário no Festival de Curtas-metragens e Documentário Atarva, em Bombaim. O filme ganhou ainda o prémio da Melhor Montagem no Festival de Cinema Mundial da Índia, em Hyderabad.

Em entrevista por e-mail ao HM, Kin Man Cheong mostra-se surpreendido com tantos prémios. “A curta-metragem já tinha obtido algum sucesso entre 2014 e 2016. Não esperava que a Índia me desse mais dois prémios, parece-me bastante positivo.”

“Uma Ficção Inútil” foi um trabalho que Kin Man Cheong desenvolveu para concluir o mestrado em Antropologia Visual na Universidade Livre de Berlim, Alemanha. “Foi de certa forma um diário visual, íntimo, que não pretendia mostrar ao público”, apontou.

Para este ano estão ainda agendadas mais viagens para “Uma Ficção Inútil”. A curta-metragem será reproduzida amanhã na Universidade Livre de Bruxelas, seguindo-se a galeria LemoArt, em Berlim, Alemanha, já em Abril. Há ainda passagens por Colónia, em Maio, no círculo de conferências “Estética, Média e Culturas na China” da Universidade de Colónia, pela Macedónia e Paris, entre outros locais.

A frequentar o doutoramento na mesma área, Kin Man Cheong pretende “aprofundar as investigações sobre a auto-etnografia”, estando a preparar um novo filme para a conclusão desta fase de estudos.

Para além disto, Kin Man Cheong está a preparar uma “ficção auto-biográfica” do seu pai. “Começa na véspera da Revolução Cultural e termina com a sua emigração clandestina da República Popular da China para Macau”, contou.

Uma casa necessária

Esta semana é inaugurada oficialmente a Cinemateca Paixão, (ver texto principal), uma iniciativa do Instituto Cultural (IC) aplaudida por Kin Man Cheong. “Fico contente com o facto de o projecto estar bem encaminhado, embora se pudesse ter começado a desenvolver esse mesmo projecto mais cedo”, defende.

“A cinemateca pode ir muito longe em termos de divulgação do cinema produzido em Macau, tanto dentro do território, como também no exterior. Existem no resto do mundo mil possibilidades à nossa espera. Agora coloca-se a questão: como aproveitar estas oportunidades?”, questiona ainda.

Sendo da área da antropologia visual, Kin Man Cheong assume conhecer “mal a indústria cinematográfica”, mas acredita que “poderia ser muito útil um ‘film board’, que ainda não temos”.

Kin Man Cheong defende que a iniciativa do IC pode ser um óptimo ponto de partida para a dinamização da produção cinematográfica local, mas afirma que é necessário apostar na desburocratização em termos de apoios financeiros a películas locais. “Seria importante haver maior flexibilidade no processo burocrático para aprovação desses apoios.”

“Com a política de promoção e apoio aos projectos relacionados com Macau, podemos facilmente limitar-nos a temas ou conteúdos que têm de alguma maneira a ver com a região administrativa especial. Macau, e as perspectivas que de lá vêm, são igualmente interessantes. No entanto, não é só com as cenas referentes a Macau que podemos classificar um projecto que seja de interesse para o território. Qualquer trabalho, de qualquer natural macaense, ou de outra pessoa que simplesmente se tenha estabelecido aqui na terra, poderá ter um impacto positivo na sua área”, conclui.

27 Mar 2017

Cultura | Cinemateca inaugurada na próxima quinta-feira

O cinema está prestes a ter uma nova casa. Quinta-feira é inaugurada a Cinemateca Paixão e, como não poderia deixar de ser, o foco do primeiro dia de actividade será o cinema produzido em Macau

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]a próxima quinta-feira abre um espaço novo dedicado à sétima arte: a Cinemateca Paixão. Localizada no coração da cidade antiga, perto das Ruínas de S. Paulo, na Travessa da Paixão, será mais um pólo de atracção turística. “A localização é também conveniente para os turistas que queiram cá vir”, explica Rita Wong, directora da cinemateca. Acrescenta ainda que “de dois em dois fins-de-semana haverá algo que tenha Macau como tema”. Outro incentivo extra do espaço que fica sob a tutela do Instituto Cultural (IC) é o facto destes eventos terem entrada livre.
A cerimónia de inauguração da Cinemateca Paixão é na quinta-feira, às 18:45, e terá como prato principal a apresentação de três curtas-metragens de três realizadores de Macau. Os cineastas escolhidos para apadrinhar a nova casa da sétima arte são Tracy Choi, Chao Koi Wang e António Faria. Na mesma noite realiza-se ainda uma sessão destinada aos cineastas de Macau, de forma a abrir, oficialmente, um novo capítulo na indústria cinematográfica do território.
A abertura ao público será na sexta-feira, mas para o dia da inauguração Rita Wong pretende algo que “seja divertido e que sirva para conectar as pessoas do ramo”.
A casa do cinema encerra às segundas-feiras, mas “abre todos os outros dias, incluindo nos feriados, com portas abertas das 10 da manhã às 11 da noite”, conta a directora.

Casa de filmes

A cinemateca está instalada num edifício de três andares, multifuncional, habilitado a ter vários propósitos. Como é natural, vão ser projectados filmes, e haverá um espaço para o armazenamento de vídeos locais. Além disso, o local terá zonas dedicadas para a leitura de livros e revistas da especialidade. “É uma área para quem queira estudar cinema e, além da sala que reúne documentação sobre cinema, vamos também coleccionar publicações sobre Macau”, revela Rita Wong.
No que diz respeito à organização do espaço é de referir que a bilheteira é no rés-do-chão, onde se encontram também uma sala de projecção e outra de controle. A sala de documentação de material cinematográfico está situada no primeiro andar do edifício.
Com uma periodicidade mensal, a Cinemateca organizará festivais de cinema temático e programas como o “Realizador em Foco”. Também todos os meses, o espaço irá estrear dois ou três filmes provenientes de todo o mundo.
Com a intenção de promover a sétima arte em Macau, o local irá apresentar durante dois fins-de-semana por mês duas longas, ou curtas, metragens produzidas localmente. A mostra do cinema local insere-se no programa “Descobrir Macau: Produções Independentes Locais Revisitadas”, que pretende dar visibilidade aos cineastas do território.
Rita Wong explica ainda que a Cinemateca Paizão terá igualmente um programa de “workshops e conferências relacionados com cinema”. É de salientar que a gestão e programação do espaço estará a cargo da Cut Lda.
A inauguração deste equipamento marca um novo capítulo na promoção de filmes locais no exterior, assim como o impulsionamento da cultura e arte cinematográfica entre a população do território. Rita Wong acrescenta que a Cinemateca Paixão nasce com o intuito de “ser uma plataforma de intercâmbio entre a audiência, cineastas e também turistas”. No fundo, o cinema passa a ter uma casa em Macau, para a qual todos estão convidados.

27 Mar 2017