Instituto Internacional de Macau: Henrique d’Assumpção ganha Prémio Identidade

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s órgãos sociais do Instituto Internacional de Macau deliberaram atribuir o Prémio Identidade do ano de 2017 a Henrique d’Assumpção, mais conhecido por Quito entre os amigos, pela sua muito relevante contribuição para a preservação do património e da identidade macaense, disseminando a sua genealogia, história e cultura, no espaço cibernético, em Português e Inglês.

Natural de Macau, donde jovem partiu para prosseguir estudos na Austrália, “Quito” d’Assumpção desempenhou funções de relevo no Governo daquele País, com uma invejável folha de serviços e vários títulos e comendas honoríficas. Depois de se ter aposentado da vida académica como Professor Emérito da Universidade de South Australia, passou a dedicar-se de corpo e alma, nos últimos 20 anos, a criar um repositório permanente para a preservação de registos culturais e históricos dos macaenses e, apesar dos seus outros inúmeros compromissos profissionais e oficiais, conseguiu recolher e disponibilizar um grande acervo de dados.

Ampliando a documentação existente sobre a genealogia das famílias macaenses, enriquecendo-a com milhares de fotografias e variadas outras informações, coligindo mais de 200 receitas da culinária macaense, reunindo versos, um léxico e áudio do velho dialecto de Macau; logrou digitalizar esses elementos numa plataforma electrónica com documentação biográfica relativa a mais de 55.000 nomes, e preparou o desenvolvimento dessa base “indefinidamente para o futuro”, sem perseguir fins pessoais e num esforço digno dos maiores encómios.

O Prémio Identidade, instituído desde 2003, decidido por deliberação de todos os órgãos sociais do IIM, visa galardoar pessoas ou instituições que, de forma continuada, hajam contribuído para o reforço e valorização da identidade macaense. Entre os contemplados incluem figuras como o Monsenhor Manuel Teixeira, Henrique de Senna Fernandes, Arnaldo de Oliveira Sales, e instituições, tais como a Diocese de Macau, a Santa Casa da Misericórdia, a Universidade de Macau, a Escola Portuguesa de Macau e outros organismos, locais e do exterior, ligados à diáspora macaense.

28 Dez 2017

Birmânia: Livro desvenda presença portuguesa mais de 500 anos depois

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s antepassados chegaram entre 1510 e 1512. Hoje, não têm um nome português, nem sabem onde fica Portugal, mas dizem-se portugueses. Esta certeza está em histórias contadas oralmente desde que os exploradores portugueses aportaram à Birmânia. A história é contada no livro de James Myint Swe, “Cannon Soldiers of Burma”, cuja versão portuguesa vai ser lançada em Portugal e em Macau, no primeiro trimestre de 2018, pela Gradiva e a Macaulink, com o apoio do Instituto Internacional de Macau.

“É extraordinário que, na mesma zona onde os portugueses se estabeleceram pelo ano de 1633, em Ye U, uma localidade situada entre os rios Chindwin e Mu [norte da Birmânia], as populações continuem a sentir-se portuguesas”, sem qualquer contacto e a mais de nove mil quilómetros de distância, contou o autor à Lusa. “Não se sabe ao certo a dimensão destas populações… cerca de 200 a 300 pessoas por aldeia, o que nas localidades maiores poderá ir até às duas/três mil. As autoridades estão a tentar fazer um levantamento para saber quantas aldeias existem e quantas pessoas ali vivem”, acrescentou James Swe, que nasceu Chan Tha Ywa, na zona de Ye U, em 1947.

As pessoas desta zona “parecem europeus, o cabelo e a pele são mais claros, alguns têm olhos verdes” e são maioritariamente católicos, disse, lembrando que, nos anos 1970, o Governo não reconhecia esta população como birmanesa. “Para o Governo, erámos estrangeiros”, afirmou o autor, formado em ciência política pela Universidade de Western Ontario, Canadá.

À medida que a aposta das autoridades no ensino cresce no país e que os acessos à zona melhoram, os elementos mais jovens destas comunidades deslocam-se para as cidades para entrar nas escolas e “esta relação com Portugal começa a perder-se”, alertou James Swe, a residir no Canadá desde 1976.

Mas este afastamento já vem de longe e está retratado na declaração atribuída pelo investigador ao capitão António do Cabo que, em 1628, em Ava, no norte birmanês afirmou: “Muitos de nós nascemos em Portugal, ou pelo menos em Goa [Índia]. Passámos muitos anos aqui na Birmânia. Sempre nos sentimos como prisioneiros, ou hóspedes, ou visitantes. Agora chegou a altura de aceitar que a Birmânia é o nosso país. Ainda somos portugueses, mas nunca voltaremos a ver Portugal. Alguns de vós nunca viram”.

O objectivo deste livro, com primeira edição em inglês em 2014, era divulgar a história dos portugueses no país e, ao mesmo tempo, o papel de exploradores, comerciantes e soldados vindos de Portugal a partir do século XVI na estrutura actual da Myanmar, disse. “Com as armas que trouxeram e as alianças que cimentaram com os reinados Mon, Arakan [Rakhine, na atualidade] e Bama/Birmanês, os portugueses foram determinantes na construção da actual Birmânia”, sublinhou James Swe.

Os 300 anos que medeiam entre a chegada dos portugueses (1500) e os ingleses (1800) foram quase eliminados da história oficial do país, acrescentou. “Eu só conheci estas histórias porque, durante as férias do verão, os meus avós falavam da vida de Paulo Seixas ou Luísa de Brito”, afirmou sobre alguns dos longínquos protagonistas de guerras, alianças, traições e comércio no país, que faz fronteira com a China, o Bangladesh, o Laos e a Tailândia. “Foi no Canadá que descobri que a História e aquilo que os meus familiares contavam coincidiam”, disse, sublinhando as dificuldades de estender a pesquisa aos arquivos birmaneses, fechados desde 1962 pelo regime militar.

Para James Swe, é “altura de reaproximar os dois países”, num momento em que a Birmânia precisa de consolidar a implantação do regime democrático, depois da vitória eleitoral da Liga Nacional para a Democracia (LND), em 2015. A Birmânia é uma terra rica e de oportunidades de negócios. “Os empresários portugueses podiam começar com pequenos negócios, como restaurantes, e depois expandir para outras áreas”, considerou James Swe, cujas pesquisas se estenderam por dez anos, entre o Reino Unido, o Canadá e Portugal.

Impedido de entrar nos últimos 40 anos na Birmânia, Swe contou com a ajuda de amigos e familiares no país para investigar a história dos seus ancestrais. Neste período, voltou pela primeira vez a Myanmar, em 2012.

27 Dez 2017

Macau em destaque em ciclo de cinema em Lisboa

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap]   ciclo “Cinema Macau, passado e presente” é o evento que pretende levar à tela da Fundação Oriente um conjunto de filmes acerca do território. O objectivo é “desvendar a pluralidade de olhares sobre Macau durante o século XX bem como após a transição para a administração do território pela China”, lê-se em comunicado enviado à comunicação social.

Neste ciclo, com a curadoria da jornalista e crítica de cinema Maria do Carmo Piçarra, são revelados filmes do Arquivo Nacional de Imagens em Movimento (ANIM), da Rádio e Televisão de Portugal (RTP) e do Centro de Audiovisuais do Exército (CAVE).

Em sete sessões temáticas, entre 7 de Janeiro e 18 de Fevereiro, a programação começará por apresentar a percepção, durante o Estado Novo, de realizadores portugueses – tanto amadores (Antunes Amor) como profissionais que serviram a propaganda (Ricardo Malheiro) – sobre Macau, contrapondo imagens fixadas por cineastas estrangeiros ao serviço do regime, como Miguel Spiguel e Jean Leduc. A mostra inclui o olhar de Manuel Faria de Almeida, um dos fundadores do Novo Cinema português que, posteriormente, ajudou a criar a Televisão de Macau, sobre a antecipação das angústias dos residentes no território com a perspectiva da transição da soberania.

Os dias de hoje

Em contraponto a estas visões, apresenta-se a perspectiva contemporânea de jornalistas e das novas gerações de realizadores portugueses, que viveram ou visitaram (Guerra da Mata / João Pedro Rodrigues) ou vivem (Ivo Ferreira) no território, e o de uma realizadora sérvia (Nevena Desivojevic), que filmou, em Lisboa, a rememoração da vivência em Macau.

O ciclo integra ainda investigações filmadas, assinadas por jovens jornalistas portugueses (Filipa Queiroz e Hélder Beja), que relevam traços da presença portuguesa durante o século XX.

“Cinema Macau” fixa, finalmente, as inquietações, as aspirações e a sensibilidade da primeira geração de realizadores de Macau. Recorrendo a linguagens que vão do ensaio visual à animação, e usando sobretudo o formato da curta-metragem, os novos filmes feitos em Macau, entre outros, por Albert Chu, Leong Kin, Cobi Lou, Hong Heng Fai, Cheong Kin Man e Tracy Choi – de quem será apresentada também a longa-metragem “Irmãs” (Sisterhood) – reflectem as mudanças na paisagem, física e humana. De acordo com a organização, “aqui, os vestígios coloniais servem um certo onirismo e nostalgia, e evidenciam o paralelismo entre o crescimento da ilha e a multiplicação das imagens desta – e do mundo – numa sociedade de ecrãs”.

20 Dez 2017

José Drummond apresenta amor e a morte na Casa Garden

“There´s a light that never goes out” é a principal peça de José Drummond exposta na Casa Garden e traz ao público uma oportunidade de integrar a própria instalação. Tudo tendo por base a canção dos “The Smiths”  que dá nome à obra e reflecte o lado negro e romântico da existência

 

[dropcap style≠‘circle’]U[/dropcap]m dos mais famosos temas da banda britânica “The Smiths” dá nome à principal peça que José Drummond apresenta na exposição patente desde quarta-feira, na Casa Garden. “There´s a light that never goes out” é uma das três peças do artista local e, para fazer jus ao nome, trata-se de uma instalação com “uma componente de som em que há uma espécie de adaptação à música dos smiths”, conta ao HM.

José Drummond é acima de tudo artista plástico mas não menospreza o poder e importância da música e dos sons. “A música tem esta grande vantagem, está em todo o lado, e não precisa exactamente de significado porque nos atinge de uma forma muito directa”, explica.

Para Drummond é difícil o desligar do som, mais até do que da imagem. “Os olhos são autónomas e podemos fechá-los, sem ajuda de nada, já os ouvidos são diferentes, não os podemos fechar sem pelo menos recorrer a ajuda das mãos”, diz. É por isso que Drummond considera que “o som nos atinge de maneira diferente, de uma forma mais intensa do que a visão”

Poderá tratar-se ainda de pureza. “A visão, se calhar, é muito mais intelectual e perde muitas vezes a questão do significado mas gosto de coisas que nos possam criar emoções sem que tenhamos forçosamente de dizer mais ou explicar mais, e a  música tem realmente este dom”, aponta ao HM.

Por outro lado, a escolha do tema em causa foi muito ponderada. Apreciador de poesia, “There´s a light thet never goes out” é, afirma, “um dos poemas mais belos daquela banda”. Mesmo dentro daquilo a que chama clichés, é mais um tema “com uma forte componente negra que remete sempre para a esperança”. “Há aqui uma sensação de esperança mas depois a letra em si é fala de morte e amor. Não há coisa mais bonita do que isso e é esta ambiguidade que me atrai muito”, conta.

 

Um híbrido maior

Tratando-se de uma instalação, José Drummond fala ainda da sua forte componente híbrida aplicável tanto à obra como ao artista. “O meu trabalho vive muito de híbridos, a começar pela minha própria condição: sou um português ocidental em Macau, que bebe influencias do sitio onde vive, ou seja, tudo o que sai de mim já é um produto híbrido que vive na fractura das duas culturas e que não é uma coisa oriental mas também quase que já não é ocidental, muitas vezes”, explica.

O mesmo se pode dizer da forma como José Drumund sente que trabalha a imagem, “em que a fotografia parece pintura mas não é”.

Nesta instalação há ainda uma espécie de diálogo que, para José Drummond “se expressa de uma forma muito teatral porque há uma coreografia, com a luz”.

Mas a contracena passa ainda pelo público em que “o visitante é corpo integral da peça e com a sua participação, a peça ganha outro sentido, ou seja, os protagonistas neste momento são as pessoas quando estiverem dentro da peça”, conta. O objectivo não é ter a concordância do público ou mesmo o agrado, até porque uma das tarefas dos artistas plásticos passa não só por tentarem inscrever as suas ideias naquilo que fazem como tentarem ter um debate com o público e mesmo acabarem por recusarem a sua obra”.

 

Fora da parede

É também esta mistura entre público, obra e artista que marca os tempos contemporâneos das mostras. Chegou a hora de sair da parede a arranjar novos suportes. “Uma das coisa mais importantes, especialmente nos dias de hoje, é que nós enquanto artistas consigamos ter propostas de exposições diferentes e que vão além dos quadros na parede. É necessário que consigamos criar outros espaços, outros mundos que não fiquem reduzidos à banalidade do quadro na parede”, refere.

“There Is a Light That Never Goes Out” integra a participação de Drummond na exposição “A luz na alma – Exposição de Luz de Macau” que conta ainda com as participações dos trabalhos de João Ó e James Chu. José Drummond participa com mais duas peças em néon vermelho: “Each man kills the things he loves”, de Oscar Wilde e “Find what you love and let it kill you” do poeta norte-americano Charles Bukowski.

As peças integram a exposição “A luz na alma – Exposição de Luz de Macau” integra o festival da luz que se comemora no território e traz ao publico peças de João Ó, James Chu e José Drummond.

20 Dez 2017

Exposição | O legado de José Maneiras, o arquitecto da primeira geração

Quando Manuel Vicente chega a Macau pela primeira vez, em 1962, José Maneiras acabava de se licenciar no Porto. Ambos foram os grandes responsáveis pela introdução da escola da arquitectura moderna do ocidente. A obra do homem que “não faz cedências ao comercialismo” e que, como tal, “é respeitado” será recordada em 2018 com uma exposição da Docomomo, intitulada “José Maneiras – Um Macaense Moderno”

 

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]osé Maneiras, nascido em Macau em 1935, sabe que os seus colegas de profissão, ligados à associação Docomomo, vão recordar a sua obra em Março do próximo ano, com uma exposição, mas não quer falar sobre isso.

Se o autor não fala sobre si mesmo, convidamos outros colegas a falar de si. Hoje mais afastado dos grandes projectos e encomendas, o trabalho de José Maneiras permanece importante por marcar a introdução da arquitectura moderna europeia em Macau e por fazer parte de uma primeira geração de profissionais vindos de Portugal.

Maneiras licenciou-se em arquitectura na Escola Superior de Belas Artes do Porto e chegou a Macau em 1962, numa altura em que não havia arquitectos profissionais.

Sérgio Spencer, arquitecto ligado à Docomomo e um dos responsáveis pela exposição, disse ao HM que José Maneiras “é um dos principais actores daquilo que foi a modernização da cidade de Macau, com a introdução de um tipo de arquitectura.”

“Ele é um homem da terra que vai fazer os seus estudos em Portugal e ganha essa dimensão das visões modernas e contemporâneas que se tinham implementado na Europa e nos Estados Unidos”, acrescentou Spencer, que adianta que essas correntes que então se notavam nos edifícios do ocidente visavam, sobretudo, o funcionalismo.

“Ele fez muitos edifícios residenciais. O seu estilo de arquitectura está virado para o sentido funcionalista, pragmático, muito eficaz, na linha daquilo que era um dos princípios do movimento moderno: o de considerar um edifício como uma máquina”, frisou.

Numa altura em que a maioria dos projectos eram desenhados por engenheiros ou outros profissionais de construção civil, José Maneiras soube fazer “uma relação interessante” entre aquilo que aprendeu na faculdade e o que era a cultura local ao nível da construção.

“Ele tem um estilo muito próprio, mas soube integrar os princípios na prática local. Foi isso que nos moveu um bocado, tentar trazer esta exposição ao público”, referiu Sérgio Spencer.

Num artigo da autoria da académica Ana Vaz Milheiro, em parceria com Hugo Morais Coelho, é referido que Maneiras foi dos poucos arquitectos que ficou em Macau em 1966, após uma vaga de saída de arquitectos portugueses, tendo fundado o seu atelier no ano seguinte.

André Ritchie, arquitecto que também fez a sua formação superior no Porto, teve professores que foram colegas de José Maneiras. “Trata-se da primeira geração e foi um dos primeiros arquitectos que foram estudar para Portugal e que voltaram com o canudo na mão. Isto numa altura em que se ia para Portugal ainda de barco, e ainda hoje José Maneiras conta essa história. Como pessoa foi sempre uma espécie de ídolo.”

Menos exuberante que Manuel Vicente

Vindo de Goa, Manuel Vicente chegou a Macau em 1962, tendo vivido no território até 1966. O seu trabalho cruza-se com o de José Maneiras, mas jamais se diluem.

“Antes do Manuel Vicente foi José Maneiras que deu a Macau edifícios bonitos e que pensou a cidade”, recordou Carlos Marreiros. Apesar de terem feito “alguns planos em conjunto”, “o legado de ambos é diferente”.

“O Manuel Vicente era exuberante, tinha uma arquitectura bastante festiva, muito criativa. O José Maneiras é da escola do Porto, e era muito comedido, muito modernamente minimalista, tinha características dessa escola. A sua arquitectura era competente, funcional, bonita, mas não era muito festiva.”

Sérgio Spencer afirma que “numa fase muito inicial a obra de Manuel Vicente aproxima-se, de alguma maneira, da obra de José Maneiras”.

“Eram amigos, davam-se bastante bem um com o outro, e ainda hoje entendemos isso nas suas palavras, mas do ponto de vista da linguagem arquitectónica, a maneira como abordavam a arquitectura e a questão da construção, não creio que passasse muito da obra de um para o outro”, concluiu.

A degradação inevitável

Uma vez que José Maneiras começou a projectar a partir de meados dos anos 60, os seus edifícios têm hoje guardados as marcas do tempo, sem manutenção e com desgaste, à semelhança de outros exemplares da arquitectura modernista em Macau. Contudo, ainda têm o seu papel no tecido urbano.

Isso acabou por dificultar a escolha das obras para mostrar ao público nesta exposição, pois José Maneiras não tem um espólio organizado. Visitas realizadas e conversas com o arquitecto ajudaram a Docomomo em todo o processo.

“A maior parte das obras de José Maneiras estão muito destruídas. A arquitectura está um bocado delapidada, com gaiolas, e não tem a manutenção feita”, disse Sérgio Spencer.

Tanto Carlos Marreiros como André Ritchie falam do complexo de edifícios habitacionais em frente ao Clube Militar, escondidos com a grandiosidade do Grand Lisboa.

“Esse edifício merecia ser renovado porque é um exemplo do modernismo em Macau”, lembrou André Ritchie, que referiu também a maneira como José Maneiras incorporou a ventilação transversal nos seus edifícios.

“Não havia a abundância do ar condicionado que há hoje. Essa preocupação reflecte-se depois na fachada dos exteriores dos edifícios”, adiantou.

“Hoje é um edifício que está muito degradado e as pessoas nem reparam”, acrescentou Carlos Marreiros. “Com o que se construiu à volta deixou de ter leitura. É um edifício que conheço desde a minha juventude, tem um desenho contido mas com muita qualidade.”

Maneiras trabalhou ainda, a título de exemplo, no projecto de requalificação da praça do Tap Seac, ao lado de Marreiros e do engenheiro civil José Chui Sai Peng, tendo também coordenado a equipa projectista do reordenamento viário da rotunda Carlos de Assumpção.

Membro honorário da Ordem dos Arquitectos em Portugal, um dos fundadores da Associação dos Arquitectos de Macau, em 1987, José Maneiras teve também um papel político, tendo sido presidente da Câmara Municipal do Leal Senado, cargo que ocupou entre 1989 e 1993. Isso deu-lhe ferramentas para conhecer um outro lado do território.

“Maneiras é um profundo conhecedor da cidade. Não é uma pessoa que faça cedências ao comercialismo, e como tal é respeitado”, frisou Carlos Marreiros.

Carregando consigo inúmeras histórias da terra que o viu nascer, José Maneiras foi o responsável por transmitir a André Ritchie uma delas, no âmbito de um projecto recente em que ambos trabalharam.

“Tivemos de deslocar um monumento da diáspora macaense, na sequência de uma obra do Gabinete de Infra-estruturas. Esse monumento celebra a diáspora macaense e quando os macaenses saíam de Macau iam de barco, não de avião, tal como José Maneiras o fez, e saía-se da Barra. A última coisa que um macaense via era o Templo de A-Má”, contou o arquitecto.

O trabalho de uma vida de José Maneiras poderá ser visto em Março no pavilhão do jardim Lou Lim Ieok. Sérgio Spencer garantiu que o objectivo é mostrar a importância do seu trabalho a todos.

“Gostaríamos que não fosse [uma exposição] muito direccionada para arquitectos, que fosse uma coisa virada para o público e até para a comunidade chinesa. Batalhamos um pouco para ter um espaço expositivo que não fossem os sítios tradicionais das exposições onde só vão turistas e gente erudita. Estamos contentes por termos feito a exposição no pavilhão do Lou Lim Iok”, rematou.

19 Dez 2017

Prémios | Primeiro filme de realizadora italiana vence festival de cinema

Dos 11 filmes em competição, apenas seis saíram da segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau premiados. A cerimónia decorreu ontem e o galardão para o melhor filme foi entregue à jovem realizadora Natalia Garagiola, com o filme “Hunting Seoson”. Os dramas familiares levaram a melhor no que respeita à angariação de estátuas, mas o juro fez questão de sublinhar a qualidade de todos os trabalhos cinematográficos seleccionados para competição

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] galardão para o melhor filme da segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau foi para o drama familiar filmado na Patagónia, “Hunting Season”. A primeira longa metragem da jovem realizadora italiana, Natalia Garagiola conquistou o júri.

Para Natalia Garagiola, o facto de ter sido reconhecida em Macau pode vir a ter um papel de peso na sua carreira. Está neste momento a trabalhar no seu segundo filme, ainda sem nome mas que trata “da vida de uma médica que se debate entre o medo e a ciência e que pode vir a ter, com o reconhecimento, mais facilidade em ser financiado”, referiu aos jornalistas após a cerimónia de ontem de entrega de prémios”. A película vencedora conta a história de Nahuel que regressa a casa do pai, Ernesto, um respeitado caçador da Patagónia argentina. Nahuel é acolhido numa nova família que o despreza e está agora com um pai que o abandonou e não traz boas memórias do passado onde o filho se insere. É, no entanto, numa caçada que os dois, sozinhos na imensa Patagónia, têm oportunidade de se reencontrar. As filmagens, todas feitas em ambiente natural tiveram, as suas complicações, na sua maioria associadas às dificuldades em trabalhar com o frio que se fazia sentir, referiu a realizadora.

O filme em competição da China também foi destacado. “Wrath of silence” do realizador natural da Mongólia Interior, Yukun Xin arrecadou os prémios do júri e de melhor actor atribuído a Song Yang. Song Yang faz o papel de um pai mineiro que procura o filho desaparecido e acaba por se confrontar com o submundo ligado à corrupção da exploração mineira.

Sofia Margarida Mota

Prémios repetidos

Já o francês Xavier Legrand levou o prémio para o melhor realizador com “Custody”. A premiação não é uma novidade para Legrand que apesar de ser conhecido pelo seu trabalho de actor de teatro, com “Custody”, a sua primeira longa metragem, foi já galardoado com o prémio de melhor realizador no Festival de Veneza no passado mês de Setembro. O filme que trata dos dramas de uma criança filha de pais separados e que se vê como alvo de luta pela custódia. O papel interpretado por Thomas Goria, valeu ao jovem actor o prémio para o melhor actor jovem revelação da segunda edição do evento internacional.

“Beast” do britânico Michael Pearce, depois de ter créditos ganhos nos BAFTA ed estreado na secção “Plataforma” Toronto International Film Festival deste ano, leva também duas estatuetas para Inglaterra.

O filme que trata da história de Moll Huntford, uma jovem de 27 anos que vive na ilha de Jersey, ao largo da costa da Inglaterra e se apaixona por um suspeito de ser assassino em série, ganhou o prémio de melhor contribuição técnica e de melhor actriz. No que respeita à contribuição técnica, o sector premiado foi a fotografia de Benjamim Keacun, enquanto a actriz premiada foi Jessia Buckley.

O argumentista e realizador israelita Samuel Maoz ganhou o prémio de melhor argumento com o filme “Foxtrot”. Samuel Maoz aos 13 aos já filmava em 8mm e aos 18 anos contava com vários filmes feitos quando foi obrigado a integrar o exército e destacado para  a guerra no Líbano. O seu primeiro filme, “Lebannon” ganhou, em 2009 o Leão de Ouro em Veneza e “Foxtrot” arrecadou, este ano, também o prémio do júri no mesmo evento.

Já o público de Macau escolheu como vencedor do festival a história dos tenistas Björn Borg e Joe McEnroe. A produção sueca do realizador galardoado pela crítica em Cannes com o filme “Armadillo” em 2010, Janus Metz trouxe ao grande ecrã os bastidores do campeonato de Wimbledon de 1980.

É tudo bom

Uma selecção de filmes com muita qualidade, foi a afirmação do júri para descrever as 11 películas que estiveram em competição nesta segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau.

O cineasta francês que presidiu ao júri, Laurent Cantet, miostrou-se impressionado. “São filmes de realizadores muito novos e que já apresentam uma qualidade invulgar”, afirmou em conferência de imprensa após a entrega de prémios.

Já o escritor Lawrence Osborne manifestou um sentimento comum por parte do júri relativamente à escolha do filme vencedor. “Todos sentimos que “Hunting Season” trazia alguma coisa de particular, que estava muito bem construído e contava com interpretações incríveis por parte destes jovens actores”, referiu. Para o também membro do júri tratava-se de uma película que aborda de uma forma cuidadosa e original a relação entre um pai e um filho.

Apesar de mais de metade dos filmes em competição não arrecadar nenhum tipo de prémio, Cantet fez ainda questão de notar que “não foi por falta de qualidade”.

 

Udo Kier regressa como júri para o ano

O prémio de carreira foi dado ao actor que já conta com participação em mais de 200 filmes ao longo dos seus 50 anos de carreira. Udo Kier, não se mostrou surpreendido com o prémio mas sim, com a qualidade dos filmes a que assistiu no festival. Para o actor de “Blade”, “Armagedon” ou “Drácula”, “é bom estar num festival que salienta o talento de jovens realizadores e que aposta no cinema independente”, disse. Udo Kier adiantou ainda que para o ano vai regressar ao território e com funções definidas: vai integrar o júri da terceira edição do Festivalk Internacional de Cinema de Macau.

Festival vai ter novas secções

A próxima edição do Festival Internacional de Cinema vai ter novidades. Entre elas está a criação de uma secção dedicada ao cinema asiático e de países de língua portuguesa, A informação foi deixada pela directora dos Serviços de Turismo, Helena de Senna Fernandes, à margem da cerimónia de entrega de prémios da segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau. “Já tive uma reunião com o director artístico Mike Goodridge, e com o nosso embaixador deste ano, o realizador Shekar Kapur, e já estamos a preparar as edições futuras. Há a possibilidade de criar uma secção para a Ásia e uma para os países de língua portuguesa”, referiu a responsável. Por outro lado, estão na agenda melhorias. “Vamos ainda tentar perceber os pontos fracos em que ainda temos de fazer melhorias mas ouvi muitos elogios a esta edição”, apontou Helena de Senna Fernandes. Este ano o festival teve algumas alterações relativamente à edição anterior e a aposta em filmes de jovens realizadores vai se manter. “Fizemos uma grande mudança em termos de regulamento para os filmes em competição e a partir deste ano só podem entrar na corrida filmes que sejam o primeiro ou segundo trabalho do realizador”, começou por dizer, sendo que considera que a resposta a esta mudança foi muito positiva. “Esta acção teve um bom feed back por parte da indústria porque somos um evento novo é bom ter esta associação com os jovens realizadores”, apontou Helena de Senna Fernandes.

 

Vencedores

Melhor Filme – “Hunting Season” de Natalia Garagiola

Melhor realizador – Xavier Legrand com “Custody”

Melhor Actriz – Jessia Buckley em “Beat”

Melhor Actor – Song Yang em “Wrath of silence”

Melhor Jovem Actor/Actriz – Thomas Goria em “Custody”

Melhor Argumento – Samuel Maoz com “Foxtrot”

Melhor contribuição Técnica – Benjamim Keacun com “Beast”

Prémio do Júri – “Wrath of silence” de Yukun Xin

Prémio do Público – Borg McEnroe de anus Metz

17 Dez 2017

Michelle Yeoh foi a actriz em foco no Festival Internacional de Cinema de Macau

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] actriz em foco da segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau foi Michelle Yeoh, uma escolha estratégica da primeira Bond girl oriental que fez carreira com sucesso a ocidente e a oriente. Mestre de kung fu, Michelle Yeoh não se fica pela espetacularidade dos golpes personalizados que a tornaram famosa no cinema da região vizinha. A actriz orgulha-se da componente de representação que lhe tem sido reconhecida em filmes com “Memórias e uma gueixa”, “Crouching Tiger”, “Hidden Dragon” e “The Lady”, e mais recentemente, na série Startrek”.

Aos jornalistas Michelle Yeoh recordou a opção pelo cinema com uma forte componente física. “Quando comecei a fazer filmes, os que envolviam artes marciais e as comédias eram os mais populares nas salas de cinema. Pensei que não conseguia fazer comédia porque na altura o meu cantonês era muito mau e não lia chinê que, polo não conseguia ler guiões. Por isso pensei que o mais fácil para mim seria mesmo optar pelos filmes de artes marciais”.

Tratava-se de entrar num mundo essencialmente dominado por homens, mas Michelle Yeoh não se inibiu e optou por criar um estilo próprio. “Porque é que escolhi desenvolver os meus golpes? Porque podia. Não o fazemos só porque queremos, fazemos porque podemos. Comecei a treinar muito e como tinha um passado dedicado à dança o meu corpo era muito flexível”, começou por contar.

Por outro lado, a actriz considera que nos momentos de acção há que defender uma causa. “Tenho de ter uma razão pela qual lutar: Não é a mesma coisa uma mulher lutar para proteger um, filho, ou um amor, ou um inimigo do país, referiu. O estilo de luta vem também com a personagem”, referiu.

Em 1997 deu o pulo para Hollywood ao participar no filme do James Bond “Tomorrow nerver dies”. Este filme, assim como o “The Lady” marcam uma mudança no rumo de carreira em no reconhecimento enquanto actriz, pois deixou de ser apenas a “mestre de kung fu de Hong Kong”.

Uma actriz de causas

Na tela, Michelle Yeoh defende causas que têm essencialmente que ver com a igualdade de género. “Todos os papéis que fiz, são de alguma forma, inspirados em mulheres que conheço. Apesar de representar muitas mulheres diferentes, é como se fosse uma homenagem a todas elas, a todas as mulheres que lutam”, apontou.

“Não sou feminista, mas acredito em igualdade de oportunidades e que todos podemos contribuir para um planeta melhor”, referiu tendo em conta a participação activa que tem tido em diferentes organizações, nomeadamente ligadas à luta contra a pobreza. Mas, sublinhou, “cada um de nós pode fazer a sua parte no que respeita às mudanças climáticas, à pobreza e à violência”, rematou Michelle Yeoh.

17 Dez 2017

Laurent Cantet, cineasta e presidente do júri do IFFAM: “Adapto a minha forma de fazer cinema a cada história que quero contar”

Foi vencedor da Palma de Ouro, em Cannes em 2008, e nomeado para o melhor filme estrangeiro para os Óscares com “Entre Les Murs”. Laurent Cantet presidiu ao júri da segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau. Aos jornalistas, o realizador falou do que mais importa quando vê um filme e da paixão que tem pelo cinema japonês e coreano

 

Está no festival enquanto presidente do júri. Que critérios tem quando está a avaliar um filme?

Penso que não temos elementos precisos. Somos cinco e entre os cinco elementos do júri se calhar não pensamos todos da mesma forma, mas penso que o primeiro elemento que temos em conta é a forma como o filme nos toca. Depois disso podemos discutir a qualidade da representação ou dos guiões. Mas o que é importante para mim, quando estou num júri deste género é o facto de não sabermos nada do que vamos ver aqui. Os filmes em competição são os primeiros ou segundos filmes de cada um dos realizadores. Entramos aqui completamente virgens no que respeita aos filmes que vemos. Entramos na sala e é uma descoberta, o que também é um momento muito bom.

O que nos pode dizer dos filmes em competição?

Estou impressionado com a diversidade dos filmes que tenho visto, de diferentes partes do mundo e de diferentes géneros. É uma selecção muito boa. Penso que todos os membros do júri estão muito felizes com o que vimos. Tem sido uma boa surpresa.

Lembra-se quando é que descobriu que queria ser um contador de histórias através do cinema?

Comecei pela fotografia e com ela descobri que queria fazer cada vez mais séries fotográficas. O objectivo era poder contar pequenas histórias. Paralelemente também gostava de escrever e escrevia contos que muitas vezes acompanhavam os conjuntos de imagens. Penso que isso me levou, mais tarde, a optar por fazer filmes. Mas o momento mais importante para mim foi ter sido aceite numa escola de cinema. Quando lá entrei não sabia nada do que era fazer um filme. Três anos depois tinha feito cinco filmes e trabalhado em muitos mais. Foi ali que, realmente tudo ficou decidido.

Como é que é o seu processo de fazer um filme? O que quer dizer?

Quando faço um filme tento descrever o mundo onde vivo. Tento descrever e situar a história num contexto e todos os filmes têm uma forma própria de serem feitos. Não penso que tenha um estilo. Adapto a minha forma de fazer cinema a cada história que quero contar. Talvez a particularidade dos meus filmes, e que se poderá encontrar em todos eles, tenha que ver com o facto de serem feitos com actores profissionais e não profissionais. Para mim é importante ouvir o que as pessoas têm a dizer acerca da sua própria vida, da vida real e tento dar um espaço onde as pessoas que normalmente não têm voz, possam expressar-se, falar de si, das suas histórias e realidades.

É a primeira vez em Macau. O que acha a cidade?

Acho incrível a forma como os dois universos, ocidental e oriental, coexistem no mesmo espaço. Podemos ir ao centro histórico e sentir isso através, por exemplo, da arquitectura. Mas ainda conheço muito pouco.

O que pensa do cinema que está a ser feito actualmente na Ásia?

Alguns dos meus realizadores preferidos são japoneses e coreanos. Infelizmente não conheço tanto do cinema chinês, mas no que respeita a cinema coreano e japonês temos muito acesso a ele em França, especialmente nos últimos dez anos. Actualmente, faz mesmo parte da cultura cinematográfica francesa e já não nos podemos alhear do cinema asiático.

O que mais gosta nos filmes do Japão e da Coreia?

Talvez a sua ligação com o contexto em que são feitos. Também mostram, de uma forma muito particular, as relações entre as pessoas. São relações muito muito diferentes da nossa forma de nos ligar-mos uns aos outros. Penso que no cinema tanto japonês como coreano, há um exotismo humano e das relações entre as pessoas que é muito especial.

Como vê a situação do cinema francês?

Penso que, como em todos os lados, temos dificuldades em fazer filmes. Há muitos realizadores e, mesmo que se consiga fazer um filme, temos dificuldade em lança-lo e distribui-lo. A coisa mais importante é, se calhar, manter a diversidade do cinema francês viva. Também é difícil vender os nossos filmes a outros países. Mas, ainda assim, a França produz cerca mais de 200 filmes por ano o que é muito bom.

17 Dez 2017

Concerto | Susanna Risberg sobe ao palco do LMA no próximo sábado

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] sueca Susanna Risberg traz a suavidade do trio de guitarra jazz que lidera ao LMA. A jovem guitarrista tem corrido palcos do mundo inteiro e trabalhado com um considerável número de músicos, principalmente dentro das sonoridades jazz. O concerto é no sábado às 21h.

Costuma dizer-se que é de pequenino se torce o pepino. Susanna Risberg eleva esta máxima para um patamar musical digno de nota. Pouco tempo depois de receber a primeira guitarra, aos dez anos, a jovem sueca formou o seu primeiro trio de rock e blues influenciada pelo herói musical, Jimi Hendrix. Logo aí o talento que tinha era inegável, tendo chamado a atenção de críticos, aficionados da guitarra e promotores de concertos, actuando desde cedo em festivais e clubes de blues.

À medida que foi evoluindo, Susanna Risberg aprofundou a paixão pelo jazz e recebeu vários prémios musicais.

Hoje com 26 anos, é já um das figuras incontornáveis da guitarra jazz da Suécia, tendo colaborado com uma variedade de artistas como Marit Bergman, Henric de La Cour, Svante Thuresson, Nils Landgren, Miriam Bryant, Blue House Jazz Orchestra, entre outros.

Filha de dois músicos clássicos, Susanna cresceu rodeada por música, mas foi na guitarra eléctrica de Jimi Hendrix, e nos ritmos do jazz que descobriu a paixão musical. No leque de influência da sueca juntam-se nomes tão distintos como Tori Amos, Sonny Rollins, Mahavishnu Orchestra, Miles Davis e Pat Metheny.

Pela primeira vez em Macau, a guitarrista disse ao HM que está entusiasmada por cá tocar. Quanto ao concerto no LMA, Susanna Risberg garante que o público pode esperar por um “bem oleado trio de guitarra jazz com sonoridades modernas”. A banda que a acompanha irá tocar, essencialmente, temas originais da guitarrista, mas quando estão em palco a música leva sempre o trio “para lugares inesperados”.

Dedos virtuosos

“Quando improviso fico imune a distracções fora da música, é um sentimento incrível que não pode ser comparado com nada, como se estivesse, por instantes noutro mundo onde a realidade não interessa”, comenta a guitarrista. Este estado de graça é algo que Susanna Risberg alcança por vezes também a ouvir música.

A instrumentista sueca explica que a porta de entrada para o jazz aconteceu aos 13 anos quando ouviu o disco “Bright Size Life” de Pat Metheny e “Boss Guitar” e “So Much Guitar!”de Wes Montgomery. Nessa altura, Susanna ouvia estes discos diariamente, assim como tudo o que conseguia encontrar de Jimi Hendrix, claro.

Hoje em dia, os discos que mais ouve são “A Night at the Village Vanguard” de Sonny Rollins, “Allegresse” de Maria Schneider, “Speak Like a Child” de Herbie Hancock, entre outros.

Há dois anos, Susanna Risberg apaixonou-se pela guitarra da sua vida, uma Gibson 350-t, na qual tem tocado todos os dias desde que se conheceram. Porém, devido a problemas de bagagem, teve de deixar o instrumento em casa antes de embarcar na tour. “Sinto-me estranha sem a guitarra porque temos uma relação algo intensa”.

Com uma maturidade musical impressionante para a sua idade, e dois discos na bagagem, Susanna Risberg chega a Macau pronta para oferecer um banquete de guitarra aos amantes locais do jazz. O concerto tem início às 21h e promete ficar na memória dos que se deslocarem à Coronel Mesquita.

14 Dez 2017

Festival Internacional de Cinema de Macau – Nos bastidores da indústria

Tetsu Negami, Clockworx CO.Ltd, Japão: “Um festival profissional”

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] a primeira vez que aqui está, qual é a sua primeira impressão? 

Estou com muito boa impressão e a minha intenção é encontrar projectos que me chamem a atenção. Se o conseguir, já é muito bom. Para ser honesto, e nesta fase, ainda não encontrei um projecto para financiar, dado os estágios muito iniciais em que se encontram, mas penso que vou acompanhar o seu desenvolvimento. Acho que no futuro somos capazes de investir e mesmo co-produzir.

O que acha da forma como este encontro da industria está a ser conduzido?

Todos os festivais têm de ter esta componente de mercado. Neste caso está feito de forma muito profissional e que pode vir a ter frutos. Estou surpreendido.

Para o ano, vai cá estar?

Sim.

Gilbert Lim, Sahamongkolfilm, Internationl Co Ltd., Tailândia: “No bom caminho”

É o responsável por uma das maiores produtoras e distribuidoras da Tailândia e é a segunda participação que tem neste festival. Quais as diferenças entre o ano passado e este ano?

Acho que este ano está muito melhor. Está tudo muito bem organizado. A localização é excelente. O maior problema que encontrei no ano passado, e por ser a primeira edição, teve que ver com a logística que falhou em alguns aspectos. Mas, ainda assim, enquanto primeiro festival foi bastante bom. Mas esta segunda edição está mesmo muito bem organizada.

Macau pode vir a ser um local importante enquanto plataforma na área da indústria do cinema?

Penso que é uma situação possível tendo em conta que Macau, de alguma forma, é um lugar que é uma espécie de cruzamento entre o ocidente e o oriente. Gostava muito que o Governo de cá contiuasse a apoiar este festival.

Como é que vê o futuro do festival?

Não se pode julgar um festival de cinema pelos primeiros dois ou três anos. Este tipo de eventos tem de continuar para que se possa ter uma ideia acerca da sua importância para o local onde é realizado. Mas, para já, este estará no bom caminho.

Para o ano, vai cá estar?

Sim.

 

Fred Tsui,  Media Asia film, Hong Kong: “Macau é mais do que casinos, é cultura”

O que é que Macau tem para mostrar, tendo em conta a realização de um festival de cinema em Hong Kong, e o mercado da região vizinha?

Em termos de natureza, os festivais têm todos a mesma. Depois é uma questão de localização e de tempo. Mas Macau tem aspectos únicos dos quais pode usufruir. Já toda a gente conhece Hong Kong. Mas, de Macau normalmente as pessoas apenas conhecem o território por causa dos casinos, sendo que na realidade, a RAEM é muito mais. O facto de ser um festival organizado pelos serviços de turismo também faz sentido porque o território tem muito a oferecer aos visitantes. Macau é mais do que casinos, é cultura e é preciso dizer isso às pessoas.

Quais as maiores diferenças que encontra entre a edição do ano passado e a deste ano?

Começa pelos hotéis onde estamos. No ano passado estávamos na Taipa e era muito longe. Este ano estamos muito bem, mesmo em frente do Centro Cultural onde tudo acontece. É tudo muito conveniente e está muito bem organizado. O próprio espaço é óptimo. Está tudo melhor este ano. E mesmo no que respeita aos projectos que estão a ser mostrados, são muito melhores. No ano passado fiquei com a sensação de que os projectos apresentados vieram por convite e, este ano, sente-se que houve uma selecção cuidadosa.

Para o ano, vai cá estar?

Sim, claro!

13 Dez 2017

Prémios | Já são conhecidos os projectos vencedores do “Project Market”

São 30 000 dólares americanos para dividir pelos três vencedores do “Project Market Award” do Festival Internacional de Cinema. Os galardoados foram conhecidos na segunda-feira e as participação portuguesas não conseguiram estatuetas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s prémios da segunda edição do Festival Internacional de Cinema já começam a ter destinatários. A noite de segunda-feira foi dedicada à entrega do galardão aos vencedores da secção dedicada ao mercado e indústria cinematográfica do evento.

Um total de 30 000 dólares americanos foi distribuído equitativamente por “Mihara” uma coprodução dos Estados Unidos e do Japão realizada por Jaqueline Castel, “The girl with no head, um projecto da Malásia realizado e produzido por Liew Seng Tat e Pete Teo, e “The last stage” de Liam O´Donnel, um filme que conta com a participação dos Estados Unidos, França e Indonésia.

Os filmes, ainda em fase inicial de produção, integram a secção do festival dedicada à apresentação de projectos à industria. Os candidatos foram seleccionados de acordo coma curadora de Todd Bown.

A secção dedicada à indústria contou, este ano, com a participação de 14 projectos que durante três dias foram meticulosamente apresentados e submetidos a comentários de alguns dos mais influentes representantes da produção e distribuição de filmes do mundo, sendo que o continente asiático se destacou.

Os projectos foram divididos em três categorias tendo em conta os objectivos de cada um. O “Project Market” apresentou o bloco dedica os prjevtos de filmes de género, filmes de autor e projectos que estavam à procura de parcerias internacionais.

Um momento de qualidade

Os portugueses Jerónimo Rocha e o residente de Macatu, Ivo Ferreira estiveram presentes em diferentes categorias. Jerónimo Rocha este a apresentar “Deadalus”, uma continuação da curta homónima que o realizador quer ver no grande ecrã. Da experiência no festival, Jerónimo Rocha destaca a qualidade que caracteriza este sector do festival e ao HM referiu que, independentemente dos resultados imediatos, “a experiência está a ser muito produtiva até porque permite aceder a diferentes formas de analisar o filme que queremos fazer e, como tal de o podermos melhorar”.

Já Ivo Ferreira trouxe “Projecto Global” à secção de autor. Apesar do projecto, para já, contar apenas com 20 páginas de guião escritas, Ivo Ferreira admite não estar no festival propriamente à procura de apoios, até porque se trata de um filme de Portugal, mas, quem sabe, conseguir interessados na sua distribuição”, apontou ao HM.

Por outro lado, o produtor de “Projecto Global” não deixou de destacar a qualidade do sector dedicado ao mercado. “Do que tenho visto, esta secção do festival está ao nível do melhor que se faz na Europa”, disse.

13 Dez 2017

‘Curta’ de realizador sueco vence melhor filme e melhor ficção em Macau

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] filme “Bitchboy” do realizador sueco Mans Berthas conquistou os prémios de melhor filme e de melhor ficção da oitava edição do festival Sound & Image Challenge de curtas-metragens, em Macua, indicou hoje a organização.

O melhor documentário foi para “Nobody Dies Here”, de Simon Panay (França), enquanto o trabalho do realizador Ishan Shukla (Índia) conquistou o prémio de melhor animação, de acordo com uma nota enviada à Lusa.

Na primeira edição do Sound & Image Challeng International a contar com a participação do festival de curtas-metragens de Vila do Conde, o realizador de Macau Chu Hio Tong conquistou o prémio Identidade Cultural de Macau com “Smell the smell”.

Também na categoria de animação, o cineasta Qichao Mao, da China, conquistou uma menção honrosa com “Revelation-The City of Haze, enquanto a escolha do público recaiu sobre “56” de Marco Huertas (Espanha).

Na categoria Volume, que distingue o melhor vídeo musical, o prémio foi para Choi Ian Sin, de Macau.

No festival competiram 44 curtas na secção “Shorts” e seis vídeos musicais competição internacional “Volume”

O festival, organizado pelo Instituto de Estudos Europeus através do Creative Macau, arrancou com a sessão “Cinema Expandido”, uma colaboração do festival internacional de Curtas de Vila do Conde e curadoria de Miguel Dias.

13 Dez 2017

TIMC | Duo de música electrónica Faslane actua este sábado

Antony Sou e Matthew Ho, dos Faslane, acabam de lançar o primeiro disco da sua carreira. “War Broadcasting Service” está repleto de sonoridades da música electrónica que nos remetem para a guerra nos tempos modernos. No Sábado, os Faslane dão um concerto no âmbito do festival This is My City onde o vídeo também será protagonista

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] sala estava às escuras, à espera que os sons acontecessem. Subitamente um vídeo agitou as mentes de quem ali estava a ouvir o concerto de música electrónica que era mais do que isso. O vídeo, cheio de imagens que remetiam para uma nova guerra nuclear, continha uma mensagem. À medida que as imagens se sucediam, os sons iam acontecendo, quase agressivos, sem uma ordem.

Este foi um dos primeiros concertos que o duo electrónico Faslane, de Macau, deu no território, no Café Che Che. O álbum de estreia “War Broadcasting Service” volta a revelar-se ao público no próximo Sábado, num concerto a decorrer no espaço “What’s Up Pop Up” e inserido no festival This is My City (TIMC). Em Shenzen, China, o concerto tem lugar na sexta-feira.

“War Broadcasting Service” não é sobre a época em que o nuclear era uma ameaça real, mas sim sobre uma guerra dos tempos modernos, onde a tecnologia tem o poder de revolucionar.

“Vai ser um concerto de música electrónica com uma onda muito experimental. Neste projecto eu e o Mathew vamos passar sonoridades da música electrónica para criar uma atmosfera de um mundo moderno. Vamos ter uma performance de música e vídeo para o público”, contou Antony Sou ao HM.

O nome do álbum surgiu do momento em que os membros da banda ouviram uma transmissão radiofónica do período da II Guerra Mundial, que o Governo britânico transmitia aos seus cidadãos.

“As sonoridades que colocamos nas músicas estão associadas ao barulho e à distracção. Dá-nos a ideia de estarmos na guerra. Ouvi o programa que o Governo do Reino Unido costumava transmitir aos cidadãos durante a II Guerra Mundial e encontramos algumas semelhanças com aquilo que queríamos fazer”, acrescentou o músico.

O álbum, lançado em Julho, contém apenas três músicas e foi gravado em Macau. “Preparámos este álbum nos últimos dois anos e inclui gravações que eu e o meu parceiros gravámos. Escolhemos as que gostávamos mais. Uma das músicas vamos passar no concerto do TIMC e outras duas gravações são de concertos que demos no passado. Gostaríamos de apresentar o álbum como parte de uma performance em desenvolvimento”, adiantou Antony Sou.

O vídeo que será transmitido será semelhante ao que foi revelado ao público no concerto do Café Che Che. “A música que mostrámos aí era algo violenta, havia barulho e sons que distraíam. Era a nossa visão da música a entrar na realidade, de como as pessoas reagiam às máquinas. É a nossa visão de uma guerra no mundo moderno. Não tem de facto uma mensagem política, é uma visão nossa caso houvesse uma guerra nuclear nos dias de hoje”, explicou o músico.

Do piano para a electrónica

Antony Sou descobriu tarde a música electrónica, mas depressa percebeu que, com ela, podia criar novas sonoridades.

“Cresci a tocar instrumentos acústicos. Aprendi piano em criança e toquei até há cinco anos. Depois descobri a flexibilidade dos instrumentos electrónicos e como me permitem a experimentar sons, em vez de tocar canções mais convencionais.”

“A música electrónica ajuda-me a explorar algumas ideias, efeitos sonoros e como incorporar outros elementos na minha música. Comecei a achar fascinante a possibilidade de poder tocar outras coisas que não a guitarra ou o piano”, acrescentou.

Com meses de existência, a reacção do público ao “War Broadcasting Service” tem sido positiva.

“A reacção ao álbum tem vindo a crescer nos últimos tempos junto de pequenas comunidades. Depois de Agosto demos um concerto na Suíça, em Lausanne, num festival, e também tivemos um feedback positivo da parte dos organizadores do festival e do público.”

Sobre a participação no TIMC, Antony Sou revela-se optimista. “Estou feliz por ter a oportunidade de tocar neste festival e espero que nos dê mais exposição junto do público de Macau”, concluiu.

13 Dez 2017

Udo Kier, actor e vencedor do prémio de carreira: “Se não fosse actor seria jardineiro”

Independentemente do tipo de filme ou do papel, Udo Kier é uma cara conhecida do público. Com 50 anos de carreira e trabalhos feitos em todos os géneros cinematográficos, o carismático actor alemão está no território para receber o prémio de carreira do Festival Internacional de Cinema. Aos jornalistas, Kier falou com boa disposição de alguns dos filmes em que participou, da sua paixão pela jardinagem e da amizade que tem com Lars von Trier

 

É a segunda vez este ano que recebe um prémio de carreira. No ano passado também recebeu alguns. O que é que se está a passar?

Tenho 73 anos e é quando envelhecemos que as pessoas nos dão prémios. É agradável. Se tivesse 100 anos seria mais complicado porque não teria a energia que tenho agora para os receber.

Já participou em centenas de filmes.

É verdade. Já fiz filmes maravilhosos. Aliás já filmei com a filha do Charlie Chaplin e é espantoso porque é muito estranho tocá-la e perceber que estou a trabalhar com a filha do Charlie Chaplin. Continuo a trabalhar muito. Estive na China a trabalhar nuns estudios maravilhosos, a gravar “Iron Sky 3”. Foi muito interessante porque estivemos a trabalhar com actores chineses e o Andy Garcia era a única pessoa que falava inglês ali comigo.

O que achou da experiência no continente?

Os chineses têm uma grande tradição cultural na arte da representação, assim como os japoneses. Foi a minha primeira vez na China. Foi engraçado porque pensava que ía para uma pequena vila chamada Tsingtao e quando lá cheguei vi as construções e os arranha céus e perguntei quantas pessoas vivam ali. Disseram-me que cerca de 10 milhões. Fiquei muito espantado por saber que 10 milhões pode ser a população de uma pequena cidade da China. Foi também uma oportunidade de conhecer a cultura. Andei por lugares realmente mais pequenos e com muitas construções antigas. Gostei muito. Em Macau quero fazer o mesmo. Até agora ainda só vi casinos e espaços maravilhosos e dourados , com água fogo e Frank Sinatra. Mas quero ir às ruinas de São Paulo e sentir a história na minha mão.

Já trabalhou com realizadores como o Wim Wenders, Quentin Tarantino ou von Trier. Como é que é trabalhar com estes nomes?

Cresci na Alemanha. Tive a sorte de conhecer o Fassbinder quando tinha cerca de 16 anos. Depois fui para Inglaterra aprender inglês, Foi lá que fui convidado para a minha primeira participação num filme. Na altura, não queria muito ser actor, mas gostava da atenção que tinha quando as pessoas me encontravam num restaurante e diziam que me tinham visto na tela. Na Alemanha, existiam três grupos, o de Wenders, o de Herzog e o do Fassbinder. Eu estava no grupo do Fassbinder e não estava autorizado a trabalhar com os outros dois. Quando o Fassbinder morreu é que trabalhei tanto com o Wenders como com o Herzog. Mas o Lars é diferente. É um dos meus melhores amigos. Já trabalhamos juntos há 24 anos. Sei as datas porque sou o padrinho da sua filha e ela acabou de fazer 24 anos. Participei em todos os filmes do Lars von Trier e só não vou estar neste último. Mas o Lars já me ligou a dizer que o poster de promoção vai ter em destaque  “sem Udo Kier”. Eu acho óptimo, acabo por ser o centro do póster.

Representa normalmente as personagens estranhas e vilões. Gosta?

Claro que sim. Até porque eu sou um bom tipo. Eu salvo animais e sou jardineiro. Aliás, se não fosse actor seria, sem dúvida, jardineiro. Tenho uma casa linda na Califórnia e sou eu que planto e podo as árvores. Nem uso luvas porque a ideia é estar em contacto com a natureza. Também gosto de cozinhar, especialmente para amigos. Mas depois de fazer estas coisas durante um par de semanas começo a pensar que está na hora de fazer um filme. É assim que os filmes acontecem. Este ano e no ano passado fiz tantos filmes porque achei realmente que eram todos projectos muito bons. Não ando atrás deles. A coisa boa nisto é que a internet sabe mais de mim do que eu próprio. Já fiz mais de 200 filmes. Digo sempre que, desses 200, 100 são maus, 50 até podem ser apreciados se se estiver a beber um copo de bom vinho tinto, e 50 são bons. Quando podemos, como actores, dizer que fizemos 50 bons filmes, podemos sentirmo-nos muito bem. Trabalho com muito realizadores que nem conseguem fazer maus filmes. Gus Van Sant não consegue fazer um filme mau, Herzong também não. Podem fazer filmes que as pessoas não gostem, mas não são filmes maus. Eles sabem bem que andam a fazer. Também trabalho com realizadores que me esqueço do nome de propósito e faço filmes que nunca vejo.

Podemos encontrar o seu nome a representar todo o tipo de papéis em todo o tipo de filmes. Como é que selecciona os seus trabalhos?

Isso é mais uma coisa boa da internet. Quando me chega um guião é muito fácil ter informação adicional. Se for de um realizador que eu nunca tenha ouvido falar, vou ao IMBD e vejo logo que filmes fez e com quem. Tenho agora um filme em competição em Berlim de uma realizadora italiana em que isso aconteceu. Leio o guião, sei quem o fez. Depois leio apenas a minha parte do guião. Depois leio o guião sem a minha parte. Se decidir que o filme é bom sem mim e sem o meu papel não vejo razão para o fazer. Por vezes não é o tamanho ou o protagonismo do papel que fazemos, mas sim o seu interesse. Por exemplo, quando fiz o “Melancolia” com Lars von Trier, o Lars disse-me para improvisar uma cena em que tinha de pensar como seria entrar numa sala e não querer ver a Kirsten. Ficou toda a gente a olhar para mim e eu levantei a mão e disse que a poria em frente da cara. Acabei por fazer essa cena e quando o filme esteve em Cannes, aquele movimento de mão foi o gesto que ficou memorizado no público. O que fica por vezes são detalhes e o que importa para mim enquanto actor é perceber de que forma posso tornar algumas situações interessantes e mesmo únicas, o que se pode fazer com pequenos papéis. Enfim, gosto e ser actor. Um dia terei de parar. Sou uma pessoa muito realista e já tenho 73 anos. Penso que tenho mais sete bons anos pela frente até aos 80. Quando começamos a fazer filmes queremos filmar uma data deles ao mesmo tempo para experimentar tudo. Agora é muito diferente. Acho que já não represento, sou só eu, um texto e uma situação. Não tenho este tipo de sentimento forte que me in duza a ter de fazer alguma coisa. Nunca senti que queria trabalhar em especial com um realizador nem nunca me dirigi a nenhum para o fazer. Imaginem que chego perto do David Lynch e digo que quero trabalhar com ele e ele me responde “quem não quer”? iria sentir-me terrivelmente. (Risos). Os realizadores conhecem-me e se quiserem trabalhar comigo sabem como me encontrar.

A sua carreira ascendeu com isso mesmo. Com um encontro com Paul Morrissey.

Paul Morrissey descobriu-me. Estava a viajar de Roma para Munique e tinha um homem sentado ao meu lado, americano. Como todos os americanos perguntou-me logo o que é que eu fazia. Respondi que era actor e entreguei-lhe a minha foto de apresentação. Ele disse que era interessante e pediu-me o número, que escreveu na última página do passaporte. Até pensei que deveria ser importante para ele e acabei por lhe perguntar também o que fazia. Ele disse-me que era realizador, que trabalhava para Andy Warhol e que se chamava Paul Morrisey. Umas semanas depois recebi um telefonema dele a dizer que estava a fazer o Frankenstein e que tinha um pequeno papel para mim. Pensei que ele era maluco e que estava a brincar. Mas foi engraçado que pouco tempo depois ele veio a Munique para o lançamento de um filme e convidou-me para assistir a uma conferência de imprensa. Eu estava lá sentado num lugar qualquer e quando lhe perguntaram quem seria o Frankenstein ele apontou para mim e disse, Mr Kier. Toda a sala mudou. O mesmo acabou por acontecer com o filme seguinte, o Drácula. Estávamos a filmar o Frankenstein e no último dia estava naquelas festas do Warhol. Estava lá o Fellini, e uma data de gente, todos muito altos e com peitos muito grandes. E eu estava ali, como Dr. Frankenstein triste por ver terminados os meus 15 minutos de fama. Paul Morrissey apareceu e disse: “acho que vamos ter um drácula alemão”. Era eu, mas tinha de perder muito peso numa semana. Disse que não havia problema e não comi mais do que folhas verdes e água. Aliás, o drácula acaba por aparecer numa cadeira de rodas porque eu não tinha força para me levantar e ficar de pé. Com estes dois filmes acabei por ser abordado por toda a imprensa e aqueles papéis acabaram por se tornar clássicos. Dali passei para uma outra fase mas o Paul Morrisey foi muito importante para mim.

E como é que foi o encontro com von Trier?

Tinha visto o primeiro filme do Lars von Trier, “Element of crime” e queria mesmo conhecer a pessoa que tinha feito aquele filme. Consegui ter um encontro agendado. Estava à espera de alguém como o Kubrick ou o Fassbinder, que me aparecesse vestido de preto, a coçar-se todo e de mau humor. Apareceu-me um jovem que parecia um estudante. Era Lars von Trier. Conversámos e umas semanas depois ele ligou-me a dizer que estava a fazer “Medea” e queria que fizesse um dos protagonistas, o marido de Medea. Eu disse que não tinha aspecto de viking ou de rei. Ele respondeu-me para não fazer mais a barba nem lavar o cabelo, durante um mês e para depois ir ter com ele à Dinamarca para ser apresentado e “vendido” ao produtor. Foi o que fiz. Fiquei muito estranho e na viagem ía a cheirar muito mal. Mas acho que não há problema quando se cheira mal em classe executiva. Ninguém se importa e se calhar até pensam que é um novo perfume. Fiz este filme e acabei por participar em todos os filmes à excepção do mais recente.

Porque é que não está neste?

Penso que terão sido os produtores a dizer que não me queriam por estar em todos os filmes.

Lars von Trier é conhecido por não ser uma pessoa fácil. Da sua experiência, como é trabalhar com von Trier? 

Antes de mais, ele não gosta de actores. A sua deixa preferida para os actores é “não representem” e toda a gente quer trabalhar com ele. Por exemplo em “Dogville” todos ganhámos o mesmo ordenado, ou seja, quase nada, todos dormimos no mesmo quarto e comemos na mesma mesa, a equipa toda, desde o responsável pelo bengaleiro à Nicole Kidman. E todos estávamos felizes por estarmos a trabalhar com um excelente realizador. Ele não é uma pessoa difícil de todo. A Bjork não gosta dele, mas a verdade é que ganhou a Palma em Cannes com “Dancer in the dark” e que será a sua primeira e única. Noamy Watson teve a sua primeira nomeação para os óscares com um filme de Trier. Diria que von Trier é melhor a dirigir mulheres do que homens. Alguns realizadores conseguem transmitir o que querem melhor às mulheres.

Lamenta algum papel que tenha recusado? 

Não.

Quando é reconhecido na rua, qual é a personagem que mais lhe associam?

Na América é com Blade, o vampiro e a geração anterior era do drácula ou o Frankenstein. Na Europa é em Pet Dectetive.

Como é que aprendeu a representar?

Nunca estive numa escola de actores. Criei-me a mim mesmo. Observei pessoas e depois trabalhei com actores muito bons. Observava-os e tinha realizadores talentosos. Pode-se aprender a técnica, mas não o talento. Esse, ou se tem ou não se tem.

13 Dez 2017

Aniversário | Art For All Society nasceu há dez anos

Começam hoje as celebrações do décimo aniversário da associação Art For All Society, que visa promover o trabalho de vários artistas locais. A AFA já esteve em Pequim, fechou portas, e agora gostava de ter uma representação em Hong Kong. Alice Kok, presidente, e José Drummond, um dos fundadores, recordam o momento em que um grupo de pessoas se juntou para debater ideias sobre o panorama artístico local

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]e todas as casas que a AFA – Art for All Society já teve, aquela que estava junto às Ruínas de São Paulo foi a primeira. Um dia, artistas como Konstantin Bessmertny, José Drummond, Carlos Marreiros ou Alice Kok reuniram-se para discutir ideias que dariam origem a um novo movimento de revelação de novos artistas junto do público.

Dez anos depois, a AFA prepara-se para celebrar a sua curta existência com uma exposição, uma palestra e um documentário. A história de algo embrionário conta-se com frames, imagens, palavras.

“Hoje será a exposição do aniversário dos 10 anos e depois haverá uma palestra na quarta-feira. Na quinta-feira será transmitido um documentário sobre os artistas que nos têm acompanhado. O objectivo é olhar para aquilo que temos feito nos últimos dez anos, o que fizemos ou não fizemos, numa espécie de reflexão”, contou Alice Kok ao HM.

A palestra visa ser um espaço de debate sobre o estado actual do panorama artístico. “Convidámos outras galerias de arte ou gestores de espaços de arte para discutirmos os desafios e os problemas que enfrentamos quando tentamos manter associações de arte ou outros negócios em Macau”, explicou Alice Kok.

Já o documentário coloca os artistas a falarem do seu próprio trabalho. “É uma forma de olharmos para trás, para aquilo que temos vindo a fazer e deixar os artistas falar do seu trabalho em frente à câmara, para que o público possa compreender melhor o que é a profissão e o que significa ser artista”, contou a presidente da AFA.

A ausência de coleccionadores

Quando convidámos José Drummond a recordar o início de uma jornada, o artistas apenas disse que, no fundo, o tempo passa demasiado rápido sem darmos por isso.

“É a prova de que a vida passa muito rápido. Parece que foi ontem que estávamos todos numa sala ao pé das Ruínas de São Paulo, onde foi a primeira AFA, a debater ideias e a falar sobre as primeiras exposições. E já passaram dez anos e a AFA esteve em tantos espaços. A participação da AFA no meio artístico local continua a ser muito importante”, frisou.

Drummond considera que, quando a AFA nasceu, faltavam em Macau coleccionadores de arte, algo que não mudou com o passar dos anos.

“Há dez anos não havia tantos coleccionadores, mas isso não quer dizer que as coisas estejam melhores. Podem haver mais coleccionadores de arte não acho que, no geral, isso seja significativo, pois a vida encareceu muito mais. Os artistas que continuam a ambicionar viver do trabalho de artista plástico é quase impossível em Macau. A luta continua a ser muita nesse sentido.”

A luta pela estabilidade

Além da falta de coleccionadores que invistam em arte local, tem faltado o factor estabilidade.

“Quando fechámos a nossa galeria em Pequim decidimos concentrar-nos em Macau. Não conseguíamos estar lá pessoalmente e era difícil gerir uma galeria de arte à distância. Por isso ficamos no Macau Art Garden, no centro da cidade. Temos sido bem sucedidos, mas estamos no início, pois temos sido obrigados a mudar-nos a cada dois anos. Nos últimos dez anos mudámo-nos cerca de cinco vezes”, recordou Alice Kok.

Além de garantir a estabilidade no espaço Macau Art Garden, a presidente da AFA confessa que há o desejo de criar uma representação da associação em Hong Kong.

“Queremos garantir a nossa presença aqui de uma forma permanente. Para o futuro queremos primeiro garantir uma estabilidade e depois vamos procurar mostrar o trabalho dos nossos artistas lá fora. Gostaríamos de ir para Hong Kong, mas ainda não fomos à procura de nenhum espaço”, disse.

Dez anos depois, o pessimismo

Anos e anos de exposições depois, Alice Kok considera que continua a faltar uma educação das pessoas para aquilo que é arte.

“Precisamos de fazer mais em prol da educação artística, não só dos próprios artistas mas também do público. Vimos um grande progresso em termos de arte no espaço público, mas a maior parte das pessoas de Macau não sabem muito bem aquilo que está a ser feito. Queremos encorajar mais estudantes para que saibam mais sobre arte.”

José Drummond tem uma visão mais pessimista do mercado artístico. Não só os artistas não são arrojados como no passado como há uma visão mais comercial daquilo que está a ser feito.

“Já tive mais esperanças no futuro da arte de Macau do que tenho hoje em dia. Vejo que há uma direcção nitidamente comercial no seio dos nossos artistas e há uma grande confusão sobre aquilo que é arte. Quem recebe apoio mais directo são coisas que são tradicionais demais. Questiono-me muitas vezes se aquilo é arte contemporânea, porque aquilo já foi feito nos anos 50 do século XX. Se os artistas não tiverem coragem para romper com isso…”, lamentou.

Nem o modelo das feiras de arte em hotéis, como se tem visto muito nos últimos tempos, funciona, segundo o artista e designer.

“Apesar de ser interessante ter feiras de arte em hotéis, a verdade é que ainda não revelaram nada de novo. Será que é importante venderem meia dúzia de obras?”, questionou.

“Houve uma tendência para se comercializar demasiado o trabalho e este aparece muitas vezes como um trabalho decorativo. Nesse aspecto sinto que Macau regrediu um bocado. Muitas vezes os artistas não arriscam tanto como os da minha geração, em termos de ideias, de suporte. Há uma aderência ao suporte pictórico que é demasiado tradicional e não define em nada a arte contemporânea.”

Para José Drummond, na China já se inova mais. Lá, no continente, “os artistas contemporâneos trabalham em todos os media”. “Essa tendência [em Macau] teve a ver muito com as indústrias culturais, em que se quis vender, e com isso tem de se fazer pintura, e com um determinado tamanho. Acho isso muito perigoso, e não vejo pessoas a arriscar.”

Da ausência de auto-crítica

Além do panorama da subsídio-dependência, José Drummond lamenta que, dez anos depois, não haja historiadores de arte, curadores e críticos de arte independentes dos artistas.

“Não há história de arte, não há curadores, e estes são, na maior parte, os artistas, à excepção de uma ou outra pessoa que está no Museu de Arte de Macau. Como não temos estes factores de dinamismo e de auto-crítica, parece que nunca há espaço para vingar fora de portas.”

José Drummond frisa que os poucos casos de artistas que conseguem expor lá fora fazem-no porque alguém de fora de Macau reparou neles. “São curadores de Hong Kong ou da China que estão interessados. Esse input acontece de fora para dentro e não de dentro para fora, o que seria mais lógico. Há coisas que não estão a funcionar, não sei quais são as fórmulas, pois já foram tentadas várias e não funcionaram. Mas tem a ver com a pouca auto-crítica e não há pessoas a escrever. Criámos uma bolha sem identidade e isso é preocupante.”

12 Dez 2017

Fundação Oriente | Duas jornalistas partilham prémio de reportagem

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma reportagem escrita e outra televisiva ganharam o prémio Macau Reportagem, da Fundação Oriente, que distingue anualmente o melhor trabalho sobre Macau, nas vertentes cultural e socioeconómica, foi ontem anunciado.

Os cinco elementos do júri decidiram atribuir por unanimidade o prémio a Catarina Vaz, da Teledifusão de Macau (TDM), pela reportagem “O ar que respiramos”, e a Fátima Almeida, com o trabalho “Esquecidos num canto da cidade – um pátio à moda antiga onde chega a mocidade”, publicado no jornal Tribuna de Macau e feito com a colaboração de Viviana Chan, na tradução, também jornalista do diário.

“Ambos os trabalhos tratam temas de clara actualidade, no plano local. Ambos descrevem uma realidade de Macau com recurso a meios diferentes – televisivo e imprensa escrita – possuindo qualidade técnica e reflectindo um trabalho de investigação e elaboração cuidada”, considerou o júri.

O prémio, no valor cinquenta mil patacas, será dividido pelas duas premiadas e entregue a 11 de Janeiro próximo, na delegação da Fundação Oriente em Macau.

Catarina Vaz trabalhou 17 anos na RTP, em Lisboa, antes de entrar em 2014 na redacção portuguesa do Canal Macau, da TDM. Fátima Almeida escreveu para o Tribuna de Macau por mais de seis anos e actualmente dá aulas de português e inglês na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau.

Em 2017, concorreram ao prémio 11 jornalistas, com 13 trabalhos, divulgados em órgãos de comunicação social da Região Administrativa Especial e de Portugal.

A delegação da Fundação Oriente em Macau aceita, até final de Janeiro, candidaturas à nona edição do Prémio Macau Reportagem, aberto apenas a jornalistas actualmente residentes no território ou com percurso profissional mínimo de três anos de presença em Macau, independentemente da nacionalidade ou da língua de trabalho dos candidatos.

12 Dez 2017

Cinema local | Chan Ka Keong estreou a sua primeira longa

Macau pode vir a ter uma indústria de cinema e o Festival Internacional de Cinema pode ser uma grande ajuda. Mas, os realizadores locais têm muito que trabalhar. A opinião é de Chan Ka Keong que estreou no fim-de-semana a sua primeira longa metragem, “Passing rain”. Autocrítico e ciente das dificuldades, o realizador fala ao HM da inexperiência e de aspectos a mudar nas produções futuras

[dropcap style≠’circle’]“P[/dropcap]assing rain” é a primeira longa metragem de Chan Ka Keong, e fez a sua estreia no fim-de-semana na Torre de Macau enquanto parte do cartaz dedicado às apresentações especiais feitas por realizadores locais.

Para o realizador, “Passing rain” não é apenas um nome mas sim a própria essência do filme. “Não gosto de sol, e é por isso que chamei o filme de “Passing rain”, começa por contar ao HM. A ideia é ser uma metáfora da vida: “vem de repente, passa rápido. A vida e a chuva são assim. Aqueles que amamos e aqueles de que não gostamos também aparecem e desaparecem das nossas vidas, como no filme, como a chuva em Macau”, refere.

Filmagens congestionadas

Mas, apesar do financiamento do Instituto Cultural para a produção da película, as filmagens no território nem sempre são fáceis. O maior problema, aponta, tem que ver com as deslocações. “Até parece cómico por se tratar de um lugar tão pequeno, sendo suposto ser fácil e rápido andar de um lado para o outro. Mas não é. As estradas são muito estreitas pelo que tínhamos de estacionar a carrinha do material e descarregar para deixar o espaço disponível para filmar. Depois, sempre que tínhamos de mudar de lugar deparávamo-nos com o trânsito. Seria muito mais fácil fazer a maior parte dos trajectos a pé, mas com o material era impossível, explica o realizador.

Por outro lado, tratando-se da primeira longa metragem realizada por existiram outros aspectos que vieram trazer à tona melhorias que têm de ser tidas em conta no futuro. “Não tenho experiência em fazer histórias dramáticas e este filme é uma espécie de salada com vários ingredientes que se vão misturando e que precisava de um drama mais bem trabalhado”, diz.

Proximidade, precisa-se

Autocrítico, o realizador considera que “com a vertente dramática mais bem trabalhada, um filme torna-se mais apelativo para o público, sendo mais fácil entrar na própria história e nas emoções que lhe estão associadas”.

Apesar de satisfeito com “Passing rain”, Chan Ka Keong abre os olhos para os próximos filmes. “Neste filme, falhei ao colocar o público à distância. Não os coloco nas cenas ou em contacto com a emoções das personagens. O público apenas assiste”, aponta.

O próximo projecto já está a ser trabalhado e trata-se de uma produção de baixo custo “em que tudo acontece ao lado de uma cama, entre dois personagens e em que são desenvolvidas as filmagens dos pequenos detalhes da vida”.

Para o realizador o Festival Internacional tem um papel fundamental para a indústria local, sendo que é imperativo que os realizadores façam a sua parte. “Os realizadores de Macau têm de trabalhar cada vez com mais afinco  para que as próximas edições deste festival possam ter mais trabalhos locais em exibição e capazes de entrar em competição”, remata Chan.

11 Dez 2017

Maria Helena de Senna Fernandes: “Abrimos o festival com uma boa nota”

O Festival está em andamento. Depois da abertura, quais a primeiras impressões?

Estou muito orgulhosa. Temos muito orgulho que desta vez existam alguns filmes dentro do nosso programa que já têm boas expectativas para os Óscares. “Call me by your name” e “The shape of water” são alguns dos filmes que podem entrar nas corrida.

A abertura este ano foi feita com a projecção de um filme de caracter comercial. Como correu?

Abrimos o festival com o “Paddington 2” e para mim foi uma experiência muito diferente da que tivemos no ano passado. Em 2016 o filme de abertura era mais artístico, mas este ano dedicámos o primeiro dia à família.

Que mudanças podemos ter nesta edição e para o futuro?

Queremos ser um festival para o público em geral e foi bom ver que na cerimónia de abertura contámos com várias famílias que vieram acompanhadas das crianças. Penso que foi um sucesso. Abrimos o festival com uma boa nota.

Qual é agora a prioridade?

Acho que é importante cultivar, no público local, o gosto de ir ao cinema porque só assim podemos vir a ter uma indústria neste sector. Precisamos de pessoas a gostar de filmes para que possam ser feitos. Para nós, é importante que este festival seja internacional e para isso tem de ter as projecções, mas também a própria indústria. Este ano temos 14 projectos a procurar investidores. Enquanto membro do Governo, é importante ter esta oportunidade de acolher um festival que possa vir a motivar a nossa indústria.

 

Mike Goodridge – Director do Festival Internacional de Cinema de Macau
“Queremos que as pessoas passem a ter o cinema como um hábito”
Sofia Margarida Mota

 

O que tem a dizer do início do festival?

Acho que começámos muito bem. Com o filme de abertura, dada a escolha, tivemos a presença de muitas crianças no público o que foi muito interessante. Estamos lançados e agora a preocupação é ver a ligação dos filmes com o público.

Que expectativas tem agora?

As expectativas são boas. A avaliar pelo número de bilhetes vendidos no sistema, estamos mesmo muito entusiasmados por terem sido em grande quantidade. Agora resta saber se as pessoas vão mesmo ver os filmes. De qualquer forma, já deu para ver que há realmente interesse.

O que é preciso fazer, a partir de agora?

É um festival recente e vai ainda demorar alguns anos para habituar as pessoas à sua existência para que participem activamente nele. Não queremos ensinar ninguém, só queremos que as pessoas passem a ter o cinema como um hábito e que se tornem “agarradas” ao grande ecrã. As expectativas são muito boas. Agora que o festival está em andamento é ver como é que corre e acompanhar o evento.

11 Dez 2017

Lawrence Osborne, escritor e júri do IFFAM: “Macau é única”

O livro “The Ballad of a Small Player” passa-se em Macau e pode vir a ser adaptado para o grande ecrã. A obra é de Lawrence Osborne que está no território enquanto membro do júri do Festival Internacional de Cinema. Para o escritor britânico, Macau é um lugar único

[dropcap]É[/dropcap] a primeira vez que está a trabalhar com a área do cinema. Tenciona estar mais ligado à sétima arte?
Já fui muitas vezes convidado para escrever guiões e sempre disse que não. Conheço muitas pessoas do mundo do cinema e sempre achei que era um negócio muito complicado. Envolve muito tempo junto de um público e envolve muitas questões relacionadas com dinheiro, o que para mim são tudo complicações. Se se é um escritor, sentamo-nos no nosso quarto sozinhos, fechamos a porta e estamos assim todos os dias, e isso é óptimo. É a única coisa me interessa. Mas, de facto, este ano está muita coisa a mudar porque tenho vários livros que podem vir a ser adaptados e, com isso, tenho de estar envolvido com todos os problemas associados.

O que é que o fez mudar de ideias? 
Tenho cerca de seis livros publicados e dois para o serem. Já escrevi bastante e acho que vou tirar um ano de férias para fazer outras coisas e ver o que acontece. Por outro lado, também há muito dinheiro envolvido (risos) porque faz com que não tenha de me preocupar com essa parte durante uns tempos. Quando escrevemos livros andamos sempre falidos.

Qual o seu interesse pelo cinema? 
O cinema é um mundo muito interessante. Às vezes até gosto mais de cinema do que, propriamente, de literatura. Vejo muitos filmes. Mas o mais importante é a arte narrativa, que é sempre uma arte. Há sempre uma história. Pintura e música são diferentes. Elas existem numa outra dimensão. Mas as artes narrativas estão ligadas. Quando vejo um filme e enquanto escritor estou sempre tecnicamente interessado no que está a acontecer na história. O mesmo acontece ao ver os filmes deste festival. Estamos sempre a perguntar-nos o que vem a seguir na história e, na maioria das vezes em que conseguimos perceber isso, não nos sentimos bem. Pensamos que se o mesmo acontecer quando alguém está a ler as nossas histórias, elas perdem a imprevisibilidade, e, para nós escritores, isso significa que são fracas.

Já foi abordado acerca da possibilidade de adaptar o romance “The Ballad of a Small Player”, que acontece em Macau, para cinema?
É uma opção. Aliás, quando sair deste encontro com os jornalistas, vou ter a minha primeira reunião acerca de um guião desse livro. Mas ainda não pensei nessa história ainda como um filme. Já o escrevi há alguns anos, pelo que há coisas que não estão frescas na minha memória. Quando escrevi “The Ballad of a Small Player”, não tinha em mente qualquer adaptação para cinema. Era apenas literatura. Era um conto de fadas chinês. Por isso, fiquei surpreendido quando me apareceram com a possibilidade de ser adaptado. Se calhar vão me pedir para fazer o screenplay, e se calhar vou pensar nisso.

Com quem se vai reunir para o efeito?
Não posso ainda dizer ao certo com quem, mas posso avançar que uma das pessoas é o director do festival Mike Goodrige. Só o conheci uma vez em Londres onde o trabalho dele é muito reconhecido enquanto produtor e é uma pessoa com muito bom gosto também. Aliás, isso pode ser constatado pelos filmes que temos neste festival, que são óptimos. Por vezes, nos festivais de cinema, os filmes conseguem estar muito longe de serem bons, mas neste, a qualidade está muito alta. Acho que é uma situação muito gratificante para Macau: ter todos estes filmes de grande qualidade em competição e em exibição. Todos nós, membros do júri, estamos muito surpreendidos.

“The Ballad of a Small Player” é uma história que acontece em Macau e que trata da realidade do território. Como é que lhe ocorreu escrever este livro?
A forma como as histórias começam é muito interessante porque não acontece de uma forma, aparentemente, lógica. Há uma pequena passagem no livro em que a rapariga está a relembrar uma oferta que fez num templo, e essa imagem era uma situação por que passei no Tibete. Na altura estava a fazer uma viagem pela China, escrevia para a Vogue e andava acompanhado com dois fotógrafos e dois tradutores. Não sabia porque é que estava ali ao certo, mas acabámos por ir a este lugar assustador, no meio de uma grande floresta com vista para um rio enorme. Era um sitio deserto onde estava um mosteiro gigante com cerca de 30 monges. O meu condutor de carro era um tibetano e de repente parou, entrou no templo, e deixou um monte de notas. Eu achei tão estranho. Aquela imagem ficou comigo e não tendo qualquer conexão com Macau acabei por fazer uma adaptação no livro. Foi assim, por exemplo, que nasceu aquela personagem do livro.

Muitos dos livros que escreve são escritos depois de viver nos sítios onde a narrativa acontece. Isso também aconteceu com “The Ballad of a Small Player”?
Não. Normalmente vivo nos lugares mas não vou para nenhum sitio para fazer pesquisa para livros. O processo é o inverso. Detesto essa coisa de alguém pensar em fazer alguma coisa sobre um lugar e ir lá para pesquisar durante duas semanas. Isso é treta e não funciona. É preciso conhecer realmente um lugar e para isso é preciso lá viver, caso contrário, é falso. Não vivi em Macau mas passei muito tempo aqui em 2001, 2002, 2003 e 2004. Na altura trabalhava para o New York Times e escrevia sobre os medicamentos psiquiátricos na Ásia. Mandavam-me para a China, para o Bornéu, a Indonésia, a Papua Nova Guiné, etc. Acabava sempre por regressar ou a Hong Kong, ou a Bangkok, que funcionavam como uma espécie de base de trabalho. Muitas das viagens que fazia eram à selva e eram muito cansativas. No final, no regresso, acabava sempre por passar, pelo menos, um mês em Hong Kong, para descontrair. Acabei por me habituar a vir a Macau, porque tinha muita curiosidade. Quando percebi que era tão diferente de Hong Kong, comecei a preferir Macau a Hong Kong e a ficar cada vez mais tempo em Macau. Era uma ligação estranha a que sentia, mas foi completamente acidental. Adorava esta atmosfera que não é nem portuguesa, nem chinesa. Não se vê uma mistura óbvia, mas Macau é única. A segunda razão porque comecei a vir para Macau, teve que ver com o vinho porque também fui um dos críticos de vinho da Vogue e Stanley Ho tinha a maior colecção de vinhos que existia no Hotel Lisboa. São milhares de garrafas. Foi muito interessante para mim porque não conseguimos encontrar este tipo de colecções muito menos feitas por um chinês. Daí existirem cenas no livro que se passam no antigo Robuchon.

O jogo, nunca apareceu na sua vida?
Sim, apareceu mas mais tarde. Tudo acontece numa sucessão. Quando passamos muito tempo num sitio, como eu passava no Lisboa  a beber bastante vinho e sem conhecer ninguém, num lugar onde toda a gente circula à noite e a ver as pessoas a jogar, começa-se a jogar também. Jogava bacarat na sua forma mais fácil. Aliás acabei por achar que era uma coisa bastante terapêutica, principalmente quando perdia dinheiro.

Porquê?
A nossa relação com o dinheiro é muito baseada no adquirir e guardar o dinheiro. Passam-se vidas inteiras neuroticamente obcecadas com a ideia de guardar dinheiro, de não o gastar. Se formos a um casino frequentado por chineses, que também são muito obcecados pelo dinheiro, a situação é ainda mais particular porque é um lugar onde é muito fácil perdê-lo. Quando isso acontece é como se alguma coisa dentro de nós se partisse e rendemo-nos a isso. E isso é bom.

É a primeira vez que é membro de um júri?
Enquanto júri de cinema, sim. É muito mais divertido do que ser júri de livros. No mundo da literatura, se um membro de um júri gosta em especial de um livro detestam se um outro membro não gosta. Mas aqui é tudo mais objectivo. Discutimos os filmes que vemos ao jantar, de forma muito civilizada. Todos temos sensibilidades diferentes mas discutimos os filmes em todos os aspectos.

O que é que é um bom filme para si?
Penso que a história tem de ser visceral. Se se pensar muito, se se tratar de um filme muito intelectual, já perdeu alguma coisa. Penso qua a intensidade é o que mais conta. Acho que muitos dos escritores, actualmente, são demasiado intelectuais. Pensam demais, e isso é sempre um erro. Não funciona. Mas tenho de reforçar que ainda só vi filmes bons aqui, entre os sete que já visualizamos.

Considera mudar de carreira, da literatura para os filmes?
Não, é demasiado tarde para isso. Nós fazemos o que fazemos e já é muito difícil fazer uma coisa bem. Não é possível fazer duas coisas bem.

O que é um bom livro? 
Isso é mais complicado. Há muito poucos livros que são realmente bons. A literatura é tão diversa.

11 Dez 2017

Salão de Artistas de Macau apresenta 33 obras originais

Denis Murell, Konstantin Bessmertny, José Drummond, Vítor Marreiros. Estes são alguns artistas que participam este ano no “Salão de Artistas”, uma mostra que é hoje inaugurada no Clube Militar. José Duarte, responsável pela associação que organiza a exposição, garante que esta é apenas uma mostra de pintores e artistas com diferentes idades e visões

[dropcap style≠‘circle’]T[/dropcap] rinta e três obras originais que ilustram a diversidade e criatividade das artes visuais em Macau vão estar patentes no Clube Militar até ao próximo dia 6 de Janeiro.

O objectivo desta exposição é reunir “um conjunto amplo de artistas e suas obras que seja representativo da vitalidade e a criatividade da comunidade artística local”, indicou a APAC – Associação de Promoção de Actividades Culturais, que organizou este Salão de Artistas de Macau.

Ao HM, José Duarte, responsável pela associação, explicou que a ideia é mostrar um pouco do que se faz em Macau em termos de arte.

“São artistas de várias gerações, com várias abordagens de pintura e várias técnicas, é esse o objectivo desta exposição. A ideia é, no fim do ano, juntar artistas cujo elemento comum é o facto de serem de Macau e mostrar um pouco a diversidade e a vitalidade da pintura e do desenho em Macau.”

Artistas como Denis Murell, o consagrado Konstantin Bessmertny ou José Drummond, que também tem uma outra exposição patente na Livraria Portuguesa, intitulada “Ao meu coração um peso de ferro”, participam nesta iniciativa. Estão também incluídos nomes como o do designer Vítor Marreiros e Alexandre Marreiros, arquitecto e artista.

“Temos o Denis Murell, que este ano é o decano, e depois temos duas jovens nascidas em 1985. Não tem a pretensão de ser a mostra de toda a arte que se faz em Macau. São apenas 33 artistas com obras recentes”, adiantou José Duarte.

A “cada artista” foi pedido que escolhesse um único “trabalho recente e significativo” para integrar este Salão, que apresenta 33 artistas de renome e jovens artistas emergentes, com mais de 50 anos a separar os mais velhos dos mais jovens, acrescentou a APAC.

A exposição pretende também assinalar o 18.º aniversário do estabelecimento da RAEM, acrescentou a organização.

Esta mostra é a terceira da série anual intitulada “Pontes de Encontro”, promovida pelo Clube Militar de Macau, e que incluiu em Junho uma exposição de pintores portugueses, e em Outubro uma apresentação de 27 obras de nove pintores lusófonos.

11 Dez 2017

IPM : Cinco novos prémios no concurso mundial de tradução chinês-português

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] atribuição de cinco menções honrosas a trabalhos que se distingam pela excelência são a novidade para a segunda edição do concurso mundial de tradução chinês-português, anunciou ontem o Instituto Politécnico de Macau (IPM). O objectivo de atribuir mais estes cinco prémios é encorajar “a participação de mais alunos” de todo o mundo e “não só de Macau, da China Interior, de Portugal e do Brasil”, como se verificou na primeira edição deste concurso, disse o presidente do IPM, Lei Heong Ieok.

“Queremos incentivar os alunos de todo o mundo, fortalecer e aumentar as suas capacidades e, através deste concurso, atrair mais equipas de outros países da Lusofonia”, sublinhou, numa referência aos países africanos de língua portuguesa.

O IPM “vai continuar a reforçar o ensino da língua portuguesa e manter a cooperação com Portugal”, disse Lei Heong Ieok, sublinhando o papel e a importância de Macau no ensino da língua portuguesa e na área da tradução chinês-português, fundamental na concretização da iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota”.

As equipas concorrentes, compostas por dois ou três alunos e um professor orientador, terão três meses para traduzir um texto de português para chinês, contendo mais de cinco mil frases e sem ultrapassar as dez mil.

De acordo com o regulamento do concurso, organizado pelo IPM e pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES) do Governo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), no final de janeiro próximo terminam as inscrições e, a 01 de março os organizadores enviam o texto a traduzir para os concorrentes, que devem apresentar a 01 de junho o trabalho concluído. No final de julho são anunciados os vencedores do concurso.

O primeiro prémio é de 140 mil patacas, o segundo de 105 mil e o terceiro de 75 mil. Cada equipa que ganhar uma menção honrosa receberá 25 mil patacas. A organização vai atribuir um prémio especial para as equipas das instituições de ensino superior de Macau, de 68 mil patacas para o primeiro lugar e de 35 mil para o segundo.

A primeira edição do concurso contou com a participação de 48 equipas do interior da China, 27 de Macau, dez de Portugal e duas do Brasil.

7 Dez 2017

Concerto | Force Defender trazem o heavy metal de Shenzhen ao palco do LMA

Amanhã o LMA oferece uma noite de rock pesado aos aficionados do heavy metal e hard-core com o concerto dos Force Defender. A banda de Shenzhen faz parte de um movimento, relativamente recente, de grupos com sonoridades pesadas na cidade a norte de Hong Kong

 

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uando se procura no Google “Heavy metal in Shenzhen” os resultados dão conta de acidentes por contaminação tungsténio e cobalto, resultado do crescimento rápido da cidade. Mas há mais do que contaminação ambiental a corroer a metrópole com cerca de 12 milhões de habitantes.

O heavy metal e o hard-core acrescentam dissidência ao panorama cultural da cidade imediatamente a norte de Hong Kong, para além do típico e delico-doce cantopop. Os Force Defender, uma das bandas de destaque no movimento alternativo pesado de Shenzhen, apresentam-se amanhã no palco do LMA para uma noite de rock pesado a partir das 21h.

O metal tem sido uma presença constante na subcultura dos últimos 50 anos do Ocidente. Porém, na China este tipo de música chegou tarde. “A cena heavy começou a estabelecer-se a sério em Shenzhen por volta do ano 2003, com bandas excelentes como os YiJiao e Zhaliewanou que tocavam frequentemente na cidade”, conta Cynric W, o vocalista dos Force Defender.

O cantor recorda que esse momento de explosão foi bastante importante para o desenvolvimento dos movimentos musicais independentes na cidade. “No entanto, a cultura de bandas atravessou uma fase de declínio por volta de 2010, com a comercialização dos espaços e cada vez menos espectáculos ao vivo”, contextualiza.

Situação que viria a alterar-se de novo por volta de 2013 com o influxo de concertos de bandas internacionais a apresentar a sua música ao vivo em Shenzhen. “Recomeçaram a surgir novas bandas locais de heavy metal e hard-core”, explica o vocalista dos Force Defender.

Vozes fortes

Apesar de terem surgido numa altura em que o panorama da música independente estava moribundo, os Force Defender persistiram e mantém-se no activo desde a sua data de formação em 2011. No ano em que começaram a tocar, o género musical em Shenzhen vivia um período negro, no mau sentido, mas a banda “defendeu a força da música” com toda a garra.

“Começámos por ser amigos, já nos conhecíamos uns aos outros há bastante tempo, pensámos que tínhamos algum talento musical e vontade de fazer algo especial”, revela Cynric W acerca do momento em que a banda começou a dar os primeiros passos.

Hoje em dia são uma referência num panorama em efervescência em Shenzhen em termos de metal e hard-core, apesar “da cena ser recente e de precisar de boa comunicação e mais público”.

Os Force Defender vão apresentar o seu disco de estreia “1118” em Macau no LMA. O título do álbum “é a data em que saiu, marca o dia de fim de uma Era e o início de um novo começo”, descodifica o baterista, Cyrus Chi Man Tse.

A sonoridade da banda é influenciada por aquilo que os membros ouvem em casa, como por exemplo Lionheart, Chimaira ,Dream Theater, Terror, Bullet For My Valentine e Madball.

As letras dos Force Defender não têm meias palavras, são fortes como os riffs de guitarra e a bateria pulsante. Em “USHL” o vocalista conta que nasceu numa família revolucionária que jamais será derrotada, que lutou na segunda grande guerra mundial e que marchou com o exército vermelho. O refrão é um grito onde Cynric W repete que é assim que o seu sangue flui, “unstoppable hardcore lineage”, sem hipóteses além de lutar sozinho.

Este tipo de mensagens fortes não se encontra apenas nas letras das músicas, mas também no seu site bandcamp, onde dizem lutar contra a “porcaria” que os rodeia. Cynric W descodifica essa mensagem ao explicar que os Force Defender lutar contra “a disputa, o confronto e o egoísmo da vida em Shenzhen”.

Apesar do carácter interventivo das letras, característico do rock mais pesado, a banda não teme represálias. “Tentamos constantemente levar positividade ao público, encorajar as pessoas a superarem-se, a darem a volta aos problemas que enfrentam e a acreditarem nelas mesmas, em vez de seguirem a via dos abusos e queixumes”, conta o vocalista.

Mesmo com a atitude de desafio à conformidade, Cynric W revela que “até ao momento não tiveram qualquer tipo de problema” com os poderes instituídos.

Amanhã sobem ao palco do LMA para continuar a defesa daquilo em que acreditam.

7 Dez 2017

Sound and Image | Festival de curtas começa hoje

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ão 44 os filmes finalistas que vão estar em competição em mais uma edição do festival internacional de curtas do território. O Sound and Immage Challenge regressa a Macau com um cartaz cheio. O evento começa hoje e entre a sala do Teatro D. Pedro V e o cinema Alegria vão ser exibidas um total de 51 curtas metragens.

O festival tem início com a rúbrica “Cinema expandido”, uma colaboração com o evento de curtas de Vila do Conde. Com a curadoria de Miguel Dias, vão chegar a Macau os filmes “Os deserdados” de Laura Ferrés, “Verão Saturno” de Mónica Lima, e mais sete curtas vencedoras do evento do norte do país.

A edição deste ano do festival local segue com a exibição dos filmes seleccionados para competição sendo que conta com a presença de alguns dos realizadores.

Este ano, o evento contou com uma participação recorde de candidatos. Foram mais de 4000 os filmes que deram entrada nas categorias de ficção, animação e documentário. O Sound and Image tem ainda uma secção dedicada ao território. Trata-se da rubrica “Identidade cultural de Macau” que conta, de entre os finalistas, com quatro curtas subordinadas ao tema.

Da competição faz ainda parte, à semelhança da iniciativa em anos anteriores, o concurso de vide clipes. São seis os vídeos musicais que integram a rubrica “Volume” que tem como condição obrigatória de participação, ter como banda sonora o registo musical de um agrupamento de Macau.

O Festival Internacional de Curtas de Macau vai dar lugar a três master classes: duas a cargo do realizador e já vencedor do evento em 2015, o sueco Julien Dykmans, e outra pelas mãos do cineasta e argumentista chinês Zhang Zeming.

As sessões vão decorrer diariamente entre as 14h e as 22h, à excepção do dia 8 em que a mostra termina às 17h por ser o dia da cerimónia de entrega de prémios que ocorre às 19h no Teatro D. Pedro V. As entradas são livres.

6 Dez 2017

Ana Aragão, ilustradora: “Macau é uma fonte de inspiração riquíssima”

Está pela primeira vez em Macau para a abertura da exposiçãoo “Imaginary Beings” hoje na galeria do Taipa Old Village Art Space. Ana Aragão traz não seres imaginários e leva consigo ideias para a próxima mostra que vai ter como inspiração as particularidades do território

[dropcap]D[/dropcap]a arquitectura à ilustração. Como é que foi este caminho? 
Não foi um caminho planeado. Aconteceu por acaso. Sempre gostei de desenhar. Depois do curso de arquitectura ainda experimentei exercer a profissão e percebi que não era exactamente o sítio onde me sentia mais à vontade. Era demasiado abstracto estar sentada num computador um dia inteiro a olhar para um ecrã, ou mesmo ir às obras. A maior parte do trabalho do arquitecto é ser um gestor de recursos, de meios e de equipas. Percebi que isso, se calhar, não era talhado para mim e fiquei muito indecisa no final do curso. Tinha duas hipóteses: fazer um curso de ilustração ou um doutoramento em arquitectura. Por acaso optei pelo doutoramento e nas aulas comecei a desenhar mais. Acabei por fazer um blog com os meus desenhos e decidi cancelar tudo o que tinha que ver com arquitectura e a dedicar-me só à ilustração. Mas, claro que, no meu trabalho, existe sempre uma ponte com a arquitectura.

Estes trabalhos foram feitos para ser expostos em Macau. Há alguma relação com o território?
Mais ou menos. Esta exposição foi feita para vir para Macau e a relação com Macau não é evidente. Sabia que vinha aqui e o que mais me motivou foi poder unir as duas linhas de trabalho que tenho: uma a preto e branco com os desenhos detalhados, e o meu universo a cores. Nunca tinha conseguido conciliar estes dois mundos e achei que esta seria uma boa oportunidade de colocar a mim mesma esse desafio, o de conciliar estas duas vertentes. Como sei que há sempre um imaginário, talvez um bocadinho infantil, nas minhas ilustrações e que imaginei que seria bem aceite aqui em Macau, decidi explorar este imaginário em que uso estruturas como se fossem personificadas. Dei vida às estruturas que, se calhar, antes deste momento no meu percurso profissional, seriam mais abstractas. O trabalho foi a pensar que vinha para Macau, mas o conteúdo não foi literalmente baseado no território, embora saiba que Macau é uma fonte de inspiração riquíssima.

Porquê?
Os edifícios e as paisagens urbanas aqui têm muita informação o que me agrada muito e acaba por trazer muitas coisas novas ao meu trabalho.

Podemos esperar um novo projecto inspirado no que está a descobrir na RAEM?
Sim. Estou completamente apaixonada por estas formas de construir, esta apropriação do exterior através das gaiolas e das grades. Para mim é absolutamente fascinante. O engraçado é que, entretanto, fiz outros desenhos que estão no atelier e que não vieram para aqui porque estão guardados para outras altura, mas que já têm muito que ver com esta realidade. Acho que acabei por encontrar coisas aqui em que já tinha pensado antes. É uma grande coincidência. Sinto que, ao olhar para este edifícios, estou em casa. Apetece-me guardar as imagens e tudo o que vejo. Muitos destes edifícios que parecem muralhas gigantes e vertiginosas poderiam ser o começo de uma nova história e de um novo desenho.

O que mais vai trazer de novo?
A próxima ideia é utilizar uma técnica diferente. Até agora tenho trabalhado apenas com um registo linear. Comecei a fazer coisas com a caneta Bic que me vai permitir explorar a mancha. Penso que posso, com isso, fazer coisas mais realistas – estes de agora são mais fantásticos. Vão também ser desenhos muito maiores, o que me vai permitir adicionar ainda mais detalhes. A ideia é que a próxima colecção venha a Macau.

É a primeira vez que está em Macau. Já falou da casas antigas. E os casinos? Como é que os vê?
Acho que é sempre interessante e enriquecedor perceber como se vive de outra forma. Em Portugal não temos este tipo de ostentação que existe nos casinos e que é quase obscena. Esta relação com o dinheiro, que é tanto, é quase pornográfica no sentido em que revela tudo e acaba por não criar muito mistério. Ali, tudo é revelado, tudo brilha e fala. São espaços em que é constantemente de dia, não existe a noite, não existe a passagem do tempo, não existe a sujidade. É fascinante, sem duvida, mas parece que estamos num outro mundo dentro de outro. Penso que as casas aqui têm espaços mínimos e os casinos são imensos. Acaba por ser um contraste. Parece que estamos num filme em que, de repente, passamos de um cenário cheio de cheiros, de ruídos diferentes e com bastantes marcas do tempo para um mundo que nos tira todas as coordenadas espaciais e temporais relativamente ao exterior o que acaba por ser um choque  muito grande mas que também me agrada.

6 Dez 2017