Fogo-de-Artifício | Dez equipas concorrem ao concurso internacional em Setembro

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]ilipinas, Coreia do Sul, Japão, Bélgica, França, Portugal, Alemanha, Áustria, Itália e China vão mostrar as suas habilidades na arte da pirotecnia no 29.º Concurso Internacional de Fogo-de-Artifício de Macau (CIFAM). O evento, apresentado ontem, vai ter lugar nos dias 1, 8, 15 e 24 de Setembro e 1 de Outubro na baía em frente à Torre de Macau.

Das dez empresas participantes, quatro (oriundas da Coreia do Sul, Bélgica, França e China) vão fazer a sua estreia no CIFAM, iniciativa de cariz anual organizada pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST). Paralelamente às cinco noites de explosões de cores nos céus vai realizar-se um Arraial (entre as 17h e as 23h), que reunirá gastronomia, espectáculos, jogos, entre outros, numa iniciativa em cooperação com a União Geral das Associações dos Moradores de Macau.

O canal chinês da TDM vai assegurar a transmissão em directo dos espectáculos pirotécnicos, enquanto o canal chinês da Rádio Macau vai transmitir em directo a música das exibições (às 21h e às 21h40). Há também vários programas de divulgação, patrocinados pela Wynn Resorts, incluindo o Concurso de Composição de Canção para o próximo 30.º Concurso Internacional de Fogo-de-Artifício de Macau, mantendo-se ainda a organização dos Concursos de Fotografia, de Desenho para Estudantes e de Design do Troféu do CIFAM.

24 Jul 2018

Entrevista | Sara F. Costa: “Os poemas são outras peles”

“A Transfiguração da fome” é o quinto livro de poesia de Sara F. Costa. A apresentação da obra escrita entre Portugal e o oriente está marcada para o próximo dia 28 e vai ser feita por António Graça de Abreu e Fernando Sales Lopes

[dropcap]P[/dropcap]orquê “A Transfiguração da Fome”?
Este livro é publicado na sequência de uma menção honrosa no Prémio de Poesia Soledade Summavielle atribuído pelo Núcleo de Artes e Letras de Fafe (NALF). A palavra “transfiguração” está comumente associada a um episódio bíblico mencionado no primeiro testamento, e que ocorre numa montanha conhecida como Monte da Transfiguração, onde Jesus aparece em forma de brilho. Na doutrina cristã, o facto de a transfiguração se dar no alto de uma montanha representa o ponto onde a natureza humana se encontra com Deus: o encontro do temporal com o eterno, com Jesus a fazer o papel de ponte entre o céu e a terra. Na mitologia chinesa taoista, é o homem que faz a ponte entre a terra e o céu, deslocando a divindade para o humano. Seja como for, o livro não é propriamente uma reflexão de pendor religioso, apenas se aproveita deste sentido para logo acrescentar uma viragem com a introdução da “Fome”. A “fome” pode ser a fome dos mais fracos, pode ser a fome mundana da ambição, pode ser o desejo. Transfigurar a fome em poesia é apenas uma tentativa de atribuir um sentido divino a tantos sentimentos mundanos que tenho.

Sempre achei que tanto a poesia como o meu fascínio pelo Extremo Oriente se relacionavam.

Existe algum teor religioso ao longo da obra?
Não, eu diria que o meu instinto, ao utilizar estes termos, foi mais irónico. Ao longo do livro os poemas abordam certos valores tidos como religiosos como o nascimento, a verdade, a fé e a esperança, acho que se quisermos interpretar algo timidamente religioso aqui, é possível, mas é possível interpretar exactamente o oposto, o mundano e existencialista, o estado de coisas em que se espera para sempre por uma ausência infinita.

Foi escrito entre Lisboa e Pequim. Como foi o processo de escrita deste livro?
Há uma diferença de tonalidade entre a primeira parte e a segunda parte. Recebi umas observações do António Graça Abreu que me disse que gostou sem dúvida mais da segunda parte porque, escrita num momento em que já estou a viver em Pequim, sente-se que os poemas respiram e falam sobre este espaço geográfico. Como historiador e especialista em estudos chineses, compreendo o interesse dele por esta faceta. A primeira parte foi escrita em Lisboa ao longo de vários meses. Não tenho um processo muito específico. Sento-me e escrevo. Escrevo no computador ou escrevo à mão se não estiver com o computador. Há alguns momentos no livro que são muito intimistas e outros que se focam mais no tema da transfiguração. Acho sempre que o desafio é falar tão especificamente de algo que é meu de tal modo que se torna identificável porque, por muito que possamos passar por coisas particulares, há sempre forma de fazer com que os outros compreendam e se crie uma empatia entre o que está escrito e quem lê.

Como é que sente a influência asiática no que escreve?
A segunda metade do livro foi escrito entre Macau, Coreia do Sul e Pequim. É aí que se sente mais a influencia asiática nos meus poemas. Muitas vezes são apenas menções a lugares, outros poemas são uma reflexão sobre a minha aculturação. Sempre achei que tanto a poesia como o meu fascínio pelo Extremo Oriente se relacionavam, na medida em que o que me faz criar é realmente encarnar diferentes papéis, deslocar-me daquilo que eu sou para aquilo que eu posso vir a ser depois de passar por determinada experiência. Os poemas são outras peles e experienciar outras culturas é também ter a capacidade de ocuparmos peles diferentes das nossas em todos os níveis, no sentido social, no sentido cultural, no sentido linguístico, etc.

“A Transfiguração da Fome” tem uma nota introdutória de José Luís Peixoto. Porquê este autor?
O que ele escreve nesta nota é muito interessante porque ele fala de uma relação poética entre nós. Gosto sempre de trazer para os meus livros as minhas referências, por isso abro com citações de Yukio Mishima, ou Herberto Helder, ou Al Berto, dependendo do livro. Quando era adolescente cresci muito poeticamente com o livro “A Criança em Ruínas”. Sei que José Luís Peixoto é mais conhecido pela prosa, mas há nele um génio poético inegável e que influenciou muito a minha expressão. Ao falar de uma ligação de quem lê para quem escreve ou de quem escreve para quem escreve, acho que estou a chegar a um nível de meta-narrativa muito pertinente. A maioria das pessoas que leem o que eu escrevo são também muitas vezes escritores. Estas referências são talvez uma forma de celebrar esta espécie de comunidade poética que se gera à volta de livros de poesia. Por outro lado, o José Luís Peixoto tem participado em vários eventos na Ásia. Para a apresentação do meu livro em Lisboa também fiz questão de convidar um poeta que vive em Macau, Fernando Sales Lopes e o poeta e historiador António Graça Abreu, um dos maiores especialistas na cultura e literatura chinesa. Muita gente escreve poesia mas acho que se torna interessante quando temos mais em comum para além da dimensão literária, que é bastante vaga.

Porquê a poesia?
É daquelas questões difíceis de explicar de uma maneira completamente legível. Escrevo desde criança. Não quero entrar em misticismos e dizer que é algo que “nasceu” comigo, mas em simultâneo é um pouco assim que me sinto. Não é uma explicação muito racional. Tenho prazer em escrever e sinto muitas vezes necessidade de o fazer, uma forma de reinterpretar a realidade e dizer: “é isto que eu acho que se está a passar”.

23 Jul 2018

Cinemateca Paixão | Filmes de animação chegam à tela em Agosto

Um total de 14 filmes de animação compõem o cartaz do “Festival de Animação Mundial de Verão”, que estará em exibição na Cinemateca Paixão. A curadoria está a cargo de Jonathan Hung, de Hong Kong

 

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]epois dos filmes portugueses e dos documentários, a Cinemateca Paixão prepara-se para apresentar um novo cartaz a pensar nas férias de Verão dos mais pequenos. O “Festival de Animação Mundial de Verão” acontece entre os dias 11 e 26 de Agosto e apresenta 14 filmes de animação, num trabalho de curadoria de Jonathan Hung, de Hong Kong.

De acordo com um comunicado, este festival “traz 14 notáveis animações com uma grande variedade de temas e estilos, que nos garantirá uma maravilhosa viagem ao mundo da fantasia”. Além disso, “pais e filhos poderão aprender a realizar animações simples no ‘Workshop de Animação para a Família’”, que terá a duração de duas horas e que é destinado a crianças e jovens. O workshop, apenas em língua chinesa, decorre no dia 4 de Agosto entre as 15h e 17h.

Uma vez que o cartaz é composto por películas que receberam nomeações ou que “ganharam prémios importantes em diversos festivais de cinema de relevo”, a Cinemateca Paixão encarregou-se de dar ao festival “quatro destaques diferentes”.

O festival irá realçar ainda um realizador, na categoria “Realizador em Foco”. Nesse âmbito será recordado Satoshi Kon, falecido em 2010, através de quatro filmes de animação: “Azul Perfeito”, “Actriz do Milénio”, “Padrinhos de Tóquio” e “Paprika”. De acordo com os organizadores do festival, a selecção “permitirá um olhar retrospectivo e exaustivo do imaginário deste autor”.

Quatro séries, diferentes filmes

A primeira parte do festival intitula-se “Série Luminosa” e mostra ao público o filme “A Ganha Pão”, que foi nomeado para um Óscar. Este filme conta “a história de uma menina de 11 anos que tem de tomar conta da família e aprender a ser independente depois do pai ser preso”. Será também exibido o filme de Taiwan “Na Estrada da Felicidade”, que mostra “a mudança social em Taiwan através da viagem de crescimento de uma jovem rapariga”.

Ainda nesta categoria, o filme “A Ilha dos Cães”, de Wes Anderson, também faz parte da selecção, tal como “A Rapariga sem Mãos”, “um perturbador olhar sobre o mundo dos Irmãos Grimm, [onde] o realizador recorre a linhas de tinta claras para definir a suavidade e dureza da heroína”.

Na Cinemateca podem ainda ser vistas “duas animações cheias e humor negro para desfrutar, ‘Uma Cidade Chamada Pânico’ e ‘A Minha Escola Inteira a Afundar-se no Mar’”.

Segue-se a categoria “Série Negra”, com duas animações que são “verdadeiramente surreais e surpreendentes”. No filme “A Noite É Curta, Não Pares de Andar” revela-se a história de uma jovem que se lança “numa viagem pela noite de Tóquio cheia de gente embriagada e eventos misteriosos”. Por sua vez, “Anomalisa” versa sobre os estranhos encontros nocturnos de um escritor. Este filme, de Charlie Kaufman, esteve nomeado para um Óscar e venceu o Grande Prémio do Júri no Festival de Cinema de Veneza.

Na série “Sucessos da China” entra o filmes “Tenha um bom dia”, de Lou Jian, que está cheio de “ridículo, imprevisibilidade, humor negro e um poderoso estilo de animação raramente visto em filmes de animação chineses”. Outra película de animação incluída nesta categoria intitula-se “Dahufa” que conta uma história “onde a amizade permite aos personagens repensarem as suas identidades e posições, liberdade e escravatura, mas também as suas ideias feitas”. Os bilhetes começam a ser vendidos este sábado, ao balcão da Cinemateca ou online.

20 Jul 2018

Arquitectura | Open House Macau é hoje oficialmente apresentado

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] espaço criativo “Ponte 9”, no Porto Interior, uniu-se à iniciativa “Open House Worldwide” que acontece em Macau nos dias 10 e 11 Novembro, sendo esta a primeira vez que o evento, ligado à história e arquitectura, acontece na Ásia. A apresentação oficial acontece hoje e o objectivo é “democratizar o acesso à arquitectura, através de visitas gratuitas aos bastidores de 50 edifícios que contam a história de quase 500 anos de coabitação entre o Oriente e Ocidente”, aponta um comunicado.

As submissões de edifícios a visitar devem ser feitas até ao dia 17 de Agosto para que haja “dezenas de oportunidades para falar, pensar e celebrar a cidade”. “O programa de visitas baseia-se num critério de selecção que avalia o contributo único dos edifícios para a cultura e tecido urbano da cidade, tendo em vista oferecer uma perspectiva ecléctica do panorama construído de Macau”, apontam os organizadores, sendo vão existir nos percursos “exemplos de arquitectura vernacular (tradicional chinesa), a propostas de estilo neoclássico, art déco, modernista e contemporâneo”.

Macau é importante para este evento porque é considerado como “o território mais densamente povoado do mundo, uma cidade vibrante e em constante mudança, detentora de uma história única de intercâmbio cultural”. Além disso, “o crescimento da indústria do jogo e consequente desenvolvimento de casinos dos últimos anos justapõe-se a um tecido compacto e texturado, no qual edifícios idiossincráticos contam uma história de quase 500 anos de coabitação entre o Oriente e o Ocidente”.

O “Open House Worldwide” foi criado em 1992 em Londres, tratando-se de uma iniciativa que se estrutura “a partir de um conceito simples, mas poderoso: convidar todos a explorar e a debater sobre a importância da boa concepção arquitectónica nas cidades, de forma inteiramente gratuita”.

“O sucesso do evento junto do público, justificou a criação da rede mundial Open House Worldwide – da qual o Open House Macau é membro -, uma das mais relevantes instituições internacionais para a promoção da arquitectura, incluindo 40 iniciativas em quatro continentes, que congregam a participação anual de mais de 1 milhão de visitantes”, explica um comunicado. A curadoria da Open House Macau está a cargo do CURB – Centro de Arquitectura e Urbanismo, dirigido pelo arquitecto Nuno Soares, em parceria com diversas outras instituições.

20 Jul 2018

Fotografia | Artistas sul-coreanas registam a opção de viver só

Está a nascer na Coreia do Sul uma nova tribo juvenil, noticia a CNN. “Honjok” é o movimento que se caracteriza pela opção de viver em solidão ao mesmo tempo que se retratam esses momentos em fotografia

 

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma jovem, sentada ao balcão de um bar. De olhar perdido, parece dar um beijo a um pequeno tomate. Numa outra imagem, desta feita a preto e branco, uma jovem é retratada com o olhar substituído pela luz de um túnel. Através de uma montagem, dirigem-se ao suposto olhar, três indivíduos. Estas são as descrições possíveis de duas das fotografias de Nina Ahn e Hasisi Park que retratam o movimento “honjok”.

“Honjok” é neologismo que combina as palavras “hon” (sozinho) e “jok” (tribo). O conceito aparece para descrever uma geração, que conta com cada vez mais elementos, que abraça a solidão e a independência como características identitárias. O fenómeno reflecte o crescente número de lares constituídos por uma só pessoa e “é também a expressão que retrata a mudança de atitudes em relação ao romance, ao amor, ao casamento e à família. É esta a subcultura que dá mote aos trabalhos das fotografas Nina Ahn e Hasisi Park, aponta uma reportagem da CNN.

“É a sensação de desistir”, disse Ahn em entrevista à mesma fonte. Para a fotógrafa a geração a que pertence já não se apoia no trabalho para a conquista da felicidade pelo que a aposta é no individuo, só, na sua existência. “Vivemos numa geração em que simplesmente trabalhar arduamente por um futuro brilhante não garante a felicidade, então por que não investir em ‘eu’, dando tempo a cada um de nós?”, questiona retoricamente.

As imagens não deixam de carregar um sentimento de tristeza, mas não podia ser de outra forma. “O facto das minhas fotografias terem associada a tristeza reflecte o que é actualmente a cara da minha geração”, diz.

Embora as imagens de Ahn retratem uma solidão palpável, a fotógrafa acredita que os seus contemporâneos estão mais dispostos a dar sentido à vida recorrendo a outras acções, como as viagens. A ideia parte também do princípio de que existe uma certa desesperança quanto às certezas do futuro. “A geração dos nossos pais sabia que depois de trabalhar afincadamente e de economizar durante alguns anos seria possível comprar uma casa para a família, mas nós não”, diz. “Chegámos à conclusão de que nunca seremos capazes de conseguir ter alguma coisa, mesmo trabalhando a vida toda”, aponta.

A efemeridade do mundo moderno é uma das maiores crenças desta geração. “Sabemos que a felicidade nunca dura sempre e queremos ter uma forma de viver consoante esta circunstância e de maneira mais sábia. As nossas prioridades mudaram”, sublinha.

Nina Ahn não está sozinha no registo fotográfico deste movimento social. A fotógrafa Hasisi Park também explora o isolamento entre os jovens sul-coreanos. No seu trabalho retrata uma juventude sem poder “no grande deserto que é a sociedade em geral”, revela à CNN.

Para a fotógrafa, a ascensão do movimento “honjok” deve-se às pressões sociais da vida moderna que limitam a inter-acção com os outros.

“A sociedade em que vivemos pode ser muito instável, e acho que, por isso, os jovens não se querem comprometer “, disse em entrevista.

Transformações radicais

Em 2016 foram registados, na Coreia do Sul, 5 milhões de lares em que reside uma só pessoa, o que corresponde a cerca de 28 por cento da população do país refere, Michael Breen, autor do livro “Os Novos Coreanos: A História de um Nação “, tendo como base os dados dos serviços estatísticos daquele país. De acordo com o mesmo autor, refere a CNN, este tipo de desenvolvimento social orientado para as famílias unipessoais vai contra as tradições históricas da sociedade coreana.

“Acho que é uma consequência natural da democracia e do desenvolvimento económico”, diz Michael Breen. “Em muitas sociedades asiáticas, os interesses e direitos individuais têm sido subordinados aos da organização familiar ou de grupos”, explicou. No entanto, e com o desenvolvimento da democracia, os valores têm-se modificado e ao invés do colectivismo, o individualismo começou a predominar.

“Quando cheguei pela primeira vez à Coreia, nos anos 70, todos os coreanos que conhecia tinham cinco ou seis irmãos, e todos vinham de famílias numerosas”, acrescentou Breen. “Costumava ver muitos parentes a viver na mesma aldeia”.

Com uma crescente classe média e os esforços por parte do Governo na promoção do planeamento familiar, a taxa de natalidade sofreu “uma queda dramática de 6,1 nascimentos por mulher em 1960, para 1,2 em 2015”.

Criar um filho começou a ser percepcionado como um peso e as noções de família tradicional mudaram, aponta.

O crescimento do individualismo pode ser uma fonte de satisfação, considera Jang Jae Young, gestor de um site dedicado ao estilo de vida solitário, o honjok.me.

“A geração de nossos pais estava ocupada com a preocupação de por o pão na mesa”, disse em entrevista à CNN. “Tiveram de se sacrificar para alimentar as famílias e contribuir para a economia”, explica. Hoje em dia o objectivo de cada um é outro: a realização pessoal. “Há um desejo de auto-realização e de felicidade, mesmo que isso signifique estar sozinho”, considera.

19 Jul 2018

Festival Internacional de Música | Ópera “L’Elisir d’Amore” inicia programa

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] 32ª edição do Festival Internacional de Música de Macau (FIMM) acontece em Setembro e Outubro com o tema “Viver – O Momento na música”, mas já é conhecido o espectáculo que fará a abertura o programa. Trata-se da ópera em dois actos “L’Elisir d’Amore”, que marcará a celebração dos 170 anos da morte do compositor Gaetano Donizetti. De acordo com um comunicado do Instituto Cultural (IC), o espectáculo irá mostrar ao público “o poder mágico do amor através da sua música magnífica”.

O cartaz deste ano conta ainda com o Quarteto Hagen, “que traz virtuosismo em perfeita harmonia”, enquanto que o pianista jamaicano Monty Alexander “mostra o seu talento” no espectáculo “Uma Vida no Jazz”. Além disso, a Orquestra de Macau junta-se à Orquestra Filarmónica de Xangai e apresenta a versão original (1887) esquecida durante muito tempo da Sinfonia nº. 8 em Dó Menor de Bruckner, que toca de forma profunda os sentimentos e inspirações da humanidade.

O IC revela ainda que o programa desta edição do FIMM visa também “apresentar os clássicos da Alemanha e Áustria: a Camerata Salzburg, proveniente da cidade natal de Mozart, junta-se ao famoso violinista francês Renaud Capuçon e traz a mais pura interpretação da música clássica da escola vienense, demonstrando um fantástico diálogo entre o solista e a orquestra”. “Com uma história mais de 400 anos, a Staatskapelle Dresden apresenta a mais autêntica música alemã, sob a batuta do maestro Christian Thielemann, ao interpretar as sinfonias do compositor romântico Schumann”, aponta ainda o mesmo comunicado.

Os bilhetes para a 32ª edição do FIMM começam a ser vendidos em Agosto. Mais detalhes do programa serão divulgados nas próximas semanas.

18 Jul 2018

Teatro | Espectáculo infantil “O Caminho para Casa” regressa ao CCM

Inspirado no livro do ilustrador Oliver Jeffers, “O Caminho para Casa” regressa ao Centro Cultural de Macau depois do sucesso dos primeiros espectáculos em 2014. Os artistas falam de uma peça de marionetas em que se celebra o poder da amizade entre um menino e um pequeno marciano

 

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ensado para crianças com mais de quatro anos, “O Caminho para Casa” regressa ao auditório do Centro Cultural de Macau (CCM) para mais espectáculos, que decorrem entre hoje e domingo. A peça de marionetas conta a história de um rapaz que um dia descobre um avião a hélice no seu armário e decide voar até ao espaço. Quando o motor começa a falhar e perde o combustível, o jovem conhece um pequeno marciano que também ficou sem meio de transporte.

Esta é a história por detrás do espectáculo que mostra aos mais pequenos o poder da amizade, através de dois personagens que se ajudam mutuamente no regresso ao planeta Terra. Como não há diálogos, a história é contada por via de sons e gestos que revelam a história dos dois amigos.

A produção resulta do trabalho conjunto do teatro Refleksion, da Dinamarca, e do Branar Teatar, da Irlanda. Ontem, os artistas Aapo Juhana Repo e Neasa Padhraicin Ni Chuanaigh, contaram mais detalhes deste espectáculo que pretende dar maior destaque às marionetas, pelo que se pode esperar um jogo de contrastes entre a luz e a escuridão.

“Vai existir pouca visibilidade para que as marionetas tenham uma maior atenção por parte do público, para que seja também mais mágico. Fizemos umas pequenas adaptações, mas se lerem o livro de Oliver Jeffers não ficarão desapontados com o nosso espectáculo”, explicou o artista Aapo Repo.

Oliver Jeffers já viu o espectáculo duas vezes e sempre gostou do que viu, ainda que tenha imposto uma única condição para a adaptação subir ao palco. “Esteticamente tinha de ser semelhante ao livro”, explicou a outra artista que faz parceria com Aapo Repo, Neasa Ni Chuanaigh.

Reacções iguais

Os directores das duas companhias teatrais conheceram-se em 2009, mas levou algum tempo até que “O Caminho para Casa” subisse ao palco. “Quando se conheceram achavam que Oliver Jeffers era um grande ilustrador. Sempre falaram em fazer uma co-produção em parceria, e em 2012 ou 2013 acharam que era a altura certa”, apontou Neasa Ni Chuanaigh.

Com digressões feitas ao longo da Europa, América e Ásia, os artistas confessam que a reacção das crianças acaba por ser muito semelhante. “Tem sido muito bom ver as crianças de todo o mundo a rir nas mesmas partes do espectáculo e gostar. É diferente do que interpretar perante um público adulto, e penso que podem ser mais pacientes do que as crianças. Precisamos de ter mais cuidado com os movimentos, mas as crianças estão atentas ao espectáculo, no geral”, adiantou Aapo Repo.

O teatro Refleksion sempre se dedicou à produção de teatro de animação e de marionetas, não apenas para crianças como para adultos, sendo um trabalho que desenvolve há 25 anos. Um comunicado do CCM refere que as produções desta companhia dinamarquesa “são simples em termos de expressão mas com um grande sentido de pormenor, tanto no que respeita às marionetas como no que respeita ao design dos cenários”. Além disso, a companhia “busca uma universalidade em cada tema, uma vez que os espectáculos abordam com frequência questões da condição humana, focando-se na importância da amizade e na necessidade de enfrentarmos os nossos temores”.

Hoje “O Caminho para Casa” faz-se às 19h30, com repetição amanhã nesse horário e também às 17h. Na sexta-feira o espectáculo sobe ao palco às 15h, 17h e 19h30. Aos sábados e domingos decorre às 11h, 15h e 17h. Cada espectáculo tem a duração de 50 minutos.

18 Jul 2018

Morreu o jornalista e escritor Altino do Tojal, autor de “Histórias de Macau”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] escritor e jornalista Altino do Tojal morreu no domingo à noite, aos 78 anos, em Brunhais, Póvoa de Lanhoso, distrito de Braga, disse à Lusa fonte da família, acrescentando que as cerimónias fúnebres se realizam esta quarta-feira.

De acordo com a mesma fonte, o velório do autor de “Os Putos” inicia-se na quarta-feira, às 11:00, e o funeral realiza-se no mesmo dia, às 15 horas, na Igreja de Sobradelo da Goma, Póvoa de Lanhoso.

A fonte familiar indicou ainda que o corpo do escritor seguirá depois para o Porto, para ser cremado, “como era a sua vontade”.

Altino do Tojal nasceu a 26 de julho de 1939, em Braga, onde viveu até aos 27 anos, segundo recordam vários amigos.

Trabalhou em diversos jornais, nomeadamente no Jornal de Notícias, no lisboeta O Século, até ao seu encerramento, e depois no Comércio do Porto.

Destacou-se na escrita de ficção e a sua obra “Os Putos” foi adaptada ao teatro, à televisão e à banda desenhada.

A primeira versão deste livro surgiu ainda em 1964, com o título “Sardinhas e Lua”.

Escreveu igualmente “O Oráculo de Jamais” (1979), “Os Novos Putos” (1982), “Orvalho do Oriente” (1981) e “Viagem a Ver o Que Dá” (1983) .

Nos anos de 2005/2014, a Imprensa Nacional Casa da Moeda (INCM) retomou títulos do autor, como “Ruínas e Gente”, “Jogos de Luz e Outros Natais” e ainda antologias como “Noite de Consoada”, “Histórias de Macau” e “Os Putos – Contos Escolhidos”.

Encetados na década de 1960, “Os Putos” constituiram um projeto que Altino do Tojal manteve em curso, durante anos, com histórias de crianças de rua, que o escritor Urbano Tavares Rodrigues definiu como “crianças sós, iludidas, deserdadas”, vítimas da “máquina trituradora dos adultos acomodados à brutalidade, à estupidez pomposa, à intriga reles, ao senhor rei hábito”.

Numa introdução à edição mais recente da INCM, datada de 2014, Altino do Tojal escreveu: “Fez-me bem escrever este livro, conto a conto, durante meio século, porque dei por mim a sublimar dificuldades de sobrevivência e fastios existenciais que, de contrário, exigiriam um estoicismo superior àquilo de que sou capaz, para serem toleráveis”.

“Embora desejando que ‘Os Putos’ fizessem doer a consciência tão cruelmente como os vivi, quis também que arrebatassem a imaginação tão magicamente como os sonhei. O facto de continuarem a ser lidos, tanto tempo decorrido, permite concluir que, da semente dos meu propósitos, germinou boa árvore.”

17 Jul 2018

Inês Rodrigues acaba de publicar livro sobre investigação acerca do massacre de 1953, em São Tomé e Principe

A obra da professora Inocência Mata, da Universidade de Macau, foi fundamental para Inês Rodrigues quando decidiu fazer o seu doutoramento sobre o Massacre de 1953 ocorrido em São Tomé e Príncipe. Doutorada pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Inês Rodrigues fala sobre a sua investigação transformada agora em livro, intitulado “Espectros de Batepá. Memórias e narrativas do ‘Massacre de 1953’

[dropcap]N[/dropcap]um dos seus artigos afirma que o “massacre de Batepá” é um acontecimento praticamente desconhecido em Portugal. Como teve o primeiro contacto com este acontecimento e porque decidiu investigar este assunto?
O primeiro contacto foi fortuito e deu-se quando li, pela primeira vez, a poesia da Conceição Lima, onde as referências ao massacre são recorrentes. A obra pioneira da académica são-tomense Inocência Mata [docente da Universidade de Macau], a quem devo muito intelectualmente e que tem três livros sobre a literatura são-tomense que são importantíssimos. Lendo estes textos, que são incontornáveis, apercebi-me que havia dimensões menos problematizadas deste evento histórico que poderiam ser iluminadas por uma pesquisa sistemática e global, a partir do campo dos estudos culturais, focada no «Massacre de 1953» ou «Massacre de Batepá», como também é conhecido.

Diz também que em Portugal “se recusa a discussão de um evento perturbador”. Fala da comunidade académica, dos media? Neste sentido, ainda há muitos pudores em Portugal relacionados com o passado colonial?
Em anos recentes, têm emergido muito mais espaços onde discutir e problematizar estes temas, sobretudo promovidos por associações de afro-descendentes e pela academia, mas também por alguns meios de comunicação social e jornalistas. Todavia, julgo que ainda há um longo caminho a percorrer. Considero que existe uma narrativa mestra, muito perceptível em certos discursos políticos e comemorações nacionais, por exemplo, que persiste em considerar o colonialismo português como tendo sido mais harmonioso e pacífico do que outros colonialismos europeus.

Continua a não se aceitar muito do que aconteceu?
Creio que ainda subsiste uma dificuldade em lidar criticamente com o passado colonial em certos núcleos nacionais e sectores da população, nomeadamente, no reconhecimento de que o colonialismo português compreendia dimensões de violência física e simbólica estruturais na administração, manutenção e gestão dos territórios e populações colonizados. No caso específico do «Massacre de Batepá», temos o facto de apenas em 2018 um Presidente da República português ter visitado um dos seus dos lugares emblemáticos (Fernão Dias), em visita oficial ao arquipélago, tendo aí reconhecido, a faceta ‘menos boa’, como disse Marcelo Rebelo de Sousa, da história de Portugal. Recordo, ainda, a actual proposta de construção de um eventual ‘Museu das Descobertas’ em Lisboa, que, felizmente, tem gerado uma profícua discussão. Estes ‘lugares de memória’ (estátuas, museu, toponímia, etc.) transportam significados simbólicos, transportam um passado de silenciamentos, exclusões e opressões várias que não podem ser ignorados. Daí que o manifesto publicado no jornal Público, e assinado por cem afro-descendentes portugueses, contra a edificação deste museu, nos moldes como foi apresentado e contra o que ele representa, seja um movimento importante para se perceber que estes processos de materialização da memória a partir do Estado têm que envolver a sociedade civil e não podem ser projectados desgarrados dos sujeitos.

Estabelece uma ligação ao relato literário deste massacre, feito pelos poetas Alda Espírito Santo e Conceição Lima. Até que ponto a literatura foi importante para preservar a memória deste acontecimento?
O corpus literário do massacre é muito heterogéneo e, por isso, é importante ter em conta os contextos de produção desses textos uma vez que a partir deles emergem valores estéticos e ideológicos diferenciados. Nesse sentido, na minha pesquisa, defini três períodos histórico-sociais e políticos específicos a partir do qual analisei as representações de Batepá. A dita ‘literatura colonial’ em que, na maioria das obras, são reproduzidos vários estereótipos associados às populações colonizadas. A literatura de testemunho, produzida sobretudo durante a luta de libertação no arquipélago e nos anos imediatamente posteriores à conquista da independência, a 12 de Julho de 1975, que constrói o ‘herói da liberdade da Pátria’. Por fim, a literatura da ‘pós-memória’ (seguindo o conceito proposto por Marianne Hirsch), isto é, as obras de escritores e escritoras que não viveram o massacre, mas que dele se apropriam criativamente como se de um passado vivido se tratasse – os herdeiros e as herdeiras de 1953. É esta literatura mais recente, sobretudo, mas em particular a poesia de Conceição Lima, que mais tem contribuído para complexificar as narrativas históricas do massacre, demonstrando que quadros teóricos e causais simplistas e categorias estanques como vítimas e perpetradores não são suficientes para se pensar este episódio, os seus actores ou para perceber como ele se desenrolou. De qualquer modo, e agora respondendo à questão mais directamente, a literatura, sobretudo a de testemunho, foi muito importante, à época, principalmente em certos segmentos da população são-tomense, para resgatar este acontecimento do passado, para construir uma comunidade próxima a partir dele e para fixar o sucedido numa narrativa que fosse passível de transmitir a ‘gerações’ vindouras.

Faz também uma ligação com o termo “fantasmagorias”. Quer isso dizer que este massacre existe, sobretudo, no imaginário dos são-tomenses, existindo várias versões do mesmo?
O fantasma, neste livro, é uma figura a que recorro de modos distintos: por um lado, enquanto elemento de imaginação e representação de um passado que continua muito presente na sociedade são-tomense e cujos legados ainda se fazem sentir no arquipélago e, por outro, enquanto elemento material e sujeito que produz conhecimentos. Isto significa que o massacre é um ‘fantasma’, no sentido da dialéctica visibilidade/invisibilidade, de que pouco se quer falar em Portugal; um ‘fantasma’ metafórico que, de modo marcante, paira no imaginário dos são-tomenses. Mas significa também que o massacre é reencenado de modo performativo por acção de espectros no sentido literal da palavra, como, por exemplo, no caso do Senhor Nove Nove, espírito de um sobrevivente de Batepá que ‘monta’ (para usar uma das expressões empregues localmente) o curandeiro Nijo e age como testemunha da violência persistente do colonialismo. Sobre Nijo e o Senhor Nove Nove há um documentário muito interessante e que recomendo vivamente, de Inês Gonçalves – ‘Na Terra como no Céu’. Estes fantasmas e seus significados simbólicos vão, por sua vez, contar diferentes versões dos acontecimentos de 1953. 

Este massacre foi muito importante do ponto de vista político, pois fundou o nacionalismo são-tomense. Acredita que foi fundamental para formar a sociedade actual de São Tomé e Príncipe?
Não há evidências concretas ou factuais da relação entre o massacre e a criação do CLSTP (Comité de Libertação de São Tomé e Príncipe) ou, mais tarde, do MLSTP (Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe). Contudo, há uma narrativa nacionalista que, durante os anos 1960 e 1970, resgata este evento como fundador do nacionalismo são-tomense. Como o momento do despertar político dos são-tomenses para a necessidade da independência. Na ausência de luta armada no território (como sucedia em Angola, Guiné e Moçambique) ou de lugares de violência carcerária como o Tarrafal, São Nicolau ou Ilha das Galinhas, é o massacre de 1953 que congrega em si a resistência dos são-tomenses ao colonialismo, a heroicidade e o sofrimento destes homens e mulheres, a vontade da população em não mais se subjugar às arbitrariedades e brutalidade do sistema colonial, etc.

Legitimou também o “Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe”, que afirma que institucionalizou a memória de uma forma não consensual. Pode especificar?
Como conta detalhadamente Gerhard Seibert numa obra notável sobre o percurso político e social do país desde o colonialismo até à independência – Camaradas, Clientes e Compadres. Colonialismo, Socialismo e Democratização em São Tomé e Príncipe (2002, ed. revista e aumentada) –, nos anos 1960 e 1970, quando a narrativa nacionalista são-tomense se ancorou simbolicamente no massacre para as suas reivindicações de autodeterminação, optou por destacar alguns forros – grupo etno-cultural dominante no arquipélago e que designa os descendentes de ‘filhos-da-terra’ e de escravos alforriados – como os ‘heróis e mártires’ da resistência no arquipélago ao domínio colonial. Excluindo, por conseguinte, as acções e desejos dos trabalhadores contratados ou de forros de segmentos socioeconómicos vulneráveis do processo de imaginação e construção da nação. Esta narrativa, mobilizada, como disse, com maior ênfase, durante a luta de libertação e nos primeiros anos da independência ainda vai tendo algum lastro nos dias de hoje e falha em reconhecer adequadamente as muitas tensões e nivelações de estatuto presentes na sociedade colonial de São Tomé e Príncipe, constituídas não apenas com base em signos como a cor da pele, mas também em factores como classe social, diferença sexual, geografia, entre outros. Para se compreender o massacre é preciso, então, perceber primeiro os modos como o colonialismo português desempenhou um papel preponderante na categorização da sociedade do arquipélago, profundamente hierarquizada, instituindo, especialmente através do trabalho, relações de poder muito complexas entre portugueses, colonizadores de outras origens europeias, forros, angolares e trabalhadores contratados de várias geografias.

Publicado este livro, que é o resultado do seu doutoramento, que projectos pretende desenvolver no futuro?
É inevitável sentir que fica sempre imenso por dizer e explicar numa pesquisa deste género, acima de tudo porque se refere a um massacre colonial repleto de nuances e porque o meu lugar de enunciação é, inevitavelmente, Portugal… Elenco algumas das interrogações em aberto que avanço na conclusão do livro: por exemplo, serão a fantasmagoria e a figura do ‘espectro’ elementos profícuos de análise se ampliados às representações literárias de outros massacres fundadores, como, entre outros, Mueda, Wiriamu ou Pidjiguiti? Quais são as possibilidades de se construir uma memória pública crítica do massacre em Portugal? O que espero, na verdade, é que este arquivo da ‘imaginação do massacre’ possa permanecer um processo em aberto e que seja discutido e retrabalhado, suscitando novas interpretações críticas individuais e colectivas sobre o passado comum de Portugal e São Tomé e Príncipe.

17 Jul 2018

Luís Represas reconhece “outra dimensão” em novo álbum sem perder identidade

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] músico Luís Represas disse à agência Lusa que o seu novo álbum, “Boa Hora”, no qual partilha interpretações com Carlos do Carmo e Ivan Lins, revela “uma outra dimensão e outro olhar” sem perder a sua “impressão digital”.

“Todo o processo criativo, de produção, em todo o processo de juntar os parceiros, tudo isto levou a se destapar uma pedra e descobrir a fase em que estou e me sinto muito bem, com uma outra dimensão e um outro olhar, sem perder a minha impressão digital”, disse o músico à agência Lusa.

A “impressão digital é algo que custa muito a criar”, disse o músico, referindo que “há compositores que pulam de fases para maneiras de estar, e há outros que gostam de ir evoluindo, progredindo e caminhando, mantendo essa impressão digital, que é uma coisa que leva muito tempo e custa muito a ganhar”.

A “impressão digital demora tempo a criar, mas é aquilo pelo qual o artista é reconhecido, quando se ouve, mas depois pegar nela e ir evoluindo e trabalhando com ela, é a forma como eu gosto de estar”, disse Represas, reconhecendo que tendo tido, ao longo da carreira, influências latino-americanas ou do fado, “há um veio que se mantém autêntico, que é um ADN”, que, no seu caso, defendeu, vem de quando começou nos Trovante, grupo que apontou como o seu berço e a sua escola.

O álbum, cuja concretização contou com o apoio do Fundo Cultural da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), é constituído por 14 temas, entre os quais “Boa Hora”, que abre e dá título ao CD, uma letra de Jorge Cruz que também assina a música com Represas.

Luís Represas partilha a interpretação de alguns temas com nomes como Jorge Palma e Paulo Gonzo, em “Cinema Estrada”, Mia Rose, em “A Curva do Horizonte”, Carlos do Carmo, em “O Colo do Vento”, e Stewart Sukuma, com quem colaborou várias vezes, em “Se Achas Bem”, que inclui versos numa das línguas de Moçambique, o changana.

“Cada um [desses temas] tem uma razão especial e surge da conversa amena e boa, que temos mantido ao longo do tempo, mas foram surgindo conforme o correr da composição, nenhum foi premeditado”, defendeu Represas, referindo que era “uma lacuna” não ter ainda gravado com Carlos do Carmo, de quem é amigo “há muitos anos”.

Entre os autores escolhidos, há José Calvário (1951-2009). Luís Represas gravou uma composição que o maestro lhe tinha dado, que encontrou casualmente e para a qual escreveu “A Curva do horizonte”.

“Depois de Ti” surge de um poema da filha, Carolina Represas, com quem já tinha colaborado, tendo assinado, por exemplo “O Aprendiz”, de um anterior CD.

“Não sou um ‘pai coruja’, e a Carolina é uma parceira como os outros. E desde que me reveja na forma como ela trabalha e nas palavras e nas ideias, e se o faz bem… é uma parceira como outros”, afirmou o músico que não escondeu o “orgulho” de a filha “estar a trabalhar na música e bem”.

Para o CD, produzido por Fred Ferreira, foi “fundamental” o apoio da SPA, que qualificou como “um balão de oxigénio” e “a única hipótese de os artistas fazerem os seus próprios discos”.

“O capital de investimento das discográficas é cada vez menor e menos eficaz”, o que se faz mais sentir quando se trata de um solista, como foi o caso.

Sobre o álbum, Luís Represas realçou que “junta várias gerações e formas, aparentemente diferentes de estar na música”, o que qualificou como “muito bom”, pois demonstra que “não há preconceitos ou ‘conflitos’ geracionais ou de estilos de música”, sendo antes “uma enorme partilha de ideias”.

“A música é uma das formas de arte mais transversais e aglutinadoras e serve, essencialmente, para unir”, conclui.

16 Jul 2018

Música | Beethoven a fechar temporada da Orquestra de Macau

A Orquestra de Macau está prestes a terminar mais uma temporada e este ano o concerto escolhido para assinalar a data foi a Sinfonia N.º 9 de Beethoven. O evento tem lugar no Centro Cultural de Macau no dia 28 de Julho

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Orquestra de Macau (OM) vai apresentar o “Concerto de Encerramento da Temporada 2017-18 – Sinfonia N.º 9 de Beethoven” no dia 28 de Julho, às 20h. O evento que fecha esta temporada de concertos tem lugar no Grande Auditório do Centro Cultural de Macau. Sob a batuta do director musical, Lu Jia, a OM convidou vários músicos chineses conhecidos no mundo da música clássica internacional e o Coro Filarmónico de Taipé para apresentar “esta obra-prima”, refere o comunicado oficial.

De acordo com organização, “a Sinfonia N.º 9, Op. 125 de Beethoven é considerada como a única obra com a classificação máxima em termos de influência histórica, importância artística e popularidade.” A Op. 125 é constituída por quatro andamentos criados entre 1818 e 1824 e é a última sinfonia completa composta por Beethoven.

Voz sinfónica

A Sinfonia N.º 9 foi criada quando o compositor já se encontrava praticamente surdo e a entrar em fase tardia de composição, “um período em que mostra os seus dotes, ao mesmo tempo profundo, exploratório e experimental”, aponta a organização. “É um exemplo perfeito de como Beethoven transformou a sinfonia tradicional numa forma de arte altamente dramática e filosófica e também a primeira vez em que um grande compositor utiliza a voz humana numa sinfonia puramente instrumental”, aponta o mesmo comunicado do IC.

Para este concerto, a OM convidou jovens chineses. Dos intérpretes convidados fazem parte a soprano Yuanming Song, a meio-soprano Niu Shasha, o tenor Shi Yijie e o baixo Guan Zhijing que, em conjunto com a interpretação vocal do Coro Filarmónico de Taipé, proporcionarão um final “perfeito da temporada da OM 2017-18”.

Está ainda agendada uma sessão pré-concerto na Sala de Conferências do Centro Cultural de Macau, entre as 19h e as 19h30 na mesma noite, na qual Lu Jia irá explicar o que está por trás da Sinfonia n.º 9. O objectivo é “permitir ao público melhor apreciar e entender o concerto”.

Os bilhetes para o “Concerto de Encerramento da Temporada 2017-18 – Sinfonia N.º 9 de Beethoven” encontram-se à venda na Bilheteira Online de Macau, com valores entre as 150 e as 400 patacas.

16 Jul 2018

José Manuel Simões, director de comunicação da Universidade de São José

“O Sétimo Sentido”, romance de José Manuel Simões vai ser apresentado no próximo dia 21 no Porto e marca um passo do autor rumo a uma escrita desvinculada do jornalismo. O lançamento do livro em Macau está agendado para Setembro

[dropcap]E[/dropcap]ste é o seu primeiro romance?
O livro “Deus Tupã” já é um romance histórico. Foi lançado em 2016 e é um livro que tem características de romance porque a visão que os indígenas têm da realidade, do seu modus vivendi, do habitat e das relações com as divindades são romanceadas com dados a partir das minhas vivências no seio daquela tribo. Confesso que fiquei admirado quando a editora considerou este livro um romance. É, mas é um romance que tem uma ligação à realidade.

Em que sentido?
As vivências da Glória Meireles, a personagem central deste livro. Ela vive uma experiência muito marcante na Índia. É uma vivência que tem por base uma viagem que fiz por aquele país em 2002, uma viagem extensa de quase seis meses. Aí, recolhi imensa informação, ou seja há um trabalho de pesquisa meu que depois é absorvido por esta personagem à sua maneira. Sim, é um romance neste sentido, embora tenha esta ligação com dois lugares que existem efectivamente. Um é a Índia, e depois um outro que é Xai Xai, em Moçambique, onde Glória é médica e vive com outras pessoas, poetas, artistas, colegas e pacientes. Pessoas que existem também na realidade.

Podemos dizer que é um livro que, à semelhança de anteriores, tem um cariz biográfico?
Não. Tem um ponto de partida onde recorri às minhas experiências pessoais. Mas, neste caso, não tem nada a ver comigo. Eu diria que a Glória vai muito mais além da minha experiência. Vai mais além do que o próprio autor. Acho que a Glória é uma pessoa maravilhosa e admirável. É uma pessoa que vive profundos silêncios e momentos de meditação, e que fala muito pouco, ou seja, particularidades que são completamente antagónicas às minhas. Diria mesmo que a Glória vai mais além de mim em vários níveis, nomeadamente comportamentais porque é, de facto, uma pessoa incrível. Um exemplo para todas as sociedades enquanto modelo de respeito, de responsabilidade, de valores, de integridade que coloca ao serviço da medicina. A Glória, às tantas, estava-me a ditar situações que nunca me tinha deparado na escrita, com uma voz fora de mim que quase me ditava passagens. Eu fico fascinado com a beleza desta pessoa e com o seu exemplo de vida, com a forma como trata os pacientes, com tudo.

A Glória parece ser uma pessoa real.
Sim, eu imagino-a fisicamente. Ela é pequena, magra. Na narração ela aparece como uma figura concreta e tem toda uma componente física e psicológica muito vincada. Tem características de personalidade muito fortes e, de facto, parece muito real. É uma pessoa que não conheço.

Mas que gostava de conhecer?
Muito. Há uma passagem em que eu vou a Xai Xai, em Moçambique, no ano passado convidado pelo festival de poesia onde participei nalgumas palestras. Antes de ir apercebi-me que era lá que a Glória iria colocar a acção ao serviço da medicina. Às tantas, nesta passagem do livro, eu estou no festival de poesia e a Glória está lá também e interage com o José Manuel Simões. Fala com ele ao jeito dela. Há uma questão entre os dois, quase início de romance, em que ela coloca os pontos muito bem vincados da impossibilidade de relação e em que eu saio a perder claramente nesta tentativa de relação. Havia ali indícios que pareciam, da parte dos dois, que havia um envolvimento, mas ela disse que não, que é uma confusão e quando se fala de transcendência, de karmas e de chacras é uma coisa, mas quando se fala de coisas mais íntimas, ela não concebe essa possibilidade entre os dois.

Estamos a falar de um livro ligado a aspectos mais transcendentes e espirituais?
Sim. A Glória vai para a Índia depois de ser traída pelo Marcos, com quem tinha uma relação desde os tempos da universidade. Ela vai para a Índia para tentar compreender a transcendência e a passagem para outros mundos, até porque lhe tinha morrido uma criança com leucemia nos braços, a Ophélia. Este acontecimento foi muito perturbante. Vai para a Índia e tem uma viagem muito difícil e cheia de revelações nomeadamente em contextos de insalubridade, de pobreza extrema que a magoam. Ela não encontrou essa espiritualidade que procurava, sobretudo nos primeiros tempos. Até que há um momento em que conhece um grupo de raparigas que estão num templo e que a convidam a lá ir. Ela vai e passa lá 23 dias. É aí que descobre, de facto, como se aproximar dessa transcendência. Descobre um lado ecuménico que passa por vária religiões. Há uma personagem que ali está e que lhe diz que ela tem uma missão nesta vida e que, mais cedo ou mais tarde, a vai encontrar até pelo seu papel enquanto médica, pela sua bondade e pelo comportamento. Aliás, o primeiro titulo do livro até era “A Missionária”. Mas depois achei que tinha um cariz demasiado religioso. Ela tem uma ligação à transcendência, às divindades mas também tem o lado da medicina com o seu contacto com as curandeiras, com a homeopatia. Descobre uma lado holístico na sua acção que é extremamente útil enquanto médica.

Está a escrever no feminino. Porquê?
Não sei.

Onde é que descobriu a Glória?
Também não sei dizer. Por vezes, os livros pedem coisas. Fui jornalista e enquanto tal tenho uma ligação à realidade e aos factos muito forte e talvez por isso ainda não me consiga totalmente desvincular da minha escrita nessa perspectiva. Este livro é uma tentativa nesse sentido. Quero assumir-me como escritor. Já escrevi dez livros e é altura de me assumir como escritor. A Glória já é um passo muito grande nesse sentido. Não é ainda total porque tem essa ligação à Índia onde vivi, sendo que ela vê essa realidade à maneira dela. Mas as personagens pedem-nos comportamentos e acções que são muito inesperadas, que são quase ditadas pela voz delas. Ela começa a ter uma vida própria. Foi vindo, foi aparecendo e criando uma atmosfera real sem o ser. É um ser vivo, mas que não existe. O nome, curiosamente, acho que é muito apropriado e surgiu logo. Não podia ser outro porque o comportamento dela é de Glória. Lembra-me o tema da Patti Smith.

Quando é que o livro vai ser apresentado em Macau?
Em Setembro, não tem ainda dia definido mas vai ser nesse mês.

13 Jul 2018

Drake bate recorde dos Beatles com sete músicas no Top 10 da tabela da Billboard

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] cantor e compositor canadiano Drake tem sete temas no Top 10 da Billboard em simultâneo, batendo os Beatles que chegaram a ter cinco em 1964.

O tema “Nice For What” volta agora ao topo da tabela depois de ter ficado em sexto na semana passada. Em segundo lugar estreia-se “Nonstop” e seguem-se, por ordem, “God’s Plan”, “In My Feelings”, “I’m Upset”, “Emotionless” e “Don’t Matter to Me”, que conta com arranjos vocais de Michael Jackson previamente gravados.

Os outros três lugares do Top 10 estão guardados para Cardi B, em terceiro, Maroon 5, em quinto, e para o ‘rapper’ XXXTentacion, morto a tiro em junho, que ocupa o décimo lugar com “Sad!”.

A lista da Billboard reúne as canções mais ouvidas da semana nos Estados Unidos, por popularidade, compilando dados de vendas e transmissões.

O cantor conta agora com 31 êxitos no Top 10, ficando empatado com Rihanna, no terceiro lugar, sendo que à sua frente se encontram os Beatles com 34 êxitos e Madonna com 38.

Drake lançou, no final de junho, o álbum “Scorpion” e, até ao momento, todas as 25 músicas do álbum estão na tabela `Hot 100´ da Billboard.

Desde 2009, Drake, conta com 186 músicas na tabela do Top 100 da Billboard, ficando assim em segundo, atrás do elenco da série americana “Glee”, que teve 207 das suas músicas na tabela.

O cantor e compositor estreou-se com 17 anos na série televisiva “Degrassi: A próxima geração”, tendo participado em 138 episódios. Em 2006, Drake, lançou a sua primeira `mixtape´, “Room for Improvement”, sendo que o seu primeiro álbum de estúdio “Thank me Later” foi lançado em 2010.

12 Jul 2018

CCM apresenta bailado baseado no clássico “Hansel e Gretel”

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] coreografia do clássico conto dos Irmãos Grimm, “Hansel e Gretel” vai ser apresentada nos próximos dias 13 e 14 no grande auditório do Centro Cultural de Macau. O espectáculo é encenado pela companhia premiada Ballet Escocês e promete “levar tanto as crianças como o público mais crescido a girar num carrossel de deliciosas guloseimas e destreza, contando uma história plena de magia e argúcia”. A coreografia será dividida em dois actos, refere um comunicado da organização.

Mantendo-se fiel às ideias mestras do conto original, a interpretação da companhia escocesa “reteve os elementos principais desta história infantil, procurando encontrar um novo público”, aponta. O coreógrafo Hampson substituiu o tradicional cenário medieval por um enquadramento inspirado em meados do século XX, “algures entre os anos 50 e 70”.

No que respeita à música que acompanha a coreografia, a peça foi escrita originalmente para a ópera homónima composta por Engelbert Humperdinck em 1891. Para este espectáculo foi rearranjada pelo maestro principal do Ballet Escocês, Richard Honner.

Uma história de sucesso

Fundada em 1957 por Peter Darrell e Elizabeth West, em Bristol, sob a designação de Western Theatre Ballet, a companhia mudou-se para Glasgow em 1969 e foi rebaptizada como Ballet Teatro Escocês, mudando para Ballet Escocês em 1974.

A companhia actua por todo o mundo, tendo como base do seu trabalho uma forte componente técnica clássica. O seu vasto repertório inclui tanto trabalhos clássicos como peças contemporâneas.

De entre os muitos prémios ganhos pelo Ballet Escocês, o destaque vai para o prémio do Círculo de Críticos 2008 “pelo seu Repertório de Excelência (Clássico), bem como a nomeação para o prémio de Companhia de Excelência pelos Prémios do Círculo de Críticos em 2009 e 2010”, refere o mesmo comunicado.

Como complemento às suas actividades de produção e digressão, o Ballet Escocês disponibiliza um vasto programa educacional e de apoio à comunidade. Estas iniciativas educativas incluem trabalhos com pessoas de todas as idades e níveis de capacidade. Como parte do seu empenho para chegar a um público mais alargado, o Ballet Escocês foi a primeira companhia do Reino Unido a disponibilizar descrição áudio ao vivo para os invisuais, mantendo actualmente um programa regular de espectáculos audiodescritos. Os bilhetes têm valores entre as 150 e as 380 patacas.

12 Jul 2018

Wushu | Macau acolhe Encontro de Mestres entre 3 e 5 de Agosto

Transformar Macau num palco de exibição de artes marciais é o objectivo de mais uma edição do “Encontro de Mestres de Wushu” que decorre entre 3 e 5 de Agosto. Além de juntar os melhores praticantes desta arte, o evento pretende promover a cultura ancestral junto de residentes e turistas

 

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]les tanto voam como meditam em movimentos lentos. A gravidade parece ser irrelevante para os praticantes de Wushu, também conhecido por Kung Fu, a arte marcial da China que vai muito além da prática desportiva.

De 2 a 5 de Agosto, Macau vai ser palco internacional desta modalidade com a realização da 3ª edição do Encontro de Mestres de Wushu.

Este ano a iniciativa está repleta de novidades. Nas novas actividades que vão preencher o encontro de mestres de artes marciais destaca-se a estreia do campeonato mundial universitário da modalidade da FISU. “Em cada edição apresentamos alterações e este ano temos a primeira edição do campeonato mundial para estudantes universitários que praticam Wushu”, referiu ontem o presidente do Instituto do Desporto (ID), Pun Weng Kun à margem da conferência de imprensa de apresentação do evento. Por outro lado, “temos recebido o convite de várias federações a pedir colaboração, como tal, este ano temos a decorrer em paralelo o campeonato do IBF que foi inserido também no nosso programa”, acrescentou. Pun referia-se à parceria com a “2018 IBF Silk Road Champions Tournament”, organizado pela Federação Internacional de Boxe das regiões pertencentes ao projecto “Uma Faixa, Uma Rota”.

Acresce ainda às novidades desta edição, o campeonato de danças do dragão e leão também apresentados por regiões inseridos no projecto de cooperação.

Além das exibições de Wushu tradicional, está também previsto o Festival Wushu de Verão e o campeonato de Taolu. Consta ainda do programa as competições de sanda, uma versão de kickboxe chinesa, e paradas que juntam demonstrações de Wushu e a Dança do Leão e do Dragão.

No evento vão estar presentes vários especialistas de renome, nomeadamente Zhu Tancai, herdeiro da décima geração de Taijiquan – estilo Chen e um dos “quatro Grandes Mestres, La Bin, Zhu Xianghua, e o campeão nacional de Taijiquan estilo Wu, Liu Wei. Macau vai-se fazer representar pelos mestres Lei Man Iam, Lam Hong Sang, Leong Sio Nam e Hoi Io Kong.

Encontro total

De acordo com o responsável pelo ID, o objectivo da edição de 2018 é o mesmo do das edições anteriores: “ter uma combinação de características desportivas, turísticas e culturais (…) para transmitir a cultura ancestral chinesa”.

Para facilitar o acesso do público, este ano apenas a sessão de encerramento terá bilhetes à venda, sendo que para as restantes actividades o ID disponibiliza ingresso a partir de hoje.

De acordo com a organização, a terceira edição reflecte o sucesso da organização em atrair a participação de mestres e praticantes estrangeiros. “Com as edições passadas ganhámos o reconhecimento das comunidades que praticam Wushu”, disse Pun.

Por outro lado, e além das artes marciais, o presidente do ID gostaria de ver o encontro de mestres de Wushu como um chamariz para atrair mais turistas. “Além do Wushu queremos integrar outros elementos e dar a conhecer outros aspectos da cultura local de modo a atrair mais turistas para o território”, acrescentou o presidente do ID.

O orçamento, à semelhança das edições anteriores, ronda os 18 milhões de patacas e Pun Weng Kun espera “com o mesmo dinheiro fazer ainda melhor”.

A iniciativa é organizada em conjunto pelo Instituto do Desporto e a Associação Geral de Wushu de Macau, com a colaboração da Direcção dos Serviços de Turismo, do Instituto Cultural e do Fundo das Indústrias Culturais.

12 Jul 2018

Maqueta de “Dragão” de João Cutileiro exposta em Évora

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s maquetas de esculturas públicas de João Cutileiro vão estar expostas em Évora até ao dia 15 de Outubro. Uma delas pertence ao projecto “Dragão”, criado em 1999 a pedido do arquitecto Francisco Caldeira Cabral para uma iniciativa no Canal dos Patos.

No total, mais de 60 maquetas, sobretudo em mármore, produzidas pelo escultor para obras destinadas ao espaço público estão reunidas no Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo. A mostra resulta do projecto “Pedras na Praça”, promovido pela Direcção Regional de Cultura do Alentejo (DRCAlen), que conta com o apoio de fundos comunitários, para dar a conhecer a obra para o espaço público “assinada” por João Cutileiro, de 81 anos.

Intitulada “A Pedra Não Espera – Maquetas e escultura para espaço urbano”, a exposição inclui, além das maquetas, fotografias de grandes dimensões das esculturas finais de Cutileiro e o documentário “A Pedra Não Espera”, da realizadora Graça Castanheira, sobre o mesmo tema, explicou ontem a DRCAlen.

A Direcção Regional de Cultura adiantou à Lusa que estão reunidas “63 maquetas do escultor, a maioria pertencente à sua colecção”, que foram criadas “entre 1968 e 2017”.

As peças, “cujo material predominantemente utilizado é o mármore”, foram concebidas pelo escultor no âmbito do processo de desenvolvimento de obras suas “destinadas a diversos espaços públicos, a nível nacional e internacional”, acrescentou a DRCAlen.

Em Outubro do ano passado, quando revelou à Lusa a intenção de expor as maquetas de Cutileiro, a directora regional de Cultura do Alentejo, Ana Paula Amendoeira, realçou que este método de trabalho do escultor “não é vulgar” entre “outros artistas”.

“Mas o João [Cutileiro] tem o hábito de fazer maquetas reais, em pedra, das suas obras. No fundo, são esculturas, obras originais, a uma escala menor do que aquelas que ficam nos locais públicos”, indicou.

A exposição, disse, na altura, foca “uma componente relevante do trabalho” do escultor e pretende igualmente “reconstruir, de forma didáctica, o percurso de criatividade do artista e de produção da obra de arte”, ou seja, “da ideia à maqueta, da obra ao local”.

“D. Sebastião” (1972), uma das quatro maquetas executadas para a estátua de D. Sebastião, que o escultor doou à cidade de Lagos, no distrito de Faro, onde se encontra, é uma das obras que podem ser apreciadas no museu em Évora.

Outras das peças que integram a mostra são “Luís de Camões” (1980), instalada na Biblioteca Pública de Cascais, no distrito de Lisboa, “D. Sancho I” (1990), encomendada pela Câmara de Torres Novas, no distrito de Santarém, e “Inês de Castro” (1993), em resposta a uma encomenda de José Miguel Júdice para a Quinta das Lágrimas, em Coimbra. “Ibn Marwan II” (2016–2017), a 2.ª versão para o monumento de homenagem a Ibn Marwan, em Marvão (Portalegre), encomendada pela respectiva câmara municipal, é também outra das maquetas expostas.

O projecto “Pedras na Praça” faz parte dos trabalhos em curso pela DRCAlen no âmbito da doação ao Estado do espólio de João Cutileiro e da criação, em Évora, da Casa/Ateliê do escultor.

A doação, anunciada em Fevereiro de 2016, numa cerimónia com o então ministro da Cultura João Soares, encontra-se, “desde essa altura, a aguardar despacho do secretário de Estado do Tesouro e Finanças”, segundo Ana Paula Amendoeira, que assinalou que, entretanto, a DRCAlen tem estado “a trabalhar no inventário e a organizar o arquivo” do escultor.

11 Jul 2018

História | Instituto Internacional quer lançar livro sobre padre Gaetano Nicosia

O Instituto Internacional de Macau tem em mãos o projecto de fazer a biografia do padre Gaetano Nicosia, falecido o ano passado e que dedicou grande parte da sua vida a ajudar os leprosos que viviam em Ka-Hó. Ontem foram lançados três livros em chinês sobre D. Arquimínio da Costa, padre Lancelote Rodrigues e padre Mário Acquistapace

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] vida de missionário em Macau do padre Gaetano Nicosia vai ser passada a escrito. A garantia foi dada ontem por Rufino Ramos, secretário-geral do Instituto Internacional de Macau (IIM), a entidade que será responsável pela publicação da obra sobre o incontornável sacerdote, que faleceu no ano passado.

“Vamos fazer um livro, mas é sempre difícil arranjar quem escreva. Houve pessoas que aceitaram, mas depois vieram com a justificação de que não podiam”, disse ontem o responsável à margem do lançamento das versões em chinês de três obras sobre sacerdotes que desenvolveram trabalho missionário e social no território: D. Arquimínio da Costa, padre Lancelote Rodrigues e padre Mário Acquistapace.

Nascido em Itália em 1915, Gaetano Nicosia ficou conhecido por trabalhar de perto com os leprosos que viviam na leprosaria de Ka-Hó, em Coloane, numa altura em que se temia a aproximação a estes doentes. Antes disso, Gaetano Nicosia também passou por Hong Kong.

Rufino Ramos adiantou ainda que é objectivo do IIM, presidido por Jorge Rangel, publicar mais livros sobre outras figuras da Igreja Católica que passaram por Macau e que ainda são lembrados por muita gente. Contudo, existem dificuldades de ordem editorial.

“A nossa dificuldade reside em encontrar alguém com a capacidade de escrever bem. Hoje mencionei aqui dois missionários, um deles o padre António Roliz, que muitos chineses ainda devem conhecer, porque passaram por dificuldades e foi o padre Roliz que os ajudou”, explicou.

Para o secretário-geral do IIM, Macau teve “outros padres que se destacaram na área da música e da sinologia, mas vamos aos poucos tentar dar a conhecer”. “Há muitos chineses que não conheceram bem os padres portugueses e a comunidade portuguesa actual pode não conhecer muitos párocos. Haveria padres chineses que trabalharam mais com uma comunidade”, acrescentou.

Chegar aos chineses

Os três livros que têm agora uma edição chinesa fazem parte de uma colecção de dez manuais. Rufino Ramos frisou que é objectivo dar a conhecer a história de vida destes padres a toda a população de Macau.

“Temos esta colecção já há algum tempo e achamos que era importante a comunidade chinesa inteirar-se do que estamos a fazer, e também que conhecessem o trabalho que certos missionários fizeram em Macau no século passado. O IIM não existe apenas para os falantes de português, também queremos que a comunidade chinesa perceba os valores culturais de Macau.”

Os livros estão à venda no website do IIM e poderão ser distribuídos no mercado livreiro de Hong Kong, mas Rufino Ramos alerta para as dificuldades de penetração no mercado chinês. “É difícil distribuir na China porque estamos mais preparados para lidar com o chinês tradicional do que o simplificado [na tradução das obras]. Vamos tentar distribuir os livros em Hong Kong. Não garanto que na China consigam receber os livros se os comprarem online.”Arquimínio da Costa foi um bispo português “muito popular, que se expressava em cantonês e que se dava muito bem com toda a gente”, disse Rufino Ramos quando questionado sobre a importância que estas figuras da Igreja tiveram para as comunidades locais. “Esteve muitos anos em Macau e trabalhou no sector da educação, foi uma figura muito consensual.” Já o padre Mário Acquistapace, italiano, era “simpatiquíssimo”. “Trabalhou com pobres e viveu uma vida quase de santo na missão de Coloane. Fez muitas obras sociais”, disse o secretário-geral do IIM.

O mais conhecido de todos eles será o padre Lancelote Rodrigues. “Era conhecido de todos os diplomatas de Hong Kong, bebia whisky com eles. Cuidou dos refugiados vietnamitas quando eles estiveram cá, e creio que muita gente fora de Macau conhece bem o padre Lancelote porque ele ajudou muita gente.”

11 Jul 2018

Exposição | “Aprofundar” está patente no Art Garden até Setembro

“Aprofundar” é a exposição que junta seis artistas locais no Art Garden para apresentarem as suas reflexões acerca de Macau. A mostra é curada por James Chu que classifica a iniciativa como uma espécie de fio vermelho, que coloca em comunicação várias expressões visuais

 

[dropcap style≠’circle’]“A[/dropcap]profundar” apresenta trabalhos de seis artistas que vivem em Macau: Nick Tai, Cai Guo Jie , Eugénio Novikoff Sales, Peng Yun, Zhang Ke e Wong Weng Io. De acordo com o curador, James Chu, os criadores que compõe o elenco do evento que decorre no espaço do Art Garden “estão ligados por um fio vermelho que os atravessa”.

De acordo com o curador, os artistas propõem uma interpretação das características culturais da cidade partindo da sua própria percepção da realidade e do pensamento associativo usado para transcender os limites da aparência dos objectos. O objectivo é mostrar a “tentativa de conciliar a aparência e a consciência subjectiva através da arte contemporânea”, aponta no texto de apresentação do evento.

Para o efeito, os trabalhos presentes na galeria da Art for All Society , resultam de a uma variedade de técnicas e formas de expressão artística, “com base na reflexão sobre o tempo e o espaço, as emoções e o poder, a dissociação e a comunicação , bem como sobre o texto escrito e a tecnologia”, explica o curador.

Palavras trocadas

Natural de Macau, Nick Tai estudou arte e domina a língua portuguesa escrita. Nesta mostra Tai, em cada uma das suas peças, apresenta uma figura associada a uma frase em português escrita com erros comuns de forma a criar um conjunto de situações relativas a temas como a história e a identidade. O objectivo do artista é “transcender a realidade através do humor”, refere Chu.

“Aprofundar” conta com quatro obras de pintura a óleo nascidas da imaginação de Nick Tai. Uma delas apresenta uma figura que conta a sua história quase em formato monólogo. “Em conjunto, as obras perfazem uma sitcom que se desenrola debaixo de um mesmo tecto”, menciona o texto do curador. De acordo com a mesma fonte, a conexão entre os elementos das várias obras não é óbvia mas existe através de “elo mental em que o criador procurou explorar a relação entre a conveniência predeterminada e a alienação solitária, em que o espaço aproxima as pessoas, mas não o suficiente para estreitar os laços mentais e emocionais entre elas”.

Tinta de água

Natural de Taiwan, Cai Guo Jie vive em Macau desde 2011 onde começou a dedicar-se à reflexão sobre a cidade. Inspirado pelas suas deambulações pelas ruas da cidade, bem como pela cultura e emoção que permeiam o território, Cai recorre a “um estilo oriental contemporâneo e à aguarela chinesa como técnica para destilar com linhas suaves plenas de cambiantes, a essência da arquitectura e do traçado urbano de Macau”, lê-se na apresentação da exposição.

Em exibição na “Aprofundar” estão também obras inéditas apresentadas em forma de tríptico, uma opção baseada no formato associado ao cristianismo “muito utilizado como elemento decorativo junto aos altares das igrejas durante a Idade Média”. De acordo com Chu, “nesta obra foram aplicadas técnicas da pintura chinesa, permitindo o curvar do tempo e viajar ao passado para fundir novamente a cultura oriental e a cultura ocidental através da arte”.

A interculturalidade e a mulher

Filho de um artista local e de mãe bielorrussa, Eugénio Novikoff Sales passou parte da vida em Moçambique onde teve o primeiro contacto com as peças de escultura locais e começou o seu interesse pelo trabalho em madeira negra africana.

“Inspirados na experiência pessoal e vida quotidiana, os seus trabalhos são influenciados pela cultura e arte africanas”, aponta Chu. As obras patentes na exposição do Art Garden exprimem não só estas origens mas a sua conciliação com materiais e técnicas do oriente.

A obra da artista de Sichuan, Peng Yun é focada no feminino. “É uma das poucas artistas de Macau cuja obra foca a feminilidade, especialmente a complexidade, acuidade e emoções que são particulares nas mulheres”, aponta James Chu.

Em “Aprofundar”, a artista apresenta “uma força obstinada e paranoica, fundindo meticulosamente várias experiencias emocionais e consubstanciando-as numa forma de expressão e resistência objectiva e equânime”.

Nesta mostra, Peng Yun apresenta três obras de vídeo com mulheres como protagonistas que reflectem um dialogo entre as personagens e a sua experiência de vida ao mesmo tempo que “expressam o seu processo mental de crescimento (…) para revelar o sofrimento latente que têm vindo a acumular interiormente”, diz James Chu.

Em suma, “as obras retratam o processo através do qual emoções íntimas são convertidas, num piscar de olhos, em forças externas“. Em última instância, o objectivo é “explorar o processo de transformação da dor física e mental num regresso gradual à serenidade conquistada com o passar do tempo”, aponta.

Reinterpretação da nudez

Zhang Ke estudou arte contemporânea e experimental no continente. As obras que produz são pautadas por um “profundo sentido de curiosidade” e abordam “de forma ousada” o sexo. Para o efeito, a artista recorre a técnicas como a colagem e à reorganização de figuras antigas de nus “numa tentativa de libertar o instinto universal que á a sexualidade”.

Embora a sexualidade esteja patente em obras de arte e na literatura desde a antiguidade até aos dias de hoje, o tema continua a ser tabu junto do público em geral, sublinha o curador.

Com os trabalho de Zhang Ke, “transcendem-se os limites do tempo e do espaço estabelecendo um elo entre a Antiguidade e a Modernidade”, remata.

A incerteza do futuro

Da chamada geração Z, esta exposição apresenta os trabalhos de Wong Weng Io. “Tendo crescido entre o mundo real e o mundo virtual a artista foi profundamente influenciada pela era digital”, diz o curador.

O resultado, é a criação de obras que exploram identidade, a existência e a relação entre a consciência humana a tecnologia, num mundo onde cada vez mais o real e o virtual se confundem.

“Os caracteres originais foram convertidos em imagens digitais, alterando o seu significado simbólico para produzir criações subjectivas improvisadas que reflectem sobre a ligação e a influência mútua entre a sociedade actual e o mundo do futuro”, refere o texto de apresentação do evento.

A exposição está aberta ao público no Art Garden até 9 de Setembro e insere-se na iniciativa “Encontro em Macau – Festival de Artes e Cultura entre a China e os países de língua portuguesa”.

10 Jul 2018

Livro “O Doente Inglês” de Michael Ondaatje escolhido melhor prémio Booker de sempre

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] livro “O Doente Inglês” (1992), de Michael Ondaatje, foi anunciado como o melhor prémio Man Booker dos últimos 50 anos, numa altura em que aquele galardão literário se encontra a celebrar as suas cinco décadas.

O livro foi editado pela primeira vez em Portugal pela Dom Quixote em 1996, coincidindo com o ano de lançamento do filme com o título “O paciente inglês”.

O filme, realizado por Anthony Minghella a partir da obra de Ondaatje, venceu nove de 12 Óscares para os quais esteve nomeado.

“’O Doente Inglês’ é o raro livro que sentimos sob a nossa pele e insiste que voltemos a ele uma e outra vez, sempre com uma nova surpresa. Move-se sem dificuldades entre o épico e o íntimo – num momento estamos perante a vastidão do deserto e noutro a assistir a uma enfermeira colocar um pedaço de ameixa na boca do paciente”, afirmou, em comunicado, a jurada Kamila Shamsie.

A organização do prémio literário Man Booker decidiu atribuir este ano um “Booker Dourado” ao livro que fosse escolhido como o melhor das 51 edições já realizadas. Primeiro, um júri selecionou um livro por década de entre os que haviam vencido o prémio no passado e, depois de divulgados os finalistas, o público votou no seu preferido.

“Poucos livros merecem o adjetivo de transformativo. Este é um deles”, acrescentou Shamsie, a jurada que teve a seu cargo a década de 1990.

“Nos derradeiros meses da Segunda Guerra Mundial, reúnem-se numa villa italiana quatro pessoas: uma jovem enfermeira alquebrada que concentra todas as energias no seu último doente moribundo, um inglês desconhecido, sobrevivente de um desastre de avião, cujo espírito navega à deriva numa vida de segredos e paixões; um ladrão cujos ‘talentos’ o transformam em herói de guerra, e numa das suas vítimas; e um soldado indiano do exército britânico, perito na neutralização de bombas, a quem três anos de guerra ensinaram que «a única coisa segura é ele próprio”, pode ler-se na sinopse do livro.

Multipremiado ao longo da carreira, Ondaatje lançou este ano o seu mais recente livro, intitulado “Warlight”.

Entre os finalistas para a edição “de ouro” do Man Booker encontravam-se ainda V. S. Naipaul, com “Num Estado Livre” (1971), Penelope Lively, com “Moon Tiger” (1987), Hilary Mantel, com “Wolf Hall” (2009), e George Saunders, com “Lincoln no Bardo” (2017).

9 Jul 2018

Exposição | “Alter Ego” patente em vários locais do território até 9 de Setembro

São vários os espaços em Macau que acolhem “Alter Ego”, o projecto composto por seis exposições e uma intervenção de arte urbana que reune 27 artistas de Portugal, países lusófonos e da China

 

[dropcap style≠’circle’]“A[/dropcap]lter Ego” é o conjunto de seis exposições colectivas distribuidas por diversos espaços em Macau e que conta com a curadoria de Pauline Foessel e Alexandre Farto.

O fio que liga as seis exposições é uma “reflexão sobre o ser humano”, daí o conceito que dá nome à mostra, ‘alter ego’, “o segundo eu”, explicou a francesa Pauline Foessel, curadora da mostra com o artista português Alexandre Farto (Vhils), em declarações à agência Lusa. Apesar de serem seis exposições diferentes, com artistas diferentes, “idealmente o público deve visitar todas”.

Entre os trabalhos expostos há “pintura, instalação, serigrafia, escultura”, estando algumas peças “ainda em produção, porque estão a ser feitas no local, são ‘site specific'”, referiu Alexandre Farto.

“Há muita diversidade de meios e isso também vem do facto de se juntarem aqui 27 artistas, cada um com o seu percurso, o seu trabalho”, disse. Apesar disso, acrescentou Pauline Foessel, “há diálogo e interligação entre o trabalho dos artistas”.

Do eu ao outro

A ‘rota’ das exposições começa com “O Eu”, que estará patente no Museu de Arte de Macau, “que é basicamente ‘eu tenho que me conhecer para começar a conhecer o outro'”, descreveu Pauline Foessel.

Aqui estarão expostas obras do são-tomense Herberto Smith, da dupla de portugueses João Ó & Rita Machado, do chinês Li Hongbo, do moçambicano Mauro Pinto, de Vhils e do artista de Hong Kong Wing Shya.

De “O Eu”, segue-se para “O Outro”, partindo da premissa de que “para existir preciso do outro”. Esta exposição, que reúne trabalhos do guineense Abdel Queta Tavares, da macaense Ann Hoi, do cabo-verdiano Fidel Évora, dos portugueses Estúdio Pedrita e Ricardo Gritto, dos timorenses Tony Amaral e Xisto Soares, do chinês Zhang Dali e do artista de Hong Kong Yiu Chi Leung, estará patente no Edifício do Antigo Tribunal.

Na terceira exposição, “Da Linguagem à Viagem” passa-se “à interação – entre mim e alguém preciso de linguagem –, com uma dupla de artistas [o brasileiro Marcelo Cidade e o angolano Yonamine] a refletir sobre esse conceito”.

GCS

Na quarta exposição, que estará patente na Galeria de Exposições Temporárias do IACM, dá-se o “Choque Cultural”, que “pode acontecer nas trocas e nas viagens, por diferenças culturais”. Aqui será possível apreciar-se obras do moçambicano Gonçalo Mabunda, dos angolanos Kiluanji Kia Henda e Nástio e do português Miguel Januário.

“Depois disso passamos à ‘Globalização’ [patente nas Casas de Taipa], o conceito mais abrangente que surgiu de todas as interações entre os diferentes países”, contou Pauline Foessel. Aqui estarão expostos trabalhos do brasileiro Guilherme Gafi e da portuguesa Wasted Rita.

A sexta e última exposição, patente nas Oficinais Navais n.º1 — Centro de Arte Contemporânea, foi baptizada com o nome da mostra. “Alter Ego” e é uma exposição individual do luso-angolano Francisco Vidal.

Arte na rua

Além das seis exposições dentro de portas, “Alter Ego” conta também com uma intervenção de arte urbana, “transportando os temas explorados no espaço museológico para a esfera pública”, da autoria do português Add Fuel.

Os curadores, segundo Alexandre Farto, tentaram “reunir um conjunto de trabalhos fortes e que se interligassem uns com outros, porque também é uma oportunidade única de mostrar o trabalho destes artistas em Macau, que é uma porta de entrada para a China e para a Ásia em geral”.

“Criar e ganhar espaço para que estes artistas tenham visibilidade”, acrescentou.

A mostra “Alter Ego” faz parte da Exposição Anual de Artes entre a China e os Países de Língua Portuguesa, integrada no Encontro em Macau — Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa, organizado pelo Instituto Cultural do Governo da Região Administrativa Especial de Macau.

9 Jul 2018

Morreu o realizador Claude Lanzmann aos 92 anos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] realizador francês Claude Lanzmann, cujo nome será sempre associado ao documentário de nove horas “Shoah” (palavra hebraica para “catástrofe”), morreu esta quinta-feira aos 92 anos, em Paris, revelou o jornal Le Monde.

O vespertino francês classificou-o como “um cineasta maior, um dos que marcarão para sempre a história do cinema, mas foi também escritor, jornalista, filósofo, diretor [da revista] Temps Modernes, amigo de Sartre, companheiro de Simone de Beauvoir”.

“Morrer não tem nada de grande. É o fim da possibilidade de ser grande, pelo contrário. A impossibilidade de toda a possibilidade”, afirmou ao Le Monde em 2015, quando assinalou 90 anos de vida.

Lanzmann nasceu na capital francesa em 27 de novembro de 1925, no seio de uma família secular judaica, que assistiu à chegada ao poder de Adolf Hitler na vizinha Alemanha. Segundo a biografia disponibilizada pela Enciclopédia Britânica, toda a sua família sobreviveu à Segunda Guerra Mundial.

Membro da Resistência, foi estudar filosofia para a cidade alemã de Tubinga após o final do conflito e começou a dar aulas na Universidade Livre de Berlim, onde se iniciou no jornalismo para o Le Monde.

Lanzmann realizou uma série de filmes sobre Israel e o Holocausto, sendo o mais famoso destes o documentário “Shoah” (1985), que lhe tomou 11 anos da vida.

Questionado sobre a relação de Israel com a violência, dado o passado do povo judeu e no contexto do filme que realizou sobre o exército israelita – de nome “Tsahal” –, Lanzmann respondeu a um jornalista britânico que “há verdadeira integridade neste exército”, sem que se tratasse “apenas da sobrevivência de Israel, mas sim da singularidade do destino do país”. E da noção de que o conflito “não tem fim à vista”.

Em sequência nesta conversa, Lanzmann pergunta ao jornalista se ele era contra o estado de Israel, dando o exemplo do pianista e maestro israelo-argentino Daniel Barenboim, “que é contra o estado de Israel”.

Vencedor de um Urso de Ouro honorário em Berlim, em 2013, e de um prémio César honorário, em 1986, Lanzmann venceu vários outros galardões com “Shoah”, que dizia ser a palavra adequada para o que se chama Holocausto.

6 Jul 2018

Pequim pretende inscrever 14 monumentos como património da UNESCO

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Câmara de Pequim tenciona propor um grupo de 14 monumentos à Organização das Nações Unidas para a Ciência, Educação e Cultura (UNESCO), fez saber o responsável pelo património cultural da cidade, Shu Xiaofeng, em declarações publicadas pelo diário em inglês Global Times.

Na lista dos monumentos escolhidos, encontra-se o mausoléu de Mao Tse-Tung, construído após a morte em 1976 do fundador do regime comunista.

Este túmulo é visitado todos os dias por centenas de pessoas, que se reúnem junto dos restos mortais do governante, cujas imposições políticas e económicas resultaram na morte de milhões de chineses, depois de ter tomado o poder em 1949.

O mausoléu fica no lado sul da Praça Tiananmen, a maior praça do mundo e que será também candidata a património mundial da UNESCO.

A praça construída no século XV foi o local de vários marcos na história chinesa, como os protestos de 1989 para a democracia, que foram seguidos da repressão que custou a vida de centenas de pessoas.

O objetivo do município é de inscrever até 2035 um conjunto de 14 monumentos históricos, situados no “eixo norte-sul” da capital, na lista de património mundial.

A Cidade Proibida, antiga residência dos imperadores chineses, localizada a norte da Praça Tiananmen, assim como o Templo do Céu, são considerados como património individual da UNESCO desde 1987 e 1998, respetivamente.

Alguns moradores da cidade serão obrigados a mudar-se, de forma a transformar estes locais de acordo com o seu estado original, afirmou Shu, de acordo com o jornal Global Times.

6 Jul 2018

Exposição | AIYA é inaugurada amanhã na Fundação Oriente

A exposição AIYA junta cinco artistas locais que dão a conhecer ao público as suas interpretações das complexidades de Macau. Com curadoria de José Drummond, AIYA integra a 1ª Exposição Anual de Artes entre a China e os Países de Língua Portuguesa e é inaugurada amanhã na Fundação Oriente

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]IYA é a exposição integrada na 1ª Exposição Anual de Artes entre a China e os Países de Língua Portuguesa com inauguração marcada para amanhã às 17h30 na Fundação Oriente. A mostra junta obras e visão de cinco artistas locais. Fortes Pakeong Sequeira, Joaquim Franco, João Miguel Barros, Rui Rasquinho e Yves Etienne Sonolet são os artistas que integram a exposição e que trazem em diferentes suportes formas diversas de viver a cidade.

De acordo com o curador, José Drummond, as obras foram a resposta despretensiosa dos convidados ao desafio de criar novos trabalhos capazes de reflectir sobre Macau e sobre a variedade de expressões e paisagens sentidas na cidade.

O próprio nome da exposição é uma referência à palavra homónima local que traduz surpresa, dor, prazer e raiva, explica José Drummond.

Para o curador, o feedback foi positivo sobretudo devido a situações ‘site-specific’ e porque vários os trabalhos dos cinco artistas estabelecem, entre si, “uma conversa única, ao mesmo tempo mantendo o vocabulário e linha autoral de cada um”.

O resultado pode ser considerado uma “interpretação vernacular” artística deste território, até porque, “historicamente, é um lugar onde diferentes culturas se encontram e misturam numa atmosfera sem paralelo”, refere.

Venham mais cinco

Pakeong Sequeira participa na exposição colectiva com “Buraco Vazio”, um trabalho que aborda uma espécie de auto-exílio do artista local.

Já João Miguel Barros traz fotografias que recordam um combate de boxe em Macau. “‘Sangue, Suor e Lágrimas‘ é o título de um projecto mais vasto centrado num combate de boxe que se realizou em Macau, em Outubro de 2017, para atribuição do título “IBF Light Heavyweight Championship”, lê-se na apresentação da organização. Nesta exposição, estarão presentes 16 imagens deste projecto.

Uma visão de um mundo externo é a proposta de Joaquim Franco. “É um espelho onde o acto criativo, intuição e emoções coexistem como reflexão”, refere o curador. Sem julgamentos nem respostas, as pinturas de Joaquim Franco “são um terreno aberto”, onde o artista “projecta as emoções e elas, por seu turno, sugerem aos outros o sentir nos seus próprios termos. São liberdade para uma mente aberta”, lê-se.

O ilustrador e artista plástico Rui Rasquinho apresenta um conjunto de desenhos “extraídos de uma constante hesitação entre o abstracto e o figurative”. Sem retratar uma realidade física, a expressão artística dos trabalhos de Rui Rasquinho têm alicerces num “modo quase caligráfico, uma linguagem secreta da mente, uma janela críptica para o universo referencial do autor”. Representam o testemunho de um processo, um caminho de experimentação que não requer nenhum objectivo, nenhum fim, nenhuma forma final, descodifica José Drummond.

“Notas da cidade” é o trabalho de Yves Etienne Sonolet que associa som a superfícies de ambientes urbanos. “As paisagens panorâmicas mapeiam os padrões das ruas para se tornarem subdivisões em que a soma das escolhas individuais feitas pelos habitantes de cada espaço de vida cria um quadro maior e em que os sons interpretados nestas subdivisões urbanas são as de uma imagem efémera que eternamente se transforma com a passagem do tempo”, remeta Drummond.

6 Jul 2018

Rita Gomes, ou Wasted Rita, participa na exposição “AlterEgo” | Absolutamente irónica

Os seus trabalhos estão povoados de sarcasmo e ironia. Às vezes são uma expressão do que pensa sobre o mundo, outras são apenas um exercício “egoísta”. Em todas elas podemos conhecer as várias facetas de Rita Gomes. Ela é Wasted Rita, a jovem artista portuguesa admirada por Madonna. Wasted Rita está em Macau para participar na “AlterEgo”, exposição que reúne 27 artistas chineses e de língua portuguesa

 

Falemos desta exposição. Tem algumas referências ou críticas ao jornalismo que se faz hoje em dia e também a Donald Trump. É uma crítica aos tempos modernos, à sociedade contemporânea?

Vou dar um bocado de contexto: estas duas exposições na Taipa [nas Casas Museu da Taipa] estão inseridas no tema Globalização. Durante a pesquisa pensei no tipo de coisas que existem em todo o mundo e as que poderia comentar, não criticar. Pensei em seres humanos, nas questões existencialistas que nos são inerentes e depois fui um bocado influenciada pelo turismo massivo que está a começar a existir na Europa, e provavelmente na Ásia também. Fui influenciada pelas lojas de lembranças e quis fazer uma falsa loja de lembranças mas tendo o existencialismo como tema, e não o turismo, a cidade. Sim, abordo muito os temas mas mais a nível individual, da existência, da ansiedade, de procura, significado, do que propriamente o jornalismo ou o Trump, embora essas coisas estejam incluídas.

É a sua visão sobre essas questões.

Sim. O meu trabalho é sempre a minha visão sobre o que quer que esteja a falar.

Considera que o seu trabalho é muito intimista e que revela muito de si?

Estava a pensar nalguma peça nesta exposição que não seja intimista e não me lembro, por isso sim, acho que tudo é bastante eu. Como são tantos bocadinhos de eu, acabas por não perceber grande coisa, ficas só confusa. Eu ficaria confusa porque lanço muita informação sobre mim, e muitas vezes contraditória. 

Participa nesta exposição colectiva. O que acha da experiência de estar numa exposição que junta artistas de língua portuguesa e também chineses?

Essa experiência só está a começar agora, porque só agora é que estão a chegar os outros artistas. Cheguei muito cedo porque tenho uma exposição que acaba por ser a solo, então precisei de mais tempo, mas ainda não estive com ninguém, a não ser pessoas que já conhecia.

Esperava esta oportunidade de vir expor em Macau?

Não, de todo. Mas eu também não espero nada do que me acontece na vida. Vou vivendo e às vezes acontecem coisas fixes e eu fico “wow, que giro”. 

Em 2015 recebeu um email de Bansky e a partir daí tudo mudou. Acha que a sua carreira tem tido um percurso surpreendente?

Não foi bem a partir do convite do Bansky. Já antes fazia bastantes exposições em Lisboa e na Europa, mas sim esse convite trouxe uma credibilidade e procura pelo meu trabalho um pouco mais forte. Mas não penso muito no meu percurso, tento não fazer isso. Se calhar penso nisso no último dia do ano mas arrependo-me. Não quero muito estar a pensar no meu percurso, o que é que já fiz e o que vou fazer, porque isso cria uma pressão além daquela que eu já tenho em mim, de viver todos os dias e tentar estar bem. Não preciso dessa pressão, vou só tentando apreciar o que acontece e divertir-me com as oportunidades que tenho.

Disse numa entrevista que ainda não tinha chegado à conclusão se é artista ou ilustradora, uma vez que a sua formação de base é na área do design. Já tem mais certezas relativamente ao que é como profissional?

Não, mas espero nunca ter, porque acho que estar sempre aberta a explorar tantos suportes diferentes e maneiras de expressar é o que me faz também continuar a ter vontade de fazer coisas e de criar. Sim, acho que tudo isto se pode englobar, de uma forma muito geral, na ideia de artista plástica, mas muito do trabalho que fiz para esta exposição está ligado ao design gráfico. Rótulos e pressão é uma coisa que eu não quero colocar em mim própria. 

Consegue explicar o seu processo criativo, do momento em que começou a desenhar e percebeu aquilo que queria de facto fazer?

Comigo, a maior parte das vezes, é precisamente ao começar a fazer algo que começo a ter ideias. Daí que o meu trabalho tem muitos erros e muitas coisas apagadas, porque todo o meu processo criativo sou eu a fazer na altura uma ideia que estou a ter e vou sempre mudando de ideias. É uma coisa bastante ansiosa e acho que a maior parte das pessoas não consegue lidar muito bem [com isso]. Não artistas, mas galeristas, pessoas que estão envolvidas no processo não conseguem perceber muito bem.

É difícil explicar aquilo que está a fazer? Já aconteceu não ser compreendida?

Espero acabar um trabalho e depois as pessoas se quiserem perceber percebem, se não, não interessa. Não estou a tentar que toda a gente perceba. Não faz parte de mim fazer propaganda para as pessoas perceberem tudo o que eu estou a fazer.

Tem uma obra que diz “Girls just want to cum and have fundamental rights and then cum again”. Tem como objectivo ser interventiva na sua expressão artística?

Tenho o objectivo de criar coisas que me ajudam a compreender e a transmitir a minha compreensão do mundo. Isso acaba por fazer com que as minhas obras chamem a atenção para assuntos actuais. Também só costumo usar no meu trabalho coisas que estão a acontecer no mundo, é muito um trabalho diário do que acontece. Tenho esse objectivo mas também não o tenho. Acho que acaba por ser isso, mas o objectivo principal é estar só a desanuviar coisas. O meu objectivo principal se calhar é bastante mais egoísta, mas se o resultado final não tivesse um significado para as outras pessoas, se não fosse importante para um público já teria desistido de passar mensagens.

Fez uma exposição em Lisboa em Outubro, com o título “As happy as sad can be”, que expressa o facto de que nem todos nós temos de estar sempre felizes. Está em Macau, com uma exposição ligada ao tema da globalização. Que outros temas quer explorar?

Esta exposição também aborda muito o existencialismo, a depressão e a ansiedade, precisamente por ser uma coisa global. Como disse quis abordar duas coisas que fossem globais, as lojas de turismo e o existencialismo. Não gosto muito de falar do que ainda não está completamente confirmado. Mas nesse intervalo também fiz uma instalação de um falso funeral do patriarcado em Roma, com uma coroa de flores, velas e uma instalação sonora e imagens de Donald Trump e outros elementos feministas. 

Quando acabou o curso não queria ser designer e os seus pais disseram-lhe para ser independente. Ao fim de uns anos está a construir uma carreira internacional. Foi surpreendente?

Para os meus pais foi de certeza (risos). A primeira vez que fui a Paris lembro-me do meu pai estar no carro, levar-me ao aeroporto e perguntar-me se aquelas pessoas eram mesmo galeristas, se não me iam roubar. Foi uma surpresa enorme para eles e para mim também. Mas também não me consigo imaginar a fazer outra coisa.

Até a Madonna elogiou o seu trabalho.

É. Não tenho muito a dizer sobre isso. É só surreal. Há coisas que acontecem que são indescritíveis e que eu nunca pensei que fossem acontecer. Tipo o Bansky e a Madonna. Se me dissessem que aquela cantora que estava a cantar na MTV ia comprar trabalhos meus e que ia elogiar-me eu ia achar que não era possível, que queria outra pessoa. 

Acha que trouxe algo de diferente ou inovador?

Não sei, nunca pensei nisso. Não acho que isso de ser inovador seja assim tão importante, até soa a uma coisa de alguém que é empreendedor.

Aliás, já defendeu não ter muito jeito para a gestão da sua carreira em termos de finanças e imagem. Deixa que as coisas andem ao seu rumo.

Sim, às vezes se calhar demais. (risos). Às vezes poderia aproveitar muito mais a vida, às vezes não tenho uma exposição e deixo que nada aconteça, e deixo-me cair por caminhos perigosamente negros, e depois preciso de algo para me puxar. Acho que qualquer pessoa que trabalha como freelancer lida com isto.

Calculo que ainda não tenha tido muito tempo para conhecer Macau, porque acaba hoje de montar a sua exposição, mas acha que é um lugar que a vai inspirar para os próximos trabalhos?

Qualquer sítio que não seja “white people related” é tudo o que eu quero neste momento. Falo da Ásia e de outras culturas que na Europa não são tão conhecidas. 

Porquê o nome Wasted Rita?

Essa é uma história muito triste do fim de uma relação de quatro anos, com um jovem que só me fez mal, e eu vivia na sombra dele. Além disso, tinha estudado num colégio de freiras e era uma pessoa muito tímida, sem qualquer poder de dar opiniões. Estava a acabar a faculdade e queria ser eu. A palavra Wasted é absolutamente irónica.

5 Jul 2018