Sound & Image | Divulgada parte das curtas dedicadas à ficção

Está aí mais uma edição do Sound & Image Challange, Festival Internacional de Curtas-Metragens. Depois de ser dado a conhecer o cartaz dos filmes de animação, a organização começou a divulgar os filmes seleccionados na área de ficção

 

[dropcap]E[/dropcap]ntre os dias 4 e 9 de Dezembro, o Teatro Dom Pedro V recebe o Festival Internacional de Curtas-Metragens Sound & Image Challenge. De entre os 90 filmes em exibição, oriundos de todo o mundo, 34 pertencem à secção de ficção e a organização levantou o véu de 15.

As projecções têm início dia 5 de Dezembro, às 18h. Esta primeira sessão abre com “Into the blue” da realizadora croata Antoneta Alamat Kusijanovic. O filme aborda a temática do trauma e da sua relação com a violência em que uma adolescente que sofre de abusos, procura o amor. Mas a crueldade dos amigos desperta a violência que transporta consigo e de onde desesperadamente tenta escapar.

A esta curta de cerca de 22 minutos, segue-se “Black Mamba”. Realizado pelo tunisino Amel Guellaty , o filme conta a história de Sara, uma jovem de classe média da Tunisia, que tem uma vida de acordo com os planos da família: frequenta aulas de costura e irá casar com um bom rapaz. Mas a realidade é outra e a jovem tem planos para escapar aos ditames da tradição.

Depois de Sara entra em cena Liana, a única criança da família chinesa Tangerang. Segundo os costumes, Liana tem que ser virgem se quiser casar-se, ou então sofrerá as consequências. A rapariga que não for virgem para o casamento será eliminada pelos antepassados e pela família do marido. A história de Liana é retratada em “Red Paper”, a película indonésia do realizador Revin Palung.

A sessão termina com “Y” da alemã Gina Wenzel. A curta conta com mais uma mulher como protagonista, desta feita com Laura, uma jovem autoconfiante e membro da “Me Me Me Generation” ou “Geração Y”. Laura não se pode queixar e tem muitas opções e caminhos que pode dar à sua vida, pelo que não precisa de pensar em objectivos ou ideais. Mas, num encontro que tem com Safi, tudo pode mudar.

Sessão da noite

No mesmo dia, às 20h continuam as projecções das curtas de ficção. A sessão abre com “Blanca” da venezuelana Mariana Peña. Blanca uma escritora em formação e tem apenas um dia para terminar uma história para um concurso de literatura. No entanto, o fim do prazo coincide com a data de aniversário do seu casamento o que faz com que tenha que mover-se entre os planos pessoais e as tradições de uma familiar peculiar.

Segue-se “Crabgirl” uma história que retrata o drama de um jovem de 23 anos que não consegue ter um relacionamento íntimo com a namorada. Decidido a deixar de ser virgem faz um ultimato à companheira e acaba por descobrir a verdade por detrás das rejeições que tem sofrido. Crabgirl vem da Ucrânia e é realizado por Sergiy Pudich.

Na mesma sessão há ainda espaço para a curta polaca “Jet Lag” de Grzegorz Piekarski, numa adaptação do romance de Gustav Flaubert “Madame Bovary”.

O dia fecha com “Happy” de Alex Petroff. O escritor Felix Penn não podia estar melhor tendo atingido o auge na carreira e nas relações amorosas e profissionais. O desafio agora é descobrir como manter este momento e o escritor acabar por encontrar um método para conseguir o seu objectivo.

Macau a duplicar

No dia seguinte a primeira sessão tem lugar às 19h30. O primeiro filme a ser projectado é “Acid” do francês Just Philippot. A curta conta a saga da fuga de uma população quando é assombrada por uma nuvem de ácido.

“Bridge” é o filme seguinte. Realizado por Niels Bourgonje traz o impasse de Jos e Ad. Os protagonistas aproximam-se de uma ponte, cada um de um dos lados e a passagem é dada, através de um sinal a Jos, que a passa. Nenhum se decide.

Uma surpresa mal sucedida e capaz de levar ao limite os seus protagonistas é a proposta de “Impact” de Hèctor Romance.

O cinema segue para um lado mais negro com “Lamb”. O filme é do realizador local Oliver Fa e conta o drama de duas personagens que vão para uma clínica. Chegados à instituição, descobrem que se trata de um estabelecimento ilegal que se dedica à extração de órgãos humanos.

Nas ficções do Sound and Image Challange há também espaço para super heróis. É o caso de “Super Juan” de Rubén Dené. O herói desajeitado protagoniza uma comédia em que tem que vencer uma mutação que está a invadir os cérebros humanos dos principais líderes mundiais.

Antes da sessão terminar há ainda espeço para “The Island” de Martin Van Hassel. A película apela ao surrealismo ao trazer a história de quatro estranhos que se vêem presos dentro de uma ilha situada no meio de uma estrada. A impedir estas personagens de sair do impasse, está uma mulher macabra, na berma, vestida de negro.

A última película do dia também é de Macau. “The Last Scene” é realizada por Vong Kuan Chak e o argumento conta como um cineasta que se dedica a produção de documentários descobre a verdade acerca da morte do seu pai ao ver as últimas imagens de um vídeo.

22 Nov 2018

Lisboa acolhe Semana do Cinema Chinês

[dropcap]S[/dropcap]eis filmes recentes da produção cinematográfica da China serão exibidos a partir de Domingo em Lisboa, num ciclo integrado no programa oficial da visita do Presidente da China, Xi Jinping, a Portugal.

Organizado pela China Film Administration, o ciclo decorrerá de 25 de Novembro a 4 Dezembro, no Corte Inglés, em Lisboa, e na abertura estarão presentes, entre outros, o actor Huang Xiaoming e Wang Xiaohui, directora do departamento de apoio ao cinema do governo chinês.

Segundo nota de imprensa, Wang Xiaohui quer “estreitar os laços culturais entre as duas nações e dar a conhecer a Portugal o panorama da produção cinematográfica chinesa na actualidade”. O Presidente da República Popular da China estará em Portugal nos dias 4 e 5 de Dezembro.

A Semana do Cinema Chinês exibirá, por exemplo, “American Dreams in China” (2013), de Peter Chan, o filme de acção “Operation Mekong” (2016), de Dante Lam, e o filme de animação “O rei macaco” (2015), de Tain Xiao Peng.

Em 2019, Portugal e a China celebram 40 anos de relações diplomáticas. No Orçamento do Estado para 2019, o Governo incluiu, no âmbito da Acção Cultural Externa, diversas iniciativas de celebração das relações diplomáticas com a China, nomeadamente o Festival de Cultura Portuguesa na China e o Festival de Cultura Chinesa em Portugal que “contribuirão, de forma transversal, para a afirmação internacional da Cultura portuguesa”.

No próximo ano assinalam-se também os vinte anos do regresso de Macau à administração chinesa.

21 Nov 2018

“Hotel Império” de Ivo M. Ferreira estreia em Portugal a 18 de Abril

[dropcap]O[/dropcap] filme “Hotel Império”, de Ivo M. Ferreira, rodado em Macau, onde o realizador português vive há vários anos, estreia-se nas salas de cinema portuguesas a 18 de Abril, anunciou ontem a produtora O Som e a Fúria.
O filme conta a história de uma portuguesa nascida na cidade – interpretada por Margarida Vila-Nova – que, juntamente com outras pessoas, habita um antigo hotel em vias de ser destruído para dar lugar a um edifício moderno.

“Hotel Império” teve estreia mundial em Outubro, no Festival de Cinema de Pingyao, na China, tendo sido também exibido na Mostra Internacional de São Paulo.

Em 2016, quando apresentou o projecto do filme no Festival Internacional de Cinema de Macau, Ivo M. Ferreira explicou que a longa-metragem tem como pano de fundo um tema recorrente e muito presente na vida da cidade: a mudança acelerada do espaço, impulsionada pelo desenvolvimento económico.

“O hotel, evidentemente, que tem uma carga simbólica sobre Macau, vai ser destruído para ser construído um hotel-casino. Tem que ver com (…) a erosão da cidade [que] poderá criar uma identidade, a erosão poderá unir-nos, unir vizinhos que não se falavam. Acho que o filme gravita muito à volta desse ambiente, de que a destruição pode unir para proteger a cidade”, explicou na altura o realizador.

Além de Margarida Vila-Nova, o filme conta com a participação de Rhydian Vaughan, um actor taiwanês de ascendência britânica, e vários actores de Macau.

21 Nov 2018

Fundação Oriente | Aniversário comemorado com guitarras

[dropcap]O[/dropcap]s 30 Anos da Fundação Oriente vão ser comemorados com um concerto do quarteto de guitarras Concordis, esta sexta-feira, dia 23, às 20h, na Casa Garden. O Quarteto Concordis foi criado em 2005 e conta, na sua constituição actual, com Eudoro Grade, João Nunes, Jorge Pires e Pedro Rufino.

“Da cumplicidade entre estes músicos e das suas personalidades e influências diversas emerge como tónica a beleza tímbrica e sonora em geral que as quatro guitarras proporcionam em conjunto”, refere a organização em comunicado.

Do repertório a apresentar destacam-se temas de Carlos Paredes, Fernando Lapa, José Afonso, Manuel de Falla e Chet Atkins and Boudleaux Bryant.

21 Nov 2018

“Tempos Transitórios” de Ricardo Meireles inaugura a 29 de Novembro na Creative Macau

A Creative Macau vai receber, a partir do próximo dia 29, a exposição de fotografia de Ricardo Meireles, “Tempos Transitórios”. De acordo com o autor, a mostra pretende “parar” as pessoas para que se apercebam do lugar que habitam e onde se movem

 

[dropcap]P[/dropcap]roporcionar um momento de pausa é a proposta do fotógrafo Ricardo Meireles com a exposição “Tempos transitórios” que será inaugurada no próximo dia 19 na galeria da Creative Macau. O objectivo é dar às pessoas um espaço para “parar, olhar e observar” a cidade que habitam e que, muitas das vezes, não têm tempo para absorver, apontou Ricardo Meireles ao HM.

Para o efeito, o fotógrafo foi à procura da cidade, das suas características e movimentos. “Quis captar aqueles momentos da cidade que são mais característicos e que estão mais relacionadas com a memória local e com a identidade através da arquitectura, da construção”, começou por explicar o também arquitecto.

Por outro lado, não existe cidade sem as pessoas que nela circulam e para transmitir esta ideia, o fotógrafo optou pelo desfoque das figuras humanas em contraponto com o foco das construções. “Estou a focar o elemento da cidade e estou a desfocar as pessoas porque são um elemento transitório, que passa”, explicou. “As pessoas movem-se de um lado para o outro e a cidade continua”, acrescentou.

Em última instância, Meireles pretende, com as imagens que apresenta em “Tempos transitórios”, sintetizar a ideia de um momento de pausa em que as palavras de ordem são “agora pára, olha e observa”. A razão, sublinhou tem que ver com a própria dinâmica local. “Em termos de fluxo humano, Macau é um pouco desordenado. As pessoas vivem no seu dia a dia e acabam por passar muitas vezes pelos mesmos lugares e não param, não reconhecem e não sentem a cidade. Acabam por não perceber o que é Macau em si em termos de espaço e de sociedade”, justificou.

Três tempos

A mostra está dividida em três momentos distintos. Numa primeira parte estão patentes ao público um conjunto de doze imagens a preto e branco e de grande formato. A ideia é mostrar o resultado do movimento rápido que é a captura de uma imagem. Segundo o autor, trata-se “do registo do movimento dos fluxos pedonais, num testemunho que foca um certo elemento perene da cidade” com características que incluem a memória e identidade locais.

A apresentação de um vídeo com cerca de cinco minutos integra o segundo momento da exposição. Aqui, “o registo é idêntico ao das fotografias”, disse. “Estou a focar a cidade e capto o movimento das pessoas em longas exposições. As pessoas estão lá mas em movimento”, acrescentou.

A última parte da mostra é dedicada a uma instalação em que as imagens, ao contrário dos momentos anteriores, se mostram a cores. Aqui as fotografias são essencialmente dedicadas a Macau antiga, “onde estão mais memórias”.

A instalação é constituída por um painel que agrupa uma série de imagens pequenas e constitui um momento que dá ao público várias opções de observação: “as pessoas podem focar-se numa imagem em particular, ou no conjunto”, apontou. Mas o público também se pode rever e integrar quer no contexto da obra que no contexto da exposição. Isto porque faz parte da instalação a suspensão de lamelas de acrílico que podem servir de mediador entre o público e o trabalho exposto, mas podem ainda ser um espelho e um projecto de cada um. “Acabamos por estar a observar e a ser observados porque fazemos parte do mesmo contexto”, rematou o fotógrafo.

21 Nov 2018

A agenda do Festival Internacional de Cinema de Macau

8 de Dezembro

 

[dropcap]L[/dropcap]oro
14:00 – Cinemateca Paixão

School’s Out
15:00 – Pequeno auditório do CCM

The Sisters Brothers
19:00 – Torre de Macau

The Guilty
19:00 – Cinemateca Paixão

Green Book
20:30 – Centro Cultural de Macau

Sink Or Swim
21:00 – Pequeno auditório do CCM

Tumbbad
21:15 – Cinemateca Paixão

Diamantino
21:45 – Torre de Macau

9 de Dezembro

An Autumn Afternoon
15:00 – Cinemateca Paixão

Old Boys
15:00 – Centro Cultural de Macau

BuyBust
15:00 – Torre de Macau

Clean Up
16:00 – Pequeno auditório do CCM

The Favourite
18:00 – Centro Cultural de Macau

Baby
18:30 – Torre de Macau

The Good Girls
19:00 – Pequeno auditório do CCM

The Pluto Moment
19:00 – Cinemateca Paixão

Mandy
21:00 – Torre de Macau

Nobody Nose
21:00 – Centro Cultural de Macau

U-July 22
21:30 – Cinemateca Paixão

10 de Dezembro

Ága
18:45 – Pequeno auditório do CCM

Cobain
19:00 – Cinemateca Paixão

Fly By Night
19:00 – Torre de Macau

Lost, Found
19:30 – Centro Cultural de Macau

Scarborough
21:00 – Pequeno auditório do CCM
Close Enemies

21:30 – Cinemateca Paixão
Caught In The Web

21:45 – Torre de Macau
11 de Dezembro

Journey To The West: The Demons Strike Back
15:00 – Cinemateca Paixão

Manta Ray
18:30 – Cinemateca Paixão

Mary Queen Of Scots
19:00 – Centro Cultural de Macau

Suburban Birds
19:00 – Pequeno auditório do CCM

212 Warrior
19:30 – Centro Cultural de Macau

In Fabric
21:15 – Cinemateca Paixão

Empire Hotel
21:30 – Torre de Macau

White Blood
21:45 – Pequeno auditório do CCM
12 de Dezembro

The Truman Show
16:00 – Cinemateca Paixão

Aruna & Her Palate
19:00 – Pequeno auditório do CCM

The Witch: Part 1. The Subversion
19:00 – Torre de Macau

Xiao Mei
19:00 – Cinemateca Paixão

Hard Boiled
21:30 – Cinemateca Paixão

All Good
21:45 – Pequeno auditório do CCM

13 de Dezembro

Up The Mountain
18:00 – Cinemateca Paixão

Dear Ex
21:30 – Torre de Macau

Happy New Year, Colin Burstead
21:30 – Pequeno auditório do CCM

14 de Dezembro

Lawrence Of Arabia
15:00 – Cinemateca Paixão

Papi Chulo
20:00 – Cinemateca Paixão

21 Nov 2018

Longas metragens | Competição principal traz filmes para todos os gostos

A secção principal de competição do Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM) mantém os requisitos: são seleccionadas apenas as primeiras ou segundas longas metragens de novos realizadores. O objectivo é dar a conhecer e premiar novos talentos. Este ano a secção é composta por nove filmes em que diversidade e qualidade são as palavras de ordem

 

Além do deserto

[dropcap]“Á[/dropcap]ga” é a co-produção búlgara, alemã e francesa que traz ao ecrã da principal secção de competição do IFFAM as transformações na vida de Nanook e Sedna, um casal que vive num yurt, algures no deserto. Isolados, vêem-se obrigados a mudar as rotinas de sustento quando a caça que lhes dá de comer começa a escassear com a morte inexplicável dos animais e os degelos sazonais antecipados. Entretanto, Chena é a única ligação do casal ao mundo exterior e mesmo à filha, Ága, que abandonou o inóspito lar e nunca mais regressou. Mas quando a saúde de Sedna começa a deteriorar-se, Nannook decide trazer a filha de volta e parte ao encontro de Ága.

“Ága” é realizado pelo búlgaro Milko Lazaro que, nesta edição do festival, teve o seu segundo filme seleccionado. A primeira longa do realizador, “Alienation”, que conta a história de um homem grego que se desloca à Bulgária para comprar um bebé recém-nascido, estreou no Festival de Veneza em 2013.

Escondidos no silêncio

Eva Trobisch é a realizadora de “All Good” que trata das consequências antagónicas que o silêncio pode ter. “All Good” é a história de Jannes que, depois de ser assediada pelo patrão do seu cunhado, resolve manter o incidente escondido. Mas não é por isso que as coisas caem no esquecimento. Muito pelo contrário.
Nascida em Berlim, em 1983, Eva Trobisch estreia-se nas longas metragens com “All Good”, O filme teve a sua premiére no Festival de Munique no passado mês de Junho onde conquistou os galardões para o Novo Talento Alemão nas categorias de melhor realização e de melhor actriz.

Tudo por um filho

A festa do cinema segue com “Clean Up” do coreano Kwon Man-ki. O argumento acompanha a história de Jung-Ju, uma mãe que perde o filho devido a doença cardíaca. Inconsolável, Jung-Ju passa os dias a trabalhar numa empresa que presta serviços de limpeza, a beber e a ir à igreja. Mas, tudo muda quando é admitido na mesma empresa Min-gu, um jovem recém saído da prisão, com aparência de mendigo e a cara coberta de cicatrizes. Jung-ju reconhece Min-gu, o menino que raptou 12 anos atrás para, com o dinheiro do pedido de resgate, poder pagar uma intervenção cirúrgica do filho. A culpa arrebata Jung-ju que agora quer saber mais sobre o jovem que a faz confrontar com o crime cometido.
Kwon Man-ki nasceu em Busan, em 1983 e estudou cinema na Sangmyung University e na Graduate School of Advanced Imaging Science da Chung Ang University. A sua curta-metragem de 27 minutos “Telepata” (2015) ganhou o maior prémio no Festival de Curtas-Metragens independentes de Daegu. “Clean Up” é a primeira longa metragem de Kwon Man-ki . O filme teve estreia mundial em Busan, no mês passado e ganhou o prémio New Currents.

Casos proibidos

Do Reino Unido vem “Scarborough” que tem realização de Barnaby Southcombe. O filme conta a história de dois casais com amores proibidos que se encontram na cidade costeira de Scarborough. Liz mantem uma relação com Daz, de 16 anos de idade. Também menor é Beth que mantem uma relação com Aiden, um artista muito mais velho. É em “Scarborough” que os casais conseguem fugir aos olhares reprovadores. No entanto, depois da euforia, a realidade desponta. Com ela começam os conflitos e o sofrimento. “Scarborough” é a segunda longa metragem de Barnaby Southcombe depois do sucesso de “Anna” (2012), protagonizado por Charlotte Rampling, Gabriel Byrne e Hayley Atwell. “Anna” teve estreia mundial no Festival Internacional de Cinema de Berlim e participou na competição oficial no Festival Internacional de Cinema de Xangai.

Adolescentes perigosos

“School´s Out”, de Sébastien Marnier, traz à tela a vida conturbada de um professor de liceu, Pierre, obcecado por descobrir o que se passa com alguns dos seus alunos. Pierre é o substituto de um professor que se atirou da janela de uma sala de aulas à frente dos seus alunos. Apesar da tragédia, seis adolescentes presentes não reagiram ao sucedido. Pierre é o novo professor que se apercebe que este grupo de miúdos está a congeminar um plano misterioso e resolve descobrir qual é. O novo professor acaba por ver a vida transformada num inferno.
School’s Out é a segunda longa-metragem de Sébastien Marniere e teve estreia mundial, este ano, no Festival de Veneza. Antes de se dedicar ao cinema, Marnier publicou três romances e co-escreveu uma série de animação para televisão baseada na sua novela gráfica “Salaire Net Et Monde”.

Profecias pessoais

Da China continental chega “Suburban Birds” do jovem cineasta Qiu Sheng. Um abatimento de terras numa área suburbana leva Hao, juntamente com uma equipa de engenheiros, a deslocaram-se ao local para investigar o sucedido. Durante a investigação, Hao encontra um diário dentro de uma escola primária. O caderno narra a história da separação de um menino do que parecia ser o seu grupo íntimo de amigos. Hao percebe que este diário pode conter profecias sobre a sua própria vida.
Qiu Sheng licenciou-se em Engenharia Biomédica na Tsinghua mas foi no cinema que encontrou o sucesso com esta sua primeira longa metragem, “Suburban Birds”. O filme, que estreou este ano, ganhou o prémio de Melhor Argumento no Xining FIRST International Film Festival e participou na competição de realizadores do Festival Internacional de Locarno, em Agosto.

À procura de culpados

“The Guilty” é a primeira longa metragem do dinamarquês Gustav Möller que contou com estreia na secção de competição do Sundance Film Festival. O filme trata a saga do ex-policia Asger Holm quando, depois de responder a uma chamada de emergência de uma mulher que terá sido sequestrada, avança para a resolução do caso. No entanto, o crime é bem maior do que o que parece inicialmente.
“The Guilty” é realizado por Gustav Möller que se estrou no grande ecrã com a curta “In Darkness” que acabou por ganhar o prémio Next Generation, no Festival Internacional de Cinema da Noruega em Haugesund.

Maldita cocaína

A argentina Barbara Sarasola-Day realiza “White Blood”. O filme conta a história de Martina e Manuel, uma dupla de narco-traficantes que cruzam a fronteira da Bolívia com a Argentina como “mulas” que transportam cocaína. No entanto, depois de passada a fronteira, quando se refugiam num hotel, Manuel morre de overdose devido às cápsulas que tinha ingerido. A organização criminosa para a qual trabalham exige, no entanto, a entrega da totalidade do produto que ambos transportavam. Martina precisa de ajuda e só pode recorrer a ajuda do pai, Javier, que nunca conheceu.
Nascida na Argentina em 1976, a realizadora Barbara Sarasola-Day estudou ciências da comunicação na Universidade de Buenos Aires. Trabalha na área do cinema desde 2000 e realizou a sua primeira curta-metragem, “El Canal”, em 2005. A sua primeira longa “Deshora” (2013), uma – co-produção entre a Argentina, a Colômbia e a Noruega teve estreia mundial no Festival de Berlim. “White Blood” é seu segundo filme.

Estatutos perdidos

Do México vem “The Good Girls”. O filme realizado por Alejandra Marquez Abella conta a história de Sofia, um rapariga “perfeita”, menina de elite que vê a posição social ameaçada por uma crise económica. Sofia tem que manter aparências ao mesmo tempo que reconhece a inevitabilidade da perda de status, num momento em que aprende a viver sem dinheiro, uma coisa que sempre teve como certa.
Alejandra Marquez Abella nasceu em San Luis Potosi A sua curta-metragem “5 Memories” (2009) foi exibida em mais de 140 festivais e a sua primeira longa-metragem “Semana Santa” (2015) teve estreia mundial no Festival Internacional de Cinema de Toronto. “The Good Girls” é a segunda longa da realizadora mexicana que também estreou em Toronto no passado mês de Setembro.

21 Nov 2018

Fadista Carminho edita novo álbum no final do mês e dá-lhe o nome “Maria”

[dropcap]O[/dropcap] novo álbum de Carminho, “Maria”, é editado no próximo dia 30, e a fadista assina a autoria de sete dos doze temas que o constituem, anunciou a discográfica Warner Music.

A editora afirma que este quinto álbum da carreira de Carminho é “o mais pessoal de sempre”, no qual a fadista “participou activamente na sua produção”, tendo a produção executiva sido também sua, com João Pedro Ruela, Diogo Alves e Marta Pelágio.

O ‘single’ de apresentação do álbum, “O Menino e a Cidade”, estará disponível “em todas as plataformas digitais” esta sexta-feira, segundo a mesma fonte.

“A Tecedeira” é o tema de abertura do álbum que inclui ainda, “Estrela”, “A Mulher Vento” e “Poeta”, todos assinados, letra e música, por Carminho.

A fadista assina ainda as letras de “Se Vieres”, que canta na melodia tradicional do Fado Santa Luzia, de Armando Machado, e “Desengano”, que gravou no Fado Latino, de Jaime Santos, e a música de “Quero Um Cavalo de Várias Cores”, de Reinaldo Ferreira.

Outros autores são Joana Espadinha, que assina a letra e música de “O Menino e a Cidade” e “As Rosas”, e Pedro Homem de Mello, de quem canta “O Começo”, no Fado Bizarro, de Acácio Gomes.

A intérprete resgatou um tema do repertório de António Calvário, “Pop Fado”, de César Oliveira e Fernando Carvalho, e “Sete Saias”, com letra e música de Artur Ribeiro, canção que foi um dos seus sucessos, gravada também por nomes como Maria Amélia Canossa e Tristão da Silva.

Neste CD, Carminho é acompanhada por Bernardo Couto, na guitarra portuguesa, em três temas, “O Menino e a Cidade”, “A Mulher Vento” e “Se Vieres”, por José Manuel Neto, nos temas “O Começo” e “Quero Um Cavalo De Várias Cores”, e por Luís Guerreiro, em “Sete Saias”, “Poeta” e “Pop Fado”.

Os outros músicos são Flávio César Cardoso, na viola, José Marino de Freitas, na viola baixo, João Paulo Esteves da Silva, no piano, e Filipe Cunha Monteiro no ‘pedal steal’ e guitarra eléctrica. Carminho toca também guitarra eléctrica em “Estrela”.

“Maria” sucede ao álbum “Carminho Canta Jobim”, editado em dezembro de 2016. Carminho estreou-se discograficamente a solo em 2009, com “Fado”, apesar de já ter cantado, quer na casa de fados da mãe, a fadista Teresa Siqueira, no bairro lisboeta de Alfama, a Taverna do Embuçado, quer em alguns espectáculos, como a Gala Carlos Zel, no Casino Estoril, em 2008, e num espetáculo de homenagem ao poeta José Luís Gordo, na Vidigueira, no Baixo Alentejo, em 2005.

Em 2006, participou na gravação do CD “O Terço Cantado”, e tinha já gravado quatro fados, na Suíça, com a Tertúlia de Fado Tradicional. Em 2008, gravou “Gritava Contra o Silêncio”, excerto de um conto de Sophia de Mello Breyner Andresen, no primeiro disco de inéditos de João Gil.

Ao longo da sua carreira, a fadista tem gravado com artistas de outras áreas musicais, designadamente com os brasileiros Chico Buarque, Milton Nascimento, Marisa Monte, Ney Matogrosso e Nana Caymmi, e com o espanhol Pablo Alborán.

20 Nov 2018

Ricardo Diniz, velejador e orador internacional: “Tenho sempre medo do mar”

A primeira vez que Ricardo Diniz se fez ao mar sozinho numa vela fê-lo entre Lisboa e o Algarve. Anos depois, o velejador, que falou ontem na Universidade de Macau, já fez cerca de 100 milhas sozinho e gostaria de fazer a volta ao mundo em 2019, lembrando os 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães, com quem partilha a data de nascimento

 

[dropcap]O[/dropcap] amor pelos oceanos já o fez percorrer um total de 100 milhas. Fez Lisboa-Dakar à vela na mesma altura do famoso rali, e já levou uma garrafa de vinho de Porto à rainha Isabel II de Inglaterra, por ocasião do seu 80º aniversário, numa outra expedição. Em 1997, esteve 47 dias sozinho em alto mar.
As suas viagens transformaram-no por acaso num orador internacional e num coach que ajuda a melhorar as vidas das pessoas.

Ontem, Ricardo Diniz deu uma palestra na Universidade de Macau (UM) onde abordou também a necessidade de protecção dos oceanos da poluição. Antes, ao HM, contou que um dos desejos que pretende realizar no próximo ano é a realização de uma expedição pelo mundo, para recordar os 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães.

“É provável que a minha primeira volta ao mundo tenha a ver, mais uma vez, com Portugal. Quando fizer a minha volta ao mundo de forma solitária será para mim, e não estou habituado a viver para mim. Penso que ainda tenho muitas coisas a fazer pelos outros”, contou.

Contudo, “há um alinhamento interessante que está a surgir, que são os 500 anos da viagem de Fernão de Magalhães, em 2019. Nasceu a 3 de Fevereiro, como eu, morreu com 41 anos, a minha idade”.

“Numa fase em que sou capaz de fazer essa expedição há um alinhamento da minha idade e dos meus conhecimentos e a coincidência de termos nascido no mesmo dia. Estou muito atento a isto”, acrescentou Ricardo Diniz, que não tem dúvidas que, nos dias de hoje, o velejador português também olharia para questões como os refugiados na Europa e a importância da sustentabilidade.

“Se Fernão de Magalhães fizesse hoje a sua volta ao mundo acredito que ele passaria por Macau e que a sua mensagem seria de sustentabilidade ambiental, e de nos entendermos todos como espécie humana. Como é que 30 anos depois do concerto Live Aid ainda há pessoas a morrer à fome? Que história é esta dos refugiados do Mediterrâneo? Isto não pode acontecer.”

Ricardo Diniz é vegan, uma opção alimentar que transmitiu aos seus filhos. Para ele, a alimentação dos dias de hoje está a matar o planeta. Em 2007 foi nomeado pela Comissão Europeia Embaixador dos Oceanos, cargo que deixou, embora continue a transmitir mensagens de sustentabilidade.

“Não podemos continuar a viver como vivemos actualmente. Temos de deixar de comer carne e deixar de pescar à escala em que pescamos. Temos de perceber de agricultura, e se calhar em vez de ensinar físico-química aos nossos filhos devíamos ensinar a fazer uma horta ou a construir uma casa sustentável”, apontou.

Ricardo Diniz é, há dois anos, Embaixador Bandeira Azul em Portugal, um cargo que também lhe dá a oportunidade de falar sobre o ambiente. “Fico muito feliz por ver muitas acções a acontecer, as pessoas falam cada vez mais do mar, da questão do plástico, da reciclagem, e isso é fantástico, é o caminho e uma das soluções.”

Coach por acaso

Ricardo Diniz passou a contar as suas histórias no mar um pouco por acaso, pois nunca pensou ser orador, muito menos coach. Contudo, os pedidos de ajuda e convites levaram-no a aceitar o desafio.

“Quando falamos para cerca de 30 mil pessoas por ano, em diferentes eventos e palestras, há sempre alguém que quer falar em privado. Através das minhas expedições surgiram convites para palestras por parte de empresas, e a partir daí surgiram contactos de pessoas que queriam falar comigo e que me apresentaram projectos.”

Hoje Ricardo Diniz assume adorar trabalhar com pessoas, apesar de nunca ter estudado coaching nem lido livros de programação neurolinguística. “É uma coisa que me deixa muito realizado, ouvir diferentes projectos, porque todos temos motivações diferentes. E gosto de conseguir apresentar pequenas ideias. Comecei a ser coach de muitas pessoas acidentalmente, a ajudá-las a atingir os seus objectivos.”
Ao contrário do que possa parecer, Ricardo Diniz não fala apenas das suas viagens, mas sobretudo da força interior que é necessária para atingir determinados objectivos.

“É a responsabilidade que eu tenho de depositar ali uma semente que lhes pode mudar a vida, que lhes pode deixar algo que possa ser útil e relevante. Falo muito pouco de vela, não sou sequer da vela, sou do mar e de Portugal.”

“Não escolhi ser coach, mas não tive outra escolha senão ajudar as pessoas. Não tenho jeito nenhum para espectáculos ao vivo, simplesmente chego a um palco e partilho a minha história para que seja útil e relevante. O facto de ser normal e simples faz com que as pessoas pensem que também conseguem lá chegar”, acrescentou.

Encontro com Governo

Convidado no âmbito do programa Jean Monnet da UM, Ricardo Diniz também reuniu ontem com Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo, mas não quis levantar a ponta do véu quanto a futuros projectos.

“É uma primeira conversa. Gosto sempre de explorar oportunidades e de conhecer pessoas, ouvi-las e perceber se posso ser útil. Não poderia vir a Macau sem ter essa conversa, quem sabe o que poderá surgir daí.”

Apesar das inúmeras viagens que já fez, Ricardo Diniz assume que tem “sempre medo de ir para o mar”. “Há muito lixo no mar. Já tive muitos acidentes. O dia em que eu deixar de ter medo de ir para o mar é o dia em que não irei mais para o mar. Se eu deixar de ter medo do mar é porque nasceu em mim uma arrogância qualquer, e aí será a morte do artista. Tenho de estar sempre com atenção e com humildade”, apontou.

Para o coach e orador os oceanos continuam a ensinar-lhe muita coisa sobre a vida em terra. “Já vivi tempestades muito fortes em que não tive nada a meu favor para sobreviver. Fiz o melhor que sabia, preparei o barco, mas há um momento no mar em que não sou nada, sou uma migalha. Nesse momento pensamos muito na vida. Assisto a espectáculos únicos da natureza, em exclusivo, na primeira fila. Não está lá mais ninguém a ver aquilo.”

20 Nov 2018

TIMC | Edgar Martins apresenta imagens premiadas

[dropcap]O[/dropcap] fotógrafo português Edgar Martins, com raízes em Macau, é o nome que fecha o cartaz deste ano do festival This is My City (TIMC). As cinco imagens premiadas do projecto “Silóquios e Solilóquios sobre a Morte, a Vida e outros Interlúdios”, que venceram o primeiro prémio na categoria Natureza Morta dos prémios Sony World Photography deste ano estarão expostas nas Oficinas Navais 2 entre os dias 22 e 25 de Novembro.

As imagens partem de um projecto desenvolvido em parceria com o Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses em Portugal. Durante três anos, Edgar Martins teve acesso a uma grande variedade de provas forenses, incluindo cartas escritas por pessoas que cometeram suicídio. “A carta que mais me comoveu estava escrita num Post- it. Fiquei impressionado com a finalidade da mensagem e a transitoriedade do meio”, explica Edgar Martins, citado num comunicado do TIMC.

Nascido em Évora, Portugal, Edgar Martins cresceu em Macau, mas reside no Reino Unido desde 1996, onde concluiu uma licenciatura em Fotografia e Ciências Sociais na University of Arts e um mestrado em Fotografia e Belas Artes no Royal College of Art (Londres).

O seu trabalho está representado internacionalmente em colecções de diferentes museus, entre os quais se incluem o V&A (Londres), o National Media Museum (Bradford, RU), o RIBA (Londres), o Dallas Museum of Art (EUA), a Fundação Calouste Gulbenkian/Centro de Arte Moderna (Lisboa), a Fundação EDP (Lisboa), a Fondation Carmignac (Paris) e o MAST (Itália).

Edgar Martins já recebeu vários prémios, incluindo o inaugural New York Photography Award (categoria Belas Artes, Maio 2008) e o BES Photo Prize (Portugal, 2009), entre outros.

19 Nov 2018

Nuno Markl, humorista: “Isto da humanidade não tem cura”

O comediante, autor, radialista e apresentador de televisão Nuno Markl esteve em Macau para apresentar o espectáculo “Como ser um saco de pancada deprimente e vencer na vida”. Em entrevista, conta como a comédia pode ser um mecanismo de protecção e como o ser humano “é intrinsecamente marado”

[dropcap]C[/dropcap]omo é ser um saco de pancada deprimente que consegue vencer na vida?
Acho que isto no fundo, como todo o humor ou grande parte do humor que faço, é uma espécie de auto terapia, que me poupa bastante dinheiro em consultas. Tenho sempre esta ideia de que se as pessoas em vez de varrerem as suas coisas mais deprimentes para debaixo do tapete, se as assumirem e se lidarem com elas de uma maneira divertida, isso consegue ser bastante libertador e conseguem contagiar outras pessoas a quem se calhar aconteceram as mesmas coisas. Embora soe a egocêntrico, porque se trata de um espectáculo sobre coisas que me aconteceram a mim, é muito giro ver a identificação de pessoas a quem aconteceram coisas parecidas e que passaram por embaraços idênticos. Torna-se, portanto, um exercício de catarse da minha parte e das pessoas que assistem ao espectáculo. Também estimulo diálogo com as pessoas do público e acaba por ser uma espécie de terapia conjunta que é muito divertida de se fazer.

Como é o trabalho de fazer rir as pessoas?
É tramado (risos). É um ofício para onde as pessoas vão. Analisando tudo o que se passa lá para trás, acho que grande parte das pessoas que trabalham na comédia, começaram na escola usando-a como uma espécie de mecanismo de autodefesa porque fazer rir quebra gelo e barreiras. Vamos com essa ilusão para a idade adulta a pensar que se nos safámos na escola à conta de fazer rir os outros. Mas depois percebemos que não é nada assim. Na realidade, não há nada menos unânime que a comédia, porque suscita uma reacção tão visceral. As pessoas ou riem ou não riem e não riem todas das mesmas coisas. Portanto, há um lado sempre de incerteza e de desporto radical nisto. Costumo dizer que não faço nenhum desporto radical, tenho horror a coisas que me façam saltar de sítios muito altos. Portanto, o meu desporto radical é fazer piadas. Por muito que estejamos convencidos que determinada piada vá dar cabo do público, aquilo pode não funcionar e se calhar uma em que temos menos confiança pode tornar-se uma coisa que as pessoas agarram. Por isso, fazer rir é um ofício fascinante. Ao contrário de fazer dramas. O drama não suscita uma reacção visceral. Uma pessoa pode olhar para um drama e pode simplesmente fazer “humhum”, pode chorar eventualmente se for muito comovente, mas não precisa de o fazer. Pode apenas dizer sim, senhor, aqui está uma coisa bem feita”. Agora se o humor não fizer rir é complicado. Quando penso nisso é de facto uma forma de espectáculo tramada, mas que dá muito gozo.

É arriscado?
Sim, mas parte do gozo está nisso. Tenho sempre algumas incertezas e nervos antes de ir para um palco, mas depois chego lá e fico à vontade. Mas os momentos antes são sempre difíceis.

FOTO: Sofia Margarida Mota

Assume-se como um geek. Porquê?
Sim. Acho que a minha “geekness” também começou na adolescência. Sentimo-nos inadaptados e vencemos essa inadaptação e timidez agarrando-nos a séries, a filmes, a banda desenhada, a coisas que possamos apreciar sozinhos e metidos no nosso mundo. Isso faz com que desenvolvamos esse apreço por este tipo de coisas e que saibamos nomes de artistas que fizeram coisas super obscuras em filmes. O que acontece depois é que crescemos e começamos a perceber que há mais geeks como nós e depois formam-se comunidades de geeks que justificam a existência de coisas como, por exemplo, as comic-cons. Toda a geekness, e não digo isto com sentido depreciativo, parte de uma certa solidão que nos faz estar mais alerta e tentar encontrar uma espécie de sentido da vida em coisas.

Porque se sentia um inadaptado?
Porque era tímido, porque era um caixa de óculos, etc. Mas depois comecei a perceber que se fizesse rir as pessoas e desenhasse caricaturas delas, conseguia vencer o bullying. Consegui fazer com que alguns bullies me deixassem de chatear por ter feito a caricatura deles. E pensei “ok”, isto é uma boa maneira de comprar amizades. Mas, nem sei se consigo avançar com alguma explicação para a minha inadaptação ao longo da vida. Acho que tem tudo a ver com uma aula de ginástica para aí em 1977, ou 78 em que me esqueci de levar os calções e me pareceu que era uma boa ideia ir fazer ginástica em cuecas. Como eram brancas como o calções que se usavam na escola, achava que as pessoas iam achar que naquele dia tinha apenas calções mais curtos. Mas, de facto, não acharam isso. Fui humilhado. Acho que isso faz com que toda a minha idade adulta, e ainda hoje, sinta que estou em cuecas brancas. Poderia surgir disto algo bastante deprimente, mas não. A ideia deste espectáculo é também a de se escarafuncharmos nas coisas que queremos esconder também as conseguimos vencer e, se calhar, ter algum sucesso.

Lamentou a morte de Stan Lee. Qual o papel e a necessidade de super-heróis actualmente?
Lembro-me o quão mal vistos eram os livros de banda desenhada quando estava a crescer. As pessoas questionavam-me porque lia “aquelas porcarias” em vez de ler outras coisas decentes. Há sempre esta ideia. Na verdade, e o Stan Lee foi exemplar nisso, os super-heróis não são mais que uma adaptação aos tempos modernos dos heróis mitológicos das Grécias e Romas antigas. No fundo, estamos sempre em busca de criaturas mais elevadas que nos possam salvar e dar algum sentido à vida. Acho que temos de facto super-heróis em muitas áreas, da medicinas aos bombeiros. Não precisamos necessariamente de tipos com capas e collants justos para nos salvar. No entanto, uma pessoa como o Stan Lee fez muito mais que simplesmente arranjar histórias para nos entreter. Por isso, acho que é exemplar. Ele criou mitos que desbloquearam muitas situações na vida de muitos jovens que foram lendo banda desenhada. Quando se fala hoje de um filme como o “Black Panther” como uma coisa revolucionária que tem um elenco todo afro americano, na verdade foi o Stan Lee que fez isso quando decidiu que deveria existir um super-herói negro que vem de um país em África que está muito mais avançado do que todo o resto do mundo. Ele desbloqueou muitas coisas: falou sobre raça, sobre tolerância. Sempre foi um tipo muito progressista e, às vezes, quando as pessoas grosseiramente dizem que os super-heróis são uma coisa patrioteira da América, na realidade não é verdade. Se as pessoas realmente mergulhassem naquelas histórias, iriam perceber que há ali muitas mensagens universais, que falaram a muitas crianças e que de certa maneira formaram muitas crianças.

É muito activo nas redes sociais. Como vê esta relação das pessoas com o mundo virtual?
Já larguei o Facebook, mas estou fortíssimo no Instagram (risos). Acho que as redes sociais chegaram para unir as pessoas, mas acabaram por as desunir mais que nunca. Ainda por cima acabaram por perverter o sentido das palavras como amigo, gostar, etc. Acho que as pessoas também criaram nas suas cabeças a ilusão de conseguirem mudar o mundo e a mentalidade dos outros usando o Facebook, quando não o conseguem. Às tantas acaba por ser apenas um exercício imaturo de insultos mútuos. Não adianta nada. Isso fez me sair do Facebook. Agora estou no Instagram porque acho que as coisas estão ainda respiráveis, Talvez por ser uma coisa mais baseada em imagem do que em texto. Mas, de um modo geral, a espécie humana não sabe lidar com uma ferramenta como o Facebook.

O que se passa com a humanidade?
Isto é meio apocalíptico e niilista de se dizer, mas acho que somos uma espécie intrinsecamente marada. Muitas vezes quando olho para a paz no olhar das minhas cadelas quase que lhes invejo a serenidade. Na verdade, quando há guerras entre cadelas têm apenas que ver com um prato de comida mas de resto há uma tolerância muito grande. Também não estou a sugerir que a humanidade deva andar a cheirar os rabos uns dos outros, que é uma coisa que os cães fazem e muito bem. Mas acho que isto da humanidade não tem cura. Por muito que existam coisas boas a acontecer nós, intrinsecamente, aquilo que nos distingue dos animais é que temos perversão intrínseca e alguma maldade e isso é muito difícil de resolver. Portanto, só podemos tentar levar isto o melhor que conseguirmos tendo em conta que somos de facto marados. Aliás, o preço para termos coisas tão incríveis como comédia, poesia, arte é também sermos passados da cabeça.

Como encara situações da actualidade como o Trump no EUA e Bolsonaro no Brasil?
Acaba por ser muito inquietante mas ao mesmo tempo é estranhamente previsível. Faz-me muito impressão que tudo isto esteja a acontecer. Especialmente alguém como o Bolsonaro. Aqui há uns anos, um tipo que dissesse as coisas que ele disse durante a campanha não seria levado a sério. Quando vi uma fotografia da Regina Duarte, que é uma actriz que admiro, abraçada ao Bolsonaro pensei: o mundo está, de facto, perdido. Não há solução para isto. A viúva Porcina está a apoiar um fascista. Inacreditável [risos]. Isto é muito preocupante mas, de certa maneira, a humanidade caminhou para este buraco. Muitas vezes, as pessoas ofendem-se com tão pouco à esquerda enquanto a direita fica unida. Essa desunião à esquerda faz de facto com que a direita se una e se ria, enquanto olha para a esquerda e vê toda a gente à porrada uns com os outros. Portanto, de certa maneira estávamos a pedi-las, o que é horrível, mas espero que isto, a dada altura, se afine e que seja apenas um acidente de percurso.

19 Nov 2018

FRC | Jorge Rangel fala da Macau dos anos 50

[dropcap]J[/dropcap]orge Rangel, presidente do Instituto Internacional de Macau (IIM), protagoniza amanhã uma palestra na Fundação Rui Cunha (FRC) sobre a situação do território na década de 50. A conferência tem como nome “Macau na Década de 1950. Memórias de um Tempo de Paz (Instável) após a Guerra do Pacífico” e acontece graças a uma parceria com a Associação dos Antigos Alunos da Escola Comercial “Pedro Nolasco” (AAAEC).

A comunicação de Jorge Rangel foi feita pela primeira vez em Portugal pela mão da Comissão Asiática da Sociedade de Geografia de Lisboa. “Com as necessárias adaptações, a sua comunicação é agora integrada nos ‘Serões com História’, sendo feito um enquadramento político de um tempo novo de Macau, após as incertezas e as agruras sofridas durante a Guerra do Pacífico”, aponta um comunicado da FRC.

Nessa altura, Macau atravessava uma “década de mudança e de renovadas esperanças”, bem como “um período de paz numa conjuntura ainda bastante instável, mas que permitiu a Macau ganhar condições para um desenvolvimento sustentável”.

Ao longo da década em apreço, Macau teve cinco governadores (Gabriel Maurício Teixeira, Albano Rodrigues Oliveira, Joaquim Marques Esparteiro, Pedro Correia de Barros e Jaime Silvério Marques), cujos mandatos serão caracterizados durante a apresentação. Será feita uma referência “aos projectos então lançados, à vida do dia-a-dia, aos usos e costumes, às manifestações culturais e sociais, à educação e às actividades da juventude e de lazer da população”. A sessão será moderada por José Basto da Silva, actual presidente da AAAEC.

19 Nov 2018

História | Jorge Rangel vai falar da Macau nos anos 50 esta terça-feira

[dropcap]J[/dropcap]orge Rangel, presidente do Instituto Internacional de Macau (IIM), protagoniza esta terça-feira uma palestra na Fundação Rui Cunha (FRC) sobre a situação do território na década de 50. A conferência tem como nome “Macau na Década de 1950. Memórias de um Tempo de Paz (Instável) após a Guerra do Pacífico” e acontece graças a uma parceria com a Associação dos Antigos Alunos da Escola Comercial “Pedro Nolasco” (AAAEC).

A comunicação de Jorge Rangel foi feita pela primeira vez em Portugal pela mão da Comissão Asiática da Sociedade de Geografia de Lisboa. “Com as necessárias adaptações, a sua comunicação é agora integrada nos ‘Serões com História’, sendo feito um enquadramento político de um tempo novo de Macau, após as incertezas e as agruras sofridas durante a Guerra do Pacífico”, aponta um comunicado da FRC.

Nesta altura Macau atravessava uma “década de mudança e de renovadas esperanças”, bem como “um período de paz numa conjuntura ainda bastante instável, mas que permitiu a Macau ganhar condições para um desenvolvimento sustentável”.

Nesses anos, Macau teve cinco governadores (Gabriel Maurício Teixeira, Albano Rodrigues Oliveira, Joaquim Marques Esparteiro, Pedro Correia de Barros e Jaime Silvério Marques), cujos mandatos serão caracterizados na apresentação. Será feita uma referência “aos projectos então lançados, à vida do dia-a-dia, aos usos e costumes, às manifestações culturais e sociais, à educação e às actividades da juventude e de lazer da população”. A sessão será moderada por José Basto da Silva, actual presidente da (AAAEC).

18 Nov 2018

Exposição põe obras de artistas portugueses e chineses a dialogar

[dropcap]U[/dropcap]ma exposição de arte contemporânea, que põe em diálogo 16 artistas portugueses e chineses, em torno do sentimento saudade e explorando materiais diversos, como tela, tintas, tapeçaria, madeira ou vídeo, é inaugurada esta sexta-feira, no Museu Berardo, em Lisboa.

Com curadoria de Yuko Hasegawa, directora artística do Museu de Arte Contemporânea de Tóquio, a exposição “Saudade, China & Portugal – Arte Contemporânea” gira em torno daquela palavra portuguesa “intraduzível”, que “transmite o desejo de um momento passado que pode ser permanentemente inatingível”, explicou.

“Em vários sentidos, esta palavra fala da nossa situação actual — na qual, devido ao desespero esmagador causado pela incerteza do presente e do futuro, o doce passado parece tão acolhedor”, afirmou a curadora.
Centrando-se nesta ideia, Yuko Hasegawa quis “criar um diálogo entre portugueses e chineses, entre dois povos completamente diferentes” e, para tal, pegou “na questão da globalização”, e de toda a instabilidade daí decorrente, para apresentar a saudade como “um calmante eficaz”, acrescenta a curadora.

Neste sentido, Yuko Hasegawa seleccionou 16 artistas de Portugal e da China, em cujas expressões se destacam “três conceitos: diversidade, festividade e ambiguidade, todos eles trabalhados em torno do sentimento saudade”.

Tintas e carvão

A visita à exposição inicia-se com três grandes quadros, de guache e caneta gel sobre papel, em vários tons de azul, da autoria do artista plástico Rui Moreira, que, para este trabalho, partiu da questão “de onde vem o sonho”.

Segundo a curadora, as pinturas de Rui Moreira levam o observador a um “estado de sonambulismo permanente”, que faz lembrar a vida vivida com saudade.

Um incêndio em Trás-os-Montes e a imagem de girassóis a arder, uma frase de um livro de Roberto Bolaño, o filme “Fitzcarraldo”, de Werner Herzog, e as paisagens desérticas foram alguns dos elementos inspiradores desta obra, contou o artista aos jornalistas.

Rui Moreira segue depois para um outro conjunto de três quadros – em guache, caneta de gel, tinta da china e lápis sobre papel – o primeiro dos quais, inspirado na sua paternidade, simboliza o nascimento, o segundo simboliza “a morte de um pai espiritual” e tem a ver com a morte de Herberto Helder, e o terceiro representa a fase de “matar o dragão”, ou seja, matar os sentimentos que atrasam a entrada na maturidade, tais como medo, raiva ou inveja.

Tecidos e xilogravuras

Outras peças em destaque são as grandes xilogravuras do artista plástico chinês Sun Xun, que pretendem mostrar que há mais do que arte contemporânea numa exposição de arte contemporânea – também há história.
A primeira peça é um tríptico intitulado “Flor”, composto de xilogravuras – representando um grande vaso de flores – cravejadas com fósseis, pedras e âmbar.

Inspirado na pintura holandesa do século XVIII, este trabalho de Sun Xun faz lembrar a parede de um museu de História, coberta de “objectos históricos”, genuínos e falsos, e de pinturas, explica Yuko Hasegawa.
André Sousa é outro dos artistas portugueses incluídos nesta mostra, com uma composição de cortinas – cada uma com a sua própria narrativa, inspirada por um acontecimento em determinado momento – dispostas em suspensão, para “criar espaços de tensão”, e formando uma semicircunferência, o que explica o título da obra: “1/2 Roulette”.

Estas cortinas são símbolos, ou um álbum, da jornada pessoal do artista na percepção que tem do mundo e na sua experiência.

André Sousa especificou que são várias as situações e imagens que as suas pinturas nos tecidos – uma de cada lado de cada pano – aludem: livros do século XX, viagens à China e ao Japão, a roleta russa e a cultura do jogo na China, os quadros pretos de ardósia da infância, ou o livro do escritor Venceslau de Morais, “Paisagens da China e do Japão”.

Esculturas, óleos e multimédia

A artista Luísa Jacinto apresenta quadros de acrílico e óleo sobre tela, bem como um vídeo, que se situam entre a figuração e a abstração, nos quais está “muito presente a ideia de vertigem”, explicou a própria.

Joana Vasconcelos está presente com quatro obras, uma das quais – “Valkyrie Marina Rinaldi” – ocupa o centro de uma sala, e consiste numa peça de grandes proporções, feita com croché em lã, tecidos, adereços, insuflável, e cabos em aço, numa espécie de grande dragão de “ricos ornatos, decorações preciosas, tecidos opulentos e uma multitude de técnicas manuais como o croché”, como descreveu a curadora.

As outras três peças, são esculturas cobertas de azulejos Viúva Lamego, mosaicos em pastilha, croché em lã, adereços, polyester, LED, sistema eclétrico, contraplacado e ferro.

A abrir a exposição há uma escultura monumental tridimensional, da autoria de José Pedro Croft, que convida o observador a ver-se no vidro espelhado e a tornar-se parte da obra.

A exposição, que vai estar patente no Museu Colecção Berardo, de 17 de Novembro até 6 de Janeiro de 2019, é uma co-produção com a Fundação Fosun e conta com trabalhos de Vasco Araújo, Pedro Valdez Cardoso, José Pedro Croft, Leng Guangmin, Tao Hui, Luísa Jacinto, Liu Jianhua, Rui Moreira, Cheng Ran, André Sousa, Joana Vasconcelos, Guan Xiao, Sun Xun, Shi Yong, Xia Yu e Liang Yuanwei.

16 Nov 2018

Philippe Graton, autor da BD “Michel Vaillant em Macau” | Uma saga familiar

Michel Vaillant está de volta a Macau, assim como o autor do novo livro que tem a cidade como cenário, Philippe Graton. Numa entrevista colectiva, o autor e filho do criador da personagem que transportou os desportos motorizados para as tiras de banda desenhada revela como se desenha velocidade e como ganhou o respeito do mundo dos desportos motorizados

[dropcap]C[/dropcap]omo se deu o regresso desta personagem?
Tudo começou com o Festival Literário de Macau. Na sequência do convite tive a oportunidade de conhecer Macau e fiquei fascinado. Pediram-me para fazer duas exposições, uma de banda desenhada com as pranchas originais da história que o meu pai desenhou há 35 anos atrás sobre Macau. O outro convite foi para expor o meu trabalho fotográfico. Numa das entrevistas que dei na sequência do festival, um jornalista perguntou-me se eu imaginava o regresso do Michel Vaillant a Macau, depois de 35 anos. Disse “não sei, porque não”. No dia seguinte, a primeira página dizia que o Michel Vaillant iria regressar a Macau. Fiquei preso a essa ideia. Toda a gente me veio dizer que deveria fazer um livro novo com Macau como cenário. A minha resposta continuava a ser talvez. Comecei a interessar-me pela história do Grande Prémio de Macau. Não conhecia as especificidades da corrida de Macau, que é exigente, perigosa e espectacular. Fiquei fortemente impressionado quando comecei a documentar-me e a olhar para os jovens pilotos. A idade é limitada a 26 anos, portanto, são muito novos. Aquilo que em francês chamamos de chiens fous, cães raivosos com dentes aguçados que sabem que se ganharem o Grande Prémio de Macau podem ser descobertos e ascender a competições como a Fórmula 1. Como aconteceu com o Ayrton Senna e o Schumacher. Portanto, é uma corrida muito importante e perigosa e esses condutores jovens são extremamente velozes e agressivos porque sabem o que está em jogo.

Um desporto de certa forma dramático.
A banda desenhada é como qualquer outra forma de dramatização, como cinema, literatura ou teatro. A banda desenhada conta histórias humanas. Tive o interesse de escrever uma história sobre esta corrida e explicar aos leitores que não conhecem o que está em questão, o que é a corrida. Quando se está em Macau, queres escrever uma história que se passa na cidade, que mostre muito mais que o circuito. O livro feito há 35 anos focava-se apenas na corrida e no circuito, mas há tantas coisas em Macau. Não quis cair no cliché dos casinos, mas começar por aí e fazer algo completamente diferente. Não há um único casino nesta história. A ideia era localizar uma perseguição na cidade, ao mesmo tempo que a corrida acontece no circuito. Dessa forma, poderia aumentar a tensão em duas histórias: a corrida e alguém que arrisca a vida a levar informação muito importante a Michel Vaillant. Portanto, a tensão aumenta em duas histórias em simultâneo, o que me permitiu mostrar muitos aspectos de Macau.

Que aspectos de Macau foram focados neste livro?
Temos paisagens de Macau, a perseguição na cidade mostra o terminal de ferries, o cais, os velhos bairros, as Ruínas de São Paulo. Começa aí uma perseguição que vai levar as pessoas por ruas estreitas, que passa perto da Livraria Portuguesa. Foi um piscar de olho, uma piada privada, porque o Ricardo Pinto está na origem desta história. Se ele não me tivesse convidado há dois anos, e sem a sua ajuda, este livro não existiria e eu não estaria aqui. É a minha forma de agradecer. Tudo o que usámos, a paisagem urbana, deixo para descobrirem no livro.

Como se passam as emoções das corridas e a velocidade para um meio que imóvel?
Há dois aspectos. Primeiro é a história, os cenários e depois o grafismo. No cenários, não são os carros que são mais interessantes, mas as pessoas. Michel Vaillant não é só sobre pilotos e vitória ou derrota na corrida. Há muita dramatização no enredo, a família do Michel Vaillant, há muitas coisas em jogo. Eles fazem o seu próprio carro, o carro Vaillant. Há também a chegada de novas tecnologias e combustíveis. Portanto, é uma história que não se passa apenas no circuito. É uma saga familiar, é uma saga de negócios, sobre novas tecnologias. Tem vários enredos e, por isso, acho que é muito interessante.

E quanto ao grafismo?
Quanto aos desenhos que o meu pai fez, se virmos o “roar”, não diria que ele inventou isso, mas desenvolveu um estilo para retratar isto. Há um especialista em arte francês que diz que Jean Gratton inventou a banda sonora num meio silencioso. Não foi só para desenhar o barulho do motor, mas é um tipo de gramática gráfica que nos permite perceber que um carro se move a alta velocidade, a acelerar. Se virmos a história da arte, pintura, desenho, por aí fora, antes dos carros serem inventados, tudo que se movia depressa mudava de forma. As pernas do cavalo, as velas de um barco e a água, o fumo de um comboio. Quando os carros apareceram, quem procurou retratar essa velocidade de forma artística ficou perdido, porque um carro em movimento tem exactamente a mesma forma que um carro parado. Então, como é que graficamente se faz com que as pessoas sintam que o carro se está a mover a alta velocidade? A ideia seria este barulho, a banda sonora, que nos permite perceber que carro está numa posição de supremacia, até para perceber a ignição do motor, se está em velocidade de topo, se está a travar. Se tirarmos estes elementos, o carro está parado. É só quando introduzimos estes elementos que percebemos o movimento e de que forma se move. No ponto de vista gráfico, isso é muito interessante e, claro, que continuámos a usar isso. Quando fizemos histórias sobre a Fórmula E, há dois ou três anos, ficámos perdidos porque não sabíamos o que fazer com o silêncio dos motores. Perguntámos aos leitores, fizemos um concurso na internet a pedir sugestões para que barulho faria um motor eléctrico. Tivemos muitas respostas, ruuuuueee, roooaaaa, vvvvv… finalmente, selecionámos um e desenvolvemos a gramática de um motor eléctrico também para que o leitor percebesse quando está a aumentar de velocidade, travar. Tivemos sucesso a entrar no Século XXI.

Como foi a recepção destes livros?
Tenho muita sorte que quando vou a algum local ligado a desportos motorizados, uma corrida ou um rally, chego e pergunto se posso ter alguma documentação ou informação, porque estou a preparar um cenário para o Michel Vaillant. As portas abrem-se. A maioria das pessoas que trabalham em desportos motorizados são leitores de Michel Vaillant, muitos entusiásticos e prontos para ajudar. Fico sempre surpreendido, mas é uma coisa maravilhosa. Todos têm histórias para contar, como, por exemplo, pessoas que entraram para o mundo do automobilismo porque liam a banda desenhada quando era novo. Finalmente, reparo que as bandas desenhadas são muito apreciadas por quem está ligado a desportos motorizados porque somos precisos, procuramos realismo e damos uma boa imagem dos desportos motorizados. São desportos nobres. Como temos acesso a muita documentação podemos ser imaginativos, ou mesmo doidos, sobre os cenários e as histórias, mas nunca escrevemos coisas estúpidas sobre carros e corridas. Estamos bem documentados. Às vezes, mesmo pessoas que estão neste mundo aprendem coisas com o Michel Vaillant. Isto é aquilo a que chamo de um círculo virtuoso. De certa forma, trabalhamos como jornalistas. Quando vou a corridas tiro fotografias, falo com pilotos, líderes de equipas, engenheiros. Às vezes, dão-me informações que não dão aos jornalistas porque sabem que não vai estar no dia seguinte na imprensa. É muito agradável ter essa confiança e consideração num universo que nos fascina.

16 Nov 2018

Guia Michelin regressa a Macau em Dezembro para lançar 11.ª edição Hong Kong Macau

[dropcap]O[/dropcap] lançamento da 11.ª edição do Guia Michelin Hong Kong Macau vai realizar-se a 11 de Dezembro, em Macau, anunciou a organização. Depois da edição de 2017, também apresentada em Macau, o guia vai mostrar “mais uma vez a força e a qualidade da cena culinária local”, de acordo com um comunicado.

O Guia Michelin Hong Kong Macau foi lançado em 2009 e a edição passada atribuiu classificações a 18 dos 65 restaurantes referenciados em Macau. Em Hong Kong, o Guia incluiu 227 restaurantes.

Na apresentação da edição de 2017, o director internacional dos Guias Michelin, Michael Ellis, manifestou a sua satisfação pela vitalidade da actividade culinária.

“Dez anos após a primeira selecção para Hong Kong e Macau, estamos satisfeitos por verificar a vitalidade da actividade culinária: o número de restaurantes com estrelas triplicou”, disse. O responsável destacou a “identidade única de Macau, um cruzamento entre Ocidente e Oriente, especialmente reflectida na cozinha macaense”.

15 Nov 2018

Primeiro álbum de João Caetano “Rhythm & Fado” com estreia no London Jazz Festival

[dropcap]O[/dropcap] primeiro álbum do percussionista e cantor João Caetano, “Rhythm & Fado”, uma “miscigenação do fado português com o jazz de Londres”, vai ser apresentado no London Jazz Festival, no próximo dia 21 de Novembro.

“Há uma miscigenação do fado português com o jazz aqui de Londres, onde vivo e passo a maior parte do meu tempo, mas também há elementos da música chinesa, porque nasci em Macau e essas influências estão sempre retratadas na minha música”, afirmou à Lusa.

O álbum de estreia, com “mais referências ao jazz e mais maduro”, explora diferentes dimensões musicais, com diversos instrumentos, e conta com a participação de músicos e guitarristas portugueses como Ângelo Freire, André Dias e Diogo Clemente.

Os 13 temas, incluindo um fado original e arranjos de canções de Toquinho e Vinicius de Moraes, vão ser apresentados pela primeira vez na capital britânica, no London Jazz Festival, o verdadeiro “pontapé de saída”.

Ao restante público, o músico vai dar a conhecer, a partir dessa data, apenas um tema por semana. Uma escolha, lembrou, que se prende com a “realidade da música hoje em dia” e com o “envolvimento das redes sociais”.

“Este lançamento ‘online’ tem a ver com a realidade da música hoje em dia, que eu conheço e que estou envolvido também. Vou lançar o álbum em duas partes: a primeira parte até 2 de Janeiro e a segunda um pouco depois, ainda no primeiro trimestre de 2019”, disse.

A vontade de apresentar o álbum em Portugal e em Macau, onde nasceu e cresceu, é enorme. Mas, sublinhou, “está a trabalhar para ser apresentado no mundo inteiro”.

O projecto tem o apoio do Instituto Cultural de Macau, um apoio que o músico vê como “muito importante” para si e outros jovens do território, onde ainda não existe uma “indústria desenvolvida nesse aspeto”.

“Já saí de Macau há anos, mas tenho fortes relações com Macau. É muito bom poder representar e dar a conhecer Macau noutras vertentes que não seja só o jogo”, disse.

Com um percurso musical amplo e variado, João Caetano é percussionista há oito anos da banda de jazz britânica Incognito.

15 Nov 2018

Novo filme de Orson Welles disponível no Netflix

Quase meio século depois de ser rodado, “The Other Side of the Wind” estreia em simultâneo nas salas de cinema e nas salas de quem tem Netflix. A derradeira película de Orson Welles é uma deslumbrante dissertação experimental que resgata a verdadeira essência do cinema

 

[dropcap]“T[/dropcap]al como eu e Deus… quem será capaz de nos distinguir?”, atira John Huston para a câmara, enquanto interpreta o papel de Jake Hannaford no filme “The Other Side of the Wind”. Uma citação grandiosa ao estilo de Orson Welles, o realizador que 33 anos depois de ter morrido estreia a sua derradeira obra nas salas de cinema e numa plataforma inimaginável na altura da rodagem: o Netflix.

Corria o ano de 1970, quando o actor e realizador Peter Bogdanovich atendeu o telefone para ouvir uma voz rouca perguntar-lhe que planos tinha para quinta-feira. Do outro lado da linha estava o autor de Citizen Kane com uma proposta irrecusável: Passar pelo estúdio, na tal quinta-feira, onde Orson Welles começava o seu derradeiro filme, uma produção que estimava apenas demorar algumas semanas a filmar.

Cerca de 48 anos depois, “The Other Side of the Wind” foi exibido pela primeira vez no Telluride Film Festival, juntamente com dois documentários que retratam a tarefa hercúlea que foi acabar o obra de uma das maiores figuras da sétima arte. “É triste porque o Orson não está aqui para vê-lo, ou talvez esteja”, disse Bogdanovich aquando da estreia do filme.

Caracterizado como uma das películas mais famosas que jamais seria exibida, a produção do filme esbarrou em inúmeros obstáculos. Em primeiro lugar a morte de Welles, seguido de inúmeras batalhas de direitos de autor e dificuldades para financiar o resto da produção.

Entretanto, no meio de um mar de dificuldades, o influente produtor Frank Marshall decidiu pegar no projecto que se resumia a mais de 100 horas de material filmado. Durante décadas, as bobines esquecidas num armazém em Paris alimentaram lendas cinematográficas que apenas gigantes vultos, como Orson Welles, conseguem criar.

Mosaico experimental

Os brutos deixados por Welles são filmagens feitas em diversos formatos. Cores, preto e branco, 35 milímetros, 16 milímetros e Super 8, são os vários moldes que resultariam na heterogénea experiência visual que é “The Other Side of the Wind”.

O filme recorda a faceta polarizadora de Orson Welles, que tradicionalmente teve o dom de dividir crítica e público quanto à apreciação das suas obras. John Hudson é o protagonista da obra, representando um realizador excêntrico que morre após a sua festa de aniversário. O personagem encerra as dicotomias do próprio Welles, oscilando entre a destruição e a criação como um pêndulo de engenho fílmico fora dos parâmetros da normalidade. O resultado é um filme com duas horas.

O papel desempenhado por Hudson vive também dividido entre a egomania e a autocomiseração, atraindo a atenção de todos os que orbitam em seu redor com um carisma digno de Ernest Hemingway (aliás, o personagem intitula-se o Hemingway da cinema). “The Other Side of the Wind” é uma colagem das supostas filmagens de convidados da festa, presságio da cultura da câmara omnipresente dos dias de hoje, que segue o ritmo alucinado entre o bebop e o swing. O filme é uma corrida frenética, um sonho febril repleto de freaks e figuras que não pertencem ao mundo politicamente correcto que vivemos.

O derradeiro filme de Orson Welles é uma obra para absorver, para experimentar, para ser vivida com todos os excessos que merece. Não é para ser compreendida ou explicada. A tempos demasiado caótica e sinuosa, a última obra de Welles é uma aventura experimental e um testemunho de uma época que passou. “The Other Side of the Wind” marca o fim da carreira de um dos maiores cineastas de sempre. Se o desfecho é agradável ou não, depende da percepção de cada um. Nas palavras do próprio Welles, “se queres um final feliz, isso depende onde paras a história”.

15 Nov 2018

Espectáculo com ‘robertos’, viola campaniça e fado representa Portugal na China

[dropcap]O[/dropcap] espectáculo de marionetas “Uma Tourada dos Diabos”, que combina os tradicionais “robertos”, a viola campaniça e o fado, da autoria de uma companhia de Évora, vai representar Portugal num festival na China, a partir de sábado.

“É um espectáculo em que juntámos três tradições numa só. Temos a tradição dos ‘robertos’ e, a estas marionetas tipicamente portuguesas, juntámos a viola campaniça, que é tradicional do Alentejo, e o fado, característico de Lisboa e do país”, realçou hoje à agência Lusa Manuel Costa Dias, da companhia TRULÉ.

A peça “Uma Tourada dos Diabos”, que junta a companhia TRULÉ e a associação cultural É Neste País, de Évora, vai ser a representante de Portugal, a partir de sábado e até ao dia 24 deste mês, num festival promocional de teatro de marionetas para grupos chineses, na cidade de Langzhong.

Segundo Manuel Costa Dias, trata-se da sétima edição do National Puppetry and Shadow Art Inheritance Showcase by Young and Mid-aged Puppeteers and International Forum on Inheritance and Contemporary Development of Puppetry and Shadow Art.

“É um festival que promove os grupos de teatro de marionetas de sombras da China e, este ano, apenas foram convidados a participar cinco grupos estrangeiros”, dos quais o TRULÉ “é um deles”, acompanhado pela associação É Neste País, explicou.

O marionetista alentejano referiu que os grupos chineses “são muito bons” nas marionetas “de sombras, de luva e de varão”, mas “não têm muita experiência” em relação “ao que se faz fora do país”.

Por isso, continuou, a organização pretende mostrar a esses grupos, “alguns dos quais estão agora a iniciar-se nesta actividade, gente de outras partes do mundo que também faz marionetas, mas de formas diferentes e proveniente de culturas diferentes”.

No espectáculo escolhido para mostrar na China, Manuel Costa Dias contou que vai “estar dentro de uma barraquinha” a manipular os “robertos”, tradicionais marionetas portuguesas de luva, mas, fora do “palco”, há duas inovações.

“Cá fora, vão estar dois músicos, o António Bexiga, a tocar a viola campaniça, e o Nuno do Ó, a tocar viola e a cantar fado”, assinalou, referindo tratar-se de um espetáculo relativamente novo, mas que “já anda por aí”, a ser também promovido por Portugal.

Segundo a companhia alentejana, esta vai ser a sexta deslocação do TRULÉ a festivais internacionais realizados em território chinês. Esta participação tem apoios da Fundação Oriente, Fundação Stanley Ho, Embaixada de Portugal em Pequim, Direção Regional de Cultura do Alentejo – Ministério da Cultura e União de Freguesias de Évora.

14 Nov 2018

Futuro do Circuito da Guia é tema de várias palestras

O arquitecto Rui Leão e os historiadores João Guedes e Vicent Ho vão realizar na quarta e na quinta-feira, em Macau, palestras sobre o futuro do circuito da Guia, onde decorre o Grande Prémio.

Organizadas pela Associação para a Promoção e Desenvolvimento do Circuito da Guia de Macau (APDCGM), por ocasião do segundo aniversário, as palestras vão ser apresentadas em português, chinês e inglês, estando previstas mais sessões no dia 19 e 20 de Novembro.

O piloto de Macau André Couto vai também marcar presença no evento, estando prevista uma sessão de autógrafos. Na segunda-feira, a APDCGM inaugurou a segunda edição da exposição colectiva “O Circuito da Guia como Património Mundial da UNESCO”, que apresenta trabalhos de 20 artistas e que estará patente ao público até 21 de novembro próximo.

A 65.ª edição do Grande Prémio de Macau vai decorrer entre quinta-feira e domingo próximos e inclui três corridas de carros, as taças do mundo de Fórmula 3, GT e de carros de turismo (WTCR), bem como o 52.º grande prémio de motos, além da taça de carros de turismo de Macau e a taça da Grande Baía.

14 Nov 2018

TIMC | Weng Wen e Pet Conspiracy em Macau

[dropcap]W[/dropcap]ang Wen, o conhecido grupo chinês de pós-rock, e Pet Conspiracy, a banda do continente conhecida pela sua sonoridade electro-punk, juntam-se ao cartaz da edição deste ano do This is My City Festival (TIMC) que acontece entre os dia 22 e 25 de Novembro.

Weng tem concerto marcado em Macau a 24 e Pet Conspitracy a 25, ambos nas Oficinas Navais 2. Estes nomes juntam-se a Re-TROS, Celeste Mariposa, Dj Kitten e Wu Tiao Rien, num cartaz que se estende por Zhuhai, Shenzhen e Macau.

14 Nov 2018

Livro | Duarte Drumond Braga desvenda o orientalismo de Fernando Pessoa

O académico Duarte Drumond Braga é o autor de “As Índias espirituais. Fernando Pessoa e o Orientalismo português”, obra que traz à luz do dia o oriente pessoano. Uma manifestação intelectual, difusa, desprovida de espaço, ao contrário do Oriente de Pessanha. O livro tem lançamento previsto ainda antes do Natal, com a chancela da Tinta da China

 

[dropcap]“E[/dropcap] eu vou buscar ao ópio que consola, um Oriente ao oriente do Oriente.” Este verso, que abre “Opiário”, é uma das referências orientais mais explícitas na obra de Fernando Pessoa. Ainda assim, não falta levante à longitude do poeta, apesar do carácter abstracto e mental do Oriente de Pessoa. Este é o epicentro de “As Índias espirituais. Fernando Pessoa e o Orientalismo português”, livro de autoria de Duarte Drumond Braga, que será lançado antes do Natal com a chancela da Tinta da China. A obra, versão simplificada da tese de doutoramento do académico, reflecte uma multiplicidade de orientalismos, obedecendo à pluralidade de vozes do universo pessoano.

“Há momentos em que Pessoa recorre a um imaginário oriental, por exemplo, quando fala da cultura árabe em textos fragmentários. Ele usa isso como argumento para defender um certo espírito peninsular, ibérico”, explica o autor. Noutros momentos, fala da Índia, da novidade e da descoberta que encerra o subcontinente. Nessa acepção, Pessoa revela outro tipo de orientalismo de “tradição mais imperial, colonial portuguesa, algo que também transparece em Álvaro de Campos nalguns poemas como o Opiário”.

Seguindo a linha pessoana, e de acordo com Duarte Drumond Braga, é difícil dar unidade às várias referências orientalistas na obra do poeta, excepto o facto de ser um tema que este descobre em segundo grau e de ter uma condição interior, intelectual, desligada do espaço.

Ao contrário do Oriente de Camilo Pessanha, experimentado pessoalmente na Ásia, o de Pessoa é interiorizado através da literatura. “Ao longo do Livro do Desassossego é dito muitas vezes que a viagem, antes demais, é interior. O acto de viajar, ver paisagens é uma actividade que para este Pessoa é um tanto ao quanto secundária”, teoriza o autor. Duarte Drumond Braga entende que o autor de “Tabacaria” sempre esteve mais interessado na capacidade de criar paisagens, em vez de as percepcionar no exterior. “Mas isto é um dos Pessoas, não é o Pessoa”.

Plano imaginado

“Este orientalismo é sempre muito cerebral, muito irónico, não é uma necessidade literal de um exotismo. Por exemplo, no “Livro do Desassossego” há pequenas passagens sobre a China, em que fala de porcelanas chinesas e da ideia da paisagem perfeita chinesa.” Este tipo de referências são entendidas pelo autor como ironização da forma exótica com que o ocidente via tradicionalmente o oriente. Um dos exemplos que o académico destaca nesta “espécie de paródia de exotismo” é a repetição três vezes da palavra oriente no “Opiário”.

Apesar das visões díspares entre o oriente de Pessanha (decadente e presente) e o de Pessoa (fragmentado e ausente), existiram pontos de contacto entre os dois grandes vultos da poesia portuguesa. Camilo Pessanha foi convidado por Pessoa para colaborar na revista Orpheu, facto comprovado com uma carta enviada para Macau e que espelha o imenso respeito que os modernistas sentiam por Pessanha.

Apesar do contacto, o orientalismo de Pessanha passa muito pela cultura chinesa, “mais na prosa, até nos ensaios, do que propriamente nos poemas”. Por outro lado, “o orientalismo do Pessoa é mais abstracto, mental, não está inscrito num espaço, é mais fragmentado e heterogéneo”, desvenda Duarte Drumond Braga.
Não obstante as diferentes naturezas, o académico encara os poetas como “os dois grandes nomes de uma tradição portuguesa que se vai sempre colhendo coisas à Ásia. Apesar de no Pessoa ser um interesse entre muitos outros e no Camilo Pessanha ser central”.

Duarte Drumond Braga está a fazer um pós-doutoramento na Universidade de Macau e amanhã apresenta na Universidade de São José, às 18h, uma palestra intitulada “Literaturas em rede: a produção literária de língua portuguesa de Goa em contacto”.

14 Nov 2018

Morreu Stan Lee, o criador dos super-heróis da Marvel como Homem Aranha e Incrível Hulk

[dropcap]O[/dropcap] editor da Marvel Comics Stan Lee, criador de super-heróis como Homem Aranha, Incrível Hulk, Iron Man e Fantastic Four, morreu ontem, em Los Angeles, aos 95 anos, noticiou a publicação The Hollywood Reporter.

Escritor, argumentista, criador de personagens como X-Men, Stan Lee morreu ontem de manhã, no Centro Médico Cedars-Sinai, de acordo com fontes hospitalares citadas pela publicação especializada The Hollywood Reporter.

“O meu pai amou todos os seus fãs. Foi o maior e mais decente dos homens”, disse a filha do criador da Marvel, Joan Celia Lee, à publicação ‘online’ TMZ, numa reacção à morte, citada pela agência espanhola de notícias, Efe.

13 Nov 2018

Festival de Luz | Regresso em Dezembro com música e gastronomia

[dropcap]I[/dropcap]nstalações luminosas, espetáculos de ‘vídeo mapping’ e jogos interactivos regressam em Dezembro a Macau no âmbito do Festival de Luz, que adiciona este ano ao programa eventos de música e gastronomia, foi ontem anunciado.

O festival, que vai decorrer de 2 a 31 de Dezembro, “combina gastronomia, humanidade, arquitectura, cultura e criatividade (…) demonstrando a essência da fusão das culturas chinesa e ocidental da cidade”, descreve um comunicado dos Serviços de Turismo.

Em conferência de imprensa, a directora dos Serviços de Turismo (DST), Maria Helena de Senna Fernandes, sublinhou que o programa do evento tem sido optimizado todos os anos “em apoio à construção de Macau como um centro mundial de turismo e lazer”.

Assim, para a quarta edição, a entidade organizadora “concebeu uma série de novos elementos”, nomeadamente um mercado noturno que será palco, durante os fins de semana, de concertos ao ar livre.
Para os espectáculos de ‘vídeo mapping’, que consistem na projecção de vídeo em objectos ou superfícies irregulares, foram convidadas equipas locais de produção de efeitos de luz, mas também de Portugal e da Bélgica, de acordo com a mesma nota.

O objectivo é, segundo a responsável, contribuir para “uma plataforma de intercâmbio cultural e criativo entre artistas estrangeiros e locais” e, assim, internacionalizar o festival.

13 Nov 2018