Coligação em Timor queixa-se de polícia que deteve equipa de comunicação

A coligação timorense AMP criticou ontem a acção da polícia, que deteve para interrogatório membros da sua equipa de comunicação partidária, sem queixas ou indícios de qualquer crime e alegadamente por publicar comentários e opiniões na rede social Facebook

 

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) – que reúne os partidos da oposição CNRT, PLP e KHUNTO – considera que se tratou de um “abuso de poder”, pelo que vai avançar com uma queixa civil contra a Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL).

“A polícia cometeu um acto de abuso de poder. Não havia indício de qualquer crime, nem qualquer queixa. Dar opiniões no Facebook, ou onde quer que seja, não é crime. Insultos ou criticar o Governo não é crime”, afirmou o advogado Pedro Aparício, em conferência de imprensa.

Pedro Aparício foi ontem apresentado por Arão Noé, um dos elementos da Comissão Jurídica da AMP, como o advogado que lidera a equipa jurídica que vai acompanhar os militantes e dirigentes da coligação durante o processo das eleições antecipadas de 12 de Maio.

Arão Noé explicou que se trata de responder a eventuais incidentes que possam constituir “violações da lei eleitoral” ou das restantes leis timorenses e que afectem a equipa da AMP no terreno.

Pedro Aparício explicou que, “de forma urgente”, a atenção vai concentrar-se, para já, na actuação da polícia relativamente à equipa de comunicação da AMP que foi interrogada e ouvida “sem qualquer indício de crime” ou “sem qualquer queixa”.

“O serviço no media centre da AMP é apenas opinião, ideias, relacionadas com aspectos da liderança ou do Governo. Não constitui crime”, afirmou.

“A polícia ultrapassou a sua competência. Ficamos tristes que a acção da polícia não tenha cumprido a lei, o código do processo penal e que isto ainda aconteça em 2018. Isto não devia acontecer num Estado de direito”, afirmou.

Questionado pela Lusa sobre se a AMP não confia na capacidade de fiscalização eleitoral da Comissão Nacional de Eleições (CNE), Arão Noé afirmou que sim, mas que não cabe à autoridade eleitoral levar o caso aos tribunais. “Como partido e como cidadãos, temos o dever de proteger os nossos militantes que foram atingidos como vítimas nesta acção. Temos responsabilidade e dever moral de proteger os nossos militantes e simpatizantes”, considerou.

“Esta acção policial foi muito grave. A polícia não pode fazer este tipo de acções sem autorização do órgão judicial. A polícia tem que trabalhar conforme a lei diz e não fazer política dentro da polícia, não deve executar interesses políticos dentro da polícia”, considerou.

Nas últimas semanas, várias pessoas, incluindo um assessor do primeiro-ministro, Mari Alkatiri, foram interrogadas pela polícia alegadamente por publicações no Facebook que incluem insultos e críticas aos líderes políticos do país.

Os visados pela acção policial terão insultado quer líderes da Fretilin, no Governo, quer da AMP, na oposição, entre eles Alkatiri e Xanana Gusmão, presidente do CNRT.

27 Mar 2018

Cuca Roseta em exibição esgota bilhetes numa hora

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] fadista portuguesa Cuca Roseta actuou no domingo à noite na mais prestigiada universidade da China, numa exibição rara do fado naquele país, para a qual os bilhetes esgotaram uma hora após colocados à venda.

Acompanhada de três guitarristas, Cuca Roseta interpretou durante cerca de hora e meia um alinhamento que alternou entre temas tradicionais, como “Estranha Forma de Vida”, e outros mais dinâmicos, como “Marcha da Esperança”.

“O meu fado não é propriamente ligado à tristeza”, comentou a fadista antes do espectáculo. “O fado é um reflexo do que nós somos: eu sou uma pessoa positiva, que agarra a tristeza e vê o lado bom da vida”, explicou.

O concerto decorreu na sala de espectáculos da Qinghua, considerada a mais prestigiada universidade chinesa, localizada no norte de Pequim, e onde se formou o actual Presidente chinês, Xi Jinping, e o seu antecessor, Hu Jintao.

Estabelecido em 1911, o campus da Qinghua foi construído a partir de um antigo jardim imperial do século XVIII, preservando os lagos, espaços verdes e edifícios centenários. A universidade tem mais de 25.000 estudantes, segundo o seu ‘site’ oficial.

Lá fora, a temperatura ultrapassava os vinte graus, anunciando o início da primavera em Pequim.

“Fantástico”, afirmou no final do concerto uma professora chinesa, que ouviu fado pela primeira vez numa visita recente a Portugal. “A sua música transmite tristeza e força”, disse.

 

Guitarra na universidade

 

Mas havia também quem fosse pesquisando pelo termo ‘Faduo’ (fado, em chinês) no Baidu, revelando o exotismo daquele género musical entre a plateia.

“Comparado ao flamenco, por exemplo, o fado é ainda desconhecido do público chinês”, comentou uma jornalista chinesa.

Tratou-se do segundo espectáculo de fado organizado numa universidade chinesa, depois de em 2014 a fadista Liana ter actuado na Beijing Language and Culture University (BLCU), também em Pequim.

Colocados à venda há duas semanas, os bilhetes para o concerto de Cuca Roseta, com um custo de 100 yuan (quase 13 euros), esgotaram numa hora.

Cuca Roseta já tocou em África, Américas e Europa, mas o concerto de domingo foi a sua estreia na Ásia.

“Os estrangeiros não percebem a nossa língua, mas sentem a nossa música”, disse. “Porque somos muito calorosos e muito intensos e afectivos, passamos isso através da música: o fado transmite essas emoções sem fronteira e sem língua”.

27 Mar 2018

Pequim declara fim da “intimidação económica” norte-americana

O ministério chinês dos Negócios Estrangeiros afirmou ontem que “terminou a intimidação económica e hegemonia” praticada pelos Estados Unidos, numa crítica à intenção de Washington de aumentar as taxas alfandegárias de produtos oriundos da China

 

[dropcap style≠‘circle’]”A[/dropcap]ltos funcionários dos EUA afirmam que a era de rendição do seu país terminou, mas penso que estão enganados”, disse a porta-voz da diplomacia chinesa, Hua Chunying, numa referência às afirmações recentes do vice-presidente norte-americano, Mike Pence. “A sua intimidação económica e hegemonia é que terminaram”, acrescentou.

Em conferência de imprensa, Hua afirmou que Washington deve voltar a respeitar as leis da Organização Mundial do Comércio “para salvaguardar os intercâmbios transparentes e não discriminatórios”.

A porta-voz acrescentou que a China e os EUA negociaram no passado outras disputas comerciais e que essa porta de diálogo “continua aberta”, desde que aconteça “na base do respeito e do benefício mútuo”.

A China “tem a confiança e a capacidade para defender os seus interesses legais”, afirmou.

 

Matemática diferente

 

O Presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou, na semana passada, um aumento de 25 por cento e de 15 por cento nas taxas alfandegárias sobre o aço e alumínios importados da China, respectivamente.

Trump aprovou ainda uma possível subida das taxas alfandegárias sobre produtos tecnológicos chineses, numa retaliação contra a alegada fraca protecção dos direitos de propriedade intelectual por Pequim.

As medidas anunciadas por Trump poderão afectar as importações chinesas num valor de até mais de 48 mil milhões de euros.

Pelas contas do Governo chinês, no ano passado, a China registou um superavit de 223,5 mil milhões de euros no comércio com os Estados Unidos.

As contas de Washington fixam o superavit chinês ainda mais acima, em 304,1 mil milhões de euros.

27 Mar 2018

Pequim | Portuguesa é caso de sucesso nos negócios da China via Wechat

Reportagem de João Pimenta, da agência Lusa, em Pequim

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ara marcar uma consulta, reservar mesa num restaurante ou bilhetes para um espectáculo, os expatriados em Pequim sabem que podem contar com a portuguesa Vera Madeira, que beneficia como ninguém da difusão da ‘app’ chinesa Wechat.

“O Wechat revolucionou completamente o marketing na China”, afirma à agência Lusa a portuguesa, de 35 anos, referindo-se à ‘super’ aplicação chinesa que atingiu recentemente mil milhões de perfis de utilizadores.

Criado em 2011 pelo gigante chinês da Internet Tencent, o Wechat é hoje indispensável no dia-a-dia na China, unindo as funções de rede social, serviço de mensagens instantâneas e carteira digital.

Aquela ‘app’ é usada no país para fazer compras, através da leitura do código QR, chamar um táxi, apanhar o metro ou pagar luz e água, tornando o dinheiro vivo numa coisa do passado. Em Pequim, até os mendigos têm hoje consigo um código QR impresso para transferência direta de esmolas para as respetivas contas na carteira digital do Wechat.

Retalhistas fora do país estão também a despertar para a utilidade daquela aplicação – o centro para pequenas e médias empresas da União Europeia lançou recentemente um serviço para ajudar os empresários a fazerem negócios via Wechat.

Mas, em Pequim, existe uma portuguesa que há muito aprendeu a ganhar dinheiro com a ‘app’ mais popular da China.

Natural de Coimbra, Vera Madeira aterrou em Pequim em 2008 para estudar mandarim, e depressa começou a organizar e promover festas na emergente indústria nocturna da capital chinesa. “Arranjava autocarros para levar os estudantes, distribuía folhetos à porta dos bares, cafés ou nas universidades”, lembra.

Em 2012, a portuguesa usou pela primeira vez o Wechat para vender bilhetes para um concerto do produtor e DJ francês David Guetta, realizado junto a uma das secções da Grande Muralha em Pequim.

“Publiquei o cartaz no Wechat com o meu contacto e pedi a alguns amigos que reproduzissem. Lembro-me que fui buscar 200 bilhetes e em duas horas já tinha vendido tudo”, conta. “Fui buscar mais e, no total, vendi 800 e tal bilhetes”.

Hoje, Vera cobra às empresas 150 yuan por cada publicação no seu Wechat a promover os seus produtos ou serviços. A portuguesa recebe ainda uma comissão por cada marcação feita através de si para uma extensa rede de serviços que inclui cabeleireiros, Spas, restaurantes ou estúdios de tatuagens, enquanto um cliente recomendado por ela usufrui entre 20% a 30% de desconto.

“Só promovo produtos ou serviços de que gosto”, diz. “Se não gostar, não promovo”. No total, a portuguesa tem cerca de 8.000 contactos no Wechat, organizados por país, profissão e com notas descritivas dos gostos ou passatempos.

O horário em que é feito cada ‘post’ obedece também a uma estratégia. “Se o alvo forem pessoas que estão a trabalhar ou têm mais dinheiro, o melhor é publicar entre as seis e as oito da manhã. O segundo melhor horário é entre as 11 e as 13, quando estão a almoçar, e depois entre as seis e as oito, quando a maior parte dos asiáticos jantam”, afirma.

Caso seja um produto ou serviço mais orientado para famílias, “funciona muito bem ao fim de semana, às oito da manhã”.

Vera ganha a vida pelo Wechat, mas durante a conversa com a agência Lusa nunca parou para consultar o telemóvel, uma atitude rara num país onde, seja em bares ou restaurantes, no escritório ou em casa, as pessoas estão constantemente agarradas aos ‘smartphones’.

Mas a portuguesa tem uma regra básica: “Quando estou com alguém mantenho o telemóvel na mesa com o ecrã virado para baixo, que é para não haver a tentação de estar sempre a olhar”. “Se as pessoas tiram o seu tempo para estarem contigo, tens que apreciar o momento”, diz.

26 Mar 2018

Vinho | Portugal já é o quarto fornecedor europeu

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ortugal é já o quarto fornecedor europeu dos vinhos importados pela China, que deverá em poucos anos tornar-se o maior mercado do mundo do sector, numa tendência que as empresas vinícolas portuguesas estão a tentar acompanhar.

“Estamos aqui a tentar acompanhar e apanhar este comboio, que é um comboio importante”, disse à agência Lusa Dora Martins, gerente de exportação da Real Companhia Velha, à margem de uma prova de vinhos organizada pela embaixada portuguesa em Pequim, que contou ainda com a participação da José Maria da Fonseca.

A China deverá ultrapassar, nos próximos anos, o Reino Unido e a França como o maior mercado do mundo para vinho, em termos de valor, segundo a consultora International Wine & Spirit Research (IWSR).

Na lista dos países europeus que em 2017 exportaram mais vinho para a China, encabeçada pela França, Portugal ficou no 4.º lugar, atrás de Espanha e Itália, segundo dados do centro de pequenas e médias empresas da União Europeia.

No ano passado, o país asiático comprou mais de 18 milhões de euros de vinho português, de acordo com a mesma fonte, representando 2,6% em volume e 2,5% em valor das exportações nacionais do sector.

No entanto, o mercado chinês tem “características próprias” e a “forma de os chineses consumirem vinho é diferente de todos os outros países”, notou Martins. “É um mercado onde há um grande desconhecimento sobre os vinhos portugueses e, portanto, é preciso vir cá mais vezes, explicar as castas locais, os vinhos e as regiões”, disse.

A representante da mais antiga empresa de vinhos de Portugal ressalvou que “os chineses aprendem muito rápido”. “Há dez, quinze anos, os chineses não percebiam nada de vinhos. E eu fico admirada e surpreendida o quão rápido o consumidor daqui aprende”, explicou.

Nos últimos anos, a campanha anticorrupção em curso na China levou a mudanças no perfil do mercado, com os vinhos a deixarem de servir como suborno e as vendas a serem impulsionadas pelo consumo real, segundo analistas do sector.

O ‘boom’ no comércio electrónico – a China representa quase metade das compras via ‘online’ em todo o mundo – contribuiu também para alargar a oferta de vinho importado a cidades menores do país, numa tendência que favorece os vinhos de gama média.

26 Mar 2018

Ministro dos Negócios Estrangeiros chinês visita Portugal em Maio. Santos Silva vem no final do ano

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ministro dos Negócios Estrangeiros da China visita Portugal em Maio e o chefe da diplomacia portuguesa, Augusto Santos Silva, visitará o gigante asiático em Outubro ou Novembro, anunciou o governante à margem de uma conferência em Lisboa.

“Contamos receber o ministro dos Negócios Estrangeiros da China em Maio e estamos a contar que eu próprio possa visitar, no fim de Outubro ou princípio de Novembro, a China, disse Augusto Santos Silva à margem da conferência internacional Financing Belt and Road, que decorreu em Lisboa.

A data exacta “depende da calendarização da discussão do Orçamento do Estado, mas em função dessa calendarização a visita será provavelmente no fim de Outubro”, acrescentou o governante português.

A visita mútua dos chefes da diplomacia ainda este ano é mais um passo na crescente aproximação entre os dois países, cujas relações o embaixador chinês em Portugal, Cai Run, disse estarem a atravessar “o melhor momento da história”.

Na intervenção na sessão de abertura da conferência sobre o financiamento do mega-projeto chinês “Uma Faixa, Uma Rota”, o diplomata chinês salientou os nove mil milhões de euros de investimento da China em Portugal no ano passado, que sobem de oito mil milhões de euros em 2016.

Cai Run congratulou-se também com o aumento do número de turistas, para mais de 250 mil no ano passado, e de estudantes nas universidades portuguesas, para mais de 1500.

A iniciativa ” Uma Faixa, Uma Rota”, um gigantesco projecto de infra-estruturas, foi lançada em 2013 pelo Presidente chinês, Xi Jinping, e inclui uma malha ferroviária intercontinental, novos portos, aeroportos, centrais eléctricas e zonas de comércio livre, visando ressuscitar vias comercias que remontam ao Império romano e eram então percorridas por caravanas.

26 Mar 2018

PCC centraliza controlo sobre políticas e imprensa

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Partido Comunista Chinês (PCC) vai reforçar o seu domínio sobre a imprensa, economia, Internet ou diplomacia, ao elevar o estatuto de grupos de trabalho da organização para comités, segundo um plano divulgado pela agência oficial Xinhua.

O PCC fornece já as directrizes políticas em várias áreas, incluindo economia, negócios estrangeiros ou segurança do ciberespaço, através de grupos de trabalho que reúnem vários funcionários de diferentes sectores e agências.

O novo plano, no entanto, visa “reforçar a tomada de decisões e a coordenação geral”, sugerindo que as agências e ministérios do Governo terão menos espaço de manobra, passando os comités, cuja composição e directrizes são secretas, a deter maior proeminência.

De acordo com a Xinhua, a Administração Estatal de Imprensa, Publicações, Rádio, Cinema e Televisão deixa de existir, passando o Departamento Central de Propaganda do PCC, que até agora fornecia as directrizes gerais da mensagem a ser vinculada pela imprensa, a controlar directamente a produção noticiosa.

Segundo o mesmo plano, as principais emissoras do país – Rádio Internacional da China, Rádio Nacional da China e Televisão Central da China – serão fundidos num novo organismo, denominado “Voz da China”, sob controlo directo do Departamento de Propaganda.

Na diplomacia, “a conversão do Grupo Líder Central dos Negócios Estrangeiros num comité central, significa que as decisões da diplomacia chinesa serão mais centralizadas”, afirma Shi Yinhong, diretor do Centro de Estudos Americanos da Universidade Renmin, citado pelo jornal oficial em língua inglesa Global Times.

O plano surge após o legislativo chinês ter aprovado várias emendas constitucionais, incluindo a abolição do limite de mandatos para o exercício de cargo de Presidente e um reforço do domínio do PCC em todas as esferas do país.

 

26 Mar 2018

Aviação | Cientistas chineses inspiram-se nas abelhas

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma equipa de cientistas chineses está a desenhar um novo protótipo de um avião inspirado no funcionamento do corpo das abelhas, que reduzirá o consumo de combustível, anunciou a agência oficial Xinhua.

“Inspirámo-nos na estrutura do abdómen da abelha, que lhe permite dobrar-se livremente e controlar a direção do voo”, explicou o desenhador, Hu Guotun, da China Academy of Launch Vehicle Technology (CALT). Com base na estrutura flexível do abdómen da abelha, os cientistas da CALT desenharam um cone frontal para o avião que muda em diferentes etapas do voo.

Esta estrutura “proporciona una forma eficiente para que os veículos aeroespaciais reduzam a resistência aerodinâmica e poupem combustível, o que é de grande importância para o mercado aeroespacial comercial”, disse Hu. Segundo explicou, estes aviões viajam através da atmosfera até ao espaço para depois regressarem à atmosfera e, no processo de reentrada, a aeronave utilizará o seu próprio deslizamento em inércia durante um período de tempo. Através da simulação, descobriram que o cone pode reduzir a resistência aerodinâmica em mais de 20%.

26 Mar 2018

Guerra comercial entre China e EUA ameaça estabilidade da economia global

O suíno americano poderá ter conhecido melhores dias. É que a China anunciou que aumentará os impostos sobre as importações de vários produtos americanos, nomeadamente porco e vinho, entre outros, que em 2017 representaram três mil milhões de dólares nas compras a Washington, em retaliação a medidas similares dos Estados Unidos

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ministério do Comércio chinês instou Washington a negociar uma solução para o conflito sobre as tarifas decretadas pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, sobre as importações de aço e alumínio oriundos da China.

Num outro comunicado, o ministério criticou também a decisão de Trump de aprovar uma possível subida das taxas alfandegárias sobre produtos tecnológicos chineses, numa retaliação contra a alegada fraca protecção dos direitos de propriedade intelectual por Pequim.

O ministério chinês classificou aquela medida como “proteccionista”.

A China está a estudar um aumento de 25 por cento nas taxas alfandegárias sobre o porco e alumínio norte-americanos, em retaliação pelo aumento no mesmo valor decretado por Trump sobre o aço oriundo do país. Uma segunda lista de produtos norte-americanos afectados inclui vinho, maçãs, etanol e tubos de aço, em retaliação pelo aumento de 15 por cento dos impostos sobre as importações de alumínio chinês.

O ministério detalhou que, no conjunto, a China comprou três mil milhões de dólares daqueles produtos aos EUA, no ano passado. Isso seria o equivalente a menos de 1 por cento do valor total das importações chinesas de bens norte-americanos, e muito aquém do montante afectado pela ordem de Trump, que irá permitir a imposição de taxas mais altas a bens tecnológicos chineses.

Associações de empresários dos EUA alertaram Trump para os efeitos negativos sobre a economia e exportações do país. As empresas temem que a disputa comercial evolua numa lógica de “dente por dente”, que poderá afectar o comércio mundial.

Haja juízo

Na terça-feira, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, apelou a Washington para que “aja racionalmente”, afirmando que Pequim “não quer uma guerra comercial”.

O aumento das taxas sobre o alumínio e aço têm pouco impacto para a China, visto que apenas uma pequena fracção das exportações chinesas daqueles produtos têm como destino os EUA. Mas analistas dizem que o país se sentirá obrigado a retaliar, para evitar parecer fraco numa disputa ao mais alto nível.

O ministério do Comércio chinês afirmou que taxas alfandegárias mais altas “prejudicam gravemente” o sistema comercial global e rejeitou a afirmação de Trump, de que estas são necessárias para proteger a segurança nacional.

“O lado chinês apela ao lado norte-americano para que atenda as preocupações do lado chinês o mais depressa possível”, afirmou o ministério, exortando ao diálogo para “evitar danificar a cooperação” entre os dois lados.

Pelas contas do Governo chinês, no ano passado, a China registou um superavit de 275,8 mil milhões de dólares no comércio com os Estados Unidos. As contas de Washington fixam o superavit chinês ainda mais acima, em 375,2 mil milhões de dólares.

Já a ordem dirigida aos produtos tecnológicos chineses resulta das queixas de Washington sobre as práticas da China na área da propriedade intelectual.

Os EUA acusam Pequim de exigir indevidamente que as empresas estrangeiras transfiram tecnologia, em troca de acesso ao mercado chinês.

Várias empresas, incluindo fabricantes de automóveis que querem operar na China, são obrigadas a trabalhar com parceiros locais, o que implica transferirem tecnologia para potenciais competidores.

Bolsas a pique

A possibilidade de uma guerra comercial entre Pequim e Washington abalou as praças financeiras em todo o mundo.

O índice japonês Nikkei 225 abriu a cair 3,5 por cento, enquanto a bolsa de Xangai, principal praça financeira da China, recuou 3,1 por cento na abertura.

O dólar norte-americano desvalorizou para 104.85 yen, à medida que os investidores compram moeda japonesa, considerada mais segura.

Em Hong Kong o mercado bolsista sofreu uma desvalorização de 2,45 por cento, enquanto que o CSI300 de Xangai recuou 2,86 pontos percentuais. A praça de Seul, Kospi, registou uma queda de 3,37 por cento. Na Austrália, a descida foi de quase 2 por cento.

A tendência de queda verificou-se igualmente nos mercados bolsistas europeus. Em Londres, o FTSE 100 caiu quase um por cento, prosseguindo a rota descendente até ter atingido o mais baixo nível dos últimos 15 meses, e uma perda de valor de dez por cento desde o último pico verificado no final de Janeiro.

As bolsas alemã e francesa também caíram 1,8 por cento, apesar de com a medida de aumento de tarifas de produtos chineses ter beneficiado os países da União Europeia que ficaram, temporariamente, isentos de pagamento das tarifas sobre a importação de aço norte-americano. Washington pretende isentar ainda o Canadá, México, Austrália, Argentina, Brasil e Coreia do Sul.

À margem de uma cimeira em Bruxelas, Theresa May mostrou-se satisfeita com a isenção e revelou estar em conversações com outros líderes europeus no sentido de tornar a medida permanente. “Vamos discutir quais os próximos passos a tomar. Fiquei nesta negociação porque a indústria do aço é muito importante para o Reino Unido e o Governo britânico e quero assegurar os empregos dos trabalhadores do sector”, disse a Primeira-ministra britânica.

Robert Carnell, que dirige o departamento de investigação do grupo financeiro ING Ásia-Pacífico em Singapura, prevê um final complicado para a guerra comercial que se perfila. “Se a medida do aumento das tarifas for para a frente, acreditamos que a China irá retaliar, e depois os Estados Unidos também vão responder. Isto tem potencial para se tornar muito feio à escala global num curto espaço de tempo”, comenta.

 

 

OMC fala em perigo global

O director da Organização Mundial do Comércio (OMC) advertiu que as novas barreiras aduaneiras põem “em perigo a economia mundial”, quando Pequim e Washington mantêm um braço de ferro comercial. “A desestabilização dos fluxos comerciais vai pôr em perigo a economia mundial num momento em que a recuperação económica, apesar de frágil, é cada vez mais evidente no mundo inteiro”, afirmou Roberto Azevedo, numa declaração escrita, sem mencionar qualquer país. “Lanço um novo apelo à moderação e a um diálogo urgente, o melhor caminho a seguir para resolver estes problemas”, acrescentou.

A decisão unilateral, anunciada pelos Estados Unidos no passado dia 8, de impor taxas de 25 por cento às importações de aço e de 10 por cento às de alumínio relançou o espectro de uma guerra comercial. Esse risco aumentou na quinta-feira, quando a Casa Branca anunciou que pretende impor tarifas a importações chinesas que podem atingir os 60 mil milhões de dólares anuais, enquanto Pequim ripostou ameaçando as exportações norte-americanas, nomeadamente o sector da fruta.

Washington anunciou, também na quinta-feira, que vai lançar um processo contra a China junto da OMC, acusando Pequim de “infringir os direitos de propriedade intelectual” das suas empresas.

Roberto Azevedo referiu ainda que as negociações entre China e Estados Unidos devem ser feitas no seio da OMC, uma vez que este é um tema que poderá trazer ramificações globais. “Acções tomadas fora destes processos colectivos aumentam, em larga escala, o risco de escala de confrontos que não terá qualquer vencedor e que poderá colocar em causa a estabilidade da economia mundial”, comentou.

 

Portugal | “O mundo já está cheio de guerras…”

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva, criticou a imposição de barreiras alfandegárias por parte dos EUA, considerando que o “mundo já está cheio de guerras para comprar agora uma guerra comercial”. “Entendemos que o erguer de novas barreiras alfandegárias ao comércio internacional tem um custo para todos”, disse Augusto Santos Silva.

“Estamos em desacordo, entendemos que a economia internacional precisa não de proteccionismo, mas sim de comércio, e esse desacordo com os Estados Unidos é conhecido”, disse Santos Silva à Lusa, à margem de uma conferência no ISEG sobre o financiamento da Nova Rota da Seda.

“Os norte-americanos decidiram conceder isenções a diferentes aliados, incluindo a União Europeia, mas entendemos que o erguer de novas barreiras alfandegárias ao comércio internacional tem um custo para todos”, vincou o governante.

26 Mar 2018

Filipinas | Polícia abate 13 presumíveis narcotraficantes em 24 horas

A polícia das Filipinas abateu 13 presumíveis narcotraficantes nas últimas 24 horas, na província de Bulacan, uma das zonas onde mais pessoas morreram desde que o Presidente filipino, Rodrigo Duterte, lançou a sua “guerra contra a droga”.

Os agentes da autoridade mataram a tiro 13 suspeitos e detiveram outros 109 durante uma operação que decorreu ao longo de 24 horas, começando à meia-noite de terça-feira, informou em comunicado a divisão de Bulacán da Polícia Nacional filipina. Esta província tem 2,2 milhões de habitantes e situa-se a norte de Manila.

As autoridades apreenderam 101 gramas de cloridrato de metanfetamina, vendida especialmente às classes baixas nas Filipinas com a designação “shabú”, bem como 670 gramas de marijuana, 18 armas de fogo de diversos calibres e 18 munições. A polícia realizou um total de 57 rusgas.

A “guerra contra a droga” foi lançada por Duterte – um antigo presidente de câmara em Davao – ao chegar ao cargo de Presidente, em Julho de 2016.

Até ao momento, esta medida policial – condenada repetidas vezes por organizações dos direitos humanos – já provocou a morte a mais de 4.000 pessoas, segundo os últimos dados oficiais.

Neste tipo de operações, os agentes policiais têm autorização para atirar a matar caso o suspeito ofereça resistência física à detenção.

A província de Bulacán, que tem a reputação de ser dura nas operações policiais relacionadas com a “guerra contra a droga”, tornou-se conhecida em Agosto do ano passado, quando as autoridades mataram 32 pessoas no espaço de 24 horas.

23 Mar 2018

Amnistia Internacional lança campanha dirigida à Apple por armazenar dados na China

A Amnistia Internacional lançou ontem uma campanha dirigida à multinacional Apple, por ter “atraiçoado” milhões de usuários chineses do serviço de armazenamento da empresa, o “iCloud”, ao torná-lo “vulnerável ao escrutínio arbitrário do Governo chinês”.

O “iCloud” na China é desde Fevereiro passado operado por uma empresa chinesa, o Guizhou-Cloud Big Data Industry (GCBD), numa mudança que implica que todos os dados que sejam armazenados naquele serviço na China – incluindo fotos, vídeos, documentos e cópias de segurança – estarão sujeitos a novos termos e condições.

A decisão foi tomada de acordo com novas regulações chinesas, que exigem que as empresas armazenem todos os dados de utilizadores chineses dentro da China.

“Ao entregar o serviço iCloud na China a uma empresa local sem garantias suficientes, as autoridades chinesas passaram a ter acesso, potencialmente sem restrições, a todos os dados no iCloud armazenados por usuários chineses”, adverte em comunicado o diretor da AI para a Ásia Oriental, Nicholas Bequelin. “A Apple sabe disso, mas não advertiu os seus clientes sobre os riscos”, acrescenta.

A organização não governamental de defesa dos direitos humanos considera que “na procura por lucros, a Apple expôs os utilizadores chineses do iCloud a enormes riscos de privacidade”.

Todos diferentes

Numa referência a um anúncio da Apple de 1984, a campanha refere que “Todos os utilizadores da Apple são iguais, mas alguns são menos iguais do que outros”.

“[O chefe executivo da Apple] Tim Cook prega a importância da privacidade, mas para os clientes chineses da Apple, estes compromissos não têm sentido”, diz Becquelin.

A AI lembra que os internautas chineses “podem ser detidos e presos simplesmente por difundir, comunicar ou aceder a informação e ideias que as autoridades não aprovam”.

A China é o terceiro maior mercado da Apple, a seguir aos Estados Unidos e Europa.

O regime chinês bloqueia ‘sites’ como o Facebook, Youtube e Google. As versões electrónicas de vários órgãos de comunicação estrangeiros também estão bloqueadas no país, enquanto comentários nas redes e espaços de discussão ‘online’ são sujeitos ao controlo das autoridades.

23 Mar 2018

China | Universidade vai enviar fotografias dos alunos embriagados aos pais

Uma universidade do sudoeste da China anunciou que vai passar a enviar fotografias de alunos embriagados aos respectivos pais, visando evitar que os estudantes bebam álcool, segundo o jornal chinês Shine.

De acordo com a nova política da Universidade de Artes de Yunnan, fotografias de estudantes a beber álcool serão enviadas aos pais, que serão ainda convidados a ir à escola para “ajudar a educar os seus filhos”.

A notícia não especifica como serão obtidas as fotografias, mas na China há câmaras de vídeos instaladas em todas as vias públicas e estabelecimentos nas cidades, sob a premissa de garantir a segurança.

O jornal garante que os estudantes apoiam a medida. “Acho que é muito bom, pois às vezes vejo colegas bêbados a falar em voz alta e a cambalear à noite no campus [universitário], o que dá má imagem à escola”, afirma um aluno citado pelo Shine.

Esta não é a primeira vez que a universidade, que tem uma rua de bares próximo, adopta medidas para travar o consumo de álcool entre os estudantes. No semestre passado, os professores da escola fizeram patrulhas fora dos bares para tentar dissuadir os estudantes a não beber e regressarem cedo aos dormitórios.

A medida ilustra ainda os limites entre a segurança e a privacidade na China, país onde as autoridades recompilam informação sobre os cidadãos, através da polícia, redes de transporte, alojamentos turísticos, registos de gravações e até empresas privadas.

23 Mar 2018

Taipé e Washington comprometem-se a reforçar laços

Taiwan e os Estados Unidos comprometeram-se na quarta-feira a reforçarem os laços bilaterais, num momento em que a China intensifica a pressão sobre a ilha, após Washington ter desbloqueado os contactos de alto nível com Taipé.

A presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, e o vice-secretário adjunto do Departamento de Estado norte-americano, Alex Wong, prometeram reforçar os vínculos bilaterais sobre os já existentes em torno da democracia e do mercado livre, afirmou a agência taiwanesa CNA.

Tsai reiterou o agradecimento ao Presidente dos EUA, Donald Trump, pela assinatura da Lei de Viagens de Taiwan, promulgada no fim-de-semana passado, e que desbloqueia visitas de alto nível a Taiwan.

A líder taiwanesa considerou que as visitas de altos funcionários norte-americanos – apesar de Washington não ter relações diplomáticas com Taiwan -, contribuem para “facilitar o diálogo em temas importantes, desde a economia digital à Nova Política para o Sul” da ilha.

“Acredito que as visitas atestam o grande alcance da nossa cada vez mais estreita associação bilateral”, afirmou Tsai, que considerou a defesa comum da democracia e do mercado livre como as bases da cooperação com Washington.

“Isto não mudará. Partilhamos um interesse comum em proteger estes valores e promover o seu desenvolvimento na região”, acrescentou.

Alex Wong destacou o grande valor da experiência democrática e desenvolvimento de Taiwan para outros países na região.

“Podemos estar seguros de que a democracia e o desenvolvimento de Taiwan são um exemplo para toda a região do Indo-Pacífico”, disse.

O representante norte-americano defendeu o direito de Taiwan em participar em organismos internacionais, algo a que Pequim se opõe, afirmando que Taipé “não deve ser excluído injustamente”, porque “tem muito que partilhar”.

No mesmo dia, a porta-voz do Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying, apelou aos EUA que travem “qualquer forma de intercâmbio oficial e contacto com Taiwan”.

“Apelamos aos EUA que cumpram com o princípio uma só China”, disse, instando a administração de Trump a gerir de “forma prudente” e “adequada” as relações com Taiwan, visando evitar danos “graves” nas relações com Pequim e na estabilidade regional.

23 Mar 2018

Partido Comunista Chinês reforça controlo sobre informação com fusão dos meios de comunicação

A junção ontem anunciada dos meios de difusão detidos pelo Governo chinês num só organismo, controlado pela propaganda do regime, visam reforçar o domínio do Partido Comunista sobre a informação, segundo analistas e a imprensa estatal

A medida surge numa altura em que a China aperta o controlo exercido sobre a sociedade, enquanto uma emenda constitucional recente permite a Xi Jinping governar sem limitação de mandatos.

Segundo a decisão, a Rádio Internacional da China, Rádio Nacional da China e Televisão Central da China serão fundidos num novo organismo, denominado “Voz da China”, num período em que a crescente influência do país asiático além-fronteiras suscita preocupações.

A Administração Estatal de Imprensa, Publicações, Rádio, Cinema e Televisão deixa também de existir, e as suas responsabilidades e recursos serão transferidos para o Departamento Central de Propaganda do Partido Comunista (PCC), incluindo o órgão encarregue da importação e exportação de filmes.

De acordo com a agência noticiosa oficial Xinhua, as responsabilidades do novo organismo incluem “implementar as políticas e directrizes da propaganda do partido”.

Citado pelo Global Times, jornal em inglês do Partido Comunista (PCC), o especialista do Governo Feng Yue afirma que o novo organismo vai “concentrar os recursos e autoridade, visando aumentar a influência da China além-fronteiras e promover a imagem internacional” do país. Além da necessidade em promover a imagem da China além-fronteiras e expandir o poder de influência do país, Xi Jinping tem apelado repetidamente à unidade entre funcionários do partido e cidadãos.

Controlo rígido

“Trata-se de uma forma de concertar posições”, diz David Zweig, director do Centro de Relações Transnacionais da China, da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, citado pela Associated Press. “É um esforço amplo para pôr toda a gente a pensar junta”, acrescenta.

Enquanto os consumidores chineses abstêm-se cada vez mais da mensagem política, à medida que cresce o acesso a programas de televisão estrangeiros, jogos de vídeo ou comércio electrónico, Xi tem aumentado o controlo do partido no dia-a-dia de muitos cidadãos, através de novos comités nas escolas, empresas ou fábricas. Os chineses comuns têm assim poucas hipóteses de evitar a propaganda oficial, considera Zweig.

Num artigo de opinião publicado no portal do China Media Project, da Universidade de Hong Kong, o editor David Bandurski considera que a mudança atribui ao Departamento de Propaganda, que antes fornecia as directrizes gerais da mensagem a ser vinculada pela imprensa, um controlo directo sobre a produção noticiosa.

“E esse é o ponto principal – um controlo mais rígido e centralizado da imprensa e da ideologia”, escreve.

23 Mar 2018

Presidente da República angolano prevê relações aprofundadas com a China

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] chefe de Estado angolano, João Lourenço, felicitou na Terça-feira Xi Jinping pela sua reeleição para o cargo, antevendo o aprofundamento das relações entre os dois países.

Numa mensagem de felicitações a que a Lusa teve ontem acesso, o Presidente angolano refere que a recondução de Xi Jinping é “uma inequívoca demonstração do amplo apoio de que beneficia por parte do povo chinês”, que lhe reconhece “todas as qualidades e virtudes necessárias à condução da Nação chinesa” e “para fazer face aos desafios que se colocam no caminho” do país.

João Lourenço acrescenta, na mensagem enviada a Xi Jinping, estar certo que as relações entre Angola e a República Popular da China, neste novo mandato, “vão continuar a aprofundar-se e na perspectiva de que se alarguem também para sectores que as tornem cada vez mais dinâmicas, em prol do progresso e do bem-estar dos nossos respectivos povos”.

O Governo angolano está a negociar a contratação de financiamentos externos de 1,556 biliões de kwanzas (6000 milhões de euros), dos quais mais de metade provenientes da China, segundo o Plano Anual de Endividamento (PAE) para 2018.

De acordo com o documento, a que a Lusa teve acesso, entre estes financiamentos, que estão “em fase de enquadramento”, 42 por cento desse valor, equivalente a 653 mil milhões de kwanzas (2.525 milhões de euros) será proveniente do Industrial and Commercial Bank of China (ICBC).

O Governo angolano, segundo o PAE 2018, elaborado pelo Ministério das Finanças, prevê ainda contratar 9 por cento desse total – 140 mil milhões de kwanzas (540 milhões de euros) a contratar junto do Eximbank da China.

“Os financiamentos em fase de enquadramento serão maioritariamente alocados para os sectores da Energia e Águas, Construção e Defesa”, esclarece o documento.

Só o projeto do aproveitamento hidroeléctrico de Caculo Cabaça, no rio Kwanza e que será a maior barragem de Angola, a construir por empreiteiros chineses e financiado pelo ICBC, contará com desembolsos de 160 mil milhões de kwanzas (618 milhões de euros).

22 Mar 2018

Da Rússia, com ardor

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]ivemos eleições na Rússia no passado fim-de-semana, e como seria de esperar, o actual presidente e oligarca Vladimir Putin obteve uma vitória esmagadora. O sufrágio não foi o que pode propriamente chamar de um hino à democracia, tendo ficado marcado por inúmeras irregularidades, desde a captura de imagens dos boletins de voto, até à oferta de bilhetes para concertos aos eleitores, entre outros episódios que dariam água pela barba aqui ao nosso CCAC, em Macau.

Diria mais: que os faria corar de vergonha. É indiscutível que o povo russo está do lado de Putin, o seu novo homem forte depois de José Estaline, o único que cumpriu um mandato (?) mais longo que o actual presidente. Se em termos de popularidade não há nada a apontar, o mesmo não se pode dizer quanto à sua legitimidade; os rivais do presidente russo dignos desse nome foram sistematicamente eliminados, e ora estão detidos, ora no exílio, ora mortos.

A consolidação do poder da parte de Vladimir Putin na Rússia, e igualmente de Xi Jinping na China colocam-nos perante um novo paradigma, ao que não é alheia a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, há um ano e meio. As maiores potências do planeta voltam-se para dentro, procurando fazer valer os seus interesses num contexto internacional problemático, agravado pela guerra na Síria e pela situação delicada na península coreana, tudo ameaças consideráveis à paz e à estabilidade mundial. Tudo isto certamente que preocupa os amantes da liberdade e da democracia, e levanta sérias reservas quanto ao futuro, cada vez mais incerto.

A democracia directa, ou o conceito de “uma pessoa, um voto”, não agrada a todos, e mesmo nesta última semana os seus detractores tiveram acontecimentos a que podem facilmente apontar o dedo. Em França o ex-presidente Nicholas Sarkozy foi detido no âmbito de uma investigação sobre o financiamento da sua campanha em 2017 – quem diria. Mesmo em Portugal, o maior partido da oposição foi notícia pelos piores motivos, quando o seu recém apontado secretário-geral foi obrigado a deixar o cargo depois de (embaraçosas) revelações a respeito do seu currículo, que continha uma série de inverdades (para ser simpático), bem como dúvidas quanto à sua morada fiscal (outra vez, hoje sinto-me especialmente generoso). Não surpreende portanto que se venha assistindo a uma onda de populismo, e ao recrudescimento da extrema-direita na Europa. É realmente pena.

Eu acredito na democracia. Ainda acredito. Não vou baixar a cabeça, e prefiro pensar que isto não passa de uma fase. A própria espécie humana, disucutivelmente com mais defeitos que virtude, nunca conviveu muito bem com a diversidade de opinião, não é de hoje, e depois de duas lamentáveis guerras no século passado, convenceu-se de que se calhar seria melhor procurar um equilíbrio, um consenso entre todos os seus intervenientes, colocando de lado as diferenças. Já se percebeu e vai-se percebendo que cada vez mais que esta é uma tarefa complicada. Precisamos da classe política, não há que negá-lo, e precisamos de puxar por ela também. É urgente uma geração de homens e mulheres que sirvam antes de se servirem, a bem fa humanidade. E quer na Rússia, quer na China, esta pretensão vai ficando adiada. Por enquanto, apenas, esperamos todos.

22 Mar 2018

Tragédia | 19 mortos e 21 feridos em acidente de autocarro nas Filipinas

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m acidente de autocarro no centro das Filipinas causou ontem 19 mortos e 21 feridos, estando as causas a ser investigadas.

O autocarro despenhou-se num barranco, na madrugada de ontem, na localidade costeira de Sablayan, a oeste da ilha de Mindoro, cerca de 250 quilómetros a sul de Manila.

“Segundo as primeiras informações, o condutor perdeu o controlo do veículo”, explicou à agência espanhola Efe, por telefone, o responsável da polícia de Mindoro Ocidental, Ronie Estepa. Os cadáveres das 19 vítimas mortais serão entregues às famílias, enquanto os 21 feridos estão estáveis e fora de perigo de vida, indicou o responsável.

As autoridades abriram uma investigação para determinar se o acidente foi causado por um erro humano ou uma falha do autocarro. Em Dezembro passado, um outro acidente com um autocarro na mesma província causou a morte a duas pessoas e 38 feridos.

O mau estado do pavimento, a fraca sinalização de muitas estradas, a excessiva antiguidade da frota de autocarros ou a falta de cuidado com as normas de trânsito, entre outros factores, tornam relativamente frequentes este tipo de acidentes mortais nas Filipinas.

22 Mar 2018

Negociações | Pyongyang quer ponderação ao abordar Washington e Seul

A Coreia do Norte pediu ontem “prudência, auto-controlo e paciência”, na sua primeira posição pública sobre a aproximação à Coreia do Sul e aos Estados Unidos, apesar de acusar as forças conservadoras destes países de procurarem “estragar a atmosfera”

 

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]uma nota divulgada pela agência estatal norte-coreana KNCA, Pyongyang considera que se criou um ambiente de reconciliação com Seul e que há uma “demonstração de mudança” na sua relação com Washington, mas sem mencionar as históricas cimeiras entre o líder norte-coreano, Kim Jong-un, e os presidentes sul-coreano e norte-americano, previstas para Abril e Maio, respectivamente.

“Gostaríamos de recordar que este é um momento em que todos devemos encarar a situação com prudência, autocontrolo e paciência”, acrescentou o país asiático.

Por outro lado, o regime norte-coreano condenou representantes dos Governos dos Estados Unidos e do Japão e a oposição conservadora de Seul por “distorcerem a verdade” sobre a actual aproximação, ao insistirem que tal foi possível graças à política de pressão e sanções internacionais sobre Pyongyang.

A Coreia do Norte assegurou, pelo contrário, que a melhoria das relações entre as duas Coreias, que tecnicamente continuam em guerra, não poderia ter sido alcançada sem “vontade para conseguir a paz” e as “medidas pró-activas” adoptadas pelo seu regime.

“A comunidade internacional felicitou-se pelos nossos esforços para conseguir a melhoria da relação Norte-Sul e a resolução pacífica da situação na península coreana”, afirmou, no mesmo comunicado.

O regime norte-coreano considera que os comentários daqueles que asseguram que as sanções encurralaram o país procuram “estragar a atmosfera” de aproximação “mesmo antes de os actores envolvidos terem tido tempo de estudar as intenções da sua contraparte e de estarem sentados na mesa da negociação”.

Cimeira à vista

Esta foi a primeira ocasião em que Pyongyang falou da aproximação, desde que no início deste mês foi anunciado que Kim Jong-un terá encontros com os presidentes da Coreia do Sul, Moon Jae-un, e dos Estados Unidos, Donald Trump, para falar sobre a possível desnuclearização do regime.

No entanto, estes dois encontros não foram confirmados pela propaganda oficial do regime norte-coreano.

A realizar-se, a cimeira de Abril será o primeiro encontro entre os líderes das duas Coreias em 11 anos, enquanto em Maio poderá realizar-se a primeira reunião da história entre os mandatários da Coreia do Norte e EUA.

Entretanto, o Presidente sul-coreano sugeriu ontem a possibilidade de as duas Coreias e os EUA realizarem uma cimeira trilateral, caso seja satisfatório o resultado dos encontros separados.

“Devemos resolver completamente os impedimentos para conseguir a desnuclearização e o estabelecimento da paz na península através das próximas negociações e das que virão depois”, considerou Moon.

22 Mar 2018

Tensão | Taiwan denuncia manobras militares chinesas perto do seu território

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] porta-aviões chinês Liaoning entrou na Terça-feira em águas da Zona de Identificação da Defesa Aérea de Taiwan, disse ontem o ministro da Defesa da ilha, Yen Teh-fa, numa altura de renovadas tensões entre Pequim e Taipé.

Questionado no parlamento taiwanês sobre as movimentações da marinha chinesa, Yen disse que “está tudo sob controlo” e que serão tomadas as medidas necessárias para proteger a segurança nacional.

“O Exército segue de perto todos os exercícios militares da China”, assegurou o ministro.

O porta-aviões chinês entrou na Zona de Identificação da Defesa Aérea, no estreito de Taiwan, após participar em manobras militares no Mar do Sul da China. A manobra coincidiu com as ameaças do Presidente chinês, Xi Jinping, que afirmou no mesmo dia que a China está preparada para empreender uma “batalha sangrenta” contra os seus inimigos e que não permitirá tentativas separatistas.

Desde a ascensão ao poder, em Maio de 2016, da presidente taiwanesa Tsai Ing-wen, do Partido Democrata Progressista, pró-independência, a China interrompeu todos os contactos oficiais e semioficiais com Taiwan, e passou a realizar exercícios militares próximos da ilha.

22 Mar 2018

Vigilância | Homem detido por gozar com a polícia num grupo de Wechat

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m homem foi detido na China por fazer piadas sobre a polícia num grupo do serviço de mensagens instantâneas chinês Wechat, segundo a imprensa local, ilustrando a crescente monitorização das autoridades chinesas sobre o ciberespaço.

O homem, identificado como Ding e de 39 anos, terá alterado partes de uma conhecida canção chinesa com insultos à polícia de trânsito local e partilhado com amigos através da aplicação chinesa Wechat. Ding foi mais tarde detido por um período indefinido, segundo a publicação chinesa sixth tone.

No ano passado, a Administração do Ciberespaço da China publicou novos regulamentos, que proíbem a difusão de rumores ou insultos nas redes sociais. O regulamento estipula também que as empresas do sector devem verificar as identidades reais dos membros em grupos de conversação no espaço ‘online’.

Várias pessoas foram, entretanto, detidas ou condenadas à prisão no país por comentários em grupos ou conversas privadas no Wechat, sob a acusação de “causar distúrbios” ou “usar ilegalmente informação e a Internet”.

Num dos casos mais conhecidos, um homem foi condenado a dois anos de prisão por “perturbar as ordens administrativas para a actividade religiosa”, depois de ter ensinado o Alcorão a amigos e familiares através do Wechat.

Aquela ‘app’ – equivalente chinês à aplicação para mensagens de texto e voz WhatsApp – atingiu em Fevereiro passado 1000 milhões de perfis de utilizador, enquanto o Weibo – semelhante à rede de mensagens instantâneas Twitter – tem cerca de 200 milhões.

A China censura redes sociais como o Facebook, Twitter e Instagram, ou o serviço de mensagens Whatsapp.

22 Mar 2018

Taiwan | Taipé reafirma independência face a ameaças de Xi Jinping

Taiwan reafirmou ontem a sua soberania e recusou as ameaças do Presidente chinês, Xi Jinping, que afirmou que a China está preparada para empreender uma “batalha sangrenta” contra os seus inimigos e que não permitirá tentativas separatistas

 

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]m reacção ao discurso de Xi, no encerramento da sessão anual da Assembleia Popular Nacional, em Pequim, o primeiro-ministro taiwanês, Lai Ching-te, reafirmou a soberania da ilha e recusou a exigência chinesa ao governo taiwanês, para que aceite que a ilha faz parte da China de forma a evitar um conflito.

“Se a China vê o Consenso de 1992 [Taiwan e China são parte de uma só China, com cada lado a manter a sua interpretação], como a única chave para o desenvolvimento dos laços entre os dois lados do estreito [de Taiwan], isso não será aceite por Taipé”, assegurou Lai, perante o parlamento.

O ministério taiwanês dos Negócios Estrangeiros afirmou ainda numa conferência de imprensa que Taiwan é um “país soberano e independente” e que não “baixará a guarda” face às intimidações vindas do exterior.

O Conselho de Assuntos da China Continental acusou Pequim de querer roubar da ilha os seus talentos, com políticas de incentivo para profissionais e empresas taiwanesas, que visam transferir capital, talento e tecnologia para o continente.

Xi Jinping assegurou que qualquer acção que vise dividir o país está condenada ao fracasso e prometeu salvaguardar a soberania e integridade territorial.

Braço de ferro

As relações entre Pequim e Taipé atravessam um período de renovada tensão, após a ascensão ao poder, em Maio de 2016, da presidente taiwanesa Tsai Ing-wen, do Partido Democrata Progressista, pró-independência, e após Washington ter aprovado a Lei de Viagens a Taiwan, que autoriza a visita de altos funcionários norte-americanos à ilha.

Alex Wong, vice-secretário de Estado dos EUA encarregue da Ásia Oriental e Pacífico, encontra-se em Taiwan, e deve reunir-se em breve com Tsai.

Face à crescente intimidação diplomática e militar de Pequim, o chefe do Conselho Nacional de Segurança de Taiwan, Peng Sheng-chu, prevê uma deterioração dos laços e maior pressão por parte da China.

Peng assegurou recentemente no parlamento que “não descarta que a China tente arrebatar mais aliados diplomáticos à ilha” e que é também provável “o aumento de manobras militares chinesas próximo de Taiwan”.

22 Mar 2018

APN | Aprovada lei que estenderá práticas anticorrupção à função pública

[dropcap style=’circle’] O [/dropcap] órgão máximo legislativo chinês aprovou ontem a Lei de Supervisão, que aplicará na função pública as práticas anticorrupção do Partido Comunista. Uma medida que tem sido criticada por organizações de defesa dos direitos humanos

A lei foi aprovada pela quase totalidade dos cerca de 3000 delegados da Assembleia Popular Nacional, no Grande Palácio do Povo, em Pequim.

A aprovação mune com legislação a recém-criada Comissão Nacional de Supervisão, poderoso organismo de combate à corrupção com estatuto superior ao dos ministérios encarregue de monitorar mais de 200 milhões de funcionários públicos.

A Comissão, incluída na Constituição chinesa desde 11 de Março, e que analistas comparam a um poder equivalente ao do Executivo, legislativo ou judicial, será dirigida por Yang Xiaodu, até agora o “número dois” da campanha anticorrupção no seio do Partido Comunista Chinês (PCC).

A nova lei prevê a criação de subcomissões a nível provincial, local e municipal, e a fusão de organismos anticorrupção do Estado e do Partido.

Organizações de defesa dos direitos humanos, como a Amnistia Internacional (AI), temem que com a nova lei se inicie um período de maior repressão estatal, ao estenderem-se as práticas anticorrupção do PCC, que incluem torturas, isolamento dos suspeitos ou detenções até seis meses sem julgamento.

 

Vigiar e punir

“A lei abre uma nova era na qual se abandona qualquer ambição em ter qualquer tipo de limite no exercício do poder estatal”, afirma o diretor da AI para a Ásia Oriental, Nicolas Bequelin.

A campanha anticorrução lançada há cinco anos pelo Presidente chinês, Xi Jinping, puniu já mais de um milhão e meio de membros do PCC e investigou 440 altos quadros do regime. Entre os altos funcionários investigados, 43 faziam parte do Comité Central do PCC – os 200 membros mais poderosos da China.

Críticos apontam que a campanha anticorrupção de Xi serviu para afastar rivais políticos, promovidos por outros grupos internos do PCC.

 

Destaque: A aprovação mune com legislação a recém-criada Comissão Nacional de Supervisão, poderoso organismo de combate à corrupção com estatuto superior ao dos ministérios encarregue de monitorar mais de 200 milhões de funcionários públicos.

21 Mar 2018

Li Keqiang apela a Washington que aja racionalmente em disputas comerciais

[dropcap style=’circle’] O [/dropcap] primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, apelou ontem a Washington que “actue racionalmente” e evite perturbar o comércio nos sectores do aço, tecnologia e outros, prometendo que Pequim se “abrirá ainda mais” às importações e investimento

“Ninguém sairá vencedor de uma guerra comercial”, afirmou Li, na conferência de imprensa que encerrou a sessão anual da Assembleia Popular Nacional. Li não mencionou possíveis retaliações por parte da China caso o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, imponha mais barreiras sobre as importações oriundas do país asiático, mas outros funcionários garantiram já que Pequim está preparado para agir.

O governo de Trump subiu já as importações sobre máquinas de lavar roupa e outros bens oriundos da China, para travar o que considera apoios inapropriados das autoridades chinesas a alguns sectores industriais.

Trump lançou ainda uma investigação para averiguar se Pequim exige indevidamente que as empresas estrangeiras transfiram tecnologia, em troca de acesso ao mercado, o que poderá resultar em mais penalizações sobre produtos chineses.

“O que esperamos é que ambos os lados ajam racionalmente, em vez de se deixarem levar pelas emoções”, afirmou Li Keqiang. “Nós não queremos uma guerra comercial”, vincou.

O ministro chinês do Comércio disse este mês que a China irá “defender firmemente” os seus interesses, sem avançar com mais detalhes.

Associações empresariais dizem que Pequim talvez tente atingir as exportações norte-americanas de aviões, soja e outros bens que têm na China o seu maior mercado.

Questionado se Pequim considera usar os títulos de tesouro norte-americanos que detém, no valor de biliões de dólares, para exercer influência nas negociações, Li afirmou que os investimentos chineses têm como base os princípio do mercado e que “a China é um investidor responsável e a longo prazo”.

 

Reformas lentas

Li Keqiang prometeu que a China abrirá mais o seu mercado, numa altura em que as autoridades chinesas estão a encetar uma reforma do sector estatal, visando aumentar a sua produtividade.

O primeiro-ministro chinês afirmou que Pequim facilitará o processo para registo de empresas e abrirá mais indústrias à competição do sector privado e de firmas estrangeiras.

Em 2013, o Partido Comunista Chinês prometeu atribuir um maior papel às forças do mercado e aos empresários, que geram a maioria dos novos empregos e riqueza do país, a segunda maior economia do mundo. Mas críticos apontam que as reformas estão a decorrer muito lentamente, e dizem ter agora esperança que Xi Jinping, que ascendeu ao poder em 2012, acelere o processo, depois de ter focados os primeiros cinco anos a reforçar os seus poderes.

“Se há algo que será diferente do passado, será que a China se abrirá ainda mais”, afirmou Li.

Pequim planeia reduzir os impostos sobre as importações, e “isentar totalmente fármacos, sobretudo aqueles mais necessários, como os anticancerígenos”, disse.

E repetiu a promessa feita no início do mês, de que abrirá “completamente o sector manufatureiro” a competidores estrangeiros. “Não existirão requisitos obrigatórios para transferência de tecnologia e os direitos de propriedade intelectual terão melhor protecção”, afirmou.

Num sinal da perda de estatuto de Li Keqiang, à medida que Xi acumula poderes, o primeiro-ministro surgiu ontem na conferência de imprensa acompanhado de oito altos-funcionários recentemente promovidos, em contraste com os anos anteriores, em que surgia só. Um dos funcionários é Liu He, que tem servido como um dos principais assessores de Xi Jinping, e ascendeu esta semana a vice-primeiro-ministro encarregue da economia e finanças do país.

21 Mar 2018

Mercado de arte: China é número dois a nível mundial e lidera na Ásia

O relatório “UBS Global Art Market”, divulgado pela organização da Art Basel de Hong Kong, aponta para um crescimento de 12 por cento nas vendas de arte em todo o mundo, contrariando uma tendência negativa que se vinha registando há dois anos. A China é o segundo maior mercado mundial, mas de acordo com Margarida Saraiva, curadora do Museu de Arte de Macau, nem assim o território tira vantagens: há poucos dealers e nenhuma galeria financeiramente sustentável

 

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] aparecimento de uma nova vaga de milionários e bilionários na China nos últimos anos fez com que o país tenha começado a dominar o mercado de arte a nível mundial. De acordo com o mais recente relatório divulgado pela organização da feira Art Basel de Hong Kong, intitulado “UBS Global Art Market Report”, a China é o segundo maior mercado de arte do mundo, com 21 por cento de vendas, enquanto que os Estados Unidos continuam a liderar. O continente ultrapassou mesmo o Reino Unido, que registou apenas 20 por cento das vendas. Sem surpresas, a China foi o país com mais vendas na Ásia.

O relatório elaborado pela economista Clare McAndrew, especialista na área cultural, revela também que o mercado de arte global contrariou uma tendência de quebra que se vinha verificando nos últimos anos, ao ter sido registado um aumento global de vendas na ordem dos 12 por cento face a 2016. O ano passado o sector deu trabalho a três milhões de pessoas em todo o mundo, com a operacionalização de 310 mil negócios com transacções comerciais na ordem dos 19.6 biliões de dólares.

Margarida Saraiva, fundadora da plataforma cultural BABEL e curadora do Museu de Arte de Macau (MAM), refere que o novo posicionamento da China neste mercado “é notável”, mas “não surpreendente, porque é uma extensão do desenvolvimento económico geral”.

Países asiáticos como o Japão, Coreia do Sul, Índia e Indonésia representaram, em conjunto, 23 por cento do mercado, o que revela o verdadeiro sucesso da China neste sector. Os números da China e da Ásia mostram “uma forte dinâmica de riqueza e de mercado, o que sugere que esta fatia de mercado pode vir a aumentar no futuro”.

O relatório aponta ainda para um enorme crescimento das vendas de arte online, que representam hoje em dia oito por cento do valor total de vendas, atingindo os 5.4 biliões de dólares americanos. Um aumento de dez por cento por ano e de 72 por cento nos últimos anos.

Para Margarida Saraiva, “este facto é absolutamente extraordinário” e mostra que houve um “aumento muito significativo de coleccionadores à escala global”. “Não se trata aqui de grandes coleccionadores, museus, galerias, mas novos coleccionadores que apresentam também comportamentos novos, capazes de prescindir de um contacto directo com a obra de arte, antes da sua aquisição”, apontou ainda.

O documento indica ainda a grande representatividade das vendas a cargo dos “dealers”, ou negociantes de arte, que constituíram 53 por cento do valor de mercado, um aumento de quatro por cento. Estas vendas representaram, em 2017, um total de 33.7 biliões de dólares.

Já os leilões representaram apenas 47 por cento das vendas em todo o mundo. De acordo com Margarida Saraiva, “esta alteração inverte uma tradição muito antiga, segundo a qual as vendas em leilões eram normalmente superiores”.

Mesmo com a existência do mercado da Internet, as feiras de arte “continuam a ser uma parte central do mercado global de arte”, refere o relatório, uma vez que as vendas agregadas se cifraram nos 15.5 biliões de dólares o ano passado, mais 17 por cento. As feiras contaram com a participação de 46 por cento dos negociantes de arte a nível mundial, cujo custo de participação também aumentou 15 por cento em relação a 2016.

Macau sem benefícios

Apesar de ser uma região administrativa especial chinesa, Macau, é um pequeno território em termos de mercado de arte, onde não existem leilões, os coleccionadores são raros e não existem galerias de arte financeiramente auto-sustentáveis sem o apoio de subsídios do Governo.

Para Margarida Saraiva, é difícil que o território venha a tirar partido deste posicionamento da China no mercado global de arte, porque é um posicionamento “que tem a ver com as vendas”. “Quem é que em Macau poderá beneficiar deste novo posicionamento da China? Naturalmente, os ‘dealers’ que se dedicam à venda de obras de arte podem beneficiar, porque havendo mais potenciais compradores, haverá mais hipóteses de venda. Mas quais são? Que eu conheça não passam de uma dezena.”

Além disso, “não há registo de galerias bem sucedidas ou sequer sustentáveis. Depois é preciso ver o que é que se compra na China para ajustar a oferta. Não vejo, nenhuma razão em particular que possa levar os compradores a virem comprar em Macau”, apontou ao HM.

Margarida Saraiva refere que, para colmatar esta situação, é fundamental fazer “um trabalho mais de fundo e sério, através da realização de exposições que possam participar dos principais debates contemporâneos e por essa via atrair jornalistas, especialistas, curadores, críticos e coleccionadores”.

No que diz respeito aos artistas locais, estes devem “encontrar dealers em Hong Kong, em Xangai, em Pequim, participar em feiras, expor e ainda procurar fazer uso nas grandes plataformas de venda online, capaz de lhes abrir um mercado em todo o mundo”. Só assim poderão beneficiar do posicionamento da China no que diz respeito às vendas, descreve Margarida Saraiva.

Nesse sentido, a curadora do MAM deposita algumas esperanças na primeira edição da Macau Photo Fair, que inaugura já esta sexta-feira no Venetian, e que se dedica exclusivamente ao mundo da fotografia.

“No essencial, parece-me reunir mais condições para desenvolver um trabalho interessante do que a feira que se tentou fazer há uns anos. Primeiro porque encontrou um nicho, que a distingue da Art Basel, ao escolher dedicar-se apenas à fotografia, vídeo e novos media. Depois porque estabeleceu o seu calendário por forma a beneficiar do público da Art Basel, tendo garantido a presença de alguma importantes galerias internacionais.”

Arte online: os riscos

Como mostra o relatório divulgado pelos organizadores da Art Basel, a venda de arte online é cada vez mais uma tendência e pode passar, a título de exemplo, pelo download pago de fotografias. Margarida Saraiva destaca ainda a possibilidade de se realizarem bases de dados sobre as preferências dos coleccionadores.

“A novas grandes plataformas de venda de obras de arte online oferecem aos consumidores opções como fazer o upload da fotografia da sua sala de estar, do seu escritório, e testar diferentes obras colocadas virtualmente nesse espaço, oferecendo simultaneamente consultoria artística e de decoração de interiores, como serviços complementares personalizados. Além disso, registam os interesses dos coleccionadores, através de cada clique que se faz no site, desenvolvendo bases de dados sobre cada indivíduo que permitem campanhas de marketing altamente dirigidas para os gostos e preferências do potencial comprador.”

Apesar de estarmos perante uma “verdadeira democratização do mercado da arte”, Margarida Saraiva alerta para a banalização da mesma com as vendas online. “O risco para a arte é ver-se transformada em objecto decorativo ou em bibelô”, frisou a curadora, lembrando que “esta abordagem permite um aumento muito significativo dos coleccionadores e pode favorecer os artistas menos bem sucedidos nos círculos mais académicos ou nos museus. Algo que, em geral, traz outras preocupações em relação à arte e as práticas artísticas, favorecendo um entendimento segundo o qual uma obra de arte expande os horizontes de um certo tempo, o que não é compatível com as intenções do mercado ou dos coleccionadores menos informados”.

Falar de mercado de arte é também sinónimo de falar de milionários. Em 2017 um total de 35 por cento de milionários em todo o mundo “eram coleccionadores de arte activos”, sendo que, a nível global, as suas fortunas não pararam de crescer. O preço médio comum para a compra de obras de arte foi, no mínimo, de cinco mil dólares (de acordo com 79 por cento dos inquiridos), sendo que 93 por cento diz ter adquirido obras com um valor abaixo dos 50 mil dólares. Menos de um por cento dos compradores admitiu ter gasto mais de um milhão de dólares em obras de arte. Cerca de 86 por cento afirmou nunca ter vendido uma peça de arte da sua colecção particular, sendo que 32 por cento, comprou obras de arte como forma de investimento.

21 Mar 2018