Joel Brandão está a realizar um documentário sobre comunidades locais

Natural do Porto, o mestrando em cinema quis fazer diferente e propôs-se filmar Macau e as suas gentes. O documentário estreia em Setembro no território, mas o objectivo de Joel Brandão é levá-lo a festivais de cinema por esse mundo fora

Veio para Macau terminar o mestrado na Universidade Católica do Porto. Como surgiu o interesse em retratar as diferentes comunidades do território? 

Terminei agora o mestrado em Cinema, que inclui o estágio. Quis fazer uma coisa diferente e propus à faculdade vir para Macau para fazer um documentário. Aceitaram e eu vim, sendo que o financiamento é meu. Foi uma aventura e um projecto pessoal. O tema foi discutido com o meu orientador, o José Manuel Simões da Universidade de São José. Tinha conhecimento de que ele já tinha abordado os temas relacionados com as ligações entre as comunidades de Macau. Ele, melhor do que eu, conhece o território e, após algumas conversas, achei que seria um tema com interesse.

Do trabalho que desenvolveu até agora neste projecto, o que é que mais o surpreendeu?

O que mais me impressionou foram as condições. Filmei num estabelecimento de comidas chinês e não fazia ideia de que aquele lugar tinha aquelas condições. Outra coisa que, de alguma maneira, também me surpreendeu foi a dificuldade de interacção entre a comunidade chinesa e as restantes. Penso que a comunidade chinesa tem uma mentalidade muito mais fechada e não se dá tanto a conhecer. Têm uma cultura muito intrínseca, em que vivem muito para eles e para as suas famílias. Também aprendi que é uma comunidade que, depois de ganhar alguma confiança em nós e se sentir mais à vontade, é capaz de nos ter como bons amigos. Talvez a parte mais fechada desta cultura seja mais visível nas gerações mais antigas. As gerações mais novas já têm outros recursos, sabem inglês e têm mais formas de comunicar.

Estava à espera de que as comunidades comunicassem mais entre elas? 

Sem dúvida. Existem muitas comunidades diferentes no território. A comunidade filipina é muito grande. Mesmo assim, sinto que, antes do documentário e depois das gravações, há ainda muito a trabalhar no que respeita à ligação e aos pontos de comunicação entre as diferentes comunidades que convivem aqui.

O que é que este documentário pode vir a transmitir? 

Faço um documentário muito aberto. A ideia é que o espectador, ao ver o filme, crie a mensagem que posso querer transmitir. Filmei de uma forma diferente. Filmei três comunidades através do acompanhamento de apenas uma pessoa. Escolhi uma pessoa chinesa, uma filipina e uma portuguesa. Foquei-me na forma como estas pessoas interagem com as outras no seu dia-a-dia, na forma como interagem com a cidade e com o que lhes é próximo. No caso do português e do filipino quis saber como se relacionavam, por exemplo, com as mulheres. Com o protagonista chinês quis saber como é que interage com os clientes no café. Os locais foram escolhidos por estas pessoas. O espectador vai ver nestas imagens como estas pessoas falam, se relacionam e como lidam com o quotidiano e vai criar, internamente, a ligação entre estas pessoas. Apesar de aberto, é um filme em que é possível perceber a opinião de cada uma destas personagens reais e a opinião que têm de Macau quanto ao seu passado, presente e futuro.

Têm sido feitos vários documentários sobre Macau. Acha que este filme vai trazer alguma coisa de diferente e dar uma imagem do território contemporânea? 

Penso que tenho uma forma diferente de fazer os meus documentários, que é visível no tipo de linguagem e de composição que faço. Coloco-me na intimidade das pessoas mesmo estando do lado de fora. É quase como estar na berma da estrada a filmar para dentro de um café e deixar as coisas acontecerem naturalmente. O que posso trazer de novo é a temática, que é sempre diferente. A nossa forma de ver as coisas é sempre diferente da dos outros. Depois, é a forma como filmo e edito, que penso que também é só minha.

Tem sentido dificuldades em fazer o seu trabalho aqui em Macau? É fácil produzir um filme no território? 

Nesta área é preciso muito trabalho de campo. É necessário andar muito pelas ruas e o material é pesado. Este clima que agora se sente, abafado e húmido, é uma das grandes dificuldades. Em termos artísticos e narrativos é fácil conseguir um retrato de Macau. É um espaço muito interessante e não há muitos locais em que isto se possa fazer. Só o facto de estar a fazer um trabalho na Ásia, com uma cultura completamente diferente e ainda ter esta mistura de comunidades, é excelente e muito diferente.

Há ainda um grande desconhecimento de Macau por parte dos portugueses. Acha que este documentário vai ajudar na divulgação de Macau junto do público português?

Sim, sem dúvida. Neste filme não retrato apenas as comunidades. Tenho imagens da cidade, de paisagens e de locais característicos do território. Os portugueses que vão ver este documentário vão ter uma percepção completamente diferente do que é Macau. Concordo quando fala que há muito desconhecimento em Portugal acerca do território.

Estava à espera de encontrar esta herança portuguesa aqui, nomeadamente ao nível do património?

Da primeira vez que cá vim, não contava nada com esta presença. Já tinha lido acerca de Macau e sabia que havia edifícios com características idênticas aos de Portugal. Mas chegar aqui e ver a calçada portuguesa e esta arquitectura, ver as ruas com o nome em português e tantos portugueses, foi uma surpresa.

Como foi a escolha dos protagonistas deste documentário? 

Primeiro escolhi as comunidades que queria retratar. Só tinha dois meses de trabalho pela frente e tinha de ser objectivo. Peguei naquelas que me pareceram as comunidades mais óbvias aqui. Depois foi muito simples, o protagonista chinês, o William Chen, era o dono do café onde eu ia todos os dias tomar o pequeno-almoço e criei uma empatia com ele, já da primeira vez que cá estive. Quando regressei, voltei ao estabelecimento para comer e ele lembrava-se de mim. Fomos conversando, acabei por convidá-lo e ele mostrou-se muito receptivo. O protagonista português apareceu porque estava a filmar pela rua e cruzei-me com a mulher dele. Ela perguntou-me o que é que estava aqui a fazer. Expliquei-lhe e disse que precisava de conhecer pessoas portuguesas. Ela sugeriu o marido que já cá está há 25 anos. E assim foi.

Este documentário é, portanto, um resultado de vários acasos?

Sim, quase lhe chamava fragmentos. São pequenas peças que vou encontrando e vou juntando. Mas este também é o segredo do documentário, o de registar o que se vai vendo e o que vai aparecendo. Tinha uma ideia diferente do documentário antes da sua produção e, depois de começar a filmar e de ver as imagens, vamos ter um resultado muito diferente dessa ideia. No documentário estamos sempre sujeitos a alterações.

É o género de que mais gosta? 

Gosto de contar histórias, quer seja em documentário, ficção ou animação. Penso que, para qualquer realizador, o segredo é contar uma história em que de alguma forma, acredite. Acredito nas histórias que faço. Se são bem ou mal contadas, cabe aos críticos dar essas opiniões.

27 Jun 2017

BOK | Festival volta a trazer o teatro experimental ao território

Começa amanhã e vai até 8 de Julho. É festival BOK que vai ocupar o Edifício do Antigo Tribunal. Este ano o evento não vai para a rua, mas a organização promete, a quem se deslocar aos espectáculos, uma experiência a registar

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]omeça amanhã. É o BOK, festival que se dedica à apresentação de espectáculos for do circuito comercial. Nesta quinta edição, a ideia é a interactividade com o público e o factor surpresa domina o programa.

Ao contrário das edições anteriores, em que os espectáculos tinham apresentações espalhadas pelo território, este ano a organização optou por uma situação inversa e o programa do festival vai estar concentrado no Edifício do Antigo Tribunal.

A ideia, apontou Erick Kuok em entrevista ao HM, tem que ver com a própria temática desta edição. Em causa está a dinâmica capaz de ser criada com o público, sendo que a organização pretende, desta forma, testar as possibilidades do que um espectáculo pode fazer com os espectadores e de que forma os pode integrar no palco. “Se por um lado, nesta edição, temos uma concepção mais formal de teatro – os espectáculos voltam a ser feitos neste tipo de espaços, ao contrário do ano passado em que andámos em espaços alternativos –, por outro, podemos jogar com isso e dinamizar o interior do próprio teatro e usar o público”, explicou o organizador.

O projecto que, pelo segundo ano, está de pé sem apoios do Governo, tem nesta edição os horizontes estendidos. Para o efeito, a organização estabeleceu parcerias com companhias de Taiwan, Coreia e Hong Kong para trazer espectáculos a Macau, mas não só. A pensar nos artistas locais, é intenção do BOK, poder levar com este trabalho os artistas locais ao exterior.

Começar pelo local

O festival tem início com as duas secções pensadas para a promoção de artistas locais. “Give it a Shot” é um espaço de trabalho em tempo real em que os projectos de Macau têm, diz Erik Kuok, “um acompanhamento crítico para que sejam devidamente desenvolvidos”.

Este ano, a secção tem lugar nos dias 1 e 2 de Julho e integra projectos dedicados à dança, música clássica e electrónica independente. Da coreógrafa Chloe Lao, é apresentado o espectáculo de dança “Artificial Roses”, baseado no conto homónimo de Gabriel Garcia Marquez. Vão ainda ser mostrados publicamente “E-arrangement of Vivaldi’s Summer”, do quarteto de cordas Opus-A, e “Chemtrails, Morgellons”, de Sonia Ka Ian Lao.

A secção “Bok Lab”, é o espaço em que são apresentados os trabalhos desenvolvidos no “Give It a shot” do ano passado. Nesta edição, Miki To vai apresentar “Moderation”. A iniciativa está agendada para os dias 28 e 29 de Junho, às 20h e pretende ser um espaço de reflexão social.

De 28 a 30 de Junho, às 21h15, é também o tempo marcado para a apresentação de “Picturesque” pelos Water Singers. De acordo com a organização, trata-se de um espectáculo que convida a “uma viagem na escuridão, sem nada mais a não ser a voz”.

Desafiar limites

O final da edição de 2017 do BOK é preenchida por espectáculos internacionais. Entre 4 e 8 de Julho tem lugar a secção “Crossibition” em que a ideia é trazer ao território espectáculos experimentais que demonstrem “maturidade a nível de conteúdo, meios e formas de encarar o público”, aponta a organização.

Este ano foram seleccionadas três peças em que “o espaço, os sentidos e a experiência do público fossem testados”.

De Hong Kong vem o grupo de teatro “Heteroglossia”, com “Woyzeck” do dramaturgo alemão Georg Büchner. A ideia é a exploração de técnicas narrativas utilizadas em conteúdos de cinema e a sua adaptação para o palco.

“Bodies in the Dark” é a peça trazida pela companhia coreana “Elephants Laugh”. O espectáculo é feito num ambiente de escuridão absoluta em que “podendo ser desconfortável, irá testar os limites do público”, lê-se na apresentação facultada pelo BOK.

De Taiwan, a companhia “Riverbed Theatre” apresenta “Hypnosis: The Just for you Project”. A companhia de Taipé traz um espectáculo destinado a um público de um elemento em que o objectivo é “criar um ritual de intimidade e ligação e um veículo para o subconsciente”.

Acabar à conversa

O festival conta ainda com um espaço dedicado à conversa informal e ao encontro entre artistas e o público. É o “BOK CLUB”.

Para Erik Kuok, “o teatro é também um espaço para as pessoas partilharem ideias, para conversarem”. Este ano o espaço de conversa vai ter lugar num bar na zona da Praia Grande onde vão ser apresentados pequenos espectáculos. Ao mesmo tempo, a organização tem na agenda a realização de algumas pop up performances. “Estas apresentações serão sempre uma surpresa porque o público nunca sabe o que vai acontecer. Tem de ir para se surpreender e para ver”, explicou o organizador.

26 Jun 2017

Alfredo Ceyna, artesão de lanternas de coelhos | Manter viva a tradição

Foi professor do ensino primário nas Filipinas e agora é mestre da arte de construir lanternas. Alfredo Ceyna passa todos os anos o conhecimento da tradição a quem quiser aprender. Este ano, o workshop tem lugar de 17 a 28 de Julho

Como é que aconteceu a passagem do ensino de artes industriais no seu país à mestria na construção das lanternas típicas do território?

Nunca tinha pensado nisso. Quando o arquitecto Carlos Marreiros me pediu para fazer este trabalho pensei que teria de fazê-lo e não via nenhuma razão para que isso não acontecesse. Foi a partir de 2009, quando participei com o arquitecto na construção do Pavilhão da Lanterna do Coelhinho, na Expo de Xangai de 2010. Na altura, o arquitecto quis começar com o festival das lanternas em Macau por ser uma tradição local, nomeadamente com as lanternas do coelhinho. Pediu-me para aprender o ofício. Aprendi tudo o que sei com o Carlos Marreiros. Foi ele o meu mestre. Mostrou-me como se fazia, como se construía, como se podiam fazer estruturas e forrar com vários materiais. A partir daí desenvolvi as competências necessárias para poder construir as lanternas do coelhinho. Apesar de não esperar vir a tornar-me um artesão e dominar este ofício, acabei por perceber que é um trabalho muito bonito e que fazia peças também muito bonitas. Foi ainda uma prova que dei ao Carlos Marreiros que sempre me apoiou e incentivou a fazer mais e melhor.

O que vê nestas lanternas?

Do que sei, penso que simbolizam prosperidade. Na sua origem, acho que serviam para iluminar os caminhos quando as pessoas saíam de casa. Com o passar do tempo foram sendo desenvolvidas as técnicas e as formas: no início era usado o bambu para fazer a estrutura, e depois era unido e coberto com papel de arroz. Este método tradicional tem agora variações. Pode ser usado o arame e o ferro, por exemplo, e vários tipos diferentes de papel ou mesmo outros materiais sintéticos. Mas não há nada como a construção tradicional. O papel de arroz é um material muito frágil e delicado, mas especial quando falamos de textura e de cor.

Tem um workshop marcado para o próximo mês. A iniciativa tem lugar todos os anos. Qual é a importância da sua realização?

Fazer estes workshops anualmente é fundamental. As lanternas já começam a ser esquecidas em muitos locais, nomeadamente na China Continental. Em Macau, as lanternas do coelhinho são uma demonstração da cultura local que não podemos deixar desaparecer. Queremos mostrar, a quem estiver interessado, como podem fazer estes objectos. Por outro lado, é uma forma de alertar as pessoas para a importância das lanternas em Macau. Tecnicamente, ensino as competências a ter, como fazer as estruturas depois da ideia, e de como juntar e pintar o material que as vai cobrir. De facto, não é muito complicado fazer estas lanternas desde que se saibam as técnicas mais básicas. Claro que inicialmente é uma coisa difícil, principalmente a materialização da ideia em estrutura. Apesar de gostar mais do bambu, aqui aprendemos a usar o arame e penso que esta é a parte mais difícil.

Porquê?

É como uma escultura. As pessoas começam sem saber ao certo o que vão fazer. Tem de ser feito primeiro um plano e depois conseguir materializar a ideia em arame. Isso tem sido o mais complicado.

Este workshop é dirigido a um nível avançado. Porquê?

Sim. Chamamos de avançado porque não são dadas orientações. O processo é acompanhado, mas as pessoas fazem o seu próprio projecto. Fazem a sua estrutura e depois cobrem-na com o material que preferirem. É avançado porque deixo os alunos decidirem tudo o que tenha que ver com o que vão fazer. Não sou eu que controlo o resultado ou que forneço os esboços. Se assim fosse, seria tudo muito uniforme e eu quero que sejam todos diferentes.

Qual é a sua opinião acerca da adesão a esta iniciativa?

A adesão aos workshops vai variando de ano para ano. Às vezes temos mais participantes, outras menos. Tive uma vez uma criança, mas é uma arte muito difícil de ensinar quando as pessoas são muito novas. Do que tenho notado, é que são os mais velhos que, por vezes, se mostram mais interessados, sendo que a faixa média de idades não aparece tanto. Não sei porquê, talvez achem aborrecido. No entanto, os que frequentam os workshops terminam a formação muito satisfeitos. No final conseguem ver o produto que lhes saiu das mãos e que foi fruto de um trabalho duro. Também temos um limite de dez participantes, o que faz com que não possam integrar as formações muitas pessoas. Mas também não podem ser mais, para que seja um trabalho bem feito. Por falar em participantes, recordo uma senhora que vem todos os anos. Acho que ela gosta realmente deste ofício.

Pode ser um dos últimos mestres desta arte em Macau. Como é que vê o futuro da tradição no território?

Penso que esta é uma forma de manter a tradição viva. Por outro lado, o apoio de patrocinadores, especialmente para a construção de lanternas tradicionais em bambu, pode realmente ser um contributo importante para que o conhecimento e a construção se mantenham. É ainda importante o contributo do Governo. Se isso acontecer, a tradição não estará ameaçada e continuará. Macau é um lugar bonito e está cada vez mais a ter em conta o património e as tradições. Não acho que ainda esteja a ser feito tudo o que é possível para a sua preservação, mas está a ser feito um trabalho nesse sentido.

23 Jun 2017

Condomínios | Regime poderá ser votado em Julho

O regime jurídico da administração das partes comuns do condomínio pode ir ao hemiciclo, para votação na especialidade, já no próximo mês. A afixação de tabuletas e reclamos no rés-do-chão não vai ser sujeita a comunicação prévia à assembleia-geral de condomínio

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] votação na especialidade do regime jurídico da administração das partes comuns do condomínio pode acontecer em Julho. A ideia foi deixada ontem pelo presidente da 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), Chan Chak Mo. “Depois desta reunião, a próxima etapa é a melhoria na redacção do documento para uma versão mais actualizada para que possa, em meados do próximo mês, ir a votação na AL”, disse o presidente da comissão.

Esteve ainda na mesa daquela que pode ter sido a última reunião de análise do projecto de lei a discussão dos aspectos ligados à afixação de tabuletas e reclamos nas áreas do rés-do-chão dos edifícios. Os proprietários de fracções autónomas não vão precisar de comunicar as intervenções que tenham que ver com a afixação destes materiais à assembleia-geral de condomínio.

A sugestão veio do Executivo. Para o Governo esta seria uma medida que colocaria em causa “a liberdade dos lojistas para afixarem mais reclamos nas fachadas”, esclareceu o presidente da comissão.

Foram seis os votos contra a regra que ditava a obrigatoriedade da comunicação de obras. O objectivo da comissão, indicou Chan Chak Mo, é a “melhoria do ambiente de negócio”, até porque “há entidades oficiais que já têm a seu cargo a emissão deste tipo de autorizações”.

Houve três membros da comissão que se mostraram a favor da manutenção da regra prevista no documento aprovado na generalidade. De acordo com a proposta inicial, só quando as tabuletas e os reclamos fossem colocados directamente na fachada da fracção autónoma no rés-do-chão é que os proprietários das lojas estariam dispensados de obter aprovação da assembleia-geral de condóminos. No entanto, a comunicação de obras para a afixação destes materiais teria sempre um carácter obrigatório.

Pequenos detalhes

Sem mais alterações de fundo, a última recomendação deixada da reunião de ontem teve que ver com uma substituição de vocabulário no que respeita aos destinatários das contratações para prestação de serviços. Neste sentido, o artigo em causa deixa de prever que a assembleia-geral contrate “terceiros”. O termo será substituído por “empresas”, terminologia que “inclui pessoas singulares e colectivas”, afirmou Chan Chak Mo.

22 Jun 2017

São João | Arraial com mais espaço em São Lázaro

A tradicional festa do São João esteve ameaçada, mas há arraial no próximo fim-de-semana no bairro de São Lázaro e, afinal, ocupa mais espaço do que nas edições anteriores. A organização também conta com mais uma entidade: a Associação dos Jovens Macaenses

[dropcap style≠’circle’]“Q[/dropcap]ue o arraial, um dia, ocupe o bairro todo”, são as palavras da presidente da Casa de Portugal em Macau (CPM), Amélia António, visivelmente satisfeita não só com a permanência da festa popular no Bairro de São Lázaro, como, dada a adesão, com o alargamento do próprio espaço para acolher mais uma edição do arraial.

O evento esteve ameaçado quando a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego quis impedir a sua realização naquela zona, mas o bom senso acabou por ganhar. “As pessoas acabaram por ponderar e perceber que era melhor continuar a ter esta festa e manter a atracção para os turistas que já vêm para o arraial, nomeadamente de Hong Kong”, disse ontem Amélia António na apresentação de mais uma edição do São João.

Valores mais altos se levantam e, neste caso, “o valor das coisas acaba por se impor”, sublinhou. Além de manter a localização, a festa vai ter, afirma a presidente da CPM, “um bocado mais de rua”. A razão, apontou a responsável, tem que ver com o cada vez maior número de interessados em participar através da exploração das barraquinhas que a organização coloca ao dispor, gratuitamente, de quem quiser.

A festa vai contar com cerca de 40 tendas comerciais, sendo que, admite o presidente da Associação dos Macaenses (ADM), Miguel de Senna Fernandes, os esforços vão continuar a ser por um crescimento constante e por, finalmente, o arraial de São João poder vir a ser considerado na agenda da própria Administração.

Já Amélia António pretende que, no futuro, “todas as casas estejam decoradas para a festa”. A razão, aponta, é este poder vir a ser um factor de diferenciação relativamente a outros eventos no território e mesmo na região.

Festa para todos

Mais do que uma festa portuguesa, o Arraial de São João pretende vir a ser a festa de todos e para todos. A comissão organizadora lamenta, no entanto, que a maior adesão, nomeadamente às tendas comerciais, seja feita por portugueses, sendo que o objectivo é de que, com o tempo, os pedidos comecem a vir das várias comunidades que integram o território.

Miguel de Senna Fernandes sublinha ainda o empenho que a organização tem tido em tentar fazer entender a população de que não se trata apenas de uma festa de portugueses. Para o responsável da ADM, os contactos são feitos anualmente com as associações de moradores. No entanto, se por um lado estas entidades não se mostram com vontade de fazer parte das actividades, por outro, afirma, “são cada vez mais os membros da comunidade chinesa que aproveitam este fim-de-semana para ir a São Lázaro e assistir a uma festa diferente”.

Foi também ontem assinado o documento de adesão da Associação de Jovens Macaenses ao protocolo da comissão organizadora do Arraial de São João. Para Amélia António, é mais “um novo fôlego de capacidade e trabalho” que se junta à iniciativa.

O Arraial de São João tem anualmente um orçamento fixo entre 400 mil a 500 mil patacas, um apoio dos Serviços de Turismo que se destina a assegurar as despesas básicas inerentes à logística do evento.

21 Jun 2017

Jason Lei, fotógrafo: “Cabe à fotografia preservar a memória”

“A Glimpse of Macau” é a exposição de Jason Lei que está a partir de amanhã na galeria da Creative Macau. Os trabalhos são uma compilação de imagens obtidas em filme nos últimos dez anos. Na altura da inauguração da mostra, é lançado o livro homónimo, para que fique o registo de uma cidade que vai desaparecendo

O que vamos ver nesta exposição?

“A Glimpse of Macau” apareceu por acaso, após o convite da responsável pela Creative Macau, Lúcia Lemos. Não tinha qualquer ideia acerca do que fazer quando me foi dito que havia um período de tempo em que poderia expor ali. O que fiz foi ir aos meus arquivos e tentar perceber o que poderia acontecer.

E o que é que encontrou?

Há dez anos que fotografo Macau. Saio para a rua para disparar por hábito, é algo que gosto de fazer. Pensei que poderia fazer alguma coisa com este trabalho contínuo. Peguei nas imagens do arquivo e resolvi ver o trabalho desenvolvido. Escolhi as minhas favoritas e achei que tinha material para a exposição e para o livro que também vai ser lançado amanhã. Eram mais de mil fotografias armazenadas.

Como é que fez a selecção tendo em conta tanto material?

Tive de ser criterioso. Além de optar por aquilo que emocionalmente mais me fazia sentido, por exemplo as imagens que demonstrassem algum calor humano, tive critérios mais técnicos. Fui buscar as fotografias que, para mim, apresentavam uma luz mais bem trabalhada, um preto e branco mais perfeito e uma escala de cinzentos de qualidade dentro do que mais aprecio. No entanto, a selecção também acabou por ir mudando. Um aspecto curioso que aconteceu neste processo foi ter verificado que algumas das imagens que tinha eram de espaços que já não existem. Há lugares que fotografei há anos que, agora, já não estão lá. Foram substituídos por prédios e outras construções. Ao ver estas fotografias, acabei por fazer também outro tipo de escolha para que parte da exposição integrasse fotografias de lugares que já não são mais do que memórias. Acabam por ser documentos. Com o registo em imagens, tenho uma forma de recordar e de fazer recordar aos outros este território que está sempre em transformação. Cabe à fotografia preservar a memória. Esta ideia só me surgiu com a preparação da exposição. Quando comecei a fotografar não pensava nestas coisas. Gostava de fotografar e era isso que fazia. Penso que é inevitável, com o desenvolvimento, que os espaços se modifiquem e acredito que, em breve, Macau venha a ser completamente diferente. 

Porquê a escolha do preto e branco?

Em primeiro lugar, porque gosto muito. Depois, as imagens foram todas feitas em filme e fui eu que revelei os rolos. Posteriormente digitalizei os negativos para poder fazer a escolha. Por outro lado, o preto e branco é um processo mais associado à memória. Penso que as memórias são a preto e branco. É mais fácil fazer as pessoas recordar com imagens monocromáticas. Um outro aspecto que considero importante é o facto de o preto e branco ter uma imagem mais limpa em que as pessoas se podem aperceber melhor dos detalhes.

São maioritariamente fotografias de rua.

Sim. Apesar de trabalhar profissionalmente como fotógrafo e, nesse âmbito, ir de encontro ao que me é pedido pelos clientes, quando faço o meu trabalho pessoal é isto mesmo que mais gosto de fazer. Pegar na câmara analógica e ir pelas ruas à procura dos momentos que vão acontecendo. Gosto de incluir tudo: lugares, pessoas e animais. 

Na inauguração de “A Glimpse of Macau” vai também lançar um livro.

Sim, e é também o meu primeiro livro. É uma publicação que reúne não só os trabalhos expostos, como muitos outros que não tinham espaço para o ser. Como já referi, foram muitas imagens as que recolhi ao longo destes dez anos. Para todo o trabalho, exposição e livro estive cerca de um mês para escolher as que mais se adequavam.

Quais são as expectativas relativamente a esta primeira exposição individual?

Nunca tinha pensado que seria tão difícil de fazer. Tive de ter um patrocinador e foi muito complicado. Por outro lado, é uma óptima oportunidade para mostrar o meu trabalho pessoal, em que acabei por compilar o que fiz ao longo dos últimos dez anos. Foi bom perceber que, depois de tanto tempo, tenho realmente alguma coisa para mostrar.

Vai continuar com este projecto contínuo?

Sim, sem dúvida, penso que este é um trabalho para a vida. Enquanto fotografar vou tentar sempre ir para a rua fazer os meus registos em filme.

Porque é que insiste na fotografia analógica, num tempo em que o digital domina a imagem?

No processo analógico não se podem ver as imagens que se tiram no momento. Temos de esperar. Temos de as pensar primeiro para que fiquem bem e depois temos de ter paciência: esperar muito tempo até as revelarmos e vermos efectivamente o que conseguimos captar. Gosto muito deste processo. Por outro lado, é um método que, com o tempo, nos dá mais confiança quando disparamos. Com a experiência, vamos vendo o que temos de mudar e melhorar e, passados uns anos, já disparamos com toda a convicção. Depois há outro factor: quando finalmente conseguimos ver a fotografia, a sensação é muito boa e acabamos por dizer com satisfação: eu fiz isto, um produto que envolveu um processo, um pensamento, tempo e técnica. Quando as pessoas fotografam com um telemóvel, por exemplo, disparam repetidamente e acabam por ter muitas imagens que nunca voltam a ver e muito menos a materializar em impressões. Com o processo analógico, pelo menos o negativo já é uma materialização e, depois de revelado o filme, fazemos uma escolha, imprimimos provas e temos sempre uma impressão. Depois acabamos por ampliar as que mais gostamos.

21 Jun 2017

“I Want Coffee” | A arte do café latte

Porque o café não é todo igual e porque a arte pode estar associada à estética da apresentação do latte, Chris Ip abriu o “I Want Coffee”. Servir um produto bonito e saboroso, ter opções para comer e ainda poder dar formação na decoração dos latte são os objectivos deste recente café do território

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] “I Want Coffee” não é mais um café em Macau. É um espaço onde a perícia e a arte se juntam para decorar o café, nomeadamente o latte. O gosto pela actividade começou, para o proprietário Chris Ip, quando foi convidado, há cerca de dois anos, para dar uma ajuda a um amigo. Na altura, com funções administrativas, teve o seu primeiro trabalho em que lidava com café.

O contacto fez m que começasse a explorar os desenhos que poderiam ser feitos nas várias bebidas derivadas e, não tardou, estava tornar as chávenas “mais bonitas”. “Descobri um novo interesse”, diz.

Do interesse à profissionalização foi um pulo. Autodidacta, Chris Ip dedicou-se à visualização de tutoriais do You Tube e foi aperfeiçoando a sua arte. Pouco tempo depois era concorrente assíduo nas competições que se dedicam a destacar os melhores neste sector.

No entanto, ainda sem espaço próprio, e a trabalhar para outrem, os conflitos com a chefia começaram a surgir. “O meu chefe apoiava-me na participação de concursos, no entanto percebi que quando pedia autorização para ir não se mostrava satisfeito. O resultado foi tomar a decisão de abrir o meu próprio café”, conta.

Em Maio do ano passado materializou o desejo e abriu um pequeno espaço dedicado exclusivamente à venda de cafés e lattes para fora. “A ideia era que as pessoas que fossem passando aproveitassem para parar e comprar a bebida que depois levariam com elas”, refere.

Insatisfeito, o projecto que tinha em mãos ficava longe do que ambicionara. “Aplicar os conhecimentos que tinha naquilo a que chamo de arte do latte e desenvolvê-los não era possível”, diz, enquanto explica que “era muito difícil fazer os desenhos num copo de plástico que era de imediato fechado e levado”. Por outro lado, era um espaço com pouco conforto em que “as pessoas não tinham onde se sentar a saborear o seu café”.

Em conversa com amigos, o proprietário do “I Want Coffee” foi aconselhado a investir noutro tipo de espaço. “Resolvi aceitar as sugestões que me foram dando e em Março consegui abrir este”, afirma satisfeito.

Ir mais longe

Mas o “I Want Coffee” não se fica pelo menu de comidas e bebidas personalizadas. Dos serviços prestados, consta a realização de cursos de formação na “arte do latte”. Para o proprietário é uma área que representa uma grande vantagem e um investimento naquilo que considera uma actividade a ser desenvolvida.

A ideia do “I Want Coffee” é, para Chris Ip, ajudar no fomento da cultura do café e das suas bebidas associadas e, acima de tudo, desmistificar alguns preconceitos que encontra no território. “As pessoas pensam que os cafés com desenhos não são tão bons, tão deliciosos, mas acredito que sou capaz de fazer um café bonito e que, ao mesmo tempo, tenha todo o sabor que os clientes pretendem ter nesta bebida”, afirma.

Por questões de sobrevivência, o “I Want Coffee” aposta também em refeições e noutros bens alimentares, até porque “seria muito difícil manter a casa aberta se não tivesse este tipo de opções”.

A “obrigatoriedade” não significou, no entanto, limitações ao menu. Da carta constam saladas, pastas, muitas especialidades de pastelaria e sobremesas.

As maiores dificuldades que sente com o novo negócio têm que ver com algumas diferenças que o território tem relativamente a outras regiões vizinhas, nomeadamente no que respeita à cultura do próprio café. O proprietário explica: “Em Macau, as mudanças são muito lentas. As pessoas pensam que os cafés que fazemos são iguais àqueles que se vendem nos estabelecimentos tradicionais de comida chinesa e não percebem a diferença”.

Para o futuro, Chris Ip quer continuar a investir na área da formação para “atrair mais jovens para o sector e, desta forma, contribuir para um maior conhecimento do produto e da actividade de desenhar no latte”.

21 Jun 2017

Solidariedade | Aberta conta para apoio a vítimas de incêndio em Portugal

A Casa de Portugal abriu uma conta bancária específica de recolha de donativos para as vítimas do incêndio em Pedrógão Grande. No Consulado-Geral de Portugal, há um livro de condolências para assinar. O Chefe do Executivo enviou uma carta a Marcelo Rebelo de Sousa

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]inda não é possível fazer um balanço definitivo da tragédia do passado fim-de-semana na zona centro de Portugal, mas há desde já uma certeza: dezenas de habitantes das várias localidades atingidas pelo incêndio de grandes dimensões ficaram sem casa, sem bens de primeira necessidade e, muitos deles, sem forma de sustento.
Em Portugal, rapidamente se criaram redes de apoio para as necessidades mais urgentes, com o Governo a ter dificuldades logísticas em gerir todos os bens que têm sido enviados para a zona afectada. Por cá, à distância, a Casa de Portugal em Macau (CPM) não quis deixar de dar o seu contributo e apelar à solidariedade dos residentes.
Ontem, pela manhã, foi aberta uma conta no Banco Nacional Ultramarino que se destina a recolher apoios para as vítimas das chamas em Pedrógão Grande. “Já está aberta uma conta. Vamos começar a divulgá-la”, explicou ao HM Amélia António, presidente da CPM. “Destina-se a auxiliar as vítimas, para aquilo que vier a revelar ser o mais importante.”
O incêndio que deflagrou no sábado à noite (hora de Macau) no concelho de Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, fez pelo menos 62 mortos e 62 feridos. À hora de fecho desta edição, continuava a ser impossível controlar as chamas, que se tinham alastrado para os distritos vizinhos de Castelo Branco e Coimbra.

Manifestar o pesar
Não há memória de um incêndio com tamanho número de vítimas mortais. A dimensão da tragédia levou o Governo a decretar três dias de luto nacional.
Também o Consulado-Geral de Portugal em Macau se associou à manifestação de pesar. Já ontem foi possível, durante a tarde, assinar um livro de condolências. Quem quiser juntar-se à iniciativa poderá fazê-lo também hoje, entre as 10h e as 16h30, dirigindo-se à representação diplomática.
Tanto à presidente da CPM, como ao cônsul-geral de Portugal não chegaram informações sobre residentes portugueses no território naturais das zonas mais afectadas.

A carta de Chui Sai On
Ao final da tarde de ontem, o Gabinete do Porta-voz do Governo enviou um comunicado às redacções em que explicava que o Chefe do Executivo transmitiu condolências ao Presidente da República de Portugal pelo incêndio de Pedrógão Grande.
Na carta enviada a Marcelo Rebelo de Sousa, Chui Sai On transmitiu, em seu nome e em nome do Governo da RAEM, “os sentimentos do profundo pesar pelo devastador incêndio que atingiu as florestas em volta de Pedrógão Grande, com graves consequências humanas”.
O líder do Executivo endereçou ainda “as mais sentidas condolências às vítimas e às suas famílias”, e expressou “a solidariedade a todos os envolvidos nesta tragédia, e igualmente a todos aqueles que, no terreno e em circunstâncias críticas, continuam a combater este terrível incêndio”.

20 Jun 2017

Terrenos | Proposta de debate de Ng Kouk Cheong chumbada

Por dois votos, a proposta de debate de Ng Kuok Cheong não avançou. Os deputados mostraram-se divididos. Se para uns a ideia de limitar a compra de casas representa um retrocesso no desenvolvimento local, para outros, apesar das reservas, é uma matéria que deveria ser discutida no hemiciclo

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oram 14 votos contra e 12 a favor do pedido de debate apresentado pelo deputado Ng Kuok Cheong na Assembleia Legislativa. O pedido que solicitava uma discussão acerca do destino dos novos aterros, ao mesmo tempo que instava o Governo a limitar a compra de casas, dividiu os deputados.

Da ala que se manifestou contra o pedido de debate, o deputado Tommy Lau considerou que a ideia iria contra as políticas de desenvolvimento do território e deu como exemplo a influência negativa que uma proposta como a de Ng Kuok Cheong poderia ter até no projecto inter-regional da Grande Baía. “Não faz sentido que as pessoas que vierem investir em Macau não possam comprar as casas que quiserem, muito menos agora com a política da Grande Baía em que não podemos pôr um limite a nós próprios. Isto só vai limitar o desenvolvimento”, disse.

Da mesma opinião foi Vong Hin Fai. Para o tribuno, a ideia de limitar o investimento imobiliário no território vai mesmo contra as suas características. “Macau é uma zona migratória com pessoas vindas de muitos lados em que todos podem trabalhar alegremente e, se adoptarmos esta política, as pessoas podem pensar que estamos num território com uma sociedade exclusiva e intolerante”, justificou.

Por outro lado, em Macau o sistema é capitalista, pelo que, considerou Vong Hin Fai, “estas medidas vão contra essa política e contra o próprio desenvolvimento do território”.

É preciso falar

O assunto foi, no entanto, considerado digno de debate por vários deputados, até porque diz respeito aos problemas de habitação que afectam a sociedade.

Para Melinda Chan, em causa está a dificuldade de compra de casa pela chamada “classe sanduíche”. Como tal, “é uma matéria que merece ser debatida independentemente do aproveitamento dos terrenos”, afirmou.

Já Ella Lei, apesar de admitir que pode não ser ainda altura para tomadas de decisão, considera que é o tempo certo para que seja discutido o destino dos terrenos nos novos aterros. “Não é tempo de tomar uma decisão, mas devemos ouvir as opiniões para que o Governo, no futuro, tome posições”, apontou Ella Lei.

A falta de um planeamento concreto para as construções nos novos aterros foi a razão apontada por Song Pek Kei para justificar o seu voto a favor do debate pedido por Ng Kuok Cheong. A deputada defendeu que “o debate pode ser uma plataforma para que o Governo esclareça as questões da habitação”.

No momento do voto, a proposta de Ng Kuok Cheong ficou mais uma vez pelo caminho, por uma diferença de dois votos.

19 Jun 2017

Código Penal | Revisão aprovada na especialidade

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi aprovada na especialidade, por unanimidade, a proposta de lei de revisão do Código Penal. O diploma prevê o alargamento da abrangência dos crimes de violação e introduz três novos crimes de cariz sexual: a importunação sexual, o recurso à prostituição de menores e a pornografia de menores. Com a revisão, há penas agravadas, nomeadamente a aplicada ao crime de abuso de menores, que pode ir até aos oito anos de prisão.

Foi também o abuso de menores que suscitou troca de opiniões na sessão plenária da Assembleia Legislativa. Apesar de concordar com o diploma, a deputada Melinda Chan questionou o Governo quanto à classificação do crime de modo a que seja clara a origem da queixa. Em causa está o facto de ainda ser considerado um crime semipúblico.

Sónia Chan, secretária para a Administração e Justiça, esclareceu que o crime é semipúblico mas, “se a vítima for ofendida, além do encarregado de educação, o Ministério Público pode também fazer uma acusação”.

Cuidados a ter

Em declaração de voto, Melinda Chan reforçou a necessidade de o crime em causa poder ser considerado público. “Acho que esta revisão ainda não está perfeita e espero que, no futuro, o abuso sexual de menores venha a ser considerado um crime de natureza pública.” A razão, apontou a deputada, é conseguir uma protecção total dos menores.

Já o deputado Tommy Lau advertiu para os cuidados a ter quando se fala de importunação sexual. O deputado espera que aquando destas situações haja cuidados acrescidos na recolha de provas de modo a que uma acusação infundada não se torne injusta. Para o deputado, é uma matéria delicada em que um acusado, mesmo que inocente, fica com a reputação ameaçada, sendo que “há que evitar calúnias”.

19 Jun 2017

Idosos | Angela Leong pede programas de ensino

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] deputada Angela Leong solicitou mais programas de ensino gratuito promovidos por universidades e dirigidos aos idosos.

O objectivo, afirmou no período de antes da ordem do dia na Assembleia Legislativa, é proporcionar a esta população uma oportunidade de ensino gratuito adaptado às suas necessidades específicas. Em causa estão várias situações relativas ao próprio processo de envelhecimento.

Da interpelação de Angela Leong constam alguns exemplos: “[O Governo] deve organizar cursos sistemáticos que se adaptem às necessidades [dos idosos], nomeadamente, sobre a segurança na toma de medicamentos, a defesa do consumidor e a psicologia geriátrica”.

A deputada exemplifica com o programa dirigido à população sénior promovido pelo Instituto Politécnico de Macau, a “Academia do Cidadão Sénior”. A iniciativa que existe desde 1999 “permite aos mais velhos terem a oportunidade de regressar ao ensino e incentivar o seu zelo na aprendizagem”, explicou.

No entanto, para conseguir regressar à sala de aula, os interessados são submetidos a um sorteio limitado a 480 vagas. O resultado é a exclusão de uma grande faixa da população.

O papel das universidades é evidente para Angela Leong: “Têm planos curriculares mais abrangentes, científicos e sistemáticos, e dão mais atenção à psicologia e ao aconselhamento de vida na velhice”, disse.

19 Jun 2017

AL | Caminho livre para população vulnerável

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma cidade sem obstáculos à deslocação em espaços públicos foi o pedido de Ho Ion Sang ao Executivo. Em causa está o crescente envelhecimento da população do território e os cuidados a ter com as pessoas portadoras de deficiência.

O deputado argumentou a pertinência do pedido com referência à Convenção da ONU sobre dos direitos das pessoas com deficiência, aprovada em 2006. “Trata-se de um diploma internacional que visa a plena protecção dos portadores de deficiência, sendo que está em vigor na China desde 2008, pelo que é aplicável ao território”, disse na interpelação apresentada no período de antes da ordem do dia, na Assembleia Legislativa.

O documento exige, afirma Ho Ion Sang, que “os estados signatários adoptem medidas adequadas para garantir a acessibilidade e proporcionar a respectiva informação às pessoas com deficiência”.

Por outro lado, afirma, a construção de uma cidade livre de obstáculos à mobilidade é “uma garantia importante para os direitos e interesses dos grupos mais vulneráveis, como o das pessoas portadoras de deficiência e da população idosa”, disse Ho Ion Sang.

O Governo deve, além de continuar os trabalhos de melhoria no que respeita ao planeamento do território, proceder ao levantamento dos problemas de acessibilidade nos bairros antigos, de modo a “promover os espaços públicos destas zonas num ambiente sem obstáculos”.

19 Jun 2017

AL | Proposta de fundo de investimento para “Uma Faixa, Uma Rota”

O território pode ser pioneiro na criação de um fundo para apoiar projectos especiais inseridos no âmbito de “Uma Faixa, Uma Rota”. A ideia é dar relevo ao papel do território dentro do projecto liderado pela China

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado à Assembleia Legislativa Tommy Lau propôs na passada sexta-feira a criação de fundos para projectos especiais. O objectivo é atrair capitais públicos e privados de países de língua portuguesa a participarem da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”.

“O Governo pode assumir o papel de pioneiro, podendo pensar na criação de alguns fundos de desenvolvimento para projectos especiais, com vista a atrair capitais de alguns países e empresas privadas de língua portuguesa”, sugeriu o deputado nomeado pelo Chefe do Executivo, na sua intervenção antes da ordem do dia.

Para Tommy Lau, “é possível, através do recurso a este tipo de fundo, impulsionar o desenvolvimento de actividades comerciais no âmbito da iniciativa ‘Uma Faixa, Uma Rota’”, “uma estratégia muito importante” da China.

“Macau pode pensar na definição de políticas, conjugando-as com o seu papel de plataforma de ligação entre a China e os países de língua portuguesa, com vista a incentivar os dirigentes e os residentes em geral a participarem”, sustentou o deputado.

Ajudar os mais pequenos

Neste sentido, esse tipo de fundo teria como objectivo “apoiar principalmente os projectos comerciais de pequena dimensão”: “O Governo de Macau pode promover a criação de fundos de desenvolvimento para as pequenas e médias empresas (PME), apoiando-as na exploração de actividades comerciais nos países participantes de ‘Uma Faixa, Uma Rota’, sobretudo os do Sudeste Asiático, onde a população chinesa é vasta”.

No âmbito do comércio transnacional, Tommy Lau observa ainda ser “necessário proporcionar às PME capital suficiente para a compra e venda de mercadorias de custo elevado”, a fim de “promover o aumento do volume” das trocas comerciais.

Por outro lado, o deputado entende que “pode recorrer-se a este tipo de fundos para o arranque do desenvolvimento financeiro característico de Macau”, apontando que “o investimento de algum capital por parte do Governo contribui para atrair a participação de outros investidores”.

“Os principais alvos de investimento destes fundos são os países participantes da iniciativa ‘Uma Faixa, Uma Rota’ e os países lusófonos”, frisou Tommy Lau, para quem “o rumo é claro e contribui para incentivar as empresas a fazer negócios no exterior e a expandir o seu espaço de desenvolvimento”.

“Espero que o Governo proceda aos devidos estudos e discussões, e que defina políticas que permitam que Macau apanhe a boleia da estratégia do desenvolvimento nacional”, concluiu.

19 Jun 2017

Ensino | Proposta alteração que limita a repetição de anos escolares

Depois da consulta ao sector do ensino, as regras estão alinhavadas. Os alunos do ensino primário poderão não reprovar e, nos anos seguintes, será difícil ficarem retidos. A ideia foi discutida ontem na reunião do Conselho de Educação para o Ensino Não Superior

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ensino primário pode vir a decorrer sem que se registem alunos reprovados. A ideia pode fazer parte da minuta para a criação de um regulamento administrativo, tendo em conta a recolha de opinião relativa ao “sistema de avaliação do desempenho dos alunos da educação regular do regime escolar geral”.

De acordo com a coordenadora da inspecção escolar, Wong I Lin, a consulta acerca da matéria, realizada entre Outubro e Dezembro do ano passado, reuniu 654 opiniões. O resultado foi uma demonstração de preocupações relativas à repetição de ano e à execução da avaliação dos estudantes.

Depois da reunião plenária de ontem, o Conselho de Educação para o Ensino Não Superior vai avançar com uma proposta de alteração relativa às preocupações demonstradas.

A ideia não é definitiva e pode passar pela passagem sem chumbos dos alunos do ensino primário. Poderão existir excepções, sendo que o professor terá de fazer um pedido a justificar a necessidade de retenção do estudante por mais um ano. Do pedido, disse Wong I Lin, pode constar uma apreciação da actividade do aluno em aula, ao seu comportamento, a assiduidade e a idade.

Já no quinto e sexto anos, os chumbos não podem ultrapassar os quatro por cento, enquanto os ensinos secundário e secundário complementar só vão poder reter no mesmo ano até oito por cento dos estudantes. Em números, “numa turma de 25 alunos do 5.º ano pode ser retido um, e numa turma do 8.º com o mesmo número de estudantes podem ser chumbados até dois alunos”, disse Wong I Lin.

Passagem controversa

A responsável manifestou ainda que “há alguma reserva por parte do conselho quanto à isenção de repetição de ano para os alunos da primeira à quarta classe”, na medida em que, refere, “há situações em que os alunos o querem fazer”. Estes casos também poderão ser submetidos a um pedido de autorização endereçado à Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), disse.

Ainda em relação aos estudantes do ensino não superior, a reunião de ontem tratou das divergências no que respeita aos conteúdos a serem alvo de avaliação.

Se há quem se manifeste a favor de uma avaliação diversificada que tem como objectivo diferentes actividades dos estudantes, há também, dentro do Conselho de Educação para o Ensino Não Superior, quem considere que a prova escrita deve ser o mais importante. A razão, apontou Wong I Lin, é ser “um método objectivo em que as respostas ou estão certas ou erradas”. “Já na avaliação diversificada podem existir casos de injustiça”, afirmou.

Formação docente

As horas investidas pelo pessoal docente em actividades de desenvolvimento profissional vão ser alvo de contabilização. A ideia vai ser levada a consulta pública e o objectivo é que, com uma quantificação objectiva e rigorosa, a participação neste tipo de actividades venha a integrar os critérios de subida na carreira.

De acordo com o chefe de departamento de estudos e recursos educativos da DSEJ, Wong Kin Mou, para a subida de escalão, além do tempo de serviço, será necessária a presença comprovada em acções de desenvolvimento profissional. Na prática, para subirem de escalão, além do tempo de carreira exigido, os docentes têm de ter frequentado 30 horas anuais de formação.

As actividades em causa estão agrupadas em duas categorias: as promovidas pela DSEJ e as promovidas pelas próprias escolas.

O conteúdo do texto elaborado pelo Conselho Profissional do Pessoal Docente foi discutido na reunião plenária e irá passar agora pelas escolas e demais sectores ligados à educação para recolha de opiniões.

Antes da reunião de ontem foi celebrada a assinatura do protocolo entre o Governo e a Diocese de Macau que prevê a integração das três escolas do Colégio Diocesano de São José no sistema de escolaridade gratuita. Actualmente, são 57 as escolas privadas que estão no sistema.

 

Escola Pui Tou com novas instalações

A Escola Pui Tou vai ter um terreno para novas instalações. A informação foi ontem tornada pública numa cerimónia que antecedeu a reunião plenária do Conselho de Educação para o Ensino Não Superior. No total, são mais de mil metros quadrados, na Taipa, para a construção de mais de 40 salas de aula. “A ideia é a construção de 45 salas de aula e a integração da escola primária e infantil”, disse a directora dos Serviços de Educação e Juventude, Leong Lai. As novas instalações vão poder receber até 945 alunos, e aumentar o número de turmas de 17 para 27. A acção integra o projecto “Céu Azul”, que visa retirar gradualmente as escolas que se encontram a funcionar em pódios. O projecto poderá demorar mais de dois anos a ser construído e ainda não tem orçamento.

16 Jun 2017

Crime | Operação Trovoada desmantelou rede transfronteiriça

Depois de mais uma acção Trovoada, o destaque das autoridades vai para o desmantelamento de uma rede transfronteiriça de apostas ilegais. A informação foi dada ontem na apresentação do balanço da operação deste ano. Os crimes associados ao jogo continuam a ter um lugar de relevo

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi desmantelada uma rede de exploração ilícita de jogo transfronteiriço. De acordo com o comandante geral dos Serviços de Polícia Unitários, João Augusto Rosa, “as autoridades da China e de Macau, através da permuta de informação que teve início em 2016, começaram o processo de investigação”.

No passado mês de Abril, as autoridades levaram a cabo uma acção de detenção em simultâneo em que a polícia de Macau deteve oito residentes. Já as autoridades chinesas levaram para a esquadra um total de 51 indivíduos, dois deles residentes de Macau. O caso envolvia uma rede de apostas ilegais em jogos de futebol e parece concretizar um aumento deste tipo de criminalidade. “Estamos a enfrentar uma situação real em que a criminalidade é transfronteiriça”, disse o chefe do departamento de investigação criminal da Polícia Judiciária (PJ), Vong Chi Hong.

Mais uma vez, e à semelhança dos dados apresentado no ano passado, o crime associado ao jogo está em destaque. Foram detectados 219 casos de usura que envolveram 428 pessoas. Na sua maioria os detidos são provenientes do Continente somando mais de 300.

Dentro dos crimes de usura, 115 envolveram o sequestro e implicaram a participação de 218 pessoas.

No que respeita a estratégias direccionadas especificamente ao combate deste tipo de crimes, Vong Chi Hong afirmou que “tanto a PJ, como o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) têm adoptado novas estratégias de combate que deram a conhecer novas formas de crime mas, no futuro, serão adoptadas novas medidas”.

As autoridades sublinharam ainda a identificação de um crime que envolveu a prostituição de uma menor de 14 anos. O caso foi detectado em Maio quando as autoridades identificaram a suspeita à procura de clientes no Cotai. Com a investigação, foi detida uma mulher de origem chinesa que confessou ter aliciado a adolescente para a prática do crime.

Operação mais longa

Dos dados apresentados sobressai também o elevado número de mulheres envolvidas em processos de expulsão do território. Das 170 pessoas expulsas “por não se coadunarem com a qualidade de turista”, 162 são do sexo feminino. As principais infracções estão relacionadas com prostituição e trabalho ilegal sendo que as envolvidas são, na sua maioria, residentes de Hong Kong e da China Continental, referiu Wong Chi Fai, segundo o comandante da PSP.

Os números este ano são superiores aos do ano passado; no entanto não significa que os crimes tenham aumentado. A razão, apontou Wong Chi Fai, tem que ver com o período de tempo em que a acção decorreu. A operação Trovoada 2017 teve lugar durante três meses, mais um do que no ano passado, e envolveu um maior número de agentes no terreno, num total de 13.055.

Dos 1782 indivíduos detidos durante a operação, 760 foram sancionados, sendo que a praticamente metade foi atribuído o termo de identidade e residência.

A operação Trovoada é uma acção realizada anualmente e que envolve as regiões de Macau, Guangdong e Hong Kong.

16 Jun 2017

André Silvério, engenheiro mecânico: “A Ásia é uma surpresa”

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]lfacinha, André Silvério está em Macau porque o destino quis. Uma vinda para a Ásia estaria fora de questão há cerca de dois anos, altura em que foi colocado no território dentro do programa de estágios Inov-Jovem.

Na altura, a terminar a tese de mestrado na área da termodinâmica e a pensar no envio dos primeiros currículos para encontrar emprego, André Silvério não equacionava uma vinda para Macau. “Nunca me passou pela cabeça vir para aqui”, diz. “Aliás, quando estava a fazer a entrevista para integrar o programa foi-me perguntado se havia algum local para onde não quisesse ir, ao que respondei que sim: a Ásia.”

Quando André Silvério soube da sua sorte, pensou de imediato na distância, ao mesmo tempo que se interrogava acerca das diferenças que poderia encontrar. Os receios que tinha relativamente a uma vinda para o continente asiático tinham que ver com “possíveis dificuldades de integração, porque são países muito diferentes”.

No entanto, a vinda para o território acabou por não ser difícil. “Não estava à espera de encontrar tantas pessoas da comunidade portuguesa”, sendo que, a identificação com quem cá estava proporcionou, desde o início, algum “conforto” ao engenheiro.

Foram seis meses de estágio, uma estreia na vida profissional que “correu muito bem”. O facto de ter estado numa empresa também portuguesa poderá ter ajudado, considera, e “a experiência acabou por ser incrível”.

Mas as diferenças também se sentiram. “Os cheiros, principalmente da comida” são ainda recordados apesar de, com o tempo, já não serem sentidos.

Saiu de Macau no final do estágio. Foi embora com agrado, porque “queria mesmo regressar a Portugal”, mas considerava que “talvez um dia ainda voltasse”. E assim foi. Depois de quatro meses à procura de emprego em Lisboa, sem respostas, apareceu a proposta de regresso ao território. Não hesitou.

A trabalhar na construção de um dos novos casinos, André Silvério afirma estar satisfeito: “Estou a trabalhar num projecto fantástico com uma dimensão muito grande o que me faz sentir que, sem dúvida, fiz a melhor opção.”

Macau, uma nova casa

De lugar distante, Macau é agora uma casa. A constatação foi feita recentemente quando, “ao regressar de Portugal, senti que estava a voltar para casa, o que nunca tinha sentido”.

No entanto, as ofertas do território podiam ser mais e melhores. “Tenho muita pena de não poder fazer coisas que faria noutros lugares. Tenho pena de não poder fazer mergulho e de não poder pegar num carro e fazer cem quilómetros para qualquer lado”, ilustra.

Ao recordar a prática de mergulho, André Silvério não deixa de explicar a escolha do hobby que aqui não é possível. “Mergulhar é estar num mundo completamente diferente onde as preocupações desaparecem. Não sei o que é ser astronauta, mas penso que será algo semelhante, aliás, penso que os mergulhadores são as pessoas que não podem ser astronautas”, refere.

Macau é um lugar pequeno e, como tal, as opções dadas aos que cá vivem acabam também por ser reduzidas. “Acabamos por ir sempre aos mesmos sítios. Até podemos tentar variar, mas o ambiente continua a ser muito o mesmo”, diz.

A possibilidade de viajar pelo continente é, no entanto, uma das grandes vantagens de viver no território. Para quem tinha a Ásia como um destino não desejado, as viagens de André Silvério têm mudado, em muito, a sua opinião. Depois de passar pela Indonésia e pela Tailândia, por exemplo, o continente passou a ser “mágico”. “Há aqui qualquer coisa que surpreende”, diz, sem conseguir definir ao certo o que é.

Uma logística complicada

O desenvolvimento do território não passa despercebido ao engenheiro. André Silvério considera que, se por um lado é positivo até pelas oportunidades de emprego que cria, por outro pode trazer alguns problemas à região. “Lembro-me de que, quando regressei a Macau, voltei para a mesma casa e o que vi à minha frente foi um boom enorme no que respeita à construção.”

Este crescimento é encarado pelo engenheiro com algumas reticências, nomeadamente no que respeita à logística que implica. “Acho que vai ser difícil lidar não só com o desenvolvimento local, mas também com toda a transformação que está a acontecer aqui à volta do Rio Das Pérolas e que inclui as regiões vizinhas.” As obras que lhes estão associadas implicam, considera, um movimento de pessoas, tanto locais como de fora, que “envolve uma logística que nem sempre é fácil”.

16 Jun 2017

Andrea Tavares, líder do movimento Alternativa 1: “Liderança de Nicolás Maduro tem sido fraca e ilegítima”

Falar com Andrea Tavares ao telefone a partir da Venezuela revelou ser uma tarefa impossível: a rede é fraca e não há sequer Internet no país. Por e-mail, a luso-descendente e líder do movimento político Alternativa 1 garante que a grave crise social e económica que a Venezuela vive actualmente poderia ser resolvida num regime democrático. No meio do caos social, a comunidade portuguesa é uma das maiores vítimas do crime, assegura

Porque decidiu criar o movimento político Alternativa 1?

O movimento Alternativa 1 nasce da necessidade de criar um espaço político para aqueles que não se identificam com a concentração da política em dois grandes blocos ou pólos. Somos líderes sociais e políticos com experiência e conhecimento em administração pública na Venezuela e queremos resgatar a ideia da política ao serviço dos cidadãos, e não o contrário. Acreditamos que, para superar os nossos grandes males, devemos desenvolver uma visão de uma república de cidadãos, superando a economia petrolífera e em que possamos defender a “verdade” como um valor na política e aprofundar a democracia, expressa na diversidade de pensamento e reconhecimento dos outros. Somos um movimento que faz oposição ao Governo venezuelano actual, embora não façamos parte da coligação Unidade Democrática. Em muitas ocasiões partilhamos uma agenda política para enfrentar o inimigo comum do povo venezuelano, o regime de Nicolás Maduro e seus cúmplices. 

Disse numa entrevista concedida ao semanário Expresso que há portugueses a serem alvo de sequestros na Venezuela. A situação tem tendência a piorar?

Sem dúvida, porque à medida que aumenta a crise política e económica, o crime torna-se um modo de sobrevivência para muitos, especialmente num país onde há uma impunidade total e absoluta contra o crime. A rápida desvalorização da nossa moeda e o controlo de câmbio de moeda estrangeira tem forçado as pessoas a procurar divisas para não perderem o capital em muitos casos. Os comerciantes e as comunidades imigrantes preferem poupar divisas, por isso são um alvo tentador para os sequestradores, que também cobram o resgate de sequestros em moeda estrangeira. Uma das comunidades imigrantes mais afectadas é a portuguesa que, como todos sabem, está envolvida no comércio, e é esforçada e poupada.

De que forma o Estado português poderia ajudar a comunidade portuguesa aí residente?

O Estado português deve exigir garantias junto do Governo venezuelano em relação à protecção da sua comunidade, sem esquecer o castigo exemplar para aqueles que cometem crimes contra a comunidade portuguesa. [O Estado português] deve protegê-los da extorsão e propor alguma cooperação para garantir a segurança dos cidadãos de origem portuguesa e o respeito pela sua propriedade. Há casos de confisco de propriedades sem qualquer procedimento legal.

Há portugueses a querer ir embora da Venezuela ou pretendem ficar no país?

Muitos preferem ficar, porque aqui têm o seu património que foi construído durante toda a vida e não é fácil sair de anos de sacrifício e esforço para começar de novo. As gerações mais jovens de luso-descendentes estão a tentar voltar e muitos preferem ir para a Espanha por terem mais facilidade na língua. Muitos não falam bem português e têm dificuldades especialmente na parte da escrita.

Chegou a apoiar Hugo Chávez, mas depois tornou-se crítica do seu Governo. Que análise faz à postura de Nicolás Maduro perante a crise do país?

Fui fundadora e membro do partido Pátria Para Todos (PPT), que foi um dos que integrou a coligação mais importante que apoiava Chávez para chegar ao poder. Fui vereadora em Caracas em representação do PPT, e desde 2000 o PPT começou a ter diferenças em relação a Chávez. Foi sempre uma relação muito tensa.

De que forma?

No PPT havia muitos activistas que começaram a pensar no desvio em relação ao projecto político inicial. Aí começaram a lançar as bases para a corrupção massiva e para o totalitarismo que se desenvolveu mais tarde. Foram os mesmos que fizeram críticas e que foram atacados por Chávez, que conseguiu dividir o partido e, finalmente, através de uma ordem judicial, afastá-lo.

E em relação a Nicolás Maduro?

A sua liderança tem sido muito fraca e ilegítima. Maduro não conseguiu criar a sua própria liderança, mesmo que tenha sido feita através da imposição de Chávez. Isso levou ao aprofundamento de uma enorme rejeição, mesmo no seu próprio partido, e ele tem sido questionado pelo exercício da presidência a nível interno. Antes da morte de Chávez, houve um mistério gerado com os últimos decretos e leis promulgados nesta fase. De seguida regista-se uma eleição com resultados duvidosos, tendo [Nicolás Maduro] ficado na presidência com uma pequena margem de diferença, o que enfraqueceu o seu mandato. A acrescentar a isso, verifica-se uma dependência quase total em relação a Havana [capital de Cuba] para tomar decisões. Maduro pode ter sido o líder que começou um grande processo de diálogo e de encontro entre os venezuelanos desde que assumiu o cargo, mas poderia também ter desenvolvido um plano económico viável. Ao invés disso, escolheu o caminho da radicalização e da divisão, levando a esta crise actual. 

Quais as consequências mais visíveis desse caminho na sociedade venezuelana nos dias de hoje?

Após 60 dias de protestos houve estudantes e cidadãos que foram mortos, presos, torturados e perseguidos. Há pessoas no exílio e temos neste momento uma das mais altas taxas de emigração na história da Venezuela. Prefere-se uma ditadura, violando todas as leis da República, suspendem-se eleições e institui-se uma Assembleia Constituinte não originária, sem que se realize qualquer referendo. Tal acontece apenas para dissolver o que resta do Estado republicano e da divisão de poderes. Maduro preferiu entrar para a história como o representante venezuelano do “gorilismo” que vigora na América do Sul.

Como é o dia-a-dia da comunidade portuguesa aí residente?

A comunidade portuguesa está totalmente integrada na sociedade venezuelana e tem os mesmos sofrimentos da vida quotidiana. Existe dificuldade na obtenção de medicamentos, as empresas estão à beira da falência devido à falta de matéria-prima, há crime por toda a parte. Os filhos e os netos crescem num país onde não há qualidade de vida, e onde não há nenhum Estado de Direito e de justiça mesmo no trabalho efectuado nos serviços públicos. Grande parte da comunidade portuguesa está a participar nos protestos e muitos foram presos. Por isso não é surpreendente que a imagem que deu a volta ao mundo seja a de uma mulher corajosa que segura a bandeira da Venezuela, tentado impedir a passagem de um tanque militar, tendo sido cercada por gás lacrimogéneo. Essa mulher é portuguesa.

Tem esperança num futuro melhor para o país? Quais as soluções que aponta para o fim da crise?

Tenho, não se pode perder a esperança. Esta crise pode ser resolvida como qualquer país democrático, através de eleições e respeitando a actual Constituição. Pode ser resolvida com o respeito pelos direitos humanos, pela soberania popular e com uma agenda económica séria e responsável. Sabemos que o Governo está a ir na direcção oposta, e é por isso que estamos nas ruas, para exigir liberdade e democracia. Para nós é muito importante a solidariedade internacional, e esperamos que o mundo continue a pressionar a Venezuela para que a democracia seja restabelecida. O que está a acontecer connosco pode acontecer com qualquer país do mundo, porque este Governo dá asas a que muitos líderes [ajam] em nome do socialismo ou dos pobres, para de seguida mostrar o seu verdadeiro rosto fascista e totalitário. Pedimos ajuda a Deus e também aos homens e mulheres de boa vontade para continuarmos a lutar pela liberdade, para que possamos ajudar o mundo a livrar-se de uma tragédia em torno da saga ditatorial. Isto deve ser superado no século XXI.

 

“A situação está caótica”
Relatos de cenários de guerra no país

A grave crise económica e social que a Venezuela enfrenta neste momento está a levar milhares de portugueses a regressar a Portugal. A maior vaga de regressos está a acontecer na Ilha da Madeira, de onde muitos emigrantes são naturais.

Marisa é uma dessas pessoas que regressou há pouco tempo a Portugal, depois de, aos poucos, a família ter deixado a Venezuela. Os pais foram os primeiros a sair, seguindo-se o irmão, que chegou a ser sequestrado e viu a sua empresa falir. Os filhos de Marisa formaram-se e também deixaram o país.

“As pessoas estão a fazer barricadas nas ruas, para pressionar o Governo. As estradas fecham-se e não há comida. Saímos cedo de casa mas não sabemos se podemos ir para casa de novo, porque está tudo fechado. A polícia sai e inicia-se uma espécie de guerra nas ruas, com gás lacrimogéneo”, contou ao HM.

Com as prateleiras dos supermercados vazias, as pessoas são obrigadas a comprar a comida no mercado negro. “Compramos a pessoas que conhecemos, que se dedicam a vender comida mais cara. Não há arroz ou papel higiénico, e para conseguir carne temos de falar com alguém que consegue, o preço é duas ou três vezes mais do que deveria ser.”

Um país perdido

A residir em Macau, Eliana Calderon olha com tristeza para a situação do seu país que afirma não conhecer mais. “A situação do país está caótica, porque a pobreza já atinge 90 por cento da população. Tenho amigos que ainda estão lá e uma irmã, e a situação deles é horrível.”

“A Venezuela está completamente perdida, não reconheço o meu país. Não vou lá há dois anos e tenho terror da Venezuela. Eu pertenço aos 90 por cento de pessoas que são pobres, mas as pessoas já estão tão desesperadas que ou morrem ou vão para as ruas. Se não há uma guerra civil, vai haver”, acrescentou a responsável por uma associação que apoia crianças com necessidades educativas especiais.

Na visão de Eliana Calderon, o Governo é parcialmente responsável pela crise venezuelana, sem esquecer a corrupção. “Nicolás Maduro não está a ajudar, porque assumiu o mandato como se fosse descendente do rei Hugo Chavez. Não é um Governo verdadeiramente eleito. O dinheiro que tínhamos foi mal gasto pelas cúpulas do Governo, graças à corrupção”, concluiu.

15 Jun 2017

Edifícios | Consenso na proporção de condóminos para renovações

Está definida a percentagem de condóminos necessária para seguir com projectos de demolição e reconstrução de edifícios. A conclusão resulta da reunião de ontem do Conselho de Renovação Urbana. A utilização de habitação pública como residência temporária foi rejeitada

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]á há acordo no que respeita à percentagem de votos necessários para que os edifícios deteriorados possam ser demolidos ou submetidos a obras de reabilitação. A ideia foi ontem deixada pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, após uma reunião plenária do Conselho para a Renovação Urbana (CRU).

“O consenso alcançado é de que todos os edifícios com menos de 30 anos, se tiverem de ser submetidos a um processo de demolição ou renovação, vão precisar da aprovação de 100 por cento dos condóminos”, afirmou o secretário. Já para os prédios que têm entre 30 e 40 anos, terá de ser reunido o voto favorável de 90 por cento dos condóminos, enquanto aqueles que tiveram mais de 40 anos precisam de 85 por cento de aprovações.

Casas temporárias financiadas

Está fora de questão a utilização de terrenos e de casas destinadas a habitação pública para acolhimento temporário dos residentes que poderão ter as suas habitações em obras aquando da operacionalização do Plano de Renovação Urbana.

“Uma das ideias em discussão foi a possibilidade de retirar o estatuto de habitação pública a algumas fracções para que pudessem servir de casa temporária a estas pessoas”, explicou o membro do CRU, Paul Tse.

No entanto, as vozes contra vieram de várias frentes. Membros do CRU e do Instituto da Habitação não concordaram porque, afirmou Paul Tse, “iria prolongar o período de espera daqueles que aguardam já há muito tempo por uma fracção de habitação pública”.

O CRU sugeriu alternativas para que não haja mais atrasos nas acções necessárias à implementação do Plano de Renovação Urbana. Neste sentido, “vão ser tomadas medidas temporárias para aqueles que têm de deixar as suas casas e que passam pela atribuição de subsídios e de ajudas no pagamento de rendas”, disse.

A solução reuniu consenso e pode ser submetida ao Governo para consideração.

15 Jun 2017

Abertas inscrições para acção de poupança

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ais pessoas a tentar poupar energia. É esta a ideia da terceira edição da acção de conservação de cinco por cento de energia. As inscrições estão abertas até 31 de Agosto e, este ano, são alargadas. Se em 2015 e 2016 apenas uma pessoa por casa se podia inscrever-se, agora todos os que contribuem para a mesma factura podem habilitar-se ao sorteio.

De acordo com um representante do Gabinete para o Desenvolvimento do Sector Energético (GDSE), Lei Chun San, “esta acção pretende incentivar os cidadãos a porem em prática na sua vida diária os conhecimentos que têm sobre conservação energética e a utilizarem métodos de poupança de energia”.

Para o efeito, o GDSE sensibiliza a população para que preste atenção aos electrodomésticos energeticamente eficientes, e dá sugestões para uma melhor gestão dos consumos eléctricos.

A iniciativa decorre durante o período compreendido entre Junho e Setembro, os meses em que as contas aumentam significativamente.

Desta forma, todos os utentes particulares são desafiados a poupar cinco por cento nas suas contas da luz. Aqueles que atingirem esta meta podem inscrever-se no sorteio. A única condição tem que ver com a existência de um consumo mínimo: em nenhum dos meses considerados o registo de gasto pode ser inferior a 10 kW.

Medida continuada

Em 2015, participaram na iniciativa 1886 famílias, sendo que 882 tinham conseguido poupar os cinco por cento pedidos. Já no ano passado, o número de participantes teve uma ligeira quebra: foram 1794 as famílias inscritas, sendo que a meta foi atingida por 787.

Para atrair mais participantes, a edição deste ano introduz o critério da continuidade. Desta forma, é dada a possibilidade de distinção dos utentes que, entre 2015 e 2017, tenham participado em pelo menos dois sorteios e tenham sido considerados cumpridores da poupança pretendida.

Os cinco por cento exigidos resultam da comparação da média dos três meses em análise com o mesmo período do ano passado.

A iniciativa está aberta não só a residentes do território, mas também a trabalhadores não residentes e a estudantes do ensino superior.

A lista dos vencedores é publicada no dia 17 de Novembro. Dos prémios que vão ser atribuídos constam três vales de dez mil patacas e 80 de 500 patacas para a compra de equipamentos eléctricos energeticamente eficientes, e 100 vales de desconto de 100 patacas na factura da electricidade. Os dois prémios de continuidade têm direito a um vale de cinco mil patacas.

A acção é uma iniciativa do GDSE e conta com o apoio da União Geral dos Moradores de Macau e com a Companhia de Electricidade de Macau.

15 Jun 2017

Armazém do Boi ainda sem novo espaço

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Armazém do Boi ainda não conseguiu arranjar um espaço alternativo àquele que tem ocupado. A organização vai ter de abandonar as instalações do edifício do antigo matadouro e está a ser difícil encontrar uma solução.

De acordo com a curadora e membro da associação, Gigi Lee, “no ano passado, durante uma reunião com o Instituto Cultural (IC), foi comunicado que, após 2017, a associação teria de deixar as instalações”. O argumento dado pelo IC, responsável pela estrutura, foi de que “iriam ser iniciadas obras de remodelação”, explica a curadora ao HM. Gigi Lee reconhece que o local precisa de obras, mas não coloca de parte a possibilidade de o edifício passar a ser aproveitado de outra forma.

As perspectivas para o Armazém do Boi não são animadoras. Sem certezas quanto a um possível regresso àquele espaço, a associação não consegue encontrar um local para manter a actividade. As dificuldades são essencialmente financeiras e prendem-se com a impossibilidade de pagar contas e, “muito menos, uma renda”.

“Aqui não temos de pagar as contas, nem suportar uma renda”, diz Gigi Lee, recordando que o Armazém do Boi é uma associação sem fins lucrativos, “pelo que não há dinheiro”. Todas as actividades desenvolvidas são possíveis com o apoio do Governo, recorda.

Para a curadora seria importante que, mesmo com as obras, a associação tivesse oportunidade de voltar àquelas instalações. No entanto, Gigi Lee admite que este factor não é o essencial. Fundamental é conseguir manter a continuidade do trabalho que tem sido desenvolvido, até porque se trata “de um trabalho diferente do de outras organizações do mesmo género”.

Marcar a diferença

Em actividade há 14 anos, o Armazém do Boi já tem provas dadas na promoção artística no território. Definido pela própria curadora como um espaço singular, Gigi Lee destaca o trabalho realizado por “ser o único que recebe projectos mais experimentais e que só se dedica à arte contemporânea”.

“Enquanto muitas entidades se dedicam a exposições sem integrar as novas formas de arte, nós acolhemos, por exemplo, a performance”, vinca a curadora, acrescentando que um dos objectivos do Armazém do Boi é o de estar “sempre receptivo à novidade”.

Por outro lado, é esta abertura que tem feito crescer o interesse pelos artistas locais e internacionais que, de acordo com Gigi Lee, têm feito chegar à associação cada vez mais pedidos de exposição.

A curadora não deixa de destacar o trabalho comunitário que tem integrado um conjunto de actividades que envolvem famílias e um público de todas as idades. “Saímos das instalações e vamos trabalhar com as pessoas ou trazemos a comunidade para integrar as nossas actividades. É um trabalho muito interessante e que merece ter continuidade”, defende Gigi Lee.

14 Jun 2017

Cinema | Começa hoje o ciclo sobre sistema prisional

Começa hoje o IV Ciclo de Cinema CRED-DM. Este ano a iniciativa promovida pela Fundação Rui Cunha é dedicada ao sistema prisional. São seis filmes, durante um mês, para relembrar que os direitos humanos não devem ter limites

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] sistema prisional é o tema transversal aos seis filmes que integram o programa deste ano do ciclo de cinema promovido pela Fundação Rui Cunha. A ideia é abordar o assunto no tempo e em várias vertentes.

De acordo com a Directora do CRED-DM – Centro de Reflexão, Estudo e Difusão do Direito de Macau da Fundação Rui Cunha, Filipa Guadalupe, a opção pela abordagem do sistema prisional é quase óbvia. “É um tema incontornável no mundo do direito e envolve não só o sistema penal e a organização do sistema judiciário, mas também tem que ver com a dignidade das pessoas, com os direitos humanos e com as condições em que vivem aqueles que são privados de liberdade”, diz ao HM.

Não se trata de um assunto fora da actualidade, muito pelo contrário, até porque, “é um tema transversal e que toca várias necessidades básicas de qualquer pessoa”.

A condenação já é, para a directora Cred-DM, uma sanção e tudo o mais que possa acontecer remete para uma dupla sanção. “Este não é o espírito legislador pelo que cabe ao direito intervir nesta área”, diz.

Em causa está a própria essência do sistema penal, ou seja, a ressocialização da pessoa que cumpre pena de prisão. Para que seja conseguido, considera Filipa Guadalupe, é necessário que se mantenha o princípio de que quem está a cumprir pena “não deixa de ser um ser humano, e não deixa de ter direito a cumprir a sua pena com dignidade”, aponta.

Foi com esta premissa que foram seleccionados os filmes que vão ser exibidos durante um mês na Casa Garden. “Cada um dos filmes aborda questões que se passam dentro das prisões, sendo que chamamos a atenção para as condições muitas vezes sub-humanas que ali se vivem, e que podem ir desde a sobrelotação às condições de saúde”, ilustra a responsável. Estes são exemplos que demonstram que o fim último do direito penal não é cumprido. “Como é que alguém pode voltar a viver em sociedade se passou anos em condições sub-humanas?”, questiona Filipa Guadalupe.

Tema intemporal

O ciclo, que tem início hoje, abre as hostes com um clássico. O filme é o “Cool Hand Luke” de Stuart Rosenberg, em que Paul Newman interpreta “um dos papéis mais aclamados da sua carreira”. É o anti-herói, um solitário que não se conforma com as regras arbitrárias que gerem o estabelecimento em que está detido.

A passagem pelos filmes que fizeram história não termina aqui e “Papillon” vai também ser projectado nesta edição. “Mais contemporâneo, temos ‘A Fuga de Alcatraz’ que relata a história da única pessoa que conseguiu até hoje fugir daquele lugar”, recorda Filipa Guadalupe.

A intenção não é fazer um ciclo de cinema comercial, mas sim criar um momento de entretenimento em que, através de filmes feitos em épocas diferentes, seja possível fazer um retrato do tema.

A ideia é também mostrar que “estas coisas da justiça são intemporais e que os problemas que existiam em meados do século passado são os mesmos de agora”, refere Filipa Guadalupe.

De acordo com a responsável, nos anos 60 os regimes eram mais rígidos e as prisões eram organizadas de uma determinada maneira; no entanto, agora, com regimes democráticos, estes estabelecimentos continuam a ter problemas graves no que respeita a condições.

As películas são todas legendadas em inglês para chegar a um público o mais alargado possível e, à semelhança das edições anteriores, cada sessão conta com um convidado que se encarrega de, antes da projecção, fazer uma pequena apresentação do filme.

14 Jun 2017

Saúde | Inseminação artificial vai ter regime jurídico

A procriação medicamente assistida vai ser alvo de legislação. A intenção é estabelecer directrizes rigorosas que coloquem limites à actividade

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo vai legislar a actividade profissional no que respeita à procriação medicamente assistida. A informação foi dada ontem pelo director dos Serviços de Saúde de Macau (SSM), Lei Chin Ion, à comunicação social.

O assunto não é novo, mas voltou a estar na ordem do dia com a descoberta de mais três clínicas com actividade ilegal no território. “Temos de tomar medidas para impedir esta situação de serviços [na clandestinidade]”, disse o responsável, sendo que, ressalvou, “para ter um regime jurídico também é preciso tempo”.

Os trabalhos já estão em curso. “Agora estamos a fazer o documento com o apoio de juristas dos SSM, mas têm ainda de ser feitas alterações noutros diplomas que precisam de ser coordenados com este regime”.

Para Lei Chin Ion, a abertura deste tipo de actividade aos privados é uma matéria que tem de ser vista com muita cautela, até porque “há muitas questões morais e éticas a ter em conta e que podem prejudicar as pessoas”.

O director dos SSM admite que a procura deste serviço de forma ilegal se deve a uma lacuna na lei e, apesar de o novo regime estar em fase de preparação, considera importante colocar, desde já, algumas regras. “Antes de publicar um novo regime temos de pôr em prática algumas medidas e regras para regulamentar esta situação”, explicou. “Macau não tem tido uma regulamentação muito rigorosa acerca da reprodução medicamente assistida e depois do desenvolvimento de novas políticas as disposições vão mudar”, afirmou.

Em Maio do ano passado, foi criado um conjunto de instruções sobre a utilização das técnicas de inseminação artificial, que incluem a fertilização “in vitro” e a transferência de embriões, gâmetas ou zigotos.

No mês passado, foi publicado o despacho em Boletim Oficial, com efeitos imediatos, em que os profissionais e entidades que pretendam prestar cuidados de saúde com recurso a estas técnicas têm de solicitar autorização prévia aos SSM. É ainda proibida a utilização de técnicas de procriação medicamente assistida para escolher o sexo da criança, salvo para evitar graves doenças hereditárias, criar embriões humanos para fins de investigação, utilizar técnicas de clonagem para a reprodução de seres humanos, e comprar ou vender óvulos, sémen, ou outro material biológico decorrente do exercício desta actividade.

Serviços pagos

Sem data marcada e sem avanços específicos no que respeita aos conteúdos do regime que irá regular a actividade de reprodução medicamente assistida, uma coisa é certa: o serviço continuará a ser pago. “As crianças, os idosos e as mulheres grávidas constituem o grupo com serviços de saúde grátis. A prestação de cuidados de procriação medicamente assistida não vai ser gratuita”, sublinhou o director dos SSM.

O pagamento das despesas associadas a este tipo de intervenção vai continuar, como até agora, a ser suportado pelos residentes. Aqueles que se confrontam com a infertilidade terão de solicitar uma consulta no serviço de ginecologia. Feito o diagnóstico, é tempo de apurar as possíveis causas. Este momento é muito importante, afirma Lei Chin Ion, na medida em que “muitos dos casos podem ser tratados se as causas também o forem”. Conforme os meios disponíveis e as necessidades requeridas, os residentes podem ter os tratamentos em Macau ou serem encaminhados para Hong Kong.

As despesas não são acessíveis a todos e, mesmo não avançando com valores oficiais, Lei Chin Ion admite que “é muito caro”. “Ouvi dizer que pode chegar às centenas de milhares de dólares quando os pais querem, por exemplo, escolher o sexo das crianças”, apontou.

O responsável referiu ainda que “a procura deste serviço não é muita no território”, e se viesse a ser tratado enquanto serviço gratuito, poderia fazer com que “as pessoas não lhe dessem muito valor”.

13 Jun 2017

Português | UCCLA em Macau a convite do Governo

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma delegação da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) iniciou ontem uma visita a Macau, para encontros com entidades oficiais e empresariais com vista à dinamização da plataforma entre a China e o universo lusófono.

A visita de representantes da UCCLA, que decorre até amanhã, surge a convite do Governo, que integra a organização internacional, criada em 1985, e que reúne actualmente mais de 40 cidades dos países de língua portuguesa.

Macau “faz parte da UCCLA desde o princípio e a partir da altura em que a República Popular da China passou a considerar esta região administrativa especial como plataforma de relacionamento com os países de língua oficial portuguesa, obviamente que o interesse – quer de Macau, quer das demais cidades – cresceu na proporção dos objectivos”, afirmou o secretário-geral da UCCLA, Vítor Ramalho.

Neste sentido, “é natural que o Governo de Macau tenha feito este convite para a UCCLA vir cá oficialmente”, realçou à Lusa, apontando que, na perspectiva da organização, tal justifica-se com o “objectivo que a região administrativa especial tem de dinamizar, quer o Fórum Macau, quer o fundo criado [pela China] para apoiar os países de língua portuguesa”.

Neste âmbito, o secretário-geral da UCCLA sustentou ser “do interesse das cidades e dos países” perceber o enquadramento das condições em que as candidaturas ao fundo podem ser apresentadas e, “por intermédio” da sua concretização, “dinamizar as relações de natureza económica e cultural”.

O secretário-geral e o presidente da mesa da assembleia-geral da UCCLA, acompanhados pelo presidente da Associação Empresarial de Luanda, vão ser recebidos pelo Chefe do Executivo e reunir-se com representantes do Fundo e do Fórum Macau, do Instituto de Promoção do Comércio e de Investimento de Macau e do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais.

Estão também agendados encontros com empresários, incluindo com a antiga presidente da Assembleia Legislativa Susana Chou, cujo grupo “tem interesses económicos com o mundo lusófono”, bem como com o Banco da China em Macau, que “manifestou interesse em ter relações de aprofundamento” com a UCCLA.

13 Jun 2017

Pediatria | Centro de reabilitação infantil já está em funcionamento

Foi ontem inaugurado, na Areia Preta, o Centro de Reabilitação Pediátrica. O objectivo da unidade é dar resposta rápida e eficaz ao aumento da procura de tratamento de crianças com dificuldades de desenvolvimento

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]epois da avaliação, a reabilitação. Foi com esta ideia que foi inaugurado ontem o Centro de Reabilitação Pediátrica. O objectivo, apontou o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, é “a prestação de serviços de alta qualidade, eficientes e de tratamento precoce, a crianças com deficiências de desenvolvimento”.

A nova unidade de cuidados infantis vem completar o trabalho feito pelo Centro de Avaliação Conjunta Pediátrica, em funcionamento desde o ano passado. Com a criação do centro, ficaram disponíveis os serviços de avaliação de crianças com dificuldades de desenvolvimento até aos seis anos de idade.

De acordo com Alexis Tam, com a iniciativa, “o tempo de espera para avaliação era de nove meses a um ano e foi reduzido para uma média inferior a um mês”. Desde que entrou em funcionamento, adiantou o secretário, o Centro de Avaliação Conjunta Pediátrica já tratou cerca de mil casos.

Com uma avaliação mais rápida e um diagnóstico precoce das situações que precisam de acompanhamento e de um processo de reabilitação, que somam 70 por cento do total dos diagnósticos, aumentou a procura de tratamento. De acordo com Alexis Tam, “as áreas que mais precisam de intervenção são a terapia da fala, a terapia ocupacional e a terapia comportamental”.

A nova unidade de reabilitação poderá realizar cerca de sete mil atendimentos por ano e, desta forma, “reduzir significativamente o tempo de espera das crianças para o devido tratamento após avaliação”.

Recursos integrados

Para dar resposta ao cada vez maior número de casos que necessitam de tratamento, o Executivo pretende proceder ao aumento das equipas especializadas. Para o efeito, já está em curso a contratação de profissionais. Paralelamente, disse o secretário, vai ser aumentado o número de consultas externas de reabilitação.

A criação de um mecanismo central de serviços integrados também está na calha. A ideia é criar uma estrutura que integre os serviços envolvidos que, de modo coordenado, distribua os recursos para a intervenção precoce. Estão envolvidos os Serviços de Saúde, a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude e o Instituto de Acção Social.

Foi também ontem activada a página virtual “Centro de Avaliação Conjunta Pediátrica”. Pretende-se que todos possam ter acesso a informação acerca da matéria.

UNESCO não fez advertência, diz Alexis Tam

Alexis Tam sublinhou ontem a importância do contributo de todos os residentes quando se fala de património. Em declarações à margem da inauguração do Centro de Reabilitação Pediátrica, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura salientou ainda a prioridade que deve ser dada pelo Governo à conservação e manutenção da “propriedade patrimonial”. O governante reiterou o empenho do Executivo em elaborar o plano de salvaguarda e gestão do centro histórico de Macau até “antes do final de 2018”. Para Alexis Tam, o aviso da UNESCO não foi uma “advertência”, visto que a entidade tem estado a par dos trabalhos realizados. “O Governo da RAEM vai fazer a segunda consulta pública relativamente a esta matéria e a UNESCO sabe disso, pelo que disse que irá receber este plano até ao final de 2018”, disse. Tam voltou a referir que a demora do processo teve origem na sua complexidade. “Há muitas questões que levaram à demora: temos de ouvir as opiniões dos interessados, dos negociantes e da população, e depois para chegar a um consenso é ainda mais difícil.”

13 Jun 2017