Sofia Margarida Mota PolíticaConcluída proposta de revisão do regulamento contra incêndios [dropcap]A[/dropcap] proposta de alteração do regulamento de segurança contra incêndios está finalizada. A informação foi dada pelo gabinete do secretário para a Segurança em resposta a uma interpelação do deputado Lei Chan U. “Os trabalhos de alteração ao regulamento de segurança contra incêndios estão a cargo da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) que tem trabalhado em colaboração com o Corpo de Bombeiros e, de acordo com informação prestada pela DSSOPT, a proposta de alteração está concluída e está em fase de apreciação no Conselho Executivo”, refere o gabinete. O Gabinete para a Segurança responde desta forma a Lei Chan U, que em Junho questionava o Executivo acerca da actualização do regulamento de segurança contra incêndios. De acordo com o deputado, o regulamento “entrou em vigor há mais de 20 anos e algumas das disposições já não se adequam à realidade, carecendo por isso de revisão”. O deputado queixava-se ainda que no passado mês de Março, as autoridades já tinham referido que o texto da proposta da revisão regulamentar “estava prestes a acabar, e que o mesmo ia ser enviado para os serviços competentes”. No entanto, até Junho, data da interpelação, ainda não havia conhecimento de nenhum plano legislativo sobre a referida proposta. Lei quis averiguar o ponto da situação do processo legislativo porque considera que é cada vez mais difícil o combate a incêndios em Macau dada a elevada altura dos prédios e a facto de não estarem equipados devidamente para responder a fogos. Alturas perigosas O deputado deu como exemplo dois incêndios no território em que, “devido à avaria dos elevadores, os bombeiros tiveram que carregar os equipamentos às costas e subir pelas escadas até ao 19º e ao 29º andar”, pelo que “muitos deles já estavam sem forças antes de iniciarem o combate às chamas, o que afectou gravemente as operações de salvamento”. Por outro lado, as escadas dos bombeiros não tinham altura para chegar às fracções onde os fogos deflagraram. Para Lei Chan U, estes dois sinistros demonstram “a desactualização das leis e diplomas vigentes relacionados com os equipamentos e elevadores e suscitam a atenção da sociedade sobre a segurança contra incêndios nos edifícios mais altos”.
Sofia Margarida Mota SociedadeTaxistas querem formação para substituir multas Aulas de mandarim, de inglês e de boas maneiras são uma boa alternativa às multas em caso de infracção. A ideia foi deixada ontem pelos representantes do sector dos táxis, na reunião que tiveram com os deputados da 3ª Comissão Permanente onde a proposta de lei que vai regular o sector está a ser analisada na especialidade [dropcap]O[/dropcap]s motoristas de táxi sugerem a substituição das multas aplicadas em caso de infracção por acções de formação que contemplem a aprendizagem de línguas e de boas maneiras. A sugestão foi transmitida ontem pelo presidente da 3º Comissão Permanente, Vong Hin Fai depois de uma reunião com representantes dos motoristas. A reunião de ontem, a última da comissão antes da emissão de um parecer, ocorreu na sequência de uma carta entregue em Junho pelos representantes do sector, onde expressavam as suas opiniões acerca do regime que está em análise na especialidade, na Assembleia Legislativa (AL). Para os taxistas, a aplicação de multas não vai resolver os problemas existentes no sector, disse o presidente da comissão. Por isso, “a solução passa pela formação obrigatória a que um taxista infractor deve ser sujeito para aprender línguas como o mandarim e o inglês e também para aprender boas maneiras”, apontou, sendo que esta será uma forma dos infractores “aprenderem a executar melhor as suas funções”, acrescentou, referindo-se à opinião expressa pelos representantes do sector. As formações devem ainda ser promovidas e organizadas pelo Governo, consideram os condutores. Os taxistas esclareceram ainda que, nestes casos, o condutor infractor ficaria com a carta suspensa durante o período de um mês de modo a frequentar a formação. Para os profissionais, e mesmo depois do retrocesso na decisão do Governo no que respeitava ao aumento das multas, as sanções em caso de infracção, continuam a ter valores demasiado elevados. Som e imagem Apesar do Executivo considerar na proposta de lei em análise que a gravação de som para obtenção de prova em caso de infração é suficiente, os condutores revelaram à comissão que aprovam a introdução da gravação de imagem dentro dos veículos. “Os representantes dos taxistas concordam com a gravação de som e imagem porque a imagem permite uma melhor obtenção de prova para apuramento de factos e a gravação apenas de som pode não ser suficiente”, referiu Vong Hin Fai. Para já, o Governo não mostrou ainda intenção de avançar com a gravação de imagem dentro dos táxis. Outra das preocupações demonstradas ontem pelos representantes dos condutores tem que ver com a falta de lugares para descanso dos motoristas. “Trabalham cerca de 12 horas por dia, com duas horas para almoço e durante o serviço não têm onde estacionar para que possam ter uns minutos de descanso”, apontou Vong Hin Fai. A este respeito, acrescentou, o Governo tenciona criar mais lugares onde os taxistas possam estacionar sem ter que recorrer aos postos de gasolina para o fazer, como tem acontecido até agora. “O Governo comprometeu-se a criar mais locais de estacionamento para descanso dos condutores”, afirmou Vong Hin Fai.
Sofia Margarida Mota SociedadeSurf Hong | Empresa pode ser multada em 10 milhões de patacas Dez milhões de patacas pode ser o valor mínimo de multa aplicada à Surf Hong por irregularidades laborais com os nadadores salvadores, revelou o presidente do Instituto do Desporto Pun Weng Kun [dropcap]A[/dropcap] Surf Hong pode ter que pagar uma multa de um mínimo de dez milhões de patacas na sequência de irregularidades contratuais cometidas com os nadadores salvadores e que levaram ao encerramento das piscinas locais no passado mês de Agosto. A informação foi dada pelo presidente do Instituto do Desporto (ID), Pun Weng Kun, ao jornal Ou Mun. O responsável pelo ID afirmou à mesma fonte que a adjudicação dos contratos das piscinas é feita através de concurso público, mas admitiu que na maioria das vezes apenas a Surf Hong apresentava os requisitos necessários para desempenhar funções. Por outro lado, apontou, esta empresa foi, por vezes, a única que se candidatou. Com os problemas que se registaram este ano e que levaram à greve de 24 nadadores salvadores e ao consequente encerramentos das piscinas de Macau, Pun Weng Kun espera que mais empresas mostrem interesse em assumir o funcionamento daqueles espaços e venham a apresentar as respectivas candidaturas nos próximos concursos públicos. Por outro lado, o director do ID nega que a Surf Hong detenha o monopólio deste serviço, até porque, afirmou, “nos últimos dez anos o Governo tem formado nadadores-salvadores e apesar de muitas pessoas conseguirem obter o certificado, nenhuma parece querer dedicar-se a trabalhar no sector”, refere ao Jornal do Cidadão. Multa de tostões O deputado Sulu Sou, que mostrou o seu apoio aos profissionais em greve, confessou que o valor de 10 milhões de patacas é pouco para uma empresa que recebeu mais de 100 milhões de patacas pelo serviço que lhe tem sido adjudicado ao longo dos anos. A opinião foi dada através de uma publicação no facebook do deputado em que o pró-democrata lamenta ainda que a investigação à Surf Hong por parte da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) tenha sido lenta, dado o incumprimento, mais uma vez da empresa, em apresentar os documentos exigidos a seu tempo. Este atraso fez ainda com que 18 nadadores profissionais que se manifestaram em Outubro mais uma vez, tivessem sido despedidos.
Sofia Margarida Mota PolíticaElla Lei pede acompanhamento na sequência de roubo de dados de passageiros da Cathay Pacific [dropcap]E[/dropcap]lla Lei quer saber como o Governo de Macau está a acompanhar o caso do acesso indevido a dados pessoais de cerca 9,4 milhões de passageiros da Cathay Pacific. A deputada do universo da FAOM quer ainda saber se o Executivo tomou alguma medida junto das autoridades de Hong Kong de modo a perceber se foram roubadas informações de residentes de Macau, revela em interpelação escrita. Em causa está o ataque informático que a operadora aérea de Hong Kong sofreu em Março, uma operação à margem da lei em que hackers conseguiram aceder a informação pessoal e confidencial de mais de 9 milhões de clientes da companhia aérea. Também a subsidiária Dragon Airlines foi afectada pelo ataque informático O caso foi dado a conhecer publicamente no final do mês passado. Entre a informação “sensível” que os piratas informáticos tiveram acesso estão nomes completos de passageiros, nacionalidades, datas de nascimento, números de telefone, emails, endereços residenciais, números de cartão de identidade, detalhes de atendimento ao cliente e históricos de voos. A transportadora revelou ainda que os responsáveis pelo ataque acederam a 403 números de cartão de crédito, entre os quais 376 tinham o código de segurança associado. Os piratas ficaram também com acesso a 860 mil números de passaportes e 245 mil cartões de residente de Hong Kong. Informação tardia De acordo com o site de noticias especializadas em tecnologia Tecmundo, a companhia aérea admitiu que o sistema registou uma actividade suspeita em Março deste ano. Como tal, a transportadora aérea contratou uma empresa de cibersegurança para perceber como o ataque tinha ocorrido e de que maneira poderia prevenir a repetição de acontecimentos similares. Só dois meses depois, em Maio, a Cathay Pacific descobriu que os criminosos tinham acedido aos dados pessoais de cerca de 9,4 milhões de passageiros. Para já, ainda se desconhece em que termos a companhia aérea de Hong Kong alertou os clientes para a situação ocorrida, mas informou que irá informar os lesados através de email. Neste sentido, Ella Lei não só quer saber o que está a ser feito para acompanhar os residentes eventualmente lesados, como questiona o Governo acerca do que está estabelecido legalmente sobre os prazos de notificação dos lesados neste tipo de situações. Para a deputada esta questão não está prevista na actual lei sobre os dados pessoais, como tal apela à sua revisão. Em comunicado, o CEO da Cathay Pacific, Rupert Hogg, pediu desculpas pelo sucedido. “Agimos imediatamente para conter a ocorrência, iniciámos uma investigação com a assistência de uma reputada firma cibersegurança e fortalecemos a protecção dos dados”, lê-se no comunicado assinado por Rupert Hogg.
Sofia Margarida Mota Manchete PolíticaCaso Mong Há | Accionista é director de associação que tem primos Chui como membros O Sr. Long Kuok Keong Ligado a oito empresas, Long é o homem que assinou duas propostas no concurso de atribuição das obras da habitação social de Mong Há e que fez com que o processo fosse declarado ilegal. As suas empresas cooperam regularmente com companhias estatais chinesas, e Long é ainda membro do Comité Municipal de Qingyuan da CCPPC [dropcap]L[/dropcap]ong Kuok Keong é o empresário que está na origem da declaração de ilegalidade do concurso público de adjudicação das obras de construção de habitação social e do Pavilhão Desportivo de Mong Há, devido a práticas “susceptíveis de falsear as condições normais de concorrência”. Nascido na província de Cantão, Long veio para Macau na década de 80, na altura, vindo de Hainão, e dedicou-se ao ramo da construção. O facto de ser accionista de duas empresas, a Long Cheong e a Shing Lung, que apresentaram propostas diferentes para as obras em apreço, foi o motivo para os tribunais declararem o concurso público do Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estrututras ilegal. Segundo a informação consultada pelo HM, Long Kuok Keong fundou a Companhia de Construção & Engenharia Shing Lung, a 16 de Setembro de 1996, com um capital social de 200 mil patacas. Desde o início, tem como sócia a esposa, Lei Mui, cada um com 50 por cento do capital da empresa. Em relação à Long Cheong, fundada em 2003 com um capital social de 100 mil patacas, Long Kuok Keong ficou detentor de 51 por cento da empresa e o outro sócio, Ieong Pun Chio, residente do Interior da China, com 49 por cento. Em 2009, Long vendeu os 51 por cento a uma accionista com o nome Chang Ngan Kun, saindo da empresa. Contudo, em 2013, adquiriu os 49 por cento do seu parceiro inicial, Ieong Pun Chio, percentagem que ainda detém actualmente, e voltou a ser um dos principais accionistas. O concurso público para a atribuição das obras em Mong Há foi vencido pela Shing Lung, que participou num consórcio com a Companhia de Construção de Obras Portuárias Zheng Hwa. A proposta teve um valor de 1,78 mil milhões de patacas e a conclusão ficou prometida para 1336 dias após o início da obra, argumentos suficientes para convencerem o júri do GDI. Por sua vez, a Long Cheong participou com a Companhia de Construção Cheong Kong no concurso, para o qual apresentou uma proposta no valor de 1,795 mil milhões de patacas e o compromisso de finalizar os trabalhos em 1300 dias. Ontem, o HM tentou perceber as razões que levaram Long Kuok Keong a apresentar duas propostas diferentes, mas o empresário não se encontrava no seu escritório. Com os primos Chui Long Kuok Keong chegou a Macau com 22 anos em 1980. É um dos directores da Associação de Construtores Civis e Empresas de Fomento Predial de Macau, presidida por Paul Tsé e, segundo o portal oficial, conta nos órgãos sociais com deputados como Chui Sai Cheong, Chui Sai Peng e os ex-deputados Fong Chi Keong e Tommy Lau. Ainda no âmbito das actividades empresariais, Long disse ao portal do Comité Municipal de Qingyuan da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês – do qual é membro – que está envolvido em oito empresas. Às duas que participaram no concurso público para as obras de Mong Há, juntam-se, segundo o HM apurou, a Houtai Wah Keong Construction & Engineering Company e Veng Cheong. As companhias de Long têm cooperado frequentemente com as empresas estatais China State Construction Engineering, China Harbour Engineering Company e China Railway Construction Corportation. Além das oito empresas, de acordo com a informação que consta no portal do Comité Municipal de Qingyuan, Long é ainda membro da Associação dos Naturais de Cheng Un de Macau, que presidiu durante mais de 10 anos. Cheng Un é o nome em cantonense para Qingyuan, a versão do nome da cidade em mandarim. A associação tem mais de 100 membros em Macau e é também presença habitual na Marcha Por Um Milhão, evento de solidariedade organizado pelo jornal Ou Mun. No que diz respeito às suas actividades no Interior da China, Long Kuok Keong é membro do Comité Municipal de Qingyuan da CCPPC, assim como do Comité Municipal de Yingde, cidade de onde é natural, ambas na Província de Cantão. Escolha mais cara O concurso do GDI foi considerado inválido na semana passada, depois de ter sido lançado a 4 de Agosto de 2016 e ter terminado a 22 de Setembro do mesmo ano. Entre os critérios para a escolha do vencedor constavam: preço da obra (48 por cento), prazo de execução (12 por cento), plano de trabalhos (18 por cento) e experiência e qualidade em obras (22 por cento). No total, concorreram sete propostas, duas consideradas inválidas logo no dia da abertura do concurso. A escolha do GDI acabou por cair sobre o consórcio Companhia de Construção de Obras Portuárias Zheng Hwa/Companhia de Construção e Engenharia Shing Lung, que prometeu a conclusão do projecto dentro de 1336 dias, data que deve ser alcançada em Setembro de 2021. Segundo o portal do GDI, os trabalhos arrancaram em Março de 2017. “Estas propostas deviam ter sido rejeitadas, e também quero reforçar isso, não devido a questão de natureza técnica, mas de natureza legal. Há pelo menos esta diferença substancial.” Raimundo do Rosário No entanto, havia duas propostas mais baratas que a vencedora e que também tinham um prazo de conclusão mais reduzido. Por exemplo, a Companhia de Engenharia e de Construção de China (Macau) apresentou um preço de 1,66 mil milhões de patacas e um prazo de 980 dias. Já o consórcio Grupo de Construções Top e Top Builders Internacional fez uma proposta com um preço de 1,75 mil milhões e um prazo de 1265 dias. Ambas propostas preteridas apresentaram preços e durações mais reduzidas. Após a decisão, o caso foi para tribunal, devido à contestação do consórcio Grupo de Construções Top e Top Builders Internacional. Na primeira decisão, o Tribunal de Segunda Instância (TSI) decidiu contra o Governo. O Chefe do Executivo levou o caso para o Tribunal de Última Instância (TUI), e o Governo voltou a sofrer nova derrota, devido ao facto de ter aceitado duas propostas com o mesmo accionista, o que pode ser encarado como uma manipulação do princípio de concorrência. Também por esta razão, apesar do recurso ter sido do Chefe do Executivo, as custas do processo foram imputadas às duas empresas ligadas a Long Kuok Cheong. Questões jurídicas No final da sessão plenária de ontem, o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, abordou o caso. Desde que está no cargo, esta é a segunda vez que os resultados de um concurso público são considerados ilegais, depois do caso da adjudicação do contrato de construção do Parque de Materiais e Oficinas do Metro Ligeiro. Na altura, o Governo enganou-se nas contas e atribuiu a obra ao candidato que deveria ter ficado em segundo lugar. A decisão do TUI no caso mais recente foi revelada na terça-feira, minutos depois de Raimundo do Rosário ter pedido desculpa na Assembleia Legislativa devido ao primeiro erro. Porém, ontem o discurso seguiu uma outra linha, com o secretário a dizer que não estava completamente informado sobre o episódio, apesar da decisão ter sido tomada na semana passada. “Há aqui uma coisa que é substancialmente diferente. Enquanto na questão do metro, e ontem [na terça-feira] pedi desculpa por isso, a avaliação de propostas foi um erro técnico. Desta vez, o problema não está na avaliação das propostas, mas sim no facto da decisão do TUI ter considerado que, na altura da abertura das propostas, havia duas que deviam ter sido rejeitadas e que não foram”, disse o secretário. “Estas propostas deviam ter sido rejeitadas, e também quero reforçar isso, não devido a questão de natureza técnica, mas de natureza legal. Há pelo menos esta diferença substancial”, frisou, sem avançar mais explicações. Também ontem, o HM pediu esclarecimentos sobre o caso ao Chefe do Executivo, através dos porta-vozes do Governo, que se limitou a dizer que “não tem nada a declarar sobre a decisão judicial”. Por sua vez, o GDI não enviou qualquer resposta e manteve-se incontactável, horas depois do pedido de informações.
Sofia Margarida Mota EntrevistaRosa Coutinho Cabral, cineasta: “Renasci muita coisa pelo caminho” A cineasta Rosa Coutinho Cabral está em Macau para apresentar o filme “Pé San Ié – O poeta de Macau”, um ensaio visual sobre o exílio de Camilo Pessanha, que será exibido na Cinemateca Paixão na segunda-feira, às 18h. Este é o culminar de um processo de encontros e desencontros com a fantasmagoria do poeta e da cidade onde morreu [dropcap]E[/dropcap]stá em Macau para apresentar o filme sobre o Camilo Pessanha. Porquê este poeta? A génese da minha ligação a este poeta extraordinário tem uma pequena história. Aliás, todas a minhas ligações têm uma história, quer seja na vida, na literatura ou no cinema. A génese desta ligação com o Pessanha começou muito cedo, quando eu era miúda. Estava ainda nos Açores e teria menos de 13 anos. Descobri um dia um livro na casa de alguém, comecei a ler, adorei, pedi emprestado, não me lembro se por não ter dinheiro para o comprar ou porque não estaria à venda ali em São Miguel. Mas li Pessanha e como todos os adolescentes, também tinha a pulsão da escrita e acabei por “roubar” palavras a este poeta. Tudo isto está no filme. O mais importante é o que aprendemos acerca de nós próprios em todo o processo. Ficamos a conhecermo-nos melhor através de um conhecimento que nos é exterior. Um conhecimento de alguma forma projectado? Não sei se é projectado mas acho que é uma boa palavra, ainda não tinha pensado nela. Mas, sobretudo, quando uma peça acaba, quando terminamos de realizar uma coisa com toda a alegria e sofrimento que lhe é intrínseco, na verdade o que fica de mais importante é o que se conhece acerca de nós através dessa tal exterioridade, projectada ou não, e que neste caso tinha o nome de Camilo Pessanha de Macau. O que fica também é uma ligação, que vou adjectivar de superlativa, a ligação que tive com os outros, comigo e com o objecto do filme, o Pessanha, e como estas várias ligações me trazem até aqui. Não morri pelo caminho. Morri muita coisa, toda gente morre muita coisa pelo caminho, mas também renasci muita coisa pelo caminho. Isto só acontece se houver uma ligação forte com o que se faz. Como foi o processo para fazer este filme? Acho que tive o privilégio absolutamente extraordinário de trabalhar com pessoas com quem gostei muito de trabalhar. Umas já conhecia, outras não. Já conhecia o João Cabral, que é meu irmão e quem diz os poemas no filme. Há uma matéria no filme que é a própria poesia do Pessanha. Já conhecia o Pedro Cardeira, aqui de Macau, de um outro filme que tinha feito. O filme não é só meu. São matérias que têm uma ligação muito profunda com cada sujeito que as produz e que, por sorte, se encontraram neste filme e congeminaram qualquer coisa que acho que tem interesse. Também tenho que referir o José Carlos Pontes que fez a música e que, além disso, acompanhou todo o processo de acabamento do filme. Foi o grande apoio do fechar do filme e sem o qual seria impossível terminar este filme. Além destas pessoas que conhecia há duas novidades grandes: a Susana Gomes, que fez a fotografia, e o Carlos Morais José. E acho que o encontro com o Carlos Morais José é muito importante no próprio processo do filme. Este acto de fazer um filme, ou outra coisa, fica sempre marcado pelos encontros. FOTO: Sofia Margarida Mota Da mesma forma que se reencontrou com a primeira leitura… Na realidade, quando era miúda e descobri o Pessanha percebi que aquelas palavras na poesia eram fundamentais. Eu era uma adolescente, mas talvez também sentisse a dificuldade que é viver neste mundo. Mas acabei por esquecer o Pessanha. Um dia, aqui em Macau, o Rodrigo Guimarães pergunta-me porque é que eu não fazia um filme sobre o Pessanha. Na viagem de regresso a Lisboa o Daniel Pires faz-me a mesma pergunta. Reli o Pessanha e achei que era isso mesmo que queria fazer. Regressei a Macau e comecei a trabalhar com a Susana. Nessa altura, conheci o Carlos Morais José. Ouvi-o falar de Pessanha e pedi quase imediatamente se o podia filmar numa espécie de repérage ainda. Fiquei com a sensação de que aquela pessoa tinha que ver com o âmago deste projecto, no sentido da parte em que queria fazer um documentário ficcionado e não só um filme institucional com entrevistas. Fiquei com um duplo problema porque a partir daí percebi que estava dirigida para dois objectos: um para o documentário e o outro que era o filme. Tinha de fazer os dois e assim fiz, num tempo recorde. Durante ano e meio filmámos e montámos o filme. Não é a primeira vez que filma em Macau. Qual é a sua relação com o território? Já conhecia Macau. Já cá tinha filmado. Tive a sorte de o fazer com o Manuel Vicente. Adoro Macau. Há sempre coisas muito estranhas na vida e às quais eu não espero dar nenhuma explicação. Macau é uma destas cidades que produz em mim uma atracção muito forte e que esteja talvez no capítulo das pequenas ou das grandes paixões. Como todas as atracções tem os seus momentos de ódio, repúdio. Mas há qualquer coisa muito profunda que me liga a Macau, embora eu tenha cá chegado já bastante tarde até porque já não sou nova. Mas, de facto, não conheci Macau jovem nem com um olhar quase adolescente. Nada disso. Acho que conheci Macau com o olhar de quem está a entrar no envelhecimento. É uma cidade que tem diversas escala. É uma cidade aparentemente desordenada, cheia de contrastes de épocas, do antigo e do muito velho, que são coisas diferentes ao muito novo e ao muito actual. Estas diferenças agradam-me muito e produzem de um ponto de vista urbano uma espécie de desorientação muito divertida. É quase o que podemos encontrar em grandes metrópoles, porque tudo é abrangente pelo olhar mas é tudo muito diferente. Também gosto muito de estar num sítio com pessoas diferentes e Macau é a diferença por excelência. Há ainda outra questão. Sou açoriana e há uma humidade em Macau que adoro. Sinto-me absolutamente em casa. Outra coisa interessante é que da última vez que saí de Macau senti uma coisa muito especial: senti que me estava a ir embora e não que estava a regressar ao meu lugar a Lisboa. Sinto que me estava a ir embora do meu lugar e agora, quando cheguei, senti que estava a regressar a Macau o que é uma coisa estranha. O filme foi apresentado no DocLisboa. Como foi a reacção do público? Da crítica não sei, porque foi há muito pouco tempo. As outras reacções foram de boca a boca, do público que lá estava e que pelo que disseram gostaram muito. O filme é um objecto estranho. Não é um objecto que se diga tradicional. Aqueles que conheciam Macau gostaram da forma como viram a cidade e como filmei Macau. Fico contente com isso, fico orgulhosa por ter correspondido a qualquer coisa que as pessoas esperavam ver e ficaram muito admiradas com uma pessoa como o Carlos Morais José. Aliás, perguntaram-me onde encontrei este actor, esta pessoa, quem é ele, de onde vem. A relação entre os nossos dois discursos presentes no filme corre muito bem, interage muito bem. Eu dediquei-me a falar de cinema e não do Camilo Pessanha e esta relação com uma pessoa que está ali e fala do Camilo Pessanha. Ao mesmo tempo prestou-se generosamente ao jogo e à encenação do que eu queria fazer para poder filmar o morto. Não foi um desafio fácil, ele aceitou o desafio e fê-lo magistralmente. “Aproximar da morte, de algum modo, aproximar da fantasmagoria e, sobretudo, não querer tornar presente aquilo que está ausente no sentido da carne. Ele não está cá, há outras coisas que podem estar.” Porque é que este filme é um objecto estranho? Só posso falar da estranheza do objecto, ou da forma como fiz o filme pensando no filme acabado. Esta é uma circunstância nova. É estranho porque a tal ligação que tive com este Camilo Pessanha foi um encontro muito profundo, especialmente, por razões próprias com a dor. Tinha de chegar aí e tinha de trabalhar esta ligação de uma forma que se convertesse cinematograficamente. Essa ligação tinha de ser uma faca afiada, profunda, até ao fim do mundo. Finalmente, tinha de me colocar a mim própria, pela primeira vez num filme feito por mim, ensaiar numa experiência quase repetitiva este acto de me aproximar de alguém que não está cá. Aproximar da morte, de algum modo, aproximar da fantasmagoria e, sobretudo, não querer tornar presente aquilo que está ausente no sentido da carne. Ele não está cá, há outras coisas que podem estar. Isso era um grande desafio e torna imediatamente o objecto deste filme num objecto estranho. Depois há o modo de fazer, como é que se faz isso? São as questões que coloco no filme. Como faço e experimento isso? Acho que o cinema é, acima de tudo, um acto de experimentar que deve ser feito com a maior honestidade possível. Acho que ninguém faz tudo o que quer, mas acho que me aproximei o quanto baste para me sentir bem. Uma pessoa experimenta e eu experimentei o espaço por forma a decantar essa presença do Camilo Pessanha nesta cidade e a cidade Macau de Caminho Pessanha. FOTO: Sofia Margarida Mota Teve uma experiência semelhante, mas com uma pessoa viva. Manuel Vicente. Foi muito diferente? A diferença reside num ponto muito simples. A vida e a morte. O Manuel Vicente veio a Macau pela última vez comigo. Ele próprio diz, a dada altura no filme, “sei lá se volto a Macau”. Eu acho que ele sabia que não voltava, intuía. Acho que aquele filme foi uma despedida do Manuel Vicente a Macau. Era a Macau de Manuel Vicente. Eu gosto muito de cidades, e a forma como se vive e usa a cidade. Portanto, o Manuel Vicente deu-me uma perspectiva de Macau mas com aquela diferente, ele estava vivo, tinha carne e osso. E o Camilo Pessanha não tinha carne nem osso. Esta realidade de trabalhar atrás de um fantasma, atrás da morte, foi uma coisa muito profunda para mim e foi aquilo que tentei descobrir cinematograficamente. Acha que este filme é mais seu que os outros? É. Duas ou três pessoas que me conhecem há muito tempo disseram-me que este é o meu melhor filme. Não sou um cineasta VIP, fiz pouca coisa e não estou na boca do mundo. Não faço parte do mainstream e também nunca quis fazer. Sempre tentei fazer o que queria e acho que, finalmente, comecei a ter essa possibilidade. Quero contar coisas que tenham uma certa universalidade no fim, o Camilo Pessanha é importante porque a dor dele tem uma certa universalidade, a dor da humanidade, a dor dos desvalidos da sorte. Imagino que nem toda a gente goste, ou que um número muito reduzido de pessoas goste, não me importo, mas estou-me a aproximar cada vez mais do que quero fazer. Por outro lado, é um filme que também foi buscar à própria natureza do Camilo Pessanha, à sua forma de fazer. De algum modo, é um ensaio que se divide em quatro e esses quatro ensaios estão constantemente a recomeçar e a matar o anterior. Ou seja, é uma reinscrição ao jeito de Pessanha. A sua procura da eterna perfeição que ele tentou fazer reescrevendo os seus poemas, por vezes deixando de escrever. Mas, como o Carlos diz no filme, um poeta é sempre um poeta, mesmo que deixe de escrever. https://www.youtube.com/watch?v=4gtrcRBHs3E
Sofia Margarida Mota PolíticaPortas do Cerco | Terminal entra em funcionamento antes do Natal Raimundo do Rosário confirmou ontem que o terminal de autocarros das Portas do Cerco vai entrar em funcionamento na altura do Natal para que no Ano Novo Chinês possa estar a funcionar em pleno. O secretário para os Transportes e Obras Públicas adiantou ainda que as 24 carreiras que funcionavam ali antes do seu encerramento vão ser reduzidas [dropcap]A[/dropcap]s obras no terminal subterrâneo de autocarros das Portas do Cerco vão estar finalizadas perto do Natal, altura em que a estrutura deverá entrar em funcionamento. A informação foi dada, ontem, pelo secretário para os Transportes e Obras públicas, Raimundo do Rosário, durante a reunião plenária da Assembleia Legislativa (AL). “No Natal devemos abrir o terminal, mas as infraestruturas quando começam a entrar em funcionamento têm sempre acertos a ser feitos”, disse, sendo que só na altura do ano novo chinês é que o terminal de autocarros daquela zona deverá estar a funcionar em pleno. “Por outro lado, no ano novo chinês vem muita gente e portanto vamos aproveitar o período entre o Natal e o ano novo para acertar essas pequenas coisas de modo a que, no ano novo chinês, o terminal esteja a funcionar normalmente e em pleno”, acrescentou. O terminal das Portas do Cerco está fechado desde Agosto do ano passado depois de ter sofrido danos com a passagem do tufão Hato e a entrada em funcionamento estava prevista para o ano que vem. O secretário adiantou que as obras no terminal vão custar no total, 141 milhões de patacas. “No ano novo chinês vem muita gente e portanto vamos aproveitar o período entre o Natal e o ano novo para acertar essas pequenas coisas de modo a que, no ano novo chinês, o terminal esteja a funcionar normalmente e em pleno” Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras públicas O debate de ontem foi pedido pelo deputado Sulu Sou, há mais de um ano, para discutir se valeria a pena continuar com as obras de reparação do terminal ou avançar já para um planeamento geral do posto fronteiriço das Portas do Cerco tendo em conta o desenvolvimento de um centro modal de transportes. Sulu Sou admitiu que este debate já é tardio, no entanto, considera ainda pertinente saber do ponto da situação do estudo que o Governo levou a cabo entre 2012 e 2014 que visava a construção do centro modal de transportes. Males que vêm por bem Raimundo do Rosário admitiu que o relatório em causa já está desactualizado e “ainda bem”, tendo em conta a lição dada com a passagem do Hato. O relatório, apresentado em 2014, apontava para a construção de um terminal com quatro pisos subterrâneos e uma profundidade subterrânea de 27 metros. “Com as inundações causadas pelo Hato, verificamos que não podemos fazer uma estrutura assim e que a próxima terá no máximo dois pisos subterrâneos”, apontou o secretário. Rosário avançou ainda que está em curso um novo estudo há dois meses para tratar desta matéria. Menos carreiras Entretanto, com a entrada em funcionamento do terminal as carreiras serão menos do que as 24 que anteriormente ali circulavam, adiantou Raimundo do Rosário. Para já, o secretário não adiantou quais as carreiras que vão continuar no terminal e quais as que vão estar dispersas. “Não posso aqui dizer quais as carreiras que voltam ao terminal e temos que respeitar o conselho consultivo para os assuntos de trafego”, disse, sendo que “as empresas de autocarros vão ter a sua opinião, bem como os cidadãos e os donos de lojas e vamos ter uma solução para ir de encontro a todos esses interesses e opiniões”, acrescentou. Ainda a este respeito, o deputado Ip Sio Kai revelou que a população estava satisfeita com a dispersão de autocarros que teve que ser feita com o fecho do terminal, e questionou mesmo se valia a pena avançar para um posto modal de transportes naquela zona. “Nos últimos tempos ouvi dizer que o desvio das carreiras de autocarros melhorou os negócios e que há mais visitantes e pessoas a circular”, apontou.
Sofia Margarida Mota EntrevistaChan Weng Hon fotografou os refugiados do Vietname em Macau Entre 1977 e 1991 chegaram a Macau milhares de refugiados do Vietname. Em 1981, durante mais de um mês, todos os dias, o fotojornalista Chan Weng Hon foi fotografar estas pessoas e o seu dia a dia. A exposição “Boat People”, patente até 14 de Novembro na Galeria 1844, conta esta história em 42 imagens [dropcap]C[/dropcap]omo nasceu esta exposição? A maioria das imagens foi tirada em 1981. Na altura trabalhava no Jornal Tai Chung Pou. O Governo de Macau aceitou abrigar os vietnamitas que fugiam da guerra. Estes refugiados queriam primeiro chegar a Macau ou a Hong Kong para depois poderem ir para outros sítios como os Estados Unidos ou Inglaterra, por exemplo. As pessoas chegavam a Macau todos os dias, em barcos muito pequenos completamente cheios. Vinham à procura de um abrigo temporário. Recordo que no início ainda não existia nenhum abrigo para as acolher, pelo que acabavam a monte numa espécie de campo, onde o barco as deixava, na Taipa. Mas acabou por se arranjar três locais para instalar estas pessoas: na Ilha Verde, na Taipa e em Ka Ho. Estamos a falar de pessoas que chegavam sem nada. Todos os dias, durante mais de um mês, apanhava o autocarro para a Taipa para poder tirar fotografias. Como era a chegada destas pessoas a Macau? Acho que ao princípio estas pessoas só pensavam numa forma de poder ir de Macau para outro sítio. Penso que não era a sua intenção cá ficarem e encaravam a vinda para Macau como temporária. Por outro lado sentiam-se seguras por ter aqui um local onde estar enquanto não podiam ir para mais lado nenhum. Penso que a sensação era também de alívio porque sabiam que já não tinham que se preocupar muito mais. À chegada, mal saíam do barco passavam por uma inspecção. O objectivo das autoridades era verificar se ninguém transportava nada perigoso, especialmente armas como pistolas ou facas. FOTO: Sofia Margarida Mota Que impressão ficou desta altura e destas pessoas? Muitas vezes quando as pessoas fogem para outros países acabam por se isolar e às vezes criam problemas e envolvem-se em conflitos. Mas neste caso nada disso aconteceu. A sensação que ainda hoje tenho e que me marcou foi a de chegada de famílias inteiras em condições muito precárias e que só queriam estar num ambiente de calma e de paz e era isso que transmitiam também. Tinha algum contacto com eles? Não. O meu trabalho era ir ali, todos os dias, e fotografar. Uma vez com as fotografias tiradas tratava de imediato de ir para o jornal para as passar aos meus colegas que escreviam para acompanharem os seus artigos. Qual é a sua imagem favorita? Não está nesta exposição. Foi comprada por uma companhia ligada ao estudo da história de Macau por ser um documento histórico. Mas aqui tenho esta [uma imagem no túnel da Taipa]. Gosto especialmente dela porque consegui juntar todos os refugiados que na altura estavam ali para tirar uma fotografia de grupo. Ao lado estava o posto da policia. Do que me recordo estas pessoas eram bem recebidas pelas autoridade. © Chan Weng Hon Estas imagem foram tiradas em 1981 e só agora estão a ser expostas pela primeira vez. Porquê tanto tempo para mostrar este trabalho? Quando fiz as fotografias vendi algumas para quem se dedicava ao estudo da história local. Mas acho que agora é o momento de mostrar esta parte da história local principalmente aos mais novos. São pessoas que vieram para Macau e que acabaram por viver aqui durante algum tempo e fazem parte de um momento histórico que está muitas vezes esquecido. Hoje em dia já pouca gente se lembra desta altura. Macau é conhecido agora por ser o destino de muitos filipinos, vietnamitas ou indonésios que vêm à procura de trabalho, mas ninguém se lembra do tempo em que recebíamos refugiados. O que espera desta exposição? Espero dar a conhecer mais sobre o que se passou em Macau, principalmente às gerações mais novas que não fazem ideia desta parte da história local. Que diferenças sente entre Macau daquela altura e o território actualmente? Penso que a maior diferença está na forma como as pessoas de Macau recebem quem vem de fora. Quando acolhemos os vietnamitas, os residentes não se importaram que as pessoas viessem para cá e recebiam bem quem aqui chegava. Mas agora, não é assim. Talvez seja porque entretanto Macau recebeu muitas pessoas de fora como os emigrantes filipinos. Talvez isso tenha feito com que os residentes pensem, sem razão, que vão ficar sem os seus empregos. As pessoas agora afastam-se de quem para cá vem. Não pensam que quem vem para Macau trabalhar também vem de circunstâncias que envolvem pobreza. Não querem saber disso.
Sofia Margarida Mota SociedadePlano de Salvaguarda e Gestão do Centro Histórico entregue a Pequim A UNESCO tinha exigido a entrega do Plano de Salvaguarda e Gestão do Centro Histórico de Macau até 1 de Dezembro deste ano e Macau vai cumprir. O relatório já seguiu para Pequim, de onde será enviado para o Comité do Património Mundial. O conteúdo é ainda desconhecido [dropcap]O[/dropcap] relatório actualizado sobre o Plano de Salvaguarda e Gestão do Centro Histórico de Macau está finalizado e já seguiu para os serviços do Governo Central de onde será encaminhado para a UNESCO, antes do dia 1 de Dezembro. A informação foi dada ontem pelo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, numa reunião extraordinária do Conselho do Património Cultural que serviu para dar conhecimento aos membros do andamento dos trabalhos a este respeito. A reunião de ontem contou com a presença da directora do Centro do Património Mundial da China da Academia do Património Cultural da China, Zhao Yun, e com o vice-presidente do Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios da China (ICOMOS), Wang Lijun. Os responsáveis de Pequim elogiaram o trabalho feito pelo Governo local na concepção técnica deste relatório, no entanto, não foi adiantada qualquer informação concreta acerca do conteúdo do documento. Recorde-se que a entrega do Plano até 1 de Dezembro foi uma exigência do Comité do Património Mundial da UNESCO, no passado mês de Julho. Já em 2013 o mesmo Comité tinha exigido a entrega do documento, na altura com data limite de 1 de Fevereiro de 2015. O actual Plano vai ser analisado no próximo ano. Sem conhecimento A maioria dos membros do Conselho do Património mostrou-se satisfeito por finalmente o relatório estar a ter seguimento. No entanto, houve quem duvidasse da transparência do seu conteúdo dado o desconhecimento do mesmo. “Nós não temos acesso ao relatório, quando é podemos saber o que consta no documento?” questionou Li Jiazeng, membro do Conselho do Património. Zhao Yun esclareceu que o acesso ao relatório só pode acontecer depois deste ser analisado pelo Comité da UNESCO. “O relatório vai ser entregue até Dezembro e em 2019 o Comité do Património Mundial vai ter uma deliberação relativamente ao valor universal do património de Macau e acerca do ponto de situação de salvaguarda” começou por dizer. Depois, “se o Comité detectar algum impacto ou ameaça irá tomar medidas de acompanhamento ou medidas de preservação e restauro que serão relativas a um processo subsequente”, acrescentou salvaguardando que é o Comité da UNESCO que decide a divulgação ou não do documento. Já o arquitecto Carlos Marreiros, também membro do Conselho, considera que é natural que os membros deste órgão consultivo não tenham acesso aos conteúdos do relatório final a ser entregue à UNESCO. “É normal. Trata-se de respeitar as hierarquias”, disse ao HM. Por outro lado, “quem tem que submeter o documento não é Macau mas sim a China e o que vai para a UNESCO é a versão final de Pequim e não da RAEM”, referiu.
Sofia Margarida Mota EntrevistaAndrés Malamud, académico: “O Brasil está refém da China” Andrés Malamud vai estar hoje na Fundação Rui Cunha, às 19h, para falar do futuro do Brasil depois da eleição de Jair Bolsonaro. Para o especialista em ciência política, a democracia pode não estar em risco, mas a vida democrática sim, com a possível perseguição a determinados grupos sociais [dropcap]J[/dropcap]air Bolsonaro é o novo presidente o Brasil. O que se pode esperar? Para começar uma fase de lua-de-mel. Apesar de tudo, o candidato, que era tão controverso, gerou expectativas e esperança. Sei que isto é polémico. Mas, a curto prazo, se não houver acontecimentos muito graves, como assassinatos, bullying, etc., a expectativa é que a situação corra bem E depois? Não sabemos. Vai depender muito da reacção de Bolsonaro e das forças estruturais dos actores institucionais do Brasil perante as suas acções. A situação internacional não é perigosa para o Brasil mas é turbulenta, sobretudo, na fronteira com a Venezuela. Por outro lado, Bolsonaro tem minoria no Congresso e para governar vai precisar de ter leis aprovadas. Para isso precisa de uma maioria. Como é que a vai construir? No passado, fazia-se com trocas. Por exemplo, o presidente oferecia ministérios em troca de apoio legislativo. Mas Bolsonaro vai reduzir o número de ministérios para 15. Desta forma, fica sem muito que distribuir. Outra maneira de conquistar a passagem de leis no passado era com dinheiro. Era uma forma de comprar apoio. Mas não se aplica agora. O que Bolsonaro vai dar? Vai dar prestígio, como fez Donald Trump. Trump tem o apoio do Partido Republicano, porque os legisladores republicanos precisam dos eleitores que são pró-Trump. Eles podem não gostar dele mas para manter o eleitorado manifestam-se a favor. É provável que Bolsonaro apele a medidas muito populistas, aprovadas pelas maioria das pessoas. Essas medidas podem vir a ser desagradáveis e mesmo violentas para muita gente, mas podem ser “simpáticas” para a maioria. Isto vai forçar os senadores a apoiar as leis que precisam de aprovação. Isso não é assustador? É. Mas a questão é a seguinte: muitas vezes perdemos de vista que o Brasil tem 3 por cento da população mundial e 15 por cento dos homicídios. Bolsonaro não chega por acaso. Chega em parte porque há muita violência. Ele aparece como um garante de ordem. Se para conseguir a ordem tiver de usar mão dura, o saldo até pode ser positivo. Ele pode matar algumas pessoas para que estas pessoas não matem tantas outras também. O que estou a dizer é terrível. Mas o eleitor brasileiro pensa desta forma. Estou apenas a tentar explicar porque é que Bolsonaro ganhou e como pode vir a governar. FOTO: Sofia Mota O Brasil saiu de uma ditadura em 1985. É muito recente. Como se explica esta “ausência de memória”, se é que se pode chamar assim? Sim, é isso mesmo. O Brasil teve uma ditadura que durou 21 anos, de 1964 a 1985. Naquela altura, todos os países da América do Sul viviam uma ditadura e as outras ditaduras tinham duas características que a brasileira não teve. Primeiro, mataram muito mais, sendo que cada vida vale o mundo. Depois, os os militares chilenos e argentinos eram neoliberais e privatizaram a economia enquanto os brasileiros foram desenvolvimentistas, ou seja modernizaram a economia. Por isso, a memória da ditadura brasileira não é tão trágica como a memória das ditaduras vizinhas. Isso permitiu que Bolsonaro tenha reivindicado a ditadura em oposição à suposta desordem. O próprio Lula recorreu aos militares, não à ditadura mas aos militares. Podemos dizer que, no fundo, a ditadura do Brasil foi uma ditadura suave – não soa bem, eu sei. Mas podemos dizer que a ditadura portuguesa também o foi. A ditadura de Salazar foi horrível, mas foi bem mais suave do que a de Franco. Estamos também a falar da eleição democrata de um candidato que se manifestou muitas vezes como anti-democrata. Não é um contra-senso? Há duas explicações possíveis e acho que a realidade é uma mistura das duas. Uma é que a situação é tão má que as pessoas acabam por aceitar o sacrifício. Há tanta corrupção, tanto homicídio que se prefere uma ordem ditatorial a continuar com a mesma situação. A segunda é o que se chama de dissonância cognitiva, o mecanismo psicológico pelo qual uma pessoa pode manter duas crenças contraditórias simultaneamente. Um sistema democrático deve aceitar a anti-democracia? Esse é um grande dilema desde a chegada do Hitler ao poder: Se a democracia deve ou não permitir os anti-democratas. É um paradoxo sem resolução interna. Há duas respostas: Se o permitir, permite a sua auto-destruição, se não o fizer, está-se a limitar. Não há uma solução e por isso é um dilema porque tem duas soluções sendo que nenhuma é completamente satisfatória. A decisão da Alemanha, por exemplo, depois do nazismo, foi a de não tolerar os intolerantes. O que podemos esperar da economia brasileira? A economia brasileira caiu nos últimos dois anos cerca de 3,5 por cento, ou seja, vem do fundo do buraco. O que quer dizer que este senhor já vai apanhar uma economia em crescimento. Só podemos esperar que melhore mas não é mérito do Bolsonaro. Ele vem com um legado favorável. Ele pode estragar isso e até foi explícito ao dizer que não entendia nada de economia. Aliás, é por isso que se tem feito acompanhar nesta área por um neo-liberal. Isto é interessante. Até há uns anos, Bolsonaro era um nacionalista desenvolvimentista e virou liberal. Não entendia nada de economia e as pessoas que o apoiaram, nomeadamente as forças armadas, exigiram que fosse liberal. Ele virou porque precisava deste apoio. Bolsonaro não é um homem que pratique aquilo que diz. Ele é um tipo esperto, não é tonto, o que não é necessariamente bom. Ele é mais mau do que tonto. As coisas que ele diz não são coisas de uma boa pessoa, mas não faz sentido fazer aqui uma avaliação moral. O importante é que não é tonto e não o sendo adapta-se. Ele adaptou-se à demanda dos brasileiros. Os brasileiros estavam a pedir o fim das igualdades. O Bolsonaro encarna também a luta contra a nova ameaça à segurança no Brasil e que não vem de uma potência estrangeira mas sim do narcotráfico. Esta luta acontece, essencialmente, nas favelas e nas prisões. Não me surpreenderia se agora houvesse algum massacre nas prisões. Nas favelas é mais difícil porque tem de ser um ataque explícito. Mas nas prisões basta uma retracção dos serviços penitenciários para que isso aconteça. Mas a evolução social não deveria ir no caminho da igualdade? A evolução é em forma de espiral em que os avanços se dão às voltas. Estamos a falar de uma população de 210 milhões de pessoas, das quais mais de sete milhões são empregadas domésticas. É a subordinação social quotidiana em que os empregados nem são notados, não andam nos mesmo elevadores sequer. É uma sociedade muito marcada por esta hierarquia. O PT tentou diluir estas diferenças e foi quando começou o medo e a rejeição das pessoas que não querem andar no mesmo elevador do que os seus empregados. Medo de perder o estatuto? Sim. Chama-se perca relativa e status. Aliás, foi esta a causa que levou também ao voto no Trump, nos Estados Unidos. Como fica o Brasil no contexto da América Latina? Se o Brasil fosse um país pequeno acabaria ostracizado. Como é grande, os presidentes dos vários países já o reconheceram e felicitaram. E agora estão à espera. Penso que o vão tentar normalizar. Vão trata-lo como normal, para que actue normalmente. O que podemos esperar das relações com os Estados Unidos da América? O Brasil está muito dependente da China. Bolsonaro não pode pedir ao Presidente americano para lhe comprar o que o Brasil vende à China. Isto não se faz politicamente. Por isso poderá haver uma aliança política entre o Brasil e os Estados Unidos, mas não penso que possa existir uma aliança económica. E as relações com a China? Bolsonaro na campanha eleitoral apenas mencionava estados com os quais tem alguma ligação político-eleitoral, como Israel ou os Estados Unidos. O Brasil precisa da China e agora a questão é a margem que tem para jogar com isto ou para esconder isto. O Brasil pode fazer política com os EUA e comércio com a China. 25 por cento das exportações do Brasil são para a China e não podem ir para o outro lado porque mais ninguém compra essas quantidades de soja e de ferro. Chama-se interdependência assimétrica. O Brasil está refém da China. É previsível que Bolsonaro venha a ter algum discurso político de afastamento. Mas acho que o afastamento económico é impossível. A democracia vai resistir no Brasil? Espero mais micro-violência do que macro-violência. Não espero o fim da democracia, mas sim uma redução da qualidade da vida democrática. A democracia vai manter-se e os governos vão continuar a ser eleitos pelo povo, mas os indivíduos e grupos particulares vão sofrer agressões e censura. A democracia vai ser muito pior.
Sofia Margarida Mota DesportoCTCC | André Couto vence sétima etapa em Xangai O piloto de Macau André Couto subiu ontem ao pódio com a conquista do primeiro lugar, na sétima etapa do Campeonato Chinês de Carros de Turismo que decorreu no circuito de Tianma, em Xangai. Já Rodolfo Ávila conseguiu apenas o 12.º lugar devido a um problema no carro no início da corrida [dropcap]A[/dropcap]ndré Couto assegurou ontem a vitória na segunda corrida da sétima etapa do Campeonato Chinês de Carros de Turismo (CTCC, na sigla em inglês) que teve lugar no circuito de Tianma, em Xangai. De acordo com o portal Touring Car Times “André Couto fez o que era necessário para ajudar a equipa- Dongfeng Kia Racing – na sua luta pelo título com esta vitória em Tainma”. Na corrida de abertura, realizada no sábado, o piloto de Macau tinha ficado em 10.º lugar. Na mesma prova, Rodolfo Ávila ficou na terceira posição. Na prova de ontem, Couto corria entre os Ford Focus de Andy Yan e de Josh Burdon. Burdon acabou por sair do pelotão dos três da frente deixando Yan e Couto na luta pelo primeiro lugar. O piloto de Macau acabou por se destacar na 19.ª volta e conquistou a vitória com uma vantagem de quatro segundos sobre o segundo lugar. Turkington foi o piloto mais rápido na segunda parte da corrida de ontem, numa tentativa de diminuir a diferença com os três primeiros lugares, mas acabou por ficar na quarta posição ao volante do VW Lamando, seguido de Fontana. Ávila para trás Já Rodolfo Ávila ficou-se por um 12.º lugar na corrida de ontem. O piloto de Macau partiu da 10.ª posição da grelha e no momento do arranque, “num episódio já visto este ano, o VW Lamando nº9 ficou imobilizado”, lê-se no comunicado enviado à comunicação social. “Quando finalmente o meu carro arrancou já tinha perdido meia volta para todos os meus adversários. Ainda consegui recuperar até ao 12.º lugar e fazer a melhor volta da corrida”, refere Ávila. Ainda assim, com os pontos obtidos este fim-de-semana o piloto de Macau subiu à quarta posição no Campeonato de Pilotos, sendo o melhor representante da equipa. Antes da sessão de qualificação, realizada no sábado, Ávila e a equipa SVW333 Racing tiveram conhecimento de que os resultados da equipa oficial da SAIC Volkswagen na segunda corrida em Wuhan foram repostos, sendo que os quatro Lamando GTS tinham sido desclassificados por uma alegada e infundada irregularidade nas pastilhas de travão. Na sessão de qualificação, que determina a grelha de partida para a primeira corrida, Ávila foi o sexto mais rápido, um resultado que ficou aquém das expectativas do piloto. “A qualificação não correu como eu queria, pois tivemos um problema com o diferencial. A afinação do acelerador também não estava boa e tivemos que fazer alterações para a corrida, melhorando substancialmente o comportamento do carro”, explicou o piloto que corre com a bandeira da RAEM. Para as 17 voltas da corrida de sábado, Ávila teve “um arranque fulgurante, subindo logo à terceira posição”. Para a segunda corrida do fim-de-semana, visto que a grelha de partida foi determinada pela ordem inversa das doze primeiras posições da primeira corrida, Ávila largou da 10.ª posição, e acabou por terminar no 12.º lugar. A temporada de 2018 do CTCC termina no fim-de-semana de 24 e 25 de Novembro no Circuito Internacional de Xangai.
Sofia Margarida Mota PolíticaGabinete de Ligação defende honestidade de Zheng Xiaosong [dropcap]U[/dropcap]m homem “honesto”. Foi assim que o ex-director do Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau, Zheng Xiaosong, foi descrito num comunicado divulgado ontem pelo organismo a que presidia, oito dias depois de ter sido encontrado morto. O texto tece rasgados elogios ao profissionalismo e à personalidade do homem que morreu depois de ter caído do apartamento onde vivia em Macau. No comunicado, Zheng é caracterizado como “um membro excepcional do Partido Comunista Chinês” e um profissional talentoso nas áreas diplomáticas e financeiras, com trabalho feito na província de Fujian, em Hong Kong e em Macau. A nota do organismo a que presidiu enaltece o “forte sentido de profissionalismo e responsabilidade” e a entrega que empregava no trabalho. O comunicado refere ainda que o corpo será cremado e as cinzas depositadas no Cemitério Revolucionário de Babaoshan, em Pequim, de acordo com a vontade da família Zheng Xiaosong.
Sofia Margarida Mota PolíticaA Árvore das opiniões para Chui Sai On ler [dropcap]O[/dropcap] fim de semana, preenchido com a abertura da Sede do Governo à população, foi marcado pela presença do Chefe do Executivo, sábado, no evento. Chui Sai On aproveitou o momento para falar com os visitantes que ali se dirigiram, refere um comunicado oficial. Durante os dois dias de abertura ao público, a Sede do Governo recebeu um total de 17 405 visitantes. Este foi ainda o momento em que as pessoas podiam deixar bilhetes ao Executivo com sugestões para as próximas Linhas de Acção Governativa. No edifício do palácio foi erguida uma “árvore dos desejos”, uma estrutura para receber as ideias dos residentes. O tema da habitação parece ser o que mais preenche os desejos da população. “Desejo que o Governo construa casas económicas e abra um novo processo de candidaturas”, “desejo que os preços das casas sejam reduzidos de modo a que os trabalhadores comuns possam ter acesso” e “que toda a gente tenha uma casa para viver quer seja rico ou pobre” são alguns exemplos que constam nesta “árvore”. A resolução de problemas de trânsito e de estacionamento também são mencionadas várias vezes com bilhetes a sublinhar que “são necessários mais lugares de estacionamento”, e que “é preciso resolver o congestionamento de tráfego”. Há ainda quem deseje melhores condições laborais pedindo ao Governo “o pagamento de horas extra” e quem apele a mais regalias para os trabalhadores. Com alguma inocência há quem peça ao Governo de Macau a paz no mundo.
Sofia Margarida Mota EventosArte de rua | Festival Out Loud a 3 e 4 de Novembro O festival local dedicado à arte de rua – Out Loud- tem lugar nos próximos dias 3 e 4 de Novembro no Armazém Tai Fung. É também aqui que Thomas Lo vai mostrar a sua primeira obra de grande dimensão através de uma instalação que pretende tirar o público do frenesim quotidiano [dropcap]“H[/dropcap]ealing” é a primeira obra de grande dimensão do artista local Thomas Lo e que vai estar patente ao público na próxima edição do Out Loud, festival de arte de rua. O evento decorre nos próximos dias 3 e 4 de Novembro no Armazém Tai Fung, na ponte do cais nº8. Para o artista que tem estado ligado à Gantz, a trupe local conhecida pelos murais que desenha com grafite, o festival é um marco importante na divulgação do que se faz em Macau na área da arte de rua. Com esta instalação, Thomas Lo pretende convidar o público a um momento de isolamento. O trabalho que inclui elementos em betão, iluminação e projecção de vídeos vai representar um espaço para “as pessoas estarem com elas próprias”, afirmou ao HM. “Espero que as pessoas consigam, ao verem a exposição, desligar-se da sociedade. Espero que consigam sair da sua vida quotidiana”, disse. A razão é simples. Para Lo, as pessoas estão demasiado absorvidas pelas rotinas do dia a dia e “vivem como se fossem robots”. Por isso, considera importante ter um trabalho que possibilite sair desse estado, acrescentou. Thomas Lo admite porém que “Healing” não é um trabalho que possa ser num primeiro momento classificado como arte de rua, mas “tem elementos que a integra,” apontou. Por outro lado, é através deste tipo de diversidade de trabalhos que se pode atrair mais interessados na intervenção de rua, considera. Território fraco O artista lamenta os fracos progressos que esta área artística tem tido no território. Sem menosprezar o que considera ser “grandes esforços daqueles que estão ligados a esta expressão”, Lo sublinha que não há um interesse visível por parte dos jovens locais quando se fala de street art, sendo que “os jovens de Macau são preguiçosos e não se focam em objectivos claros”. Como solução, Thomas Lo sugere que festivais como este em que a gama de actividades vai além do tradicional grafitti, possam vir a despertar a atenção dos mais novos. “É necessário realizar actividades diferentes para poder atrair mais gente e ter uma perspectiva diferente tanto acerca da arte de rua como de projectos apresentados sob outras formas”, apontou. Por outro lado, seria fundamental trazer artistas estrangeiros ao território para poderem trocar conhecimentos com os locais e mudar a dinâmica do que tem acontecido neste sentido, até porque, “têm estado em Macau alguns artistas importantes mas apenas para apresentarem o que fazem e sem trocarem informações com quem cá está”, disse. Enquanto expressão artística, a arte de rua podia trazer ainda algumas mais valias ao território: “Podia ajudar a mostrar às pessoas que Macau é mais do que casinos, restaurantes e lojas onde se compram produtos de luxo”, rematou.
Sofia Margarida Mota EventosSalão de Outono | Mais de 80 obras locais para ver a partir de 3 de Novembro A nona edição do Salão de Outono tem início no próximo dia 3 de Novembro na Casa Garden. O evento mostra as obras de artistas locais seleccionadas pela Fundação Oriente e a Art For All Society e conta com mais uma edição do Festival Internacional de Vídeo com a chancela da VAFA [dropcap]A[/dropcap] edição deste ano do Salão de Outono é inaugurada no próximo dia 3 de Novembro com a apresentação das obras seleccionadas pela Fundação Oriente e a Art for All Society (AFA). O evento mantém a tradição e pelo nono ano consecutivo mostra o que de melhor fazem os artistas de Macau. A cerimónia de abertura terá lugar às 17h30, na Casa Garden e a exposição conta com 84 trabalhos seleccionados de 43 artistas entre os cerca de 100 que a organização recebeu. As obras seleccionadas incluem trabalhos em pintura a óleo, aguarela, desenho, escultura, fotografia, porcelana, gravura, e instalação. De acordo com a organização, “todos os participantes, embora de diferentes origens, trabalham e vivem em Macau e tal como nos anos anteriores, há a representação de artistas jovens mas também de artistas reconhecidos no panorama da arte contemporânea”. Entre os artistas seleccionados encontram-se Lam Ka Man, Ho Si Man, Yolanda Kog, Zheng Yu, Wong Hio Chit, Fan Sai Hong, Vai Im Fong, Tong Chong, Leong Cheng I, Ricardo Meireles, Duarte Esmeriz, Francisco Ricarte, Leong Lampo, José das Neves, Shih Ting Yu, Chau da Luz, Celeste, Sanchia Lau, Kawo Cheang, Lou Ka I, Ieong Mei Cheng, Lei Chekon, Ieong Man Hin, Edmundo R. Lameiras, Gonçalo Cardoso de Menezes, Tiffany Ian Tong Ho, Sou Chon Kit, Chan Ka Lok, Jose Drummond, Cheok Hio Peng, Ho Ka Io, Leong Chi Mou, Che Chi Un, Meng Hei, Fannie Leong, Tang Kuok Hou, Van Pou Lon, Yang Sio Maan, Ng Man Wai, Noah Ng Fong Chao, Heidi Ng, Siokit Lai, Alice Kok, Cai Guo Jie e James Chu Cheok Son. No mesmo dia será ainda anunciado o vencedor do 7º Prémio Fundação Oriente para as Artes Plásticas, O vencedor terá a oportunidade de visitar Portugal para um programa de residência artística durante um mês. A exposição estará aberta ao público de 3 a 30 de Novembro. E conta com entrada livre. Vídeos do mundo Paralelamente, vai decorrer mais uma edição do Festival Internacional de Video de Macau, um evento organizado pela VAFA. De acordo com o responsável, o artista e curador José Drummond, o número de trabalhos que respondeu à abertura das candidaturas superou todas as expectativas. No total, a organização recebeu 375 vídeos de artistas de 53 países. O país que mais aderiu à iniciativa foi os Estados Unidos da América com 43 obras, seguido do Reino Unido com 45. A China e Portugal também representam uma larga parcela de candidaturas com 23 e 21 vídeos enviados respectivamente. De Macau concorreu Kit Lee. Para a selecção dos melhores vídeos foi destacado um júri composto pela vencedora da edição do ano passado, Song Zihui, a presidente da AFA, Alice Kok, o curador de Hong Kong Andrew Lam, o artista de Xangai Hu Renyi, e o director do festival José Drummond. A apresentação dos vencedores tem início marcado também para dia 3 de Novembro às 18h30 , no anfiteatro da Casa Garden, momento em que é anunciada a vencedora deste ano, Maria Molina Peiró. No dia seguinte tem lugar a projecção das restantes obras selecionadas. Segundo José Drummond a edição deste ano segue “a lógica do trauma”, até porque quase todos os vídeos recebidos abordam este assunto de alguma maneira. “Mesmo que de uma forma mais poética, todos falam sobre as questões do presente: da guerra, da luta LGTB, dos refugiados ou da censura”, disse ao HM. Outro destaque do responsável vai para os quatro vídeos chineses seleccionados “É a primeira vez que tal acontece”, disse. Programa do Festival Internacional de Vídeo de Macau 3 de Novembro – 18h30 Maria Molina Peiró (Espanha/Holanda) – Digital Trauma (And the Crystal Image) – 8’07’’ Naween Noppakun (Tailândia) – We Love Me – 13’18’’ Hiroya Sakurai (Japão) – The Stream VIII – 6’54’’ Pedro Matias (Portugal/Holanda) – To My Plastic Brothers – 9’49’’ Lin Li (HK) – Four Minutes and Beyond – 4’30’’ Kit Lee (Macau) – Flower in the Water (Red, Yellow, Blue) – 2’00’’ Fair Brane (EUA) – Centered – 1’00’’ Mo Jia Qing (China) – Subliminal Mirage – 9’16’’ Wang Yanxin (China) – Snowy – 8’44’’ Luciano Scherer (Brasil/Portugal) – Untitled (5) – 5’05’’ 4 de Novembro – 16h30 Noémi Varga (Hungria) – The Happiest Barrack – 15’51’’ Pablo Romo Alvarez (México) – Suspect – 1’48’’ Jim Rolland (França) – Musical Landscape – 7’42’’ Alexandra Buhl (Dinamarca) – Blue Furacana – 11’00’’ Michael Lyons (Canadá/Japão) – Film Loop 34: Ryoanji – 1’30’’ Corrine Charton (Reino Unido) – (Paroxysms erupting because) MR ROCHESTER DOES NOT QUITE GET IT – 2’ 36’’ Veronica Burger (Áustria) – fade IN fade OUT – 6’28’’ Leonid Kharmalov (Rússia/Alemanha) – The Wall – 1’24’’ Tullio Manca (Itália) – The Wait – 3’15’’ Marisa Benito (Espanha) – Ductile – 2’43’’ Asian Showcase – 17h30 Ieong Kun Ieng (Macau) – The Golden Birdcage – 0’48’’ Kiwi Chan (Macau) – Hato’s Journey – 9’51’’ Carlos Caires (Macau) – This is Not a Story This is Not a City– 14’23’’ Bo Choy (HK) – Un/folding In – 13’56’’ Zhang Yongji (China) – The Generation is Screaming – 4’31’’ Zhang Yunfeng & Li Haiguang (China) – Playground – 13’42’’ Di Hu (China) – Urban Sculptures – 6’16’’ Shon Kim (Coreia do Sul) – Bookanima: Dance – 7’31’’ Rita Mahfouz (Líbano) – On Familiar Waters – 7’44’’ Axl Hazarika (índia) – Goru Bihu Song – 4’00’’ Rita Mahfouz (Líbano) – “On Familiar Waters”,7’44’’ Axl Hazarika (Índia) – “Goru Bihu Song”, 4’00’’
Sofia Margarida Mota PolíticaLegislação | Registo comercial de embarcações passa a ser obrigatório [dropcap]T[/dropcap]erminou a discussão no Conselho Executivo da proposta de lei acerca do registo de embarcações. O diploma prevê a obrigatoriedade do registo comercial nas conservatórias, que até agora estavam apenas sujeitas a um registo administrativo de propriedade na Direcção dos Serviços para os Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA). Depois da entrada em vigor desta lei, os proprietários de embarcações que não fizerem o registo no prazo de trinta dias, a contar da data de celebração do contrato de aquisição da embarcação, verão a taxa a pagar agravada para o dobro do valor. Já para as embarcações que se encontram regularizadas em termos administrativos junto da DSAMA, a proposta de lei permite aos proprietários fazer o registo comercial dentro de um período de 18 meses, sem que sejam penalizados nos emolumentos, avançou ontem o porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng, em conferência de imprensa. O diploma também prevê que o registo comercial seja cancelado após a apresentação de documentos comprovativos de demolição, desmantelamento ou desaparecimento da embarcação, bem como nos casos de transferência da embarcação para outra jurisdição que não a da RAEM.
Sofia Margarida Mota Manchete PolíticaGoverno reforça gestão das fronteiras e dados informáticos O Conselho Executivo terminou a discussão sobre o regulamento administrativo que altera a organização e funcionamento da Direcção dos Serviços das Forças de Segurança. Dois novos departamentos vão ser criados e contratados 58 funcionários para responder às necessidades nas áreas das novas tecnologias e na gestão dos postos fronteiriços terrestres [dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços das Forças de Segurança vai ter mais dois departamentos e, para o efeito, vai contratar 58 pessoas, revelou ontem o porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng, em conferência de imprensa. A novidade surge é trazida pelo regulamento administrativo que altera a organização e funcionamento desta Direcção, tendo em conta a necessidade de reforço da capacidade de “policiamento inteligente e a garantia do bom funcionamento dos novos postos fronteiriços terrestres do território”, acrescentou o responsável. Um dos organismo que vai ser criado é o Departamento de Sistema Informático que te como objectivo assegurar todos os assuntos relacionados com a área da tecnologia informática das Forças de Segurança de Macau (FSM). Este departamento vai ter como competências o planeamento e avaliação dos sistemas relativos à tecnologia informática das FSM, bem como a coordenação, construção e a aplicação geral das redes e dos sistemas dos vários tipos de informação de dados. Cabe ainda ao novo departamento a garantia da estabilidade e segurança dos sistema informáticos das FSM. Já o Departamento de Postos Fronteiriços Terrestres vai garantir a gestão das instalações das estruturas já existentes e aquelas que vão ser criadas. De acordo com Leong Heng Teng, a necessidade deste departamento agudiza-se não só com a abertura da Ponte HKZM, mas também com a iminência de novos postos terrestres. Em causa está o plano para as novas instalações de Qing Mao e o alargamento do posto da Flor de Lótus à Ilha da Montanha, adiantou. O planeamento do desenvolvimento das construções básicas e instalações complementares nos postos fronteiriços terrestres afectos à administração das FSM, a gestão e manutenção das instalações e equipamentos destes postos e a supervisão das operações são algumas das principais responsabilidades deste novo organismo. Mais pessoas A abertura dos dois departamentos das FSM vai exigir a contratação de funcionários para os quadros da função pública. No total, são 58, na sua maioria profissionais técnicos, adiantou Leong Heng Teng. “Temos que ter em conta o aumento do número de postos fronteiriços, por exemplo. Anteriormente, o apoio técnico era dado por outros serviços, mas agora precisamos de trabalhadores para garantir o funcionamento das novas estruturas”, disse. Por outro lado, e no que respeita ao policiamento inteligente, é necessário pessoal que garanta a criação de “nuvens”, assim como profissionais responsáveis pela gestão de mega dados.
Sofia Margarida Mota Fotogalerias ManchetePonte HKZM – O primeiro dia em imagens O Hoje Macau esteve na nova ponte que liga Hong Kong a Zhuhai e a Macau. Estas são algumas imagens desse percurso. FOTOS: Sofia Mota
Sofia Margarida Mota Manchete ReportagemA primeira travessia da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau O primeiro carro saiu de Macau às 9h da manhã em ponto com destino a Zhuhai. Pouco depois, entrava no sentido inverso o primeiro condutor que vinha de Hong Kong. Entretanto, os autocarros começavam a vai e vem entre as três regiões. Os passageiros, na sua maioria, movidos pela curiosidade foram os primeiros a atravessar a Ponte HZM [dropcap]I[/dropcap]niciou-se ontem a circulação de veículos na ponte que liga Zhuhai, Hong Kong e Macau. O primeiro carro a entrar à hora certa, no posto fronteiriço da ilha artificial de Macau tinha Sun ao volante. Os ponteiros do relógio apontavam as 9 horas em ponto e não havia tempo a perder, uma vez que Sun estava a caminho de Zhuhai para uma reunião. Segundo o condutor, a ponte vai ser especialmente útil para se dirigir de automóvel ao Interior da China, onde tem reuniões com alguma frequência. “Esta ponte é uma estrutura que facilita muito o transporte entre as regiões, o que ajuda nas relações comerciais”, disse satisfeito. Já no sentido inverso, e minutos depois entrava em Macau Chen, vindo de Hong Kong. Em declarações ao HM, mostrou-se especialmente satisfeito por ter demorado “apenas 30 minutos a chegar ao território”. Chen teve, contudo, um percalço: ficou retido na entrada, porque tinha marcado o lugar no parque de estacionamento fronteiriço, com lotação para 3000 veículos, para as dez da manhã. Mas a viagem foi mais curta que o esperado. Chen vem a Macau pelo menos uma vez por semana em trabalho. A partir de agora, vai optar pela maior ponte de travessia marítima do mundo, até porque “é muito fácil chegar a Macau desta maneira”. Curiosidade pública Na área reservada à compra de bilhetes para os autocarros que ligam Macau a Zhuhai e Hong Kong pessoas movidas pela curiosidade compravam o bilhete de autocarro para seguirem, maioritariamente para Hong Kong. Era o caso do casal Kuok, actualmente a residir em França, e que aproveitou os dias de férias no território para experimentar uma das primeiras travessias entre Macau e Hong Kong. Havia também quem só quisesse ver como “estava o ambiente”, tal como afirmou Leong. FOTO: Sofia Margarida Mota A caminho O HM juntou-se aos que seguiram para região administrativa especial vizinha. Sem filas na bilheteira e com ingresso comprado, 16 minutos depois o autocarro arrancava com destino ao posto fronteiriço de Hong Kong. No veículo, com lotação para 50 lugares e que cheirava a novo, seguiam 22 passageiros. Asher, estudante de Macau, foi uma das pioneiras a rodar no tabuleiro da ponte, acompanhada pelos pais. “Estou a aproveitar a folga da família e vamos ver como é que funciona a travessia para Hong Kong pela ponte”, referiu. Ainda a caminho, não conseguia dizer se seria uma opção melhor que o ferry, “mas, acima de tudo, é uma alternativa, o que é bom”. Asher não deixou de sublinhar o tempo reduzido da viagem, pouco mais do que 30 minutos, “sendo que o autocarro é muito confortável”. Já Cheng, que também ali estava para experimentar”, salientou a vista que a travessia proporciona. “É mais bonito, conseguimos apreciar melhor o mar e as ilhas à nossa volta”, referiu. Por outro lado, a ida por terra evita os enjoos de que padece nas viagens de barco quando se desloca a Hong Kong. “Até agora, a viagem é perfeita”, disse, mais ou menos a meio da travessia. Cheng salientou ainda que a travessia por autocarro pode vir a representar uma ameaça ao funcionamento dos ferrys. “Se os barcos não baixarem os preços, penso que muita gente vai começar a vir pela ponte”. Chegados ao destino A viagem foi realmente curta. Meia hora depois do arranque, avistava-se o Aeroporto Internacional de Hong Kong de um lado e o teleférico do outro. A saída do posto fronteiriço aconteceu sem percalços, nem filas, pelo menos às 12h13 de uma manhã tranquilo de quarta-feira. Em Hong Kong, a estrutura de acesso à ponte está equipada com vários estabelecimentos comerciais e postos de informação turística. Acresce ainda um posto de check-in para as companhias Cathay Pacific, Cathay Dragon, Hong Kong Airlines e Hong Kong Express e que faz a ligação imediata ao aeroporto. Também para o aeroporto, exist um shuttle disponível 24h por dia, de 8 em 8 minutos e que demora, contando com o tempo de espera, 15 minutos a chegar ao destino. No exterior, há uma extensa rede de autocarros que fazem as principais ligações às várias zonas do território. Na paragem do A11, que faz a ligação a Central, uma funcionária de uma agência de viagens sita em Kowloon manifestou desagrado pelo tempo que se demora desde a sede da agência a Zhuhai, onde acompanhou uma excursão de turistas. A razão é a quantidade de transportes necessários para chegar à entrada da ponte na ilha de Lantau. Contudo, ressalvou, “é a melhor forma de ir para o aeroporto para quem vem de Macau ou Zhuhai, ou de regressar a estes territórios depois de uma viagem”. Raimundo do Rosário: Trânsito haverá sempre A ponte está a funcionar e as pessoas devem preparar-se porque haverá sempre trânsito. Foi esta a mensagem deixada por Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas, quando questionado sobre o primeiro dia de funcionamento da ligação Hong Kong – Zhuhai – Macau. “Trânsito haverá sempre. No primeiro dia, as coisas podem não correr tão bem, mas, por enquanto, não há notícias de problemas”, afirmou sobre os engarrafamentos registados ontem na zona da Areia Preta, que permite o acesso ao tabuleiro. O secretário abordou ainda o caso do autocarro que avariou na ponte. “Houve problemas com um autocarro. Fui informado logo de manhã, mas estas coisas acontecem e estão a ser resolvidas, o que significa que o sistema funciona”, afirmou. “Não devemos estar sempre à procura de problemas. Está a funcionar bem, houve uma viatura avariada, mas está tudo resolvido”, acrescentou. Custos das viagens Bilhete de autocarro para HK – 65 patacas Tempo de viagem – 40 minutos Do posto fronteiriço de Hong Kong a Central Custo – 40 patacas Autocarros de 20 em 20 minutos Tempo de viagem – 45 minutos Total Custo – 105 patacas Tempo aproximado – 105 minutos Para o Aeroporto Internacional de Hong Kong (AIHK) Bilhete de autocarro para HK – 65 patacas Tempo de viagem – 40 minutos Do posto fronteiriço de Hong Kong ao AIHK Shuttle 24h de 10 em 10 minutos Tempo com espera – 15 minutos Custo – 6 HKD Total Tempo – 55 minutos Custo – cerca de 71 patacas O primeiro dia 8619 – Total de entradas e saídas de pessoas – das 9h às 16h Por destino 1249 – de e para Zhuhai 7165 – de e para Hong Kong 205 pessoas entraram pelos corredores para veículos Entradas e saídas de viaturas até às 15h 46 entradas 59 saídas Entradas e saídas de autocarros até às 15h – 113 Estacionamento no posto fronteiriço 295 lugares de estacionamento ocupados 3 lugares com reserva prévia Tempo médio de inspecção fronteiriça integral por pessoa – 20 segundos Tempo medio de passagem transfronteiriça por viatura – 10 a 15 segundos 75 bombeiros destacados 12 viaturas de emergência Pedidos de serviços de emergência médica – 3 Pedidos de socorro – 2
Sofia Margarida Mota EntrevistaSofia Afonso Ferreira, criadora do movimento político D21: “Acima de tudo, sou democrata” Depois de uma carreira na área da comunicação, Sofia Afonso Ferreira funda agora a Democracia 21 (D21), um movimento cívico com aspirações a ser um partido político liberal. O novo rosto da direita portuguesa está em Macau para apresentar o movimento que fundou. O evento está marcado para hoje às 18h30, na Livraria Portuguesa [dropcap]O[/dropcap] que é o D21? Por agora é um movimento cívico, liberal e de direita. Estamos a acabar de recolher as assinaturas e em breve daremos entrada com o processo no Tribunal Constitucional. O D21 começou em Janeiro. Primeiro tentámos perceber se era viável a criação de um partido liberal em Portugal. Temos uma história muito incomum em Portugal quando comparada com o resto da Europa. Neste momento, os liberais são a segunda força política na Europa. Quase todos os países têm mais do que um partido liberal, uns no poder, outros em coligação, etc. Em Portugal não temos um partido liberal há 90 anos devido a circunstâncias históricas: primeiro tivemos uma ditadura, depois tivemos uma revolução, e depois tivemos estes anos, pós 25 de Abril. Já houve umas tentativas de projectos deste género, mas que falharam sempre. O máximo que tivemos até agora está associado ao PSD ou ao CDS que por vezes defendem algumas políticas liberais, mas essencialmente na área da economia e não dos costumes. Está a referir-se, por exemplo, ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, à adopção por estes casais e à eutanásia? Sim. Nesta parte dos costumes até estamos mais próximos dos partidos tradicionais de esquerda de Portugal. Mas nós partimos de uma base completamente diferente: nós damos mais poder ao indivíduo do que ao Estado e, como tal, tem que ser a sociedade a definir este tipo de coisas que têm que ver com a sua essência, e não um Estado. O Estado é um regulador e não tem que dizer se se pode ou não casar com quem se quiser, se se pode adoptar ou não, ou se em caso de doença grave, as pessoas podem ou não optar pela eutanásia. O Estado deve servir apenas para regular o bom funcionamento democrático das instituições e das leis, mas não impor-se. Como é que essa regulamentação se operacionaliza? É difícil de explicar porque não é um conceito muito incutido na sociedade portuguesa. Em 2018, não ser a favor do liberalismo na parte dos costumes para mim é anacrónico. Podemos ter as nossas convicções para nós, para a nossa família para quem está a nossa volta. O liberalismo é isto: é defender que o indivíduo pode ter as suas coisas. FOTO: Sofia Mota Disse numa entrevista que o foco para o D21 está na remodelação nas áreas da justiça, da saúde e da educação? Que tipo de reformas propõe? Vou começar pela educação. É uma área que teve alguma polémica há cerca de um ano com os contratos de associação. Nós somos a favor destes contratos. A razão tem que ver com um problema que a Europa está a enfrentar e que em Portugal estamos numa situação gravíssima, ou seja, não nascem bebés. No interior do país, as escolas começaram a ficar sem crianças. O que o Estado pagava para a manutenção daquelas escolas era muito elevado e começou a fazer contratos de associação com escolas privadas. A poupança entrou na casa dos 60 por cento por cada aluno. Atenção que isto não se justifica em todo o país. Justifica-se quase zona a zona. Houve uma grande campanha de que estaria a haver um abuso destes subsídios dos contratos de associação a escolas privadas. Com certeza que houve casos ilegais. Mas também se cometeram muitas injustiças porque tivemos casos de escolas que, de um momento para o outro, ficaram sem os contratos e fecharam, o que trouxe o desemprego de pessoas. Por um lado, e por outro, crianças passaram a ter que ir para escolas que ficavam a 30 quilómetros de casa. Defende a subsidiação de escolas privadas pelo Estado, é isso? Nós defendemos, acima de tudo, que esta matéria tem que ser revista. Houve decisões que foram peremptórias e direccionadas ao país todo tendo sido altamente prejudicial para algumas zonas. E defendem o ensino gratuito? Sim, com certeza. E na justiça? Em relação à justiça, a nossa maior bandeira é contra a corrupção e, portanto, todas as medidas que vamos apresentar, as mais prioritárias, são no sentido do combate à corrupção. Como pretendem reformar o sistema de saúde? Na saúde temos um problema idêntico ao das escolas. A saúde está por um fio, é talvez a área mais em perigo neste momento em Portugal. Por uma razão muito simples, eu posso ter problemas na área da educação mas ninguém morrer e na saúde se houver falhas as pessoas morrem. As pessoas que tenham cancro – como um caso que soube há dias em que depois de identificada a doença só conseguiu consulta para Abril do ano que vem – com a espera podem não ir a ter tempo para combater a doença. Ainda assim, o sistema de saúde português é considerado como um dos melhores da Europa ao nível da oncologia. É verdade. Isso parece quase inacreditável. O nosso serviço de saúde público até tem vários pontos de excelência. Mas houve aqui uma série de medidas nos últimos anos que não ajudaram na saúde. Nos últimos meses tivemos direcções de hospitais inteiras a pedir a demissão. Estamos a falar num momento que se segue a cortes orçamentais profundos, nomeadamente na área da saúde. O sistema tem de ser repensado. O grande problema é o facto das políticas serem levadas a cabo durante cerca de três anos. São apresentadas reformas, são implementadas durantes três anos e depois são mudadas. Isto é tareia à esquerda e à direita. Defendo que deveria existir um pacto entre os partidos relativamente a reformas que têm de ser feitas. São reformas que deveriam ter um período de implementação mínimo de dez anos. É a única maneira. É por isso que muita coisa não funciona. Criticou há uns dias a proposta de Orçamento de Estado por implicar muita despesa pública. Mas é necessário investimento. Como encontrar um equilíbrio? Nós apostamos muito nas reformas, porque parte dos nosso males advém de uma má gestão e da corrupção que, em Portugal, é transversal. Os liberais não são contra o Estado. Mas um Estado enquanto regulador. Por exemplo, um português típico, olha com inveja, e com alguma razão, para os países nórdicos onde a carga fiscal é muito elevada, mas as pessoas têm acesso a todos os serviços e com qualidade. O problema, em Portugal, é que estamos a chegar ao ponto em que qualquer pessoa, com um ordenado mediano, chega facilmente aos 35 ou 40 por cento de impostos, sem conseguir aceder a serviços de qualidade. Acha que em Portugal as pessoas deveriam ter direito aos mesmo benefícios que são dados por esses países? Exacto. Mas não temos serviços de acordo com isso. Se pagássemos o que pagamos, mas com serviços de saúde e de educação de acordo com esse valor tudo estaria razoavelmente bem e as pessoas, se calhar, não se importavam de pagar tantos impostos. Das duas uma, ou pagamos metade dos impostos que pagamos, continuamos a ter os serviços que temos, e o dinheiro com que ficamos vai-nos permitir viver melhor e investir de outra forma em nós próprios, na nossa profissão, na família, nos estudos dos filhos, etc. Nós, liberais, olhamos mais para o indivíduo e por isso, neste contexto, poderíamos pagar 20 a 25 por cento dos impostos e ter os mesmos serviços deficientes. Vivemos com isso e assumimos. Ou então, se pagamos aquilo que pagamos tem de haver uma reforma profunda e tem tudo de funcionar bem. E quem regula tudo isto é o Estado. Os países nórdicos também têm os seus problemas. Nada é perfeito. Mas são países que realmente têm sistemas de saúde e de ensino gratuitos que funcionam bastante bem. A Europa tem estado dividida. Os movimentos de direita são cada vez mais extremos. Uma das razões tem que ver com a reacção à integração de refugiados. Como vê esta questão? Quando tivemos agora esta vaga de refugiados na Europa, Portugal nem foi muito afectado. Não tivemos problemas. Mas houve outros países que tiveram. Quando falamos de refugiados estamos a falar de pessoas que vêem de uma situação extrema de vida ou morte e, portanto, precisam de um porto de abrigo. Penso que a Europa esteve bem a acolher os refugiados. Claro que depois isto originou problemas. A Itália foi altamente massacrada. A Itália foi o país com mais entradas de refugiados. A legislação Europeia diz que o país por onde os refugiados entram é responsável pelo seu processo de acolhimento e de trânsito. O que aconteceu foi que a Itália foi altamente prejudicada nisto. A Alemanha concordou em acolher grande parte destes refugiados. À partida, parece uma atitude bastante altruísta, mas na Alemanha não se brinca em serviço. A Alemanha para manter a economia lá em cima precisa de uma população activa grande. Atenção que os refugiados que vieram da Síria, na sua maioria, tinham cursos superiores e tinham as suas profissões. Eram refugiados bastante apetecíveis. Percebo perfeitamente porque é que a Alemanha lhes abriu a porta. Eram pessoas que se podiam integrar perfeitamente. Outros países fizeram o mesmo que a Alemanha. Agora há aqui um grave problema. A população destes países onde tem existido uma contestação mais forte, não viu isto com bons olhos devido aos problemas sociais que trouxe e por verem parte dos orçamentos a irem para estas questões. Começou a haver reacções de racismo puro e duro. O que se nota depois é a ascensão de partidos nacionalistas. Como vê esta ascensão de movimentos de extrema-direita? Acho que é perigoso. Esta coisa do populismo faz-me uma grande confusão. Mas isto é tão perigoso como seria perigoso partidos de extrema-esquerda subirem ao poder e imporem determinadas coisas. Acho tudo perigoso. Não é por acaso que a democracia se situa ao centro. E eu, acima de tudo, sou democrata. Até vejo isso um pouco como um equilíbrio natural, porque quando há um excesso de um lado, tem que haver a reacção do outro. Mas isso pode resvalar para situações perigosas. Sim, mas a história também nos ensina que perante essa situação também vai existir um contramovimento. Foi sempre assim. Não há maneira de evitar esse resvalar? Há, são os liberais. É a luta pela defesa de direitos e por uma boa implementação da democracia. Referiu que “entre Haddad e Bolsonaro, venha o diabo e escolha”. O que quer dizer com isto? Nós preferíamos que fosse um candidato novo que estivesse nesta corrida. O PT teve o problema gravíssimo de estar associado à corrupção e está a ser altamente penalizado por isso. Mas o Bolsonaro assume-se contra a democracia. Sim, e por isso não sei qual deles é o melhor. Se fosse brasileira teria graves dificuldades em escolher. Em escolher entre democracia e não democracia? Mas eu não considero nenhum dos dois candidatos democratas.
Sofia Margarida Mota PolíticaDeputado José Pereira Coutinho quer responsabilização pelas falhas no Metro Ligeiro [dropcap]O[/dropcap] deputado Pereira Coutinho questiona o Governo acerca das medidas que pretende tomar para responsabilizar as entidades públicas e privadas pelas derrapagens financeiras e incumprimentos contratuais das obras do Metro Ligeiro. O deputado recorda a resposta a uma interpelação que assinou em que o Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes (GIT) , em 2010, justificava o convite feito a sete entidades internacionais para assumirem as operações na primeira fase do Metro Ligeiro com a necessidade de “profissionalismo”. No entanto, de acordo com o deputado, o que aconteceu foi precisamente o contrário. “O planeamento do projecto foi deficiente, houve uma má gestão dos prazos de construção, os cadernos de encargos foram mal elaborados prejudicando a fiscalização e o controlo das obras e houve falta de rigor nos custos”, aponta Coutinho. Por outro lado, o tribuno considera que é necessário criar uma comissão independente para averiguar as principais razões que levaram às muitas derrapagens financeiras que o projecto tem vindo a ter. Para o futuro, Coutinho pede ainda ao Governo a divulgação dos estudos de sustentabilidade financeira do projecto a que chama de “elefante branco”.
Sofia Margarida Mota PolíticaFinanças | Comissão atenta à revisão do regime de aquisição de bens e serviços O acompanhamento dos trabalhos para a revisão do regime de aquisição de bens e serviços, a análise dos créditos malparados atribuídos à Viva Macau e o acompanhamento das investimentos do Governo no fundo de cooperação Guangdong – Macau, são os destaques da agenda de trabalhos da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas [dropcap]A[/dropcap] primeira reunião da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas, realizada ontem, foi dedicada à organização de trabalhos para o próximo ano. A revisão da lei de aquisição de bens e serviços foi uma matéria destacada pelo presidente da comissão, Mak Soi Kun. “É necessário saber qual o ponto da situação para a revisão do regime, até porque é uma matéria que está a ser discutida desde 2014”, afirmou. O deputado recordou ainda que a revisão legislativa foi apontada como prioridade do Governo na apresentação das Linhas de Acção Governativa do ano passado. Como tal, Mak Soi Kun entende que chegou a hora do Executivo explicar o atraso nos trabalhos a este respeito. Para o presidente da comissão, é fundamental avançar com a consulta pública sobre a revisão deste diploma. O caso da Viva Macau, que se encontra em investigação no Comissariado Contra a Corrupção (CCAC), é também uma matéria que pode vir a constar dos trabalhos da comissão este ano. “Temos que analisar a questão dos créditos malparados”, afirmou Mak Soi Kun referindo-se às operações do Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização (FDIC) sobre o empréstimo à Viva Macau prestados em 2009. Mak sublinhou que a comissão aguarda ainda o acesso a informações financeiras da empresa dadas por ordem cronológica para depois decidir se é necessária nova análise. “As demonstrações financeiras por ordem cronológica são muito importantes e não nos interessa tanto as importâncias mas sim a sequência com que foram atribuídas”, referiu a este respeito. Fundo duvidoso O acompanhamento do fundo de desenvolvimento para a cooperação Guangdong – Macau, que tem 20 mil milhões de renminbi de capital investido pelo Governo da RAEM, está também na agenda da comissão. De acordo com o presidente, trata-se de uma matéria em que importa “saber se há ou não lucros a tirar”, até porque envolve “uma importância muito elevada”. Relativamente aos lucros deste fundo, o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong garantiu na altura da sua apresentação, uma taxa de juro de 3,5 por cento sobre o valor investido. Mak sublinhou ainda que a comissão vai prestar mais atenção às empresas criadas com dinheiros públicos, sem adiantar pormenores. Com a abertura da Linha da Taipa do Metro Ligeiro, agendada para o próximo ano, a comissão considera que também é tempo de acompanhar a atribuição dos subsídios às empresas de transportes públicos. “É necessário entender qual a metodologia do Governo na atribuição destes subsídios”, disse o presidente referindo-se às empresas responsáveis pela circulação de autocarros e do Metro Ligeiro.
Sofia Margarida Mota SociedadeRui Leão, Carlotta Bruni e Maria José de Freitas distinguidos com prémios de arquitectura [dropcap]O[/dropcap] projecto de habitação social do Fai Chi Kei e o projecto de reconstrução da Estação de Correios da Taipa foram dois dos trabalhos premiados este ano com a distinção de excelência atribuída pela Associação dos Arquitectos de Macau (AAM), nas categorias de habitação e de conservação, respectivamente. O galardão, entregue bianualmente pela AAM, representa um “reconhecimento por parte dos pares”, disse ao HM Carlotta Bruni, co-autora, juntamente com Rui Leão, do projecto para o Fai Chi Kei. O trabalho vencedor incluiu cerca de 750 apartamentos com características muito particulares. “Estamos a falar de habitação concebida nos seus limites mínimos de espaço”, explicou. Por outro lado, há que ter em conta a importância dos espaços comunitários associados às estruturas de habitação social e que a dupla de arquitectos fez questão de implementar. “São espaços que albergam muita gente e é necessário que estas pessoas tenham locais para se encontrarem”, disse. Antigo vs Contemporâneo Já o projecto de reconstrução dos correios da Taipa, da autoria da arquitecta Maria José de Freitas, ganhou o prémio de excelência na categoria de conservação. Para a arquitecta, “receber um prémio destes é sempre saudável e é o reconhecimento de uma actividade que tem vindo a ser exercida em Macau durante muitos anos”, contou ao HM. Como em qualquer obra de reconstrução, um dos maiores desafios acontece logo ao princípio, quando o arquitecto se depara com a realidade do estádio de conservação do imóvel. Para Maria José de Freitas, “o próprio edifício já tinha um desenho apelativo: era uma construção estilo português suave com anexo posterior mais modernista”, começou por explicar. O projecto galardoado respeitou estas linguagens e acrescentou “elementos numa linguagem mais minimal e muito contemporânea”, referiu a arquitecta.
Sofia Margarida Mota SociedadeUniversidade de Coimbra cria Academia Sino-Lusófona A troca de conhecimentos de direito português e chinês é um dos grandes objectivos da recém-criada Academia Sino-Lusófona na Universidade de Coimbra. A entidade representa mais um espaço de aproximação académica entre a centenária instituição de ensino superior e a República Popular da China [dropcap]A[/dropcap] Universidade de Coimbra criou a Academia Sino-Lusófona, uma entidade que visa “desenvolver estudos avançados e efectuar acções de formação focadas nas relações entre a China, Portugal e os Países de Língua Portuguesa”, revela um comunicado emitido pela instituição de ensino superior. O foco dos trabalhos da academia será a área jurídica analisada segundo uma perspectiva interdisciplinar, acrescenta o mesmo documento. A Academia Sino-Lusófona terá entre as suas principais funções a organização de eventos científicos, gestão de parcerias com entidades chinesas, promoção, elaboração e a publicação de estudos científicos, em especial em matéria de direito comparado chinês e português. Terá ainda a seu cargo a realização de cursos não conferentes de grau e outras acções de formação em matérias de direito chinês e/ou português, ciência da administração, ciência política e políticas públicas e ainda a prestação de serviços de consultoria jurídica e o desenvolvimento actividades de intercâmbio cultural. O novo organismo, com sede no Colégio da Trindade-Casa da Jurisprudência, tem como director Rui Manuel de Figueiredo Marcos, também director da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, e como presidente honorário António Pinto Monteiro, professor catedrático dessa mesma faculdade. Reatar de laços A entidade tem ainda como objectivo reatar as antigas relações entre a instituição de ensino superior portuguesa e a China. “A criação da Academia Sino-Lusófona da Universidade de Coimbra (ASL-UC) assume-se como mais um passo na reaproximação entre a instituição conimbricense e a República Popular da China (RPC), uma das prioridades estratégicas da UC nos últimos anos”, refere o comunicado. Trata-se de uma entidade que, juntamente com o Instituto Confúcio da Universidade de Coimbra, criado em 2016, aposta no reforço das parcerias com instituições académicas da RPC, e que terá ainda como objectivos o desenvolvimento de canais de divulgação da UC em língua chinesa e a criação de bolsas de estudos dirigidas ao fomento das relações académicas. Ainda de acordo com o comunicado, a UC recorda tempos em que “Coimbra foi um elemento fundamental da comunicação científica e circulação de estudiosos entre a Europa e a China”. Uma fase à qual se sucedeu um período de algum distanciamento institucional, “que se tem vindo a superar através de várias iniciativas de relevo”, lê-se. “A criação da Academia Sino-Lusófona é, assim, um marco importante no desenvolvimento das nossas relações com a República Popular da China, que já estão num nível sem igual num passado recente, fruto do investimento estratégico que temos feito”, refere o Reitor da Universidade de Coimbra, João Gabriel Silva.