“Tempos Transitórios” de Ricardo Meireles inaugura a 29 de Novembro na Creative Macau

A Creative Macau vai receber, a partir do próximo dia 29, a exposição de fotografia de Ricardo Meireles, “Tempos Transitórios”. De acordo com o autor, a mostra pretende “parar” as pessoas para que se apercebam do lugar que habitam e onde se movem

 

[dropcap]P[/dropcap]roporcionar um momento de pausa é a proposta do fotógrafo Ricardo Meireles com a exposição “Tempos transitórios” que será inaugurada no próximo dia 19 na galeria da Creative Macau. O objectivo é dar às pessoas um espaço para “parar, olhar e observar” a cidade que habitam e que, muitas das vezes, não têm tempo para absorver, apontou Ricardo Meireles ao HM.

Para o efeito, o fotógrafo foi à procura da cidade, das suas características e movimentos. “Quis captar aqueles momentos da cidade que são mais característicos e que estão mais relacionadas com a memória local e com a identidade através da arquitectura, da construção”, começou por explicar o também arquitecto.

Por outro lado, não existe cidade sem as pessoas que nela circulam e para transmitir esta ideia, o fotógrafo optou pelo desfoque das figuras humanas em contraponto com o foco das construções. “Estou a focar o elemento da cidade e estou a desfocar as pessoas porque são um elemento transitório, que passa”, explicou. “As pessoas movem-se de um lado para o outro e a cidade continua”, acrescentou.

Em última instância, Meireles pretende, com as imagens que apresenta em “Tempos transitórios”, sintetizar a ideia de um momento de pausa em que as palavras de ordem são “agora pára, olha e observa”. A razão, sublinhou tem que ver com a própria dinâmica local. “Em termos de fluxo humano, Macau é um pouco desordenado. As pessoas vivem no seu dia a dia e acabam por passar muitas vezes pelos mesmos lugares e não param, não reconhecem e não sentem a cidade. Acabam por não perceber o que é Macau em si em termos de espaço e de sociedade”, justificou.

Três tempos

A mostra está dividida em três momentos distintos. Numa primeira parte estão patentes ao público um conjunto de doze imagens a preto e branco e de grande formato. A ideia é mostrar o resultado do movimento rápido que é a captura de uma imagem. Segundo o autor, trata-se “do registo do movimento dos fluxos pedonais, num testemunho que foca um certo elemento perene da cidade” com características que incluem a memória e identidade locais.

A apresentação de um vídeo com cerca de cinco minutos integra o segundo momento da exposição. Aqui, “o registo é idêntico ao das fotografias”, disse. “Estou a focar a cidade e capto o movimento das pessoas em longas exposições. As pessoas estão lá mas em movimento”, acrescentou.

A última parte da mostra é dedicada a uma instalação em que as imagens, ao contrário dos momentos anteriores, se mostram a cores. Aqui as fotografias são essencialmente dedicadas a Macau antiga, “onde estão mais memórias”.

A instalação é constituída por um painel que agrupa uma série de imagens pequenas e constitui um momento que dá ao público várias opções de observação: “as pessoas podem focar-se numa imagem em particular, ou no conjunto”, apontou. Mas o público também se pode rever e integrar quer no contexto da obra que no contexto da exposição. Isto porque faz parte da instalação a suspensão de lamelas de acrílico que podem servir de mediador entre o público e o trabalho exposto, mas podem ainda ser um espelho e um projecto de cada um. “Acabamos por estar a observar e a ser observados porque fazemos parte do mesmo contexto”, rematou o fotógrafo.

21 Nov 2018

Longas metragens | Competição principal traz filmes para todos os gostos

A secção principal de competição do Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM) mantém os requisitos: são seleccionadas apenas as primeiras ou segundas longas metragens de novos realizadores. O objectivo é dar a conhecer e premiar novos talentos. Este ano a secção é composta por nove filmes em que diversidade e qualidade são as palavras de ordem

 

Além do deserto

[dropcap]“Á[/dropcap]ga” é a co-produção búlgara, alemã e francesa que traz ao ecrã da principal secção de competição do IFFAM as transformações na vida de Nanook e Sedna, um casal que vive num yurt, algures no deserto. Isolados, vêem-se obrigados a mudar as rotinas de sustento quando a caça que lhes dá de comer começa a escassear com a morte inexplicável dos animais e os degelos sazonais antecipados. Entretanto, Chena é a única ligação do casal ao mundo exterior e mesmo à filha, Ága, que abandonou o inóspito lar e nunca mais regressou. Mas quando a saúde de Sedna começa a deteriorar-se, Nannook decide trazer a filha de volta e parte ao encontro de Ága.

“Ága” é realizado pelo búlgaro Milko Lazaro que, nesta edição do festival, teve o seu segundo filme seleccionado. A primeira longa do realizador, “Alienation”, que conta a história de um homem grego que se desloca à Bulgária para comprar um bebé recém-nascido, estreou no Festival de Veneza em 2013.

Escondidos no silêncio

Eva Trobisch é a realizadora de “All Good” que trata das consequências antagónicas que o silêncio pode ter. “All Good” é a história de Jannes que, depois de ser assediada pelo patrão do seu cunhado, resolve manter o incidente escondido. Mas não é por isso que as coisas caem no esquecimento. Muito pelo contrário.
Nascida em Berlim, em 1983, Eva Trobisch estreia-se nas longas metragens com “All Good”, O filme teve a sua premiére no Festival de Munique no passado mês de Junho onde conquistou os galardões para o Novo Talento Alemão nas categorias de melhor realização e de melhor actriz.

Tudo por um filho

A festa do cinema segue com “Clean Up” do coreano Kwon Man-ki. O argumento acompanha a história de Jung-Ju, uma mãe que perde o filho devido a doença cardíaca. Inconsolável, Jung-Ju passa os dias a trabalhar numa empresa que presta serviços de limpeza, a beber e a ir à igreja. Mas, tudo muda quando é admitido na mesma empresa Min-gu, um jovem recém saído da prisão, com aparência de mendigo e a cara coberta de cicatrizes. Jung-ju reconhece Min-gu, o menino que raptou 12 anos atrás para, com o dinheiro do pedido de resgate, poder pagar uma intervenção cirúrgica do filho. A culpa arrebata Jung-ju que agora quer saber mais sobre o jovem que a faz confrontar com o crime cometido.
Kwon Man-ki nasceu em Busan, em 1983 e estudou cinema na Sangmyung University e na Graduate School of Advanced Imaging Science da Chung Ang University. A sua curta-metragem de 27 minutos “Telepata” (2015) ganhou o maior prémio no Festival de Curtas-Metragens independentes de Daegu. “Clean Up” é a primeira longa metragem de Kwon Man-ki . O filme teve estreia mundial em Busan, no mês passado e ganhou o prémio New Currents.

Casos proibidos

Do Reino Unido vem “Scarborough” que tem realização de Barnaby Southcombe. O filme conta a história de dois casais com amores proibidos que se encontram na cidade costeira de Scarborough. Liz mantem uma relação com Daz, de 16 anos de idade. Também menor é Beth que mantem uma relação com Aiden, um artista muito mais velho. É em “Scarborough” que os casais conseguem fugir aos olhares reprovadores. No entanto, depois da euforia, a realidade desponta. Com ela começam os conflitos e o sofrimento. “Scarborough” é a segunda longa metragem de Barnaby Southcombe depois do sucesso de “Anna” (2012), protagonizado por Charlotte Rampling, Gabriel Byrne e Hayley Atwell. “Anna” teve estreia mundial no Festival Internacional de Cinema de Berlim e participou na competição oficial no Festival Internacional de Cinema de Xangai.

Adolescentes perigosos

“School´s Out”, de Sébastien Marnier, traz à tela a vida conturbada de um professor de liceu, Pierre, obcecado por descobrir o que se passa com alguns dos seus alunos. Pierre é o substituto de um professor que se atirou da janela de uma sala de aulas à frente dos seus alunos. Apesar da tragédia, seis adolescentes presentes não reagiram ao sucedido. Pierre é o novo professor que se apercebe que este grupo de miúdos está a congeminar um plano misterioso e resolve descobrir qual é. O novo professor acaba por ver a vida transformada num inferno.
School’s Out é a segunda longa-metragem de Sébastien Marniere e teve estreia mundial, este ano, no Festival de Veneza. Antes de se dedicar ao cinema, Marnier publicou três romances e co-escreveu uma série de animação para televisão baseada na sua novela gráfica “Salaire Net Et Monde”.

Profecias pessoais

Da China continental chega “Suburban Birds” do jovem cineasta Qiu Sheng. Um abatimento de terras numa área suburbana leva Hao, juntamente com uma equipa de engenheiros, a deslocaram-se ao local para investigar o sucedido. Durante a investigação, Hao encontra um diário dentro de uma escola primária. O caderno narra a história da separação de um menino do que parecia ser o seu grupo íntimo de amigos. Hao percebe que este diário pode conter profecias sobre a sua própria vida.
Qiu Sheng licenciou-se em Engenharia Biomédica na Tsinghua mas foi no cinema que encontrou o sucesso com esta sua primeira longa metragem, “Suburban Birds”. O filme, que estreou este ano, ganhou o prémio de Melhor Argumento no Xining FIRST International Film Festival e participou na competição de realizadores do Festival Internacional de Locarno, em Agosto.

À procura de culpados

“The Guilty” é a primeira longa metragem do dinamarquês Gustav Möller que contou com estreia na secção de competição do Sundance Film Festival. O filme trata a saga do ex-policia Asger Holm quando, depois de responder a uma chamada de emergência de uma mulher que terá sido sequestrada, avança para a resolução do caso. No entanto, o crime é bem maior do que o que parece inicialmente.
“The Guilty” é realizado por Gustav Möller que se estrou no grande ecrã com a curta “In Darkness” que acabou por ganhar o prémio Next Generation, no Festival Internacional de Cinema da Noruega em Haugesund.

Maldita cocaína

A argentina Barbara Sarasola-Day realiza “White Blood”. O filme conta a história de Martina e Manuel, uma dupla de narco-traficantes que cruzam a fronteira da Bolívia com a Argentina como “mulas” que transportam cocaína. No entanto, depois de passada a fronteira, quando se refugiam num hotel, Manuel morre de overdose devido às cápsulas que tinha ingerido. A organização criminosa para a qual trabalham exige, no entanto, a entrega da totalidade do produto que ambos transportavam. Martina precisa de ajuda e só pode recorrer a ajuda do pai, Javier, que nunca conheceu.
Nascida na Argentina em 1976, a realizadora Barbara Sarasola-Day estudou ciências da comunicação na Universidade de Buenos Aires. Trabalha na área do cinema desde 2000 e realizou a sua primeira curta-metragem, “El Canal”, em 2005. A sua primeira longa “Deshora” (2013), uma – co-produção entre a Argentina, a Colômbia e a Noruega teve estreia mundial no Festival de Berlim. “White Blood” é seu segundo filme.

Estatutos perdidos

Do México vem “The Good Girls”. O filme realizado por Alejandra Marquez Abella conta a história de Sofia, um rapariga “perfeita”, menina de elite que vê a posição social ameaçada por uma crise económica. Sofia tem que manter aparências ao mesmo tempo que reconhece a inevitabilidade da perda de status, num momento em que aprende a viver sem dinheiro, uma coisa que sempre teve como certa.
Alejandra Marquez Abella nasceu em San Luis Potosi A sua curta-metragem “5 Memories” (2009) foi exibida em mais de 140 festivais e a sua primeira longa-metragem “Semana Santa” (2015) teve estreia mundial no Festival Internacional de Cinema de Toronto. “The Good Girls” é a segunda longa da realizadora mexicana que também estreou em Toronto no passado mês de Setembro.

21 Nov 2018

Arbitragem | Deputados insistem em facilidades de entrada para especialistas

[dropcap]O[/dropcap]s deputados da 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) voltaram a defender ontem facilidades para árbitros internacionais que sejam chamados a intervir em Macau, tanto do ponto de vista de entrada como de permanência.

“Esperemos que os árbitros internacionais possam vir a Macau de forma mais facilitada e conveniente”, insistiu o presidente da 1.ª Comissão Permanente da AL, que analisa a proposta de Lei da Arbitragem, em sede de especialidade. Não é apenas na entrada que os deputados pedem facilidades, dado que persistem dúvidas sobre a qualidade que os vai permitir permanecer no território. “Qual é a sua figura em Macau? Há relação de trabalho ou apenas de prestação de serviços?”, questionou Ho Ion Sang, indicando que, em Hong Kong, por exemplo, aplica-se o último modelo.

Em causa estão matérias que, segundo o Governo, ainda têm de ser discutidas “a nível interno” nomeadamente com os Serviços de Migração, apontou o deputado.

Outro dos pontos “amplamente” discutidos pela 1.ª Comissão Permanente da AL na reunião de ontem prende-se com os requisitos dos árbitros, isto porque o diploma apenas estipula que “devem ser pessoas singulares e com capacidade plena de exercício de direitos”.

“Damos mais importância à sua profissionalização em determinada área e à sua autoridade”, observou Ho Ion Sang, dando conta de que os deputados aceitaram a fórmula utilizada, após a explicação do Governo – de que o diploma foi redigido tendo como base o direito comparado – e de terem confirmado que o mesmo sucede em Hong Kong.

No caso de recurso a instituições de arbitragem estabelecidas em Macau a proposta de lei prevê a possibilidade de estas definirem requisitos adicionais para que os árbitros possam integrar as respectivas listas, nomeadamente em termos de formação ou treino especializado iniciais na área da arbitragem.
S.M.M (com D.M.)

20 Nov 2018

Saúde | Não residentes impossibilitados de realizar estágio de acesso a carreiras

A 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) confirmou ontem que os não residentes não vão ter possibilidade de realizar o estágio profissional para 15 carreiras da saúde. Isto apesar de a proposta de lei, actualmente em análise, até permitir que façam as provas de acesso ao mesmo

 

[dropcap]S[/dropcap]ó quem tem BIR pode realizar o estágio profissional, requisito exigido à luz da proposta de lei actualmente em análise em sede de especialidade na AL, a um universo de 15 carreiras na área da saúde. A informação foi confirmada pela 2.ª Comissão Permanente da AL, que analisa o regime legal da qualificação e inscrição para o exercício de actividade dos profissionais de saúde. É que, se por um lado, a proposta de lei permite que os profissionais não residentes realizem a prova de conhecimento, deixa claro, por outro, que “a aprovação no exame não determina a admissão imediata ao estágio”. “Porquê? Não sabemos”, respondeu o presidente da 2.ª Comissão Permanente da AL.

No entanto, como referiu, durante a reunião foi aventada uma justificação para a opção legislativa: “Um dos deputados do sector médico interpretou que é para alguns alunos que estão a frequentar medicina tradicional chinesa, por exemplo, porque se conseguirem ser aprovados nos exames [de admissão ao estágio], já podem exercer a sua actividade profissional voltando à China”. “Ou seja, se passar na prova de conhecimento em Macau e fizer estágio na China e se a sua habilitação for reconhecida na América se calhar é uma das vantagens” subjacentes à norma, afirmou Chan Chak Mo. O deputado apontou, no entanto, que o assunto tem ainda de ser abordado com o Executivo.

Wong Kit Cheng, número dois da 2.ª Comissão Permanente da AL e enfermeira de profissão, complementou: “Há deputados que defendem que para os alunos estrangeiros é melhor conceder-lhes oportunidade de participar na prova de conhecimento”, na medida em que depois podem “pegar na qualificação e ir para outros países que não exigem estágio”.

Outro ponto que chamou a atenção dos deputados prende-se com as habilitações académicas ou profissionais exigidas às 15 categorias de profissionais abrangidas pelo diploma em apreço. “Achamos que há insuficiência de matérias”, observou Chan Chak Mo, sublinhando que na actual lei encontram-se actualmente fixadas exigências para cinco categorias (como médicos, dentistas ou enfermeiros), mas que a proposta em causa “nada prevê”, remetendo-as antes para regulamento administrativo complementar.

20 Nov 2018

Grande Prémio | TDM acusada de não transmitir todas as imagens da competição

[dropcap]A[/dropcap] Teledifusão de Macau (TDM) não transmitiu as imagens do acidente protagonizado pela piloto alemã Sophia Florsch, tendo sido acusada por vários telespectadores, nas redes sociais, de não transmitir todas as imagens do circuito, onde se incluem alguns acidentes de pequena dimensão. A mesma situação aconteceu com a corrida de motos no sábado, em que o acidente nunca foi visto, mostrando apenas uma breve imagem dos dois motociclos no chão, junto à Curva dos Pescadores.

Ontem o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, disse que vai tentar perceber o que aconteceu. “Posso dizer que vou falar com os colegas e poderemos fornecer as informações, não há segredo. Não sei o que se passa, podemos dar imagens do acidente”, apontou.

Contactado pelo HM, Manuel Pires, presidente da comissão executiva da TDM, disse desconhecer quais são as imagens que não foram transmitidas e garantiu que não há qualquer política de restrição. Contudo, e a título pessoal, admitiu não gostar de transmitir acidentes. “Acho de mau gosto passar esse tipo de imagens. De cabeças partidas, de pessoas numa situação complicada. Há uns anos, quando o motociclista português [Luís Carreira] bateu, a imagem estava a passar em directo. Isso era evitável, mas nunca mais voltou a passar. É uma questão de respeito pela pessoa”, rematou.

19 Nov 2018

65ª edição do Grande Prémio de Macau contou com 88 mil espectadores

[dropcap]A[/dropcap] 65º edição do Grande prémio de Macau teve, de quinta-feira a domingo, 83 mil espectadores. A informação foi adiantada pelo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, que se mostrou “muito satisfeito” com mais uma edição do evento.

No entanto, “trata-se de uma prova de alto risco”, disse, referindo-se ao acidente de Sophia Florsch na modalidade de F3 que marcou a prova final da modalidade. O secretário admitiu ainda que a organização possa vir a melhorar as condições de segurança. “O GP é um desporto de alto risco. Futuramente, vamos reforçar as medidas de segurança e todos os anos acontecem situações diferentes”, disse.

Quanto ao acidente que decorreu ontem à tarde, o secretário salienta que “felizmente não houve mortos”. De acordo com Alexis Tam, os cinco feridos – dois pilotos, dois fotógrafos e um elemento da organização – não estão em perigo de vida.

19 Nov 2018

Nuno Markl, humorista: “Isto da humanidade não tem cura”

O comediante, autor, radialista e apresentador de televisão Nuno Markl esteve em Macau para apresentar o espectáculo “Como ser um saco de pancada deprimente e vencer na vida”. Em entrevista, conta como a comédia pode ser um mecanismo de protecção e como o ser humano “é intrinsecamente marado”

[dropcap]C[/dropcap]omo é ser um saco de pancada deprimente que consegue vencer na vida?
Acho que isto no fundo, como todo o humor ou grande parte do humor que faço, é uma espécie de auto terapia, que me poupa bastante dinheiro em consultas. Tenho sempre esta ideia de que se as pessoas em vez de varrerem as suas coisas mais deprimentes para debaixo do tapete, se as assumirem e se lidarem com elas de uma maneira divertida, isso consegue ser bastante libertador e conseguem contagiar outras pessoas a quem se calhar aconteceram as mesmas coisas. Embora soe a egocêntrico, porque se trata de um espectáculo sobre coisas que me aconteceram a mim, é muito giro ver a identificação de pessoas a quem aconteceram coisas parecidas e que passaram por embaraços idênticos. Torna-se, portanto, um exercício de catarse da minha parte e das pessoas que assistem ao espectáculo. Também estimulo diálogo com as pessoas do público e acaba por ser uma espécie de terapia conjunta que é muito divertida de se fazer.

Como é o trabalho de fazer rir as pessoas?
É tramado (risos). É um ofício para onde as pessoas vão. Analisando tudo o que se passa lá para trás, acho que grande parte das pessoas que trabalham na comédia, começaram na escola usando-a como uma espécie de mecanismo de autodefesa porque fazer rir quebra gelo e barreiras. Vamos com essa ilusão para a idade adulta a pensar que se nos safámos na escola à conta de fazer rir os outros. Mas depois percebemos que não é nada assim. Na realidade, não há nada menos unânime que a comédia, porque suscita uma reacção tão visceral. As pessoas ou riem ou não riem e não riem todas das mesmas coisas. Portanto, há um lado sempre de incerteza e de desporto radical nisto. Costumo dizer que não faço nenhum desporto radical, tenho horror a coisas que me façam saltar de sítios muito altos. Portanto, o meu desporto radical é fazer piadas. Por muito que estejamos convencidos que determinada piada vá dar cabo do público, aquilo pode não funcionar e se calhar uma em que temos menos confiança pode tornar-se uma coisa que as pessoas agarram. Por isso, fazer rir é um ofício fascinante. Ao contrário de fazer dramas. O drama não suscita uma reacção visceral. Uma pessoa pode olhar para um drama e pode simplesmente fazer “humhum”, pode chorar eventualmente se for muito comovente, mas não precisa de o fazer. Pode apenas dizer sim, senhor, aqui está uma coisa bem feita”. Agora se o humor não fizer rir é complicado. Quando penso nisso é de facto uma forma de espectáculo tramada, mas que dá muito gozo.

É arriscado?
Sim, mas parte do gozo está nisso. Tenho sempre algumas incertezas e nervos antes de ir para um palco, mas depois chego lá e fico à vontade. Mas os momentos antes são sempre difíceis.

FOTO: Sofia Margarida Mota

Assume-se como um geek. Porquê?
Sim. Acho que a minha “geekness” também começou na adolescência. Sentimo-nos inadaptados e vencemos essa inadaptação e timidez agarrando-nos a séries, a filmes, a banda desenhada, a coisas que possamos apreciar sozinhos e metidos no nosso mundo. Isso faz com que desenvolvamos esse apreço por este tipo de coisas e que saibamos nomes de artistas que fizeram coisas super obscuras em filmes. O que acontece depois é que crescemos e começamos a perceber que há mais geeks como nós e depois formam-se comunidades de geeks que justificam a existência de coisas como, por exemplo, as comic-cons. Toda a geekness, e não digo isto com sentido depreciativo, parte de uma certa solidão que nos faz estar mais alerta e tentar encontrar uma espécie de sentido da vida em coisas.

Porque se sentia um inadaptado?
Porque era tímido, porque era um caixa de óculos, etc. Mas depois comecei a perceber que se fizesse rir as pessoas e desenhasse caricaturas delas, conseguia vencer o bullying. Consegui fazer com que alguns bullies me deixassem de chatear por ter feito a caricatura deles. E pensei “ok”, isto é uma boa maneira de comprar amizades. Mas, nem sei se consigo avançar com alguma explicação para a minha inadaptação ao longo da vida. Acho que tem tudo a ver com uma aula de ginástica para aí em 1977, ou 78 em que me esqueci de levar os calções e me pareceu que era uma boa ideia ir fazer ginástica em cuecas. Como eram brancas como o calções que se usavam na escola, achava que as pessoas iam achar que naquele dia tinha apenas calções mais curtos. Mas, de facto, não acharam isso. Fui humilhado. Acho que isso faz com que toda a minha idade adulta, e ainda hoje, sinta que estou em cuecas brancas. Poderia surgir disto algo bastante deprimente, mas não. A ideia deste espectáculo é também a de se escarafuncharmos nas coisas que queremos esconder também as conseguimos vencer e, se calhar, ter algum sucesso.

Lamentou a morte de Stan Lee. Qual o papel e a necessidade de super-heróis actualmente?
Lembro-me o quão mal vistos eram os livros de banda desenhada quando estava a crescer. As pessoas questionavam-me porque lia “aquelas porcarias” em vez de ler outras coisas decentes. Há sempre esta ideia. Na verdade, e o Stan Lee foi exemplar nisso, os super-heróis não são mais que uma adaptação aos tempos modernos dos heróis mitológicos das Grécias e Romas antigas. No fundo, estamos sempre em busca de criaturas mais elevadas que nos possam salvar e dar algum sentido à vida. Acho que temos de facto super-heróis em muitas áreas, da medicinas aos bombeiros. Não precisamos necessariamente de tipos com capas e collants justos para nos salvar. No entanto, uma pessoa como o Stan Lee fez muito mais que simplesmente arranjar histórias para nos entreter. Por isso, acho que é exemplar. Ele criou mitos que desbloquearam muitas situações na vida de muitos jovens que foram lendo banda desenhada. Quando se fala hoje de um filme como o “Black Panther” como uma coisa revolucionária que tem um elenco todo afro americano, na verdade foi o Stan Lee que fez isso quando decidiu que deveria existir um super-herói negro que vem de um país em África que está muito mais avançado do que todo o resto do mundo. Ele desbloqueou muitas coisas: falou sobre raça, sobre tolerância. Sempre foi um tipo muito progressista e, às vezes, quando as pessoas grosseiramente dizem que os super-heróis são uma coisa patrioteira da América, na realidade não é verdade. Se as pessoas realmente mergulhassem naquelas histórias, iriam perceber que há ali muitas mensagens universais, que falaram a muitas crianças e que de certa maneira formaram muitas crianças.

É muito activo nas redes sociais. Como vê esta relação das pessoas com o mundo virtual?
Já larguei o Facebook, mas estou fortíssimo no Instagram (risos). Acho que as redes sociais chegaram para unir as pessoas, mas acabaram por as desunir mais que nunca. Ainda por cima acabaram por perverter o sentido das palavras como amigo, gostar, etc. Acho que as pessoas também criaram nas suas cabeças a ilusão de conseguirem mudar o mundo e a mentalidade dos outros usando o Facebook, quando não o conseguem. Às tantas acaba por ser apenas um exercício imaturo de insultos mútuos. Não adianta nada. Isso fez me sair do Facebook. Agora estou no Instagram porque acho que as coisas estão ainda respiráveis, Talvez por ser uma coisa mais baseada em imagem do que em texto. Mas, de um modo geral, a espécie humana não sabe lidar com uma ferramenta como o Facebook.

O que se passa com a humanidade?
Isto é meio apocalíptico e niilista de se dizer, mas acho que somos uma espécie intrinsecamente marada. Muitas vezes quando olho para a paz no olhar das minhas cadelas quase que lhes invejo a serenidade. Na verdade, quando há guerras entre cadelas têm apenas que ver com um prato de comida mas de resto há uma tolerância muito grande. Também não estou a sugerir que a humanidade deva andar a cheirar os rabos uns dos outros, que é uma coisa que os cães fazem e muito bem. Mas acho que isto da humanidade não tem cura. Por muito que existam coisas boas a acontecer nós, intrinsecamente, aquilo que nos distingue dos animais é que temos perversão intrínseca e alguma maldade e isso é muito difícil de resolver. Portanto, só podemos tentar levar isto o melhor que conseguirmos tendo em conta que somos de facto marados. Aliás, o preço para termos coisas tão incríveis como comédia, poesia, arte é também sermos passados da cabeça.

Como encara situações da actualidade como o Trump no EUA e Bolsonaro no Brasil?
Acaba por ser muito inquietante mas ao mesmo tempo é estranhamente previsível. Faz-me muito impressão que tudo isto esteja a acontecer. Especialmente alguém como o Bolsonaro. Aqui há uns anos, um tipo que dissesse as coisas que ele disse durante a campanha não seria levado a sério. Quando vi uma fotografia da Regina Duarte, que é uma actriz que admiro, abraçada ao Bolsonaro pensei: o mundo está, de facto, perdido. Não há solução para isto. A viúva Porcina está a apoiar um fascista. Inacreditável [risos]. Isto é muito preocupante mas, de certa maneira, a humanidade caminhou para este buraco. Muitas vezes, as pessoas ofendem-se com tão pouco à esquerda enquanto a direita fica unida. Essa desunião à esquerda faz de facto com que a direita se una e se ria, enquanto olha para a esquerda e vê toda a gente à porrada uns com os outros. Portanto, de certa maneira estávamos a pedi-las, o que é horrível, mas espero que isto, a dada altura, se afine e que seja apenas um acidente de percurso.

19 Nov 2018

Philippe Graton, autor da BD “Michel Vaillant em Macau” | Uma saga familiar

Michel Vaillant está de volta a Macau, assim como o autor do novo livro que tem a cidade como cenário, Philippe Graton. Numa entrevista colectiva, o autor e filho do criador da personagem que transportou os desportos motorizados para as tiras de banda desenhada revela como se desenha velocidade e como ganhou o respeito do mundo dos desportos motorizados

[dropcap]C[/dropcap]omo se deu o regresso desta personagem?
Tudo começou com o Festival Literário de Macau. Na sequência do convite tive a oportunidade de conhecer Macau e fiquei fascinado. Pediram-me para fazer duas exposições, uma de banda desenhada com as pranchas originais da história que o meu pai desenhou há 35 anos atrás sobre Macau. O outro convite foi para expor o meu trabalho fotográfico. Numa das entrevistas que dei na sequência do festival, um jornalista perguntou-me se eu imaginava o regresso do Michel Vaillant a Macau, depois de 35 anos. Disse “não sei, porque não”. No dia seguinte, a primeira página dizia que o Michel Vaillant iria regressar a Macau. Fiquei preso a essa ideia. Toda a gente me veio dizer que deveria fazer um livro novo com Macau como cenário. A minha resposta continuava a ser talvez. Comecei a interessar-me pela história do Grande Prémio de Macau. Não conhecia as especificidades da corrida de Macau, que é exigente, perigosa e espectacular. Fiquei fortemente impressionado quando comecei a documentar-me e a olhar para os jovens pilotos. A idade é limitada a 26 anos, portanto, são muito novos. Aquilo que em francês chamamos de chiens fous, cães raivosos com dentes aguçados que sabem que se ganharem o Grande Prémio de Macau podem ser descobertos e ascender a competições como a Fórmula 1. Como aconteceu com o Ayrton Senna e o Schumacher. Portanto, é uma corrida muito importante e perigosa e esses condutores jovens são extremamente velozes e agressivos porque sabem o que está em jogo.

Um desporto de certa forma dramático.
A banda desenhada é como qualquer outra forma de dramatização, como cinema, literatura ou teatro. A banda desenhada conta histórias humanas. Tive o interesse de escrever uma história sobre esta corrida e explicar aos leitores que não conhecem o que está em questão, o que é a corrida. Quando se está em Macau, queres escrever uma história que se passa na cidade, que mostre muito mais que o circuito. O livro feito há 35 anos focava-se apenas na corrida e no circuito, mas há tantas coisas em Macau. Não quis cair no cliché dos casinos, mas começar por aí e fazer algo completamente diferente. Não há um único casino nesta história. A ideia era localizar uma perseguição na cidade, ao mesmo tempo que a corrida acontece no circuito. Dessa forma, poderia aumentar a tensão em duas histórias: a corrida e alguém que arrisca a vida a levar informação muito importante a Michel Vaillant. Portanto, a tensão aumenta em duas histórias em simultâneo, o que me permitiu mostrar muitos aspectos de Macau.

Que aspectos de Macau foram focados neste livro?
Temos paisagens de Macau, a perseguição na cidade mostra o terminal de ferries, o cais, os velhos bairros, as Ruínas de São Paulo. Começa aí uma perseguição que vai levar as pessoas por ruas estreitas, que passa perto da Livraria Portuguesa. Foi um piscar de olho, uma piada privada, porque o Ricardo Pinto está na origem desta história. Se ele não me tivesse convidado há dois anos, e sem a sua ajuda, este livro não existiria e eu não estaria aqui. É a minha forma de agradecer. Tudo o que usámos, a paisagem urbana, deixo para descobrirem no livro.

Como se passam as emoções das corridas e a velocidade para um meio que imóvel?
Há dois aspectos. Primeiro é a história, os cenários e depois o grafismo. No cenários, não são os carros que são mais interessantes, mas as pessoas. Michel Vaillant não é só sobre pilotos e vitória ou derrota na corrida. Há muita dramatização no enredo, a família do Michel Vaillant, há muitas coisas em jogo. Eles fazem o seu próprio carro, o carro Vaillant. Há também a chegada de novas tecnologias e combustíveis. Portanto, é uma história que não se passa apenas no circuito. É uma saga familiar, é uma saga de negócios, sobre novas tecnologias. Tem vários enredos e, por isso, acho que é muito interessante.

E quanto ao grafismo?
Quanto aos desenhos que o meu pai fez, se virmos o “roar”, não diria que ele inventou isso, mas desenvolveu um estilo para retratar isto. Há um especialista em arte francês que diz que Jean Gratton inventou a banda sonora num meio silencioso. Não foi só para desenhar o barulho do motor, mas é um tipo de gramática gráfica que nos permite perceber que um carro se move a alta velocidade, a acelerar. Se virmos a história da arte, pintura, desenho, por aí fora, antes dos carros serem inventados, tudo que se movia depressa mudava de forma. As pernas do cavalo, as velas de um barco e a água, o fumo de um comboio. Quando os carros apareceram, quem procurou retratar essa velocidade de forma artística ficou perdido, porque um carro em movimento tem exactamente a mesma forma que um carro parado. Então, como é que graficamente se faz com que as pessoas sintam que o carro se está a mover a alta velocidade? A ideia seria este barulho, a banda sonora, que nos permite perceber que carro está numa posição de supremacia, até para perceber a ignição do motor, se está em velocidade de topo, se está a travar. Se tirarmos estes elementos, o carro está parado. É só quando introduzimos estes elementos que percebemos o movimento e de que forma se move. No ponto de vista gráfico, isso é muito interessante e, claro, que continuámos a usar isso. Quando fizemos histórias sobre a Fórmula E, há dois ou três anos, ficámos perdidos porque não sabíamos o que fazer com o silêncio dos motores. Perguntámos aos leitores, fizemos um concurso na internet a pedir sugestões para que barulho faria um motor eléctrico. Tivemos muitas respostas, ruuuuueee, roooaaaa, vvvvv… finalmente, selecionámos um e desenvolvemos a gramática de um motor eléctrico também para que o leitor percebesse quando está a aumentar de velocidade, travar. Tivemos sucesso a entrar no Século XXI.

Como foi a recepção destes livros?
Tenho muita sorte que quando vou a algum local ligado a desportos motorizados, uma corrida ou um rally, chego e pergunto se posso ter alguma documentação ou informação, porque estou a preparar um cenário para o Michel Vaillant. As portas abrem-se. A maioria das pessoas que trabalham em desportos motorizados são leitores de Michel Vaillant, muitos entusiásticos e prontos para ajudar. Fico sempre surpreendido, mas é uma coisa maravilhosa. Todos têm histórias para contar, como, por exemplo, pessoas que entraram para o mundo do automobilismo porque liam a banda desenhada quando era novo. Finalmente, reparo que as bandas desenhadas são muito apreciadas por quem está ligado a desportos motorizados porque somos precisos, procuramos realismo e damos uma boa imagem dos desportos motorizados. São desportos nobres. Como temos acesso a muita documentação podemos ser imaginativos, ou mesmo doidos, sobre os cenários e as histórias, mas nunca escrevemos coisas estúpidas sobre carros e corridas. Estamos bem documentados. Às vezes, mesmo pessoas que estão neste mundo aprendem coisas com o Michel Vaillant. Isto é aquilo a que chamo de um círculo virtuoso. De certa forma, trabalhamos como jornalistas. Quando vou a corridas tiro fotografias, falo com pilotos, líderes de equipas, engenheiros. Às vezes, dão-me informações que não dão aos jornalistas porque sabem que não vai estar no dia seguinte na imprensa. É muito agradável ter essa confiança e consideração num universo que nos fascina.

16 Nov 2018

Zheng Anting pede mais fiscalização a instalações de gás

[dropcap]O[/dropcap] deputado Zheng Anting quer mais inspecções aos equipamentos e instalações de gás nos restaurantes. Em causa estão os recentes incêndios causados problemas com os equipamentos que funcionam a gás. Para o deputado, nem o Governo, nem as empresas fornecedoras de gás estão a cumprir o seu papel no que respeita à fiscalização nesta matéria.

O tribuno denuncia situações em que os equipamentos eléctricos terão sido substituídos por equipamentos a gás sem que tenha sido dada qualquer informação às entidades competentes do Governo. Estas alterações acarretam aumento de riscos e precisam de ser acompanhadas por equipas do Executivo de modo a garantir o funcionamento seguro dos equipamentos.

Para Zheng Anting são muitos os estabelecimentos que declaram ao Governo que estão a utilizar fogões eléctricos, mas, na realidade, usam fogões a gás. “Os acidentes que estas alterações podem causar podem trazer danos irreversíveis à vida e propriedade dos cidadãos”, aponta o tribuno.

Por outro lado, os responsáveis pelas instalações de gás devem também ter nos seus deveres a obrigatoriedade de fazer inspecções regulares a este tipo de equipamentos de forma a garantir o seu bom funcionamento ao longo do tempo, sublinha o deputado em interpelação escrita.

15 Nov 2018

Ambiente | Executivo comparticipa empresas de recolha e tratamento de resíduos

[dropcap]O[/dropcap] Executivo vai comparticipar, até 50 por cento, despesas com a compra de veículos e equipamentos de empresas de recolha e tratamento e lixo. A informação foi divulgada ontem pelo porta-voz do Conselho Executivo (CE), Leong Heng Teng.

“O apoio financeiro a conceder à empresa que reúna as condições de concessão por cada pedido é, no máximo, o correspondente a 50 por cento do montante total” dos equipamentos e veículos adquiridos, disse Leong.

O regulamento define também tectos máximos de comparticipação, sendo que o apoio financeiro prestado pelo Governo a cada empresa não pode “exceder o limite de 1,5 milhões de patacas”, acrescentou o porta-voz.

De acordo com o mesmo responsável, e tendo em conta que existem actualmente 70 empresas ligadas ao sector de recolha e tratamento de lixo no território, o Executivo estima um gasto total de 16 milhões de patacas.

A medida é necessária, não só para ajudar o sector que se debate com dificuldades financeiras, mas também porque “os transportes utilizados por estas empresas já estão muito gastos e velhos e as empresas pretendem introduzir veículos que respeitem mais o meio ambiente”, afirmou Leong Heng Teng.

15 Nov 2018

Renovação urbana | Proprietários de prédios demolidos com indemnizações garantidas

Independentemente do número de fracções que um proprietário possa perder devido a demolição, dentro do plano de renovação urbana, só se pode candidatar a uma fracção de alojamento temporário ou de compra para troca. As indemnizações por cada imóvel perdido são garantidas, mas os valores são desconhecidos e estão em fase de estudo

 

[dropcap]A[/dropcap] proposta de lei do regime jurídico de habitação para alojamento temporário e de habitação para troca no âmbito da renovação urbana garante a indemnização por todos os imóveis que venham a ser demolidos. A ideia foi deixada ontem pelo porta-voz do Conselho Executivo (CE) Leong Heng Teng.

O diploma vai regular as opções que serão dadas aos proprietários que vão ficar sem as suas casas na sequência de obras de renovação urbana e que, como tal, tenham de arrendar temporariamente ou comprar uma fracção habitacional, apontou ontem Leong.

De acordo com Leong, esta proposta não tem como objectivo servir interesses de proprietários, mas salvaguardar as necessidades habitacionais dos residentes que temporária ou permanentemente vão ter de deixar as suas casas.

Dados os recursos limitados do território, o diploma impõe restrições quanto ao número de candidaturas que podem ser apresentadas pelos proprietários para alojamento temporário e compra por troca.

O diploma prevê que, independentemente do número de bens imóveis demolidos para satisfazer as exigências do plano de renovação urbana, o proprietário pode apenas candidatar-se ao arrendamento de uma fracção de alojamento temporário ou à compra de apenas uma fracção de habitação para troca.

Já nos casos em que os bens imóveis perdidos sejam co-propriedade de duas ou mais pessoas, o número de habitações de alojamento temporário ou de casas para troca a que estas pessoas se podem candidatar será igual ao número dos respectivos bens demolidos, não podendo ultrapassar o número total de co-proprietários.

No entanto, os proprietários vão ser indemnizados de acordo com o total das suas perdas, até porque “não faria sentido uma pessoa ter, por exemplo, três casas, ficar apenas com uma nova fracção e não ser indemnizada pela perda das outras duas”, disse Leong Heng Teng.

A fórmula para avaliar o valor das indemnizações vai ser definido com a futura Lei da Renovação Urbana, acrescentou o porta-voz do CE, que está em fase de estudos.

Casos especiais

Os candidatos abrangidos pelo regime de expropriações por utilidade pública que venham a ter os seus imóveis demolidos são também considerados na presente proposta. Como tal, podem candidatar-se à compra de habitação para troca com o benefício de lhes serem atribuídas isenções ficais.

Os promitentes compradores das fracções do Pearl Horizon também vão estar livres do pagamento do imposto de selo. A estes proprietários o regime permite a candidatura à compra de apenas uma fracção para troca, independentemente do número de fracções que tenham comprado. No que respeita ao preço de venda destas fracções a referência será o preço constante no contrato-promessa de compra e venda prévio.

15 Nov 2018

Jogo | Protesto contra a substituição de feriados este domingo

Está agendada para o próximo domingo uma manifestação dos trabalhadores do jogo contra o regime de substituição de feriados. No mesmo dia, vai ser entregue na sede do Governo uma petição a apelar ao aumento salarial entre os cinco e os seis por cento

 

[dropcap]A[/dropcap] Associação Novo Macau para os Direitos dos Trabalhadores do Jogo, presidida por Cloee Chao, está a organizar um protesto para o próximo domingo. Em causa está a legislação que regula o trabalho nos dias de feriado obrigatório e que permite a troca destes dias de folga por outros.

De acordo com o vice-presidente da associação, Jeremy Lei, a selecção de feriados que podem ser gozados pelos trabalhadores é um recuo nos direitos de quem trabalha.

O desagrado com esta medida é manifestado pela maioria dos funcionários do jogo, apontou o responsável, até porque não podem sequer pedir folga nessas datas. “As operadoras reservam-se o direito de planear o seu funcionamento nestas alturas e os trabalhadores não podem solicitar qualquer folga nestes dias”, disse Lei ao HM.

Por outro lado, a substituição de feriados pode ainda prejudicar o salário dos funcionários visto que não vão ser pagos a triplicar, como seria previsto nestas situações. A alternativa de pagamento, e caso não substituam o feriado obrigatório por um outro dia de folga, será o pagamento a duplicar, esclareceu Lei.

Da discriminação

Outra questão que preocupa os funcionários do sector é a proibição de entrada dos trabalhadores do sector nos casinos fora do horário de trabalho. Para Jeremy Lei trata-se de “uma medida discriminatória para com estas pessoas”.

A proibição é baseada num relatório do Instituto de Acção Social (IAS) que, para o responsável, não apresenta dados objectivos acerca dos malefícios do jogo para os trabalhadores do sector. Lei justifica a subjectividade dos dados do IAS com a reduzida amostra em que se basearam. “ O IAS recolheu apenas os dados de cerca de 100 pessoas o que não é suficiente”, disse.

A Associação Novo Macau para os Direitos dos Trabalhadores de Jogo sugere que os funcionários sejam impedidos de entrar nas áreas de apostas mas que possam frequentar o espaço dos casinos dedicados ao comércio.

No próximo domingo será ainda entregue no edifício da Sede do Governo uma petição com cerca de 1000 assinaturas em que é pedido o aumento dos salários dos trabalhadores dos casinos. Este ano as operadoras aumentaram os salários dos seus funcionários em cerca de 2,5 por cento, mas não é suficiente, considera Lei. O objectivo da associação é conseguir aumentos entre os cinco e os seis por cento.

Para o protesto do próximo domingo, Jeremy Lei prevê que o número de participantes supere as expectativas, esperando cerca de duzentos manifestantes.

14 Nov 2018

Economia | Deputados querem saber quando termina o regime offshore

A OCDE deu até 30 de Junho de 2021 para Macau terminar com os benefícios fiscais atribuídos às offshore, mas a proposta do Governo prevê o final da actividade seis meses antes. Os deputados da 3ª Comissão Permanente querem saber a razão

 

[dropcap]O[/dropcap]s deputados da 3ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa querem saber a razão que levou o Governo a estabelecer o dia 31 de Dezembro de 2020 para o final do funcionamento das empresas “offshore” em Macau, e não o dia 30 de Junho, que foi estipulado como prazo final para esse efeito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).

“Porque é que neste artigo o Governo definiu o prazo de 1 de Janeiro desse ano? Há uma divergência de seis meses e queremos saber a razão para isso”, disse ontem o presidente da 3ª Comissão Permanente, Vong Hin Fai. A medida consta da proposta de alteração do decreto que põe fim aos benefícios fiscais às empresas “offshore” no território.

Vong Hin Fai adiantou ainda que os deputados receberam opiniões dos empresários do sector, mas que ainda não tem conhecimento do seu conteúdo. No entanto, admitiu que a antecipação do fim dos benefícios fiscais antecipadamente vai ter consequências. “Esta mudança causa impactos no sector, até porque se trata de uma diferença de meio ano e os resultados para quem está envolvido vão ser diferentes”, apontou o deputado.

A caminho do fim

A questão foi levantada ontem, pelos deputados na primeira reunião da comissão para discutir a proposta para a revogação do decreto-lei que estabelece o regime geral de benefícios fiscais destas empresas, criado em 1999. A revogação do regime jurídico das actividades “offshore” é alargada aos respectivos diplomas complementares e serão estabelecidas disposições transitórias.

A proposta tem como objectivo corresponder às responsabilidades de Macau para com a OCDE no combate da erosão das bases tributárias e à transferência de lucros.

De acordo com o relatório divulgado pela organização internacional, o regime da actividade “offshore” em Macau é um sistema fiscal potencialmente prejudicial, devendo ser cancelado o referido regime de benefício fiscal até ao dia 30 de Junho de 2021. De acordo com Vong Hin Fai, o parecer referente a esta proposta deverá estar pronto até ao final de Dezembro deste ano.

14 Nov 2018

“O Caderno dos Desejos” vai ser apresentado sexta-feira na Livraria Portuguesa

[dropcap]O[/dropcap] Caderno dos Desejos é o primeiro livro de Susana Esmeriz e traz aos mais novos a história de Mariana. “O projecto surgiu inesperadamente quase como por impulso”, começou por contar a autora ao HM.

O objectivo é dar aos leitores um exemplo do que é ultrapassar obstáculos através do exemplo de uma pré-adolescente que se vê confrontada com a timidez e a pouca aceitação por parte dos colegas da escola.

“A Mariana está a passar por uma fase de grande insegurança em que não tem coragem para fazer o que gosta, como dançar, por achar que é gorda”, diz Susana Esmeriz.

A personagem principal de “O Caderno dos Desejos” acaba por se isolar para poder chorar a sua tristeza “e é nesse espaço que a magia acontece”. É na solidão que Mariana se decide a descobrir qual seria o seu maior ensejo e resolve perguntar a outras pessoas quais seriam os seus. “É neste trabalho, em que começa a contactar com as outras pessoas que vai deixando de dar importância àquilo que tanto a agonizava”, acrescenta.

Rumo aos outros

Trata-se de uma história de superação em que a pré-adolescente consegue encontrar uma maneira de se realizar quando se dedica às outras pessoas. “É neste ser para o outro que ela se consegue encontrar e redescobrir,” explica.

A autora considera também que falta dar aos mais novos histórias que retratem situações como as da Mariana. “Falta tratar o estar para o outro, as emoções, o desenvolvimento de competências de socialização e emocionais, o estar mais atento aos outros”, aponta, até porque “achamos que somos muito importantes, andamos sempre muito ocupados, sempre de um lado para o outro”.

O livro conta com ilustrações de Nelson Henriques e vai ser apresentado na próxima sexta-feira pelas 18h30 na livraria portuguesa.

13 Nov 2018

Arnaldo Gonçalves, autor de “Macau, depois do adeus”: RAEM “tem desafios grandes em termos de governação”

“Macau, depois do adeus” é o livro de Arnaldo Gonçalves que retrata os últimos 15 anos do território. A apresentação da obra vai estar a cargo de Paulo Cardinal e Vanessa Amaro, e tem lugar amanhã, pelas 18h30 na Fundação Rui Cunha. O autor quer, em vésperas de regressar a Portugal, deixar um testemunho dos primeiros anos da RAEM

 

O que nos traz com este livro?

[dropcap]É[/dropcap] um livro de ensaio, de observação e de fecho de ciclo que é o fecho do meu ciclo em Macau. Tenho o meu planeamento para ir embora e não gostaria de ir sem deixar um testemunho. É um testemunho de um português, europeu, em Macau. Cheguei há 30 anos pela primeira vez. Estive cá duas vezes e este é o resultado da observação que faço e das transformações que registo.

Que mudanças substanciais sublinha?

Assisti a dois estilos de governação completamente diferentes. Estive cá antes de 1997 e regressei em 2003. A administração portuguesa tinha um estilo completamente diferente da actual administração chinesa. Antes, a forma de governar era mais participada, mais aberta, e as medidas colocadas no terreno mais justificadas. Agora o circuito do governo é um circuito mais fechado. Por outro lado, a questão decisória é agora muito mais lenta, muito mais arrastada. A Assembleia Legislativa agora intervém muito mais do que no tempo da administração portuguesa. As iniciativas partem do Governo, mas depois diluem-se no trabalho da assembleia e, por isso, as coisas são tão arrastadas. Este livro é uma comparação, não propriamente com o que aconteceu antes, mas com aquilo que antecipávamos, até 99, do que poderia vir a ser a RAEM.

Que elementos destaca desta RAEM que retrata no livro?

É uma realidade rica, de certa forma, mas ao mesmo tempo contraditória. É uma sociedade aparentemente rica, com sinais de grande desenvolvimento em termos de bens de consumo mas que ao mesmo tempo se confronta com dificuldades e problemas que têm crescido com o tempo. São exemplo disso o crescimento populacional, a dificuldade de convivência com o meio ambiente porque o território é diminuto e não há espaço essencial para as pessoas viverem com alguma actividade. Isto introduz um factor de alguma claustrofobia nas nossas condições de vida. Há ainda limitações que têm que ver com o meio ambiente, com a poluição, com o trânsito, com os transportes e com a disponibilidade da habitação. No fundo, Macau e as suas ilhas estão de tal forma unidas que quando se pensa no território pensa-se numa cidade integrada. Tudo isto traz dificuldades. Tem também desafios grandes em termos de governação que não são fáceis de ultrapassar. O Governo chinês de Macau tem, no fundo, procurado ultrapassar esses problemas através de uma certa abordagem que é a abordagem deles e que se calhar não seria a abordagem que os portugueses fariam se continuassem a ter responsabilidades.

Como vê o equilíbrio entre a manutenção da autonomia local e a progressiva integração regional?

Isso é um dos pontos principais do livro. Aliás, talvez um dos pontos principais do livro é a tensão que existe entre autonomia e integração. Autonomia era o chavão que nós, da administração portuguesa, arranjámos e que depois foi transposto para a Declaração Conjunta e para a Lei Básica. A ideia era manter as características da sociedade de Macau, a tipologia das pessoas, dos seus hábitos e tradições, dentro de uma pequena urbe como é Macau no quadro de um grande país que é a China. Nós somos um grão de areia. Por isso, era importante que as coisas de um ponto de vista jurídico, ficassem garantidas na Lei Básica. Era necessário que existissem mecanismos para guardar essa autonomia em que Macau manteria a sua praça praticamente até Dezembro de 2049. O que se tem verificado, pela proximidade com o continente e por opção da própria liderança chinesa no território, é que tem sido privilegiada a integração. Acham que fazendo parte o mais possível do todo harmónico que é a China, conseguem salvaguardar o papel de Macau como algo diferente. Por isso têm apostado nessa integração económica, política, linguística, etc. Não há grande diferença entre Macau que agora conhecemos, do território que encontramos quando passamos das Portas do Cerco para outro lado. É a mesma etnia, são os mesmo hábitos, os mesmo gostos, os mesmo objectivos de vida. O Governo chinês de Macau tem apostado nisso e quem somos nós para o criticar? Quer Chui sai On quer Edmundo Ho tiveram sempre o cuidado de adequar Macau às orientação do Estado chinês e por isso tem havido uma sincronia muito grande das políticas que aqui são desenvolvidas em relação às políticas que o governo Central traça.

A autonomia está em risco de desaparecer rapidamente?

Seria perfeitamente ilógico, tendo um prazo tão extenso para fazer a transição, que as autoridades saltassem etapas. Do ponto de vista económico não há diferenças nem de um lado nem do outro. No que respeita ao sistema político, os órgãos e a maneira de funcionamento administrativa de Macau se calhar não e tão diferente do funcionamento de Guandong ou de Fujian. Do lado da China, tiveram a visão de, na década de 90, colocar aqui uma série de quadros, recrutados para a administração pública. Desde essa altura que estes quadros têm progredido na carreira, o que significa que mais tarde ou mais cedo vão ser eles que vão dirigir a RAEM. Mas, o sistema socialista, marxista, leninista que existe no continente não existe em Macau. Aqui há liberdade de expressão, há liberdade de escrita, há liberdade de reunião, etc. São elementos que não existem no continente. Mas, acho que paulatinamente vão introduzindo o sistema do continente aqui em Macau e em Hong Kong. Penso também que a limitação à existência de outros partidos vai começar a ter lugar e vai ser mais visível no caso de Hong Kong do que no caso de Macau, até porque em Hong Kong há partidos políticos e aqui há meras associações. Mas vamos ver candidatos que tenham ideias opostas ao regime chinês a sofrer uma pressão muito grande para que não se candidatem. À medida que o tempo vai passando essa tendência vai existir. Não vai ser uma coisa de um dia para o outro mas vai ser uma coisa gradual e que deve estar planeada.

13 Nov 2018

Alunos do programa de aperfeiçoamento contínuo obrigados a mostrar BIR em todas as aulas

[dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) garantiu que vai proceder a uma maior fiscalização dos cursos de desenvolvimento e aperfeiçoamento contínuo. A medida vai passar pela obrigatoriedade de apresentação do BIR por parte dos alunos em todas as aulas, uma vez que, actualmente, só é preciso mostrar o cartão de identificação no acto da inscrição, sendo que nas aulas é apenas necessária uma assinatura na folha de presenças.

A ideia foi deixada na passada sexta-feira, numa conferência de imprensa organizada pelos serviços em resposta ao caso divulgado no dia anterior relativo a uma burla que lesou a RAEM em 3,1 milhões de patacas.
O caso divulgado pelo Jornal Tribuna de Macau, apontava que, segundo uma investigação da Polícia Judiciária (PJ), três indivíduos passaram por funcionários de uma instituição educativa e conseguiram obter os dados de pessoas num parque situado na zona da Areia Preta. Esses dados pessoais foram depois entregues à instituição que os usou para pedir subsídios relativos ao plano de aperfeiçoamento e desenvolvimento contínuo.

A PJ descobriu ainda que a mesma instituição de ensino submeteu 1.623 pedidos de financiamento no âmbito do programa de formação da DSEJ, entre Janeiro a Agosto, e recebeu 3,1 milhões de patacas. A mesma instituição terá ainda falsificado os registos de presença e assinaturas.

De acordo com a mesma fonte, a PJ estima que 70 por cento dos cursos ministrados por esta escola dentro do plano do Governo sejam falsos, mas não foi ainda detido nenhum suspeito do estabelecimento de ensino. Já os três suspeitos identificados foram encaminhados para o Ministério Público.

Na conferência de imprensa do final da semana passada, a DSEJ informou ainda que até ao final do mês passado e no âmbito do programa de desenvolvimento contínuo, efectuou cerca de 2500 vistorias in loco, 18 mil verificações por amostragem e enviou 200 cartas de advertência escrita relativas a cursos que violaram as normas.

A entidade submeteu ainda 27 casos aos órgãos judiciais devido “a circunstâncias graves de infracção envolvendo falsificação de documentos, burla e realização fraudulenta de cursos”.

12 Nov 2018

Táxis | Proprietários de licenças querem criminalizar “ovelhas negras”

Representantes de proprietários de licenças de táxis querem que a proposta de lei que vai regular o sector inclua a criminalização penal das “ovelhas negras”. A sugestão visa expurgar da profissão elementos que se comportam como “uma organização criminosa”

 

[dropcap]H[/dropcap]á taxistas que se comportam como uma verdadeira associação criminosa e, como tal, devem ser punidos criminalmente. A ideia foi deixada na passada sexta-feira pelas associações de proprietários de licenças de táxis durante a reunião com os deputados da 3ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa, que analisa na especialidade a proposta de lei que vai regular a actividade.

“Sabemos que há no sector as chamadas ovelhas negras, ou seja, elementos que de forma organizada praticam infracções”, disse o presidente da 3ª Comissão Permanente, Vong Hin Fai, referindo-se aos comentários deixados pelas duas associações de proprietários. “Muitos destes condutores não são motoristas normais em termos de background. Por isso, estes sujeitos devem ser punidos criminalmente”, acrescentaram, disse Vong.

Para os proprietários de táxis, a penalização com multas não é “suficiente para travar estas ‘ovelhas negras’, e não vai ter efeitos dissuasores”. A solução, de acordo com os representantes dos proprietários de licenças, passa pela responsabilização penal e criminal dos infractores que deve estar prevista na proposta em análise.

Uma ideia que não faz sentido, de acordo com o presidente da 3ª Comissão Permanente. “Nós esclarecemos ao sector que, se os infractores forem conotados com a criminalidade organizada serão também sujeitos a punição conforme a legislação vigente, sendo possível punir os infractores dentro do regime legal actual do direito penal”, apontou Vong Hin Fai.

Licenças seguras

Os representantes mostraram-se ainda preocupados com o que vai acontecer às actuais licenças sem termo, uma vez que o novo regime prevê que deixem de existir. De acordo com Vong Hon Fai, o Governo já garantiu que estes casos vão permanecer inalterados mesmo com a entrada em vigor da nova lei.

O novo regime prevê ainda a exploração da actividade de acordo com o modelo empresarial, com a atribuição de alvarás a não ser dada através de concurso público, um detalhe que não agrada aos representantes do sector que receiam a possibilidade de monopólio na exploração da actividade. A este respeito, Vong Hin Fai revelou que há deputados da comissão que também não concordam com a ausência de concurso público.

Câmaras ligadas

Outra sugestão que regressa à discussão em torno da nova lei é a gravação de imagem dentro dos táxis. Os representantes dos proprietários reiteraram a necessidade de gravar em vídeo o que acontece dentro dos veículos para que, em caso de infracção, seja mais fácil a constituição de prova.

Segundo os representantes, a necessidade de gravar em vídeo é urgente tanto que, “no passado já houve motoristas que, por sua iniciativa, montaram dispositivos de gravação nos seus veículos”, disse Vong Hin Fai. No entanto, “estes motoristas receberam uma notificação do Gabinete de Dados Pessoais e desinstalaram os dispositivos”, acrescentou.

12 Nov 2018

José Anjos, poeta: “Escrevo para entender a morte”

O poeta José Anjos esteve em Macau a filmar com João Morais o que será um documentário informal de viagem. Do território leva um sentimento de estranheza que pretende renovar a cada regresso. Entretanto, a poesia que escreve e diz é um acto de sobrevivência e resistência

[dropcap]É[/dropcap] formado em Direito, exerceu advocacia e agora dedica-se à poesia. Como foi esta transição do Direito à poesia?
Acho que o Direito à poesia é fundamental (risos). Nem sei bem, confesso. Nem queria ser advogado, mas acabei por fazer o estágio e gostar muito. Depois fui integrado e iniciei uma carreira que se adivinhava ser para sempre. Acho que foi isso que me assustou. Em Portugal ainda vivemos uma ideia de vida muito linear, quer dizer, as pessoas tornam-se naquilo em que é suposto tornarem-se. Na altura, uma pessoa cumpria aquilo que tinha que cumprir: fazer o curso com bom aproveitamento. Não havia outra opção que não entrar dentro de um túnel gigantesco, tornar-se o melhor possível, cumprir as suas obrigações e depois, na verdade, já não se saía do doutro lado deste túnel. Acho que há pessoas que estão mais preparadas para isso e digo isto com admiração. Quanto a mim, fiz o estágio já a trabalhar praticamente como advogado, fiquei na sociedade de advogados onde estava, depois passei para director jurídico. Aos 29 anos era associado sénior de uma das maiores sociedades de advogados do país.

Uma carreia brilhante, mas que não chegava?
Sim. Cheguei a um ponto em que olhava à minha volta e pensava “agora é isto”. Tentava olhar em frente e não conseguia, não me identificava, não havia nada que me fizesse querer. Olhava para as pessoas com quem trabalhava, pessoas maravilhosas, mas não me via a fazer o que elas faziam e a ser quem elas eram com a idade delas. Sentia-me até mal com isso. No fundo, até me sentia bastante egoísta, sentia que não estava a cumprir o que me era suposto e que estava a ter pensamentos proibidos.

Quase um ingrato?
Exacto, quase um ingrato. Aliás, tanto que deixei a advocacia, mas também fui voltando a ela muitas vezes.

Porquê?
Era, de facto, aquilo que eu sabia fazer e obviamente que há uma parte do Direito que gosto muito. Mas a advocacia, em si mesma, tem características que são absolutamente contrárias à ideia que temos de uma relação não antagónica com os outros e com o nosso horizonte. A advocacia implica um contencioso, uma negociação que é absolutamente importante nalguns casos porque é preciso pugnar pela justiça em geral, mas também pelos direitos dos clientes em particular. Outras vezes é uma espécie de campo de batalha de egos e vaidades. É preciso criar um cinismo. O cinismo é visto como uma grande qualidade e eu não consigo fazer isso.. O Direito, não especificamente o que é exercido na advocacia, tem outro fundamento, outro substrato de verdade, quase mesmo de ingenuidade. A construção jurídica das sociedades é muito tributária daquilo que é o reconhecimento humano dos direitos do outro. O Direito faz-se através da delimitação negativa do meu espaço da minha esfera jurídica, da minha esfera de acção, enquanto que na advocacia é o contrario: quero aumentar os meus limites, quero aumentar os limites do espaço que habito para lá do dos outros. Daí ser importante o Direito, precisamente para definir onde está este limite, quais são os direitos que são intangíveis e quais são aqueles que devem soçobrar ou cair perante outros. Esta criação complexa de uma sociedade que funcione de uma forma, dentro dessa hierarquia axiológica móvel, é absolutamente apaixonante.

FOTO: Sofia Margarida Mota

E a poesia? Já existia?
Entretanto, comecei a ler alguma poesia, por volta dos 30 anos, porque me apaixonei. A poesia não está ligada obrigatoriamente à paixão, mas como não tinha tido nenhum contacto com poesia, tirando a que tinha dado na escola, nessa altura comecei a ter e foi quando comecei a escrever e a dizer poemas. Aliás, todas as cartas de amor acabam por ser poemas de certa forma. A poesia permite-me ligar às pessoas e criar em mim pontos de declinação com os outros e de inclinação para com os outros de uma forma não antagónica. Na advocacia era o contrário. Poesia e advocacia acabaram por se tornar incompatíveis.

O que lhe trouxe a poesia?
Acima de tudo, o que a poesia me permitiu foi a destruição de uma personalidade que tinha criado e que seria aquela que iria habitar até ao fim da vida. A poesia permitiu-me conhecer outra. Somos demasiado complexos e não temos personalidades unívocas. Seria impossível proibir a pluricidade das nossas personalidades. Por isso somos incoerentes, por isso somos instáveis. O Aldous Huxley dizia mesmo que o único homem verdadeiramente estável que ele tinha conhecido era um morto.

O José Anjos não é só conhecido pelo que escreve, mas também por colocar os poemas em voz alta em palco. Qual a diferença entre a poesia escrita e a dita para os outros?
O Leonard Cohen tem um texto chamado “Como se diz poesia” em que diz que “a língua original do poema é o silêncio”. O poema é escrito em silêncio como uma forma de mergulho e isso nunca vai mudar independentemente da forma como entregamos o poema. O poema escrito, o próprio acto de escrever já é uma interpretação, já é uma tradução. O poema faz-se de uma forma intuitiva, mais ou menos pensada, mais ou menos sentida, mas é uma coisa interior. Quase podemos dizer que vem de um sítio muito ruidoso dentro de nós, mas consegue sair cá para fora através de um apaziguamento, da organização desse ruído. Através de um silêncio que é construído e depois transformado em algo que cognoscível e que consegue exprimir sentidos e significados que vão para lá do gesto da expressão. Chamo a isso o milagre semântico. Escrevo uma palavra, e para uma pessoa que conheça aquela língua não estou apenas a juntar letras, mas estou a criar um sentido que abre uma porta que permite uma descoberta. A própria palavra, a poesia escrita, já é um caminho para a deturpação e tem que ser mesmo assim. Porque a palavra nem sempre tem um comportamento tão transparente como nós queríamos. Às vezes o equívoco da palavra serve um propósito. A grande tecnologia da linguagem é conseguir contar a história toda sem abdicar da sua ambiguidade. A poesia tenta através da metáfora e de outras figuras de estilo conseguir a transparência da palavra, ou seja, renegar a palavra. Um poema nunca é definitivo.

E o que acontece quando é dito para os outros?
O acto de dizer em voz alta poesia para o público é diferente do acto de dizer em voz alta sozinho. É mais um passo nesta linha de interpretação de algo. Uma interpretação das coisas como se lhes tentássemos dar uma voz para que elas se possam expressar e não o contrário. Não estamos, através do poema, a tentar expressar o que está dentro de nós. Estamos a servir de veículo, a inventar uma linguagem que permite às coisas expressarem-se. Há uma voz dentro das coisas. O leitor é o último degrau deste comboio de interpretação. Sem ele, o poema não existe. Ao dizer um poema cria-se uma urgência na leitura. Há pessoas que quando lêem um poema escrito não sentem nada. Quando o ouvem a ser dito por alguém, de repente abre-se um novo espaço e cria-se uma urgência na leitura. Hoje em dia, temos muito menos disponibilidade para nos sentarmos a ler. Temos uma velocidade interior que faz com que seja mais difícil parar e abrir espaço suficiente para a poesia entrar. Temos também mecanismos de defesa que não deixam as coisas entrarem. Curiosamente, quando estamos a ouvir um poema, estes mecanismos estão muito mais em baixo e a disponibilidade para ouvir é maior. Nos espaços onde a poesia é dita, as pessoas conseguem identificar-se mais porque estão mais vulneráveis. Há um contrato implícito das pessoas com o palco, um contrato de atenção e vulnerabilidade. Aqui a responsabilidade do artista é contemplar a realidade e a sua beleza terrível. Defini-la e torná-la acessível, primeiro a si próprio, como se estivesse a conter uma estrela para depois a poder mostrar aos outros sem que faça mal a ninguém. Há uma violência intrínseca nas coisas que a arte consegue transformar e transmitir com algum sentido. Estamos todos no caminho da autodestruição. A morte é disparada à nascença como um fio esticado. Somos o encaminhamento da morte. Mas, por outro lado, pensar na morte é também afastá-la, como afastamos o horizonte. É preciso dar ao horizonte a possibilidade de ele fugir de nós. A autodestruição é uma inevitabilidade. Leio para entender a vida, escrevo para entender a morte. O que nos pode salvar é que podemos escolher a inevitabilidade que nos cabe e podemos ser surpreendidos.

A poesia é um acto de resistência?
Exactamente. De várias resistências e também de resistência contra aquilo que entendemos que está mal no mundo. A humanidade é uma coisa insuportável. Ainda mais quando somos bombardeados com todo o tipo de crueldade e com todo o tipo de regressos de coisas horríveis. O mundo está muito melhor do que estava e é preciso relembrar isso. Só que nós agora temos muito mais informação.

Temos mais responsabilidades também.
Sim, e não estamos preparados para isso. Vivemos uma hiperestesia, principalmente aqueles que têm mais sensibilidade porque não conseguem deixar de ter empatia. O poema também é uma denúncia, uma denúncia daquilo que estou a sentir em relação a qualquer coisa. Mas é uma denúncia também do que está a acontecer e é preciso enunciar isso como algo que é mau. É preciso denunciar os sítios onde falta justiça e humanidade. A poesia tem uma eficácia limitada. Mas tem uma eficácia de criar um espaço em que os outros partilhem do meu pensamento, do meu sentimento e isso ganha força, e às vezes de uma maneira que dá a volta ao mundo e, mais importante, dá a volta ao medo.

Está em Macau a filmar com o João Morais. Qual vai ser o resultado?
Queremos fazer um documentário informal. Quando cá estive no ano passado, saí daqui com a ideia de que não tinha aproveitado para conhecer Macau. Mas gostei muito. Senti um sentimento de estranheza imenso que penso que pode ser o sentimento de estranheza do exílio e que é a mistura de algo que é absolutamente estrangeiro com aquilo que nos é familiar. Isto, mediado pela distância, faz com que esse sentimento fique dentro de nós. Tivemos agora a ideia de fazer um documentário informal, de viagem. Uma espécie de “on the road” para mostrar o que é ir a Macau ou tentar entender o que é Macau sem pretender entender Macau. Tentar ver como reagimos a estas realidades tão díspares num curto espaço de tempo. Isso permite um ímpeto de espanto, uma contemplação emocionalmente relevante sem tentar entender.

O que leva mais daqui?
Levo este sentimento de estranheza ainda mais vincado. Esta estranheza é um conceito sempre provisório. Quando percebemos que há certos sentimentos de estranheza que não vão a lado nenhum e que só vão criar ainda mais estranheza percebemos que as coisas não têm que ser entranhadas. Aliás, as coisas devem ser vividas como se fosse a primeira vez sem abdicar da bagagem que trazemos, o que é um pensamento também muito oriental. Nós vamos perdendo isso. Perdemos a capacidade e espanto. O que levo de Macau é este ímpeto de espanto que me permite, no fundo, voltar cá sempre a recomeçar.

12 Nov 2018

MIFF | Novidade e qualidade marcam terceira edição do evento

[dropcap]O[/dropcap]Festival Internacional vai continuar com a “mesma receita”. A ideia foi deixada ontem pelo director artístico do evento, Mike Goodridge, à margem da apresentação da terceira edição do certame. “A receita do festival continua a ser a mesma, ou seja tentamos ir à procura dos melhores filmes que encontramos”, disse o britânico.

Para o responsável, o objectivo é “ir sempre à procura dos filmes mais recentes” tendo o olho naqueles que podem estar a caminho dos Óscares. “Novas Vias para o Mundo dos Filmes” é o tema da edição deste ano que vai abrir com “Green Book”, de Peter Farrelly.

O evento vai contar com a projecção de 54 filmes entre os quais onze vão estar na principal competição do evento. O júri tem como presidente o realizador chinês galardoado com a Palma de Ouro em Cannes, em 1993, Chen Kaige, com o filme “Adeus, minha concubina”. Acompanham Kaige, Mabel Cheung, Paul Currie e Tillotama Shome. Aos mais de 50 filmes em exibição, juntam-se 14 películas locais que integram a rúbrica “O Poder da Imagem”.

Representação local

“Nobody Nose”, protagonizado pela estrela de Hong Kong, Gordon Lam, e “Hotel Império”, do realizador Ivo Ferreira são os filmes locais que integram a programação de mais uma edição do festival. De acordo com Goodridge “o ‘Hotel Império’ de Ivo Ferreira é um filme absolutamente incrível de se ver em que o realizador consegue captar coisas únicas sobre Macau. É incrível”, referiu.

Em língua portuguesa vai ser exibida a produção luso-brasileira “Diamantino”. Das estrelas escolhidas para promover o MIFF, e que a organização denomina de embaixadores, o destaque vai para o norte-americano galardoado, Nicolas Cage. Além de Cage são ainda embaixadores do evento, este ano, o cantor e actor de Hong Kong Aaron Kowk e a actriz coreana Lim Yoon A. Nicolas Cage vai ainda ser o orador de uma masterclass a decorrer durante o festival.

Tal como nas edições anteriores o evento conta ainda com apresentações especiais, Galas temáticas, e a rubrica Flying Draggers. Este ano, foram escolhidos para esta secção seis filmes, três ocidentais e três orientais.
O orçamento deste ano é semelhante ao das edições anteriores, referiu a directora dos Serviços de Turismo e presidente da Comissão Organizadora do Festival Internacional de Cinema, Helena de Senna Fernandes, e ronda os 55 milhões de patacas. Deste valor, 20 milhões são assegurados pelos Serviços de Turismo.
Os bilhetes para o festival estão à venda a partir de hoje, com o valor de 60 patacas por sessão.

 

Júri de Luxo

Chen Kaige

Chen Kaige é um dos mais conhecidos e galardoados cineastas chineses, sendo o único realizador do continente a vencer a Palma de Ouro em Cannes, em 1993, com “Adeus, minha concubina”. Filho de um cineasta, Chen estudou em Pequim e depois foi para a fronteira da província de Yunnan, enquanto jovem intelectual durante a Revolução Cultural. Mais tarde, juntou-se ao Exército de Libertação. Ao regressar a Pequim, foi admitido na direcção da Academia de Cinema, tornando-se um dos primeiros realizadores formados depois da Revolução Cultural. O seu primeiro filme, “Terra Amarela” foi feito em 1984 e marcou a quinta geração de realizadores chineses. “Terra Amarela” ganhou o Golden Rooster como melhor filme e foi incluído entre os dez filmes asiáticos do século pela Asia Week e nos dez filmes mais vistos da China nos últimos 90 anos. Chen acabou por se tornar numa figura presente no circuito de festivais internacionais, sendo o primeiro realizador chinês na competição em Cannes em 1988 com “King Of The Children” e novamente em 1991 com “Life On A String”. A filmografia de Chen inclui também “The Big Parade” (1985), “Temptress Moon” (1996), “O Imperador e o Assassino” (1999), “Together” (2002), “The Promise” (2005), “Forever Enthralled” (2008), “Sacrifice” (2010), “Monk Comes Down The Mountain” (2015) e o épico sobre a dinastia Tang “Legend Of The Demon Cat” (2017).

Mabel Cheung

Mabel Cheung é a realizadora de Hong Kong que alcançou o sucesso com a exibição do seu primeiro filme, “The Illegal Immigrant” em 1985, conquistando o prémio de melhor realizador no Hong Kong Film Awards e um prémio especial do júri no 30º Festival de Cinema da Ásia-Pacífico. A sua segunda longa-metragem, “An Autumn’s Tale” (1987) arrecadou o galardão para o melhor filme e melhor argumento no Hong Kong Film Awards. Os seus trabalhos incluem ainda “The Soong Sisters” (1997), “City Of Glass” (1998), “Beijing Rocks” (2001) e “Traces Of A Dragon” (2003).

Paul Currie

O australiano Paul Currie é produtor e realizador com trabalho reconhecido na concepção de séries, filmes, eventos e anúncios publicitários. No início de carreira, produziu o filme de acção “Under The Gun”, co-escreveu o livro “A Hero’s Journey” e dirigiu os documentários “Lionheart – The Jesse Martin Story” e “Every Heart Beats True: The Jim Stynes ​​Story”. Recentemente, produziu “Bleeding Steel”, um filme chinês de grande orçamento e que conta com a participação de Jackie Chan.

Tillotama Shome

A actriz indiana Tillotama Shome alcançou o sucesso com o seu papel como empregada doméstica em “Monsoon Wedding” vencedor do Golden Lion em 2001. Após a fama inicial, Shome deixou o cinema para fazer o mestrado em teatro na New York University, tendo passado a trabalhar como professora em Nova Iorque, explorando questões como a violência e a sexualidade. Mais tarde voltou à sétima arte e entre os filmes em que participou, destaca-se “Death In The Gunj” (2016), de Konkona SenSharma e “Rohena Gera’s Sir” (2018), seleccionado para a Semana da Crítica em Cannes, este ano.

9 Nov 2018

MIFF | Festival com competição de filmes em chinês

A terceira edição do Festival Internacional de Cinema de Macau, que decorre entre os dias 8 e 14 de Dezembro, vai ter uma competição dedicada apenas a filmes em língua chinesa. São seis as películas seleccionados num idioma que representa uma “cultura vibrante”, de acordo com o director artístico do evento, Mike Goodridge

 

[dropcap]”N[/dropcap]ovo Cinema Chinês” é o nome da competição que se estreia na 3ª edição do Festival Internacional de Cinema de Macau. A rúbrica vai ser inteiramente dedicada a filmes em língua chinesa que, para o director artístico do festival Mike Goodridge, representa uma “cultura vibrante”.

O foco na língua chinesa é uma estreia que Goodridge espera ver tornar-se numa tendência do evento, referiu o responsável ontem à margem da conferência de imprensa de apresentação do certame. A razão, apontou, tem que ver com a qualidade dos filmes que actualmente existem e que utilizam a língua ou dialectos chineses.

“Gostaria que continuasse. Não só tivemos filmes em chinês em número suficiente, como tivemos de tomar decisões difíceis para escolher apenas seis. O mundo da língua chinesa é realmente uma cultura vibrante”, disse.
Para estrear a primeira edição da competição dedicada aos filmes em língua chinesa foram seleccionadas películas vindas do continente, de Taiwan e da Malásia.

Os escolhidos

Em competição vai estar “Baby”, do realizador de Tianjin, Liu Jie. O filme conta a história de uma empregada de limpeza de um hospital, Jiang Meng, que encontra uma recém-nascida com problemas congénitos iguais aos seus. Mas ao contrário de Jiang, esta menina é levada do hospital pela família sendo impedida de se submeter aos tratamentos necessários para sobreviver. Jiang entra numa cruzada para resgatar a menina com que se identifica.

Também da China continental vai ser exibido “Up The Mountain” de Zhang Yang. O argumento traz a história do artista Shen Jianhua, que vive em Xanga, uma vila pequena e remota na província de Yunnan. Shen tem como objectivo ensinar arte aos residentes daquele lugar e com isso fazer a diferença na vida daquelas pessoas. As suas últimas alunas são um grupo de mulheres idosas que acabam por formar uma sociedade à volta da pintura.

Liu Sanlian é a protagonista do filme que vem de Taiwan, “ Dear Ex”, realizado por Chih-Yen Hsu. Agonizada por sentir que a vida é um drama, a situação piora quando descobre que o marido, falecido há três meses, tinha mudado o beneficiário do seguro de vida do seu filho para um outro homem, um amante, de nome Jay.
Também de Taiwan vai ser exibido “Xiao Mei” de Maremn Hwang. Xiao Mei é a protagonista desaparecida. Entretanto, os amigos juntam-se para reconstruir as recordações que têm dela na procura de pistas do seu paradeiro. É com essas recordações que percebem que a amiga afinal tinha uma vida difícil e poderia estar viver de fantasmas criados por situações complicadas no passado.

Zahir Omar é o realizador malaio à frente do filme “Fly by Night”. O drama passa-se dentro do mundo criminoso de Kuala Lumpur em que um gangue de quatro taxistas se dedica a extorquir os passageiros que apanha no aeroporto. Foi ainda seleccionado o filme chinês “The Pluto Moment”.

O júri para esta competição é composto pela produtora australiana Stephanie Bunburry, o produtor britânico Nick James e pelo também produtor, mas de Hong Kong, Shu Kei.

9 Nov 2018

Organização do Festival Internacional de Cinema discrimina imprensa de Macau

O actor e cantor Aaron Kwok esteve em Macau para dar uma entrevista antes de participar na conferência de imprensa de apresentação do programa da terceira edição do Festival Internacional de Cinema. A organização separou a imprensa de Hong Kong e do continente da local, e deixou os jornalistas de Macau para segundo plano. Mais grave para os de língua inglesa e portuguesa que não tiveram acesso a tradução

[dropcap]A[/dropcap]imprensa de Macau foi deixada para segundo plano na entrevista à estrela de cinema e Cantopop de Hong Kong Aaron Kwok, que antecedeu a conferência de imprensa de apresentação da 3º edição do Festival Internacional de Cinema.

O encontro com o artista estava marcado para as 13h30 mas Aaron Kwok atrasou-se. À espera da estrela de Hong Kong estavam dezenas de jornalistas da região vizinha, do continente e, claro, de Macau. Como acontece em circunstâncias idênticas, este tipo de entrevistas são conjuntas e acompanhadas de tradução para que o seu conteúdo esteja acessível a todos os interessados, nomeadamente em eventos cunhados de “internacional”. Não foi o caso.

Para a sala onde ia decorrer a conversa, e já por volta das 13h50, foram admitidos em primeiro lugar os jornalistas de Hong Kong e do continente. Cerca de 15 minutos depois, foi a vez de dar lugar à imprensa local.

Depressa que se faz tarde

Com tempo contado dado ao adiantado da hora, a entrevista foi conduzida em cantonês. A organização foi questionada sobre a possibilidade de existir um tradutor, mas a pessoa responsável pela gestão da comunicação limitou-se a referir que não iria existir tradução alguma. Foi ainda sublinhado à mesma responsável que a separação dos jornalistas e a falta de tradução limitavam o acesso aos conteúdos.

Numa primeira reacção não foi dada qualquer justificação para a situação, tendo sido apenas referido que os órgãos de comunicação social em línguas estrangeiras estariam à vontade para fazer perguntas em inglês.

No final do encontro com a imprensa local, houve realmente uma questão em inglês e que teve que ser única. A resposta veio da boa vontade do próprio artista na medida em que o assistente que o acompanhava, quando percebeu que o conteúdo seria noutra língua, tentou finalizar a entrevista de imediato argumentando o atraso da conferência de imprensa. Mas Kwok adiantou-se e respondeu à jornalista.

A organização voltou a ser alertada para este incidente, que mais uma vez punha em causa a consideração pela imprensa local, desta feita em língua estrangeira, sendo que, numa segunda justificação a mesma responsável referiu que não tinha pensado que os jornalistas estrangeiros pudessem estar interessados em falar com o artista de Hong Kong. Foi ainda adiantado que, em eventos futuros, estaria garantida a tradução.

9 Nov 2018

Motoristas de táxi querem prémios para quando não violam a lei

Um fundo criado com dinheiros públicos e privados para ajudar na resolução de conflitos que envolvem taxistas, formação para os agentes da autoridade e prémios para os condutores que cumprem a lei. Estas foram algumas das sugestões deixadas ontem pelas associações de motoristas de táxis aos deputados da 3ª Comissão Permanente

[dropcap]O[/dropcap]s taxistas querem a criação de um fundo com a participação de entidades públicas e privadas destinado à resolução de conflitos que venham a surgir com a entrada em vigor do novo regime legal. A ideia foi deixada ontem pelo presidente da 3ª Comissão Permanente, Vong Hin Fai, depois da reunião entre os deputados que analisam na especialidade a proposta de lei que vai regular o sector e nove associações de taxistas.

Outra sugestão deixada pelos representantes do sector foi a criação de uma comissão de arbitragem com a finalidade de resolver “conflitos entre taxistas e passageiros”, um organismo que seria “constituído por membros experientes do sector”, referiu Vong. A arbitragem serviria de recurso nas situações em que um taxista não concorda com um passageiro quando este último se queixa às autoridades.
No entanto, o Governo já adiantou que “no caso dos infractores não estarem de acordo com as sanções podem sempre recorrer aos tribunais”, disse Vong Hin Fai.

Formar a autoridade

Para os taxistas seria ainda importante fomentar acções de formação para “os aplicadores da lei”, ou seja para as equipas de fiscalização da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) e para os agentes policiais. Apesar das centenas de infracções registadas todos os meses pelas forças policiais, os motoristas acham que nem sempre as autoridades procedem à investigação com diligência, deixando-os desprotegidos, sem forma de recorrerem à lei.

Por outro lado, os representantes do sector acham que deveria existir um mecanismo de recompensa para os condutores que cumprem a lei. “Só há sanções para quem não cumpre a lei e não há mecanismos que premeiem quem a cumpre”, queixaram-se, de acordo com Vong Hin Fai.

A nova proposta prevê ainda que o modelo de exploração de táxis passe a ser exclusivamente empresarial. Para os condutores, esta medida não é justa uma vez que existem muitos taxistas que trabalham por conta própria. Por outro lado, consideram que o modelo exclusivamente empresarial vai contribui para a criação de monopólios, que em nada irá beneficiar o bom funcionamento do sector.

Para evitar esta situação, os representantes associativos apelaram para que a exploração de táxis seja dividida em partes iguais, ou seja, 50 por cento explorada por empresas, 50 por cento por particulares.


Agente secreto

Os motoristas de táxi querem que seja retirada da proposta de lei que irá regular o sector a possibilidade de serem usados agentes à paisana que, para a detecção de infracções, sugeriam actos ilegais aos taxistas. “Não queremos que a proposta considere a existência de agentes provocadores” afirmou um dos representantes das associações de motoristas. Para substituir esta medida os motoristas sugerem que seja instalada a gravação de som, tal como a proposta prevê, e também de imagem.

8 Nov 2018

This is My City | Festival traz a Macau Re-TROS, Celeste Mariposa e DJ Kitten

Quatro cidades, mais de 30 convidados e 10 dias de duração são os dados recorde da edição, deste ano, do festival This is My City que vai acontecer a partir de 22 de Novembro. O evento alarga a sua abrangência geográfica a Zhuhai e vai também estar representado em São Paulo, no Brasil. Os destaques vão para os chineses Re-TROS e para os projectos portugueses Celeste Mariposa e DJ Kitten

 

[dropcap]O[/dropcap] festival This Is My City (TIMC) vai, este ano, dividir-se em dois momentos. Um primeiro que inclui Macau, Zhuhai e Shenzhen entre os dias 22 e 25 de Novembro, e um segundo, entre 5 e 9 de Dezembro quando o festival arranca para São Paulo onde vai integrar a Semana Internacional da Música. Este alargamento geográfico faz com que a edição de 2018 seja a maior de sempre, referiu ontem o co-organizador Manuel Correia da Silva, na conferência de imprensa de apresentação do evento.

A música vai continuar a ser o núcleo do certame e a organização destaca a vinda, pela primeira vez, dos Re-TROS a Macau. A banda de Pequim é considerada uma das grandes representações do pós punk chinês. O grupo já actuou em festivais na Europa, nos Estados Unidos e fez as primeiras partes de bandas com os Depeche Mode e o The XX, bem como dos Gang of Our e dos PiL, projecto de Jonh Lydon dos Sex Pistols.

Os Re-TROS são influenciados pelo “som underground de bandas como Joy Division e Bahaus”, revelou a organização, e transformou-se num dos grupos mais significativos no panorama da música independente chinesa logo desde o lançamento, em 2005, do primeiro EP “Cut off” que contou com a colaboração de Brian Eno nas teclas.

O último álbum, “Before the Applause” foi produzido por Hector Castillo que também já colaborou com artistas como David Bowie, Lou Reed e Bjork. Em Macau, têm presença marcada no dia 25 de Novembro, nas Oficinas Navais 2.

Expressão lusa

Outro dos pontos altos desta edição vai para a apresentação do projecto de Lisboa Celeste Mariposa de Francisco Sousa e Wilson Vilares. Criado em 2008, Celeste Mariposa dedica-se a “espalhar a palavra e a promover a música dos países africanos de expressão portuguesa”, apontou a organização.

Para o efeito, e tal como tem vindo a fazer em Portugal, os espectáculos em Macau vão ser em formato Afro Baile e têm lugar no dia 23 de Novembro no D2, e no dia seguinte no LMA. De acordo com Manuel Correia da Silva, estes concertos vão dar a conhecer “uma colecção completa de música dos países africanos de língua portuguesa, incluindo álbuns históricos e muitas edições de autor raras”.

A 25 de Novembro, Celeste Mariposa segue para Shenzhen, onde actua no The Oil Bar. Também de Lisboa vem João Vieira para um DJ set enquanto DJ Kitten. A apresentação em Macau tem lugar nos dias 24, no D2, e 25 no LMA. Recorde-se que João Vieira é ainda o mentor de projectos como os Xwife e White Haus

O TIMC não esqueceu os artistas locais e no dia 24 de Novembro é o momento para ver e ouvir a banda indie local “Forget the G” nas Oficinas Navais 2. Segundo a organização trata-se de uma banda que combina música experimental com pós rock, adicionando elementos multimédia nos espectáculos ao vivo.

Ponto de encontro

A edição deste ano vai ter ainda espaço para uma série de conferências todas elas essencialmente debruçadas sobre o papel dos festivais na dinâmica das cidades, afirmou Manuel Correia de Oliveira.
Neste sentido, o TIMC vai abrir com a conferência “Global Creative Network”, no dia 22 pelas 18h, nas Oficinas Navais 2.

O festival segue com as palestras abertas ao público “Live Houses and the City” e “Festivals and the City”.
Entre os oradores vão estar presentes João Vaz da produtora portuguesa Pataca Discos, Márcio Laranjeira da promotora Lovers and Lollypops e Luís Viegas da agência musical Até ao Fim do Mundo.
O objectivo destes momentos é ainda “procurar por em contacto artistas e projectos chineses e lusófonos (…) e ligar os mercados asiáticos, europeus, africanos e sul americanos”, afirmou o organizador.

Surpresas na manga

Além do cartaz já divulgado ainda vai haver surpresas, afirmou Manuel Correia da Silva. “Vamos oferecer mais concertos, certamente, e vamos também abordar uma outra área das industrias criativas, neste caso a fotografia”, disse. De acordo com o responsável, “isto é importante porque acreditamos que este não é só um festival de música e queremos cada vez mais mostrarmo-nos como um festival multidisciplinar”.

Para o ano, os esforços vão ser dedicados em conseguir um alargamento do evento a Portugal até porque “há datas a celebrar relativamente às relações entre a China e Portugal”. A entrada é livre para todos os eventos neste festival que conta com um orçamento de cerca de meio milhão de patacas.

8 Nov 2018

João Morais, músico | O Gajo da viola actua hoje no LMA

O palco do LMA recebe hoje João Morais, músico com raízes fundas em terras de punk e metal que se transformou em O Gajo depois de descobrir a viola campaniça. Os primeiros acordes começam a soar na Coronel Mesquita a partir das 22h

 

Desde os anos 80 até 2016 esteve ligado ao rock e ao punk. Como se deu esta passagem para a viola campaniça?

Além do rock, sempre ouvi muitos géneros diferentes de música. Sempre fui muito eclético nas minhas escolhas musicais. Mais recentemente, comecei a explorar a chamada música do mundo e a procurar mais informação. Sempre gostei da identidade geográfica dos projectos, ou seja procurar música pela sua identidade geográfica, seja música do Mali, seja música da Índia ou do que for. A curiosidade perante cada um destes projectos vinha precisamente do facto de terem uma identidade própria, que muitas vezes estava associada aos instrumentos usados. Apesar de tocar rock, sempre pensei que também gostaria que a minha música pudesse ter esta identidade ligada ao local e que a distinguisse do que se faz no resto do mundo. A melhor maneira seria, obviamente, pegar num instrumento tradicional português. Claro que se continuasse a tocar rock nesta linha tinha, se calhar, que transformar um pouco o instrumento que escolhesse. Mas, aí iria fugir à tal identidade e iria trabalhar numa identidade um bocado processada. Por isso, decidi também mudar o estilo de música que fazia. Lá está, como ouvia muita coisa diferente não foi difícil, até porque não gosto mais de rock do que gosto daquilo que estou a fazer agora. O rock sempre me influenciou mais porque desde criança que o ouço, por isso está mais enraizado. Mas já não se identifica tanto com a minha realidade actual. A viola campaniça vai muito mais ao encontro daquilo que pretendia fazer e tinha, claro, a tal identidade geográfica que eu pretendia.

Há vários instrumentos tradicionais em Portugal. Porquê este?

Comecei com uma guitarra portuguesa de Lisboa e aprendi a tocar uns fados. A guitarra portuguesa tem uma técnica muito interessante, mas muito peculiar que não quis desconstruir. Então, procurei outra solução. Essa procura demorou cerca de um ano. Nesse período, fui dar um concerto com a banda de rock que tinha em Beja e cruzei-me com um tocador de viola campaniça, o Paulo Colaço. Fiquei fascinado com aquele instrumento que achei muito bonito, com bom som e que ia ao encontro da tal procura que estava a fazer. Consegui uma viola através de um amigo em Odemira e, a partir daí, fechei-me numa sala de ensaios e fiz a tal adaptação da viola às composições em que já estava a trabalhar.

Como está a correr a carreira de O Gajo?

Não me posso queixar. Tendo em conta todo o meu passado, acho que este ano foi um ano de revolução em termos de aceitação do meu trabalho. A música que fazia estava circunscrita a um nicho e é óbvio que não era uma coisa que tivesse muita possibilidade de se expandir, por exemplo, para fora do país. O rock é uma coisa demasiado abrangente e cantado em português tem ainda menos possibilidade de ter qualquer tipo de chamada de atenção fora do país. Mesmo em Portugal, e como era uma música relativamente pesada, era um nicho. Portanto, não saía de um círculo muito circunscrito. Ao pegar num instrumento como a viola campaniça, foi radical a mudança de espectro de público que consegui alcançar. Não perdi as pessoas que me seguiam anteriormente, até porque, de alguma forma, uma boa parte delas continua a seguir o meu trabalho e ganhei muito público novo que se interessou pela sonoridade do instrumento. Ainda por cima, é uma sonoridade mais contemporânea, não tão agarrada à linguagem tradicional habitual neste instrumento. O disco acabou por ser uma novidade.

O disco “Longe do chão” parece ter também uma sonoridade muito universal, com momentos que lembra a música árabe, outras vezes o fado.

Sendo uma viola alentejana essa aproximação a uma sonoridade árabe faz sentido. É um instrumento do sul da Europa e é natural que faça lembrar alguma coisa também mais mediterrânica. Não sei porque toco as coisas como toco. Não uso nenhuma escala específica para ir procurar esta sonoridade, mas acho que o som da viola também puxa a associação à música mais árabe. Se tivesse uma viola tradicional de caixa possivelmente as composições seriam um bocadinho diferentes. Não querendo aqui igualar-me ao Carlos Paredes, há quem diga que tenho apontamentos que fazem lembrar as composições desse músico. Como é uma grande referência minha podem perfeitamente existir ali uns traçadinhos de guitarra portuguesa. O fado também poderá estar ali presente, de facto, embora numa percentagem mais pequena. As influências de rock também.

Quais são as suas influências?

O Carlos Paredes já é uma referência que vem de trás. Quando aprendi a tocar guitarra portuguesa foram as músicas dele que me ensinaram. Lembro-me que um dos “cliques” para esta ideia de tentar relacionar a minha música com a geografia de onde sou tem que ver com um concerto que vi da Anoushka Shankar e que saí de lá a pensar que era aquilo que gostava de fazer, sem ser com a cítara, obviamente. Diria que ela também foi uma grande influência. Depois há projectos como o dos americanos Wovenhand em que o vocalista usa um instrumento característico que acho que dá uma certa magia e uma cama perfeita para as histórias que canta.

Disse numa entrevista ao Público que esta nova etapa será talvez a sua fase da vida mais punk. Pode explicar?

Isto do punk é uma coisa muito relativa. Não ando a dizer que sou punk. Sempre tive uma banda que toda a gente identificava como sendo uma banda de punk apesar de muitas vezes nem concordar porque achava que era mais rock, sendo que o rock tem uma série de gavetas. Penso que quando se fala aqui de punk fala-se de atitude e no facto de fazer as coisas por mim e da forma mais independente possível. Isto também acontecia por haver falta de interesse das editoras. Aquela banda, os Gazua, de certa forma tinha que caminhar por ela própria. Sempre identifiquei a filosofia do punk com o facto de se tentar libertar da indústria musical que obviamente é mais repressiva em relação à criatividade individual. Na banda tínhamos a nossa liberdade musical mas, inevitavelmente, o rock faz-se de fórmulas e era difícil fazer coisas completamente novas, até porque temos as nossas referências e eu não sou nenhum inventor da pólvora. Quando comecei este projecto a solo, como O Gajo, senti que a viola me poderia transportar quase por caminhos por onde eu nunca tinha andado e que podia desconstruir as várias fórmulas. É nesta liberdade que está o punk. Assim, neste projecto sinto que esta atitude foi encontrada porque estou mais livre. O punk não tem que ver com uma imagem visual, tem que ver com o facto de conseguir ter alguma liberdade criativa.

Esteve na abertura de “O salão de Outono” a apresentar o novo trabalho “O Navio dos Loucos”. O que se pode esperar deste projecto?

O disco sai em Janeiro, mas ainda não está gravado. É um disco que é feito com a participação de convidados e com o uso da palavra. Eu e o José Anjos cruzámo-nos há pouco tempo e foi ele que me desafiou a ter uma aventura com as palavras. Ele tem a sua poesia que eu, entretanto, fui conhecendo e, não só gosto muito, como acho que o casamento com a viola campaniça é simplesmente genial. Por outro lado, esta junção aconteceu de forma muito espontânea. Temos trabalhado neste projecto, viemos aqui com ele e, possivelmente, pode vir a trazer muitas surpresas visto que a ideia é que não seja um projecto fechado.

Está pela primeira vez em Macau. Que impressões leva daqui?

Está a ser uma experiência espetacular, até porque não conhecia nada de Macau. Ainda não consegui ter muito bem a noção da comunidade que, se calhar, mais facilmente se irá interessar pelo meu projecto. Entretanto, também estou curioso com o que vai acontecer no concerto desta noite em que as pessoa são convidadas a participar e a improvisar. Aliás, a ideia é essa mesmo. Entretanto, dá para perceber que Macau é um sítio pequeno e que o jogo tem um peso enorme o que não é uma coisa que ache que seja muito benéfica para o desenvolvimento da cultura. As pessoas que tenho visto também não me parecem ser muito ligadas à cultura o que me leva a pensar que Macau tem espaço para crescer nesse sentido, mas o jogo parece ser o denominador comum a todo o território.

7 Nov 2018