João Luz Manchete PolíticaReserva Financeira | Rendimentos de 2020 superam 31 mil milhões de patacas No ano passado, a Reserva Financeira da RAEM arrecadou rendimentos no valor de 31,06 mil milhões de patacas, batendo um novo recorde. O montante corresponde a uma rentabilidade anual de 5,3 por cento, num ano em que o Governo, pela primeira vez na história da RAEM, utilizou 46,6 mil milhões de patacas da Reserva Financeira para cobrir o défice orçamental Ao contrário do ditado popular que garante que “nem tudo são rosas”, a Autoridade Monetária de Macau anunciou ontem que a Reserva Financeira amealhou 31,06 mil milhões de patacas em 2020. No meio dos “espinhos” da crise económica, imposta pela pandemia, as contrapartidas do ano passado acabaram mesmo por bater um novo recorde, com um valor que corresponde a uma rentabilidade anual de 5,3 por cento. O contexto dos últimos anos acrescenta nitidez à dimensão dos números divulgados ontem pela (AMCM). Nos últimos cinco anos, “a rentabilidade anual média da Reserva Financeira situou-se em 3,1 por cento, enquanto que a média da taxa de inflação anual foi de 2 por cento, em comparação com o período homólogo”, refere o organismo liderado por Chan Sau San. Porém, as contrapartidas recordistas registam-se no ano em que pela primeira vez, o Governo da RAEM recorreu à Reserva Financeira para fazer face ao défice orçamental. Nesse sentido, o orçamento absorveu 46,6 mil milhões de patacas e foi ainda transferida “uma parte do saldo da execução do orçamento central referente ao ano de 2018, no valor de 52,26 mil milhões de patacas para a Reserva Financeira”. No final do ano passado, o cômputo da reserva extraordinária e reserva básica ascendia a 616,12 mil milhões de patacas, o que representou um aumento de 6,3 por cento dos valores dos capitais. Com ventos adversos Os resultados apresentados ontem pela AMCM surgem no final de um ano em que os mercados financeiros sofreram fortes flutuações e uma crise económica que se espalhou globalmente à medida que a pandemia se propagava e paralisava pelo mundo inteiro. A AMCM refere que, devido ao forte declínio registado no primeiro trimestre de 2020, em Wall Street foi accionado várias vezes o chamado “circuit breaker (sistema automático de interrupção de operações devido a fortes flutuações no mercado de acções), um cenário que nunca foi verificado na história”. O organismo afirma que, apesar da situação extremamente desfavorável, conseguiu a “preservação e a valorização dos seus capitais, através da afectação prudente e da cobertura de riscos, bem como da aplicação de fundos em mercados com crescimento potencial”. Além de ter reduzido a posição em activos de risco elevado, a “Reserva Financeira prorrogou, de forma ordenada, as durações médias dos activo afectos a carteiras de títulos e reforçou a percentagem dos títulos em RMB”. Recorde-se que no ano passado o Executivo arrecadou 29,8 mil milhões de patacas em impostos do jogo, uma quebra de 73,6 por cento em relação ao ano anterior.
João Luz SociedadeJogo | Acções das operadoras valorizam com levantamento de quarentenas A maioria das acções das operadoras de jogo de Macau registaram ontem subidas na casa dos dois dígitos, depois de revogada a obrigação de cumprir quarentena para quem vem do interior da China. Também as receitas brutas dos últimos dias do Ano Novo Chinês motivam optimismo no sector “Todos os indivíduos que nos 14 dias anteriores à entrada em Macau tenham estado no Interior da China não necessitam de ser submetidos a observação médica ou a autogestão de saúde.” A declaração do Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus, emitida na noite de segunda-feira, pôs termo às últimas quarentenas obrigatórias, uma notícia muito bem recebida pela indústria do jogo, em particular no mercado bolsista. A agência Bloomberg avançou ontem que os títulos da Sands China valorizaram 10 por cento, registo que não se verificava desde Dezembro de 2018. Entra as concessionárias do sector, a Galaxy Entertainment Group foi a que teve ontem os melhores resultados, com as acções do grupo a subirem 12 por cento. Os títulos da Wynn Macau, Melco International Development e MGM China Holdings valorizaram 9 por cento. Com o plano de vacinação em curso e o levantamento das imposições de quarentena para quem chega da China, o sector começa a mostrar alguns sinais de optimismo. “O desanuviamento das quarentenas entre Macau e o interior da China transmite confiança à indústria do jogo e é um sinal de que as operações vão melhorar. Agora, temos de ver como as autoridades chinesas vão actuar em relação ao jogo no exterior e se isso vai afectar Macau”, comentou a analista da Bloomberg Intelligence Angela Hanlee. Sprint na recta da meta Um dos bons indicadores da retoma do sector foi dado nos últimos dias da semana do Ano Novo Chinês. As consultoras Sanford C. Bernstein e JP Morgan emitiram notas no início da semana a referir que receitas brutas registaram sinais positivos. “A procura no final do Ano Novo Chinês foi muito boa. Com base nas nossas análises, estimamos que as receitas brutas nos primeiros 21 dias de Fevereiro sejam na ordem dos 5,8 mil milhões de patacas, cerca de 276 milhões por dia, contra montantes diários entre 250 e 260 milhões de patacas nos meses anteriores”, apontam DS Kim e Derek Choi da JP Morgan, citados pelo portal GGRAsia. Os analistas acrescentam que a melhoria dos resultados se deve, particularmente, à terceira semana de Fevereiro, quando se estima que as receitas brutas tenham crescido para 466 milhões de patacas por dia, resultados que são quase o dobro das receitas brutas das duas primeiras semanas.
João Luz Grande Plano MancheteChina | Pequim apela ao fim da guerra comercial e à reposição do que Trump “destruiu” O Governo Central quer que a relação entre as duas maiores potências económicas mundiais volte a ser de cooperação em vez de conflito. O Ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, apelou ontem a Washington para abandonar os preconceitos e as suspeitas e restabeleça a racionalidade e o desenvolvimento saúde de uma relação bilateral. O caminho apontado foi o levantamento de restrições comerciais e o fim da interferência injustificada em Taiwan, Hong Kong, Xinjiang e Tibete Com agências Por trás de Wang Yi um banner à largura da sala anunciava o teor do discurso do Ministro dos Negócios Estrangeiros chinês: “Trazer de volta ao bom rumo as relações entre China e Estados Unidos”. Foi com este pano de fundo que o governante discursou ontem em Pequim, apelando aos líderes políticos norte-americanos para abandonarem preconceitos e suspeitas infundadas, de forma a retomar relações estáveis, saudáveis e racionais entre as duas maiores potências económicas. A anterior Administração norte-americana lançou uma guerra comercial, que incluiu a imposição de taxas alfandegárias punitivas sobre grande parte dos bens importados da China e restrições no fornecimento de tecnologia às empresas chinesas ou nos intercâmbios académicos. Trump também melhorou os laços militares e diplomáticos com Taiwan, enquanto puniu as autoridades chinesas acusadas de abusos contra minorias muçulmanas em Xinjiang e de repressão das liberdades em Hong Kong. Reforçando a ideia de retorno, Wang Yi evocou uma memória histórica. “Há cinquenta anos, o Dr. Henry Kissinger quebrou o gelo diplomático e visitou a China. Com extraordinária resolução política, os líderes da China e Estados Unidos abriram em conjunto uma porta que esteve fechada durante décadas”, recordou Wang. “Cinquenta anos depois, devemos ter o sentido de responsabilidade e tomar decisões sensatas, acrescentou. O governante chinês não deixou de realçar que nos últimos anos, as relações com Washington desviaram-se do caminho normal e enfrentaram grandes obstáculos. Sem grandes rodeios, Wang apontou responsabilidades à anterior administração que, “para satisfazer as suas necessidades políticas, adoptou várias medidas para reprimir e conter a China, infligindo danos incomensuráveis às relações bilaterais”, cita a agência Xinhua. Futuro mal definido Embora o novo Presidente norte-americano, Joe Biden, tenha prometido colaborar com Pequim e adoptar um tom diferente na diplomacia dos EUA, não é claro se fará mudanças fundamentais nas políticas seguidas nos últimos anos. A reversão pode ser complicada politicamente, uma vez que os dois países enfrentam um momento negro, nunca antes vivido, em termos comerciais, disputas territoriais com vizinhos e acusações de usurpação de tecnologia e espionagem. Além disso, existe um forte apoio bipartidário a Taiwan, assim como em relação as críticas de abuso dos Direitos Humanos da China, especialmente em Hong Kong, Xinjiang e Tibete. Como tal, o governante chinês solicitou que Washington pare de “manchar a reputação do Partido Comunista da China e de conspirar ou mesmo apoiar as palavras e acções erróneas das forças separatistas de Taiwan e de minar a soberania e segurança da China em assuntos internos relativos a Hong Kong, Xinjiang e Tibete”. Sobre o comércio, Wang disse que a China defenderá os direitos das empresas norte-americanas enquanto espera que os EUA “ajustem as suas políticas o mais depressa possível”, removam taxas não razoáveis sobre produtos chineses, levantem sanções unilaterais contra empresas chinesas e institutos de pesquisa e educação e abandonem a supressão irracional do progresso tecnológico da China”. Os EUA também devem suspender as restrições aos intercâmbios nas áreas da imprensa, ensino ou negócios, para reverter a queda acentuada no número de chineses que estudam nos EUA e as visitas de chineses para turismo ou negócios, disse Wang. “Espero que os dois lados trabalhem juntos para dirigir o navio gigante que é a relação China – EUA de volta ao curso de um desenvolvimento sólido, em direção a um futuro brilhante, com perspectivas ilimitadas”, descreveu. Embora o tom do ministro, assim como do conselheiro para a política externa Yang Jiechi ou o Presidente Xi Jinping pareça mais positivo, alguns porta-vozes do Governo Central têm adoptado um tom mais combativo. Em conferência de imprensa, na sexta-feira, a porta-voz Hua Chunying do Ministério dos Negócios Estrangeiros comparou a vaga de frio que atinge o Texas com as interações sociais e económicas observadas na China durante o feriado do Ano Novo Lunar, sem demonstrar qualquer simpatia. “Tudo isto nos deu uma compreensão mais profunda do que os Direitos Humanos realmente significam e como melhor protegê-los. Estamos mais convencidos de que estamos no caminho certo e temos toda a confiança no futuro”, disse. As vistas largas Um editorial do jornal oficial Global Times, que faz eco de alguns dos pontos de vista do Governo Central, publicou no domingo um artigo que estimava o retorno dos Estados Unidos ao tom conciliatório e à cooperação por não conseguires derrotar a China. Importa realçar que analistas da Câmara do Comércio norte-americana divulgaram na semana passada um relatório, em conjunto com a consultora Rhodium Group, a concluir que se os Estados Unidos venderem metade do seu investimento directo na China, os investidores norte-americanos poderiam perder cerca de 25 mil milhões de dólares em mais-valias, de acordo com um comunicado da Câmara do Comércio dos Estados Unidos. Seguindo esta lógica, o jornal chinês teceu considerações à participação de Joe Biden na cimeia do G7 e na Conferência de Segurança de Munique, a estreia internacional do novo Presidente, sob o lema do slogan “A América está de volta”. O artigo do Global Times refere que a reconciliação com os aliados tradicionais de Washington, para fazer face aos desafios levantados pela China, “tem sido uma característica da nova administração norte-americana desde que tomou posse”. Porém, o editorial aponta que as mensagens de Biden na passada sexta-feira sugerem que a cooperação estreita entre Washington e os aliados está votada a resultar no compromisso, em vez do acção unilateral dos Estados Unidos contra os seus aliados devido às relações que mantém com Pequim. Em vez do tom de Guerra Fria, as intervenções em ambas as reuniões mencionaram a necessidade de trabalhar com Pequim em algumas áreas. O Global Times acrescenta que “quando fala com os aliados, Biden é claramente mais equilibrado do que quando comunica sozinho com os media norte-americanos”. Segundo a fonte oficial, a principal razão pela qual Washington nada pode fazer em relação a Pequim, e porque a Casa Branca vacila entre a cooperação com os seus aliados para conter a China e trabalhar com a China, prende-se com o facto que um corte decisivo com Pequim e a confrontação total seria demasiado dolorosa para Washington. O romper final da relação entre as duas maiores economias mundiais é retratado pelo Global Times como “uma esperança ilusória”.
João Luz Manchete SociedadeAcumulação de lixo gera mais de 10 mil queixas desde 2019 Desde que a aplicação “IAM em Contacto” foi lançada, no início de 2019, foram submetidas mais de 22 mil queixas, quase metade devido à acumulação de lixo nas ruas. Macau é dos territórios da região que mais produz resíduos sólidos per capita Mais de 10 mil pessoas usaram a aplicação “IAM em Contacto”, desde Janeiro de 2019, para apresentar queixas devido à acumulação de lixo nas ruas, volume que representa quase metade do total de queixas recebidas, e em média mais de uma dúzia todos os dias. O presidente do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), José Tavares, confirmou este número ontem, em declarações citadas pelo canal chinês da Rádio Macau, acrescentando que a aplicação contabilizava mais de 22 mil queixas até no fim do ano passado, o que dá uma média de 30 reclamações por dia, ao longo dos dois anos de actividade. O segundo problema que gera mais participações é a manutenção de estradas e vias públicas, ainda assim muito distante do volume de queixas geradas por acumulação de lixo, com cerca de 2500 incidentes. No terceiro lugar do pódio, com 700 queixas em dois anos – em média, uma todos os dias – surgem as reclamações relativas a pontos de recolha de lixo. Em 2018, a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) afirmava que tinha como meta reduzir a produção de lixo per capita em cerca de 30 por cento até 2026. Meta que tem sido comprometida, com o aumento da produção de resíduos sólidos, cenário que se agravou, em termos de tratamento, desde que a China proibiu a importação de lixo do exterior, incluindo Macau. Números assustadores O mais recente relatório ambiental do território divulgado pela DSPA, relativo a 2019, revelou que “as quantidades de resíduos sólidos urbanos, de resíduos sólidos urbanos descartados ‘per capita’, de resíduos de materiais de construção registaram aumentos em diversos graus em comparação com 2018”. O documento que fez o balanço da situação dos resíduos na RAEM apontava para 550.249 toneladas descartadas de resíduos sólidos urbanos, volume que representou um crescimento de 5,3 por cento em relação a 2018. Em 2019, a quantidade ‘per capita’ diária de resíduos sólidos urbanos descartados foi de 2,24 quilogramas, mais 3,2 por cento que em 2018. Macau superou, consideravelmente, cidades como Hong Kong, Cantão, Pequim, Xangai e Singapura.
João Luz Manchete PolíticaMNE | Liu Xianfa nomeado para Comissário na RAEM Está encontrado o substituto de Shen Beili à frente do Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China em Macau. Liu Xianfa é o homem que se segue no posto, depois de representar a China em órgãos das Nações Unidas e de ser ministro-adjunto nos Negócios Estrangeiros O Governo Central nomeou Liu Xianfa para comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China na RAEM, lugar que ficou por preencher depois de Shen Beili ter deixado o cargo, em Julho do ano passado, para assumir funções enquanto vice-ministra de Ligação Internacional do Partido Comunista do Governo Central. A notícia foi avançada ontem pela agência Xinhua. Liu Xianfa, 57 anos, tem uma longa carreira em relações internacionais e no sector energético. Nascido em Qingdao, na província de Shandong, em Abril de 1963, Liu trilhou um percurso académico na área das ciências de gestão, foi professor universitário e ocupou cargos de gestão em petrolíferas estatais, assim como institutos nacionais. Deu os primeiros passos na gigante petroquímica Sinopec no departamento de desenvolvimento e em 1989 chegou à presidência de um instituto de pesquisa da China National Petroleum Corporation, onde ficou até 2011. Mais tarde enveredou pela carreira diplomática, primeiro como vice-cônsul em Los Angeles, entre 2011 e 2012 e de seguida à frente do consulado chinês em Lagos, na Nigéria. Depois destas experiências consulares, tornou-se Embaixador da China no Quénia, entre 2013 e 2018. Entre o ministério e a ONU Depois da experiência africana, Liu Xianfa avançou para embaixador do Ministério dos Negócios Estrangeiros, com responsabilidades em alguns institutos das Nações Unidas, nomeadamente no Programa para os Assentamentos Humanos e no Programa para o Ambiente. Antes de chegar ao cargo em Macau, Liu Xianfa foi ainda ministro adjunto.
João Luz Grande Plano MancheteCovid-19 | Doentes hospitalizados apresentam lesões cardíacas após alta Além das sequelas respiratórias, acumulam-se estudos que ligam problemas cardíacos à pandemia. Um estudo da Sociedade Europeia de Cardiologia, publicado ontem, revela que mais de metade das pessoas internadas devido à covid-19 apresentam lesões no coração um a dois meses após alta hospitalar. O elevado grau de incidência de graves sequelas cardíacas incide, principalmente, em quadros clínicos severos de covid-19, mas mesmo casos assintomáticos podem afectar o coração Com agências Um estudo divulgado ontem revela que mais de metade das pessoas hospitalizadas com covid-19 grave, e com níveis elevados da proteína troponina no sangue, apresentam lesões no coração que foram detectadas um a dois meses após alta clínica. O estudo, divulgado na publicação European Heart Journal, da Sociedade Europeia de Cardiologia, envolveu 148 doentes de seis hospitais de Londres, capital do Reino Unido, dos quais 80 (54 por cento) apresentavam cicatrizes ou lesões no músculo cardíaco (incluindo miocardite, enfarte do miocárdio e isquemia). As lesões foram detectadas em exames de ressonância magnética feitos aos pacientes um a dois meses depois de terem alta hospitalar. Todos os 148 doentes tinham níveis elevados da proteína troponina no sangue, indicador de uma inflamação no coração. Os dados da amostra foram comparados com os de um grupo de controlo de doentes que não tinham covid-19 e com 40 voluntários saudáveis. Muitos dos doentes hospitalizados com covid-19 costumam ter concentrações elevadas da proteína troponina no sangue durante a fase crítica da doença, quando o corpo desencadeia uma resposta imunitária exagerada à infecção respiratória causada pelo coronavírus SARS-CoV-2. Segundo uma das coordenadoras do estudo, Marianna Fontana, professora de cardiologia na University College London, no Reino Unido, “os doentes com quadros clínicos mais severos de covid-19 frequentemente sofrem de doenças pré-existentes como diabetes, elevada pressão arterial e obesidade, porém, o coração “pode ser directamente afectado” pelas manifestações graves da covid-19. Ao identificar “diferentes padrões de lesão” no coração, a ressonância magnética permitirá, de acordo com a especialista, citada em comunicado pela Sociedade Europeia de Cardiologia, “fazer diagnósticos mais precisos e direcionar os tratamentos mais eficazes” aos doentes. Marianna Fontana adiantou que os exames mostraram que “algumas das lesões” no músculo cardíaco “eram novas e provavelmente causadas por covid-19”. “Vimos lesões mesmo quando a função de bombeamento do coração não foi prejudicada”, disse, assinalando a preocupação de, nos casos mais graves, estas lesões poderem eventualmente aumentar o risco de insuficiência cardíaca. O que não se vê Uma das importantes ressalvas do estudo é que as conclusões retiradas a partir do acompanhamento de pacientes que foram hospitalizados devido à covid-19 nada diz sobre quem faz convalescença em casa, ou quem é internado numa unidade hospitalar sem não revelar elevados nível de troponina. A equipa de cientistas descobriu que o funcionamento do ventrículo esquerdo do coração, a câmara responsável por bombear sangue oxigenado para todas as partes do corpo, estava normal em 89 por cento dos 148 pacientes. Ainda assim, foram encontradas cicatrizes ou lesões no músculo cardíaco em 80 pacientes (54 por cento). O estudo da Sociedade Europeia de Cardiologia refere que o padrão de cicatrização ou lesão do tecido teve origem em inflamações em 39 doentes (26 por cento), doença cardíaca isquémica, que inclui enfarte ou isquemia, em 32 doentes (22 por cento), ou ambos em nove doentes (6 por cento). Doze pacientes (8 por cento) revelaram a inflamações cardíacas contínuas, ou miocardite. Apesar dos resultados preocupantes, Sonya Babu-Narayan, directora médica associada da British Heart Foundation e cardiologista consultora, mete água na fervura. “Estas descobertas não são aplicáveis a pessoas que tiveram infecções leves ou assintomáticas de covid-19”, comentou, citada pela Asian News International. A cardiologista adiantou ainda que o estudo pode inclusive ter revelado patologias que os doentes desconheciam anteriores à pandemia. Ainda assim, Sonya Babu-Narayan entende que o estudo da Sociedade Europeia de Cardiologia oferece duas oportunidades às ciências médias. “Em primeiro lugar, permite encontrar formas de prevenir a lesão. Com base em alguns padrões que temos observado, a coagulação sanguínea pode desempenhar um papel no processo que resulta em lesões. E para isso temos potenciais tratamentos. Em segundo lugar, encontrar as consequências da lesão durante a convalescença pode identificar indivíduos que beneficiariam de tratamentos específicos de apoio farmacológico para proteger a função cardíaca ao longo do tempo.” Continuar debaixo de lupa São vários os alertas dados de vários quadrantes da comunidade científica em relação à extrema necessidade de prosseguir com os estudos dos efeitos “colaterais” da covid-19, em particular a nível cardiovascular, em particular para quem não necessitou de internamento hospitalar. Porém, começam a avolumar-se as investigações científicas que sugerem que a maioria dos infectados com covid-19 pode vir a sofrer de sequelas cardíacas. Por exemplo, um estudo publicado em Junho de 2020, na revista científica JAMA, revelou que 78 por cento das doentes recentemente recuperados de covid-19 apresentavam anomalias no músculo cardíaco e cerca de 60 por cento revelavam infecções. Outro estudo deu conta de que mesmo passados 27 meses depois da infecção com o novo tipo de coronavírus, 30 por cento das pessoas poderá apresentar funcionamento anormal do coração. Entre as muitas pesquisas científicas, subsiste uma incerteza que causa apreensão à comunidade médica: os resultados de estudos, como o da Sociedade Europeia de Cardiologia, podem ser apenas a ponta de um icebergue que só pode ser vislumbrado após acumulados anos de problemas de coração resultantes da infecção de covid-19. Em Julho do ano passado, uma equipa de cientistas alemães publicou um estudo que concluía que 78 por cento dos pacientes recuperados de covid-19, a maioria com apenas sintomas ligeiros ou moderados, demonstraram complicações cardíacas mais de dois meses depois do diagnóstico inicial. Seis em dez apresentaram quadros clínicos de miocardia persistente (inflamação). Em declarações à revista Scientifica American, Elike Nagel responsável pelo estudo, ressalvou que as conclusões não deviam levar a excessos de nervosismo. Porém, o cientista deu uma perspectiva que pode provocar palpitações. “Na minha opinião pessoal, o covid-19 vai contribuir para o aumento dos casos de falhas cardíacas nas próximas décadas”. Máscaras | Humidade produzida pode reduzir gravidade da doença Um estudo do National Institutes of Health (NIH), agência federal norte-americana de investigação médica, concluiu que a humidade gerada pela respiração dentro das máscaras pode ajudar a combater doenças respiratórias como a covid-19. Os resultados desta investigação, publicados no Biophysical Journal, indicam que o uso de máscaras de vários tipos aumenta substancialmente a humidade do ar inspirado por quem a usa e relaciona este dado com o facto já provado de que a hidratação do trato respiratório beneficia o sistema imunológico. Segundo o estudo, esta conclusão pode ajudar a explicar a razão pela qual o uso de máscaras de protecção individual tem sido associado a uma menor gravidade da doença de pessoas infectadas pelo vírus SARS-CoV-2. “Descobrimos que as máscaras aumentam fortemente a humidade do ar inalado e admitimos que a hidratação do trato respiratório daí resultante pode ser responsável pela descoberta já documentada que associa a menor gravidade da doença covid-19 ao uso de máscara”, adianta Adriaan Bax, investigador do NIH e autor principal do estudo. De acordo com o investigador, está demonstrado que níveis elevados de humidade “atenuam a gravidade da gripe”, o que pode ser aplicado à covid-19 “através de um mecanismo semelhante”. Na prática, os elevados níveis de humidade inalada podem limitar a propagação de um vírus aos pulmões, através de um mecanismo de defesa que remove o muco – e partículas potencialmente nocivas dentro do muco – desse órgão. Além disso, uma elevada humidade pode também fortalecer o sistema imunológico, produzindo proteínas especiais, chamadas interferons, que lutam contra vírus – um processo conhecido como resposta de interferon. O estudo analisou quatro tipos comuns de máscaras: uma máscara N95, uma máscara cirúrgica descartável de três camadas, uma máscara de algodão e poliéster de duas camadas e uma máscara de algodão pesado.
João Luz Manchete SociedadeTurismo | DST espera regresso de inscrição online para emissão de vistos A aposta na qualidade em detrimento da quantidade de turistas e o retorno das inscrições online para vistos de entrada em Macau são caminhos para a recuperação do turismo, segundo Helena de Senna Fernandes. A governante destaca o bom sinal da permanência por mais tempo de quem visitou Macau durante o Ano Novo Lunar, apesar dos números fracos A directora dos Serviços de Turismo (DST), Helena de Senna Fernandes, garante que o Governo está a fazer todos os possíveis para os turistas chineses que visitam Macau voltem a poder requer online a emissão de vistos turísticos. O compromisso foi reiterado ontem, no fórum Ou Mun Tin Toi, do canal chinês da Rádio Macau, com a governante a ressalvar a necessidade de dar algum tempo para que as autoridades do Interior da China aliviem as restrições fronteiriças. Actualmente, os turistas chineses têm de fazer a inscrição presencial para a emissão de visto turístico para entrar em Macau, factor de inconveniência a que se junta as orientações das autoridades chinesas para que as pessoas evitem sair das províncias onde residem. Além disso, a dirigente máxima da DST lembrou que Macau ainda é considerado um território do exterior no que diz respeito à emissão de vistos na China e que, por isso, é essencial promover os produtos turísticos da RAEM e transmitir a ideia de destino de confiança. O plano passa pela organização de actividades que visam projectar e promover Macau junto dos sectores do turismo e comércio electrónico na área da Grande Baía, algo que Helena de Senna Fernandes revelou estar previsto com acções concretas já em Março e Abril. O lado positivo Apesar de reconhecer que o número de visitantes durante a semana do Ano Novo Lunar ficou aquém das expectativas do Governo (menos de 77.400 em seis dos sete dias de festividades), Helena de Senna Fernandes destacou aos microfones da Rádio Macau que quem veio ficou mais tempo no território. Um sinal positivo e que pode apontar para o futuro desenvolvimento da indústria, que não procura somente turistas em quantidade, mas em qualidade. Apesar disso, a governante quer alterar o panorama actual, em que só podem entrar visitantes com vistos individuais, para que Macau volte a receber excursões. Mantendo a toada conservadora, a directora da DST estima que em longo de 2021 Macau receba entre 6 e 10 milhões de turistas, o equivalente aos níveis do período entre 1996 e 2001, antes da liberalização do jogo. Foi também revelado que ainda durante o primeiro trimestre deste ano será inaugurado o cais provisório de passageiros da Barra.
João Luz Manchete PolíticaSulu Sou pergunta porque abusos e abandono de animais não são punidos Depois das macabras e recentes descobertas de gatos mortos no Iao Hon, Sulu Sou quer saber porque os abusadores são raramente punidos. O deputado pede explicações para a aparente falta de eficácia na aplicação da lei de protecção animal e para as garras pouco afiadas das autoridades Na semana passada, foram encontrados mais três cadáveres de gatos no Iao Hon, aumentando para seis a contagem de animais encontrados mortos no bairro da zona norte da península numa semana. O presidente do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), José Tavares, garantiu que estes casos causam preocupação e que o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) iniciou de imediato a investigação do caso. Sulu Sou pegou neste incidente para voltar a questionar a acção das autoridades e a eficácia punitiva da lei de protecção animal. Em interpelação escrita, divulgada ontem, aponta que apesar do CPSP ter revelado, no passado dia 11 de Fevereiro, ter encontrado suspeitas que justificaram abrir uma investigação, desde então não houve novidades. O deputado encontra neste caso um padrão de impunidade, face à falta de correspondência entre casos de abuso de animais revelados e condenações em tribunal. “Mais de quatro anos depois da entrada em vigor da Lei de Protecção dos Animais, a 1 de Setembro de 2016, além da necessidade de rever alguns aspectos do diploma, muitos casos de abandono e tratamento cruel não foram punidos. Os suspeitos de morte de animais acabam por não ser castigados, o que faz com que os cidadãos questionem e exijam maior eficácia e profissionalismo às autoridades na aplicação da lei”. O caso de um gato encontrado decapitado no ano passado, numa travessa perto do Hospital Kiang Wu, é mencionado na interpelação como exemplo de impunidade. O processo acabou por ser arquivado “porque as autoridades não conseguiram encontrar os responsáveis”. Como tal, o legislador pergunta que medidas específicas o IAM e o CPSP planeiam implementar para melhorar a eficácia da lei. Problema arrastado Sulu Sou refere também que desde que entrou em vigor a lei de protecção animal o abandono não diminuiu, de acordo com os relatos de responsáveis de associações e voluntários, fenómeno que resulta na reprodução de animais de rua. Porque razão as condenações por abandono animal têm sido tão baixas desde a implementação da lei? O deputado pergunta também se as autoridades conseguem evitar o “abandono legal”, ou “disfarçado”, quando os donos recorrem ao IAM alegando falta de condições para alimentar ou abrigar, de acordo com a disposição legal que obriga os serviços municipais a receber os animais nessa situação. O site do IAM dá conta de apenas três violações da lei por abandono de animais desde 2019. Sulu Sou recorda ainda que durante 2018 e 2019 o IAM encontrou 507 carcaças de gatos e 75 de cães, um nível de mortandade que não pode excluir casos de tortura e morte resultante de violência. Números que não se reflectem em condenações.
João Luz Manchete PolíticaGoverno promete a Wong Kit Cheng combate à prostituição No ano passado, as autoridades detiveram 29 indivíduos em 121 operações de combate à prostituição. Os números foram avançados em resposta a uma interpelação de Wong Kit Cheng, que lançou uma cruzada contra o fenómeno e aos panfletos pornográficos. A deputada pediu ainda a redefinição do conceito legal de pornografia “Na internet existem muitos websites e publicações com informações pornográficas, portanto, as autoridades devem seguir e recolher provas nestes websites e publicações, com vista a combater a prostituição em grupo e a evitar que os jovens acedam a essas informações através da internet. Já o fizeram?” A pergunta é de Wong Kit Cheng, numa interpelação em que apelou ao combate à prostituição e à distribuição de panfletos que denomina como pornográficos. A interpelação foi respondida pela chefe do gabinete do secretário para a Segurança, Cheong Ioc Ieng, que apontou que “desde o fim de 2018, a Polícia Judiciária faz inspecções online de combate ao recrutamento de menores para prostituição”. O responsável indica que foram descobertos três anúncios de venda de substâncias usadas para dopar vítimas de abuso sexual, e que também foram investigadas publicações nas redes sociais a oferecer serviços de prostituição. A chefe de gabinete revelou que em 2020 foram detidas 29 pessoas na sequência de 121 operações de combate à prostituição, durante as quais foram identificados 203 indivíduos. A resposta surge depois do apelo da deputada, que representa a Associação Geral das Mulheres de Macau na Assembleia Legislativa, no combate aos “problemas dos panfletos pornográficos e da prostituição nos bairros comunitários”. A imagem de Macau, enquanto cidade turística, a segurança dos bairros e o pensamento dos jovens podem estar em risco, no óptica de Wong Kit Cheng. “Muitos encarregados de educação dizem que não sabem o que explicar aos filhos quando recebem panfletos pornográficos nas ruas, além disso, o problema da prostituição nos bairros comunitários também constitui uma grande perturbação para os moradores”, referiu a deputada. O que é pornografia? Outra das demandas da legisladora é a redefinição do conceito legal de pornografia. “Só a descrição de actos sexuais ou a exposição dos órgãos genitais é considerada como pornografia, por isso, não se pode recorrer a esta lei para sancionar a distribuição de panfletos pornográficos”, argumentou Wong Kit Cheng, em relação à falta de cobertura legal para proibir os panfletos que anunciam serviços de prostituição. Cheong Ioc Ieng respondeu que tanto as alterações aos conceitos legais, como a reforma legislativa para punir penalmente a prostituição, carecem de consenso social, e que “as autoridades de segurança têm uma atitude de abertura” para as sugestões.
João Luz Grande Plano MancheteAlterações Climáticas | Cumprir Acordo de Paris poderia salvar milhões de vidas, diz estudo Um estudo da Lancet estima que cerca a morte de mais de 10 milhões de pessoas pode ser evitada se as metas estabelecidas no Acordo de Paris forem alcançadas. A investigação, que tem como horizonte temporal 2040, teve por base um leque de países que representam metade da população mundial e 70 por cento das emissões de gases com efeito de estufa Com agências Milhões de pessoas poderiam ser salvas em cada ano se os países aumentassem as medidas para cumprir os objectivos do Acordo de Paris e impedir o aquecimento global, indica um estudo divulgado ontem, que tem 2040 como horizonte. O estudo é da responsabilidade da revista científica britânica Lancet, através da iniciativa “Lancet Countdown on Health and Climate Change” (Contagem decrescente em Saúde e Alterações Climáticas), e foi publicado ontem no boletim “The Lancet Planetary Health”. De acordo com o documento, a adopção de políticas que deem prioridade à saúde e que sejam consistentes com os objectivos do Acordo de Paris, de impedir que as temperaturas globais não subam mais de dois graus em relação à época pré-industrial, e de preferência menos de 1,5 graus celsius, poderiam salvar vários milhões de vidas até 2040 em nove países. Nos cálculos dos investigadores poderiam ser salvas 6,4 milhões de pessoas através de melhor alimentação, 1,6 milhões conseguindo ar mais limpo e 2,1 milhões promovendo o exercício físico. Os países considerados para o estudo – Brasil, China, Alemanha, Índia, Indonésia, Nigéria, África do Sul, Reino Unido e Estados Unidos – representam metade da população mundial e 70 por cento das emissões de gases com efeito de estufa (GEE). Segundo o Acordo de Paris, sobre redução de emissões, todos os países devem apresentar as suas contribuições nacionais (NDC, Nationally Determined Contributions) para a redução de GEE e limitar o aquecimento do planeta. Essas NDC deviam ser actualizadas antes da próxima cimeira do clima (COP26) prevista para 2020, mas adiada para este ano devido à covid-19. Até agora, muitos países, incluindo seis do grupo dos nove em estudo, ainda não actualizaram as NDC (actualizaram 39 países e a UE), sendo que, notam os autores, com as actuais metas há o risco de a temperatura aumentar mais de três graus. Como pão para a boca Ian Hamilton, director executivo da “The Lancet Countdown on Health and Climate Change”, diz, citado no estudo, que os benefícios para a saúde de políticas climáticas ambiciosas têm um impacto positivo imediato, e acrescenta que “existe uma oportunidade de colocar a saúde na vanguarda das políticas relativas às alterações climáticas para salvar ainda mais vidas”. Sustentado nos resultados do estudo, Hamilton argumenta que cumprir as metas no Acordo de Paris não só previne a morte prematura de milhões de pessoas todos os anos, como eleva a qualidade de vida e a saúde das populações. Os autores do estudo fizeram estimativas tendo em conta as emissões de GEE geradas pelos sectores da energia, agricultura e transportes, as mortes anuais devidas à poluição atmosférica e factores de risco relacionadas com a dieta e inactividade física. E usaram três cenários diferentes, um com as actuais políticas decorrentes das NDC em vigor, outro cumprindo o Acordo de Paris e outro que analisa os benefícios adicionais de incorporar no segundo cenário objectivos de saúde explícitos. “Os benefícios para a saúde do reforço dos compromissos das NDC são gerados tanto através da mitigação directa das alterações climáticas como através do apoio a acções para reduzir a exposição a poluentes nocivos, melhorar as dietas e permitir uma actividade física segura”, diz-se no documento. Seguindo a linha orientadora da Organização das Nações Unidas (ONU) para Alimentação e Agricultura, o estudo da Lancet traça uma clara relação entre dieta alimentar e ambiente. Colocando o foco no aumento do consumo de fruta, vegetais e legumes, e na diminuição da carne vermelha e comida processada, a saúde das populações e do planeta sai a ganhar. A agência das Nações Unidas aponta que a produção industrial de carne e produtos lácteos contribui com 14,5 por cento das emissões globais de carbono. Face a esta dimensão, mesmo uma pequena diminuição no consumo global de carne tem um efeito considerável na saúde e nas emissões de gases com efeito de estufa. O mau caminho E apesar de dizerem que alguns países reforçaram as suas ambições em termos de redução de emissões de GEE, alertam que mesmo assim, com base nesses anúncios de compromissos, “o mundo ainda não está no bom caminho para cumprir os objectivos do Acordo de Paris e enfrentaria 2,5 graus celsius de aquecimento até final do século”. O “Lancet Countdown on Health and Climate Change” é uma colaboração internacional para uma visão global da relação entre a saúde pública e as alterações climáticas e junta mais de 120 especialistas em diversas áreas, publicando todos os anos um relatório. O estudo “The Lancet Planetary Health” é publicado num momento oportuno na agenda global do ambiente. A cidade escocesa de Glasgow acolhe em Novembro a 26ª Conferência das Alterações Climáticas da ONU, o que faz com que os países signatários do Acordo de Paris tenham apenas alguns meses para actualizar e rever as suas contribuições nacionais para a redução de emissões. Num comunicado, citado pela CNN, a ex-directora da Organização Mundial de Saúde Margaret Chan teceu um comentário ao estudo da Lancet, referindo que “no fim de contas, populações mais saudáveis serão mais resilientes face a crises de saúde pública”. “Os resultados do estudo providenciam um incentivo extra para os líderes mundiais respeitarem os seus compromissos ambientais, mas também para que as metas ambientais sejam alinhadas com os objectivos de saúde nos planos de recuperação da pandemia de covid-19”, afirmou Margaret Chan. Época das alergias cada vez mais longa e intensa As alergias sazonais são cada vez mais prolongadas e intensas devido às alterações climáticas, revela um estudo divulgado esta semana, da autoria de uma equipa de investigadores da Universidade de Utah, Estados Unidos. Os cientistas concluíram que a época de maior concentração de pólen dura actualmente mais 20 dias e tem 21 por cento mais pólen do que em relação a 1990. Liderados por William Anderegg, da Escola de Ciências Biológicas da Universidade de Utah, os investigadores descobriram que as alterações climáticas causadas pela actividade humana desempenharam um papel significativo no prolongamento da ‘estação do pólen’ e que também têm um efeito no aumento da quantidade de pólen. “A forte ligação entre o tempo mais quente e as estações do pólen fornece um exemplo cristalino de como as alterações climáticas já estão a afectar a saúde das pessoas em todos os Estados Unidos”, disse William Anderegg a propósito da investigação, publicada na revista científica “Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of América”, a publicação oficial da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. A equipa compilou dados medidos entre 1990 e 2018, a partir de 60 estações de medição do pólen nos Estados Unidos e no Canadá. E através desses números concluiu que houve um aumento da quantidade de pólen e que este começa a ser produzido 20 dias mais cedo do que em 1990, o que indica que o aquecimento global está a alterar o calendário interno das plantas (fenologia). E ao dividir os anos do estudo em dois períodos, 1990-2003 e 2003-2018, os investigadores descobriram também que a contribuição das alterações climáticas para o aumento da quantidade de pólen esta a acelerar. As alergias ao pólen transportado pelo ar podem provocar desde um simples incómodo a infecções nas vias respiratórias.
João Luz Grande Plano MancheteCovid-19 | Vacinação começa hoje, Wong Sio Chak, Elsie Ao Ieong e Lei Chin Ion dão o exemplo Começa hoje a vacinação contra a covid-19 para grupos prioritários, incluindo pessoal médico, polícias, bombeiros e também profissionais de elevado grau de exposição como motoristas de autocarro, professores e croupiers. Lei Chin Ion, Wong Sio Chak e Elsie Ao Ieong vão ser vacinados no dia de estreia do programa. Os restantes residentes podem inscrever-se hoje, mas só serão inoculados a partir de 22 de Fevereiro Hoje é o primeiro dia do resto da vida dos residentes de Macau, após mais de um ano de constrangimentos, crise e pavor causado pela pandemia da covid-19. A página começa hoje a ser virada, com a administração das primeiras vacinas, destinadas aos grupos de maior risco, como os profissionais da linha da frente e pessoas cujas empregos pressupõem elevado grau de exposição (professores, motoristas, profissionais que contactem com produtos congelados importados, funcionários de lares de idosos e croupiers). Além destes dois grupos, a primeira fase do programa de vacinação abrange também quem tenha necessidade de viajar para zonas consideradas de alto risco, ou seja, onde se registem surtos comunitários. Os restantes residentes podem registar-se a partir do meio-dia de hoje, na plataforma disponibilizada pelo Governo, mas as vacinas só vão ser administradas na segunda fase, a partir de 22 de Fevereiro. A terceira fase, destinada a não residentes, incluindo titulares do título de identificação de trabalhador não residente e alunos legalmente autorizados a permanecer na RAEM, ainda não tem data marcada. Os responsáveis do Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus referiram ontem que é preciso observar o andamento das primeiras duas fases de vacinação, antes de marcar uma data para vacinar não residentes. Porém, o médico Alvis Lo Iek Long adiantou que se os trabalhadores não residentes, por natureza das suas profissões, estiverem incluídos nos grupos prioritários já se podem inscrever para tomar a vacina. Estes grupos vão ter acesso gratuito à vacina, que se destina a pessoas com idade igual ou superior a 18 anos e inferior a 60 anos, bem como a pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com boas condições de saúde e maior risco de exposição. Os restantes não residentes de Macau, mas legalmente autorizados a permanecer no território, vão pagar a taxa de administração da vacina, que custa 250 patacas por cada dose, incluindo familiares de trabalhadores não residentes que estejam agregados ao bluecard. Passos práticos À semelhança do que acontece com a marcação para fazer o teste de ácido nucleico, a inscrição para o programa de vacinação pode ser feito online, através da leitura de um código QR, que encaminha para o portal onde está alojado o sistema de vacinação. Alvis Leong Iek Hou, do Centro de Prevenção e Controlo da Doença, acrescentou que se os utentes com dificuldades na utilização da plataforma, “podem deslocar-se a oito pontos do Instituto de Acção Social e recorrer ao apoio dos funcionários”. Para já, as autoridades de saúde revelaram que as pessoas incluídas nos grupos prioritários, abrangidas pela primeira fase do programa, têm a inscrição facilitada. Os serviços públicos, como forças de segurança, profissionais de saúde ou serviços de alfândega procederam a à listagem dos quadros destinatários da vacina. Quanto aos privados, as autoridades de saúde entraram, ou vão entrar, em contacto com empresas como casinos, escolas para fazer uma lista de profissionais que vão receber a vacina. No entanto, para já, o Governo ainda não tem uma noção exacta do número de pessoas abrangidas na primeira fase do programa. As autoridades de saúde preferiram não adiantar uma estimativa para o número de pessoas vacinadas hoje, ou para a capacidade total de administração de doses diárias. “Ainda estamos em fase de preparação, só amanhã [hoje] divulgamos quantas pessoas receberam a vacina”, comentou Alvis Lo Iek Long, médico e membro da direcção Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ). Para já, o hospital público e os centros de saúde vão ser os pontos de vacinação, cenário que pode mudar ao longo do programa. Em relação à afluência, Alvis Lo Iek Long, colocou água na fervura: “Acho que antes do Ano Novo Chinês não vão ser vacinadas muitas pessoas, só depois”, previu o médico. Governo da linha da frente Na conferência de imprensa de ontem do Centro de Coordenação de Contingência, não foi referido se o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, está entre o grupo de “pioneiros” que vão tomar a vacina da farmacêutica Sinopharm no primeiro dia do programa. De acordo com o Gabinete de Comunicação Social, o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, será um dos primeiros dirigentes a ser inoculado, assim como a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong e o director dos Serviços de Saúde Lei Chin Ion. Em declarações à margem de uma reunião na Assembleia Legislativa, Wong Sio Chak afirmou que os serviços da sua tutela estão a contar o número de trabalhadores da linha de frente que se inscreveram para receber a vacina contra a covid-19, realçando que a vacinação é voluntária. Citado pelo GCS, o secretário para a Segurança fez questão de realçar que escolheu “a injecção da vacina de Sinopharm devido a ter confiança nas vacinas da China continental”, e que a sua postura deve servir de exemplo aos profissionais da sua tutela. O governante avançou que há cerca de 1300 a 1400 agentes policiais nos postos fronteiriços, bem como mais de 1000 agentes no corpo de bombeiros, no entanto, referiu que ainda não conhece a dimensão do universo de pessoas da linha da frente da sua tutela que precisam ser vacinados, mas adiantou que a inoculação “não reflecte o trabalho por turnos destes agentes”. Fidelidade ganha corrida Outra questão anunciada ontem foi que o seguro de saúde que irá cobrir reacções adversas e efeitos colaterais da vacina será da responsabilidade da seguradora Fidelidade Macau. O médico adiantou que o Governo interpelou 25 empresas, e recebeu no total 10 propostas. Após análise, entre as cinco melhores propostas, foi escolhida a Fidelidade de Macau para o seguro colectivo, válido por um período de um ano. Alvis Lo Iek Long afirmou que o prémio do seguro vai depender da situação concreta, “se houver mais pessoas vacinadas, o prémio será inferior”. Porém, em caso de efeitos secundários ou reacções adversas que resultem na morte ou incapacidade permanente do segurado, a cobertura máxima será de 1 milhão de patacas, um valor que terá uma redução de 50 por cento para pessoas com mais de 70 anos e o prazo para requerer o pagamento é reduzido para três meses. O médico acrescentou que os Serviços de Saúde assumem a responsabilidade pelos custos resultantes de efeitos secundários da vacinação. Revisão sem pares Depois da chegada a Macau do primeiro lote de 100 vacinas, da farmacêutica estatal chinesa Sinopharm, o Governo de Hong Kong demarcou-se da política de autorização da vacina adoptada pelo Executivo de Ho Iat Seng. Citado pelo South China Morning Post, um conselheiro médico do Governo de Carrie Lam na questão das vacinas, destacou que, até agora, as farmacêuticas chinesas Sinovac e a Sinopharm não passaram às autoridades das regiões administrativas especiais dados definitivos sobre os limites de idade para a vacinação, efeitos secundários graves nas fases de teste, e níveis de anticorpos resultantes da inoculação e eficácia para prevenir a contaminação das várias variantes da covid-19. David Hui Shu-cheong acrescentou que Hong Kong respeita os padrões internacionais de aprovação das vacinas, e a apresentação de resultados da 3ª fase dos testes é essencial os cumprir os standards. Algo que não aconteceu com as vacinas do primeiro lote que começam a ser administradas hoje em Macau. Também Carrie Lam defendeu a abordagem diferença entre as regiões administrativas especiais, adiantando que o Governo Central compreende que enquadramento legal de Hong Kong para o uso de vacinas com urgência incluiu a avaliação de acordo com o método científico antes da aprovação do fármaco, ou seja, todos os dados resultantes das três fases de teste devem ser publicados e sujeitos a revisão de pares. Algo que Alvis Lo Iek Long não considera necessário. “Em relação a todas as vacinas que vão entrar em Macau, nós temos um departamento responsável que avalia as vacinas antes de autorizar a sua entrada no território. Além disso, as autoridades nacionais também já autorizaram. Acredito que a autoridade farmacêutica do Interior da China, como é uma entidade rigorosa, já fez uma avaliação rigorosa, por isso não precisam estar preocupados”, frisou o médico. Quanto aos estudos necessários, Alvis Lo Iek Long argumentou que a Sinopharm apresentou resultados de vários estudos, que foram encaminhados para as entidades competentes. “Se observarem as revistas científicas, estas só publicam uma versão simples e geral dos estudos”, acrescentou ontem o médico. Além da vacina da Sinopharm, o Governo de Macau deu “luz verde” também à compra da “vacina de mRNA da Fosun-BioNTech” e da AstraZeneca e participa ainda no plano global de aquisição colectiva promovido pela Organização Mundial da Saúde e pela Aliança Global para Vacinas e Imunização, para aquisição de algumas vacinas. Mais 100.000 doses da Fosun-BioNtech poderão chegar ainda este mês. Cirurgias | SS garantem que tratamentos em Hong Kong continuam Alvis Lo, médico dos Serviços de Saúde (SS), garantiu ontem que os tratamentos em Hong Kong continuam apesar das restrições nas fronteiras. Há também tratamentos a ser feitos com especialistas do interior da China, assegurou. Segundo o responsável, a quarentena não determina a impossibilidade de prestar cuidados médicos. “Claro que há alguma inconveniência na circulação de pessoas entre Hong Kong e Macau, mas ainda não suscita problemas em relação aos casos graves. E também temos um mecanismo de cooperação com especialistas do interior da China. Por enquanto, não verificámos casos que não conseguimos resolver”, afirmou, sem especificar quantos casos foram tratados no exterior de Macau. O HM noticiou a semana passada de que os doentes que necessitem de intervenções cirúrgicas ao coração e pulmões estão sem acesso a estes tratamentos devido às actuais restrições impostas no âmbito da pandemia, uma vez que os médicos de Hong Kong não se podem deslocar ao território. Por norma os SS também enviam doentes urgentes para um hospital em Cantão, mas, neste momento, existem restrições à entrada de estrangeiros no país devido à covid-19, o que pode afectar os residentes não chineses de Macau. No Centro Hospitalar Conde de São Januário não existe uma unidade de cirurgia cardíaca e torácica. Até agora muitos dos pacientes têm sido também operados no hospital Kiang Wu.
João Luz Grande Plano MancheteWong Kit Cheng, deputada, sobre educação sexual: “Valores éticos são elementos do amor completo” No dia 17 de Janeiro, a Associação Geral das Mulheres de Macau divulgou um comunicado a dar conta de uma palestra ministrada por Wong Kit Cheng a alunos da Escola Keang Peng educação sexual. A deputada terá alertado para os riscos de iniciar a vida sexual antes do casamento, citando as penas para os crimes de aborto e violação. Como o comunicado em questão deixou muitas dúvidas, o HM falou com Wong Kit Cheng No seu entender, quais são as consequências do sexo antes do casamento? Durante aquela palestra quisemos transmitir aos alunos as mensagens correctas. Não, propriamente, especificando se podem ou não fazer sexo antes do casamento. A ideia foi explicar que duas pessoas de sexos diferentes, que tenham curiosidade para iniciar a vida sexual, devem ter vários aspectos em consideração. Por exemplo, de acordo com a lei, ter relações sexuais com menores de 14 anos é crime. Tentei explicar as leis e a responsabilidade penal de quem a violar o respeito numa relação entre pessoas de sexos diferentes. Além disso, procurei passar a mensagem de que um jovem deve respeitar o seu próprio corpo e o corpo de outra pessoa. Por outro lado, também tentei passar o conhecimento sobre formas de fazer sexo seguro, alertando para as consequências de doenças sexualmente transmissíveis e para a importância da contracepção. Mas consenso científico indica que o ensino da abstinência é contraproducente na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez adolescente. A educação sexual deve ensinar o que é o sexo, sobre o acto em si, mas também sobre as consequências sociais, judiciais e a responsabilidade que implica, como expliquei na palestra. Quero esclarecer que não quero incentivar nem opor-me ao sexo, que é uma necessidade básica do ser humano. Não incentivamos, nem proibimos. Não faço comentários a estudos sobre abstinência. A ideia que quis passar é que as doenças sexualmente transmissíveis, como a SIDA, devem ser prevenidas através da prática do sexo seguro Na palestra referiu termos como “correcção nos relacionamentos” e respeito por valores éticos. O que querem dizer, neste contexto? Referimo-nos a materiais didácticos sobre educação sexual, que defende a ideia de amor completo, ou seja, da relação física que é desenvolvida através do carinho, da responsabilidade, respeito e conhecimento. Este amor inclui paixão, intimidade e compromisso que constroem um equilíbrio, só assim podemos expressar o amor real. Os valores éticos são elementos de construção do amor completo ou responsável. Acha apropriado falar de crimes sexuais numa palestra sobre educação sexual? Não vejo conflito em passar conhecimento sobre leis no contexto de educação sexual, de explicar as penas para quem comete crimes. Claro que as explicações legais devem ser dadas num capítulo específico, mas na educação sexual é importante para os jovens terem consciência de que se devem proteger, que devem recusar algumas acções e denunciar com coragem actos criminais. Por exemplo, se um menor for tocado nas partes íntimas ou no órgão sexual, o agressor cometeu importunação sexual. Se os alunos não souberem que isto constitui crime, é difícil alertar as autoridades. Além disso, a relação sexual pode resultar em gravidez, por isso é importante explicar que o aborto em Macau é ilegal, apesar de existirem locais onde se pode interromper a gravidez. Acho importante que os jovens tenham conhecimento das leis e das penalizações e da ilegalidade em que operam estas unidades médicas. Acha que a lei que proíbe o aborto devia ser alterada, ou incluir excepções à ilegalidade? Não sei porque me pergunta isto. Apenas partilhei com os alunos as leis actuais, que estabelecem a ilegalidade do aborto. Educação sexual | Psicólogo critica abordagem seguida nas escolas Com casos de abuso sexual de menores a disparar, as escolas de Macau apostam na educação sexual. Resta saber se os métodos e os conceitos utilizados estão adequados ao problema, na era do Youtube “A educação sexual nas escolas em Macau falha por completo. A abordagem da educação sexual em Macau é feita com um intuito mais punitivo do que pedagógico e é o primeiro passo para as coisas não correrem tão bem”, comenta ao HM o psicólogo com experiência na área da educação Pedro de Senna Fernandes. O especialista adianta mesmo que não sabe se Macau estará preparado para um tipo de programa pedagógico caracterizado pela abertura que estes temas exigem. “Se começamos por impor um processo punitivo naturalmente que todas estas questões, quando são dadas, são absorvidas de uma forma mais amedrontada. A Organização Mundial de Saúde define a sexualidade como uma energia que nos motiva. Quando falamos da passagem para a adolescência desenvolve-se de um centro de prazer mais exponencial do que o centro do controlo da razão”, aponta Pedro de Senna Fernandes. O psicólogo refere que o abuso sexual na China é muito elevado e que o país não tem uma cultura virada para a sexualidade, mas “tem antes uma cultura de muita repressão para aquilo que é a sexualidade”. O especialista considera que Macau pode seguir este modelo por arrasto. Em relação à influência de deputados e outros actores sociais, Pedro de Senna Fernandes alerta para a inevitabilidade de existirem comportamentos sexuais que vão “contra a moral social dos legisladores de Macau”. “Mantém-se de forma escondida e a resposta da sociedade em vez de ser pedagógica vai ser fortemente punitiva”. O psicólogo entende que pode ser perigoso equivaler aquilo que deriva da lei, que pode ser muito conservadora e assentar mais em repressão, a algo “que representa uma evolução do ser humano, que é uma boa sexualidade, uma boa aceitação do nosso corpo e do nosso eu”. Casos de pedofilia em alta O número de crimes de abuso sexual de crianças disparou no ano passado. De acordo com os dados mais recentes do gabinete do secretário para a Segurança, recentes aos primeiros nove meses de 2020, registou-se uma subida de 63,6 por cento, a maioria dos casos ocorreram nas escolas ou em ambiente familiar. As autoridades do território registaram também um aumento nos casos referentes a “pornografia de menor”, tendo resolvido cerca de 60 casos através dos mecanismos de cooperação com vários países e regiões. Não é, portanto, que o assunto seja amplamente discutido nas esferas políticas e executiva. Além dos pedidos de vários deputados, incluindo Lei Chan U, para incluir nas aulas de educação sexual informação sobre abusos sexuais, o próprio Governo considera essa uma via para contornar o problema. Na sequência de um caso suspeito de abuso sexual na Escola para Filhos e Irmãos dos Operários, no Fai Chi Kei, o Governo afirmou ser necessário prevenir e educar encarregados de educação, alunos e professores através da promoção da educação sexual a vários níveis. Em resposta ao HM, aquando deste caso em Junho do ano passado, a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) referiu pretender criar um “ambiente de difusão da educação sexual, de forma a promover o desenvolvimento integral das crianças e dos jovens, dos seus conhecimentos e da sua capacidade de autoprotecção neste âmbito.”
João Luz Grande Plano MancheteDavos | Xi Jinping apela ao fim da arrogância e da mentalidade isolacionista O Presidente chinês pediu no Fórum Económico Mundial, em Davos, unidade internacional no combate à pandemia e do fim da mentalidade de “nova Guerra Fria” no contexto. Sem nunca mencionar Trump ou Biden directamente, Xi apelou ao reforço a organizações multilaterais e à remoção de barreiras ao comércio internacional, enquanto António Guterres sugeriu uma resposta “verde” para a crise provocada pela covid-19 Com agências Ao longo desta semana, muitos dos líderes mundiais, políticos e económicos, participam no Fórum Económico Mundial de Davos, na Suíça, este ano fortemente marcado pela pandemia da covid-19, não só porque as intervenções são on-line, mas também no que toca à agenda. O fórum deste ano arrancou com discursos de personalidades como Xi Jinping, Christine Lagarde, António Guterres, Anthony Fauci e Greta Thunberg. Uma das mensagens inaugurais de destaque no arranque da cimeira foi do Presidente da China, incitando os restantes líderes na luta contra o clima de confronto e sublinhando a importância de unidade global no combate à pandemia. “Construir clãs ou iniciar uma nova Guerra Fria, rejeitar, ameaçar ou intimidar os outros, impor a dissociação, interromper cadeias de abastecimento ou impor sanções para causar isolamento só vai empurrar o mundo para mais divisão e até para o confronto”, alertou Xi Jinping. “O confronto apenas nos conduzirá a um beco sem saída”, concluiu o líder chinês, que apontou a importância deste momento histórico que o mundo atravessa. “As escolhas e as medidas que tomarmos hoje vão moldar a forma do futuro do mundo”, disse o Presidente chinês. Numa toada de compreensão pela complexidade dos problemas globais, Xi defendeu a aposta forte no multilateralismo e na construção do sentido de comunidade e de futuro partilhado entre todos os povos. “Multilateralismo assenta na resposta a assuntos internacionais através da consulta de todos, trabalhando em conjunto”, renunciando à mentalidade estreita e egoísta. Sem mencionar ninguém, em especial Donald Trump ou Joe Biden, Xi Jinping referiu que “decisões políticas não devem ser tomadas simplesmente mostrando músculos fortes ou punhos cerrados”. O líder chinês fez questão de vincar que todos os países têm uma história e cultura única, assim como um sistema social, sem que nenhum seja superior ao outro. “As relações entre estados devem ser coordenadas e reguladas através de instituições e leis próprias. Os mais fortes não devem fazer bullying aos mais fracos”, disse Xi. Mundo a arder Além das referências às relações entre países, Xi Jinping não esqueceu os desafios ambientais com que o mundo se depara. Assim sendo, reafirmou o ambicioso compromisso ambiental de Pequim no corte de emissões de carbono em 65 por cento até 2030 e atingir a neutralidade de emissões de carbono até 2060. Ambas as metas têm repercussões globais, uma vez que a China emite um quarto dos gases com efeito estufa em termos globais. Ainda no capítulo das questões ambientais, a mensagem da jovem activista Greta Thunberg tirou a tónica diplomática dos discursos, muito ao seu estilo. “O meu nome é Greta Thunberg. Não estou aqui para negociar. Reparem, não represento nenhum interesse financeiro ou partido político. Portanto, não posso negociar ou chegar a acordos. Só estou aqui, para mais uma vez, vos recordar da emergência em que nos encontramos. A crise que vocês e os vossos antecessores criaram e nos impuseram. A crise que vocês continuam a ignorar.” A jovem acusou os líderes mundiais de ignorarem também os protestos de jovens que acorreram a Davos para pedir uma mudança política que renuncie aos combustíveis fósseis, mais especificamente ao seu uso, exploração, investimento e subsídios que promovam a indústria. “Enquanto a ciência for ignorada, factos não forem tidos em conta e a situação não for tratada como crise, o mundo e os líderes dos negócios vão continuar a ignorar a situação”. Citada pelo The Guardian, a activista ambiental alemã Luisa Neubauer, de 23 anos, anunciou ter participado numa reunião em Davos com o CEO da Siemens, Joe Kaeser, a quem apelou para abandonar o contrato de construção de um caminho-de-ferro num complexo mineiro na Austrália. O projecto é um dos maiores no sector da mineração de carvão. Um grupo de jovens activistas estão em Davos a tentar parar alguns contratos que, alegam, colocar em perigo os objectivos estabelecidos no Acordo de Paris. Resposta verde O secretário-geral da ONU António Guterres argumentou no seu discurso que os desafios que o mundo enfrenta podem conter as suas próprias soluções e que a crise económica gerada pela paralisia a que a covid-19 votou a economia global deverá ser respondida seguindo um modelo de “recuperação sustentável”. O ex-primeiro ministro português declarou a urgência de “acabar com a guerra contra a natureza, inverter a catástrofe climática e a restaurar o planeta” e acrescentou que o “objectivo para 2021 é construir uma coligação global para atingir um saldo zero na emissão de dióxido de carbono”. Além da agenda verde, Guterres apontou a direcção dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, a agenda da ONU que tem 17 metas, como a erradicação da pobreza e da fome, redução de desigualdades, equidade nos direitos civis, entre outros ambiciosos objectivos até ao ano 2030. “A recuperação inclusiva e sustentável em todo o mundo vai depender da disponibilidade e eficácia das vacinas para todos, do apoio fiscal e monetário imediato em países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento e de medidas de estímulo a longo prazo”, declarou António Guterres. O responsável português frisou também que apesar de as vacinas estarem a ser distribuídas a um ritmo rápido nos países mais ricos, que o oposto se verifica nos países mais pobres do mundo, desigualdade que importa corrigir. Adeus Trump A presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen felicitou os Estados Unidos da América pela nova liderança na Casa Branca e acrescentou estar “satisfeitíssima por terem voltado ao Acordo de Paris”. A dirigente europeia afirmou ainda na sua intervenção no fórum que as redes sociais estão a devorar a sociedade e apelou ao estreitar da regulação das maiores empresas tecnológicas do mundo. Outro dos destaques do discurso de Ursula von der Leyen foi o argumento de que existem provas científicas que ligam a perda de biodiversidade à pandemia. Muitos destes apelos são entendidos pelos activistas ambientais como palavras ocas, vazias de acção. O Fórum Económico Mundial, de Davos, prossegue hoje com a intervenção por vídeo do Presidente russo, Vladimir Putin, de quem se espera uma mensagem crítica em relação à possibilidade de imposição de sanções contra a Rússia devido ao tratamento dado pelo Kremlin ao activista da oposição Alexei Navalny. Covid-19 | Presidente da AstraZeneca lamenta falta de colaboração O presidente da farmacêutica britânica AstraZeneca lamentou a falta de colaboração dos governos no combate à pandemia de covid-19, criticando o comportamento egoísta de alguns países. “Poderia ter sido um momento do género do 4 de Julho, ou dia da independência (dos Estados Unidos), mas infelizmente não foi o caso, porque houve uma ligeira postura de ‘eu primeiro’”, disse o francês Pascal Soriot no Fórum Económico Mundial, em Davos. As declarações de Soriot foram feitas numa altura em que o seu grupo é questionado na Europa sobre a falta de transparência relativamente aos atrasos nas entregas da sua vacina contra a covid-19. Soriot não deu exemplos específicos de países, embora a pandemia tenha dado origem a uma corrida mundial para obter acesso o mais rapidamente possível primeiro a equipamentos de protecção e depois a vacinas. “É justo dizer que poderíamos e deveríamos estar globalmente mais bem preparados para esta pandemia”, acrescentou. “O que não funcionou, a meu ver, foi a colaboração do mundo”, mesmo que evoque “bons exemplos” de ajudas entre os sectores privado e o público, como o caso da vacina de AstraZeneca, desenvolvido com a Universidade de Oxford. “Mas posso ver que as coisas estão a mudar e que uma colaboração internacional está a surgir”, disse, apelando a que sejam feitos investimentos “em prevenção, detecção e tratamento precoce” para que o sistema de saúde esteja pronto para o futuro. A AstraZeneca admitiu, no final da semana passada, que as entregas seriam menos numerosas do que o previsto, devido a uma “queda do rendimento” de uma fábrica. A declaração causou preocupação na Europa, que está a correr contra o tempo devido ao aparecimento de novas e mais perigosas variantes do coronavírus que provoca a covid-19.
João Luz PolíticaZhuhai | Nove processos para sancionar burlas na compra de casa “De Janeiro de 2020 até 18 de Janeiro deste ano, a Direcção dos Serviços de Economia abriu 119 processos de inspecção à publicidade de edifícios. De entre estes processos, foram acompanhados 37 casos suspeitos de irregularidades (36 dos quais envolveram edifícios no Interior da China) e foram instaurados processos sancionatórios contra 9 casos (edifícios no Interior da China)”, lê-se num comunicado da Direcção dos Serviços de Economia e Conselho de Consumidores divulgado ontem. Esta foi alguma da informação que saiu da reunião entre o vice-secretário do Partido Comunista do Governo Municipal de Zhuhai, Liu Jiawen, o secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, e dirigentes da DSE e do Conselho de Consumidores sobre os casos de burlas na compra de casa em Zhuhai. Os Governos das duas cidades estão a tentar dar respostas às muitas queixas de residentes da RAEM relativas a burlas na aquisição de imóveis em Zhuhai. Uma das medidas é a verificação das “cinco licenças” de imóveis, que os consumidores podem consultar para aferir a veracidade dos anúncios. As “cinco licenças” são: “Autorização de planeamento de terrenos para construção”, “Autorização de planeamento de obras de construção”, “Autorização para execução de obras de construção”, “Licença de uso de terrenos do Estado/Título da propriedade de imóvel” e “Licença de pré-venda de habitações comercializáveis”.
João Luz Manchete PolíticaConcertação Social | Coutinho e Cloee Chao queixam-se de falta de representatividade O texto de consulta relativo à Lei Sindical está a ser analisado pelo Comité Permanente da Concertação Social desde Novembro. Pereira Coutinho alerta para o monopólio dos Operários e da Associação Comercial no organismo, enquanto Cloee Chao teme demasiadas concessões do sector laboral. Leong Sun Iok aponta o dedo ao Executivo na demora em legislar Nunca na história moderna de Macau o território precisou tanto de uma lei sindical. Esta é a opinião de Pereira Coutinho. O deputado, em declarações ao HM, enumera algumas dificuldades que a crise provocada pela pandemia trouxe à vida de quem trabalha em Macau. “As concessionárias de jogo, inclusive os hotéis de 5 estrelas, obrigam trabalhadores a continuar em licenças sem vencimento. O que faz com que as famílias tenham dificuldades financeiras para suportar despesas fixas, nomeadamente pagamentos das amortizações bancárias”, aponta o deputado. Neste aspecto, Coutinho considera que as instituições bancárias do território não estão a cumprir com a responsabilidade social, numa altura de aperto, nem que o Governo se esforçou para exigir que o façam. Porém, a questão laboral mantém-se, assim como o impasse legislativo para avançar com a lei sindical, uma promessa de campanha de Ho Iat Seng. Cloee Chao, presidente da Associação Novo Macau para os Direitos dos Trabalhadores do Jogo é uma das representantes laborais fora da discussão, assim como Pereira Coutinho, que preside à Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau. Ambos apontam o dedo ao órgão que está a analisar o texto de trabalho da proposta de lei sindical, desde Novembro: o Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS). Em declarações ao All About Macau, Cloee Chao destaca o domínio da Federação das Associações dos Operários de Macau, em termos de representação na Concertação Social, e a preocupação com a possibilidade de cedências da parte laboral na discussão da lei que vai regular a actividade sindical. “Estamos preocupados com o conteúdo, por isso espero que o Governo divulgue publicamente o texto de consulta”, comentou, citada pelo All About Macau. Pereira Coutinho destaca a bipolaridade do CPCS, em termos de representação dos vários sectores laborais e empresariais. Por exemplo, o deputado acha inaceitável que muitas associações representativas das pequenas e médias empresas não estejam representadas no organismo. “O monopólio da Associação Geral dos Operários de Macau e da Associação Comercial de Macau perdura há mais de 20 anos”, destaca o legislador e dirigente associativo. Aumentar a mesa Em prol da transparência no funcionamento da Concertação Social, Pereira Coutinho entende que “deve ser alargado o seu leque de representatividade”, algo que teima em não acontecer “porque não querem ouvir opiniões diferentes”. Na óptica de Cloee Chao, o entusiasmo da população arrefeceu no que toca à representação sindical. “Sentimos que não querem ouvir as opiniões de todos, portanto, só podemos esperar passivamente e reagir depois de publicarem uma proposta de diploma”, afirmou, acrescentando que, mesmo enquanto representante de uma associação laboral, está afastada da discussão. A dirigente, que já foi croupier, receia que a lei não contribua para fortalecer a posição do trabalhador na relação laboral. Chao afirma que para se formar um sindicato pode ser necessário a adesão de um número mínimo de trabalhadores, algo que a entidade patronal pode contornar ao filiar um recém-contratado numa associação que domine. “Estamos preocupados com a possibilidade de os patrões forçarem os empregados a aderirem a um sindicato maior, não lhes dando escolha”. Lei fundamental O deputado Leong Sun Iok, da bancada da associação que domina o lado laboral da CPCS, destacou em declarações ao HM que a própria participação no dirigismo sindical deve ser protegida. “Muitas vezes, os líderes de associações de trabalhadores acabam por ser destacados para posições com más condições de trabalho”, comentou. Outra preocupação do legislador dos Operários é o sistema de lista negra, com prevalência nas concessionárias de jogo, que ameaça a empregabilidade do trabalhador no sector. Quanto à elaboração da lei sindical, Leong Sun Iok lamenta que o Executivo demore os trabalhos legislativos. Pereira Coutinho confessa ter recebido muitas queixas de trabalhadores que são forçados a demitirem-se para evitar que a entidade patronal pague as devidas compensações, nos termos legais, “ameaçando, caso não se demitam de livre iniciativa, colocá-los numa lista negra deixando de poderem trabalhar em qualquer outra concessionária de jogo”. O deputado acha que o “Governo não se interessa em resolver esta situação”. Quanto à possibilidade de os direitos à greve, manifestação e contratação colectiva de trabalho serem salvaguardados na lei, Coutinho aponta para a lei fundamental da RAEM como Estrela Polar. “A Lei Básica e o princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ são para ser cumpridos. Se na Lei Básica existem esses mecanismos de protecção dos trabalhadores, não estou a ver porque é que não se cumprem rigorosamente. Portanto, estou esperançado que o Governo se limite a cumprir aquilo que está na Lei Básica.
João Luz EventosExposição | Artesanato de miniaturas no 10 Fantasia a partir sábado A partir de sábado, o espaço 10 Fantasia, ao lado do Albergue SCM, dá a mostrar “Miniature Art Work by Betty Ng”, uma exposição de artesanato de miniaturas organizada pela Ark-Association of Macau Art, que reduz objectos e conceitos quotidianos para as mais pequenas formas de expressão artística. A mostra estará patente até 19 de Março O tamanho é importante, principalmente para o conceito artístico que Betty Ng vai apresentar a partir do próximo sábado no espaço 10 Fantasia, ao lado do Albergue SCM. “Miniature Art Work by Betty Ng” é uma colecção de artesanato de miniaturas, apresentada pela Ark-Association of Macau Art (AAMA), que faz parte do ciclo “Art Power Jamming”, que organiza um ciclo de exposições na Calçada de São Lázaro desde Agosto do ano passado, uma iniciativa que promete animar o bairro até Julho de 2021. Com a escala reduzida, a lembrar as evocações de “As Viagens de Gulliver”, as miniaturas de Betty Ng representam objectos e realidades do quotidiano, como carros de comida de rua, vasos e arranjos florais, bancas de mercado com fruta, taças de noodles, dim sum, prendas de casamento e muitas outras miniaturas de situações típicas da região. A exposição vai estar patente ao público até 19 de Março. “Sempre fui fascinada por objectos microscópicos. Ficava com os olhos colados a miniaturas, a pensar como seria possível atingir tão impressionante realismo, a estudar a beleza e a estrutura dos objectos. Então, comecei a trabalhar com barro nos tempos livres, a usar tinta e utensílios para esculpir pequenos e realísticos miniaturas de comida e flores”, conta Betty Ng, citada em comunicado da AAMA. Do início, como hobby, até ao estudo online da expressão artística através de miniaturas, Betty Ng começou a visitar exposições do género em Hong Kong e Taiwan e a coleccionar livros sobre o tema. Tudo é matéria Tampas de embalagens de pasta de dentes, papel de embrulho, palhinhas e utensílios de espuma de esferovite fazem parte do universo da matéria-prima para as criações de Betty Ng. “A ideia de transformar lixo em expressão artística é algo bastante atraente para mim. A maioria dos meus trabalhos são feitos a partir de material descartado”, confessa. A artista gosta do mistério de tornar irreconhecível objectos como tampas de embalagens de creme para as mãos, frascos de perfume, ou contas de fios ou pulseiras aleatórias. Desde cedo apaixonada por artesanato, Betty Ng lançou em 2013 a marca “B Handmade” e participou em feiras de arte, exposições e organizou workshops. A “Miniature Art Work by Betty Ng” é um de sete exposições, no âmbito do “Capítulo da Amizade”, financiada pela Fundação Macau, com o apoio da incubadora da Associação Promotora para as Indústrias Criativas na Freguesia de São Lázaro. Este ciclo de exposições foi pensado para fornecer uma plataforma de troca e criação entre artistas que exploram diversos meios criativos. Sete mostras, de seis artistas, todos membros da AAMA. Demonstrar a vitalidade e criatividade dos artistas locais é outra das metas do ciclo de exposições.
João Luz PolíticaGrande Baía | Governo quer encontrar mais estágios para jovens O Governo promete proporcionar “mais oportunidades de estágio em Macau e no Interior da China para os jovens de Macau”, de acordo com uma resposta da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) a uma interpelação escrita de Leong Sun Iok. O deputado ligado aos Federação das Associações dos Operários de Macau pediu ao Executivo soluções para os problemas de emprego dos jovens, especialmente agudizadas pela crise provocada pela pandemia. Além das políticas de trabalho, que incluem cursos de formação subsidiada, feiras de emprego, prioridade de residentes no acesso ao trabalho em detrimento de trabalhadores não residentes, a DSAL aponta ainda a conjuntura regional entre o leque de oportunidades. Assim sendo, importa “aproveitar ao máximo a rica cadeia industrial da Grande Baía Guangdong-Macau e impulsionar o desenvolvimento diversificado dos estudantes locais”, refere a entidade liderada por Wong Chi Hong. A DSAL refere ainda que, “entre Janeiro e Outubro de 2020, o número de jovens encaminhados pela DSAL e que compareceram a entrevistas de emprego totalizou 2.724, dos quais 849 foram contratados com sucesso”. Quanto aos sectores onde foi absorvida a mão-de-obra, o Governo elenca a construção, restauração, comércio a retalho, serviços comerciais e hotelaria. Quanto ao programa de estágios para recém-graduados criado pela DSAL em Junho do ano passado, teve a participação de 568 estagiários, “tendo as empresas se comprometido a contratar mais de 67 por cento” desses jovens, ou seja, 381 recém-formados.
João Luz SociedadeCarnaval do Consumo | Transacções na península ultrapassam 740 milhões A iniciativa “Carnaval de Consumo na Zona Centro e Sul e na Zona Norte 2020”, que terminou ontem, gerou até 10 de Janeiro transacções num montante que ultrapassou 740 milhões de patacas, o dobro do registado em 2019. A medida, promovida pela Direcção dos Serviços de Economia (DSE), em parceria com a Federação da Indústria e Comércio de Macau Centro e Sul Distritos e a Associação Industrial e Comercial da Zona Norte, teve como objectivo impulsionar o consumo comunitário e apoiar as pequenas e médias empresas (PME). Nesta área do território participaram 15 mil lojas, o dobro dos estabelecimentos aderentes em 2019. Os residentes que fizeram compras superiores a 68 patacas, usando plataformas de pagamento electrónico em lojas designadas, não incluindo hotéis, casinos e centros comerciais de grande dimensão, habilitaram-se à oferta de “cupões de consumo electrónico para consumo nas PME”, num valor total superior a 8 milhões de patacas. O montante foi deduzido automaticamente após o pagamento do próximo consumo. Esta segunda compra fez circular 140 milhões de patacas em lojas da península de Macau. O Carnaval do Consumo das Ilhas terminou no fim de Outubro do ano passado, contou com a participação de 16 mil lojas e gerou transacções num valor superior a 860 milhões de patacas. A DSE relembra que decorre até 28 de Fevereiro de 2021 o prazo de utilização dos cupões de consumo electrónicos das PME.
João Luz Manchete PolíticaRelatório | Governo diz que Washington falha na sua própria governação O Executivo de Ho Iat Seng reagiu ao relatório anual do Congresso norte-americano sobre a China, que incide sobre Macau, argumentando que o documento ignora factos e que Washington “falha na sua própria governação”. O relatório enumera casos como a proibição da exposição fotográfica em memória do Massacre de Tiananmen e a falta de progresso democrático “Falha na sua própria governação, mas critica os assuntos internos de Macau. Esta prática de jogar com dois pesos e duas medidas é ridícula e impopular.” Foi assim que o Gabinete de Comunicação Social respondeu ao relatório anual de 2020 da Comissão Executiva do Congresso dos Estados Unidos da América para a China, que, como é hábito, dedica alguma atenção a Macau. O Executivo alega que o relatório do Congresso norte-americano “ignora os factos” e merece firme oposição. Além disso, o Governo refere a obtenção de “grandes êxitos”, “reconhecidos mundialmente”, com destaque no ano passado para a resposta à pandemia. O órgão legislativo norte-americano também repete no relatório relativo a 2020 algumas críticas feitas no ano anterior, nomeadamente a falta de progresso no caminho para o sufrágio universal para eleger o Chefe do Executivo e a forma como Ho Iat Seng foi eleito. Os membros do Congresso citam a Lei Básica da RAEM quanto à “garantia do alto grau de autonomia” e “à protecção de direitos e liberdades reconhecidos internacionalmente, incluindo o direito a votar e ser eleito em eleições genuínas e periódicas, através de sufrágio universal e equitativo”. O documento destaca também o encontro entre Ho Iat Seng, duas semanas antes de ser eleito para o mais alto cargo político do território, e a Associação Novo Macau, em que o governante não afastou a hipótese da implementação do sufrágio universal durante o seu mandato, mas que talvez fosse preferível “a reforma política ser proposta ou iniciada pela geração mais nova”. É referido ainda que a reunião ocorreu pouco depois do lançamento de uma sondagem informal, levada a cabo pela associação, cujo resultado relevou que entre 5.698 residentes inquiridos 94 por cento era favorável à eleição do Chefe do Executivo por sufrágio universal. O documento refere que a sondagem foi abruptamente cancelada e que membros da associação foram alvo de insultos, ataques físicos e ameaças. Hong Kong ali ao lado O ano passado foi ainda regionalmente marcado pela turbulência política e social vivida em Hong Kong. Nesse capítulo, os congressistas recordam o cancelamento de uma manifestação contra a violência policial no território vizinho, que chegou a ser anunciada nas redes sociais. Outro episódio mencionado, foi a revogação da autorização, pelo Instituto para os Assuntos Municipais em Maio do ano passado, da mostra fotográfica em memória do Massacre de Tiananmen, cortando com uma tradição de cerca de três décadas. O relatório menciona ainda vários episódios de restrições à liberdade de imprensa e recusa de entrada em Macau ocorridos aquando da visita do Presidente Xi Jinping ao território para a celebração dos 20 anos da RAEM, e o apelo da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau para que o Governo respeite a liberdade de imprensa. Também é referido um artigo publicado no South China Morning Post sobre prostituição em Macau, sustentando preocupações sobre tráfico humano. No plano tecnológico, o relatório do congresso menciona a retirada do emoji da bandeira de Taiwan dos serviços da Apple para usurários de Macau.
João Luz EventosExposição | Ilustração e perfumaria recontam lenda da Caixa de Pandora E se uma imagem tivesse cheiro? Esta foi a base do conceito para “MY.THOLOGY – Pandora’s Box”, um par de ilustrações de Annie Long Jor que inspiraram a criação dos perfumes “Curse” e “Hope”, da autoria de Suki Man. A exposição pode ser visitada no Pace Coffe, na Rua dos Ervanários, até 7 de Fevereiro Quem percorrer a Rua dos Ervanários, nos dias que correm, tem uma pequena feira de rua com banquinhas para passear os olhos e tentar o paladar. Um dos tesouros escondidos, entre cafés, lojas antiguidades e tendas de mahjong é uma banca ao lado do Pace Coffee onde está patente “MY.THOLOGY – Pandora’s Box”, uma experiência sensorial que junta a ilustração e perfumaria num conceito único. A partir do tema recorrente da pandemia, presente na vida de todos, a ilustradora Annie Long Jor decidiu juntar a imagem à perfumaria, com a ajuda de Suki Man. Apesar de Macau se manter como um porto de abrigo, sem casos positivos de covid-19, as famílias separadas e a “impossibilidade de viajar e sair para ver exposições” obrigaram à clausura o que acabou por inspirar a criação artística. “O tema desta exposição é baseado numa história que todos conhecemos, a lenda da Caixa de Pandora. Na mitologia, quando Pandora abre a caixa liberta todas as maldições e assustada, fecha-a de imediato, deixando lá dentro a esperança”, conta ao HM Annie Long Jor. A ilustradora viu na lenda um reflexo de tudo o que se passou. “Na sequência do que a pandemia nos obriga a passar, com todo o mal e separação de famílias, parece que as pragas e maldições saíram da caixa.” Porém, na versão de Annie Long Jor, a ilustração conta outra história, com a caixa a permanecer aberta e a esperança libertada. “Acho que é uma história boa para começar 2021, é o que precisamos para o nosso futuro e para lidar com este ano”, vaticina a artista. Este foi o mote para os dois desenhos, que representam “Curse” (maldição) e “Hope” (esperança), aos quais correspondem dois perfumes da autoria de Suki Man. “Como sou muito fascinada por esta história e por mitologia, pensei numa forma de a melhorar, com toda a energia positiva que conseguir colocar no projecto”, conta a ilustradora. Próximos capítulos O plano original da dupla de criadoras era servir esta mostra como um aperitivo para algo mais alargado. Nesse sentido, Annie Long Jor revela-se esperançada de que ainda durante este ano possa mostrar a Macau o segundo capítulo de mitos ilustrados e perfumados. Quanto às narrativas, a ilustradora levanta a ponta do véu e adianta que está a “pensar em histórias e personagens, como Cupido, e outras figuras mitológicas”. A exposição pode ser vista até 7 de Fevereiro, de segunda-feira a domingo, na Rua dos Ervanários entre as 12h e as 19h. “Esperamos que as pessoas apreciem em simultâneo as ilustrações e os perfumes. Essa é a parte que achamos mais interessante. Cada um tem as suas próprias memórias e personalidade. Gostaríamos que o público misturasse o que vê ao que cheira e que, a partir daí, construísse um novo espaço no seu imaginário”, aponta a ilustradora.
João Luz EventosFestival Fringe | Criatividade inunda a cidade entre 20 e 31 de Janeiro A 20.ª edição do Festival Fringe foi ontem apresentada, ocupando o calendário artístico de Macau entre os dias 20 e 31 de Janeiro. Com um cartaz composto pela “prata da casa”, o evento volta a desafiar as barreiras criadas pelos conceitos de palco, artista e público, com espectáculos espalhados por toda a cidade “Em 1999, uma ‘criança travessa’ do teatro nasceu em Macau”. Foi assim que Mok Ian Ian, presidente do Instituto Cultural, começou por apresentar a 20.º edição do Festival Fringe. A celebração da arte contemporânea que decorre entre 20 e 31 de Janeiro, tem um cartaz composto por 18 programas extraordinários e 17 actividades de extensão, que se multiplicam em mais de 200 sessões. Quanto ao orçamento, a 20.º edição vai custar o mesmo que a anterior: 3,2 milhões de patacas. Depois de um ano marcado pela pandemia, o próprio Fringe reflecte de alguma forma as restrições a que todos são obrigados. Em primeiro lugar, em termos organizacionais, como Mok Ian Ian admitiu. “As dificuldades levaram a que colegas do Interior da China não pudessem vir a Macau, por não terem condições para chegar, mas contribuíram de outra forma. Além disso, a participação de artistas locais foi muito elevada”, explicou a presidente do IC. Este ano, o peso da “prata da casa” no cartaz é de 83 por cento. Não está previsto que nenhum artista convidado seja obrigado a fazer quarentena, sendo o caso mais flagrante o de um artista de Hong Kong. Como vive há muitos anos em Cantão, não terá de fazer quarentena para participar no Fringe. Crème de la Fringe Um dos vértices fundamentais do festival é a interacção entre público e performer. Seguindo a filosofia típica do evento, a arte vai sair à rua, em múltiplas instâncias. De regresso ao cartaz do Fringe, esta edição volta a oferecer, pela terceira vez, a série “On Site”, uma experiência que aspira a que “um dia seja tão fácil assistir a apresentações de dança contemporânea em Macau como assistir a um filme”, descreve Tracy Wong, a curadora do “On Site”. Saindo dos palcos de teatro e dos centros culturais para o contexto urbano, dançarinos de Macau e do Interior da China, vão juntar-se ao músico local Bruce Pun, para dar corpo ao som e improvisar danças que prometem surpreender o público. “Viajante do corpo” é mais uma performance que vai tomar as ruas, nos dias 22 e 23 de Janeiro, com interpretações de peças de dança executadas por Lin Ting-Syu, bailarino indicado para o Prémio Artístico Taishin, Yang Shih Hao, artista de roda acrobática, o Ghost Group, grupo de dança contemporânea, além de outros artistas. Artes com todos O Fringe tem uma secção inclusiva que traz ao palco pessoas portadoras de deficiência mental e física, e idosos. Com a curadoria de Jeny Mok, presidente da Associação de Arte e Cultura Comuna de Pedra, a secção nasceu de uma série de questões da artista e coreógrafa. “De quem são as rotinas de dança executadas pelos participantes? A dança deve ser executada por corpos bem constituídos por meio de um trabalho de pés preciso e composições envolventes? O que torna um desempenho emocionante e agradável? Por que será que algumas pessoas não são capazes de se expressar diante de um público?” As respostas para estas questões vão levar artistas ao espéctaculo “A Tarefa Interminável do Momento”, da responsabilidade da Comuna de Pedra e da Associação dos Familiares Encarregados dos Deficientes Mentais de Macau. Os intérpretes vão “partilhar as suas histórias de vida através da dança com os seus corpos, e serão executadas no seu próprio estilo de dança”, explica Jenny Mok. A actuação está marcada para o palco do Teatro Caixa Preta, no Edifício do Antigo Tribunal, às 20h dos dias 20 e 21 de Janeiro. Nos dias 23 e 24 de Janeiro, o Jardim Lou Lim Ieoc recebe a performance “Treetalk”, organizada pela Unlock Dancing Plaza e a Associação das Idosas de Fu Lun de Macau. A ideia é transportar para a dança a passagem do tempo, visível nos anéis das árvores, mas também no corpo humano. O espectáculo procura despertar a apreciação da beleza do corpo envelhecido e alterar estereótipos em relação aos idosos. Uma das mais originais propostas da 20.º edição do Fringe é o “F’art for U”, um nome inspirado numa aplicação para encomendar comida, sem qualquer outra influência gastrointestinal. A ideia assemelha-se à realidade de encomendar comida através de uma conhecida aplicação, algo que se tornou ainda mais popular em tempo de pandemia. A diferença está na comida, que é real, e entregue por um artista que actua na casa do cliente/espectador. O menu artístico oferece ópera chinesa, dança, teatro ao preço de 19 patacas, sem contar com a refeição. Com um cartaz diversificado e fortemente local, onde não vão faltar também workshops e palestras, Mok Ian Ian deixou ainda a ideia de dar continuidade aos eventos mais populares do cartaz desta edição do Fringe e levá-los até ao próximo Festival de Artes de Macau.
João Luz PolíticaViva Macau | Audição proposta por Coutinho e Sulu Sou vai ser votada em plenário A proposta de Pereira Coutinho e Sulu Sou para levar a plenário Edmund Ho, Francis Tam e Kevin Ho foi aprovada e vai ser votada. Os deputados querem que antigos dirigentes esclareçam questões que ficaram por responder na investigação do CCAC sobre os empréstimos à falida companhia aérea Viva Macau, que custaram 212 milhões de patacas ao erário público Os deputados Pereira Coutinho e Sulu Sou querem levar à Assembleia Legislativa o antigo Chefe do Executivo Edmund Ho, o seu secretário para a Economia e Finanças Francis Tam e o administrador da Viva Macau Kevin Ho, entre outros responsáveis, para esclarecer dúvidas sobre os sucessivos empréstimos de fundos públicos à falida companhia aérea Viva Macau. Foi também pedida a audição do presidente da antiga companhia, Ngan In Leng, e Siew Pek Tho, que pertencia à administração da empresa. Ontem, foi andado meio caminho, com a aprovação do pedido pelo presidente da Assembleia Legislativa, Ko Hoi In. Falta o passo mais difícil que é a aprovação da audição em plenário, algo que nunca aconteceu na história da RAEM. É também pedido que seja facultado aos legisladores a correspondência trocada entre Edmund Ho, Francis Tam, a Autoridade de Aviação Civil, a Direcção dos Serviços de Economia, a Viva Macau e outras entidades públicas, “sobre a negociação em torno da concessão dos empréstimos” à companhia low-cost. Os deputados entendem que a investigação feita pelo Comissariado contra a Corrupção (CCAC) pecou por não ouvir os principais responsáveis pelas decisões que levaram aos empréstimos avultados que resultaram na perda irreparável de mais de 200 milhões de patacas para o erário público. Além disso, referem que o CCAC apresentou “várias sugestões, tais como promover e aperfeiçoar o sistema de supervisão no âmbito da utilização de apoios do Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização (FDIC), por recurso a uma regulamentação própria por via legislativa”, recomendação que não foi seguida pelo órgão legislativo. Razão para isso A audição é descrita como “necessária e legítima”, tendo como ponto de partida uma petição entregue à AL pela Associação Novo Macau, no 12 de Outubro, menos de um mês depois da divulgação do relatório do CCAC sobre o caso. De forma a prevenir um novo caso e aprender com os “ensinamentos retirados do escândalo dos empréstimos avultados à Viva Macau”, Coutinho e Sulu Sou dizem ser essencial conhecer todo o processo de decisão “os dois decisores principais e máximos”, assim como os membros do conselho administrativo do FDIC. Além disso, o CCAC não ouviu durante a investigação os administradores da Viva Macau, uma lacuna que precisa ser colmatada. Na petição que deu origem à proposta de audição, foi levantada a suspeita de tráfico de interesses durante o processo de empréstimos e salientado que o Chefe do Executivo não declarou impedimento para decidir num processo que envolvia um familiar. Os peticionários sustentaram a tese na alegação de que Edmund Ho terá concedido directamente empréstimos “a uma empresa cujo órgão de administração fazia parte o seu familiar (sobrinho), Kevin Ho, o qual detinha também indirectamente acções da mesma, adoptando critérios de aprovação e condições de garantia pouco exigentes.” O duo de legisladores elenca o exercício do direito de petição e o direito de audição, estabelecido na Lei Básica, para pedir esclarecimentos sobre um caso em que o erário público ficou “a arder” em 212 milhões de patacas. É mesmo sugerido que “a falta de comparência injustificada, a recusa de depoimento” ou de fornecer documentos e informações “constituem crime de desobediência”.
João Luz SociedadeCovid-19 | Macau foi das economias asiáticas mais afectadas A Organização Internacional do Trabalho estima que Macau foi o território da região Ásia-Pacífico cuja economia foi mais afectada pela crise gerada pela pandemia. O relatório global da instituição pertencente às Nações Unidas traça um cenário de agravamento de assimetrias e discriminações laborais, sintoma socioeconómico da covid-19 Macau foi a região que mais sofreu economicamente com a crise gerada pela pandemia, de acordo com o mais recente relatório para a área Ásia-Pacífico da Organização Internacional do Trabalho (OIT), uma agência das Nações Unidas. O relatório, cujo título traduzido em português será algo como “Perspectiva social e de emprego na Ásia-Pacífico”, destaca a “característica impressionante” da crise da covid-19 por não ter poupado nenhum país ou região em termos económicos. A OIT confronta as perspectivas de crescimento económico do Fundo Monetário Internacional (FMI) para 2020 divulgadas em Outubro de 2019 e as estimativas mais recentes. A maior queda foi a registada por Macau, com a revisão apontar para uma contração de 52 por cento. As Maldivas ocupam o segundo lugar com um recuo de 19 por cento. Importa referir que em Outubro do ano passado, o FMI previa que a RAEM tivesse um dos melhores desempenhos económicos da região. O relatório coloca Macau no centro de uma tempestade económica perfeita, devido ao duplo impacto do colapso do turismo e das exportações de serviços de jogo. “Países mais vulneráveis ao declínio da procura externa” sofreram mais com a crise da covid-19. Nesse aspecto, a OIT aponta que também a procura interna se retraiu, “especialmente no segundo trimestre de 2020”. O resultado verificou-se na quebra de dois dígitos nas taxas de exportação durante os primeiros três trimestres do ano na Índia, Japão, Macau, Mongólia, Filipinas e Coreia do Sul. Os mesmos de sempre O documento da agência da ONU descreve ainda a forma como a crise gerada pela pandemia aprofundou desigualdades a nível mundial. Nos países mais desenvolvidos, a OIT apontou que trabalhadores migrantes auferiam até 42 por cento menos que os nacionais, e que com a covid-19 também aumentou o fosso entre salários ganhos por homens e mulheres. O director-geral da OIT, Guy Ryder, estimou que o mundo inteiro terá um longo e duro caminho pela frente, depois da pandemia que “desferiu um golpe extraordinário” quase de um dia para o outro. A especialista em salários da agência Rosalia Vasquez-Alvarez sublinhou que as mulheres têm maior probabilidade de trabalharem em sectores mais atingidos pela crise da covid-19, como comércio, indústria e saúde privada. A perita previu que as economias que oferecem rendimentos mais elevados vão sofrer grandes “depressões salariais” nos próximos meses. “Esperamos que a depressão dos salários tenha maior impacto entre trabalhadores migrantes”, referiu Rosalia Vasquez-Alvarez, citada no portal das Nações Unidas.
João Luz Manchete SociedadeUSJ | Tribunal dá como provado que Sautedé foi lesado por despedimento O Tribunal Judicial de Base anunciou ontem o que considerou provado, antes da decisão do processo que opõe Éric Sautedé à Universidade de São José. O juiz deu como provado que o académico depois de ser despedido não conseguiu encontrar outro emprego na mesma área em Macau e que sofreu psicologicamente com a situação [dropcap]O[/dropcap] caso que coloca em confronto, no Tribunal Judicial de Base (TJB), o académico Éric Sautedé e a Universidade de São José (USJ) está perto do fim, depois de ontem terem sido lidas as decisões do juiz sobre o que considerou estar provado nos factos alegados pelas partes. Entre os pontos que podem justificar a decisão do tribunal, é de realçar a confirmação que depois de o contrato de Sautedé ter cessado o académico não conseguiu encontrar outro trabalho na mesma área em Macau. Recorde-se que a área de ensino a que se dedicava era a Ciência Política. O juiz chegou mesmo a referir que Peter Stilwell, à altura reitor da universidade, confessou num artigo publicado no jornal Ponto Final que o motivo para o despedimento de Sautedé foi político. O tribunal não atendeu à alegação de que o académico teria passado a ser rotulado, depois do despedimento, como activista político, ou causador de problemas, e que essas teriam sido razões para não conseguir emprego noutras instituições de ensino superior de Macau. Porém, foi dado como provado que em resultado do fim de contrato com a USJ, Éric Sautedé sofreu um grande desgosto, sentiu insegurança e angústia e que na sequência de depressão e instabilidade psicológica teve necessidade de se isolar e deixar de conviver. Hoje em dia, o académico trabalha em Hong Kong. Artigos de opinião Um dos quesitos, argumentos apresentados pelas partes, que não foi dado como provado está relacionado com a ligação entre o académico e o Jornal Macau Daily Times, onde foi colaborador. A USJ argumentou que a ligação à comunicação social terá sido usada por Sautedé para reforçar a sua posição na opinião pública. O juiz não considerou o facto provado. No cômputo geral, a maioria das alegações apresentadas pelo académico foram dadas como provadas, algo que a defesa da USJ considera não trazer nada de novo ao caso, tendo em conta, principalmente, que não foram postas em causa as palavras de Peter Stilwell, antigo reitor da USJ, quanto às circunstâncias do despedimento. Éric Sautedé pede mais de 1,3 milhões de patacas de indemnização para compensar danos patrimoniais e morais. Tendo em conta que se aproximam as férias judiciais, é possível que a decisão final do juiz apenas seja conhecida pelas partes já em 2021.