Lares | Novo Macau relata casos de funcionários que dormem no chão

Gonçalo Lobo Pinheiro
Sulu Sou revela uma faceta do sistema de gestão em circuito fechado em lares de idosos, onde funcionários impedidos de voltar a casa dormem em tapetes de ioga, pedaços de cartão, sem almofadas, mantas ou remuneração pelas horas extra. O ex-deputado enviou cartas aos directores da DSAL e SSM a pedir soluções

 

O ex-deputado Sulu Sou enviou cartas aos responsáveis máximos da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) e dos Serviços de Saúde (SSM) a pedir soluções para a situação precária vivida pelos funcionários dos lares de idosos que estão em circuito fechado, ou seja, que estão obrigados a permanecer desde sábado nos locais de trabalho.

Até ontem, estavam sob gestão em circuito fechado 24 lares de idosos, 11 centro de apoio a pessoas portadoras de deficiência e 1 centro de reabilitação para tratamento de toxicodependentes.

O ex-deputado e vice-presidente da Associação Novo Macau diz compreender que as autoridades não querem novos surtos em instalações, como o verificado no Complexo de Serviços de Apoio ao Cidadão Sénior da Obra das Mães, na Praia do Manduco. Porém, revela que não existem quartos ou camas disponíveis para as largas dezenas de funcionários obrigados a pernoitar em alguns dos 36 centros a operar em circuito fechado. “É impossível encontrar quartos e camas suficientes para os funcionários, que são obrigados a ficar nas áreas comuns dos locais, como em salas de actividades e gabinetes. Há vários dias que dormem no chão em colchões muito finos, tapetes de ioga e mesmo em cima de cartão. Alguns nem têm almofada ou roupa de cama.”

Servir o público

Sulu Sou não esqueceu o pessoal dos Serviços de Saúde que ao abrigo do plano de resposta de emergência para a situação epidémica da covid-19 em grande escala trabalha por períodos de 14 dias sem pode ir a casa, com testes frequentes e períodos de auto-gestão. “Não há fim à vista para quem trabalha nestas condições, em particular os profissionais que têm a seu cargo crianças pequenas ou idosos e que enfrentam situações de grande ansiedade”, conta o antigo deputado.

Outra questão levantada por Sulu Sou, e que suscitou o envio da missiva ao director da DSAL, prende-se com os direitos laborais dos trabalhadores dos lares, nomeadamente no que se refere às leis que estabelecem o horário de trabalho, a distinção entre turnos, dias de descanso semanais e direito a feriados. Neste domínio, Sulu Sou indica que vários empregadores de lares de idosos avisaram os trabalhadores de que não haveria lugar a compensações extra.

Local de excepção

O Centro Reabilitação de Tratamento de Ká-Ho, gerido pela Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau (ARTM), é uma das instalações que está a funcionar em “circuito fechado”. Augusto Nogueira, presidente da ARTM, testemunha o reverso da medalha e dá conta de uma “excelente e atempada colaboração com o Instituto de Acção Social” que permitiu preparar as instalações do centro e criar as melhores condições possíveis a funcionários e utentes. “Sabíamos que mais tarde ou mais cedo poderia surgir um surto, por isso preparámos tudo antecipadamente. Tivemos tempo para comprar camas, lençóis, instalar wi-fi e criar as condições para quem fica em circuito-fechado”, revelou ao HM. Actualmente, estão no centro de reabilitação em Ká-Ho 30 utentes e 7 funcionários.

Subscrever
Notifique-me de
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários