Imperador Akihito expressa “profundos remorsos” pela II Guerra Mundial

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] imperador do Japão, Akihito, disse sábado sentir “profundos remorsos” pela II Guerra Mundial – um conflito que Tóquio lutou em nome do seu pai, Hirohito, há 70 anos. “Recordando o passado com profundo remorso sobre a guerra passada e esperando sinceramente que a tragédia da guerra não se repita, eu, em conjunto com o povo em toda a nação, expresso a minha tristeza sincera em relação àqueles que caíram na batalha, e rezo pelo desenvolvimento do nosso país e paz mundial”, disse, num discurso em Tóquio, no dia em que se assinalou o 70.º aniversário do fim do conflito. Segundo vários ‘media’ japoneses, incluindo a agência noticiosa Jiji e o diário Mainichi, o imperador, de 81 anos, usou essas palavras pela primeira vez numa cerimónia alusiva à rendição do país, a 15 de Agosto de 1945.

17 Ago 2015

Novos Aterros | População preocupada com alturas

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) avançou na passada sexta-feira os dados de dois meses de consulta pública sobre os novos aterros, sendo que os resultados mostram que as atenções estão sobretudo viradas para a zona B. Segundo a Rádio Macau, das 218 opiniões recebidas, 117 dizem respeito a esta zona, sendo que 60 comentários dizem respeito ao receio sobre a construção de edifícios altos, que possam pôr em causa a paisagem da colina da Penha. A altura dos edifícios é, assim, uma preocupação central da população, uma vez que 57 opiniões pedem uma “solução equilibrada” na zona B, com prédios que “não podem ser demasiado baixos”.
Em relação à zona A, “a maioria” dos participantes do processo de consulta pede mais equipamentos de apoio social. O Governo prometeu aí construir dois lares para idosos e dois centros de saúde. Segundo a Rádio Macau, a população teme também uma maior pressão sobre o trânsito na zona A, por estar perto da ilha artificial que vai acolher a nova ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. Segundo um comunicado, a população pediu ainda um “reforço dos recursos destinados à habitação pública, no sentido de responder às necessidades sociais e da população em geral em termos de habitação”.
Em relação à quarta travessia entre Macau e a Taipa, o mesmo comunicado aponta que os cidadãos pedem “a construção do túnel submarino, na esperança de que possa concretizar o empreendimento com a maior brevidade possível”. Contudo, “algumas opiniões manifestaram que se deve ter em conta o prazo de construção, os custos de manutenção e as restrições dos locais”. A terceira fase de consulta pública sobre o futuro Plano Director dos Novos Aterros dura até ao próximo dia 28 de Agosto.

17 Ago 2015

Coutinho quer ser candidato à Assembleia da República

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] conselheiro das comunidades portuguesas e deputado à Assembleia Legislativa de Macau, José Pereira Coutinho, disse ontem à agência Lusa que “apresentará uma candidatura” à Assembleia da República Portuguesa, mas recusa revelar o partido por onde concorre.
“A vontade não nos falta de poder trabalhar mais e da mesma forma como temos trabalhado em Macau, mas desta para todas as comunidades do resto do mundo porque, de facto, o que concluímos é que nos últimos 10 anos praticamente não foi visível do representante na Assembleia da República em nome das comunidades do resto do mundo e é isto que nos faz mover para que haja de facto mais felicidade, mais qualidade de vida para as comunidades portuguesas espalhadas pelo resto do mundo”, disse.Pereira Coutinhp
Apesar de ser conselheiro das comunidades, de já ter apresentado uma recandidatura e de ser deputado à Assembleia Legislativa de Macau, o órgão parlamentar da Região Administrativa Especial da China, Pereira Coutinho não vê dificuldades em conciliar os dois assentos parlamentares.
“Como sabe, o deputado à Assembleia da República não necessita de, fisicamente, estar presente em Lisboa, portanto há que percorrer as comunidades do resto do mundo para se inteirar dos pormenores, dos problemas, das ansiedades, das necessidades específicas de cada uma das comunidades espalhadas pelo resto do mundo e é isso que vamos fazer para que de facto estejamos bem representados na Assembleia da República”, garantiu.

Encontros na agenda

Pereira Coutinho, que chega esta semana a Lisboa tem previstos encontros com vários partidos e entidades governamentais, disse que o seu pensamento “é independente”, admitindo que “se tem dado bem” com os diversos governos e pode hoje “dialogar” com qualquer partido.
Ser deputado do território chinês e de Portugal pode, no entanto, levantar questões jurídicas em Portugal. De acordo com o estatuto dos deputados à Assembleia da República, apenas funcionários de Estados estrangeiros ou um deputado que em regime de acumulação patrocine um Estado estrangeiro está impedido de exercer o lugar.

17 Ago 2015

Desvalorização do Yuan | China agita mercados e traz prenúncio de grandes mudanças

A desvalorização do Yuan está a ter profundas repercussões globais. Há quem diga que nada ficará como dantes e que a situação prova a importância fulcral na China na economia mundial

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Banco Central da China abalou os mercados na noite de segunda-feira passada ao anunciar a desvalorização da sua moeda em relação ao dólar em quase 1,86%, o que causou muita apreensão nos mercados internacionais. No dia seguinte, uma nova desvalorização, desta feita de 1,62%. Ontem, o Banco Central da China estabeleceu a “taxa de referência” diária do yuan em 6.3306 para 1 dólar, comparando com o valor de 6.2298 na terça-feira.
Com estas medidas, o yuan fechou com a maior perda desde 1994. Este movimento faz parte de uma mudança da política cambial do país, redefinindo o mecanismo de fixação da taxa de referência diária. De facto, o comunicado do banco central revela a intenção de alinhar as taxas cambiais nos mercados offshore e onshore, medida que ocorrerá apenas uma vez, segundo avaliam os especialistas. Ao mesmo tempo, a autoridade monetária esclareceu que a taxa de referência será baseada no fecho da cotação do yuan do dia anterior, com maior influência do mercado e não apenas pela taxa determinada pela autoridade monetária.
A desvalorização da moeda fez com que os investidores temessem que a decisão tenha sido tomada pelas autoridades chinesas para fazer frente a uma maior desaceleração económica. Na semana passada, o Citigroup indicou que a China tinha inflacionado os seus números e que o gigante asiático crescera “apenas” 5% no primeiro semestre, e não os 7% dos dados oficiais.
Entre incertezas, os mercados de todo mundo operam com uma forte aversão ao risco. Os metais, as moedas de países exportadores de commodities, o juro dos títulos do Tesouro, as acções americanas e europeias recuam.
As motivações são várias para este movimento chinês, tendo como foco quatro perspectivas principais:
(i) o aumento da competitividade da moeda para impulsionar as exportações;
(ii) o ajuste da taxa de câmbio real, que acabou por ficar valorizada;
(iii) possível resposta ao relatório do FMI sobre o SDR (special drawing rights, activo de reserva internacional emitido pelo FMI), que criticava a diferença da cotação de mercado daquela fixada diariamente pelo banco central; e
(iv) um avanço na reforma cambial, permitindo maior volatilidade e alinhamento com uma cesta de moedas (e não apenas com o dólar), com a intenção de internacionalização do yuan.

Efeitos colaterais

Estas medidas devem gerar “efeitos colaterais”, principalmente de política monetária, pelo mundo inteiro. A desvalorização da moeda deve aprofundar uma ronda global de desvalorizações competitivas, especialmente entre os seus parceiros comerciais na Ásia, com os países à procura de alguma vantagem sobre os vizinhos num mundo de crescimento mais baixo.
Além disso, a medida das autoridades chinesas aumenta as especulações de que a Reserva Federal pode atrasar a subida dos juros, que antes era prevista para Setembro.
Até agora, a decisão de Pequim de manter a moeda estável ante o dólar estava em contraste com o quadro na Europa, Brasil, Japão, Turquia, África do Sul e outras nações emergentes, que usaram em geral uma combinação de medidas extraordinárias de estímulo e cortes nos juros para enfraquecer as suas moedas.
As expectativas de que os Estados Unidos irão em breve subir os seus juros fazem subir a pressão sobre uma série de moedas, enquanto o dólar se valoriza. O Banco Central da China, que controla fortemente a moeda, decidiu não seguir o seu modelo recente, em parte porque tenta promover o yuan como uma moeda internacional estável e porque teme que a instabilidade interrompa os investimentos.
A medida deve fazer aumentar a pressão sobre muitos países através de cortes nas suas taxas de juros e desvalorizações cambiais. Os EUA, que já consideram o yuan abaixo de seu valor de mercado correcto, devem subir o tom das suas críticas à política cambial chinesa, que muitos no Congresso norte-americano acusam de prejudicar os exportadores dos EUA.
O resultado também pode ser um desconforto maior sobre o impacto de um dólar mais forte para as indústrias dos EUA (e adiar a decisão do Fed de subir os juros).
A desvalorização também prejudica países que exportam grandes quantidades de commodities e produtos manufacturados para a China. Grandes exportadores de soja, carvão, níquel e minério de ferro, como Brasil, Austrália e Indonésia, já sofrem com os preços nos mínimos das commodities em vários anos e agora podem ser afecxtados pelo yuan mais fraco, já que isso reduz a procura chinesa.

Redução do apetite por commodities

Além disso, o apetite da China por commodities deve diminuir no curto prazo, após a decisão do país de desvalorizar a sua moeda, ainda que um yuan mais fraco possa impulsionar as exportações de aço. Como um dos maiores compradores globais de commodities, a decisão da China de desvalorizar o yuan – na prática reduzindo o valor das exportações e elevando o custo das importações para o mercado doméstico – deve aprofundar as quedas nos preços do cobre, do alumínio e de outros metais.
A China consome quase a metade da produção anual de metais do mundo. Commodities que já estão nos mínimos há vários anos devido aos temores sobre a desaceleração económica chinesa e o fortalecimento do dólar – a moeda em que a maioria delas é estabelecida -, sofreram imediatamente com a acção do Banco Central da China.
A medida também afectou as moedas de países dependentes de commodities, como Austrália, Brasil e Nova Zelândia. “No curto prazo, isso é mais uma má notícia para os preços das commodities. Uma moeda chinesa mais fraca deve significar uma procura mais fraca para as commodities produzidas internacionalmente”, disse Paul Bloxham, economista-chefe para Austrália e Nova Zelândia do HSBC.
“Quando o petróleo se torna mais caro, isso deve prejudicar a procura da China”, afirmou Daniel Ang, analista de investimentos da Phillip Futures. Segundo ele, os preços do petróleo podem cair mais. Economista do OCBC Bank em Singapura, Barnabas Gan disse que a desvalorização pode prejudicar a procura por ouro.
Moeda desvalorizada ajuda exportadores, mas não soluciona conforme destacam análises: a decisão chinesa trará benefícios moderados para o combalido setor manufatureiro do país.
Porém, donos de fábricas dizem que a medida pouco afectará desafios maiores, como a procura global anémica e alta dos custos da mão de obra. A mudança cambial implementada por Pequim torna os produtos de exportadores chineses mais baratos em outros mercados. “O corte (no valor do yuan) definitivamente ajuda as exportações”, comentou Yu Mingliang, director de desenvolvimento de negócios da Zhejiang Lianda Forging & Press Co., um fabricante privado de peças mecânicas da cidade de Wenzhou. “Damos boas-vindas a qualquer corte, não importa o tamanho.”
Porém, a moeda é só uma das questões para os exportadores chineses. Alguns dizem enfrentar desafios maiores do que a taxa de câmbio, como a fraca procura global e o aumento dos custos dos trabalhadores.

O câmbio e os bancos centrais

O comportamento da China também mostrou uma tendência dos políticos, já notada na Europa e outras regiões: a importância do câmbio como meio de impulsionar o crescimento económico e impedir que a inflação desacelere demais.
A acção chinesa também mostra o quão delicadas para os dirigentes de bancos centrais são as decisões de política monetária de outros bancos centrais. No caso da China, a expectativa de uma contracção na política monetária do Federal Reserve, o banco central norte-americano, levou à valorização do dólar. Como a moeda chinesa está vinculada ao valor do dólar, isso elevou também o yuan face ao euro e várias moedas de países emergentes, pesando sobre as exportações chinesas.
“A desvalorização chinesa deve agravar guerra cambial entre países”, diz Stephen Roach, da Yale University. Outros destacam a indicação de que as taxas cambiais continuam a ter um papel central nos esforços dos dirigentes para proteger economias frágeis.
A taxa de câmbio é uma questão com a qual as autoridades europeias se debatem há anos. Diante de uma taxa de câmbio teimosamente alta do euro em 2014, dirigentes do Banco Central Europeu (BCE) começaram a advertir para o facto de que a força da moeda poderia enfraquecer a inflação, o que em geral leva a políticas de afrouxamento monetário.

Irritações?

Conforme destaca uma reportagem da CNBC, a medida tomada pela China mostrou que é possível irritar a Ásia e o Fed com “apenas um tiro”, o que reforça a ideia de uma guerra cambial asiática e um adiamento da alta dos juros pelo Fed. E muitas questões ficam no ar a partir de agora, como avalia o Financial Times.
A questão-chave é se Pequim realmente vai permitir que a moeda local tenha um câmbio flutuante. O ano passado, o BC já actuou quando a moeda estava constantemente se apreciando. Caso os investidores coloquem a moeda chinesa para cima, Pequim pode actuar novamente. Se não, quem pode reclamar são os países que competem nas exportações. Enquanto isso, avalia o jornal, os EUA estariam em uma posição difícil: pediram a reforma do mercado há anos, mas se a China permite a correcção diária a ser determinada pelas forças do mercado e a moeda se desvaloriza, prejudicando fabricantes americanos, não é óbvio como Washington poderá responder.

Bolsas e moedas asiáticas em queda

A desvalorização do yuan afectou os mercados asiáticos pelo segundo dia consecutivo nesta quarta-feira, com as bolsas a fechar em forte baixa e moedas da região, como o ringgit malaio e o peso filipino, atingindo novos mínimos em vários anos.
O Xangai Composto, principal índice chinês, recuou 1,1%, a 3.886,32 pontos, enquanto o Shenzhen Composto, de menor abrangência, caiu 1,5%, a 2.249,18 pontos, e o ChiNext, composto por empresas de pequeno valor de mercado, teve perda mais expressiva, de 2,8%, a 2.622,19 pontos.
Na Ásia, as moedas locais voltaram a ter fortes perdas nesta quarta. A rupia indonésia e o ringgit da Malásia caíram 1,4% e 0,8% frente ao dólar, respectivamente, atingindo novas mínimas desde a crise financeira asiática do fim da década de 1990. O peso filipino, por sua vez, recuou 0,3%, tocando o menor patamar em cinco anos. Já o won sul-coreano enfraqueceu 1%, a 1.189 wons por dólar, menor valor desde 2012. Moedas da Oceania, como os dólares australiano e neozelandês, também foram apanhadas no turbilhão do yuan, se desvalorizando 0,5%, cada, frente ao dólar.
“A magnitude da queda do yuan ontem e hoje é enorme para a China e significativa” no contexto da história do mercado de câmbio da Ásia, comentou Jason Leinwand, diretor-gerente da Riverside Risk Advisors em Nova York. “A desvalorização (do yuan) é realmente conduzida pelo temor (do PBoC) de que o crescimento na China está muito fraco.”
Noutros mercados da Ásia, o índice Hang Seng, de Hong Kong, encerrou o dia com queda de 2,38%, a 23.916,02 pontos, enquanto o Taiex, da Bolsa de Taiwan, caiu 1,3%, a 8.283,38 pontos, o menor patamar em 18 meses, e o sul-coreano Kospi, de Seul, recuou 0,56%, a 1.975,47 pontos.
A bolsa australiana seguiu a trajetória das asiáticas. O índice S&P/ASX 200, das acções mais negociadas em Sydney, teve uma perda de 1,7%, a 5.382,10 pontos. O S&P/ASX 200 acumula agora perdas de 0,5% no ano e está 10% abaixo do pico registado no final de Abril.

União Europeia

“Um acontecimento positivo”
A Comissão Europeia considerou ontem “positivo” que o Banco Central da China tenha decidido desvalorizar o yuan em relação ao dólar, o que permitirá adaptar melhor a taxa de câmbio à procura e oferta no mercado. “Como princípio, a Comissão crê que o valor de qualquer moeda deve ser determinado por fundamentos económicos”, indicou em conferência de imprensa a porta-voz da Comissão Annika Breidthardt.
Para a porta-voz, a decisão “permite que a taxa diária possa reflectir melhor o equilíbrio entre oferta e procura no mercado de divisas”. “Consideramos que é um acontecimento positivo”, disse Breidthardt.

“Meter a moeda na cesta”

Para o especialista em economia chinesa Nicholas Lardy, do Peterson Institute for International Economics, em Washington, a desvalorização da moeda promovida pelo governo chinês tem ambições globais. Segundo Lardy, ex-professor de Finanças da Universidade de Yale, o objectivo é fazer com que a moeda siga uma cotação de mercado e que, assim, consiga fazer parte da cestas de divisas internacionais do FMI. Nicholas-Lardy_1-443x300

Por que razão foi desvalorizado o yuan?
O motivo está ligado à ambição chinesa de fazer com que sua moeda seja incluída na cesta do Fundo Monetário Internacional (FMI), chamada de Direitos Especiais de Saque, formada pelo dólar, euro, libra esterlina e yen. O FMI tomará uma decisão sobre isso em Novembro. Na semana passada, o Fundo avaliou as adequações necessárias para incluir o yuan nessa cesta. Por isso, o Banco Central da China deu esse passo, de rever o processo para estabelecer sua taxa de câmbio, em direcção a uma taxa mais determinada pelo mercado. Essa é a preocupação do Fundo, que também destacou a diferença entre a taxa negociada dentro da China e a negociada em Hong Kong.

Acredita que essa desvalorização visa a aumentar as exportações?
É improvável que esse movimento represente mais uma manipulação monetária para permitir mais exportações e, assim, aumentar o crescimento económico. Se a China quisesse elevar as exportações depreciando sua moeda, já o teria feito há alguns meses. A mudança ocorre há apenas uma semana do relatório do FMI.

FMI diz: “Um bom passo para abertura”

O Fundo Monetário Internacional (FMI) saudou ontem a decisão da China de reformar o seu sistema cambial como “um bom passo” para a abertura e flexibilização do mercado de divisas da segunda economia mundial.
Em comunicado enviado à agência Efe, o FMI afirma que o novo mecanismo para determinar a paridade do yuan anunciado pelo Banco Central da China “parece um bom passo”, já que “deve permitir que as forças do mercado desempenhem um papel mais importante para determinar a taxa de câmbio”.
A instituição financeira dirigida por Christine Lagarde adverte, contudo, que o “exacto impacto” vai depender da forma como será aplicado o novo mecanismo. O FMI assinalou também que uma maior flexibilidade no câmbio é importante para uma China que “se esforça para dar às forças do mercado um papel decisivo na economia e se está a integrar rapidamente nos mercados financeiros globais”.
“Acreditamos que a China pode — e deve — tratar de conseguir um sistema de câmbio que flutue de forma eficaz entre dois e três anos”, indicou o organismo.
Quanto à eventual inclusão do yuan no cabaz de divisas que compõem a SDR [direitos de saque especiais, na sigla em inglês, ou seja, a bolsa de moedas que o Fundo utiliza internamente], a instituição indicou que as medidas anunciadas por Pequim “não têm implicações directas” nos critérios que usa para esse efeito.
No entanto, acrescentou que uma taxa de câmbio mais determinado pelo mercado “facilitaria” as operações da SDR no caso do yuan ser incluído nesse cabaz.

13 Ago 2015

Mais de 200 casos de burlas telefónicas

A Polícia Judiciária recebeu 214 denúncias de burla telefónica no primeiro semestre, das quais cerca de 30% acabaram por se materializar, lesando as vítimas no equivalente a quase um milhão de euros.
De acordo com dados facultados pela PJ à agência Lusa, houve 63 casos de burla telefónica em que os ofendidos sofreram prejuízos no valor total de 8,53 milhões de patacas. Após investigação conjunta, foram detidos, em Maio, dois residentes de Taiwan – um no interior da China e outro na ilha Formosa –, pelas respectivas polícias, indicou a PJ de Macau.
Os casos recebidos pela PJ dizem respeito sobretudo a cinco tipos de burla, incluindo o famoso esquema “Adivinha quem sou eu”, em que um desconhecido se faz passar por um familiar ou amigo da vítima para obter dinheiro, ou “Ganhou um sorteio”.
Outro prende-se com um esquema de alegada fraude em que potenciais burlões se apresentam como funcionários de órgãos do Estado chinês, caso para o qual a PJ tinha emitido, em Maio, um alerta à população, depois do registo de mais de uma centena de denúncias, incluindo 20 com prejuízos patrimoniais.
Em Hong Kong, ocorreram, entre Janeiro e Junho, 200 casos deste esquema em particular, um número 50 vezes maior do que o registado no cômputo do ano passado, que foi de quatro, segundo dados publicados no mês passado pelo South China Morning Post.
Segundo o jornal da antiga colónia britânica, as vítimas foram lesadas em cerca de 26,79 milhões de dólares de Hong Kong.

13 Ago 2015

Deputados analisam falta de ocupação de casas de Seac Pai Van

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]urante a reunião da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos da Administração Pública, que aconteceu na manhã de ontem, os deputados debateram a problemática das casas públicas desocupadas.
Os deputados da Comissão chegaram à conclusão que a falta de instalações complementares na habitação pública de Seac Pai Van é um dos principais motivos para a desocupação de muitas das casas atribuídas.
“A elevada taxa de não ocupação das habitações económicas de Seac Pai Van deve-se a motivos de natureza histórica e a factores objectivos, que compreendem a insuficiência de instalações complementares, que acaba por afectar a ocupação”, refere o relatório de balanço dos trabalhos da Comissão.
Outra das razões prende-se com “a não aplicação dos limites de rendimentos e património dos antigos candidatos, que resultou no surgimento de adquirentes sem necessidade urgente de ocupar as referidas habitações”. Por essas razões, a Comissão “não chegou a um consenso quanto ao recurso à revisão da lei para o agravamento das sanções”. obras
Contudo, “o Governo já prometeu que vai resolver o problema das casas desocupadas e fornecer, o mais rapidamente possível, as informações sobre a solução a adoptar”, cita a rádio Macau.
Os deputados da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos da Administração Pública pediram ao Governo para aumentar as sanções a aplicar no caso dos atrasos das obras nas vias públicas. A Comissão entendeu, por unanimidade, que o actual regime sancionatório é brando e que as multas são leves, a que acresce ainda a ausência de fiscalização por parte dos departamentos do Governo e a falta significativa de fiscais, levando ao aparecimento de desrespeito do prazo fixado para certas obras viárias.
Como resposta, o Governo afirmou que ia estudar o agravamento das multas, elevando os efeitos dissuasores, no sentido de garantir que “as obras sejam concluídas dentro do prazo”, pode ler-se no relatório de balanço dos trabalhos da Comissão.
Além disso, “o Governo admitiu que existem graves atrasos na maioria das obras de Macau, o que acontece em 50% a 100% das obras, incluindo escavações, uma situação preocupante. O Governo afirmou que um dos motivos é a vigência da Lei de Prevenção e Controlo do Ruído.”

12 Ago 2015

GT300 | André Couto mais líder no Japão

André Couto, aos comandos de um Nissan da equipa Gainer Tanax, reforçou a liderança do campeonato japonês de GT300, ao ser sexto na prova de Fuji, após sair da 11.ª posição da grelha

[dropcap style=’circle’]”[/dropcap]Foi uma corrida muito boa e agora já só pensamos na próxima jornada, no final de agosto na que será a corrida mais difícil da ano, porque ao contrário das corridas normais do campeonato, com 300 quilómetros, esta terá mil quilómetros”, disse André Couto à agência Lusa, salientando também que o carro estará ainda um pouco mais pesado.
Mas, acrescentou, depois da corrida deste domingo, em que alinhou com o seu companheiro Katsumasa Chiyo, “com seis pontos de vantagem, há que lutar para conquistar mais pontos e tentar sempre que possível reforçar a liderança”.
Sobre a corrida de Fuji, André Couto largou na 11.ª posição da grelha, mas rapidamente chegou ao sexto lugar, que só não segurou depois de um toque na traseira de um adversário, que o fez cair para o 12.º posto.
“Depois, ainda consegui recuperar até ao sétimo lugar e entreguei o carro ao meu companheiro, que conseguiu subir mais uma posição”, explicou.
Para André Couto, “tudo correu bem e a equipa esteve muito certa na estratégia dos pneus e na hora de trocar de piloto”.
O campeonato de GT300 tem oito provas e termina a 15 de Novembro em Motegi.

10 Ago 2015

Hotel Estoril | IC, acusado de consultas públicas falsas, critica “injustiça”

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]lexis Tam já garantiu que não há ainda qualquer decisão sobre o que fazer ao Hotel Estoril, mas o Instituto Cultural continua a ser acusado de estar a levar a cabo consultas públicas falsas. Residentes que estiveram presentes em mais uma sessão de auscultação do novo projecto reclamam que o Governo já sabe bem o que quer fazer ao espaço, ainda que o IC garante que essas acusações são injustas.
“Onde está o espaço para o nosso debate? Se o Governo quer as opiniões de pessoas sobre este projecto por que é que consideram demolir o edifício inteiro logo à partida?”, começou por apontar uma residente, citada pelo canal português da TDM.
Membros do Conselho para as Indústrias Culturais e do Conselho de Curadores do Fundo das Indústrias Culturais defenderam também a preservação da fachada do antigo hotel e do mural, “em nome da memória de Macau”, numa altura em que se acredita que o espaço vai ser totalmente demolido. Isto porque, apesar do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura ter assegurado que não há decisão, o facto de ser Álvaro Siza Vieira o mentor do projecto para o hotel leva a população a acreditar que o Estoril vem mesmo todo abaixo, como já foi defendido pelo profissional português. Algo que não agrada.
“Não me interessa se o arquitecto português diz que o Hotel Estoril não tem interesse cultural, ele é português e não faz ideia do que é importante para as pessoas de Macau. A decisão deve ser feita pelo povo de Macau”, atirou na sessão de sexta-feira outro residente.
Citado pelo canal português da televisão, o ainda presidente da Associação Novo Macau, Sou Ka Hou, criticou o Governo por ter destruído “o pavilhão polidesportivo do Tap Seac no passado, de modo a construir um ponto de interesse em Macau, como fez na zona de São Paulo e São Lázaro”. O activista diz que “no entanto, o resultado é que a zona do Tap Seac continua na mesma.”
Face às acusações de que estaria a fazer uma consulta pública de fachada, o IC respondeu, criticando as declarações. “Fizemos tantas consultas públicas, que isso significa que queremos mesmo discutir este projecto com a comunidade e claro que temos em conta a opinião dos cidadãos. Acho injusto que as pessoas digam que estamos a fazer consultas públicas falsas, isso é muito injusto para com toda a equipa e trabalhadores e não é verdade”, frisou Chan Peng Fai, vice-presidente do IC.
Na sessão, os membros do Conselho para as Indústrias Culturais e do Conselho de Curadores do Fundo das Indústrias Culturais apoiaram o projecto do Governo para o antigo Hotel Estoril, mas nem todos estão de acordo com a ideia de deitar a fachada abaixo.
Segundo a Rádio Macau, Angela Leong, um dos membros, considera “uma pena se todo o edifício for demolido”. A também deputada considera que “pode ser injusto quer para as gerações anteriores, quer para as gerações futuras”. Também James Chu defende que a fachada seja mantida em nome da memória histórica de Macau. O artista entende que, “em termos de estilo arquitectónico não é muito especial, mas tem um estilo próprio e constituí uma memória da população de Macau”.
Lok Hei saiu em defesa do mural do antigo edifício, da autoria do arquitecto italiano Oseo Acconci. “Em termos artísticos, acho que não podemos negligenciar. No futuro complexo vamos formar e desenvolver jovens. Considero que o Governo pode tolerar as coisas antigas para fazer coisas novas”, argumentou, citado pela rádio.

10 Ago 2015

Tuna de Medicina do Porto actua nas Casas-Museu

A Tuna de Medicina do Porto actua em Macau a 15 de Agosto em mais um Concerto ao Anoitecer no “palco” das Casas Museu da Ilha da Taipa. Organizado pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais e pelo Instituto Cultural, o concerto tem a coordenação da Casa de Portugal e terá lugar entre as 17h30 e as 19h00 de sábado no anfiteatro junto às Casas Museu da Taipa. As Casas Museu, entretanto recuperadas e que servem também como local de eventos como a Festa da Lusofonia são residências de traço colonial construídas junto a uma baía, em 1921, para servirem de casa dos funcionários superiores das ilhas, à época ainda sem acesso por terra à península de Macau. A organização destaca que a Tuna de Medicina do Porto é composta por homens que interpretam temas tradicionais dos anos 1920 aos anos 1940 e também música moderna. Os Concertos ao Anoitecer decorrem habitualmente nas Casas Museu da Taipa e envolvem sempre o apoio de coordenação de várias associações locais, sendo a entrada gratuita. Apesar do concerto não estar integrado em qualquer programa comemorativo, as cidades de Macau e do Porto são geminadas desde 1997.

10 Ago 2015

Cabo Verde | Activistas contra casino-resort de David Chow

Cerca de 40 activistas estão a ocupar o espaço onde será erguido o novo empreendimento do empresário de Macau David Chow e asseguram que este é apenas o primeiro passo contra a construção. O presidente da Câmara da Praia já pediu ajuda às autoridades

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]presidente da câmara da Praia, Ulisses Correia e Silva, apelou ontem às autoridades para que desocupem o ilhéu de Santa Maria, onde cerca de 40 activistas estão acampados para impedir a construção do empreendimento turístico de David Chow.
“Era o que faltava as pessoas agora decidirem fazer a ocupação dos espaços públicos, espaços que pertencem ao património de toda a comunidade e do país”, disse Ulisses Correia e Silva, apelando para a intervenção das autoridades para desocupar o ilhéu de Santa Maria.
Cerca de 40 elementos do movimento “Korrenti di Ativista” estão, desde o início desta semana, acampados no ilhéu de Santa Maria, defronte à Cidade da Praia, em protesto contra a construção do empreendimento.
Os activistas, que se dizem dispostos a permanecer na ilha o tempo que for necessário para impedir o início das obras, defendem que o empreendimento irá servir sobretudo para trazer para Cabo Verde “lavagem de capitais, prostituição e turismo sexual”.
“Não está demonstrado, nem é intenção criar ali nenhum fenómeno de turismo sexual ou de turismo de droga ou de jogos que possam levar a situações de crime para o país”, sustentou Ulisses Correia e Silva, citado pela Rádio de Cabo Verde.
O presidente da câmara da Praia e líder do maior partido da oposição, o Movimento para a Democracia (MpD), defendeu as vantagens do empreendimento, alertando para o risco de, com estas acções, se “afugentarem investidores”.
“Não devemos criar quadros no nosso país que afugentem investidores, que conotem negativamente investidores, que criem estigmas”, disse Correia e Silva. “Posicionámo-nos favoravelmente a investimentos que possam trazer para a cidade da Praia e para Cabo Verde criação de riqueza, crescimento económico, emprego e rendimento, que é o que o país precisa”, sublinhou.
O empreendimento, cujo projecto foi recentemente apresentado na Praia e representa um investimento de 250 milhões de euros, ocupará uma área de 152.700 metros quadrados, que inclui o ilhéu de Santa Maria e parte da praia da Gamboa.
O complexo, que inaugurará a indústria de Jogo em Cabo Verde, prevê a construção de um hotel-casino a instalar no ilhéu de Santa Maria, uma marina, uma zona pedonal com comércio e restaurantes, um centro de congressos, infra-estruturas hoteleiras e residenciais na zona da Praia da Gamboa e uma zona de estacionamento.
Segundo o contrato assinado entre o Governo e a Legend Development Company, de David Chow, a concessão será de 75 anos prorrogáveis por mais 30 e prevê ainda a construção de um hotel na Ilha do Maio. Chow terá ainda o monopólio do Jogo.

Sem desistir

O empresário chinês David Chow, que é também cônsul honorário de Cabo Verde em Macau, diz que o projecto está pronto a arrancar e deverá estar concluído dentro de três anos. Estima-se que venha a criar mil postos de trabalho.
Apesar de não haver ainda data prevista para o arranque das obras, o movimento “Korrenti di Ativista” adianta que é preciso começar a mobilizar as pessoas contra o que consideram “um investimento para ricos”
O movimento “Korrenti di Ativista” é uma organização não- governamental cabo-verdiana que junta associações que intervêm junto das crianças e jovens dos bairros mais desfavorecidos da Cidade da Praia.
Os activistas estão acampados no ilhéu de Santa Maria.
“Estamos a ocupar a ilha. A ilha está abandonada e o Governo quer vendê-la e não podemos aceitar que um pedaço de terra de Cabo Verde seja vendido”, disse à agência Lusa João Monteiro, mais conhecido por UV, da Associação Pilorinhu, uma das que apoia crianças e jovens em risco.
“Nós, os pobres não temos nada a ganhar com isso”, sublinhou João Monteiro, que considera as perspectivas de emprego que o novo empreendimento pode gerar “muito fracas em relação às consequências sociais gravíssimas que daí advêm”.
João Monteiro alertou ainda para as consequências ambientais que a construção do complexo turístico terá em algumas espécies existentes na zona, que, acredita, irão desaparecer.
Os activistas adiantam que a ocupação da ilha é a primeira fase da estratégia de luta contra a construção do complexo turístico e apelam para a mobilização e o apoio da população para esta causa.
O HM tentou obter um comentário junto da Macau Legend de David Chow, mas não foi possível até ao fecho desta edição.

6 Ago 2015

Fundação Macau | Universidade Cidade de Macau com metade de apoios

A universidade ligada ao deputado Chan Meng Kam recebeu quase metade dos apoios fornecidos no segundo trimestre pela Fundação Macau, com mais de 200 milhões a servirem para despesas de ensino e outros 90 para obras de renovação do campus

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Universidade Cidade de Macau, instituição ligada ao deputado Chan Meng Kam, recebeu 46,2% dos quase 272 milhões de patacas distribuídos pela Fundação Macau em apoios no segundo trimestre do ano, foi ontem anunciado.
De acordo com a lista de apoios da Fundação Macau publicada no Boletim Oficial, a Fundação da Universidade Cidade de Macau recebeu dois apoios financeiros. Um primeiro de seis milhões de patacas para “despesas com o apoio ao ensino e aprendizagem, actividades académicas, estudos e investigação científica, subsídios de propinas e bolsas de estudo aos alunos” e, depois, 89,68 milhões de patacas para “obras de renovação do novo campus e a aquisição dos equipamentos pedagógicos”.
Apesar das obras no novo campus, a Universidade Cidade de Macau recebeu este ano, recorde-se, parte das instalações antigas da Universidade de Macau. Esta foi a única instituição privada a conseguir um espaço no local e ficou com uma parte considerável, com mais de 37.600 metros quadrados – o edifício administrativo e outros sete blocos, entre eles o centro cultural.  
Tudo somado, os apoios concedidos à Fundação perfazem 125,68 milhões de patacas, 46,2% dos quase 272 milhões de patacas distribuídos pela Fundação Macau entre Abril e Junho do corrente ano.

Outros premiados

Além da Universidade Cidade de Macau, dezenas de outras instituições foram contempladas com apoios financeiros, entre as quais a Universidade de Ciência e Tecnologia, que recebeu 50 milhões de patacas para actividades do seu plano anual, incluindo o “hospital Universitário, da Escola Internacional de Macau, e o Centro de Formação Médica para o Desenvolvimento Profissional, da Faculdade das Ciências de Saúde da Universidade”.
A Associação dos Conterrâneos de Chon Kong de Macau recebeu 5,4 milhões de patacas para organizar o grande encontro mundial dos conterrâneos de Chon Kong e as actividades das comemorações dos 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. Estes mais de cinco milhões são apenas a primeira prestação, indica ainda a rádio.
Entre as entidades beneficiadas estão também a Associação de Jovens Macaenses, a Santa Casa da Misericórdia de Macau, Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas ou a Associação dos Trabalhadores da Função Pública.

6 Ago 2015

Conteúdo de um livro. O sossego a que todo o movimento conduz

* por Rui Cascais Parada

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]e regresso à cidade de Ulisses, Lorde Gin viajou só com um punhado de livros: traduções inglesas de Georges Bataille, a Obra Poética de Pessoa, Opus Posthumous de Stevens, um diário de Tanizaki, escritos de Hal Foster, uma novela de Lagerkvist e uma colecção de poemas de A.R. Ammons intitulada Glare. Em Bangkok ficaram duas toneladas de livros. Dois mil quilos de papel e tinta que hipoteticamente terão um dia qualquer de flutuar pelo Oceano Índico, subir o Mar Vermelho, esgueirar-se pelo Suez, velejar pelo Mediterrâneo, passar Gibraltar e saborear uma breve espuma atlântica antes de se juntarem a seu amo.
O exemplar de Glare, publicado pela Norton em 1997, foi oferecido a Lorde Gin em 2009. Encontrou-o uma musa que visitava Nova Iorque e vasculhava as prateleiras inchadas e colossais da Strand Bookstore, ali à esquina da 12th Street & Broadway, perto da sempre garrida Union Square. Trata-se, claro, de um exemplar em segunda mão. Nas páginas 3 e 5, alguns versos sublinhados a fina caneta vermelha, respectivamente: “our deepest concerns\such as death or love or child-pain\ arousing a belly laugh or a witty dismissal” e “the stillness all the motions add up to”. As linhas vermelhas são trémulas, denunciando que o (ou a) sublinhante as desenhou sentado num qualquer meio de transporte em movimento. Ou então tremiam-lhe as mãos devido a uma possível aflição do corpo ou do espírito, enquanto buscava com que preencher, justificar, explicar a existência. Para isso servirão os sublinhados de poemas, pois acredita-se ainda, e de um modo algo piedoso, que neles se poderão descobrir destilações úteis, conclusões lapidares. Porém, as restantes páginas, quase trezentas, não apresentam mais nenhuma mutilação, o que talvez indique enfado com o material poético, ou uma infecção neurótica de impaciência e desinteresse.
O exemplar encontra-se em muito boas condições, confirmando o pouco uso que lhe foi dado. Prosseguindo a autópsia, Lorde Gin deparou-se com os seguintes detritos que para lá foi lançando:

1) A páginas 77, um cartão do Warung Pasir Putih, uma cabana de praia no sul do Bali onde se podia ingerir uma beberagem de cogumelos psicotrópicos e observar os diversos anzóis azuis do mar. Lá se lê: “how wonderful to be able to write:\it’s something you can’t do, like\ playing the piano, without thinking”.
2) A páginas 127, dois bilhetes de entrada no Botanic Garden de Ubud, onde Lorde avistou, numa tarde chuvosa e deserta, uma curta serpente brilhante que se balançava de um talo vegetal apenas segura pela cauda, esticada como uma pequena lança verde. E, aqui, o poema número 45 diz: “will I will the will to go on – what? –\from here where does going go, except\ to gone?”
3) A páginas 181, um marcador de livros do “Reading Room” do antigo hotel Oriental (hoje desgovernado pela cadeia Mandarin), na margem nascente do rio Chao Praya, mostra, impressa a prata, uma citação banal do magistral Graham Greene: “The world is not black and white. More like black and grey”. E, aí, o poema número 66 de Archibald R. Ammons retorque: “well, it’s true, clarity is in the extremes,\ whereas truth muddles in the middle”.
4) Por fim, a páginas 231, num anónimo pedaço de papel cor-de-rosa rasgado sem compunção, um dos sobrinhos de Gin gatafunhou uma primeira observação de infância ao sol de um estio espanhol ultravioleta: “O hotel de Conil. A piscina era muito garde [leia-se, “grande”]”. E, a isto, o poema 87, intitulado “Old Age”, rasga uma dentadura podre e sábia: “Whatever is wrong\won’t be wrong long”.

5 Ago 2015

Caso colectivo de gastroenterite devido a sandes

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Saúde (SS) detectaram esta segunda-feira um caso colectivo de gastroenterite, com residentes de Macau a sentirem os sintomas após terem consumido sanduíches oriundas de Taiwan, da marca “Horng Ryen Jen”. Segundo o comunicado, “foram adquiridas duas caixas, cada uma possuindo oito sandes. As caixas foram adquiridas por amigos dos doentes directamente de Taiwan e levados para Hong Kong”, sendo que uma das caixas foi trazida para Macau.
“Duas famílias com cinco pessoas consumiram separadamente as respectivas sandes durante a manhã dos dias 28 e 29 de Julho. Entre sete a vinte horas após o consumo, duas pessoas manifestaram indisposição sendo que um deles, no dia 31 de Julho, teve choque séptico, necessitando de ser submetido a um tratamento de monitorização, devido à sua situação caso grave, no Hospital Kiang Wu”. Actualmente, o homem está em estado considerado clinicamente estável mas ainda necessita de internamento. O outro doente encontra-se em estado normal, explicam os SS. Os três amigos que consumiram o produto em Hong Kong também mostraram sinais de gastroenterite, com “indisposição como febre, dores abdominais, vómitos e diarreia”, tendo recorrido a tratamento médico.
Os SS já analisaram o caso, com amostras laboratoriais, e confirmam que “existe uma enorme probabilidade de este incidente ser considerado uma infecção colectiva de gastroenterite” por salmonela. O Governo da RAEHK já baniu as sandes, depois de outras 46 pessoas terem também sido afectadas. Em Macau, segundo a Rádio não há destas sandes à venda.

5 Ago 2015

Saúde | Trabalhador de Macau recebe transplante inovador em HK

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Hospital Queen Mary de Hong Kong conseguiu fazer um transplante inovador a um homem que trabalha em Macau. O órgão é formado com partes fígado de duas filhas, um procedimento realizado de forma simultânea pela primeira vez em todo o mundo, informava ontem a imprensa da região vizinha.
Segundo o jornal South China Morning Post, o receptor foi Cheng Chi-ming, um residente de Hong Kong que trabalhava como segurança em Macau que sofria de Hepatite B, que se encontrava em coma e que, segundo os médicos, apenas podia sobreviver uma semana caso não recebesse um fígado saudável.
As três filhas de Cheng Chi-ming foram submetidas a exames para comprovar se podiam ser dadoras do pai, atestando-se depois que duas (Lam Lam, de 23 anos, e Kei Kei, de 22) cumpriam os requisitos.
Contudo, também se verificou que os seus órgãos eram demasiado pequenos, pelo que se decidiu usar dois terços do fígado de Kei Kei e um terço do de Lam Lam e, com os excertos, reconstruiu-se um novo órgão para transplantar no pai.
A operação de extracção das partes dos fígados, ligação entre ambos e o transplante demorou apenas 55 minutos, indicou Lo Chung-mau, um dos membros da equipa médica que conduziu a intervenção cirúrgica.
Noutros hospitais, este tipo de transplantes duplos tem vindo a ser realizado de forma não simultânea, isto é, em duas operações distintas, em que o receptor recebe o transplante de uma parte de cada vez. Contudo, no caso em particular, os médicos escolheram esta opção, atendendo à gravidade do paciente, que assim reduz para metade os riscos e o tempo de recuperação.
“O transplante duplo do fígado coloca questões éticas no mundo da medicina e não tomámos a decisão de ânimo leve, já que estava em causa a vida de três pessoas”, assegurou o mesmo médico, apontando que a prioridade passa sempre por utilizar o fígado de um único dador e, caso possível, que já tenha falecido.

4 Ago 2015

Trabalhadores da construção do Lisboa Palace apresentam queixa à DSAL

Ontem, um grupo de trabalhadores da construção do futuro projecto da Sociedade de Jogos de Macau no Cotai apresentou uma queixa à Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL). Em causa está uma ordem de despedimento “sem justa causa”, como adianta o canal chinês da Rádio Macau. De acordo com a TDM, 30 trabalhadores locais, contratados pela Companhia de Construção Civil Seng Long, receberam uma notificação de que não precisavam de voltar aos estaleiros. Os funcionários afirmam ainda que estão impedidos de entrar na obra. A Companhia de Construção Civil Seng Long garante que os contratos foram feitos por subempreiteiros e não pela empresa.

4 Ago 2015

Lusofonia | Centro de distribuição com mais de mil artigos

O portal do centro de distribuição de produtos de Países de Língua Portuguesa já fez com que mais de mil artigos pudessem ser comercializados entre mais de uma centena de compradores

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]portal do centro de distribuição de produtos de Países de Língua Portuguesa angariou em quatro meses cerca de mil artigos, segundo o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM).
“Temos 986 produtos de 172 fornecedores, a maioria de Portugal e do Brasil”, afirmou a administradora daquele instituto, Gloria Ung, à margem de uma apresentação sobre os três centros de Língua Portuguesa, acrescentando que 45% dos produtos são constituídos por doces e vinho.
Por mercadorias, o chocolate e doces compõem 23,43% da oferta disponibilizada pelo portal, logo seguidos dos vinhos (22,01%). Outros produtos com mais expressão na plataforma electrónica são o leite e derivados (8,72%), carne e marisco (7,81%) e café, chá e bebidas (7,40%).
O portal conta actualmente com 151 compradores inscritos e em quatro meses registou 18 mil visitas.
Na área de serviços, dispõe de uma base de dados actualmente composta por 119 profissionais bilingues em Língua Portuguesa e Chinês.
Gloria Batalha Ung disse ser ainda cedo para fazer um balanço do mecanismo ou para aferir os negócios por ele potenciados. “Estamos a apostar na promoção e a aperfeiçoar o portal em conteúdos e serviços. Vamos lançar questionários para os fornecedores poderem emitir as suas opiniões sobre os resultados”, afirmou.
O Centro de Distribuição de Produtos é um dos três anunciados na conferência ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum Macau), realizada em Novembro de 2013, e arrancou sob a forma de portal electrónico a 1 de Abril.
Os restantes dois centros são um de serviços para as pequenas e médias empresas dos PLP e outro de exposição e convenções.
Gloria Batalha Ung disse ainda que o salão de exposição dos produtos alimentares dos Países de Língua Portuguesa deverá abrir portas no centro de Macau no segundo semestre de 2016. O local para a montra da lusofonia já foi escolhido – num edifício na Praça do Tap Seac – mas ainda serão necessárias obras, segundo a administradora do IPIM.

3 Ago 2015

Preço médio das casas desce face a 2014

O preço médio por metro quadrado das fracções destinadas à habitação em Macau atingiu 92.497 patacas em Junho, menos 5% ou 4909 patacas face ao período homólogo de 2014, indicam dados oficiais. De acordo com dados publicados no portal da Direcção dos Serviços de Finanças – contabilizados a partir das declarações para liquidação do imposto de selo por transmissões de bens – foram transaccionadas 602 fracções autónomas em Junho, menos sete do que em igual mês de 2014. Já em termos mensais, o metro quadrado encareceu, com o preço médio a aumentar de 90.134 patacas em Maio para 92.497 patacas em Junho, traduzindo uma subida de 2363 patacas ou de 2,6%. Em paralelo, o número de fracções vendidas também cresceu: foram mais 20. A maior parte das casas vendidas em Junho localiza-se na península de Macau (451), enquanto as mais caras situam-se na ilha de Coloane, com um preço médio por metro quadrado fixado em 121.883 patacas.

3 Ago 2015

Exportações sobem 8,7% no primeiro semestre

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s exportações de Macau aumentaram 8,7% nos primeiros seis meses do ano, sem impedir, porém, o agravamento do défice da balança comercial, indicam dados oficiais ontem divulgados. Segundo a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), as exportações atingiram 5,45 mil milhões de patacas – mais 8,7% –, contra importações avaliadas em 42,67 mil milhões de patacas – menos 0,3% face ao primeiro semestre do ano passado.
Por conseguinte, o défice da balança comercial no primeiro semestre do ano corrente alargou-se, atingindo 37,21 mil milhões de patacas. Em termos do destino das exportações relativas aos primeiros seis meses do ano, Hong Kong surge no topo da tabela (3,37 mil milhões de patacas), seguido do interior da China (847 milhões de patacas), mercados que registaram aumentos de 10,5% e 20,1%, respectivamente.
Em contrapartida, os valores exportados para a União Europeia (131 milhões de patacas) e para os Estados Unidos (97 milhões de patacas) caíram 16,2% e 39,9%, em termos anuais, respectivamente, informa a DSEC.
Até Junho, Macau exportou 5,09 mil milhões de patacas de produtos não têxteis – mais 9,3% face ao período homólogo do ano passado.

China lidera

Do lado das importações, o interior da China surge à cabeça, com bens avaliados em 15,80 mil milhões de patacas, mais 13,7% comparativamente aos primeiros seis meses do ano. Já da União Europeia chegaram mercadorias avaliadas em 9,64 mil milhões de patacas, menos 11,2%.
O valor total do comércio externo de mercadorias cifrou-se em 48,12 mil milhões de patacas entre Janeiro e Junho, traduzindo uma subida anual de 0,6%, indica a DSEC.
Só em Junho, as exportações corresponderam a 923 milhões de patacas – mais 17,6% face ao sexto mês de 2014.
Destaca-se o valor da exportação doméstica, que atingiu 133 milhões de patacas, menos 20%, e, em particular, a de tabaco (24 milhões de patacas) que diminuiu 25,2%.
Já as importações cifraram-se em Junho em 6,76 mil milhões de patacas, reflectindo uma queda ténue de 0,1%, em termos anuais.

31 Jul 2015

Arranca nova edição do concurso de contos Rota das Letras

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]stá aí a quarta edição do Concurso de Contos do Festival Literário de Macau – Rota das Letras, que visa a recolha de histórias em português, chinês e inglês até ao dia 30 de Novembro. Segundo um comunicado da organização, “o concurso de contos decorrerá em moldes semelhantes ao do ano anterior, com os vencedores a serem seleccionados por escritores que passaram pela Rota das Letras, depois de haver uma pré-selecção de um júri composto por representantes da organização e outros convidados”.

A história terá de ser obrigatoriamente sobre Macau, e, para além da publicação do conto, existe um prémio de dez mil patacas para cada um dos vencedores, um para cada idioma. O próximo volume da colecção “Contos e Outros Escritos” será lançado em Março do próximo ano, quando decorrer a 5ª edição do Festival Literário de Macau.

Os vencedores da 3ª edição do concurso de contos foram J.Cool, natural de Macau, que escreveu em chinês, a brasileira Regina Nadaers Marques e ainda Kevin M. Maher, norte-americano. Ao jornal Ponto Final, Kevin M. Maher considerou o prémio do concurso como um “incentivo” para escrever mais histórias. “Serviu-me de validação e deu-me a segurança de que talvez possa, na verdade, escrever algo que as pessoas queiram ler”, disse o também docente de inglês na Universidade de Macau (UM).

O mesmo livro incluiu ainda os textos dos escritores que passaram por Macau no âmbito do Rota das Letras e que foram convidados a escrever sobre o território. Hu Xudong, Afonso Cruz, Andrea Del Fuego e Karla Suárez são alguns dos nomes que podem ser folheados no livro, à venda na Livraria Portuguesa.

Os vencedores da 2ª edição foram Pedro Amaral, com o conto “Diário dos Últimos Dias do Coronel Vicente Nicolau de Mesquita”, Loi Chin Pan com a história “A Pequena Loja” e Sam Lee com “M”. Carlos Afonso Portela recebeu ainda uma menção honrosa com o conto “A Chegada de Cesariny a Macau”, Isolda Brasil com “Cartas de Amor de Macau” e também Lawrence Lei, com “Caça ao Homem”.

30 Jul 2015

Wikileaks | UE acompanha queixa da Novo Macau

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Chefe da representação da Comissão Europeia em Hong Kong e Macau, Vincent Piket, disse que ia acompanhar a exportação de ‘software’ de ciberespionagem de Itália para Macau, em resposta à solicitação de um grupo político.
O caso remonta ao início deste mês e vem na sequência de revelações do portal Wikileaks que tornaram público o interesse da Polícia Judiciária de Macau na aquisição de um ‘software’ de videovigilância da empresa italiana Hacking Team – o Remote Control System (RCS) –, com base numa troca de emails iniciada em 2012.
A revelação levou a Associação Novo Macau (ANM) a pedir uma investigação ao Ministério Público (MP) e a enviar, na semana passada, uma carta aos representantes consulares dos países membros da União Europeia, na qual encorajava os governos europeus a tomarem “precauções extras” ao aprovarem a venda de produtos de segurança e de defesa por empresas sedeadas no espaço europeu para o Governo de Macau.
“Se a exportação de produtos de vigilância com capacidades intrusivas está sujeita ao controlo ou regulamentação no seu país, pedimos que informe as autoridades competentes do seu país sobre a possibilidade de abuso de tais produtos pelas autoridades policiais do governo de Macau”, referia a missiva.
A resposta de Vincent Piket, publicada no Facebook de Jason Chao, membro da Associação Novo Macau, foi referida pelo jornal Ponto Final na sua edição de ontem. “Vamos olhar para esta questão com os nossos colegas italianos de forma a discutir as preocupações suscitadas por esta missiva”, afirma Vincent Piket, citado pelo jornal.

Alvos potenciais

No passado dia 17 a ANM convocou a imprensa para falar dos detalhes dos documentos revelados pela Wikileaks, que mostram que a Polícia Judiciária (PJ) e o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) chegaram à fala com a empresa Hacking Team no sentido de adquirir o sistema de ciberespionagem.
Jason Chao, membro da direcção da ANM, não negou a possibilidade de um dos principais alvos na aquisição deste sistema ser, precisamente, os activistas da ANM. “Não posso rejeitar essa possibilidade [da Novo Macau ser um dos alvos]. O que dizemos ao público é baseado com os documentos que vemos no Wikileaks. Não temos provas, mas não posso recusar essa possibilidade. Pessoalmente acredito nisso.”
Na resposta à comunicação social, tanto a PJ como o CCAC não confirmaram uma eventual aquisição do sistema. O CCAC explicitou que “para exercer as suas competências na investigação criminal de forma legal e eficaz, todos os meios e técnicas adoptadas nas diligências do CCAC são de natureza confidencial. Pelo exposto, o CCAC não vai comentar ou responder a perguntas relativas aos métodos concretos adoptados na sua investigação.”

30 Jul 2015

Número de TNR sobe em Junho

O número de trabalhadores não residentes continuou a aumentar em Junho, sendo que havia, em Macau, 180.523 pessoas de fora a trabalhar em Macau. São mais 1100 relativamente a Maio, de acordo com dados do Gabinete de Recursos Humanos. O interior da China continua a ser de onde chega a grande maioria dos TNR (cerca de 118 mil), sendo que as Filipinas estão em segundo lugar da tabela, com mais de 23 mil pessoas a virem de lá para Macau. A maioria dos trabalhadores do exterior chega para o ramo da construção. O sector que a seguir mais contrata gente de fora é o dos hotéis, restaurantes e similares.

28 Jul 2015

Carta Aberta ao Arquitecto Siza Vieira

Maria José de Freitas (arquitecta)
mjf@aetecnet.com

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]ão está em causa a admiração que tenho por si e pelo trabalho que tem desenvolvido, o qual é excelente e motivador.
A razão que me traz aqui é outra e passo a dizer:

1. Vivo e trabalho em Macau, desde 1987, já tivemos ocasião de nos encontrar por aqui umas duas vezes, sendo sempre possível trocar opiniões sobre a cidade, seu desenvolvimento, arquitectura, planeamento e o futuro que nunca se conseguia perceber bem nos seus contornos voláteis…

2. Esta é uma cidade que sempre atrai pela força, pelo dinamismo, pela história que cruza lições do Ocidente com o Oriente. Histórias bem contadas, a merecer reconhecimento universal; outras nem por isso, e a merecerem reprovação total.
Macau sempre foi crescendo feita de contrastes, antagonismos e assimilações: novo e antigo, ocidente e oriente, aprovado e reprovável, santos e pecadores e tantos outros parâmetros que se podem encontrar. Basta andar por aí, olhar e sentir…
Não obstante esta dialéctica que por vezes trai os sentidos, perturba as emoções e envenena o raciocínio, gosto desta cidade e é uma desafio exercer a profissão em Macau.

3. Creio que partilhamos esse gosto por este terra, sabendo-se que há bem pouco tempo abraçou o desafio de recuperar um pequeno hotel junto ao Porto Interior.
Fiquei, ficamos, nós arquitectos de Macau, contentes com a situação: finalmente tínhamos uma obra do mestre, bem aqui, no centro da cidade para a podermos desfrutar.
Recebemos com o maior contentamento a notícia do prémio Archdaily ao “edifício sobre a água” em Huaian, aqui tão perto.

4. As novidades sobrepunham-se e estávamos esperançados de tê-lo em Macau, mais uma vez, numa obra maior.

5. E a notícia não se fez esperar, chegou de forma subtil. A propósito do debate que tem havido sobre o futuro do Hotel Estoril, lemos nos jornais em 21 de Julho que o secretário Alexis Tam, após um encontro em Portugal com o arquitecto Siza Vieira, tinha registado que o “O arquitecto propôs o desenvolvimento de um novo projecto, ou seja, não manter a fachada, porque considera que esta não integra o importante património cultural de Macau, e caso a fachada seja preservada, será necessário uma obra maior com um período de construção mais longo”.

6. A noticia caiu como uma bomba sobre todos nós, colegas e cidadãos aqui em Macau, dando azo a inúmeras especulações.
Especulações, conversas cruzadas e diga-se também: desalento!

7. Somos agora postos perante a circunstância de o ter a projectar para Macau, o que é sem dúvida uma honra, mas que traz consigo uma novidade: para haver construção terá de ocorrer a destruição do antigo Hotel Estoril! Ora, esse hotel que vai ser destruído tem um rosto, representa uma história e essa história tem relevo no panorama da arquitectura modernista na cidade.

8. Só para lembrar recordo que este foi o primeiro hotel casino a ser construído pela STDM, antecedendo o hotel Lisboa.
A sua construção data de Novembro de 1963, tendo o Hotel Lisboa sido inaugurado em Fevereiro 1970.
Tem um lugar na história da cidade, tem um lugar na nossa estória…
Estamos a procurá-la e a fortalecê-la, porque faz parte do nosso património.

9. Há imagens que mesmo por semelhança não se esquecem, a do Hotel Estoril deve prevalecer, mesmo sobre outras também ligadas à indústria do jogo, como a do Hotel Lisboa que, segundo se diz será classificado em breve.

10. Enfim critérios há muitos, mas sempre sabemos que o arquitecto Siza Vieira, o nosso Mestre, saberá encontrar a resposta mais coerente para o desafio que lhe está lançado, nós os arquitectos de Macau queremos vê-lo por cá e falar sobre tudo isto, estamos inconformados com a possível perda de algo que faz parte de Macau… o Hotel Estoril e a sua fachada emblemática na Praça do Tap Seac são parte de todos nós…

Obrigada e até Setembro,

27 Jul 2015

CIA | Relatório fala de colaboração da Sands com secreta americana

É mais uma polémica que envolverá alegadamente a Sands China: um relatório de um investigador norte-americano indica que os hotéis da operadora serviram de ninho a agentes da CIA que faziam investigações a mando da Sands para comprometer funcionários do Governo Central

[dropcap style= ‘circle’]O[/dropcap]The Guardian divulgou, esta quarta-feira, um relatório “altamente confidencial”, datado de Junho de 2010, segundo o qual Pequim acreditava que os casinos da norte-americana Las Vegas Sands estariam a trabalhar em conluio com a CIA. Segundo a TDM, também o Chefe do Executivo, Chui Sai On, e o ex-Secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam.
Chui Sai On é tido como muito próximo do Partido Comunista e é ainda dito que tem uma posição muito forte para que haja escândalos, avança ainda a TDM, que acrescenta que não há nada mais de negativo que seja apontado aos dois membros do Governo de Macau.
“Muitos dos funcionários [chineses] que contactámos eram da opinião de que agências de inteligência norte-americanas são muito activas em Macau e que penetraram e utilizaram os casinos norte-americanos para apoiar as suas operações”, refere-se no relatório, elaborado por um investigador privado, divulgado no jornal britânico.
A investigação foi encomendada pela Sands China, subsidiária da norte-americana Las Vegas Sands, do magnata Sheldon Adelson, numa altura em que havia preocupações com a crescente hostilidade do Governo da RAEM relativamente à indústria do Jogo em geral e, em particular, face à Sands, escreve o jornal.
O relatório, assinalado com uma advertência de que não podia chegar ao interior da China, foi revelado pelo Programa de Jornalismo de Investigação da Universidade da Califórnia, em Berkeley.
O documento figura entre o rol de documentos apresentados a tribunal no caso da Las Vegas Sands, que está a ser ouvida no âmbito de uma acção civil interposta por um antigo dirigente seu em Macau, que processou a empresa por despedimento sem justa causa.
“Uma fonte credível reportou que funcionários do Governo Central chinês acreditam firmemente que a Sands autorizou agentes do FBI/CIA que operassem a partir das suas instalações. Estes agentes aparentemente ‘monitorizam funcionários do Governo chinês que jogam nos casinos’”, indica o relatório.
“Esta fonte também informou que vários departamentos governamentais da RPC relataram haver ‘provas’ de ‘agentes norte-americanos’, a operar a partir da Sands, ‘atraindo’ e ludibriando oficiais do Governo chinês, envolvidos em actividades de jogo para depois os forçar a cooperar com os interesses do Governo dos Estados Unidos”.

[quote_box_left]“Uma fonte credível reportou que funcionários do Governo central chinês acreditam firmemente que a Sands autorizou agentes do FBI/CIA que operassem a partir das suas instalações. Estes agentes aparentemente ‘monitorizam’ funcionários do Governo chinês que jogam nos casinos’” – Relatório elaborado por um investigador privado[/quote_box_left]

Boas fontes

O investigador, que não é identificado, afirmou que a sua informação tinha por base fontes influentes, incluindo três no gabinete de Pequim responsável pelos assuntos de Macau e de Hong Kong, duas fontes do Ministério dos Negócios Estrangeiros e um poderoso empresário chinês com relações próximas a Pequim.
O relatório não refere se a Sands foi cúmplice da alegada actividade dos serviços secretos norte-americanos, apenas que as autoridades chinesas acreditavam nisso.
A Sands descreveu o relatório como “uma colecção de especulação sem significado”, considerando que a narrativa de que figurava como uma “frente” para os esforços das agências de informação norte-americanas soa como “uma ideia para um guião de um filme”.

24 Jul 2015

Olhem de novo

Eduardo Flores*

[dropcap style= ‘circle’]B[/dropcap]oca amiga já mo tinha soprado à orelha. Duvidei, mas não muito. Tenho Macau entranhado na pele, como o sarro de um mineiro de carvão.
O Tap Seac é a Ágora cultural de Macau. Salvou-se de desaparecer por via de lhe cobrirem o relvado com a “coisa desportiva” – ou coisa assim – que afinal foi esmagar a Escola Sir Robert Ho Tung. Não se livrou, a Norte, felizmente com um bom desenho, da tampa do túnel. Que sanha haverá contra ele?
A seu tempo defendi que a nova Biblioteca Pública deveria ser uma ampliação para o outro lado da Praça. Mais tarde, quando o inevitável parecia aí, do mal o menos, por que não lá colocar a Escola Portuguesa, já com piscina e tudo? Talvez uma boa maneira de salvar a piscina. Piscina que é só mais um exemplo a precisar de reabilitação e restauro, não de liquidação.
Foi a Escola Sir Robert Ho Tung, a Escola Primária Oficial, o neo-mourisco das Conservatórias na Sidónio Pais e, aqui também, mas mais acima, as vivendas da “Secessão”. Sobra o edifício da antiga Escola Comercial Pedro Nolasco “preso pelos fios” que são a Escola Portuguesa. Sem falar no Jardim Vasco da Gama, “levantado do chão”. O pequeno bairro chinês da Av. Coronel Mesquita; no Porto Interior, o edificiozinho dos CTT, decadente e violentado no rés-do-chão… Claro que temos as raridades da Casa do Mandarim e da Casa do Loucau.
É muito longa a lista das pequenas peças do nosso importante património. Quase todas pequenas, modestas até, inclassificadas… Quase todas abatidas.
O “novo Estoril” (peço desculpa, é o que dizem, mas já duvidei do “diz que disse” que aqui me traz) vai ter o volume da “coisa desportiva”, sobretudo se a Piscina Municipal for mesmo à vida e incluída no plano do novo edifício. É mentira ou estão a esquecer-se de falar nisso? A relação ainda existente entre a Praça e a Colina da Guia desaparece, mas isso não é património de valor, parece.
Triste, desapontado mas, confesso, não demasiado surpreso.
Os Arquitectos não são advogados, (enfim… um pouco, por vezes, até somos) e é difícil, admitamo-lo, todos por lá passámos – muito difícil – recusar um contrato.
Mas não temos a obrigação sequer de fingir que acreditamos na causa. Cumprimos programas. Não nos podem obrigar a gostar deles.
E temos, isso sim, a obrigação do conselho crítico ao cliente.

[quote_box_left]Deixemo-nos de tretas, o Siza não gera controvérsia. É por valor próprio incontroverso. O prédio que ele ali fizer será, no mínimo, tão bom quanto o velho Hotel. A questão não deveria sequer passar por aí. É se deverá ali estar[/quote_box_left]

Sei-o por mim. Sei-o pelos meus pecados. Mas nenhum cliente me tratou mal ou me despediu por lhe dizer a verdade.
Podem “obrigar-nos” a defendê-los. Podemos querer defendê-los. Mas não devemos, que isso é muito feio.
Que fique claro, sou um simples e pequeno arquitecto, daqueles que vão morrer. Sei que falo para o Olimpo. De mim fiquemos por aqui. Hotel Estoril
São os Desígnios. Persistem os Desígnios Superiores, a que temos vindo a ser sujeitos, para suportar subtracções impunes à paisagem da memória. Da gratuita subtracção do edificiozinho dos Serviços de Meteorologia – substituição por pastiche, como também os do Largo de S. Domingos – ao prédio do Fai Chi Kei, ao… Hotel Estoril? Como disse, a lista é enorme.
O importante património de Macau é este, feito de pequenos edifícios e até pequenas memórias. Algo parecido com Grande Património temos as Ruínas de São Paulo. Talvez qualquer coisa mais, mas não me lembro.
Foi a opção incontroversa. Já a reconstrução da ardida Baixa de Lisboa foi assim.
Deixemo-nos de tretas, o Siza não gera controvérsia. É por valor próprio incontroverso. O prédio que ele ali fizer será, no mínimo, tão bom quanto o velho Hotel. A questão não deveria sequer passar por aí. É se deverá ali estar.
Não vai é ser a história do Estoril, épica e pecaminosa. Ombro a ombro com famílias em lazer de águas. A não contar história nem estória – a menos que seja esta, triste. Não vai ser uma forma identificadora assim tão cedo, se alguma vez o for.
Nem vai provocar a tristeza de um Dédalo, a quem estas asas queimadas nada dizem.
Não sei o que leva alguém a achar o Estoril abatível, nem de perto quanto mais assim à distância. Removível, sem mágoa, da memória, quando ele é memória.
Em fim de vida, o Estoril foi, eventualmente, o maior lupanar de Macau. Antes disso foi, para o melhor e, muito, para o pior, seminal na moderna indústria do jogo em Macau. Mesmo assim, e por isso tudo, merece o nosso respeito.
Além disso o prédio é bom. É delicado. Ao menos a fachada…
E a piscina – história, arquitectura e a importância de bairro – é para outra ocasião.
Ver a cidade como um amontoado de prédios, onde uns têm valor porque são plasticamente interessantes e os restantes não importam, não me parece um processo humanístico de construir e manter uma cidade. Mas o processo é, no fundo, confrangedoramente simples, só a ganância o complica.
Até há patrimónios artificiais que é preciso respeitar, como o memorial ao Dr. Sun Iat Sen (apesar de raramente se lembrarem do Dr.) e a casinha do General, na Coelho do Amaral. Mas isso é outra conversa, embora coubesse aqui, no nosso importante património.
Citando não sei bem quem: “o arquitecto Siza Vieira terá aconselhado o Executivo a demolir a fachada do espaço”; “aconselhou a que a fachada do edifício não fosse mantida”. Isto tudo após “trocar impressões sobre a protecção do património cultural”, e “porque considera que esta (fachada) não integra o importante património cultural de Macau.”
Esta declaração pública, da ausência de qualidade arquitectónica do velho Hotel e da sua insignificância destrutível, é agressiva, cruel e ofensiva. Do Siza?!
Reflecte a opinião dos que querem pensar assim, fazer pensar assim e dos convencidos a pensar assim. Se calhar, depois, até pensam que pensam mesmo assim. Complicada a frase? Esperem até ouvir os que pensam mesmo assim…
Parecem esquecer que o património edificado não se estabelece apenas na qualidade arquitectónica do construído – por aí, mais facilmente admitiria eu (mas não admito) que se demolisse o velho Tribunal – o Palácio (!) das Repartições, chamavam-lhe.
Aliás, vendo bem, tudo isto é difícil de acreditar. Vejamos o que dirá agora o Arquitecto Siza Vieira, quer se digne quer se indigne. Ainda espero que se indigne por a história estar mal contada, mesmo que seja também comigo.
Depois há o tempo e o dinheiro, que parecem escassos nesta rica cidade de tanto frenesim.
Dez anos a deixar apodrecer uma estrutura sem préstimo para de repente ser urgentemente necessária. E o Grande Hotel, para lá caminha?
O património sai caro? Pois sai, por aí era melhor nem ter havido candidatura a Património da Humanidade. E que tal poupar no património para se aumentarem ainda mais as participações pecuniárias?
Há pressões incomportáveis sobre a malha antiga? Já nos anos 80 se falava que se deveriam criar instrumentos legais que transferissem direitos das áreas históricas para as novas áreas de expansão. Entretanto passaram a Baixa da Taipa, a ZAPE, os NAPE, a Areia Preta, o COTAI e, agora, os Novos Aterros – 5 ATERROS. Cinco.
É, é de se ficar aterrado.

*arquitecto

24 Jul 2015