Jogo | E vão 11 meses sempre a subir

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s casinos de Macau fecharam o mês de Junho com receitas de 19,994 mil milhões de patacas, um aumento de 25,9 por cento face ao período homólogo do ano passado. Segundo dados publicados pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos, os casinos registaram no acumulado de Janeiro a Junho receitas de 126,377 mil milhões de patacas, mais 17,2 por cento face aos primeiros seis meses do ano passado.

Junho marcou o 11.º mês consecutivo de subida das receitas da indústria do jogo. Além disso, registou o maior aumento anual em termos percentuais desde o início da recuperação das receitas dos casinos, ou seja, desde que Agosto do ano passado pôs termo a um ciclo de 26 meses de consecutivos de quedas anuais homólogas.

Em 2017, as receitas mensais do jogo cresceram sempre a dois dígitos em termos homólogos, à excepção do primeiro mês do ano (+3,1 por cento), mas acima dos 20 por cento só em Maio (23,7 por cento) e agora em Junho (25,9 por cento).

Não obstante, Junho teve o segundo pior desempenho em termos de receita bruta, a seguir a Janeiro. O melhor mês desde o início do ano foi Fevereiro, com 22,991 mil milhões de patacas.

Apesar da recuperação da indústria, as receitas dos casinos caíram pelo terceiro ano consecutivo em 2016, registando uma queda de 3,3 por cento que se seguiu a uma descida de 34,3 por cento em 2015 e de 2,6 por cento em 2014.

3 Jul 2017

Justiça | Defesa de Ng Lap Seng diz que empresário era um filantropo

Foi enganado por pessoas que o denunciaram, depois de o extorquirem. Foi esta a teoria da defesa de Ng Lap Seng na sessão dedicada às alegações introdutórias. O empresário não subornou ninguém, disse o advogado, que garantiu em tribunal que o seu cliente não iria retirar qualquer lucro do centro da ONU em Macau

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m “filantropo” incompreendido e traído. Foi assim que o advogado de Ng Lap Seng descreveu o seu cliente no início do julgamento do empresário de Macau. O arguido é acusado pela justiça norte-americana de ter subornado dois diplomatas das Nações Unidas para obter apoio para a construção de um centro de conferências no território.

O julgamento de Ng Lap Seng arrancou na semana passada no tribunal federal de Manhattan, em Nova Iorque. A primeira sessão destinou-se o processo de selecção de jurados; a segunda serviu para as alegações introdutórias.

“Ng Lap Seng queria fazer o bem”, disse o advogado de defesa do empresário, citado pelas agências internacionais de notícias. “Não havia qualquer intenção de corrupção na sua cabeça ou no seu coração”, vincou Tai Park.

Desde o início do processo que o empresário de Macau, agora com 69 anos, tem insistido na inocência. Ao contrário de outros envolvidos neste megaprocesso, recusou duas transacções de culpa.

É acusado de ter corrompido diplomatas da ONU com subornos de mais de 500 mil dólares norte-americanos, que terão sido recebidos por John Ashe – um embaixador de Antígua que chegou a ser presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas –, e Francis Lorenzo, um diplomata dominicano. John Ashe morreu sem chegar a ir a julgamento. Quanto a Lorenzo, será uma das testemunhas-chave da acusação: numa fase anterior do processo, aceitou admitir a culpa.

A acusação insiste na teoria de que Ng Lap Seng pretendia construir um centro de conferências em Macau para ser utilizado por países em vias de desenvolvimento. Seria edificado sem qualquer custo num aterro, onde seriam também instalados um hotel e um complexo residencial e comercial.

Lucro impossível

“Este caso é sobre os esforços do arguido para corromper as Nações Unidas e obter aquilo que desejava”, disse o procurador Doug Zolkind nas suas alegações introdutórias. “Se construísse este centro, ele sabia que não haveria limites ao quanto poderia lucrar.”

Para a acusação, a questão não se resume, no entanto, ao lucro. O procurador falou da “carreira” que Ng Lap Seng pretendia fazer. “O arguido queria deixar a sua marca na China e no resto do mundo”, alegou. “Queria ser o homem que conseguiu um centro permanente das Nações Unidas na China – seria este o seu legado.”

O advogado de defesa tentou destruir esta teoria. Tai Park concedeu ser verdade o que a acusação diz em relação ao “legado”, mas acusou Lorenzo, Ashe e os seus parceiros de usarem essa vontade como forma enganosa de levarem o seu cliente a estabelecer uma “parceria público-privada”. O dinheiro que lhe foi pedido serviria para lançar as bases da estrutura onde as nações mais pobres poderiam trabalhar em questões como a pobreza e as alterações climáticas.

“Isto não é corrupção”, sublinhou o defensor. “Nas Nações Unidas, nos Estados Unidos ou em Marte, isto não é corrupção. Chama-se filantropia.”

Os alegados subornos, prosseguiu Tai Park, incluíram 200 mil dólares para um fundo de apoio à presidência da Assembleia Geral da ONU ao tempo de John Ashe e um salário mensal de 20 mil dólares pago a Lorenzo, para dirigir uma publicação. No fim, referiu, extorquiram Ng Lap Seng e denunciaram-no quando o FBI avançou com a acusação de corrupção.

Park rebateu ainda o argumento do lucro que o empresário de Macau conseguiria obter, ao explicar aos jurados que o tempo que leva a construção de um centro de conferências e respectivo complexo num terreno a reclamar ao mar não permitiria ao seu cliente retirar lucros deste projecto. “Se conseguisse amortizar os custos antes de morrer, seria um homem com sorte.”

Ng Lap Seng foi detido em Setembro de 2015 depois de ter feito várias viagens para os Estados Unidos. Levou com ele somas elevadas de dinheiro, tendo dito que os montantes se destinavam ao jogo, à aquisição de obras de arte e a obras de renovação de uma casa em Old Brookville, detida por um homem que as autoridades norte-americanas acreditam ser de um agente dos serviços secretos chineses.

O julgamento deverá demorar entre quatro a seis semanas.

3 Jul 2017

DSAL | Estaleiros fechados até terem condições de segurança

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s estaleiros responsáveis pela construção do novo edifício do Ministério Público e do Grand Lisboa Palace estão paralisados. A ordem veio da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) após as três mortes por acidente de trabalho que ocorreram, no mês passado, nestes locais.

“Acredito que as obras suspensas serão o melhor castigo que as entidades em causa podem ter” , disse o subdirector da DSAL, Chan Un Tong, ao Jornal do Cidadão.

Chan sublinhou ainda que os acidentes registados não são devido a negligência por parte do Executivo, visto que, considera, o Governo tem executados as devidas inspeções. No entanto, não deixa de admitir que há margem para melhorias. “O Governo tem inspeccionado e caso haja espaço para melhoras, assim o fará”, disse.

O responsável explicou ainda que antes da retoma dos trabalhos, os estaleiros vão ter de garantir que têm as condições de segurança previstas legalmente, sendo que, após as modificações que fizerem, serão alvo de um fiscalização por parte do Executivo. O objetivo, afirmou Chan, é a garantia de que os estaleiros têm condições de segurança.

Relativamente ao estaleiro que tem a seu cargo a construção do edifício do Ministério Público, o subdirector da DSAL referiu que o processo, além de estar a ser tratado pela DSAL, está em análise em vários de paratamentos públicos.

3 Jul 2017

Abate de motociclos | Resultados superam expectativas

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ais de 5700 proprietários candidataram-se ao apoio do Governo para abate de motociclos altamente poluentes, cujo prazo terminou na passada sexta-feira, indicou a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA).

O plano de apoio financeiro, delineado para “melhorar a qualidade do ar nas vias públicas”, destina-se a motociclos ou ciclomotores com motor a dois tempos e prevê a atribuição de 3500 patacas por cada veículo entregue para abate.

Em comunicado, a DSPA informou ter recebido 5736 requerimentos, entre 15 de Fevereiro e 30 de Junho. A adesão “foi mais activa e positiva do que o previsto”, sublinhou o organismo.

O Fundo de Protecção Ambiental e de Conservação Energética tem 75 dias, a partir da data da candidatura, para decidir sobre a concessão do apoio que, se aprovado, é pago no prazo de dois meses.

No final do ano passado, 250.450 veículos circulavam nas estradas de Macau, mais de metade dos quais de duas rodas, segundo dados oficiais.

Ainda na sexta-feira, entrou em vigor um novo regulamento administrativo que define valores-limite de emissão de gases de escape poluentes dos veículos em circulação e métodos de medição.

3 Jul 2017

Higiene alimentar | IACM detecta 20 falhas em meio ano

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ó na primeira metade deste ano, o Centro de Segurança Alimentar detectou um total de 20 casos de equipamentos ou instalações de produção de alimentos que não atendiam aos requisitos de higiene. De acordo com um comunicado do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), foram tomadas medidas para restringir o fornecimento dos alimentos em causa e melhorar as condições higiénicas dos estabelecimentos.

Além disso, foram emitidos 33 autos de notícia relativamente à venda e recolha de produtos provenientes de contrabando. O Centro de Segurança Alimentar promete continuar a combater as actividades de contrabando de produtos alimentares, através da fiscalização e reforço da recolha e análise de informações.

Entre Janeiro e Junho, o Centro de Segurança Alimentar fez cerca de 5400 inspecções a produtos alimentares e respectivos estabelecimentos, tendo recolhido mais de 1600 amostras. Foram encontradas anomalias em duas das amostras testadas, envolvendo o adicionamento ilegal de ácido bórico ou bórax e a presença de aditivos alimentares superiores aos limites permitidos.

Os trabalhos de rotina da estrutura sob a alçada do IACM incluem inspecções aos estabelecimentos que fornecem produtos alimentares em Macau, recolha de amostras de alimentos e acompanhamento, bem como análise de incidentes de segurança alimentar locais e do exterior. No que toca a casos ocorridos fora de Macau, foram emitidos 28 alertas ao sector alimentar.

Quanto a casos de gastroenterite colectiva, o centro registou 15 no primeiro semestre do corrente ano. Após investigação e análise, concluiu-se que as causas foram principalmente de origem bacteriana, relacionada com processos deficientes de produção de alimentos: contaminação cruzada de alimentos cozidos e crus, e acondicionamento impróprio dos alimentos.

3 Jul 2017

Literatura | Granta unificada com edição simultânea em Portugal e no Brasil

Textos de autores portugueses e brasileiros, escritos sem alterações à ortografia, numa revista que vai ser publicada em simultâneo dos dois lados do Atlântico. A Granta quer chegar a escritores de todo o universo lusófono

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] revista literária Granta Portugal terá, a partir de 2018, uma edição única em língua portuguesa, publicada em simultâneo em Portugal e no Brasil pela Tinta-da-China, com textos de autores portugueses e brasileiros e sem alterações ortográficas.

Em declarações à Lusa, a editora portuguesa Bárbara Bulhosa apresentou esta nova vida da revista, a “Granta unificada”, como “um projecto literário de língua portuguesa – de modo nenhum um projecto português”, em que se manterão a periodicidade semestral e o director, o jornalista Carlos Vaz Marques.

“Creio, aliás, que não há precedente e que será a primeira vez que teremos uma revista literária com edição simultânea em Portugal e no Brasil”, observou.

“Já como Granta Portugal dávamos uma atenção especial à literatura brasileira, tendo publicado autores brasileiros em três números diferentes, [e] queremos contribuir, deste modo, para uma aproximação entre todos aqueles que se interessam pela literatura no nosso idioma, independentemente do espaço geográfico de que provêm”, sublinhou.

Se o modelo da revista sempre assentou em edições temáticas em que eram encomendados textos a diversos autores, a partir de 2018, o leque de autores será bastante mais alargado, indicou Bárbara Bulhosa.

“Com a edição simultânea no Brasil e em Portugal, passaremos a convidar a cada número escritores brasileiros e portugueses, enriquecendo em muito a diversidade e o interesse da revista. Estamos, aliás, interessados em autores de todo o mundo onde se fala e escreve em língua portuguesa”, referiu.

Objecto de coleccionador

Até agora, todos os textos da Granta têm sido sempre acompanhados por uma ilustração, com um ilustrador convidado em cada número, existindo também sempre um ‘portfolio’ fotográfico, traduzindo visualmente o tema de cada edição pela lente de um grande fotógrafo.

A partir do número 11, anunciou a directora editorial da Tinta-da-China e Tinta-da-China Brasil, “a curadoria de imagem da Granta estará a cargo do fotógrafo Daniel Blaufuks, que já viveu no Brasil e acaba de ser distinguido em Portugal com o mais importante prémio para as artes visuais que é atribuído em Portugal, o prémio AICA”.

“Estas duas particularidades visuais – a ilustração dos textos e o ‘portfolio’ fotográfico – dão à Granta um carácter único, tornando-a um objecto bonito e requintado, para coleccionar”, observou.

A Granta Portugal foi criada em 2013, com periodicidade semestral, e saíram até agora nove números, estando em preparação o décimo, que sairá em Outubro ainda apenas em Portugal, pelo que será o 11.º, programado para Maio de 2018, o primeiro com edição simultânea em Portugal e no Brasil.

“Na altura em que surgiu a Granta Portugal, existia ainda uma edição brasileira da revista que, entretanto, deixou de ser publicada”, explicou a editora, acrescentando: “Está na altura de devolvermos a Granta aos leitores brasileiros, num projecto renovado, alargado, mais ambicioso e capaz de fazer pontes entre o Brasil e Portugal”.

“Como marca literária internacional, a Granta foi responsável pela afirmação de grandes nomes da literatura de língua inglesa, como Salman Rushdie, Julian Barnes ou Martin Amis, [e] cada número da revista é composto em idêntica proporção por textos originais e por textos traduzidos a partir de edições da Granta noutras línguas, em particular da Granta de língua inglesa, cujo património de décadas é extraordinário”, salientou.

“Começámos a medo, comprometendo-nos a fazer apenas quatro números, para evitar que o projecto pudesse virar fracasso. O sucesso até a nós surpreendeu: venderam-se oito mil exemplares do primeiro número, um pouco menos daí para cá, mas muito acima das nossas melhores expectativas”, comentou Bárbara Bulhosa.

Os cerca de mil assinantes que a revista tem em Portugal também ajudam a garantir a viabilidade do projecto, referiu a responsável, anunciando que “haverá também uma campanha de assinaturas no Brasil, oferecendo vantagens consideráveis a quem assinar a revista”.

3 Jul 2017

Taiwan | Pequim opõe-se “firmemente” a venda de armas americanas

Acabou oficialmente a lua-de-mel entre os presidentes Trump e Xi Jinping. O motivo é simples: os americanos acabam de vender armas a Taiwan no valor de muitos milhões.

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China anunciou sexta-feira que se “opõe firmemente” à venda de armas pelos Estados Unidos à Taiwan. O Governo do Presidente Donald Trump autorizou a venda de armas por 1,3 mil milhões de dólares a Taipé, incluindo bombas guiadas, mísseis e torpedos, anunciou o Departamento de Defesa norte-americano na quinta-feira. A transacção também inclui actualizações de armas que Taiwan já possui, incluindo um radar de defesa aérea e um sistema de guerra electrónica.

Pequim “protestou solenemente junto dos Estados Unidos”, sublinhou Lu Kang, um porta-voz do ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, durante uma conferência de imprensa diária. “Taiwan é uma parte indissociável do território chinês e nós nos opomos firmemente em relação a esta venda de armas”, acrescentou.

A embaixada chinesa já havia reagido à questão, dizendo que a venda de armas para Taiwan “vai prejudicar a confiança mútua e a cooperação entre a China e os Estados Unidos”.

O Presidente chinês, Xi Jinping, encontrou-se em Abril com o seu homólogo norte-americano, Donald Trump, na residência pessoal do bilionário republicano, na Florida. As relações bilaterais pareciam, desde então, ter reaquecido. Entretanto, a lua-de-mel não durou muito, especialmente porque Trump mudou o tom em relação à China, na quinta-feira, devido à questão nuclear norte-coreana.

Trump anunciou, pela primeira vez, sanções contra um banco chinês acusado por Washington de realizar actividades ilícitas com a Coreia do Norte, que desenvolve um programa nuclear e ameaça constantemente os Estados Unidos.

Novas armas ameaçam navios dos EUA

Entretanto, num artigo para revista The National Interest, o especialista Kris Osborn afirma que a marinha norte-americana poderá ter problemas sérios devido ao desenvolvimento dos mísseis hipersónicos. O perigo principal deriva dos porta-aviões se moverem muito lentamente.

Osborn aponta para a existência de programas de países como a China, com o seu míssil DF-ZF, e a Rússia, que estão a desenvolver actualmente armamento hipersónico, e acrescenta que existe uma tendência notória e um interesse de outras nações em ostentar tecnologias hipersónicas. Por isso, a Força Aérea dos EUA está a acelerar os seus programas deste tipo de armas, com o objectivo de combater qualquer ameaça.

De acordo com fontes militares citadas pelo especialista, enquanto que um míssil de cruzeiro voa a uma velocidade de 956 quilómetros por hora, as armas hipersónicas serão capazes de atingir velocidades de mais de Mach 5 (5 vezes a velocidade do som).

Nesse sentido, os Estados Unidos progrediram há vários anos no desenvolvimento de aeronaves e mísseis hipersónicos, adiciona Osborn. Entre os novos armamentos, o analista destaca o X-51 Waverider, um míssil de cruzeiro hipersónico. Osborn também acrescenta, citando o chefe científico da Força Aérea dos EUA, Geoffrey Zacharias, que os voos não tripulados a velocidades hipersónicas poderiam ser uma realidade em 2030, e o seu uso múltiplo não será possível até pelo menos 2040.

“Uma vez que os veículos hipersónicos podem viajar numa trajectória de voo do tipo parabólico, que se elevam muito alto na atmosfera para atingir velocidades hipersónicas antes de voltar a altitudes mais baixas, o desenvolvimento de aviões não tripulados recuperáveis é muito mais difícil dado o nível de autonomia necessário para os veículos hipersónicos na descida”, aponta o especialista. As vantagens de voo de um avião hipersônico não tripulado seriam principalmente a velocidade e o aumento do poder de destruição, concluiu Kris Osborn.

3 Jul 2017

Comércio | Portugal ainda não consegue exportar plenamente para a China

AICEP quer fim de “entraves ainda existentes” às exportações

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] administrador-executivo da AICEP, António Silva, fez hoje votos para os “entraves ainda existentes” à exportação de “muitos produtos alimentares portugueses” para a China sejam “objecto de negociação entre as autoridades competentes” dos dois países.

“Muito gostaríamos que os entraves ainda existentes para a exportação de muitos produtos alimentares portugueses fossem objecto de negociação entre as autoridades competentes dos nossos países”, afirmou o líder da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), em declarações no Fórum Portugal-China, um evento realizado na Assembleia da República, que acolheu uma comitiva de empresários chineses provenientes da província de Guangdong, e aberto à participação de deputados e empresários portugueses.

António Silva começou por sublinhar a importância de Guangdong, a província chinesa “mais fortemente orientada para o exterior, para a exportação e internacionalização”, onde se localizam as principais três zonas especiais de comércio e investimento, Shenzhen, Zhuhai e Shantou, e deu conta do “relacionamento excepcional, a todos os níveis”, entre Portugal e a China. “Portugal e a China têm um relacionamento excepcional a todos os níveis. Estamos talvez no melhor momento deste nosso relacionamento”, disse.

O presidente da AICEP manifestou-se “optimista” em relação à participação portuguesa no projecto “Uma faixa, uma rota”, que a China está a desenvolver e que será o chapéu das relações económicas entre o gigante asiático e a Europa. “O posicionamento estratégico de Portugal transcontinental e transatlântico permite ser optimista em relação à nossa participação no projeto”, afirmou.

“No âmbito da iniciativa ‘Uma faixa, uma rota’, destacamos como oportunidades para Portugal as áreas dos Transportes e Logística, Infra-estruturas de transportes portuárias e respectivas zonas logísticas associadas, designadamente, Sines, que neste contexto assume uma importância estratégica para o comércio mundial”, especificou o responsável.

Neste contexto, Silva destacou a importância da assinatura do memorando de entendimento entre o Haitong Bank, o Banco de Desenvolvimento da China e a AICEP visando a identificação de potenciais grupos chineses interessados no estabelecimento da zona industrial e logística de Sines.

Na área das energias renováveis, a prioridade dada à utilização de energias não poluentes ao longo da rota, tendo em conta o conhecimento e a oferta no sector, “Portugal pode ser um parceiro muito interessante”, disse ainda o responsável português, que valorizou ainda o potencial português nos domínios da economia do mar e do know-how das empresas lusas em áreas como as da urbanização inteligente – desenvolvimento de “smart cities” -, ou agricultura moderna, etc.

O valor das exportações de bens e serviços portugueses para a China em 2016, de acordo com a AICEP, atingiu os 861 milhões de euros, com uma taxa de cobertura da ordem dos 50%. No entanto, sublinhou António Silva, 2016 foi um ano com resultados ligeiramente inferiores aos de 2015.

“Em contrapartida, no período de Janeiro a Abril de 2017, comparado com o período homólogo de 2016, as exportações de bens e serviços portugueses para a China aumentou 61%, pelo que estamos otimistas em relação aos resultados de 2017, que deverão atingir um recorde histórico nas nossas relações económicas”, disse.

Depois de uma queda em 2016, as trocas comerciais entre a China e os países de língua portuguesa subiram 40,41% até Abril, em termos anuais homólogos, atingindo 34,17 mil milhões de dólares, indicam dados oficiais.

Dados dos Serviços de Alfândega da China, publicados ontem no portal do Fórum Macau, indicam que a China comprou aos países de língua portuguesa bens avaliados em 24,41 mil milhões de dólares – mais 50,93% – e vendeu produtos no valor de 9,75 mil milhões de dólares– mais 19,56%.

O Brasil manteve-se como o principal parceiro económico da China, com o volume das trocas comerciais bilaterais a cifrar-se em 24,31 mil milhões de dólares entre Janeiro e Abril, um valor que traduz um aumento anual homólogo de 40,50%.

As exportações da China para o Brasil atingiram 7,67 mil milhões de dólares, reflectindo uma subida de 29,51%, enquanto as importações chinesas totalizaram 16,63 mil milhões de dólares, mais 46,19% face aos primeiros quatro meses do ano transacto.

Com Angola – o segundo parceiro chinês no universo da lusofonia – as trocas comerciais cresceram 61,83%, atingindo 7,60 mil milhões de dólares.

Pequim vendeu a Luanda produtos avaliados em 597,05 milhões de dólares – mais 27,71% – e comprou mercadorias avaliadas em 7,0 mil milhões de dólares – reflectindo uma subida de 65,60%.

Já com Portugal, terceiro parceiro da China entre os países de língua portuguesa, o comércio bilateral cifrou-se em 1,61 mil milhões de dólares – menos 5,11% –, numa balança comercial favorável a Pequim.

A China vendeu a Lisboa bens na ordem de 1,03 mil milhões de dólares – menos 20,34% – e, em contrapartida, comprou produtos avaliados em 583,73 milhões de dólares, mais 43,61% face aos primeiros quatro meses do ano passado.

Os dados divulgados incluem – como sempre incluíram – São Tomé e Príncipe, apesar de só ter passado a fazer parte da ‘família’ do Fórum Macau no final de Março, após a China ter anunciado o restabelecimento dos laços diplomáticos com São Tomé e Príncipe, dias depois de o país africano ter cortado relações com Taiwan e reconhecido Pequim.

O comércio entre São Tomé e Príncipe e a China é, contudo, insignificante: entre Janeiro e Abril cifrou-se em 1,71 milhões de dólares, valor que corresponde na totalidade às exportações chinesas – que caíram quase um terço -, já que as compras de Pequim ao pequeno arquipélago africano estavam a zero.

 

Moçambique | Bancos tentam ganhar mercado nas empresas chinesas

A Economist Intelligence Unit (EIU) considera que o reajustamento do sector financeiro e restrições na política monetária chinesa vão influenciar a actividade das empresas em Moçambique apesar dos esforços dos bancos moçambicanos para atrair estas empresas.

“Com a procura interna de serviços financeiros em Moçambique retraída pela iliteracia financeira e pela natureza informal da economia, direccionar os esforços para as empresas chinesas pode dar uma oportunidade de expansão aos bancos nacionais”, escrevem os peritos da unidade de análise económica da revista britânica The Economist.

No entanto, acrescentam: “Duvidamos que as empresas chinesas vão confiar fortemente nos bancos nacionais quando operam em Moçambique, principalmente porque conseguem geralmente aceder a melhores negócios e serviços na China”.

Numa nota enviada aos investidores sobre os esforços da banca moçambicana para captar mais clientes empresariais chineses, a que a Lusa teve acesso, os analistas notam que apesar destes constrangimentos, “o forte reajustamento em perspectiva no sector financeiro chinês e as condições monetárias mais apertadas a partir de 2018 deverão influenciar o ritmo da expansão das empresas chinesas em Moçambique”.

Exemplificando com o Millennium bim, de capitais portugueses e o maior em Moçambique em termos de quota de mercado de activos, que no princípio deste mês anunciou um serviço de troca de moeda externa para as empresas chinesas, a EIU diz que esta é uma tendência do mercado seguida por outros bancos como o Standard Bank e a Société Générale.

“Esta tendência do sector bancário de melhorar a sua oferta às empresas chinesas reflecte o facto de a sua presença comercial estar a crescer”, salienta a EIU, lembrando os negócios de 6 mil milhões de dólares no projecto de gás natural liquefeito, no qual a petrolífera estatal chinesa tem uma quota de 20%, e o de 1,4 mil milhões de dólares nos caminhos-de-ferro, um empreendimento no qual a China National Complete Engineering tem 50%.

“O sector financeiro de Moçambique é demasiado pequeno para oferecer crédito a estes megaprojetos, mas os bancos estão provavelmente na esperança que estas grandes empreitadas encorajem outras firmas privadas chinesas a expandir a sua presença no país”, nomeadamente no sector dos serviços, conclui a EIU.

2 Jul 2017

Lote de terreno na zona do Pac On não fica na empresa de Ho Meng Fai

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Tribunal de Segunda Instância considerou improcedente um recurso contencioso interposto pela concessionária de um terreno no Pac On. O caso, que envolve a Sociedade Imobiliária Belo Horizonte, envolveu um pedido de troca de parcelas, o antigo secretário Ao Man Long e o empresário Ho Meng Fai, ambos condenados por corrupção.

A declaração de caducidade da concessão do terreno no Pac On foi feita pelo Chefe do Executivo em Maio de 2015. Inconformada, a empresa apelou para o Tribunal de Segunda Instância (TSI), alegando, entre outros, “a total desrazoabilidade no exercício do poder discricionário, a violação dos princípios da igualdade, da proporcionalidade, da boa-fé e da colaboração entre a Administração e os particulares”.

A concessionária defendeu que o prazo de aproveitamento do lote em causa – o PO5d – não era de 12 meses, mas sim de 36. Argumentou também que, ao contrário do que disse o Executivo, requereu a prorrogação do prazo de aproveitamento. A recorrente tinha requerido uma troca de terreno – e a sociedade entende que “não é correcto entender que não tinha intenção de aproveitar” o lote em causa. Por fim, apontou o dedo ao Governo, ao afirmar que a falta de aproveitamento era da “culpa predominante da Administração, porque tinha decidido, morosamente, sobre o pedido da troca de terreno, e não era a prática habitual da Administração, antes de 2010, declarar a caducidade da concessão por incumprimento dos prazos de aproveitamento”.

O TSI reconheceu que é verdade que o prazo de aproveitamento do lote era de 36 meses, mas desvalorizou o facto, ao dizer que se trata de “um erro irrelevante”, visto que no momento da declaração da caducidade da concessão, o prazo de aproveitamento de 36 meses já tinha terminado há cerca de oito anos.

Pequeno por grande

Os restantes argumentos da empresa também são rebatidos. Em relação à troca de terrenos, a Segunda Instância considera que “o facto de pedir a troca de terreno em si já evidencia que a recorrente não queria aproveitar o terreno em causa, visto que o valor económico do lote destinado apenas para construir uma vivenda de três pisos é bastante inferior ao valor de um terreno que permite construir centenas de fracções autónomas”. E o colectivo continua: “Caso contrário, o comerciante Ho Meng Fai, que efectivamente tomava decisões sobre a sociedade, não teria tentado oferecer vantagens ilícitas a Ao Man Long, então secretário para os Transportes e Obras Públicas, com vista a obter a troca de terreno”.

O TSI também não colhe a ideia da “morosidade da Administração e a prática habitual antes de 2010”, ao dizer que não servem para justificar o incumprimento do prazo de aproveitamento por parte da recorrente.

Ho Meng Fai encontra-se em parte incerta. Em 2007, foi condenado à revelia a 25 anos de prisão.

2 Jul 2017

Imagens | HK Urbex à procura da memória colectiva de Hong Kong

Na cidade dos arranha-céus, um grupo de jovens exploradores documenta, em fotos e vídeo, o interior de edifícios abandonados, na tentativa de os inscrever na memória colectiva de Hong Kong

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]e a metrópole é frequentemente associada à modernidade e futurismo – no cinema já foi, por exemplo, a Gotham City de “Batman” e cenário de “Ghost in the Shell” – nos vídeos do grupo “HK Urbex” são os redutos mais antigos, e até decadentes, que estão em destaque.

O grupo de oito elementos, que mantém a identidade oculta, já entrou, sem autorização, em mais de 100 edifícios ou estruturas deixadas ao abandono em Hong Kong, desde um centro de detenção para a antiga agência de serviços secretos, a um hospital psiquiátrico, uma antiga mansão, escolas, cinemas, um mosteiro, um antigo matadouro.

“Há muito património, mas é difícil de ver. Muitos destes sítios são demolidos sem que ninguém conheça a sua história. Partilhamos informação sobre eles para que entrem na consciência colectiva”, diz à Lusa Ghost, de 34 anos, um dos fundadores do projecto.

Os edifícios com valor histórico – mesmo que não reconhecido oficialmente – são o ‘alvo’ preferido, mas também já entraram em “estações de metro [desactivadas], estaleiros de obras”, já que também “fazem parte da narrativa de Hong Kong” e são locais “que as pessoas não vêem normalmente”.

Há também blocos residenciais, sem particular traço arquitectónico, mas que representam uma forma de viver. É o caso do prédio Hoi Hing, em Tai Kok Tsui, onde as 283 fracções estão quase todas abandonadas, mas nem por isso vazias.

Além do avançado estado de decadência – janelas partidas, canos soltos, paredes lascadas – os corredores e os apartamentos do Hoi Hing estão repletos de coisas, móveis, roupa, sacos, caixas, papéis, um amontoado de lixo onde se avistam subitamente objectos pessoais: um sapato de bebé, um jornal de 1982, álbuns de fotografias. Num deles uma família à mesa, miúdos e graúdos de pauzinhos em punho, olha para a câmara com um ar desanimado.

O edifício de 53 anos – que conta na sua história com um macabro caso de homicídio de um casal pelo filho – aguarda demolição, tendo a propriedade sido adquirida por 2,6 mil milhões de dólares de Hong Kong.

O património que morre

Os dois fundadores do projecto HK Urbex (2013), Ghost e Echo Delta, estão atentos às notícias sobre demolições e novos projectos imobiliários, e até desenvolveram um “sexto sentido”. “Há sinais. Notamos que há um edifício sem ar condicionado, a parede está partida, começamos a investigar. Muitas vezes somos as últimas pessoas a entrar nestes edifícios.”

“Na última década muito património foi demolido ou renovado”, diz Echo Delta, lembrando o caso do Queens Pier, cujo anúncio de demolição gerou forte contestação. “Eu era jornalista na altura e estava a cobrir a história. Muitos jovens ficaram indignados e até se acorrentaram ao cais, fizeram greves de fome. Foi a primeira vez que assisti a isso e marcou-me muito”, conta.

Uma combinação de demolições e gentrificação estão a ter um impacto significativo na cidade, garantem os exploradores. “Está a mudar muito rápido, está sempre tudo em obras, não fazemos ideia de qual será o aspecto da cidade daqui a 20 anos”, diz Echo Delta.

“Em cantonês há um termo que quer dizer ‘memória colectiva’ e tem sido muito utilizado nos últimos anos, em que as pessoas se sentem nostálgicas em relação ao antigamente. O processo de gentrificação está descontrolado. Daqui a dez anos, até os sítios mais tradicionais vão ficar como Singapura, onde tudo tem um aspecto muito genérico”, comenta.

Os edifícios “formam a identidade de Hong Kong” e, na opinião dos exploradores, o ímpeto para os proteger insere-se na mesma narrativa da luta política por democracia. “Muitos jovens querem diferenciar-se da China, por isso há tantos grupos pró-democracia, o Occupy Central, o ‘localismo’. De certa forma, isto surge em paralelo com isso, estamos a defender a nossa identidade e parte dela são estes edifícios”, salienta.

Numa cidade que luta com a falta de espaço e bate recordes nos preços do imobiliário, Ghost considera “uma loucura” que existam tantos edifícios remetidos ao abandono, recordando uma notícia de 2015 que dava conta que cerca de 100 escolas permaneciam abandonadas.

Embora longe de ser representativo, um relatório oficial indica que existiam no ano passado 43.660 fracções vagas em propriedades privadas. “É incrível, numa cidade onde as pessoas têm de viver no espaço de duas mesas, é criminoso, viola mais a lei do que nós ao entrarmos nesses sítios”, destaca.

De toda a gente

Apesar de saberem que não é permitido, os dois consideram as incursões importantes. “Não conhecemos a história se não entrarmos”, afirma Echo Delta, lembrando as emoções fortes das suas incursões, onde se comovem, assustam, divertem.

“Os álbuns de fotografias dizem-me muito. Questiono-me sobre o que é feito daquelas pessoas. Cresceram, morreram, ainda estão em Hong Kong? É um pouco triste por vezes, são sentimentos mistos. O sapato de criança que encontrámos, por exemplo, é um pouco mórbido. Não conseguimos deixar de pensar ‘O que se passou aqui?’”, comenta.

Estes salteadores dos prédios abandonados, que têm como mote “Não levar nada, não deixar nada, não matar nada”, começaram por usar máscaras para esconder a identidade, tendo em conta a ilicitude dos actos.

As máscaras acabaram por se tornar numa forma de “combater a cultura das ‘selfies’ e do ego”, sublinha Echo Delta. “Estes sítios onde vamos não nos pertencem, são de toda a gente”.

2 Jul 2017

Hong Kong, 20 anos | Quase 200 mil pessoas residem em fracções subdivididas

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]em menos de sete metros quadrados o espaço a que Wong chama de casa. Localizado num prédio do bairro mais pobre de Hong Kong, reflecte as condições miseráveis em que milhares sobrevivem num dos territórios mais ricos da Ásia.

Wong, de 55 anos, subiu as escadas sem perder o fôlego, habituada que está à rotina de viver num quinto andar sem elevador de um prédio antigo de Sham Shui Po. À boa maneira chinesa, deixa o calçado à porta do minúsculo espaço pelo qual paga 3200 dólares de Hong Kong por mês.

O beliche ocupa boa parte dos aproximadamente 6,5 metros quadrados da fracção subdividida onde mora. A parte inferior serve para dormir, a superior para guardar os poucos pertences: volumosos sacos pretos quase tapam os lençóis sobre os quais pousam ainda utensílios do dia-a-dia, produtos de higiene ou um rádio.

Ao lado do beliche encontra-se um frigorífico, com um microondas por cima, defronte para um móvel de gavetas de plástico onde está uma televisão. Por cima, funciona quase ininterruptamente uma ventoinha fixa na parede que ajuda a suportar o calor. Existe uma pequena janela, mas nunca se abre, porque lá fora há “apenas lixo”, diz Wong à Agência Lusa.

Do outro lado, a casa de banho e a cozinha formam uma ‘divisão’, ainda que sem porta, onde cabe uma pessoa. A sanita encontra-se ao lado da bancada e o lava-loiça e o lavatório são uma e a mesma coisa, expondo “problemas de higiene” que Wong reconhece, sem ter como os solucionar.

Wong, que é empregada de limpeza, cozinha quase sempre, embora “não seja fácil”, “porque o espaço é muito pequeno”.

Diz ser rara a vez em que vai buscar ‘tapau’, optando por regressar a casa nas duas horas que tem de almoço. A refeição é feita sobre uma pequena mesa, sentada numa cadeira, ambas desdobráveis, que quando abertas tomam todo o espaço livre entre o beliche e a parede.

Já do tecto brotam peças de roupa penduradas em cruzetas engatadas em pregos, depois de terem sido lavadas à mão numa bacia colocada sobre a tampa da sanita, custando “dores de costas” à simpática Wong.

O único dia de descanso usa-o principalmente para duas coisas: dormir e ir à rua fazer compras. Também vai uma vez por semana à igreja pentecostal à qual pertence, como denuncia um autocolante na porta.

O contrato da chamada unidade subdividida – cujo modelo pode ser adquirido numa papelaria – expira em Fevereiro do próximo ano. Pese embora as condições, Wong não deseja mudar, não só pelo “pesado fardo financeiro” que será pagar um depósito e renda extra, mas porque sabe à partida da dificuldade de encontrar um lugar melhor, compatível com as suas possibilidades.

Wong tem um rendimento mensal de 8900 dólares de Hong Kong, pelo que praticamente metade vai para as despesas relacionadas com a habitação, incluindo água e electricidade.

A morar há quatro anos em Sham Shui Po, só conhece fracções subdivididas desde então. A anterior, onde foi surpreendida com um despejo, era maior, mas igualmente degradada, descreve.

Um elevador faria a “grande diferença” para Wong que se queixa também do “barulho frequente de obras” e “da chatice” de morar no espaço que fica logo à entrada do apartamento subdividido – que tem mais três espaços idênticos – porque, às vezes, os vizinhos acordam-na.

Habitação social não chega

A vida de Wong – chinesa nascida na Indonésia que se mudou para Hong Kong em 1989 e casou, no ano seguinte, com um residente da então colónia britânica – nem sempre esteve confinada a um cubículo.

A separação levou-a a deixar a habitação pública em Ma On Shan, nos Novos Territórios, onde residia com o marido e três filhos, hoje com idades entre 20 e 28 anos, com os quais não mantém contacto. “Nunca me ajudaram, nunca me deram um único dólar”, lamenta.

O seu sonho é voltar a viver numa habitação pública. Contudo, a lista de candidatos é extensa e a espera longa. Além disso, para formalizar o pedido tem de primeiro oficializar o divórcio, um processo em curso graças à ajuda legal que a Society for Community Organization arranjou, explica Gordon Chick, assistente social que a acompanha e que serve como intérprete-tradutor.

Wong foi referenciada pela organização não-governamental há aproximadamente um ano, altura em que foi despejada da anterior fracção subdividida e a ajudaram a arranjar dinheiro para suportar os custos inerentes à mudança. Já Wong destaca antes, com especial carinho, quando lhe consertaram a televisão que se avariara.

Não obstante as duras condições, as suas expectativas são “muito simples”, à imagem e semelhança da sua vida: “Manter o emprego e ter saúde”.

Pelo menos 200 mil pessoas vivem em habitações inadequadas em Hong Kong, em fracções subdivididas de variadas formas, em cubículos ou gaiolas, muitas com condições precárias que constituem um “insulto à dignidade humana”, na descrição da ONU.

2 Jul 2017

Hong Kong, 20 anos | Aumentam pedidos de passaportes britânicos

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]á cada vez mais residentes de Hong Kong a tentarem assegurar passaportes estrangeiros como garantia para o futuro, conta a Reuters. São pessoas que temem o aumento dos conflitos sociais ou uma rápida erosão das liberdades.

A agência combinou dados oficiais, informações de fontes diplomáticas e testemunhos de vários residentes para fazer aquilo que diz ser “o retrato de uma ansiedade crescente em relação ao futuro”. Sobretudo entre a nova geração, a influência cada vez maior de Pequim é encarada como uma sombra.

A procura de passaportes estrangeiros cresceu a partir do momento em que a sociedade se fragmentou, na sequência do movimento Occupy de 2014. O facto de haver quem peça a independência – uma linha vermelha que o Governo Central não deixa pisar – contribuiu para o aumento dos receios, assim como o episódio do desaparecimento de vários editores e livreiros de Hong Kong.

“Em 2047, acaba o período da transição e não sabemos o que irá acontecer. Estou a preparar-me para o pior”, conta Dennis Ngan, um jovem de 25 anos. À semelhança de vários amigos, vai renovar o seu BN(O) – o passaporte britânico especial dado aos permanentes residentes antes de 1997. No ano passado, foram emitidos mais de 37.500 documentos deste género, um aumento de 44 por cento em relação a 2015 e o número mais elevado da última década.

O BN(O) não dá direito à residência no Reino Unido, mas os seus titulares podem permanecer seis meses e têm garantida protecção consular britânica. As autoridades do Reino Unido não forneceram à Reuters dados sobre os passaportes emitidos este ano, nem o número de pessoas que pediram a cidadania. No entanto, fontes diplomáticas da agência garantiram que houve “uma corrida aos pedidos de cidadania”, um fenómeno que justificam com as preocupações sobre o futuro do território.

Outras possibilidades

Há quem prefira olhar para o Canadá: o número de residentes de Hong Kong com passaporte do país cresceu substancialmente entre 2005 e 2015. Também Taiwan é visto como uma possível saída. Só no ano passado, 1086 pessoas de Hong Kong passaram a ser residentes da ilha, o valor mais elevado da última década.

Em 2015, o número de cidadãos da RAEHK que pediu residência permanente na Coreia do Sul foi sete vezes superior ao registado em 2007. Os vistos concedidos pelos Estados Unidos aumentaram 22 por cento de 2015 para 2016.

2 Jul 2017

Hong Kong, 20 anos | Primeira geração pós-97 não se identifica com a China

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]asceu no ano da transferência de soberania. Chau Ho-oi tem hoje 20 anos e houve uma altura em que sentia um orgulho imenso em pertencer a um território que faz parte da Grande China. Em entrevista à Reuters, a jovem recorda um desses momentos: os Jogos Olímpicos de Pequim 2008, em que a selecção nacional conquistou 48 medalhas de ouro, mais do que qualquer outro país. Chan tinha 11 anos.

“Achava que a China era óptima. Se me perguntassem, na altura, se me sentia chinesa, dizia imediatamente que sim”, conta. Nove anos depois, a forma como lida com o país modificou-se. E não é a única: a primeira geração pós-transferência está, cada vez mais, a virar as costas ao Continente.

De acordo com um estudo da Universidade de Hong Kong publicado na semana passada, apenas 3,12 por cento dos 120 jovens entrevistados consideram ser “chineses”. Os inquiridos têm entre 18 e 29 anos. Há duas décadas, quando o estudo começou a ser feito, 31 por cento diziam ter um sentimento de pertença à China.

A Reuters conversou com dez jovens nascidos em 1997. Todos eles, incluindo um migrante da China Continental a viver na antiga colónia britânica, afirmaram que se identificam como “Hong Kongers”. E acrescentaram que a lealdade que sentem é para com a cidade.

Para esta forma de estar contribuíram em muito vários acontecimentos percepcionados pelos residentes como manobras de Pequim para controlar o território. Em 2012, o então adolescente de 15 anos Joshua Wong arrastou milhares de pessoas para as ruas em protesto contra um novo currículo nacional obrigatório, entendido como uma “lavagem cerebral” aos estudantes, que tinha como objectivo promover o patriotismo. O currículo acabou por ser engavetado.

Dois anos depois, aconteceu o movimento “Occupy”, mais uma vez com Joshua Wong ao leme. Foram 79 dias de protestos nas ruas numa tentativa – falhada – de pressionar Pequim a autorizar o sufrágio directo universal para a eleição do Chefe do Executivo.

O desaparecimento de vários editores de Hong Kong e os esforços de Pequim para que dois jovens deputados eleitos, ambos pró-independentistas, fossem afastados do Conselho Legislativo também abalaram a confiança no princípio “Um país, dois sistemas”.

O medo invisível

Vinte anos depois da transferência de soberania, as perspectivas não são animadoras. A estudante Candy Lau tem receio de que a vida em Hong Kong seja cada vez mais controlada. A jovem teme que “a vigilância massiva da China Continental” chegue a Hong Kong, que deixará de ser “uma cidade segura”. “É um medo invisível”, diz.

Há cada vez mais jovens a lutarem pela autonomia do território e, nos últimos anos, surgiu uma palavra nova no léxico político local: a independência, ideia que é, obviamente, afastada por Pequim com veemência.

No mês passado, o número três da hierarquia chinesa, Zhang Dejiang, responsável pelos assuntos de Hong Kong, vincou que é necessário “reforçar a educação nacional junto da juventude de Hong Kong e desenvolver conceitos correctos acerca do país desde tenra idade”, para que a população mais nova possa “amar a pátria”.

Carrie Lam, que toma amanhã posse como Chefe do Executivo, não perdeu tempo: em declarações à Agência Xinhua, prometeu que vai cultivar o conceito “Eu sou chinês” desde as creches.

A agência oficial chinesa deu conta da participação de 120 mil jovens de Hong Kong em programas de intercâmbio com o Continente, no âmbito do 20.o aniversário da transferência. Para os entrevistados da Reuters, estes esforços podem ser contraproducentes.

“Como é que o Governo não percebe que quanto mais obriga as pessoas de Hong Kong a amar a China, mais força dá à oposição?”, pergunta o jovem Jojo Wong.

A importância da cultura

Até mesmo os estudantes mais moderados, que dizem não ter qualquer posicionamento político – como é o caso de Felix Wu –, preferem identificar-se primeiro como sendo “Hong Kongers” e só depois fazem referência ao facto de serem da etnia Han.

“A China é um mercado muito grande e Hong Kong tem necessidade de se integrar neste mercado”, afirma Wu. “Mas politicamente prometeram que nada iria mudar durante 50 anos. Acho que estão a faltar um pouco à palavra.”

Ludovic Chan, um estudante de Gestão que quer ser funcionário público, também diz ser um “Hong Konger”, mas não vê como é que o seu sentimento de pertença conflitua com o facto de ser chinês. “As duas culturas diferentes podem coexistir. Não deviam estar sempre a dizer que Hong Kong e a China têm de estar integrados. Mas os dois lados deviam tentar um entendimento mútuo.”

Há estudantes do Continente a viverem na antiga colónia britânica que olham para a questão de uma forma mais optimista. “Vinte anos são apenas o início”, lança Yoshi Yue, a viver na RAEHK há três anos. “Irão lentamente desenvolver um sentimento de pertença. Vem da cultura, não da política.”

2 Jul 2017

Hong Kong, 20 anos | Aproximação à China com impacto no modo de vida

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] historiador Jason Wordie considera que as maiores mudanças dos últimos 20 anos em Hong Kong estão relacionadas com o aumento de turistas e residentes da China continental.

O fluxo de gente vinda do outro lado da fronteira teve um efeito quase transversal: o comércio passou a estar subordinado aos seus interesses, alterando a fisionomia de grandes partes da cidade, e o excesso de gente em quase todos os espaços públicos gerou uma tensão que explica, pelo menos em parte, a contestação política actual.

“Há 150 mil pessoas por dia a vir da China. Desde a transferência, mais de um milhão passou a residir em Hong Kong”, salienta o britânico, a viver na cidade há três décadas.

Dados oficiais indicam que dos 7,3 milhões de habitantes de Hong Kong 2,2 milhões nasceram na China Continental, em Macau ou em Taiwan. Em 2016, mais de 56 milhões de turistas visitaram a cidade, a maioria da China.

“Há 20 anos não havia o fluxo de turismo da China. Em algumas zonas vemos que o comércio mudou. Locais onde originalmente as pessoas comuns viviam, tornaram-se áreas de comércio para os ‘mainlanders’. Sítios que costumavam ser cafés, bancas de jornais, agora vendem cosméticos ou produtos de leite ou alguma coisa que os chineses querem”, aponta.

Isto veio alterar o ambiente de vastas partes da cidade, onde “é preciso andar muito para se encontrar uma papelaria”. Segundo Wordie, há um sentimento de que a cidade foi, de alguma forma, sequestrada.

O historiador lembra um protesto numa zona pacata, Yuen Long, que considerou compreensível, perante o cenário de fim-de-semana, em que “as pessoas comuns não conseguem atravessar a rua porque toda aquela gente está lá, com malas de viagem, a comprar coisas”. O mesmo se passa na piscina pública, onde grupos turísticos terminam as visitas, e subitamente “estão lá mais 300 pessoas”.

“Os residentes sentem: Esta é a minha cidade, é o meu dia de folga e não consigo entrar num café, ir ao cinema”, explica.

Wordie destaca que o volume chama a atenção para a origem, que noutra situação não seria problemática. “As pessoas sentem-se pressionadas. Além disso, os que vêm de fora têm um nível cultural diferente e há choques. Quando subitamente são 18h e o metro está a abarrotar, há pessoas a empurrar… Isso enfatiza a diferença. Quando as pessoas são fisicamente confrontadas com outras faz com que digam: Nós não somos como eles”, comenta.

O número de visitantes da China começou a aumentar em 2003, depois de serem lançadas medidas para facilitar a entrada, após um surto de pneumonia atípica. No entanto, foi a partir de 2008 que “os números aceleraram muito” e isso deu “um grande empurrão à situação política”, de grande contestação.

A presença dos chamados ‘mainlanders’ aliou-se se a outros factores que fazem com que hoje Hong Kong seja “mais como a China”. “Ouve-se mais mandarim, o Governo parece-se mais com o da China, é mais burocrático”, exemplifica.

O valor do antigo

No topo das cidades mais caras do mundo, Hong Kong esticou as pernas nas últimas duas décadas: tem um novo aeroporto, os aterros permitiram-lhe crescer, tem novas pontes, mais linhas de metro, mais construção em altura. Mas este ímpeto de modernização gerou a vontade de proteger as primeiras vítimas do desenvolvimento desenfreado, os edifícios.

“Há uma lojinha em processo de ser preservada, tem 130 anos, uma arquitectura interessante, é uma sobrevivente, mas ouvindo alguns dos activistas até parece que é o Coliseu de Roma”, ironiza o autor de três livros sobre a história de Hong Kong, admitindo que esse tipo de movimentação “é sinal que as pessoas sentem que tudo está a mudar e têm de se agarrar a algo”.

“As pessoas precisam de alguns edifícios velhos”, que carregam a memória e a identidade do espaço.

Há 114 edifícios protegidos em Hong Kong (considerados monumentos) e outros mil classificados como tendo algum valor histórico. No entanto, nem todos os imóveis com valor estão nas mãos do Governo e os elevadíssimos preços fazem com que não seja viável a aquisição dos que estão na mão de privados.

“O promotor imobiliário vai dizer ‘Isto não é histórico, é só velho e posso ganhar dez mil milhões de dólares [de Hong Kong] com ele’”, aponta Wordie.

O historiador, que organiza passeios históricos pela cidade orientados para residentes, entende que entre 2003 e 2014 “gerou-se uma verdadeira consciencialização em Hong Kong sobre questões de património, ambientais, de igualdade, por melhores políticas sociais”.

“As pessoas sentiam-se com poder”, principalmente depois de meio milhão de ter saído à rua, para rejeitar a adopção da legislação sobre o Artigo 23.o – e ter conseguido. “Nos últimos cinco anos isso acabou.”

“As pessoas olham em volta e dizem: ‘Qual é o objectivo? Não está a funcionar, ninguém está a ouvir, estou a perder tempo’. Muitos juntaram as peças e perceberam que vai tudo dar à política”, afirma.

2 Jul 2017

António Lobo Antunes – “Juro que não vou esquecer”

“Juro que não vou esquecer”

[dropcap]N[/dropcap]unca vou esquecer o olhar da rapariga que espera o tratamento de radioterapia. Sentada numa das cadeiras de plástico, o homem que a acompanha (o pai?) coloca-lhe uma almofada na nuca para ela encostar a cabeça à parede e assim fica, magra, imóvel, calada, com os olhos a gritarem o que ninguém ouve. O homem tira o lenço do bolso, passa-lho devagarinho na cara e os seus olhos gritam também: na sala onde tanta gente aguarda lá fora, algumas vindas de longe, de terras do Alentejo quase na fronteira, desembarcam pessoas de maca, um senhor idoso de fato completo, botão do colarinho abotoado, sem gravata, a mesma nódoa sempre na manga (a nódoa grita) caminhando devagarinho para o balcão numa dignidade de príncipe. É pobre, vê-se que é pobre, não existe um único osso que não lhe fure a pele, entende-se o sofrimento nos traços impassíveis e não grita com os olhos porque não tem olhos já, tem no lugar deles a mesma pele esverdeada que os ossos furam, a mão esquelética consegue puxar da algibeira o cartãozinho onde lhe marcam as sessões. Mulheres com lenços a cobrirem a ausência de cabelo, outras de perucas patéticas que não ligam com as feições nem aderem ao crânio, lhes flutuam em torno. E a imensa solidão de todos eles. À entrada do corredor, no espaço entre duas portas, uma africana de óculos chora sem ruído, metendo os polegares por baixo das lentes a secar as pálpebras. Chora sem ruído e sem um músculo que estremeça sequer, apagando-se a si mesma com o verniz estalado das unhas. Um sujeito de pé com um saco de plástico. Um outro a arrastar uma das pernas. A chuva incessante contra as janelas enormes. Plantas em vasos. Revistas que as pessoas não lêem. E eu, cheio de vergonha de ser eu, a pensar faltam-me duas sessões, eles morrem e eu fico vivo, graças a Deus sofri de uma coisa sem importância, estou aqui para um tratamento preventivo, dizem-me que me curei, fico vivo, daqui a pouco tudo isto não passou de um pesadelo, uma irrealidade, fico vivo, dentro de mim estas pessoas a doerem-me tanto, fico vivo como, a rapariga de cabeça encostada à parede não vê ninguém, os outros (nós) somos transparentes para ela, toda no interior do seu tormento, o homem poisa-lhe os dedos e ela não sente os dedos, fico vivo de que maneira, como, mudei tanto nestes últimos meses, os meus companheiros dão-me vontade de ajoelhar, não os mereço da mesma forma que eles não merecem isto, que estúpido perguntar

– Porquê ?

que estúpido indignar-me, zango-me com Deus, comigo, com a vida que tive, como pude ser tão desatento, tão arrogante, tão parvo, como pude queixar-me, gostava de ter os joelhos enormes de modo que coubessem no meu colo em vez das cadeiras de plástico

(não são de plástico, outra coisa qualquer, mais confortável, que não tenho tempo agora de pensar no que é)

isto que escrevo sai de mim como um vómito, tão depressa que a esferográfica não acompanha, perco imensas palavras, frases inteiras, emoções que me fogem, isto que escrevo não chega aos calcanhares do senhor idoso de fato completo

(aos quadradinhos, já gasto, já bom para deitar fora)

botão de colarinho abotoado, sem gravata e no entanto a gravata está lá, a gravata está lá, o que interessa a nódoa da manga

(a nódoa grita)

o que interessa que caminhe devagar para o balcão mal podendo consigo, doem-me os dedos da força que faço para escrever, não existe um único osso que não lhe fure a pele, entende-se o sofrimento nos traços impassíveis e não grita com os olhos porque não tem olhos já, tem no lugar deles a mesma pele esverdeada que os ossos furam e me observa por instantes, diga

– António

senhor, por favor diga

– António

chamo-me António, não tem importância nenhuma mas chamo-me António e não posso fazer nada por si, não posso fazer nada por ninguém, chamo-me António e não lhe chego aos calcanhares, sou mais pobre que você, falta-me a sua força e coragem, pegue-me antes você ao colo e garanta-me que não morre, não pode morrer, no caso de você morrer eu

No caso de você e da rapariga da almofada morrerem vou ter vergonha de estar vivo.

António Lobo Antunes

30 Jun 2017

Viagens a Taiwan | Ordem para controlo dos professores veio do Governo

Na Universidade Macau, também os funcionários têm de participar eventuais idas a Taiwan. E, tal como os docentes, apresentar um relatório na vinda. A ordem para estas medidas, que estão a pôr muitos a duvidar do segundo sistema, veio do Governo da RAEM.

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s professores e os funcionários da Universidade de Macau (UM) que se queiram deslocar, em viagem particular, a Taiwan são obrigados a participar e justificar o facto à direcção da UM.

Mas as novas regras não se ficam por aqui: no regresso, os responsáveis pela escola esperam do “atrevido” viajante a apresentação de um relatório que detalhe as suas actividades na ilha. Com quem falou e sobre o quê, que livrarias frequentou e que livros leu, com quem jantou e porquê, eventualmente, o que petiscou.

Contudo, estas regras não foram inventadas pela reitoria da UM, nem por nenhum conselho da universidade ou sequer numa eventual reunião “patriótica” de professores. O Hoje Macau sabe que se tratou de uma imposição do Governo da RAEM ao estabelecimento de ensino público, de uma ordem cuja origem está num departamento governamental.

Resta agora saber se a ordem partiu directamente de Chui Sai On, do seu gabinete, de mais alto via Chefe do Executivo, ou se alguma Secretaria do Governo de Macau está preocupada com eventuais actividades subversivas dos professores da UM ao ponto de lhes querer controlar a vida privada, no caso de entenderem deslocar-se a Taiwan.

Isto não é o segundo sistema

O caso está a provocar uma forte celeuma entre os professores. “Quando se metem na vida privada de cada um, incluindo pessoas que não desenvolvem qualquer acção política, então isto já não é o segundo sistema. Há algo de muito errado nisto tudo”, disse um docente ao HM, que pediu o anonimato.

O caso foi levantado numa entrevista concedida no domingo ao canal em inglês da TDM pelo professor Hao Zhidong, que o HM seguiu na sua edição de segunda-feira. Ontem o jornal Ponto Final falava com o professor Rui Martins, da direcção da UM, que garantia por ali existir total liberdade para investigar. Quanto às viagens a Taiwan, Rui Martins delegou a resposta no Gabinete de Comunicação da UM.

Na impossibilidade de chegar directamente à fala com o referido gabinete, o HM enviou o habitual email ao estabelecimento de ensino, não obtendo resposta até ao fecho desta edição.

29 Jun 2017

CAEAL detectou caso de alegadas informações falsas

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) anunciou ontem que encaminhou para a polícia um caso de alegado fornecimento de informações falsas na angariação de assinaturas para a constituição de comissões de candidatura.

“Depois da investigação é que vamos saber se a candidatura é válida ou não. Se verificarmos que é verdade, então é considerado um crime que será punido com um a cinco anos de pena de prisão”, afirmou o presidente da CAEAL, Tong Hio Fong, garantindo tratar-se apenas de um caso.

Por motivos de investigação, Tong não avançou qualquer outra informação acerca da lista ou da infração, que foi detectada no âmbito do caso das subscrições múltiplas.

Na véspera do fim do prazo para a validação das candidaturas às eleições de 17 de Setembro, estão identificados 118 casos de eleitores que subscreveram, em simultâneo, mais do que uma comissão de candidatura, o que viola a lei.

“Na última semana tivemos encontros com algumas pessoas de subscrição múltipla e descobrimos que, por exemplo, durante a angariação de assinaturas tentaram (…) fornecer informações falsas, com artifícios fraudulentos tentaram angariar assinaturas”, disse o presidente da CAEAL, indicando que este caso diz respeito a uma candidatura.

O procedimento a adoptar relativamente à subscrição múltipla tem sido o de contactar os eleitores, no sentido de apurar as circunstâncias e a intenção com que o fizeram, após a descoberta dos primeiros casos ter exposto diferenças entre a versão chinesa e a portuguesa num artigo da lei eleitoral, que só pode ser resolvido depois do escrutínio.

Dos 118 eleitores identificados nesta situação, apenas 33 foram contactados, com o juiz a indicar que a comissão vai “tentar acelerar o processo de encontro”.

Tudo em ordem

Até agora foram validados 31 pedidos de reconhecimento de comissões de candidatura, 25 dos quais para o sufrágio directo e os restantes para o indirecto. Na última reunião da CAEAL, na semana passada, Tong Hio Fong tinha informado que quatro pedidos de comissão de candidatura (todas do sufrágio directo) apresentavam insuficiências. Ontem, o responsável indicou que os problemas foram ultrapassados e todas foram validadas.

29 Jun 2017

Palácio Sommer | Liu Chak Wan tinha sido mandatado pela Fundação Macau

Liu Chak Wan foi incumbido pela Fundação Macau para acompanhar a compra do Palácio Sommer em Portugal. O empresário adquiriu o imóvel, em nome próprio, que depois foi revendido à entidade que o tinha mandatado. A instituição de Wu Zhiliang não vê qualquer problema, mas gastou mais sete milhões

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s esclarecimentos da Fundação Macau (FM) surgem um dia depois de se ter ficado a saber, pela Rádio Macau, que a entidade comprou um palácio em Portugal a Liu Chak Wan, membro do conselho de curadores da instituição. A aquisição foi feita no início de 2015, mas o negócio ficou no segredo dos deuses. Até agora.

Em comunicado, a entidade liderada por Wu Zhilliang tenta afastar um eventual conflito de interesses, apesar de explicar que Liu Chak Wan foi mandatado para os investimentos que a FM decidiu fazer em Lisboa. A instituição dá a entender que não houve qualquer irregularidade no processo.

De acordo com as explicações da fundação, o conselho de curadores decidiu criar um grupo consultivo de investimento, estrutura formalmente aprovada em 2014. No mesmo ano, em Março, a FM pediu à Delegação Económica e Comercial da RAEM em Lisboa um parecer sobre projectos de investimento imobiliário. A instituição pretendia “aproveitar a crise imobiliária que se verificava na altura no mercado português (…) e aproveitar o imóvel a adquirir para instalar a delegação, atribuindo-lhe instalações condignas”.

Foi a Delegação Económica e Comercial que propôs o Palácio Sommer. Depois de ter visto dois imóveis, entendeu que era “o mais adequado para ser a nova sede da delegação”. Localizado no centro de Lisboa, trata-se de um complexo de património cultural composto por três andares (e mais dois pisos subterrâneos) e um jardim independente, com uma área de 2634 metros quadrados, descreve a Fundação Macau.

Antes ele que outros

Uns meses depois, em Julho, o grupo consultivo de investimento da FM discutiu a proposta da delegação de Lisboa, tendo resolvido mandatar Liu Chak Wan – membro desse grupo – para acompanhar o projecto. O empresário tratou do assunto rapidamente: pegou no livro de cheques e afastou a concorrência.

“Como surgiram na altura outros potenciais compradores, o Sr. Liu resolveu comprar em Outubro de 2014, em nome próprio, o referido imóvel por um valor de 6,3 milhões de euros (que equivalia a 64,946.839 patacas à taxa cambial do dia da transacção), tendo informado o grupo [consultivo de investimento] em 9 de Outubro de 2014 da dita aquisição”, explica a FM.

Exactamente no mesmo dia em que Liu Chak Wan contou que tinha comprado o Palácio Sommer, o grupo consultivo de investimento discutiu a viabilidade da aquisição do imóvel por parte da Fundação Macau. Por essa altura, o empresário tinha alegado impedimento para participar no debate. A FM “entendeu que seria um bom investimento, salvaguardando, no entanto, a obtenção prévia de alguns pareceres técnicos, tais como uma avaliação rigorosa do imóvel e dos encargos fiscais, a fim de garantir os interesses da fundação”.

De acordo com a FM, “o grupo propôs ao Conselho de Curadores que o Sr. Liu transferisse o imóvel para a fundação pelo valor original da transacção, caso o Conselho de Curadores entendesse viável esse investimento da fundação”.

Mais sete milhões

Em Dezembro de 2014, a FM recebeu o relatório do estudo de avaliação elaborado por “uma outra agência imobiliária portuguesa”, que avaliava o imóvel em 9018.060 euros (equivalente a 88,933.402 patacas). Nessa data, recebeu também o parecer jurídico sobre a tributação.

A proposta do grupo consultivo de investimentos para a aquisição foi aprovada pelo Conselho de Curadores em Janeiro de 2015. Cumpridas as formalidades legais, o imóvel passou para as mãos da FM em Setembro do mesmo ano.

Apesar de ter adquirido o palácio pelo mesmo preço que tinha custado a Liu Chak Wan, a Fundação Macau ainda teve de desembolsar quase mais sete milhões de patacas. A entidade justifica o valor com “impostos, despesas com investigação, despesas com avaliação de imóvel, taxas de registo, honorários, custos de remessa bancária e custos com segurança, água e electricidade”. Feitas as contas, o valor total do investimento foi de 71,896.688 patacas.

Dois anos depois, a Fundação Macau “está a proceder a estudos com vista à remodelação do imóvel”. O Palácio Sommers será disponibilizado à Delegação da RAEM em Lisboa. Fica por explicar a razão pela qual a compra não foi tornada pública.

29 Jun 2017

Vhils inaugura amanhã primeira exposição individual em Pequim

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] artista português Alexandre Farto, que assina como Vhils, inaugura amanhã “Imprint”, a sua primeira exposição individual em Pequim, composta por cerca de 70 retratos esculpidos em baixo relevo.

“Imprint” é constituída inteiramente por trabalhos novos, que espelham “a reflexão contínua do artista sobre a relação entre as cidades contemporâneas e os seus habitantes”, lê-se no texto de apresentação da exposição.

No Cafa Art Museum estarão expostos cerca de 70 retratos, “cada um esculpido num bloco independente”. Embora tenha Pequim como ponto de partida, a exposição “pretende ser simbolicamente representativa dos processos de trabalho numa outra qualquer cidade em qualquer parte do mundo”.

“Enquanto cada retrato fala de individualidade e singularidade, os materiais nos quais são esculpidos falam significativamente de uniformidade e homogeneização, uma vez que estes blocos produzidos em massa podem facilmente ser encontrados em estaleiros de obra e edifícios em todo o mundo”, refere.

Apesar de “Imprint”, que estará patente entre sexta-feira e 23 de Julho, ser a primeira exposição individual de Vhils em Pequim, não é a primeira na China. Em Maio, Vhils inaugurou a primeira exposição individual em Macau, acompanhada de uma série de murais, um trabalho em que o artista português afirma ter saído da zona de conforto.

A mostra em Macau seguiu as linhas da primeira exposição individual em Hong Kong, no ano passado, igualmente designada “Debris”, e que foi fruto de um trabalho de quase dois anos de preparação no âmbito de uma residência artística que Vhils realizou na antiga colónia britânica.

Nascido em 1987, Alexandre Farto cresceu no Seixal, onde começou por pintar paredes e comboios com graffiti, aos 13 anos, antes de rumar a Londres, para estudar Belas Artes, na Central Saint Martins. Captou a atenção a ‘escavar’ muros com retratos, um trabalho que tem sido reconhecido ao nível nacional e internacional e que já levou o artista a vários cantos do mundo.

Além de várias criações em Portugal, Alexandre Farto tem trabalhos em países e territórios como a Tailândia, Malásia, Hong Kong, Itália, Estados Unidos, Ucrânia, Brasil.

Em 2014, inaugurou a sua primeira grande exposição numa instituição nacional, o Museu da Electricidade, em Lisboa: “Dissecação/Dissection” atraiu mais de 65 mil visitantes em três meses.

Esse ano ficaria também marcado pela colaboração com a banda irlandesa U2, para quem criou um vídeo incluído no projecto visual “Films of Innocence”, editado em Dezembro de 2014, e é um complemento do álbum “Songs of Innocence”.

Em 2015, o trabalho de Vhils também chegou ao espaço, através da Estação Espacial Internacional, no âmbito do filme “O Sentido da Vida”, do realizador Miguel Gonçalves Mendes.

Paralelamente ao desenvolvimento da sua carreira criou, com a francesa Pauline Foessel, a plataforma Underdogs, projecto cultural que se divide entre arte pública, com pinturas nas paredes da cidade, e exposições dentro de portas, em Lisboa.

29 Jun 2017

Embaixador americano quer Liu Xiaobo tratado no estrangeiro

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] novo embaixador dos Estados Unidos na China reiterou nesta quarta-feira o “desejo” de que Liu Xiaobo, vencedor do Nobel da Paz em 2010, recentemente libertado, possa viajar ao exterior para receber tratamento médico.

O embaixador Terry Branstad, que conhece o presidente chinês Xi Jinping, chegou a Pequim um dia depois da libertação de Liu Xiaobo, vítima de um cancro no fígado em fase terminal.

“Os nossos pensamentos estão com ele e a sua mulher e estamos dispostos a fazer o que pode ser feito para ver se é possível”, afirmou o diplomata americano a respeito de uma viagem ao exterior. “Como americanos gostaríamos que ele tivesse a oportunidade de receber tratamento em outro lugar, caso isto o ajude”, completou.

Liu Xiaobo foi condenado em 2009 a 11 anos de prisão por “subversão” depois de assinar a Carta 8, que defendia uma democracia pluralista na China. O advogado do dissidente, Mo Shaoping, afirmou à AFP que, em tese, as pessoas em liberdade condicional não podem viajar ao exterior. Mas explicou que a possibilidade existe se, como prevê a lei chinesa, Liu for considerado um “caso especial”.

O jornal Global Times, ligado ao governo, considerou nesta quarta-feira que um exílio do dissidente poderia “estimular ainda mais os ataques da opinião pública ocidental contra a China”. “Mas, por outro lado, o Ocidente teria menos interesse nele se deixasse a China”, completa o jornal.

Terry Branstad, 70 anos, ex-governador do estado de Iowa, conhece o presidente chinês desde 1985, quando Xi Jinping, na época um jovem dirigente, fez uma viagem de estudos aos Estados Unidos.

29 Jun 2017

Tráfico humano | EUA colocam China na lista negra

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s Estados Unidos adicionaram a China a uma lista negra de países que não lutam o suficiente contra o tráfico humano, que integra 23 países, incluindo a Síria, a Coreia do Norte e a Rússia.

O relatório anual do Departamento de Estado norte-americano ontem divulgado incluiu nomeadamente o tratamento dispensado à minoria uigur, que é alvo de trabalho forçado, e ainda o repatriamento forçado de refugiados norte-coreanos na China.

A diplomacia norte-americana acredita que Pequim “não está a fazer esforços significativos” para resolver esta situação. Pequim “não tomou medidas sérias” para solucionar a questão, declarou o secretário de Estado norte-americanos, Rex Tillerson. “Os consumidores norte-americanos devem reconhecer que poderão ter uma ligação indesejada com o trabalho forçado” através dos produtos que compram, acrescentou o secretário de Estado.

Os países que estão situados no nível três desta lista sobre o tráfico de pessoas, o mais baixo da tabela, podem ser objecto de sanções que vão desde a restrição na assistência norte-americana ao término de trocas culturais ou educativas com os Estados Unidos. Estas medidas punitivas são deixadas ao critério de apreciação da Casa Branca.

A República Democrática do Congo (RDCongo), a República do Congo e o Mali estão igualmente nesta lista, nomeadamente pela sua permissividade tolerância às crianças-soldados. O Haiti, que havia descido no ano anterior, subiu para o nível dois graças “aos esforços significativos” na luta contra o tráfico de seres humanos, mas continua “sob vigilância”.

29 Jun 2017

China | Bo Xilai sai da prisão para tratar de cancro

Em dois dias é o segundo prisioneiro chinês notável que sai em liberdade condicional para tratar de um cancro. Liu Xiaobo, primeiro, agora Bo Xilai.

[dropcap style≠’circle’]B[/dropcap]o Xilai, ex-dirigente chinês condenado a prisão perpétua por corrupção, foi colocado em liberdade condicional devido a um cancro no fígado, informou ontem a Radio Free Asia. Segundo a emissora, que cita fonte próxima da família, o cancro do ex-membro do Politburo do Partido Comunista Chinês (PCC) estará num estágio inicial e será tratável.

Bo Xilai, de 67 anos, foi condenado à prisão perpétua, em 2013, por corrupção, fraude e abuso de poder. Foi considerado culpado de ter aceitado subornos no valor de 20,4 milhões de yuan, incluindo uma vivenda em França, e de se ter apropriado de cinco milhões de yuan de fundos públicos.

O abuso de poder que lhe foi imputado está relacionado com a investigação em torno do homicídio de um empresário britânico em Chongqing, em Novembro de 2011, quando Bo Xilai era o líder do PCC na cidade. A mulher, Gu Kailai, foi condenada à morte por esse assassínio, mas a pena acabou por ser comutada para prisão perpétua em 2015.

Bo Xilai chegou a ser um dos políticos mais populares da China e um forte candidato ao Comité Permanente do Politburo do PCC, a cúpula do poder. Ex-ministro do Comércio e filho de um antigo vice-primeiro-ministro, Bo Xilai assumia-se como uma espécie de líder da chamada “nova esquerda”, promovia o revivalismo em torno da Grande Revolução Cultural Proletária (1966-76) e criticava as crescentes desigualdades sociais.

A condenação de Bo Xilai a prisão perpétua foi a mais pesada sentença imposta a um ex-membro do Politburo do PCC em cerca de três décadas e foi considerado uma prova do prometido empenho da nova liderança chinesa em combater a corrupção.

Bo Xilai terá sido diagnosticado com cancro na prisão de Qincheng, em Pequim, e transferido para um hospital perto da cidade de Dalian, nordeste da China.

29 Jun 2017

Negócios | Herdeiros de magnatas com poder acrescido

São os descendentes dos grandes magnatas da região. Já têm poder e preparam-se para ter ainda mais. Herdam muita fortuna e património, que não são necessariamente sinónimos de sucesso garantido. O jeito para os negócios não está nos genes

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] aviso é feito pela Bloomberg aos investidores: não se deve assumir que os filhos dos grandes magnatas são iguais aos pais. O alerta surge a propósito da anunciada saída de cena de três dos principais magnatas da Ásia. Um deles é Stanley Ho, o homem que fez fortuna em Macau no tempo em que o jogo era um monopólio.

Além de Stanley Ho – que deixou de ser, esta semana, o presidente da Shun Tak Holdings – também o milionário Shin Kyuk-ho abandonou a liderança da Lotte, a fábrica de pastilhas elásticas que transformou num dos principais grupos económicos da Coreia do Sul. Aqui ao lado, em Hong Kong, o Wall Street Journal diz que Li Ka-shing, o homem mais rico do território, deverá largar a presidência da CK Hutchison Holdings no próximo ano.

Nos três casos, são os filhos dos magnatas que vão tomar conta dos negócios de família. Já tem sido assim nos últimos anos no caso de Stanley Ho. Apesar de continuar a ser o presidente da SJM Holdings, o magnata está doente há vários anos. São publicamente conhecidos os problemas entre os seus vários filhos, fruto de quatro casamentos. Até 2015, a SJM foi o principal operador de casinos da Ásia. Foi entretanto ultrapassada pela Las Vegas Sands e pelo Galaxy Entertainment Group.

Como manter a lealdade?

A Bloomberg sublinha que a história recente da Ásia não pode ser escrita sem se falar de homens como Ho, Li e Shin, que construíram edifícios, portos e fábricas, muitas vezes partindo do nada. O facto de terem sido pioneiros nas suas áreas de negócio e as ligações políticas que cultivaram ajudaram na consolidação do poder e na construção das fortunas. Muitos investidores, incluindo de carácter institucional, têm sido leais a estas empresas.

No entanto, as gerações que se seguem têm, por norma, dificuldade em manter os negócios dos progenitores. A afirmação da agência é sustentada por um estudo que analisou mais de 200 empresas familiares em Hong Kong, Singapura e Taiwan. Esta análise descobriu que, em média, um accionista que investiu 100 dólares numa destas empresas, cinco anos antes da partida do fundador, ficou com apenas 44 dólares após a sucessão. Segundo os autores do relatório, levado a cabo pela Universidade Chinesa de Hong Kong, é muito raro o valor perdido chegar a ser recuperado.

Outros tempos

A Bloomberg admite, no entanto, que o maior factor para a erosão do valor destas empresas não consta dos relatórios anuais destas empresas. Os bens intangíveis, como as ligações políticas e as redes em que os fundadores se moveram, tendem a desaparecer à medida que os negócios vão passando para as mãos de gerações educadas em moldes mais ocidentais, menos habituadas aos modelos tradicionais de gestão.

Depois, surgem ainda os desafios relacionados com um ambiente global cada vez mais competitivo. O caso de Stanley Ho é disso representativo: desde 1962 que detinha o monopólio do jogo de Macau, uma situação alterada em 2002 por decisão governamental. A liberalização do sector fez com que a sua sucessora, a filha Pansy Ho, não pudesse usufruir das mesmas vantagens.

Há também segmentos destes negócios que faziam todo o sentido quando foram lançados, mas que correm o risco de serem ultrapassados: os transportes por via marítima e as telecomunicações são dois exemplos apontados. Os investidores estão cada vez mais interessados em apostar na chamada nova economia: tecnologia, biotecnologia e energias renováveis.

O espírito empreendedor não é hereditário, vinca a agência. Resta aos herdeiros mostrarem que também eles são capazes de inovar, agora numa nova era.

28 Jun 2017

Turismo | Mais viagens à boleia das eleições

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s viagens de residentes de Macau durante este Verão deverão subir entre 20 a 30 por cento, em comparação com os números registados no ano passado. A previsão é do presidente da Associação da Indústria Turística de Macau. Citado pelo Jornal do Cidadão, Wu Keng Kuong explicou que, na origem do aumento do número de viagens, estarão as eleições legislativas de Setembro próximo, uma vez que várias entidades organizam deslocações, sobretudo para Guangdong.

Já as viagens para a Europa deverão diminuir este ano. O responsável conta que os vários casos de terrorismo levam os residentes locais a evitar destinos europeus. Assim sendo, o Japão e a Coreia do Sul vão estar na lista de preferências das pessoas que passam férias fora do território. Há vários países do Sudeste Asiático que também são procurados e os casos recentes de violência na Tailândia não têm impacto junto da procura local, acredita Wu Keng Kuong.

O presidente da Associação da Indústria Turística de Macau fez ainda referência ao facto de serem cada vez mais os residentes locais que optam por viajar sem estarem integrados em excursões.

Quanto aos turistas que visitam Macau, o responsável não tem em perspectiva uma alteração significativa do tipo de visitantes. Wu destaca, porém, que os hotéis locais têm cada vez maior capacidade para atrair turistas, dada a diversidade de entretenimento existente no Cotai, bem como os preços praticados.

Wu Keong Kuong comentou ainda o recente caso de uma criança que morreu vítima de afogamento numa piscina de uma unidade hoteleira no Cotai. O responsável não acredita que o caso tenha qualquer impacto junto dos turistas que procuram Macau.

28 Jun 2017