Kremlin | Rússia adverte EUA contra efeitos de guerra nuclear

A Rússia advertiu ontem que não há vencedores numa guerra atómica, depois de o Presidente dos Estados Unidos ter anunciado a mobilização de dois submarinos nucleares em resposta a uma alegada ameaça russa. “Numa guerra nuclear não há vencedores”, disse o porta-voz do Kremlin (presidência), Dmitry Peskov na conferência de imprensa telefónica diária, citado pela agência de notícias espanhola EFE.

Peskov pediu cautela nas declarações sobre arsenais nucleares. “Pensamos que toda a gente deve ter muito cuidado com o que diz sobre a questão nuclear”, afirmou Peskov, também citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).

Peskov disse ainda que os dois submarinos norte-americanos anunciados por Trump “já estão em serviço” de forma permanente. “Não queremos ser arrastados para uma tal polémica”, acrescentou.

Donald Trump anunciou na sexta-feira a deslocação de dois submarinos nucleares para “zonas apropriadas”, que não especificou, em resposta a comentários que considerou provocatórios do ex-presidente russo, Dmitri Medvedev (2008-2012).

A ordem de Trump foi dada um dia depois de Medvedev o ter criticado por ter feito um ultimato a Moscovo para acabar com a guerra contra a Ucrânia, iniciada em Fevereiro de 2023. Medvedev considerou o ultimato como “uma ameaça e um passo para a guerra” com os Estados Unidos e advertiu Washington de que a Rússia “não era Israel, nem tão pouco o Irão”.

5 Ago 2025

Chikungunya | Guangdong aplica medidas decisivas à medida que casos de febre alastram

A província chinesa de Guangdong, que faz fronteira com Macau, registou na última semana milhares de novos casos de febre de chikungunya, com as autoridades locais a prometerem “medidas decisivas e vigorosas” para travar a propagação da doença.

Segundo a televisão estatal CCTV, foram detectados 2.892 novos casos na semana terminada no sábado, sem registo de infecções graves ou fatais. A maioria – 2.770 – ocorreu em Foshan, enquanto Cantão, a capital provincial, contabilizou 65 casos.

Num encontro do governo provincial no sábado, o governador Wang Weizhong apelou a medidas “mais resolutas” para “vencer a difícil batalha contra o surto no mais curto espaço de tempo possível”, noticiou o órgão estatal southcn.com.

No mesmo dia, Shen Hongbing, director do Centro Nacional de Controlo e Prevenção de Doenças, visitou Foshan, apelando a esforços rápidos para “eliminar o surto no mais curto prazo e salvaguardar a saúde pública e a estabilidade social”.

A febre de chikungunya é uma doença viral transmitida pelo mosquito Aedes, que provoca febre alta súbita, dores intensas nas articulações, erupções cutâneas e fadiga. Não é transmissível por contacto directo entre pessoas.

Embora raramente seja fatal, a doença pode causar sintomas debilitantes durante semanas. Guangdong é, até agora, a província mais afectada da China, com Foshan – um centro industrial com 10 milhões de habitantes – a representar mais de metade dos casos reportados.

Durante a visita a Foshan, Shen sublinhou ainda a necessidade de uniformizar o tratamento. Na sexta-feira, o Centro de Protecção da Saúde de Hong Kong indicou que todos os casos registados em Foshan eram ligeiros, sem infecções graves ou fatais. No sábado, a região anunciou o primeiro caso de chikungunya desde 2019.

Na reunião provincial em Guangdong, Foshan foi instada a concentrar esforços em áreas-chave e intensificar medidas de controlo direccionadas, criando condições favoráveis para “um ponto de viragem precoce no surto”.

5 Ago 2025

Japão | Registados recordes de calor em 17 localidades

O Japão registou ontem recordes de calor em 17 localidades, depois de Junho e Julho terem sido os meses mais quentes de sempre no arquipélago, anunciou a Agência Meteorológica Japonesa (JMA, na sigla em inglês).

A cidade de Komatsu, na região central de Ishikawa, registou um novo recorde de 40,3 °C, disse a JMA, citada pela agência de notícias France-Presse (AFP). Na mesma região, Toyama registou 39,8 °C, uma temperatura que não ocorria desde o início dos registos, há 126 anos, segundo a agência meteorológica japonesa.

Quinze outras localidades atingiram novos máximos entre 35,7 °C e 39,8 °C, acrescentou a JMA, que monitoriza mais de 900 pontos no arquipélago da Ásia Oriental. No final de Julho, o Japão registou a temperatura mais elevada de sempre, com 41,2 °C em Tamba, na região ocidental de Hyogo.

Os cientistas demonstraram que as alterações climáticas provocadas pelo homem estão a tornar as ondas de calor mais intensas, mais frequentes e mais generalizadas, referiu a AFP.

Os meteorologistas japoneses têm advertido contra uma ligação directa entre condições meteorológicas específicas, como o calor elevado num determinado período, e as alterações climáticas a longo prazo.

No entanto, observaram que o aquecimento global tem vindo a alimentar fenómenos meteorológicos imprevisíveis nos últimos anos.

Em brasa

O Verão de 2024 foi o mais quente alguma vez registado no arquipélago, a par do recorde estabelecido em 2023, seguido do Outono mais quente desde o início dos registos. Este ano, a estação das chuvas terminou na região ocidental cerca de três semanas mais cedo do que o habitual.

Com a fraca pluviosidade e o calor intenso, várias barragens do norte ficaram quase vazias, indicou o Ministério do Território japonês. Os agricultores receiam que a falta de água e o calor extremo causem uma quebra de colheitas.

Outro sinal do aquecimento global tem a ver com as emblemáticas cerejeiras, que estão a florescer mais cedo ou a não florescer porque os Outonos e Invernos não são suficientemente frios para desencadear a floração.

O icónico manto de neve do Monte Fuji só apareceu no início de Novembro de 2024, quase um mês mais tarde do que tem sido normal. Entre os continentes, a Europa registou o aquecimento mais rápido desde 1990, seguida de perto pela Ásia, de acordo com dados da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos.

5 Ago 2025

Lágrimas e crocodilos – Chega de moralismo e lamentos pela «armadilha» industrial chinesa

Por Wang Zichen

Imagem: Wang Qingsong, Can I cooperate with you, fotografia120x200cm,2000

Recentemente, os comentários norte-americanos pintaram um quadro em que a China executa um plano calculado, há muito arduamente elaborado, para atrair empresas estrangeiras para o seu mercado, apenas para extrair a sua tecnologia e estimular os concorrentes nacionais – acabando por descartar as empresas estrangeiras depois de terem cumprido o seu objetivo. Nesta narrativa, uma empresa americana após outra é vítima da suposta armadilha da “tecnologia para o mercado” de Pequim: primeiro a Motorola, depois a Apple e agora a Tesla.

Dois artigos recentes do Wall Street Journal sobre a China (8 de julho e 15 de julho, 2025) resumiram este ponto de vista, contando como a Motorola ajudou a alimentar a indústria de telecomunicações da China apenas para ser ultrapassada, e como a estrela da Tesla na China se desvaneceu à medida que os fabricantes locais de veículos eléctricos cresceram. Cada artigo levava os leitores a uma conclusão precipitada – por exemplo, um terminava com a pergunta: “Como acha que as empresas americanas devem abordar a China actualmente?”, e o seguinte com a pergunta: “Acha que os EUA devem apertar ainda mais as suas restrições tecnológicas à China?” Estas perguntas reforçam o ângulo de que as empresas estrangeiras foram vítimas ingénuas e a China a beneficiária astuta, em vez de convidarem a um debate aberto.

Esta perspectiva unidimensional ganhou ainda mais força com vozes como a do antigo estratega da Casa Branca, Steve Bannon, que foi citado no Financial Times esta semana, troçando a propósito de “as empresas americanas terem passado décadas a ser enganadas, a ser ludibriadas pelo Partido Comunista Chinês, a transferir as jóias da coroa da nossa tecnologia. E, por isso, não receberam nada”. Segundo Bannon, as empresas ocidentais foram essencialmente enganadas – seduzidas pelo mercado chinês, despojadas do seu know-how e deixadas com os bolsos vazios. (Não importa que Bannon tenha forrado o seu próprio bolso com o dinheiro de um vigarista chinês fugitivo.)

Este tipo de narrativa é cativante, sim, mas é também profundamente enganadora. Assenta num tom moralizador e condescendente que simplifica demasiado uma realidade muito mais complexa. Implícita nestas narrativas está a presunção de que a hierarquia global de domínio tecnológico – há muito liderada por empresas ocidentais – deve permanecer fixa para sempre. O tom subjacente é que as empresas ocidentais têm um direito natural à sua liderança e que, se as empresas chinesas as alcançarem ou ultrapassarem, deve haver algo de malicioso em jogo. Há um sentimento quase palpável de indignação pelo facto de um “arrivista” do mundo em desenvolvimento se atrever a desafiar a ordem estabelecida. Esta mentalidade trata o sucesso anterior das empresas ocidentais como legítimo e o avanço das outras como uma violação, ignora a realidade histórica de que todas as grandes potências industriais se ergueram aprendendo com os outros.

No passado, o próprio Ocidente tomava emprestada ou roubava tecnologia livremente: como disse uma análise da Associated Press: “A nação emergente era um antro de pirataria intelectual” – no final do século XVIII e início do século XIX, essa “nação pária” eram os Estados Unidos, cujo Secretário do Tesouro Alexander Hamilton apoiou o roubo de segredos industriais britânicos. Os primeiros americanos pirateavam projectos de máquinas têxteis e atraíam artesãos britânicos; na verdade, os EUA eram “a China do século XIX”, nas palavras de um artigo da Foreign Policy de um vencedor do prémio Loeb. Só depois de se tornarem líderes industriais é que os Estados Unidos defenderam protecções rigorosas da Propriedade Intelectual.

Ao recriar os processos de desenvolvimento industrial e de difusão do conhecimento como sendo exclusivamente nefastos quando a China o faz, a narrativa actual associa o avanço nacional à ilegitimidade. Confunde a perda de um monopólio ocidental com a perda de justiça. O tom moralizador faz mais do que provocar cepticismo intelectual – gera uma espécie de ressentimento. É como se o domínio ocidental na inovação fosse considerado a ordem natural e qualquer desafio fosse automaticamente suspeito. Estas narrativas, envoltas na linguagem da justiça e da “batota”, soam muitas vezes a lamentos velados pela perda de privilégios. Dizem aos leitores o que devem pensar – a China é má, o Ocidente foi enganado – em vez de encorajar uma análise genuína do modo como a tecnologia e o poder funcionam efectivamente numa economia globalizada. O resultado é menos jornalismo do que ideologia, alimentando uma espécie de ansiedade tecno-nacionalista que substitui a indignação moral pela clareza analítica.

Durante décadas, a estratégia industrial da China assentou no princípio da troca de acesso ao mercado por tecnologia – algo explicitamente articulado por Deng Xiaoping já na década de 1980. Longe de ser uma armadilha, tratou-se de um negócio deliberado e transparente que permitiu que ambas as partes beneficiassem.

Tomemos como exemplo a General Motors (GM). A GM entrou na China na década de 1990 através de uma empresa comum e, em 2010, a GM estava a vender mais carros na China do que nos Estados Unidos. A procura de automóveis na China constituía uma enorme oportunidade de mercado, e o sucesso da GM, outrora, tornou-se uma parte vital do seu negócio global. As vendas da GM na China atingiram um pico de 4 milhões de veículos por ano no final da década de 2010, o que a tornou no maior mercado automóvel do mundo. Era uma relação mutuamente benéfica – a China dava acesso a um mercado enorme e em rápido crescimento, enquanto a GM ganhava um elevado volume de vendas e eficiência de fabrico.

Agora, considere a Apple. Ao longo da última década, a Apple obteve cerca de 227 mil milhões de dólares em lucros operacionais provenientes da China, o que representa mais de um quarto dos seus lucros totais durante esse período. Os lucros da Apple foram reforçados pela montagem dos seus iPhones na China, onde os custos de mão de obra eram mais baratos e fabricantes como a Foxconn tratavam da produção em massa. Esta parceria permitiu à Apple obter enormes poupanças de custos, ao mesmo tempo que construía uma cadeia de abastecimento de classe mundial na China.

Este não é um caso isolado. Nos primeiros anos de atividade da Tesla na China, a empresa recebeu um apoio substancial do governo chinês, incluindo a primeira fábrica estrangeira detida a 100% em Xangai, que também facilitou terrenos e empréstimos. As vendas do Modelo 3 da Tesla dispararam na China e a empresa tornou-se um dos veículos eléctricos mais vendidos no país. A ascensão dos fabricantes chineses de veículos eléctricos, como a BYD e a NIO, pode ter diminuído a quota de mercado da Tesla, mas trata-se de concorrência em ação. A política da China para atrair actores estrangeiros como a Tesla não consistiu em roubar a tecnologia da Tesla, mas sim em introduzir um “catfish” [firma que vem agitar o mercado] e criar um ambiente competitivo que levasse os fabricantes nacionais a inovar. De facto, a Tesla beneficiou muito com a sua presença na China e o mercado local de veículos eléctricos explodiu devido a essa presença. É essa a natureza dos mercados competitivos: surgem novos actores e mesmo as empresas dominantes enfrentam a concorrência, o que leva todos a fazer melhor.

A história da Motorola também foi contada com um toque de nostalgia, que, por exemplo, referia que “a entrada da Motorola não se limitou a construir um mercado; ajudou a construir uma China moderna”. Esta versão, devidamente apimentada com citações de um antigo executivo da Motorola, lamenta a forma como a Motorola se arruinou a si própria devido à generosidade forçada para com a China, omitindo convenientemente algum contexto fundamental. A empresa também perdeu a sua liderança devido a erros estratégicos. Não conseguiu antecipar a revolução dos smartphones e ficou irremediavelmente atrás da Apple e da Samsung, incapaz de igualar a inovação do iPhone ou o boom do Android que se seguiu. E para terminar a ironia, considere este conto pouco conhecido: no final de 2003, a Huawei tentou vender-se à Motorola.

A relação comercial entre os EUA e a China nunca foi um caso em que um lado foi enganado e o outro planeou um grande roubo. As empresas ocidentais tomaram decisões calculadas para entrar na China e, em troca de acesso ao mercado, partilharam alguma da sua tecnologia. A narrativa de que a ascensão da China é um “longo golpe” ignora as contrapartidas legítimas e calculadas feitas por todas as partes. A China não “enganou” estas empresas; ofereceu-lhes acesso ao seu mercado em crescimento em troca de conhecimentos, que a China utilizou para construir a sua própria base industrial.

Em última análise, a história da ascensão da China tem a ver com concorrência – tal como o Japão e a Coreia do Sul competiram outrora com as empresas americanas, a ascensão da China no domínio da tecnologia faz parte de um padrão global de concorrência industrial. Isto não torna as acções da China “maliciosas”; é apenas a forma como o mundo funciona. O Ocidente não tem direito ao domínio eterno da tecnologia e a ascensão da China não deve ser vista como um “roubo”, mas como um desafio competitivo que obriga todos a inovar e a adaptar-se.

De facto, os monopólios do conhecimento e a protecção da propriedade intelectual por parte de poderosas empresas transnacionais sediadas em países de elevado rendimento estão a conduzir a uma intensa concentração da riqueza e do poder das empresas, travando assim o desenvolvimento económico nos países de baixo rendimento. Um artigo recente de Cedric Durand e William Milberg expõe este ponto de forma vigorosa. Os autores constatam um enorme aumento do rendimento internacional gerado pelos direitos de propriedade intelectual entre a década de 1980 e a década de 2010, que se destina quase exclusivamente aos países de elevado rendimento (dominados pelos Estados Unidos). Em 1980, o rendimento gerado pelos pagamentos internacionais relacionados com a utilização da propriedade intelectual era bastante igual em todo o mundo. Em 2016, este rendimento foi cem vezes superior nos países de rendimento elevado do que nos países de rendimento baixo e médio (323 mil milhões de dólares contra 3 mil milhões de dólares).

Devemos também reconhecer que as empresas transnacionais dos países de elevado rendimento – os principais beneficiários das patentes – dependem totalmente da mão de obra e dos sistemas de produção dos países de baixo rendimento para gerar lucros. Por exemplo, a inovação e os lucros inesperados da indústria tecnológica dos EUA não seriam possíveis sem a mão de obra de países como a China e a Índia. De facto, o artigo supracitado de Durand e Milberg sublinha explicitamente que as grandes empresas tecnológicas sediadas nos Estados Unidos obtêm lucros enormes principalmente porque tiram partido do seu poder na economia mundial, e não porque inovam. Quando muito, os países de rendimento elevado devem aos países de rendimento mais baixo enormes quantidades de tecnologia devido ao facto de tirarem partido da sua mão de obra e competências.

Existe um equívoco comum de que as empresas chinesas estão a ultrapassar as empresas americanas. Embora isso seja verdade em alguns sectores – e esteja a acontecer cada vez mais -, a ascensão capitalista da China tem, na verdade, impulsionado o poder estrutural dos EUA em certos aspectos, especialmente ao gerar mais lucros para as empresas americanas. Um estudo de Sean Starrs conclui que a maioria das indústrias globais continua a ser dominada por empresas americanas , ajudadas pela ascensão da China. Starrs salienta que tanto os investimentos na China como as importações de factores de produção da China permitiram às empresas americanas manter o seu domínio global.

Em conclusão, a narrativa da China como uma “armadilha” maliciosa para as empresas estrangeiras é uma moralização fácil e hipócrita que ignora as realidades complexas da concorrência global e do avanço tecnológico. Se aspiramos genuinamente a um mundo mais justo e próspero – uma aspiração que não é universalmente partilhada, mas pela qual vale a pena lutar – a verdadeira questão é saber porque é que tão poucos países subiram com sucesso a escada tecnológica. Em vez de se deixarem enganar pela propaganda de Wall Street, talvez os países em desenvolvimento pudessem tentar tirar uma página do livro chinês para nivelar o campo de jogo – tanto com os países ricos como com a China – na criação de uma paisagem global mais equitativa.

5 Ago 2025

Cinema | Filme sobre massacre de Nanjing arrecada 181 ME e lidera bilheteira

O filme Dead To Rights, sobre o massacre de Nanjing, lidera a bilheteira na China, após arrecadar mais de 1.500 milhões de yuan em duas semanas, impulsionado pelo 80.º aniversário da rendição japonesa.

A obra centra-se nas provas fotográficas do massacre ocorrido em 1937, naquela cidade do leste da China, às mãos do Exército imperial japonês.

A história acompanha Ah Chang, um funcionário dos correios que se faz passar por técnico de laboratório para sobreviver. Sob pressão, revela fotografias aos militares japoneses, enquanto transforma o estúdio num refúgio, ajudando civis e soldados a fugir e, ao mesmo tempo, expõe ao mundo provas visuais da atrocidade.

A produção gerou grande repercussão nas redes sociais chinesas, onde circulam imagens de espectadores a prestarem continência nos cinemas durante os créditos finais e a entoarem palavras de ordem em homenagem às vítimas dos acontecimentos retratados.

Dead To Rights está em exibição numa altura em que decorrem os preparativos para o desfile militar marcado para 3 de Setembro, em Pequim, que assinala o 80.º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial e da rendição japonesa.

A 13 de Dezembro de 1937, tropas japonesas invadiram Nanjing e, nas seis semanas seguintes, saquearam e incendiaram a cidade, violaram dezenas de milhares de mulheres e mataram entre 150.000 e 340.000 pessoas, segundo diferentes fontes históricas.

Todos os anos, a China assinala essa data com uma cerimónia no Memorial das Vítimas do Massacre de Nanjing pelos Invasores Japoneses, erguido no local.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Japão invadiu grande parte do território chinês, onde cometeu crimes de guerra generalizados, incluindo massacres sistemáticos de civis, experiências com armas biológicas e a utilização de mulheres chinesas como escravas sexuais por parte de militares nipónicos.

O Governo chinês tem criticado com frequência as autoridades japonesas por adoptarem uma postura que considera revisionista em relação à invasão e aos crimes cometidos.

5 Ago 2025

Hunan | Homem mata duas pessoas e fere outras três em ataque

Pelo menos duas pessoas morreram e três ficaram feridas após um ataque perpetrado por um homem no centro da China, confirmaram ontem as autoridades. O incidente ocorreu no domingo, às 18:00 locais, na cidade de Leiyang, na província central de Hunan.

Segundo as autoridades, um homem de 31 anos, de apelido Duan, realizou um ataque “intencional” de natureza não especificada contra um grupo de pessoas.

Desconhece-se, por enquanto, se o agressor conhecia as vítimas ou se se tratou de um ataque indiscriminado. Os feridos, que foram transportados para unidades de saúde, encontram-se livres de perigo, acrescentaram as autoridades num breve comunicado. As causas do ataque estão a ser investigadas. Nos últimos anos, têm-se multiplicado na China os ataques indiscriminados contra multidões, seja com veículos ou com armas brancas.

Entre os casos mais recentes está o atropelamento em massa ocorrido em Novembro de 2024 na cidade de Zhuhai, no sul do país, que provocou 35 mortos e cerca de 40 feridos. O autor, condenado à morte em Dezembro, foi executado em Janeiro.

Estes incidentes são geralmente descritos pelas autoridades e pela imprensa como casos de “vingança contra a sociedade”, em que indivíduos frustrados com problemas pessoais descarregam a sua ira sobre inocentes.

A Procuradoria Popular Suprema prometeu recentemente “castigos severos, rigorosos e rápidos” para os responsáveis por este tipo de crimes, enquanto o Ministério da Segurança Pública apelou ao reforço das medidas de prevenção para “manter a estabilidade social”.

5 Ago 2025

Meteorologia | Decretado alerta máximo devido às chuvas

As autoridades de Pequim voltaram ontem a emitir um alerta vermelho para chuvas intensas, uma semana depois de inundações que causaram 44 mortos, com risco elevado de aluimentos de terra.

O serviço meteorológico local prevê chuvas fortes em toda a cidade até esta manhã, com mais de 100 milímetros em seis horas na maioria das áreas, e mais de 200 milímetros em algumas zonas, noticiou a agência oficial chinês Xinhua.

As chuvas devem atingir com maior intensidade as áreas montanhosas de Miyun, Fangshan, Mentougou e Huairou, na periferia da capital chinesa, onde há elevado risco de inundações e aluimentos de terra, alertaram as autoridades, que apelaram aos residentes para permanecerem em casa e evitarem zonas de montanha e margens de rios.

Na semana passada, chuvas torrenciais causaram 44 mortos e nove desaparecidos naquelas áreas. Nos últimos verões, fenómenos meteorológicos extremos têm afectado com frequência o território chinês: em 2023, inundações em Pequim provocaram mais de 30 mortos, enquanto em 2022 várias vagas de calor extremo e secas severas atingiram o centro e o leste do país.

5 Ago 2025

Diplomacia | Pequim rejeita exigência dos EUA para deixar de comprar petróleo russo e iraniano

Embora continuem a ser ultrapassados obstáculos na guerra das tarifas, a administração chinesa recusa veementemente qualquer interferência externa sobre onde deve adquirir o fornecimento de energia

 

Estados Unidos e China poderão chegar a acordo em várias áreas para evitar tarifas punitivas, mas continuam afastados numa questão central: a exigência de Washington para que Pequim deixe de comprar petróleo ao Irão e à Rússia.

“A China vai sempre assegurar o seu fornecimento energético de acordo com os seus interesses nacionais”, publicou na quarta-feira o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês na rede social X, após dois dias de negociações comerciais em Estocolmo e na sequência da ameaça norte-americana de uma tarifa de 100 por cento.

“A coerção e a pressão não terão qualquer efeito. A China vai defender firmemente a sua soberania, segurança e interesses de desenvolvimento”, acrescentou.

A reacção surge num momento em que ambos os países manifestam optimismo sobre a possibilidade de estabilizar as relações comerciais, após terem recuado nas tarifas elevadas e nas restrições comerciais mais duras.

A posição de Pequim, no entanto, salvaguardou pontos inegociáveis nas discussões com a Administração de Donald Trump, sobretudo quando o comércio é associado às políticas energética e externa chinesas. O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, disse aos jornalistas, após as conversações, que, no que toca às compras de petróleo russo, “os chineses levam a sua soberania muito a sério”.

“Não queremos interferir na sua soberania, por isso eles preferem pagar uma tarifa de 100 por cento”, afirmou, acrescentando que considera os negociadores chineses “duros”, mas que isso não travou as negociações. “Acredito que temos as bases para um acordo”, disse, em entrevista à CNBC.

O consultor Gabriel Wildau, director-geral da Teneo, considerou improvável que Trump avance, de facto, com a tarifa de 100 por cento, já que tal “provavelmente destruiria todo o progresso recente e acabaria com qualquer hipótese” de um anúncio de acordo comercial numa eventual reunião entre Trump e o Presidente chinês, Xi Jinping, prevista para o Outono.

Os EUA querem restringir as vendas de petróleo da Rússia e do Irão, fontes de receita fundamentais para os dois países, e assim tentar reduzir o financiamento dos respetivos orçamentos militares, num momento em que Moscovo continua a guerra na Ucrânia e Teerão apoia grupos armados no Médio Oriente.

Resistir para vencer

Em Abril, quando Trump apresentou um vasto plano de tarifas a impor a dezenas de países, a China foi o único país a retaliar, recusando ceder à pressão norte-americana. “Se os EUA insistirem em impor tarifas, a China lutará até ao fim”, disse Tu Xinquan, director do Instituto de Estudos da OMC na Universidade de Negócios e Economia Internacionais, em Pequim.

Tu acrescentou que Pequim poderá suspeitar que os EUA não irão cumprir a ameaça, questionando a prioridade dada por Trump ao combate à Rússia.

Scott Kennedy, conselheiro sénior do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington, afirmou que Pequim dificilmente alterará a sua postura enquanto identificar incoerências na política externa dos EUA em relação à Rússia e ao Irão. Kennedy disse também que Pequim poderá tentar usar a questão como instrumento de negociação para obter mais concessões de Trump.

Para Danny Russel, investigador do Asia Society Policy Institute, Pequim vê-se agora como “quem tem as cartas na mão” na disputa com Washington. “Trump deixou claro que quer um acordo de grande impacto mediático com Xi, por isso rejeitar a exigência dos EUA para parar as compras de petróleo ao Irão e à Rússia provavelmente não será visto como um obstáculo ao acordo, mesmo que cause atritos e atrasos”, sublinhou.

A manutenção das compras de petróleo russo garante a Xi “solidariedade estratégica” com o Presidente russo, Vladimir Putin, e reduz significativamente os custos para a economia chinesa, acrescentou Russel. “Pequim não pode abdicar do petróleo da Rússia e do Irão, que está a ser comprado a preços de saldo”, explicou.

Segundo a Administração de Informação Energética dos EUA, entre 80 por cento e 90 por cento do petróleo exportado pelo Irão em 2024 teve como destino a China, que importa mais de um milhão de barris por dia. Pequim é também um dos principais clientes de Moscovo, a seguir à Índia, com as importações de crude russo a subirem em Abril 20 por cento face ao mês anterior, para mais de 1,3 milhões de barris diários, segundo o KSE Institute, ligado à Kyiv School of Economics.

5 Ago 2025

FRC | Caligrafia em destaque na mostra “Vai em Frente, o Futuro Brilha”

É hoje inaugurada uma nova exposição na Fundação Rui Cunha, e que ficará patente por um curto período de tempo, até este sábado. Trata-se de “Vai em Frente, o Futuro Brilha”, uma mostra de caligrafia cujos protagonistas são os alunos dos cursos de arte e literatura do Centro Budista Fo Guang Shan. Trata-se de uma homenagem ao mestre Hsing Yun

 

A Fundação Rui Cunha (FRC) acolhe, entre hoje e sábado, uma nova exposição de caligrafia. Trata-se da mostra “Keep Going, The Future is Bright” [Vai em Frente, o Futuro Brilha], com organização do professor e alunos dos cursos de arte e literatura do Centro Budista Fo Guang Shan, e é apresentada como uma homenagem ao “venerável mestre” Hsing Yun.

A mostra apresenta cerca de 50 obras de caligrafia e pintura chinesa “que procuram dar continuidade ao espírito do mestre Hsing Yun, fundador do Centro Budista, cujos problemas de visão se viriam a agravar nos últimos anos de vida”, descreve uma nota do FRC. O mesmo mestre desenvolveu e utilizou o “olho do coração” e o “olho do Dharma” para escrever a sua caligrafia única de “um traço”, na esperança de transmitir compaixão, sabedoria, paz e luz através das suas criações.

O Dharma é um conceito multifacetado que se refere, em grande parte, ao princípio da ordem cósmica, da rectidão, do dever e do caminho para uma existência com sentido, o que no budismo abrange as obrigações morais do indivíduo, a conduta ética e as leis naturais que governam o universo.

Obras com mensagens

O projecto inclui os trabalhos dos alunos de arte e literatura do professor Hok-lon Yim, um “jovem e influente calígrafo e pintor de Macau” que foi convidado pelo Centro Budista Fo Guang Shan para orientar o ensino da caligrafia e pintura a todos os entusiastas, com maior ou menor experiência, utilizando o pincel e a tinta para transmitir bênçãos e levar alegria às pessoas.

A fundação do Centro Budista de Macau remonta ao início de 1989, quando o mestre Hsing Yun pregou o Dharma em locais públicos de Hong Kong, congregando devotos do território vizinho e também formações espontâneas de grupos provenientes de Macau, para assistirem às palestras. O convite foi então lançado ao Mestre Hsing Yun para a enviar discípulos a Macau que pregassem o Dharma, e o próprio veio cá inúmeras vezes, entre 1991 e 2014, realizando palestras emotivas, sempre com auditórios lotados.

Em 1996, o Centro foi oficialmente registado como uma organização de caridade sem fins lucrativos pelo Governo, iniciando a sua missão de difundir o Dharma em Macau, seguindo o princípio de “promover o Budismo humanista e construir uma terra pura”. Esta é uma filial da Fo Guang Shan regional e o maior centro budista urbano de Macau.

5 Ago 2025

Jogo | Morgan Stanley dobra a previsão de crescimento de receitas

As receitas brutas dos casinos de Macau durante este ano podem aproximar-se dos 248,9 mil milhões de patacas, segundo a nova estimativa dos analistas do banco de investimento Morgan Stanley.

Num comunicado divulgado ontem, os analistas duplicam a previsão de crescimento das receitas de 5 por cento em termos anuais, para 10 por cento. A estimativa do banco de investimento para a margem de lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA, em inglês) triplicou de uma subida de 2 por cento para 6 por cento.

Em termos de média de receitas brutas, os analistas estimam valores de 682 milhões de patacas por dia em longo deste ano, é indicado no comunicado do banco, citado pelo portal GGR Asia.

A actualização da Morgan Stanley surge após o anúncio oficial de que em Julho as receitas do jogo atingiram 22,125 mil milhões de patacas, o valor mais elevado desde o início da pandemia, 19 por cento superior ao mesmo mês de 2024. Também em Junho, as receitas aumentaram 19 por cento em termos anuais.

Os analistas citam o crescimento anual de 25 por cento do número de visitantes do Interior da China no segundo trimestre como o principal impulso para a performance dos casinos de Macau nos últimos dois meses.

Outros factores elencados pelo banco, são a realização de concertos de artistas populares, assim como a valorização do renminbi e a descida dos fluxos de turistas chineses para destinos como a Tailândia e Japão.

5 Ago 2025

FAOM | Estudo revela falta de oferta de formações profissionais

Cerca de 40 por cento dos inquiridos de um estudo considera que existe falta de diversidade na oferta de formação profissional. As conclusões resultam de um estudo apresentado ontem elaborado pela Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) e a Associação Geral de Empregados do Sector de Serviço de Macau.

Numa conferência de imprensa liderada por Leong Sun Iok, deputado e membro da FAOM, foi apontado que 40 por cento dos trabalhadores consideram haver falta de formação profissional variada. Além disso, 36,6 por cento apontou que a formação profissional disponibilizada em Macau tem pouca ligação com a carreira desenvolvida.

O inquérito foi realizado entre Janeiro e Maio, e foram recolhidos 1.336 inquéritos válidos. A avaliação de alguns aspectos da formação profissional não se ficou pela oferta insuficiente, dado que mais de 1 em cada 3 dos inquiridos considerou que os formadores são de “má qualidade”.

Sobre as formações profissionais que os entrevistados pretendem frequentar, 35 por cento indicou que pretende aprofundar os conhecimentos em língua e comunicação. Houve também 34,7 por cento a indicar que pretende melhorar e explorar as técnicas profissionais das áreas em que trabalha.

A equipa revelou ainda que apenas 32 por cento dos entrevistados conhecem as políticas de formação profissional do Governo, pelo que se defende uma maior promoção das mesmas.

5 Ago 2025

Chikungunya | Autoridades reforçam eliminação de mosquitos

Com os diagnósticos de Febre Chikungunya a aumentarem em Guangdong e os casos locais a despontarem em Macau, o Governo organizou algumas dezenas de equipas interdepartamentais para alertar a população e inspeccionar locais onde os mosquitos podem proliferar

 

Os Serviços de Saúde (SS) lançaram uma campanha para eliminar as águas estagnadas em toda a cidade, à medida que são detectados mais casos de Febre Chikungunya em Guangdong e começam a ser diagnosticados casos locais em Macau. No domingo, os SS organizaram um evento em que participaram vários departamentos do Governo que vão colaborar para realizar inspecções conjuntas nos bairros residenciais para eliminar águas estagnadas e da fonte de proliferação de mosquitos.

As entidades que participam na campanha são os SS, o Instituto para os Assuntos Municipais, a Direcção dos Serviços de Solos e Construção Urbana, a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental, o Corpo de Polícia de Segurança Pública, a Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água, a Direcção dos Serviços de Turismo, a Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude, o Instituto de Acção Social, o Instituto de Habitação e o Gabinete de Comunicação Social.

As autoridades de saúde, auxiliadas por associações locais, formaram equipas para sensibilizar a população e combater a proliferação de mosquitos. A campanha incluiu a divulgação de informações nos bairros, porta a porta, sobre “métodos de limpeza de água estagnada nas casas e prevenção de mosquitos, com foco na melhoria da capacidade dos residentes de identificar e remover fontes de reprodução”.

As 33 equipas, constituídas por cerca de 140 membros associativos e dos SS, inspeccionaram no domingo mais de 2.200 residências e forneceram informação a quase 700 agregados familiares.

No período compreendido entre Janeiro e Julho, foram realizadas 8.903 inspecções às fontes de proliferação de mosquitos e, a partir de Abril, a frequência de eliminação de mosquitos nos 140 pontos negros de higiene em Macau aumentou para duas por mês. Em Julho, de acordo com a avaliação de risco mais actualizada, reforçou-se a eliminação de mosquitos, indicou o Grupo de Trabalho para a Prevenção Contra a Febre de Dengue.

Em todas as frentes

Além das acções gerais, as autoridades indicaram ontem que vão proceder a trabalhos de eliminação química de mosquitos no Toi San, em várias zonas da Areia Preta e na zona circundante da Igreja de Santo Agostinho.

Na semana passada, as autoridades de saúde de Guangdong revelaram o diagnóstico positivo de Febre de Chikungunya de três trabalhadores nas obras na Zona A. “Tendo em conta a acumulação frequente e fácil de águas em estaleiros de obras da Zona A dos Novos Aterros Urbanos, por motivos de diversas obras, o que pode provocar a proliferação de mosquitos e aumentar os riscos para a saúde”, as autoridades locais indicaram ontem que em cada estaleiro será eliminada água estagnada, no mínimo duas vezes por semana.

Segundo a televisão estatal CCTV, foram detectados 2.892 novos casos na semana terminada no sábado, sem registo de infecções graves ou fatais. A maioria, 2.770, ocorreu em Foshan, enquanto Guangzhou contabilizou 65 casos.

5 Ago 2025

Taiwan | Requisitos de viagem de funcionários a Macau apertam

Taiwan endureceu os requisitos de viagem para funcionários públicos que visitem as regiões administrativas especiais de Hong Kong e Macau, numa tentativa de travar a influência de Pequim, informou ontem a imprensa local.

Segundo fontes citadas pelo jornal Taipei Times, próximo das autoridades de Taiwan, o Conselho de Assuntos do Continente (MAC, na sigla em inglês) – responsável pelas relações com o Interior – alterou a regulação vigente para exigir que os funcionários que viajem por “motivos não oficiais” a estas cidades apresentem relatórios antes e depois das visitas.

Os que não entregarem essas informações poderão enfrentar “medidas disciplinares”, indicaram as fontes, acrescentando que as mudanças legislativas serão submetidas ao parlamento para aprovação e implementação definitiva.

“As viagens à China, Hong Kong e Macau implicam riscos crescentes, e Taiwan vai reforçar ainda mais o sistema de gestão do seu pessoal”, referiram as fontes, explicando que os relatórios devem incluir também detalhes sobre reuniões ou contactos com “pessoas específicas” desses territórios.

A mudança ocorre cerca de meio ano após William Lai ter anunciado um conjunto de iniciativas para contrariar as operações de influência do Interior.

Entre as medidas está a obrigação de divulgação, por parte de todos os funcionários dos órgãos das autoridades da Formosa, a nível central e local, de qualquer participação em intercâmbios com entidades chinesas. Em Abril, as autoridades taiwanesas já tinham endurecido os critérios para a atribuição de residência a cidadãos de Hong Kong e Macau, por “razões de segurança nacional”.

5 Ago 2025

Hong Kong | John Lee faz visita oficial a Macau

O Chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, vai estar hoje em Macau a liderar a visita de uma delegação vinda do território vizinho.

O anúncio foi feito pelas autoridades da RAEHK, através de um comunicado público. Com John Lee, viajam o secretário para as Finanças, Paul Chan, o secretário dos Assuntos Constitucionais do Interior, Erick Tsang Kwok-wai, o secretário da Saúde, Lo Chung-mau, e a secretária dos Transportes e Logística, Mable Chan.

John Lee tem encontro agendado com o Chefe do Executivo de Macau, Sam Hou Fai, e vai ainda realizar visitas a diferentes infra-estruturas. O líder do Governo de Hong Kong regressa à RAEHK no mesmo dia.

5 Ago 2025

Joaquim Surumali ajuda a preservar património cultural timorense

É na sua oficina em Tasi Tolu, em Díli, que Joaquim Surumali preserva o património cultural de Timor-Leste ao replicar em joias, para utilização diária, peças utilizadas nas casas sagradas e em cerimónias e danças tradicionais.

Nas suas mãos, o ‘kaebauk’, ornamento com chifres de búfalo, que representa o sol, a força, segurança, protecção e poder, tradicionalmente usado na cabeça e em cima dos telhados das casas sagradas, ganha a forma de brincos e de pendentes para serem utilizados num colar.

Já o “belak”, um disco de bronze que simboliza a lua e é utilizado ao peito e no interior das casas sagradas, também pode ser comprado em brincos.

Na oficina de Joaquim Sumali também não faltam os colares, denominados de “morten”, por norma com a cor laranja, que trazem sorte e prosperidade e afastam os maus espíritos e as energias negativas.

“Eu quero fazer este trabalho. O meu pai também trabalhava com joias, moldava o belak e o kaebauk desde o tempo dos portugueses, e até agora os meus irmãos e irmãs às vezes ainda fazem joias como kaebauk e belak em Díli”, contou à Lusa Joaquim Surumali.

O joalheiro, de 34 anos, sublinhou que a sua arte é uma tradição da família, que continua até aos dias de hoje. “Aprendi a fazer joias com o meu pai e com os meus irmãos. Mas o nosso trabalho vem do nosso próprio sangue, do nosso pai e dos mais velhos que também faziam joias como as que se fazem hoje”, explicou Joaquim Surumali.

Outros materiais

Joaquim Surumali faz as joias em ouro, prata ou bronze, dependendo da preferência e do dinheiro dos clientes. O material, segundo o joalheiro, é comprado em Timor-Leste, mas a maioria vem da Indonésia ou de Singapura, porque os recursos no país são escassos.

“Como as pessoas compram em ouro para colocar nas casas sagradas, ele já não está disponível. Por isso, tentamos comprar do estrangeiro. Na maioria das vezes, os clientes são eles que trazem o ouro e nós apenas cobramos pela nossa mão-de-obra”, disse o joalheiro.

Questionado sobre os preços das joias, o artesão explicou que um “belak” de ouro puro pode custar 600 dólares e um “morten” 100 dólares. “Muitos timorenses compram estas joias, mas também muitos portugueses, sobretudo professores”, afirmou.

Joaquim explicou que os portugueses apreciam estas peças porque vêem nelas algo único e tradicional de Timor-Leste. Os timorenses compram-nas para as colocar nas casas sagradas das famílias e que podem ser vistas em todos os municípios do país. Os artigos mais comprados são, sobretudo, os “belak” de ouro.

Sobre o rendimento mensal da produção de joias, Joaquim Surumali disse que pode chegar até aos 500 dólares mensais, mas que depende da quantidade de clientes e das visitas.

4 Ago 2025

Médio Oriente | China lamenta sanções dos EUA a funcionários palestinianos

A administração norte-americana decidiu condicionar ainda mais a concessão de vistos a membros da Organização para a Libertação da Palestina e da Autoridade Nacional Palestina. Pequim critica a decisão e acusa os EUA de não contribuírem para a paz na região

 

A China criticou sexta-feira a decisão de Washington de impor restrições de vistos a membros e funcionários da Organização para a Libertação da Palestina e da Autoridade Nacional Palestina, que Washington acusa de “apoiar o terrorismo”.

“Estamos surpreendidos e desapontados com estas sanções. Não compreendemos que os Estados Unidos continuem a menosprezar os esforços da comunidade internacional pela paz. A questão palestiniana é uma questão em que devem prevalecer a equidade e a justiça”, afirmou o porta-voz dos Negócios Estrangeiros Guo Jiakun, em conferência de imprensa.

Guo acrescentou que os Estados Unidos devem “ser responsáveis e implementar as resoluções das Nações Unidas e envidar esforços para alcançar uma solução adequada para esta questão, em vez de fazer o contrário”.

O porta-voz reiterou que Pequim continuará a trabalhar com a comunidade internacional “para pôr fim ao conflito em Gaza, aliviar a crise humanitária e avançar para a implementação do quadro dos dois Estados”.

O Departamento de Estado dos EUA indicou na quinta-feira num comunicado que “é do interesse da segurança nacional dos EUA impor consequências e responsabilizar a Organização para a Libertação da Palestina e a Autoridade Nacional Palestina por não cumprirem os seus compromissos e minarem as perspectivas de paz”.

“Além disso, (ambas as entidades) continuam a apoiar o terrorismo – incluindo a glorificação da violência, especialmente nos livros escolares – e a conceder pagamentos e benefícios em apoio a actividades terroristas a palestinianos envolvidos em terrorismo e às suas famílias”, lê-se no comunicado.

Pressão alta

O anúncio das sanções surge no meio de uma crescente pressão internacional sobre Israel para melhorar as condições na Faixa de Gaza, que atravessa uma grave crise humanitária e onde, nos últimos dias, as autoridades locais denunciaram um pico de mortes relacionadas com a fome.

França, Reino Unido e Canadá, entre outros países, expressaram a sua decisão de reconhecer um Estado palestino perante a ONU em resposta à situação, anúncios que foram recebidos com fortes críticas do governo israelita, que considera essa medida um “apoio ao Hamas”.

O presidente norte-americano, Donald Trump, defendeu na quinta-feira que a maneira “mais rápida” de pôr fim à crise em Gaza é a rendição do grupo islamista palestino e a devolução dos reféns israelitas que mantém em seu poder.

4 Ago 2025

Melco apresenta lucros de 17,2 milhões no segundo trimestre

A operadora de jogo em Macau Melco anunciou lucros líquidos no segundo trimestre de 17,2 milhões de dólares, menos 24,4 por cento do que em igual período em 2024.

Em termos globais, a Melco Resorts & Entertainment registou um aumento de 14,5 por cento nas receitas operacionais totais em relação ao trimestre homólogo de 2024, para 1,33 mil milhões de dólares, e um aumento de 16,2 por cento nas receitas de jogos, atingindo 1,1 mil milhões de dólares entre 1 de Abril e 30 de Junho de 2025, impulsionado pelo forte desempenho dos casinos e resorts em Macau.

O lucro operacional no segundo trimestre de 2025 foi de 124,7 milhões de dólares, resultado que supera os 123,7 milhões de dólares no segundo trimestre de 2024. O EBITDA ajustado foi de 377,7 milhões de dólares no segundo trimestre de 2025, em comparação com 302,8 milhões de dólares no segundo trimestre de 2024.

Lawrence Ho, presidente e director executivo da Melco, citado no comunicado da operadora, sublinhou que “o EBITDA da Macau Property cresceu 35 por cento em relação ao ano anterior e 13 por cento em relação ao trimestre anterior”.

Destacadas maiores receitas

Por outro lado, acrescentou o executivo, “os volumes e receitas dos jogos aumentaram, com o City of Dreams Macau e o Studio City a estabelecerem novos recordes em receitas de jogos de mesa no mercado de massa”.

Este desempenho, sublinhou ainda Lawrence Ho, foi apoiado por aumentos na eficiência de custos, levando a margens mais fortes. “Estamos confiantes de que as iniciativas estratégicas que implementámos nos proporcionaram uma base sólida para um crescimento contínuo”, afirmou.

4 Ago 2025

Jogo | Receitas atingem em Julho o valor mais alto desde pandemia

Após o início do ano em que as receitas desiludiram e obrigaram à revisão do orçamento, o cenário parece estar agora a mudar. As receitas de Julho atingiram 22,125 mil milhões de patacas, o valor mais elevado desde o início da pandemia

 

As receitas do jogo registaram em Julho um aumento anual de 19 por cento e mensal de 5 por cento, alcançando o valor mais elevado do ano e também desde Janeiro de 2020, de acordo com os dados anunciados na sexta-feira.

Os casinos arrecadaram 22,125 mil milhões de patacas em Julho, contra 18,595 mil milhões de patacas no mesmo mês de 2024, de acordo com dados da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ). Em Junho deste ano, os casinos tinham registado receitas de 21,064 mil milhões de patacas, sendo que Maio era até agora o mês com o valor mais elevado de 2025: 21,193 mil milhões de patacas.

Julho apresenta-se ainda como o melhor mês desde Janeiro de 2020, quando as receitas dos casinos alcançaram um valor muito próximo: 22,126 mil milhões de patacas. Desde final de Janeiro de 2020, a pandemia da covid-19 teve um impacto sem precedentes no jogo, motor da economia de Macau, com os impostos sobre as receitas desta indústria a financiarem a esmagadora maioria do orçamento governamental.

Em termos de receita bruta acumulada, os primeiros sete meses deste ano registaram um aumento de 6,5 por cento em relação ao ano anterior, com um total de 140,896 mil milhões de patacas contra 132,348 mil milhões de patacas entre Janeiro e Julho de 2024.

Macau fechou o ano passado com receitas totais de 226,782 mil milhões de patacas, mais 23,9 por cento do que no ano anterior.

Revisão orçamental

O Governo previu, no orçamento inicial para 2025, que o ano iria fechar com receitas totais de 240 mil milhões de patacas, o que representaria um aumento de 6 por cento em comparação com o ano passado.

Mas, em 11 de Junho, a Assembleia Legislativa aprovou um novo orçamento, proposto pelo Executivo, que reduz em 4,56 mil milhões de patacas a previsão para as receitas públicas. O secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip, admitiu aos deputados que o corte se deve ao facto de as receitas brutas do jogo no primeiro trimestre de 2025 terem “ficado ligeiramente abaixo do previsto”.

Desde Maio deste ano que as receitas mensais nunca ficaram abaixo de 20 mil milhões e patacas, uma séria de três meses consecutivos. No entanto, até Abril, inclusive na altura do Ano Novo Lunar, um dos picos altos da indústria, as receitas nunca tinham atingido 20 mil milhões de patacas.

4 Ago 2025

Chikungunya | Registados os dois primeiros casos locais

Os Serviços de Saúde (SS) anunciaram no Sábado os primeiros dois casos locais de febre de Chikungunya. Os dois casos estão ligados à Zona A dos Novos Aterros, anteriormente associada como uma zona de contágio, pelas autoridades do Interior.

O primeiro caso local de febre de Chikungunya diz respeito a um residente local, do sexo masculino, com 34 anos que vive na Areia Preta e trabalha num estaleiro da Zona A. O homem começou a apresentar sintomas a 27 de Junho, com a garganta inflamada, embora não tivesse febre nem dores nas articulações. O primeiro teste foi negativo.

Os sintomas pioram nos dias seguintes, o que fez com que se tivesse deslocado no dia 1 de Agosto ao Centro Hospitalar Conde São Januário. Neste dia, o diagnóstico foi positivo. Durante o período anterior ao contágio, o homem não saiu de Macau.

O segundo caso, envolve uma residente com 34 anos que trabalha nos estaleiros da Zona A dos Novos Aterros. De acordo com os SS, a mulher começou a desenvolver sintomas a 30 de Julho, inicialmente com as pernas a ficarem vermelhas. No entanto, os sintomas alastraram-se à cara, ao mesmo tempo que começou a desenvolver febre. Por isso, no dia 1 de Agosto, a mulher foi ao Hospital Kiang Wu. O diagnóstico foi feito no dia seguinte, pelo Laboratório Público de Saúde.

A paciente encontra-se numa situação estável, longe de perigo, e a receber tratamento no Centro Hospitalar Conde São Januário.

A mulher esteve no Japão entre os dias 13 e 21 de Julho, mas afirmou não ter sido picada por mosquitos. A partir dessa data esteve sempre a trabalhar na Zona A dos Novos Aterros, até durante os dias de fim-de-semana. Além destes dois casos locais, registaram-se outros seis casos importados de febre de Chikungunya.

4 Ago 2025

Imigração | Menos portugueses a chegar. Peso acima de 6%

O mais recente relatório sobre a emigração portuguesa indica que em 2023 vieram viver para Macau 53 cidadãos portugueses, fazendo com que este seja o destino com menos imigração portuguesa

 

Macau foi o destino para onde os portugueses menos emigraram em 2023, de acordo com o mais recente relatório elaborado pelo Observatório da Emigração e Rede Migra, Centro de Investigação e Estudos de Sociologia e pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. Os dados do estudo foram divulgados pela Lusa na sexta-feira.

Segundo a mesma fonte, em 2023 passaram a viver em Macau mais 53 cidadãos portugueses. Este é um registo que equivale a praticamente metade dos portugueses que começaram a viver na Austrália, o segundo destino com menor emigração de Portugal em 2023, que registou 91 entradas.

Em 2022, o número de novas entradas em Macau vindas de Portugal, de acordo com o relatório anterior, era de 20, o que significa que o número subiu para mais do dobro. O relatório não aponta o número de imigrantes portugueses que deixaram a RAEM.

Apesar das alterações, o relatório indica que a imigração portuguesa em Macau continua a assumir alguma expressão: “Embora a imigração portuguesa tenha perdido relativa importância ao longo dos anos, o impacto desses fluxos nos países de destino continua a ser expressivo. No Luxemburgo, por exemplo, os portugueses representaram cerca de 13,5 por cento do total de entradas de imigrantes, enquanto em Macau o número foi de 6 por cento e na Suíça 5,2 por cento”, é apontado pelos autores.

Saídas estabilizadas

Em relação à tendência geral da imigração, o estudo aponta que em 2023 deixaram o país cerca de 70 mil portugueses, um número que se manteve estável relativamente ao passado recente. O principal destino foi a Suíça.

“Estima-se que terão saído 70.000 portugueses em 2023, o mesmo número de 2022, continuando assim a recuperação da emigração portuguesa para valores próximos dos anos anteriores à pandemia do covid-19”, lê-se no relatório da Emigração Portuguesa 2024, com dados referentes ao ano anterior.

Segundo o documento, apenas não se verificou uma recuperação total uma vez que a emigração para o Reino Unido caiu mais de 40 por cento, mantendo a trajectória descendente iniciada com o ‘Brexit’ e para França desceu 25 por cento.

Ainda assim, a emigração portuguesa é superior aos níveis pré-covid na maioria dos seus principais destinos. Em 2023, a Suíça voltou a ser o principal país de destino para os portugueses, contabilizando-se 12.652 entradas, seguida por Espanha, com 11.554.

Destacam-se ainda países como França (7.426), Alemanha (6.375), Holanda – agora Países Baixos (4.892), Reino Unido (4.414), Bélgica (3.857) e Luxemburgo (3.638). Seguem-se a Dinamarca (1.818), Moçambique (1.439) e Canadá (1.005).

Com menos de 1.000 entradas aparecem destinos como EUA (890), Áustria (778), Noruega (709), Itália (702), Suécia (688), Brasil (547), Venezuela (532), Irlanda (426) e Angola (381). No fundo da tabela estão a Austrália (91) e Macau (53). Lusa / JSF

4 Ago 2025

Caso Au Kam San | MNE critica “comentários ilusórios” da UE

O Ministério dos Negócios Estrangeiros manifestou “forte descontentamento” face à reacção da União Europeia, após a detenção de ex-deputado Au Kam San. Horas depois, o Governo de Macau também repudiou “veemente” o comunicado vindo da Europa

 

O Comissariado para os Assuntos de Macau do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China repudiou “os comentários ilusórios” de Bruxelas, que condenou a detenção do ex-deputado de Macau e cidadão português Au Kam San, manifestando preocupação com a erosão das liberdades na região.

Num comunicado enviado à Lusa, no sábado, o porta-voz do Comissariado para os Assuntos de Macau do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, liderado por Liu Xianfa, manifestou “descontentamento” e “firme oposição aos comentários ilusórios do Serviço Europeu para a Acção Externa (SEAE) da União Europeia (UE) sobre a aplicação da lei relativa à segurança nacional da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM)”, classificando-os como uma “interferência grosseira nos assuntos de Macau e nos assuntos internos da China”.

“Exortamos a União Europeia a deixar imediatamente de fazer observações e acusações infundadas sobre os assuntos de Macau e a deixar imediatamente de interferir nos assuntos de Macau e nos assuntos internos da China!”, afirma o gabinete de Liu Xianfa.

O principal representante diplomático de Pequim em Macau sublinhou ainda apoiar “firmemente o Governo da RAE de Macau no desempenho das suas funções em conformidade com a lei”, assim como “a polícia de Macau na tomada de medidas de aplicação da lei contra os rebeldes anti-China contra Macau, em conformidade com a lei”.

Macau defende-se

Também o Governo de Macau repudiou “de forma veemente” as afirmações da União Europeia sobre o “procedimento criminal e as acções de execução preventiva”. “O Governo da Região Administrativa Especial de Macau [RAEM] repudia de forma veemente e opõe-se firmemente às afirmações proferidas [no sábado] pelo Serviço Europeu para a Acção Externa (SEAE) [da União Europeia (UE)] sobre o procedimento criminal e as acções de execução preventiva previstas da lei recentemente desencadeados pela RAEM nos termos da Lei relativa à defesa da segurança do Estado”, foi escrito em comunicado, emitido horas da mensagem do Gabinete de Ligação.

O Executivo de Sam Hou Fai destacou que vai ser tudo feito de acordo com a lei: “as autoridades policiais e judiciárias da RAEM trataram sempre o caso escrupulosamente nos termos da lei, e o direito processual do arguido é efectivamente garantido nos termos da lei”, foi apontado. “Os direitos fundamentais dos residentes da RAEM, incluindo o direito de sufrágio e a liberdade de expressão, estão plenamente salvaguardados pela Lei Básica da RAEM e demais legislação relevante, pelas convenções de Direitos Humanos aplicáveis na RAEM, e pela prática das autoridades administrativas, legislativas e judiciárias da RAEM”, foi acrescentado.

Macau recusou ainda a “interferência externa” nos seus assuntos pela União Europeia: “a aplicação da lei relativa à defesa da segurança do Estado pela RAEM é estritamente assunto interno da China e da sua região administrativa especial”, pelo que, “quaisquer organismos estrangeiros ou do exterior, incluindo a União Europeia, não têm direito de interferência”. “A Região Administrativa Especial de Macau continuará, como sempre, a cumprir as atribuições da defesa da segurança do Estado nos termos da lei, em prol da aplicação bem-sucedida duradoura e estável do princípio ‘um país, dois sistemas'”, concluiu o comunicado.

UE condenou

As reacções das autoridades locais surgiram depois da União Europeia condenar a detenção do ex-deputado, que surge identificado como cidadão da UE, pelo facto de ter nacionalidade portuguesa.

“A UE [União Europeia] condena a detenção de Au Kam San, cidadão da UE e antigo deputado de Macau, no dia 30 de Julho, sob acusações de [violar a Lei de] Segurança Nacional”, avançou um porta-voz do Serviço Diplomático de Bruxelas, em comunicado.

A mensagem sublinhou que esta “constitui a primeira aplicação da Lei de Segurança Nacional da Região Administrativa Especial de Macau desde a sua adopção em 2009”, e o Serviço Europeu para a Acção Externa afirmou que o acontecimento “agrava as preocupações existentes sobre a contínua erosão do pluralismo político e da liberdade de expressão” na região.

Bruxelas “recorda que o respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais é um elemento central da Lei Básica de Macau e da máxima ‘um país, dois sistemas’”, acrescentou-se no comunicado.

Portugal a acompanhar

Por sua vez, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal declarou à Lusa estar a acompanhar a detenção do ex-deputado de Macau e cidadão português Au Kam San. O MNE “está a acompanhar este assunto, através do Consulado-Geral de Portugal em Macau”, disse à Lusa fonte oficial do ministério liderado por Paulo Rangel.

“O assunto merecerá a melhor atenção das autoridades portuguesas, desde logo em futuros encontros a nível político, no espírito da Declaração Conjunta”, continuou, em referência ao tratado sino-português assinado em 1987, onde os dois países declararam os termos em que Pequim assumiria a administração de Macau após 1999.

As reacções em Portugal não se ficaram por aqui. No parlamento o Partido Iniciativa Liberal vai apresentar um voto de condenação da detenção. De acordo com o projecto de voto ao qual a Lusa teve acesso, a detenção “é a primeira ao abrigo da legislação de segurança nacional de Macau, aprovada em 2009 e revista em 2023, e ocorre num contexto de acelerada repressão das liberdades fundamentais na Região Administrativa Especial de Macau”.

O documento redigido pela IL afirma que o Estado português tem o “dever de acompanhar com rigor” o caso e posteriormente garantir o respeito pelos compromissos assumidos na Declaração Conjunta Luso-Chinesa de 1987, documento vinculativo ao abrigo do direito internacional.

Em prisão preventiva

Na quinta-feira ao final do dia, o Ministério Público confirmou que Au vai aguardar o julgamento em prisão preventiva, considerando que há “fortes indícios da prática do crime de estabelecimento de ligações com organizações, associações ou indivíduos de fora da RAEM para a prática de actos contra a segurança do Estado”. O crime implica uma pena que pode chegar aos 10 anos de prisão e obriga sempre à aplicação da prisão preventiva como medidas de coacção.

4 Ago 2025

Sim, a China contribuiu de forma decisiva para a vitória de 1945

Por Bruno Guigue

Em 3 de Setembro de 2025, a República Popular da China celebrará o 80º aniversário da vitória da guerra de resistência do povo chinês contra a agressão japonesa. Vitória conquistada nas mas duras condições contra um adversário dotado de enorme superioridade em armamento, e no mais prolongado combate de toda a II Guerra Mundial: desde o início da agressão japonesa em Julho de 1937 até os meses finais de 1945. A historiografia “oficial” ocidental, desde sempre empenhada em reescrever a história dessa guerra – cujas principais vitórias não lhe pertencem – é particularmente omissa em relação a esses 8 anos de heroica resistência. Mas o povo chinês e toda a memória progressista do mundo a celebram.

É um facto: há décadas que a doutrina ocidental lança uma cortina de fumo sobre a realidade de um conflito cujo desenrolar efectivo pouco tem em comum com o relato acreditado nas «democracias».

Se é verdade que a narrativa histórica é frequentemente tributária dos preconceitos daqueles que a fazem, a forma como se relata a Segunda Guerra Mundial não escapa à regra. A historiografia ocidental caracteriza-se, de facto, por uma cronologia contestável dos acontecimentos, uma contagem muito parcial das vítimas e uma avaliação parcial da contribuição das nações combatentes para a vitória final sobre as potências do Eixo. Naturalmente, esta observação aplica-se à corrente dominante da investigação histórica e não aos esforços dos investigadores, menos numerosos é verdade, que revelaram precisamente as suas lacunas. Mas é um facto: a doxa ocidental lançou, durante décadas, uma cortina de fumo sobre a realidade de um conflito cujo desenrolar efectivo tem pouco em comum com o relato acreditado nas «democracias».

A Segunda Guerra Mundial começou na China

Começando, como se pode imaginar, por esse erro monumental que consiste em datar o início do segundo conflito mundial em Setembro de 1939, quando ele já assolava o coração da China desde Julho de 1937 e, se prestarmos atenção aos últimos trabalhos da historiografia chinesa e japonesa, desde Setembro de 1931 nas províncias do nordeste da China. Nessa data, teve início uma invasão maciça do território chinês pelas forças japonesas, o que provocou um confronto quase ininterrupto entre os dois países até 1945. E embora o governo de Chiang Kai-shek tenha negociado uma trégua em 1932, os combates nunca cessaram realmente durante catorze anos (1931-1945) entre as tropas de ocupação japonesas e as forças chinesas, fossem elas os exércitos governamentais ou a resistência comunista.

A este argumento, poder-se-ia responder que a narrativa corrente no Ocidente se concentra principalmente nos acontecimentos que o afectaram, que se trata, no máximo, de um erro de perspectiva compreensível, e não de uma ocultação deliberada do papel de outras regiões do mundo neste confronto planetário. Porque não? Mas, nesse caso, que legitimidade tem tal narrativa histórica quando pretende dar conta da «Segunda Guerra Mundial»? Ou a narrativa visa relatar o curso dos acontecimentos no Ocidente, e a sua focalização nessa área geográfica é legítima. Ou pretende contar a história de uma verdadeira guerra mundial, e essa focalização já não o é.

O facto histórico, dizia Paul Veyne, não existe como tal, «é um cruzamento de itinerários». Ele não estava errado, mas ainda assim é preciso evitar seguir o caminho errado na escolha dos itinerários e, neste caso, tomar o Ocidente como o mundo inteiro. A este respeito, o relato russo-soviético do conflito tem o mérito da coerência, uma vez que faz coincidir logicamente os factos mencionados e a sua denominação: ao seguir uma cronologia válida para a URSS, a «Grande Guerra Patriótica» de 1941-1945 designa bem a experiência histórica vivida pelo povo soviético e não pretende fornecer uma explicação exaustiva dos acontecimentos planetários durante o período em questão.

O esquecimento das vítimas chinesas

Se a primeira distorção do discurso dominante diz respeito à datação do seu verdadeiro início, a segunda diz respeito, evidentemente, ao balanço humano do conflito mundial. Desde o fim da guerra, são raras as obras ocidentais que indicam com um mínimo de exactidão histórica as perdas humanas sofridas pela China. A profusão de detalhes sobre o balanço europeu contrasta geralmente com a sua minimização e imprecisão quando se trata da Ásia. Pior ainda, algumas instituições nem sequer mencionam a existência das vítimas chinesas. No site francês do muito oficial «Mémorial de l’Armistice», ficamos a saber, por exemplo, que «a URSS teve 21 400 000 mortos, a Alemanha 7 060 000, a Polónia 5 820 000, o Japão 2 000 000 e a França 541 000. Quanto ao balanço total, ele está entre 50 e 60 milhões de mortos, ou seja, 22 milhões de militares e 31 milhões de civis”.

Se o Japão não é esquecido, a China nem sequer figura na lista dos países beligerantes, apesar da enormidade das perdas chinesas causadas pela guerra! Por mais escandalosa que seja, tal ocultação contamina o ensino da história nas nossas escolas: raramente mencionado, o desenrolar dos combates na China é relegado para as margens da história militar em benefício do teatro de operações europeu e da «guerra do Pacífico». Esta última expressão foi imposta por Washington, de forma a reduzir a guerra nesta parte do mundo a um duelo entre duas potências aeronavais pelo controlo das ilhas do Pacífico, ignorando convenientemente o teatro de operações chinês e os seus vastos confrontos terrestres.

Os factores de uma ocultação

Afectada por miopia histórica, a narrativa ocidental dominante geralmente omite dizer que a China imobilizou no seu solo a maior parte das forças terrestres japonesas durante catorze anos, que sua resistência impediu Tóquio de lançar um perigoso ataque de flanco contra a URSS, que as forças americanas enfrentaram de 1941 a 1945 apenas uma pequena parte das tropas terrestres japonesas, que 70% das perdas militares do império nipónico foram infligidas na frente chinesa, que 100 milhões de chineses foram deslocados e que 20 milhões deles perderam a vida por causa da guerra devastadora travada pelo invasor: tudo factos ignorados por uma narrativa ocidental que, no mínimo, pode-se dizer que toma liberdades com a verdade histórica.

Sendo esses factos agora claramente estabelecidos e conhecidos por um vasto público, pelo menos fora dos círculos ocidentais, resta a questão de saber por que razão a sua ocultação resistiu tão bem ao progresso do conhecimento objectivo dos acontecimentos: por outras palavras, quais são os factores, políticos ou ideológicos, que explicam a minimização persistente, até aos dias de hoje, do papel da China durante a Segunda Guerra Mundial?

A primeira resposta a esta questão é óbvia: influenciada por uma visão ocidentalocêntrica do conflito, a historiografia dominante relega espontaneamente a Ásia Oriental ao estatuto de teatro de operações secundário. A distância geográfica, no entanto, não é a única causa. A minimização do papel de certas populações, na narrativa dominante, também se inspira no preconceito colonial que lhes nega qualquer capacidade de acção autónoma. Incapazes de fazer a sua própria história, como é que esses povos passivos teriam contribuído para a vitória sobre as potências do Eixo? Há mais. No início do conflito, e pela mesma razão, a China foi frequentemente desvalorizada em relação ao Japão, como se o mundo ocidental lamentasse inconscientemente ter lutado com um contra o outro.

«Este Japão desperto, ardente, guerreiro, vencedor, fomos nós, ocidentais, que o criámos. Sob o impulso do genial imperador Mutsuhito, ele lança-se na era industrial. Arsenal, oficinas, fábricas, ele cria tudo ao mesmo tempo. E quando, finalmente, possui essa força, percebe que é obrigado a usá-la: pois, mais uma vez graças à Europa, que lhe trouxe a sua ciência da medicina e da higiene, as crianças japonesas já não morrem: de 1870 a 1930, a população triplicou e o Japão está, literalmente, a sufocar nas suas ilhas. Se não quiser perecer, tem de sair delas».

Uma linha essencialista com traços coloniais

É assim que se expressa, em agosto de 1937, a prestigiada Revue des Deux Mondes. O expansionismo japonês aparece aqui como um rebento turbulento da modernidade ocidental, cujas ambições são legitimadas pelo avanço tecnológico e pelo dinamismo demográfico. O tom é admirativo, e nenhuma consideração moral ou jurídica mancha a absolvição por assimilação de que Tóquio beneficia. Para os especialistas europeus imbuídos de racialismo e eugenismo, é verdade que a hierarquia das raças coloca os japoneses acima dos chineses, e as ambições territoriais japonesas parecem ditadas por uma obscura lei natural que presidiria ao destino das nações.

Observamos também, na mesma linha essencialista, que circulava nos círculos intelectuais ocidentais da década de 1930 o lugar-comum de que a língua chinesa ignorava a palavra «pátria», enquanto a língua japonesa desconhecia a palavra «paz». Se os japoneses querem subjugar a China, é em virtude de uma predestinação meio biológica, meio cultural: os primeiros seriam guerreiros destinados a dominar os seus vizinhos, enquanto os chineses formariam uma massa amorfa à espera de um senhor que os ocidentais pretensiosos cometeram o erro de acreditar que seria necessariamente o homem branco.

Modernizado a todo o custo, rivalizando com os europeus no campo do expansionismo, o Japão pré-guerra desperta assim sentimentos ambivalentes nos ocidentais. Réplica oriental da supremacia europeia, a sua suposta brutalidade goza de circunstâncias atenuantes. Demasiado ativo para ser pacífico, demasiado avançado para permanecer de braços cruzados, o seu espírito de conquista recebe a absolvição dos realistas, que lhe perdoam tanto mais facilmente a sua agressividade contra a China, quanto esta é considerada decadente e caótica. O facto de a língua chinesa ignorar a palavra «pátria» não é prova da sua inferioridade intrínseca? E se ela é fraca, não é tanto por covardia quanto por impotência?

A doxa antitotalitária

Se o peso dessas representações imaginárias contribui para a frequente ocultação do papel positivo da China, isso também tem origem no reflexo anticomunista que, desde o início da Guerra Fria em 1947, contamina retrospectivamente o relato ocidental da Segunda Guerra Mundial. O mito dos «gémeos totalitários», inventado por Leon Trotsky em 1939, foi rapidamente erigido pela doxa como um artigo de fé que, a partir de 1950, beneficiou da aprovação filosófica de Hannah Arendt. Exilada nos Estados Unidos, a fervorosa discípula do nazi Heidegger fez dele o modelo explicativo de toda a história do século XX, que seria caracterizada pela luta implacável entre os «regimes totalitários» e as «democracias liberais».

É essa narrativa que figura hoje, em França, nos manuais de história. A minimização da contribuição soviéto-chinesa para a derrota do nazismo é a consequência lógica disso, com especialistas em programas de televisão chegando a sugerir que as tropas americanas libertaram os campos de extermínio, enquanto as empresas industriais do outro lado do Atlântico se beneficiavam cinicamente de sua mão de obra cativa. Quanto à China, ela passou para o lado das forças malignas quando se tornou comunista em 1949, e o seu papel na luta antifascista foi rapidamente esquecido no Ocidente. Não foi preciso mais do que isso para reforçar o anticomunismo mais retorcido e, consequentemente, para credibilizar a vulgata da «guerra justa» travada pelas «democracias».

A primeira agressão fascista

No entanto, foi a China que sofreu a primeira agressão fascista do século XX. Antes da invasão da Etiópia pela Itália de Mussolini (1935) e da intervenção ítalo-alemã para apoiar Franco na Espanha (1936), o Japão invadiu as três províncias orientais da China em Setembro de 1931, aproveitando-se do «incidente (fabricado) de Moukden». E se esta agressão pode ser qualificada como «fascista», é devido ao carácter abertamente racista e belicista da política japonesa, mesmo antes da assinatura do muito fascista «pacto anti-komimtern» de 1936 entre Berlim, Roma e Tóquio.

Para aqueles que ficam perplexos com essa qualificação, lembremos que o Japão do final da década de 1930 reunia as principais características de um fascismo análogo ao dos seus homólogos europeus: uma mística da raça superior, uma devoção absoluta ao Imperador como encarnação divina da nação, uma militarização integral da sociedade e uma compulsão irresistível pela expansão territorial, sendo a guerra de conquista sacralizada a ponto de justificar antecipadamente as piores brutalidades contra populações civis desumanizadas.

Além da submissão da China, as ambições expansionistas do Império japonês incluíam o domínio de toda a Ásia e do Pacífico. Mas foi o povo chinês o primeiro no mundo a resistir à barbárie fascista. Com a invasão das forças japonesas em todo o território chinês, a partir de 1937, a resistência chinesa deu origem ao primeiro campo de batalha da Segunda Guerra Mundial. E de Julho de 1937 ao ataque a Pearl Harbor em Dezembro de 1941, durante quatro anos, a China só pôde contar consigo mesma para enfrentar o invasor.

Uma luta ainda mais difícil, pois o Japão, potência industrial, podia fabricar armamento pesado, do qual as tropas chinesas geralmente careciam: porta-aviões, navios de guerra, aviões, tanques, artilharia. Os oficiais superiores japoneses que invadiram a China afirmavam com arrogância que três meses, no máximo, seriam suficientes para resolver o «incidente chinês», e tentaram conquistar a China mobilizando meios colossais: 600 000 homens em 1937, aumentando para mais de um milhão em 1939, com a maior parte do orçamento militar japonês sendo dedicado à ocupação do continente e aos combates incessantes com as tropas chinesas.

Batalhas frontais e guerrilha

Apesar dos seus esforços, o Japão não conseguiu vencer a resistência do povo chinês. Este reuniu as suas forças para formar uma barreira contra o invasor, seja nas batalhas frontais de Taiyuan, Songhu, Xuzhou, Nanjing, Wuhan, lideradas pelo Guomindang, ou nas lideradas pelo Partido Comunista Chinês atrás das linhas inimigas, como a «Batalha de Pingxingguan», a «Ofensiva dos Cem Regimentos», ou ainda os combates travados pelo Exército Unido Antijaponês do Nordeste no coração da Manchúria, sem contar as inúmeras acções da guerrilha comunista para estabelecer bases anti-japonesas e abrir brechas na rectaguarda.

Exigindo a formação de uma «Frente Unida» com os nacionalistas, o Partido Comunista fez da luta pela libertação nacional uma prioridade absoluta. Para cumprir essa tarefa histórica, Mao compreendeu que era necessário «aproveitar o carácter revolucionário da guerra de resistência para transformá-la numa guerra do povo». Porque a guerra de movimento está prestes a ser vencida pelo Japão, explicou ele, e durante esta primeira fase, é o exército nacionalista que desempenha o papel principal. Mas quando passarmos para a segunda fase, por outro lado, será a guerra de guerrilha que assumirá o comando.

Ao atacar os flancos do inimigo, ensinava Mao, o Exército Vermelho esgotaria o inimigo. Aproveitaria o alongamento das suas linhas de comunicação para o hostilizar. Dar-lhe-ia o golpe de misericórdia, quando chegasse o momento, lançando todas as suas forças na batalha. Esta guerrilha anti-japonesa seria determinante para o desfecho do conflito. Porque a China é «um grande país fraco atacado por um pequeno país poderoso», e a guerra de guerrilha terá uma função não só táctica, mas estratégica: o invasor «acabará por ser engolido pelo imenso mar chinês» (1).

O papel decisivo da resistência chinesa

«O Japão pensava que a conquista da China resolveria os seus problemas económicos, proporcionando-lhe matérias-primas e mercados promissores», observa o historiador Olivier Wieworka. «Esperava também que a sua cruzada erradicasse a influência e o modo de pensar ocidentais no país de Confúcio. Desiludiu-se. No norte da China, a guerrilha maoísta impedia-o de explorar as zonas rurais, atacava comboios e sabotava camiões. (..) Assim, o Eldorado sonhado transformou-se num pesadelo. Um pesadelo caro. Na véspera de Pearl Harbor, o império tinha perdido mais de 180 000 mortos e 323 000 feridos na aventura. Estas constatações amargas levaram então os dirigentes japoneses a voltar o olhar para o sul» (2).

Contribuindo para selar o destino do conflito mundial, a resistência obstinada do povo chinês teve duas consequências importantes.

Em primeiro lugar, contribuiu para frustrar o plano japonês de agressão contra a URSS, mobilizando a maior parte das forças nipônicas na frente chinesa, o que permitiu a Staline concentrar as suas tropas para a defesa de Moscovo em Dezembro de 1941. Já abalado pela derrota frente a Zhukov na Mongólia em Dezembro de 1939, o estado-maior japonês passou a privilegiar a ofensiva para o sul (o sudeste asiático e as colónias europeias) em detrimento da ofensiva antissoviética em direcção ao norte. E, em Agosto de 1945, foi o exército soviético, passando à ofensiva, que deu o golpe final nas tropas japonesas estacionadas no norte da China.

Em segundo lugar, a resistência chinesa teve como efeito influenciar a política dos EUA, reforçando a convicção de Roosevelt de que a guerra poderia ser vencida graças à «magnífica luta defensiva da China, que, tenho motivos para o acreditar, ganhará força» (27 de Maio de 1941). Por isso, enviou o general Stilwell para ocupar o cargo de chefe do Estado-Maior junto a Chiang Kai-chek. A ajuda dos EUA permitiu aproveitar o imenso território da China para manter o Japão em xeque e imobilizar as suas forças terrestres, que faltariam cruelmente ao Estado-Maior japonês diante das forças americanas nas ilhas do Pacífico.

Em Fevereiro de 1942, o presidente dos EUA elogiou a resistência chinesa num telegrama enviado a Chiang Kai-chek: «A sua resistência heróica ao cruel agressor valeu ao exército chinês os mais dignos elogios do povo americano e de todos os outros povos amantes da liberdade. O povo chinês, armado e desarmado, que há quase cinco anos oferece uma resistência feroz a um inimigo muito melhor equipado, bem como o espírito indomável que demonstra diante de tal contraste, são uma fonte de inspiração para todos os combatentes e povos das outras nações unidas na resistência» (3).

Orgulho nacional e garantia de unidade

A contribuição chinesa para a luta antifascista também explica a assinatura da China ao lado dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e da União Soviética quando essas nações publicaram a Declaração das Nações Unidas na Casa Branca, em 1 de Janeiro de 1942. Juntando-se a outros 22 países no dia seguinte, esse compromisso marcou o estabelecimento oficial de uma aliança mundial contra o fascismo e a criação de uma estrutura diplomática chamada “Quatro Grandes”, selando essa grande coalizão contra as potências fascistas defendida incansavelmente, desde 1937, pelo governo chinês. E foi essa contribuição decisiva da China para a luta comum que também provocou a abolição dos tratados desiguais herdados do século anterior.

É por isso que Xi Jinping declarou no 70º aniversário da vitória de 1945: “A vitória da guerra de resistência do povo chinês contra a agressão japonesa foi um triunfo para toda a nação chinesa. Não só frustrou a tentativa do militarismo japonês de colonizar e escravizar a China, como também aboliu os tratados desiguais assinados com as potências imperialistas desde os tempos modernos, permitindo à China lavar um século de humilhação nacional (..) A vitória lançou bases sólidas para a independência e a libertação da China, estabeleceu um ponto de viragem histórico para o grande renascimento da nação chinesa e proporcionou a condição prévia essencial para a sua realização».

Em 3 de Setembro de 2025, os chineses celebrarão o 80º aniversário dessa vitória conquistada com muito esforço, organizando um impressionante desfile militar no coração da capital, Pequim. Para eles, essa vitória é, de facto, uma fonte legítima de orgulho nacional e uma garantia insubstituível de unidade nacional. A China reconhece que os nacionalistas e os comunistas chineses tiveram um papel importante na luta pela libertação contra o invasor japonês, quer se trate dos exércitos do governo de Nanjing, depois de Chongqiing, ou das forças guerrilheiras que combateram com sucesso as tropas japonesas. Celebrada por todo o povo chinês, essa unidade na luta vitoriosa contra o invasor tem um valor exemplar e constitui um antídoto sério contra todos os fermentos de divisão.

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(1) Mao Zedong, “Problemas estratégicos da guerra dos guerrilheiros contra o Japão”, Maio de 1938.

(2) Olivier Wieworka, História global da Segunda Guerra Mundial, Perrin, 2023, p. 241.

(3) Gu Yunshen, A Segunda Guerra Mundial e a China, Conferências chinesas da Rua d’Ulm, 2022.

Fonte: https://www.legrandsoir.info/oui-la-chine-a-contribue-de-maniere-decisive-a-la-victoire-de-1945.html

1 Ago 2025

ONU | Pedido à Tailândia e Camboja respeito pelo cessar-fogo

As Nações Unidas pediram à Tailândia e o Camboja para respeitarem o cessar-fogo, depois de os dois países do Sudeste Asiático se terem acusado mutuamente de violar o acordo de tréguas.

“Este acordo crucial deve ser totalmente respeitado de boa-fé por ambas as partes, enquanto os diplomatas continuam a abordar as causas do conflito”, afirmou o alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, em comunicado.

Banguecoque e Phnom Penh concordaram com uma trégua, que começou na noite de segunda para terça-feira, após cinco dias de troca de tiros na sua fronteira partilhada de 800 km de comprimento devido a uma disputa territorial. No entanto, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Tailândia anunciou que vários soldados tailandeses da província oriental de Sisaket foram atacados “por forças cambojanas” equipadas com “armas de pequeno porte” e granadas. “Isto representa uma flagrante violação do acordo de cessar-fogo”, afirmou o ministério, em comunicado.

O porta-voz do Governo tailandês, Jirayu Huangsab, também relatou confrontos na noite de quarta-feira, afirmando que “o lado tailandês manteve o controlo da situação” e que a situação geral ao longo da fronteira só normalizou às 08h locais (09h em Macau). Por seu lado, um responsável do Ministério da Defesa do Camboja também acusou a Tailândia de violar o cessar-fogo por duas vezes.

1 Ago 2025

Economia | Banco do Japão melhora previsão de crescimento para 2025

O Banco do Japão melhorou ontem as previsões económicas para o ano fiscal de 2025, estimando um crescimento de 0,6 por cento, mais uma décima face à projecção anterior, e manteve a taxa de juro de referência em 0,5 por cento

 

O Banco do Japão (BoJ) antecipa uma desaceleração da economia enquanto se assimila o impacto real da guerra comercial lançada pelos Estados Unidos, mas prevê que o PIB retome uma trajectória de crescimento moderado à medida que a situação estabiliza.

O banco central japonês reviu também em alta, em cinco décimas, para 2,7 por cento, a previsão de subida dos preços no ano fiscal de 2025, que termina em Março de 2026, em linha com o encarecimento registado nos últimos meses, sobretudo dos alimentos, com o arroz como principal exemplo.

A instituição salientou ter tido em conta riscos ainda presentes ao rever as projecções incluídas no relatório trimestral de previsões económicas, divulgado no final da reunião de dois dias sobre política monetária. “Continua a ser muito incerto como evoluirão o comércio e outras políticas em cada jurisdição e como reagirão a actividade económica e os preços”, referiu o BoJ, que considera necessário acompanhar o impacto destes factores nos mercados financeiros e cambiais.

Neste cenário, o banco central manteve inalterada a previsão de crescimento do PIB para 2026 e 2027, em 0,7 e 1 por cento, respectivamente, mas reviu em alta, em uma décima, a estimativa de inflação para esses anos, para 1,8 e 2 por cento.

Preços e salários

O BoJ acompanha de perto a evolução dos preços, que subiram 3,7 por cento em Maio, o sétimo mês consecutivo acima dos 3 por cento, e vê como positiva a tendência generalizada das empresas para aumentar salários, embora estes ainda não acompanhem o ritmo da inflação.

A instituição teme, contudo, que estes esforços sejam comprometidos pela incerteza tarifária e pela possibilidade de o sector empresarial optar por reduzir despesas, numa referência indirecta a políticas proteccionistas como as adoptadas pelos Estados Unidos.

1 Ago 2025