Internet | Preocupação com subida de crimes sexuais contra menores

Wong Sio Chak acredita que os confinamentos fizeram as crianças passarem mais tempo online e correrem maiores riscos. Ainda assim, confessou não ter dados concretos sobre os crimes praticados através da internet

 

O secretário para a Segurança revelou preocupação com o “aumento óbvio” do “abuso sexual de menores através da internet” em 2022, apesar de a criminalidade ter caído para o nível mais baixo em quatro anos. De acordo com dados divulgados na sexta-feira, as forças de segurança detectaram 27 casos de abuso sexual de menores no ano passado, mais nove do que em 2021.

Apesar da preocupação manifestada, o secretário Wong Sio Chak admitiu durante uma conferência de imprensa não ter dados concretos sobre quantos casos de abuso sexual de menores envolveram a internet, nomeadamente redes ou plataformas sociais.

Wong disse ser “provável que a suspensão de aulas ou o ensino online”, implementados devido à pandemia de covid-19, tenha dado aos jovens “mais tempo para usar as redes ou plataformas sociais online para fazerem amigos”.

O responsável defendeu a importância do “reforço da educação sexual e a prevenção” dos crimes de abuso sexual de menores, que, segundo disse, “são facilmente enganados e prejudicados por malfeitores”. “É uma questão social, tem de obter atenção de toda a sociedade, dos pais, das escolas”, disse o secretário.

Mais burlas

Wong revelou ainda que a Polícia Judiciária “desvendou vários casos de disseminação de vídeos pornográficos relacionados com menores através da internet” desde que aderiu em 2020 a um projecto internacional de combate a este crime.

O secretário notou que, devido à pandemia, “os crimes tradicionais de burlas e extorsão, por influência da pandemia, também passaram a ser praticados através da internet”. As forças de segurança de Macau registaram 1.315 casos de burla, mais oito do que em 2021, e 138 casos de extorsão, mais 39.

Wong sublinhou que “os criminosos começaram a tirar proveito do pânico do público para criar várias burlas relacionadas com a epidemia”, assim como, desde Junho, burlas com a encomenda de alimentos ou produtos alimentares.

O responsável mencionou ainda a ocorrência de 92 crimes de extorsão por ‘nude chat’ e 67 casos de pessoas enganadas pelo chamado “falso ‘enjo kosai’”, jovens acompanhantes com possibilidade de serviços sexuais.

O secretário afirmou ainda que, graças a um mecanismo de alerta para suspensão de transacções suspeitas e cessação de pagamento, a polícia de Macau conseguiu recuperar cerca de 3,7 milhões de patacas em 26 casos.

Hábitos antigos

Com o fim da política de ‘zero covid’ em Macau, em meados de Dezembro, a cidade registou em Janeiro mais de um milhão de visitantes, numa subida de 101,3 por cento em termos anuais, com as receitas do jogo a apresentarem o melhor arranque dos últimos três anos.

Wong admitiu que as forças de segurança prevêem “o ressurgimento de burlões da troca de dinheiro”, assim como “um certo aumento do número de crimes dos casos em geral”, com a retoma do turismo. De acordo com os dados apresentados na sexta-feira, a criminalidade de 2022 foi a mais baixa desde 2019, o último ano antes na pandemia. Foram assim instaurados 9.799 inquéritos criminais, que se comparam com os 14.178 de 2019, uma queda de 30,9 por cento.

Penas mais duras

A vice-presidente da Associação da Construção Conjunta de Um Bom Lar, Loi I Weng, defende penas mais pesadas para os criminosos que praticam actos contra menores. A posição foi tomada para fazer eco das posições do Governo, na sequência do anúncio sobre Estatística da criminalidade e dos trabalhos de execução da lei de 2022 em Macau.

Segundo Loi I Weng, que também faz parte da Associação das Mulheres de Macau, deve ser feita uma revisão da pena, com base nos exemplos de Hong Kong e Taiwan, onde aqueles que praticam crimes contra menores não podem ser castigados com uma pena suspensa. Além disso, Loi argumenta que é preciso agravar os limites mínimos das penas, porque que considera que vai contribuir para “reforçar o efeito dissuasor”.

Loi considerou ainda que o aumento do número de crimes com menores através da internet subiu devido à pandemia, com as crianças a navegarem cada vez mais a internet, por não poderem sair de casa. Por isso, insistiu que os encarregados de educação devem educar os menores e prepará-los para a utilização das aplicações móveis de conversação.

6 Mar 2023

Energia | Governo defende aposta no gás natural

Apesar da subida recente dos preços do gás natural, o Governo garante que a aposta é para manter e que vai reforçar a supervisão aos preços praticados pela Sinosky Energy, empresa com o monopólio do abastecimento. O compromisso foi assumido através de uma nota de imprensa da Direcção de Serviços de Protecção Ambiental, emitida na sexta-feira.

“Embora os preços de mercado do gás natural possam manter-se voláteis, o Governo da RAEM irá continuar a supervisionar, definitivamente, a colaboração activa por parte da companhia concessionária com a empresa abastecedora de gás natural a montante” foi prometido. Segundo o Executivo, esta fiscalização vai servir para “minimizar o custo e reduzir o impacto para os cidadãos, continuando, ao mesmo tempo, a reforçar os trabalhos de promoção do gás natural”.

No mês passado, o Governo anunciou o aumento nos preços do gás natural que chegam a ultrapassar os 14 por cento. Ainda assim, esta energia é vista como essencial para “para concretizar as metas relativas ao pico de emissões de carbono e à neutralidade carbónica”.

Sobre a expansão da rede de abastecimento de gás natural, para este ano está prevista a ampliação da cobertura da rede de gás da península de Macau, bem como a promoção da utilização prioritária ou mudança para gás natural nos hotéis de grande dimensão, instalações turísticas e estabelecimentos comerciais.

6 Mar 2023

APN | Meta de crescimento económico para 2023 fixada em 5%

Começaram este fim de semana em Pequim as sessões da Assembleia Popular Nacional e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC). Entretanto, foram efectuadas uma série de reuniões preparatórias e ouvido um relatório do primeiro-ministro cessante Li Keqiang, que entre outros temas, analisou o actual estado da economia chinesa e as perspectivas de crescimento

A primeira sessão da 14ª Assembleia Popular Nacional (APN), a legislatura nacional da China, começou na manhã de domingo e termina na manhã de 13 de Março. Além da revisão de uma série de relatórios, incluindo um de trabalho do governo, os deputados da APN deliberarão sobre um projeto de emenda à Lei de Legislação e um plano sobre a reforma das instituições do Conselho de Estado. A sessão também elegerá e decidirá sobre os membros dos órgãos estatais.

Entretanto, membros de vários sectores do 14º Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC) inscreveram-se para a sessão anual do principal órgão consultivo político, que começou no sábado em Pequim. Xi Jinping e outros líderes chineses participaram da reunião de abertura da primeira sessão, realizada no Grande Palácio do Povo.

Ontem, domingo pela manhã, num relatório divulgado pelo primeiro-ministro Li Keqiang antes do arranque da sessão anual da Assembleia Popular Nacional, o Governo chinês estabeleceu como meta para 2023 um crescimento económico de “cerca de 5%”. Segundo as autoridades chinesas, esta meta reflecte “a confiança do país numa recuperação económica a nível nacional após ter reclamado uma vitória decisiva contra a epidemia da COVID-19, equilibrando ao mesmo tempo a volatilidade económica global e a incerteza geopolítica”.

“Devemos priorizar a recuperação e expansão do consumo [interno]”, disse Li, num discurso proferido no Grande Palácio do Povo, junto à praça de Tiananmen, em Pequim, perante os cerca de três mil delegados da Assembleia Popular Nacional (APN). Li Keqiang apelou ainda a que se acelere o desenvolvimento industrial e tecnológico.

O relatório apresentado por Li enalteceu a importância da indústria estatal. Além disso, prometeu apoiar empreendedores que geram novos empregos e riqueza, mas também disse que o Governo “vai aumentar a competitividade” das firmas estatais, que dominam vários sectores-chave, incluindo banca, energia, telecomunicações e produção de aço.

Na linha da frente

O objectivo de crescimento significa que a China voltará a ser uma das grandes economias de crescimento mais rápido do mundo, uma vez que se espera que a economia global abrande acentuadamente este ano e grandes economias como os EUA e a zona euro estão a braços com riscos de recessão.

O objectivo de crescimento é significativamente mais elevado do que a taxa de crescimento do PIB da China de 3% em 2022, por causa do grave impacto da epidemia e das rupturas nas cadeias de abastecimento mundiais. O objectivo está também de acordo com as previsões de muitas instituições internacionais. O FMI previu recentemente um crescimento do PIB de 5,2 por cento para a China este ano e 2,9 por cento para o crescimento global.

Os economistas disseram que o objectivo de crescimento do PIB reflecte não só a confiança da China na recuperação económica na fase pós-COVID, mas também o seu enfoque na prossecução de um desenvolvimento sustentável e de alta qualidade a longo prazo. “Espera-se que o PIB da China aumente mais de 6% em 2023 na realidade, se o conflito Rússia-Ucrânia e o unilateralismo internacional não escalarem… Mas os funcionários fixaram o objectivo de crescimento do PIB um pouco mais lento do que esse nível para mostrar a sua ênfase no desenvolvimento de alta qualidade e na busca de um padrão de crescimento sustentável”, disse Cao Heping, um economista da Universidade de Pequim.

Segundo Cao, o objectivo de crescimento do PIB também mostra que as autoridades tomaram em consideração factores potencialmente inesperados, sendo o maior factor de incerteza as mudanças no ambiente externo, tais como se algumas economias desenvolvidas mergulharão na recessão económica, o que, por sua vez, fará baixar a procura das exportações chinesas.

Cidades acompanham crescimento nacional

O objectivo de crescimento nacional está também de acordo com as expectativas de crescimento mais elevadas da recuperação económica em curso em todo o país. A maioria das localidades chinesas a nível provincial fixaram os seus objectivos de crescimento acima dos 5,5 por cento, de acordo com relatórios dos meios de comunicação social.

“Do governo central ao local, os funcionários chineses têm um forte sentido de motivação para manter o crescimento do PIB deste ano a um ritmo estimulante, embora estejam também plenamente conscientes de potenciais ventos contrários e incertezas”, disse Tian Yun, um observador económico independente e antigo economista da agência estatal de planeamento económico.

Nos primeiros dois meses de 2023, a economia chinesa alcançou um desempenho melhor do que o esperado em áreas que vão desde o turismo, entretenimento até à manufactura. Com base na rápida recuperação, várias instituições globais também levantaram previsões para o crescimento económico do país este ano.

A Moody’s, por exemplo, elevou recentemente a sua previsão para o crescimento real do PIB da China para 5%, tanto para 2023 como para 2024, acima das projecções anteriores de 4%, observando que a decisão do governo de optimizar a resposta da COVID-19 irá naturalmente impulsionar as actividades económicas do país. O Grupo Goldman Sachs também melhorou a sua previsão para o crescimento do PIB da China este ano, após a recuperação da China ter ganho ritmo.

Motor do mundo

Citando os objectivos de crescimento, os economistas também sublinharam que a China se tornará um importante motor do crescimento económico global este ano. A Moody’s espera que o crescimento global continue a abrandar em 2023, com o crescente arrastamento do aperto da política monetária cumulativa sobre a actividade económica e o emprego na maioria das grandes economias. A instituição previu que o crescimento económico do Grupo dos 20 (G20) irá diminuir para 2% em 2023, de 2,7% em 2022.

Tian disse que o objectivo de crescimento da China este ano irá provavelmente exceder a maioria das economias, excepto certos países que se encontram numa fase inicial de industrialização, como o Vietname e a Índia. “À medida que o crescimento económico da China for ganhando ritmo, a contribuição do país para o crescimento económico global será também de cerca de 30% este ano”, disse.

Interferência externa faz subir orçamento para a defesa

A China vai lutar “resolutamente” contra a “independência” de Taiwan e “em prol da reunificação da pátria”, assegurou ontem o primeiro-ministro cessante, Li Keqiang, na abertura da sessão plenária da Assembleia Popular Nacional. “Temos que executar a estratégia do Partido Comunista (PCC) na questão de Taiwan, ou seja, lutar resolutamente contra a ‘independência’ [do território] e pela reunificação da pátria”, disse Li, na apresentação do relatório de trabalho do Governo, no Grande Palácio do Povo, em Pequim.

“Vamos promover o desenvolvimento pacífico das relações no Estreito [de Taiwan], visando impulsionar um processo de reunificação pacífica”, apontou Li. “Devemos promover a cooperação económica e cultural entre os dois lados e políticas destinadas a melhorar o bem-estar dos compatriotas taiwaneses”, acrescentou Li.

Segundo o relatório do trabalho do Governo apresentado por Li Keqiang, o Partido Comunista está numa “grande luta contra a secessão” e a “interferência” externa em Taiwan.

Subida de 7,2% no orçamento da Defesa

Li Keqiang anunciou ontem também que a China vai aumentar este ano as despesas militares em 7,2%, para 1,55 bilião de yuan (mais de 210 mil milhões de euros). As Forças Armadas chinesas devem “melhorar a sua prontidão de combate e capacidades militares, para cumprirem com as tarefas atribuídas pelo Partido. As Forças Armadas chinesas devem intensificar o seu treino e preparação, desenvolver novas directrizes estratégicas militares” e “reforçar o trabalho militar em todas as direcções e domínios”, apontou.

Li afirmou que a China vai permanecer “comprometida com uma política externa independente e com a paz”. “Vamos continuar com a nossa estratégia de abertura para benefício mútuo e trabalhar para salvaguardar a paz mundial, contribuir para o desenvolvimento global e manter a ordem internacional”, afirmou.

O primeiro-ministro cessante não mencionou a guerra na Ucrânia, mas enfatizou que as iniciativas de Segurança e Desenvolvimento Global da China visam “promover valores compartilhados pela humanidade”. A “Iniciativa de Segurança Global” é um projecto anunciado pelo Presidente chinês, Xi Jinping, em Abril de 2022, que se opõe ao uso de sanções no cenário internacional ou ao que Pequim considera “unilateralismo”, “confronto entre blocos” ou “mentalidade de guerra fria”, numa crítica implícita à política externa dos Estados Unidos.

Propostas alterações ao sistema legislativo

A Assembleia Popular Nacional (APN) começou no domingo de manhã a deliberar um projecto de emenda à Lei da Legislação. Wang Chen, vice-presidente do 13º Comité Permanente da APN, explicou o projecto de emenda na reunião de abertura da primeira sessão do 14º APN. “Resumindo a experiência prática do trabalho legislativo na nova era, espera-se que a emenda proposta melhore ainda mais o sistema e mecanismo legislativo, e melhore a qualidade e eficiência da legislação”, disse Wang.

Nas disposições gerais, o projecto destaca “o papel orientador das teorias inovadoras do Partido, o desenvolvimento de um sistema chinês de Estado de direito socialista e a construção de um país socialista moderno em todos os aspectos sob o Estado de direito.

Durante o processo legislativo, a democracia popular de todo o processo deve ser defendida e desenvolvida, de acordo com o projecto”. Propõe-se também codificar a exigência de respeito e protecção dos direitos humanos no trabalho legislativo.

Sobre a melhoria dos procedimentos legislativos e dos mecanismos de trabalho da ANP e do seu Comité Permanente, o projecto propõe requisitos detalhados da revisão da constitucionalidade e do sistema de registo e revisão das legislações e documentos normativos. Em particular, o projecto exige que um documento explicativo do projecto de lei inclua pareceres sobre questões de constitucionalidade, e convida a Comissão de Constituição e Direito da ANP a explicar as questões de constitucionalidade envolvidas após a revisão de um projecto de lei.

Foi também introduzido um procedimento legislativo de emergência para o Comité Permanente do CNP, onde um projecto de lei pode ser submetido a votação após uma única deliberação no Comité Permanente. Um projecto de lei terá normalmente de passar por três leituras antes de ser posto à votação.

O projecto estipula também que os órgãos de trabalho do Comité Permanente devem criar gabinetes locais de divulgação legislativa à luz das necessidades reais de solicitar pareceres às bases e a pessoas de todos os estratos sociais sobre projectos de lei e trabalho legislativo. Sobre o trabalho legislativo local, o projecto compromete-se a expandir o poder legislativo das cidades com distritos subsidiários para incluir assuntos relacionados com a governação a nível primário.

Reuniões prepararam os trabalhos

Os deputados da 14ª Assembleia Popular Nacional (APN) fizeram na manhã de sábado uma reunião preparatória para eleger o presidium e definir a agenda da primeira sessão da 14ª APN, que começou no domingo. Um presidium de 192 membros foi eleito, com Li Hongzhong como secretário-geral da sessão da APN, de acordo com um comunicado emitido após a reunião. “Todo o trabalho preparatório para a sessão anual foi feito”, disse o presidente do Comité Permanente da 13ª APN, Li Zhanshu, que presidiu à reunião preparatória.

“A sessão será democrática, unida, pragmática e progressista e reunirá o povo chinês de todos os grupos étnicos mais estreitamente em torno do Comité Central do Partido Comunista da China (PCC), com o camarada Xi Jinping no núcleo, para se esforçar em unidade para construir um país socialista moderno em todos os aspectos e promover a grande revitalização da nação chinesa em todas as frentes”, disse Li.

A reunião preparatória também adoptou a agenda de nove pontos da iminente sessão. O presidium recém-eleito reuniu-se pouco depois e elegeu Zhao Leji, membro do Comité Permanente do Bureau Político do Comité Central do PCC, e outros dez deputados da 14ª APN como presidentes-executivos do presidium.
Mais tarde, os presidentes-executivos do presidium realizaram a sua primeira reunião, presidida por Zhao.

Gestão da pandemia deve ser “mais eficaz”, diz Li Keqiang

A China deve garantir uma gestão da pandemia da covid-19 “mais eficaz e científica”, disse ontem o primeiro-ministro cessante, Li Keqiang. Lembrando que a pandemia “não acabou”, Li Keqiang apontou no relatório que o país entrou numa “fase de ações reguladas” contra a doença.

O primeiro-ministro indicou que a China “conseguiu proteger eficazmente a segurança e a saúde das pessoas”, depois de relaxar as medidas de prevenção, em dezembro passado. “O povo chinês superou muitas dificuldades e fez grandes sacrifícios”, disse Li. A China alcançou uma “grande vitória decisiva” contra a pandemia, afirmou.

No mês passado, a liderança do PCC proclamou que, após uma “jornada extraordinária”, o país alcançou uma “vitória decisiva”, após o desmantelamento das restrições. “A China criou um milagre na história da humanidade, no qual uma nação populosa conseguiu superar uma pandemia”, descreveram os líderes chineses, numa declaração do Comité Permanente do Poliburo do PCC, a cúpula do poder na China. “Ficou assim demonstrado que o PCC julgou corretamente a situação da pandemia e que adotou as medidas e os ajustes certos das estratégias de prevenção”, acrescentaram.

Os hospitais chineses registaram 83.150 mortes causadas por infeção pela covid-19, entre 8 de dezembro, altura em que a China começou a desmantelar a estratégia “zero covid”, e 9 de fevereiro, segundo dados divulgados pelo Centro de Controlo de Doenças (CDC) do país asiático.

6 Mar 2023

Finanças | Ministro diz que dívida dos governos locais não ameaça estabilidade

A dívida dos governos locais e regionais da China “não constitui um problema” para o sistema financeiro chinês, disse ontem o ministro das Finanças do país, Liu Kun, em conferência de imprensa.

As dívidas dos governos locais chineses, que há anos são apontadas por analistas como potenciais fontes de risco, aumentaram em 2022, devido à estratégia de ‘zero casos’ de covid-19, que paralisou a actividade económica e acarretou despesas extras.

O portal de notícias económicas Caixin noticiou recentemente que, em 2022, o montante gasto em políticas de prevenção epidémica atingiu o equivalente a 10,3 mil milhões de dólares, só na província de Guangdong, no sudeste do país. Na província de Zhejiang, no leste, as despesas com testes de ácido nucleico e pessoal ascenderam a 6,3 mil milhões de dólares. O município de Pequim gastou 4,3 mil milhões de dólares.

Pelo menos 17 das 31 regiões que compõem o país enfrentaram uma relação entre dívida pendente e receita tributária em 2022 superior a 120 por cento, segundo cálculos da agência Bloomberg.

Liu assegurou que o principal problema da dívida da China é a sua distribuição “desigual” entre as regiões, já que algumas delas enfrentam maiores riscos de dívida e maior pressão com amortizações e juros.

O ministro assegurou que Pequim tem exigido às autoridades competentes que resolvam os problemas de endividamento dos diferentes governos – também afectados pela crise no sector imobiliário, o que dificulta as receitas através da venda de terrenos, uma das principais fontes de dinheiro das administrações locais – e garantam o equilíbrio.

3 Mar 2023

Brasil | Wang Yi frisa importância das relações com o país

Na preparação da visita de Lula da Silva à China, que deverá acontecer no final deste mês, o principal diplomata chinês, Wang Yi, encontrou-se com o com o secretário para os Negócios Estrangeiros do PT, Romênio Pereira

 

O chefe dos Negócios Estrangeiros do Partido Comunista Chinês (PCC) frisou a importância estratégica da relação entre Pequim e Brasília, num encontro com o secretário para os Negócios Estrangeiros do Partido dos Trabalhadores do Brasil.

Os dois países mantêm uma “cooperação frutífera” em várias áreas e uma “coordenação próxima” na governação das questões internacionais, considerou Wang Yi, na quarta-feira, num encontro com Romênio Pereira, de acordo com a agência de notícias oficial Xinhua.

Os laços bilaterais estão dotados de uma “perspectiva estratégica e de longo prazo”, afirmou o director do Gabinete para os Negócios Estrangeiros do PCC, durante o encontro realizado em Pequim.

O responsável lembrou ainda que as relações estão vinculadas ao desenvolvimento dos respectivos países e à paz e estabilidade mundiais.

“O Partido Comunista Chinês quer manter intercâmbios aprofundados de experiência em governação do Estado com o Partido dos Trabalhadores e abrir novas perspectivas para a parceria estratégica abrangente entre China e Brasil”, apontou.

De acordo com a Xinhua, Romênio Pereira disse que o Partido dos Trabalhadores atribui grande importância ao intercâmbio de experiências com o PCC sobre a governação do Partido e do Estado, e que espera “impulsionar a cooperação bilateral em vários campos para os benefícios dos dois povos”.

A deslocação de Romênio Pereira antecede a visita de Estado do líder brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, à China, que se deve realizar no final de Março, segundo fontes do governo brasileiro.

Colegas de trabalho

Durante os primeiros dois mandatos de Lula da Silva, entre 2003 e 2011, a relação comercial e política entre Brasil e China intensificou-se, marcada, em particular, pela constituição do bloco de economias emergentes BRICS, que inclui ainda Rússia, Índia e África do Sul.

Desde 2009, a China é o principal parceiro comercial do Brasil, com o comércio bilateral a passar de nove mil milhões de dólares, em 2004, para 135 mil milhões, em 2021. Nos últimos anos, a participação da China nas exportações do Brasil superou os 30 por cento, à boleia do apetite do país asiático por matérias-primas, sobretudo soja e minério de ferro. Entre 2007 e 2020, a China investiu, no total, 66 mil milhões de dólares no Brasil.

A relação entre Pequim e Brasília arrefeceu, no entanto, durante o mandato de Bolsonaro, que assumiu o poder com a promessa de reformular a política externa brasileira, com uma reaproximação aos Estados Unidos, e pondo em causa décadas de aliança com o mundo emergente.

O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil Ernesto Araújo, que foi, entretanto, substituído, adoptou mesmo uma retórica hostil face à China.

3 Mar 2023

Nota sobre a Montanha da Vila de Pedra

Partindo de Sichuan, o caminho vai direto ao norte. Ao descer do porto da montanha, o caminho se bifurca; para oeste, não se encontra nada de interessante; e para o norte, logo se vira para o leste. A quatro léguas de distância, o caminho se vê interrompido por um rio. A beirada do rio tem rochas cujos tetos se assemelham a vigas e colunas. Ao lado, há uma espécie de muralha e algo parecido com uma porta.

Dentro, reina a escuridão. Se alguém lançar um grito, ouvirá apenas o burburinho da água, como em uma caverna; o eco ressoa algum tempo e depois cessa. Dando uma volta, se pode chegar ao alto; dali se descobre uma vista muito ampla. Sem que haja terra fértil, crescem lindas arvores e magníficos bambus profundamente enraizados.

As plantas, ora ralas, ora frondosas, ora inclinadas, ora retas, parecem haver sido dispostas por algum ser consciente. Há muito tempo venho me perguntando se há um criador de todas as coisas; aqui me inclino a pensar que sim.

O inseto chamado Fuban

O Fuban é um pequeno inseto capaz de levar cargas sobre o lombo. Quando encontra algo em seu caminho, colhe imediatamente e, levantando a cabeça, deposita em seu lombo e leva. Deste modo, o peso que transporta é cada vez maior; no entanto, quando está cansado a ponto de sucumbir, segue fazendo o mesmo até não poder mais.

Como seu lombo é rugoso, as coisas se acumulam ali sem cair nem se perder. No final, o inseto tropeça e cai no chão, e com tanto peso, não consegue mais levantar-se. Às vezes as pessoas tem piedade dele e tiram a carga de suas costas.

Mesmo assim, quando se vê livre, levanta e começa a fazer as mesmas coisas de antes. Como também gosta de trepar cada vez mais alto, com a carga nas costas, chega um momento em que ele se esgota, cai no solo e morre.

Hoje os homens anseiam por acumular bens; apenas o encontram e, no lugar de evitá-los, tomam-no e começam a aumentar seu patrimônio, sem perceber as consequências disso. Seu único temor é não acumular bastante.

Acabam exaustos e tropeçam, vendo-se então obrigados a abandonar tudo, pondo-se em marcha e se instalando em outro lugar. Tanto o fazem que, não raro, terminam doentes. mas quando conseguem se levantar, começam a fazer tudo igual, de novo.

Cada dia que passa, estes homens pensam em subir de posição, em aumentar sua fortuna; sua conduta e sua avidez crescem sem cessar e acabam levando-os ao perigo e a queda final. Mesmo vendo que muitos antes deles perderam tudo e morreram, não sabem aprender com o exemplo.

Por mais imponente que seja o seu aspecto, e quão eminente seja sua posição, estes levam o nome de “homens”, mas abrigam a mente de um inseto. Isso não é realmente triste?

Liu Zongyuan (773-819)
Tradução de André Bueno

3 Mar 2023

Máscara | Não utilização aconselhada nas escolas

A chefe da Divisão de Ensino Primário e de Ensino Infantil da Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude, Choi Man Chi, considera que a não utilização de máscaras nas escolas beneficia a aprendizagem e a comunicação. A posição foi tomada em declarações ao jornal Ou Mun, depois de na quarta-feira terem começado as entrevistas de admissão para as instituições de ensino infantil.

A utilização de máscara fica, nesta altura, ao critério dos pais. Mas, também a vice-directora da Escola da Associação Geral das Mulheres e a Escola Choi Nong Chi Tai, Loi I Leng, defendeu a não utilização de máscara. Na perspectiva da escola, e ao fim de três anos, a não utilização de máscara é encarada como “benéfica” para a aprendizagem, porque permite uma maior interacção entre alunos e professores.

Loi argumentou igualmente que sem máscara os professores podem corrigir mais facilmente a pronúncia dos alunos, porque podem ver a forma como pronunciam as palavras.

Sobre o processo de admissão do ensino infantil, que vai decorrer no próximo mês, Choi Man Chi indicou que pela primeira vez houve “apenas” 5.200 inscrições, o que representa uma diminuição face aos últimos anos. Esta diminuição foi justificada com a redução da natalidade.

3 Mar 2023

Melco | Ano de 2022 com prejuízo de 7,5 mil milhões

Num dos anos mais difíceis para a economia local, devido à política de zero casos de covid-19, a Melco Resorts and Entertainment apresentou perdas significativas. Contudo, Lawrence Ho está confiante no futuro

 

A concessionária Melco Resorts and Entertainment Ltd anunciou ontem um prejuízo de cerca de 7,5 mil milhões de patacas (930,5 milhões de dólares americanos) durante 2022, mais 14,6 por cento do que no ano anterior.

Num comunicado enviado à bolsa de valores Nasdaq, em Nova Iorque, nos EUA, a Melco revelou que perdeu 1,7 mil milhões de patacas no último trimestre do ano passado. O prejuízo foi 3,3 por cento maior do que o registado no trimestre anterior e representa um agravamento de 57,5 por cento em comparação com o mesmo período de 2021 (1,3 mil milhões de patacas).

As receitas também caíram significativamente no último trimestre de 2022, com a Melco a registar 2,7 mil milhões de patacas, menos 30 por cento do que no mesmo período de 2021.

No comunicado, o presidente da empresa, Lawrence Ho Yau-lung, sublinhou que os resultados “continuaram a ser afectados pelas restrições fronteiriças impostas em toda a China continental e em Macau”.

No último trimestre, Macau recebeu quase 900 mil visitantes, menos 50,8 por cento em relação ao mesmo período de 2021, também devido à vaga de casos de covid-19 que atingia a China continental, de onde chega a esmagadora maioria dos visitantes.

Desde o início da pandemia, as operadoras têm acumulado prejuízos sem precedentes em Macau, que seguiu até meados de Dezembro a política chinesa de ‘zero covid’, com a imposição de quarentenas, confinamentos e testagem massiva.

Investimento de 10 mil milhões

Ainda assim, a Melco prevê gastar cerca de 10 mil milhões de patacas no segmento além-casino numa década, incluindo no “único parque aquático em Macau com instalações interiores abertas durante todo o ano”.

A aposta em elementos não jogo foi uma das exigências das autoridades de Macau para a renovação por 10 anos das licenças das seis concessionárias a operar no território, que entraram em vigor em 1 de Janeiro.
Lawrence Ho, filho do falecido magnata do jogo Stanley Ho, disse sentir-se “encorajado pelo aumento dos visitantes” após o fim da política de “covid zero”, algo que reforça a “crença no regresso da procura não satisfeita”.

A cidade registou em Janeiro mais de um milhão de visitantes, numa subida de 101,3 por cento em termos anuais, e a taxa de ocupação hoteleira foi de 71,2 por cento, o valor mais elevado desde o início da pandemia.

Nos primeiros dois meses de 2022, as receitas do jogo em Macau atingiram 21,9 mil milhões de patacas, mais 55,3 por cento do que em igual período de 2021, e o melhor arranque dos últimos três anos.

3 Mar 2023

Lusofonia | Membro da CCPPC pede bolsa para empresas lusófonas

Um representante de Macau disse que vai defender na Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC) a criação de uma bolsa de valores na RAEM para atrair empresas dos países de língua portuguesa. Ao jornal Ou Mun Iat Pou, Un Kin Kuan garantiu que vai fazer a proposta durante a reunião da CCPPC que arranca amanhã.

O também empresário defendeu que empresas dos mercados lusófonos poderiam ter interesse em listar-se numa nova bolsa de valores de Macau. Un Kin Kuan disse que a criação de uma bolsa de valores no território, denominada na moeda chinesa, poderia promover a internacionalização do renminbi.

A sessão anual da CCPPC decorre em paralelo com a Assembleia Popular Nacional (APN), a principal legislatura do país, que serve tradicionalmente para apresentar grandes iniciativas.

Em Novembro, o parlamento de Macau aprovou uma revisão do sistema financeiro do território para “impulsionar o sector, nomeadamente a emissão de obrigações e títulos”, disse na altura o presidente da Autoridade Monetária de Macau, Benjamin Chan Sau San.

O Governo tem assumido a vontade de avançar com uma bolsa de valores, em sintonia com o papel que o território tem assumido enquanto plataforma de serviços para a cooperação comercial entre a China e os países de língua portuguesa, assim como para a prestação de serviços financeiros entre Pequim e o bloco lusófono.

Em Outubro de 2019, o Banco da China em Macau realizou emissões de obrigações ‘verdes’ – para financiar projectos amigos do ambiente – no valor de 7 mil milhões de yuan (954 milhões de euros) em três moedas (dólar, euro e renminbis) “que incluíram clientes lusófonos”.

3 Mar 2023

Voos de aviões militares do EUA no Estreito motivam resposta chinesa

Os EUA fizeram esta semana aumentar drasticamente a tensão no Estreito de Taiwan, através da realização de voos militares, o que levou a uma resposta da China, que enviou para a região navios e aviões de combate

 

A China e os Estados Unidos exibiram o seu poderio militar em torno de Taiwan nos últimos três dias, à medida que as tensões entre as duas potências rivais se exacerbam. O Exército de Libertação Popular (EPL) enviou 68 aviões e 10 navios de guerra para perto de Taiwan desde segunda-feira, segundo o Ministério da Defesa da ilha, enquanto os EUA confirmaram que o seu avião de reconhecimento P-8A Poseidon tinha sido destacado para voar através do Estreito de Taiwan.

As plataformas de verificação de voo online mostraram que os EUA tinham também enviado aviões de reabastecimento aéreo e bombardeiros para perto da área. Os jactos militares chineses foram destacados logo após a Marinha dos EUA ter anunciado na segunda-feira que o P-8A estava a voar através do Estreito de Taiwan.

O Ministério da Defesa de Taiwan disse ter detectado 29 aviões e quatro navios da China continental nas 24 horas que terminaram às 6 da manhã de quinta-feira. Entre eles, 17 jactos J-10 e quatro caças de ataque J-16, e foi o maior destacamento até agora esta semana, com 21 saídas a entrarem na zona de identificação de defesa aérea do sudoeste da ilha, informou o ministério.

Na terça-feira, o EPL destacou dois navios e 25 aviões, incluindo 19 J-10 jactos, enquanto na segunda-feira enviou 14 aviões e três navios para a zona. No entanto, o ministério disse que nenhum dos aviões do EPL tinha atravessado a linha mediana que serve de barreira não oficial entre a ilha e a China continental.

A notícia de que o P-8A Poseidon tinha voado sobre o estreito provocou protestos por parte de Pequim. O Comando do Teatro Oriental do PLA, que supervisiona o Estreito de Taiwan, disse na segunda-feira que os EUA “tinham deliberadamente interrompido e minado a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan”.

A Sétima Frota dos EUA disse considerar o Estreito de Taiwan uma via navegável internacional, e que operações como o trânsito de segunda-feira iriam continuar. “Os Estados Unidos continuarão a voar, navegar e operar em qualquer lugar que o direito internacional permita, incluindo dentro do Estreito de Taiwan”, disse, acrescentando que o avião estava a operar no “espaço aéreo internacional”.

Na segunda-feira, um mapa de radar de voo mostrou que três aviões Stratotankers KC-135R da Força Aérea dos EUA estavam no Canal de Bashi, a sul de Taiwan. Mas o mapa de radar não tinha um carimbo da hora clara, e os funcionários dos EUA não comentaram o destacamento de aviões de reabastecimento aéreo.

Na terça-feira, Aircraft Spots, uma conta do Twitter dedicada ao rastreio dos movimentos aéreos militares, disse que os bombardeiros B-52 dos EUA estavam a voar na região a caminho de se juntarem ao Avalon Airshow na Austrália a 4 de Março.

Zhou Chenming, um investigador do grupo de reflexão de ciência e tecnologia militar Yuan Wang sediado em Pequim, disse que era possível que os aviões chineses tivessem sido enviados para interceptar pelo menos dois bombardeiros B-52 americanos que sobrevoavam o Canal Bashi na terça-feira.

“São os bombardeiros B-52 dos militares americanos que forçam o EPL a destacar caças para os impedir de voar perto de Taiwan, como o P-8A fez na segunda-feira”, disse Zhou, acrescentando que os movimentos iriam agravar ainda mais as tensões no estreito.

Fu Qianshao, um analista de aviação militar chinês, disse que os EUA tinham intensificado as provocações enviando aviões de guerra em torno de Taiwan, representando uma ameaça para o espaço aéreo da China continental. “Os EUA enviaram aviões anti-submarinos, aviões de reconhecimento e bombardeiros, pelo que devemos estar sempre vigilantes para monitorizar as suas actividades”, disse Fu.

“Pode-se ver que os militares dos EUA intensificaram as suas actividades. Iremos também inevitavelmente aumentar o nível de prontidão de combate, e assim que ocorrer uma abordagem ameaçadora, iremos inevitavelmente tomar medidas relevantes”.

De acordo com Fu, as actividades do EPL em torno de Taiwan faziam parte do seu plano de treino regular, mas a actividade poderá aumentar em resposta às provocações dos EUA. “As suas actividades em redor do Estreito de Taiwan são próximas da China continental, o que constitui uma ameaça para nós”, disse Fu. “Por conseguinte, aumentámos as nossas patrulhas para evitar abordagens perigosas no nosso espaço aéreo”.

Lu Li-shih, um antigo instrutor da Academia Naval de Taiwan em Kaohsiung, disse que a resposta do EPL poderia ser vista como parte das suas contramedidas para fazer face aos voos de vigilância dos EUA ao longo da costa sudeste da China continental. “Os EUA têm tentado utilizar [estes] voos para alcançar a sua estratégia de ‘dissuasão por detecção’ nos últimos anos para dissuadir o EPL de expandir a sua influência militar na região”, disse Lu.

No entanto, os destacamentos do EPL nos últimos dias mostraram que a estratégia dos EUA tinha falhado, uma vez que Pequim já tinha apresentado contra-medidas para dissuadir os voos de reconhecimento americanos e outras provocações, disse Lu.

Song Zhongping, um antigo instrutor do EPL, disse que o EPL iria reforçar as suas contramedidas contra as acções intensificadas dos EUA. “Os EUA querem sempre alterar o status quo no Estreito de Taiwan”, disse Song. “Irá inevitavelmente conduzir a uma intensificação dos confrontos entre a China e os EUA”.

Manobras de Março

A China criticou ontem um novo comité da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos dedicado a combater Pequim, exigindo que os seus membros “descartem o viés ideológico e a mentalidade de ‘tudo ou nada’ da Guerra Fria”.

O novo comité da Câmara dos Representantes para o Partido Comunista Chinês deve “ver a China e a relação China – EUA sob uma luz objectiva e racional”, disse a porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros, Mao Ning, em conferência de imprensa.

“Exigimos que as instituições e indivíduos relevantes dos EUA descartem o seu viés ideológico e mentalidade de ‘tudo ou nada’ da Guerra Fria”, afirmou. Eles devem “parar de enquadrar a China como uma ameaça, com base em desinformação, parar de denegrir o Partido Comunista da China e parar de tentar marcar pontos políticos, em detrimento das relações China-EUA”, acrescentou Mao.

O comité iniciou o seu trabalho na terça-feira com uma audiência em horário nobre, na qual o seu presidente pediu aos legisladores que agissem com urgência, enquadrando a competição entre os EUA e a China como “uma luta existencial sobre como será a vida no século XXI”.

As relações entre Pequim e Washington deterioraram-se, nos últimos anos, devido a uma guerra comercial e tecnológica, diferendos em questões de direitos humanos, o estatuto de Hong Kong e Taiwan ou a soberania do mar do Sul da China, tendo os EUA interferido em todos estes processos, que a China considera questões internas.

A recente passagem de um alegado balão de espionagem chinês no espaço aéreo dos EUA alimentou o desejo dos legisladores de fazer mais para combater Pequim. Testemunhando a força dessas preocupações, a votação de 365 contra 65 para criar o comité foi bipartidária, uma raridade num Congresso profundamente dividido.

G20 | EUA recusam reunir com China e Rússia

Entretanto, seguindo a atitude de confronto, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, não tenciona reunir com seus homólogos russos, Serguei Lavrov, e chinês, Qin Gang, na reunião ministerial do G20, que começa hoje em Nova Deli.

“Não tenciono vê-los no G20, embora suspeite que certamente estaremos juntos em algumas sessões”, disse Blinken, em declarações feitas na capital uzbeque, Tashkent, após um encontro com o Presidente do Uzbequistão, Shavkat Mirziyóyev, e com o seu homólogo, Bajityor Saidov.

Questionado sobre o facto de muitos dos países não alinhados ou neutros gostarem de ver negociações de paz para a Ucrânia, nomeadamente através do plano apresentado pela China, Blinken reconheceu que “existem alguns elementos positivos” nessa proposta. “Mas, se a China realmente levasse a sério o primeiro princípio que enunciou – a soberania – teria passado todo o ano passado a apoiar a restauração da plena soberania da Ucrânia”, lembrou o chefe da diplomacia norte-americana.

Blinken insistiu que “a China não pode ter as duas coisas: não pode apresentar-se publicamente como uma força de paz enquanto, de uma forma ou de outra, continua a alimentar as chamas deste incêndio iniciado pelo (Presidente russo) Vladimir Putin.

Esforços chineses

Em resposta a um relatório Bloomberg que diz que a Índia está “a tentar convencer Moscovo e Pequim a alinharem com um consenso sobre a guerra da Rússia na Ucrânia”, semelhante ao alcançado pelos líderes do G20 em 2022, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês disse que a posição da China sobre a questão da Ucrânia é clara e consistente e está totalmente delineada na recentemente divulgada “Posição da China sobre a Resolução Política da Crise da Ucrânia”, que está centrada na promoção de conversações para a paz.

“A comunidade internacional, incluindo o G20, precisa de desempenhar um papel construtivo na resolução da situação, reduzindo a temperatura e facilitando uma solução política para a crise”, disse Mao Ning.

Alguns peritos acreditam que a China irá introduzir a sua Iniciativa de Desenvolvimento Global, que coloca o desenvolvimento em primeiro lugar e a população no centro e procura acelerar a implementação da Agenda 2030, no encontro, e fornece soluções para enfrentar a crise alimentar e energética, bem como as alterações climáticas.

“Se o G20 for fragmentado e se tornar num instrumento de luta geopolítica, também afectará a globalização. Os países em desenvolvimento precisam de estar muito mais unidos, por exemplo, para reforçar a cooperação dentro do mecanismo BRICS para compensar o impacto negativo da pressão geopolítica”, disse Wang Yiwei, director do Instituto de Assuntos Internacionais da Universidade de Renmin da China.

Embora alguns meios de comunicação social norte-americanos tenham tomado o aviso de Blinken a Pequim sobre a crise da Ucrânia como o último sinal de deterioração das relações EUA-China, alguns especialistas acreditam que haverá um certo nível de interacção entre funcionários chineses e norte-americanos no evento. “Os EUA irão certamente aproveitar todas as oportunidades para pressionar não só a Rússia mas também a China, por exemplo, inventando histórias de que a China está a fornecer armas letais à Rússia, para caluniar a China e conter estrategicamente o país”, disse Wang.

3 Mar 2023

Indústria transformadora | Maior expansão em Fevereiro desde 2012

A indústria transformadora da China registou, em Fevereiro, a maior expansão em mais de dez anos, segundo dados oficiais, batendo as expectativas dos analistas, após Pequim ter desmantelado a política de ‘zero casos’ de covid-19.

O índice do gestor de compras (PMI), importante indicador da evolução da segunda maior economia mundial, fixou-se nos 52,6 pontos, em Fevereiro, face a 50,1 pontos, em Janeiro, de acordo com o Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) da China. Quando se encontra acima dos 50 pontos, este indicador sugere uma expansão do sector, enquanto abaixo dessa barreira pressupõe uma contracção da actividade.

O índice superou as previsões feitas pelos analistas, que previam que o PMI se fixasse nos 50,5 pontos. Foi também a maior expansão desde Abril de 2012.

A economia chinesa registou um dos seus piores anos em quase meio século, em 2022, face à estratégia de ‘zero casos’ de covid-19, que ditou o bloqueio de cidades inteiras, durante semanas ou meses, e o encerramento praticamente total das fronteiras do país. Pequim levantou subitamente as restrições, em Dezembro passado.

O GNE publicou também o PMI para outros sectores, incluindo construção e serviços. Este último indicador passou de 54,4 pontos, em Janeiro, para 56,3, em Fevereiro.

As principais praças financeiras asiáticas registaram ganhos, após a divulgação dos dados. O índice Hang Seng, de Hong Kong, subiu mais de 3 por cento, durante a sessão da manhã.

A sessão anual da Assembleia Popular Nacional, que arranca no fim de semana, deve definir as metas económicas para este ano, incluindo de crescimento do PIB e da inflação. Na sexta-feira, o banco central da China disse que a economia chinesa deve recuperar, em 2023, embora o ambiente externo permaneça “grave e complexo”.

2 Mar 2023

PIB | Moody’s eleva previsão de crescimento para 5% em 2023 e 2024

A agência de notação financeira norte-americana Moody’s elevou ontem a previsão de crescimento do PIB da China de 4 por cento para 5 por cento, em 2023 e 2024.

Numa actualização das previsões de crescimento das principais economias mundiais, a agência de ‘rating’ afirmou que a “decisão do Governo chinês de relaxar totalmente as medidas de prevenção contra a covid-19 vão, naturalmente, impulsionar a actividade económica”.

A segunda maior economia do mundo cresceu 3 por cento, no ano passado, o segundo nível mais baixo em pelo menos quatro décadas, reflectindo o impacto da política de ‘zero covid’ e a crise de liquidez no sector imobiliário.

As autoridades chinesas ainda não anunciaram a meta de crescimento económico para este ano. Isso deve ser feito este domingo, pelo primeiro-ministro cessante, Li Keqiang, na abertura da sessão anual da Assembleia Popular Nacional, o órgão máximo legislativo do país.

A Moody’s também previu que Pequim estabeleça uma meta de inflação de “cerca de 3 por cento” e que o índice de preços ao consumidor, que em 2022 subiu 2 por cento, segundo dados oficiais, aumente 2,3 por cento, este ano, e 1,9 por cento, em 2024.
Apesar do impacto positivo da reabertura do país, a agência continua a prever uma desaceleração do crescimento das economias do G-20, passando de 2,7 por cento, em 2022, para 2 por cento, este ano, e 2,4 por cento, em 2024.

2 Mar 2023

Pequim vai seleccionar estrangeiros para integrarem estação espacial

A China vai iniciar “em breve” o processo de selecção de astronautas estrangeiros para participarem em missões na sua estação espacial, revelou ontem um responsável pelo programa espacial chinês.

“Em breve, começaremos a seleccionar astronautas estrangeiros para enviar para a nossa estação espacial, visando realizar experiências científicas conjuntas”, disse Chen Shanguang, o vice-chefe do programa espacial tripulado da China, citado pela televisão estatal chinesa CCTV.

Os astronautas terão primeiro que passar por um processo de familiarização com as naves chinesas.
Chen disse ter esperança de que os “astronautas estrangeiros que forem para a estação espacial chinesa aprendam mais sobre a cultura” da China e que os “intercâmbios culturais entre astronautas de diferentes países possam promover o progresso mútuo”.

O processo de adaptação estende-se à língua: “a língua de trabalho na Estação Espacial Internacional é o inglês. Da mesma forma, a língua falada na Estação chinesa é o chinês”, acrescentou o responsável.

O especialista, que indicou que “instrutores chineses poderiam treinar astronautas de outros países na China”, disse que “muitos países propuseram seleccionar e enviar astronautas” para participarem nas missões.

No ar

Na estação espacial chinesa, designada Tiangong (“Palácio Celestial”) já foram realizadas algumas experiências por organizações internacionais, como o Escritório das Nações Unidas para Assuntos Espaciais, embora, por enquanto, apenas astronautas chineses tenham viajado até à estação.

O Tiangong está programado para operar por 15 anos, orbitando a cerca de 400 quilómetros acima da superfície da Terra.

Em 2024, é provável que se torne a única estação espacial activa. A Estação Espacial Internacional, uma iniciativa liderada pelos Estados Unidos e da qual a China foi excluída, deve chegar ao fim naquele ano.

2 Mar 2023

Ucrânia | Pequim nega envio de armas à Rússia e lembra amizade com Portugal

Após as declarações do ministro João Cravinho sobre a possível revisão das relações com a China, caso o gigante asiático fornecesse arma à Rússia, a diplomacia chinesa veio a terreiro negar qualquer intenção de apoiar a Rússia com armamento e lembrar a relação de amizade com Lisboa

 

A China negou ontem tencionar fornecer armas à Rússia e assinalou que mantém com Portugal uma relação “amigável” e “mutuamente benéfica”, após Lisboa afirmar que reveria os laços caso Pequim preste apoio militar a Moscovo.

“A China não vai realizar qualquer venda militar a partes beligerantes ou para áreas em conflito”, disse o ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, numa resposta por escrito a perguntas da agência Lusa.

Pequim “teve sempre uma atitude prudente e responsável” na exportação de armas e equipamento militar, acrescentou. A diplomacia chinesa afirmou ainda que mantém com Portugal laços amigáveis, de longo prazo e “mutuamente benéficos”.

As relações entre Lisboa e Pequim estão “alinhadas com os interesses de ambos os lados”, lê-se nas respostas enviadas à Lusa, após o ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, ter afirmado que Lisboa teria que “rever o significado do relacionamento político e económico” com a China, caso o país asiático prestasse apoio militar à invasão russa da Ucrânia.

Proposta de paz

O governo chinês lembrou que propôs, na semana passada, um plano para pôr fim ao conflito.
Na proposta de Pequim, destaca-se a importância de “respeitar a soberania de todos os países”, numa referência à Ucrânia, mas apela-se também ao fim da “mentalidade da Guerra Fria” – um termo frequentemente usado por Pequim para criticar a política externa dos Estados Unidos.

“A segurança de uma região não deve ser alcançada através do fortalecimento ou expansão de blocos militares”, lê-se no documento, numa critica implícita ao alargamento da NATO.

No plano pede-se o fim das sanções ocidentais impostas à Rússia, medidas para garantir a segurança das instalações nucleares, o estabelecimento de corredores humanitários para a evacuação de civis e acções para garantir a exportação de grãos, depois de interrupções no fornecimento terem causado o aumento dos preços a nível mundial.

O país asiático considera a parceria com Moscovo fundamental para contrapor a ordem democrática liberal, liderada pelos Estados Unidos. As relações entre Pequim e Washington deterioraram-se também rapidamente, nos últimos anos, devido a uma guerra comercial e tecnológica, diferendos em questões de direitos humanos, o estatuto de Hong Kong e Taiwan ou a soberania do mar do Sul da China.

A diplomacia chinesa afirmou ainda querer trabalhar em conjunto com Portugal para promover intercâmbios e a cooperação bilateral, visando “alcançar mais resultados e benefícios para ambos os lados”.

2 Mar 2023

Zhuang Zi, a técnica e o fim do humanismo

Condenando toda a autoridade, toda a hierarquia, toda a vida em sociedade, Zhuang Zi, o maior pensador chinês da Antiguidade não cessa, ao longo da sua obra, de estigmatizar a bondade e os seus defeitos. Oferece-nos uma crítica do humanitarismo de extraordinário alcance.

Jean Levi*
Tradução de Rui Cascais

 

Todos conhecem os nomes de Confúcio, o santo patrono dos letrados, ou de Lao Zi, o sábio taoista, mas são poucos os que conhecem Zhuang Zi. E, no entanto, ele foi o maior pensador chinês da Antiguidade (início do século III A.C.). O leitor erudito ligará, sem dúvida, o seu nome à história do filósofo que sonhava que era uma borboleta e, ao acordar, não sabia já se era um homem que tinha sonhado que era uma borboleta ou uma borboleta que sonhava que era um homem, invocada por Borges como prova da inexistência da coerência temporal na sua vertiginosa “Nova refutação do tempo”.

Zhuang Zi ficou assim associado a imagens de sonhos e borboletas, e firmemente enquadrado nessa evanescência que habitualmente atribuímos ao misticismo oriental. É certo que não falta encanto a esta visão e que ela permitiu popularizar o nome de Zhuang Zi no Ocidente. Porém, ela não lhe prestou nem serviço, nem justiça e instalou o lugar comum do sábio subtraído das contingências do mundo e da matéria, evoluindo como um insecto diáfano entre sonho e realidade, que foi utilizado para forjar a própria tradição filosófica chinesa afim de retirar a carga subversiva deste homem que Diógenes não teria hesitado em alistar na sua matilha de cães enraivecidos.

Pois, na verdade, se se tivesse de escolher um animal para Zhuang Zi este seria mais uma baleia que uma borboleta, uma baleia feroz do género Moby Dick, capaz de tudo destruir e de tudo quebrar. A tal ensina a obra que leva o seu nome, o Zhuang Zi, que, na abertura, invoca um gigantesco monstro marinho, o kuan, meio peixe meio ave e cujo vôo não é mais que a própria metáfora do texto de potente e irado sopro que se desenvolverá daí em diante.

Zhuang Zi viveu num mundo de ruído e furor em que sete grandes estados absolutistas disputavam a supremacia e procuravam realizar, em benefício próprio, a unificação totalitária de toda a terra sob o céu, levando-o a reagir com igual furor condenando, com tons de Rousseau, toda a autoridade, toda a hierarquia, toda a vida em sociedade.

Para ele, as invenções técnicas exercem uma tirania à qual não podemos fugir a não ser destruindo as máquinas e regressando à vida selvagem: “As máquinas criam actividades mecânicas. As actividades mecânicas mecanizam o coração. Quem tem no peito um coração mecânico perde a sua candura natural; quem tiver perdido a sua candura natural não saberá conhecer a paz de alma!”, colocará ele na boca de um dos seus porta-vozes, um velho jardineiro, num diálogo fictício que o opõe a um discípulo de Confúcio.

Zhuang Zi envolve-se num questionar radical desse modo de pensar próprio do homem social que conduz a considerar o mundo unicamente sob a forma de uma matéria a explorar, ou seja, a ver a vida apenas sob uma perspectiva de meios e fins sucessivos, de forma que, totalmente subsumido aos fins, o indivíduo não é ele próprio mais que um meio e como tal se perde no ambiente técnico que criou.

Mas a crítica do filósofo ultrapassa o terreno político para se colocar no duplo plano ôntico e epistemológico. Zhuang Zi ama os mitos. A maldição do homem enredado na especialização técnica e na dominação hierárquica graças a uma utilização indevida da sua consciência vai manifestar-se sob a forma de uma curta fábula cuja simplicidade – somos quase tentados a dizer indigência – ressoa de uma terrível profundidade. Trata-se da história do Caos morto por dois personagens demasiado ansiosos que julgaram adequado agradecer-lhe a hospitalidade fazendo-lhe orifícios.

O drama de Caos é o drama da psique. Abrindo-se, entrega-se às coisas que para ela não são mais que objectos de prazer e precipita o tema do paraíso da confusão no universo das relações humanas marcadas pela distinção entre um eu que coloca o outro como um exterior irredutível a si. Esta dicotomia entre interioridade e exterioridade conduz, por um lado, à servidão da consciência aos objectos e, por outro, à ruína da natureza – do elemental, como diria Lévinas – colocada como meio a conquistar afim de a transformar em bens capazes de satisfazer os seus apetites, de forma que ao escravizar o seu elemento, o sujeito é escravizado e reificado pelas coisas que produz. Finalmente, instalam-se a luta pela posse da riqueza e as relações de dominação. Assim, a consciência do separado inaugura o reino do conflito, um conflito que a justiça e a misericórdia não conseguem temperar, bem pelo contrário.

Zhuang Zi nunca cessa, ao longo da sua obra, de estigmatizar a bondade e de denunciar os seus erros. O homem bom é pior que o pior dos criminosos. Na verdade, a compaixão não é um defeito que possamos apontar a Zhuang Zi. Esta assumida insensibilidade, reivindicada mesmo, transparece nas maravilhosas e terríveis passagens em que ele se encontra confrontado com a morte, seja o falecimento da esposa, de velhos amigos ou ainda no seu diálogo com o crânio que lhe serve de almofada.

Uma vez que é um homem sem qualidades, ao modo de Ulrich, o herói de Musil, Zhuang Zi é um homem superiormente lúcido. A sua crítica do humanitarismo é de um extraordinário alcance. Diz-nos o seguinte: que virtude é essa que nos põe a calcar aos pés a nossa verdadeira natureza, de tal modo já nada temos para os outros? Inaptos no desembaraçar dos nossos próprios sentimentos, não conseguimos alimentar o nosso princípio vital e tornamo-nos vítimas da benevolência de gente incapaz de nos compreender, pois afastados de si e do mundo, não se conseguem colocar no lugar dos outros. Cada acto de bondade e de caridade é sinal da perda de identidade consigo próprio e com a espontaneidade e torna quimérica toda a tentativa de comunhão com o outro.

Zhuang Zi exige que estabeleçamos um contacto diferente com o mundo, que passa pelo corpo e pela sensação na sua imediatez absoluta, para instaurar relações mais humanas e mais justas, uma vez que mais animais. O que o conduz a interrogar-se sobre a relação da linguagem com o real. Decide atacar as distinções operadas pelo discurso no tecido homogéneo da totalidade vivida. Todo o juízo, na medida em que é juízo, é a expressão de uma subjectividade que opera um corte arbitrário. A linguagem, enquanto é simultaneamente produto e suporte da inteligência, não pode dar conta de uma realidade contínua e fluida senão em termos de descontinuidade.

O homem verídico de Zhuang Zi, ao contrário, mantém uma relação justa com a linguagem, da qual faz instrumento da sua acção sem sucumbir ao prestígio das palavras atribuindo um qualquer valor a um juízo expresso no modo discursivo:”Não há, diria ele, qualquer diferença entre a mais bela das mulheres e o pior monstro, entre um talo de erva e uma coluna de templo, porque gigantescas, belas, enganosas ou estranhas, todas as coisas obedecem a um principio comum que as reúne numa única e mesma unidade.” Tal atitude supõe o estar-se livre da ganga da linguagem e tudo o que o que ela comporta de determinações de tomada de controle, como o Tao que, abstraído do mundo dos fenómenos rege as coisas a partir do centro vazio do universo.

Coerente consigo mesmo, Zhuang Zi forjou uma língua que tenta escapar à maldição da linguagem humana que denuncia. O seu estilo é marcado por uma singularidade e alteridade que, num movimento mimético, zombam de um universo atingido de desmesura. O Zhuang Zi prodigaliza uma colecção de monstros de feira, exibe uma galeria de horrores: enfermos mutilados, desgraçados. Só existem homens disformes, tudo é barroco em Zhuang Zi, tanto a natureza como a música.

Compreendemos assim porque recorre tanto ao mito: o mito nunca recua perante o exagero; deleita-se no delírio e no excesso. Pelo desvio, pela dissonância que introduz no modo discursivo, o mito pode oferecer no plano da sintaxe narrativa a manifestação da deformidade. Está para o discurso filosófico como as figuras do enfermo ou do amputado estão para o homem normal: uma anomalia, um desvio. Mas, para os monstros, esta desgraça é uma graça: o mito permite regressar a uma forma mais alta e mais intuitiva da razão pois justamente, aniquilando as categorias da linguagem, aparece à razão como informe e não-conforme.

Dando um sentido mais puro às palavras da tribo, renova a indistinção primordial que põe em movimento e de onde provém. O recurso a tal forma literária não é um simples capricho de escritor; tem implicações políticas, perfeitamente entendidas pelo historiador dos Han, Sima Qian, o qual conclui a nota biográfica que lhe consagra nas Memórias Históricas com este reparo: “A sua linguagem transgride tudo, segue apenas a sua própria inspiração de forma a que os poderosos jamais possam fazer dele seu instrumento.”

*Sinólogo e tradutor

2 Mar 2023

Jogo | Receitas acima de 10 mil milhões em Fevereiro

As receitas do jogo em Macau atingiram 10,32 mil milhões de patacas em Fevereiro, mais 33,1 por cento do que no mesmo mês do ano passado, anunciaram ontem as autoridades.

Os valores arrecadados pelos casinos representam ainda assim uma queda de 10,8 por cento face a Janeiro, indicam dados oficiais da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ).

A indústria do jogo registou em Janeiro, mês que inclui o período do Ano Novo Lunar, a principal festa das famílias chinesas, receitas de 11,58 mil milhões de patacas, o valor mais elevado desde o início da pandemia.

O valor do mês passado é, no entanto, 50,3 por cento inferior ao alcançado em Fevereiro de 2019 – 25,37 mil milhões de patacas –, antes do início da pandemia.

Macau, que à semelhança da China continental seguia a política ‘zero covid’, anunciou, em Dezembro, o cancelamento da maioria das medidas de prevenção e contenção, depois de quase três anos das rigorosas restrições.

Com o alívio das medidas, a cidade registou em Janeiro mais de um milhão de visitantes, numa subida de 101,3 por cento em termos anuais, e a taxa de ocupação hoteleira foi de 71,2 por cento, o valor mais elevado desde o início da pandemia.

A indústria do jogo, que representava 53,5 por cento do produto interno bruto (PIB) de Macau em 2019, dava ainda trabalho a quase 68 mil pessoas no final de 2022, ou seja, cerca de 18,8 por cento da população empregada.

2 Mar 2023

Património Cultural | Maria José de Freitas e António Monteiro no Conselho

A arquitecta Maria José de Freitas e António Monteiro, presidente da Associação dos Jovens Macaenses, foram escolhidos pelo Governo para integrar o Conselho do Património Cultural nos próximos três anos.

A informação consta no despacho publicado ontem em Boletim Oficial (BO), que nomeia também, pela primeira vez, os membros Sio Chi Veng, Ieng Weng Fat, Wong Chung Yuen, e Lok Nam Tak, entre outras individualidades. Foi também renovado o mandato de Wong Sai Peng, em representação do Gabinete da secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Choi Kin Long, representante do Instituto Cultural no Conselho, e ainda Wu Chou Kit, deputado e engenheiro civil, entre outros.

Maria José de Freitas, além de ser arquitecta em Macau há muitos anos, é também doutoranda em património de influência portuguesa, sendo uma voz habitual na defesa da preservação dos monumentos e locais históricos de matriz portuguesa.

Por sua vez, António Monteiro é secretário-geral do Instituto Internacional de Macau, sendo também um dos intervenientes no espaço público em prol da cultura e património imaterial macaense.

2 Mar 2023

Hong Kong | Partes do corpo da famosa modelo Abby Choi encontrados numa lixeira

Trata-se de um crime que está a horrorizar Hong Kong. Partes do corpo de uma famosa modelo e influenciadora foram encontradas numa lixeira, mas outras cozinhadas e guardadas num frigorífico.

 

A polícia de Hong Kong revelou detalhes importantes sobre o assassinato da modelo, socialite e influenciadora Abby Choi, dias depois de ela ter sido dada como desaparecida a 21 de Fevereiro.

Os investigadores disseram à imprensa no domingo que localizaram o que se crê serem partes do corpo desmembrado da jovem de 28 anos, incluindo um crânio, costelas e cabelo, num dos dois grandes potes de sopa de aço inoxidável recuperados numa casa de aldeia em Lung Mei Tsuen, no distrito de Tai Po.

Outras partes do corpo, incluindo pernas desmembradas, foram encontradas cozinhadas e armazenadas dentro de um frigorífico na casa, que aparentemente tinha sido montada como um talho equipado com uma serra eléctrica e um moedor de carne.

Uma investigação adicional, que envolverá a descoberta de partes de corpo restantes, bem como testes de ADN, é necessária para confirmar se os restos mortais recuperados pertencem à suposta vítima.

Choi, que partilhava uma filha e um filho com o seu ex-marido, Alex Kwong, foi envolvidaa numa disputa financeira com a família de Kwong sobre uma propriedade de luxo no monte Kadoorie em Hong Kong.

Também conhecidaa como Cai Tianfeng, Choi foi dada como desaparecida na terça-feira e foi vista pela última vez através de imagens de CCTV no distrito de Tai Po, onde os seus restos mortais foram supostamente descobertos.

Durante a audiência, Alex, 28, o seu irmão Anthony Kwong, 31, e o seu pai Kwong Kau, 65, foram acusados do assassinato, enquanto a mãe de Alex Kwong, Jenny Li, 63, foi acusada de perverter o curso da justiça.

A todos os quatro arguidos foi negada a fiança pelo Tribunal de Kowloon. A audiência para o caso foi adiada até 8 de Maio para permitir que a investigação prosseguisse.

Horror na lixeira

Entretanto, a polícia de Hong Kong iniciou ontem buscas num aterro sanitário na investigação do homicídio da modelo Abby Choi, assassinada e desmembrada, com partes do corpo encontradas num frigorífico.

Ontem, mais de uma centena de agentes da polícia, com equipamento de protecção, estiveram no aterro sanitário de Ta Kwu Ling, Novos Territórios, num local situado a cerca de 15 minutos de carro da fronteira com a Região Administrativa Especial de Shenzen. A operação policial teve como objetivo procurar “outras partes do cadáver” de Abby Choi.

“Na manhã do dia 22 de Fevereiro, os suspeitos deitaram fora vários sacos contendo provas importantes. Podem ser algumas partes do corpo ou podem ser as roupas e o telefone da vítima, ou mesmo armas”, disse aos jornalistas o superintendente Alan Chung, da Polícia de Hong Kong. Chung disse ainda que ainda não foi encontrado “nenhum vestígio importante” até ao momento no aterro sanitário dos Novos Territórios.

Membros da família de Abby Choi, vestidos de preto em sinal de luto, mantiveram-se hoje perto da casa onde as partes do corpo foram encontradas para renderem homenagem à modelo, declinando qualquer comentário sobre o caso que está a chocar Hong Kong desde a semana passada. O ex-marido, Alex Kwong, esteve num tribunal a responder por um caso de roubo ocorrido anteriormente, não lhe tendo sido concedida fiança.

Razões de um crime horrendo

Abby Choi, uma popular modelo de Hong Kong de 28 anos “com milhares de seguidores” nas redes sociais, desapareceu “oficialmente” no passado dia 21 de fevereiro, de acordo com um relatório da Polícia de Hong Kong. A última publicação na rede social Instagram tem a data de 19 de fevereiro: uma fotografia para a revista de moda L’Officiel Monaco.

Segundo as autoridades, Choi enfrentou vários diferendos financeiros envolvendo dezenas de milhões de dólares de Hong Kong com o ex-marido, além de que “algumas pessoas” estavam descontentes com a forma como a modelo geria a fortuna.

Bernard Cheng, amigo de Choi, disse à Associated Press que, na semana passada, pensava que a modelo tinha sido raptada. Cheng recordou ainda em entrevista à Associated Press que Choi tem quatro filhos com idades entre os três e os dez anos de idade. O ex-marido, Alex Kowng, é o pai das duas crianças mais velhas. Os outros são filhos de Chris Tam, com quem Choi casou depois de se divorciar de Kwong.

A família da modelo Abby Choi Tin-fung identificou com lágrimas os restos mortais da menina de 28 anos na morgue pública de Fu Shan, pois cerca de 130 agentes da polícia continuaram ontem a procurar as partes do corpo desaparecidas no aterro de Ta Kwu Ling.

Isto aconteceu quando uma quinta pessoa foi presa no horrível assassinato da jovem mãe de quatro filhos – a esposa de 47 anos do ex-pai de Choi – foi libertada sob fiança. A amante, Ng, foi detida no domingo por alegadamente ter ajudado a alugar uma casa na aldeia de Tai Po – onde Choi foi desmembrada – e um apartamento em Tsim Sha Tsui para abrigar o ex-marido de Choi, Alex Kwong Kong-chi. Ela é obrigada a apresentar-se à polícia no final do mês.

A família de Choi – a sua mãe, marido Chris Tam e sogros – estiveram na morgue durante duas horas para identificar os seus restos mortais antes de irem ao local do crime na aldeia Lung Mei para um ritual para prestar os seus respeitos no sétimo dia da sua morte, uma vez que ela foi aparentemente morta na terça-feira passada.

“Estou muito grato por a ter conhecido”, disse Tam. A mãe de Choi, apoiando-se no seu genro, chorou: “Nunca mais te poderei ver”. A mãe de Tam desabafou: “A tua bondade foi desperdiçada em pessoas que não valem a pena”. Ela acrescentou que a família tomará conta dos quatro filhos da modelo.

Imagens fatais

Entretanto, cerca de 130 polícias revistaram o Aterro de North East New Territories para procurar as mãos e o tronco desaparecidos de Choi, pois os quatro acusados – o seu ex-marido Kwong e três ex-parentes – são suspeitos de despejar as partes de corpo desaparecidas num ponto de recolha de lixo.
Embora os oficiais tenham encontrado ossos no aterro, desconhecia-se se eram restos humanos ou animais. Foram enviados para laboratórios para testes.

O superintendente Alan Chung Nga-lun da unidade de crime regional de Kowloon West espera que sejam necessários três dias para os oficiais completarem a busca, mas está confiante de que serão encontradas mais provas.

As imagens das câmaras de vigilância mostram que os arguidos despejaram provas – incluindo partes do corpo de Choi, roupas, telefone e a arma do crime – num ponto de recolha de lixo na aldeia de Lung Mei, disse Chung.

Após contactar o condutor que lá recolheu o lixo, a polícia localizou uma pequena área do aterro onde suspeitavam que as partes de corpo e os pertences de Choi tinham sido despejados. “Iremos procurar principalmente na encosta abaixo do aterro, que é do tamanho de um campo de futebol”, disse Chung, acrescentando que o lixo foi amontoado até cinco metros de profundidade.

Na segunda-feira, os quatro ex-familiares de Choi foram detidos, enfrentando acusações de homicídio e perversão do curso da justiça. Kwong, 28 anos, desempregado, compareceu ontem no Tribunal Distrital para enfrentar sete acusações de roubo que alegadamente cometeu entre 2013 e 2015. O Juiz Justin Ko King-sau adiou o processo para 9 de Maio, uma vez que a acusação irá rever as provas e considerar a apresentação de acusações adicionais.

Ko disse que Kwong se tinha declarado inocente das acusações em 2015 e que estava agendado um julgamento. Mas Kwong ignorou a fiança e o tribunal emitiu um mandado. Kwong parecia calmo no tribunal e disse que não tinha nada a dizer.

O tribunal soube que Kwong roubou 39 colares, 32 pulseiras, mais de 13 barras de ouro, 102 paletes de ouro e seis pingentes de sete pessoas em Mong Kok, Yau Ma Tei e Hung Hom entre 12 de Maio de 2013 e 14 de Janeiro de 2015.

De acordo com as autoridades, atualmente, o número de “crimes violentos” na região administrativa especial baixou mas o caso de Abby Choy recorda vários assassinatos que chocaram Hong Kong.

Em 2013, um homem matou os pais e as cabeças foram mais tarde encontradas em frigoríficos.
Num outro caso, em 1999, uma mulher foi raptada e torturada por três membros de grupos de crime organizado (tríades) que a mataram tendo decapitado o corpo. A cabeça da mulher foi encontrada dentro de um brinquedo de peluche.

Director televisivo condenado a 10 meses de prisão por tentativa de extorsão

Um famoso realizador de televisão de Hong Kong foi condenado a 10 meses atrás das grades por causa de uma tentada extorsão a partir de fotos eróticas, tiradas sem o conhecimento da vítima, pretendendo depois forçá-la a ser sua escrava sexual. Law Chun-wai, o realizador de 43 anos da TVB, recebeu a sua sentença no Tribunal de Kowloon na quarta-feira depois de se ter declarado culpado de uma acusação de ter ameaçado a publicação de imagens íntimas sem consentimento.

De acordo com o tribunal, em Janeiro do ano passado, Law conheceu uma anfitriã de uma discoteca e teve sexo com ela duas vezes na sua casa. Law enviou-lhe então mensagens com as fotografias da vítima nua através do WhatsApp a 26 de Março e ameaçou-a que ou ela passava a ser sua escrava sexual ou ele publicaria as suas fotografias.

Law pediu ainda à vítima para tirar mais fotos das suas partes privadas e obrigou-a a trazer outras mulheres para o servir, soube o tribunal, o que levou a vítima a apresentar-se à polícia e Law foi então detido.

Durante o inquérito da polícia, Law alegou que estava bêbado quando efectuou a extorsão sobre a vítima e não tinha intenção de publicar as fotografias. No tribunal, a magistrada principal interina Peony Wong Nga-yan criticou as acções de Law como “sujas e sem vergonha”. Wong disse que Law estava aparentemente num estado consciente durante a chantagem da vítima, porque enumerou múltiplos requisitos e ameaçou-a, o que era totalmente contra a sua afirmação de que estava “bêbado”. Mas, dada a alegação de Law, o juiz decidiu que a sua pena de prisão fosse reduzida de 15 meses para 10 meses.

2 Mar 2023

G20 | MNE chinês em reunião com homólogos norte-americano e russo

O ministro dos Negócios Estrangeiros da China vai participar na reunião entre os chefes da diplomacia dos países do G20, que arranca na quinta-feira em Nova Deli, confirmou ontem o governo chinês.

Na reunião vão também estar presentes o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, e o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov.

A participação dos chefes da diplomacia das três potências ocorre num período de fortes tensões geopolíticas suscitadas pela guerra na Ucrânia e pelo deteriorar da relação entre Pequim e Washington.

“A convite do ministro dos Negócios Estrangeiros da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, o ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Qin Gang, vai participar na reunião entre os ministros dos países membros do G20, em Nova Deli”, confirmou a porta-voz da diplomacia chinesa, Mao Ning, em conferência de imprensa.

Segundo Mao, Pequim vai encorajar o G20 a “enfrentar os desafios pendentes” na economia global e está disposta a “trabalhar com todas as partes” para “enviar um sinal positivo sobre o multilateralismo”.

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, cancelou, no início de Fevereiro, a viagem que tinha planeado à China, após a descoberta de um balão de espionagem da China no espaço aéreo norte-americano, não tendo agendado qualquer encontro bilateral com Gang, embora vá manifestar a sua preocupação, no encontro com Jaishankar, por este incidente, e pelos empréstimos de Pequim a países na órbita da Índia.

“Tivemos conversas sérias com a China, tanto antes do último escândalo do balão de vigilância, quanto depois. Portanto, espero que essas conversas continuem”, disse o secretário de Estado assistente dos EUA para assuntos da Ásia do Sul e Central, Donald Lu, na semana passada.

Guerra e desenvolvimento

O homólogo russo, Serguei Lavrov, também anunciou que pretende encontrar-se com Wang à margem da reunião.

Face à pressão dos países ocidentais sobre a guerra na Ucrânia, cujo primeiro aniversário coincidiu na semana passada com a reunião entre os ministros das finanças do G20, na cidade indiana de Bangalore, Pequim mostrou o seu apoio a Moscovo e a reunião terminou sem um acordo conjunto.

A Índia, país anfitrião do G20, multiplicou as suas compras de petróleo russo após o início do conflito e tem insistido na necessidade de resolver a guerra na Ucrânia por meio do diálogo. Nova Deli é uma aliada histórica da Rússia, mas goza crescente aceitação do Ocidente, em oposição à vizinha China.

A reunião entre os chefes da diplomacia começa oficialmente esta quarta-feira, com a chegada dos ministros dos Negócios Estrangeiros à capital indiana, mas as principais reuniões estão marcadas para quinta-feira, com uma agenda centrada no multilateralismo, cooperação para o desenvolvimento e segurança alimentar e energética.

1 Mar 2023

Casa Garden | Fernando António dos Santos em concerto sexta-feira

A Casa Garden, sede da Fundação Oriente em Macau, acolhe, esta sexta-feira, a partir das 20h30, o concerto do compositor e pianista português Fernando António dos Santos. Radicado em Taiwan, onde abriu o Piano Café, o músico é conhecido pelas suas colaborações com músicos como Carlos Paião, Lena D’ Água, Raúl Indipo e o grupo Da Vinci, muito populares em Portugal nos anos 80.

O espectáculo de sexta-feira será uma primeira apresentação do seu trabalho no território, tratando-se de um concerto intimista. Fernando António dos Santos apresentará um repertório de piano, cruzando temas clássicos com originais, incluindo o Fado, que se mistura com poesia e temas originais. O concerto acontece com as colaborações dos músicos Paulo Pereira, Paula Monteiro e Luís Bento, entre outros.

A ligação de Fernando António dos Santos à música começou bem cedo, aos cinco anos, quando começou a estudar piano na escola “Bracur”, na Figueira da Foz. Fez parte do conhecido grupo “Beatnicks”, ligada ao rock sinfónico, integrando depois a banda alemã “WAVEBAND”. Chegou a gravar um LP, com a chancela da Polygram, com o grupo “DOYO”. Colaborou com a cantora Ana no trabalho “Sou Laranja Laranjinha”, tendo produzido a música “Vamos lá cambada” com Carlos Paião. Com Raúl Indípuo colabora no trabalho discográfico “Sô Santo”. António Fernando dos Santos compôs ainda inúmeros temas para programas de entretenimento em televisão

1 Mar 2023

USJ quer ajudar brasileiros com covid-19 prolongada

Um novo laboratório da Universidade de São José (USJ) vai investigar a potencial utilização de neurociências aplicadas para ajudar doentes que sofrem de covid-19 prolongada no Brasil, disse um académico à Lusa.

O director do laboratório de neurociências aplicadas da USJ, Alexandre Lobo, falava à margem da cerimónia de inauguração do Centro. Cerca de 145 milhões de pessoas em todo o mundo sofreram sintomas de covid-19 de longo prazo nos primeiros dois anos da pandemia, incluindo fadiga com dores no corpo, alterações de humor, problemas cognitivos e falta de ar, segundo um estudo divulgado em Setembro.

Alexandre Lobo disse acreditar que a tecnologia de neurociências aplicadas já desenvolvida pelos investigadores da USJ pode ajudar a mitigar os “enormes impactos cognitivos nos pacientes” com covid-19 prolongada. De acordo com dados oficiais, o Brasil registou mais de 36,9 milhões de casos confirmados de covid-19. Um estudo brasileiro concluiu que quase 60 por cento das pessoas que contraíram a doença tiveram sintomas de longo prazo.

Acordo com Brasil

A investigação, que nasceu de um acordo já existente entre a USJ e a Universidade Federal do Ceará (UFC), no nordeste do Brasil, “ainda está muito numa fase inicial, na fase de design”, sublinhou Lobo. A USJ tem alunos de doutoramento na área de neurociências aplicadas na UFC e “a ideia é que possam dar apoio” ao Hospital Universitário Walter Cantídio, explicou o académico.

O director lembrou que a universidade com sede em Macau já tinha lançado, com a UFC e o Instituto da Primeira Infância, com sede em Fortaleza, um projecto de pesquisa com famílias carentes brasileiras, “submetidas a stress crónico”.

O projecto usou equipamento de monitorização das ondas cerebrais, para avaliar a reacção dos membros de famílias carentes quando eram submetidas a sessões de relaxamento, referiu o director do laboratório.

A USJ pretende “incrementar mais ainda” a investigação sobre o stress crónico das famílias carentes brasileiras, nomeadamente através da utilização de tecnologia de realidade virtual, disse Alexandre Lobo.

1 Mar 2023

Hong Kong | Fim da obrigatoriedade do uso da máscara a partir de hoje

Hong Kong dá hoje por terminada a obrigatoriedade de uso da máscara. Mas as coisas não são simples. O regresso à normalidade traz consequências polémicas, incluindo o que se passa com as crianças. Vozes locais acusam John Lee de só agir depois de Macau ter eliminado a recomendação de uso de máscaras desde segunda-feira

 

A partir de hoje, quarta-feira, após 3 anos de face tapada, as máscaras não serão mais necessárias em Hong Kong, tanto no interior como no exterior, incluindo nos transportes públicos, mas ainda terão de ser usadas em casas de repouso, hospitais. Cidadãos locais e turistas podem andar sem máscara a partir de hoje, já que a cidade finalmente levanta a sua última grande restrição após quase três anos.

Numa conferência de imprensa antes da reunião do Conselho Executivo na terça-feira, o Chefe do Executivo John Lee Ka-chiu anunciou que os requisitos da cidade em matéria de máscaras interiores e exteriores, bem como de transportes públicos, seriam eliminados a partir de 1 de Março. “Mas será ainda necessário o uso de máscaras faciais em algumas instalações com funções administrativas, tais como lares para idosos e hospitais”, acrescentou.

Lee também se esquivou repetidamente a perguntas sobre se o seu anúncio foi motivado pela decisão da cidade vizinha de Macau de levantar as suas regras gerais de uso de máscaras ao ar livre desde segunda-feira. “Foi devido à avaliação global e aos factores tidos em conta que tomei a decisão”, afirmou. “Disse às pessoas há dois meses que esta era uma questão que eu iria acompanhar activamente e também examinar quando seria o momento apropriado [para levantar o mandato]”.

O líder da cidade disse que a mudança se baseava na situação do coronavírus local e no encerramento de um surto de gripe e outros vírus respiratórios. “Os dados mostraram que a situação da epidemia local estava sob controlo. Hong Kong já construiu uma barreira imunitária ampla e abrangente”, disse Lee, acrescentando que não tinha havido surtos entre populações de alto risco, tais como doentes e pessoal hospitalar, ou escolas e lares para idosos.

Lee disse também que a situação epidémica de Hong Kong não se tinha agravado em resultado de quaisquer mutações do coronavírus. “O risco global está sob controlo. É agora um momento adequado para cancelar totalmente a encomenda da máscara”, concluiu.

‘Olá Hong Kong’

O ministro da Saúde Lo Chung-mau disse que o fim do mandato da máscara significava que Hong Kong estava a regressar a um estado de normalidade. “O levantamento do mandato de máscara significa o fim oficial de todas as medidas de distância social”. Esperamos que amanhã, 1 de Março, seja um dia melhor”. Todos podemos mostrar o nosso sorriso e dizer ‘Olá Hong Kong'”, disse Lo, referindo-se à recente campanha global do governo para atrair visitantes para a cidade.

Lo explicou que as autoridades tinham decidido mudar a política de uma só vez em vez de gradualmente, devido ao efeito mínimo que tal abordagem traria. “O efeito anti-epidémico de manter a ordem das máscaras [em alguns locais] não é grande. Além disso, seria bastante complicado e difícil aplicar as regras, e inconveniente para o público”, disse ele.

O ministro acrescentou que o Centro de Protecção da Saúde emitiria directrizes às pessoas com sintomas respiratórios ou doenças de longa duração sobre o uso de máscaras em locais mal ventilados.

O mandato de máscaras de Hong Kong entrou em vigor em Julho de 2020 e tem sido regularmente renovado, com a última revisão a conceder uma prorrogação da política até 8 de Março. De acordo com a política que em breve será revogada, as pessoas que visitavam parques ou que realizavam actividades físicas extenuantes estavam isentas do uso de máscaras ao ar livre.

Lee disse anteriormente que o mandato de máscara deveria permanecer em vigor até que a estação mais quente chegasse por receio de um ressurgimento de casos de gripe. Antes do anúncio oficial de Lee, o conselheiro governamental para a pandemia, Professor Lau Yu-lung, disse que o levantamento “há muito esperado” da política seria “bem recebido por toda a Hong Kong”.

Manifestando o seu apoio à decisão do governo de suspender o mandato de uma só vez, argumentou que a medida seria mais fácil de implementar e de compreender pelo público do que uma flexibilização passo a passo. Lau acrescentou ainda que acreditava que as pessoas usariam máscaras nos transportes públicos sem serem incitadas pelas autoridades. “Deveríamos acreditar na capacidade dos residentes para gerir a sua saúde e avaliar a sua segurança”, disse.

E as crianças?

No entanto, o perito em saúde disse que se deveria dar mais atenção à ajuda às crianças para se adaptarem à mudança, uma vez que alguns jovens tinham crescido a usar máscaras. “É preciso tempo para lhes explicar que é realmente normal não usar máscaras”, disse ele. “Eles podem estar ansiosos e devemos deixá-los decidir se a usam ou não, em vez de os forçar”. Lau também apelou aos residentes para respeitarem as escolhas uns dos outros sobre se usavam ou não máscaras.

Segundo estudos científicos, o uso de máscara reduz em absoluto a empatia entre as pessoas, criando muito mais tensão social até, eventualmente, provocar situações de violência e incompreensão entre as pessoas. “A face do outro é a coisa mais interessante para um ser humano”, disse um especialista ao Hoje Macau. “É na face que damos conta da humanidade do outro e isso é um grande empecilho à violência. Não ver a face dos outros causa, no mínimo, depressão. Ainda estamos para ver que consequências emergirão depois de três anos de caras tapadas”, concluiu.

Tóquio e Seul levantam restrições a vôos de Hong Kong

O Japão e a Coreia do Sul levantaram as restrições de voo que anteriormente tinham feito com que as companhias aéreas de Hong Kong eliminassem centenas de voos para os dois países do sudeste asiático. Desde o final de Dezembro, o governo japonês impôs um limite ao número de voos que cada companhia aérea podia operar de Hong Kong para o Japão. Mas o governo da RAEHK disse ontem que tais restrições serão levantadas a partir de hoje.

O governo sul-coreano só autorizou voos de Hong Kong a aterrar no Aeroporto Internacional de Incheon desde 10 de Janeiro. O governo da RAEHK disse que esta restrição também será cancelada a partir de hoje.

“Congratulamo-nos com a decisão tomada pelo governo japonês de retirar o número máximo de voos que cada transportadora pode operar de Hong Kong para o Japão”, disse um porta-voz da Cathay Pacific. “Planeamos operar 83 voos por semana para o Japão em Abril e 94 voos por semana em Maio – um aumento em relação aos 72 voos por semana em Março”, acrescentou a companhia aérea. A HK Express afirmou que “continuará a rever o seu horário de voos com base nas últimas medidas do governo japonês e nas condições de mercado”.

O Japão a partir de amanhã também aliviará as suas restrições Covid aos viajantes provenientes da China, abandonando a exigência do teste Covid à chegada. Em vez de testes aos viajantes do continente, o Japão apenas testará amostras seleccionadas, embora os viajantes ainda tenham de apresentar um teste negativo antes de voarem para o país, disse ontem o Secretário Hirokazu Matsuno.

Entretanto, os motoristas que se tenham candidatado a licenças de circulação internacional para veículos que atravessem para o continente ou Macau terão de esperar pelo menos sete dias úteis, pois o Departamento de Transportes tem um atraso de 6.000 candidaturas desde que a fronteira foi reaberta.

O departamento disse que os pedidos de autorização de circulação internacional aumentaram significativamente, juntamente com o número de pedidos de Autorização de Circulação Internacional por veículos transfronteiriços locais que aumentaram de uma média diária de 300 pedidos em Janeiro para 800 pedidos recentemente, resultando numa acumulação de pedidos em atraso.

Para facilitar as viagens dos cidadãos de Hong Kong entre o continente e Macau, o departamento disse que irá empregar mão-de-obra e recursos para acelerar o tempo de processamento dos pedidos de Licença de Circulação Internacional a partir de hoje para, pelo menos, sete dias úteis.

1 Mar 2023

Hotelaria | Taxa de ocupação mais elevada desde início da pandemia

A taxa de ocupação hoteleira em Macau foi de 71,2 por cento em Janeiro, o valor mais elevado desde o início da pandemia, após o fim da política ‘zero covid’ na região chinesa, foi ontem anunciado. Num comunicado, a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) revelou que a taxa de ocupação dos hotéis do território aumentou 27,3 pontos percentuais em comparação com o mesmo mês de 2022.

A cidade registou em Janeiro 819 mil hóspedes, ou seja, mais 59,6 por cento em termos homólogos, nos cerca de 38 mil quartos disponíveis nos 125 hotéis. O preço médio dos quartos de hotel em Macau atingiu também o valor mais elevado desde Janeiro de 2020, de acordo com dados da Associação de Hotéis de Macau, que reúne 43 hotéis locais.

Um relatório, divulgado na sexta-feira pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST), revelou que o preço médio se fixou em 1.181 patacas, mais 41,8 por cento do que no mesmo mês de 2022. Os hotéis de Macau tinham fechado 2022 com uma taxa de ocupação de 38,4 por cento, o segundo valor mais baixo em mais de duas décadas, e menos 11,7 pontos percentuais do que em 2021.

O pior momento

Segundo dados oficiais que remontam a 1997, o pior ano para os hotéis do território foi 2020, no início da pandemia, com uma taxa de ocupação de 28,6 por cento, devido à proibição que durante vários meses a China impôs às viagens para Macau.

Com o alívio das restrições, após quase três anos, a média da taxa de ocupação hoteleira durante a semana do Ano Novo Lunar foi de 85,7 por cento, com um pico no terceiro dia (24 de Janeiro), de 92,1 por cento, avançou a DST.

No mesmo comunicado, a DSEC revelou que em Janeiro o número de visitantes que participaram em excursões organizadas foi de 4.800, mais 80,4 por cento face ao mês homólogo de 2022, mas ainda longe dos 543 mil registados antes do início da pandemia.

A China levantou a 6 de Fevereiro o fim de todas as restrições devido à pandemia de covid-19 nas deslocações para Hong Kong e Macau, permitindo o reinício das excursões organizadas para as duas cidades. O Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado confirmou o cancelamento da necessidade de registo e das quotas para atravessar as fronteiras que ligam as duas regiões à China continental, de acordo com um comunicado.

28 Fev 2023

Investigação | Fundador do China Renaissance está a “cooperar”

Bao Fan, o empresário chinês do sector tecnológico que desapareceu há duas semanas, está a “cooperar” numa investigação aberta pelas autoridades chinesas, anunciou ontem o grupo China Renaissance, do qual é fundador.
Bao, de 52 anos, é o fundador do China Renaissance, um grande banco de investimento privado chinês especializado no setor tecnológico.

O grupo supervisionou a entrada em bolsa de vários gigantes do sector da Internet, incluindo o grupo de comércio electrónico JD.com, ou a fusão, em 2015, entre as empresas de serviços de transporte partilhado Didi e Kuaidi Dache.

O China Renaissance informou que “Bao está, actualmente, a cooperar com uma investigação aberta pelas autoridades” chinesas.

“A empresa vai cooperar devidamente e atender a qualquer solicitação legal das autoridades relevantes da República Popular da China”, acrescentou o grupo. O China Renaissance, que informou a 16 de Fevereiro, que não conseguia “entrar em contacto com o (chefe-executivo) Bao Fan”, não especificou a natureza da investigação.

O grupo China Renaissance, que conta com mais de 700 funcionários em todo o mundo, está presente na Singapura e nos Estados Unidos.

De acordo com a revista chinesa Caixin, as autoridades chinesas detiveram o presidente do China Renaissance, Cong Lin, em Setembro passado, depois de uma investigação ter sido aberta sobre o seu trabalho anterior, no banco estatal ICBC.

Após ascender ao poder, em 2012, o Presidente chinês, Xi Jinping, lançou uma ampla campanha contra a corrupção, que resultou na prisão de líderes empresariais, principalmente nos sectores financeiro e de novas tecnologias, e de centenas de altos quadros do Partido Comunista Chinês.

28 Fev 2023