Hindu Kush | Glaciares podem reduzir até 80% nos Himalaias

Os glaciares estão a derreter a um ritmo sem precedentes nas cadeias montanhosas de Hindu Kush, nos Himalaias, e podem perder até 80 por cento do actual volume este século, de acordo com um estudo divulgado ontem.
No relatório, publicado pelo Centro Internacional para o Desenvolvimento Integrado das Montanhas, com sede em Katmandu, capital do Nepal, alerta-se que este é o cenário caso as emissões de gases com efeito de estufa não sejam fortemente reduzidas.
No mesmo documento, prevê-se um aumento da probabilidade de inundações e avalanches nos próximos anos e alerta-se para o facto de a disponibilidade de água doce poder vir a ser afectada para cerca de dois mil milhões de pessoas que vivem a jusante de 12 rios que nascem nas montanhas.
O gelo e a neve das cordilheiras de Hindu Kush são uma importante fonte de água para esses rios, que atravessam 16 países da Ásia e fornecem água doce a 240 milhões de pessoas nas montanhas e a outros 1,65 mil milhões a jusante.
“As pessoas que vivem nestas montanhas e que não contribuíram em quase nada para o aquecimento global estão em grande risco devido às alterações climáticas”, afirmou Amina Maharjan, especialista em migração e uma das autoras do relatório.
“Os actuais esforços de adaptação são totalmente insuficientes e estamos extremamente preocupados com o facto de, sem um maior apoio, estas comunidades não conseguirem fazer face à situação.”

Em aceleração
Vários relatórios anteriores concluíram que a criosfera – regiões cobertas de neve e gelo – está entre as mais afectadas pelas alterações climáticas. Uma investigação recente revelou que os glaciares do Monte Evereste, por exemplo, perderam dois mil anos de gelo apenas nos últimos 30 anos.
Entre as principais conclusões do relatório ontem divulgado contam-se o facto de os glaciares dos Himalaias terem desaparecido 65 por cento mais rapidamente desde 2010 do que na década anterior e de a redução do manto de neve devido ao aquecimento global ter como consequência a diminuição da água doce para as pessoas que vivem a jusante.
No estudo, concluiu-se que 200 lagos glaciares nestas montanhas são considerados perigosos e que a região poderá registar um aumento significativo de inundações provocadas pela explosão de lagos glaciares até ao final do século.
Segundo a investigação, as alterações na região dos Himalaias de Hindu Kush provocadas pelo aquecimento global são “sem precedentes e em grande parte irreversíveis”.
Os efeitos das alterações climáticas já são sentidos pelas comunidades dos Himalaias, por vezes de forma aguda. No início deste ano, a cidade montanhosa indiana de Joshimath começou a afundar-se e os residentes tiveram de ser realojados em poucos dias.

22 Jun 2023

Euro sub-21 | Portugal sem Fábio Vieira estreia-se perante Geórgia imprevisível

Apesar de desfalcada daquele que foi considerado o melhor jogador da última edição do Eurosub-21, a equipa das quinas quer, pelo menos, chegar à final na sua nona participação na prova.
A selecção portuguesa de futebol de sub-21, desfalcada do capitão Fábio Vieira, por lesão, defronta na quarta-feira a coanfitriã e estreante Geórgia, eventualmente com opções fortalecidas, no início do Grupo A do Europeu da categoria.
Designado como melhor jogador da última edição da prova, cuja final os lusos perderam frente à Alemanha (0-1), em Junho de 2021, na Eslovénia, o médio deixou o estágio no domingo, por motivos físicos, após ter realizado trabalho no ginásio durante cinco dias.
Fábio Vieira, de 23 anos, tinha sido autorizado a apresentar-se na concentração apenas na semana passada, mas nunca subiu ao relvado nos dois derradeiros treinos na Cidade do Futebol, em Oeiras, assim como nos três seguintes, já em Tbilisi, capital da Geórgia.
Segundo melhor marcador de Portugal na qualificação, com sete golos, menos cinco do que o avançado Gonçalo Ramos – esteve recentemente convocado para a selecção ‘AA’, antes de ter sido dispensado, por motivos físicos -, o médio dos ingleses do Arsenal foi rendido pelo avançado Diego Moreira, de 18 anos, que integrou os trabalhos ontem à tarde.
O extremo formado no Benfica, que alinhou pela equipa B em 2022/23, estava integrado na preparação dos sub-19 para o Europeu da categoria, que decorre em Julho, em Malta, mas foi chamado pela primeira vez aos sub-21 e completa o lote ao dispor de Rui Jorge.
Essa lista tinha derivado de uma pré-selecção de 25 unidades, da qual foram preteridos o médio David da Costa (Lens) e o central Bernardo Vital (Estoril Praia), que, poucas horas depois, voltou para compensar a lesão do ala direito Tomás Tavares (Spartak Moscovo).
A equipa das ‘quinas’ surge pela nona vez em fases finais do campeonato da Europa de sub-21, e oitava desde a introdução da ronda principal, em 2000, registando na jornada inaugural dois empates, duas derrotas e três vitórias, todas sob orientação de Rui Jorge.
Vinculado desde Novembro de 2010 à Federação Portuguesa de Futebol (FPF), o antigo defesa internacional luso é um exemplo único de longevidade a nível continental entre os seleccionadores do escalão de esperanças e vai para a quarta presença no torneio, após ter sofrido duas derrotas em finais (2015 e 2021) e ‘caído’ uma vez na fase inicial (2017).

Boa experiência
O percurso de 2023 vai começar face à Geórgia, única estreante entre os 16 finalistas da 24.ª edição do Europeu, organizado em conjunto com a Roménia, sendo que o histórico de jogos entre ambos se limita ao particular decorrido em Setembro de 2022, na Covilhã.
Os actuais vice-campeões prevaleceram por 4-1, com golos de Paulo Bernardo, Samuel Costa, Henrique Araújo e Afonso Sousa, contra um de Giorgi Moistsrapishvili, no primeiro de cinco ‘ensaios’ para a fase final, que também englobaram os triunfos ante República Checa (5-1), Roménia (2-0) e Noruega (3-0), por entre um insucesso com o Japão (1-2).
Portugal abdicou de realizar qualquer jogo de preparação nas últimas duas semanas, ao contrário do conjunto orientado por Ramaz Svanadze, que, na quinta-feira, beneficiou de tentos em cada parte de Giorgi Tsitaishvili e Saba Khvadagiani para bater o Chipre (2-0).
Na ficha de jogo estiveram 17 dos 23 atletas da convocatória, enquanto o guarda-redes Giorgi Mamardashvili (Valência) e os defesas Irakli Azarov (Estrela Vermelha) e Giorgi Gocholeishvili (Shakhtar Donetsk) foram titulares dois dias depois pela selecção ‘AA’, que triunfou no Chipre (2-1), na terceira ronda do Grupo A de qualificação para o Euro2024.
Os médios Luka Gagnidze (Dínamo Moscovo) e Zuriko Davitashvili (Bordéus), obreiro do golo do êxito, foram suplentes utilizados, restando dúvidas sobre a disponibilidade desse quinteto para o jogo das ‘esperanças’ com Portugal, que decorre no dia seguinte à visita da Geórgia à Escócia, também de acesso à maior prova continental sénior de seleções.
Certa é a ausência do avançado Khvicha Kvaratskhelia (Nápoles), talento ímpar daquela antiga república soviética, que chegou a estar pré-convocado, mas abdicou da presença no Europeu de sub-21, numa época em que se sagrou campeão italiano e foi igualmente premiado como jogador mais valioso da Serie A e melhor jovem da Liga dos Campeões.
Portugal e Geórgia medem forças na quarta-feira, às 20:00 locais (17:00 em Lisboa), em Tbilisi, no Estádio Boris Paichadze, o maior do país, que alberga cerca de 54.000 lugares sentados e é a casa do Dínamo Tbilisi e das seleções nacionais de futebol e de râguebi.
Construído em 1976, o recinto foi requalificado pela última ocasião há oito anos, quando recebeu uma decisão inteiramente espanhola da Supertaça Europeia, conquistada pelo FC Barcelona, então vencedor da ‘Champions’, ante o Sevilha, detentor da Liga Europa.
A Geórgia foi ainda escolhida para organizar o Europeu de sub-19, em 2017, e debutou precisamente frente a Portugal, que entrou a ganhar com um penálti de Rui Pedro (1-0), em Gori, onde a equipa liderada por Hélio Sousa perderia com a Inglaterra na final (1-2).

Outra forças
O Grupo A da prova continental de sub-21 também engloba os Países Baixos, campeões em 2006 e 2007, e a Bélgica, que se defrontarão à mesma hora do confronto dos pupilos de Rui Jorge, no Estádio Mikheil Meskhi, a cerca de oito quilómetros do Boris Paichadze.
Finalista derrotada em 1994, 2015 e 2021, a formação das ‘quinas’ precisa de ficar numa das duas primeiras posições da ‘poule’ para aceder à fase seguinte da prova, que integra 16 participantes pela segunda edição seguida e é coorganizada por Roménia e Geórgia, país que vai receber a final, aprazada para 08 de Julho, na Adjarabet Arena, em Batumi.

20 Jun 2023

Embraer e Nidec lançam parceria para criar veículos voadores

A Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) anunciou uma parceria com a fabricante japonesa de motores eléctricos Nidec para criar aeronaves eléctricas de descolagem e aterragem horizontal (eVTOL, na sigla em inglês), denominados de carros voadores.
Num comunicado conjunto divulgado no domingo, as duas empresas revelaram que a ‘joint venture’ irá “desenvolver e fabricar sistemas” para carros voadores “e futuramente para outros modelos de mobilidade aérea”.
A nova empresa, chamada Nidec Aerospace, vai ser apresentada na 54.ª edição do Paris Air Show, que arrancou ontem na capital francesa e decorre até 25 de Junho.
A Nidec terá uma participação de 51 por cento e a Embraer 49 por cento na ‘joint venture’, cuja criação deverá acontecer oficialmente na segunda metade de 2023, após a aprovação de vários reguladores e dos conselhos de administração das duas empresas.
A Nidec Aerospace será localizada em Saint Louis, no centro-oeste dos EUA, na sede da Nidec Motor Corp, uma subsidiária da fabricante japonesa, e irá contar com o suporte das fábricas das duas empresas no Brasil e no México.

No comunicado, o presidente e director executivo da Embraer, Francisco Gomes, disse que a procura por sistemas eléctricos na área dos eVTOL “está a crescer exponencialmente”.
O vice-presidente sénior da Nidec, Michael Briggs, disse que a aposta em aeronaves eléctricas “terá uma contribuição essencial para o compromisso da Organização Mundial da Aviação Civil de neutralizar emissões de carbono em 2050”.
De acordo com o comunicado, embora ainda não esteja oficialmente criada, a Nidec Aerospace já tem o primeiro cliente para o sistema eléctrico para os eVTOL, a Eve Air Mobility, uma subsidiária da brasileira Embraer.
A Eve pretende desenvolver e construir um ecossistema de mobilidade urbana sustentável, que inclua o eVTOL e a respectiva rede de serviço e apoio, bem como toda a infraestrutura que vai apoiar esta nova forma de transporte, incluindo os aeroportos de aterragem e descolagem verticais.
A Eve assinou em Junho de 2022 uma carta de intenção para entregar até 35 aeronaves eléctricas à Falcon Aviation Services, que opera na região do Médio Oriente e África, a partir de 2026.

Em perda
A Embraer perdeu 378,4 milhões de reais (cerca de 68,6 milhões de euros) no primeiro trimestre do ano, mais que o dobro do reportado no mesmo período em 2022, conforme balanço divulgado no início de Maio.
No final de abril, a Embraer, terceira maior fabricante de aeronaves do mundo, assinou um memorando de entendimento com várias empresas aeroespaciais portuguesas para desenvolver a Base Tecnológica e Industrial de Defesa de Portugal.
A empresa brasileira opera duas fábricas no Parque de Indústria Aeronáutica de Évora e é também accionista da OGMA – Indústria Aeronáutica de Portugal, com 65 por cento do capital, em Alverca.

20 Jun 2023

Tailândia | Reunião para discutir crise em Myanmar que inclui junta militar

A convocatória com pouco tempo de antecedência gerou mal-estar entre alguns países do sudeste asiático, que criticaram ainda a presença de um representante dos militares no poder na antiga Birmânia
A Tailândia realizou ontem uma reunião informal para discutir a crise política em Myanmar, que inclui representantes da junta militar birmanesa.
A reunião teve como objectivo “apoiar os esforços da ASEAN [Associação de Nações do Sudeste Asiático] para resolver a situação em Myanmar”, antiga Birmânia, onde se vive uma profunda crise desde o golpe militar de Fevereiro de 2021.
A reunião foi organizada com pouca antecedência e causou mal-estar entre países parceiros da região, como Indonésia e Malásia.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Tailândia, Don Pramudwinai, é o anfitrião do encontro, que junta representantes do Brunei, Camboja, China, Índia, Laos e Vietname, além de um representante da junta militar birmanesa.
A organização da reunião gerou críticas de países vizinhos, que se opõem à participação dos militares birmaneses em qualquer discussão sobre a crise política em Myanmar.
A Indonésia e a Malásia expressaram preocupação com a reunião, pois acreditam que a presença do representante da junta militar possa legitimar o golpe e prejudicar os esforços para restaurar a democracia em Myanmar.
A Tailândia, que está sob um governo provisório após as eleições de Maio, que deu a vitória à oposição, diz que a reunião apela ao “diálogo” como forma de “procurar soluções pacíficas” no Myanmar, país com o qual partilha uma fronteira.
“A Tailândia quer ver uma cessação da violência que acabará por conduzir à paz e à estabilidade em Myanmar”, sustenta-se no comunicado, no qual se sublinha ainda que o encontro não corresponde a uma reunião formal do bloco do Sudeste Asiático, onde o representante estrangeiro da junta militar birmanesa está impedido de participar.

Pontos de discórdia
No entanto, a estratégia da Tailândia, que tem o seu próprio enviado especial em Myanmar e que já anteriormente insistiu em conversações com os representantes da junta, colide com a posição de outros países da ASEAN, como Singapura, Malásia e Indonésia, que se mostram relutantes em dialogar com os militares.
Em cartas, tanto a Indonésia como a Malásia rejeitaram o convite da Tailândia e observaram que é importante apoiar a actual política da ASEAN em relação à crise birmanesa, que inclui o veto dos membros da junta militar birmanesa às reuniões de alto nível do bloco.
Por seu lado, o Governo de Unidade Nacional (NUG, na sigla em inglês) de Myanmar, composto por políticos e activistas, que se afirma como a autoridade legítima do país após a revolta, condenou a iniciativa de Banguecoque.
“Convidar a junta ilegítima para esta discussão não contribuirá para a resolução da crise política de Myanmar”, declarou o Ministério dos Negócios Estrangeiros do NUG num comunicado, no sábado.
O golpe militar, que derrubou o Governo eleito de Aung San Suu Kyi e pôs fim a uma década de transição democrática, conduziu a uma espiral de violência com novas milícias civis, que acabou por intensificar os conflitos armados que duram há décadas no país.
Mais de 3.650 pessoas morreram em consequência da repressão das forças de segurança, que mataram a tiro manifestantes pacíficos e desarmados, segundo dados da organização não-governamental birmanesa Associação de Assistência aos Presos Políticos.

20 Jun 2023

Alexei Navalny julgado em novo caso de extremismo

Um tribunal russo começou a julgar ontem o oposicionista Alexei Navalny num novo processo por alegado extremismo em que pode vir a ser condenado a trinta anos de prisão.

De acordo com a agência France-Presse (AFP), o processo decorre no estabelecimento prisional de alta segurança de Melekhovo, a 250 quilómetros de Moscovo, onde Navalny se encontra preso.

Neste novo processo, o oposicionista russo é acusado de financiamento duma “organização extremista”.

Segundo a AFP, Navalny esteve ontem presente na audiência acompanhado dos advogados de defesa.

O dirigente da oposição russa, de 47 anos, está preso desde que regressou ao país, em Janeiro de 2021, após convalescença hospitalar na Alemanha na sequência de envenenamento com gás tóxico (Novichok) na Rússia.

Após o início da campanha militar da Rússia contra a Ucrânia, em Fevereiro de 2022, a maior parte dos oposicionistas que não abandonaram o país estão presos ou são alvo de mandados de captura, por denunciarem ou criticarem o conflito.

Navalny, em particular, foi envolvido anteriormente num processo anticorrupção tendo sido condenado a nove anos de prisão por “fraude”.

Para Navalny tratou-se de um “julgamento político”.

 

Mudança de planos

Ontem, na abertura do processo que começou no estabelecimento prisional onde se encontra, Navalny pediu para as autoridades permitirem a entrada dos familiares na audiência, mas o pedido foi recusado.

Os advogados de defesa têm dez dias para consultarem os 196 dossiers fornecidos pela acusação.

Navalny mantém actividade política através de comentários que colaboradores seus difundem nas redes sociais.

Uma das porta-vozes de Navalny, Kira Iarmych, disse ontem à France Presse que o oposicionista está a ser alvo de um novo processo devido à actividade política que desenvolve, apesar de estar preso.

De acordo com a mesma fonte, o julgamento que começou ontem deveria ter sido aberto ao público, mas o juiz determinou que a sessão ia decorrer “à porta fechada”.

Os colaboradores de Navalny referem ainda que o recluso tem sido submetido a um tratamento “muito severo” e foi sujeito pela 16.ª vez à “célula disciplinar” onde as condições de vida são particularmente precárias.

Um outro oposicionista do regime do Kremlin, Vladimir Kara-Mourza, foi condenado no passado mês de Abril a 25 anos de cadeia “por alta traição”.

Em Dezembro do ano passado, outro oposicionista, Ilia Iachine, foi sentenciado a oito anos e meio de prisão por ter criticado a ofensiva russa contra a Ucrânia.

20 Jun 2023

China e EUA comprometem-se a estabilizar as relações diplomáticas

O encontro entre o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken e o Presidente chinês Xi Jinping parece ter dado frutos. Ambas as partes saudaram as pontes diplomáticos que se voltam a erguer entre as duas nações

 

Os EUA e a China prometeram estabilizar as suas relações diplomáticas, afirmou ontem o chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, após uma reunião em Pequim com o Presidente chinês, Xi Jinping.

“Em todas as reuniões, insisti que o contacto directo e a comunicação sustentada ao mais alto nível eram a melhor maneira de gerir as diferenças com responsabilidade e de garantir que a concorrência não se transforme em conflito”, explicou Blinken, em declarações aos jornalistas no final do encontro com o líder chinês.

“Ouvi o mesmo da parte dos meu homólogos chineses. Concordamos com a necessidade de estabilizar relações”, acrescentou o secretário de Estado norte-americano no segundo e último dia de uma visita oficial a Pequim.

O Presidente chinês reiterou a mensagem de a passagem de Blinken por Pequim ter permitido avanços nas relações entre os dois países, que praticamente fecharam os canais diplomáticos nos últimos meses, após Washington ter mandado abater um alegado balão de espionagem chinês que sobrevoou o território norte-americano, em Fevereiro passado.

“Os dois lados fizeram progressos e chegaram a um acordo sobre algumas questões específicas. E isso é muito bom”, reconheceu Xi, de acordo com uma transcrição dos comentários divulgados pelo Departamento de Estado norte-americano.

“Espero que através desta visita, dê um contributo mais positivo para estabilizar as relações entre a China e os Estados Unidos”, acrescentou Xi.

Durante a reunião, que durou 35 minutos, Blinken afirmou que “os Estados Unidos e a China têm a obrigação e a responsabilidade de gerir bem o seu relacionamento”, argumentando que isso é do interesse de ambas as partes.

 

Outras conversas

No sábado, Blinken tinha deixado a mesma exacta mensagem ao seu homólogo chinês, Qin Gang, após uma reunião que durou cerca de cinco horas e meia e onde os dois países se mostraram comprometidos em manter abertos os canais de comunicação.

Os dois lados disseram que Qin aceitou um convite de Blinken para visitar Washington.

Também ontem, o chefe da diplomacia norte-americana encontrou-se com o principal diplomata do Partido Comunista Chinês, Wang Yi, numa reunião de três horas.

Após este encontro, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China emitiu um comunicado em que dizia que a visita de Blinken a Pequim ilustra bem a resposta à “necessidade de fazer uma escolha entre o diálogo e o confronto”.

Wang Yi disse ao secretário de Estado norte-americano que a China e os Estados Unidos têm de escolher entre “cooperação ou conflito”, segundo os ‘media’ estatais.

“É necessário fazer uma escolha entre o diálogo e a confrontação, a cooperação e o conflito”, sublinhou, de acordo com a televisão estatal chinesa CCTV.

Wang Yi afirmou também que o país não fará “nenhum compromisso” em relação a Taiwan, ilha que tem causado uma crescente tensão entre os dois países.

“Manter a unidade nacional está sempre no centro dos interesses fundamentais da China” e, “nesta questão, a China não fará compromissos ou concessões”, disse Wang Yi a Antony Blinken.

Wang, o mais alto responsável do Partido Comunista Chinês (PCC) para a diplomacia, pediu que os Estados Unidos respeitem a soberania e a integridade territorial da China e para que se oponham à independência de Taiwan.

A visita de Antony Blinken a Pequim surge na sequência de uma conversa, em Novembro passado, entre o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o seu homólogo chinês, Xi Jinping, à margem de uma cimeira do G20 na Indonésia.

Nos últimos dias, o Presidente Xi deixou sinais de estar disponível para reduzir as tensões com os Estados Unidos – durante uma conversa com o co-fundador da empresa tecnológica norte-americana Microsoft, Bill Gates, na sexta-feira – assegurando que os EUA e a China podem e devem cooperar “para benefício de ambos os países”.

“Acredito que a base das relações sino-americanas está nas pessoas. (…) Na actual situação mundial, podemos realizar várias iniciativas que beneficiam os nossos dois países, e toda a raça humana”, disse Xi a Gates.

 

Hora H

Antes do encontro com Blinken, o Presidente chinês, tinha já afirmado esperar “um resultado positivo” da reunião com o secretário de Estado dos Estados Unidos, e que daí saíssem melhorias nas relações entre os dois países.

“Espero que com esta visita, o secretário de Estado Blinken traga um resultado positivo para a estabilização das relações entre a China e os Estados Unidos”, afirmou Xi Jinping, citado pela televisão pública em inglês da China CGTN, no início do encontro com o dirigente norte-americano, em Pequim.

Xi Jinping disse ao secretário de Estado norte-americano que as interacções entre os Estados “devem sempre ser baseadas no respeito mútuo e na sinceridade”.

O encontro de ontem entre Xi e Blinken, que não fazia parte da agenda oficial e foi confirmado à última hora, e acontece no segundo e último dia da visita do secretário de Estado norte-americano à China.

20 Jun 2023

EUA /China | Chefes da diplomacia reúnem-se em Pequim

O secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, está finalmente em Pequim para discutir com o seu homólogo, Qin Gang, temas como a cooperação económica, o conflito Rússia-Ucrânia, e a questão de Taiwan.

 

 

Os chefes da diplomacia da China, Qin Gang, e dos Estados Unidos, Anthony Blinken, reuniram-se ontem em Pequim, no início da primeira visita de um secretário de Estado norte-americano ao país em cinco anos.

Blinken chegou a Pequim no início da manhã de ontem, tornando-se também o mais alto funcionário dos Estados Unidos a visitar a China desde que o Presidente Joe Biden iniciou o mandato em 2021.

Permanecerá em Pequim dois dias, para conversações que abrangerão “a cooperação económica, o conflito Rússia-Ucrânia, a questão de Taiwan e os preparativos para as próximas reuniões de alto nível”, segundo os meios de comunicação chineses.

Qin e Blinken já tinham trocado críticas na quarta-feira, durante uma conversa telefónica que constituiu o primeiro contacto bilateral de alto nível em meses, segundo a agência espanhola EFE.

O ministro chinês apelou então aos Estados Unidos para que cessem acções que prejudiquem a segurança soberana e os interesses de desenvolvimento da China “em nome da concorrência”.

Blinken pediu a Qin que “mantenha as linhas de comunicação abertas” para evitar conflitos.

O gabinete de Blinken admitiu anteriormente que não se esperam grandes avanços nas conversações, dadas as muitas áreas de fricção entre Washington e Pequim.

A ideia continua a ser iniciar um “degelo” diplomático e manter um diálogo para “gerir responsavelmente a relação sino-americana”, disse o Departamento de Estado a propósito da visita, segundo a agência francesa AFP.

 

Águas passadas

A visita de Blinken estava inicialmente prevista para Fevereiro, na sequência do encontro entre Biden e o Presidente chinês, Xi Jinping, à margem de uma cimeira do G20 na Indonésia, em Novembro.

A viagem foi adiada em cima da hora, devido ao sobrevoo de território norte-americano por um balão chinês, que Washington considerou ser espião e Pequim disse ser um aparelho meteorológico que se tinha desviado da rota.

Enquanto Blinken voava para a China, Biden minimizou o episódio do balão.

“Não creio que os dirigentes [chineses] soubessem onde estava o balão, o que continha e o que se estava a passar”, disse aos jornalistas no sábado.

“Penso que foi mais embaraçoso do que intencional”, acrescentou, citado pela AFP.

A reunião entre Qin e Blinken será seguida de um jantar de trabalho, de acordo com a agência norte-americana AP.

Hoje, Blinken terá novas conversações com Qin, bem como com o principal diplomata chinês, Wang Yi, e possivelmente com Xi Jinping, acrescentou a AP.

O anterior secretário de Estado norte-americano a visitar a China foi Mike Pompeo, em Outubro de 2018.

19 Jun 2023

Acelerada criação de centro sino-lusófono tecnológico

Em Xangai, Lei Wai Nong prometeu acelerar os esforços para permitir que as “empresas inovadoras” dos países lusófonos entrem na Grande Baía, através da Zona de Cooperação Aprofundada

O secretário para a Economia e Finanças disse que Macau vai “acelerar a construção” de um centro sino-lusófono para atrair “empresas inovadoras” para a região da Grande Baía.

O Centro de Ciência e Tecnologia Sino-Lusófono, em cooperação com a cidade vizinha de Zhuhai, vai nascer na Zona de Cooperação Aprofundada, área criada por Macau em conjunto com a província de Guangdong em Hengqin referiu, na quinta-feira, Lei Wai Nong.

Num discurso proferido na cerimónia de abertura da Feira Internacional de Tecnologia da China, em Xangai, o secretário prometeu que “serão feitos esforços para (…) estabelecer ligações aos recursos científicos e tecnológicos dos países de língua portuguesa”.

Lei disse querer “criar melhores condições para que empresas inovadoras” utilizem Macau e Hengqin como portas para “explorar oportunidades” na Grande Baía, de acordo com um comunicado do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM).

Macau foi a convidada de honra da oitava edição da Feira Internacional de Tecnologia da China, que decorreu em Xangai até ao passado sábado.

 

Aposta internacional

Em Novembro, o Governo anunciou a criação de dois centros sino-lusófonos para apoiar a fixação de “projectos de tecnologia avançada” da lusofonia na Grande Baía, com a atribuição de bolsas e colaborações com universidades e empresas.

O director dos Serviços de Economia de Macau, Anton Tai Kin Ip, indicou que um dos centros será criado na Zona de Cooperação Aprofundada, em Hengqin, e outro em Macau.

Tai Kin Ip referiu também que o objectivo final é permitir que “projectos de tecnologia avançada dos países de língua portuguesa possam entrar para o mercado da Grande Baía”.

Além disso, serão concedidas “bolsas e [serão feitas] articulações entre universidades e também empresas”, acrescentou.

A Grande Baía é um projecto de Pequim para criar uma metrópole mundial que integra Hong Kong, Macau e nove cidades da província de Guangdong, numa região com cerca de 80 milhões de habitantes e com um produto interno bruto (PIB) superior a um bilião de euros, semelhante ao PIB de Austrália, Indonésia ou México, países que integram o G20.

19 Jun 2023

Ron Lam defende direito de recurso na exclusão de candidatos das eleições

Ron Lam considera que o direito de recurso em caso de exclusão de candidatos nas eleições legislativas deve continuar, ao contrário do que propõe o Governo no documento de consulta para alterar as leis eleitorais

O Governo de Macau anunciou na quinta-feira que quer avançar com uma nova lei eleitoral que prevê a exclusão de candidatos considerados não patriotas sem direito a reclamação ou recurso contencioso junto dos tribunais.

Na revisão da lei eleitoral para eleger o chefe do Governo, dos participantes à eleição dos membros da Comissão Eleitoral do chefe do Governo e dos deputados da Assembleia Legislativa (AL) propõe-se ainda que a verificação dos candidatos passe a ser feita pela Comissão de Defesa da Segurança do Estado da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM).

Ron Lam disse à Lusa que “deve ser mantida a possibilidade de recurso administrativo e judicial, até porque esta é a melhor forma de assegurar um equilíbrio entre a segurança nacional e a protecção dos candidatos”.

“Eu respeito os requisitos do nosso país em relação à segurança nacional. Hong Kong, Macau e Interior da China estão no mesmo ordenamento, portanto, eu respeito a introdução do veto dos candidatos”, ressalvou o deputado da AL Ron Lam. “Contudo, tenho de enfatizar que o Estado de direito em Macau, o sistema deste território, foi sempre de que todos os assuntos que respeitam aos direitos humanos, incluindo o direito de se apresentar a eleições, têm um sistema de recurso administrativo e judicial correspondente”, argumentou.

A Lusa contactou o presidente da Associação de Advogados de Macau, Vong Hin Fai, que não respondeu a qualquer dos contactos efectuados.

Já o deputado José Pereira Coutinho afirmou que precisava de realizar uma leitura mais aprofundada à nova proposta de lei para se pronunciar.

A proposta de revisão da lei eleitoral entrou na quinta-feira em consulta pública, durante 45 dias.

 

O perigo eleitoral

O secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, justificou as alterações, que seguem o regime eleitoral de Hong Kong, como uma resposta “às novas exigências e desafios no âmbito da defesa da segurança nacional” e à necessidade de “defender eficazmente a soberania, a segurança e os interesses do desenvolvimento do país”, de forma a “implementar plenamente o princípio ‘Macau governado por patriotas’”.

Questionado pelos jornalistas, André Cheong indicou que o período de tempo da desqualificação dos candidatos deverá ser de cinco anos, seguindo “a experiência de Hong Kong”.

O governante afirmou ainda que a verificação dos candidatos vai ser sustentada em sete critérios, já definidos em 2021, e que vão desde a salvaguarda da ordem constitucional, da unidade nacional e integridade territorial, até à prevenção de conluio com países estrangeiros e actos contra a soberania e segurança do Estado.

“O aperfeiçoamento do mecanismo de apreciação dos candidatos” será válido para o cargo de Chefe do Executivo, dos participantes à eleição dos membros da Comissão Eleitoral do chefe do Governo e dos candidatos a deputados ao parlamento local, explicou o secretário para a Administração e Justiça de Macau.

A AL é composta por 33 deputados, 14 eleitos por sufrágio universal, 12 escolhidos por sufrágio indirecto (através de associações) e sete nomeados pelo Chefe do Executivo, que, por sua vez, é escolhido por uma comissão eleitoral composta por 400 membros, representativos dos quatro sectores da sociedade.

 

Segurança protagonista

O jurista António Katchi disse à Lusa que a concretizar-se a proposta de revisão da lei eleitoral esta segue a tendência de “exclusão da oposição política, já não só do Governo e da maioria da Assembleia Legislativa (composta pelos sete deputados nomeados pelo Chefe do Executivo e pelos 12 deputados eleitos por sufrágio indirecto), mas também da minoria desta mesma Assembleia (constituída pelos 14 deputados eleitos por sufrágio indirecto)”, afirmou, em resposta escrita por mail.

Por outro lado, “as alterações anunciadas enquadram-se num processo coerente marcado” pelo “crescente protagonismo da área da segurança no seio do aparelho político-administrativo de Macau; crescente protagonismo da chamada ‘segurança do Estado’ (ou seja, da ‘segurança’ política dos detentores do poder) dentro da área da segurança”, mas também pelo “envolvimento cada vez mais directo, amplo, profundo e ostensivo do PCC [Partido Comunista Chinês] na governação e administração de Macau”, acrescentou o docente, especializado em áreas como a Constituição e a Lei Básica.

19 Jun 2023

Tráfico de pessoas | Rejeitadas conclusões de Washington

Os Estados Unidos disseram que Macau “não está a fazer esforços significativos” para eliminar o tráfico de pessoas. O Governo expressou repúdio e indignação com o relatório que “contem alegações infundadas e interpretações tendenciosas, por forma a provocar e desencadear a confusão na sociedade internacional”

 

Macau “não cumpre integralmente as normas mínimas para a eliminação do tráfico e não está a fazer esforços significativos para o fazer, mesmo considerando o impacto da pandemia de covid-19”, lamentou o relatório anual do Departamento de Estado norte-americano

No entanto, os Estados Unidos da América (EUA) admitem que o Governo da região “tomou algumas medidas para combater o tráfico, incluindo a investigação de cinco casos suspeitos de residentes de Macau recrutados por traficantes usando operações de fraude cibernética no Sudeste Asiático”.

Em resposta, o Governo de Macau garantiu que “tem vindo a prestar total apoio à Comissão de Acompanhamento das Medidas de Dissuasão do Tráfico de Pessoas” e que os trabalhos de execução da lei “têm obtido de forma continuada resultados notáveis”.

As autoridades do território consideraram que, apesar dos impactos da pandemia da covid-19, “os trabalhos de prevenção, de combate, de protecção e de acompanhamento têm sido desencadeados de forma normal”, razão pela qual “o crime do tráfico de pessoas mantém uma baixa percentagem ou uma percentagem quase nula em Macau”.

Para as autoridades, os Estados Unidos manifestam, através do relatório, “desprezo e preconceito pela legislação e pelo sistema judicial independente de Macau”.

Por isso, o gabinete do secretário para a Segurança de Macau expressou “o mais firme repúdio e oposição” ao relatório norte-americano, sobre o qual afirmou que contem “alegações infundadas e interpretações tendenciosas, por forma a provocar e desencadear a confusão na sociedade internacional”.

 

Sem documentos

As autoridades norte-americanas sublinharam que Macau “não condena um traficante desde 2019 e nunca identificou uma vítima de trabalhos forçados”. Referiram ainda que as autoridades da região iniciaram uma acusação contra traficantes, mas, pelo quarto ano consecutivo, “não identificaram nem prestaram serviços a quaisquer vítimas”.

“Os traficantes recrutam vítimas, principalmente da China continental, Rússia, e Sudeste Asiático, utilizando anúncios falsos para empregos, tais como canto e modelismo, ou trabalho em casinos. As vítimas, adultas e crianças, são obrigadas a fazer sexo a troco de dinheiro em casas de massagens, bordéis ilegais, discotecas, estabelecimentos de entretenimento em casinos, hotéis e casas particulares, onde são vigiadas de perto, são ameaçadas de violência, são forçadas a trabalhar longas horas, e por vezes têm os seus documentos de identidade confiscados”, de acordo com o mesmo relatório.

Por outro lado, “os casinos e outros estabelecimentos de entretenimento alegadamente permitem que o pessoal faça parcerias com redes criminosas para permitir actividades sexuais ilegais dentro dos seus estabelecimentos, facilitando provavelmente o tráfico sexual”, afirmou o documento.

O Departamento de Estado norte-americano apelou a Macau para “rever a lei laboral para incluir [medidas de] protecção para os empregados domésticos estrangeiros”, sublinhando não existir um salário mínimo para este tipo de trabalhadores.

O relatório notou que “os trabalhadores migrantes da construção civil e domésticos, principalmente da China continental, Indonésia e Filipinas, podem ser vulneráveis ao trabalho forçado em Macau”, afirmando que “algumas agências de emprego cobram taxas de recrutamento de trabalhadores de aproximadamente dois a três meses de salário e retêm os passaportes dos trabalhadores, levando potencialmente a uma coerção baseada em dívidas”, e “alguns intermediários trazem trabalhadores migrantes para Macau para renovar vistos de trabalho para outros países, enquanto restringem a sua circulação e retêm os seus passaportes”.

O relatório manteve Macau no nível três, um nível acima do mais baixo da avaliação, sendo esta centrada não na dimensão do problema no território, mas sim na extensão dos esforços dos respectivos governos para cumprirem as normas mínimas na eliminação do tráfico de seres humanos.

19 Jun 2023

Trabalho | Desemprego jovem na China atinge valor recorde

Um em cada cinco jovens chineses estava desempregado em Maio, uma taxa de 20,8 por cento que é um novo recorde no país, anunciou ontem o Gabinete de Estatística da China.

A taxa, relativa aos jovens de 16 a 24 anos em áreas urbanas, tem vindo a subir nos últimos meses e atingiu 20,4 por cento em Abril, já então muito acima do valor de 13 por cento registado em 2019, antes do início da pandemia da covid-19.

Em Maio, a taxa de desemprego para a população activa no geral era de 5,2 por cento, inalterada em relação a Abril.

Na China, a taxa de desemprego é calculada apenas para áreas urbanas e, portanto, fornece apenas uma imagem parcial da situação.

Também as vendas a retalho, o principal indicador do consumo das famílias, registaram um aumento homólogo de 12,7 por cento em Maio, inferior ao registado em Abril (18,4 por cento), de acordo com dados oficiais divulgados Gabinete.

Os analistas ouvidos pela agência Bloomberg esperavam um abrandamento mais moderado (13,7 por cento), apesar do regresso dos clientes aos centros comerciais e restaurantes nos últimos meses, na sequência do levantamento das restrições sanitárias.

A fraca procura doméstica, apesar da inflação estar perto de zero, está a atrasar a recuperação económica.

A retoma da produção industrial também desacelerou em Maio, crescendo 3,5 por cento em termos anuais, contra 5,6 por cento em Abril, com as fábricas a voltar gradualmente à capacidade total, uma evolução já prevista pelos analistas.

Por seu turno, o investimento em activos fixos também abrandou, registando entre Janeiro e Maio um aumento homólogo de 4 por cento.

15 Jun 2023

Índia | Grupo quer filme sobre “atrocidades indescritíveis” de portugueses em Goa

Uma organização de direita indiana propôs na quarta-feira a realização de um filme sobre as “atrocidades indescritíveis” cometidas contra os hindus durante o domínio português no Estado de Goa, avançou o jornal indiano The Times of India.

“Se a Índia aceitou ‘Kashmir Files’ [Os Ficheiros de Caxemira] e “The Kerala Story” [A História de Kerala], então porque é que não há de haver um “Goa Files” [Ficheiros de Goa]?”, disse o porta-voz da organização de direita Hindu Janajagruti Samiti (HJS), Ramesh Shinde, referindo-se a duas obras inspiradas em episódios da história da Índia.

As declarações foram feitas uma semana depois de o líder do governo de Goa, Pramod Sawant, ter afirmado que era “altura de apagar os sinais dos portugueses”.

Ainda de acordo com o The Times of India, Sawant afirmou, numa cerimónia em honra do 350.º aniversário da coroação do líder Shivaji, que no 60.º aniversário da libertação de Goa, o Estado devia eliminar toda a influência portuguesa e “começar de novo”.

O responsável goês apontou que os portugueses tinham começado a destruir os templos há 350 anos e que a devastação foi interrompida após terem sido confrontados por Shivaji, escreveu o jornal.

“Porque é que toda a gente em Goa e no resto da Índia não há de saber a extensão das atrocidades”, notou, por sua vez, o porta-voz do grupo HJS, afirmando que os portugueses cometeram “atrocidades indescritíveis” contra os hindus.

O responsável anunciou que a realização do filme “Goa Files” vai ser discutida na 11.ª edição da convenção anual All India Hindu Rashtra, que reúne centenas de chefes de diferentes organizações hindus da Índia e de todo o mundo entre 16 e 22 de Junho.

15 Jun 2023

Bill Gates elogia experiência inestimável da China em primeira visita ao país após pandemia

O cofundador da Microsoft Bill Gates está na China pela primeira vez desde o início da pandemia e disse ontem que o país tem “uma experiência inestimável (…) que vale a pena partilhar com o mundo”.

Numa mensagem publicada na rede social chinesa Weibo, o bilionário elogiou a experiência da China nas áreas da “saúde, agricultura, nutrição e redução da pobreza” e disse querer “continuar a trabalhar com os parceiros chineses para dar mais contribuições para o progresso global”.

Gates chegou a Pequim na quarta-feira e, numa outra mensagem, lembrou que a Fundação Bill e Melinda Gates tem vindo a trabalhar com parceiros chineses para “responder a desafios globais de saúde e desenvolvimento há mais de 15 anos”.

O filantropo sublinhou que a China “tem muita experiência” em áreas que vão desde o “desenvolvimento de novos medicamentos contra a malária ao investimento em soluções resistentes às mudanças climáticas”.

“Para fazer face a problemas como as alterações climáticas, desigualdades na saúde e segurança alimentar, precisamos de inovação”, acrescentou Gates.

“O mundo tem feito enormes progressos na redução da mortalidade infantil e da pobreza, mas a crise mundial fez o progresso estagnar”, lamentou Bill Gates.

O empresário revelou que o próximo destino será a África Ocidental e destacou que os países africanos são “particularmente vulneráveis aos elevados preços dos alimentos, dívidas [públicas] pesadas e taxas crescentes de tuberculose e malária”.

Fila bilionária

A visita de Gates ocorre depois de outros empresários como o director executivo da Apple, Tim Cook, e o director executivo da Tesla, Elon Musk, terem visitado a China nas últimas semanas e reunido com altos funcionários chineses.

O jornal oficial chinês Global Times escreveu que executivos de países ocidentais “visitam a China em busca de cooperação”, apesar de “os Estados Unidos e alguns dos seus aliados continuarem a adoptar uma postura hostil para conter a ascensão chinesa”.

O Departamento de Estado norte-americano confirmou, na quarta-feira, que o secretário de Estado, Antony Blinken, se irá deslocar à China, no fim de semana, onde pretende iniciar uma reaproximação diplomática com Pequim e pedir uma “gestão responsável” das tensões entre as duas grandes potências (ver págs 10-11).

15 Jun 2023

Médio Oriente | PM reúne-se com líder da Palestina

O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, reuniu-se ontem com o Presidente da Palestina, Mahmud Abbas, num esforço de Pequim para elevar as relações bilaterais e o papel no Médio Oriente.

Li, que assumiu o cargo na Primavera, considerou Abbas “um velho amigo do povo chinês” que fez “contribuições importantes para a promoção das relações China-Palestina”.

A reunião ocorreu um dia depois de Abbas ter sido recebido com todas as honras militares pelo líder da China e chefe do Partido Comunista Chinês, Xi Jinping.

Os dois dirigentes anunciaram na quarta-feira a formação de uma “parceria estratégica”, abrindo caminho para aumentar a influência da China no Médio Oriente.

A visita de Abbas segue-se à realização de negociações pela China entre o Irão e a Arábia Saudita, que resultaram na retoma das relações diplomáticas entre os dois rivais do Médio Oriente.

A reaproximação entre Riade e Teerão foi vista como uma vitória diplomática para a China, numa altura em que o principal rival chinês, os Estados Unidos, parece estar a retirar-se do Médio Oriente, depois de os conflitos no Iraque e no Afeganistão e complicações nos laços com a Arábia Saudita.

Pequim há muito mantém relações diplomáticas com a Autoridade Palestiniana e nomeou um enviado especial para se reunir com autoridades israelitas e palestinas. Com uma experiência na região limita à construção, manufatura e outros projectos económicos, a China tem procurado estreitar laços com Israel.

Desde a reabertura das fronteiras na Primavera, na sequência do levantamento das restrições sanitárias impostas pela política ‘zero-covid’, o Governo chinês tem recebido uma lista crescente de líderes mundiais, incluindo o Presidente francês, Emmanuel Macron, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

15 Jun 2023

EUA | Blinken em Pequim para “gestão responsável” das tensões

A viagem à China do secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, adiada após o episódio do balão, vai finalmente acontecer este fim-de-semana. Encontro com o Presidente Xi não está, para já, confirmado

 

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, fará uma rara visita à China no fim de semana, onde pretende iniciar uma reaproximação diplomática com Pequim e pedir uma “gestão responsável” das tensões entre as duas grandes potências.

“O secretário Blinken irá reunir-se com altos funcionários chineses e discutir a importância de manter linhas de comunicação abertas para gerir com responsabilidade o relacionamento China-Estados Unidos da América (EUA)”, disse na quarta-feira o Departamento de Estado, confirmando a tão aguardada viagem diplomática, inicialmente agendada para Fevereiro. Uma reunião com o Presidente chinês, Xi Jinping, não foi confirmada.

Auto classificando-se de “realistas”, os Estados Unidos não esperam fazer grandes “avanços”, mas pelo menos acalentam a esperança de “reduzir o risco de erros de cálculo que se podem transformar em conflito”, segundo autoridades norte-americanas.

“Não vamos a Pequim com a intenção de alcançar avanços ou transformações”, disse a jornalistas o chefe do Departamento de Estado para a Ásia, Daniel Kritenbrink.

Outro funcionário norte-americano, Kurt Campbell, enfatizou que “os esforços para moldar ou reformar a China nas últimas décadas falharam”, dizendo que espera que a China permaneça “um actor importante no cenário internacional” por muito tempo.

As relações bilaterais permanecem tensas num grande número de questões: os vínculos entre os Estados Unidos e Taiwan, a rivalidade em tecnologias e comércio, ou mesmo reivindicações territoriais chinesas no Mar da China Meridional.

“Desde o início do ano, as relações China-EUA enfrentaram novas dificuldades e desafios. Está claro de quem é a responsabilidade”, disse ontem o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Qin Gang, num telefonema com Blinken, segundo Pequim.

No telefonema, o ministro “explicou a posição solene da China sobre a questão de Taiwan”, principal ponto de fricção entre as duas potências, assim como “outras preocupações essenciais” de Pequim, sublinha o comunicado de imprensa.

Mercado proibido

Esta visita de Antony Blinken surge na sequência da reunião em Novembro passado entre o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o seu homólogo chinês, Xi Jinping, à margem de uma cimeira do G20 na Indonésia. Os dois líderes concordaram em cooperar em certas questões.

Blinken aproveitará para colocar na mesa o problema do opioide fentanil, cujos componentes químicos são exportados da China para o México, onde, segundo Washington, a substância é fabricada.

O porta-voz do Departamento de Estado, Matt Miller, enfatizou ontem que as preocupações dos EUA são “bem conhecidas” e incluem, entre outros, o comércio de fentanil e o “alinhamento” da China com a Rússia na guerra da Ucrânia.

Antony Blinken deverá viajar até Pequim e Londres entre sexta-feira e 21 de Junho, confirmou ontem o Departamento de Estado norte-americano.

Em Londres, Blinken vai participar na Conferência de Recuperação da Ucrânia, uma iniciativa criada para ajudar a mobilizar o apoio internacional público e privado para ajudar Kiev a recuperar dos ataques russos.

Ainda em Londres, o chefe da diplomacia dos EUA também reunirá com membros do Governo britânico, assim como de Governos de países aliados.

15 Jun 2023

Turismo | Governo em encontro sobre Grande Baía

A Direcção dos Serviços de Turismo (DST) participou ontem na 83.ª reunião de trabalho da Organização de Promoção Turística entre Guangdong, Hong Kong e Macau, juntamente com operadores na Feira Internacional de Turismo de Hong Kong.

A reunião serviu, entre outros assuntos, para discutir o plano promocional para o segundo semestre deste ano, que inclui novos roteiros “multidestinos” e o lançamento de vídeos promocionais do turismo cultural da Grande Baía, entre outros planos.

Além disso, desde ontem que a DST está representada na 37.ª Feira Internacional de Turismo de Hong Kong (ITE Hong Kong, na sigla inglesa) e na 18.ª Expo de Viagens de Convenções e Exposições (MICE Travel Expo, na sigla inglesa). Os dois eventos servem para “divulgar as últimas novidades do turismo de Macau aos compradores estrangeiros, operadores turísticos, clientes empresariais e público em geral, promover o turismo de lazer e negócios, e providenciar uma plataforma de negócios eficaz para os operadores turísticos de Macau”.

15 Jun 2023

Canção de protesto de Hong Kong fora de sites de ‘streaming’ de música e redes sociais

A canção de protesto “Glory to Hong Kong”, ligada às manifestações antigovernamentais de 2019, não estava disponível na quarta-feira em alguns dos principais ‘sites’ de música e redes sociais, noticiou hoje a agência Associated Press (AP).

O Governo da região administrativa chinesa de Hong Kong disse, há uma semana, ter pedido ao Tribunal Superior local uma providência cautelar para proibir a transmissão da música, por alegadas “intenções sediciosas”. O objetivo é “impedir que a canção seja transmitida ou executada com a intenção de incitar outros à secessão ou para fins sediciosos”, indicou, em comunicado, o Departamento de Justiça.

O Governo também pretende “impedir que a canção seja transmitida ou executada como hino nacional de Hong Kong com a intenção de insultar o hino oficial”, bem como “salvaguardar a segurança nacional e preservar a dignidade do hino” da China.

Depois deste pedido de providência cautelar, a canção chegou ao topo das tabelas de plataformas digitais de distribuição de música como o iTunes, da Apple. No entanto, deixou de estar disponível, na quarta-feira, no Spotify e na Apple Music. A versão original da música também não estava disponível nas redes sociais Facebook e Instagram.

O Spotify disse, num comunicado enviado por ‘e-mail’ à AP, que a música foi retirada pelo distribuidor e não pela plataforma. Facebook, Instagram e Apple Music não comentaram de imediato o sucedido.

O criador da canção, DGX Music, escreveu, por sua vez, no Facebook que estava “a lidar com alguns problemas técnicos relacionados com plataformas” digitais e pediu desculpa pelo problema, que qualificou de temporário.

As versões da canção, incluindo a dos criadores originais, ainda estavam disponíveis na plataforma de vídeo YouTube.

A canção tornou-se o termo mais procurado no motor de busca Google para “hino nacional de Hong Kong”, e foi mesmo utilizada em competições desportivas internacionais, como o Campeonato Mundial de Hóquei no Gelo, em vez do hino da China.

De acordo com o Governo, a canção “causou não só uma ofensa ao hino original, mas também graves danos ao país e a Hong Kong”.

15 Jun 2023

Ciclone Biparjoy atinge hoje a Índia e o Paquistão

O poderoso ciclone Biparjoy deve atingir hoje à tarde a fronteira entre a Índia e o Paquistão, onde as equipas de resgate já conseguiram retirar mais de 146 mil pessoas.

O ciclone Biparjoy, nome que significa “desastre” em bengali, avança pelo Mar Arábico em direção ao porto de Jakhau, no estado indiano de Gujarat, e deve atingir hoje a costa entre o sul do Paquistão e o oeste da Índia, segundo os serviços meteorológicos.

Na Índia, mais de 74.000 pessoas foram retiradas até agora em oito distritos do estado costeiro de Gujarat, de acordo com informações prestadas na quarta-feira à noite pelo chefe de governo do estado, Bhupendra Patel, na rede social Twitter, após uma reunião com serviços de emergência.

Por sua vez, “mais de 72.000 pessoas foram retiradas de áreas sob ameaça direta do ciclone até agora”, disse Murtaza Wahab, porta-voz do governo da província de Sindh, no sul, na fronteira com a Índia.

Na terça-feira, as autoridades de Gujarat disseram que as chuvas torrenciais e os ventos fortes, à medida que o ciclone se aproxima, mataram três pessoas, duas delas crianças, devido a uma parede que desmoronou, e uma mulher foi atingida por uma árvore.

Em 2021, a mesma região foi atingida pelo ciclone Tauktae, que matou mais de 150 pessoas e causou estragos consideráveis. Os ciclones são uma ameaça comum nas costas do norte do Oceano Índico, onde vivem dezenas de milhões de pessoas. Segundo os cientistas, estes fenómenos tendem a tornar-se mais violentos devido ao aquecimento global.

15 Jun 2023

Primeiro-ministro chinês visita França e Alemanha entre domingo e 23 de Junho

O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, visitará a Alemanha e a França entre 18 e 23 de junho, anunciou hoje o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China.

O dirigente chinês “fará uma visita oficial à Alemanha, onde terá lugar a sétima ronda de consultas governamentais sino-alemãs, e uma visita oficial à França, onde participará na cimeira para um Novo Pacto Financeiro Global”, disse Wang Wenbin, um porta-voz do ministério chinês.

O primeiro-ministro na China geralmente é uma personalidade menos política do que o Presidente [chinês, Xi Jinping], estando mais responsável por questões económicas e financeiras.

O objetivo da cimeira para um Novo Pacto Financeiro Global, organizada por iniciativa do Presidente francês, Emmanuel Macron, é ambicioso: reformar a arquitetura financeira global para melhor responder aos desafios impostos pelas alterações climáticas.

Vários participantes já confirmaram presença: presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, o presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, e o chanceler alemão, Olaf Scholz.

A viagem de Li Qiang à Alemanha promete ser mais agitada, após Berlim ter publicado um documento esta semana que descreve a China como uma força hostil à Alemanha.

O maior parceiro económico da Alemanha e um mercado vital para o seu poderoso setor automóvel, a China há muito tempo que é poupada por Berlim, que, no entanto, endureceu o tom do seu discurso há pouco mais de um ano.

Os ministros do Meio Ambiente defendem uma maior firmeza em relação a Pequim, apontando a sua atitude em relação a Taiwan e os abusos de que são acusadas as autoridades chinesas contra a minoria uigur na região de Xinjiang, no noroeste da China.

15 Jun 2023

Análise | China deve expandir “amizades”

Num fórum levado a cabo pela Universidade de Renmin, em Pequim, analistas chineses falaram sobre os fundamentos da ligação à Rússia e defenderam que o país deveria “fazer amizade com mais países” em resposta à política externa norte-americana

 

A China deve reflectir sobre a sua relação com Moscovo, apesar da rivalidade comum com o Ocidente, defenderam ontem analistas chineses, numa altura em que a China enfrenta críticas, devido à posição ambígua na guerra na Ucrânia.

Liu Weidong, investigador no Instituto de Estudos Americanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais (CASS), argumentou que Moscovo tentou “aproveitar-se” de Pequim, antes e depois do início do conflito. “A Rússia está a tentar usar unilateralmente a China, mas não quer ser usada pela China”, observou o académico, durante um fórum organizado pela Academia Nacional de Desenvolvimento e Estratégia da Universidade Renmin, situada no norte da cidade de Pequim.

“O que a [China] quer é uma cooperação com benefícios mútuos sob a premissa do não-alinhamento”, disse Liu, questionando se a relação sob esses termos pode ser alcançada com Moscovo.

O investigador afirmou que os Estados Unidos estão a tentar unir os dois países em várias questões, visando induzir uma aliança entre Pequim e Moscovo. Se tal aliança for estabelecida, acabará por resultar numa “exaustão mútua, em vez de cooperação”, previu.

A China partilha com a Rússia a defesa de uma nova ordem mundial multipolar, apontando a redistribuição de poder, em contraposição com a hegemonia norte-americana. Pequim critica também o sistema imperialista de alianças norte-americano na região do Indo-Pacífico, que inclui Japão e Austrália.

O comércio bilateral entre a China e a Rússia subiu 40,7 por cento, nos primeiros cinco meses do ano, face ao mesmo período do ano anterior. Durante o mesmo período, o comércio entre os EUA e a China – as duas maiores economias do mundo – encolheu 12,3 por cento, de acordo com os últimos dados divulgados pela Administração Geral das Alfândegas da China.

Altos funcionários dos dois países concordaram também em realizar mais exercícios conjuntos, apenas alguns dias após aviões militares chineses e russos terem realizado uma missão de patrulha conjunta sobre os mares do Japão e do Leste da China.

Outros caminhos

Zuo Xiying, professor de relações internacionais da Universidade Renmin, argumentou também que a China deve equilibrar o seu relacionamento com a Rússia, como forma de neutralizar a estratégia de Washington de unir os países aliados para conter Pequim. “A China não deve ficar nem com a Rússia nem com o Ocidente. Em vez disso, a China deve estar numa posição que priorize os seus próprios interesses nacionais”, afirmou.

China e Rússia concordaram, em março passado, em fortalecer a cooperação a nível militar, visando aumentar a confiança mútua entre as suas Forças Armadas, de acordo com um comunicado conjunto, emitido após uma reunião no Kremlin entre Xi e Putin. Pequim criticou os países ocidentais, por não procurarem uma solução pacífica para a guerra.

Liu disse que a China deve ser mais flexível ao lidar com confrontos entre blocos cada vez mais óbvios e competir com os EUA por “amigos”. O académico acrescentou que países que costumavam estar relutantes em escolher um lado na rivalidade China – EUA, como Japão e Coreia do Sul, estão agora firmemente alinhados com Washington. A China deve “fazer amizade com mais países”, urgiu.
“Os Estados Unidos, como a potência ‘número um’, estão a fazer amigos, por isso é ainda mais necessário competir com os Estados Unidos por amigos”, disse Liu.

14 Jun 2023

Diplomacia | EUA e China partilham preocupações sobre relações bilaterais

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, e o ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Qin Gang, expressaram ontem preocupações com a deterioração da relações entre Pequim e Washington, numa conversa por telefone.

“Falei esta noite com o conselheiro de Estado e ministro dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China, Qin Gang, por telefone”, afirmou Blinken, na rede social Twitter.

“Discutimos esforços contínuos para manter canais abertos de comunicação e abordamos questões bilaterais e globais”, acrescentou o secretário de Estado norte-americano.

Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China disse que Qin instou os Estados Unidos a respeitarem as “preocupações centrais da China”, incluindo na questão de Taiwan.

O ministro chinês pediu a Washington que “pare de interferir nos assuntos internos da China e de prejudicar os interesses de soberania, segurança e desenvolvimento da China, em nome da competição”, indicou a mesma nota.

Qin observou que as relações China–Estados Unidos “deparam-se com novas dificuldades e desafios” desde o início do ano, sendo “responsabilidade das duas partes trabalhar em conjunto para gerir adequadamente as diferenças, promover intercâmbios e a cooperação e estabilizar as relações”.

Blinken deve realizar esta semana uma visita à China, depois de várias semanas em que os dois países fizeram aberturas diplomáticas de parte a parte, na tentativa de aliviar as tensões.

Na semana passada, o secretário de Estado adjunto dos EUA para os Assuntos do Leste Asiático e do Pacífico, Daniel Kritenbrink, tornou-se o responsável norte-americano de mais alto escalão a visitar a China desde o caso do balão.

14 Jun 2023

Taiwan | Pequim prevê que EUA abandonariam a ilha em caso de conflito

O Governo chinês disse ontem que os Estados Unidos estariam dispostos a abandonar Taiwan à sua sorte a qualquer altura, acusando Washington de usar a ilha como “um peão para conter” a China.

A porta-voz do Gabinete para os Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado, Zhu Fenglian, reagiu assim em conferência de imprensa à publicação, por órgãos de comunicação estrangeiros, da existência de um alegado plano dos Estados Unidos para retirar os seus cidadãos de Taiwan no caso de um conflito com a China.

Se tal plano existir, “fica claro que os Estados Unidos estão a usar Taiwan apenas como um peão para conter a China e que abandonariam o território a qualquer momento”, disse a porta-voz.

Acusou alguns políticos norte-americanos de “encherem a boca a falar na importância da paz e estabilidade no Estreito de Taiwan”, enquanto “encorajam continuamente a venda de armas” a Taipé.

A funcionária instou os “compatriotas de Taiwan” a discernir se os EUA os estão a apoiar ou a prejudicar, bem como a avaliar se o Partido Democrático Progressista, actualmente no poder em Taipé, “está a agir como um guardião ou em detrimento” do território.

A questão de Taiwan é um dos principais pontos de atrito entre Pequim e Washington, já que os EUA são o principal fornecedor de armas e o maior aliado de Taipé.

14 Jun 2023

Israel / Palestina | Pequim reafirma apoio aos esforços para resolver conflito

A China continua a promover as relações de amizade com as autoridades palestinianas e oferece ajuda para tentar pôr fim a um conflito que se arrasta há décadas, assumindo-se cada vez mais como um agente a ter em conta nas relações internacionais

 

O ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Qin Gang, reafirmou ontem ao seu homólogo palestiniano, Riyad al-Malki, que Pequim apoia os esforços para resolver o conflito israelo-palestiniano.

Os diplomatas reuniram-se em Pequim como parte da visita de Estado do Presidente palestiniano, Mahmoud Abbas, à China. O líder da Autoridade Nacional Palestina (ANP) deve reunir-se esta semana com o Presidente chinês, Xi Jinping.

Segundo um comunicado emitido pelo ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Qin observou que Abbas é o primeiro chefe de Estado árabe a ser recebido pela China este ano, o “que demonstra plenamente a amizade especial entre a China e a Palestina e o apoio da China à justa causa da Palestina”.

O ministro chinês adiantou que Abbas e Xi “vão elaborar um plano de alto nível para o desenvolvimento das relações bilaterais, esclarecer a direcção estratégica e elevar as tradicionais relações amigáveis entre os dois países para um novo patamar”.

“A China atribui grande importância à questão palestiniana e sempre apoiou firmemente a justa causa do povo da Palestina para restaurar os seus direitos nacionais legítimos. A China vai continuar a apoiar a direcção correcta das negociações para a paz e contribuir com a sua sabedoria e força para a solução do conflito”, lê-se na nota oficial.

O ministro dos Negócios Estrangeiros palestiniano descreveu o país asiático como um “amigo de confiança” e agradeceu pelo seu apoio “firme” à “justa causa da Palestina”. “O Presidente Abbas atribui grande importância a esta visita”, acrescentou o diplomata.

Tensão alta

A visita do Presidente palestiniano, que decorre até 16 de Junho, ocorre numa altura em que Pequim manifestou vontade em facilitar a retoma das negociações de paz entre Israel e Palestina, e pediu às duas partes que demonstrem coragem política e tomem medidas para retomar o diálogo.

Qin manifestou a sua preocupação com as actuais tensões entre os dois países, em Abril passado, e pediu que se evite uma escalada do conflito. Ele enfatizou que a saída fundamental é retomar as negociações para a paz e implementar a “solução de dois Estados”.

Nos últimos meses, a China embarcou numa ofensiva diplomática para se afirmar como uma potência global.

Em Março passado, Irão e a Arábia Saudita anunciaram, em Pequim, um acordo para restabelecerem as relações diplomáticas.

Na Ucrânia, Pequim destacou um enviado especial para negociar um acordo político que ponha fim à guerra, que dura há 16 meses.

14 Jun 2023

Livro IX – Zi Han

9.1. O Mestre raramente (abertamente) falava acerca de vantagem pessoal, do mandato do Céu ou do sentido da benevolência.171

9.2. Um aldeão de Daxiang disse: “Confúcio é grande! O seu conhecimento é vasto, embora não seja conhecido por qualquer área em particular.” Ao ouvir tal coisa, o Mestre disse aos seus discípulos: “Em que me deveria especializar? Talvez na condução de carruagens? Ou talvez na arte do arqueiro? Não, julgo que aprenderei a conduzir carruagens.”172

9.3. O Mestre disse: “O uso de um barrete de cânhamo está prescrito na conduta ritual. Hoje as pessoas usam um barrete de seda de baixo preço. Quanto a isto, sigo o uso geral. O acto de bater cabeça ao entrar no templo está prescrito na conduta ritual. O facto de hoje se bater cabeça apenas junto ao altar é uma vaidade. Apesar de ir contra o uso geral, eu ainda bato cabeça logo à entrada do templo.”173

9.4. Há quatro coisas das quais o Mestre se abstém: arbitrariedade, inflexibilidade, teimosia e egoísmo.174

9.5. Quando o Mestre se encontrou cercado em Kuang disse: “Com o rei Wen há muito morto, não será que a nossa herança cultural reside aqui dentro de nós? Se o Céu quisesse destruir esse legado, nós, os que viemos depois, não teríamos tido acesso a ele. Se o Céu não o quer destruir, o que podem os homens de Kuang contra mim?”175

9.6. O grande ministro perguntou a Zigong: “O teu Mestre é um sábio, não é? Então porque domina tão diversos talentos?” Zigong replicou: “O Céu proporcionou-lhe ser um sábio, mas também lhe deu muitos talentos.” Ao ouvir isto, o Mestre disse: “O que sabe de mim o grande ministro? A minha família era pobre, por isso aprendi, quando jovem, inúmeros ofícios. Será que uma pessoa exemplar precisa deles? Penso que não.”

9.7. Lao disse: “O Mestre diz de si próprio que aprendeu todos esses ofícios por nunca ter sido nomeado para um cargo.”176

9.8. O Mestre disse: “Será que possuo sabedoria? Não, não possuo. Mas se um simples camponês me coloca uma questão para a qual não tenho resposta, abordo-a de todos os lados até conseguir responder.”177

9.9. O Mestre disse: “A Fénix auspiciosa não aparece; o Rio Amarelo não revela o seu mapa mágico. Tudo está perdido para mim!”178

9.10. Ao encontrar pessoas vestidas de luto ou em roupas de cerimónia oficiais, como ao encontrar cegos, ainda que estas pessoas fossem mais jovens do que ele, o Mestre costumava levantar-se de imediato e, ao passar por elas, estugava o passo.

9.11. Yan Hui dizia da Via do Mestre, com um profundo suspiro: “Quanto mais olho para cima, mais alto me parece; quanto mais o penetro, mais duro se torna; quando o procuro à minha frente, logo dou por ele atrás de mim. O Mestre é excelente a conduzir-me passo a passo: com cultura, alarga o meu horizonte; com os ritos disciplina o meu comportamento; de tal modo que mesmo que eu quisesse desistir, não poderia. Ainda que nela esgote todas as minhas capacidades, é como se à minha frente se erguesse uma barreira intransponível. Mesmo que a queira seguir é como se não houvesse estrada.”180

9. 12. Estando o Mestre gravemente doente, Zilu fez com que alguns dos discípulos passassem por servos para o assistir. Mas quando recobrou a saúde, Confúcio disse: “Esta comédia já durou tempo demais, caro Zilu! Se eu não tenho servos, mas fingir tê-los, a quem enganarei? Será que enganarei o Céu? Além disso, não seria melhor morrer nos braços dos meus discípulos do que nos braços de uns servos? Se é verdade que não terei um grandioso funeral de estado, também é verdade que não morrerei à beira da estrada.”181

9.13. Zigong disse: “Temos aqui uma excelente peça de jade, será melhor guardá-la numa caixa ou tentar vendê-la por bom preço?” O Mestre respondeu: “Vendam-na! Vendam-na! Mas esperem pelo preço certo!”182

9.14. O Mestre quis ir viver entre os nove clãs dos bárbaros Yi do Leste. Alguém lhe perguntou: “E o que farias a respeito da sua rudeza?” O Mestre respondeu: “Se uma pessoa exemplar fosse viver entre eles, que rudeza poderia haver?”183

9.15. O Mestre disse: “Foi só no meu regresso a Lu, vindo de Wei, que revi o Livro de Música e pus na ordem correcta as ‘Odes do Reino’ e os ‘Hinos Cerimoniais’.”

16. O Mestre disse: “Servir o duque e os seus ministros na corte e servir os meus maiores no lar, em questões funerárias dar o meu melhor e não me deixar dominar pela bebida – como poderiam estas coisas incomodar-me?”

9.17. O Mestre estava sobre a margem de um rio e observou: “Assim passa a vida, sem se deter, noite e dia.”184

9. 18. O Mestre disse: “Ainda estou para conhecer a pessoa que ame mais a virtude do que a beleza das mulheres.”185

9.19. O Mestre disse: “Se ao empilhar rochas para erigir uma montanha a apenas um cesto do fim me detiver, fui eu que me detive. Se ao encher um canal para nivelar o solo tiver despejado um só cesto e continuar, sou eu que faço progresso.”186

9.20. O Mestre disse: “Se houve alguém que escutou com toda a atenção as minhas palavras, essa pessoa foi certamente Yan Hui.”

9.21. O Mestre disse acerca Yan Hui: “Que pena! Só o vi progredir e não conseguir.”187

9.22. O Mestre disse: “Existem rebentos que não florescem e flores que não dão fruto.”188

9.23. O Mestre disse: “Os jovens devem ser tidos em alta consideração. Afinal, como saber se não suplantarão os nossos contemporâneos? Já quem chega aos quarenta ou cinquenta anos e nada fez de notável, não merece a nossa consideração.”

9.24. O Mestre disse: “Como não concordar quando avisadamente nos corrigem? Porém, o importante é regenerar o nosso comportamento. Como não se contentar com doces palavras de aprovação? Porém, o importante é compreender o seu real significado. Aqueles que se contentam com elogios, mas não compreendem o seu significado; ou aqueles que concordam com preceitos avisados, mas não regeneram o seu comportamento — não sei o que fazer com eles!”189

9.25. O Mestre disse: “A base da vossa conduta deverá ser o cumprimento da palavra e o darem o vosso melhor. Não façam amizade com ninguém que não seja, pelo menos, vosso igual. Se se desviarem do caminho, não hesitem em rectificar a vossa conduta.”190

9.26. O Mestre disse: “Um comandante de três exércitos pode ser capturado à força, mas nem a um homem do povo se pode retirar a força de vontade.”191

9.27. O Mestre disse: “Se há alguém que não sente vergonha em usar um fato remendado junto a alguém que se veste de raposa e arminho, esse é Zilu! Não causa mal e não inveja, / cavaleiro sem medo nem lamúrias, / como poderia não ser excelente? ” Zilu repetia estes versos sem cessar, de tal modo que o Mestre lhe disse: “O que poderá haver de excelente nesse teu caminho?”192

9.28. O Mestre disse: “Só quando chega o frio percebemos que o pinheiro e o cipreste são os últimos a perder as folhas.”193

9.29. O Mestre disse: “Os sábios não se confundem; os benevolentes não sentem ansiedade; os corajosos não temem.”194

9.30. O Mestre disse: “Podemos estudar com alguém e não seguir a sua via; podemos seguir a mesma via de alguém e não necessariamente tomarmos posição a seu lado; podemos tomar a posição de alguém e não necessariamente julgar as coisas da mesma maneira.” 195

9.31. “As flores da cerejeira selvagem / Inclinam-se e agitam-se. / Como não pensar em ti?/ Mas é tão longe a tua casa…”

O Mestre disse: “Se ele realmente pensasse nela, o que importaria a distância?”196

171. Esta passagem tem provocado inúmeras discussões entre os comentadores porque se há tópicos que Confúcio constantemente refere são precisamente a vantagem pessoal, o mandato do Céu (que alguns interpretam como “destino”) e a benevolência. Como explicar então que aqui seja dito que ele “raramente” os menciona? Huang Shisan, comentador da dinastia Qing, para resolver esta dificuldade, considera que o termo han (raramente) é aqui usado como substituto de xuan (abertamente), argumentando que no chinês clássico (e dá como exemplo outros textos, como o Comentário de Zuo) os dois caracteres são permutáveis. Então aqui han tomaria o sentido de xuan, o que permite ler a frase como “O Mestre falava abertamente de…”. De facto, este sentido adequa-se muito melhor à realidade dos Analectos. No entanto, outros comentadores entendem que o sentido será “O Mestre raramente falava de vantagem pessoal e do mandato do Céu, pronunciando-se antes sobre a benevolência.” Contudo, nestes Analectos, Confúcio é, várias vezes, bastante crítico sobre quem privilegia a vantagem pessoal, e também se refere ao mandato do Céu, nomeadamente quando fala de si mesmo.

172. Também esta passagem tem sido sujeita a diferentes leituras. A primeira e mais comum entende a resposta de Confúcio como um sarcasmo, na medida em que sendo a condução de carruagens a menos nobre das artes, o Mestre mostraria aqui o seu desprezo pela especialização ou pela simples aquisição de saberes técnicos. Contudo, há quem interprete exactamente ao contrário e considere que o Mestre reconhece que deveria possuir algum conhecimento específico, de modo a tornar-se mais útil e, num acesso de humildade, escolheria a menos considerada das artes.

173. O barrete de cânhamo era bastante mais complexo que um simples barrete de seda. Portanto, aqui é defendida a frugalidade, apesar de ser uma inovação ritual. Por outro lado, bater cabeça à entrada implicava que se pedia permissão para entrar, portanto acrescentava uma maior dose de respeito. Esta passagem demonstra a importância e o respeito que Confúcio tinha pelos rituais, ainda que admita uma inovação desde que esta seja portadora de um bom sentimento. A conclusão será que o mais importante no ritual é o modo como o coração se encontra no momento de o praticar.

174. Tratam-se, todas elas, de categorias do egoísmo, que nos fazem afastar da natureza moral original e que teremos de combater para de novo a adquirir. De realçar o distanciamento em relação a “verdades absolutas”, o que faz do confucionismo um pensamento em permanente mutação consoante as realidades sociais, históricas ou mesmo individuais que encontra e que deverão ser avaliadas a cada momento antes de se empreender qualquer acção.

175. Segundo Sima Qian, ao passar por Kuang, Confúcio foi confundido com Yang Hu de Lu, que teria feito mal aos habitantes daquele terra, e foi detido durante cinco dias, até que tudo se esclareceu. Entretanto, tendo Yan Hui chegado a Kuang, o Mestre disse-lhe: “Pensei que estavas morto”, ao que Yan Hui respondeu: “mas Mestre, como me atreveria a morrer se vós ainda estais vivo?”. Confúcio assume-se aqui, num raro gesto de vaidade, como o fiel depositário das tradições rituais e literárias do rei Wen, considerando que nada de mal lhe poderia acontecer pois se essas tradições não devessem ser preservadas elas teriam desaparecido com Wen. De algum modo, invoca a vontade do Céu como destino.

176. A sua origem relativamente humilde terá forçado Confúcio a aprender tarefas consideradas menores e servis, que ele não considera essenciais para se ser uma pessoa exemplar. Em 9.6. o Mestre parece perder a paciência para este tipo de observação e imediatamente assume as suas origens modestas, apesar de considerar que para se ser uma pessoa exemplar não existe a necessidade de aprender ofícios menores. No entanto, este tipo de afirmação prova que o confucionismo dá mais importância ao mérito pessoal do que à filiação, posição que na sua época e nas épocas subsequentes era algo a ter em elevada consideração.

177. Além da humildade decorrente desta afirmação, Confúcio elabora aqui o seu método de inquirição: examina qualquer problema de todos os pontos de vista possíveis até optar pela resposta que lhe parece não apenas fazer mais sentido, mas que implicará uma maior eficácia na acção, de acordo com a autenticidade interior (cheng) e a benevolência (ren).

178. A fénix e o mapa foram presságios auspiciosos enviados pelo Céu no passado para indicar que um rei-sábio surgia para trazer harmonia ao mundo. A fénix terá surgido durante o reinado de Shun e uma criatura com corpo de cavalo e cabeça de dragão terá emergido do Rio Amarelo no tempo de Fu Xi. Nas suas costas trazia marcas que inspiraram Fu Xi a criar o sistema de escrita chinês e os hexagramas do Livro das Mutações. Portanto, Confúcio considera que na ausência de um rei-sábio não haverá lugar para ele e para a sua Via, inspirada nos reis do passado.

179. Levantar-se e estugar o passo são sinais de respeito. O Mestre demonstra esse respeito pela dor, pela posição social e pela deficiência física.

180. Yan Hui dá aqui conta da dificuldade em seguir a Via do Mestre e da extrema força moral necessária para o fazer. Mas o próprio Mestre reconhece a extrema dificuldade de constantemente praticar o Meio. (Zhongyong, 3)

181. Talvez Zilu tivesse vergonha de seguir um mestre de tão baixa condição que nem servos possuía para o acompanharem na doença e, portanto, não teria modo de cumprir a conduta ritual devida a uma pessoa de alta condição. Mas Confúcio imediatamente desmonta a charada que Zilu organizou, preferindo a autenticidade dos discípulos a falsos servos. É certo que o Mestre aprecia os ritos acima de tudo, mas nunca os que são efectuados sem verdadeira autenticidade (cheng).

182. Trata-se aqui de uma metáfora. A peça de jade representa a pessoa exemplar que não se deve eximir de servir um governante quando entende existirem condições para isso. Mas, por outro lado, deve esperar pelo governante que siga a Via correcta, ou seja, esperar que lhe surja “o preço certo”. Fan Ziyu comenta: “A pessoa exemplar está sempre disposta a servir, mas também despreza qualquer oferta que não esteja de acordo com a Via. O letrado que espera da abordagem ritualmente correcta é como um pedaço de jade à espera do preço certo… ele não vai certamente comprometer a Via para obter recompensas ou gabar-se do seu jade quando o procura vender.”

183. É de tal modo eficaz o poder do exemplo que até os bárbaros seriam influenciados por ele.

184. Aqui temos a constatação da impermanência, do impiedoso fluxo do tempo e da mutação dos dez mil seres. Alguns comentadores classificam esta frase como um “lamento”, na medida em que Confúcio referir-se-ia ao facto do tempo passar e ele não ver implantada a sua Via. Mas outros limitam-se a ler nesta frase a base ontológica do pensamento chinês tradicional, que recusa essências e prescreve um constante devir, cujo ritmo se baseia, geralmente, na alternância entre o Yin e o Yang. Já nos escritos de Xun Zi encontramos uma descrição das características da água que nos levam por outros caminhos: num diálogo com Zigong, Confúcio revela encontrar na água as qualidades de virtude, rectidão, benevolência, sabedoria, semelhança ao Dao, etc. (Xun Zi, cap. 28)

185. Existem inúmeras explicações para esta sentença do Mestre que vacilam entre a explicação histórica (Sima Qian), situando-a num episódio em que o lugar que ele deveria ocupar foi entregue pelo duque Ling de Wei à sua consorte Nizan, quebrando assim as regras da conduta ritual; até aos que a lêem de forma mais filosófica, como é o caso de Xie Liangzuo, que comenta: “Amar uma mulher bonita ou odiar um mau cheiro são exemplos de sinceridade. Se se pudesse amar a virtude da maneira que se ama a beleza feminina, isto significaria amar sinceramente a virtude. Infelizmente, poucas pessoas são capazes de o fazer”.

186. Confúcio refere-se ao cultivo de si. Se, apesar de ter trabalhado arduamente, interromper esse trabalho, terá sido para nada; mas se estiver no início e continuar, tal significa um avanço, ainda que não chegue ao fim. Zhu Xi comenta: “Se o aluno é, ele mesmo, capaz de se fortalecer e não desistir, então os seus pequenos esforços acumulados resultarão num grande sucesso. Se, pelo contrário, ele pára a meio caminho, deita a perder tudo que já conseguiu. A decisão de parar ou seguir em frente está inteiramente dentro de mim, e não é determinada por outros”.

187. Frase proferida depois da morte precoce de Yan Hui que, por partir tão cedo, não chegou a realizar completamente a Via, apesar de ser o aluno favorito do Mestre. Também é lido como “Só o vi progredir e nunca desistir”.

188. Zhu Xi comenta: “A aprendizagem que não está completa é assim, por isso é que a pessoa exemplar valoriza a sua persistência.”

189. O Mestre critica os que só superficialmente, por interesse ou vaidade, aceitam críticas ou elogios, mas não procuram modificar-se interiormente, nem considerar o real alcance do que lhes é dito.

190. Ver 1.8. e respectiva nota.

191. Kong Anguo comenta: “Embora os três exércitos tenham muita gente, os corações dessas pessoas não estão unificados, pelo que se pode privar à força um tal grupo do seu comandante e, por conseguinte, capturá-lo. Embora um homem do povo seja insignificante, se conseguir agarrar-se firmemente à sua vontade, não se poderá tirar-lha”. Esta passagem é lida por vários comentadores como relacionada com o cultivo de si e a força de vontade necessária para o exercer através do estudo. Contudo, é também possível detectar aqui o travo de um reconhecimento da possibilidade de resistência individual à iniquidade dos governantes. Esta poderá ser inquebrantável, muito mais forte do que “três exércitos”.

192. Os versos são do Livro das Odes e citá-los será talvez o objectivo primeiro do Mestre, enquanto elogia capacidade de Zilu, capaz de permanecer humildemente vestido junto de pessoas de alta condição, sem com isso se sentir humilhado ou invejoso. Mas Zilu, pessoa irreflectida, deixa-se tomar pela vaidade de ter sido elogiado pelo Mestre, o que provoca a reacção negativa de Confúcio que lhe diz, traduzindo em português mais simples, “por esse andar, não vais a lado nenhum.” Zhu Xi comenta: “Zilu estava constantemente a recitar a estrofe, o que indica que ele estava muito satisfeito consigo mesmo no que diz respeito às seus capacidades e, portanto, poderia não estar a perseguir suficientemente progressos ao longo do Caminho”.

193. É quando enfrentamos condições adversas que o carácter e a moral da pessoa exemplar são realmente postos à prova. He Yan comenta: “O objectivo da metáfora é que mesmo as pessoas comuns são capazes de se regularem e de se ordenadarem… e, portanto, aparentemente semelhantes à pessoa exemplar quando se vive numa era bem governada, mas é apenas numa era caótica que reconhecemos a rectidão da pessoa exemplar e a sua integridade inabalável”.

194. Sun Chuo comenta: “Os sábios são capazes de distinguir claramente entre as coisas, e, portanto, não se confundem. Aquele que está à vontade na benevolência é constante na sua alegria, por isso está livre de ansiedade”. Já o corajoso não se deixa intimidar pela força física ou ameaças, por isso não sente medo. Mas o que aqui será mais interessante é a definição pela negativa e não pela positiva, ou seja, confusão, ansiedade e medo, sintomas que refutarão um estado de perfeita virtude.

195. Algo surpreendente esta passagem, na medida em que admite um distanciamento, mesmo a nível de comportamento, entre discípulo e mestre, entre amigos, entre governante e o seu sucessor. Aqui Confúcio reconhece a cada um a sua própria via e não a necessidade de imitação ou emulação.

196. Mais uma passagem que tem sugerido variadas interpretações. Estará o Mestre a falar realmente do amor por alguém ou do amor à virtude? Ou meramente critica a falta de empenhamento, não possível quando se trata de um sentimento verdadeiro?

14 Jun 2023