Justiça | Kong Chi acreditava poder consultar casos

Kong Chi, procurador-adjunto do Ministério Público (MP) que está a ser julgado em tribunal acusado de vários crimes, disse ontem na segunda sessão de julgamento que pensava ter autorização para consultar todos os casos à guarda do MP.

Segundo o canal chinês da Rádio Macau, Kong Chi disse ainda ter “outros assuntos” além da sua actividade de procurador-adjunto que lhe proporcionavam rendimentos, o que a sua riqueza.

O juiz apontou que, por ter um cargo importante no MP, Kong Chi deveria evitar levantar suspeitas sobre si mesmo, recordando que, em algumas situações, não era necessário ter aprovação das chefias para avançar com decisões. O juiz adiantou que Kong Chi terá tentado eliminar provas ou objectos mais susceptíveis associados aos casos que poderiam incriminar os suspeitos da prática do crime a troco de dinheiro.

17 Out 2023

Seul critica Pyongyang por alegada transferência de armamento para Moscovo

O Governo sul-coreano criticou ontem a Coreia do Norte pela alegada transferência de armamento para a Rússia, depois de os líderes de Pyongyang e Moscovo se terem reunido, em Setembro, para reforçar as relações bilaterais.

“A Coreia do Norte negou a troca de armas com a Rússia em várias ocasiões, mas as circunstâncias estão a vir à tona”, disse, em conferência de imprensa, o porta-voz do Ministério da Unificação da Coreia do Sul Koo Byoung-sam, afirmando que o regime de Pyongyang está a “revelar a sua verdadeira natureza”.

Koo sublinhou que qualquer troca de armas com a Coreia do Norte deve ser evitada, uma vez que viola as sanções impostas pelas Nações Unidas a Pyongyang. Recordou, além disso, que “a Rússia, em especial, deve cumprir as obrigações enquanto membro permanente do Conselho de Segurança da ONU”.

As declarações de Koo surgem depois de a Casa Branca ter afirmado, na sexta-feira, que a Coreia do Norte enviou mais de mil contentores com equipamento militar e munições para a Rússia, por via férrea e marítima, para serem utilizados na guerra na Ucrânia.

A Casa Branca revelou imagens que mostram o envio, entre 7 de Setembro e 1 de Outubro, de uma série de contentores do porto de Rason (nordeste da Coreia do Norte) para Dunay, perto de Vladivostok (extremo oriente da Rússia), que foram depois transportados de comboio para um depósito de munições perto de Tikhoretsk, a cerca de 290 quilómetros da fronteira russa com a Ucrânia.

As imagens de satélite revelam ainda um aumento sem precedentes do tráfego ferroviário de mercadorias na fronteira entre a Rússia e a Coreia do Norte, ultrapassando os volumes de comércio registados antes da pandemia de covid-19.

Acredita-se que estas trocas comerciais foram cimentadas na cimeira de 13 de Setembro entre o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e o Presidente russo, Vladimir Putin, na região russa de Amur.

Tanto a Casa Branca como os ‘media’ norte-americanos afirmam que, em troca de artilharia e outros materiais militares que a Rússia pode utilizar na Ucrânia, Pyongyang quer tecnologia militar avançada.

17 Out 2023

Guerra | Diplomacia chinesa e russa discutem Gaza e Ucrânia

Os ministros dos Negócios Estrangeiros da Rússia e da China discutiram ontem em Pequim o conflito entre Israel e o grupo islâmico Hamas e a guerra na Ucrânia

 

De acordo com um comunicado difundido pela diplomacia russa, os dois ministros dos Negócios Estrangeiros de Pequim e Moscovo mantiveram “uma troca de pontos de vista aprofundada” sobre uma “vasta gama de problemas internacionais e regionais, incluindo a deterioração acentuada da situação no Médio Oriente”.

Os governante da China e Rússia reiteraram nos últimos dias que a resolução do conflito israelo-palestiniano exige uma solução de dois Estados que vivam lado a lado em paz e segurança e apelaram à protecção dos civis. Lavrov e Wang debateram também em pormenor as questões de segurança na região Ásia – Pacífico, especialmente a manutenção da estabilidade na Península da Coreia e a necessidade de “impedir que a arquitectura de segurança da ASEAN [Associação das Nações do Sudeste Asiático] seja minada” pelo Ocidente. Lavrov e Wang debateram igualmente questões relativas à “crise ucraniana”, incluindo os esforços para a resolver através de esforços políticos e diplomáticos.

A China ofereceu-se para mediar a guerra na Ucrânia, que dura há 600 dias, com um plano de 12 pontos que é visto por Moscovo como uma “base” para eventuais negociações, mas rejeitado por Kiev, uma vez que não exige a retirada das tropas russas de todos os territórios ocupados.

Os ministros também sublinharam a importância de reforçar a estreita coordenação entre a Rússia e a China no cenário internacional, incluindo na ONU e no Conselho de Segurança, na Organização de Cooperação de Xangai (SCO), no G20, na APEC e noutros mecanismos e fóruns, de acordo com a versão russa.

Sem vestígios do passado

Os dois ministros confirmaram igualmente o compromisso mútuo de reforçar os contactos no Fórum BRICS – bloco de economias emergentes que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -, tendo em conta que, no próximo ano, a presidência rotativa deste grupo será exercida pela Rússia.

A China considera a parceria com a Rússia fundamental para contrapor a ordem democrática liberal, numa altura em que a sua relação com os Estados Unidos atravessa também um período de grande tensão, marcada por disputas em torno do comércio e tecnologia ou diferendos em questões de Direitos Humanos, o estatuto de Hong Kong ou Taiwan e a soberania dos mares do Sul e do Leste da China.

Pequim condenou as sanções internacionais impostas à Rússia, mas não abordou directamente o mandado de captura emitido pelo Tribunal Penal Internacional contra Putin, acusado de envolvimento no rapto de milhares de crianças na Ucrânia.

17 Out 2023

Líderes dos países emergentes participam no fórum Faixa e Rota

Líderes de dezenas de países em desenvolvimento, incluindo Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe, vão participar esta semana, em Pequim, num fórum que assinala o 10º aniversário da Iniciativa Faixa e Rota.

O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, e ministros de Angola e São Tomé e Príncipe devem participar no fórum, segundo fontes diplomáticas. O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, e o Presidente do Sri Lanka, Ranil Wickremesinghe, aterraram ontem em Pequim, depois do Presidente do Chile, Gabriel Boric, e do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, terem achegado à capital chinesa, no domingo.

Também o secretário-geral da ONU, António Guterres, é esperado em Pequim. Os líderes do Egipto e Emirados Árabes Unidos cancelaram a participação, devido ao conflito entre Israel e o grupo islâmico Hamas. Orbán reuniu-se já com o líder chinês, Xi Jinping, e com o primeiro-ministro, Li Qiang, informou a agência noticiosa estatal húngara MTI.

Salto em frente

Designado por Xi como o “projecto do século”, a Iniciativa Faixa e Rota foi inicialmente apresentada no Cazaquistão como um novo corredor económico para a Eurásia, inspirado na antiga Rota da Seda. Na última década, no entanto, adquiriu dimensão global, à medida que mais de 150 países em todo o mundo aderiram ao programa.

As empresas chinesas construíram portos, estradas, linhas ferroviárias, centrais eléctricas e outras infra-estruturas em todo o mundo, numa tentativa de impulsionar o comércio e o crescimento económico.

O programa cimentou o estatuto da China como líder e credora entre os países em desenvolvimento. Segundo um estudo realizado pela AidData, unidade de pesquisa sobre financiamento internacional, com sede nos Estados Unidos, nos primeiros cinco anos desde o lançamento (2013-2017), a China financiou, em média, 83,5 mil milhões de dólares por ano em projectos de desenvolvimento no estrangeiro, cimentando a liderança como principal financiadora internacional.

O aumento líquido, de 31,3 mil milhões de dólares por ano, em relação aos cinco anos anteriores (2008-2012), é equivalente ao financiamento anual médio dos Estados Unidos, que ocupam a segunda posição, no período 2013-2017.

A dimensão da iniciativa causou, no entanto, excesso de endividamento em alguns países e resultou na construção de projectos comercialmente inviáveis, entre os quais alguns foram suspensos ou ficaram por terminar, devido a falta de liquidez.
Outros líderes de África, Sudeste Asiático, Ásia Central e Médio Oriente vão participar no fórum, cujos principais eventos se realizam na amanhã. O Presidente russo, Vladimir Putin, e representantes do governo talibã do Afeganistão são também esperados em Pequim.

17 Out 2023

Carta de Agradecimento

(Imagem de Edgar Martins)

10 de outubro de 2023

A todos:

Escrevo esta carta com o coração pleno de reconhecimento e gratidão.

Chamo-me Angélico Sousa e fui vítima de um grave acidente de trânsito ocorrido no Túnel Gongbei, em Zhuhai, no dia 25 de Setembro de 2023.

Deste trágico acidente resultou a perda do meu amado filho, Noel Tomás Wang de Sousa.

Após o acidente, tive o privilégio de ser atendido pela equipe dedicada de médicos e enfermeiros do Hospital Integrado de Medicina Tradicional Chinesa e Ocidental de Zhuhai; o seu profissionalismo, cuidado e dedicação permitiram-me iniciar o processo de recuperação física, mesmo enquanto lidava com a mais extrema dor emocional.

Este acidente captou a atenção de muitos em Macau e, por esse motivo, sinto que devo vir por este meio expressar o meu profundo reconhecimento a todos.

Em especial, quero agradecer ao Gabinete para os Assuntos de Taiwan, Hong Kong e Macau, ao Departamento Municipal de Segurança Pública de Zhuhai, ao Destacamento da Polícia Rodoviária Hong Kong-Zhuhai-Macau, à Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, aos Serviços de Rodovia de Zhuhai, à Brigada Portuária de Zhuhai, à Melco Resorts & Entertainment Ltd. de Macau, à Fundação da Santa Casa da Misericórdia de Macau, à União Geral das Associações dos Moradores de Macau, ao Consulado Geral de Portugal em Macau e Cantão e, bem assim, a vários dos meus antigos amigos da TDM.

A sua assistência, preocupação e apoio durante este período difícil têm sido inestimáveis para mim.

A bondade de todos vós deu-me força e deu-me esperança.

Com profunda gratidão,

Angélico Sousa

17 Out 2023

Confúcio na cultura portuguesa – 4

Por António Aresta

(continuação do número anterior)

III

Em Portugal, o Visconde de Villa-Moura (1877-1935), publica na revista “A Águia”, propriedade e órgão da Renascença Portuguesa1, no Nº 99\100, de Março-Abril de 1920, o conto ‘O Boneco’2. A revista “A Águia” era uma importante publicação mensal de literatura, arte, ciência, filosofia e crítica social, dirigida por António Carneiro e Álvaro Pinto. Ora, esse conto, ‘O Boneco’ é, nada mais, nada menos do que Confúcio.

O Visconde de Villa-Moura, de seu nome completo, Bento de Oliveira Cardoso e Castro Guedes de Carvalho Lobo, nobilitado pelo Rei D. Carlos em 1900 com o título de Visconde, era formado em Direito pela Universidade de Coimbra, grande proprietário rural em Baião, no Douro, e autor de uma obra literária muito extensa e variada3 , esteticamente acondicionada no decadentismo e politicamente muito próximo do integralismo lusitano. João Alves4 , um dos seus primeiros estudiosos, defende que “António Nobre e Vila-Moura foram os criadores do decadentismo em Portugal”.

Por sua vez, António Cândido Franco refere que a “sua obra, quando exalta o erotismo e pugna pelo amor livre, apresenta afinidade com a de Teixeira Gomes e procura as suas fontes gradas em Fialho, no Fialho das perversões rebeldes, a quem de resto dedicou um livro-estudo, Fialho de Almeida (1917), e em Camilo, o Camilo do amor pecaminoso e dos amantes penitentes, a quem também dedicou vários trabalhos, entre eles, Camilo Inédito (1913) e Fany Owen e Camilo (1917)”5. Bem diferente é a crítica de Óscar Lopes6 que não esconde o seu ferrete ideológico, comunista, quando aponta as questões “esteticistas e fascistas” ou o “sentido monarco-fascista e católico integrista” que julga ter encontrado em alguns dos seus livros. Amigo e correspondente de Fernando Pessoa, a obra do Visconde de Villa-Moura está por descobrir, por estudar, quiçá por reeditar.

O conto de Villa-Moura, ‘O Boneco’, foi dedicado a António Cândido7, a águia do Marão, como lhe chamou Camilo Castelo Branco, e apresenta-nos a história de António Marcos, um burguês muito rico e misógino, que vivia com uma velha criada, Teresa, completamente isolado da mundanidade e que “estudava uma interpretação individualista do platonismo, que alterava num sentido mais aristocrático8”.

Em casa “mandava o espírito de Platão, de Aristóteles, de Séneca, de criaturas, em que a Teresa nem por fumos sonhava, e …. um boneco, um autêntico e precioso boneco, a figura de Confúcio, em fina porcelana9”. Com um remoque subtil aos colecionadores e a outros amantes da chinoiserie dizia que “a figura de Confúcio, que Marcos havia trazido de Saxe, e não directamente da China, era uma maravilha. Por ele tinha seguido pelo Elba até ao Báltico, para policiar o seu acondicionamento e jornada10”.

Afinal ‘O Boneco’, Confúcio, era um relógio falante : “o Dr. Kong falava, não já para expor aos seus três mil discípulos a súmula do Ta-hio, mas sobre a pressão dum botão disfarçado em flor à fímbria da túnica, para cantar, numa voz metálica, a característica e impressionante voz dos surdos, aquela legenda do fatídico relógio de Colónia : Todas as horas ferem, a derradeira mata !…11”. Percebe-se que o autor manifestava algum incómodo por se perorar com muita frequência sobre Confúcio e seus ensinamentos, sem ler as suas obras e os comentários dos seus discípulos, porque as repetições se assemelhavam a transgressões no limite das deturpações.

O relógio estava colocado numa estante e “arrumavam-se a seus pés, suas principais obras, o Ta-hio (Grande Estudo), o Tchung-yung (Fixidez do Meio) e o Lung-yu (Diálogos Morais) – flores exóticas da Filosofia, e que ali figuravam como outros tantos símbolos da alma recta e compungida do iluminado12”. Um dia, já muito doente, e sentindo a morte a aproximar-se, António Marcos chama a criada e manda queimar num braseiro todo o seu grande sistema filosófico, “uma interpretação individualista do platonismo, que alterava num sentido mais aristocrático”13, escrito em cadernos durante anos a fio, suspirando, “foi um passatempo!14”. A “Teresa, que andava como sonâmbula naquela tragédia da mais extravagante alquimia, em breve ateou fogo à papelada, que brilhava sobre os restos negros a espiguilha misteriosa e vermelha, logo morrente, da filosofia de António Marcos, e lhe levara uma vida a grafar”15.

Entrega à criada um documento assinado por si, conferindo-lhe a posse de ‘O Boneco’ : “por ele é teu o Chinês da sala grande ! É o melhor traste da casa! Nunca o vendas! E se algum dia sentires miséria, antes o partas! Chover-te-á dos seus cacos a abundância! 16”. Dito isto, morreu. Então, a velha Teresa, atormentada pela morte do patrão e apatetada pela insólita herança que lhe coube, “entrou na sala grande quase a correr, e sem dar conta da multidão de figuras, que , aquela hora, envoltas do fumo, pareciam igualmente partir, dirigiu-se ofegante, nervosamente agarrada à figura fria do Dr. Kong, para a camara torva do Morto.

Mas antes que chegasse junto do defunto, perto do qual pensara em pousá-lo, ao passar pela cruz de pau negro que, fronteira ao leito, se espalhava, a toda a altura da parede, embaraçou-se nas réguas do velho sinal, pelo que o pesado fardo lhe deslizou dos braços, desfazendo-se no chão, em cacos, por entre a chuva dos mais finos tinidos, à mistura do grito civilizado, amarelo, dalgumas centenas de esterlinas, que António Marcos havia confiado de suas entranhas para prover ao futuro da maquinal companheira de sempre17”.

O humor camiliano está presente neste desfecho inesperado, onde uma pequena fortuna em libras de ouro, guardada nas entranhas de ‘O Boneco’, parece pulverizar os remorsos da velha ética confuciana.

Esta exumação da dimensão sapiencial dos ensinamentos confucianos está em linha com uma modernidade pendurada num sistema de conceitos que mais tarde se irão alimentar de Marx, Nietzsche e Freud , na ressaca da erosão dos valores e dos poderes após o termo da primeira grande guerra.

IV

O Confúcio de Manuel da Silva Mendes e o Confúcio do Visconde de Villa-Moura, continuam a ser um e um só.

Silva Mendes valoriza a inquietação do pensador e a sinceridade dos combates que travou para colocar em prática as suas ideias, o ser contra o ter. Este idealismo , profundamente ligado a um devir emocional, constrói uma ética e uma moral de pensamento e acção, dentro de uma realidade inexoravelmente maior do que o alcance da individualidade. A liberdade é a grandiosa energia, a substância da vida em comunidade autêntica. Nas derivações históricas do confucionismo, a liberdade parece transformar-se numa espécie de exílio moral ou numa nota de rodapé da história dos povos.

O Visconde de Villa-Moura, preocupado com o excesso amplificante da razão confuciana, introduz um jogo irónico no pathos do seu auditório, misturando o vil metal, o ouro, com a angústia e a solidão existenciais, porque, reflecte de si para si, “nas letras, como afinal em tudo, os ignorantes têm em menos estima o feitio do que o peso. São para o Pensamento, para a Ideia, o que o ourives estúpido é para o oiro lavrado. Fiam da balança o que ninguém pode fiar deles, do seu juízo, naturalmente muito reduzido em poder de selecção, em critério de escolha18”.

Depois de ter lido O Mandarim, de Eça de Queiroz, encontrou na desconstrução de um símbolo da moda intelectual, Confúcio, o caminho para uma abordagem polissémica da consciência infeliz , de Hegel e de quase todo o idealismo alemão. É nesse referencial de melancolia que afirma19, “Eu leio Nietzsche como os estudantes de piano tocam escalas – por exercício”, terminando o conto sem devolver à velha criada o sentido da responsabilidade pela sua nova identidade. E é nesta incisão nietzcheana que se pode inscrever o seu erotismo misógino quando afirma, “amai o amor, não ameis exclusivamente alguém !”20 em contraponto com essa descrição com tantas estranhas referências : “a boca do Filósofo, de expressão fixa, fria como a boca da rocha, somente aberta ao fio branco e gelante da mais cristalina doutrina, jamais havia inspirado, em sua vida consciente, o perfume dum beijo ; ignorando, de igual sorte, a alma dos lírios, chagas olorosas da crosta terrena, mudável ao sabor das estações, tal qual a pele das cobras, que em seus infinitos ninhos, aquela abriga !”21.

Contudo, teremos de esperar vinte e três anos, por Agostinho da Silva que publica em 1943, uma breve e singela biografia, O Sábio Confúcio22, isto é, um Confúcio popular e acessível a todos , com uma cuidadosa aproximação a uma diferente espiritualidade.

Era o regresso do Confúcio do povo, com ideias simples e eufóricas no indefinível sagrado\profano das argumentações, disponível para ser aprisionado pela retórica negra do poder político.

ANEXO

Carta da Associação de Confúcio23

Aos Exmos. Srs. Directores em Ch’io-chao e Ch’un-chao

De há muito que a montanha da Barra (Má-chu-kók) era tida como um lugar célebre.

Os literatos compunham nela as suas odes e gravavam nas suas pedras, sem nunca isso lhes ser proibido por pessoa alguma.

Por exemplo, Sai-u, em Chit-kóng, Pak-fá-chao, em Uai-chao, e em todos os distritos, prefeituras e províncias que tenham lugares por pouco célebres que sejam, jamais se proibiu que pessoas fossem passear e disfrutar das paisagens desses lugares e gravar poesias nas suas pedras.

Isto são manifestações próprias de indivíduos de raça culta que, quando lhes vem inspiração, compõem as suas estrofes, deixando assim vestígios da sua passagem para os vindouros, e nunca ninguém lhes pôs qualquer embaraço.

Daqui se vê que em todo o mundo se procede do mesmo modo, mesmo nas regiões as mais afastadas.

Os sentimentos dos homens têm sido mesquinhos nestes últimos tempos mais próximos, resultando disso a depressão da doutrina mundial.

Se não procurarmos expandir a doutrina de Confúcio, não poderemos efectuar a regeneração da humanidade. É isso o que nos preocupa constantemente.

No ano cíclico Iam-sôt, a sede da Associação de Confúcio em Pekim, no intuito de expandir a doutrina de Confúcio, dirigiu uma carta à filial de Macau, convidando-a a que propagasse a mesma doutrina e gravasse uma lápide para esse fim, a fim de servir de recordação.

Em vista disso, reunimo-nos em sessão (cópia de cuja acta vai junta) e, considerando que a montanha da Barra (Má-chu-kók) é um dos sítios aprazíveis de Macau e onde existem blocos e pedra imponentes, cheios de inscrições poéticas, resolvemos, no ano passado, contratar operários para, num desses blocos, gravar as letras Ch’eong-meng-k’óng-kao (que a doutrina de Confúcio se torne resplandescente), esculpindo-se também neles, para servir de recordação, os motivos que nos levaram a fazer isso e os nomes dos promotores.

Esses trabalhos ficaram concluídos em dois meses.

O nosso fim único e exclusivo era ter um meio que fizesse constantemente lembrar a todos as doutrinas de Confúcio, tal qual o tambor e o sino servem para chamar a atenção dos seres viventes.

Além disso, Confúcio é o mestre arquissecular dos chineses, e o seu nome, mesmo na Europa, é venerado grandemente pelos literatos de fama.

Quando resolvemos mandar fazer a referida inscrição, não nos passou pela mente que havia de aparecer alguém que a fosse borrar. Não sabemos se esse acto foi feito com a vossa aprovação. No entanto, certos como estamos da vossa inteligência e cultura, não acreditamos, de maneira alguma que V. Exas. tivessem ordenado tal acto.

A crença nas religiões é do livre arbítrio de cada qual, conforme está decretado na constituição do País.

Não existe entre nós inimizade alguma.

Além disso, nenhuma outra religião hostiliza as doutrinas de Confúcio.

Ponhamos de parte o passado. Somos todos chineses e não devemos expor-nos ao ridículo dos estrangeiros.

O dia 18 do corrente é o 2402º aniversário do falecimento de Confúcio.

Com o fim de regularizar o nosso procedimento futuro, tencionamos restaurar a inscrição feita na pedra (da montanha da Barra) a fim de que a doutrina de Confúcio brilhe como o sol e a lua e possa incutir uma pequena parcela de rectidão no coração dos homens.

Sabendo perfeitamente que V. Exas. têm sempre muito a peito tudo o que se passa no mundo e que são modelos dos seus concidadãos, pedimos-lhes que nos auxiliem a proteger essa pedra, prestando assim culto à doutrina de Confúcio.

É-nos escusado chamar a atenção de V. Exas. , pessoas inteligentes e cultas, para o facto de que a nossa associação é uma corporação pública, constituída por todos os chineses aqui estabelecidos, e não uma corporação particular, formada apenas por dois ou três indivíduos.

É quanto temos a comunicar a V. Exas., rogando-lhes o favor duma resposta.

Desejamos-lhes saúde.

Acompanha esta uma cópia da acta da sessão.

Notas e referências:

(a.a.) Ch’oi-men-hin e Chiong-san-nông.

(selo) Filial da Associação de Confúcio de Macau.

9 da 4ª lua do ano 2475º do nascimento de Confúcio.

Idêntica carta foi enviada a cada uma das prefeituras de Ch’io-chao-Cheong-chao e Ch’un-chao.

Macau, Repartição do Expediente Sínico, 13 de Novembro de 1924.

Sobre a Renascença Portuguesa, ver Alfredo Ribeiro dos Santos, A Renascença Portuguesa : Um Movimento Cultural Portuense, prefácio de José Augusto Seabra, edição da Fundação Eng. António de Almeida, 1990, 285 pp. ; Paulo Samuel, A Renascença Portuguesa. Um Perfil Documental, ed. Fundação Eng. António de Almeida, 1990, 397 pp. .

Todas as referências a este conto remetem para a publicação na Revista ‘A Águia’.

Por exemplo : A Moral na Religião e na Arte, 1906 ; A Vida Mental Portuguesa : psicologia e arte, 1909 ; Vida Literária e Política, 1911 ; Nova Sapho, 1912 ; Doentes da Beleza, 1913 ; Camilo Inédito, 1913 ; Boémios, 1914 ; António Nobre : seu génio e sua obra, 1915 ; Fialho de Almeida, 1916 ; Grandes de Portugal, 1916 ; As Cinzas de Camilo, 1917 ; Pão Vermelho : sombras da grande guerra, 1924 ; Cristo de Alcácer, 1924 ; Irmã das Árvores, 1924 ; Entre Mortos, 1928 ; O Pintor António Carneiro, 1931 ; Novos Mitos, 1934.

“Vila-Moura e o Decadentismo Português”, in PRISMA, Revista Trimestral de Filosofia, Ciência e Arte, [direcção de Aarão de Lacerda], Nº 4, 1937, pp. 202-207.

“Visconde de Vila-Moura” , in Fernando Cabral Martins, coordenação, Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português, Editorial Caminho, 2008, pp. 896-897.

Entre Fialho e Nemésio. Estudos de Literatura Portuguesa Contemporânea, Vol. I, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1987, pp. 417-420.

António Cândido Ribeiro da Costa (1850-1922), natural de Amarante, formado em direito pela Universidade de Coimbra, grande orador, ministro, par do reino e presidente do parlamento. Integrou o célebre grupo dos ‘Vencidos da Vida’, com Eça de Queiroz, Guerra Junqueiro, Antero de Quental, entre outros. As suas obras principais são as seguintes : Princípios e Questões de Filosofia Política, 1878 ; Orações Fúnebres, 1880 ; Discursos e Conferências, 1890 ; Discursos Parlamentares, 1894.

A Águia, Nº 99\100, Abril e Maio de 1920, p, 79.

Idem, p. 82.

Idem, p. 83.

Idem, p. 84.

Idem, p. 84.

Idem, p. 79.

Idem, p. 87.

Idem, p. 87.

Idem, p. 87.

Idem, p. 88.

Vida Literária e Política, Porto, Magalhães & Moniz Editores, 1911, pp. 97-98.

“Flores de Vidro”, in Contemporânea, Revista Mensal, Ano III, Nº 10, Março de 1924, p. 11.

A Águia, Nº 99 e 100, Março e Abril de 1920, p. 80

Idem, p. 80.

Porto, Oficina de S. José, 1943, 29 pp.

Publicada pelo Padre Manuel Teixeira no Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau [do qual era Director e Editor], Ano e Volume LXXVII, Janeiro-Fevereiro de 1979, Nº 888\889, pp. 106-108. O governador Gabriel Maurício Teixeira fez publicar no Boletim Oficial da Colónia de Macau, de 8 de Janeiro de 1942, a Portaria Nº 3327, a aprovação dos novos “Estatutos da Associação Confuciana de Macau”, completamente reformulados em relação aos anteriores, que eram de 1909.

17 Out 2023

António Zambujo apresenta novo álbum “Cidade” em Fevereiro nos coliseus

O músico António Zambujo edita em Novembro um novo álbum, “Cidade”, escrito e composto por Miguel Araújo, que aborda um dia-a-dia “meio urbano-depressivo” e vai ser apresentado ao vivo em Fevereiro em Lisboa e no Porto. A escolha do título “Cidade”, um álbum que “não é autobiográfico”, “tem que ver um bocadinho com ser a vida de uma pessoa”, disse António Zambujo à agência Lusa.

“Neste caso, pode ser interpretada como a vida de quem a narra, ou a vida de outra pessoa qualquer, o dia-a-dia — manhã, tarde, noite — em que as músicas transmitem diferentes tipos de emoções e diferentes estados de espírito. A ideia foi um bocadinho isso, a vida numa cidade, um dia-a-dia urbano, meio urbano-depressivo, como quase toda a gente vive. Uma solidão acompanhada, o Miguel falou-me um bocado nisso”, explicou.

O álbum é composto por 12 temas, que, com excepção de “Sagitário”, gravado por Pedro Flores em 2022, foram todos e escritos e compostos por Miguel Araújo para António Zambujo. A escolha dos temas que compõem “Cidade” “foi feita mais ou menos a dois”. O processo criativo de Miguel Araújo e António Zambujo é “mais ou menos permanente”. “Como só faço músicas, ele [Miguel Araújo] está sempre a mandar-me letras ou alguma música inacabada para eu terminar. Essa partilha de temas é uma coisa que acontece com muita frequência”, contou.

O regresso aos palcos

Os dois músicos voltaram a reunir-se em palco este ano para uma série de concertos de voz e guitarra em Lisboa, no Porto e em Ponta Delgada, sete anos depois de terem esgotado 28 espectáculos nos coliseus. De fora de “Cidade” ficou “uma série de outras músicas”.

Embora o álbum tenha produção de Miguel Araújo, todos os trabalhos de António Zambujo “têm que ser todas mais ou menos flexíveis e em conjunto”. “Ou seja, com a intervenção da toda a banda — que foi feita a dois – e a minha também”, disse.
António Zambujo tem apresentado alguns dos temas novos em concertos e a reacção do público “tem sido boa”. “As músicas novas são mais difíceis de assimilar do que as já ouvidas muitas vezes, mas eu gosto desse desafio”, partilhou.

Os concertos de apresentação de “Cidade” – que tal como o álbum mais recente do músico, “Voz e Violão”, de 2021, é uma edição de autor – estão marcados para os coliseus de Lisboa e do Porto, nos dias 3 e 16 de Fevereiro, respectivamente.

17 Out 2023

Comércio | 28ª MIF e mais duas conferências arrancam quinta-feira

Começam na quinta-feira, prolongando-se até domingo, a primeira edição da “Exposição Económica e Comercial China–Países de Língua Portuguesa (Macau)” (C-PLPEX), a 28ª Feira Internacional de Macau (MIF, na sigla inglesa) e a Exposição de Franquia de Macau 2023 (2023 MFE). Os eventos dedicados ao comércio entre a China, Macau e os países de língua portuguesa decorrem no Venetian, no Cotai.

O foco dos três eventos é a plataforma comercial sino-lusófona e a política de diversificação económica de Macau focada na fórmula “1+4”, ou seja, na aposta em grandes indústrias como o turismo ou a saúde para ir além do jogo. As conferências pretendem ainda atrair investimentos “para apoiar o desenvolvimento das principais indústrias e contribuir para a criação de uma nova conjuntura de desenvolvimento”.

Segundo um comunicado oficial do evento, esperam-se 260 expositores dos países de língua portuguesa nas três exposições, dispostos em quatro pavilhões numa área de 37 mil metros quadrados. Há mais 14 por cento de expositores em relação à edição do ano anterior, sendo que 260 são dos países de língua portuguesa, nomeadamente 76 do Brasil, “que regista o maior número de expositores, marcas e delegações” face às edições anteriores.

Os eventos contam ainda com 20 zonas de exposição, sendo que, no caso da C-PLPEX, haverá sete zonas expositivas, incluindo o “Pavilhão de Exposição de Informações da China e dos Países de Língua Portuguesa”, entre outros espaços. Só no C-PLPEX se reúnem mais de 300 empresas da China e dos nove países de língua portuguesa. Já a 28ª edição da MIF conta com seis zonas de exposição. Espera-se ainda que, com a edição deste ano da MFE, haja um maior foco no poder das marcas e da importância propriedade intelectual, estando representadas 40 em sete zonas de exposição, com vários pavilhões.

17 Out 2023

Metro Ligeiro | Prevista pouca utilização da linha de Seac Pai Van

A associação Aliança do Povo de Instituição de Macau prevê que a linha de Seac Pai Van do Metro Ligeiro terá poucos passageiros que residam no local, tendo em conta a distância entre as habitações e a estação do Metro Ligeiro.

Citada pelo jornal Ou Mun, a vice-presidente da associação, Lei Kit Fong, argumenta que apenas os edifícios de habitação social Lok Kuan e Praia Park, de habitação privada, ficam próximos da entrada da estação, obrigando os restantes moradores a deslocarem-se uma distância considerável.

Lei Kit Fong disse ainda que a estação não é servida por autocarros públicos, o que fará com que os moradores, sobretudo idosos, optem pelo autocarro.

Além disso, a responsável pediu uma análise à conexão entre as linhas de Seac Pai Van, Barra e Hengqin, que começam a funcionar entre o final deste ano e próximo ano, para garantir a chegada de mais turistas a Coloane e à povoação de Lai Chi Vun.

Segundo os dados da Direcção dos Serviços de Obras Públicas, a linha de Seac Pai Van estará construída em Fevereiro do próximo ano, apesar da previsão inicial de conclusão para Dezembro. Atraso explicado com os constrangimentos gerados pela pandemia. A linha terá 1,6 quilómetros de comprimento e duas estações (Seac Pai Van e Hospital das Ilhas).

17 Out 2023

Títulos de dívida | Ip Sio Kai pede mais incentivos

O deputado Ip Sio Kai defendeu ontem na Assembleia Legislativa a criação de apoios para encorajar governos, bancos e grandes empresas dos países lusófonos a emitir títulos de dívida em renminbi em Macau. Numa intervenção antes da ordem do dia, Ip lembrou que o plano de diversificação, até 2028, da economia de Macau, prevê o desenvolvimento de “serviços financeiros modernos”.

Ip Sio Kai disse também que o valor das obrigações já listadas em Macau “é grande”, mas defendeu a necessidade de “expandir activamente” para além da “fonte principal de emissão de obrigações (…) pouco diversificada”, as autoridades da China.

O deputado defendeu que o território deve “lançar medidas de apoio e de incentivo e subsídios financeiros” para apoiar a emissão de dívida na moeda chinesa “órgãos de soberania, instituições financeiras ou grandes empresas dos países de língua portuguesa”.

O também vice-director-geral da sucursal de Macau do Banco da China disse ainda que Macau deve “reforçar a divulgação”, para “aumentar a capacidade de absorção de fundos em renminbi nos mercados ‘offshore’ e nos mercados de activos desta moeda”.

17 Out 2023

Finanças | Despesa pública cai 11,2% até ao final de Setembro

Apesar das receitas com os impostos do jogo terem mais que duplicado até Setembro, o Chefe do Executivo insiste no controlo apertado dos gastos públicos e os cortes ultrapassam 10 por cento

 

O Governo cortou a despesa pública em 11,2 por cento nos primeiros nove meses de 2023, apesar da receita corrente ter mais que duplicado em termos anuais, graças à recuperação dos impostos sobre o jogo. A despesa pública caiu para 62,4 mil milhões de patacas entre Janeiro e Setembro, de acordo com dados publicados ‘online’ pelos Serviços de Finanças.

A despesa corrente também encolheu 18,8 por cento para 48,4 mil milhões de patacas, após três anos em que os orçamentos do Governo foram marcados por pacotes de estímulo dirigidos às pequenas e médias empresas, à população em geral e ao incentivo ao consumo.

No entanto, a despesa corrente deverá voltar a subir, uma vez que o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, confirmou a 1 de Outubro um aumento dos salários da função pública em 2024, algo que acontece pela primeira vez desde o início da pandemia de covid-19. O corte nas despesas surgiu apesar da receita corrente ter mais que duplicado, atingindo 57,5 mil milhões de patacas, o valor mais elevado desde 2019, antes do início da pandemia de covid-19.

Desta receita corrente, o Governo da cidade arrecadou quase 45,8 mil milhões de patacas em impostos sobre o jogo, indicou o último relatório da execução orçamental.

Execução a bom ritmo

Entre Janeiro e Setembro, Macau recolheu 87,7 por cento da receita corrente projectada para 2023 no orçamento, que é de 65,5 mil milhões de patacas. Em Julho, o Centro de Estudos e o Departamento de Economia da Universidade de Macau estimou que as receitas do Governo atinjam 76,5 mil milhões de patacas, mais 16,7 por cento do que o previsto pelas autoridades no orçamento para este ano.

Ainda assim, Macau só conseguiu manter as contas em terreno positivo até ao final de Setembro graças a transferências no valor total de 10,4 mil milhões de patacas vindas da reserva financeira. Apesar destas transferências, a reserva financeira da região acumulou uma subida de 9,7 mil milhões de patacas nos primeiros sete meses de 2023, no melhor arranque de ano desde o início da pandemia.

A pandemia teve um impacto sem precedentes no jogo, motor da economia de Macau, com os impostos sobre as receitas desta indústria a financiarem a esmagadora maioria do orçamento governamental. Em meados de Dezembro, as autoridades do território anunciaram o cancelamento gradual da maioria das medidas sanitárias, depois de a China ter abandonado a estratégia ‘zero covid’.

17 Out 2023

Gaza | Médicos alertam que milhares podem morrer sem bens essenciais

Médicos em Gaza alertaram ontem que milhares de pessoas podem morrer se os hospitais, lotados com feridos, ficarem sem combustível e sem produtos essenciais. Nas ruas os civis tentam encontrar comida, água e procuram segurança, antes de uma aguardada ofensiva terrestre israelita, em resposta ao ataque mortal do Hamas na semana passada.

As forças israelitas, apoiadas por um crescente destacamento de navios de guerra norte-americanos na região, posicionaram-se ao longo da fronteira de Gaza e prepararam-se para o que Israel disse ser uma vasta operação para desmantelar o grupo.
Uma semana de ataques aéreos violentos demoliu bairros inteiros, mas não conseguiu travar os disparos de foguetes do Hamas contra Israel.

O Ministério da Saúde de Gaza afirmou que 2.329 palestinianos foram mortos desde o início dos combates, mais do que na guerra de 2014 em Gaza, que durou mais de seis semanas. O número avançado faz desta a mais mortífera das cinco guerras de Gaza. Mais de 1.300 israelitas foram mortos, a grande maioria civis, no ataque do Hamas em 7 de Outubro.

16 Out 2023

Ho Iat Seng em Pequim até quarta-feira para Fórum sobre Faixa e Rota

O Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, irá liderar uma delegação do Governo da RAEM numa viagem a Pequim, que irá decorrer entre hoje e quarta-feira, para assistir, como convidado, à cerimónia de inauguração do 3º Fórum «Uma Faixa, Uma Rota» para a Cooperação Internacional e respectivas actividades.

Durante a estada na capital, o Chefe do Executivo irá testemunhar a cerimónia de assinatura do acordo entre o Governo de Macau e o Peking Union Medical College Hospital. Os membros da delegação incluem o secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong, o Comissário contra a Corrupção, Chan Tsz King, a chefe do Gabinete do Chefe do Executivo, Hoi Lai Fong, os membros da Comissão de Trabalho para a Integração no Desenvolvimento Nacional, indicou ontem o Gabinete de Comunicação Social.

Empresários na comitiva

O 3º Fórum «Uma Faixa, Uma Rota» para a Cooperação Internacional realiza-se em Pequim amanhã e quarta-feira. O fórum, que tem como tema “Construção conjunta da «Uma Faixa, Uma Rota» de alta qualidade para alcançar o desenvolvimento e prosperidade comum”, assinala o 10º aniversário da iniciativa.

O Executivo de Ho Iat Seng indica que também foi organizada a participação de uma delegação empresarial e industrial, cujos membros incluem representantes dos sectores empresarial e industrial, dos chineses ultramarinos, dos jovens, do financeiro, de tecnologia, de convenções e exposições, hotelaria e turismo.

Durante a ausência do Chefe do Executivo, o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, exerce, interinamente, as funções de líder do Governo.

16 Out 2023

Cabo Verde | Pedida solução para hotel-casino inacabado da Macau Legend

Depois do grupo Macau Legend Development ter anunciado que iria abandonar o projecto do mega resort em Cabo Verde, moradores e associações locais dividem-se sobre o destino a dar ao hotel-casino inacabado que assombra a cidade da Praia

 

Jorge Soares é estivador no porto da Praia e todos os dias controlava pela janela de casa a chegada dos barcos para descarregar, até que lhe taparam a vista com o maior edifício da marginal, projecto para casino-hotel agora abandonado.

“Daqui, já não vejo nada”, queixa-se, na encosta do bairro Brasil, ao apontar pela janela de casa para o edifício em frente, de altura equivalente a oito andares e que, por esta altura, já devia ser um hotel e casino – projecto que afinal não vai avançar, anunciou este mês a empresa promotora Macau Legend Development.

“É um muro como outros que se ergueram”, entre a capital e o mar, refere Job Amado, bastonário da Ordem dos Arquitectos de Cabo Verde: “Este é o maior muro de todos”, está inacabado e “sob o ponto de vista arquitectónico é uma autêntica aberração”, com largas janelas de vidro nas fachadas expostas ao sol, exemplifica.

Agora, Job Amado defende a demolição do edifício gigante (comparando com os imóveis à volta), depois de concluída a reversão para o Estado, já anunciada pelo primeiro-ministro. Questionado sobre os custos que a demolição pode implicar, sustenta que o pior custo é o de deixar de pé um erro grave para o futuro urbanístico da zona costeira da capital.

Um bom exemplo do que podia ter sido feito está no pré-projecto do Casino Park Hotel da Madeira, da autoria do Óscar Niemeyer: Job Amado mostra na Internet um esboço em que o célebre arquitecto brasileiro escolhe o alinhamento perpendicular à costa.

Na Praia, todos os sinais já apontavam para o abandono do projeto do Djeu (ilhéu, em crioulo), como é conhecido na capital cabo-verdiana. Há cerca de dois anos que há apenas guardas nos portões daquele recinto que esteve para ser um grande complexo turístico, numa área de cerca de 160 mil metros quadrados, que inclui o ilhéu de Santa Maria, parcialmente esventrado e uma ponte asfaltada de poucos metros que o liga à cidade.

Ao lado do edifício, uma grua permanece erguida no meio do terreno com terraplanagens inacabadas, vedado por taipais que se erguem sobre o passeio pedonal da marginal de onde antes se vislumbrava a praia da Gamboa.

Mau caminho

Januário Nascimento chama-lhe um “grande monstro” contra o qual a Associação para Defesa do Ambiente e Desenvolvimento (ADAD), que dirige, sempre se insurgiu, tal como parceiros internacionais que, informalmente, lhe referiram que, “neste projecto, Cabo Verde andou mal”.

Os erros apontados iam desde a excessiva altura para um edifício naquela zona, até à sua orientação, paralela ao mar (como um muro) e ao desrespeito pela flora marítima, descreve.

Agora, recomenda que não haja “decisões precipitadas” e defende a criação de uma comissão que estude o assunto a fundo antes de haver decisões – seja demolição ou outra –, um grupo que analise também o impacto social da eventual criação de uma zona de jogo, com casino.

Essa comissão deve ser realmente abrangente, com técnicos, académicos e sociedade civil, além das autoridades governamentais e locais, frisa.
À porta do edifício, qualquer tentativa de entrar no recinto ou obter informações esbarra nos guardas, que remetem para responsáveis pelo projecto. A Lusa tentou contactar esses responsáveis para obter detalhes além dos que a Macau Legend Development já anunciou, mas sem sucesso.

Vistas curtas

No bairro Brasil, à frente do qual o edifício cresceu, as opiniões dividem-se: Jorge acha que demolir “seria uma tristeza” e defende um aproveitamento, por exemplo, para dar habitação a quem vive em dificuldades. “A praia de Gamboa e o ilhéu são nossos”, diz Helena Tavares, outra moradora no bairro Brasil, que gostava de voltar a ter acesso à área, seja qual for o destino final do empreendimento.

“Deitar abaixo é um desperdício”, diz o vizinho Henrique Centeio, certo de que “não devia ser tão alto, para não cortar a vista para o ilhéu, e assim talvez chegasse ao fim”.

No cimo de uma das rampas para a Achada de Santo António, uma das colinas da Praia, está um restaurante onde as refeições são servidas numa larga varanda à frente da qual se ergueu o edifício do Djeu. É como ter “um elefante” na sala, refere Magda Marta, gerente do restaurante O Poeta, que lamenta ter perdido a vista para navios iluminados no porto. “Não sei qual vai ser o destino para o elefante, mas espero que vá à selva”, desabafa, esperando que, no mínimo, que lhe seja dada uma utilidade, rapidamente. “Eu acho que qualquer coisa” vai ser uma melhoria, porque, agora, “fica apagado, não tem brilho. É tipo um caroço no sapato”.

Em 2015, o empresário de Macau David Chow assinou com o Governo cabo-verdiano um acordo para a construção do empreendimento e a primeira pedra foi lançada em fevereiro de 2016. O projecto envolvia o maior empreendimento turístico de Cabo Verde, na altura, com um investimento global previsto de 250 milhões de euros – cerca de 15 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) cabo-verdiano.
Numa entrevista à televisão de Hong Kong TVB, transmitida 4 de Outubro, o presidente e director executivo da Macau Legend Development, Li Chu Kwan, anunciou que o grupo pretende encerrar os projectos em Cabo Verde e Camboja até 2025.

No dia seguinte, questionado pela Lusa, o primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, anunciou que o Governo vai reverter a concessão. “Primeiro temos de reverter a concessão. Havia, já há algum tempo, indicação de problemas do lado do investidor” e agora avançará todo o “suporte jurídico” para fazer reverter a concessão “e depois ver que destino dar a esse investimento, que não pode ficar assim como está”, concluiu.

16 Out 2023

ONU | Arábia Saudita pede à China que seja votado um cessar-fogo

A Arábia Saudita pediu no sábado à China que pressione o Conselho de Segurança das Nações Unidas a votar uma resolução de cessar-fogo e se levante “o cerco” à Faixa de Gaza, intensamente bombardeada por Israel e à beira de uma catástrofe humanitária.

O ministro dos Negócios Estrangeiros saudita, Faisal bin Farhan, transmitiu este pedido ao seu homólogo chinês, Wang Yi, através de um telefonema, informou a agência oficial de notícias saudita SPA. Recorde-se que a China é membro permanente do Conselho de Segurança.

O chefe da diplomacia saudita apelou à China para “trabalhar para garantir que o Conselho de Segurança assuma a sua responsabilidade de manter a paz e a segurança internacionais e pressione pela cessação imediata das operações militares e pelo levantamento do cerco a Gaza”, segundo a mesma nota de informação. Bin Farhan destacou “a importância do Conselho para implementar decisões sobre a causa palestina”, particularmente aquelas que estabelecem uma solução “justa, abrangente e sustentável”.

Durante a chamada, segundo a agência saudita, ambos enfatizaram a “importância de parar todas as formas de ataques contra civis e o compromisso de todas as partes no conflito com o estipulado no direito internacional”.
Esta iniciativa surge depois de o representante da Rússia na ONU, Vasili Nebenzia, ter afirmado na sexta-feira que o seu país propôs uma resolução ao Conselho de Segurança para apelar a um cessar-fogo em Gaza e permitir a entrada de ajuda humanitária.

O embaixador garantiu que pediu que a resolução fosse votada o mais rapidamente possível, embora não tenha sugerido uma data.
Por seu lado, Wang Yi afirmou também na sexta-feira que Pequim prestará assistência humanitária à Faixa de Gaza através dos canais das Nações Unidas e defendeu que a solução de “dois Estados” é a única viável a longo prazo para o Médio Oriente.

16 Out 2023

Israel | Acção israelita ultrapassa “domínio da autodefesa” – Pequim

A acção de Israel em Gaza, em resposta ao ataque do Hamas, ultrapassou “o domínio da autodefesa” e o Governo israelita deve parar de “punir colectivamente” o povo de Gaza, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês. Um enviado da China para o Médio Oriente vai visitar a região para negociar o cessar-fogo

 

“As acções de Israel ultrapassaram o domínio da autodefesa” e os dirigentes devem parar de “punir colectivamente o povo de Gaza”, disse Wang Yi ao chefe da diplomacia da Arábia Saudita, Faisal bin Farhan, no sábado, de acordo com uma declaração divulgada ontem pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês. “As partes não devem tomar qualquer medida que possa agravar a situação”, sublinhou Wang Yi, apelando à abertura “de negociações”.

No sábado, o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, apelou à China, parceira do Irão, para que usasse a sua influência para acalmar a situação no Médio Oriente.

A 7 de Outubro, o grupo islamita Hamas, no poder na Faixa de Gaza desde 2007, desencadeou um ataque surpresa contra o território israelita, sob o nome de operação “Tempestade al-Aqsa”, com o lançamento de milhares de foguetes e a incursão de rebeldes armados por terra, mar e ar. Em resposta, Israel bombardeou a partir do ar várias instalações do Hamas naquele território palestiniano, numa operação que baptizou como “Espadas de Ferro”.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, declarou guerra ao Hamas, classificado como movimento terrorista por Israel, Estados Unidos, UE, entre outros. Os dados oficiais de vítimas mortais, na maioria civis, apontam para mais de 1.400 mortes em Israel e mais de 2.200 na Faixa de Gaza, de acordo com fontes oficiais israelitas e palestinianas.

Homem e a missão

A televisão pública chinesa CCTV anunciou que o enviado da China para o Médio Oriente, Zhai Jun, vai visitar a região na próxima semana para promover um cessar-fogo e conversações de paz. O objectivo da visita de Zhai Jun é “coordenar um cessar-fogo com as várias partes, proteger os civis, acalmar a situação e promover as conversações de paz”, afirmou a CCTV.

O anúncio surge no momento em que Israel se prepara para lançar uma ofensiva no norte da Faixa de Gaza, depois de ter concedido aos residentes um prazo suplementar para saírem da zona no sábado, uma semana depois de o movimento islamita Hamas ter lançado um ataque sem precedentes no território israelita.

Zhai disse que “a perspectiva de (o conflito) se alargar e transbordar é profundamente preocupante”, de acordo com a CCTV, que publicou um vídeo de uma entrevista com o enviado. No sábado, o chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, afirmou que Washington devia “desempenhar um papel construtivo” no conflito entre Israel e Gaza, durante uma conversa telefónica com o homólogo norte-americano, Antony Blinken.

Wang Yi pediu a realização de uma “reunião internacional de paz o mais rapidamente possível para promover um amplo consenso”, acrescentando que “a solução fundamental para a questão palestiniana reside na implementação de uma ‘solução de dois Estados'”.

Na quarta-feira, Zhai Jun tinha apelado para um “cessar-fogo imediato” numa conversa telefónica com um responsável da Autoridade Palestiniana, indicou o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

Zhai Jun disse ao vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Autoridade Palestiniana, Amal Jadu, que a China estava “profundamente triste com a intensificação do actual conflito” e “muito preocupada com a grave deterioração da segurança e da situação humanitária na Palestina”, de acordo com o site do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês. “As principais prioridades são um cessar-fogo imediato e a protecção dos civis”, acrescentou.

16 Out 2023

Uma década de ‘Faixa e Rota’ afirmou China como credora e líder entre países emergentes

Dez anos após o lançamento da ‘Faixa e Rota’, a China cimentou a sua posição como credora e líder no mundo emergente, segundo analistas, mas a iniciativa enfrenta desafios, face ao abrandamento económico e tensões geopolíticas.

A iniciativa tornou-se, entretanto, no principal programa da política externa de Xi Jinping. Na última década, mais de 150 países em todo o mundo aderiram à Faixa e Rota.

Segundo um estudo realizado pela AidData, unidade de pesquisa sobre financiamento internacional, com sede nos Estados Unidos, nos primeiros cinco anos desde o lançamento (2013-2017), a China financiou, em média, 83,5 mil milhões de dólares por ano em projectos de desenvolvimento no estrangeiro, cimentando a liderança como principal financiadora internacional. O aumento líquido, de 31,3 mil milhões de dólares por ano, em relação aos cinco anos anteriores (2008-2012), é equivalente ao financiamento anual médio dos Estados Unidos, que ocupam a segunda posição, no período 2013-2017.

A aproximação entre Pequim e os países envolvidos abarca um incremento das consultas políticas e cooperação no âmbito do ciberespaço, meios académicos, imprensa, regras de comércio ou acordos de circulação monetária, visando elevar o papel da moeda chinesa, o yuan, nas trocas comerciais. A Faixa e Rota envolveu também a fundação de instituições que rivalizam com agências estabelecidas como o Banco Mundial ou o Fundo Monetário Internacional.

A crescente influência da China entre o mundo em desenvolvimento resultou no isolamento de Taiwan – desde que a iniciativa foi lançada, nove países romperam laços diplomáticos com Taipé -, um objectivo central de Pequim. “Isto tipifica outro padrão no crescimento [da Faixa e Rota]: desde o seu anúncio, em 2013, os países que cortaram laços com Taiwan tendem a aderir à iniciativa como parte da sua aproximação diplomática a Pequim”, notou Shannon Tiezzi, editora chefe da revista The Diplomat.

O estudo realizado pela AidData revelou também uma “correlação consistente” entre o aumento dos empréstimos pela China e a “fidelidade eleitoral” dos países a Pequim nas votações na ONU.

Entre 2013 e 2020, os 20 países dos quais a China é o maior credor votaram alinhados com Pequim em pelo menos 75 por cento das ocasiões, na Assembleia Geral da ONU, que emite recomendações sobre crises globais, gere nomeações internas e supervisiona o orçamento das agências.

Em Outubro do ano passado, o Conselho de Direitos Humanos da ONU votou contra uma moção liderada pelos países ocidentais para realizar um debate sobre violações dos Direitos Humanos na China, depois de um grupo de países em desenvolvimento ter apoiado Pequim.

Foi a segunda vez nos 16 anos desde que o conselho foi estabelecido que uma moção foi rejeitada. Isto sucedeu poucas semanas depois de o Gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos ter concluído que “graves violações dos direitos humanos” foram cometidas por Pequim contra minorias étnicas chinesas de origem muçulmana em Xinjiang, no noroeste do país.

Capacidade de adaptação

Preocupações crescentes com riscos suscitados pelo endividamento dos países recipientes e o acirrar da competição entre Pequim e Washington podem, no entanto, fazer com que Pequim repense a iniciativa, observou Ana Horigoshi, investigadora na AidData.

Outros países concluíram também que um documento de cooperação assinado no âmbito da iniciativa nem sempre tem resultados práticos. Itália e vários países do centro e leste da Europa estão agora a reconsiderar a sua adesão, apontou Tiezzi.

Observadores questionam ainda se o abrandamento da economia chinesa e uma crise demográfica no país vai resultar numa desaceleração no financiamento disponibilizado pela China nos próximos anos. “Isto poderá ou não afectar alguns dos maiores beneficiários, como a Rússia e Brasil, que provavelmente vão conseguir encontrar fontes de financiamento alternativas noutros locais”, observou Ana Horigoshi. “Contudo, é seguro dizer que um declínio nos empréstimos chineses vai deixar uma lacuna no financiamento que afectará profundamente os países africanos”, notou.

16 Out 2023

Europa | Proteccionismo e geopolítica abrandam investimento chinês, indica Sales Marques

O presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau, José Sales Marques, defendeu que a retração do investimento chinês na Europa, apesar da projecção de Pequim para o estrangeiro, está relacionada com geopolítica e algum proteccionismo na União Europeia. O economista faz ainda um balanço positivo dos 10 anos da iniciativa ‘Faixa e Rota’

 

“A retração do investimento não depende apenas do estado da economia chinesa”, sustentou José Sales Marques, no momento em que se assinalam dez anos do lançamento da iniciativa ‘Faixa e Rota’.

Designada pelo Presidente chinês, Xi Jinping, como o “projecto do século”, esta iniciativa foi apresentada como um novo corredor económico para a Eurásia inspirado na antiga Rota da Seda, em que a construção de portos, linhas ferroviárias ou autoestradas ligando o leste da Ásia e a Europa, através da Ásia Central.

O economista admitiu que “há, obviamente, também mais dificuldades em termos de investimento chinês”, mas diz não existirem “sinais de que tenha sido uma retração particularmente sensível ou significativa” por este motivo. “O investimento chinês na Europa tem vindo a decair desde 2017, mas isso não tem a ver apenas com a vontade ou não da China em investir. (…) Na União Europeia (UE), há cada vez mais processos de monitorização de risco, tem sido um pouco a moda, e é um facto que o investimento chinês não é hoje tão facilitado em certas partes do mundo, nomeadamente na Europa, como era há uns anos”, sublinhou. E elenca várias razões. Por um lado, a “preocupação europeia em não disparatar investimento de empresas europeias, muitas vezes apoiadas pelo Estado, em tecnologia de ponta”, com a UE avessa à aquisição das mesmas.

“Há também algumas questões relacionadas com as condições de acesso ao mercado chinês, mas também tem a ver com processos de ordem política e geopolítica, hoje em dia, cada vez mais”, ressalvou.

O presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM) salientou que há “uma preocupação, que entretanto tem vindo a surgir na Europa, de se construir uma política industrial europeia, particularmente vinda da França, mas não só”. “Há aqui processos que não são assim tão ingénuos como parecem, há obviamente aqui uma intenção de reforço da própria estrutura e da base industrial europeia e processos que têm a ver com a questão da competitividade”, apontou, para concluir: “Essas coisas às vezes também têm a ver com um certo proteccionismo”.

José Sales Marques não deixa de lembrar o contexto histórico em que foram realizados investimentos chineses na Europa, num passado não muito distante, e que, “hoje em dia, se calhar, convém não ser recordado”. “E o contexto histórico era, precisamente, de que não havia investimento pela parte europeia suficiente, estavam a cortar, estavam a colocar os países do sul da Europa como se fosse um grupo fora-da-lei. (…) Nós todos sabemos que os países do sul da Europa, incluindo Portugal, Grécia, Itália e Espanha, foram bastante maltratados durante uma certa fase e em que havia pouca solidariedade por parte da União Europeia. E nessa altura fez muito jeito o investimento chinês, salvou muitos postos de trabalho em Portugal, como terá feito em muitas partes da Europa”, afirmou.

Balanço na Faixa

Para o presidente do IEEM, é positivo o balanço da iniciativa ‘Faixa e Rota’, que chegou a mais de 150 países, com “um volume de investimento que não tem comparação com outros investimentos feitos pelos Estados Unidos ou Europa” e que se tem assumido como “uma forma muito própria da China participar na globalização, com evidentes interesses económicos”, que passam “pela internacionalização da economia, empresas e da própria moeda chinesa”.

“O que é verdade é que esta iniciativa chinesa veio colmatar um défice extraordinário que existe a nível mundial de investimento nas infraestruturas. Um défice de triliões, e que continua”, tanto mais porque “não é um projecto com um calendário temporal limitado”, mas sim “um processo que não assenta numa “vontade unilateral da China, mas também da vontade do outro país”, existindo “ao longo do processo momentos mais felizes e casos de insucesso”, mas em que “as partes vão aprendendo”.

Para o economista, o investimento chinês é hoje muito visível sobretudo na América Latina, África e no Sudeste Asiático, destacando o impacto em países lusófonos africanos e no Brasil, apesar de este não estar enquadrado na iniciativa ‘Faixa e Rota’. No sudeste asiático, a Indonésia é “considerada por algumas publicações (…) como o destino mais desejado para o investimento chinês”, acrescentou.

“A ‘Faixa e Rota’ tem sido “positiva em termos de desenvolvimento, sobretudo em países em vias de desenvolvimento”, até porque “há necessidade de criar emprego, há necessidade criar estruturas de mercado interno, há necessidade de inverter ou reverter essa tendência de que os países ricos são cada vez mais ricos e os países pobre cada vez mais pobres”, defendeu. “Temos de ver as coisas nesta perspectiva de desenvolvimento económico a nível mundial”, salientou.

José Sales Marques disse ainda à Lusa que o Instituto de Estudos Europeus está neste momento a conduzir um projecto de investigação sobre a iniciativa ‘Faixa e Rota’ e o processo de investimento de transição energética, em parceria com a Universidade de Leiden, através do Instituto Internacional de Estudos Asiáticos, e com o apoio da Fundação Macau. Em dezembro, terá lugar uma conferência na qual será apresentado o relatório preliminar do estudo, que tem pouco mais de um ano e que envolve 25 investigadores e dois coordenadores.

16 Out 2023

Confúcio na cultura portuguesa – 3

Por António Aresta

(continuação do número anterior)

Em 1915 o professor Camilo Pessanha, poeta simbolista e sinólogo, profere uma conferência1 , em Macau, sobre a cultura chinesa e aborda inevitavelmente o legado de Confúcio deste modo : “Mas a verdade é que Foc-Sang salvando a obra de Confúcio, salvou, para transmitir à posteridade, todo o património intelectual do povo chinês. Confúcio foi principalmente um compilador. O conferente expôs, resumidamente, o objecto dos livros de Confúcio, um por um, mostrando como neles se encontram os antigos cantos, as antigas lendas, a velha história, as velhas leis, os velhos ritos e a velha moral do povo chinês.

A propósito do Livro das Transformações, anotado por Confúcio e já velho de mais de mil anos quando foi anotado, deu o conferente uma ideia da antiga concepção chinesa, dualista, do Universo, e dos dois símbolos pelos quais essa concepção é ordinariamente representada : o ma-li-u e os oito kua – de que o conferente fez o esboço no quadro preto e explicou o sentido. Concluindo esta parte da sua exposição, disse o conferente que da própria natureza da obra de Confúcio, do seu duplo carácter de enciclopédia e de monumento étnico colectivo, resulta em grande parte o alto prestígio que ela tem disfrutado sempre, e continuará a disfrutar através dos séculos, entre o povo chinês.

É e continuará a ser o livro sagrado da China, porque nela o povo chinês encontra, na sua expressão mais adequada, mais alta e mais pura, o seu próprio pensamento e o seu próprio sentimento – a própria alma chinesa”. Por estas palavras se infere o seu continuado estudo da cultura e da filosofia chinesas, que três anos antes já tinha confidenciado ao seu amigo Carlos Amaro2 : “E qual outro poderia ser aqui senão estudar a língua chinesa, os costumes chineses, a arte chinesa ? A solidão intelectual e moral nestes meios é absoluta”.

Abrindo um parêntesis para mostrar o atraso da nossa historiografia filosófica. Perto do fim dos anos trinta M. Gonçalves da Costa3 publica um estudo pioneiro em língua portuguesa sobre a filosofia chinesa antiga, lamentando “o ostracismo a que nas escolas do Ocidente se votavam as ricas fontes da sabedoria Oriental, procedendo-se como se a investigação filosófica se esgotasse nos sistemas gregos e seus comentadores escolásticos católicos”4. O autor considera Confúcio como o “mestre que se tem de ouvir para que a China volte à sua tradição e ao seu significado no mundo”5.

Mas, o confucionismo possui uma significação flutuante, vaga e imprecisa6, ora como sistema religioso, ora como padrão ético, num percurso paralelo que se confunde. Sebastião Rodolfo Dalgado7 nota que o “confucianismo é o nome que os europeus dão à religião ou, antes, ao naturalismo ético, estabelecido na China por Confúcio, Kung-fu-tze, no século VI antes de Cristo”. Essa ambiguidade, longe de se filiar numa ética da virtude, pode ser colocada ao serviço de poderosos argumentos conflituantes com as liberdades e com o sistema político de governação. Simon Leys8, que é o pseudónimo do sinólogo Pierre Rickmans, marcou o ponto fulcral dessa ambiguidade : “Com efeito, o confucionismo de Estado deformou o pensamento do Mestre para o adequar às necessidades do Príncipe ; nesta ortodoxia oficial, faz-se um uso selectivo de todas as suas afirmações que prescrevem o respeito das autoridades, ao passo que outras noções, não menos essenciais mas potencialmente subversivas, são largamente escamoteadas – é o caso da obrigação de justiça que deve moderar o exercício do poder e, sobretudo, do dever moral dos intelectuais de criticar os erros do soberano e de se oporem aos seus abusos, mesmo à custa da própria vida. Como consequência destas manipulações ideológicas, o nome de Confúcio acabou por se ver estreitamente associado ao exercício milenar da tirania feudal. No século XX, para a elite progressista, a sua doutrina tornou-se sinónimo de obscurantismo e de opressão”. Também Bertrand Russell9 no seu já clássico The Problem of China, apontava alguns desvios à antiga pureza doutrinária.

E durante a revolução cultural maoísta, outro dos extremos do totalitarismo ideológico, escreve Henry Kissinger10, os “estudantes universitários e professores revolucionários de Beijing desceram à aldeia natal de Confúcio, jurando pôr termo à influência do velho sábio na sociedade chinesa de uma vez por todas queimando livros antigos, esmagando placas comemorativas e arrasando os túmulos de Confúcio e dos seus descendentes”. Ana Cristina Alves11, sinóloga portuguesa contemporânea, actualiza essas perspectivas, advertindo que “o confucionismo perdeu força na China durante o século XX, com a implantação das primeira (1912) e segunda repúblicas (1949). Actualmente está de regresso à casa-mãe e veio incorporado no Socialismo Espiritual dos novos tempos reformistas”.

A contribuição do génio romanesco de Agustina Bessa-Luís proporciona-nos esta síntese admirável em A Quinta-Essência12 : “Ricci não podia ficar indiferente ao pensamento de Confúcio, um agnóstico desprendido de toda a metafísica, criador duma moral fundada na natureza do homem sem os recursos do mistério. Isto devia confundir Ricci, para quem as práticas religiosas pertencem ao lado secreto da mesma natureza humana.

Possivelmente há muito de verdade na aproximação jesuíta do Cristo e de Confúcio, patente na fachada da igreja de S. Paulo. Não foi um simples discurso habilidoso, mas alguma coisa mais séria. Kongzi, o Confúcio dos padres da Companhia, ensinava quatro coisas : a moral, as letras, a lealdade e a boa fé. Ele furtava-se ao erotismo que, no seu tempo, desfrutava dum prestígio poético que lhe conferia qualidade recreativa e encantadora. Era uma tertúlia de mestre e discípulos em que tanto um como os outros interrogam e respondem. A dialéctica da teoria e da praxis foi introduzida por Confúcio antes de Marx a ter introduzido como ideia nova. A técnica do mestre baseava-se na polidez, ou nos ritos ; a civilização chinesa resultou desse enorme quadro de maneiras a que Ricci acabou por anuir”.

Claro que os extremos se conciliam, como notava Benjamim Videira Pires SJ13 que também escreveu um interessante artigo, “A Face Oriental de Cristo”14 , onde observa que a “esperança que Confúcio pôs na bondade da natureza humana, encontramo-la cumprida no Deus que assumiu essa natureza humana e nos anunciou a paz como o bem essencial desta vida”.

Mas, fiquemo-nos apenas pelos anos vinte do século passado, com dois autores ainda pouco conhecidos, um em Macau, Manuel da Silva Mendes, e o outro em Portugal, o Visconde de Villa-Moura, que se debruçaram sobre a vida e o legado de Confúcio. De modos bem diferentes, é claro.

II

Em Macau, Manuel da Silva Mendes (1867-1931)15, um dos representantes mais notáveis da intelligentzia portuguesa, professor, jurista e sinólogo cujos interesses intelectuais se centravam no taoísmo filosófico e na estética , tinha uma visão larga dos problemas, “a vida, para ser vida, tem de ser activa, contrariada, inquieta, difícil, penosa, agra mais tempo do que doce, fértil em surpresas, encaminhada a um ideal de irrealização certa. Quietismo, neste mundo sub-lunar, é biologicamente falando, como dizia o outro, sonolência, não te rales, deixa correr o marfim ; moralmente, é resolução covarde de viver”16. Esta ressonância heideggeriana da vida inautêntica parece ser um caminho problemático ao conflituar com as possibilidades da liberdade, que no limite se posiciona como um ataque à formação do ethos.

Publicou no jornal ‘O Macaense’, de 10 de Outubro de 1920, um pequeno artigo sobre ‘Confúcio’17, sintético mas de grande densidade especulativa e cultural. Adverte-nos Manuel da Silva Mendes, “não se leiam, porém, as obras do Sábio sem suficiente preparação”18. Porquê, perguntará o leitor curioso. Exactamente porque, “os tempos são tão recuados, tão diferentes das antigas as modernas linhas do pensamento, os antigos costumes e instituições estão tão longe dos modernos, é tudo tão diferente hoje do que era sob as antigas dinastias chinesas, que correm risco, sem que o leitor saiba transportar-se em mente a tão distantes tempos, os seus escritos de ficarem incompreendidos. Foi por isto que o Sábio, na Europa, durante séculos passou por ser meramente fundador de uma religião, a que se chamou confucionismo ; religião que todavia, qua tali na China nunca existiu nem Confúcio jamais pregou”19.

Na opinião de Manuel da Silva Mendes, o segredo da longevidade do legado de Confúcio, registado e difundido pelos seus discípulos, residiu na simplicidade contida neste pormenor : “ora, quanto os antigos sábios chineses ensinaram, pela mudança dos tempos, dos costumes, das instituições, se foi perdendo ou tornando obsoleto e seus nomes no olvido pouco a pouco foram caindo : só o de Confúcio, porque falou do coração humano, dos mais lídimos sentimentos da alma humana, daquilo que na Natureza não tem poder os séculos de alterar, ficou. E ficará ”20. Manuel da Silva Mendes captou muito bem a essência21 da ética e da moral confucianas, mas afastou-se de uma praxis que subalternizava as liberdades.

(continua)

Notas e referências

Transcrita inicialmente no jornal O Progresso, 21.03.1915. Reproduzida em Monsenhor Manuel Teixeira, Liceu de Macau, ed. Direcção dos Serviços de Educação, Macau, 3ª edição, 1986, p. 389.

Carta enviada de Macau em 21 de Setembro de 1912, em Daniel Pires, Camilo Pessanha : Correspondência, dedicatórias e outros textos, ed. Biblioteca Nacional de Portugal\Editora Unicamp, Lisboa\Campinas, 2012, p. 186.

Filosofia Chinesa Antiga : da ética à metafísica, edição do autor, 51 pp. , 1980. Este estudo data de 1937 e foi apresentado no Instituto Beato Miguel de Carvalho como tese de licenciatura em Filosofia, tendo sido publicado na Revista Brotéria em 1939. O autor refere a amizade com Domingos Tang e o auxílio deste para elucidar algumas dúvidas. Sobre Domingos Tang, ver, Os Insondáveis Caminhos de Deus. Memórias de D. Domingos Tang SJ, Arcebispo de Cantão, 1951-1981 , Editorial A.O., Braga, 1990.

Idem, p. 5.

Idem, p. 11.

Mesmo nas línguas estrangeiras : Dicionário da Língua Galega de Isaac Alonso Estravís, Sotelo Blanco Edicións, 1995, p. 390 ; Dizionario Italiano Sabatini Coletti, Giunti, 1997, p. 557 ; Le Grand Robert de la Langue Française, Le Robert, Paris, 1992, Tome II, p. 816 ; The Oxford English Dictionary, Clarendon Press, Oxford, 1998, Vol. III, p. 719 ; The Collins Concise Dictionary of the English Language, Collins, 1989, p. 235 ; Diccionario de la Lengua Española, Real Academia Española, 1984, Tomo I, p. 358 ; Enciclopedia del Idioma de Martín Alonso, Aguilar, Madrid, 1958, Tomo I, p. 1175. Uma excepção, pode ser encontrada em Grand Usuel Larousse, Larousse-Bordas, 1997, Vol. 2, p. 1706.

Glossário Luso-Asiático, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1919, vol. I, p. 303.

Ensaios sobre a China, Livros Cotovia, 2005, p. 248.

“Apart from filial piety, confucianism was, in practice, mainly a code of civilized behavior, degenerating at times into an etiquette book”, London, George Allen & Unwin Ltd, 1922, p. 43

Da China, Quetzal Editores, 2011, pp. 216-217.

A Sabedoria Chinesa, Casa das Letras, 2005, p. 23.

Lisboa, Guimarães Editores, 1999, p. 347.

Os Extremos Conciliam-se (transculturação em Macau), Instituto Cultural de Macau, 1988.

O Clarim, Ano XXV, Nº 33, 24.08.1972.

A mais recente e completa edição da Obra Completa de Manuel da Silva Mendes : Manuel da Silva Mendes : Memória e Pensamento, organização de António Aresta e Rogério Beltrão Coelho,

Edição Livros do Oriente, 3 volumes [570 pp. + 539 pp. + 519 pp.], 2017\2018.

Sobre o autor, ver António Aresta, “Manuel da Silva Mendes : um intelectual português em Macau”, in Manuel da Silva Mendes : Memória e Pensamento, Vol. I , 2017, pp. 41-112 ; Amadeu Gonçalves, “Manuel da Silva Mendes : Entre Vila Nova de Famalicão e Macau”, idem, pp. 15-39 ; Tiago Quadros, “Do charme discreto do habitar. A Vila Primavera, locus amoenus de Manuel da Silva Mendes”, idem, pp. 113-121 ; Ana Cristina Alves, “O Tao de Manuel da Silva Mendes : do Tao Político ao Tao Poético”, in Manuel da Silva Mendes : Memória e Pensamento, Vol. II, 2018, pp. 21-34 ; António Graça de Abreu, “Manuel da Silva Mendes e Camilo Pessanha, a inimizade inteligente”, idem, pp. 49-60 ; Aureliano Barata, “Manuel da Silva Mendes : um olhar sobre Macau e o seu ensino”, idem, pp. 61-80 ; António Conceição Júnior, “O legado artístico de Manuel da Silva Mendes”, idem, pp. 83-100 ; Jorge Morbey, “Manuel da Silva Mendes, o homem e a sua circunstância”, in Manuel da Silva Mendes : Memória e Pensamento, Vol. III, 2018, pp. 15-21 ; Ana Cristina Alves, “Seis fotografias aéreas sobre a vida e obra de Silva Mendes”, idem, pp. 23-28 ; Maria dos Anjos da Silva Mendes, “Memória da Bisneta”, idem, pp. 31-44 ; Erasto Santos Cruz, “Excerptos de Filosofia Taoista & Questões de Tradução”, pp. 91-127 ; Carlos Botão Alves, “O Oriente na Literatura Portuguesa : Antero de Quental e Manuel da Silva Mendes”, idem, pp. 129-210 ; António Aresta, “Bibliografia de Manuel da Silva Mendes”, idem, pp. 489-499.

A Pátria, 27.07.1927. Republicado em Manuel da Silva Mendes : Memória e Pensamento, organização de António Aresta e Rogério Beltrão Coelho, Edição Livros do Oriente, 2018, Vol. III, pp. 330-331.

Utilizo a nova edição, Manuel da Silva Mendes : Memória e Pensamento, organização de António Aresta e Rogério Beltrão Coelho, Edição Livros do Oriente, 2017, Vol. I. , pp. 381-382.

Idem, p. 382.

Idem, p. 382.

Idem, p. 382.

Dentro desta abordagem, veja-se, Cheng-Tien-Hsi, China Moulded by Confucius. The chinese way in western light. Published under the áuspices of the London Institute of World Affairs, London, Stevens & Sons Limited, 1947 ; Guy S. Alitto, The Last Confucian : Liang Shu-ming and the Chinese dilemma of modernity, Berkeley, University of California Press, 1979.

16 Out 2023

Lusofonia | Carlão é destaque no regresso de artistas estrangeiros

No cartaz deste ano do Festival da Lusofonia despontam nomes como os portugueses Carlão e Camané, os cabo-verdianos Fogo Fogo e o guineense Sambalá Canuté. A edição do ano passado ficou marcada pelo encerramento forçado devido a um surto de covid-19

 

O Festival da Lusofonia, em Macau, vai voltar a receber artistas estrangeiros, incluindo o português Carlão, vocalista dos Da Weasel, após um interregno de três anos devido à pandemia de covid-19. O anúncio foi feito na sexta-feira.

De acordo com o programa, o 5.º Encontro em Macau – Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa arranca com o principal evento, o Festival da Lusofonia, entre 27 e 29 de Outubro. Pela primeira vez desde 2019, a zona das Casas da Taipa vai voltar a receber músicos dos países lusófonos, nomeadamente o português Carlão, os cabo-verdianos Fogo Fogo e o guineense Sambalá Canuté.

Algo “de grande importância (…), porque em termos de compreensão e intercâmbio cultural é necessário este contacto frente a frente”, disse Leong Wai Man, a presidente do Instituto Cultural (IC). O outro ponto alto do programa é um concerto do português Camané com a Orquestra Chinesa de Macau, a 18 de Novembro, que vai “misturar fado e música tradicional chinesa”, disse à Lusa Jacky Fong Tin Wan.

O director executivo da Sociedade Orquestra de Macau admitiu que a união das duas músicas “é difícil”, mas sublinhou que Camané mostrou-se “muito interessado” em repetir uma parceria que aconteceu pela primeira vez em 2007.

Visita de activista

Leong Wai Man destacou ainda a presença de Bordalo II, que descreveu como “um escultor muito famoso de Portugal, que usa materiais reciclados”, numa mostra com 21 obras de sete artistas, entre os quais o angolano Lino Damião e o brasileiro Eduardo Fonseca.

Bordalo II ganhou notoriedade em Portugal depois de ter estendido uma passadeira feita com notas falsas de 500 euros no polémico Palco da Jornada Mundial de Juventude, em Lisboa. O palco foi um dos aspectos mais polémico da jornada, devido ao preço da obra, que acabou por ser mais reduzido que o inicialmente previsto.

A exposição, sob o tema “Relações”, vai estar nas Casas da Taipa entre 28 de Outubro e 1 de Janeiro, passando depois, durante seis meses, para a Antiga Fábrica de Panchões Iec Long, também na Taipa, e os Estaleiros Navais de Lai Chi Vun, em Coloane.

A 4 e 5 de Novembro, vários locais de Macau irão receber espectáculos de música e dança lusófona, a cargos dos grupos A Gafieira (Brasil), Escola de Dança de São Tomé e Príncipe, Chalo Correia (Angola), Talik Murak (Timor-Leste), a Associação Cultural de Dança e Canto Londzovota (Moçambique), Nata Nsue (Guiné Equatorial) e o GIPA Dance Group (Goa, Índia).

Uma exposição com mais de 500 livros ilustrados e infantis em chinês ou português estará patente no Auditório do Carmo, na Taipa, entre 27 e Outubro e 5 de Novembro. Macau irá ainda receber, de 10 a 24 de Novembro, um festival de cinema com 20 filmes da China e dos países de língua portuguesa, que encerra com o documentário brasileiro “Miúcha, a Voz da Bossa Nova”. Com o regresso dos artistas estrangeiros, o orçamento do Encontro irá subir de mais de 6 milhões de patacas em 2022 para 9,6 milhões de patacas este ano, revelou Leong Wai Man.

Ocorrência discriminatória

A edição do ano passado causou um grande mal-estar entre a comunidade lusófona, após o Governo ter forçado o cancelamento do evento no último dia. Numa altura em que surgiu um surto de covid-19 com dezenas de casos, o Executivo obrigou a que o festival, que decorria com fortes restrições, como medição da temperatura e utilização de máscaras, fosse mesmo cancelado.

Ao mesmo tempo, em locais como a Praça do Tap Seac e a Rua de Sanches Miranda decorriam enormes concentrações de famílias, que trocavam guloseimas e que celebravam o Dia das Bruxas.

Face à dualidade de critérios Leong Wai Man apontou que o cancelamento aconteceu “com muita pena” do Instituto Cultural.
Na altura, o deputado português José Pereira Coutinho classificou a decisão como um exemplo das “decisões discriminatórias em relação à comunidade lusófona”, lembrando que “não foi aplicado o mesmo critério” a outros eventos, como o Grande Prémio.

“Não foi um caso de discriminação”, limitou-se a insistir na sexta-feira Leong Wai Man, sem fazer mais comentários. Em Dezembro de 2022, Macau, que seguia a política de ‘covid zero’, anunciou o cancelamento gradual, após quase três anos, da maioria das restrições, que incluíam a proibição da entrada de estrangeiros sem estatuto de residente.

16 Out 2023

Economia | Preços turísticos com subida rápida

O Índice de Preços Turísticos (IPT) foi de 141,16 no terceiro trimestre de 2023, o que significa que em termos anuais os preços subiram cerca de 22,22 por cento. De acordo com os dados dos Serviços de Estatística e Censos, a subida deveu-se “principalmente à ascensão de preços dos quartos de hotéis, dos serviços de restauração e da joalharia”.

Entre os índices de preços das secções de bens e serviços, o índice de preços do alojamento aumentou 180 por cento, em termos anuais, o que significa que se no terceiro trimestre de 2022 uma noite num hotel custava 1.000 patacas, agora custa 1.800 patacas.

Os aumentos alargaram-se a outras áreas como o “divertimento e actividades culturais”, com aumentos de 17,01, “vestuário e calçado” (4,90 por cento), bens diversos (4,43 por cento) e “restauração” (2,32 por cento).

Em comparação com o segundo trimestre deste ano, o IPT subiu 2,86 por cento, com os preços de alojamento a crescerem 14,87 por cento, “em virtude da subida de preços dos quartos de hotéis”, indicou a DSEC. Entre o segundo e terceiro trimestre, as campanhas de saldos fizeram com que os preços do vestuário e calçado baixassem 5,43 por cento.

O IPT reflecte a variação de preços dos bens e serviços adquiridos pelos visitantes em Macau. As secções do IPT de bens e serviços baseiam-se na estrutura de consumo dos visitantes, como os produtos alimentares, bebidas alcoólicas e tabaco; vestuário e calçado; alojamento; restauração; transportes e comunicações; medicamentos e bens de uso pessoal; divertimento e actividades culturais.

16 Out 2023

Morreu a escritora Louise Glück, vencedora do Nobel da Literatura

A escritora norte-americana Louise Glück, vencedora do Nobel da Literatura em 2020, morreu aos 80 anos, anunciou na sexta-feira o seu editor Jonathan Galassi, da casa Farrar, Straus & Giroux. “Poeta da franqueza e da percepção inabaláveis”, como escreve a agência Associated Press (AP), Louise Glück nasceu a 22 de Abril de 1943, em Nova Iorque e somou mais de 60 anos de trabalho publicado, dominado pela poesia, o ensaio e uma breve fábula em prosa, “Marigold e Rose”.

O Prémio Nobel da Literatura foi-lhe atribuído em 2020, “pela inconfundível voz poética que, com austera beleza, torna universal a existência individual”.

Numa lista de contemplados largamente masculina, Gluck foi a sétima mulher a ser distinguida com o Nobel este século e a 16.ª desde o início do prémio. Foi também a primeira obra norte-americana de poesia laureada pela Academia Sueca, depois do anglo-britânico Thomas Stearns Eliot, o autor de “Terra sem Vida”, em 1948.

Ao longo de seis décadas, Glück forjou uma narrativa de trauma, desilusão, estagnação e saudade, soletrada por alguns momentos de êxtase e contentamento, como descreve o perfil divulgado pela AP. Os poemas de Glück são muitas vezes breves, exemplares no seu apego ao “não dito, à sugestão, ao silêncio eloquente e deliberado”. “De certa forma, a vida para Glück era como um romance conturbado – fadado à infelicidade, mas significativo, porque a dor era condição natural e preferível ao que presumia vir depois”, escreve a agência norte-americana. “A vantagem da poesia sobre a vida é que a poesia, se for suficientemente nítida, pode durar”, escreveu a autora de “Vita Nova”.

Estreia em 1968

Louise Glück fez a estreia literária com “Firstborn”, em 1968, com 25 anos, e foi “rapidamente aclamada como um dos mais proeminentes nomes na literatura americana contemporânea”. Quando da atribuição do Nobel, a Academia Sueca reconheceu-a como “uma das mais relevantes poetas” da actualidade, recorrendo a mitos e figuras clássicas para escrever sobre a infância, a família e a morte.

A proximidade literária a Emily Dickinson, pela delicadeza da escrita, e a capacidade de chegar ao individual a partir de temas universais foram igualmente características apontadas.

A sua obra somou vários prémios literários, como o Pulitzer, em 1993, por “Íris Selvagem”, o Bollingen, em 2001, pelo percurso literário, o National Book Critics Circle, o Los Angeles Times Book, o Wallace Stevens da Academia de Poetas Americanos, assim como o National Book Award, em 2014, por “Noite Virtuosa e Fiel”, e a Medalha de Humanidades, em 2015, entre outros galardões.
Louise Glück leccionou Língua Inglesa na Universidade de Stanford e na de Yale, e considerava a experiência do ensino não uma distração da poesia, mas uma “receita para a lassidão”.

Quando da atribuição do Nobel, antigos alunos recordaram-na como exigente e inspiradora, que os soube orientar na procura das suas próprias vozes.

“Não havia hipótese para as subtilezas da mediocridade, nem elogios falsos. Quando Louise fala há que acreditar, porque ela não se esconde nas convenções da civilidade”, disse a escritora Claudia Rankine, antiga aluna de Glück, à AP, em 2020.
A publicação portuguesa de “Marigold e Rose” está anunciada para este último trimestre. Até à atribuição do Nobel, era escassa a edição da obra da escritora em Portugal. Havia “Landscape”, na revista Telhados de Vidro, em 2006, numa tradução de Rui Pires Cabral, e “O Poder de Circe”, incluído na colectânea “Rosa do Mundo”, editado pela Assírio & Alvim (2001).

15 Out 2023

Macau Art Garden | Curtas de Ao Ieong Weng Fong exibidas amanhã

Decorre amanhã mais um festival de cinema no Macau Art Garden, onde serão exibidas três curtas-metragens do realizador Mike Ao Ieong Weng Fong a partir das 21h30. Às 22h30, começa uma sessão de perguntas e respostas com o cineasta amador e artista. Serão exibidos os filmes “The Mutation”, de 2007, com 12 minutos, que venceu o prémio “Louvor do Júri” na categoria “Macau Indies” no Festival Internacional de Cinema e Video de Macau. Segue-se “Sleepwalker”, de 2014, e “Macao Disease Manual”, de 2017.

Destaque ainda para a vertente de fotógrafo de Mike Ao Ieong Weng Fong, que expos a sua primeira mostra individual de fotografia, intitulada “Silly Goods”, no Armazém do Boi em Dezembro de 2012.

Convidado de uma das edições do festival literário Rota das Letras, o realizador licenciou-se na Escola de Comunicação Visual da Universidade de Ciência e Tecnologia de Yunlin, em Taiwan.

Com o filme “Blue Amber”, produzido na China continental, ganhou o prémio de melhor cinematografia para Novos Talentos da Ásia, na edição de 2018 do Festival de Cinema de Xangai. É também um dos realizadores de ‘Estórias de Macau 2 – Amor na Cidade’, que foi a primeira longa-metragem de produção inteiramente local.

13 Out 2023

Gaza | China pede apoio humanitário para palestinianos e defende solução de dois Estados

O enviado especial da China para o Médio Oriente, Zhai Jun, apelou ontem a que se preste apoio humanitário ao povo palestiniano, na sequência dos bombardeamentos israelitas em Gaza, e defendeu a solução de “dois Estados”.

“A China pretende encorajar a comunidade internacional a formar uma força conjunta para prestar apoio humanitário ao povo palestiniano e evitar uma crise humanitária, especialmente em Gaza”, afirmou Zhai numa conversa por telefone com Osama Khedr, ministro-adjunto do Departamento para a Palestina do Ministério dos Negócios Estrangeiros egípcio.

Segundo um comunicado emitido pela diplomacia chinesa, Zhai afirmou que a China está disposta a “prestar apoio humanitário” e “promover um cessar-fogo imediato e o fim da violência”. O enviado chinês reiterou a “profunda preocupação” da China com a escalada de violência entre israelitas e palestinianos e lamentou o “elevado número de vítimas civis causado pelo conflito”. “A China opõe-se e condena os atos que prejudicam civis e apela a um cessar-fogo imediato”, afirmou.

Solução “dois estados”

O responsável manifestou também o apoio de Pequim à solução de “dois Estados” e à adesão plena do país muçulmano às Nações Unidas. “O conflito israelo-palestiniano continua a desenrolar-se num ciclo, mas o problema é o atraso na resolução da questão palestiniana de forma justa”, afirmou.

O alto funcionário egípcio disse que a comunidade internacional deve “assumir as suas responsabilidades” e “criar as condições para reiniciar o processo de paz”, e expressou a vontade do seu país de trabalhar com a China para “fazer esforços conjuntos que melhorem a situação”, de acordo com o comunicado.

A primeira reação da China aos inesperados ataques realizados pela organização extremista islâmica Hamas em território israelita, no sábado passado, foi uma manifestação de “profunda preocupação” com a nova guerra e um apelo às partes envolvidas para que “ponham imediatamente fim às hostilidades”. “O prolongado impasse no processo de paz é insustentável”, defendeu Pequim.

O ciclo vicioso

Na segunda-feira, a porta-voz da diplomacia chinesa Mao Ning condenou os ataques contra civis e apelou a “negociações”, depois de declarar que a China é “amiga tanto da Palestina como de Israel”.

“O apoio unilateral dos EUA a Israel não ajudará a pôr fim ao conflito na Faixa de Gaza nem fará com que os dois lados se apercebam de que o recurso à violência para pôr fim à violência apenas prolongará o ciclo vicioso na região. Além disso, a disputa entre a Palestina e Israel pode intensificar-se em resultado do conflito em curso, e as tensões entre os países que apoiam a Palestina, como o Irão, a Síria e a Turquia, e Israel serão mais visíveis”, referiram analistas chineses ao Global Times.

“Os EUA estão a atiçar o fogo”, disse Li Weijian, investigador do Instituto de Estudos de Política Externa do Instituto de Estudos Internacionais de Xangai, observando que Israel será mais resoluto no avanço das operações militares com o apoio dos EUA, o que intensificará a hostilidade entre a Palestina e Israel e dificultará as futuras negociações.

O número de mortos em Israel, na sequência do ataque surpresa do Hamas no sábado, ultrapassou os 1.200 e o número de feridos os 2.900, enquanto os bombardeamentos israelitas em Gaza já fizeram pelo menos 1.055 mortos e mais de 5.000 feridos.

13 Out 2023