Paulo Duarte, académico: “Soft power chinês foi bastante afectado”

O professor da Universidade Lusófona e da Universidade do Minho Paulo Duarte defende que o “soft power chinês” está “bastante afectado” por causa da pandemia e da questão da Ucrânia. O académico defende ainda que China e EUA podem estabelecer uma parceria que contribua para solucionar o conflito israelo-palestiniano

 

Abordou recentemente, numa conferência em Lisboa, o tema “Soft Power com características chinesas – Ponto de situação”. E em que ponto está?

Está bastante afectado por causa da pandemia e, sobretudo, do alinhamento ambíguo da China relativamente à guerra na Ucrânia. No caso português, manifesta-se pela perda da “lua de mel” que se vivia entre Portugal e a China. Não se tem verificado essa aquisição massiva de serviços ou de activos estratégicos [portugueses]. Por outro lado, também tem a ver com a própria situação interna na China, que atravessa dificuldades.

Recentemente decorreu o fórum sobre a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, que celebra dez anos de existência. Como olha hoje para esta política?

Há dez anos o período era outro. A China tenderá a concentrar-se no “pequeno, mas bonito”. Muitos desses projectos deverão ir por água abaixo e ficar estagnados. No caso português, ficámos muito condicionados pela forma como a União Europeia (UE) olha para a China. Foi uma desilusão, para a UE e EUA, o facto de a China não ter condenado a agressão russa à Ucrânia. Isso obrigou-nos a repensar a nossa relação com o país. Mantemos bons contactos e ligações com a China, mas para todos os efeitos o fim desse período de “lua de mel” pode ditar que sejamos apenas bons amigos e não tanto namorados como antigamente.

A questão em torno da rede 5G e a sua condenação por parte de alguns Estados-membros da UE também influenciou este cenário?

[Portugal], ao ser dos últimos a tomar uma posição na UE face à rede 5G, estava a medir os prós e os contras, acabando por tomar essa decisão sem querer hostilizar a China. Sempre fomos um estudo de caso dadas as boas relações que sempre tivemos no contexto da UE. Fomos condicionados a ter de escolher entre a China e o alinhamento com os EUA. Mas o soft power chinês foi-se, de facto, muito abaixo, porque a China, que defende uma posição de ganhos mútuos e de uma comunidade com objectivos comuns, nunca se poderia pôr do lado do agressor, ou, pelo menos, teria de ter condenado uma invasão, e não o fez. Portanto, isso pesou em relação a nós, que temos compromissos a honrar com a UE e a NATO.

Se o soft power da China está enfraquecido, que alternativas poderão ser criadas por Xi Jinping?

A iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” prometeu mais do que fez. Temos o caso de Itália, que simplesmente quis sair. [A iniciativa] criou uma série de artérias logísticas, mas para muitos países isso deveria ter facilitado, acima de tudo, a exportação de produtos chineses. A China compra praticamente petróleo e gás, mas não compra [produtos] a muitos outros países. Este é o problema. “Uma Faixa, Uma Rota” foi, sobretudo, uma narrativa que serviu para escoar produtos chineses, mas estes países [receptores] estão descontentes. Hoje os bancos chineses já não estão tão propensos a financiar [projectos] como antes, portanto a concentração [do investimento] é hoje mais pequena, mas mais estratégica. Xi Jinping não vai condenar “Uma Faixa, Uma Rota”. Pelo contrário, vai sempre exaltar o que de bom foi feito. Mas, ao mesmo tempo, estamos a assistir, indirectamente, a uma demarcação da iniciativa, [com o surgimento] da Iniciativa de Desenvolvimento Global e a viragem para os BRICS. A China percebeu que tem de criar outras narrativas porque “Uma Faixa, Uma Rota” não foi assim tão bem-sucedida. O país pode considerar, mas os países não a vêem como bem-sucedida. Há dez anos, a China precisava expandir a sua produção, mas hoje a situação não é bem essa e faz sentido haver uma actualização dos projectos. É preciso reinventar a narrativa para que a China consiga “escoar” melhor o seu soft power.

Estamos com outra guerra, desta vez no Médio Oriente. A China já disse que a acção de Israel ultrapassa o domínio da auto-defesa. Como analisa a posição chinesa no contexto do conflito israelo-palestiniano?

Os EUA queriam que a China condenasse a postura do Hamas. Ao contrário da UE e dos EUA, a China não reconhece o Hamas como uma organização terrorista, mas o país tem de facto procurado que haja ali, a nível diplomático, a busca por uma solução para ambos os lados, algo que com o Hamas não se verifica. O Hamas luta pela auto-determinação e resistência do povo palestiniano e nem sequer admite a solução dos dois Estados [Israel e Palestina]. A China teve uma posição muito interessante, mérito seu, mas [também] muito por causa dos erros estratégicos dos EUA, que acreditam que vão levar a democracia ao Médio Oriente. Não foi assim que funcionou com o Iraque, por exemplo. Os sauditas e os iranianos aproveitaram-se do apoio [chinês], pois independentemente de ser a China a ajudar, tinha de vir [algum país] para ajudar a acabar com anos de guerras e problemas. A China foi esse parceiro, poderia ter sido outro, mas aproveitou-se desse espaço deixado pelos EUA, que ligam muito às questões dos direitos e das democracias, mas depois têm dois pesos e duas medidas na questão de Israel e da Palestina. A China fez então esse trabalho de casa muito interessante que é um êxito na diplomacia, digamos assim, juntar sauditas e iranianos. [A China] poderia ter também um empenho interessante na Palestina, porque já se viu que a ONU é um órgão ineficaz e obsoleto. Só estamos a assistir a uma diplomacia dos EUA na região feita à última da hora, a tentar convencer os países a ser recuperados. E a China também poderia estar aqui juntamente com os EUA, a usar da sua influência no Irão e na Arábia Saudita para um bem comum, independentemente das rivalidades que tem com os EUA, para trazerem paz para a região.

Como dois países com enormes tensões entre si se podem unir na questão do Médio Oriente?

Olhamos para Netanyahu, cuja credibilidade baixou muito. Ainda assim, formou-se um Governo de unidade nacional. Era isso que deveria fazer sentido com a China e os EUA, uma espécie de frente com um interesse comum, de convergência neste momento, em que há palestinianos a morrer a toda a hora e em que a comunidade internacional está meramente focada nos israelitas que estão sequestrados [pelo Hamas]. Os palestinianos não têm, sequer, direito a água, tendo de sair das suas casas onde vivem há anos. Israel também tem de ser condenado pela desproporção com que está a tratar a situação.

O Médio Oriente é, desde há muito uma zona de conflito, onde a questão do petróleo assume uma grande importância. Os EUA e China têm interesse nesta matéria, mas não só.

A China está a usufruir de petróleo mais barato do que [o petróleo] da Rússia. Mas se os preços do petróleo sobem, sobe tudo o resto. Já tivemos uma crise de cereais e de alimentação [com o conflito na Ucrânia], a economia desacelerou devido à covid-19, e agora tudo isto tem consequências negativas, directa ou indirectamente, nos EUA, China e resto do mundo. A crise na Ucrânia não acabou, simplesmente está fora do foco dos media. A Ucrânia, uma crise no Médio Oriente, mais a questão de Taiwan e da Coreia do Norte, podem ter impacto com o aumento dos preços do petróleo, o que seria gravíssimo quando as pessoas já se deparam com a subida das taxas de juros e a inflação, podendo ocorrer uma subida do custo de vida.

O ataque do Hamas pode originar um conflito mais global, tendo em conta que decorre, como disse, a guerra na Ucrânia?

O Hamas sempre esteve presente, mas nunca teve esta intensidade. Foi uma falha semelhante à dos EUA no 11 de Setembro. Israel conheceu o seu próprio 11 de Setembro, e estamos neste momento na fase de averiguações internas para se perceber o que é que falhou, porque Israel pareceu não estar minimamente preparado [para responder aos ataques do Hamas]. Há lições a tirar e nada será como dantes, até para os próprios serviços secretos israelitas. Duvido que Israel [consiga acabar] o Hamas. Acabará com uma grande parte da sua força militar, mas não acaba com os líderes que vivem no estrangeiro. O Hamas é um polvo, que pode ser enfraquecido militarmente, mas não nos podemos esquecer de que o Irão continua a apoiar o Hamas. É uma utopia pensar que se vai acabar com o Hamas. Percebo os receios de Israel de garantir que a população não vai ser atacada, mas é utópico pensar-se que se irá acabar com a violência, pois esta dura desde os anos 40, quando o Estado de Israel foi criado.

Lembrou há pouco que a postura de Israel também tem de ser condenada.

Não tem razão de ser um Estado com outra religião estar a colonizar um espaço que não é o seu [colonatos judeus em território palestiniano]. Agora não se vai colocar Israel noutra parte do mundo, tem de se manter e sobreviver, que conta com parceiros fundamentais, como os EUA e o Reino Unido. Temos agora a UE, que diz uma coisa na figura da presidente da Comissão Europeia [Ursula Von der Leyen], mais radical na postura face a Israel, e outra mais comedida, de Joseph Borrell [Alto representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança da UE], que diz que Israel não pode ser desproporcional, cometendo outra atrocidade.

Soft power no ISCTE

A conferência “O soft power de características chinesas – Um ponto de situação”, protagonizada por Paulo Duarte, aconteceu no passado dia 18 de Outubro no Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), em Lisboa, no âmbito do ciclo de palestras “Encontros de Estudos sobre a China”, promovido pelo ISCTE. A sessão foi moderada por Jorge Tavares da Silva, professor auxiliar da Universidade da Beira Interior, na Covilhã.

26 Out 2023

Literatura | UM e UCM recordam escrita de Henrique de Senna Fernandes

“Lembrando Henrique de Senna Fernandes – Jornadas em torno da identidade macaense” é o nome do colóquio que decorre hoje e amanhã na Universidade Cidade de Macau e na Universidade de Macau. A ideia é falar do autor macaense no ano em que se celebra o centenário do seu nascimento, incluindo-se ainda sessões sobre a identidade macaense e a literatura de Macau

 

Arranca hoje na Universidade Cidade de Macau (UCM) um colóquio inteiramente dedicado a Henrique de Senna Fernandes, aquele que é considerado o grande escritor de Macau, que sempre escolheu o português para as suas obras e que nunca deixou de se identificar como macaense. “Lembrando Henrique de Senna Fernandes – Jornadas em torno da identidade macaense” acontece ainda amanhã na Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade de Macau (UM).

O evento começa hoje às 10h15, na UCM, com a palestra plenária de Mónica Simas, académica brasileira e grande especialista na obra de Henrique de Senna Fernandes, que vai apresentar “O mundo extraordinário de Henrique de Senna Fernandes”, com moderação de Carina Liu, da UCM.

Este colóquio de dois dias inclui ainda painéis sobre a ligação do autor à literatura de Macau, a literatura euroasiática, a identidade linguística e cultural, bem como as áreas da tradução e do ensino do português como língua estrangeira. Decorrerá ainda uma mesa redonda sobre o tema “Ser Macaense – A identidade macaense na primeira pessoa”.

No programa do evento, os organizadores da conferência descrevem Henrique de Senna Fernandes como um “icónico escritor de Macau, que nos apresenta nos seus contos e romances a Macau de meados do século XX”, revelando também “uma história secular de co-habitação de culturas muito distintas, com especial incidência na representação da comunidade macaense”.

Assim, este pretende ser “um fórum de reflexão e discussão da condição macaense e da problemática multicultural a marcar a Cidade do Nome de Deus [Macau] desde a sua fundação”.

Cultura e afectos

Na primeira sessão, a ideia é debater se Macau tem, de facto, uma cultura própria, chamando a atenção para a “importância da preservação da cultura local”. Trata-se de uma sessão que “procura introduzir alguns conceitos teóricos, como a Globalização e a cultura local, para compreender a necessidade de preservar culturas particulares, bem como a luta do escritor Henrique de Senna Fernandes pelo reconhecimento das características de Macau”, apontam os organizadores.

Por sua vez, na segunda sessão, procura-se analisar “as representações das relações afectivas e contextos conjugais” nos textos do autor macaense.

“A identidade macaense surge a partir de processos matrimoniais que envolvem um conhecimento sobre os intensos fluxos migratórios pelos quais a região passou. As relações entre diferentes etnias geraram uma sociedade mestiça que envolve tabus que tiveram de ser superados”, descreve o programa, que vai ainda analisar “as relações amorosas descritas por Henrique de Senna Fernandes, identificando os desafios que enfrentaram”.

Académicos em conjunto

Depois da palestra protagonizada por Mónica Simas, o programa prossegue a partir das 11h com o painel “Henrique de Senna Fernandes e a literatura de Macau”, com a participação de Sara Augusto, académica actualmente em funções no Instituto Português do Oriente, que vai falar de “Senna Fernandes: A herança literária na obra de Miguel de Senna Fernandes”, seu filho e presidente da Associação dos Macaenses.

Por sua vez, Manuela Carvalho, da UM, vai falar da “Adaptação cinematográfica de ‘Amor e Dedinhos de Pé’: (Re) criação e Transgressão”, enquanto hoje, a partir das 15h, Maria José Grosso, docente da UM, vai apresentar “A educação no olhar evocativo de Senna Fernandes”. Maria Antónia Espadinha, antiga docente da UM e da Universidade de São José, falará d’”As mulheres de Henrique de Senna Fernandes”, enquanto Pedro Caeiro, da UCM, aborda “A Cultura Local no ensino PLE [Português como Língua Estrangeira] em Macau – Mong-Há como material didáctico”. Destaque ainda para a sessão das 17h15 até às 18h, protagonizada pelo docente da UM Mário Pinharanda Nunes, que vai falar da “Obra de Henrique de Senna Fernandes enquanto fonte documental da génese e evolução do patuá”.

A mesa redonda sobre a temática “Ser Macaense: A identidade macaense na primeira pessoa”, que começa às 18h15, traz para o debate nomes de personalidades macaenses como Miguel de Senna Fernandes, José Luís Sales Marques, António Monteiro, Sérgio Perez e Elisabela Larrea.

Da identidade

Amanhã o colóquio prossegue na UM, a partir das 10h, com moderação de Mário Pinharanda Nunes, discutindo-se “Henrique de Senna Fernandes: O Homem, a Obra e a Cultura Macaense”. Mónica Simas volta a pisar o palco para questionar se Macau tem uma cultura própria e para falar da “preservação da cultura local”. Marisa Gaspar, antropóloga que está a realizar uma investigação pós-doutoramento no território, aborda o romance de Senna Fernandes adaptado ao cinema por Luís Filipe Rocha, “Amor e Dedinhos de Pé”, apresentando um “olhar antropológico sobre a memória e identidade na comunidade macaense”.

O colóquio encerra amanhã ao final do dia com um sexto painel, intitulado “A obra de Henrique de Senna Fernandes no contexto de outras literaturas euroasiáticas”, com a presença dos académicos Rogério Miguel Puga, da Universidade Nova de Lisboa, e Melissa de Silva, da Universidade Nacional de Singapura.

24 Out 2023

Cultura | FDC não revela que espectáculos contêm conteúdo “obscenos”

O Fundo de Desenvolvimento da Cultura não revela quais são os espectáculos “obscenos” que motivaram o envio de emails a associações culturais com ameaças de corte de subsídio. Dois artistas contactados pelo HM falam de falta de transparência, numa postura “absurda” do FDC e dizem sentir pressão do Governo que afecta a sua liberdade criativa

Os artistas que receberam, no início do mês, um aviso do Governo sobre a possibilidade do corte de subsídio caso produzam espectáculos com conteúdo “obsceno” continuam sem saber a que espectáculos o Fundo de Desenvolvimento da Cultura (FDC) se refere em concreto. Contactado pelo HM, o FDC, que funciona sob alçada do Instituto Cultural, manteve-se em silêncio, dizendo apenas que “recebeu recentemente várias queixas sobre o impacto negativo do projecto financiado que envolve linguagem obscena”. Desta forma, o FDC “emitiu, como princípio de boa-fé, uma mensagem aos beneficiários sobre as observações na execução de projectos financiados, cujo conteúdo é também claramente referido no regulamento do plano de apoio financeiro”.

Contactado pelo HM, Kevin Chio, da companhia teatral “Rolling Puppet” adiantou que as queixas em causa “são anónimas”, sendo que “nunca foi dito sobre quais espetáculos [em concreto] incidiram as críticas”. “Desconheço qual foi o grau do aviso, a idade das crianças visadas ou se os pais foram propriamente informados. Mesmo que tenha existido conteúdo obsceno, já existem linhas orientadoras para diferentes grupos etários. Não penso que proibir todo o ‘conteúdo inapropriado’ seja uma boa aproximação ao mundo das artes, que deve provocar, usar metáforas”, adiantou.

Kevin Chio não tem dúvidas de que esta foi a forma que o Governo encontrou para “chamar a atenção para a legislação”, nomeadamente para a parte que diz respeito aos “deveres do beneficiário” no Plano de Apoio Financeiro para Actividades ou Projectos Culturais 2024. O artista destaca que, na versão deste ano, se refere que as associações candidatas devem “garantir que o conteúdo da actividade ou projecto candidato e o procedimento de sua execução não violam as disposições legais, nem quaisquer direitos alheios”.

Contudo, na nova versão, para os apoios do próximo ano, acrescenta-se que os projectos candidatos não podem “envolver elementos impróprios, como linguagem indecente e elementos violentos, pornográficos, obscenos, de jogos, de palavrões, de insinuação ou de violação de terceiros”.

“Como pode o FDC fazer este tipo de alteração na regulação sem nos consultar?”, questionou o co-fundador da “Rolling Puppet”, que defende que “às vezes é necessário ter algo de ‘inapropriado’ a fim de reflectir a nossa vida real nas artes”.

“Absurdo e irrazoável”

Jenny Mok, dirigente da associação Comuna de Pedra, foi uma das signatárias da carta aberta. Ao HM, disse que “não há uma acusação sobre determinados espectáculos em concreto, foi apenas um aviso do FDC”.

“É algo estranho, porque eles enviaram-nos este aviso, mas não sabemos porquê. Não há nenhuma transparência naquilo que aconteceu. Não sabemos quem fez as queixas ou a que espectáculos se referem. O Governo disse que houve queixas anónimas e eles decidiram agir, o que é muito estranho porque qualquer pessoa pode agir de forma anónima”, adiantou.

Jenny Mok diz não suspeitar de nenhum espectáculo que esteja em cena, ou que tenha sido exibido nos últimos dias, que possa ter ferido susceptibilidades do público, assumindo que existem sempre conteúdos “irónicos que projectam situações ou indivíduos”, sendo algo difícil de especificar. “Qualquer espectáculo pode ser suspeito”, frisou.

A artista e coreógrafa refere que “não houve explicações concretas sobre o que aconteceu e sobre as queixas”. “Penso que este tipo de avisos tem um efeito negativo [no trabalho dos artistas]. É necessário uma explicação e comunicação [do Governo] depois deste aviso. Não é razoável haver queixas anónimas e recebermos depois um aviso daquela forma.”

“O Governo diz que houve queixas, mas não há nomes. Quando somos financiados, temos de apresentar relatórios sobre os espectáculos, por isso é estranho que tenham feito este aviso com base em queixas anónimas. Não é suposto monitorizarem a situação se houver algum problema com os espectáculos financiados?”, questionou a dirigente da Comuna de Pedra.

Para Jenny Mok, Macau vive uma fase de imposição do “politicamente correcto” que está a afectar o sector das artes. “Mais do que institucional, é algo político. Estamos sob pressão de uma espécie de censura relacionada com a moralidade.”

Na carta em questão, divulgada nas redes sociais, refere-se que o FDC enviou emails a diversas entidades culturais a alertar para que evitem “incluir nas criações [artísticas] elementos impróprios [considerados] indecentes, [como] a violência, pornografia, obscenidade, jogos de azar, insinuações ou violação dos direitos de outras pessoas”, “a fim de evitar o cancelamento do subsídio”.

Recentemente, em declarações à TDM, Alice Kok, curadora e presidente da AFA – Art for All, falou de um panorama difícil no sector das artes, com a diminuição significativa do financiamento público no “período de transição” desde o fim da pandemia.

24 Out 2023

Carmen Mendes, presidente do Centro Científico e Cultural de Macau: “O interesse pelo CCCM tem aumentado”

A presidente do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) participou recentemente numa visita a Pequim organizada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia da China. Carmen Amado Mendes diz que a iniciativa serviu para “aprofundar o conhecimento bilateral de políticas” nas áreas da ciência e tecnologia e que podem surgir novas cooperações com o CCCM

 

Quais os propósitos fundamentais desta visita à China?

[Pretendeu-se] aprofundar do conhecimento bilateral das políticas e do desenvolvimento da ciência, tecnologia e da inovação entre países europeus e a China, assim como o incremento da cooperação nestes domínios. Além dos contactos com a parte chinesa, o programa permitiu estabelecer contactos entre os delegados dos vários países europeus e, consequentemente, ter um conhecimento mais aprofundado e uma panorâmica mais abrangente sobre as relações de cada um desses países com a China.

O programa foi promovido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia da China (MOST, na sigla inglesa) e incluiu ainda conexões com o China Science and Technology Exchange Center [Centro de Intercâmbio para a Ciência e Tecnologia da China]. Até que ponto se enquadram com a filosofia do CCCM? Acha que vão surgir novas parcerias?

O CCCM é um instituto público tutelado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES), vocacionado para promover e divulgar conhecimento enquanto plataforma entre Portugal e a China. Isto foi especificamente referido no Memorando de Entendimento assinado entre o MCTES e o MOST em 2018, sobre a Promoção das Actividades de Cooperação para a Implementação da Parceria China-Portugal Ciência e Tecnologia 2030. E cito a seguinte parte: “A cooperação sobre o património cultural, história da ciência e tecnologia e interações contemporâneas emergentes, pode incluir […] a promoção da colaboração da China e de instituições chinesas com o Centro Científico e Cultural de Macau, CCCM, localizado em Lisboa”. O relacionamento e o intercâmbio institucionais são, por isso mesmo, essenciais.

Porque foi tão importante a presença do CCCM nesta visita?

Foi da maior importância. Os encontros desta natureza permitem dar a conhecer o Centro fora de portas, apresentando as suas actividades e projectos, bem como os vários pilares: a biblioteca, o museu, a casa editorial, o centro de investigação e de formação. É também uma oportunidade para apresentar o que tem sido feito em termos de cooperação institucional e explorar novas oportunidades de cooperação futura com entidades relevantes para a missão do CCCM.

Surgiram oportunidades para novas colaborações com o CCCM?

Sim, mas a sua implementação requer um tempo próprio. Provavelmente, aquela em que os resultados serão visíveis de forma mais célere é o intercâmbio de pessoas. Um exemplo é o posicionamento do CCCM como instituição de acolhimento de estagiários de instituições europeias e chinesas. Os nossos programas de estágio e voluntariado são cada vez mais procurados, incluindo estagiários Erasmus, na Europa, e estudantes chineses. A preparação de candidaturas conjuntas a financiamento de projetos é outra das possibilidades.

Há novidades face ao projecto Macau Academic Hub e Spin Incubator?

Trata-se de um projecto implementado de raiz, que estamos a desenvolver com a Universidade de São José nas instalações do CCCM. Está a andar a bom ritmo, mas é um projecto que tem tanto de desafiante como de complexo, indo desde a criação das infra-estruturas à definição de uma programação, por isso os resultados só serão visíveis a médio prazo.

Que balanço faz da iniciativa “Conferências de Primavera” e número de doutorandos associados? O CCCM conseguiu aumentar a ligação à academia desde que tomou posse?

A adesão às “Conferências de Primavera” ultrapassou todas as expectativas, sendo que o número de intervenções tem oscilado entre as 160 e as 180. O balanço tem sido extremamente positivo, não só pelo número de participantes como pela qualidade das comunicações apresentadas, que têm permitido dar a conhecer o que de mais actual se produz em termos de conhecimento no âmbito dos Estudos Asiáticos. Não sendo o CCCM uma instituição académica, creio que o grande mérito das conferências é congregar a quase totalidade da comunidade académica e científica que trata as questões da China, incluindo Macau, e do resto da Ásia. As bolsas CCCM/FCT são financiadas pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia [FCT]. O programa teve início em 2021 e já temos 25 doutorandos no CCCM a desenvolver as suas investigações relacionadas com a Ásia, e em particular a China, nas mais variadas áreas.

Desde que tomou posse que o CCCM adquiriu maior visibilidade, como esperava?

Referindo-me apenas ao período desde que assumi funções, creio que o interesse pelo CCCM tem vindo a aumentar progressivamente. Para além dos já referidos níveis de participação nas “Conferências da Primavera” e do número de interessados que se candidata às bolsas de investigação, temos tido uma procura crescente dos nossos programas de estágios e voluntariado. O período da pandemia parece estar ultrapassado e há cada vez mais jovens que vêm diariamente trabalhar para as novas instalações do CCCM. A nossa casa editorial também tem recebido muitos pedidos de publicações de trabalhos, nomeadamente no âmbito das colecções conjuntas que criámos com a Universidade de Macau. E o público que vem assistir aos eventos e cursos que organizamos é cada vez mais diversificado. O objectivo é precisamente esse: transmitir conhecimento em Portugal sobre a Ásia, não apenas a especialistas, mas ao público em geral. É a missão do CCCM.

CCCM prepara novo ciclo de conferências para 2024

O Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) prepara-se para organizar, no próximo ano, um novo ciclo de conferências sobre estudos dedicados a Macau, China e à Ásia, à semelhança do que tem acontecido nas últimas duas edições. Podem candidatar-se a este ciclo estudantes de mestrado e doutoramento ou ainda personalidades que desenvolvam, de forma independente, estudos sobre o Oriente.

A edição deste ano do “Ciclo de Conferências da Primavera” decorreu entre os meses de Fevereiro e Março e dividiu-se em três painéis, sobre Macau, China e Ásia, que receberam mais de 100 oradores nacionais e internacionais. No caso do painel sobre Macau, houve lugar a apresentações na área de história, nomeadamente a conferência “Relações Transculturais Portugal-Ásia nos séculos XVI e XVIII”, de Luís Filipe Barreto, académico ligado à Universidade de Lisboa que anterior presidente do CCCM.

Roderic Ptak, académico da Universidade de Munique e colaborador do HM apresentou as “Questões relacionadas ao mundo insular de Guangdong Central e do Lingdingyan no período Ming”, enquanto Célia Reis, investigadora da Universidade Nova de Lisboa, apresentou um estudo sobre a política religiosa entre lisboa e Macau, nomeadamente “a presença de jesuítas e irmãs da caridade nas décadas de 1860-70”.

O painel sobre a história de Macau encerrou-se com a apresentação “Originalidades do poder municipal a Oriente: os casos das Câmaras Municipais de Bardez e Salsete (Goa) e do Senado de Macau”, da autoria de Luís Cabral de Oliveira e João Carlos Faria, académicos da Universidade Nova de Lisboa e Instituto Politécnico de Leiria.

Paquistão em Lisboa

Além do ciclo de conferências da Primavera, o CCCM acolhe com frequência eventos dedicados ao Oriente, bem como cursos e diversas oficinas dedicadas ao patuá, ensino do mandarim ou à história de Macau. O mais recente evento foi a conferência “Paquistão-China: desafios e oportunidades nas relações bilaterais”, com Qamar Cheema, director-executivo do Instituto Sanober, um think tank no Paquistão. Destaque ainda para o facto de, até final deste mês, o CCCM estar a aceitar candidaturas para cinco bolsas de doutoramento, “em qualquer área científica que permita o desenvolvimento do conhecimento no âmbito das Relações Europa-Ásia e dos Estudos Asiáticos”. Estas bolsas são financiadas pela Fundação para a Ciência e Tecnologia do Governo português.

24 Out 2023

Future Bright deixa plano da zona de restauração do Grand Lisboa Palace

O grupo Future Brigth, liderado pelo deputado Chan Chak Mo, vai abandonar o projecto para explorar a zona de restauração do Grand Lisboa Palace, o resort integrado da Sociedade de Jogos de Macau (SJM) no Cotai. Segundo o portal GGR Asia, a empresa anunciou aos accionistas em Janeiro de 2020 que iria gerir o espaço durante três anos, período que coincidiu com o período a pandemia.

Num comunicado divulgado à bolsa de valores de Hong Kong no final da semana passada, a empresa refere que “considerando a actual indústria turística em Macau, o grupo pretende concentrar-se nos negócios existentes para gerar rendimentos estáveis e reduzir as despesas operacionais e encargos financeiros”.

Na mesma nota, o grupo referiu que o valor do activo de direito do uso da zona de restauração do grupo, que deixa de ser reconhecido no âmbito do acordo de rescisão do acordo com a SJM, era de cerca de 22,80 milhões de dólares de Hong Kong.

Em Julho de 2021, em plena pandemia e quando o acordo ainda estava em vigor, a operadora de jogo concordou em reduzir a taxa mínima a pagar pelo acordo por parte da Bright Noble Co Ltd., empresa pertencente ao grupo que seria responsável pela exploração de cafés e restaurantes no Sands Cotai Central.

Cartas no Venetian

Pelo contrário, a Future Bright renovou o contrato, por quatro anos, até 31 de Agosto de 2027, para explorar um restaurante japonês no Venetian, espaço gerido pelo grupo desde 2008. O desempenho financeiro do restaurante “tem sido, de um modo geral, satisfatório”, lê-se no mesmo comunicado.

O grupo Future Bright foi criado em 1984 e desde então tem mantido a sua marca na exploração de diversos espaços de restauração em Macau, além de apostar em serviços de catering ou gestão de espaços de entretenimento.

24 Out 2023

Prémios do Cinema Asiático | Macau acolhe campo para novos cineastas

A Academia dos Prémios do Cinema Asiático vai organizar em Macau, no próximo mês de Abril, a primeira edição do “International Film Camp” para jovens cineastas de toda a Ásia. O objectivo do evento é fomentar o contacto com profissionais da indústria, apresentar projectos e atribuir prémios

 

Os resorts da operadora Sands China em Macau serão o palco da primeira edição do “International Film Camp” (IFC) [Campo de Cinema Internacional], destinado a cineastas emergentes de Macau e de toda a Ásia. O evento está marcado para o período entre 9 e 13 de Abril de 2024 e é uma iniciativa promovida pela Academia dos Prémios do Cinema Asiático, uma organização sem fins lucrativos criada em 2007.

O estabelecimento deste campo para cineastas trata-se, segundo um comunicado divulgado pela Sands China, de “uma iniciativa inovadora que visa estimular e capacitar a próxima geração de cineastas asiáticos”, contando com o apoio do Instituto Cultural de Macau e da Direcção dos Serviços de Cultura, Desporto e Turismo de Hong Kong, entre outras entidades.

Pretende-se que o IFC seja “uma plataforma única para os cineastas emergentes interagirem com profissionais da indústria, obterem conhecimentos valiosos sobre os aspectos criativos e comerciais do cinema e receberem financiamento de produção e oportunidades de distribuição através da Academia dos Prémios de Cinema Asiático”.

Curtas e longas

O IFC aceita participantes com idades compreendidas entre 21 e 40 anos, naturais de Macau, Hong Kong, China e demais regiões e países asiáticos. Os candidatos terão de apresentar propostas para uma curta-metragem de ficção centrada no tema “A minha terra natal”.

Além disso, os interessados na iniciativa precisam submeter uma declaração do realizador e um plano de produção, juntamente com uma amostra de cinco minutos de um trabalho ou trabalhos que já tenham realizado. Será depois feita uma pré-selecção de 30 candidatos para entrevistas conduzidas “por um painel distinto de peritos da indústria”. No final, apenas 16 cineastas serão convidados para participar no IFC.

Entre os dias 9 e 13 de Abril, os escolhidos poderão beneficiar “da orientação de profissionais de renome do sector, que partilharão os seus conhecimentos e fornecerão informações valiosas sobre a realização de filmes”. Espera-se, assim, que o IFC promova “um ambiente de colaboração e apoio, encorajando a troca de ideias e a exploração de novos horizontes criativos”.

Os 16 cineastas apresentarão no final os projectos de curtas-metragens a um painel de jurados que atribuirá a oito deles uma bolsa de produção de 300 mil dólares de Hong Kong a cada um para que realizem o projecto cinematográfico. Este painel será presidido pelo mentor principal do campo, o veterano produtor de cinema Terence Chang, cuja carreira de sucesso abrangeu as indústrias cinematográficas de Hong Kong, Hollywood e China.

A Academia dos Prémios de Cinema Asiático fará depois a curadoria dos projectos desenvolvidos no âmbito do IFC, apresentando-os no programa anual de digressão “Asian Cinerama”. Espera-se ainda que os cineastas escolhidos possam ter apoio da Academia para colocar os seus filmes em diversos festivais e atrair potenciais patrocinadores, “ampliando o seu alcance e exposição na indústria”.

Convidados de honra

A iniciativa conta ainda com diversos convidados de honra, sendo que, de Macau, se incluem nomes como o de Tracy Choi, Emily Chan e Hong Heng-Fai, todos realizadores com um importante currículo na indústria do cinema local.

Wilfred Wong, presidente e director-executivo da Sands China, igualmente presidente da Academia dos Prémios de Cinema Asiático, disse que “o cultivo de talentos desempenha um papel crucial na transmissão do sucesso do desenvolvimento da indústria cinematográfica na Ásia”.

Desta forma, o IFC promete reunir “jovens e emergentes cineastas da área da Grande Baía e das regiões asiáticas”, para participar em workshops, seminários, apresentação de guiões e orientação prática por parte de profissionais da indústria. “O nosso objectivo é cultivar jovens talentosos e preparar o seu caminho para um maior desenvolvimento”, concluiu.

De frisar que, além de ligado ao sector do jogo, Wilfred Wong tem desenvolvido bastante trabalho na área do cinema de Hong Kong, sendo presidente do Hong Kong Film Development Council e da Hong Kong International Film Festival Society.

24 Out 2023

“Amor Escarlate” é o primeiro romance de José Basto da Silva

O macaense José Basto da Silva, presidente da Associação dos Antigos Alunos da Escola Comercial Pedro Nolasco, lançou na última semana o seu primeiro romance. Trata-se de “Amor Escarlate – Memórias dos Tempos de Estudante em Macau” e nasce das crónicas que o autor preparou em tempos para o boletim mensal da Associação dos Macaenses, “A Voz”, cuja publicação foi, entretanto, suspensa.

Ao HM, o autor contou que este projecto literário começou há cerca de seis anos, precisamente na altura em que se aventurou como cronista. Quando “A Voz” deixou de se publicar, José Basto da Silva, formado em engenharia informática, pensou transformar as crónicas que não chegaram a ser publicadas num romance. “Acabei por ficar com alguns textos que nunca chegaram a sair, e achei que seria um desperdício deitar tudo fora. Então decidi romancear todos os textos, e até tinha mais histórias para contar. À medida que vamos escrevendo, recordamos sempre mais histórias.”

“Amor Escarlate” conta “histórias da juventude, dos nossos tempos de liceu, que se passaram nos anos 80 entre os alunos da Escola Comercial Pedro Nolasco e o Liceu de Macau”. Algumas histórias foram vividas na primeira pessoa, outras observadas. “São factos que romanceei para tentar criar uma história que tivesse algum fio condutor e interesse. São coisas que, de facto, aconteceram, paixonetas entre estudantes, pequenas guerras, cenas de pancadaria, rivalidades que existiam entre as escolas, corações partidos. Os problemas da juventude.”

Rivalidades e pequenas guerras

Os tempos da adolescência são, por norma, conturbados, e em Macau não foi excepção nos anos 80, mesmo com a coexistência de três comunidades: a portuguesa, a chinesa e a macaense. “Havia uma certa segregação dos alunos macaenses que iam para a escola comercial e os portugueses que iam para o liceu. Havia uma franja que se misturava, mas no geral, os grupos não se misturavam muito e namorava-se dentro dos grupos. Foi a altura em que surgiram os computadores, a MTV, o BreakDance, o Yo-Yo, e há muitas histórias engraçadas da juventude dos anos 80.”

José Basto da Silva recorda uma espécie de “hierarquia” entre as comunidades. “Havia os alunos macaenses de classe média que iam para a escola comercial, com alguns a ter a aspiração de seguir o ensino superior. Havia os alunos mais mal comportados que iam para o Colégio Dom Bosco, com uma formação mais profissional e que não tinham aspirações [de ir para a universidade], e que com 15 anos começavam a trabalhar. Depois havia a elite, os filhos dos portugueses, dos funcionários públicos, que iam para o liceu, tinham dinheiro, falavam português muito bem e gozavam com os macaenses que falavam português com um sotaque próprio. Havia esta rivalidade.”

“Amor Escarlate” apresenta um certo “twist”, mas o autor não quer revelar algumas das histórias que o livro contém. “Esta incursão pelas letras foi interessante e foi uma aprendizagem. Escrever uma coluna ou artigos científicos são coisas mais objectivas, que não envolvem a imaginação. Escrever um livro obrigou-me a puxar pelas minhas recordações. O processo de escrita tem a sua ciência.”

A obra é editada pela Praia Grande Edições e foi lançada no festival literário Rota das Letras, que terminou na última semana.

20 Out 2023

Macau em destaque em programa de eventos em Almada

O Centro Cultural Fernão Mendes Pinto, em Almada, Portugal, acolhe até Maio de 2024, o programa “Almada na Rota do Oriente”, com uma série de conferências nas áreas da Literatura, História, Sociologia e Etnografia, bem como espectáculos musicais, exibições de filmes e exposições de fotografia, pintura ou instrumentos musicais.

O programa é promovido pela Associação Almada Mundo em parceria com a União de Freguesias de Almada, Cova da Piedade, Pragal, Cacilhas e a Escola Secundária Fernão Mendes Pinto, centrando-se, segundo uma nota de imprensa da organização, no livro “Peregrinação” de Fernão Mendes Pinto, publicado no século XVII.

A iniciativa procura, “recuperar esse legado simbólico para homenagear a fórmula da interculturalidade que marcou a odisseia dos Portugueses pelo Oriente”. “Símbolo das relações entre o Ocidente e o Oriente, ou, em rigor, entre Portugal e a China, Macau será, desta vez, o principal ponto desta rota do Oriente”, acrescentam ainda os organizadores.

“Cantar Macau” na estreia

Macau foi protagonista do primeiro evento, decorrido na quarta-feira, que incluiu o espectáculo “Cantar Macau” com o duo “A Outra Banda”, formado pelo antropólogo e macaense Carlos Piteira e Jaime Mota. Foram cantadas músicas de Macau “com sonoridades revivalistas, no sentido de preservar algumas das músicas do passado”. Os músicos exploraram “canções sobre as vivências e memórias de Macau perpetuadas nas palavras de Poetas que aí viveram, incluindo temas em patuá, crioulo da comunidade macaense e uma das suas marcas identitárias”.

Destaque ainda para alguns eventos que vão decorrer nos próximos meses dedicados a Macau, como a exibição a 16 de Novembro de três documentários sobre o território, da autoria de Carlos Fraga. Para o dia 17 de Janeiro está marcada a conferência “A Literatura de Macau”, protagonizada pelo poeta e autor Jorge Arrimar, bem como “Macau na Rota de Fernão Mendes Pinto”, que decorre a 20 de Fevereiro e que conta com Ana Paula Laborinho e Rui Loureiro como oradores.

No dia 23 de Maio, data da última sessão do programa, são apresentados os “Projectos da identidade macaense na diáspora”, nomeadamente a Fundação Casa de Macau em Lisboa. Organiza-se ainda a conferência “Identidade Macaense: Um modelo analítico com final gastronómico”, com Carlos Piteira e Maria João Santos Ferreira.

20 Out 2023

Exposição | “MIxed”, com artistas de Macau, apresentada em Foshan

É inaugurada amanhã em Foshan uma exposição que reúne 10 artistas de Macau, como Alexandre Marreiros, Sara Augusto e Francisco Ricarte, na galeria “ArtOn Space”. A mostra conta com curadoria de João Miguel Barros e iiOn Ho e nasce de uma parceria com a galeria Ochre Space, em Lisboa

 

Alexandre Marreiros, Alan Ieon, Elói Scarva, Francisco Ricarte, Hugo Teixeira, João Palla Martins, Tang Kuok Hou, Rusty Fox, Sara Augusto e Stefan Nunes. São estes os nomes dos fotógrafos e artistas que vão expor, a partir de amanhã, na nova galeria de arte em Foshan virada para a fotografia e artes visuais: a ArtOn Space.

Intitulada “Mixed”, a mostra conta com curadoria de João Miguel Barros, advogado, fotógrafo e fundador da galeria de fotografia Ochre Space, em Lisboa, com a qual a ArtOn Space estabeleceu uma parceria em termos de curadoria de projectos. A curadoria está também a cargo de iiOn Ho, responsável pela galeria na cidade chinesa.

Segundo disse João Miguel Barros ao HM, foi feita uma proposta a iiOn Ho quanto à possibilidade “de seleccionar alguns trabalhos de artistas de Macau, preferencialmente no âmbito [da sua colaboração] com a associação Halftone”, que edita regularmente uma revista de fotografia no território.

Assim, a associação, criada em Macau ganha, com “MIxed”, a sua “primeira internacionalização”, a partir de “um projecto multifacetado e diversificado, com trabalhos autónomos e independentes (daí o nome da exposição), mas que assentam na ideia da construção e da humanidade”, frisou João Miguel Barros.

A mostra estende-se ainda a outros espaços associados à ArtOn Space, nomeadamente a 272 Gallery by Stream, Sensing Bookstore, SOS perfume e The Calling Hill.

Um ponto de partida

João Miguel Barros cita o texto de apresentação da exposição para explicar que “MIxed” não constitui “um ponto de chegada, mas antes um ponto de partida”. O público poderá ver imagens como “Cinderella Going Home” ou “Out, No Photo”, de Alexandre Marreiros, ou “Senhora das Castanhas”, de Stefan Nunes.

Assim, “além de outros projectos que a ArtOn Space tem em carteira, relacionados com a normal actividade da galeria, esta exposição lança as bases para um projecto mais vasto e ambicioso, que é a dinamização de um evento de larga escala relacionado com a fotografia na cidade de Foshan”, adiantou.

Trata-se de um projecto que “está a dar os primeiros passos junto das entidades governamentais”, centrando-se, numa primeira fase, no espaço da galeria, rematou o curador, tendo a Ochre Space como parceiro internacional. De destacar que a ArtOn Space está situada numa das zonas mais tradicionais da cidade de Foshan.

20 Out 2023

Turismo | Guias com pouco trabalho devido a quebra de excursões

Agnes Lam entende que o modelo de viagens em Macau e no Interior da China alterou-se nos últimos tempos, o que explica a falta de trabalho para muitos dos guias turísticos credenciados no território. A ex-deputada afirma que, cada vez mais, os turistas preferem viagens individuais

 

O turismo recuperou rapidamente desde Janeiro e os números da Semana Dourada deste mês foram bastante simpáticos para o sector, mas a verdade é que os guias turísticos se queixam de falta de trabalho.

Agnes Lam, ex-deputada e professora na Universidade de Macau, defendeu ao jornal Exmoo, num artigo de opinião, que a falta de trabalho dos guias se deve à alteração do modelo de viagem em Macau e no Interior da China, com maior preferência dos turistas pelas viagens individuais.

Agnes Lam indicou que hoje existem menos 100 guias turísticos credenciados face aos que existiam há uns anos, e que ultimamente as pessoas procuram cada vez mais fazer turismo de forma individual em fez de participar em excursões, procurando ainda guias de viagem online. Tais factores fazem com que se reduzam as oportunidades de trabalho para os guias turísticos, frisou.

Recorde-se que na última semana dourada, que significou férias de oito dias para muitas pessoas, Macau atraiu mais de 930 mil pessoas oriundas do Interior da China, ultrapassando as previsões do Governo, atingindo 84 por cento dos turistas chegados a Macau em 2019 no mesmo período.

No entanto, a associação que representa os guias turísticos de Macau disse que muitos se encontram numa situação de subemprego, trabalhando a tempo parcial.

Na China é igual

A académica não deixou de apontar que na China se verificam os mesmos hábitos turísticos. Citando vários relatórios de estudo de agências de viagens do país, Agnes Lam aponta que também se registou uma quebra do número de guias turísticos a nível nacional. Em 2019 havia 121.710 guias registados, com contrato de trabalho, em 2022 esse número baixou para 82.047, uma quebra de quase 40 mil profissionais.

Agnes Lam destacou ainda o papel das redes sociais que oferecem uma alternativa com a publicação de vídeos de locais turísticos que atingem milhões de visualizações, o que faz com que não seja necessário um guia.

Uma vez que estas mudanças estão a alterar o sector, a ex-deputada sugere que o Governo faça um melhor planeamento para o desenvolvimento do turismo, dando mais atenção à situação dos guias turísticos. A académica sugere associar a nova tendência das redes sociais, de publicação de vídeos curtos, ou realização de vídeos em directo, ao trabalho dos guias turísticos, a fim de reforçar a concorrência existente no sector.

20 Out 2023

António Mil-Homens expõe numa galeria em Lisboa

O fotógrafo António Mil-Homens, que viveu em Macau durante várias décadas, tem uma nova exposição na galeria “Acto Abstracto”, em Lisboa, intitulada “Macau, Agora e Sempre”, patente até ao dia 17 de Novembro. Ao HM, o autor das imagens revelou um pouco sobre o processo de criação do conjunto de 19 fotografias, todas a preto e branco.

“Diria que esta é uma mostra essencialmente diferente. Repesquei um conjunto de cinco trabalhos que expus na Creative Macau, em que, pela primeira vez, em termos de conceito, do ponto de vista técnico e edição de imagens, fiz algo de verdadeiramente diferente. Depois seleccionei mais 12 imagens de arquivos que têm já uma outra abordagem ao nível do formato”, contou.

O público pode, assim, ver um quadríptico e um conjunto de 12 telas, sendo que este projecto partiu do convite de Maria João Ramos, também antiga residente em Macau e proprietária da galeria. “Curiosamente, [a Acto Abstracto] só tinha exposto pintura [até à data], mas desta vez a Maria João queria fotografia, e assim aconteceu”.

Entre tradição e arquitectura

As cinco fotografias expostas no formato quadríptico são mais clássicas e com uma abordagem à estética arquitectónica, onde o edifício do Sofitel, na Ponte 16 (Porto Interior), assume uma posição de destaque. As restantes 12 imagens “têm o lado tradicional de Macau, a Macau pela qual me apaixonei logo em 1996 na primeira estadia”.

Na inauguração da exposição, que decorreu no passado dia 13, “as pessoas sentiram-se identificadas com Macau [ao ver as imagens], mas a minha intenção foi sempre fazer uma abordagem diferente”. “Continuam a imagens documentais, mas tentei dar-lhes um cunho diferente”, assumiu.

Desde que regressou a Portugal que António Mil-Homens tem mostrado algum do trabalho fotográfico que fez em Macau ao nível da fotografia artística e documental. A última mostra decorreu em Castelo Branco e teve como nome “Bicicletas de Macau”, onde o autor procurou mostrar os raros sinais da mobilidade através da bicicleta nas ruas de Macau, tendo em conta as dificuldades de locomoção neste meio de transporte devido à poluição e trânsito excessivo.

19 Out 2023

Vacinação | OMS considera Macau “um exemplo”

A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera o programa de vacinação de Macau “um exemplo”, tendo em conta que as autoridades de saúde conseguiram atingir uma taxa de cobertura das vacinas convencionais, no contexto do programa de vacinação, superior a 90 por cento, aponta um comunicado dos Serviços de Saúde (SS).

Estes dados foram analisados na 74ª reunião do Comité Regional do Pacífico Ocidental da Organização Mundial de Saúde, que começou segunda-feira e termina amanhã em Manila.

Na reunião foram abordadas outras políticas na área da saúde em Macau, nomeadamente ao nível da “saúde pública, doenças crónicas, saúde comunitária e saúde mental”, bem como o “controlo do tabagismo e medicina tradicional chinesa”.

Foi referido que, em todas estas áreas, os SS “têm seguido as políticas e iniciativas da OMS”, promovendo-se “uma vida saudável e a elevação da qualidade global de vida da população através da optimização do sistema de saúde”.

A reunião, descrevem os SS, permitiu ao Executivo “inteirar-se da situação actual dos países membros na área de saúde, de modo a elevar o nível dos serviços de saúde prestados em Macau”. A delegação de Macau é chefiada pelo subdirector dos SS, Cheang Seng Ip.

19 Out 2023

Casa da Literatura | Aberto concurso para explorar café

O Instituto Cultural (IC) abriu um concurso público para a adjudicação da exploração do “Café Cultural e Artístico da Casa da Literatura de Macau”, situado no número 95A-B na Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida.

O prazo do arrendamento terá a duração de 36 meses e pretende-se que a cafetaria seja “um espaço com gastronomia, elementos culturais e criativos de Macau” a fim de “promover publicações culturais”, com “serviços de cafetaria e refeições através de takeaway e venda de produtos culturais”.

O despacho relativo ao concurso público, publicado ontem no Boletim Oficial, dá conta que a renda base do espaço será de duas mil patacas, devendo ser paga pelo concorrente uma caução provisória de dez mil patacas e caução definitiva 20 mil. As propostas deverão ser apresentadas até 24 de Novembro.

19 Out 2023

Tabaco | Mais de duas mil pessoas acusadas

Nos primeiros nove meses do ano, os Serviços de Saúde (SS) acusaram ao abrigo da lei de prevenção e controlo tabagismo, 2.317 pessoas, sendo que 2.291 casos dizem respeito a pessoas que estavam a fumar em locais proibidos.

Além disso, foram realizadas 225.402 inspecções a estabelecimentos, o que representa uma média diária de mais de 800 inspecções, que deram origem a 18 casos de venda de produtos de tabaco com rotulagem que não está em conformidade com os requisitos previstos na lei. Os espaços com mais infracções foram os restaurantes, com 449 casos de infracção, representando 19,4 por cento do total, enquanto lojas e demais espaços em centros comerciais constituem nove por cento do total de infracções, com 208 casos.

Já nos estabelecimentos de máquinas de diversão e jogos de vídeo foram detectados 194 casos, representando 8,4 por cento. Foram realizadas, no mesmo período, 408 inspecções em casinos em parceria com a Direcção dos Serviços de Inspecção e Coordenação de Jogos, que resultaram em 166 acusações de fumo em locais proibidos.

Os SS apontam ainda que, em Setembro, 112 locais revelaram uma maior incidência nas infracções à lei do tabaco, nomeadamente o Jardim Triangular. Nestes locais realizaram-se 489 inspecções, com um total de 101 acusações.

19 Out 2023

Faixa e Rota | Ho Iat Seng destaca aposta na digitalização

O Chefe do Executivo disse ontem em Pequim que a digitalização é a aposta das autoridades locais para a diversificação económica e para fomentar o desenvolvimento do sector financeiro.

No discurso proferido no Fórum “Uma Faixa, Uma Rota” para a Cooperação Internacional, onde participam diversos chefes de Estado, Ho Iat Seng disse que esta política criada há dez anos por Xi Jinping “entrou num novo capítulo”. O governante sublinhou que a digitalização da economia na China “injecta novos elementos nos esforços de Macau na concretização do princípio ‘Um País, Dois Sistemas'”, e funciona como “força motriz” na estratégia “1+4” para diversificar a economia.

Além disso, “a digitalização cria um novo modelo de inovação e desenvolvimento da área financeira de Macau, de aplicação e de experiência nas empresas e na população”, descreveu Ho Iat Seng.

O Chefe do Executivo prometeu ainda que o seu Governo irá “optimizar o regime jurídico da emissão monetária” além de “continuar a enriquecer os cenários de pagamento móvel de carteira transfronteiriça e os serviços digitais” no território.

Em relação à iniciativa que celebra uma década, Ho Iat Seng prometeu empenho de Macau na concretização dos objectivos nacionais, “contribuindo com a força de Macau para acelerar o impulso da abertura de alto nível na nova era e do desenvolvimento elevado da criação conjunta da iniciativa ‘Uma Faixa, Uma Rota’”.

19 Out 2023

Arquitectura | Escolhidos vencedores do concurso de fotografia

Chan Weng Kin, Chan U Long e Cheang I Man são os três vencedores da edição deste ano do concurso de fotografia de arquitectura de Macau, promovido pelo CURB – Centro para a Arquitectura e Urbanismo.

Segundo um comunicado da entidade, os trabalhos premiados foram escolhidos de um total de 468 fotografias, submetidas por 198 participantes, que foram avaliados por um “painel de juízes experientes que seleccionaram as melhores fotografias para o tema deste ano, considerando a sua qualidade artística e técnica e originalidade de visão”.

A fotografia vencedora na secção “Grupo de Estudantes” é da autoria de Magno Máximo do Rosário, tendo sido considerada pelos jurados como “representativa da paisagem urbana de Macau, destacando o contraste entre os edifícios altos e o complexo tecido da cidade”. Já os segundo e terceiro prémios nesta categoria foram atribuídos a Yu Yunzhong e Song Sok Fong, respectivamente.

O CURB refere ainda que a edição deste ano “desafiou os entusiastas da fotografia a olharem além do óbvio para capturar a arquitectura negligenciada que merece mais atenção e apreciação”. A cerimónia de atribuição dos prémios decorre no sábado às 17h, e que a exposição com os trabalhos premiados abre ao público a 20 de Novembro no edifício Ponte 9 – Plataforma Criativa, na Rua das Lorchas, zona do Porto Interior, onde está sediado o CURB.

18 Out 2023

Macau recebe primeira edição da “Asia Performance Entertainment Expo”

Macau prepara-se para acolher um novo evento relacionado com o sector das exposições e convenções. Trata-se da “Asia Performance Entertainment Expo” que decorre entre os dias 17 e 19 de Novembro, pretendendo “impulsionar o crescimento da indústria dos espectáculos ao vivo na região da Ásia-Pacífico”.

Outros objectivos do evento prendem-se com a facilitação “do intercâmbio cultural entre os países asiáticos” e unir “os principais intervenientes e profissionais da área”. O evento, que decorre no Venetian, no Cotai, é organizado pela Associação da Indústria de Espectáculos ao Vivo da Ásia-Pacífico (APLPIA).

Segundo um comunicado do evento, a nova Expo terá uma área de exposição de cerca de dez mil metros quadrados, contando com 180 expositores com “uma gama diversificada de participantes do sector, incluindo meios de comunicação social, plataformas de venda de bilhetes ou empresas de entretenimento e de gestão”.

Espera-se a presença de grandes empresas do entretenimento e audiovisual como a Hong Kong Television Broadcasts Limited (TVB), a Maoyan Entertainment, a Damai, a Tencent e a Douyin. Os organizadores esperam poder atrair mais de 500 compradores profissionais e mais de dez mil visitantes, prevendo negócios no valor superior a 100 milhões de dólares.

Concertos e diversão

O evento integra uma série de iniciativas, como o “Fórum da Indústria do Entretenimento” e espectáculos, o “Musical Estrelas do Oceano”, que já estreou na China, e ainda o festival “KoolTai”, que traz a Macau nomes como Suede, Jessie J e Corinne Bailey Rae.

Entre os dias 13 e 16 de Novembro decorrem espectáculos ao ar livre nos principais bairros tradicionais de Macau e Taipa, e nos dias 17 e 18 de Novembro é exibido no Venetian Theatre o filme “The Storm Show”. Também paraa 17 de Novembro está marcado o espectáculo da tour mundial do cantor de Hong Kong Pakho Chau, intitulado “Seize the Moment”, no Cotai Arena no Venetian.
No dia seguinte, o mesmo espaço acolhe o programa “Aproveite o Presente, Crie o Futuro”, com cantores de Hong Kong, Macau e Taiwan.

18 Out 2023

Macau acolhe provas com atletas da China em Dezembro

Duas competições de ténis vão decorrer em Macau entre 4 e 10 de Dezembro, a final do Circuito Profissional de CTA (Macau) 2023, com o apoio da Sociedade de Jogos de Macau (SJM) e Campeonato Nacional de Ténis.

Segundo um comunicado oficial do evento, este será o terceiro ano consecutivo em que a final do Circuito Profissional de CTA se realiza em Macau, uma ocasião “que irá reunir vários tenistas nacionais na cidade para apresentar o mais elevado nível da competição de ténis”. Os jogos irão decorrer na Academia de Ténis de Macau.

Ambas as competições são organizadas pelo Instituto do Desporto (ID) e Administração Geral do Desporto da China, entre outras, sem esquecer a co-coordenação da Associação de Ténis de Macau. O evento conta ainda o apoio de entidades como o Departamento de Propaganda e Cultura do Gabinete de Ligação do Governo Popular Central na RAEM e da Companhia de Desenvolvimento Turístico e Cultural de Chengdu.

Daisy Ho, administradora da SJM, argumenta que recorrendo a Macau como plataforma, “pretende-se demonstrar ao mundo o poder desportivo da China moderna e ajudar a aprofundar o intercâmbio e a cooperação entre o Interior da China e Macau”. Espera-se, segundo a empresária, construir a “sinergia ‘desporto+turismo’ para enriquecer” a política de construção de um centro mundial de turismo e lazer para Macau.

Pun Weng Kun, presidente do ID, disse tanto a SJM Final do Circuito Profissional de CTA (Macau) como o Campeonato Nacional de Ténis se realizam em Macau desde 2021, tendo recebido, em dois anos, “altas recomendações por parte dos atletas participantes e espectadores, e fornecido valiosas experiências de aprendizagem para os atletas de Macau”.

“Estamos muito ansiosos por receber mais uma vez as competições finais do evento em Macau com a participação dos melhores atletas da China. Acreditamos que, através deste evento, podemos intensificar o intercâmbio desportivo entre Macau e China, promovendo a imagem de Macau como cidade de turismo desportivo”, disse ainda.

Li Na novamente em Macau

O “cartaz desportivo” conta com quatro provas em ambas as competições, nomeadamente singular masculino, singular feminino, pares masculinos e pares femininos, com 16 jogadores apurados para as provas singulares e oito jogadores apurados para as provas de pares. A competição será dividida entre a fase de grupos e uma fase eliminatória.

Os bilhetes para assistir aos jogos estão à venda a partir de 1 de Novembro, com um valor a partir de 100 patacas.
Destaque para a presença no território, pelo terceiro ano consecutivo, da tenista Li Na, na qualidade de embaixadora mundial da entidade “Special Olympics International”, para um encontro com a associação local Macau Special Olympics.

17 Out 2023

IIM | Livros “Pequenos Exploradores” apresentados dia 29

Serão apresentados no próximo dia 29 de Outubro os dois primeiros livros da colecção “Pequenos Exploradores”, editada pelo Instituto Internacional de Macau (IIM). A apresentação das obras bilingues ilustradas integra o 5.º Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

Destinadas ao público infantil, as duas edições, intituladas “Um Passeio por Macau” e “É Dia de Festa!” contam com a colaboração da editora Mandarina, da Associação dos Embaixadores do Património de Macau e da Associação dos Jovens Macaenses (AJM) e o apoio do Fundo de Desenvolvimento da Cultura.

As obras inspiram-se “no património e nas festas e festividades de Macau” e têm o objectivo de “criar nos mais novos o interesse pelo património local de Macau, as suas atracções históricas e turísticas, assim como as festividades chinesas e portuguesas mais conhecidas da cidade”. Destaque ainda para o facto de os livros, além de escritos em português e chinês, incluírem uma secção de aprendizagem do patuá, dialecto tradicional da comunidade macaense em vias de extinção, a fim de darem a conhecer os pequenos leitores algumas palavras.

O IIM pretende fazer chegar a colecção de livros às escolas locais, “fazendo com que as crianças tenham mais contacto com as características únicas de Macau”. Espera-se que até ao final do ano possam ser apresentadas mais duas edições desta colecção que se focam nas temáticas da cultura, identidade e gastronomia.

17 Out 2023

Fotografia | “Seeing the Light” é o novo livro de Francisco Ricarte

“Seeing the Light”, novo livro de fotografia de Francisco Ricarte, foi apresentado no domingo no festival literário Rota das Letras, que já terminou. A obra debruça-se sobre a importância da luz na fotografia. Ao longo de 80 páginas e 60 fotografias o autor materializa “um exercício de complementaridade e confronto”

 

O arquitecto Francisco Ricarte, que passou a fazer da fotografia um novo modo de vida, lançou no domingo, no festival literário Rota das Letras, um novo livro de fotografia, intitulado “Seeing the Light” [Vendo a Luz]. Ao HM, o autor revelou que a obra incide sobre um tema que o tem “fascinado na prática fotográfica e pesquisa estética – a luz”. A luz “pode ser entendida sob uma perspectiva metafórica – ver a luz, no sentido de entender ou compreender algo – ou “real”, designadamente se aplicada à fotografia, por nos permitir visualizar, ou tornar evidente o que nos rodeia”.

Além disso, frisou o autor, a luz pode “no sentido inverso, pela sua ausência, obscurecer ou esconder o que nos envolve”. Nas 80 páginas que contêm 60 imagens, reúne-se “um conjunto de registos elaboradas nos últimos três anos”, que mais do que se focar em “espaços ou objectos visíveis”, mostram o que Francisco Ricarte considera ser “a essência da luz e a sua identidade na fotografia: cromatismo, textura, ambiência, por exemplo, quer esta seja de origem natural, quer artificial, como reflectido no livro”. “A luz prevalece e sobrepõe-se relativamente ao objecto, aparentemente fotografado”, adiantou.

Uma diferença de lugares

O livro “Seeing the Light” lida “com espaços de natureza diferenciada, num possível equilíbrio entre locais naturalizados e estruturas edificadas, entre espaços de sacralidade e outros de mundanidade, ou ainda entre matérias perenes e outras de grande fragilidade”, disse o fotógrafo.

Relativamente à paginação da obra, “assume o negro como matéria essencial da luz”, visando “propor ao leitor diálogos visuais entre claridade e obscuridade, uma visão abrangente e visão sectorial, ou ainda a sua percepção pontual que nos faz adivinhar o que não é óbvio ou, aparentemente, visível”.

O autor entende que o livro de fotografia lançado no domingo funciona como um “exercício de complementaridade e de confronto entre o que nos é dado ver e aquilo que nos é dado intuir na fotografia”.

No lançamento da obra, Francisco Ricarte revelou que “há muito persegue o desafio da percepção da luz e dos seus significados através da fotografia”. O autor tenta entender essa luz através da fotografia também “como um sentido de iluminação e auto-expressão”.

Nascido em 1955, Francisco Ricarte tem exercido arquitectura no território nos últimos anos, depois de se mudar para Macau em 2006. Sempre se mostrou fascinado pela Ásia e tem trabalhado, através da fotografia, temáticas como a identidade, lugar, memória, cultura visual, literatura e poesia. Pertencendo à Associação Fotográfica de Macau, responsável pelo lançamento da revista “Halftone”, Francisco Ricarte participou em diversas exposições colectivas e individuais, nomeadamente “At Home”, apresentada no ano passado na galeria da Residência Consular, ou “ASIA.FAR”, exposta na Casa Garden, da Fundação Oriente. O livro “Seeing the Light” já foi apresentado em Portugal.

17 Out 2023

Jogo | Galaxy não vai investir em Boracay

A operadora de jogo Galaxy Entertainment garantiu ontem que não pretende entrar no mercado de jogo das Filipinas investindo em Boracay “para desenvolver um resort”, ao contrário “do que noticiaram recentemente alguns meios de comunicação social”. A operadora afirma ainda que o foco da empresa “é a plena reabertura de Macau e o acelerar da Fase 3 [do projecto no Cotai], recentemente lançada, e a construção da Fase 4” do mesmo empreendimento.

A posição da Galaxy surge depois de vários meios de comunicação social filipinos terem citado declarações do empresário e político Albee Benitez, proferidas no domingo, relativas ao eventual regresso da operadora de jogo às negociações para um projecto em Boracay no valor de 500 milhões de dólares.

Albee Benitez, também Presidente da Câmara da cidade de Bacolod, no norte do país, fundou a Leisure and Resorts World Corp, que mudou de nome para DigiPlus Interactive Corp no início deste ano. Benitez abandonou a liderança da empresa em 2021.

Segundo o GGRAsia, já em 2017 a empresa filipina tinha avançado com a ideia de edificar um resort com casino em Boracay, tendo a Galaxy Entertainment manifestado interesse. No final de 2019, a Leisure and Resorts World disse que iria abandonar a parceria com a Galaxy.

17 Out 2023

Diversificação | Mais de 90% concorda com plano do Governo

Um total de 92,1 por cento dos participantes na consulta pública sobre o “Plano de Desenvolvimento da Diversificação Adequada da Economia da Região Administrativa Especial de Macau (2024-2028)” diz concordar com as propostas apresentadas pelo Governo nesse âmbito.

No total, foram recebidos 832 textos com 1998 opiniões, sendo que a área da “indústria de turismo e lazer integrado” gerou 23,7 por cento das opiniões recebidas, seguindo-se o sector das indústrias de convenções e exposições de comércio, cultura e desporto, com 96,8 por cento das opiniões. Segundo um comunicado da secretaria da Economia e Finanças, “as principais opiniões recolhidas centram-se nos trabalhos prioritários do desenvolvimento das indústrias ‘1 + 4’, o aperfeiçoamento do ambiente e das medidas complementares do desenvolvimento sectorial e o aprofundamento da cooperação regional no desenvolvimento conjunto”.

Realizaram-se 13 sessões de consulta pública, que durou entre 4 de Agosto e 2 de Setembro, três delas dedicadas ao público. Contaram-se com um total de 500 participantes e 59 intervenções.

Este é o “primeiro plano geral e sistemático de desenvolvimento das indústrias de Macau”, sendo que o Executivo promete “proceder com seriedade ao estudo e análise, bem como inserir as opiniões e sugestões que se afigurem viáveis e reúnam o consenso da sociedade no texto oficial do Plano”. As “demais opiniões serão encaminhadas para os serviços competentes para efeitos de estudo e referência”, acrescentou ainda o Governo.

16 Out 2023

CCAC | Caso da estátua de Kun Iam em Hac Sá sob investigação

O Comissariado contra a Corrupção está a investigar os custos de construção da estátua da deusa Kun Iam junto à barragem de Hac-Sá, projecto que acabou por ser suspenso. Chan Tsz King indicou ainda que está a ser ponderada uma alteração à estrutura orgânica do CCAC

 

Apesar do projecto de construção de uma estátua da deusa Kun Iam junto à barragem de Hac-Sá ter sido suspenso pelo Governo devido ao elevado número de críticas sobre o seu custo, a verdade é que o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) decidiu abrir um processo de averiguações e investigar o caso.

Citado pelo jornal Ou Mun, o comissário Chan Tsz King disse que o CCAC recebeu queixas de várias associações e individualidades e decidiu avançar com uma investigação sobre o orçamento e a forma como todo o projecto foi coordenado pelas autoridades. O responsável escusou-se adiantar uma data para a divulgação de resultados da investigação.

Não só o projecto foi fortemente criticado pelos custos envolvidos, tendo em conta o contexto de crise económica pós-covid, como foi alvo de várias piadas nas redes sociais, com imagens da estátua satirizadas. Um dos críticos foi o deputado Ron Lam que apresentou uma petição com oito mil assinaturas a pedir a suspensão do projecto, o que acabaria por acontecer.

Apesar da suspensão da construção da estátua, as autoridades decidiram manter o projecto do Campo de Aventuras Juvenis na praia de Hac-Sá, que passou de um orçamento de 229 milhões para 1,4 mil milhões de patacas.

Em mudança

Segundo o mesmo jornal, Chan Tsz King adiantou que a lei orgânica do CCAC está a ser alvo de alterações, devendo ser apresentada para discussão no Conselho Legislativo “o mais brevemente possível”.

Em causa está “a reorganização de funções, ajustamentos e actualizações de disposições relativamente ao pessoal” do CCAC. O objectivo da alteração legislativa prende-se com a reorganização das actuais competências do CCAC, devendo ser lançado também o Programa de Gestão de Integridade destinado aos funcionários públicos. A ideia é “incutir uma maior e mais eficaz consciência de gestão transparente” e fazer com que os dirigentes dos serviços públicos “assumam a liderança”.

Relativamente ao orçamento para o próximo ano, Chan Tsz King disse que o trabalho do CCAC não será afectado caso lhe seja atribuído menos dinheiro, admitindo, porém, que os actuais recursos são limitados.

16 Out 2023

Luca Argel, músico: “O samba é uma espécie de grito”

“Samba de Guerrilha” é um disco mais falado do que cantado, editado em 2021 e transposto para o palco. Amanhã, às 20h30, Luca Argel sobe ao palco do Teatro Broadway, no Cotai, para contar e tocar com a ajuda da actriz Nadia Yracema. O espectáculo, que integra o cartaz do Rota das Letras, conta diversos capítulos da história do Brasil

 

Como se descreve como músico?

Sou um músico que vem do Rio de Janeiro, onde trabalhava como professor de música de uma escola municipal. Mas acabei enveredando por um curso de mestrado em Portugal em literatura, uma área com a qual sempre trabalhei. Tenho alguns livros de poesia publicados. Quando vim para Portugal fazer o mestrado, no Porto, comecei uma roda de samba como uma brincadeira entre amigos. E ela começou a crescer, a gente começou a receber muitos convites para tocar, e o grupo acabou virando profissional, o “Samba sem Fronteiras”, que existe até hoje. Curiosamente, um grupo de samba fora do Brasil foi o trampolim para investir no meu próprio caminho. Os meus discos sempre tiveram uma ligação muito forte com o samba, por conta dessa história, de ter sido através do samba que me inseri nos palcos. Mas musicalmente também exploro muitas outras coisas. Mesmo quando faço samba, e o “Samba de Guerrilha” é um bom exemplo disso, pois é um samba atravessado com outras influências e géneros, há uma instrumentação e arranjos bem distantes da linguagem mais tradicional e clássica [do samba].

O activismo político é parte integrante da sua música.

Tudo isso [que acabei de referir] está ligado ao activismo, pois o samba ensinou-me muito a respeito da história do Brasil e do nosso passado colonial, e todas as desigualdades que o país traz como herança desse passado. O samba é muito atravessado por essa história, porque nasceu de comunidades de filhos e netos de escravos, com um ritmo periférico, negro. Então, vem carregado de muitas histórias e ajuda muito a gente a entender a história política do Brasil e, por tabela, de Portugal, do que foi o processo histórico de colonização e descolonização. “O Samba de Guerrilha” é, então, uma grande mistura de histórias e exploração estética das possibilidades do samba como género musical.

Como foi transpor o álbum “Samba de Guerrilha” para o palco, com uma actriz [Nadia Yracema]?

Esta não é a primeira adaptação pela qual o “Samba de Guerrilha” passou. Este projecto atravessa muitas linguagens. Começou como uma espécie de workshop cantado, uma mistura de narração de histórias e música, mas em que estava sozinho com a guitarra. Depois fui explorando outras linguagens, e transformei [o álbum] num programa de rádio, na Rádio Universidade do Minho. Escrevi diversos textos em torno do álbum, publicados em revistas, e depois teve o disco, que já foi uma espécie de tradução do que fazia nos workshops. Tive de cortar e seleccionar muita coisa do repertório. Depois voltei ao palco, mas desta vez já com uma encenação e uma actriz, e tive de voltar a um guião mais expandido, pois temos mais tempo para contar as histórias do que no disco. Foi aí que comecei a ensaiar o texto com a Nádia e foram sendo feitas algumas alterações, baseado nas necessidades que sentíamos em palco. Isto porque o “Samba de Guerrilha” é um projecto muito elástico, podemos escolher contar a mesma história de mil formas diferentes, começando ou terminando pela música, por exemplo. É como se o “Samba de Guerrilha” tivesse uma série de blocos e pudéssemos arranjá-los de forma muito livre.

O disco conta a história do Brasil, da escravatura, da Ditadura Militar. Parece possível desconstruir o disco em várias plataformas.

Completamente. Tenho a certeza de que essa adaptação do “Samba de Guerrilha” para o palco é só uma possibilidade, podemos montar o disco ao vivo de outras formas. Uma coisa que quero muito fazer agora é adaptá-lo para um espectáculo mais voltado para crianças e jovens. Tenho vontade de fazer adaptações para outros públicos. Uma curiosidade deste disco é que tem mais texto falado do que música.

A boa música tem frequentemente um lado interventivo, de activismo, e no Brasil, temos vários exemplos, como Caetano Veloso ou Chico Buarque. Mas o uso da interpretação narrativa, do spoken word, torna este disco numa obra diferente. Concorda?

Sim, neste projecto, e no disco mais recente, “Sabina”, em que repeti essa ideia de contar uma história, acho que sim, [que é diferenciador]. Mas é uma idiossincrasia minha, vem um pouco contracorrente do mercado musical de hoje em dia, que é apostar em álbuns, algo cada vez mais raro. Hoje em dia a dinâmica de ouvir música mudou muito e os próprios artistas colocam-se mais no lançamento de “singles”, uma coisa mais rápida de consumir e de promover, é aquilo que passa nas rádios. Um disco como o “Samba de Guerrilha” vai completamente contra essa lógica, podendo até ouvir as músicas em separado. Mas a experiência do álbum só funciona se o ouvirmos do princípio ao fim.

Acha que o Brasil tem ainda de se reconciliar com a sua história?

Sim, com certeza. Há ainda muita reconciliação e não é só no sentido de conhecer a história, é também uma reconciliação de se fazerem reformas sociais que deveriam ter sido feitas há 100 anos e nunca foram, porque são raízes dos problemas do presente. A questão da desigualdade social, e muito específica, que recai sobre a população negra, que é muito flagrante. A desigualdade, no Brasil, é um problema que tem cor. Isso tem uma clara origem na forma como se deu a abolição [da escravatura] no Brasil, em 1888, pois não se fez acompanhar de uma série de reformas que deveriam garantir que aquelas pessoas iriam conseguir integrar-se na sociedade com o mínimo de igualdade de oportunidades. Não fazendo isso, o problema tornou-se numa bola de neve. Hoje temos os problemas da pobreza, da reforma agrária, e o Estado brasileiro nunca se propôs a fazer essas reformas. Contar essas histórias é chamar a atenção para as raízes do problema.

Sentiu que tinha a responsabilidade, como músico, de abordar estas questões?

Não diria isso, mas acho que estava numa circunstância em que isso me parecia o caminho mais acertado. Foi o samba que viabilizou o meu trabalho como músico, mas o facto de ser um emigrante brasileiro em Portugal, e estar na posição curiosa de fazer música brasileira fora do país, e, ainda por cima, um género como o samba, que na sua origem tem essa má resolução do que foi o passado colonial, levou a sentir-me numa posição muito fértil de levantar esse assunto, em Portugal especificamente, onde existe uma lacuna. Em Portugal existe também uma visão muito superficial do que é o samba e o que é a cultura brasileira. É uma visão um pouco…

Redutora?

Redutora e idealizada demais, no sentido em que a cultura brasileira se resume a uma certa leveza, à festa, à alegria.

Então, o que é o samba? Qual a sua definição?

Para mim, é uma resposta a uma realidade de muita desigualdade e miséria dentro das comunidades onde nasceu. O samba é uma espécie de grito em forma de música, um refúgio em que essas comunidades se protegeram e uniram para conseguir sobreviver. O samba é uma desculpa para as pessoas se reunirem, conhecerem, criarem laços e fazerem alguma forma de resistência e dar algum sentido a uma vida muito difícil e sem perspectivas.

É uma música triste e, ao mesmo tempo, alegre.

A história do samba está cheia de contradições (risos).

O seu primeiro álbum, “Bandeira”, foi lançado em 2017. Desde aí, o seu processo de composição ganhou uma forma diferente?

Sim. Acho que a cada álbum encontro uma nova maneira de fazer música, a cada novo projecto. Claro que existe uma linha temática, estética, que vem desde o “Bandeira”, que tem músicas que ainda hoje toco nos meus concertos, que fazem sentido. Mas gosto de buscar sempre uma abordagem nova, um universo sonoro novo. Uma linha que tenho visto de projecto para projecto é o afastamento gradual na forma de escrever música “sambista”. O “Bandeira” é um álbum muito “sambista” na composição das músicas, na forma de escrever as canções, e no “Samba de Guerrilha” afasto-me um pouco disso, nos arranjos. No “Sabina” já estou bastante fora do samba enquanto estética, mas de certa forma a ligação com o samba está a ficar um pouco abstracta. Vou arriscando outros caminhos.

Vai ser um desafio apresentar “Samba de Guerrilha” em Macau, para um público que também é chinês?

Sim. Confesso que não tenho a menor ideia de como o espectáculo vai chegar aos ouvidos do público chinês, embora tenha alguma ideia de como vai chegar no público português e brasileiro. Não sei de que forma o público chinês vai se relacionar. Por ser Macau, que tem uma relação histórica com Portugal, pode ser especialmente interessante.

13 Out 2023