EventosArte Macau | Museu do Neo-Realismo português apresenta-se em Macau Andreia Sofia Silva - 15 Set 2025 Foi inaugurado na sexta-feira o “Pavilhão da Cidade de Vila Franca de Xira”, integrado na Arte Macau: Bienal Internacional de Arte de Macau que apresenta peças da colecção do Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira. O director do museu, David Santos, conta ao HM o que o público poderá esperar do trabalho de 14 artistas que compõem a mostra Representações artísticas do neo-realismo português vão estar em exibição numa exposição incluída na programação da Arte Macau: Bienal Internacional de Arte de Macau. De Vila Franca de Xira, vieram 20 obras de 14 artistas portugueses que integram o “Pavilhão da Cidade de Vila Franca de Xira”, com curadoria de David Santos, director do Museu do Neo-Realismo, localizado na cidade do distrito de Lisboa, e José Maçãs de Carvalho, artista visual. O projecto nasceu de um convite do Consulado-geral de Portugal e Hong Kong e do Instituto Português do Oriente. Os trabalhos, de artistas como Alice Geirihas, Ana Pérez-Quiroga, André Cepeda, Carla Filipe, Fernando José Pereira, José Maçãs de Carvalho, Luciana Fina ou Luísa Ferreira, entre outros, “dão uma expressão e uma perspectiva da qualidade da colecção do Museu do Neo-Realismo ao nível da produção mais contemporânea”, explicou ao HM David Santos. “A colecção do museu está mais focada nos trabalhos dos anos 40, 50 e 60, um período referente à afirmação do movimento cultural e artístico neo-realista em Portugal. Mas através de ciclos de arte contemporânea feitos desde 2006 que vários artistas contemporâneos têm feito doações ao museu e à sua colecção, o que tem vindo a enriquecer a colecção ao nível da expressão contemporânea”, referiu. As 20 obras presentes no Pavilhão correspondem a um período compreendido entre os anos de 1990 até 2025 e constituem “a expressão do melhor que tem sido feito na arte portuguesa nos últimos 25 anos”. A mostra “é também uma forma de afirmar o peso e a importância institucional da colecção do Museu do Neo-Realismo”, acrescenta David Santos. A nova realidade A mostra intitula-se “A Reinvenção do Real” e apresenta sinais do movimento Neo-Realista, “uma arte com um sentido mais crítico, com maior observação sobre as questões sociais e política, fazendo memória, de algum modo, e também uma homenagem ao espírito que alimentou o Neo-Realismo no seu sentido contestatário ao Estado Novo e à ditadura, em meado do século XX”. Porém, David Santos salienta que o criticismo inerente ao movimento artístico, e a própria “observação do real é diferente nos seus conteúdos”, embora haja “pontos e uma relação próxima com esse sentido contestatário, crítico, interventivo na consciência do observador, do espectador da obra de arte”. Assim, os 20 projectos artísticos presentes nesta mostra em Macau remetem “para um olhar muito crítico sobre alguns temas da nossa contemporaneidade, como a questão da guerra ou a percepção sobre o sistema capitalista, o modo como nos desenvolvemos, de forma consciente ou não, com o mundo e com o real, ou até sobre a importância da própria imagem”. Há, nestas obras, “um processo de significação daquilo que nos rodeia do ponto de vista social e político, mas sempre com um assento crítico”, pelo que não se pode encontrar uma arte mais abstracta, mas sim “formalista”, no sentido em que “todas as obras têm uma grande ligação ao real”. Apresentar esta mostra em Macau propõe um certo diálogo, tendo em conta que “a arte contemporânea, e a arte de todos os tempos, sempre se relacionou com o seu tempo e o seu espaço, e pode-se dizer que a arte produzida em Portugal, ou por artistas portugueses, está a ser mostrada num contexto do Extremo-Oriente”. “Sabemos que Macau é uma região com uma ligação muito forte a Portugal, até do ponto de vista histórico”, acrescentou o director do museu. A participação de José Maçãs de Carvalho como artista e curador é salientada por David Santos, até por se tratar de um ex-residente de Macau. “Trata-se de um artista que já fez exposições individuais no Museu do Neo-Realismo e colaborou com a Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira, e tem uma relação próxima com a cidade e o museu. Além disso, é alguém que tem experiência de afirmação artística no contexto de Macau na segunda metade dos anos 90, e isso foi importante na decisão de o convidar.” Algo que já não existe Apesar de podermos observar em “A Reinvenção do Real” certas referências ao Neo-Realismo, este é “um movimento que já não existe”, pelo menos na sua forma mais pura de contestação a uma ditadura, até porque esse regime terminou em 25 de Abril de 1974. David Santos explica que “até ao início dos anos 60 ainda podemos falar da existência de um movimento neo-realista na literatura, artes plásticas, mas desde aí que não é possível pensarmos numa expressão artística identificada com a designação de neo-realismo”. Contudo, persistem “preocupações políticas e sociais em artistas de diversas gerações, mas não significa que estes artistas que cá estão [na exposição] são os novos neo-realistas”. O que há é “um ponto entre as preocupações sociais e políticas que são manifestadas no trabalho artístico de artistas de outras gerações, nomeadamente dos mais recentes, mas isso não faz deles artistas neo-realistas”. “Estamos quase com 100 anos passados sobre esses meados do século passado [em que surgiu o movimento neo-realista] e os artistas de hoje revêem-se em cruzamentos que não são possíveis de identificar no período neo-realista. Portanto, não há um novo movimento, mas na expressão individual da criatividade de cada artista aqui representado, encontramos ligações com a questão do Neo-realismo e com o sentido crítico dessa tal reinvenção do real”, destacou David Santos. A Bienal Internacional de Arte de Macau foi inaugurada a 18 de Julho e inclui um total de 30 exposições e 46 artistas, sendo que muitas das actividades já terminaram. A mostra com as obras do Museu do Neo-Realismo pode ser vista na Galeria Tap Seac até 16 de Novembro.