Aperfeiçoar a economia de Macau (II)

A semana passada, analisámos a questão de se encaminhar os visitantes das tradicionais atracções turísticas para as zonas comunitárias, aumentando assim as receitas do comércio local nas áreas onde os residentes vivem o seu dia a dia. Desta forma, mais pessoas poderiam beneficiar do consumo dos turistas e o número de lojas encerradas poderia ser reduzido.

Para que este plano seja bem-sucedido, devemos começar a receber concertos e a criar carreiras de autocarros turísticos entre as salas de espectáculos e as áreas turísticas comunitárias. Os organizadores dos concertos terão de assinar contratos com os artistas. Se houver mais do que um artista a actuar deve assinar-se contratos com cada um deles. A sociedade de Macau deve decidir se os autocarros serão cedidos pelas empresas de transportes locais ou por outras empresas. A empresa que ficar encarregue deste serviço deve decidir se as viagens serão ou não gratuitas.

Com os autocarros turísticos a fazerem a ligação entre os locais dos concertos e as áreas de turismo comunitário, os turistas podem facilmente ser transportados. Como já mencionámos, estes locais situam-se nas zonas onde os residentes vivem o seu dia a dia. Originalmente, estes locais não eram considerados turísticos. Portanto, a primeira tarefa é atrair turistas para estas zonas e a segunda é levá-los a fazer compras nas lojas locais. Esta segunda questão terá de ser abordada e resolvida pelos comerciantes interessados.

A maior parte dos produtos que se encontram nas lojas de Macau vêm de Zhuhai, de Zhongshan e de outros locais. Actualmente, a maioria dos turistas que visitam Macau e Hong Kong provêm do Interior da China. Se encaminharmos turistas vindos da Área da Grande Baía para as zonas comunitárias e esperarmos que façam compras nas lojas locais não teremos grande êxito porque os produtos que aí se encontram à venda estão disponíveis nas cidades onde residem.

Além disso, esses produtos são mais caros em Macau do que na Área da Grande Baía e ninguém vai querer comprar por preços mais altos o que pode comprar mais barato. É preciso não esquecer que desde que começou o movimento conhecido como “os carros que se dirigem para Norte”, ou seja, a deslocação em massa dos residentes de Macau para fazer compras nas cidades próximas do Interior da China, o consumo local caiu significativamente. Este foi também um dos motivos da redução do consumo local. Não é surpreendente que a queda no consumo tenha resultado no encerramento de várias lojas que ficaram incapacitadas de pagar os alugueres.

Só existe uma forma de resolver o problema de os residentes saírem da cidade para fazer compras e também de levar os turistas do Interior da China a consumirem nas áreas comunitárias, e isso passa por ter produtos de maior qualidade, inovar e ter coragem para procurar a mudança.

Existe um famoso restaurante de hot pot na China continental. Quando abriu, não passava de uma pequena loja desconhecida. Mais tarde, à medida que o negócio floresceu, foram abrindo cada vez mais sucursais. O restaurante de hot pot foi diversificando a sua oferta e passou a vender os seus produtos em supermercados, embalados em caixas de plástico que continham tudo o que era necessário para aquecer as refeições. Era um “hot pot portátil”.

Os clientes podem adquirir a refeição sem terem de se deslocar ao restaurante. Além disso, quando as pessoas vão aos restaurantes de hot pot ficam impregnadas com um forte odor proveniente das refeições. Esta cadeia criou um serviço de lavagem da cabeça para que o odor desapareça. Todos estes serviços têm a ver com “inovação”. Em gestão, existe uma teoria que defende a inovação das empresas. Se a nossa empresa estagnar, mas os nossos concorrentes evoluírem, significa que os outros mudam enquanto nós não. Se o nosso concorrente for melhor, nós seremos eliminados.

Para além de procurar corajosamente a mudança, o tipo de produtos vendidos deve também ser ajustado. Os turistas da área da Grande Baía não compram facilmente produtos que podem adquirir em casa. No entanto, se os produtos vendidos nas lojas de Macau tiverem elementos portugueses que representem a fusão cultural de Macau, tornar-se-ão mais atractivos.

Produtos fabricados pelos jovens de Macau, como malas de mão e T-shirts, reflectem a mentalidade da juventude local e são um símbolo da sua forma de estar na vida, que é precisamente o que os adeptos do turismo imersivo procuram. Muitos dos imanes para frigoríficos vendidos nas lojas representam locais turísticos de Macau. E se em vez disso passássemos a fazer imanes com especialidades de Macau? Quando os turistas virem estas imagens nos seus frigoríficos vão naturalmente lembrar-se do tempo que passaram em Macau. Vão voltar a evocar estes sabores e reavivar as suas memórias, que estarão sempre frescas.

Para resumir, criar uma carreira de autocarros especial para levar o público dos concertos a consumir nas zonas comunitárias é uma estratégia que vale a pena tentar. Mas é essencial que as lojas destas zonas tenham a coragem de mudar e disponibilizarem produtos e serviços únicos e de boa qualidade. Só desta forma o comércio pode verdadeiramente beneficiar da visita dos turistas.

O consumo dos turistas nas lojas das zonas comunitárias é particularmente importante. Este consumo representa receitas para as lojas. À medida que estas receitas aumentarem, os impostos que pagarão ao Governo também irão aumentar. O Governo de Macau pode ter mais receitas criando novos impostos. Desta forma, podemos desfrutar dos benefícios de “um visto para fins múltiplos”. Neste sentido, toda a sociedade de Macau pode lucrar.

Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
Professor Associado da Escola de Ciências de Gestão da Universidade Politécnica de Macau
Blog: http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog
Email: legalpublicationsreaders@yahoo.

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