EUA tentaram provocar Pequim para atacar Taiwan e espalharam desinformação sobre vacinas chinesas

Xi Jinping disse que os Estados Unidos tentaram provocar os militares chineses para que atacassem Taiwan, mas que Pequim não mordeu o isco, noticiou o Financial Times no sábado, citando fontes

 

De acordo com pessoas alegadamente familiarizadas com o assunto, Xi fez as observações durante uma reunião privada com a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em Abril de 2023. O Presidente chinês também terá transmitido aos seus funcionários as preocupações sobre as alegadas tentativas de Washington de levar Pequim a invadir a ilha autónoma

O Financial Times descreveu os comentários de Xi a von der Leyen como a primeira vez conhecida em que ele disse a um líder estrangeiro que os EUA estavam a tentar incitar Pequim a invadir Taiwan. O Presidente chinês explicou ainda que um conflito com os EUA seria prejudicial para a China e faria descarrilar os seus planos para um “grande rejuvenescimento” até 2049. O projecto, também conhecido como “sonho chinês”, visa criar um “país socialista moderno, próspero, forte, democrático, civilizado e harmonioso”.

Há muito que a China acusa os EUA de fomentar as tensões sobre Taiwan e denuncia a venda de armas de Washington a Taipé. Pequim também protestou contra as visitas de altos funcionários norte-americanos à ilha, incluindo a antiga Presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, alegando que isso viola a soberania da China. Neste contexto, a China efectua regularmente exercícios militares no Estreito de Taiwan.

Em 2022, Xi afirmou que, embora Pequim procure uma reunificação pacífica com a ilha, “não está empenhada em abandonar o uso da força” para atingir esse objectivo. Em Março, o chefe do Comando Indo-Pacífico dos EUA, almirante John Aquilino, sugeriu que as forças armadas chinesas estariam preparadas para invadir Taiwan em 2027. As autoridades de Pequim negaram ter quaisquer planos a curto prazo para usar a força contra a ilha, acusando os EUA de “exagerar a narrativa da ameaça chinesa”.

O Presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que Washington defenderia Taiwan se esta fosse atacada pela China, embora tenha posteriormente admitido que a resposta exacta “dependeria das circunstâncias”.

Desinformação dos EUA sobre vacinas chinesas

Por outro lado, um relatório da Reuters revelou que o Pentágono espalhou desinformação sobre as vacinas Sinovac na Ásia no auge da pandemia. Marcello Ferrada de Noli, professor emérito de epidemiologia na Suécia e antigo investigador da Harvard Medical School, disse à que a alegada campanha nas redes sociais do Pentágono sobre a vacina chinesa contra a Covid foi provavelmente uma tentativa de suprimir a concorrência.

A Reuters, citando ex-oficiais militares dos EUA, relatou no início desta semana que os militares dos EUA realizaram uma campanha secreta de desinformação para desacreditar a vacina Sinovac da China em 2020-2021. A campanha concentrou-se nas Filipinas, usando contas falsas nas redes sociais que se faziam passar por moradores locais para criticar a vacina chinesa, bem como kits de teste e máscaras faciais produzidas pelo país. A campanha terá assim evitado que muita gente se vacinasse atempadamente e provocado milhares de mortes. Posteriormente, terá alastrado a outras partes da Ásia e do Médio Oriente.

De acordo com de Noli, embora as campanhas anti-vacinas sejam frequentemente descritas como tendo por objectivo impedir totalmente as pessoas de serem vacinadas, no caso das vacinas chinesas e russas tratava-se de uma questão de rivalidade. “Em vez disso, penso que o objectivo foi desencorajar marcas específicas de vacinas produzidas na Rússia e na China para vender a esses países vacinas produzidas por empresas americanas ou pelos seus associados na Europa”, afirmou, salientando que tanto os EUA como a UE têm “contactos directos com as grandes empresas farmacêuticas”.

De Noli referiu que a campanha noticiada pela Reuters está longe de ser o único caso em que os EUA procuram desacreditar as vacinas produzidas na China ou na Rússia. Por exemplo, ele lembrou um relatório altamente divulgado de 2021 do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA que revelou que as autoridades de saúde americanas sob o então Presidente Donald Trump haviam trabalhado para desencorajar o Brasil de comprar a vacina Sputnik V fabricada na Rússia.

De acordo com de Noli, estes casos de concorrência desleal são “muito graves do ponto de vista da epidemiologia e do controlo de infecções”, especialmente porque a Sputnik V foi a “primeira vacina disponível no mundo e claramente eficaz”.

Biden igual a Trump

De acordo com a Reuters, a campanha contra a Sinovac começou sob a administração Trump e continuou durante meses na presidência de Joe Biden, e só foi interrompida na Primavera de 2021. Os porta-vozes que representam Trump e Biden não quiseram comentar o assunto. Um alto funcionário não identificado do Pentágono reconheceu a campanha, mas não forneceu mais detalhes. Uma porta-voz do Pentágono não confirmou a existência da campanha, mas disse que os militares dos EUA “usam uma variedade de plataformas, incluindo as redes sociais, para combater esses ataques de influência maligna dirigidos aos EUA, aliados e parceiros”. Alegou ainda que a China tinha lançado uma “campanha de desinformação para culpar falsamente os Estados Unidos pela propagação da COVID-19”.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês afirmou, num e-mail enviado à Reuters, que não ficou surpreendido com o relatório, uma vez que há muito que afirma que Washington espalha desinformação sobre a China.

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