Literatura | Sara F. Costa lança o seu primeiro livro de ficção em Fevereiro

Conhecida pela sua poesia e proximidade com a língua chinesa, Sara F. Costa decidiu aventurar-se num novo género literário e o resultado está aí: “Cidade Cinza” é o seu primeiro romance, apresentado como “experimental”, e será lançado na edição deste ano do Festival Correntes d’Escritas que acontece na Póvoa do Varzim

 

Maddy vive na cidade de Cinza, da qual pouco ou nada sabe. Para ela, este território é uma novidade. Segue-se uma busca pela urbanidade do lugar, os seus mistérios e complexidades, “num trilho de descobertas e reencontros”, tratando-se também de “um desafio aos limites na busca de laços familiares perdidos no tempo”.

“Cidade Cinza”, novo livro da autora portuguesa Sara F. Costa, prestes a ser lançado em Portugal, vagueia pelas categorias de fantasia, fantástico ou ficção científica, sendo a estreia da escritora, habitualmente poetisa e tradutora, no género literário da ficção. Com a chancela da editora Labirinto, “Cidade Cinza” será lançado em Fevereiro e também na próxima edição do festival literário Correntes d’Escritas, que decorre na cidade portuguesa Póvoa do Varzim.

A história interliga-se com as próprias vivências da autora, que residiu em Pequim, onde estudou mandarim. Segundo um comunicado, este é um “romance experimental”, onde os elementos da história não são colocados ao acaso e todos “são, de alguma forma, autobiográficos, embora dificilmente o leitor conseguisse decifrar tais elementos porque a história parece passar-se num sítio sem tempo nem espaço”.

Descreve-se ainda que o estilo narrativo é inspirado “na própria prosa contemporânea chinesa e em escritoras um tanto desconhecidas para a maior parte do público português como Can Xue ou Shen Dacheng”. Mas há espaço também para as influências de nomes como Jorge Luís Borges, Samuel Beckett ou Italo Calvino.

No primeiro capítulo de “Cidade Cinza”, descreve-se um condomínio como “uma espécie de criança impossível, atravessada entre os dentes”, onde “nenhum rosto humano [está] ao abrigo da dialéctica”. Foi para este condomínio que se mudaram os pais de Maddy, a personagem principal que tenta descobrir os meandros desta cidade de cor cinza.

Uma certa “essência”

O enredo de “Cidade Cinza” apresenta ainda uma “intrínseca interconexão entre o destino dos seus habitantes e a própria essência da cidade”, sendo que a narrativa de Sara F. Costa se caracteriza “por uma dissolução das fronteiras entre o real e o fantástico, onde a atmosfera é impregnada por um aroma que mescla elementos urbanos com vislumbres de uma fauna surreal”.

É nesta “metrópole” que se apresenta o percurso de Madddy, em que a cidade se apresenta como “fusão de tradições ancestrais e avanços tecnológicos”, manifestando-se como “um labirinto de experiências alucinatórias, confundindo e cativando os seus moradores com a incerteza sobre as suas identidades”.

Assim, “Maddy empreende uma jornada para desvendar os mistérios da sua origem e reconectar-se com uma família distante, ultrapassando os limites desta cidade enigmática, enfrentando desafios inesperados”. Na cidade, a melancolia “assume a forma de um cão depressivo e os ambientes de trabalho convertem-se em espaços que remetem a jardins tropicais”, pelo que Maddy “atravessa um universo repleto de simbolismos”.

Desta forma, “cada elemento [do livro] apresenta um convite à reflexão, espelhando a complexidade da condição humana”. Maddy procura sempre, “através de uma jornada repleta de realidade e ficção, atenuar a sua ansiedade existencial, procurando uma compreensão mais profunda no meio do caos que a circunda”. Esta cidade cinza é reflexo da “contínua procura do ser humano por entendimento e serenidade num mundo fracturado e misterioso”.

Percurso premiado

Nascida em 1987, Sara F. Costa já marcou presença em Macau por diversas vezes, tendo sido uma das convidadas da última edição do festival literário Rota das Letras, dada a sua proximidade à literatura e cultura chinesas. A obra da autora tem sido galardoada com diversos prémios literários. O seu último livro, “A Transfiguração da Fome”, obteve o Prémio Literário Internacional Glória de Sant’Anna para melhor obra de poesia publicada em países de língua portuguesa em 2018.

Como poeta europeia emergente, Sara F. Costa participou no Festival Internacional de Poesia e Literatura de Istambul 2017 e, no ano seguinte, fez parte da organização do Festival Literário de Macau e do Festival Internacional de Literatura entre a China e a União Europeia em Shanghai e Suzhou, China.

Em 2019, foi autora convidada da segunda edição do “Chair Poetry Evenings” em Calcutá, India. Para além da poesia, escreve também ficção e traduz literatura chinesa para português e inglês.

Em 2020, Sara F. Costa lançou ainda uma antologia de poesia contemporânea chinesa por si seleccionada e traduzida, intitulada “Poética Não Oficial“ e também editada pela Labirinto. Publicou várias crónicas no HM e foi membro da direcção da associação APWT – Asian-Pacific Writers and Translators). Obteve em 2021 uma bolsa de criação literária do Governo português. Dessa bolsa surgiu o livro “Ser-Rio, Deus-Corpo”, traduzido também para castelhano e inglês.

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