Música | Carlos Piteira e Jaime Mota reavivam “A Outra Banda”

Co-fundador e membro de “A Outra Banda”, projecto musical que existiu em Macau entre 1990 e 1998, o antropólogo Carlos Piteira resolveu recriar a banda em Portugal, dando novas roupagens às músicas e letras. Cantar Macau, bem como os seus poetas e escritores, é o principal lema de uma iniciativa que tem marcado presença em alguns eventos em Portugal ligados a Macau e à lusofonia

 

Entre 1990 e 1998, quando Macau se preparava para dizer adeus à Administração portuguesa, existiu no território um projecto musical único dedicado a cantar a sua cultura e literatura. “A Outra Banda”, co-fundada pelo antropólogo e investigador Carlos Piteira, foi um projecto musical composto por cinco músicos que terminou após a edição do primeiro um álbum. Anos depois, e já em Portugal, Carlos Piteira decidiu “renascer das cinzas” este projecto, desta vez apenas com o músico Jaime Mota.

“A Outra Banda” tem marcado presença em eventos ligados a Macau e à lusofonia, a convite de entidades como a Casa de Macau em Lisboa ou a UCCLA – União das Cidades Capitais da Língua Portuguesa, entre outras.

“Temos estado a navegar e prontos a dar voz se nos chamarem”, conta, entre risos, Carlos Piteira ao HM. “Queremos falar Macau na voz dos poetas e dar vida ou voz à poesia ou música que mantém viva a chama de Macau e dos macaenses. Trabalhamos temas do quotidiano de Macau e as festividades, como é o caso do Festival dos Barcos Dragão. Tentamos dar sempre algum enquadramento aos temas. Também retratamos algumas situações ligadas à história de Macau, como é o caso das casas de ópio”, adiantou.

Essencialmente, “A Outra Banda” trabalha os concertos e os temas em torno de quatro abordagens, sendo que o patuá, através da poesia de Adé dos Santos Ferreira, não é esquecido. Cantam também as palavras de Camilo Pessanha ou, de forma mais contemporânea, Jorge Arrimar, poeta e ex-residente de Macau. “A Outra Banda” dá voz , no total, a dez poetas de Macau.

“Este é um projecto pessoal que não conseguiria fazer sozinho”, disse Carlos Piteira, que descreve uma conjugação de gostos e interesses por Macau na ligação a Jaime Mota. “Conheci o Jaime ao longo dos tempos, das bandas dos anos 60 e 70. Ele tocava teclas e fazia algumas orquestrações. Tocámos juntos algumas vezes e penso que ele também se identificou muito com Macau, local com o qual criou uma ligação afectiva.”

Novo figurino

O projecto nascido há 30 anos tem hoje o mesmo nome, mas há diferenças na musicalidade e na apresentação dos temas. “Tentámos recuperar as melodias que já estavam construídas e esquecidas, que faziam parte da minha memória e da memória dos que estiveram em Macau nesse período, e reproduzi-las num contexto de divulgação dos poetas e do que foi um percurso feito em Macau”, adiantou Carlos Piteira.

“Decidi manter o nome do grupo porque é uma forma de tributo ao que fizemos em Macau naquela década, mas com uma roupagem diferente, não tão elaborada. Lá tínhamos outras condições, mais músicos, e a possibilidade de tocar com a orquestra chinesa. Aqui estamos reduzidos a um papel mais singular”, frisou Piteira.

Em Macau, nos anos 90, “A Outra Banda” chegou a integrar o cartaz do Festival Internacional das Artes de Macau, bem como a tocar com a orquestra chinesa.

Anos depois, Carlos Piteira e Jaime Mota decidiram “recuperar os arranjos, as sonoridades que passaram pelo grupo e as vocalizações”. “O projecto nasce por prazer lúdico que temos em fazer música e também pela necessidade de marcar a presença de Macau pela via da literatura e musicalidade. Sendo macaense e observador das questões de Macau achei que seria importante esta divulgação, ainda que de forma amadora. Não temos nenhuma pretensão de profissionalismo. Queremos conjugar a componente dos afectos.”

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