500 anos da morte de Fernão de Magalhães

A 27 de Fevereiro de 1521 morreu Fernão de Magalhães no Arquipélago de S. Lázaro (Filipinas). Até tal ocorrer, falta relatar a etapa para a qual se realizara a viagem e nunca feita por nenhum europeu, atravessar o Pacífico.

Ainda no Atlântico, a armada estava em San Julián (49º 30’ Sul) a 31 de Março de 1520 e o Inverno fazia-se já sentir, com intenso frio e vento, prognosticando dificuldades logo no início do desconhecido da viagem.

Três capitães castelhanos, liderados por Gaspar de Quesada e Juan de Cartagena, revoltaram-se contra a autoridade de Fernão de Magalhães e na madrugada de 2 de Abril, após prenderem o capitão Álvaro da Mesquita, tomando a nau San Antonio, exigiram ao capitão-mor o retorno a Espanha. No final do dia os amotinados estavam controlados, Mesquita libertado e além da morte às mãos do oficial da justiça de Luís de Mendonza, capitão da Victoria, foram agrilhoados os outros dois capitães e presos quase cem tripulantes.

Enquanto decidia os castigos, Magalhães a 5 de Abril voltou a entregar a Mesquita o lugar de capitão da San Antonio, passou Duarte Barbosa a capitão da Victoria e Estêvão Gomes a piloto na Concepción.
Sendo os principais culpados espanhóis colocados pela Coroa na armada, o Capitão-mor estava num dilema com o julgamento. De fácil condenação por ter puxado de arma e morto um piloto, Quesada foi executado a 9 de Abril, decapitado à espada pelo seu criado, que assim salvou a própria vida. Já a Juan de Cartagena, fidalgo da corte nomeado pelo Rei, e ao padre que sempre o acompanhava, não ousou castigá-los com a condenação à morte.

Sentenciou abandoná-los ali com alguns mantimentos e entregues à vontade de Deus. Para poder prosseguir a viagem, Magalhães comutou as penas de traição aos amotinados tripulantes.

Em prospecção para Sul, a Santiago, a mais hábil e rápida nau, capitaneada por Juan Rodriguez Serrano, explorava a costa quando naufragou perto do Rio de Santa Cruz (50º Sul) a 22 de Maio. Um homem afogou-se, conseguindo os restantes chegar à costa e enviar dois emissários a pé a avisar do ocorrido. Onze dias caminharam até San Julián, enquanto aí, os tripulantes do resto da armada se divertia com dois homens gigantes que apareceram e por amistoso inicial contacto, ganha a confiança, foram capturados afim de os levar para Espanha. Devido aos grandes pés deram-lhes o nome de Patagão e daí essas terras se chamarem Patagónia.

Abandonando Cartagena e o sacerdote em San Julián, a 24 de Agosto partiam as quatro naus para Santa Cruz, onde recolheram os náufragos da afundada Santiago e o seu capitão Serrano passou a comandar a Concepción. Prosseguiam, mas um temporal obrigou a aí se resguardarem o resto do Inverno.

Três dias de navegação e a 21 de Outubro de 1520 estavam no Cabo das Onze Mil Virgens (52º 22’ S). Na imensa enseada, feita a prospecção pelas costas do estuário, encontraram um estreito com águas a correr de um lado para o outro. Nessa passagem, que ficaria conhecido como Estreito de Magalhães, entrou a armada a 25 de Outubro e após percorrer 110 léguas, a 26 de Novembro atingia o Mar do Sul.

Na travessia, a 8 de Novembro a armada dividiu-se, seguindo Serrano na Concepción e Álvaro da Mesquita na San Antonio em prospecção a um braço de água surgido a bombordo. Magalhães na Trinidad e a Victoria prosseguiram ao longo da costa e contornando-a, encontraram um rio de água doce e cheio de sardinha. Aproveitaram para abastecer e enviar um batel explorar mais além, para se saber onde abria o Mar do Sul e de um alto monte se visualizou a passagem a seguir. Regressaram ao ponto de encontro a 13 de Novembro, mas faltava a nau San Antonio, a maior e a mais abastecida, que procurada não apareceu.

Após desembocar do estreito patagónico, ainda nessa península a 22 de Novembro reabasteciam-se no Rio das Sardinhas e perante inúmeros canais, a 26 as três naus seguiram para Norte, entre as ilhas e a costa.

Atravessar o Pacífico

A 28 de Novembro de 1520, deixando de ter a bombordo o Cabo Deseado (52º1/3 Sul), em mar calmo navegaram para Norte vinte dias ao longo da costa, protegidos por as montanhas dos fortes ventos. A 18 de Dezembro, aos 46º Sul viravam a Noroeste mar dentro e nos 110 dias, “quase 20 mil km do oceano aberto, não encontraram uma única tempestade. Iludidos por essa experiência única, chamaram-lhe o Pacífico”, segundo Daniel J. Boorstin em Os Descobridores, que adita, “Se Fernão de Magalhães não tivesse sido um mestre dos ventos, não teria conseguido atravessar o Pacífico. Ao sair do estreito, não rumou directamente a noroeste para chegar às suas desejadas ilhas das especiarias; navegou primeiro para norte ao longo da costa ocidental da América do Sul. O seu objectivo devia ser apanhar aí os ventos alísios nordestais predominantes que o levariam não para as Molucas, onde constava que os Portugueses dominavam, mas sim para outras ilhas de especiarias ainda livres para serem tomadas pelos Espanhóis.”

Calculada a travessia do Pacífico em algumas semanas, julgou-se suficientes os víveres existentes para três meses, mas, com as distâncias subestimadas, revelaram-se muito parcos ao quarto mês. Os mantimentos escasseavam, a água estava podre e para comer colocavam a demolhar em água salgada durante dias o couro das vergas amolecido com serrim e pagou-se ouro por ratos, tal a falta de comida. As gengivas inchavam com o escorbuto e além do gigante patagónio, vinte tripulantes morreram de fome.

Até cruzar a linha do Equador encontraram duas pequenas ilhas desabitadas, sem abastecimento. Com vento largo e correntes favoráveis chegaram a 6 de Março de 1521 a Guan, nas ilhas Marianas, ou dos Ladrões, onde, para parar com os roubos mataram sete indígenas e abastecidos de arroz, água e fruta, partiram.

A 16 de Março de 1521 avistou-se a ilha de Samar, era o Arquipélago do Poente, a que Fernão de Magalhães deu o nome de São Lázaro, mas só no dia seguinte parou na ilha de Humunu (Homonhon). Seguindo para Sul, aportou na ilha Mazaguá (Massava) a 28 de Março e enviou Henrique como intérprete, que compreendeu a fala local pois baseada no seu malaio. Estabelecida grande amizade, foram lautamente banqueteados nessa Sexta-feira Santa e no Domingo de Páscoa, na praia montou-se um altar e realizaram as celebrações. Os nativos, repetindo os gestos, logo se quiseram converter.

Magalhães, animado ao saber estar a Norte das Molucas e perante a enorme adesão dos locais, procurou para a coroa espanhola novos territórios e fiéis. De maior importância era a ilha de Cebu, onde chegou a 7 de Abril e dez dias depois, numa grandiosa cerimónia converteu-se o Rei Humabon e todo o povo. Para mostrar o poder, numa guerra que não era sua, Magalhães vai apenas com sessenta homens à ilha de Mactán obrigar o chefe local a pagar tributo ao de Cebu. Crendo-se imbatível com a armadura e poder de fogo, imprudente, subestimou o adversário e nas águas do Pacífico lacerado e cravejado de setas morria a 27 de Abril de 1521 Fernão de Magalhães.

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