Jorge Rodrigues Simão PerspectivasAs ambições do combate às alterações climáticas [dropcap style≠’circle’]”T[/dropcap]he reality we now face implores us to act. Today we’re dumping 70 million tons of global-warming pollution into the environment, and tomorrow we will dump more, and there is no effective worldwide response. Until we start sharply reducing global-warming pollution, I will feel that I have failed.” Al Gore O que seria necessário para combater as alterações climáticas? Como seria esse combate na realidade sem atrasos, truques, falhas, e fugas de responsabilidade? Só será possível responder a esta e a muitas outras questões se conseguirmos entender o superior limite da ambição no combate às alterações climáticas. A meta acordada pelos países no “Acordo de Paris”, em 12 de Dezembro 2015, é de o aquecimento global se situar muito abaixo de 2 graus Célsius, com esforços de boa-fé para manter a elevação da temperatura em 1,5 graus Célsius. Os países não estão a mover-se em uma direcção que se aproxime o suficientemente rápido para atingir esse alvo, daí estarmos actualmente no caminho certo para atingir algo à volta de 3 graus Célsius. É geralmente aceite que atingir 2 graus Célsius seria bastante ambicioso, enquanto atingir 1,5 Célsius seria menos que milagroso. Ainda que não exista nada, como um plano do mundo real para atingir essa meta, os modeladores climáticos criaram muitos cenários sobre como seria possível realizar. No entanto, a maioria desses cenários dependem fortemente de emissões negativas, ou seja, formas de puxar o dióxido de carbono para fora da atmosfera. Se as tecnologias de emissões negativas puderem ser ampliadas no final do século, o argumento vai dar espaço para emitir mais no início do século. E é o que a maioria dos cenários actuais de 2 graus Célsius ou 1,5 graus Célsius mostram, pois as emissões globais de carbono aumentam a curto prazo, e precipitam rapidamente para se tornarem negativas por volta de 2060, com giga toneladas de carbono, posteriormente, capturadas e enterradas no restante do século. A gigante petrolífera Shell lançou um cenário nesse sentido há algumas semanas. Espera-se que o principal instrumento de emissões negativas seja a “Bioenergia com Captura e Armazenamento de Carbono (BECCS na sigla inglesa)” que é bioenergia (queima de plantas para gerar electricidade) com captura e sequestro de carbono. A ideia é de que as plantas absorvam carbono à medida que crescem quando são queimadas, sendo possível capturar e armazenar esse carbono. O resultado é a electricidade gerada à medida que o carbono é removido do ciclo electricidade de carbono líquido negativo. A maioria dos cenários actuais recorre a muitos “BECCS” no final do século para compensar os pecados de carbono do passado e do futuro próximo. A pequena complicação é que actualmente não há indústria comercial de “BECCS”. Nem a parte “Bionergia (BE na sigla inglesa)” nem a “Captura, Sequestro e Armazenamento (CCS na sigla inglesa)” foram demonstradas em qualquer escala séria, muito menos na escala necessária. A área de terra necessária para cultivar toda essa biomassa para a “BECCS” nesses modelos é estimada em cerca de uma a três vezes o tamanho da Índia. Talvez se pudesse compelir rapidamente uma indústria “BECCS” massiva. Mas apostar em emissões negativas no final do século é, no mínimo, um jogo enorme e fatídico, pois aposta a vida e o bem-estar de milhões de pessoas futuras em um sector que, para todos os efeitos, ainda não existe. Muitas pessoas concluem razoavelmente que é uma má ideia, mas as alternativas têm sido difíceis de encontrar. É de recordar que não tem havido muita construção de cenários em torno de objectivos realmente ambiciosos e anular o carbono o mais rápido possível, manter o aumento da temperatura o mais próximo dos 1,5 graus Célsius e, o mais importante, minimizar a necessidade de emissões negativas. Essa é a limite superior do que é possível. Três situações recentes ajudam a preencher essa lacuna que é a “Transformação Global de Energia: Um Roteiro para 2050”, da “Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA na sigla inglesa)”, que é uma organização intergovernamental que apoia os países na sua transição para um futuro energético sustentável, traduzido em um plano que visa uma oportunidade de 66 por cento de permanecer abaixo de 2 graus Célsius, principalmente através de energia renovável. Os analistas da “Ecofys”, que é uma empresa de consultoria líder em energia renovável, energia e eficiência de carbono, sistemas e mercados de energia e política de energia e clima, divulgaram recentemente um cenário para anular as emissões globais até 2050, limitando assim a temperatura a 1,5 graus Célsius e eliminando a necessidade de emissões negativas. Um grupo de académicos da “Agência de Avaliação Ambiental da Holanda”, publicou um artigo na revista “Nature Climate Change” em que investigam como alcançar a meta de 1,5 graus Célsius, minimizando a necessidade de emissões negativas. Porque razão atingir 1,5 graus Célsius é urgente? Os americanos não atribuem muito sentido a temperaturas Celsius, e meio grau de temperatura não parece muito importante. Mas a diferença entre 1,5 graus Célsius e 2 graus Célsius de aquecimento global é um assunto muito sério. O “Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC na sigla inglesa)”, publicará uma revisão científica sobre o tema em Outubro de 2018, e um outro trabalho recente publicado na “Nature Climate Change” enfatiza claramente a ambição do combate de 2 graus Célsius para 1,5 graus Célsius, que evitaria cento e cinquenta milhões de mortes prematuras até 2100, noventa milhões de mortes através da exposição reduzida a partículas e sessenta milhões de mortes devido à redução do ozono. É de considerar que mais de um milhão de mortes prematuras seriam evitadas em muitas áreas metropolitanas da Ásia e da África, e mais de duzentas mil mortes em áreas urbanas individuais em todos os continentes habitados, excepto na Austrália. E não é tudo! É, claro, que a diferença entre 1,5 graus Célsius, e 2 graus Célsius, pode significar a diferença entre a vida e a morte de alguns países ilhas. Não há tempo a perder. De facto, pode haver um tempo negativo. Limitar a elevação da temperatura a 1,5 graus Célsius, é possível, mesmo em teoria, somente se o orçamento de carbono para essa meta estiver no limite das estimativas actuais, pelo que, e novamente 1,5 graus Célsius, só é possível se começarmos, com os auxílios, imediatamente, e tivermos sorte. O tempo não está a acabar, estamos além dele. O que é necessário para limitar o aumento de temperatura a 1,5 graus Célsius? Os três cenários são diferentes de várias formas. Os dois primeiros projectos consideram até 2050, mas o trabalho da “Nature Climate Change” é uma previsão para 2100 e têm como alvo situações diferentes e usa ferramentas distintas, mas compartilham algumas grandes cláusulas de acção, características que qualquer plano climático ambicioso inevitavelmente envolverá. O primeiro será aumentar radicalmente a eficiência energética. Quanta energia será necessária até 2050? Isso depende da população e do crescimento económico, mas também depende da intensidade energética das economias do mundo e quanta energia primária necessitam para produzir uma unidade de PIB. O aumento da eficiência reduz as emissões e existe uma corrida com crescimento populacional e económico e para descarbonizar radicalmente com emissões negativas mínimas, a eficiência precisará de superar o crescimento. O cenário da Shell mostra uma procura global de energia muito maior nas próximas décadas e o crescimento supera a eficiência. O cenário da “IRENA”, reduz as emissões globais relacionadas à energia em 90 por cento até 2050 e dessa percentagem é de considerar que 40 por cento é proveniente da eficiência energética. A “IRENA” afirma que a intensidade energética da economia global deve cair dois terços até 2050. Os avanços na intensidade energética terão de acelerar de uma média de 1,8 por cento entre os anos de 2010 a 2015 para uma média de 2,8 por cento ao ano até 2050. No cenário da “Ecofys”, a eficiência energética é tão elevada que a procura total de energia global é menor em 2050 do que actualmente, apesar de uma população muito maior e uma economia global três vezes superior à actual. O documento da “Nature Climate Change” resume a abordagem necessária à eficiência em primeiro lugar, através da aplicação rápida das melhores tecnologias disponíveis para a eficiência energética e material em todos os sectores relevantes em qualquer a região. Todos os sectores relevantes em todas as regiões significa electricidade, transporte, edifícios e indústria, com os materiais e tecnologias disponíveis mais eficientes, em todo o mundo, começando imediatamente, em segundo lugar, pelo aumento radical da energia renovável. Todos os cenários prevêem que as energias renováveis, principalmente a eólica e a solar estão rapidamente a dominar a electricidade. O cenário da “IRENA” prevê que as energias renováveis cresçam seis vezes mais rápido, fornecendo 85 por cento da electricidade global até 2050. A “Ecofys” faz com que forneçam 100 por cento da electricidade global, com esse sector completamente descarbonizado até 2040, mesmo que a procura global por electricidade triplique. O documento da “Nature Climate Change” observa que a visão do domínio das energias renováveis rápidas em todos esses cenários, tem em comum o envolvimento de suposições optimistas sobre a integração de energias renováveis variáveis e custos de transmissão, distribuição e armazenamento e em terceiro lugar, a ideia é de electrizar tudo, pois notavelmente, todos os três cenários envolvem fortemente a electrificação de sectores e aplicações que actualmente operam com combustíveis fósseis. No caso da “IRENA”, a electricidade sobe de 21 por cento do consumo total de energia global actual para 40 por cento até 2050. No cenário da “Ecofys”, atinge os incríveis 70 por cento. O estudo da “Nature Climate Change” é aumentado para 46 por cento em comparação com 31 por cento no caso de referência e defender a electrificação não é complicado. Sabemos como aumentar radicalmente a oferta de electricidade com zero carbono e a oferta de combustíveis líquidos com zero carbono é muito mais difícil. Daí que faça sentido mover o máximo de energia possível para a electricidade, principalmente para veículos, aquecimento, refrigeração domésticos e aplicações industriais de baixa temperatura. O cenário da “Ecofys” é particularmente claro, pois se a energia renovável e a eficiência energética forem as ferramentas primárias de descarbonização, esta de forma completa requer que se faça a electrificação e em quarto lugar, é de considerar que se gere um pouco de emissões negativas. Ainda que as intenções dos pesquisadores da “Ecofys” e da “Nature Climate Change”, em particular, fossem minimizar a necessidade de emissões negativas, também não foram capazes de eliminá-las completamente. É de considerar que independentemente da rápida descarbonização os pesquisadores da “Ecofys” afirmam que o orçamento de carbono de 1,5 graus Célsius é provavelmente, excedido. A única forma de se manter em 1,5 graus Célsius é absorver o excesso de carbono com emissões negativas. A “Ecofys” acredita que as aplicações de “CCS” serão confinadas principalmente à indústria e o restante pode ser trabalhado por florestamento, reflorestamento e sequestro de carbono no solo, ou seja, por métodos “não-CCS” de emissões negativas, e acrescenta que esse excesso de carbono remanescente é significativamente menor do que a maioria dos outros cenários de baixo carbono. No estudo da “Nature Climate Change”, a necessidade de “BECCS” pode ser completamente eliminada somente se cada uma das outras estratégias for maximizada Os pesquisadores concluíram que sobre as emissões negativas, que embora o estudo mostre que opções alternativas podem reduzir bastante o volume de “Remoção de Dióxido de Carbono (CDR na sigla inglesa) para atingir a meta de 1,5 graus Célsius, quase todos os cenários ainda dependem do “BECCS” e/ou reflorestamento, mesmo a combinação hipotética de todas as opções alternativas que ainda capturou 400 GtCO2 por reflorestamento). Logo, o investimento no desenvolvimento de opções de “CDR” continua a ser uma estratégia importante se a comunidade internacional pretender implementar a meta do “Acordo de Paris” pelo que os formuladores de políticas devem procurar estratégias de emissões negativas, mas a pensar em cenários alternativos como um seguro contra a possibilidade de que essas estratégias encontrem obstáculos sociais ou económicos imprevistos.
António de Castro Caeiro PolíticaLinguagem I [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]um dos seus textos icónicos sobre linguagem poética (A linguagem “Die Sprache” in Unterwegs zur Sprache, 9-33, 1959), Heidegger “destrói” o seu sentido habitual ou, pelo menos, o sentido que Heidegger determina como o habitual na tradução ocidental. A) A primeira qualificação essencial da linguagem é ser uma forma de expressão. B) A segunda é ser uma actividade. C) A terceira implica a linguagem no próprio horizonte configurado pelo humano. A tese positiva que Heidegger diz ser a que resulta da inteligibilidade intrínseca da linguagem é formulada numa tautologia: “Die Sprache spricht” impossível de verter directamente para português: “a linguagem fala”. À letra seria a “linguagem língua”. A tese que subjaz a este enunciado procura mostrar como a linguagem fala a partir do ser do humano, do acontecer não anulável em que de cada vez desde sempre já somos. A língua diz, enuncia, permite falar, conversar. E na verdade, já à partida em cada um de nós que diz “sou”. Cada um de nós existe numa conversa de si para si sobre si. Proferimos em sons o que queremos dizer. Mas também em interjeições, inflexões e pausas. Muitas vezes também não emitimos som algum. Outras vezes falamos sozinhos. No sonho ou na realidade, na ficção ou na lembrança agradável ou desagradável do passado, na relação com o futuro a haver com e sem esperança, com pessoas ou sozinhos estamos sempre numa atmosfera de linguagem em que se diz e há coisas dizíveis, se sabe o que se quer dizer ou não se consegue dizer o que se sabe. A) A linguagem é uma forma de expressão. De acordo com Heidegger não há nada de errado com esta tese. Mas fica aquém de uma determinação constitutiva. A argumentação parece ser retórica. Há um conteúdo a decorrer no interior de cada pessoa, seja mental, anímico ou espiritual. Ocorrem-nos ideias, vêm-nos à ideia pensamento, temos lembranças, fazemos previsões, dizemos o que vamos fazer, antecipamos situações. A linguagem formula uma expressão desses acontecimentos interiores, que mais ninguém vê no momento em que são tidos, num nível de representação subjectivo. Por outro lado, há conteúdos do mundo real que vêm a uma expressão. Como está o dia, quem vemos à nossa frente, percursos tomados, sítios onde vamos, tarefas que executamos, funções que desempenhamos, livros que lemos, cafés que tomamos, etc., etc.. A linguagem exprime conteúdos reais, pessoas reais, circunstâncias, situações com agentes reais. A crítica visa fundamentalmente um esquema de correspondência e de espelhos ou de reflexos que tem na base substâncias e um sistema de traduções. A diferença entre um em si e a referência ou a referência e um ou mais sentidos implica uma abertura à compreensão que dá ou reteria inteligibilidade ao facto de a linguagem fora do âmbito de correspondência “querer dizer algo de si ou acerca de outrem, acerca das coisas que não são o próprio”. E tudo de tal forma em que a expressão está já constituída- como de resto todas as impressões e os modos como se nos inculcam e o estado em que nos deixam- no ser desde sempre já da existência humana num “espaço lógico”, “numa atmosfera linguística”, na relação de compreensão que ganha inteligibilidade ou não sobre o que quer que seja inclusivamente sobre si. B) Ser uma actividade é outra das determinações da linguagem. Não apenas no sentido linguístico em que podemos obter denotações dos factos de que as coisas são o que são numa descrição ao pé da letra e objectiva. Mas também podemos visar sentidos por conotação, indo até um sentido figurado ou literário, não imediato e não factual, pelo menos aparentemente. Há enunciados declarativos que resultam de uma pergunta. Há respostas a pedidos, desejos formulados, ordens recebidas, vozes de comando que estão numa tensão imperativa. Há perguntas que se fazem directa e indirectamente. Todo o sistema verbal modal, o aspecto perfectivo e imperfectivo, os tempos, as vozes está implicado numa estrutura muito mais complexa do que aparentemente se possa compreender. No fundo, a actividade resulta no que se põe em prática à luz da linguagem. Há tanta expressão de linguagem na explicação de um poema ou de um teorema como na actividade de fazer café, acender e apagar luzes, descer e subir escadas, ir e vir, partir, ficar e regressar. C) O humano tem uma relação com a linguagem não no sentido em que se exprime com a linguagem, diz-se a si próprio, diz de si ou negativamente não tem palavras que não encontra para o fazer, não consegue imaginar-se no lugar do outro, não sabe como é que o outro se encontra. O humano é tido pela linguagem. A sua atmosfera é a linguagem no sentido em que está sob pressão de esclarecimento e explicação de si para si sobre o que acontece na vida real, na realidade objectiva e sobre aquilo para que lhe dar. A língua é o meu de resolução de todos os problemas que lhe são postos, questões levantadas. Só dela virá sossego e é ela que traz toda a inquietação. Mas ela não diz apenas o que está já aí, que possa ser espelhado pela formulação linguística. A linguagem põe de pé o futuro, projecta resultados, antecipa situações, faz prognósticos, dá previsões, permite-se predizer o que é constituído pela própria potência da linguagem. A linguagem chama, convoca, apresenta, esquece, faz desaparecer.
Hoje Macau China / Ásia MancheteCoreias | Presidente dos EUA cancela cimeira com Kim Jong-un O Presidente norte-americano, Donald Trump, cancelou ontem a cimeira com o líder norte-coreano, Kim Jong-un, prevista para 12 de Junho em Singapura, invocando uma “raiva tremenda e hostilidade aberta” da Coreia do Norte [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]uma carta dirigida a Kim Jong-un, Trump informa que o encontro não terá lugar. “Estava muito ansioso por me encontrar lá consigo. Infelizmente, tendo em conta a raiva tremenda e hostilidade aberta demonstrada na sua declaração mais recente, considero ser inapropriado, neste momento, realizar este encontro, há muito planeado”, diz o Presidente dos EUA, na missiva. O cancelamento da cimeira acontece depois dos Estados Unidos e Coreia Sul terem realizado exercícios militares na península e das declarações do vice-presidente norte-americano. Aliás, uma alta responsável da diplomacia norte-coreana classificou também ontem de “idiotas e estúpidos” os comentários do vice-Presidente norte-americano e avisou que a Coreia do Norte poderia reconsiderar a cimeira planeada com o Presidente Donald Trump. “Não posso esconder a minha surpresa perante as observações idiotas e estúpidas vindas da boca do vice-Presidente norte-americano”, salientou a vice-ministra norte-coreana dos Negócios Estrangeiros, Cheo Son-hui, em declarações citadas pela agência de notícias oficial do país, a KCNA. A governante norte-coreana referia-se a uma entrevista ao vice-presidente norte-americano, Mike Pence, no canal de televisão Fox News, na segunda-feira, e na qual este afirmava que o processo de desnuclearização da Coreia do Norte podia seguir o modelo da Líbia, que terminou com a morte de Muammar Kadhafi, após este ter renunciado ao projecto de construir a bomba atómica. Cheo Son-hui questionou ainda se valeria a pena realizar a cimeira com Donald Trump se estas declarações reflectem a posição de Washington. “Não iremos nem implorar aos Estados Unidos por diálogo, nem ter o trabalho de os convencer, se não quiserem sentar-se connosco”, acrescentou, de acordo com a KCNA. A vice-ministra norte-coreana qualificou ainda a entrevista de “imprudente”, prevenindo que Pyongyang não irá sentar-se à mesa das negociações sob ameaça. Voos cancelados A Coreia do Sul e os Estados Unidos terminaram ontem, um dia antes do previsto, os exercícios militares aéreos que decorriam perto da fronteira norte-coreana, disse à agência de notícias EFE um porta-voz do Ministério da defesa sul-coreano. “O exercício Max Thunder fica concluído hoje [sexta-feira] como estava previsto, mas a manobras de voo terminaram ontem e os pilotos só participarão hoje numa sessão informativa”, adiantou a mesma fonte. O porta-voz não quis adiantar os motivos pelos quais os exercícios de voo iriam terminar antes da data programada, mas nos últimos dias a operação Max Thunder levou o regime da Coreia do Norte a congelar o diálogo com Seul. Na passada semana, Pyongyan mudou drasticamente o tom utilizado nos últimos meses com Seul e Washington, considerando que os exercícios se tratavam de um ensaio para invadir o seu território e que a utilização “de activos estratégicos norte-americanos” nestas manobras – numa referência aos bombardeiros B-52 – contrariavam o que havia sido expresso na declaração conjunta firmada entre os líderes das duas Coreias a 27 de Abril. O próprio Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, considerou durante a sua última viagem à capital norte-americana, esta semana, que o fim dos ‘jogos de guerra’ contribuiria para que fossem retomados os contactos entre os dois países. Mais de 100 aeronaves participaram nos exercícios, incluindo caças furtivos F-22.
Hoje Macau China / ÁsiaImpostos | China contra “abuso” de Washington da lei de segurança nacional A China opôs-se ontem a que os Estados Unidos “abusem da cláusula da segurança nacional”, depois de o Presidente norte-americano, Donald Trump, ter sugerido um aumento dos impostos sobre veículos importados com aquele argumento [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]quela decisão “prejudicará o sistema de comércio multilateral e perturbará a ordem do comércio internacional”, afirmou Gao Feng, porta-voz do ministério chinês do Comércio, numa conferência de imprensa, em Pequim. “Seguiremos de perto o desenvolvimento da investigação nos EUA e faremos uma revisão sobre o possível impacto”, acrescentou o porta-voz, insistindo que Pequim velará pelos seus interesses e direitos legítimos. A reacção chinesa surge depois de Trump aludir a motivos de segurança nacional para justificar novos impostos, como fez anteriormente, quando subiu as taxas alfandegárias sobre o aço e alumínio importados. A possibilidade de Washington subir os impostos sobre veículos importados surge dois dias depois de a China anunciar um corte nas taxas alfandegárias para veículos importados, de 25 por cento para 15 por cento, e para 6 por cento, nos componentes automóveis. Os dois países têm estado em negociações, ao longo do último mês, para evitar uma guerra comercial, depois de Trump ter ameaçado subir os impostos sobre um total de 150.000 milhões de dólares de exportações chinesas para os EUA. O Presidente norte-americano, Donald Trump, exige a Pequim uma redução do défice dos EUA em “pelo menos” 200.000 milhões de dólares, até 2020, visando cumprir com uma das suas principais promessas eleitorais. Trump quer ainda taxas alfandegárias chinesas equivalentes às praticadas pelos EUA e que Pequim ponha fim a subsídios estatais para certos sectores industriais estratégicos. Na próxima semana, o secretário norte-americano do Comércio, Wilbur Ross, deve visitar Pequim para continuar as negociações. “A China dá boas-vindas a que os EUA enviem uma delegação de alto nível (…) e espera que, através dos esforços conjuntos de ambos os países, se promova a colaboração económica e comercial entre ambas as partes e se obtenham resultados positivos”, disse Gao. Numa declaração conjunta, difundida no domingo passado, ao fim de dois dias de conversações, em Washington, Pequim concordou em “aumentar significativamente” as suas compras de produtos agrícolas e recursos energéticos norte-americanos. O documento não prevê, no entanto, que a China pare de subsidiar indústrias chave e garanta uma melhor protecção dos direitos de propriedade intelectual das empresas norte-americanas, as principais fontes de tensões entre os dois lados. Pelas contas de Washington, no ano passado, a China registou um excedente de 375,2 mil milhões de dólares – quase o dobro do Produto Interno Bruto (PIB) português – no comércio com os EUA.
Sofia Margarida Mota EventosArtes Plásticas | Alice Kok apresenta a exposição “Emptiness is form” na AFA É inaugurada hoje, na AFA, a exposição “Emptiness is form” da artista local, Alice Kok. A mostra reúne um conjunto de trabalhos que pretende questionar a percepção do público acerca do que existe. Vídeo, fotografia, instalações e formas geométricas são os veículos usados pela artista para abordar a espiritualidade que encontrou no budismo [dropcap style≠’circle’]”E[/dropcap]mptiness is form” é o nome da exposição individual de Alice Kok que é inaugurada hoje nas instalações da Art for All society (AFA). O conceito que deu nome a esta mostra foi inspirado numa frase dos escritos budistas tibetanos. “Form is emptiness and emptiness is form”, transmite a ideia completa a partir da qual exploro a relação entre o vazio e a forma”, conta Alice Kok ao HM. Para a artista, importa trabalhar o modo como as formas são percebidas, sendo que “a ideia budista de vazio não tem que ver com a inexistência, ou com o nada, mas com o facto de que tudo o que existe se relaciona entre si”, explica. É esta relação contínua que dá origem ao mundo e à natureza como um todo, considera Alice Kok. “O nada acontece quando alguma coisa está só e independente de tudo o resto. A natureza que é uma só, está em inter-acção com tudo”, refere. Conceito permanente A exploração do conceito de vazio não é novo no trabalho da artista. Há cinco anos criou “Nada acontece”. A peça “é uma instalação que pretendia criar o efeito de uma miragem”, refere. “Nada acontece” vai estar exposta também na AFA acompanhada de outros trabalhos. Um dos destaques da exposição é uma instalação em forma de pirâmide. Para a produção desta peça, Alice Kok convidou alguns amigos para meditarem com ela, durante seis minutos, no estúdio onde trabalha. As sessões foram filmadas e o resultado foi a produção de um vídeo que integra esta peça. A estrutura da pirâmide é feita num ângulo de 51 graus, a razão para este detalhe geográfico está relacionado com as teorias acerca da construção das pirâmides do Egipto. “Muitos creem serem construções receptoras de energia”, comenta. Para a artista, a obra reflecte uma expressão de unicidade das coisas e da sua relação constante. Geometria sagrada Por outro lado, a ideia de construir uma pirâmide vai de encontro ao que Alice Kok tem por hábito usar nas suas peças – a geometria. “Achei esta ideia muito interessante até porque tenho trabalhado muito com formas geométricas”, refere. É também na conjugação geométrica que a artista recriou um carácter chinês que será exibido em grande escala. “Por detrás das linhas há o significado, há uma forma muito geométrica e isto também está relacionado com a possibilidade de reconhecer algo através da forma”, explica. Foi ainda com a forma em mente que foi desenvolvido outro trabalho que integra a exposição que abre hoje ao público. “A montanha de plástico” é uma obra em que Alice Kok usa sacos de plástico para criar a forma de uma montanha. “O objectivo aqui foi dar a ideia de plasticidade artística ao mesmo tempo que se usa o próprio material”. O resultado é a criação de “uma montanha que não é uma montanha, mas apenas a sua imagem”. De acordo com Kok, é possível perceber a ideia pensando no trabalho de René Magritte, “Ceci n’est pas une pipe”. A mostra conta ainda com um trabalho em que a artista usa polaroides. “Este tipo de fotografia não é reproduzível, só se pode tirar uma vez”, conta. Nesta peça, Alice Kok coloca as imagens instantâneas em água. “A sua dissolução transmite a impermanência das coisas que é aplicável a tudo”, esclarece. Inspiração Budista Alice Kok começou a interessar-se pelos conceitos budistas, que agora explora, depois de se formar, em 2004, em França. “Fiz uma viagem à Índia e ao Tibete que me mudou a vida”, aponta. Na Índia, a artista visitou uma comunidade tibetana onde conheceu refugiados tibetanos que não estavam autorizadas a regressar a casa para visitar os seus familiares. Ao deparar-se com esta situação resolveu fazer um trabalho em vídeo. “Coloquei estas pessoas a falarem em frente a uma câmara para comunicarem com as suas famílias. Depois levei esses vídeos comigo ao Tibete. Encontrei uma das famílias envolvidas e mostrei-lhe estas imagens. Filmei a resposta e trouxe-a de novo à Índia, a estas pessoas refugiadas”, recorda Alice Kok. O vídeo foi feito há cerca de dez anos, mas até hoje, é para a criadora local, o seu mais importante trabalho. “Encheu-me a vida e a minha perspectiva do que é arte”, aponta. Foi também nesta altura que teve o primeiro contacto com o budismo tibetano. A vida em Macau tinha-lhe transmitido uma visão diferente daquela que encontrou nas montanhas da Índia. “A ideia que tinha de budismo em Macau era errada. Aqui as pessoas vão ao templo pedir para terem dinheiro e isso para mim era uma superstição. Não conhecia realmente o que o budismo dizia, nem a sua filosofia. Em Macau, o budismo não tem relação propriamente com a filosofia que o criou”, refere. Desde então, a inspiração de Alice Kok tem sido, independentemente da forma, inspirada nesta filosofia.
Andreia Sofia Silva SociedadePearl Horizon | Lesados duvidam da proposta do Governo Lesados e deputados da Assembleia Legislativa já se pronunciaram quanto à solução apresentada esta quarta-feira pelo Governo relativa ao terreno onde iria nascer o edifício residencial Pearl Horizon. Nem todos concordam com a obrigatoriedade de investir novamente nos apartamentos [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]m Abril do ano passado os rostos de muitos dos lesados do Pearl Horizon carregavam consigo preocupação e tristeza. Meses depois, após o Tribunal de Última Instância (TUI) ter recusado o recurso da Polytex, o que confirma a devolução do terreno ao Governo, os rostos carregam a certeza de que o futuro será mesmo difícil. Delia é uma das investidoras e assumiu ao HM não concordar com a solução apresentada esta semana pelo Governo, que implica a nova construção do edifício residencial, que obriga os investidores à compra dos apartamentos pela segunda vez. “No geral, todas as famílias que investiram em propriedades só querem ter as suas casas de volta e ver o edifício construído. Acreditamos no sistema vigente em Macau, pagámos os impostos e cumprimos o que estava no contrato assinado com a Polytex. Somos funcionários públicos, advogados e muitas pessoas trabalharam arduamente para conseguir comprar uma casa.” Delia garante que a devolução dos impostos de selo já pagos pouco ou nada vai contribuir para melhorar a situação. “As pessoas sabem a maior parte dos detalhes através da comunicação social. Estas precisam de ter conhecimento dos detalhes do caso e achamos que seria legível termos as nossas casas de volta.” A solução proposta pelo Executivo não prevê o pagamento de indemnizações pelo dinheiro que já foi pago à Polytex, apesar da decisão do tribunal que obrigou a empresa a devolver o dinheiro a um investidor. Delia não soube especificar ao HM quantas pessoas terão recorrido aos juízes para reaver o dinheiro que continuam a pagar aos bancos. “Agimos de forma individual neste caso, não posso responder a essa questão. Somos entidades legais perante a lei e cada um pode tomar a sua própria decisão no que diz respeito a esse caso.” Sobre este assunto, várias figuras do sector bancário disseram ao jornal Ou Mun, sem que tenham sido identificadas, que a proposta avançada pelo Governo representa um avanço, mas que é necessário consultar as opiniões da população. O sector alerta que é necessário que a Polytex chegue a acordo com os lesados, para que estes recuperem o dinheiro, uma vez que estes vão necessitar de fundos para comprar novamente as casas. O programa matinal Fórum Macau, do canal chinês da Rádio Macau, foi ontem dedicado à proposta do Governo. Vários lesados telefonaram a criticar a solução apresentada pela secretária Sónia Chan, Inclusivamente, um ouvinte, de apelido Lei, adjectivou a mesma de “irracional”, tendo lembrado que o Governo tem culpas nesta matéria. Um outro ouvinte, de apelido Ng, revelou preocupação com os futuros preços das fracções, além de que não sabe se pode vender a casa posteriormente. Um outro ouvinte defendeu o Governo, tendo acusado os lesados de não terem acautelado os riscos de adquirirem casas ainda em construção. Deputados atentos Entretanto, vários deputados da Assembleia Legislativa (AL) já reagiram a esta solução. Zheng Anting frisou que esta não garante o respeito pelos direitos e interesses dos promitentes compradores, tendo voltado a insistir na necessidade de rever a Lei de Terras, implementada em 2013, para que fique claro a quem se pode imputar a responsabilidade: ao Executivo ou concessionário. Para Ho Ion Sang, a proposta avançada revela boa-fé por parte dos governantes, sendo “aceitável”. Contudo, o deputado pede que sejam adiantados mais pormenores para que se chegue a um consenso, além de que é fundamental ajudar os lesados que não vejam o seu dinheiro devolvido pela Polytex. Si Ka Lon pede que a empresa assuma as suas responsabilidades a nível jurídico e empresarial, e que avance ela própria com uma proposta de resolução. Quanto ao Governo, o deputado entende que deve prestar mais esclarecimentos sobre as casas que serão construídas no futuro no terreno.
Diana do Mar SociedadeSaúde | Menos centros de cuidados primários mas mais consultas em 2017 Macau tinha menos estabelecimentos de cuidados de saúde primários no ano passado, mas registou mais consultas [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] oferta de centros de saúde públicos e consultórios particulares encolheu, mas o número de consultas aumentou. É o que dizem as estatísticas da saúde de 2017 divulgadas ontem pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). Em concreto, ao longo do ano passado, nos 702 estabelecimentos de cuidados de saúde (menos 17 do que em 2016) foram realizadas mais de quatro milhões de consultas, traduzindo uma subida ligeira de 0,9 por cento. Este universo inclui 14 centros de saúde públicos e 688 consultórios particulares, dos quais quatro em cada dez eram policlínicas. Em alta esteve também o número de profissionais de saúde. De acordo com dados fornecidos pelos Serviços de Saúde, existiam 1.730 médicos (mais quatro) e 2.397 enfermeiros (mais 55). Em 2017, o número de médicos por cada mil habitantes correspondeu a 2,6 – abaixo do rácio de 2,7 em 2016 – enquanto o de enfermeiros foi de 3,7 – acima do de 3,6. Segundo a DSEC, ao serviço dos hospitais estavam 821 médicos (mais 34), um quinto dos quais com menos de 35 anos. Do total, 531 eram médicos especialistas (mais 26). Já os enfermeiros eram 1.735, ou seja, mais 43 do que em 2016. Em termos de camas de internamento não houve grandes mexidas, dado que os hospitais disponibilizavam 1.596 ou mais cinco do que em 2016. O rácio era de 2,4 camas de internamento por 1.000 habitantes (ou seja, menos 0,1 camas face a 2016). Mais internamentos Ao longo do ano passado estiveram internados 58.846 doentes – mais 1,8 por cento em termos anuais. Neste âmbito, destaca-se o crescimento (de 23,4 por cento) do universo de pacientes com menos de 15 anos. O número médio de dias de internamento foi de 7 dias (menos 0,1 dias face a 2016), com a taxa de utilização das camas (70,8 por cento) a cair pelo segundo ano consecutivo. Segundo a DSEC, tal explica-se com o facto de o número médio de dias de internamento dos doentes ter diminuído e o do de camas de internamento ter aumentado. Já nas consultas externas os cincos hospitais de Macau atenderam mais de 1,69 milhões de pessoas, valor que traduz uma subida de 4 por cento em relação a 2016. Em contrapartida, baixou ligeiramente (0,9 por cento) para 473.000 o número de atendimentos no serviço de urgências. Segundo a DSEC, foram registados 100 mil tratamentos de diálise (mais 9,4 por cento face a 2016), os quais aumentaram pelo oitavo ano consecutivo. Ao longo de 2017, foram administradas 365.000 doses de vacinas nos hospitais e nos estabelecimentos de cuidados de saúde primários, ou seja, mais 18,6 por cento, em termos anuais. Do total, 109.000 doses, ou quase três em cada dez, eram de vacinas contra a gripe. Segundo a DSEC, foram ainda notificados 9.929 casos de doenças de declaração obrigatória – mais 9,5 por cento. A influenza (4.110) surge à cabeça, seguida da infecção por enterovírus (3.398), num pódio que fica completo com a varicela (697). Já as dádivas de sangue subiram de 14.288 para 21.220 em 2017, ano em que havia 10.391 dadores efectivos (menos 357), dos quais 2.951 foram doar sangue pela primeira vez (menos 287).
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadePonte HZM | Já foi criado consórcio para operar autocarros O Governo ainda não consegue avançar uma data para o início de operações da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, mas já foi criada uma empresa que vai ser responsável pelas viagens de autocarros. Macau terá direito a 16 viagens diárias para Hong Kong. Estima-se que a ilha artificial fronteiriça de Macau tenha capacidade para receber uma média de 40 mil pessoas por dia [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m consórcio composto por empresas dos três territórios responsáveis pela construção da maior ponte do mundo vai operar as viagens de autocarros entre Zhuhai, Hong Kong e Macau. O concurso público foi organizado pelas autoridades do interior da China e a empresa tem um capital social de cinco milhões de patacas. A informação foi avançada ontem pela Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), depois da realização da terceira reunião do Conselho Consultivo do Trânsito, que serviu para debater o programa de quotas para estas viagens. Macau terá direito a 16 viagens diárias, enquanto que Hong Kong terá direito a 34 viagens de autocarro. Estima-se que a ilha artificial fronteiriça de Macau receba, em média, 40.000 pessoas por dia. Já o volume diário de tráfego na ponte deverá atingir os 29.100 veículos em 2030, segundo a previsão da DSAT. Lam Hin San, director da DSAT, frisou que estes números são razoáveis para as duas regiões administrativas especiais. “Prevemos que haveria mais pessoas a viajar de Hong Kong para Macau, pois tem uma população de sete milhões de pessoas. Esta é uma proporção adequada de quotas. As condições são diferentes e consideramos que esta é uma situação equilibrada para ambas as partes.” Contudo, este número de viagens poderá vir a ser alterado no futuro. “Se notarmos uma grande necessidade, poderemos aumentar o número de viagens.” A cada quinze ou 30 minutos haverá um autocarro disponível para circulação. As operadoras de jogo vão também participar neste plano. “Cada casino poderá fornecer dois autocarros para a circulação entre os postos fronteiriços e os terminais marítimos, para que haja uma partilha de recursos. Vão também operar autocarros amigos do ambiente. A cooperação com hotéis e casinos vai permitir uma redução de despesas de gestão.” Além disso, a DSAT vai passar a operar duas rotas, 101X e 102X, que farão depois o percurso da fronteira na ilha artificial até ao centro da península e também da Taipa. Estacionamento por reserva No que diz respeito aos veículos particulares, a Zona de Administração de Macau na Ilha Fronteiriça Artificial, junto à Areia Preta, será dividida em duas zonas, para facilitar o estacionamento dos carros. Quem vem de Hong Kong terá de reservar o seu lugar no parque do lado leste. Ainda sem planos para o transporte de mercadorias e respectivas quotas, a DSAT anunciou o pagamento do valor adicional de dez patacas nos táxis para quem se dirigir à fronteira localizada na ilha artificial. À medida que estes detalhes legislativos e administrativos vão sendo preparados, permanece por desvendar a data de abertura da nova ponte HZM ao trânsito. “Ainda não há data para a abertura ao trânsito da nova ponte, as três partes ainda estão a dialogar. Da parte de Macau não temos qualquer informação quanto à data de funcionamento, não há sequer uma estimativa porque há ainda muitos trabalhos a concretizar, que envolvem vários serviços públicos. Terá de haver uma coordenação entre os três governos, só aí haverá uma data concreta”, concluiu Lam Hin San. Estacionamento: 40 por cento não paga parquímetros Lam Hin San adiantou ontem que cerca de 40 por cento das pessoas que estacionam nas vias públicas não pagam o parquímetro, o que vai obrigar as autoridades a instalar mil sensores nos veículos, a título experimental. “Quanto ao estacionamento nas vias públicas, as concessionárias já introduziram normas nos parquímetros e não houve uma grande mudança em termos de ocupação. Quase 40 por cento não pagaram o estacionamento nas vias públicas. No futuro, vamos instalar censores nos veículos e, através de uma aplicação de telemóvel, será possível avaliar se o estacionamento foi ou não pago. Vamos instalar mil sensores a título experimental, nas vias com mais movimento, e podemos elevar o cumprimento das regras e permitir uma maior mobilidade.” Fusão de operadoras de autocarros: “Não falhámos na liberalização” O director da DSAT rejeitou ontem a ideia de que o Governo tenha falhado o objectivo de liberalizar o mercado das concessionárias de autocarros, uma vez que a TCM vai fundir-se com a Nova Era, que um dia foi Reolian. Quanto aos ordenados e regalias dos trabalhadores, deverão manter-se sem mudanças. “O mesmo número de trabalhadores, 1100, vai manter-se, o que vai permitir uma melhor gestão de recursos e a prestação de um melhor serviço. Pode existir uma renovação dos equipamentos”, adiantou Lam Hin San.
Victor Ng PolíticaCanídromo | Governo exige plano sobre destino dos galgos até ao fim do mês [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) e a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) exigiram ao Canídromo que apresente até ao fim do mês um plano concreto, e respectivo calendário, sobre o destino final a dar aos galgos. Segundo um comunicado, divulgado ontem pelo IACM, o pedido foi feito após uma reunião que teve lugar na passada quarta-feira. O IACM indicou que espera que todos os animais que se encontram no Canídromo possam ser adoptados, tendo ainda sublinhado a disponibilidade para prestar apoio técnico. Salientando que há um grupo de defesa dos animais que encontrou pessoas com vontade de adoptar os galgos, numa aparente alusão à Anima, o organismo indicou ter sugerido ao Canídromo para cooperar com grupos locais e do exterior com o intuito de procurar adoptantes para os cães. No comunicado, o IACM refere ainda que o Canídromo reconheceu que tem a responsabilidade de prestar cuidados adequados aos galgos, tendo mencionado que estabeleceu um programa de registo de adopção, através do qual foram, contudo, registados poucos casos. O Canídromo, por seu turno, segundo a mesma nota, revelou que há um plano preliminar relativo ao destino final dos galgos, indicando que poderá haver cooperação com grupos da China e do exterior por forma a arranjar um lugar para os animais. O Canídromo – considerado uma das mais cruéis pistas de corrida de galgos do mundo por organizações internacionais – vai fechar em Julho.
Diana do Mar Manchete PolíticaHato | Governo aceita troca de carro por mota na proposta de benefícios fiscais O Governo vai permitir que os proprietários de carros danificados pelo tufão Hato possam optar pela compra de uma mota sem perder os benefícios fiscais [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s proprietários de veículos danificados pelo tufão Hato vão ter possibilidade de adquirir o tipo de viatura que mais lhes convier sem perder os benefícios fiscais propostos pelo Governo. A novidade foi revelada ontem pelo presidente da 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), que analisa o diploma em sede de especialidade. O diploma, aprovado unanimemente na generalidade a 19 de Abril, prevê deduções fiscais apenas na aquisição de um veículo da mesma categoria do afectado (carro por carro e mota por mota). Contudo, o Governo cedeu, decidindo permitir a possibilidade sugerida pelos deputados a pensar em quem tem menor poder de compra. “Esta segunda reunião foi bem-sucedida”, afirmou Ho Ion Sang, dando conta que o Governo acolheu a opinião da 1.ª Comissão Permanente da AL, após ter manifestado abertura na véspera, pelo que o diploma vai ser alterado para permitir a “troca de categorias”. Apesar de a troca ter sido viabilizada, o essencial do diploma vai manter-se, havendo apenas “ajustamentos” a fazer, além de aspectos técnicos a discutir entre as assessorias do Governo e da Assembleia Legislativa, indicou Ho Ion Sang. “Há montantes mínimos e máximos [de dedução fiscal] e isso não vai ser alterado”, esclareceu o presidente da 1.ª Comissão Permanente da AL, dando um exemplo: “Se fiquei com o automóvel danificado e quero adquirir uma mota a dedução máxima também pode atingir 140.000 patacas. Por exemplo, se eu comprar uma Harley-Davidson até posso vir a beneficiar dessa dedução porque é uma mota muito cara”. O diploma prevê a dedução e restituição do imposto sobre veículos motorizados na compra de viaturas novas até dois anos a contar da data de entrada em vigor da lei. No caso de automóveis novos, o montante a deduzir oscila de 8.000 a 140.000 patacas, enquanto no dos ciclomotores varia entre 2.000 e 5.500 patacas. Em contrapartida, o Governo rejeitou outras sugestões como alargar em 30 dias o prazo definido para o cancelamento da matrícula. À luz do diploma, são apenas elegíveis os proprietários que o fizeram, até 18 de Setembro, junto da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT). O Governo não abre mão e a 1.ª Comissão Permanente concorda: “Se alteramos esta data vai dar lugar a mais situações injustas porque, na altura, as pessoas já cancelaram a matrícula até 18 de Setembro”. Os excluídos Na reunião de ontem a 1.ª Comissão Permanente da AL aproveitou ainda para insistir na situação dos proprietários de veículos danificados pelo tufão Hato que ficam de fora de qualquer benefício fiscal caso não adquiram uma nova viatura. No entanto, o Governo voltou a ser taxativo, reiterando que o objecto da proposta de lei é “muito claro”. “O diploma, que foi aprovado por unanimidade na generalidade, diz que o benefício fiscal se destina apenas à aquisição”, afirmou Ho Ion Sang. “Nós apresentamos, meramente, as nossas opiniões e o Governo ouviu”, indicou o presidente da 1.ª Comissão Permanente da AL, referindo-se a definição de eventuais outros apoios a proprietários de veículos danificados que optaram, por exemplo, por os reparar. A 1.ª Comissão Permanente da AL espera concluir a análise do diploma antes de 15 de Agosto: “Pretendemos concluir antes das férias legislativas, porque queremos ajudar, com maior brevidade, os proprietários dos veículos danificados”. O tufão Hato, que atingiu Macau a 23 de Agosto de 2017, danificou 6.521 veículos – 3.240 automóveis e 3.281 motociclos ou ciclomotores.
Hoje Macau EventosIIM | Personalidades da diáspora macaense ganham Prémio Identidade [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]rederico Alberto Silva (Jim Silva), ex-presidente da União Macaense Americana, e António Manuel Pacheco Jorge da Silva, ex-presidente do Lusitano Clube da Califórnia, foram os distinguidos pelo Instituto Internacional de Macau (IIM) para a edição deste ano do Prémio Identidade. De acordo com um comunicado, esta distinção aconteceu dado que estas personalidades, a residir nos Estados Unidos há muitos anos, deram a “contribuição para o reforço do sentimento de pertença a Macau”. Jim Silva foi profissional da área financeira em Hong Kong e, depois de se radicar nos EUA, preparou textos que foram publicados em livros sobre as suas memórias da guerra do Pacífico e os seus conhecimentos sobre o patuá, a religião, a culinária e o legado cultural dos seus avós, elementos esses agregadores de uma comunidade. Este macaense publicou seis livros e redigiu em inglês uma introdução à História de Portugal para divulgação entre a juventude macaense da diáspora. Por sua vez, António Pacheco Jorge da Silva, que exerceu funções de arquitecto em Macau, Hong Kong, Reino Unido e EUA, dedicou-se, após a sua aposentação, a escrever a geração dos descendentes dos portugueses em Macau, incluindo as suas experiências em muitas regiões da China e integração nos países da diáspora, analisando as suas implicações sociais e culturais. O IIM adianta que “de forma desinteressada e persistente têm ambos dedicado grande parte da sua vida a este esforço consequente de divulgação da história e da cultura de Macau, impulsionando a valorização e o reforço da Identidade Macaense”.
Hoje Macau SociedadeFSS | 41 empregadores inscritos no regime de previdência central não obrigatório [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]esde a entrada em vigor do regime de previdência central não obrigatório, no início do ano, 41 empresas procederam a respectiva inscrição. De acordo com Chan Pou Wan, vice-presidente do Conselho de Administração do Fundo de Segurança Social (FSS), trata-se de uma adesão satisfatória. De acordo com informação veiculada pelo jornal Ou Mun, até ao dia 21 de Maio, foram contabilizados mais de 7,5 mil participantes nos planos individuais e 41 empregadores nos planos conjuntos, sendo que estes são, na sua maioria, instituições ligadas a serviços sociais. De acordo com a mesma fonte, a Caritas Macau vai integrar o regime brevemente.
Hoje Macau EventosÓbito| Philip Roth morreu aos 85 anos [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] escritor norte-americano Philip Roth morreu de insuficiência cardíaca na terça-feira, aos 85 anos, disse o agente literário, Andrew Wilie, à agência noticiosa Associated Press. Natural de Newark, Nova Jérsia, o premiado romancista, habitualmente mencionado como candidato ao Nobel da Literatura, era considerado um dos maiores escritores norte-americanos da segunda metade do século XX. Autor de cerca de três dezenas de livros, tinha anunciado a decisão de deixar de escrever a partir de 2012, aos 78 anos. Entre várias distinções, Philip Roth foi premiado com dois National Book Awards, dois National Book Critics Circle e, em 1998, com o Pulitzer a partir da ficção “Pastoral Americana”. Roth foi ainda galardoado com o Prémio Internacional Man Booker em 2011 e, um ano depois, venceu o Prémio Príncipe das Astúrias de Literatura. O livro “O Complexo de Portnoy” teve grande impacto junto do grande público em 1969, devido às cruas descrições sexuais e à maneira de abordar a vivência judaica.
Hoje Macau InternacionalDiplomacia | Washington emite alerta após lesão de funcionário [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] embaixada norte-americana na China emitiu ontem um alerta depois de um funcionário do seu Governo ter sofrido uma lesão cerebral, com sintomas semelhantes aos sofridos por diplomatas dos Estados Unidos em Cuba, que mais tarde adoeceram. As autoridades norte-americanas e chinesas estão actualmente a investigar o caso do funcionário, que trabalhava em Cantão, sul do país, onde os EUA têm um consulado, e que foi diagnosticado com lesão cerebral traumática leve, segundo Jinnie Lee, porta-voz da embaixada. O alerta de saúde foi enviado via correio electrónico para cidadãos norte-americanos residentes na China. A embaixada diz desconhecer o motivo dos sintomas, ou se há outros casos no país. No ano passado, os Estados Unidos anunciaram que 24 diplomatas e respectivos familiares estacionados em Cuba experimentaram misteriosos “ataques acústicos”, que provocaram sintomas como perda auditiva, náuseas, tonturas, dor facial, dor abdominal, problemas cognitivos e danos cerebrais. Também o Canadá reportou dez pessoas com sintomas semelhantes. “Não podemos relacionar (o incidente na China) com o que aconteceu em Havana, mas estamos a estudar todas as possibilidades”, disse um representante da embaixada dos EUA, que pediu anonimato, aos jornalistas em Pequim.
Hoje Macau InternacionalONU rejeita pedido de Lula da Silva contra a sua prisão [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Comité de Direitos Humanos da ONU rejeitou um pedido do ex-Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva que reclamava uma ação urgente contra a sua prisão, disse um porta-voz do organismo. Lula da Silva pediu ao Comité que impusesse uma “medida cautelar” – uma disposição prevista apenas se a pessoa corresse o risco de sofrer danos sérios ou irreparáveis como tortura ou execução – contra a sua prisão. “O Comité dos Direitos Humanos não aplicará medida cautelar no caso de Lula da Silva”, disse a porta-voz Julia Gronnevet, através de um e-mail, à agência francesa AFP. O pedido de Lula da Silva foi apresentado a 06 de abril, para evitar a sua prisão, que ocorreu a 07 de abril. Em outubro de 2016, Lula da Silva, que já estava sob investigação por corrupção em conexão com o escândalo na petrolífera Petrobras, havia apresentado uma queixa junto do Comité, alegando que os seus direitos haviam sido violados. Julia Gronnevet assinalou hoje também que a comissão ainda não havia decidido sobre o mérito do caso relativo ao ex-Presidente Lula da Silva e que o processo poderia durar pelo menos mais um ano. O Comité de Direitos Humanos é um órgão de supervisão do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. É responsável por garantir o cumprimento do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos. O antigo chefe de Estado brasileiro, que quer concorrer à Presidência novamente em outubro, foi condenado a 12 anos e um mês de prisão, em regime fechado, no Tribunal Regional da 4.ª Região (TRF4, segunda instância) em janeiro. A prisão do ex-chefe de Estado está relacionada com um dos processos da Operação Lava Jato, o maior escândalo de corrupção do Brasil. Lula da Silva foi condenado por ter recebido um apartamento de luxo como suborno da construtora OAS em troca de favorecer contratos com a petrolífera estatal Petrobras.
Leocardo PolíticaSporting! Agora que tenho a vossa atenção… [dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]oje decidi falar do Sporting, o tema quente do momento. Estava a pensar a guardar a minha costela de pseudo-jornalista desportivo para o mundial de futebol, que arranca no próximo mês na Rússia, mas é impossível ficar indiferente. Até porque o tema não se esgota dentro das quatro linhas. Falar hoje do futebol em Portugal no seu geral, e da situação do Sporting em particular tem muito mais que se lhe diga. Mesmo quem não percebe patavina do desporto-rei, tem certamente uma opinião formada sobre os últimos acontecimentos envolvendo o clube da capital, um dos ditos três grandes em Portugal. Tenho amigos sportinguistas, gente de bem, e tenho a certeza que se estiverem a ler estas linhas, vão ter em conta de que isto se trata de um artigo de opinião. Mais nada. O problema, ou os problemas do Sporting, sobretudo os mais recentes, parecem orbitar todos em volta da mesma pessoa: o seu presidente, Bruno de Carvalho. Respeito a escolha do sportinguistas, que o elegeram por duas vezes, a última delas no ano passado, mas é difícil entender porque é que alguns deles ainda ficam do seu lado. Há um mês e meio Bruno de Carvalho criticou duramente a equipa de futebol após uma derrota em Madrid numa partida a contar para a Liga Europa, e após uma declaração conjunta de repúdio a essas declarações por parte dos jogadores, ameaçou suspender toda a equipa principal, chegando mesmo a colocar-se a hipótese do clube alinhar com as reservas – isto numa altura em que o Sporting ainda discutia o campeonato nacional. Os ânimos ficaram mais ou menos serenados até à semana passada, quando após uma derrota na última jornada da Liga, que relegou o Sporting para o 3º lugar da classificação final, um grupo de alegados adeptos leoninos invadiu as instalações do centro de estágio da equipa, em Alcochete, agredindo jogadores, equipa técnica e outros funcionários do clube. O caldo estava definitivamente entornado. O caso extravazou para fora do mundo do futebol; afinal tratou-se de um ataque a profissionais, e pouco importa do quê, dentro do seu local de trabalho. É também uma questão de segurança, no fundo. O presidente Bruno de Carvalho começou, e mal, por desvalorizar o sucedido, e suspeita-se que os actos cometidos contra os jogadores e outro património do clube terá ocorrido com a sua anuência, o que é extremamente grave. Os atletas ameaçam agora com rescisões por justa causa, e para piorar a situação a equipa veio a perder na final da Taça de Portugal no último Domingo, frente ao Desp. das Aves. Foi a cereja no topo do bolo daquele que tem sido o “annus horribilis” do clube de Alvalade. Estranhamente, Bruno de Carvalho não se demitiu, e tudo indica que não o fará de ânimo. Se o problema fosse com o treinador ou com um jogador, certamente que este já não estaria no Sporting. O caso, que em tudo se assemelha a uma novela mexicana, ou a um qualquer folhetim de pouca qualidade, tem tido todos os dias novos desenvolvimentos, e entre o tempo que escrevo estas linhas e amanhã, quando sairem nas páginas deste jornal, sabe-se lá o que mais terá acontecido. O Sporting, quer se goste ou não, é uma instituição centenária, e que durante a sua longa história formou milhares de homens e mulheres, que se orgulharam e orgulham de vestir as suas cores. Os adeptos e simpatizantes do clube merecem muito mais do que Bruno de Carvalho lhes pode oferecer, que não é nada que se aproveite. Com o estado actual de coisas, nenhum atleta profissional no seu perfeito juízo ponderaria representar um clube que não lhe garantisse desde a primeira hora estabilidade. Os sportinguistas precisam de virar esta página negra do clube e recomeçar, enquanto é tempo. E com Bruno de Carvalho fora da equação, naturalmente.
Hoje Macau China / ÁsiaBuscas pelo avião da Malaysia Airlines desaparecido em 2014 acabam dia 29 deste mês [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s buscas de uma empresa norte-americana para encontrar o avião da Malaysia Airliners desaparecido em 2014 no Oceano Índico terminam na próxima terça-feira, 29 de maio, anunciou o ministro dos Transportes malaio. “As buscas prosseguem até 29 de maio”, disse Anthony Loke aos jornalistas. Ao abrigo de um acordo com o Governo da Malásia, a empresa privada Ocean Infinity, que iniciou novas buscas em janeiro, um ano depois da suspensão das buscas oficiais das autoridades australianas, malaias e chinesas, só seria remunerada se encontrasse o aparelho ou as caixas negras. Até ao momento, as buscas não permitiram encontrar nada que possa contribuir para explicar o misterioso desaparecimento do voo MH370, a 8 de março de 2014, quando fazia a ligação entre Kuala Lumpur e Pequim com 239 pessoas a bordo. O ministro precisou que o acordo com a empresa tinha a validade de 90 dias, devendo terminar em abril, mas foi prolongado um mês a pedido da Ocean Infinity. “Não haverá mais prolongamentos. Não pode continuar para sempre. Vamos esperar até 29 de maio e depois decidimos como proceder”, disse. O acordo previa o pagamento de 70 milhões de dólares (cerca de 59,8 milhões de euros) se a missão tivesse êxito no prazo de três meses. As autoridades afirmaram na altura haver 85% de hipóteses de encontrar destroços numa nova área de buscas de 25.000 quilómetros quadrados definida por peritos. As buscas foram dificultadas por não haver qualquer transmissão durante os primeiros 38 minutos de voo, dado que os sistemas que transmitem automaticamente a posição do avião não funcionaram, segundo um relatório de janeiro de 2017 pela autoridade de segurança de transportes da Austrália. A organização Voice 370, que representa os familiares das pessoas a bordo, pediu hoje ao Governo para rever todo o processo sobre o desaparecimento do avião, incluindo “alguma possível falsificação” ou eliminação de registos de manutenção ou alguma omissão que possa ter prejudicado a localização, busca, salvamento ou recuperação do aparelho.
Hoje Macau DesportoAndebol | FC Porto e Sporting defrontam-se na Taça de Portugal FC Porto e Sporting disputam o acesso à final da Taça de Portugal de andebol, nas meias-finais da competição, no Peso da Régua, onde Benfica e o ‘outsider’ FC Gaia disputam a outra vaga no jogo decisivo [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] encontro entre o recém bicampeão nacional Sporting e o FC Porto, numa reedição do último duelo da fase final, que os portistas venceram no sábado por 31-26, no Pavilhão João Rocha, em Lisboa, é o jogo ‘grande’ das meias-finais da Taça de Portugal. Arredado das grandes conquistas – o campeonato ‘foge’ há três épocas -, depois de ter somado sete consecutivos, o FC Porto tem nesta prova a derradeira oportunidade de não ficar em branco na época de 2017/18 e suceder no historial ao ausente ABC. Para marcar presença nas meias-finais da Taça de Portugal, o FC Porto afastou nos quartos de final o Belenenses (32-18), nos ‘oitavos’ a Académica de São Mamede (44-21) e nos 16 avos o Marítimo (37-23). O Sporting, que viu abalada a sua estrutura com suspeitas de corrupção na conquista do título de campeão de 2016/17, tem marcado presença nas principais decisões das últimas épocas e pretende juntar a conquista da Taça ao campeonato. A equipa ‘leonina’ eliminou nos quartos de final o Avanca (40-24), na altura treinado pelo actual treinador do FC Porto, Carlos Martingo, nos ‘oitavos’ afastou o Santo Tirso (36-17) e nos 16 avos de final o Alto do Moinho (41-18). O Sporting procura alcançar pelo terceiro ano consecutivo a final da Taça de Portugal. Em 2016/17 e 2015/16, a formação ‘leonina’ saiu derrotada no prolongamento nas finais disputadas com ABC (35-33) e Benfica (36-35), respectivamente. Quando FC Porto e Sporting iniciarem sábado o seu jogo, pelas 17h30, no Pavilhão Municipal do Peso da Régua, já terá sido encontrado o primeiro finalista, a sair do encontro que opõe o Benfica ao FC Gaia, a ter início pelas 15h. A outra metade O Benfica, vice-campeão nacional, em igualdade pontual com o FC Porto, terceiro, e a seis pontos do campeão Sporting, parte para o jogo com o secundário FC Gaia com o estatuto de superfavorito. A formação ‘encarnada’ chegou à ‘final four’ depois de afastar o São Bernardo (28-25), depois de ter eliminado Benavente (45-18) e Arsenal Devesa (39-25). O Benfica terá como opositor na meia-final o surpreendente FC Gaia, da segunda divisão, sobrevivente desde a primeira ronda da Taça de Portugal, que foi o ‘tomba-gigantes’ dos quartos de final ao eliminar o Madeira SAD (29-27). O percurso do FC Gaia até à inédita presença na ‘final four’ fez-se ainda às custas da eliminação nos oitavos de final do AC Fafe (32-27), nos 16 avos de final do AA Almeirim (46-18), na segunda eliminatória do Estarreja (36-26) e na primeira do CP Natação (30-22). O Sporting, com 15 triunfos, é o clube que por mais vezes ergueu a Taça de Portugal, seguido a curta distância pelo ABC, com 12, do FC Porto, com sete, e do Benfica, com cinco. O FC Gaia procura conquistar a sua primeira taça de Portugal.
António Cabrita Diários de Próspero MancheteUm tremendo fotógrafo [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]ncontra-se ainda no Camões, em Maputo, uma excelente exposição antológica de José Cabral, o primeiro fotógrafo moçambicano a assumir uma postura de “autor”, fugindo do foto-jornalismo e da “epicidade colectiva” que foi apanágio da geração anterior – cujas figuras de proa foram Ricardo Rangel e Kok Nam – para dar o salto “da fotografia testemunhal e de intervenção” e adoptar, no dizer de Alexandre Pomar “uma outra forma expressão de activismo que não está do lado imediato da denúncia, esse lugar tão ocupado e gasto, mas sim do lado sensível da confiança e da convivência, fraterna e íntima ou intimista”. Por isso se tornou José Cabral numa ponte entre a velha geração e a nova geração – Luís Basto, Mauro Pinto, Mauro Macilau e Filipe Branquinho. À entrada da exposição lêem-se duas declarações do fotógrafo. Diz uma delas: “O acto fotográfico? Há dois tipos de potencialidades, as que estão dentro de mim e as que estão fora, e quando estas duas se encontram há a fotografia”. Ora, isto é análogo ao que defendia Cartier-Bresson: “Fotografar, é pôr a cabeça, o olho e o coração no mesmo ponto de mira”. Ambas as frases apontam para uma indivisibilidade entre o corpo e o acto de fotografar, que tornam o observador e o observado um. Quando isto acontece a fotografia capta a essência do momento, isto é, acontece nela uma espécie de dobra pela qual o reconhecimento documental do assunto ou tema fotografado se duplica na organização rigorosa das formas, percebidas visualmente na composição que reitera e ilumina esse facto. Dou três exemplos. A foto do cartaz do Museu Al Capone, onde por “um acaso objectivo da luz” (como diriam os surrealistas) a silhueta da cidade se reflecte na parte de baixo do vidro que protege a foto do gângster, como se a cidade estivesse contida no seu ventre – e assim se transformou a imagem na metáfora do poder que o gângster teve sobre Chicago. Só um olhar muito treinado percebia o valor expressivo dos reflexos no vidro para sustentar o que a figura simbolizava. Na fotografia escolhida para a capa do álbum que a exposição complementa – Moçambique, organizado por Alexandre Pomar -, a força do “dito” é um efeito da composição da foto: um casal, ela de trouxa na cabeça, passa ao lado de uma montra com uma cortina que lhes esconde o que esteja à venda, como se o direito ao que lhes está lá lhes fosse vedado. As pregas da cortina prolongam a infinito o eixo horizontal. Mas a dignidade com que eles caminham, quase hieráticos, confere-lhes uma verticalidade que os coloca acima das circunstâncias (leia-se sociais) de que padecem. Leitura que só podia dar-se naquele momento de centralidade em que eles se encontram em relação à montra, dois passos antes ou dois passos depois e essa “dimensão oculta” e estrutural da composição da fotografia diluía-se. O terceiro exemplo é um caso de pundonor. A foto pertence ao ciclo “Os Americanos” e foi captada em Santa Fé, no Novo México. Um cowboy orgulhoso é fotografado contra uma montra onde, à exacta altura da sua cabeça, se encontram outros chapéus de vaqueiro. O seu olhar, colaborando com a foto, é de orgulho, ou seja, naquele momento ele representa um tipo humano, de bem consigo; naquele momento deixa de ser um cowboy singular para se tornar um ícone. Nos três casos as figuras representadas têm uma enorme “qualidade de presença”, um rasgo imprescindível para detectar uma obra de arte, segundo Walter Benjamin. Contudo, faça-se a ressalva, pois para o ensaísta alemão, uma fotografia, por ser um objecto reproduzido mecanicamente não podia ter uma presença genuína. Entre outras características, esta exposição demonstra-nos que Benjamin nem sempre estava certo. E a qualidade desta exposição torna ainda mais trágico que não haja uma verdadeira circulação de bens culturais entre os rincões do mundo onde se fala o português.
Hoje Macau China / ÁsiaAustrália | Acusação envolve milionário chinês em suborno na ONU Um deputado acusou na terça-feira um milionário australiano, nascido na China, de conspiração para subornar um quadro de topo da ONU, na sequência de uma alegada doação de somas generosas de dinheiro a partidos da Austrália [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]ndrew Hastie disse ao Parlamento australiano que o milionário Chau Chac Wing, que beneficia de dupla nacionalidade, era o promotor imobiliário referido numa acusação dos Estados Unidos como “CC-3”, uma abreviatura para designar o terceiro co-conspirador. Hastie afirmou ter recebido das autoridades norte-americanas a confirmação da identidade de “CC-3”, durante uma visita realizada aos Estados Unidos no mês passado, declarações que podem inflamar ainda mais a tensão diplomática entre a China e a Austrália. A China já havia protestado face ao anúncio do primeiro-ministro Malcolm Turnbull’s, em Dezembro, de que a Austrália iria banir as interferências estrangeiras na política, fossem realizadas através de espionagem ou de doações financeiras. O primeiro-ministro da Austrália afirmou que não tinha sido avisado com antecedência sobre as declarações do deputado que preside ao Comité Conjunto de Inteligência e Segurança do Parlamento, mas sublinhou que estas não constituíam uma novidade. Esta terça-feira, a China pediu “acções concretas” por parte da Austrália para que fossem melhoradas as relações entre os dois países. Malcolm Turnbull respondeu ontem: “O Ministro dos Negócios Estrangeiros tem o direito de fazer as declarações que entender, mas nós temos um forte relacionamento, que é franco”. Mexer nos media “Chau Chac Wing tem processados os meios de comunicação social que têm publicado acusações similares, mas Andrew Hastie contornou essa ameaça ao depor no Parlamento australiano, o que lhe confere imunidade, bem como aos ‘media’ que o citarem. “‘CC-3’ é um cidadão chinês e australiano. Ele foi um financiador significativo para os dois maiores partidos [australianos]. Os australianos merecem a verdade”, sublinhou o deputado. As declarações daquele que preside ao comité parlamentar foram motivadas pelo alegado envolvimento da Rússia nas eleições de 2016 nos Estados Unidos e pela crescente influência da China no cenário político global. “Na Austrália, é claro que o Partido Comunista Chinês está a trabalhar para, dissimuladamente, interferir nos ‘media’ e universidades, bem como para influenciar o nosso sistema político e debate público”, concluiu o Andrew Hastie.
Hoje Macau China / ÁsiaUma China | Companhias aéreas obedecem a Pequim em relação a Taiwan Vinte companhias áreas passaram a referir-se a Taiwan como parte da República Popular da China, cumprindo com as exigências de Pequim, que Washington classificou de “absurdo orwelliano”, apesar de a ilha funcionar como um Estado soberano. [dropcap style≠’circle’]B[/dropcap]ritish Airways, Lufthansa e Air Canada são algumas das companhias que se referem já a Taiwan como parte da China, quando faltam apenas três dias para dezenas de operadoras decidirem se cumprem com as ordens de Pequim ou enfrentam consequências que podem paralisar os seus negócios no país, incluindo sanções legais. A 25 de Abril, a Administração de Aviação Civil da China enviou uma carta a 36 companhias aéreas, na qual exige explicitamente que se refiram a Taiwan como parte da China. A Transportadora Aérea Portuguesa (TAP) não inclui Taiwan entre os seus destinos, mas nos casos de Macau e Hong Kong, também alvos de discórdia com outras companhias, a empresa refere-se já aos territórios como parte da República Popular da China. Pesquisando no portal da TAP por destinos na Ásia, Macau surge identificado como ‘Macau, República Popular da China’. A adopção de “Taiwan, China” ou “Taiwan, República Popular da China” nos portais electrónicos e mapas das companhias aéreas representa outra vitória nos esforços do Partido Comunista Chinês (PCC) em forçar empresas estrangeiras a aderir à sua visão geopolítica, mesmo em operações fora do país. Críticos afirmam que a crescente pressão exercida pela China, usando o seu poderio económico para forjar novas normas internacionais – neste caso o status de Taiwan – gera preocupações sem precedentes. “O que está aqui em jogo é que nós estamos a permitir que um regime revisionista, com um historial terrível no que toca a liberdade de expressão, dite o que nós dizemos e escrevemos nos nossos países”, afirmou J. Michael Cole, pesquisador do China Policy Institute e do programa de estudos de Taiwan na Universidade de Nottingham, citado pela Associated Press. “Se Pequim não se deparar com limites, vai continuar a pedir mais”, acrescentou. Reunificação à vista Taiwan, a ilha onde se refugiou o antigo governo chinês depois de o PCC tomar o poder no continente, em 1949, assume-se como República da China, mas Pequim considera-a uma província chinesa e não uma entidade política soberana. “Nós opomo-nos veementemente aos esforços da China para atingir os seus objectivos políticos através da intimidação, coação e ameaças”, reagiu o ministério taiwanês dos Negócios Estrangeiros, num comunicado enviado à AP. “Apelamos a todos os países do mundo que se mantenham unidos na defesa da liberdade de expressão e liberdade para fazer negócios. Apelamos também às empresas privadas que rejeitem colectivamente a exigência insensata da China para que alterem a designação de ‘Taiwan’ para ‘Taiwan, China'”, lê-se na mesma nota. O Presidente chinês, Xi Jinping, avisou já Taiwan de que a questão da reunificação não pode ser adiada para sempre, e as forças armadas chinesas têm enviado aviões de combate para a costa taiwanesa. Várias multinacionais têm cedido à pressão de Pequim para alterarem as referências a Taiwan, apesar de o Governo dos Estados Unidos ter garantido que vai “apoiar os americanos que resistem aos esforços do PCC em impor as suas noções de politicamente correcto às empresas e cidadãos norte-americanos”. Na semana passada, o retalhista de vestuário norte-americano Gap pediu desculpa à China por ter vendido t-shirts com um mapa “errado” do país, que exclui Taiwan. Em Janeiro, a marca têxtil espanhola Zara, a companhia aérea norte-americana Delta Air Lines e a fabricante de equipamento médico Medtronic pediram também desculpa por se referirem a Taiwan como um país nos seus ‘sites’. “Não é possível dizer não”, disse Carly Ramsey, especialista da Control Risks, consultora com sede em Xangai, a “capital” económica da China, citado pela AP. “Cada vez mais, em situações como esta, o incumprimento não é uma opção, se queres fazer negócios na China e com a China”, explicou.
António Conceição Júnior Manchete VozesJúlio Pomar, o suave rebelde [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]omo que por coincidência, mirei ontem à noite o relógio. Eram 01:57 e, sonolento, coloqueios auscultadores que estão bem perto, para ouvir as notícias da Antena 1. O noticiário abriu com uma triste notícia: Júlio Pomar tinha falecido aos 92 anos. Olhei para o breu do tecto e ocorreu-me “A Cegueira dos Pintores” e de como me tinha comprazido a ler a escrita de um dos maiores pintores de sempre, de Portugal e, porque não, do mundo. Se Pomar se tornou icónico pelo “Almoço do Trolha” e, consequentemente da sua inscrição no movimento Neorrealista português, será redutor tentar classificá-lo dentro de qualquer movimento. Júlio Pomar foi, igualmente, e como António Arnaut – desaparecido quase no mesmo dia – um cidadão de corpo inteiro, combatente pela liberdade, que foi preso por isso e por ser filiado no Partido Comunista Português, consequências da sua rebeldia perante preceitos e conceitos já fora de prazo. Foi através da grande Amizade criada com outros grandes lutadores pela liberdade, Manuel de Brito e sua Mulher, Arlete Alves da Silva que, nos princípios dos anos 1980, me foi possível trazer a Macau, para a Galeria do Museu Luís de Camões, exposições da Galeria 111, entre as quais figuravam obras gráficas de Júlio Pomar. Foi no aprofundar dessa Amizade e de outras, como o grande Poeta Pedro Tamen e o Arq. José Sommer Ribeiro, respectivamente Administrador para as Belas-Artes e Director do Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian, todos amigos entre si, que foi possível realizar em 1985 o “Ciclo dos Últimos Cem Anos da Pintura Portuguesa” em Macau, na Galeria do Leal Senado, e na qual, também Júlio Pomar foi um dos cabeças de cartaz. Na sua obra perpassam não apenas o Neorrealismo com obras de referência como o já referido “Almoço do Trolha” e “O Gadanheiro”, e posteriormente “Os Cegos de Madrid”, uma quase invocação a Goya, de 1957, e sucessivos ciclos como as sínteses nuas que encontram no “Banho Turco” e em “Maio de 68” referências que serão substituídas por outra linguagem radicalmente diferente com a sua série de tigres e macacos do início dos anos 80, que se desenvolve noutra série que aqui se representará com o retrato de Fernando Pessoa e outras personalidades, e touradas e corvos, numa incessante deambulação naquilo que ele próprio consideraria “a sua volubilidade”. Para além da admiração pela sua espectacular versatilidade que aqui se testemunha de modo incompleto, Júlio Pomar foi sempre um daqueles rebeldes suaves incapazes de ser outra coisa que não a sua autenticidade. A atestá-lo fica esta pequena estória: Pomar estava em Macau com sua Mulher Teresa e o casal Arlete Alves da Silva e Manuel de Brito e fomos os três casais ao Forum de Macau para ouvir um concerto onde pontificava um pianista da nossa praça. As cadeiras eram incómodas, eu fazia barulho com o celofane dos meus rebuçados e, pelo canto do olho, reparo num aceno do Pomar; propunha-me irmos fumar. Saímos os dois e fomos para o átrio fumar e conversar placidamente, enquanto ao longe rugia a orquestra. Conversámos e fumamos livremente, até que terminou o concerto e se nos juntaram as respectivas mulheres e os amigos. Dias depois, de um modo extremamente afável, no Arquivo Histórico do Tap Seac, Pomar descerrava um trabalho do jovem Ng Vai Meng, dando-lhe um afável abraço. Para se ser verdadeiramente grande é preciso ser-se autêntico. Para se ser autêntico, é preciso por vezes ser-se rebelde, o que, no caso de Júlio Pomar, foi sempre um suave mas determinado rebelde, a recordar-me uma pintura anagramática: o SG Gentil, de um autor cujo nome teima em não me chegar à memória. Todos estamos mais pobres.
Hoje Macau SociedadeMacau quer destacar profissionais da saúde para Timor-Leste [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo de Macau afirmou ontem estar a traçar um plano para o destacamento de profissionais de saúde para os países que integram a iniciativa “Uma faixa, uma rota”, em particular Timor-Leste. De acordo com um comunicado, o programa de investimento do Presidente da China, Xi Jinping, prevê a prestação de apoio a esses países na criação de uma rede de cuidados de saúde primários. As políticas de saúde pública em Macau e Hong Kong foram discutidas durante a Assembleia Mundial de Saúde, em Genebra, num encontro entre o director da comissão nacional de saúde, Ma Xiaowei, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura de Macau, Alexis Tam, e a directora dos serviços para a alimentação e saúde de Hong Kong, Sophia Chen. Durante o encontro, Alexis Tam ressalvou a assinatura, no início do ano, de um acordo de cooperação nas áreas da saúde e higiene na Região Metropolitana da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Formação para o mundo Segundo o secretário, o acordo tem como objectivo a intensificação do intercâmbio e cooperação das três regiões nas áreas da assistência médica e saúde pública. Além de Guangdong, Hong Kong e Macau, a região da Grande Baía abrange nove localidades: Cantão, Shenzhen, Zhuhai, Foshan, Huizhou, Dongguan, Zhongshan, Jiangmen e Zhaoqing. Ao todo, conta com mais de 110 milhões de habitantes. Alexis Tam sublinhou, ainda, a formação de quadros no âmbito da medicina tradicional chinesa para o mundo. Por sua vez, o director Ma considerou o plano de constituição da Grande Baía favorável ao intercâmbio e à cooperação entre os médicos e enfermeiros da região, disponibilizando a Hong Kong e a Macau um grande espaço em termos de desenvolvimento dos serviços de saúde. Por fim, garantiu que a Comissão Nacional de Saúde apoiará Macau na candidatura da criação de uma Equipa Internacional de Emergência Médica. Caso tenha sucesso, Macau será a quarta equipa de emergência médica a nível nacional.
Hoje Macau SociedadeTurismo | Número de visitantes aumenta oito por cento em Abril [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau recebeu 2.960.879 turistas no mês de Abril, um número que representa um aumento de oito por cento em termos anuais. Os visitantes vindos da China continental subiram um termos homólogos 16,5, para um total de cerca de dois milhões de visitantes, por cento enquanto o número de visitantes de Taiwan subiu 5,6 por cento. Já os visitantes oriundas de Hong Kong e da Coreia do Sul registaram uma descida de 12 e 5.9 por cento, respectivamente. O número de visitantes com visto individual atingiu os 962.704, mais 16,9 por cento em termos homólogos. Nos quatro primeiros meses deste ano entraram no território 11.506.592 visitantes, ou seja, mais 8,4 por cento, face ao período homólogo do ano transacto.