Museu de L’Orangerie de Paris vai expor “Contos cruéis de Paula Rego”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Musée de L’Orangerie, em Paris, vai expor “Contos cruéis de Paula Rego”, de 17 de outubro a 14 de janeiro, para mostrar uma obra que “não é suficientemente conhecida” em França, de acordo com a diretora do museu.

A mostra vai reunir cerca de 70 pinturas, desenhos e até bonecos que a pintora usa no seu atelier, em Londres, num percurso temático e cronológico que insiste no período “entre finais dos anos 90 até hoje”, explicou à Lusa a diretora do Musée de L’Orangerie e comissária da exposição, Cécile Debray.

“Aqui, ela é muito menos conhecida que em Londres ou em Portugal. Foi mostrada em Paris numa exposição da Fundação Gulbenkian [2012], mas creio que não é suficientemente conhecida. Penso que tem uma pintura bastante apelativa que deverá agradar”, disse à Lusa a comissária.

Cécile Debray escolheu como título da mostra “Les contes cruels de Paula Rego” (“Os contos cruéis de Paula Rego”), em alusão à obra literária de um simbolista francês do final do século XIX, Auguste de Villiers de L’Isle-Adam, e ao universo formal e temático da pintora, que é “bastante ilustrativo e muito ligado à literatura e a uma forma de cultura do século XIX”.

“É o universo da infância que é, por um lado, encantador e fantástico e, por outro, tem uma forma de crueldade que é também da infância. Paula Rego tem este lado ingénuo e um olhar muito mordaz e cruel. É este o realismo de Paula Rego, um jogo entre o olhar muito franco e sem concessões e, ao mesmo tempo, uma forma de poesia fantástica”, descreveu a comissária da exposição.

Cécile Debray conheceu Paula Rego quando comissariou uma exposição de Lucian Freud no Centro Pompidou, em Paris, em 2010, e quis agora dar-lhe o destaque num museu que quer “programar artistas vivos, nomeadamente os que trabalham a figuração, porque são figuras singulares”.

A comissária concebeu a mostra “como um percurso pela obra de Paula Rego, sem ser uma retrospetiva”, e “como o Musée de l’Orangerie está ligado ao Museu d’Orsay, a ideia foi fazer uma exposição sobre a sua obra com ecos de obras que ela viu”.

Na mostra, vai haver telas de grande formato a representar as suas “mulheres-crianças-animais”, obras gráficas em diálogo com desenhos e gravuras de Daumier, Goya, Degas, Rabier, e obras em pastel, apresentadas com os bonecos que lhe servem de modelo.

“Como a exposição se chama ‘Os contos cruéis de Paula Rego’, escolhi como ângulo a infância. Portanto, avançamos na obra de Paula Rego com alguns contrapontos, como gravuras de Daumier, Goya, Rabier, Manet, ilustrações dos ‘Contos de Grimm’, por [David] Hockney, uma escultura de Ron Mueck e pastéis de Degas”, precisou, destacando que “o lugar de honra é para a obra de Paula Rego”, ainda que haja alguns “diálogos” com trabalhos de outros artistas.

A diretora do Musée de l’Orangerie acrescentou que Paula Rego é “uma artista que tem um universo muito particular, político, com uma ligação à literatura e com uma forma de realismo muito rude e muito poderosa”, cultivando uma “força e a independência em relação às modas”, e mantendo um lado contemporâneo com a criação dos seus modelos a partir de bonecos.

“Este universo de bonecas, de acessórios, de pequenos cenários quase teatrais é um aspeto extremamente contemporâneo e pouco conhecido. É um laço quase demiúrgico em que ela cria as suas criaturas para depois as representar. Ela mistura o vivo com o artifício e isso é muito interessante”, afirmou.

Cécile Debray declarou, também, que vai ser editado um catálogo da exposição com historiadores de arte, franceses, porque quis “dar uma cor mais francesa à abordagem”.

A exposição deverá, ainda, ser acompanhada por um ciclo de conferências relacionado com a obra da artista portuguesa, uma jornada de estudo sobre a pintura figurativa, “talvez uma programação de dança e música”, e “algo sobre o cinema português, porque ela tem pontos comuns com alguns realizadores portugueses, como Manoel de Oliveira”.

Em 2012, a delegação francesa da Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris, apresentou a primeira exposição “representativa” da obra da pintora Paula Rego, em França, com trabalhos desenvolvidos entre 1988 e 2009, de “A família” à “Mulher cão”.

Desde 28 de fevereiro e até 27 de agosto, cinco obras de Paula Rego figuram na exposição coletiva “All Too Human – Bacon, Freud and a Century of Painting Life”, no museu Tate Britain, em Londres.

A exposição reúne cerca de cem obras de 22 pintores, entre os quais alguns dos mais célebres artistas britânicos modernos, com destaque para Lucian Freud e Francis Bacon, mas também Walter Sickert, Stanley Spencer, Michael Andrews, Frank Auerbach, Francis Newton Souza ou Leon Kossoff.

Paula Rego vive e trabalha em Londres, para onde se mudou com 17 anos, para estudar na Slade School of Fine Art.

Em 2004, foi condecorada com a Grã-Cruz da Ordem de Sant’Iago da Espada. Em 2010 foi distinguida pela rainha Isabel II com o grau de Oficial da Ordem do Império Britânico, pela sua contribuição para as artes.

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