Joana Freitas Manchete SociedadeHepatite C | São Januário já tem Sofosbuvir e administrou-o a dezenas Em Janeiro, eram cerca de 18 os doentes de Hepatite C que esperavam o Sofosbuvir. Agora, mais de vinte já o tomaram, garantem os SS, que indicam que o medicamento chegou finalmente a Macau, em conjunto com outros dois além do tradicional Interferon [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Saúde (SS) já estão a administrar o Sofosbuvir – ou medicamentos com esta componente – a doentes portadores de Hepatite C. É o que garante o organismo numa resposta ao HM. Os SS asseguram que, desde final de Janeiro, que o medicamento está em Macau, depois de alguns doentes portugueses com residência em Macau, como o HM avançava no início do ano, estarem a ser tratados em Portugal com o novo medicamento. Os portugueses que decidiram sair de Macau fizeram-no porque não havia forma de serem tratados no território com o Sofosbuvir, que tem uma taxa de cura de 90%. Agora, os SS indicam que mais de três dezenas já têm acesso a outros medicamentos que não o Interferon, tido como um remédio com mais efeitos secundários. Entre eles está o novo medicamento e dois outros, um deles que tem os mesmos componentes que o Sofosbovir. Em Janeiro, os SS diziam que existia uma lista de 18 doentes que iriam ser tratados com o Sofosbuvir, sendo que para cada doente o Governo estima gastar um milhão de patacas. Até essa altura, apenas um doente de Macau estava a ser tratado com o medicamento, mas em Hong Kong, já que os SS entenderam que o seu caso carecia de intervenção urgente. Os números, agora, mudam. “Actualmente existem em Macau cerca de 200 doentes diagnosticados com Hepatite C crónica aos quais não é adequada a prescrição de Interferon. Havendo, [por isso], a possibilidade de serem tratados com um de três medicamentos: Harvoni (que inclui Sofosbuvir), Sofosbuvir e Viekira Pak”, refere ao HM. Os dados fornecidos pelos SS indicam que estes três medicamentos já foram administrados a 39 doentes portadores de Hepatite C crónica. Entre estes, a maioria tomou medicamentos com Sofosbuvir: “85% deles tomaram medicamentos com [esse] componente”. Desde 2003 que o São Januário tem vindo a adoptar o medicamento tradicional Interferon na cura dos doentes com vírus de Hepatite C crónica, sendo que, até ao momento, mais de mil doentes foram tratados com este medicamento, “na maioria dos casos com bons resultados clínicos”. Desde 2013 que o Sofosbuvir está no mercado.
Hoje Macau EventosProfissionais partilham experiências sobre Moda [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]importância da “diversificação de culturas dos jovens”, a “especialização numa área concreta” e a capacidade de introduzir “a modernidade” foram alguns dos conselhos deixados por especialistas na área da Moda. No seminário “Fashion Talk”, que decorreu no sábado no Museu de Arte de Macau, Xander Zou, designer no interior da China, Trunk Xu e Nic Lei partilharam experiências com Macau. Xander Zou foi o primeiro chinês a entrar no programa oficial da semana de Moda masculina de Londres. Trunk Xu é fotógrafo e Nic Lei, mestre de maquilhagem colaborador com a Semana Internacional de Moda realizadas em Macau, Pequim e Xangai. Os três falaram perante uma plateia de criadores de marcas e designers e partilharam experiências, nomeadamente sobre o funcionamento das marcas de produtos e a cooperação comercial entre sectores. Ferramentas que podem ajudar a levar o nome destes novos empresários mais longe, dizem. Xander Zhou disse que a “diversificação de culturas dos jovens é o foco da nossa era e que a Moda já vai muito mais além do diálogo espacial entre o palco de desfile e os espectadores”. Já Nic Lei sugeriu que, no processo de criação de uma marca de Moda, os designers de Macau sejam “especialistas numa técnica em especial, para além de estudar os outros conhecimentos profissionais da indústria, procurando ser especialistas e sabendo introduzir o elemento de modernidade”. Na perspectiva de Trunk Xu, “a indústria da Moda exige constantemente forte elemento de modernidade, podendo o visual do empacotamento valorizar uma marca singular”. O Fundo das Indústrias Culturais (FIC), uma das entidades organizadoras, pretende com estes colóquios o desenvolvimento das actividades de design de Moda e vestuário e da criação da própria marca. Os profissionais presentes, todos experientes, ajudaram os mais novos, partilhando histórias, experiências e “cedendo importantes ferramentas, para que o desenvolvimento deste sector, um ramo importante das indústrias culturais, chegue a bom porto, difundindo a imagem de Macau além fronteiras e dando estímulo ao desenvolvimento de marcas Made in Macau”, indica o Governo .
Sofia Margarida Mota BrevesAlexis Tam quer mais marcas regionais Mais marcas regionais e a criação de itinerários culturais chamados de “multidestinos” são as sugestões que Alexis Tam deixou na primeira participação de Macau na Reunião dos Ministros da Cultura da China, Japão e Coreia do Sul (ASEAN). Em comunicado de imprensa é deixada a intenção do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, que diz querer “fazer a diferença dando relevo às especificidades da região”. Tendo como base os 500 anos de história e ligação com os países que integram a ASEAN, o que representa, para o Secretário, uma forma privilegiada de uma região que abraça o oriente e o ocidente, Alexis Tam sugere a criação de marcas da terra que demonstrem as suas características culturais únicas e a sua expansão a mercados internacionais. Por outro lado, a tónica também pairou no aumento da formação para o Turismo através da co-organização de cursos nas área da hotelaria não só com a ASEAN, mas também recorrendo ao mecanismo de cooperação que Macau tem encetado com a Organização Mundial de Turismo das Nações Unidas. Ponto de relevo é ainda a aposta no turismo cultural e, para Alexis Tam, é necessário que se estabeleça “um mecanismo de interacção e intercâmbio cultural” em que os países da ASEAN possam participar nos eventos de carácter cultural e artístico na RAEM.
Angela Ka PolíticaSecretário para a Segurança quer aumentar penas para migrantes que cometem crimes [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Gabinete do Secretário para a Segurança já admitiu que poderá vir a aumentar o prazo de detenção dos imigrantes ilegais e que cometam crimes no território. É o que diz o gabinete de Wong Sio Chak em resposta a uma interpelação escrita do deputado Zheng Anting, que já tinha referido preocupação com o aumento dos casos criminais que envolvem estrangeiros portadores do “título de apresentação”. Zheng Anting queria o prolongamento da detenção de imigrantes ilegais e uma revisão ao mecanismo de emissão de títulos ou guias de apresentação às autoridades. Numa interpelação escrita, o deputado realçava a sua preocupação face ao que diz serem casos cada vez mais recorrentes de crimes como roubos ou raptos de crianças que envolvem estrangeiros e diz que o sistema actual não convence. O título ou guia de apresentação, defende, não é o suficiente para que estes não atentem contra a segurança do território. Estes documentos são emitidos pelas autoridades quando os imigrantes ilegais violam a lei, até se estiverem em casos de excesso de permanência. Esta é uma forma do Governo poupar dinheiro com a detenção, emitindo apenas estas guias de apresentação no caso dos crimes não serem graves. Mas o deputado diz que muitas vezes são os portadores destes documentos que reincidem em crimes. Para justificar o pedido o deputado dá como exemplo a tentativa de rapto de uma criança por um homem em permanência ilegal na RAEM, portador deste título, e cujo caso remonta ao passado mês de Junho. Neste momento o período máximo de detenção dos imigrantes ilegais e pessoas com excesso de permanência é de 60 dias e Zheng Anting sugere que, na revisão ao regime jurídico, o prazo de detenção aumente para 90 dias de modo a diminuir o risco de potencial ameaça à segurança da sociedade. A secretaria de Wong Sio Chak adianta que tal pode vir a acontecer e diz que a revisão do sistema jurídico desta matéria estará concluída até ao final do ano.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaLei de Terras | Dúvidas levam AL a ouvir mais de 40 horas de gravações Ho Iat Seng pediu aos assessores da Assembleia Legislativa para ouvirem as gravações das 43 reuniões que serviram de análise à Lei de Terras. O projecto de Gabriel Tong está parado. “Estamos a trabalhar e não chegámos ainda a um consenso” [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]m Julho a Assembleia Legislativa (AL) entendeu que não poderia aceitar o projecto de lei do deputado Gabriel Tong, que propôs uma nova interpretação à Lei de Terras, relativa aos prazos de concessão dos terrenos. Contudo, o presidente do hemiciclo, Ho Iat Seng, confirmou que o processo se encontra em suspenso, estando a ser analisadas as gravações das reuniões na especialidade sobre o diploma, nos anos de 2012 e 2013. “A situação mantém-se porque estamos de férias legislativas. O deputado Gabriel Tong nunca mais se pronunciou ou trocou opiniões comigo sobre a matéria. Antes das férias falei à imprensa, emiti um despacho para que a assessoria da AL possa ouvir as gravações das 43 reuniões sobre a proposta de lei. Os trabalhos estão a decorrer e isso vai levar muito tempo”, disse. Para Ho Iat Seng, “o trabalho tem de ser feito porque está em causa uma questão importante”. “Se o deputado quiser obter consentimento do Chefe do Executivo será muito mais fácil. Não podemos julgar agora quem tem razão, estamos a trabalhar e precisamos de mais algum tempo”, adiantou. Mesmo que a análise das gravações ainda não tenha sido concluída, Ho Iat Seng garante não existirem grandes diferenças entre o que foi discutido e o que foi aprovado na especialidade. “A assessoria entende que se trata de uma inovação. O deputado é jurista e tem o seu ponto de vista. Só posso diligenciar a auscultação das gravações, mas não me parece que haja uma grande discrepância entre aquilo que foi discutido e o que consta na lei. Foi eliminado o poder discricionário para o Chefe do Executivo. O prazo de aproveitamento do terreno sempre foi um poder da Administração e a AL não mexeu nisso. Como presidente não posso fazer uma avaliação política para rejeitar ou admitir. Estamos a trabalhar e não chegamos a um consenso sobre isso.” Apesar de considerar a proposta do deputado nomeado “um tema muito quente”, Ho Iat Seng considera que o debate foi positivo. “Muitos residentes nem sabem o que está na Lei de Terras. Tratou-se de uma boa oportunidade para a população perceber do que se trata”, concluiu. O HM tentou contactar o deputado Gabriel Tong, mas até ao fecho desta edição não foi possível estabelecer contacto.
Sofia Margarida Mota BrevesGoverno analisa reconstrução de Wa Keong O Governo vai analisar em pormenor a necessidade de obras mais aprofundadas no edifício Edifício Wa Keong, onde embateu o autocarro de turismo que desceu desgovernado a Rua da Entena. O acidente, que vitimou mais de 30 pessoas, deixou danos visíveis no prédio e os moradores queixam-se de ainda não terem planos concretos para a reparação. Num comunicado, a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) assegura estar a analisar a situação em cooperação com entidades da área, para que possam emitir uma proposta de restauração mais adequada. Tal deve-se ao estado de um dos pilares do prédio, bem como às paredes de uma loja e de uma habitação no primeiro andar. Estes espaços estão mais estragos, pelo que serão alvo de um projecto de reparação diferente. As restantes áreas já se encontram ao dispor dos moradores, garante a DSSOPT, sendo que “entre as 21 fracções e seis lojas do edifício, foram inspeccionados 24 espaços e dois proprietários dispensaram a verificação das autoridades e um proprietário ainda se encontra incontactável”, pode ler-se em comunicado de imprensa. Quanto ao número de vítimas e ao seu estado, entre os mais de 30 turistas hospitalizados, seis ainda se encontram no Kiang Wu e a mulher que deu entrada em estado de coma já estará “clinicamente estável”, embora ainda inconsciente.
Sofia Margarida Mota EventosCinema | América Latina no grande ecrã esta e próxima semana Vem aí mais uma semana repleta de cinema da América do Sul. Integrado no Festival da América Latina 2016, os filmes em cartaz convidam a viagens ao Brasil e às suas vicissitudes e alegrias, à Venezuela e ao Chile – de uma forma dramática – e terminam na busca da liberdade pela arte com um filme da Colômbia [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]ontinua a 1 de Setembro o cartaz de filmes que integram o Festival da América-Latina, organizado pela Association for the Promotion of Exchange Between Asia-Pacific and Latin America (MAPEAL). Mais uma semana em que o projector tem guardadas ironias brasileiras, momentos entre o céu e a terra na ditadura chilena, regressos ao passado venezuelanos e grafites e insónias da Colômbia. O mês abre com “Saneamento Básico, O Filme”, cuja visualização tem lugar na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Macau. A película brasileira, que conta com a realização de Jorge Furtado, retrata o “desenrasque brasileiro”. Numa povoação do Rio Grande do Sul, maioritariamente habitada por emigrantes italianos, os habitantes mobilizam-se para a construção de uma fossa que venha a substituir o esgoto a céu aberto. Sem verba por parte dos governantes, a população aproveita um pequeno orçamento destinado à realização de uma curta-metragem para fazer a fossa. O filme conta com as participações de Fernanda Torres e Wagner Moura. Da comédia ao drama. A 2 de Setembro, no mesmo local, é tempo de cinema da Venezuela. “Una mirada al mar” é o filme de Andreas Rios que traz a história de Rufino, um viúvo de 71 anos que resolve regressar à aldeia onde conheceu a esposa. Chegado, reencontra um velho amigo de juventude, o pintor Gaspar. Numa viagem ao passado, a vida já não é a mesma e “Una mirada al mar” retrata um drama interpessoal que já passou pelas mudanças que acompanham o tempo e a necessidade de reinvenção própria. Dia 3 de Setembro é para o cinema chileno, com “Nostalgia de la Luz” de Patricio Guzman. Um filme que aborda os desaparecimentos de pessoas em tempos de ditadura de Pinochet. Um grupo de mulheres parte para o deserto de Atacama à procura dos restos mortais dos seus entes queridos que desapareceram. Enquanto isso um grupo de astrónomos internacionais acorrem a este lugar para observar o universo e tentar encontrar o sentido da vida. Um filme entre o céu e a terra e os segredos mais profundos de ambos numa película que já constou da selecção oficial de Cannes. Todas estas exibições estão agendadas para as 19h00 e contam com entrada livre. O auditório da Universidade de S. José volta a ter projecção a 6 de Setembro, desta feita às 18h30, com um filme de Oscar Ruíz Navia. “Los Hongos” – ou em Português “Os cogumelos” – vem da Colômbia e mostra a vida de Ras, um jovem que de dia é trabalhador da construção civil, que se vê impelido a deixar a profissão, e à noite pinta os muros do seu bairro na cidade de Cali. Impossibilitado de dormir começa a viver numa espécie de sonho acordado e, com um amigo procurado pela polícia, optam por fazer da vida uma pintura clandestina dos muros da sua cidade. Como “cogumelos contaminaram os seus trajectos de uma imensa liberdade”, anuncia a apresentação da película.
Hoje Macau China / ÁsiaChefe das Estatísticas chinês expulso por abuso de poder O antigo “número um” do gabinete de estatísticas chinês foi expulso do Partido Comunista por gostar de luxo e usar a sua posição para obter favores sexuais. A notícia foi avançada na sexta-feira por uma comissão oficial [dropcap style=’circle’]W[/dropcap]ang Baoan dirigiu até Janeiro o gabinete nacional de estatísticas, organismo encarregue de calcular e anunciar os indicadores económicos do país. Durante esse mesmo mês, foi-lhe aberto um inquérito que chegou à conclusão que Wang agia “desprovido de qualquer fé política”. O comunicado em que se revela as conclusões da investigação, foi feito pela comissão central de inspecção disciplinar, o órgão anti-corrupção do Partido Comunista Chinês (PCC). Segundo este mesmo relatório, Wang Baoan “participava regularmente em actividades supersticiosas, violava gravemente as regras e a disciplina política e expressou opiniões contrárias às do comité central do PCC sobre questões maiores”, indicou. A exactidão das estatísticas económicas chinesas foi questionada regularmente, e alguns argumentaram que até podiam ter sido alvo de manipulação política. Wang é o último alvo da vasta campanha anti-corrupção levada a cabo por Pequim, desde a chegada ao poder do presidente Xi Jinping em 2013. Uma operação por vezes suspeita de servir as intensas lutas de poder internas no PCC. A comissão descreveu Wang Baoan como um homem “em falência moral”, apreciador de hotéis de luxo, amante de divertimentos dispendiosos e que usava a sua posição para obter favores sexuais. “Wang aceitou presentes e dinheiro e usou a sua influência para conseguir benefícios e vantagens comerciais para familiares e outras pessoas, sendo suspeito de corrupção”, de acordo com o mesmo comunicado. O dossier de Wang Baoan vai ser entregue à Justiça, mas por regra, os inquéritos internos do PCC terminam com a exclusão do partido, uma condenação e pena de prisão. Em Julho foi a vez do antigo braço direito do presidente chinês, Hu Jintao, ter sido apanhado e condenado a prisão perpétua. Ling Jihua um dos representantes mais destacados, foi acusado de abuso de poder e obtenção de segredos de estado ilegalmente. Na altura da condenação a agência Xinhua adiantou que, Ling tinha aceite subornos no valor de 11 milhões de dólares, pessoalmente ou com a conivência de familiares. O antigo alto funcionário aceitou a condenação. De referir que Ling Jihua foi durante anos um nome sonante nas listas para a nomeação a cargos públicos. A sua queda começou quando tentou encobrir a morte do filho, ao volante de um Ferrari, em excesso de velocidade. Afastado para cargos menores, acabou por ser alvo de uma investigação, que culminou com a sentença e a sua prisão. Desde que chegou ao poder em 2013, o Presidente chinês montou uma caça aos infractores, revelando mão pesada para todos os que ousam não respeitar as regras. Wang Baoan é o último caso tornado público.
Hoje Macau China / ÁsiaLi Keqiang vai a Cuba e Setembro [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, vai visitar Cuba no próximo mês e leva na mala a assinatura de vários acordos. O anúncio foi feito no fim-de-semana, no final da XXVIII Comissão Intergovernamental para as relações económicas entre os dois países, que decorreu em Havana. Entretanto, o Governo de Pequim continua a afirmar-se como segundo parceiro comercial do Governo de Havana. O ministro do Comércio Externo e Investimento Estrangeiro de Cuba, Rodrigo Malmierca, que afirmou que o seu país e a China têm uma “visão estratégica de futuro”, adiantou que ambas as partes preparam as condições para a próxima visita do primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, à ilha, segundo os ‘media’ oficiais. No entanto não foi avançado nenhuma data para o encontro. O ministro assinalou que o investimento chinês já começou a manifestar-se no mercado da ilha, e que trabalham, de forma conjunta, com uma projecção de “médio e longo prazo para impulsionar as relações económicas” com base nos planos que ambos os países elaboraram até 2030. No final da reunião, Malmierca e o vice-presidente de Negociações Comerciais Internacionais do Ministério do Comércio chinês, Zhang Xiangchen, que lideraram as conversações, assinaram as actas de três projectos já executados. Estes projectos de cooperação destinaram-se ao fornecimento de equipamentos de medição de água, ao saneamento de Havana e à implantação da televisão digital na ilha. Em Julho de 2014, durante a visita de Estado do Presidente chinês, Xi Jinping, à ilha, foram assinados 29 acordos de cooperação que ampliaram o alcance das relações económicas bilaterais. A China figura como o segundo parceiro comercial de Cuba.
David Chan Macau Visto de Hong Kong VozesDe boas intenções está o inferno cheio [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]website “https://www.thenewslens.com/article/47136” publicou recentemente um artigo sobre o Presidente filipino, Rodrigo Duterte. Duterte tinha prometido combater o crime nas Filipinas, em particular, o tráfico e consumo de drogas. Desde essa altura já morreram 1.054 pessoas suspeitas de envolvimento nestas actividades. Foram todas condenadas sem julgamento. Mas Duterte foi ainda mais longe. Autorizou os cidadãos a lincharem qualquer pessoa que seja suspeita de tráfico de droga. Calcula-se que cerca de 600 pessoas tenham sido mortas pela polícia e cerca de 400 pelos vigilantes. Estes acontecimentos originaram uma grande polémica a nível internacional. Em Junho, Ban Ki-moon, Secretário das Nações Unidas, condenou esta onda de execuções sumárias. A intenção de Duterte é boa, quer reduzir o crime e, nesse aspecto, deve ser apoiado pelos filipinos. Contudo, é importante compreender que existe uma diferença quanto ao estatuto do suspeito, antes e depois do julgamento Na presença de um crime, a polícia é responsável pela investigação. Durante este processo procura determinar os factos e recolher provas que sirvam a acusação. Qualquer pessoa que seja suspeita de ter cometido um crime fica sob investigação criminal. Se for acusado, torna-se réu e será levado a Tribunal. Durante o julgamento, se houver provas suficientes, será considerado culpado. O tribunal condená-lo-á a uma pena de prisão ou a uma multa, conforme o caso. O objectivo do julgamento é garantir que existem provas suficientes da culpabilidade do suspeito. Sem este procedimento legal nunca haverá maneira de determinar a consistência das acusações. O que se está a passar nas Filipinas levanta precisamente esse problema, sem julgamento não se pode saber em absoluto se existe fundamento nas acusações. Estes procedimentos sumários geram resultados dúbios. É natural que as pessoas se interroguem sobre a existência de provas que justifiquem a acusação. Existe, para além disso, outra questão que se prende com a quantidade de droga na posse do suspeito. A quantidade poderá determinar se estamos em presença de um traficante ou de um simples consumidor. A pena deve ser diferente num caso e no outro. Os traficantes deverão, obviamente, ter uma pena maior. Sem julgamento como é possível determinar a quantidade de droga que o suspeito tinha em sua posse? Deverá um consumidor sofrer uma pena tão pesada como um traficante? Para governar um País é necessário recorrer à Lei. Sem a Lei não é possível estabelecer padrões de comportamento, nem para os cidadãos, nem para o Governo. Executar um suspeito sem julgamento é um assassinato. Se um País recorrer ao assassínio para lutar contra o crime, deixa de se perceber a diferença entre os criminosos e quem os combate. Estas mortes provam que o estado de direito não está em vigor nas Filipinas. É lamentável que um País recorra a linchamentos, e não à Lei, para resolver os seus problemas. É, portanto, compreensível que Ban tenha acusado Duterte de ter cometido “um atentado ilegal aos direitos e à liberdade dos réus”. É evidente que qualquer processo criminal está dependente das leis de cada País e é, para além disso, um assunto interno. À partida, os outros Países não se devem ingerir. No entanto, perante assassinatos continuados, já o caso muda de figura. Até ao momento já foram mortas 1.054 pessoas. Quantas poderão ainda vir a sê-lo? Esta é a preocupação das Nações Unidas. Mas Duterte tem outra opinião. Respondeu que só tinham morrido 1.000 pessoas e que era incorrecto as Nações Unidas interferirem nos assuntos internos das Filipinas. Afirmou ainda que as declarações de Ban tinham sido “muito estúpidas”. Preveniu também os observadores de direitos humanos estrangeiros para “não nos investigarem como se fossemos criminosos!”. Estas declarações foram a resposta de Duterte à Nações Unidas e as execuções sem julgamento vão continuar a acontecer. Com estas afirmações Duterte só aumenta o clima de tensão entre o seu País e as Nações Unidas e demonstra que não compreende bem a natureza das funções da ONU. Nada disto é bom para as Filipinas. A intenção de Duterte é boa. Quer acabar com o crime nas Filipinas, e tomou medidas nesse sentido. Mas ignorou os meios correctos para atingir esse objectivo. Executar um suspeito sem julgamento é o mesmo que cometer um assassinato. Os assassinatos continuados chamaram a atenção das Nações Unidas. Quando um caso é discutido pela ONU torna-se um caso internacional. Aconteça a o que acontecer, as Filipinas vão sair sempre a perder. Talvez ninguém acreditasse que um assunto desta natureza pudesse ser tão sério. As boas intenções de Duterte, não podem mudar a sua imagem a nível internacional. * Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
Hoje Macau China / ÁsiaCoreia | Seul e Washington atentos a submarinos do Norte [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Coreia do Sul e os EUA acordaram partilhar informação para um acompanhamento mais exaustivo do programa de submarinos da Coreia do Norte, depois do lançamento, com êxito, a semana passada, de um míssil balístico a partir de um submergível. Os dois aliados estudam já mecanismos para analisar e partilhar dados sobre o ambiente subaquático nas águas da península coreana, segundo explicou fonte do Ministério da Defesa sul-coreano à agência de notícias Yonhap. As águas em território sul-coreano estariam incluídas nesse âmbito, em que o objectivo passa por analisar com especial atenção tudo o que sucede nas proximidades de Sinpo, província norte-coreana de Hamyong do Sur (nordeste), onde o regime de Kim Jong-un tem a sua maior base de submarinos e desenvolve o seu programa de mísseis SLBM. “Os dados compreendem, por exemplo, as características topográficas, a temperatura da água, a profundidade ou as correntes. Uma análise detalhada de todas essas informações ajudará a detectar as actividades submarinas” da Coreia do Norte, disse a mesma fonte. O interesse de Seul e de Washington relativamente ao programa de submarinos da Coreia do Norte cresceu nos últimos meses com os diversos lançamentos de mísseis balísticos a partir de submarinos (SLBM) que Pyongyang levou a cabo desde Dezembro. Na semana passada um submarino norte-coreano realizou o lançamento de um míssil mais bem-sucedido até à data. O projéctil, lançado a partir das imediações de Sinpo, percorreu aproximadamente 500 quilómetros e caiu em águas que correspondem à zona de identificação aérea do Japão. Os avanços na tecnologia SLBM por parte da Coreia do Norte têm gerado alarme, já que o seu total desenvolvimento tornaria muito mais difícil detectar os seus lançamentos e aumentaria o alcance do arsenal de mísseis do Exército Popular norte-coreano, atendendo à natureza móvel dos submarinos.
Joana Freitas BrevesAcidente com ferry de Macau ao largo de Hong Kong Quase 300 pessoas ficaram presas durante aproximadamente duas horas, ao largo de Hong Kong, na noite de sábado, depois do ferry em que seguiam, procedente de Macau, ter colidido com um barco de pesca. Todos os 289 passageiros e dez membros da tripulação que seguiam a bordo do barco, que viajava sob aviso de tempestade, encontram-se a salvo, ainda que uma passageira tenha ficado ligeiramente ferida. Operado pela empresa TurboJET, o barco zarpou de Macau às 23h15 de sábado e colidiu aproximadamente meia hora depois com um barco de pesca de 15 metros junto a Ngau Tau, grupo de ilhotes perto da ilha de Lantau, onde se localiza o aeroporto internacional da antiga colónia britânica. O barco ficou parado no local durante duas horas para permitir inspecções por parte da tripulação e pelas autoridades de Hong Kong e da província chinesa de Guangdong, por o acidente se ter registado nas suas águas, que foram ao local para analisar se o ferry tinha ainda condições para continuar a navegar. A frente do barco de pesca ficou danificada, mas as pessoas que seguiam a bordo encontram-se bem. O ferry acabou por seguir para o porto de Sheung Wan, em Hong Kong, onde chegou por volta das 02h20.
Joana Freitas BrevesMulher vende carne de cão no Facebook Uma mulher vietnamita que trabalha e reside em Macau estará alegadamente a vender carne de cão por encomenda. A denúncia foi feita nas redes sociais Facebook e WeChat, depois da mulher ter colocado duas fotos com a legenda “a comida está pronta e vai agora ser entregue aos clientes”. A publicação foi feita em Macau e a mulher acabou por retirar as imagens, mas não sem antes receber uma série de mensagens de residentes. Entre algumas delas, admite que vende comida para fora através do Facebook, mas diz que a fotografia – que entretanto apagou e que mostra claramente cães – é de “cordeiros”. Uma das residentes, que chegou a reportar o caso à polícia, como confirmou ao HM, responde que o que está na imagem são cães e a mulher vietnamita deixa de responder. A conta inicial do Facebook onde foram colocadas as fotografias foi apagada e a mulher, que segundo a rede social trabalha no Venetian, tem uma outra onde foi colocado um cão como foto de perfil a 26 de Agosto, um dia depois do caso ter provocado uma onda de indignação nas redes sociais. O HM tentou confirmar com a polícia se o caso está a ser investigado mas não foi possível até ao fecho desta edição.
Angela Ka Manchete PolíticaKwan Tsui Hang | Interpelações não são tratadas com seriedade Kwan Tsui Hang diz que as interpelações não são vistas com a devida seriedade pelo Executivo. Além disso, há problemas de ordem jurídica que atrasam propostas e o Governo tem culpa, atira a deputada [dropcap style=’circle’]”[/dropcap]As interpelações são tratadas sem seriedade por parte do Executivo”, afirma a deputada Kwan Tsui Hang ao Jornal do Cidadão. Para a deputada eleita directamente, as interpelações que têm sido apresentadas ao Governo não são devidamente tidas em conta. Kwan Tsui Hang aponta ainda falhas jurídicas na resolução de determinados assuntos. Na última sessão da Assembleia Legislativa (AL), 19 deputados entregaram 619 interpelações escritas e 19 interpelações orais ao Governo. Kwan Tsui Hang refere que o crescente volume das interpelações apresentadas se deve ao facto dos deputados eleitos directamente começarem a exercer cada vez mais os seus direitos, o que lhes permite uma entrega semanal de uma interpelação. A deputada questiona se será este aumento de interpelações capaz de estar na origem do que chama de tratamento sem seriedade. “É provável agora que as respostas às interpelações sejam feitas pelos técnicos gerais que começaram a trabalhar há pouco tempo e a quem lhes terá sido solicitado o trabalho de responder”, afirma a deputada, ao mesmo tempo que interroga se estes funcionários “já conhecem devidamente os processos”. O facto de muitas das respostas dadas às interpelações não corresponderem às questões colocadas é, para Kwan Tsui Hang, sinal de que o Governo vê os deputados, “quem lê estas respostas”, como “parvos”. Para a deputada, é imperativo que os órgãos do Governo se expliquem perante as preocupações dos residentes, “de forma clara e séria e assumam as suas responsabilidades”. (In)gestão jurídica Sendo também a presidente da 1.ª Comissão Permanente da AL, Kwan Tsui Hang considera ainda que outros dos grandes problemas encontrados nos trabalhos legislativos é o longo intervalo entre a subida a plenário das leis que estiveram em discussão nas Comissões que analisam as leis na especialidade, bem como a falta de coordenação do Governo sobre diplomas que considera semelhantes. A deputada refere a título de exemplo a Lei da Actividade Comercial de Administração de Condomínios, que já saiu de análise na especialidade há alguns meses, e que na sua opinião colide com a proposta do Regime Jurídico da Administração das Partes Comuns do Condomínio. “Isso será problemático porque ambas propostas já foram estudadas na especialidade pela 1.ª e 2.ª Comissão Permanentes e o Governo voltou a considerar que as propostas têm pontos contraditórios”, afirma. Para a deputada as reuniões já efectuadas contaram com a presença da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça, pelo que este tipo de problemas não deveria estar a ser levantado e, como tal, o facto permanecerem reflecte a existência de obstáculos na gestão jurídica do Governo, que continua, diz, a adiar determinadas respostas.
Hoje Macau BrevesGotas para os olhos retiradas de mercado Todos os produtos de solução oftálmica vendidos pelo fornecedor de medicamentos de Wuhan Wujing Medicine vão ser recolhidos do mercado, por terem sido detectadas falhas pela entidade que regula esse sector. Segundo registos locais, o medicamente “Ribavirin Eye Drops – 8ml” vai ser recolhido do mercado e os Serviços de Saúde pedem a todos os utentes que aviaram esta receita para contactar o médico.
Angela Ka BrevesCasas-Museu | Lam U Tou diz que mudança é “radical” Mudança radical é a forma como o vice-secretário-geral da Associação Choi In Tong Sam da Federação das Associações dos Operários de Macau, Lam U Tou, descreve as alterações propostas pelo Instituto Cultural para as Casas-Museu da Taipa. Para o dirigente associativo, a intenção de acrescentar uma série de elementos que atraem o turismo é contraditória com a “manutenção do ambiente de lazer do lugar”, afirma ao Jornal do Cidadão. O projecto – que contempla a localização naqueles espaços de áreas de lazer e restauração – é motivo para que haja a “perda das suas características”, o que “irá diminuir a sua atracção aos turistas e residentes”, frisa. Por outro lado, Lam U Tou considera que não há necessidade de ali se instalarem restaurantes já que “o fornecimento de uns aperitivos é suficiente”. Um outro argumento que Lam U Tou apresenta é que o projecto destinado a estas casas é uma “cópia do Anim’Arte Nam Van”, estando a única diferença no facto deste último abranger actividades aquáticas. Apesar do projecto para Nam Van estar a ter bons resultados, Lam U Tou considera que “pontos turísticos diferentes devem ter também diferentes planeamentos”. “As Casas-Museu têm um contexto histórico abundante e o seu lazer também é distintivo e não devem ser radicalmente mudadas”, afirma, ao mesmo tempo que salienta que o aumento do turismo naquela área não é bem visto pelos residentes.
Hoje Macau BrevesDesemprego mantém-se nos 1,9% A taxa de desemprego permaneceu sem grandes alterações entre o período de Maio a Julho de 2016. A informação é dada pelos Serviços de Estatística e Censos e o números apontam para uma taxa de 1,9%, dados semelhantes aos registados entre Abril e Junho deste ano. A população activa na RAEM totaliza 399.400 pessoas (72,5%) e a população empregada teve um aumento de 1600 pessoas comparativamente ao período anterior que foi registado foi essencialmente no sector do comércio e vendas a retalho. O sector do Jogo decresceu. A taxa de desempregados à procura do primeiro emprego registou um acréscimo de 6,5%, atingindo os 15,5% do total da população desempregada, subida que é atribuída à saída de novos licenciados para o mercado de trabalho.
Hoje Macau BrevesCasa de Angela Leong em HK foi arrombada A casa de Angela Leong, directora-executiva da Sociedade de Jogos de Macau (SJM) e deputada, foi alegadamente arrombado no sábado. A polícia de Hong Kong já começou a investigação, mas ainda nenhum suspeito foi encontrado. Segundo o jornal Apple Daily de Hong Kong, a casa que foi arrombada fica na Repulse Bay Road, ocupa um área total de 12 mil metros quadrados e está em renovação. No sábado de manhã, a empregada doméstica da casa viu que a casa tinha sido remexida e denunciou o caso à polícia. Outra casa na mesma rua, propriedade do Cheng Yu-tung, bilionário que detém as Chow Tai Fook Enterprises, também foi arrombada no início do mês. A policia está a investigar se os dois casos foram perpetrados pela mesmo pessoa.
Amélia Vieira h | Artes, Letras e IdeiasTodo o Atlântico [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Atlântico é como uma estrada de Atlas: ele corta continentes e nele sempre o mesmo verde-mar, o mesmo drama, a mesma costa agreste. Ele paira-nos como aqueles ventos que se cruzam em grito, nos sussurra e nos fala e toda a paisagem contínua como selva atlântica até às densas brumas. É em muitas costas de um profundo silêncio e grandeza agrestes. Sem a tranquila noção de um útero como o Mar Mediterrânico, o Atlântico abre para o mundo como uma boca indivisa e um lúgubre tormento de marear, voltado a norte. Temos medo, ele arranca-nos o sono com o ruído da sua proximidade de uma grandeza que cilindra a paz dos seres. Penso que ninguém é feliz junto a ele. As mulheres sofrem muitas vezes da função hirsuta que lhes chega do denso iodo e as transformam em Medusas desfiguradas e de dura cerviz. Os homens secam as carnes num sal que destempera toda a pele, que têm como um lenho, e estas povoações, peninsulares, albergam fantasmas e não são susceptíveis de maciez. Para sul ele torna-se mais macio, mais doce, menos vulcânico, talvez, e sem dúvida por isso lhe estão associados os mais alegres efeitos e quase a rumar para África fiquem para trás as densas manifestações do seu corpo de gesso, da sua imensa transfiguração como Ventre da Baleia. Por isso gostamos de rumar para o sul de todos os sóis, para lhe fugirmos onde ele está mais sombrio. Bafejado pelas correntes do Golfo, ele torna-se um Mar, mas um mar onde já os Cânticos se podem ouvir sem a urdidura da gemida força da sua massa poderosa. O calor produz um reconfortante silêncio das funduras e talvez os vulcões sejam mesmo inaudíveis e por isso nos fascinem com tanta coisa que se vê em cintilação sem nos dizer dele mais nada. Entre a lava e o levante das ondas atlânticas este efeito talvez não nos atemorize tanto. Por vezes levam-nos os sonhos até ao mar cobalto, fundo azul-redondos fundos até aos encantos onde os deuses moram, vagueamos pela secura da costa com aquelas árvores que quase lhes mergulham dentro, toda a beleza da fronteira entre terra e céu e água nos parece uma dança, esse líquido que tem dentro as sereias que enlouquecem Ulisses, expulsam Orpheu, e à sua entrada tange a lira, pois é ainda o sonho líquido que dele ficou. — Mas o Atlântico é um soberbo corredor de monstros marinhos, tão imenso como a Via Láctea e jazendo de pujança fria a nossos pés. Talvez que a natureza de cada um de nós já não tenha um mapa anexo nos destinos a percorrer na viagem terrena mas, em todo o caso, não era este o implante que gostava de ter tido. Ainda agora, toda esta costa me ofende e perturba como um choro de harpias por detrás do verde azul — há todos os mortos e toda a força de um volume que há-de, em tempo impreciso, galgar a descarnada costa e suas audazes valentias de chamar a tais margens, terra; são chãos colossais e arenosos, mas não são ainda terra. Hoje, 24 de Agosto, há uma prática lusíada que equivale a um Jordão, mas as crianças não gostam das águas do oceano daqui e mergulhadas em ondas em números ímpares, depois de rondarem a vila de Bartolomeu do Mar, são atiradas ao denso e fundo escuro deste instante. Diz-se que lhes faz bem: lhes tira gaguez, cegueira, epilepsias, talvez sim, porque antes sacrificam uma galinha negra que também será atirada ao mar. Todo o terror quando superado vence o mal que lhe estava subjacente. Penso que não haja memória de um Jordão assim, nem das águas de Lesbos estarem tão revoltas que as belas não fizessem delas os seus espelhos. Narciso precisou de uma suavidade translúcida e parada para contemplar tão forte emoção: ser aquele por quem os elementos se apaixonavam. Os elementos por vezes reúnem-se para uma grande declaração de amor, assim como os sentidos todos concordarem na corrida para um encaixe perfeito entre partes. Chama-se a isso talvez Amor, mas é certamente um sistema de simpatias que de tão harmónicas formam o Encontro. Nestas paragens oceânicas tudo se perde… Entre o pinhal de Leiria e a costa oeste há uma desassossegada vibração que nos domina, aquele mar deveria ter entrado sem impedimento, nós devíamos não ter sustentado a costa e com ela ter deitado ao mar os últimos habitantes de uma orla tão primitiva quanto os dinossauros. Mas há reis, que sendo poetas, são mais que reis: são missões no altar dos tempos e talvez soubesse dos bens merecidos destas vertentes e daquele de que viria a restar como matéria prima e que lhe falou mais alto que todos os apelos de erosão. Passar rente a tudo isto não é fácil, olhar o Atlântico altivo e fero faz-nos uma angústia de morte e nem sempre estamos destituídos de memórias antigas, que nos levam ao colo pela infância onde tanto horror nos parecia paradoxalmente… belo. É a saudade que ficou de frutos silvestres como camarinhas, de tudo o que é ácido e amargo, para sarar as feridas onde o sal penetrou tão fundo que deixamos de chorar e percorremos estes locais como a mulher de Ló- Alfeizerão, o pão é dele — Estranhos topónimos, nomes, tipografias… Sodoma ainda é longe de Nazaré e nada mais seca e disseca que o peixe aberto e assado ao sol das ondas. Quando por artes de navegação aqueles povos semitas se deram conta destas costas agrestes, eles, que vinham segundo Homero do Mar Vermelho e do Golfo Pérsico, tendo depois florescido no belo Mediterrâneo, não andaram mais e na Finisterra de todos os ocasos marítimos assim se foram tornando sombras. Os rios ficam entre sonhos e entre rotas-Jordão, Litani, Tigre, Eufrates… os nossos ficam entre sombras, Tejo, Douro, Mondego… Litani! Foi nas suas margens que a escrita das antigas litanias floresceram e em Biblos se fundou a fina pasta para comer o Livro: Ezequiel 1- come este Livro…! 2- Então abri a boca, e ele me deu o rolo para comer. «Engole o Atlântico» e vi um Ser surgido das estrelas que engoliu de um trago o mar tamanho e dele também levou as nuvens que são nesta costa fria e dura, as eternas neblinas matinais. Este Oceano não gosta de suicidas, mesmo sendo assim, devolve-os às margens, e deixa-os sem a dignidade de uma sepultura no seu ventre, as mulheres de cabeça para baixo e os homens invariavelmente de cabeça para cima. Só naqueles barcos que não eram feito de madeiras do Líbano mas de juncos e carvalhos, se deleitava com os náufragos que ele mesmo fazia descer às suas funduras. Tem miragens dignas dos maiores poetas em visões cegas de antanho quando, ao largo nas noites perto do Solstício do Verão, levantavam blocos de Ilhas, e ao longe pareciam douradas… Pessoa nem delas se esquecera num ramo insular e lhes deixou de prestar o belo culto: “não sei se é sonho se realidade se uma mistura de sonho e vida aquela terra de suavidade que da orla esquerda do sul se olvida… É a que ansiamos. Não é com Ilhas de fim do mundo nem com palmares de sonho ou não que a alma cura seu mal profundo e o bem nos entra no coração… É em nós que é tudo! Aí, aí, meu ser é jovem e o amor sorri”. Ao largo atlântico de uma Ilha que esperamos ver um dia.
Andreia Sofia Silva BrevesPereira Coutinho exige comparticipação para alimentos O deputado José Pereira Coutinho enviou uma interpelação escrita ao Governo onde pede que seja revisto o Programa de Comparticipação nos Cuidados de Saúde, por forma a permitir que os residentes “possam beneficiar numa maior escolha da utilização destes benefícios, nomeadamente no consumo de bens de primeira necessidade”. A ideia era alargar o âmbito de aplicação dos vales de saúde para que possam ser usados no consumo de alimentos.
Sofia Margarida Mota SociedadeDSPA garante protecção ambiental nas Casas-Museu da Taipa [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]protecção da natureza que rodeia as Casas-Museu da Taipa deu o mote para um parecer por parte da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA). A entidade deu a conhecer, em comunicado de imprensa, a emissão do parecer técnico relativo ao controlo da poluição ambiental, bem como as instruções que concernem a protecção. A medida tem como fim o adoptar de medidas adequadas para o devido “controlo da poluição ambiental”, após a inclusão de restaurantes na zona. O objectivo é “reduzir a influência” nas áreas envolventes, afirmou ontem a entidade. A DSPA acrescenta ainda que procederá ao mesmo processo sempre que lhe seja solicitada opinião de “modo a melhor proteger a qualidade ambiental circundante”. As Casas-Museu da Taipa encontram-se em obras de reabilitação, sob a alçada do Instituto Cultural (IC) que pretende fazer daquele espaço uma nova zona de lazer e atracção turística do território. Voltar à carga Joe Chan voltou ontem a contestar as medidas de protecção ambiental que possam estar a ser tidas em conta no que respeita à requalificação dos espaços. O líder da União Macau Green Student diz ao HM, e mais uma vez, que o facto de ter existido uma avaliação ambiental não diminui o impacto das obras e consequências da reabilitação das Casas-Museu. Para o líder associativo, o facto do local vir a receber mais visitantes e vir a ter mais luz dadas as actividades previstas vai “aumentar a influência negativa na natureza daquela zona”. O activista ecológico deixa mesmo um conselho aos pássaros que habitam aquela zona: saiam de lá, visto a vossa vida estar em causa. Já a 13 de Julho o HM dava a conhecer a posição de Joe Chan relativamente ao impacto ambiental e ao risco para a espécies que habitam naquela zona provocados pelo projecto das Casas Museu. Na altura o ecologista mostrava-se indignado com o facto da situação não ter sido sujeita a consulta pública e alertava para as aves que têm aquele espaço para viver.
Joana Freitas SociedadePolytec acredita na retoma da construção do Pearl Horizon [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Polytec está à espera que o tribunal marque uma data para começar o processo sobre a retirada, pelo Governo, do terreno onde estava a ser construído o Pearl Horizon mas acredita que vai conseguir retomar a construção. Num comunicado enviado à Bolsa de Valores de Hong Kong, ontem, a empresa mostra-se esperançosa numa decisão favorável pelos tribunais. “De acordo com uma opinião legal recebida pela empresa, a Polytec tem bases suficientes para [acreditar] na continuação do projecto e na sua conclusão”, começa por referir. “Segundo as opiniões legais, os tribunais vão considerar e julgar os pontos essenciais relativos aos atrasos causados pelo Governo de Macau e o direito da empresa em pedir compensação pelo tempo, de forma a que possamos completar a construção do lote e entregar as propriedades aos compradores.” A empresa ainda espera uma data para o início do julgamento, depois de ter visto ser-lhe retirado o terreno por falta de aproveitamento dentro do prazo. A empresa sempre acusou o Governo de demorar na atribuição de licenças para a construção. Mas mostra-se positiva. “A construção vai recomeçar assim que houver uma decisão favorável e as licenças sejam aprovadas pelo Governo”, frisa, acrescentando que acredita que vai conseguir concluir o outro projecto imobiliário em curso na Areia Preta, em meados do próximo ano. A concessão destes dois lotes termina em Julho de 2017. No comunicado de ontem, o grupo deu ainda a conhecer uma subida de 3,6% nos lucros líquidos do primeiro semestre deste ano. As receitas ascenderam a 42,7 milhões de dólares de Hong Kong. Algumas das receitas, recorde-se, vêm dos arrendamentos no Macau Square, detido em parte pela empresa. Lá encontra-se o Tribunal Judicial de Base, cuja renda é paga à Polytec. O grupo conseguiu mais de 36 milhões de dólares só com rendas.
Andreia Sofia Silva PolíticaAL | Lei de Terras trouxe “alguma pressão” a Ho Iat Seng Ho Iat Seng faz hoje o balanço de mais um ano legislativo. Dois especialistas em Ciência Política falam de um ano em que a proposta do deputado Gabriel Tong sobre a Lei de Terras trouxe um pouco mais de pressão ao presidente do que o habitual. Ainda assim, a sua objectividade manteve-se [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]ano legislativo corria bem, sem sobressaltos de maior, com a análise de diplomas e a sua aprovação, até que o deputado Gabriel Tong decidiu apresentar um projecto de lei para uma nova interpretação da Lei de Terras. O projecto acabaria por não seguir em frente, mas, aos olhos de dois analistas políticos, trouxe alguma pressão a Ho Iat Seng, presidente da Assembleia Legislativa (AL). Hoje é o dia em que Ho Iat Seng realiza a habitual conferência com a comunicação social de balanço do ano legislativo. “Não foi um ano difícil mas também não foi um ano comum. [A apresentação da proposta de Tong] foi um momento difícil, mas aprecio a sua postura, porque também aí foi objectivo. Quanto à questão dos terrenos não é uma figura que pertença ao sector imobiliário ou da construção civil, tem poucos interesses em envolver-se nessa questão. Tentou o seu melhor e não colocar-se numa posição de embaraço para ele próprio e para o Governo, o que prova que é um bom político”, disse ao HM Larry So, ex-docente de Administração do Instituto Politécnico de Macau (IPM). Também Eilo Yu, docente da Universidade de Macau (UM), defende que Ho Iat Seng terá sentido alguma pressão com a proposta de Gabriel Tong. “A questão dos terrenos tem sido bastante levantada por várias pessoas, tanto a internet como os jornais têm falado muito sobre isso. Não estou certo de que isso terá trazido muita pressão para o trabalho de Ho Iat Seng enquanto presidente, mas pode ter sentido alguma pressão por parte de pessoas ligadas ao sector imobiliário.” A questão da Lei de Terras foi algo controversa este ano, relembra o académico. “Temos pessoas e membros na AL com diferentes opiniões e com propostas diferentes e isso é desafiante, do ponto de vista do equilíbrio das diferentes opiniões. Mas é também um reflexo daquilo que a sociedade é, que tem diferentes opiniões e preocupações. Penso que [Ho Iat Seng] está a fazer o seu melhor para lidar com estas diferenças”, acrescentou Eilo Yu. Em meados do mês passado Ho Iat Seng anunciou que a mesa da AL entendeu não dar seguimento à proposta do deputado nomeado Gabriel Tong, por considerar que esta visava uma alteração à Lei de Terras e não apenas a introdução de uma nova norma interpretativa, o que iria necessitar de aprovação do Chefe do Executivo. “Foi consenso da Mesa da Assembleia que esta proposta não é meramente para interpretar a lei. Pretende aditar uma nova norma na Lei de Terras. E se assim for necessitamos de obter primeiro a autorização e o consentimento do Chefe do Executivo porque esse é um poder exclusivo do Governo”, afirmou Ho Iat Seng na altura. O Governo nunca mostrou disponibilidade para aprovar qualquer mudança ao diploma, que entrou em vigor em 2013. Presidente neutro Larry So destacou ainda o facto de Ho Iat Seng ter mantido uma postura discreta face aos rumores de que poderá ser candidato ao cargo de Chefe do Executivo. “Muitas pessoas especulam que Ho Iat Seng poderá ser candidato ao cargo de Chefe do Executivo, mas ele tem mantido uma postura calma, sem fazer grandes comentários a essa questão. Tem mantido uma postura objectiva e neutra na AL, tem sido um bom presidente”, disse o analista político. Larry So destaca ainda o problema levantado pelos vários presidentes do hemiciclo quanto à falta de comunicação entre o Executivo e a AL na elaboração das leis. “Nos últimos anos a AL tem tido uma agenda preenchida, com vários diplomas que ainda não foram aprovados. O presidente tem vindo a fazer o alerta ao Governo quanto à necessidade de uma maior coordenação. Penso que o presidente Ho Iat Seng não está muito satisfeito com a Administração, especialmente quando esta não está a fazer o seu trabalho em conjunto com os membros do hemiciclo, em relação ao trabalho legislativo”, rematou Larry So.
Joana Freitas Manchete SociedadeManuel de Arriaga | Proprietário não quer classificação e fala de manipulação Lao Chau Lam diz que a consulta pública sobre a proposta de classificação do imóvel da Rua de Manuel de Arriaga foi “tendenciosa”, apenas porque o Governo quer que o prédio seja classificado como património. Apesar do IC admitir que não há consenso sobre a proposta, o dono do número 28 diz que o Executivo está a manipular a opinião à sua maneira e que quebrou uma promessa [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]proprietário do número 28 da Rua de Manuel de Arriaga não quer que o imóvel seja classificado e acusa o Governo de ter feito uma consulta pública “tendenciosa”. O dono do prédio de estilo Neo-Clássico e Art Dèco, que também ocupa o número 1 da Rua da Barca, admite ao HM não perceber muito da lei e mesmo confrontado com o facto do Governo admitir controvérsia na classificação do edifício, acusa o Executivo de estar a tentar fazer com que o prédio seja classificado. Os recentes resultados da consulta pública sobre a proposta de classificação de imóveis do Instituto Cultural (IC) – onde este foi o único dos dez imóveis propostos que pertence a privados – mostram que mais de metade dos inquiridos concorda com a classificação do prédio. O Governo considere que “não houve consenso” quanto à sugestão de se classificar o edifício, nomeadamente – como esclarece numa resposta enviada ontem ao HM – por causa dos proprietários. De acordo com as informações da consulta, 61,8% das 667 pessoas que apresentaram opiniões face a este prédio “concorda com a classificação”, sendo que apenas 38,2% não estão a favor de que se torne património. O Governo insiste que não há consenso, mas os números mostram que ganha a maioria a favor. O dono do prédio não tem dúvidas: houve uma alteração significativa na forma de ver o edifício e é o Executivo quem está por trás disso. “Há dois meses, o Governo teve uma reunião connosco, pequenos proprietários. Na altura, perguntei como estavam os resultados da consulta pública e o Governo disse-me que estava quase a ‘meio-meio’. Pelo que entendi na altura, a proporção de pessoas que concorda com a classificação ainda não tinha chegado a metade. Mas agora os resultados dizem que é mais de 60% para 30 e tal% e estou com enormes dúvidas sobre isso. Certamente este resultado é questionável. Porque a reunião só foi há um ou dois meses e, na altura, já deveria ter acabado a consulta”, começa por referir ao HM Lao Chau Lam, para quem estes resultados “são muito injustos”. “Já disse na sessão consultiva que a inclusão do edifício da Rua de Manuel de Arriaga número 28 é injusta porque, do meu conhecimento, durante a consulta pública o pessoal do Governo mostrou uma foto do edifício às pessoas e perguntou-lhes se a foto ‘de uma idosa quando ela tinha 18 anos era bonita ou não’”, acusa Lao Chau Lam, referindo-se à fotografia do prédio quando este estava ainda em bom estado. Ao que o HM apurou, o livro da consulta pública tem, de facto, uma fotografia do número 28 quando foi construído e outras antes da demolição parcial a que foi sujeito, portanto fotografias de antes de 2013. Se ninguém conhece, não vale? Se é verdade que os proprietários já se tinham manifestado contra a classificação do prédio – dos únicos, segundo o IC, a manter o estilo Neo-Clássico -, também é verdade que Lao Chau Lam assegura que ainda não sabe o que fazer ao espaço, se o prédio for realmente abaixo. Ainda assim, a insistência é na demolição, até porque, diz, ninguém conhece aquilo. “Os moradores da zona conhecem o edifício e já lhes perguntei e quase 90% disseram que não vale a pena ser preservado. O edifício já foi demolido, deixando só meia parte dele e, por causa das chuvas e vento, está muito danificado. Mas para outras pessoas – e vocês podem fazer inquérito sobre isso – não vai haver muita gente que conheça onde fica o edifício. Certamente que a consulta que o IC ou o Governo fez é tendenciosa. Foi uma consulta feita de forma escondida.” CPU sem peso Lao Chau Lam admite que não entende muito bem a Lei de Salvaguarda do Património e pede ao Governo, “através do HM”, que lhe diga o que pode fazer. O diploma dedica vários pontos face a direitos e deveres dos proprietários de imóveis já classificados. Se nuns, os direitos dos proprietários são defendidos, noutros a lei permite a expropriação de bens imóveis em vias de classificação pelo IC, e depois de ouvido o Conselho do Património Cultural. Estes casos podem acontecer quando há uma violação grave dos deveres do proprietário e este corra risco sério de deterioração ou destruição, quando se revele a forma mais adequada de assegurar a tutela do bem imóvel ou quando os bens imóveis estão situados nas zonas de protecção ou ofendam ou desvirtuem as suas características ou enquadramento. Seja qual for o caso, contudo, o proprietário terá direito a ser compensado. Depois do HM dar a conhecer a Lao Chau Lam estes pontos, o proprietário não baixa a guarda. “Não entendo muito bem a Lei do Património. Mas se calhar, eles também a podem explicar da forma que gostarem mais e eu também não sei o que podemos fazer. Depois de ler os jornais sobre os resultados das consultas públicas, sobre as opiniões públicas que o Governo criou, sinto-me muito oprimido e quase não consigo respirar”, atira. O proprietário diz que o Governo ainda não o contactou, mas faz questão de dar um exemplo que considera ser semelhante ao do prédio de que é dono. “Os comissários do património votaram 13 contra três, ganhando a demolição. Eles são profissionais, ou não eram intitulados comissários. A maioria deles acha que não vale a pena ser avaliado como património, mas agora o Governo quer criar uma opinião pública para mudar esta avaliação. Quando este voto saiu nas notícias, os moradores da zona consideram que foi a decisão correcta. Agora, em dois ou três meses, o Governo não quer seguir a opinião dos comissários.” Promessa quebrada Nos resultados da consulta pública consultados pelo HM, é possível perceber que quem concorda com a classificação considera que “o prédio possui valor cultural” e outros acreditam que a classificação só é possível depois de ser apresentado “um plano de restauro” que tenha em causa a ponderação dos custos e o consentimento do proprietário. Quem discorda, diz que o edifício está “num avançado estado de degradação” e que repará-lo pode ser “um desperdício de recursos”. A integridade do prédio e os custos das obras são os motivos que levam alguns a estar de pé atrás. Para Lao Chau Lam, e apesar do Governo considerar – apesar dos resultados – que há um “elevado número de pessoas” contra a classificação do prédio, o Executivo quer seguir com a classificação. “Quando antes perguntei ao Governo sobre se o edifício, se não for avaliado como património, pode ser demolido, o Governo respondeu-me imediatamente que podia. As duas casas perto do São Januário foram demolidas porque a avaliação dos membros permitia isso. Então quero perguntar ao Governo o que podemos fazer? O Governo fez a promessa mas agora não quer realizá-la”, diz. O que é? Na história que acompanha o edifício, fornecida pelo IC, pode ver-se que ao longo dos anos se mantiveram as fachadas, “como as elegantes e bonitas decorações e molduras e a entrada em arco decorada com colunas”, como descreve o Instituto. Pormenores como mosaicos e acabamento em estuque de Xangai, “populares na época”, levam a que o IC considere o prédio como uma das poucas obras do estilo Neo-Clássico e Art Déco “populares na primeira metade do século XX”. Apesar do edifício incluir apenas parte da construção original, o IC descreve-o como sendo ainda capaz de mostrar a sua função como ponto nodal pela sua “localização estratégica” entre as duas ruas que ocupa e que eram “as principais vias do Bairro de San Kio”. Mas não só. “Os detalhes arquitectónicos do edifício com os seus acabamentos requintados reflectem desta forma um estilo muito característico das habitações do século XX sendo este um dos poucos edifícios de referência na zona [que] mantém o estilo há mais de cem anos”. Isto devido principalmente à demolição de diversas casas nos anos 60 e 70. O IC propôs a classificação do espaço como sendo um edifício de interesse arquitectónico. Construído em 1917/1918, a propriedade serviu como residência, escritórios e clínica de medicina chinesa, sendo hoje novamente utilizado como habitação. Mas, o IC também deixa o alerta: o prédio de 192 metros quadrados “está em mau estado de conservação” e viu uma parte do seu telhado ser demolida em 2013, uma questão que levantou polémica e que levou o Governo a impedir mais trabalhos de demolição. Arquitecto português pede classificação de dezenas de imóveis Na compilação das opiniões recolhidas sobre os dez imóveis propostos a classificação pelo IC pode encontrar-se uma opinião de um arquitecto português. João Palla Martins, que o HM tentou contactar sem sucesso, congratula o Instituto pela iniciativa de classificação, caracterizando-a como “a abertura de portas a novas oportunidades”. Na mesma opinião, o profissional pede que o mesmo seja feito “a uma miríade de lojas, bairros e casas isoladas que, fazendo parte da história de Macau, estão, as que sobram, em risco sério de desaparecimento”. João Palla Martins defende, por exemplo, a abertura de um processo de classificação “urgente” para imóveis como o Pagode Sin Fong, a Casa de Chá Long Wa, a moradia “provavelmente dos anos 30” da Calçada da Vitória, o conjunto de casas do Pátio da Claridade, o Pátio dos Cules e das Seis Casas, o Pátio da Ilusão e o Cinema Alegria. Mas a lista continua, com mais templos e moradias, bem como com o Grande Hotel, o edifício dos CTT e da Escola Portuguesa, o conjunto de edifícios na Rua de São Domingos em frente à Livraria Portuguesa e os edifícios do Largo do Lilau, entre tantos outros. Numa outra opinião, sem identificação e na secção referente às opiniões relacionadas com os bens imóveis propostos, pode ler-se que “é triste ver que a arquitectura comum de Macau tem sido destruída e não haja maior consciencialização da sua importância”. A opinião refere precisamente o exemplo do número 28 da Rua de Manuel de Arriaga. “O desenvolvimento urbano da cidade pode, sem dúvida, estar em harmonia com a preservação dos seus edifícios históricos, pois é isto que distingue a cidade de todos os outros sítios da China.” IC sem decisão tomada O HM tentou saber junto do IC se continua a haver interesse em classificar o prédio, ou se o Instituto vai desistir devido aos resultados da consulta pública, que considera “divergentes e sem consenso”. O organismo responde que nesta fase, se mantém a juntar e analisar dados. “O procedimento de classificação [desse prédio] ainda está em curso, não havendo ainda um resultado final”, frisa na resposta ao HM. “O IC irá esforçar-se para concluir o procedimento com a maior brevidade, dentro do prazo legal, e fazer a respectiva publicação mediante Regulamento Administrativo.” Face ao prédio, e tendo em conta a lei, o IC diz que o procedimento de classificação deve ser concluído no prazo de 12 meses após a sua abertura e a fundamentação para a classificação de bens imóveis deve ter em conta “vários factores, incluindo a apreciação dos critérios de classificação, a opinião dos proprietários, o parecer do Conselho do Património Cultural e os resultados da consulta pública”.