Sofia Margarida Mota SociedadeInovação e experiência definem Parque de Cooperação com Jiangsu [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] cidade de Changzhou, foi o local escolhido para a construção do Parque de Cooperação Jiangsu-Macau tendo sido, este fim-de-semana, assinado o memorando do acordo. Para justificar a escolha do local, o Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, afirmou à imprensa que a província de Jiangsu possui uma “experiência valiosa no âmbito da construção de parques industriais de cooperação internacional, entre os quais se destaca o Parque Industrial de Suzhou, construído no âmbito da cooperação entre a China e Singapura, um projecto que registou grande sucesso”. Além disso, a capacidade inovadora de Changzhou é bastante forte, “pois possui recursos necessários e quadros qualificados para o efeito”. Por outro lado, a escolha da cidade Changzhou como local para a construção do parque contribui para incentivar a dinâmica inovadora de Macau, permitindo, “particularmente aos jovens locais, um palco alargado para a inovação e desenvolvimento”. O Secretário sublinhou ainda que no processo de planeamento é necessário, por um lado, “ter em conta as opiniões de especialistas e auscultar a sociedade de Macau”. Quatro directivas Só após a elaboração do planeamento do parque é que se poderá prever a área necessária, o orçamento e outros dados importantes, sublinhou Lionel Leong enquanto considerou que o futuro Parque de Cooperação Jiangsu-Macau, desempenhará as funções de plataforma em quatro aspectos: concretizar a cooperação geral e aprofundada entre Jiangsu e Macau, acolher e encaminhar projectos de cooperação entre a China e os países de língua portuguesa, ajudar os jovens de Macau no empreendedorismo e inovação na China interior e ainda promover o intercâmbio e a aprendizagem, de forma a elevar a capacidade profissional e a formação dos jovens funcionários públicos de Jiangsu e Macau. Lionel Leong esteve, na cerimónia de abertura da 6.ª Cimeira para o Desenvolvimento Comercial e Industrial da Província de Jiangsu, de Macau e dos Países de Língua Portuguesa. No final, ao falar com a comunicação social, lembrou que, recentemente, o Chefe do Executivo e o governandor da província de Jiangsu, assinaram, em nome dos dois territórios, o «Memorando sobre a Construção Conjunta do Parque de Cooperação Jiangsu-Macau», e decidiram escolher a cidade Changzhou para construir e explorar, em conjunto, o Parque de Cooperação Jiangsu-Macau. Numa próxima etapa pretendem igualmente encomendar a uma empresa de consultadoria internacional para elaborar o planeamento do parque.
Hoje Macau SociedadeMIF termina com celebração de mais de 50 protocolos [dropcap style≠’circle’]R[/dropcap]epresentantes de mais de 50 países e regiões estiveram no território para mais uma edição da Feira Internacional de Macau. O tufão roubou um dia ao certame mas o IPIM garante que, ainda assim, o balanço é positivo Teve um dia a menos do que seria suposto, por causa da passagem do tufão Haima nas imediações do território, mas ainda assim correu bem. O balanço feito pela organização da Feira Internacional de Macau (MIF, na sigla inglesa), que vai já na 21a edição, é francamente positivo. Pelas contas do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), foram realizadas 380 sessões entre empresários na zona de bolsas de contactos. Na MIF deste ano foram celebrados mais de 50 protocolos. Com uma área superior a 30 mil metros quadrados e com mais de 1600 stands, o evento contou com delegações oriundas de mais de 50 países e regiões. A grande novidade da edição teve que ver com o facto de haver um “país parceiro” e uma “cidade parceira”: Portugal e Pequim foram os convidados. O IPIM destaca ainda a realização, mais uma vez, da Exposição de Produtos e Serviços dos Países de Língua Portuguesa, sublinhando que se trata de uma forma de promover a consolidação do papel de Macau como plataforma para a cooperação entre o espaço lusófono e a China. Em comunicado, a organização do certame sublinha também o lançamento da zona especial de serviços comerciais para as pequenas e médias empresas sino-lusófonas. Durante a MIF, foram efectuadas várias actividades relacionadas com os países de língua portuguesa, incluindo a 6ª Cimeira para o Desenvolvimento Comercial e Industrial da Província de Jiangsu, de Macau e dos Países de Língua Portuguesa. Mais perto da capital Pequim participa na MIF desde 2010 mas, este ano, apresentou-se no evento como cidade parceira, com dois pavilhões e uma delegação organizada pelo município da capital. A cidade trouxe até à feira de Macau representantes dos sectores de comércio de serviços e da medicina tradicional chinesa, entre outros. Nota ainda para a promoção que Pequim já está a fazer dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022. Noutros domínios, quem passou pela zona da capital na MIF pôde ver artesanato tradicional chinês, como a maquilhagem facial e o corte de papel. Já há data para a próxima edição da Feira Internacional de Macau: a 22a edição terá lugar entre 19 a 21 de Outubro do próximo ano.
Angela Ka SociedadeRecuperação da Fábrica de Panchões suportada pelo IC [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) vai custear as obras de renovação da antiga Fábrica de Panchões da Taipa, sendo que o espaço deverá ser incluído na segunda ronda de avaliação para a lista do Património Cultural Imóvel. O relatório do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) denunciou o facto de o IC já ter pago com antecedência a recuperação da antiga Fábrica de Panchões, com um custo de cinco milhões de patacas, não tendo pedido ao proprietário a devolução do montante. Citado pelo jornal Ou Mun, Ung Vai Meng assegurou que o relatório já entregue a Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, confirma que o IC tentou perceber a quem pertence a propriedade da zona através do envio de várias cartas a departamentos públicos. Entretanto o IC já recebeu a proposta de recuperação do Templo de A-Má das mãos da Associação do Templo de A-Má, entidade que gere o espaço. Sem avançar qual será o apoio do Governo para a recuperação de uma área que tem estado fechada ao público, Ung Vai Meng disse, segundo o jornal Ou Mun, que ainda vão ser discutidos os detalhes do projecto. Quanto à Igreja de Santo Agostinho, cujo telhado foi abaixo após uma temporada de chuvas intensas, encontra-se ainda em fase de avaliação, antes da reabertura ao público. “Os trabalhos não são fáceis e a data de reabertura dependerá do relatório de avaliação”, disse Ung Vai Meng, que confirmou ainda o fim da avaliação às Ruínas de São Paulo e ao Armazém do Boi.
Hoje Macau SociedadeTufão Haima menos forte do que se esperava [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau parou na sexta-feira passada por causa do Haima, numa altura em que o território recebia vários eventos que acabaram por ser afectados. O vento mudou de direcção e a tempestade pouco se sentiu. Em Hong Kong, a história foi outra: o tufão fez uma vítima mortal Depois de ter destruído casas, escolas e campos agrícolas nas Filipinas, o Haima perdeu o título de super-tufão e atravessou o Mar do Sul da China para passar ao largo de Macau sem grandes estragos: entre as 8h30 e as 15h30 da passada sexta-feira, período em que esteve içado o sinal 8, os ventos trazidos pela tempestade tropical causaram 14 incidentes – quatro em imóveis e 10 na via pública. O Instituto de Acção Social abriu as portas do Centro de Sinistrados da Ilha Verde, em Macau, e do Centro de Serviço Social da Taipa e Coloane, instituições que receberam 10 pessoas que se abrigaram do vento, sem terem pedido qualquer tipo de apoio adicional. O facto de o dia ter começado com o sinal 8 içado fez com que tivessem sido adiados vários eventos – desde a inauguração de exposições a concertos agendados no âmbito do Festival Internacional de Música de Macau. Também a organização da Feira Internacional de Macau foi afectada pelo Haima, uma vez que o certame esteve encerrado na sexta-feira, tendo sido prolongado o horário de funcionamento no sábado. Bancos, escolas e serviços públicos estiveram fechados, assim como a maioria dos estabelecimentos comerciais. A cidade recuperou algum movimento a meio da tarde, com a abertura das pontes entre a península e a Taipa, e o reinício das operações dos transportes públicos. De acordo com a Rádio Macau, durante o tufão, a Polícia de Segurança Pública multou 67 táxis – 57 por terem cobrado valores excessivos e outros 10 por terem recusado transportar clientes. As autoridades multaram ainda 12 veículos por transporte ilegal de passageiros, sendo que seis pertenciam à Uber. Morrer na praia Em Hong Kong, o tufão fez-se sentir com mais força. Em mais de duas décadas, foi a primeira vez que foi içado o sinal 8. A imprensa local conta que a cidade não sofreu grandes estragos mas, ainda assim, os negócios que não se fizeram terão resultado em perdas na ordem dos cinco mil milhões de dólares de Hong Kong. O aeroporto da região vizinha teve um fim-de-semana complicado, com mais de 700 voos a terem de ser reorganizados. Apesar das indicações das autoridades em relação às medidas de segurança a adoptar, o South China Morning Post conta que foram muitas as pessoas a saírem à rua para sentirem o vento, tirarem fotografias e filmarem a tempestade, sobretudo em zonas costeiras. Foi precisamente junto ao mar, em Tseung Kwan O, que foi encontrado um homem de 50 anos, sem vida. A polícia suspeita que estaria a andar sozinho numa zona rochosa junto à praia quando caiu e se magoou na cabeça. Foi descoberto às 16h30 por um adolescente que passava no local. Treze pessoas receberam tratamento hospital por causa de ferimentos causados pelo tufão. O sinal número 8 esteve içado em Hong Kong ao longo de 11 horas. Na China Continental, o Haima originou muita chuva e algumas inundações. A Agência Xinhua não teve conhecimento de vítimas do tufão.
Isabel Castro Entrevista Eventos MancheteJoaquim Franco, artista plástico: “Quero muito internacionalizar o meu trabalho” Deixou a gravura no estúdio que um dia teve e que o preço das rendas já não lhe permite suportar. Agora só pinta. E pinta quadros com outras cores, influência das viagens, de paragens diferentes. Joaquim Franco tem um ateliê no Macau Art Garden, na Avenida Rodrigo Rodrigues. No quarto andar de um espaço cheio de luz e de silêncio encontramos um artista que se fechou no trabalho para um dia destes chegar lá fora, a outros destinos [dropcap]H[/dropcap]á dez anos dizia que o ambiente artístico em Macau é sempre muito individual. Continua a ser assim? Sim, embora as coisas tenham mudado bastante nestes últimos dez anos. Julgo que a mentalidade local abriu um bocadinho, até por influência do exterior, porque há mais estrangeiros. Mas, de facto, ainda continua a ser muito cada um no seu quintalzinho, cada um no seu cantinho. Mas hoje partilha um espaço com outros artistas plásticos. Sim, tive esta hipótese fabulosa que foi o James Chu ter-me ligado um dia destes a convidar-me para eu vir para aqui, porque sabia que eu não tinha estúdio, que está muito complicado ter um em Macau por causa do preço das rendas. Arranjei então este espaço. É pequenino, mas é simpático, estou concentrado no trabalho que estou a fazer e é muito bom. O facto de estar num ambiente com outras pessoas – e, claro está, ter um estúdio – veio dar outra dinâmica ao seu trabalho? Talvez possa considerar que sim. O que se passa é o seguinte: os artistas que estão aqui instalados neste edifício são, quase todos eles, jovens. São jovens que acabaram os cursos aqui de Macau, no Politécnico, há um ou outro que estudou fora – na China, sobretudo –, mas são jovens. É engraçado e interessante conversar com eles sobre arte, sobre pintura. Não falam muito, porque a maior parte não domina o inglês, mas é interessante e simpático falar com eles, sobretudo porque são jovens e estão a começar. Está cá há 26 anos. Como é que se faz, no caso de um artista plástico, para não ficar naquilo que estava a fazer quando chegou cá, dada a dimensão do meio? É preciso ter a cabeça muito arrumada, na realidade. É preciso um grande esforço, muito trabalho e tenho lutado muito para chegar ao nível mais alto possível. Veio para Macau fazer um trabalho completamente diferente daquele que tem hoje: arqueologia nas Ruínas de São Paulo. A ideia era ficar 10 meses em Macau e já cá estou há 26 anos. Como é que olha para estes 26 anos? Olho bem, são simpáticos. Podiam ser melhores, podiam ser piores. É sempre uma questão à qual não conseguimos responder, porque se não tivesse sido aqui, teria sido noutro sítio e as coisas teriam sido com certeza diferentes. Agora, há uma coisa muito interessante, que gostava de focar nesta conversa: estes 26 anos não me transformaram num chinês ou num oriental, mas influenciaram muito o meu trabalho. Digamos que me aculturei e essa aculturação é extremamente importante perceber e digerir. Julgo que o meu trabalho foi muito influenciado pela arte chinesa e pela arte oriental. E como é que essa influência se traduz? Quando se olha para um quadro meu, à primeira vista, provavelmente as pessoas não se apercebem mas, na realidade, em termos de composição… Por exemplo, a composição da arte tradicional chinesa é vertical, da direita para a esquerda. Porquê? Porque tradicionalmente os chineses escreviam – e escrevem – de cima para baixo e da direita para a esquerda. Nós, no Ocidente, escrevemos horizontalmente e da esquerda para a direita, de cima para baixo. Resultado: a composição da pintura abstracta ocidental é normalmente muito horizontal, por essa influência, e, na minha pintura e no meu trabalho, a influência oriental existe, sinto-a e isso é interessante. Esta aculturação não foi um processo deliberado… Todos nós somos influenciados pelo meio, seria uma cobardia dizer que não, ninguém me influencia, eu sou o maior – isso não existe. No jornalismo, em todas as profissões, as pessoas são influenciadas pelo meio que as rodeia. É evidente que um artista plástico também sofre influências do meio. De repente, um dia acorda de manhã para um quadro e diz assim: ‘olha, afinal, que interessante, não tinha reparado nisto, mas isto é oriental’. É um pouco isto, é assim que acontece, não é ir à procura da influência. É um processo natural. Nesta nova série em que está a trabalhar sente essa influência? Sinto bastante. O mais interessante foi quando estive na Colômbia, no ano passado, em que aí se notou muito porque, na América Latina – apesar de terem a sua própria cultura –, a cultura deles é muito mais próxima da europeia do que a cultura asiática. Foi muito interessante porque, nos meus trabalhos, essa influência existia e nas conversas que tive com artistas lá discutiu-se muito isso, o que foi, de facto, interessante. Foi das coisas mais interessantes de verificar. Tem uma nova série de trabalhos. O que é esta nova série? Vem no seguimento do trabalho que já faço há dez anos – não parece, mas é verdade que já passaram dez anos e continuo a fazer mais ou menos a mesma coisa. Agora, a realidade, a influência da minha estadia na Colômbia – ainda foram quatro meses e meio em Medellín – ajudou a abrir outras portas, provavelmente. Ainda não estou muito certo disto mas penso que ajudou, talvez em termos de outras cores. A cor latino-americana é muito viva, muito brilhante, e eu usava muito laranjas e azuis, uns azuis muito escuros. Ainda uso, mas penso que, nesse aspecto, ajudou, influenciou. Há quadros de grande dimensão? Não, neste momento não tenho espaço suficiente para quadros de grande dimensão. Tenho uns quadros muito pequeninos, com 20 centímetros, 30 centímetros, e depois tenho uns maiores, com um metro por um metro, um metro e oito por oitenta. Gostaria de fazer coisas de grande dimensão, mas não é possível neste momento. Está mais focado na pintura. Só trabalho em pintura neste momento. Onde é que ficou a gravura? A gravura ficou no tinteiro, porque não é possível fazer gravura sem ter um ateliê. Eu tinha um ateliê montado, com prensa de gravura, com sala de ácidos, com tudo isso, mas é impossível manter, porque as rendas são muito caras e infelizmente não vendemos trabalho todos os meses. Do ponto de vista económico, a gravura é muito interessante, porque é a democratização da arte. Quando faço uma pintura é uma única; com uma gravura faço 30 provas e são 30 provas da mesma imagem. Todas elas têm o mesmo valor, mas o leque de pessoas que vão usufruir dessa imagem é muito maior. Por isso é que os artistas dizem que a gravura e a serigrafia são a democratização da arte. Mas infelizmente não é possível fazer gravura sem um ateliê, uma oficina, e neste momento não tenho espaço. O que tem que ver com as mudanças também destes últimos anos. Dizia ainda há dez anos que o Governo e as instituições públicas não encomendam trabalho aos artistas. Sim, isso continua mais ou menos na mesma. É pena – estão a fazer, por exemplo, o metro de Macau, podiam convidar os artistas para fazerem a decoração das estações de metro. Há uma questão em Macau que não existe: equipas interdisciplinares. Fazem-se casinos, fazem-se estações de metro, faz-se tudo, mas não se inclui um artista plástico numa equipa de engenheiros, arquitectos e, no caso dos casinos, designers de interiores. E é pena, porque poderia acontecer um trabalho muito mais interessante, mas não há essa tradição. Algumas operadoras do sector do jogo têm trazido até Macau trabalhos de artistas de renome. Outras têm chamado para a curadoria de iniciativas um ou outro artista local, mas não há um investimento claro dos casinos nos artistas que vivem no território. Tive a sorte, por exemplo, de fazer quatro painéis para um casino, em 2015, mas foi só isso. Fiz os painéis e pronto, não aconteceu mais nada. Conheço um casino que tem uma sala enorme cheia de quadros que foram comprados na China e na Tailândia mas que não podem ser usados, porque não estão de acordo com o ‘feng shui’, porque são quadros a óleo quando deviam ser a acrílico, por causa da questão da segurança, etc. Se convidassem artistas locais, provavelmente não teriam este tipo de problemas, mas é esta a realidade. De qualquer forma, tudo bem. Estou sempre aberto a propostas – venham elas. Uma das áreas em que tem trabalhado é a formação. É uma vertente que continua a interessar-lhe? Muito. Fiz arte-terapia por causa do tufão em Taclóban e da guerra em Zamboanga [nas Filipinas]. Fiz durante quase toda a minha vida, quando tinha um ateliê grande, workshops de formação. Há 20 anos – quando conheci este meu amigo colombiano com quem estive no ano passado – fiz um projecto exactamente ligado à educação, de intercâmbio internacional de artistas. Trazia artistas de fora a Macau, que fariam workshops e exposições, que trabalhariam em residência, e esse contacto com outros artistas, numa altura em que não havia escola de artes – hoje em dia já há o Politécnico, mas não há uma universidade de artes em Macau –, seria interessante. Talvez tenha sido muito cedo para as pessoas entenderem a dimensão de um projecto deste tipo e, portanto, acabou por não ser apoiado e desisti, porque lutei durante quase 15 anos e os resultados foram um bocadinho desastrosos. Não tive capacidade económica para continuar a custear o projecto. Ainda assim, nomeadamente na Casa de Portugal, desenvolveu muito trabalho na área da formação. Sim, sim. Dei aulas, fui o primeiro artista a dar aulas para a Casa de Portugal, a abrir os workshops, e durante uns anos dei aulas lá. Sente que aquilo que foi passando durante estes anos a quem foi tendo contacto consigo deu frutos? Não digo necessariamente na formação de artistas, mas na sensibilização para a arte, na formação de público. Acho que sim. Sempre que dou workshops não tenho na ideia que estou a formar artistas plásticos e que todos os meus alunos vão ser artistas plásticos. Por exemplo, durante 18 anos dei aulas no curso de Verão de Língua e Cultura Portuguesa da Universidade de Macau e é evidente que tive milhares de alunos durante esses anos, porque cada ano eram 60, 70, e julgo que não andei a formar artistas. Mas sensibilizá-los para as técnicas, para a arte em geral, isso sim, acho que foi um trabalho que fica sempre. Projectos para o futuro? A internacionalização do meu trabalho. Neste momento, à revelia de tudo, fechei-me a pintar e estou muito concentrado no meu trabalho. Quero muito internacionalizar o meu trabalho. Sente que se estão a abrir portas para que isso possa acontecer? Acho que sim. Por exemplo, estive na Colômbia numa cidade que era considerada, há uns anos, a mais perigosa do mundo: Medellín. Depois da captura do grande chefe da máfia colombiana, as coisas apaziguaram bastante, o Governo colombiano entrou em conversações com as FARC para estabelecer a paz no país, porque a guerra civil já dura há imenso tempo. Medellín, em 2014, foi considerada a cidade com maior desenvolvimento cultural do mundo. Porquê? O alcaide de Medellín – e o Governo da Colômbia também – apercebeu-se de que pela educação é que vai conseguir apaziguar a situação. Estão a investir imenso na cultura e na educação, porque perceberam que a cultura pode influenciar e abrir portas para que a paz se estabeleça no país. Foi bastante interessante ver isso. Por exemplo, a Feira de Artes de Medellín, na qual tive dois trabalhos expostos, é neste momento uma das maiores feiras internacionais da América Latina. Não vendi, mas saiu um artigo sobre o meu trabalho numa revista, o meu trabalho entrou nas exposições, fiz também enquanto lá estive uma pintura mural num complexo de restaurantes onde uma fundação tinha uma grande exposição de arte. Convidou-me para fazer um painel e ofereci-o a essa fundação. Fiz imensos contactos, fiz imensos amigos e vamos ver os resultados disto tudo. É preciso semear para depois colher.
Hoje Macau China / ÁsiaMar do Sul | Pequim critica passagem de navio de guerra dos EUA [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ais um episódio nas agitadas águas do Mar do Sul da China. Na sexta-feira um contra-torpedeiro norte-americano entrou em águas territoriais chinesas junto às ilhas Paracel. Pequim classificou o acto como uma provocação deliberada Pequim descreveu a passagem de um navio de guerra dos Estados Unidos perto de uma zona disputada no Mar do Sul da China na sexta-feira como um “acto ilegal grave” e “deliberadamente provocador”. Num comunicado publicado na madrugada de sábado no seu portal na Internet, o Ministério da Defesa chinês indica que dois navios de guerra chineses dissuadiram um contra-torpedeiro norte-americano de prosseguir a sua rota após ter penetrado “em águas territoriais chinesas” perto das ilhas Paracel, que a China controla e cuja soberania é reivindicada pelo Vietname e Taiwan. “A entrada [do navio norte-americano] em águas territoriais chinesas é um acto ilegal grave e deliberadamente provocador”, refere o comunicado. Numa outra nota, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês declara que a acção norte-americana “violou gravemente a soberania, os interesses de segurança da China e as leis chinesas e internacionais”. Contraponto O Pentágono indicou na sexta-feira ter enviado o USS Decatur para perto das Paracel, detalhando que o navio não tinha, contudo, penetrado no perímetro de 12 milhas náuticas das ilhas – limite definidor de águas territoriais, à luz da lei internacional. O contra-torpedeiro respeitou “o procedimento habitual e legal, sem ser escoltada por outros navios e sem incidentes”, frisou o Pentágono. A manobra norte-americana figura como a terceira operação de “libertação da navegação”, levada a cabo desde o início do ano pelos Estados Unidos que, por diversas vezes, sublinharam ignorar as “excessivas” pretensões marítimas por parte da China. Tratou-se, contudo, da primeira desde que o Tribunal Permanente de Arbitragem considerou ilegítimas as reivindicações chinesas, dando razão às Filipinas, que expuseram o caso, numa decisão favorável para outros países da região, como Vietname, que também disputam parte das estratégicas águas. Pequim reivindica a soberania sobre quase todo o Mar do Sul da China, com base numa linha que surge nos mapas chineses desde 1940 e tem investido em grandes operações nesta zona, transformando recifes de corais em portos, pistas de aterragem e em outras infra-estruturas.
Hoje Macau China / ÁsiaRodrigo Duterte diz que não vai romper aliança com EUA [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, declarou sexta-feira que não vai romper a aliança do seu país com os Estados Unidos, ao esclarecer o anúncio que fizera de que estava a planear “uma separação”. “Não se trata de cortar laços. Rompimento é cortar relações diplomáticas. Não posso fazer isso. Porquê? É do interesse do meu país que eu não faça isso”, explicou Duterte à imprensa na sua cidade natal, Davao, depois de regressar de uma visita à China. O controverso chefe de Estado filipino afirmou na quinta-feira, durante uma visita de quatro dias a Pequim, que tencionava pôr fim à aliança de 70 anos das Filipinas com os Estados Unidos, em favor da China e da Rússia. “Anuncio a minha separação dos Estados Unidos”, declarou Duterte perante um grupo de empresários chineses. “A América perdeu. Realinhei-me com a vossa corrente ideológica e talvez vá também à Rússia falar com [o Presidente, Vladimir] Putin e dizer-lhe que somos três contra o mundo: China, Filipinas e Rússia. É a única maneira”, sustentou. Confusão instalada O porta-voz do departamento de Estado, John Kirby, disse na quinta-feira que os Estados Unidos pediriam às Filipinas um esclarecimento sobre o comentário da “separação”. “Não é claro para nós o que isso quer exactamente dizer e quais as suas implicações”, observou. Kirby indicou também que os Governos asiáticos estão a ficar cada vez mais nervosos por causa de Duterte, que tem sido duramente criticado no Ocidente por ordenar uma guerra contra o crime na qual milhares de pessoas foram mortas. “Não são só os Estados Unidos que estão confusos com essa retórica. Ouvimos de muitos dos nossos amigos e parceiros na região que também eles estão confusos sobre a direcção que isto leva”, declarou. No sábado, Rodrigo Duterte emitiu uma série de comentários para clarificar as suas afirmações. “Romper é cortar. Separar é apenas adoptar outra forma de fazer as coisas”, sustentou. “Aquilo a que estava realmente a referir-me era à separação da política externa, porque no passado, e até eu me tornar Presidente, sempre seguimos as indicações dos Estados Unidos”, explicou. Duterte vai visitar o Japão na próxima semana para “reforçar a forte parceria estratégica” entre Manila e Tóquio, durante a qual irá ser presenteado com um pacote de ajuda financeira, segundo os ‘media’ locais.
Hoje Macau Diário (secreto) de Pequim h | Artes, Letras e IdeiasBeidaihe António Graça de Abreu [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s praias de Beidaihe estão ligadas à história recente da China. O marechal Lin Biao (1907-1971) foi um dos mais destacados comandantes militares e dirigentes da revolução chinesa, nomeado sucessor de Mao Zedong no Congresso do Partido em Abril de 1969. Logo depois azedaram as relações com Mao e hoje não restam dúvidas de que Lin Biao, com o seu filho Lin Liguo e a esposa Ye Qu, mais umas centenas de militares de sua confiança preparavam em Setembro de 1971 uma espécie de golpe de Estado que passaria pelo assassínio de Mao. Lin Biao e a família encontravam-se então exactamente em Baidaihe, fruindo as delícias deste afamado lugar e elaborando planos inconsequentes para aniquilar Mao e mudar a história da China. O complot foi descoberto graças à ingenuidade de Duoduo, a filha de Lin Biao que acompanhava o pai na estadia na praia e resolveu transmitir aos guardas pessoais do marechal as actividades do progenitor, pedindo-lhes mais protecção para o progenitor. Perseguidos pelas tropas fiéis a Mao, na noite de 13 de Setembro de 1971, Lin Biao, com o filho e a esposa correram para Shanhaiguan, o aeroporto que serve Beidaihe. Aí, um avião Trident voou com Li Biao e os seus em direcção à União Soviética. No aeroporto de Shanhaiguan, na urgência da fuga, não houve tempo de reabastecer convenientemente o avião que largou com os depósitos de gasolina com menos de metade da sua capacidade. A tripulação de recurso era também reduzidíssima, apenas o piloto e três mecânicos. Após hora e meio de voo desde Beidaihe, o piloto do Trident com Lin Biao, a esposa e o filho a bordo, comprova que não tem gasolina suficiente para chegar à União Soviética. Tenta uma aterragem de emergência numa pradaria da Mongólia. O avião desfaz-se, incendeia-se e morrem os nove tripulantes e passageiros. Sem Lin Biao, a China vai mudar. Mao Zedong e sobretudo Zhu Enlai, o primeiro-ministro, põem em prática uma política menos radical, recuperam os quadros perseguidos durante a Revolução Cultural, reaparece Deng Xiaoping, concretizam-se as relações com os Estados Unidos da América (Nixon visita a China em 1972), respiram-se no velho império as primeiras brisas dos tempos diferentes. A estância de Beidaihe, as enseadas, as areias, as águas límpidas do mar, naturalmente insensíveis às maquinações e mil desvairos dos homens, continuam, ano após ano, a abrir-se para receber as gentes da China e dos quatro cantos do mundo. Razão para eu vir até cá. Beidaihe, 26 de Julho de 1978 Beidaihe não é só praia, política, sopas e descanso. Visita ao grande porto de Qinhuangdao e a esta região aqui à volta. Semi-artificial, o porto começou a ser construído em 1900, aproveitando-se algumas reentrâncias da linha de costa. Encavalitado sobre o mar, o porto é feio, tem treze molhes e noves cais para a carga e descarga de mercadorias, enegrecidos e sujos onde navios de pequena e média dimensão carregam carvão originários das minas da Manchúria, aqui a norte. O Fu Ligang veio connosco, é o tradutor e assessor logístico. Dá uma boa ajuda para entender por onde é que eu ando. Depois de uns vinte quilómetros de estrada, para o interior, levam-nos para a albufeira da barragem do Shijiang石 江, o rio da Pedra, onde embarcamos numa lancha grande para o passeio fluvial. Falam-nos da construção da enorme represa, 44,6 metros de altura, 50 metros de largura, 336 metros de comprimento, 90 metros de vão até às comportas, a água a correr em abundância, a irrigar os campos e a abastecer as cidades, a jusante. Como acontece com outros rios da China, de caudais desequilibrados entre a estação das chuvas e a estação seca, este rio da Pedra também costuma provocar inundações. Agora é um enorme lago bonito entre montes, repleto de peixes, com a paisagem à volta algo semelhante à das albufeiras das barragens do rio Cávado, no nosso Gerês. De tarde, viagem curta até à comuna popular Chang Qing (Sempre Verde) que aproveita as águas do rio da Pedra e que fornece a cidade de Qinhuangdao com todo o tipo de hortaliças e legumes. Nesta comuna vivem 170 famílias e dizem-me que antes da Libertação (1949), ou seja, a tomada do poder pelos comunistas, a miséria assolava esta região, faltava comida e roupa, eram incontáveis os mendigos. Hoje a realidade parece ser muito diferente. As pessoas, as crianças bonitas estão bem alimentadas e decentemente vestidas. Houve ida à escola primária, os miúdos a cantaram e dançaram em homenagem a estes obtusos estrangeiros que hoje os foram conhecer. É tempo das colheitas de Verão, há milho, tomate, melancia, sementes de girassol, sorgo um pouco por toda a parte. Dizem-me que têm agora tractores e camionetas próprias, cada pessoa ganha 1,60 yuans por dia e todos beneficiam do que chamam os Dez Gratuitos, ou seja, são grátis a escola, o corte de cabelo, a confecção de vestuário, os legumes, o veterinário, o funeral, o cinema, a casa, o gás e o tratamento médico. Cozinham com gás obtido a partir da fermentação de excrementos animais. Neste ano de 1978, com adubos orgânicos e químicos, esperam produzir 4 milhões de quilos de vegetais de legumes o que dá, com algumas contas complicadas, 15.000 quilos por família. A comuna conta com 720 porcos, número exactamente igual ao total dos habitantes da aldeia. Muitos dos animais criados e engordados na pequena parcela de terra privada pertencem a cada família. Interessante, o lugar. Gente humilde, com a subsistência garantida, sem um sinal de ostentação ou riqueza. No dia seguinte, ida a Shanhaiguan 山海关, o lugar onde termina (ou onde começa!) a Grande Muralha da China que aqui entra suavemente no mar após 6.000 quilómetros de espantosa construção, subindo e descendo dez mil montes e montanhas. Nesta primeira Passagem Debaixo do Céu 天下第一关, a Muralha tem 9 metros de altura, 4 de largura e foi levantada em 1381. Dizem-me que foi a primeira relíquia cultural a ser restaurada, quando os comunistas tomaram o poder em 1949. Tudo claro e autêntico, China, China.
Rui Flores VozesEm nome do povo [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi como se o mundo – leia-se a imprensa internacional do “mainstream” – tivesse acordado para o populismo apenas quando Donald Trump atingiu as primeiras páginas dos jornais. Nem todos os eventos, semelhantes na sua essência, são valorados da mesma forma. Naturalmente. Um atentado terrorista que mata uma pessoa na Europa recebe cobertura jornalística mais extensa do que um outro evento no Afeganistão que tenha feito 200 vítimas. O mundo é injusto. Mas esta é a lógica da comunicação social. A atenção que tem sido dada ao primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, e ao seu discurso e políticas contra os imigrantes, ou ao presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, e à sua campanha pela eliminação de traficantes e consumidores de droga, é menor do que a que tem recebido Donald Trump, candidato republicano à presidência dos Estados Unidos da América. Mas a atenção mediática dedicada à campanha presidencial norte-americana tem o mérito de ter posto a academia a reflectir sobre as diferentes dimensões do populismo. A edição de Novembro-Dezembro da Foreign Affairs dedica, por exemplo, um número considerável das suas páginas a explicar o fenómeno. Recorre a vários pesos pesados da ciência política e comunicação, entre os quais Fareed Zakaria, apresentador do programa GPS da CNN, para fazer um ponto da situação sobre o populismo no ocidente. Entre discussões teóricas sobre as principais componentes do populismo – o discurso anti-elite, anti-sistema, a defesa do homem comum contra os poderosos, a invenção de inimigos externos contra os quais nos devemos unir para garantir a nossa sobrevivência – são avançados, também, dados actualizados sobre a chegada ao poder de partidos populistas no continente europeu. Desde os anos 1990 que o populismo ganha terreno na Europa, quer à esquerda quer à direita. Com a queda do Muro de Berlim, o fim da história e uma aproximação ao centro dos principais partidos – que foram implementando uma agenda reformista alegadamente neoliberal, esbatendo alegadas diferenças ideológicas entre centro-esquerda e centro-direita –, o espaço do populismo tem aumentado. Os partidos populistas controlam parlamentos em seis países: Grécia, Hungria, Itália, Polónia, Eslováquia e Suíça. O resultado de todas as eleições na Europa nos últimos cinco anos, 16, no total, dá aos movimentos populistas, de extrema-esquerda e de extrema-direita, uma média de 16.5 por cento dos votos. Pelo menos um partido populista em cada um dos países conseguiu mais do que 10 por cento dos votos. As causas estão identificadas e parecem estar aí para ficar. A globalização tem contribuído para a deslocalização de capital e de empresas, conduzindo a despedimentos de onde saem. Quando as multinacionais se mudam para outras latitudes, onde os salários são mais baixos, mandam para o desemprego milhares de pessoas e levam ao encerramento de outras empresas que não conseguem competir com as transnacionais. A migração que tanto tem preocupado a Europa nos últimos dois anos – devido ao conflito na Síria e à consequente onda de migrantes “maquilhada” somente por a União Europeia ter “comprado” à Turquia a manutenção de refugiados no seu território – é apenas uma consequência da globalização. E é um fenómeno que se repete um pouco por todo o lado. No Reino Unido, diz a narrativa populista, são os polacos que “roubaram” postos de trabalhos, sobretudo indiferenciados, aos britânicos. Noutros países, como em Portugal, sobretudo nos serviços, dominavam os imigrantes do Leste da Europa e do Brasil. O discurso contra a imigração tem estado no centro da campanha política nos Estados Unidos, pela mão de Trump, mas também já esteve no centro da discussão durante a campanha do referendo que, em Junho, decretou a saída do Reino Unido da União Europeia. Mas a globalização fez da imigração a regra. Os avanços tecnológicos têm igualmente contribuído para uma diminuição geral de postos de trabalho. Basta imaginar, por exemplo, o que acontecerá com os motoristas profissionais quando os carros deixarem de ser conduzidos por pessoas – um cenário de ficção científica que a Google e a Uber estão a transformar em realidade. A pressão demográfica que é colocada aos governos dos vários países desenvolvidos – sobretudo na Europa, onde o saldo demográfico, com a esperança de vida a aumentar e a taxa de natalidade a diminuir – põe um travão a políticas expansionistas e faz aumentar a conta da solidariedade social. Os governos sejam do centro-esquerda ou do centro-direita não têm grande margem negocial, sobretudo quando têm de cumprir as regras orçamentais. A dívida pública média dos países europeus está nos 67 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto nos Estados Unidos se encontra nos 81 por cento. Ou seja, no caso da Europa, apenas um terço do que é produzido poderia ser usado para investir na expansão económica ou para ser redistribuído. Os governos estão pois manietados. Ou, na expressão em língua inglesa, é a política da TINA (“there is no alternative”). Veja-se, por exemplo, a incapacidade negocial do Syriza para com a União Europeia. A grande diferença entre esquerda e direita, salienta, por exemplo, Fareed Zakaria, já não é económica, é cultural. E ela que vai marcando a diferença entre os dois campos. Temas “fracturantes” como o aborto, o casamento homossexual ou a eutanásia são cada vez mais as questões fulcrais nas campanhas políticas. Todos estes factores têm levado ao florescimento do populismo. O voto de milhares de eleitores da classe média, habitualmente do centro político, em partidos de extrema-esquerda e de extrema-direita, radicais, racistas, xenófobos – veja-se por exemplo como em França a Frente Nacional de Marine Le Pen está a crescer –, deveria acima de tudo preocupar os partidos no poder e levá-los a apresentar alternativas sérias, credíveis, de forma a que os populistas, demagogos, não tivessem possibilidade de crescimento. Mas após décadas de apatia política, reforçada pelas similitudes dos principais partidos, a possibilidade de um homem (ou mulher), anti-sistema, anti-político, anti-elite, um homem do “povo” que quer fazer frente aos poderosos, começa a ter um apelo cada vez maior. Tudo em nome do povo, bem entendido.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeCalçada portuguesa | Macau aguarda candidatura de Portugal à UNESCO Um calceteiro em Portugal resolveu lançar uma petição para promover a calçada portuguesa a património mundial imaterial, numa altura em que tem sido removida de muitas ruas lisboetas. Em Macau aponta-se a falta de formação e de calceteiros, mas defende-se que a classificação da UNESCO poderia valorizar ainda mais a calçada [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]ernando Correia começou uma luta pela preservação da calçada portuguesa, mas não está sozinho. Criou uma petição, já recebida pela Assembleia da República, que pede que Portugal faça uma candidatura à UNESCO para que a calçada seja património mundial imaterial. “A calçada portuguesa é um património que faz parte da nossa história e preservá-la não só nos difere de todo o resto do mundo, como nos caracteriza a nós, portugueses, uma nação que evidencia e constrói um tipo de arte tão apreciada além-fronteiras. Portugal é um dos países mais visitados pelo turismo internacional, sendo a calçada portuguesa um dos temas mais apreciados”, escreveu na petição. O calceteiro de profissão que, até ao fecho desta edição, não respondeu às perguntas do HM, alerta ainda para o desaparecimento gradual da calçada portuguesa de muitas das ruas de Lisboa. Esta tem sido, para Fernando Correia, substituída “por um tipo de pavimento que, diga-se de passagem, carece de um forte aspecto visual e de durabilidade duvidosa”. “Existem diversos casos, como o Terreiro do Paço em Lisboa, que tinha uma calçada portuguesa toda executada em desenhos, tendo sido removida e colocado posteriormente um pavimento que, passado poucos anos, já se encontra bastante deteriorado, não se enquadrando com a restante arquitectura na zona da baixa Pombalina”, acrescentou. Fernando Correia explica na sua petição que os constrangimentos advindos da calçada portuguesa podem ser contornados. “Uma das maiores dificuldades que as pessoas relatam tem que ver com o facto de que a calçada escorrega. É um facto aceitável. Contudo, existem diversos tipos de calçada antiderrapante, tal como a calçada em granito.” Macau, provavelmente um dos lugares fora de Portugal onde mais existe calçada portuguesa, diz apoiar esta candidatura, caso seja essa a vontade do Governo português. “A calçada portuguesa é um tipo de arte do pavimento característico a aplicar na estrada, deixando a Portugal uma imagem urbana diferente de outras cidades europeias. Macau é uma cidade que foi influenciada pela cultura portuguesa ao longo prazo, onde há muitas estradas deste tipo como existem nas outras cidades, as quais constituem uma paisagem urbana única de Macau. Assim, se Portugal pretender candidatar para que a calçada portuguesa seja património mundial, o Governo da RAEM irá apoiar e participar nesta iniciativa e ficará feliz de ver quando isso acontecer”, disse o Instituto Cultural ao HM, em resposta escrita. Uma arte a desaparecer Fernando Simões, o único calceteiro português a residir em Macau, aprendeu o ofício com 14 anos e veio para o território com 27. Hoje diz que o território perdeu grande parte dos seus calceteiros e que há falta de formação. Há, sobretudo, falta de informação sobre as pedras e os desenhos que diariamente são pisados por milhares de pessoas. “Em Macau tivemos cerca de 20 calceteiros portugueses e ninguém sabe sobre isto. Aqui ninguém fala, ninguém sabe quem foram os autores das calçadas, acho que houve uma falta de memória. Pode ser que com esta nomeação para património mundial mude o panorama. E será bom para Macau, porque é capaz de ser dos sítios onde há mais calçada portuguesa. E não há registos, ninguém sabe”, contou ao HM. Fernando Simões esteve ligado à pavimentação da zona da Barra, bairro de São Lázaro e o antigo palácio do Governador, hoje sede do Governo. “A petição e a candidatura serão bons para as pessoas valorizarem a calçada, porque é algo que se está a perder. Hoje as pessoas optam por outro tipo de trabalhos.” O calceteiro afirma que não há novos projectos com calçada portuguesa e o IC também nada disse sobre o assunto. “Neste momento estou a fazer trabalhos de pintura e escultura. Macau é pequeno, mas há um grande mercado na China e há vários arquitectos que estão interessados. Mas há muita gente que não conhece a calçada portuguesa.” Manuel Barbosa coordenou o grupo que pavimentou o Leal Senado em 1993. Actualmente a residir em Portugal, também aplaude a petição lançada pelo seu colega de profissão, tendo uma visão pessimista sobre a sua profissão. “Está a haver muito movimento sobre isso [em Portugal] e é de louvar que isso esteja a acontecer, porque é uma arte que fazemos. É uma arte que está a ser desvalorizada, sobretudo em Portugal. Dá-se mais valor à calçada portuguesa fora do país do que cá”, contou. Manuel Barbosa, que durante um período vinha todos os anos a Macau de propósito para vários projectos de instalação de calçada portuguesa, garante que “se dá mais valor à calçada portuguesa” no território. “Todos os anos fui aí fazer projectos do Francisco Caldeira Cabral, arquitecto paisagista. Via que o povo asiático e os macaenses gostavam da calçada portuguesa, e diziam que tínhamos uns belos passeios. Tenho falado com pessoas que estão em Macau e todos me dizem que as ruas têm mais calçadas, que o povo todo gosta e que o território ficará mais valorizado se a calçada portuguesa for património mundial.” Contudo, há “falta de formação, porque se houvesse sempre portugueses a acompanhar os calceteiros chineses, seria uma mais valia. Isso é que faz falta. Vê-se que há muita calçada feita em Macau mas falta qualidade, se houvesse formação isso ia acontecer”, garantiu Manuel Barbosa. Associações chinesas defendem protecção da calçada portuguesa Do lado das associações chinesas ligadas ao património, a inclusão da calçada portuguesa na lista do património mundial imaterial da UNESCO é vista como uma mais-valia. “Penso que será muito possível que a calçada portuguesa entre na lista, mas será difícil para a UNESCO porque cada cidade portuguesa tem a sua calçada. Do ponto de vista do imobiliário ou do cenário de uma cidade, a UNESCO não pode incluir só as calçadas de Lisboa e não as de Coimbra, por exemplo”, disse Nero Liu, presidente da associação dos embaixadores do património de Macau. Lam Cheok Ho, vice-secretário geral da Associação para a Reinvenção de Estudos do Património Cultural de Macau, defendeu que “convém Portugal candidatar-se”. “Mas a nossa associação considera que Macau também deve proteger a calçada, incluindo-a na lista do património local ou do interior da China, para que a forma de protecção seja mais eficaz.” “Pensamos que a inclusão da calçada portuguesa na lista de património local seria aprovada porque há muitos turistas que têm dúvidas sobre a calçada. Penso que uma inclusão da calçada portuguesa numa lista local de protecção de património seria mais rápida do que a inclusão na lista da UNESCO”, acrescentou. “Além de existir calçada portuguesa em Macau, também há na Índia e noutros lugares que foram antigas colónias portuguesas, e isso serve de registo da história e cultura da colonização portuguesa. Deste ponto de vista é possível que a candidatura seja bem sucedida”, concluiu Lam Cheok Ho.
Hoje Macau PolíticaEleições | Sónia Chan espera colaborar com “ricas redes comunitárias” [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, esteve ontem reunida com várias associações para o debate da acção do Governo, onde se incluem a Associação Comercial de Macau, a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) e a União Geral das Associações de Moradores de Macau (UGAMM), entre outras. Segundo um comunicado oficial, a Secretária quer poder contar com o trabalho das associações para uma maior ligação da população à política. Sónia Chan “espera que, com as ricas redes comunitárias das associações, se possa reforçar o conhecimento dos cidadãos sobre o sistema eleitoral e a consciência de eleições íntegras”, sendo que com a nova lei eleitoral o Governo pretende “assegurar os princípios básicos da equidade, justiça, transparência e integridade nas eleições”. O encontro, que ocorreu no âmbito da realização de reuniões com associações para a preparação das Linhas de Acção Governativa, serviu ainda para debater temas como a criação de órgãos municipais sem poder político, a “reestruturação administrativa, a optimização do sistema dos órgãos consultivos, a promoção do governo electrónico ou a elevação do nível dos serviços públicos”. Foram ainda abordados temas como a necessidade de “ajustamento das funções dos serviços, do reforço da gestão do pessoal da administração pública, da concretização da centralização da coordenação dos trabalhos legislativos e da simplificação do procedimento administrativo de autorização de licenciamento”. Quanto à Lei Básica, Sónia Chan prometeu a divulgação “de forma inovadora, com mais flexibilidade, detalhes e aproximação à vida, na base da actual comunicação estreita e boa cooperação com as associações”.
Angela Ka Manchete PolíticaMetro ligeiro | Percurso na península será conhecido no final do ano Linha do metro em Macau não tem rumo nem concórdia. Raimundo do Rosário garante definição de trajecto até ao final do ano e deputados continuam a manifestar opiniões relutantes [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Secretário para os Transportes e Obras Públicas garantiu, na passada terça-feira, que até ao final do ano iria dar a conhecer, detalhadamente, o percurso do metro ligeiro na Península de Macau. O deputado Ho Ion San, em reacção às declarações, referiu ao Jornal Ou Mun que, depois da confusão provocada pela construção do metro ligeiro e condicionamento das principais vias da Taipa, a população espera que, aquando das obras na península, o Governo seja capaz de tomar medidas referentes aos congestionamentos do trânsito. “Teria sido bom que os deputados que se insurgiram contra o trajecto na península, tivessem também apresentado outro tipo de sugestões”, lamenta ao mesmo tempo que acrescenta que “agora não é altura para pôr em causa a construção da infra-estrutura na medida em que vai ser necessária tanto aos turistas que tendem a registar um crescendo na região, como à população que podem usar este transporte para ultrapassar os congestionamentos de trânsito”. Ainda com o trânsito na mira, o deputado considera que a actual situação do tráfego na península não é adequada à circulação do metro. Ho Ion San salienta também a importância do aproveitamento da área costeira para o trajecto, e de forma a conseguir diminuir as preocupações da população no que se refere a congestionamentos e emissões de ruídos. Ho Ion San alerta ainda que o projecto tem sido sistematicamente adiado e que é tempo de ser realizado. Mais uma fonte de problemas Já o deputado Si Ka Lon, em declarações ao canal MASTV, manifesta o seu apoio ao cancelamento da linha de metro na cidade de Macau. A seu ver, não há vantagens na construção da infra-estrutura: durante a construção vai causar problemas, nomeadamente relativos ao trânsito e depois de concluído não traz vantagens de relevo à população, nem vai aliviar os problemas de trânsito”, afirma Si Ka Lon. O deputado aponta ainda as despesas como factor a ter em conta. “O Executivo não se pode esquecer que o metro ligeiro acarreta também gastos de manutenção que ainda são desconhecidos”. O Grupo Root Planning que tem trabalho feito na área comunitária, falou com o Jornal Cheng Pou acerca da agora polémica linha de metro na península. O porta-voz da associação salienta que se a península e a Taipa tiverem sistemas diferentes, também o sistema electromecânico de manutenção, de sinal e de comboio não será aplicável a ambos, “o que vai aumentar substancialmente o custo”. Tal como foi noticiado na passada terça-feira, três deputados à Assembleia Legislativa defenderam, no período de antes da ordem do dia, que o Governo deve repensar o plano que tem para o metro ligeiro do território. Kou Hoi In, Cheang Chi Keong e Chui Sai Cheong entendem mesmo que não vale a pena avançar com o metro em Macau: basta fazer a ligação entre a Taipa e a estação da Barra. Período negro Os tribunos sustentaram a teoria com a morosidade e transtorno causados pela construção do projecto. “As obras do traçado do metro ligeiro da Taipa são lentas e a população tem de tolerar, mais três anos, um período negro de trânsito”, salientaram. “Se a mesma situação acontecer na península de Macau, é de crer que serão mais graves os congestionamentos de transeuntes e de carros.” Vai daí, os deputados afirmaram que “não vale a pena a construção [do metro] na península de Macau e basta ligar o troço da Taipa à estação da Barra”, sendo que pedem ao Governo que “pondere com cautela” a sugestão deixada.
Andreia Sofia Silva PolíticaMercado Vermelho | Coutinho questiona direitos dos funcionários da biblioteca [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho entregou uma interpelação escrita ao Governo onde questiona a manutenção de regalias aos funcionários do Instituto Cultural (IC) que terão de trabalhar durante a noite na biblioteca do Mercado Vermelho, numa altura em que estará aberta durante 24 horas. “Os trabalhadores da biblioteca do Mercado Vermelho vão receber subsídio de turnos e ter compensações de horários?”, questionou o deputado, que critica a decisão do IC de ter um espaço aberto 24 horas, ainda que de forma experimental. “As pessoas podem requisitar livros durante o dia e ler à noite. Em geral, os livros demoram vários dias ou semanas a ler, pelo que uma pessoa que esteja muito ocupada durante o dia, se requisitar um livro, só terá de ir à biblioteca de vez em quando. É duvidoso que haja muita gente a ir à biblioteca entre a meia-noite e as nove da manhã. É muito bom que se promova a leitura, mas haverá outros meios”, rematou o deputado.
Angela Ka PolíticaChan Meng Kam pede mais atenção às análises dos terrenos [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado Chan Meng Kam interpelou o Governo sobre a necessidade de se dar mais atenção às análises realizadas aos terrenos antes da realização de obras. Chan Meng Kam citou os exemplos do Complexo Municipal dos Serviços Comunitários da Praia do Manduco, a habitação pública da Ilha Verde e o parque de materiais e oficinas do Metro Ligeiro, que foram adiados por causa das condições dos solos, por diferirem dos relatórios apresentados. “Segundo as indicações dos profissionais, os relatórios elaborados pelo Governo são meramente informáticos e faltam análises elaboradas por engenheiros geotécnicos. Para além de uma análise ao solo falta também a história geológica do terreno, para que se possa fazer uma avaliação geral”, apontou. Chan Meng Kam questiona, assim, se a formação dos engenheiros geotécnicos do Governo é suficiente, pedindo mais explicações sobre as razões dos atrasos das obras, bem como as alterações que são feitas.
Sofia Margarida Mota PolíticaChui Sai On | Pormenores dos novos aterros no final de reunião do CPU A construção nos terrenos ao lado da torre de Macau vai continuar em segredo e mais desenvolvimentos só depois de feita a análise no Conselho de Planeamento Urbanístico. Quem o diz é Chui Sai On, que garante que todos os processos são completamente legais [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] situação dos terrenos da zona B dos novos aterros só vai ter desenvolvimentos e divulgação de pormenores após análise no Conselho de Planeamento Urbanístico (CPU). A informação é dada por Chui Sai On, que sublinha a legalidade de todos os processos relacionados com a Lei de Terras. O Chefe do Executivo participou ontem na cerimónia de inauguração da Feira Internacional de Macau e, em resposta a perguntas de jornalistas sobre o desenvolvimento da zona B dos novos aterros, disse que já foi explicado pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, que o seu desenvolvimento pontual, antes da entrada em vigor do planeamento geral, cumpre escrupulosamente a lei das terras, a lei do planeamento urbanístico e a lei de salvaguarda do património cultural. “O planeamento, que também cumpre os regulamentos das legislações vigentes e o projecto de desenvolvimento, irá ser debatido no seio do Conselho do Planeamento Urbanístico, altura em que o Governo apresentará em detalhe o conteúdo da mesma discussão”, explicou. Quanto ao planeamento global, o líder do Governo salientou que as medidas e os respectivos trabalhos estão a ser cumpridos “dentro dos trâmites inseridos na lei do planeamento urbanístico”. Chui Sai On acrescentou ainda que, de acordo com o entendimento do Governo, o CPU permite efectuar debate e análise de cada construção antes da entrada em vigor do planeamento global. Um problema de sombras Em causa está a polémica que tem feito levantar vozes por parte de vários deputados e membros da população quanto à altura autorizada para a construção de habitação. O vice-director substituto da DSSOPT, Cheong Ion Man, já defendeu anteriormente que a construção naquela zona está em primeiro lugar na lista de trabalhos dos novos aterros, sendo este o local onde vão ficar os edifícios destinados a órgãos políticos e judiciais. O responsável diz que foi tida em conta a vista da colina e até a chamada “lei da sombra”. Face ao limite de altura, Cheong assegurou que, quando o plano director dos novos aterros foi elaborado, foram considerados os factores de questões aeronáuticas e a visibilidade do património mundial, que não pode – de acordo com a UNESCO – ser tapado. Cheong Ion Man disse ainda que foi feita uma análise por um grupo interdepartamental e especialistas que mostra que “a Zona B tem condições técnicas para se construírem prédios altos”, sobretudo nos espaços perto da Torre Macau, e que “já foram analisadas as propostas mais viáveis”. Cuidados com a saúde Chui Sai On aproveitou a ocasião para agradecer a atenção que tem recebido pelo seu estado de saúde. Revelou que contraiu uma gripe e que esteve com uma “leve indisposição por causa de dores musculares, na zona lombar inferior, que foram devidamente diagnosticadas e tratadas”. Agora sente-se “bem e recuperado”, diz, pelo que irá resumir as suas tarefas, “sem necessitar de descanso adicional”, mas estará ainda sob as instruções do médico, que aconselham “exercício físico e uma alimentação mais saudável”.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeMIF | No pavilhão do país parceiro cabe moda, licor beirão e electrónica Arrancou ontem mais uma edição da Feira Internacional de Macau onde, pela primeira vez, Portugal é o “país parceiro”. No pavilhão mais participado de sempre cabe tudo o que é português: a moda de Fátima Lopes, os vinhos, o Licor Beirão e os produtos alimentares, sem esquecer o futebol e as touradas [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] manhã começou animada para os lados do pavilhão de Portugal na 21ª edição da Feira Internacional de Macau (MIF, na sigla inglesa). A tuna académica da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa tocava para empresários lusos e chineses, à medida que os expositores começavam a mostrar aquilo que é português. Paulo Alexandre Ferreira, secretário de Estado Adjunto e do Comércio de Portugal, falou da maior presença lusa em Macau neste certame, com cerca de 70 empresas. “Não quisemos trazer só produtos agro-alimentares, no sentido de mostrar que Portugal tem mais para oferecer além disso. Destacaria os produtos tecnológicos, pois é uma área em que Portugal está a dar cartas ao nível mundial e queremos mostrar a inovação que está a acontecer à China.” Paulo Alexandre Ferreira garantiu querer manter uma linha orientadora de cooperação após a visita do primeiro-ministro português, António Costa. “Queremos dar a continuidade a essa cooperação. O facto de sermos o primeiro país parceiro, a par de Pequim que é a cidade parceira, dá-nos uma notoriedade acima do normal”, acrescentou. O pavilhão português tem tudo aquilo que se espera dele. Tem as representações de vinhos, dos queijos, dos chouriços e dos pastéis de nata. Mas há uma aposta notória em outras áreas de investimento, sendo que a moda é uma delas. Fátima Lopes Fátima Lopes, uma das mais internacionais designers portuguesas, presente na Semana da Moda de Paris há mais de uma década, está pela primeira vez na MIF a mostrar as suas colecções. “É uma aposta num mercado que considero muito importante, com uma dimensão que, para quem trabalha com moda, é fundamental. Portugal é muito interessante, estou na Europa, estou na Semana de Moda de Paris há muitos anos, e não só Macau mas toda a China é um mercado muito interessante. A marca Fátima Lopes tem capacidade para a dimensão da China, porque a moda não tem limites. Portugal é um país com indústrias de muita qualidade. Este é o momento certo para apostar neste mercado, por exemplo já estou no mercado japonês há muitos anos e faz todo o sentido estar aqui”, contou ao HM. A cortiça, que há muito transpôs fronteiras, também está presente na MIF com a Najha. Há muito que a cortiça, extraída do sobreiro, existe em Portugal nas rolhas do vinho, mas só há poucos anos começou a ser aliada ao design, com a produção de vestuário, calçado, malas e guarda-chuvas. “Ainda não chegamos ao mercado chinês, estamos a fazer os primeiros contactos e prospecções. O facto de estarmos na feira é bom. Já fizemos algumas participações de feiras na Europa. Portugal tem muito para oferecer ao mundo e não devem ser apenas a China e Macau a darem essa importância ao país. Temos de ser nós próprios”, contou Daniela Sá, gestora da marca, ao HM. Em nome da electrónica Telmo Silva veio para a MIF com a Virtualmente e a associação GrowUp Gaming, projectos que espelham as palavras do secretário de Estado português. A aposta feita na área dos jogos electrónicos chegou a Macau em Agosto do ano passado, com a Grow uP E-Sports Macau. “O mercado chinês está bastante evoluído em termos de desportos electrónicos e é uma das grandes apostas, e esta ligação com a China é muito importante para atrairmos novos investidores nesta área em Portugal”, disse ao HM. Há muito que o Licor Beirão se bebe em Macau, mas esta é a primeira vez que a marca participa directamente na MIF. Nuno Rocha, gestor de exportação da marca, referiu que quiseram ir além da ligação que já têm com um importador local. “Estamos aqui para promover o produto e explicar um pouco mais sobre a marca mais famosa de licor em Portugal. Temos orgulho de sermos um licor transversal, que chega a qualquer pessoa que aprecia um produto de qualidade. Estamos a trabalhar aos poucos na China e, ao contrário do que muita gente pensa, é um mercado que implica muito trabalho, investimento e promoção.” Pelo que já viu na China, os chineses gostam deste licor frutado. “A aceitação é quase total. Para quem gosta de coisas doces é um licor muito agradável de beber, mas com a versatilidade de cocktails, adapta-se a qualquer gosto.” Futebol e touradas Pela primeira vez a MIF tem também uma representação do Museu do Futebol Clube do Porto, que tem vindo a ganhar muitos visitantes – 40 por cento são estrangeiros, disse Luís Valente, comercial. A ideia é mostrar um projecto que, além do clube de futebol, conta a história da própria cidade do Porto. A MIF mostra ainda as touradas, através da Sociedade de Renovação do Campo Pequeno. A praça de touros de Lisboa tem recebido muitos turistas e quer receber ainda mais, sobretudo chineses, “que gostam de ver corridas”, disse ao HM Paula Resende, administradora.
Hoje Macau SociedadeUM organiza palestra sobre colonialismo português [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]ntre a próxima terça e sexta-feira a Universidade de Macau (UM) acolhe a palestra com o tema “Discursos Memorialistas e Construção da História”, organizada em parceria com o departamento de português da UM e o Centro de Investigação de Estudos Luso-Asiáticos (CIELA). Segundo um comunicado, a conferência irá servir para “questionamento teórico e epistemológico das memórias, entendidas como ‘locais de construção da nação’, dos actores políticos nos processos históricos em Macau e nos países africanos de língua portuguesa (nos períodos coloniais e pós-independência). Será dado um “particular destaque ao ‘lugar incomum’ que Macau ocupa nas margens dos países de língua portuguesa, bem como aos seus actores políticos e seus escritos memorialistas, contribuindo para mapear os seus ‘lugares de memória”. No encontro participam académicos oriundos de vários países de língua portuguesa, tais como Lourenço do Rosário, da Universidade Politécnica de Moçambique, que irá falar sobre “Memória, História e Ficção: o significado das autobiografias”, enquanto que o professor Rogério Puga, da Universidade Nova de Lisboa, vem falar do “Papel Pioneiro de Macau nas Relações Sino-Ocidentais: o Primeiro Museu (1829-1834) e a Biblioteca de Língua Inglesa (1806-1834)”. Já Valdemir Zamparoni vem da Universidade Federal da Bahia, Brasil, para falar sobre “África e Africanos: Caminhos da Identidade Brasileira”. Todas as sessões da palestra vão decorrer na sala G035, edifício E22 do campus da UM.
Angela Ka Manchete SociedadeIlha Verde | Kaifong exigem conservação e um novo planeamento [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Centro da Política de Sabedoria Colectiva questionou o Governo sobre a ausência de um novo ordenamento urbanístico da Ilha Verde. O centro, ligado aos Kaifong, pede que a colina existente na zona, com um convento jesuíta abandonado, não seja esquecida O planeamento e os trabalhos de conservação da zona da Ilha Verde voltaram a ser alvo de críticas, desta vez por parte do Centro da Política de Sabedoria Colectiva, ligado à União Geral das Associações de Moradores de Macau (Kaifong). Isto porque o Governo apresentou, em 2011, o planeamento do ordenamento urbanístico da Ilha Verde, na expectativa de transformar a zona num novo bairro comunitário. Contudo, cinco anos depois nada aconteceu, tendo sido esse o tema de debate de um seminário organizado pelo centro. O deputado Ho Ion Sang, dos Kaifong, criticou o lento progresso na concretização do plano, lembrando que com a conclusão do novo posto transfronteiriço Guangdong-Macau o projecto deverá ser reajustado, por forma a acompanhar a nova entrada dos turistas, já que ali irá surgir um novo fluxo de visitantes para além das Portas do Cerco. Ho Ion Sang referiu ainda que, após a conclusão das habitações públicas e a reconstrução de algumas vias, não houve qualquer progresso quanto à protecção da colina, onde existe um convento jesuíta abandonado, e depósitos de produtos de combustível e oficinas, que funcionarão sem licença. Lei Ip Fei, académico e membro do Conselho do Património Cultural, descreveu a colina da Ilha Verde como um espaço “cheio de tesouros”, lamentando que as árvores antigas existentes na zona não tenham sido incluídas na recente lista de salvaguarda de árvores antigas, promovida pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM). “A colina tem 36 árvores de reconhecido valor. Existe um património histórico de 400 anos, datado das dinastias Ming e Qing, bem como um mosteiro construído há cerca de 180 anos, e outros achados históricos com falta de protecção”, adiantou Lei Ip Fei. Para Chan Ka Leong, vogal do centro, defendeu que “a colina da Ilha Verde será relva ou tesouro, dependendo do reconhecimento das autoridades”. A responsável disse ainda, citando as explicações do Governo, que a lei do planeamento urbanístico determina que, antes da elaboração de planos de pormenor, é necessário criar um plano director do território, algo que só deverá ser implementado em 2020. “Antes de ser feito o plano director vamos continuar sentados à espera?”, questionou Chan Ka Leong.
Hoje Macau SociedadeTufão vai estar perto de Macau entre a tarde e a noite de hoje É um fim-de-semana com vento e chuva fortes mas, se tudo correr como as previsões, o sol deverá voltar lá para domingo. O tufão Haima deverá fazer-se sentir com força durante o dia de hoje em Macau. Para trás, nas Filipinas, deixou mortos e muitos estragos. [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]m cinco dias, dois tufões – e o que à hora de fecho desta edição se estava a aproximar de Macau promete ventos e chuvas mais fortes do que a tempestade tropical do início desta semana. Ontem, ao final do dia, os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) explicaram ao HM que só durante a noite iria ser considerada a possibilidade de elevar o sinal para 3, “consoante a situação meteorológica”. A aproximação do Haima fez com que, logo pelas 10h, tenha sido içado o sinal 1. Ainda de acordo com as informações conhecidas ao princípio da noite de ontem, a trajectória do tufão levava a crer que hoje se vai aproximar “da costa leste do Estuário do Rio das Pérolas e encaminhar-se para a província de Guangdong”. O tufão ficará mais perto de Macau “entre a tarde e a noite” de hoje. “É provável que cruze a região a cerca de 200 quilómetros a leste” do território, explicaram os SMG. Quanto à previsão meteorológica para os próximos dias, o tempo será instável. “O céu vai apresentar-se muito nublado, havendo aguaceiros, às vezes muito fortes, acompanhados de vento muito forte”, dizem os serviços. “No fim-de-semana, vai afastar-se da região e, após atingir terra novamente, espera-se que o Haima fique mais fraco e os ventos enfraqueçam.” No sábado deverá chover, com aguaceiros ocasionais e vento com rajadas, mas para domingo são esperados períodos de sol. Os Serviços Meteorológicos e Geofísicos aconselham à população que preste atenção e acompanhe as informações que vão sendo divulgadas, para que possam ser tomadas medidas preventivas. Entretanto, o Instituto Cultural apelou ontem aos responsáveis de edifícios históricos e patrimoniais para estarem atentos às consequências da aproximação do tufão, para que possam ser tomadas as medidas de protecção necessárias. Além do adiamento do Festival da Lusofonia para o próximo fim-de-semana – deveria começar hoje – há mais eventos a serem cancelados no território. O Fundo de Segurança Social decidiu desmarcar o “Dia de promoção do regime da segurança social 2016”, agendado para amanhã no Jardim do Mercado Municipal de Iao Hon. Há já uma nova data: vai realizar-se no dia 29. O mesmo acontece com o dia da abertura ao público da Assembleia Legislativa, que deveria acontecer estes sábado e foi adiado uma semana. Também a organização da Feira Internacional de Macau tomou e divulgou medidas de prevenção que passam sobretudo pelas horas de abertura do certame a participantes e público em geral. Ventos fatais O Haima é descrito pelas agências internacionais de notícias como um dos tufões com maior força a atingir as Filipinas. A tempestade tropical fez, pelo menos, quatro vítimas mortais e destruiu casas, escolas e árvores de grande porte, tendo ainda arrasado zonas agrícolas, com estragos que estão ainda por calcular. O super-tufão chegou ao país na quarta-feira à noite com ventos semelhantes aos sentidos por altura do tufão Haiyan, em 2013, que matou 7350 pessoas. O Haima atingiu sobretudo as cidades costeiras do Oceano Pacífico, com ventos de 225 quilómetros por hora e rajadas que chegaram aos 315 quilómetros. Durante a noite, o tufão perdeu força e encaminhou-se para o Mar do Sul da China.
Hoje Macau China / ÁsiaDuterte anuncia em Pequim separação dos Estados Unidos [dropcap style≠’circle’]R[/dropcap]odrigo Duterte decidiu em Pequim proclamar o distanciamento dos Estados Unidos, virando-se agora para a China como o principal parceiro na área dos negócios. As questões territoriais do Mar do Sul da China parecem, para já, ter passado para segundo plano O presidente das Filipinas anunciou ontem, em Pequim, “a separação dos Estados Unidos”, aliado tradicional do arquipélago, e uma aproximação da China. “Anuncio a minha separação dos Estados Unidos”, declarou Rodrigo Duterte durante um fórum económico, desencadeando os aplausos do público. Duterte realiza uma visita de Estado de quatro dias à China, acompanhado por uma delegação de 400 membros. O relacionamento entre os dois países registou, nos últimos anos, uma forte deterioração na sequência do diferendo sobre a soberania de ilhas no mar do Sul da China. Rodrigo Duterte afirmou querer “adiar (este dossier) para outra altura” para dar prioridade à cooperação económica, e declarou na televisão chinesa procurar “a ajuda” do grande vizinho neste domínio. Essa posição foi saudada pela China, cujo presidente, Xi Jinping, recebeu Duterte no Palácio do Povo, na praça Tiananmen. “É importante tratar com diálogo e consultas bilaterais as divergências sobre a questão do Mar do Sul da China”, declarou Xi, citado pelo ministério dos Negócios Estrangeiros chinês. O chefe de Estado chinês afirmou estar pronto a “deixar temporariamente de lado as questões difíceis”. Duterte qualificou a reunião com Xi Jinping de histórica: “Ela vai melhorar e desenvolver as relações entre os nossos dois países”, considerou. A disputa territorial no mar do Sul da China (pelo atol de Scarborough ou ilhas do arquipélago das Spratly) tem inibido as relações bilaterais nos últimos anos. A tensão agravou-se em 2012 depois de Pequim ter ocupado áreas que Manila considera parte da sua zona económica exclusiva. E, no ano seguinte, as Filipinas iniciaram um procedimento contra a China junto Tribunal de Arbitragem Permanente. O tribunal internacional, com sede em Haia, deu razão às Filipinas em Julho último. Apesar do veredicto favorável, Rodrigo Duterte, que tomou posse em Junho, decidiu deixá-lo de parte e reiniciar o diálogo bilateral com a China, tal como quer Pequim. “As raízes dos nossos laços são muito profundas e não podem ser danificadas facilmente”, disse Duterte. Marco histórico O Presidente das Filipinas foi recebido com honras em Pequim pelo homólogo chinês, que qualificou a visita como um “marco” nas relações entre os dois países. “Isto é verdadeiramente um marco para as relações sino-filipinas”, afirmou Xi Jinping, ao reunir-se com Rodrigo Duterte após a clássica cerimónia militar com a qual a China dá as boas-vindas aos líderes estrangeiros. Após a recepção, reuniram-se com a única presença de um tradutor, no seu primeiro encontro oficial desde que Duterte tomou posse, em Junho, e deu, a partir de então, uma volta de 180 graus à política externa filipina. Vamos ao que interessa “Tudo o que quero são negócios”, disse o chefe de Estado filipino, numa conferência de imprensa, na noite de quarta-feira, em Pequim, acrescentando que não iria abordar com os líderes chineses a questão das tensões territoriais, a não ser que os próprios abordassem o tema, por “cortesia oriental”. Após o encontro, Duterte e Xi testemunharam a assinatura de uma série de acordos de cooperação, com o líder filipino interessado sobretudo em empréstimos “brandos” que possam ser pagos “num calendário generoso”, reconheceu na mesma conferência de imprensa. A visita de Duterte à China – a primeira que realiza ao estrangeiro à margem da cimeira da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) – reflecte o interesse do actual Presidente filipino em aproximar-se de Pequim, enquanto multiplica as críticas aos Estados Unidos, o seu principal parceiro comercial e de apoio no domínio da segurança no último século. Criticado pelos Estados Unidos, UE e ONU pela campanha anti-criminalidade, que já fez mais de 3.700 mortos – indica uma contagem oficial – Duterte pode contar com o apoio da China. Pequim “apoia o novo governo filipino na luta contra a droga, terrorismo e criminalidade, e está disposto a cooperar com Manila nestas questões”, disse o ministério dos Negócios Estrangeiros chinês. Duterte reuniu-se ainda com o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, e com o presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP), Zhang Dejiang.
Hoje Macau China / ÁsiaStarbucks planeia abrir duas mil lojas na China em cinco anos [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] rede americana Starbucks parece estar confiante no desenvolvimento dos negócios na China, aponta o site CNN Money. De acordo com o site, os planos da companhia são de abrir uma nova loja por dia na segunda maior economia do mundo nos próximos cinco anos, totalizando quase duas mil novas unidades no país. O CEO da empresa Howard Schultz parece não estar preocupado com o facto da economia chinesa estar em no menor ritmo dos últimos 25 anos. “Penso que se olhar para os 45 anos de história da nossa companhia, uma das coisas que nós temos feito bem é planearmos sempre a longo prazo”, disse numa entrevista em Xangai. A reportagem da CNN comenta que o Starbucks abriu a primeira loja na China há 17 anos, desacreditado pelo mercado que não acreditava que a operação resultaria. Actualmente, a expectativa é de que, eventualmente, a China supere os EUA como o maior mercado da empresa, sendo que já é o segundo. “Uma das coisas que penso que temos feito muito bem é que temos investido significativamente acima da curva de crescimento em pessoas e em sistemas. Acabamos de terminar um fantástico ano na China onde os resultados foram mais fortes do que nunca”, comenta o executivo. “Tanto numa cidade pequena como numa grande cidade, pensamos que a maneira de ser bem sucedido é se as lojas são operadas pelo pessoal do Starbucks”, disse em referência a outras marcas americanas de alimentação que procuram parceiros de fora para cuidar das suas operações na China, como a McDonalds e o KFC. “Acreditamos que o futuro do Starbucks na China ainda está a começar”.
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasAgitação no Oceano Pacífico [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Príncipe de Yu, cujo nome era Aisin-gioro Duoduo, famoso general manchu que ajudou à fundação da dinastia Qing em 1644, seguiu com o seu exército para Nanjing onde entrou no Verão de 1645, terminando com o primeiro regime da dinastia Ming do Sul, que teve um ano de existência. “Dois meses após a queda de Nanjing, dois outros regimes Ming do Sul emergiram, em Fujian e Zhejiang, respectivamente. Huang Daozhou e Zheng Zhilong suportavam o Príncipe de Tang (Zhu Yujian) como imperador em Fujian, e Qian Suyue e Zhang Huangyan suportavam o Príncipe de Lu (Zhu Yihai) como ‘Nacional Supervisor’ em Shaoxing, Zhejiang. Zheng Zhilong (que na semana anterior esteve em destaque) era quem tinha o real poder no regime do Príncipe de Tang, mas apenas sabia explorar as pessoas e nada mais; consequentemente não havia grande esperança. No Verão de 1646, o exército Qing atacava Fujian e Zheng Zhilong rendeu-se”, Bai Shouyi. Após a conquista pelos manchus de Fuzhou (Fujian) em Outubro de 1646 e executado o Imperador Long Wu (Zhu Yujian, príncipe de Tang), o seu irmão mais novo, Zhu Yuyue escapando de barco chegou a Guangzhou onde fundou um estado Ming, tendo em 11 de Dezembro de 1646 ficado com o título de reinado Shao Wu. Mas Youlang também se entronizara imperador, guerreando-se ambos pelo trono, e após pouco mais de um mês, Li Chengdong, um ex-comandante da dinastia Ming do Sul que liderava um pequeno grupo de tropas Qing, aí capturou e matou Shao Wu. Sobrava Zhu Youlang, que desde 18 de Novembro de 1646 ostentava o título de Imperador Yong Li e foi para Zhaoqing (Guangdong) devido ao suporte que recebeu de Qu Shisi, Oficial Ming de alta patente que tinha a cargo a defesa de Guangdong e Guangxi. Os manchus ocuparam Cantão em Janeiro de 1647, onde se encontrava Yong Li, que fugiu para Guilin, seguindo os manchus no seu encalço. Aí, entre Março e Julho esteve cercado mas, com a ajuda de trezentos portugueses de um contingente comandado por Nicolau Ferreira, após cinco meses, os manchus retiraram-se. A desistência dos manchus de cercar Guillin, animou a revolta e sete províncias no Sul da China puseram-se à ordem de Yong Li. O Príncipe de Yongming (Zhu Youlang), como Imperador Yong Li (1646-1662), conseguiu aguentar o regime por um período de quinze anos, devido à cooperação que lhe foi prestada pelo exército armado de camponeses e o heroísmo de alguns dos seus generais. Andando sempre em fuga, Yong Li foi capturado já na Birmânia (hoje Myanmar) em Dezembro de 1661 e morreu a 1 de Junho de 1662, sendo o quarto e último Imperador da dinastia Ming do Sul. Tirar da costa a população A dinastia Qing entregou um cargo da governação de Guangzhou (Cantão) a Li Chengdong, mas este, desiludido com os novos senhores da China, apoiou Yong Li colocando de novo a cidade sobre o domínio Ming. Então, os manchus aí montarem durante dez meses um cerco, que terminou em 24 de Novembro de 1650, provocando 70 mil mortos. Foi a grande machadada na resistência Ming, que na parte Oriental da China ficou confinada ao mar. Aí, o General Comandante da Armada, Zheng Chenggong, é derrotado em 1659, no estuário do Rio Yangtzé. Após esta batalha, o pirata cujos europeus chamavam Coxinga voltou a Fujian e daí partiu à frente de 25 mil pessoas para Taiwan, onde tomaram a ilha aos holandeses e para onde muitos habitantes de Fujian foram viver. “O cerco a Nanquim, em 1659, e as vitórias no mar de Cheng Cheng Lung e de seu filho, Coxinga (Cheng Cheng Kung) amedrontaram os manchus e, analisando as possíveis causas da força rebelde, designadamente as dos meios económicos em que apoiavam o seu poderio, concluíram que eles provinham do comércio marítimo que havia muitos anos conduziam livremente entre o Japão, o Ainão (Hainan) e a costa chinesa. E também dos saques dos navios que comerciavam entre os portos da China e do estrangeiro, dos quais as armadas de Coxinga se apoderavam. Esta conclusão levou ao decreto imperial publicado na 8.ª lua de 1661 que ordenou a retirada de todas as populações de cinco províncias marítimas (entre elas a de Kwangtung, Guangdong em mandarim) para um mínimo de 30 lis da costa (cerca de quatro léguas). Criava assim a terra queimada que evitaria contactos com Coxinga, esgotando as suas possibilidades de negociar com chineses e de aliciar seguidores dos Ming. A pena para os que desobedecessem era a morte”, segundo refere Gonçalo Mesquitela. Em 1661, a resistência dos han Ming aos manchus quebrou e os novos governantes não tinham grandes relações com o mar. Segundo Victor F. S. Sit, “Na dinastia Qing (1644-1911), a política de interdição das actividades marítimas levou à evacuação forçada das regiões costeiras. Ao longo de grande parte do período em que essa dinastia imperou, o comércio marítimo só foi permitido numa única área, a de Macau – Cantão, embora outros três portos tivessem permanecido abertos durante algum tempo. Desse modo, a enorme rede de tráfego marítimo entre a China e o ultramar, ficou praticamente extinta entre meados do séc. XVI e meados do séc. XIX. O que sobrevivia não passava de algumas actividades de comércio ilegal. Foi exactamente nessas circunstâncias que Macau emergiu como praticamente o único entreposto comercial legal entre a China e os países estrangeiros, através de Cantão”. Renascimento de Macau Em 17 de Abril de 1708 saiu de Macau, com destino a Manila, uma chalupa de Luís de Abreu conduzindo alguns padres dominicanos expulsos das missões da China pelo cardeal De Tournon. Ao passar na ilha dos Ladrões foi a embarcação assaltada pelos chineses, tendo acudido várias lorchas da cidade que aprisionaram os piratas. Na dinastia Qing, em 1718 o Imperador Kang Xi (1662-1722) proibiu severamente todos os seus vassalos de usar a navegação marítima, de sorte que por força daquele Decreto se arruinou inteiramente o comércio da Holanda naquele Império; porque, como lhes não era permitido entrar nos seus portos, mandavam todos os anos a Cantão muitas Somas; que eram embarcações de comércio conduzidas pelos chineses moradores em Batávia; e como estes eram vassalos do Imperador não podiam, sob pena de morte, entrar no seu Império, se reduziu a célebre e riquíssima Companhia da Holanda a não ter géneros da China, senão pelas embarcações portuguesas de Macau. Como consequência deste édito do Imperador, o número de navios registados ou equipados em Macau aumentou de nove para vinte e três em um só ano. Esta proibição de navegação, ou antes a sua limitação a Macau, só durou até 1723. Informações de José Ignácio de Andrade. O governo chinês pensou em estabelecer um monopólio do comércio marítimo do império com o estrangeiro em Macau, enviando para lá residirem os mercadores da Companhia Inglesa que moravam em Cantão. O Senado rejeitou a proposta, segundo parece por instâncias do Bispo e clero que não viram com bons olhos o estabelecimento de tantos hereges na Cidade do Santo Nome de Deus, decisão esta que foi mui asperamente censurada pelo Vice-rei da Índia, Conde da Ericeira. De desempregados a piratas “Com efeito, a província de Guangdong assistira na segunda metade do século XVIII a um enorme surto de desenvolvimento populacional que não foi acompanhado por igual expansão dos seus recursos económicos. (…) O aumento do número de deserdados e a sua concentração junto à costa, implicou o surgimento de um vasto núcleo de indivíduos potencialmente predispostos a dedicarem-se a qualquer tipo de actividades marginais, transformando-se, por isso, num grande centro de recrutamento de populações para as esquadras de piratas que cruzavam a região”, segundo Vítor Luís Gaspar Rodrigues, que continua, “Se a estes factores adicionarmos outros, de ordem geográfica (o grande número de ilhas que bordejavam a costa e a presença de numerosos estuários de rios que permitiam um fácil refúgio a piratas e ladrões) e económica (presença de um rico e vultoso comércio operado por navios chineses e europeus, muito facilitado pelas óptimas ligações fluviais; importância de Guangdong, que se havia tornado desde 1756 no único porto do império chinês aberto às trocas comerciais com os ocidentais), teremos uma ideia aproximada das razões que conduziram a uma rápida proliferação do número de piratas nas costas sul do mar da China, com particular incidência em torno de Guangdong e Macau.” Jorge de Abreu Arrimar refere, “É interessante ver como as relações da China com o Vietname, um país seu tributário, a leva a apoiar o imperador Lee quando este se vê confrontado com a revolta que, a partir de 1773, uma família de comerciantes da província de Binh Dinh inicia, e que ficou conhecida por revolta de Tay-son. Contra esta rebelião o imperador da China enviou ajuda militar ao imperador Lee, o qual, apesar de sérios revezes, acabaria por expulsar definitivamente do território os seguidores de Tay-son, em 1802. Ora, durante as três décadas de guerra entre os seguidores de Tay-son e os do imperador Lee, aqueles foram estabelecendo muitos laços de dependência com os piratas, que desde sempre existiam naquela região, integrando os diversos e dispersos bandos e organizando as suas forças como se fosse um exército.” E Vítor Luís Gaspar Rodrigues adita, “As acções dos piratas nas costas da província de Guangdong só passaram a revestir-se de alguma importância a partir da década de noventa (1791-1792), quando os Toy-Son (…) necessitando de debelar a grave crise económica e financeira que atravessavam, passaram a enviá-los em expedições mais ou menos regulares para o sul da China com o intuito de aí procederem à arrecadação de géneros e dinheiro ao mesmo tempo que recrutavam mais gente (…), estes raides, vitais para a sustentação dos exércitos Tay-Son, tinham lugar, em regra, por volta do quarto mês lunar, regressando ao Vietname, entre o nono e o décimo mês, depois de atingirem, nalguns casos, as províncias de Fujian e de Zhejiang onde, a exemplo do que sucedia por vezes em Guangdong, se coligavam com bandidos locais”. Aprontar embarcações Com grande afluência de bandidos da Cochinchina e da Formosa (como os portugueses chamavam a Taiwan), então em rebelião, sendo muitos provenientes da participação na revolta de Tay-son, os piratas ameaçavam a costa da província de Guangdong. Por isso, “Já em 1792, o mandarim de Heangshan desejou que Macau equipasse dois barcos para proteger os acessos marítimos a Cantão. A proposta foi feita em nome do bem-estar público; mas tais considerações passaram para último plano quando, em troca, Macau estipulou a restituição dos seus antigos privilégios, cuja usurpação os mandarins evidentemente preferiam ao bem-estar de uma grande população marítima sob a sua legítima jurisdição e ineficiente protecção. As negociações fracassaram face à exigência portuguesa…”, Montalto de Jesus. “Não obstante todas estas reservas colocadas por alguns elementos presentes (do Senado), assentaram, a 16 de Fevereiro de 1792, que se aprontassem as embarcações, para o que procederam à compra da chalupa inglesa <Gustavus> por 13 mil patacas. No entanto, poucos meses depois, e quando só faltava aprestar a tripulação <declarou o mandarim que não era preciso o socorro, ficando a despesa feita e a cidade sem privilégios>”, como refere Vítor Gaspar Rodrigues, e com ele continuando, “o Senado que, em conjunto, e contra o parecer do Governador, passou a defender a manutenção de uma política não intervencionista” e convencidos das vantagens que lhes adivinham de uma presença forte de piratas nas imediações, pelos problemas que causavam à navegação chinesa, viriam a opor-se ao Governador quando este, em Dezembro de 1792, insistiu para que se armassem duas embarcações por conta da Fazenda Real para fazer uma acção de guerra”. Perante a recusa do Senado, foi o Gustavus vendido em Dezembro. “Seis meses mais tarde, em 8 de Julho de 1793, porque as embarcações dos piratas ameaçassem já, de alguma forma, o comércio de Macau, esses mesmos cidadãos mostraram-se prontos a colaborar com os seus barcos para uma expedição proposta pelo Governador da cidade, composta por três navios destinados a andar de guarda-costa até meados de Setembro”, Vítor Luís Gaspar Rodrigues no livro Estudos de História do Relacionamento Luso-Chinês – Séculos XVI-XIX, com organização e coordenação de António Vasconcelos de Saldanha e Jorge Manuel dos Santos Alves, Colecção Memórias do Oriente, 1995, IPOR.
Anabela Canas de tudo e de nada h | Artes, Letras e IdeiasEm lugar de ser [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]arecer. Não. Nunca, em lugar de ser, parecer. Dizia , lugar. Em lugar de ser, lugar. Em lugar de ser lugar. Passe a repetição e a exaustão. Portanto, lugar. E ser lugar como privilégio de ser e porvir. Equação. Dilema ou possibilidade. Ou simplesmente o vago lugar, confortável, a visitar, a alugar, a habitar. A querer. Sei lá. Paradigma. Casa. Corpo. Pele ou pêlo a cobrir. Casa ou espelho. De envolver ou ver na passagem. Esta é a diferença. O pé que se tem nas coisas. Mesmo sólidas de estado. Só depois as metáforas. A deriva gasosa e impermanente da Psique. A fuga, as metástases da matemática e dos conceitos a formatar discos e a desfazer e refazer sinapses. O que está escrito nas estrelas, como destino inalterável, e com uma vaga impressão de transcendência. Um apelo da fé nas coisas ocultas, talvez como consolo para a eterna questão insatisfeita. O que fazemos aqui, de onde viemos e para que desconhecido nos movemos. Ou, pelo contrário, aquele que é o lugar da ciência. O rigor firme que afinal, em cada momento vem a verificar em si próprio a falibilidade e a repôr novas ordens para a concepção do mundo. Estranha deriva no lugar em que menos se poderia esperar encontrá-la. No fundo queremos sempre saber o futuro. Oscilamos entre o temor e a tentação. Pensando em alguns edifícios conceptuais quase inalcançáveis, ao ponto de se situarem num universo ficcional, intelectual e estranho, em que, para realidades complexas se criam instrumentos intelectuais específicos, instrumentos de medida e localização de ordem tão abstrata para os sentidos, quase sinto a tentação de acreditar no divino. De tão inimaginável, a crença, a fé, quase me parece mais fácil do que abarcar toda a complexidade em que nos perdemos face a uma dimensão física do mundo. A Cosmologia em mutação ao longo da História do humano. A mente a divergir e a complexificar mecanismos de entendimento de si própria. A tentar explicar por palavras e fórmulas dessa imensa construção que é o universo matemático, aquilo que a mente não consegue visualizar ou imaginar facilmente. O antes. O depois. Do nada. E no meio, um universo a expandir-se afinal aceleradamente. Uma certeza científica com cinco anos. Nada, na ordem de grandeza do espaço-tempo do universo. E até ver. Ao contrário de uma certa esperança científica ou meramente existencial, de que este abrandasse. Sossegasse o futuro incerto numa certa forma de estabilidade. Seria o eterno presente do universo. Talvez. Na realidade não sei de todo de que estou a falar. Talvez da deriva cósmica, a tentar encontrar uma equivalência à deriva existencial em que explodimos do nada para uma infância de também eterno presente, por uns tempos, e daí para um futuro em que a idade e a percepção do tempo, parecem ir-se definindo e sentindo em aceleração constante. O humano em deriva constante, é o que sinto. Uma procura imparável de localização numa métrica de coordenadas ao alcance do próprio humano. Na sua dimensão mista. Pequena, ao alcance da medida dos objectos, ou enorme, vaga e não mensurável, em procura pelo vazio dos espaços cósmico da alma, do espírito ou do intelecto. Sim, às vezes não sei bem de que estou a falar senão de uma sensação enorme de desconforto que me ultrapassa. Ou desta ideia de que um dia destes, começo a acreditar numa origem divina para explicar o universo e tudo nele. Porque é mais fácil. E uma ideia plena de esperança. Sem problemas de tempo ou espaço. Isto, digo eu por preguiça. De continuar a tentar uma ideia confortável para os dias. A sucessão dos dias. Comecei a dizer. E depois, nada. E nada. E bem lá no fundo, onde tudo está sepultado – depositado, digo – digo. É ali e dali que tudo vem e vai como refluxo. Mas volta. Vira-se, adormece. Ao de cima, por vezes. Porque lá no fundo, tudo acordado na espertina eterna. Um dia, hei-de ir de mim para fora por exaustão. Um dia qualquer. Esperando encontrar outro em que viver em paz. Não em mim. Isto digo eu. Confinada a mim. E só por dizer. Diz a ciência, então, que a expansão crescente do universo continua a agigantar o que já era imenso. Que uma força desconhecida e imensa o estica imparável e continuará a esticar até ao fim. Embutida no tecido do espaço, energia escura, afinal predominante. Imensa de tamanho e poder. O maior dos enigmas. Quase uma expressão poética e assustadora no que afinal é só uma descrição de ordem física. A cor do medo. E pensar que parti do erro de paralaxe. Movemo-nos e pensamos que é o universo que se move independente de nós. Porque parece. Porque é a ilusão do olhar. Ou a paralaxe cognitiva, o eixo da construção teórica a deslocar-se do eixo de experiencia humana real. Como em Kant, a incognoscibilidade da “coisa em si”, do ponto de vista material, e a sua pura existência como fenómeno. Como aparência. Ou que nunca estamos no mesmo lugar, nesta deriva consonante com o universo. E com os sentidos. Em que o que se move, é numa realidade qualquer fervilhante de organismo monstruoso. Podemos não estar de facto nunca no mesmo lugar. Mas há pontes constantes entre tudo e tudo. Rígidas ou flexíveis e ajustáveis. Rupturas, também. Estrelas cadentes como se o fossem, quando, afina, ínfimas poeiras. Movemo-nos. Olhamos o mundo. Parece que se moveu. Uma megalomania planetária de que tudo o mais fossem satélites. Movemo-nos e reclamamos do mundo. Ou sonho de árvore. Que para cair, precisa de uma doença grave que lhe corroa as raízes entranhadas no lugar, ou dentes afiados do homem, por detrás dos braços, por detrás de uma serra. Ou que a terra se revolva em convulsão de reajuste. Interino. Ou na fúria cega dos elementos sazonais. De resto, fica. Sossegada e acolhedora na sua sombra. Precisar de um lugar. Por isso a casa. Pele da pele. E precisar de me sentar a uma mesa de madeira sólida, pousar as mãos na memória refeita de uma árvore desconhecida, estender uma toalha branca escrita a bordados suaves por outras mãos, e beber uma chávena de chá. Quente. A pensar no futuro de gelo que a ciência adivinha para o universo. Um depois impreciso mas certo. Mas não agora.
Fa Seong A Canhota VozesA arte de rua é mal vinda [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]romover as indústrias culturais, criativas e artísticas tem sido recentemente uma meta do Governo de Macau, ou, talvez mais, um “slogan”. Neste sentido, são muitos os festivais, espectáculos e outro tipo de eventos, que acontecem para aumentar o valor artístico da cidade. No entanto e também verdade, é que nem todos os tipos de arte são bem vistos pelas autoridades, sobretudo quando se fala de arte de rua. Vários são os casos em que turistas ou artistas estrangeiros acabaram detidos por estarem a mostrar as suas competências artísticas nas ruas da cidade. Uns dançam, outros cantam, tocam ou pintam, mas, aos olhos das autoridades estão a violar a lei da “obrigatoriedade de notificação ou licença”. É esta execução da lei que tem estado no centro de algumas polémicas, tanto na comunicação social como no mundo virtual. Ao que parece, na base do descontentamento está a incompreensão das detenções e da razoabilidade destas acções. Actualmente, todas as actividades realizadas em espaços públicos devem ser requeridas ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM). Só em Abril deste ano é que apareceu a notícia do aparecimento de uma proposta de lei que regulamente os espectáculos de rua. Alexis Tam, por exemplo, considera que Macau pode aprender com os países estrangeiros onde este tipo de espectáculos são comuns. Penso que apesar de Macau ser muito pequeno, atrai turistas estrangeiros que escolhem este território. Ao tocar nas nossas ruas trazem alguma felicidade para a população local enquanto satisfazem o seu espírito artístico. Macau deve aproveitar este encanto o que está para além do brilho do jogo. Contudo, na proposta de lei proposta pelo Governo, os interessados em fazer espectáculos de rua têm que entregar um requerimento a pedir autorização que será avaliado pelas entidades competentes. Paralelamente será também criada uma comissão de apreciação para avaliar o local, a forma e o conteúdo tanto da proposta, da sua “adequação” ao público e da segurança dos equipamentos associados. Não entendo, não concordo e não penso que seja lógico que a arte de rua seja restringida. Como é que é possível um artista viajar para Macau e fazer um pedido ao Governo para cantar uma canção? Como é que um turista que quer mostrar e partilhar os seus dotes na sua passagem pelo território tem possibilidades de fazer de fazer este tipo de pedidos? A regulamentação é sempre boa na perspectiva do Executivo mas, na realidade, não beneficia o desenvolvimento das artes de rua, nem ajuda a quebrar o impasse que os artistas encontram. Talvez a segurança pública tenha que manter as ruas sem qualquer actividade não autorizada, mas não considero que Macau mereça o nome de Centro Mundial de Turismo e Lazer quando não consegue acolher espectáculos ou performances simples, muitas vezes sem fins lucrativos, e que não representam qualquer risco para a população.