Angela Ka PolíticaWong Kit Cheng diz que revisão do Código Penal traz melhoras mas diploma ainda tem falhas [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] proposta de lei de Alteração do Código Penal traz novidades e é mais completa mas ainda apresenta falhas. O reparo é feito pela deputada Wong Kit Cheng que considera que devem ser incluídos os crimes de assédio sexual verbal Wong Kit Cheng lamenta que a proposta de lei de Alteração do Código Penal não abranja o assédio sexual feito verbalmente. A deputada e vice-secretária da Associação Geral das Mulheres, em declarações ao Jornal do Cidadão, considerou que o crime de ultraje não impede o assédio através de palavras. “O Governo considera que o crime de ultraje pode servir como recurso aos actos de assédio sexual, mas é sempre crime privado, não conseguindo servir a função de supressão,” referiu, lamentando que não haja alterações neste ponto. Questionada pelos jornalistas se a opção tomada pelo Governo foi a solução que implica uma mais fácil recolha de provas, Wong Kit Cheng respondeu que quando o assédio sexual verbal é realizado de forma repetitiva, não será difícil a recolha de evidência criminal. Para a criminalização dos actos de importunação sexual, a deputada considerou que a proposta do diploma consegue preencher as lacunas anteriores. “A Lei não apresentava definições claras acerca deste tipo de ofensas e acabava por ser muito difícil a obtenção de provas de modo a criar um processo. Agora, com uma melhor definição da natureza do crime é mais fácil a recolha dessas provas”. Wong Kit Cheng dá como exemplo casos que recebe na Associação da qual é vice-secretária em que “são recebidos inúmeros pedidos de ajuda de pessoas vítimas de importunação e assédio de cariz sexual mas, como a lei não contava com uma definição clara do acto, a maior parte das queixosas acabavam por desistir porque sentiam que seria impossível terem qualquer apoio”, explicou. Novidades legais Foi conhecida na passada sexta-feira a proposta de lei de “Alteração ao Código Penal”. O documento conta com a introdução de três novos crimes: importunação sexual, crime de recurso à prostituição de menores e crime de pornografia de menores. A proposta prevê também as revisões relativas aos regimes de agravação que, além de abrangerem os três novos crimes, incluem circunstâncias agravantes quando as vítimas têm até 16 anos, ao contrário dos 14 anos previstos actualmente, ou são “pessoas incapazes ou diminuídas”. No que respeita ao crime de violação, o documento passa a incluir a prática de sexo oral e a não diferenciar o género do agente que pratica o acto.
Andreia Sofia Silva PolíticaViva Macau | Lionel Leong sem justificações quanto ao reembolso de empréstimo [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado Leong Veng Chai levantou a questão da falida companhia área Viva Macau e do empréstimo de 200 milhões de patacas que terá de ser reavido pelo Governo. “No caso da Viva Macau, as respostas são sempre iguais. Qual é o conteúdo do documento de garantia, para confirmar se esse crédito pode ser reembolsado? O Governo tem de recuperar esse crédito, já passaram oito anos”, referiu o deputado. Contudo, o Secretário Lionel Leong não deu uma resposta, tendo referido que o Governo “precisa de fazer contas”. O caso está em tribunal e, no ano passado, também por ocasião da apresentação das Linhas de Acção Governativa, o Governo disse ter de esperar por uma decisão judicial. A Viva Macau deixou de operar em 2010. À data, o director dos Serviços de Economia, Sou Tim Peng, disse ser necessário avaliar “quais os bens do fiador” para “poder continuar a recuperar o dinheiro emprestado”. Este ano, no âmbito da divulgação dos Panama Papers, ficou a saber-se que Ngan In Leng, fundador da Viva Macau, usou a sua dupla nacionalidade para criar duas empresas offshore, sendo que a China não aceita o uso de dupla nacionalidade. A Viva Macau começou a operar há dez anos e o objectivo era a operação de uma companhia aérea de baixo custo, com uma subconcessão da Air Macau.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaDeputado Leonel Alves quer regime de trusts até 2019 [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado Leonel Alves defendeu no hemiciclo que Lionel Leong deve aprovar até ao fim do seu mandato o regime fiscal dos trusts [um meio de investimento], considerando ser algo fundamental para que o território seja um centro financeiro internacional. “Faço aqui um apelo para que questões tão importantes como a protecção dos direitos dos consumidores e o regime fiscal dos trusts [sejam resolvidas]. Não podemos passar a bola para a colega da Administração e Justiça [Sónia Chan] e ficar à espera desse agendamento. O seu mandato continua depois de 2019, mas o que interessa é que essas leis não estão no calendário do relatório das Linhas de Acção Governativa.” “Quando diz que este é um assunto em discussão com a outra tutela, em que fase está, na verdade? O processo de revisão da lei de consumidores já está numa fase avançada e não se percebe porque não está nesta lista. Quanto ao processo dos trusts, não sei em que fase está. Espero que seja uma questão resolvida durante o seu mandato”, acrescentou o deputado. Descubra as diferenças Leonel Alves comparou mesmo a ausência do regime de trusts às diferenças registadas nas classificações dos tufões. “Temos um regime de trusts em Hong Kong, temos outro na China. Tudo isto faz lembrar o tufão oito em Hong Kong e Zhuhai, mas em Macau temos o tufão sinal três. É uma anormalidade. Se queremos que Macau seja um centro financeiro com outra pujança, internacional, necessariamente o regime de negócios fiduciários tem de estar implantado. Temos de ter um regime que registe, que diga quais os requisitos para obter a licença para operar uma empresa de trusts, qual a entidade que supervisiona e qual o direito que vai regular as relações entre o prestador e o beneficiário do trust.” Por forma a responder a questões levantadas pelo direito de Macau, Leonel Alves apontou uma solução. “Pode haver um problema estrutural, pois o regime jurídico de Macau não prevê a figura do trust. Os negócios fiduciários não são tratados como são em Hong Kong. Podemos seguir o exemplo do Luxemburgo, um centro financeiro importante e internacional, e que tem o direito de matriz continental europeia. O caminho está traçado, é seguir o que os outros fazem, com um modelo jurídico parecido com o nosso.” Lionel Leong prometeu apenas continuar a dialogar com Sónia Chan. “Temos de reforçar os contactos com a outra tutela. Quanto à lei de protecção de consumidores, está nas mãos dos Serviços para os Assuntos de Justiça. Os responsáveis reúnem quase todos os meses para avançarem os trabalhos relacionados com essa lei”, rematou o Secretário.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaLAG 2017 | Antigo edifício do GCS deverá ser um centro de exposições O Secretário para a Economia e Finanças confirmou que o edifício que albergou o Gabinete de Comunicação Social deverá servir de centro de exposições para produtos Made in Macau ou para lojas com carácter não permanente. Só faltou o calendário [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo tomou finalmente uma decisão para a utilização das antigas instalações do Gabinete de Comunicação Social (GCS), um edifício de cor amarela actualmente vazio, localizado no Leal Senado. Lionel Leong, Secretário para a Economia e Finanças, confirmou na Assembleia Legislativa (AL) que há duas soluções pensadas para o edifício. “O edifício era usado para formação de trabalhadores por parte dos Serviços de Administração e Função Pública e temos pensado que poderia ser atribuído ao Instituto de Promoção do Comércio e Investimento, ou outras entidades, mas verificámos que existem várias deficiências. O rés-do-chão funcionava como garagem mas trata-se de uma zona pedonal, onde não é permitida a entrada de viaturas. Estamos a pensar reabilitar as instalações para que sirvam como uma pop-up store [lojas com carácter não permanente] ou um centro de produtos de Macau para exposição e venda.” Para o Secretário, esta medida vai permitir que “as pessoas conheçam os produtos Made in Macau”. “Queremos promover ainda mais a área das indústrias culturais e criativas”, acrescentou Lionel Leong, sem avançar um calendário para o arranque do novo projecto. Promessas adiadas Com 24 metros de altura, o edifício foi construído na década de 80 e estará a ser gerido pela Fundação Macau. Em 2008, Ho Kuai Leng, membro do conselho de administração desta entidade, confirmou que ali iria nascer um espaço cultural com apenas quatro andares, projecto que iria levar à demolição do edifício. Quase dez anos depois, ainda nada foi feito. À data, Ho Kuai Leng prometeu que o projecto ficaria concluído em 2010, sendo que iria albergar também espaços para exposições e uma sala de leitura. Num trabalho recente publicado pelo HM, James Chu, criativo local, propôs que o edifício fosse transformado numa segunda C-Shop, uma vez que apenas existe um espaço do género junto à praça Jorge Álvares. “Claro que o Governo deveria abrir mais espaços como este. Há muitas boas localizações que estão a ser ocupadas pelo Governo e há espaços que estão vazios”, sugeriu. A questão da desocupação do edifício foi levantada pelo deputado Ng Kuok Cheong no segundo dia de debate sobre as Linhas de Acção Governativa (LAG) para a área da Economia e Finanças. “Sobre o edifício desocupado onde estava o GCS, foi feita uma avaliação do valor das rendas que estão na zona? Se calhar uma loja que está ao lado do edifício pode ter hoje outro valor. Qual é o ponto da situação da ocupação do edifício do GCS?”, questionou o membro da AL.
Andreia Sofia Silva SociedadeEPM | Lista A não quer ser “instrumento de pressão sobre a escola” A Lista A, candidata à Associação de Pais da Escola Portuguesa de Macau, assume que não pretende ser um “instrumento de pressão sobre a escola”. Num comunicado intitulado “fazer mais e melhor pelos nossos educandos”, a lista liderada por Valéria Koob assume ser de “continuidade” e querer contribuir com “propostas razoáveis” [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ela primeira vez desde há vários anos que as eleições para a Associação de Pais da Escola Portuguesa de Macau (APEP) contam com duas listas concorrentes. O acto eleitoral decorre amanhã, terça-feira, e após o debate realizado pela lista B, chegou a vez da lista A dizer de sua justiça. Num comunicado, o grupo liderado por Valéria Koob afirma representar uma “candidatura de continuidade, assente na experiência associativa dos elementos que o compõem”. Trata-se de um “grupo de pais voluntários e empenhados, ciente dos bons resultados já alcançados, mas procurando sempre exponenciá-los, uma vez que há sempre espaço para melhorias”. A lista assume ainda não pretender pressionar a direcção da EPM, actualmente composta por Manuel Machado e Zélia Mieiro. “Sabemos que há sempre espaço para evoluir, mas também temos a noção da realidade e das limitações de acção de todos os interessados, bem como do papel de uma associação de pais. A lista A pretende que a APEP continue a ser uma voz colectiva e não um mero instrumento de pressão sobre a escola ou os docentes para realização de objectivos individuais. A aposta é no diálogo e não na crítica. Na participação e não no confronto. Na união de esforços e não na divisão dos pais.” A ausência de uma cantina com condições, o ensino da língua chinesa e o ensino especial são três apostas nas quais a lista A deseja ver melhorias. “Esta candidatura não se propõe atingir objectivos fantasiosos, pretendendo, no espaço limitado do seu mandato, contribuir com propostas razoáveis para melhorar o projecto educativo da EPM, nomeadamente, as questões relacionadas com a renovação e maximização das instalações da escola, com comunicação entre a comunidade educativa, o ensino da língua chinesa, o acompanhamento dos alunos com necessidades especiais e o serviço de refeições.” A lista A pretende ainda realizar um inquérito para a auscultação de opiniões. “Tais objectivos serão, caso esta candidatura seja eleita, precedidos de uma auscultação rigorosa da comunidade educativa, sendo os resultados deste inquérito a realizar o principal norte da nossa acção.” Excelência com certeza Manuel Gouveia, candidato pela lista B, questionou nos últimos dias, em várias entrevistas e no debate público que foi realizado na Livraria Portuguesa, o lugar de excelência que é atribuído à EPM, tendo referido que é necessária uma auditoria externa às contas da escola. A lista A prefere frisar que “é hoje comummente aceite que a EPM é uma escola de referência em Macau e a nível internacional, como o comprovam os resultados nos exames nacionais, o número de alunos inscritos e o aumento do número de alunos cuja língua materna não é a língua portuguesa”. A lista liderada por Valéria Koob acrescenta ainda que tem existido no seio da instituição educativa “um clima de paz social, de diálogo e de colaboração entre todos os elementos da comunidade educativa nela se incluindo pais, alunos, professores, direcção e Fundação da Escola Portuguesa”. “A candidatura da lista A para a APEP pretende ser o rosto das preocupações de todos os encarregados de educação, membros e não membros da APEP, levando as suas inquietações a quem de direito, pugnando com realismo e bom senso, pela optimização dos serviços prestados pela EPM”, conclui o comunicado. Trabalho gratuito na FEPM A Fundação Escola Portuguesa de Macau (FEPM) não tem encargos financeiros com os membros dirigentes e funcionários. A informação é dada por Roberto Carneiro, presidente do conselho de administração da FEPM em comunicado enviado à comunicação social pela direcção da Escola Portuguesa (EPM). “O exercício de funções dos membros do conselho de administração é gratuito (…) e não tem qualquer funcionário remunerado ao seu serviço, pelo que o encargo orçamental, até ao momento, é nulo”, lê-se. A direcção da instituição de ensino, salienta ainda no mesmo documento, que a EPM faz questão de manter uma comunicação constante com os encarregados de educação dos seus alunos de modo e esclarecer e resolver qualquer situação “que considerem sensível ou problemática”.
Hoje Macau SociedadeTribunal declara caducidade de terreno da STDM [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Tribunal de Segunda Instância (TSI) declarou sexta-feira oficiosamente a caducidade do contrato de concessão do terreno localizado em Macau entre a Estrada de Santa Sancha e Calçada das Chácaras da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM). A decisão surge após o recurso contencioso por parte da STDM alegando que o despacho que decretara a caducidade da parcela, padecia de “vícios”, nomeadamente “erros sobre os pressupostos de facto e de direito e a violação do principio da igualdade”. O terreno em causa foi concedido a 15 de Março de 1988, e o prazo de aproveitamento inicialmente estabelecido no contrato terminou em 14 de Março de 1989. Mais tarde veio a ser prorrogado até 14 de Novembro de 1992. Posteriormente, a Divisão de Fiscalização do então Departamento de Edificações Urbanas constatou que uma parte do terreno concedido correspondia ao passeio público, não edificável, pelo que se procedeu a uma série de formalidades para apurar a área edificável, sendo que a entidade concessionária teve de interromper os trabalhos que haviam sido iniciados. Desde aí, a STDM entregou vários projectos de arquitectura que nunca vieram a ser autorizados, não tendo as autoridades fixado um novo prazo de aproveitamento do terreno. Como tal, o tribunal colectivo indicou que, devido a um erro da entidade pública relativo à área edificável, a recorrente não podia, sem culpa sua, iniciar os seus trabalhos nem concluir o aproveitamento do terreno no prazo contratualmente estabelecido que findava em 1992. Volte face Após uma primeira análise o TSI reconheceu que poderiam ter existido erros sobre os pressupostos de facto e de violação de leis, havendo, no entanto, “uma causa prejudicial que torna inútil os efeitos da decisão favorável do recurso contencioso”. Para o TSI o facto de a 14 de Março de 2013 o prazo máximo dos 25 anos de concessão ter sido excedido, faz com que o processo de caducidade seja efectivo. É a chamada caducidade preclusão, ou seja, “uma caducidade legal que é excluída da disponibilidade das partes.” O terreno em causa tinha cerca de mil metros quadrados e seria aproveitado para a construção de uma moradia unifamiliar, com três pisos.
Isabel Castro EventosFestival | This is My City 2016 arranca na sexta-feira com Balla e Rui Reininho Música, ideias, imagens. O This is My City chegou bem de saúde à edição número 10, mas quem o organiza pensa em mudanças para o futuro. Até lá, vive-se Macau [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]asceu de forma espontânea, entre duas lojas, no coração da cidade chinesa, para além da muralha. Manuel Correia da Silva e Clara Brito, ambos designers, tinham um espaço no Beco da Melancia; o fotógrafo António Falcão era o proprietário da livraria Bloom, no Largo do Pagode do Bazar. A Macau dos festivais era sobretudo institucional, com os cartazes do costume. Fazia falta outro tipo de cultura – a dos livros, a de uma certa música, a das ideias, a dos conceitos. A vontade de um punhado de gente resultou num acontecimento que, logo nos primeiros anos, contou com a adesão de muito público. O interesse de quem se juntava aos finais de tarde e noites no bazar levou a uma maior organização: o This is My City (TIMC) foi crescendo, chamando gente de fora, e assim passaram dez anos, ocupando diferentes espaços, sempre na cidade. A edição que assinala a década prolonga-se ao longo de duas semanas e arranca com música, que chega de Portugal. É talvez o ponto mais forte do programa, aquele que mais público será capaz de captar: a organização traz à cidade o projecto Balla, “num formato inédito”, com um convidado especial: Rui Reininho, a voz dos GNR. “Tem algumas figuras que fazem também parte desta cidade”, destaca Manuel Correia da Silva, responsável pelo evento. A abrir o concerto da próxima sexta-feira, dia 2 de Dezembro, vai estar o trio de Macau “Turtle Giant”, constituído por Beto, Frederico Ritchie e António Conceição. O palco escolhido para o início desta edição é um regresso ao início de tudo: o TIMC volta ao Largo do Pagode do Bazar. “O This is My City tem sempre tentado ocupar o espaço da cidade: o que acontece não é dentro de paredes. Mesmo aqueles que não pensam em participar passam por nós, e podem usufruir e experienciar daquilo que oferecemos”, aponta Correia da Silva. O concerto no bazar começa às 18h30. Ainda na sexta-feira, mas já no Kampek, outro tipo de música: DJ Balla e Rui Reininho, promete a organização, vão proporcionar aos que se juntarem à festa “uma noite para não esquecer”. O japonês DJ Shintaro também vai actuar. Imagens e ideias A 6 de Dezembro, o TIMC aproveita a passagem por Macau do projecto “No Trilho dos Naturalistas”, um documentário constituído por quatro episódios coordenador por António Gouveia. Na Casa Garden vai ser mostrada uma parte deste projecto: “Angola 58’” é realizado por André Godinho. O projecto conta com a participação de Alexandra Cook, uma professora de Filosofia da Universidade de Hong Kong com um forte interesse em estudos ambientais. Três dias depois, a 9 de Dezembro, o regresso do PechaKucha: um formato de intervenção pública que junta a projecção de imagens às ideias deixadas por vários oradores, num tempo fixo que permite um maior dinamismo. O TIMC trouxe este tipo de palestras a Macau pela primeira vez em 2010. O Albergue SCM recebe de novo a edição de 2016, a partir das 18 horas. À mesma hora, no mesmo espaço, são projectadas várias curtas-metragens do realizador Maxim Bessmertny. À semelhança do que já tinha acontecido no ano passado, também em 2016 o This is My City organiza um Instameet. O tema é a cidade – o evento do TIMC vai ter uma página própria. O encontro acontece no dia 10, entre as 12h e as 18h, no Macau Design Center. Pensar ao lado De regresso à Casa Garden, no dia 13 de Dezembro, para uma exposição e uma palestra sobre um projecto de pesquisa acerca de uma cidade que nos é próxima: Shenzhen. “Unidentified Acts of Design”, de Luisa Mengoni e Ole Bouman, explora a ideia do design que surge fora das quatro paredes de um estúdio. Os autores vão estar presentes para uma discussão sobre “actos de design fora do formato”. Manuel Correia da Silva desdobra o conceito: nesta sessão, vai debater-se “aquilo que se tem passado em Shenzhen com o impacto da tecnologia”. “O tecido industrial de Shenzhen absorveu muito do topo da tecnologia. Há franjas que se estão a construir em torno dessa tecnologia, com criativos de todo o mundo que vão para lá para criarem os seus produtos e as suas start-ups, com todo o impacto que tem tido naquela cidade”, refere. Esta palestra vai ao encontro de um dos objectivos do TIMC – pensar Macau no contexto dos vizinhos. “Acho que é importante. Macau tem de ser uma cidade mais para fora. Temos de começar no Delta e achamos que Shenzhen deverá ser o primeiro passo, a conhecer e a ligar, para que possamos estar mais actualizados, regionalizados e internacionalizados”, defende Correia da Silva. O fim de um ciclo Dez anos depois dos encontros espontâneos no bazar, Manuel Correia da Silva faz um balanço “muito positivo” do evento. “São dez anos na cidade pós-99, que tem 17. Fazemos parte desta nova cidade. Não somos muito mais novos do que ela”, nota. “Fomos capazes de fazer algo que, de espontâneo, se tornou parte de um espaço que fomos capazes de ocupar, com um festival que tem um formato diferente, que se propôs apresentar um conteúdo diferente”, continua o designer e responsável por um evento que nunca quis ser mainstream. “Não queríamos esse papel, já está ocupado e não é o nosso. Mas em Macau, não se sendo mainstream, às vezes é muito difícil sobreviver. Fomos capazes de o fazer, estamos cá, fazemos um óptimo saldo, mas sentimos que se fecha um ciclo”, continua o presidente da +853, a associação que organiza o festival. Numa década, assinala Correia da Silva, “a cidade mudou muito e, por isso, não faz sentido manter o festival como ele é hoje em dia”. O público não sentirá a necessidade de reflexão que os organizadores entendem ser necessária. “Não sabendo exactamente o que vai acontecer no futuro, há algo que é certo: as coisas não vão continuar a ser como foram, achamos que temos de revitalizar-nos, adaptar-nos e, por isso, estamos a trabalhar com essa ideia, pelo que queremos que esta edição sirva para marcar esse ponto”.
Hoje Macau China / ÁsiaDagong diz que Portugal deve reforçar competitividade interna [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] presidente da Dagong, a maior agência chinesa de ‘rating’, considera que as regras orçamentais europeias a que Portugal está obrigado “são necessárias”, mas defende que “o próximo passo” deve ser “desenvolver os factores internos de competitividade”. “De facto, Portugal esteve numa situação difícil quanto à dívida pública e acho que as regras orçamentais da Europa são necessárias nestas situações. Mas acho que o próximo passo para Portugal é pensar em como aumentar a competitividade interna”, afirmou o líder da Dagong Global Credit Rating Group, Guan Jianzhong, em entrevista à Lusa. Para Guan Jianzhong, a questão chave para Portugal é o país perceber “como reforçar os factores internos da economia, especialmente nas formas de criar crescimento, de desenvolver a competitividade central de Portugal como economia”. “Acho que isto vai ser um grande teste para os líderes em Portugal. O ambiente interno em Portugal é robusto, mas é mesmo na questão da competitividade que têm de apostar”, considerou, acrescentando que as medidas que têm sido adoptadas pelo Governo socialista de António Costa lhe dão “esperança quanto à recuperação da economia”. Questionado sobre se Portugal não deveria potenciar a competitividade externa e as exportações, o presidente da Dagong reiterou que “a questão central é qual é a competitividade de Portugal internamente”. Sublinhando que “a abertura do mercado é um pré-requisito” para o crescimento, mas que “não vai resolver os problemas, Jianzhong defendeu que deve “promover a inovação na economia como sendo um novo elemento interno” de crescimento. Nota ainda baixa Actualmente, a Dagong classifica Portugal com ‘BB’, uma nota considerada lixo, mas a um nível da escala de investimento, sendo esta avaliação feita apenas com base na informação que é pública, uma vez que se trata de um ‘rating’ (nota) não solicitado. O presidente da Dagong disse que “há sinais de melhoria” a nível macroeconómico em Portugal e que “estes sinais positivos têm de ser tidos em conta no ‘rating’ de Portugal no longo prazo”, mas alertou para a necessidade de “olhar também para o desempenho orçamental”. “É preciso olhar para a receita do Governo e também para o pagamento da dívida pública. Isso também vai ser tido em conta na nossa avaliação”, afirmou Guan Jianzhong, acrescentando que as políticas “que o Governo tem estado a pensar (…) são sinais positivos para a economia” e que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) “comprova isso mesmo”. Já quanto ao sistema financeiro, o presidente da Dagong entende que este “é um instrumento para o crescimento”, admitindo que é “uma das maiores preocupações” para a agência de ‘rating’ que dirige. Sublinhando que o executivo tem “planos importantes para a economia”, Guan Jianzhong alerta que, “sem um sistema financeiro robusto, a implementação destas medidas vai ser difícil”. Os bons projectos Segundo o presidente da Dagong, as empresas chinesas estão disponíveis para investir e não estão à procura de sectores específicos, até porque a China tem “uma diversidade grande de investidores”. “A questão é os projectos disponíveis em Portugal. Vocês têm de ter bons projectos, investimentos onde se possa investir e também é preciso resolver o problema da assimetria da informação”, recomendou Jianzhong, acrescentando que é necessário garantir que os investidores têm acesso a “informação credível”. Sublinhando que esta situação “não é só em Portugal, é em toda a Europa”, e apontando que o problema é que “a informação não está sempre disponível e que, por vezes, a informação que os investidores querem ver não tem uma fonte credível”, o líder da agência de ‘rating’ chinesa diz que “a Dagong pode ter um papel e ser uma ponte entre a China e Portugal no financiamento destes projectos”.
Hoje Macau China / ÁsiaHuafeng prevê investir mil milhões de dólares em Angola O investimento do grupo chinês, a ser aplicado nos próximos cinco anos, deverá abranger áreas tão diversas como a agricultura ou as indústrias transformadoras [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] grupo chinês Huafeng prevê investir mil milhões de dólares em Angola, em sectores que vão desde a agricultura à pecuária, pescas e indústria transformadora, conforme acordo de investimento assinado com o Governo angolano. O investimento, segundo informação divulgada sexta-feira em Luanda, será implementando num prazo de até cinco anos, nas províncias de Luanda, Moxico, Malanje, Lunda Norte, Huambo, Cuando Cubango, Benguela e Lunda Sul. O acordo para o investimento do grupo chinês, celebrado quinta-feira, em Luanda, com a Unidade Técnica para o Investimento Privado (UTIP), em representação do Estado angolano, prevê a criação de 1.500 postos de trabalho directos, em várias áreas. Já com sede em Luanda e interesses na construção civil, reparação automóvel, exploração florestal e outras indústrias em Angola, aquele grupo privado chinês é presidido por Zhan Qiaoyang e empregava em 2013 quase um milhar de pessoas. De acordo com a imprensa local, um dos primeiros projectos deste contrato será a construção de um centro de formação especializada no ramo de produção de sementes agrícolas, em Luanda, bem como a criação de gados bovino e suíno, aves, peixes. Está também prevista a construção de uma fábrica de fertilizantes e outra de medicamentos, de acordo com a mesma informação. Desejos de ministro O ministro da Economia de Angola reiterou a 8 de Novembro, em Luanda, o desejo angolano de contar com o capital e recursos intelectuais, de gestão e tecnológicos da China, para promover o desenvolvimento nacional. Abraão Gourgel discursava no encerramento do Fórum de Investimento Angola-China, promovido pela UTIP e que durante dois dias reuniu na capital angolana mais de 450 empresários chineses, tendo resultado na assinatura de acordos de intenção e tramitação de projectos de investimentos privados, avaliados em mais de 1,2 mil milhões de dólares. O ministro afirmou que as infra-estruturas continuam a ser as prioridades do Governo de Angola, que conta com uma maior participação do sector privado, inclusive o estrangeiro, sob certas condições e com as garantias adequadas. Segundo Abraão Gourgel, os sectores do agro-negócio, da indústria, da geologia e minas, comércio externo e turismo dispõem também de oportunidades de investimento com taxas de retorno diferenciadas e grande potencial de crescimento. “O Estado angolano continuará, para esse efeito, a assegurar as necessárias garantias jurídicas aos investidores privados, bem como a implementar os quadros regulatórios adequados à protecção dos interesses nacionais”, referiu o governante. Para Abraão Gourgel, o fórum permitiu dar início a um novo momento das relações económicas e empresariais bilaterais entre Angola e a China, o “momento do investimento directo privado chinês em Angola”.
Manuel Afonso Costa Fichas de Leitura h | Artes, Letras e IdeiasEspírito do Mundo [vc_row][vc_column width=”1/2″][vc_column_text][dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] mundo transporta no seu seio uma dualidade (dicotomia) que nada nem ninguém pode superar (que é insuperável). NATUREZA E ESPÍRITO representam os dois pólos de uma realidade que é non facientia unum. O ser da natureza consiste cada vez mais em ser objecto de representação, de conhecimento científico, de exploração técnica. O ser do homem consiste em se colocar como sujeito face ao mundo concebido como um objecto essencialmente estranho ao homem, mudo no que diz respeito ao seu destino. [/vc_column_text][/vc_column][vc_column width=”1/2″][vc_single_image image=”13988″ img_size=”257×400″ add_caption=”yes” alignment=”center” style=”vc_box_shadow_border” css=”.vc_custom_1480424001469{margin-right: 4px !important;margin-left: 4px !important;}”][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]A posição do homem era muito clara quer face ao cosmos antigo quer face ao universo teofânico da Idade Média. Mas com a ruína do universo medieval, tudo se desmoronou: — O lugar do homem que se tornou problemático e — O universo que se esvaziou progressivamente da sua substância. Agora a situação do homem é a de um ser afastado de tudo, profundamente isolado no seio de um mundo infinitamente aberto que exclui qualquer sentimento de simpatia entre o eu pensante (sujeito) e as coisas. É nisto que consiste em larga medida o desencantamento do mundo. É o fim de uma relação amorosa. “It’s all in pieces, all coherence gone” cf. John Donne. E é também esse o sentido da obra de Pascal, … ambos autores do BARROCO exprimem a dolorosa perda da totalidade. O sentimento de perda da sensação de totalidade. Daí o sentimento concomitante de estranheza. A perda da totalidade destrói a intimidade. O Universo serve agora para calcular e medir. É uma exterioridade! Já era! Mas agora inapropriável globalmente. O facto de se reduzir a cacos inviabilizando uma reconstrução possível provoca um vazio que nada pode preencher, e uma tristeza incurável. Em tempos o Mundo fora considerado como um testemunho de Deus. Como o signo por excelência da existência de uma Inteligência ordenadora e fonte de todo o Valor. Ora o que anacronicamente procuraram fazer todos os grandes apologistas do século XVIII foi Restaurar, ressuscitar, um paradigma já obsoleto. Nesse plano a primeira grande reflexão existencial sobre o tema pertenceu ao Barroco. O que veio depois é empobrecedor. Já nenhuma certeza ontológica emana do curso do mundo. O estupor desencantado de Pascal diante da solidão gelada do Universo culmina no verso de Rimbaud: “não somos do mundo!” , ou “nós não pertencemos ao mundo”. É então que Vico, face à dúvida cartesiana (barroca), viu na HISTÓRIA o único firmum et mansurum ao qual o homem poderia aceder. Única realidade considerada ao alcance do conhecimento do homem dado que produzida por ele aparece ao homem, no dealbar da modernidade, como a grande fonte de certeza de si, ao mesmo tempo englobante e totalizante… Face ao desaparecimento de Deus, face à natureza emudecida e inaudível, o homem opunha este fragmento dérisoire do tempo que ele conseguiu fazer seu e do qual espera extrair a verdade o seu ser assim como a norma da sua acção com vista ao futuro. Hegel até extrairá daqui a via do Absoluto. Hegel propõe um grande sistema filosófico em que o mundo, como Espírito, se encontraria em um processo histórico contínuo de racionalidade e perfeição cada vez maiores. A teleologia proposta por Hegel será explicitada tanto na análise da totalidade do universo, quanto nos diversos processos e desenvolvimentos que o constituem, através do método dialéctico, em que as tendências contrárias (tese e antítese) se entrechocam resultando em uma síntese, por definição mais perfeita e completa que as anteriores. Hegel tem como mérito a criação de uma nova tendência na filosofia: a de abordar os diversos assuntos a partir da investigação de sua génese ao longo da história. “Na história, o pensamento está subordinado aos dados da realidade, que mais tarde servem como guia e base para os historiadores. Por outro lado, afirma-se que a filosofia produz suas Ideias a partir da especulação, sem levar em conta os dados fornecidos. Se a filosofia abordasse a história com tais Ideias, poder-se-ia sustentar que ela ameaçaria a história como sua matária-prima, não a deixando como é, mas moldando-a conforme essas Ideias, construindo-a, por assim dizer, a priori. Mas, como se supõe que a história compreenda os acontecimentos e acções apenas pelo que são e foram e que, quanto mais factual, mais verdadeira ela é, parece que o método da filosofia estaria em contradição com a função da história.” (HEGEL) Ao contrário de uma possível contradição metodológica entre essas ciências, Hegel afirma que a história do mundo só pode ser contada e contemplada à medida que ela se valha da filosofia. É pela especulação e reflexão racional que a filosofia se sustenta. E haja em vista que “na história do mundo as coisas aconteceram racionalmente”, (HEGEL, 2001: 53) vislumbramos o início dessa união entre as ciências supracitadas. Para provar a existência de uma razão no mundo, Hegel dá-nos o exemplo de Anaxágoras, cujo feito foi observar que há um sistema solar no qual os planetas giram ao seu redor. Porém, diz Hegel, ao grego não foi possível inferir qualquer racionalidade sendo contemplada, pois no seu tempo ela estava ainda velada. Percebe-se claramente que a história do mundo hegeliana visa, portanto, uma teleologia. Ora, sendo uma teleologia comandada pela razão, não iria ela ser contra qualquer doutrina religiosa? Não para Hegel, já que ele vê em Deus a Razão Absoluta. Aliás, Razão e Deus são termos correlatos e, pode-se dizer, significam uma mesma coisa: requisito lógico do mundo, cujas potencialidades inerentes se manifestam no decorrer da história. Metodologicamente, Hegel assim compreende o estudo da história do mundo: “devemos tentar seriamente reconhecer os caminhos da providência, os seus significados e as suas manifestações na história, e seu relacionamento com o nosso princípio universal[1]” (HEGEL, 2001:57) (“Reconhecer os caminhos da providência” implica uma certa passividade daquele que estuda ou quer conhecer a história passada; não é a toa que ele emprega o verbo contemplar em sua obra.) Se assim é, qual o objectivo final do mundo? Dissemos acima que o mundo, para Hegel, deve ser pensado racionalmente, que todos acontecimentos históricos passados foram necessários; donde seu aspecto teleológico. Esse plano divino é manifestado ao mundo mediante o “Espírito de um povo”, visando a Ideia de Liberdade. Ou seja, esta Ideia é a força motriz da história, ao passo que o Espírito de um povo é expressão de uma realidade histórica finita, que por processos dialécticos busca sobrepujar as potencialidades infinitas da Ideia. Pelo carácter objectivo do “Espírito de um povo”, as subjectividades que constituem uma nação e até mesmo as dos próprios indivíduos, são consideradas por Hegel apenas como um primeiro passo do movimento dialéctico. Todas as paixões particulares servem para serem aniquiladas, dando lugar à universalidade de que a Ideia de Liberdade necessita. Nem mesmo os heróis, aqueles que serviram de exemplo para uma mudança do Espírito de uma época à outra, tinham consciência da objectividade de suas paixões, pois “a história do mundo dá início ao seu objectivo geral – compreender a Ideia de Espírito – apenas em uma forma implícita (ansich), ou seja, como Natureza, como um instinto muito profundo e inconsciente” (HEGEL, 2001: 71). Torna-se preciso, então, compreender a ligação entre o particular e o universal, – entre o subjectivo e o geral – cujo casamento propicia a história do mundo. Sendo a Ideia, condição lógica para o mundo, ela não está contida nele. Ou melhor, ela não necessita dele para sua preservação. Enquanto tese, a Ideia “é o universal, o imanente, o representado” (HEGEL, 2001: 72), isto é, ela não tem ao quê se comparar. É necessário, pois, um outro lado cujas qualidades neguem o conteúdo da Ideia. Este outro lado é chamado por Hegel de consciência, Ego, ou átomo. Estes conceitos são a “negatividade infinita” da Ideia. Eles são sua finidade e sua forma. É desta lógica dialéctica que Hegel vê surgir o mundo, como síntese entre a Ideia e o Ego[3]. O mundo é composto pela Natureza e pelo Espírito. O primeiro, o campo da necessidade, o segundo da liberdade. Enquanto aquele se manifesta mediante a natureza; este se caracteriza, em uma primeira instância, por meio do indivíduo. É pela característica da liberdade que o homem é um ser moral. Tal facto implica “em que ele cumpra os deveres de sua posição social” (HEGEL, 2001:76), além de ter a consciência de pertencer a um determinado “Espírito de um povo”. Pois “o indivíduo não cria o seu conteúdo, ele é o que é, expressando tanto o conteúdo universal quanto o seu próprio conteúdo”. (HEGEL, 2001: 77) . Ou seja, a ligação entre o subjectivo e o geral, dá-se neste momento. A união supracitada, segundo Hegel, só se manifesta por meio do Estado. Esta instituição abarca todo o conjunto moral de seus indivíduos. Só através de sua presença é possível falar em liberdade e auto-consciência no indivíduo. Porque “a Ideia de liberdade necessariamente implica lei e moral”. (HEGEL, 2001, 92). O Estado é o campo das objectividades. Um espaço pontual no qual podemos assinalar e nos referir quando pensamos na História do mundo. Enquanto o indivíduo morre, o Estado, através de abstracções, permanece. Isto é, apesar do Estado grego morrer com o povo grego, ele permanece historicamente. A sua “morte”, deu lugar, concordando com Hegel, a outro Estado mais perfeito, mais consciente de si e tendo seus indivíduos com o conceito da Ideia de Liberdade mais aflorado e rígido. Por se tratar apenas de um texto de apontamentos sobre a referida obra de Hegel, pararemos por aqui. Entretanto, deixaremos uma última citação de Hegel que confirma a enorme função que o Estado tem para seu sistema filosófico: “O Estado é a realização da Liberdade, do objectivo final absoluto, e existe por si mesmo. Todo o valor que tem o homem, toda sua realidade espiritual, ele só a tem através do Estado.(HEGEL, 2001:90) Karl Popper, crítico de Hegel em A sociedade aberta e seus inimigos, opina que o sistema de Hegel constitui uma justificação vagamente dissimulada do governo de Frederico Guillermo III e da ideia hegeliana de que o objectivo ulterior da história é chegar a um Estado que se aproxima ao da Prússia do decénio de 1831. Esta visão de Hegel como apólogo do poder estatal e precursor do totalitarismo do século XX foi criticada minuciosamente por Herbert Marcuse em Razão e revolução: Hegel e o surgimento da teoria social, arguindo que Hegel não foi apólogo nem do Estado nem da forma de autoridade, simplesmente porque estes existiram; para Hegel, o Estado deve ser sempre racional. Arthur Schopenhauer desprezou Hegel por seu historicismo e tachou sua obra de pseudofilosofia. A filosofia da história de Hegel está também marcada pelos conceitos da “astúcia da razão” e do “escárnio da história”. A história conduz os homens que crêem conduzir-se de per si, como indivíduos e como sociedades, castigando suas pretensões, de modo que a história-mundo, ao fazer troça deles, produz resultados exactamente contrários e paradoxais aos pretendidos por seus autores, a despeito de, nos períodos finais, a história se reordenar e, em um cacho fantástico, retroceder sobre si mesma e, com sua gozação sarcástica e paradoxal convertida em mecanismo de criptografia, cria também ela mesma, sem querer, realidades e símbolos ocultos ao mundo e acessíveis tão-somente aos cognoscentes, id est, àqueles que querem conhecer.[/vc_column_text][vc_separator css=”.vc_custom_1480425835216{margin-bottom: 30px !important;}”][vc_tta_tabs style=”modern” shape=”square” active_section=”1″ css=”.vc_custom_1480425795405{margin-top: 5px !important;}”][vc_tta_section title=”Biografia” tab_id=”1480423549556-ac307ab4-8964″][vc_column_text]HEGEL nasceu em Stuttgart a 27 de Agosto de 1770 e faleceu em Berlim a 14 de Novembro. Hegel encontra a sua posição na história da filosofia no seio do chamado Idealismo Alemão, representando por um lado o seu apogeu, o idealismo absoluto e a transição para a Filosofia do Romantismo. Estudou na Tübinger Stift, (seminário da Igreja Protestante, em Württemberg). A sua Fenomenolgia do Espírito desenvolve a ideia dialéctica de que o espírito humano se manifesta através de um conjunto de contradições e oposições que acabam por se integrar numa poderosa síntese. Todos os elementos se integram unem-se, no quadro de superações sistemáticas, o que significa que os elementos em confronto não se eliminam. Exemplos de tais contradições incluem aqueles entre natureza e liberdade e entre imanência e transcendência. Deste ponto de vista ele é o grande filósofo da Modernidade, da ideia de progresso e de totalidade do Espírito.[/vc_column_text][/vc_tta_section][vc_tta_section title=”Ficha” tab_id=”1480423549788-702a8d9a-b0d3″][vc_column_text]Hegel, Georg Wilhelm, Friedrich, A Razão na História (Introdução à Filosofia da História Universal), Edições 70, Lisboa, 1995 Descritores: História da Filosofia, Historicidade e historicismo, Espírito, 223 p. ISBN: 972-44-0906-6 Cota: A-4-13-9[/vc_column_text][/vc_tta_section][/vc_tta_tabs][/vc_column][/vc_row]
Amélia Vieira h | Artes, Letras e IdeiasNão entres docilmente nessa noite escura [vc_row][vc_column][vc_column_text] «Do not go gentle into that good night» [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap] este foi o ano em que sem nos apercebermos, os sons foram lembrados para celebrar os poetas. Dylan Thomas, o quase ainda romântico escritor inglês, nascido no início do século passado, anda distante do movimento surrealista, mas próximo do círculo iniciado nos finais do século XIX por Freud e também do legado das expressões míticas que tanto se fizeram sentir em Yeats como em T.S. Eliot. Estava aberto assim o dilema entre o eu poético e a vertente da natureza social e todo este riquíssimo desocultar da psique, conjuntamente com a raiz da herança céltica deu uma poesia absolutamente intransponível na sua dimensão de vínculo cultural. Chegados aqui, todos sabemos então que o Prémio Nobel da Literatura que não tendo, é claro, a importância capital tão discutida, pois que também é certo que o tempo em que vivemos é todo ele o da relatividade quase absoluta, tanta, que a poesia passou a ser feita por agentes que ou não devem entender do que se trata ou tudo tem efectivamente uma outra interpretação. Bob Dylan, nascido Robert Allen Zimmerman, deve o seu nome a Dylan Thomas. Aqui foi efectivamente o Prémio em Poesia que se fez sentir na vontade de ser e na qualidade de se ter tornado quem foi, o que denota a justa forma de saber homenagear. Há um conflito de posição face ao estereótipo do criativo, como aquele que se faz a si próprio numa auto-suficiência ilusória: no fundo, acaba por ser uma atitude mais política que poética norteando os dados para um conjunto de influências que ajudem a sua causa numa espécie de campanha que norteará o “eleito”. O que se passou com este Prémio foi singular e emblemático pela justa forma de saber ver que o mensageiro que soube tão bem interpretar a mensagem é a título abrangente o depositário do Poema. Dylan Thomas morreu jovem, tinha trinta e nove anos, tendo publicado o seu primeiro livro aos vinte «Eighteen-Poems». Teve trabalhos, sim, mas aos trinta e dois anos tornara-se poeta a tempo inteiro pois que não há poetas a tempo parcial, nem a vida de um criativo é uma felicidade ingénua à boa maneira do antigo S.N.I. dos «pintores de fim de semana»: talvez até, que para escrever somente isto: “clama, clama, contra o apagar da luz que finda, que a velhice arde e brada ao término do dia“, se precise muito mais que pendor e, mesmo que se morra novo, se tenha experienciado por lucidez a pavorosa passagem do tempo. Não por acaso o tema da morte é tão significativo nesta poesia e acaba por ser o motor de uma tradição poética europeia que Bob Dylan, que humildemente não se considera poeta, soube trazer nessa herança, e não mais que ouvi-lo para saber da contingência entre os movimentos vitais de criação e de destruição. O homem quando nasce, como expressamente nos diz, « é suficientemente idoso para morrer». Neste poeta há sem dúvida referências bíblicas, tal como em Eliot na «Quarta-feira de Cinzas», e também em toda a estrutura dos poemas vamos desvendando o conhecimento simbólico, que, tal como em Dylan, o torna muito mais simbolista que metafórico. Estamos no campo em que descemos do ego cardíaco e nos adentramos no mistério comum que nos inunda de respeito. Saídos da esfera da perturbação vamos entrando nos assombros e nos próprios abismos de olhos abertos, essa lucidez tão cara a um poeta: E a morte perderá o seu domínio. Nus, os homens irão confundir-se. Com o homem no vento e na lua do poente; Quando, descarnados e limpos, desaparecerem os ossos. Hão-de nos braços e pés brilhar as estrelas. Mesmo que se tornem loucos permanecerá o espírito lúcido; Mesmo que sejam submersos pelo mar, eles hão-de ressurgir. Mesmo que os amantes se percam , continuará o amor. E a morte perderá o seu domínio. Mesmo que os amantes se percam… sim, o amor continuará e os amantes reencontrar-se-ão, talvez, num tempo descarnado das suas pobres vísceras, mesmo que tudo se perca. Perder é depor as armas e estar mais desperto da essência e no sopro longo do Verbo lá está o amor: ” no fim, ainda que os lábios aceitem as trevas, porque se esgotou o raio das suas palavras, eles não entram docemente nessa noite serena”. E se mais andarmos vamos até ao rei Artur e Guinevere – a das longas tranças – a Ilha das Maças: “e o tempo deixava-me acenar e subir, dourado, na grande luz dos meus olhos: era, venerado por todos, o príncipe das cidades das maças”. Pois que já nem temia os dias brancos como cordeiros que lhe viessem erguer o tempo, nem a vida do lado de fora de um reinado mítico acrescentaria mais luz que a doce lã das ovelhas; sim, temos aqui a sacralidade do poeta orando na versicular legenda da escrita e talvez seja esta noção tão íntima que transmite a maravilhosa manifestação de que estamos diante do inesperado que traz em si todo o silêncio antes de reflectirmos o que devemos dizer quando aceitamos as dádivas. Há aspectos que se isolam ao alcançarem a plenitude, e nós, a quem tanto foi tirado em troca de nada, convém que nos devolvam todas estas noções e um mundo onde elas possam de novo caber, ampliando o sentido do que está retido nestas vozes. Por isso: – NÃO ENTRES DOCILMENTE NESSA NOITE SERENA que te querem dar, como um Prémio, de que não foste obreiro nem construtor. A vida que nos dão foi-nos imposta, requer-se a vida conquistada, para quando menos esperarmos podermos saber o significado de todas as palavras.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]
Rui Flores VozesViagem à Cuba de Fidel [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]ssisti a um dos “famosos” longos discursos de Fidel Castro. Foram duas horas de uma intervenção laudatória dos feitos da revolução cubana, acompanhada de ataques constantes ao “imperialismo norte-americano”. Em pleno Verão de 1996, em reportagem para a Antena 1 da Radiodifusão Portuguesa, segui um grupo de militantes e simpatizantes comunistas, de Portugal, que foram passar três semanas a Cuba, com o objectivo primário de ajudar nos campos de uma cooperativa agrícola da província de Holguín, no sudeste da ilha. O embargo imposto pelos Estados Unidos da América condicionava de sobremaneira o acesso de Cuba a produtos químicos, fertilizantes, pesticidas. As ervas daninhas abundavam, portanto. E eram retiradas dos campos agrícolas por brigadas de “agricultores”, em grande número, à mão, que limpavam os terrenos de uma ponta à outra, para proteger as plantações. Todos os anos o governo cubano premiava a província que tinha alcançado os melhores resultados de produção agrícola, numa lógica de competição interna entre as várias regiões do país, que era depois celebrada com uma cerimónia com a presença do líder cubano. O título da região com melhor desempenho agrícola era entregue aos dirigentes locais e a população podia ver o comandante em chefe e apreciar a sua capacidade oratória. No discurso a que assisti, Fidel exultava com os feitos alcançados pelo socialismo cubano. E rejubilava com as medalhas que estavam a ser ganhas pelos atletas cubanos nos jogos olímpicos de Atlanta. Dizia ele que cada medalha valia por duas. Não apenas eram medalhas olímpicas mas eram também conquistadas “em solo gringo”. No âmbito desta visita organizada pela Associação de Amizade Portugal-Cuba, além de alguns dias em Holguín, na “finca” agrícola e em Guardalavaca, passámos alguns dias em Havana, na Sierra Maestra e em Santiago. Impressionou-me o nível de educação dos cubanos. A estatística mostra que Cuba é dos países do mundo que maiores taxas de literacia possuem. A estatística é naturalmente importante, mas o contacto diário na rua é algo que dá uma visão mais palpável. As funções profissionais que tenho desempenhado têm-me levado a diversos países em vários continentes. Tenho privado com vários líderes políticos e responsáveis governamentais, além de funcionários e de “cidadãos comuns”. A cultura geral, o conhecimento do mundo que a quase totalidade dos cubanos ostentava, é de facto acima da média. Isso sentia-se em Havana, entre as pessoas que se encontravam pelas ruas entre a Bodeguita del Medio e La Floridita ou no Malecón, mas também nos bares com música ao vivo em Santiago ou em Holguín. Todos os trabalhadores da “finca”, por exemplo, eram licenciados, em diversas áreas, incluindo médicos e engenheiros, com oscilações salariais muito reduzidas. O investimento na educação efectuado pelo governo cubano foi a todos os títulos notável. Esse investimento extraordinário na formação dos seus quadros, mas também na saúde, permitiu-lhe por outro lado exportar solidariedade na forma de pessoal médico. Assisti a isso, por exemplo, em Timor-Leste, logo a seguir à independência, onde durante anos trabalharam algumas centenas de médicos quer na capital, em Díli, quer no interior do país, às vezes sem qualquer tipo de equipamento além do seu conhecimento sólido – afinal o país tinha acabado de se livrar do jugo da Indonésia, tinha visto grande parte das suas infraestruturas destruídas na sequência da acção das milícias em fúria com o resultado do referendo – e o investimento na saúde não chegava a todo o lado. Vi médicos cubanos a trabalhar também na Serra Leoa e na Guiné-Bissau, muito antes de a cooperação Sul-Sul se ter transformado num slogan. O investimento na educação contribuía, por outro lado, para uma autêntica formatação ideológica. Por outras palavras, assegurava que o discurso hegemónico fosse assimilado e repetido por quem passava pelas faculdades – e era a quase totalidade da população. Os comités de defesa da revolução faziam o resto e controlavam quem ousasse pensar diferentemente. Apenas alguns resistiam. Nada que George Orwell não tivesse imaginado. Por esses tempos, Cuba estava finalmente a abrir-se. Os restaurantes privados, dos cidadãos, nas suas próprias casas, os “paladares”, tinham sido autorizados recentemente. E espalharam-se como cogumelos em terra húmida. Sem guias nem estrelas Michelin, ia-se de casa em casa, por ouvir aqui e ali, que se comia bem. E comia-se invariavelmente lagosta grelhada, acompanhada por arroz com feijão, por 10 USD. Aliás, o peso cubano era como se não existisse. A moeda em circulação era o dólar americano. E com ele podia comprar-se quase tudo. Desde a refeição no “paladar” ao charuto que se adquiria no chamado mercado negro, que era tão fácil de aceder quanto perguntar na recepção do hotel onde se poderia comprar cubanos puros, genuínos, que eram retirados das fábricas pelas pessoas que precisavam de dólares para viver. A caixa de 25 charutos ficava em 25 USD. Era o número mágico do 1 USD. A cuba libre, o rum añejo, tudo custava 1 USD. Excepto a lagosta. A abertura seria lenta, naturalmente. Ainda não tinha chegado, por exemplo, ao culto religioso. A catedral de Havana estava fechada a cadeado. E o lixo acumulado na sua escadaria era sinal de que não era um edifício assim muito frequentado. Durante as três semanas que passei em Cuba falei, naturalmente, com muitos cubanos. A maior parte – sobretudo os próximos da linha hegemónica – repetia os números do sucesso da revolução. Alguns outros, no entanto, não alinhavam pelo mesmo diapasão. Falavam do medo. Do controlo que o partido exercia sobre eles. Das dificuldades económicas que sentiam. De o peso não valer nada. Diziam-no com receio de serem escutados por um qualquer controlador de bairro – o elemento fulcral da força do partido. Só praticamente na véspera de regressar a Portugal é que consegui que um dos meus interlocutores – um jovem estudante, estafado de promessas de dias melhores – falasse para o gravador e dissesse o que outros me foram dizendo. Que lhes faltava a liberdade.
Hoje Macau China / ÁsiaExecutivo chinês com ligações a antigo assessor presidencial condenado [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] executivo chinês que alegadamente ofereceu o Ferrari com que o filho dum antigo assessor presidencial sofreu um acidente mortal foi sexta-feira condenado a quase cinco anos de prisão por uso ilegal de informação privilegiada e outros crimes. Um tribunal do nordeste da China considerou Li You, antigo presidente executivo do Founder Group, um dos maiores grupos chineses do ramo da tecnologia, culpado do uso ilegal de informações privilegiadas e outros crimes. Li foi condenado a quatro anos e meio de prisão e multado em 750,2 milhões de yuan, refere o comunicado difundido pelo tribunal intermédio de Dalian. Fundado em 1986 com financiamento da Universidade de Pequim, o Founder Group opera nos sectores da informática, saúde, imobiliário, finanças e comércio de recursos naturais. Segundo o jornal Beijing News, Li e o antigo presidente da empresa Wei Xin estão ligados ao braço direito do antigo Presidente da China Hu Jintao, Ling Jinghua, que em Julho passado foi condenado a prisão perpétua por obtenção ilegal de segredos de Estado e abuso de poder. Em queda Ling Jihua caiu em desgraça quando o seu filho Ling Gu morreu ao volante de um Ferrari, em Março de 2012, num episódio que abalou a liderança chinesa e coincidiu com o período de transição na cúpula do poder na China. Os jornais chineses escreveram anteriormente que o Ferrari que Ling Gu conduzia foi-lhe oferecido por Li You. Quase quatro anos depois daquele acidente, muitos pormenores continuam a ser segredo de Estado, mas sabe-se que Ling Gu seguia no carro com duas mulheres, uma delas totalmente nua, que ficaram feridas no acidente. Ling Jihua terá recebido 6,43 milhões de yuan em subornos de Wei, avançou a agência oficial chinesa Xinhua, acrescentando que Ling sabia que Wei dava também dinheiro ao seu filho. Dez outros executivos do grupo Founder foram também punidos hoje por uso de informações privilegiadas, ocultar informações financeiras e tentar obstruir a investigação. Após ascender ao poder, em 2012, o Presidente chinês, Xi Jinping, lançou uma campanha anticorrupção, considerada a mais persistente e ampla na história da China comunista. Aquela campanha resultou já na punição de um milhão de membros do Partido Comunista da China.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeCasinos | Inspectores de jogo pedem estatuto próprio para a profissão Os inspectores de jogos estão descontentes com a proposta de revisão do Estatuto dos Trabalhadores da Função Pública e desejam ter um estatuto próprio. João Vieira, da Associação Sindical de Inspectores de Jogos, fala na redução de direitos e na arbitrariedade do cumprimento da lei pelas operadoras [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão gozam fins-de-semana, não têm rotatividade ao nível dos turnos com horários difíceis, não têm direito a tolerâncias de ponto, recebem os subsídios de turno fora do horário de trabalho. Estas são algumas das reivindicações que os inspectores dos casinos têm vindo a exigir à Direcção dos Serviços de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) e que ainda não foram ouvidas. Em entrevista ao HM, João Vieira, dirigente da Associação Sindical dos Inspectores de Jogo, já reformado, confirmou que a maioria dos trabalhadores está contra a proposta do Governo de revisão do Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública (ETAM) e pede um estatuto próprio para a sua profissão. “Não somos pessoal de secretaria, mas também não somos pessoal militarizado. Deveríamos ter um estatuto próprio, com condições quase iguais a qualquer funcionário, mas sem a sobrecarga que tem um polícia ou um bombeiro”, defendeu João Vieira. Também António Lopes, inspector no activo desde 1989, acredita que esta seria a melhor solução. “Muitas coisas ficariam mais claras e tudo estaria estipulado na hora de irmos trabalhar. Saberíamos o que podemos ou não podemos fazer, porque actualmente há coisas que não estão claras: a lei diz uma coisa, o superior diz outra.” António Lopes e João Vieira fazem parte de um grupo de trabalho criado esta quarta-feira em parceria com a Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM), do qual fazem parte Rita Santos e José Pereira Coutinho. É este grupo de trabalho que promete lutar com uma outra força pelos direitos laborais dos inspectores. “Se isto não for resolvido vamos ter mais acções. Vamos andar um pouco mais à frente, vamos promover umas greves pacíficas, há muitos métodos que conhecemos. Se o Governo não responder aos nossos apelos até poderemos recorrer ao Direito Internacional. Isto é uma machadada enorme em toda a lei”, disse João Vieira. João Vieira diz-se mesmo “desiludido” com Paulo Chan, o novo rosto da DICJ. “Esperava muito mais de uma pessoa que percebe de leis, porque veio do Ministério Público. Compreendo que possa estar muito ocupado, mas podia olhar para os nossos pedidos. Reunimos assim que ele assumiu o cargo. Focamos vários pontos e dissemos que o pessoal não se sentia confortável. Ele atendeu a alguns pedidos, mas dentro desse atendimento não foi feita uma correcção completa.” Operadoras é que decidem O dirigente garante ainda que os inspectores se sentem inseguros desde que, em 2001, deixaram de ser equiparados a agentes da autoridade no período de trabalho, que dava direito a uso e porte de arma. Hoje os cerca de 400 inspectores a trabalhar por turnos dizem ter de responder por situações que os podem comprometer. “Há casos de ameaças quando saem do trabalho e muitos deles foram espancados. Sempre tivemos este receio e continuamos a tê-lo. Apenas digo que não nos obriguem a fazer tarefas que impliquem essas situações, como se fossemos agentes. Somos obrigados a identificar indivíduos que estão a fumar em locais proibidos nos casinos quando não temos esse direito de pedir a identificação. Também não temos o direito de pedir a um indivíduo as fichas de jogo”, explicou João Vieira. O antigo inspector denuncia ainda a arbitrariedade no cumprimento dos regulamentos por parte das concessionárias. “Cada casino tem os seus próprios regulamentos em termos de modalidade de jogos. Isso faz com que, quando um cliente reclama, o inspector não saiba o que fazer, porque é tudo diferente dos regulamentos que estão definidos por lei. A culpa é da DICJ, que permite que haja várias sentenças sobre o mesmo caso. O que fizemos? Reunimos e dissemos aos nossos colegas para, no momento das ocorrências, pegarem no regulamento em vigor e seguirem o que lá está escrito. Pedimos para não seguirem as leis do casino.” Governo promete resolver José Pereira Coutinho levou ontem este assunto ao hemiciclo, no âmbito do primeiro dia de debate das Linhas de Acção Governativa para a área da Economia e Finanças. Paulo Chan prometeu resolver a situação. “Estamos a acompanhar a situação, mas não domino os detalhes. Vamos reunir com os inspectores para conhecer de perto as suas necessidades e reivindicações. Os trabalhadores estão, de facto, a trabalhar de mais”, disse o director. João Vieira assumiu que a falta de pessoal sempre foi uma realidade, mas que não justifica o incumprimento dos seus direitos. “Não há férias, nunca nos compensam os feriados na totalidade, roubam-nos um pouco diariamente. O Chefe do Executivo dá tolerâncias de ponto, mas nós nunca temos direito. E esta revisão vem tentar por isso na lei. É uma vergonha.” Também em épocas de tufão os inspectores assumem não ter qualquer apoio por parte da DICJ. Actualmente, o ETAM está em processo de consulta pública, sendo que a primeira fase acaba em Dezembro.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeDebate | EPM acusada de contribuir para gueto da comunidade portuguesa [vc_row][vc_column][vc_column_text] A Livraria Portuguesa foi ontem palco de um debate sobre o futuro da Escola Portuguesa de Macau. Manuel Gouveia, líder da Lista B, uma das candidatas à associação de pais, afirma que a escola contribui hoje para a ausência da integração da comunidade portuguesa na sociedade e para a manutenção do “gueto”. A aposta no ensino do cantonense é, por isso, um dos objectivos [dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]odos estavam convidados, inclusivamente a Fundação da Escola Portuguesa de Macau (EPM) e a direcção da própria instituição de ensino. Pais, docentes, alunos e individualidades receberam o mote para debaterem ontem o futuro da EPM na Livraria Portuguesa, mas a verdade é que o debate acabou por ficar centrado nos membros da Lista B, uma das duas candidatas à associação de pais da EPM (APEP). Manuel Gouveia, rosto principal da lista, disse lamentar que, 17 anos após a transição de Macau para a China, a EPM continue a fomentar a “guetização” da comunidade portuguesa, ao não promover um verdadeiro ensino bilingue de português – cantonense. “Gostaria de poder começar com o cantonense”, começou por dizer. “Esta escola não é igual à escola portuguesa de Angola ou de Moçambique. É uma escola portuguesa que está no Oriente, onde o português é língua oficial, mas minoritária. Desde o início que deveria ser uma escola que permitisse a integração da comunidade portuguesa na sociedade.” “Se no tempo da Administração portuguesa não foi feita uma escola que formasse bilingues, seria desejável que após a transição isso tivesse acontecido, e que ao fim de 17 anos houvesse alunos que falassem a língua da terra. Não sei se não valeria a pena, nos primeiros três anos, introduzir o cantonense para que os nossos filhos pudessem estar bem integrados em Macau, em vez de estarem na EPM apenas para passarem para as universidades portuguesas e regressarem a Macau com o mesmo handicap que tivemos há uns anos atrás”, apontou. Para Manuel Gouveia, “a escola é muito boa para aqueles alunos que não falam português, mas para nós permite que continuemos no gueto em que vivemos.” Quanto ao mandarim, o candidato voltou a pedir uma auditoria externa aos custos e eficácia das aulas, tal como já tinha dito na entrevista que concedeu esta semana ao HM. Uma das encarregadas de educação presente no debate questionou mesmo qual o universo de alunos que, neste momento, é visado pela EPM. “Quem é que a escola serve? Servem os novos alunos que chegam e que acabam por gerar uma certa pressão para a escola, por necessitarem de aulas suplementares de Português, e que representam um terço das turmas? É complicado. Quem é que a escola pode servir?”, apontou. Para Manuel Gouveia, a EPM pode servir alunos portugueses, chineses e estrangeiros, desde que “dê apoios, diferenciados para todos”. Arnaldo Gonçalves, académico que moderou o debate, frisou que a EPM sempre foi uma questão de fundo no seio da comunidade portuguesa. “Dezassete anos depois da transição conseguimos encontrar um equilíbrio no projecto de gestão, não termos apenas uma escola portuguesa mas sim uma escola de Macau? O principal problema é haver uma fundação da escola e haver uma direcção local. Não se percebe como actuam os trabalhadores da fundação e quase parece que é como o funcionamento das fundações em Portugal, das quais existe pouca informação. A responsabilidade curricular é de Portugal, os alunos fazem os exames portugueses, mas tem de haver uma partilha de responsabilidades”, defendeu. Livros e instalações O facto da EPM se deparar com problemas da falta de espaço foi outro dos assuntos abordados, tendo Manuel Gouveia falado da falta de modernização de instalações como a biblioteca ou os laboratórios. “Já estamos numa era tecnológica em que há livros electrónicos, mas desconheço se a escola tem alguns. Está na altura da escola se modernizar e também ao nível dos livros electrónicos. Quando cheguei em 2008 vi que a secretaria tinha uns computadores usados por designers, que talvez estariam melhores noutros departamentos. A escola tem de mostrar que está a ser bem gerida.” Um dos pais falou da ausência de responsabilização em vários aspectos, nomeadamente no fornecimento de livros. “Algumas escolas em Macau fornecem os livros, os pais pagam as propinas e não têm de se preocupar com mais nada. Nós continuamos na mesma situação, há uma confusão com o fornecimento dos livros em Portugal e isso não é culpa da EPM. Mas a verdade é que teoricamente os livros são para cinco anos, mas na prática são dois, porque há sempre novas edições.” As críticas foram feitas também ao nível dos conteúdos. “O livro de Matemática não serve para nada, nem o de Filosofia. É um mistério total quem escolhe os livros e não temos acesso aos professores, só ao director de turma. Não sabemos onde estão os bons manuais onde os alunos podem aprender. Os pais agora é que têm a responsabilidade sobre os manuais, mas nós não somos professores. Há a ideia de que aparentemente está tudo bem, mas não está, e ninguém assume a realidade. Se mais de dez por cento dos alunos não têm bons resultados na Matemática temos de apurar responsabilidades.” O direito a ter opinião O encontro de ontem acabou por se focar no facto de, pela primeira vez, existirem duas listas candidatas à APEP. “Há uma cultura que se instalou no tempo da Administração portuguesa que é a ideia de que não se pode confrontar o outro”, disse Arnaldo Gonçalves. “O facto de haver duas listas é uma coisa extraordinária”, acrescentou. Para o académico, esta é uma boa forma de pensar abertamente os problemas da EPM. “Quando vêm os ministros da Educação o processo é igual, os seus discursos fazem as paragonas dos jornais. Tem de se perceber que a EPM é um problema imediato para o qual existem várias soluções que têm de se pôr em cima da mesa. É uma pena que a própria escola não tenha dinamizado um debate entre as duas listas. É assim que se faz nos sindicatos.” “A EPM está a ser prejudicada por quem se cala”, acrescentou Manuel Gouveia. “Se há coisa que em Macau não nos podemos queixar é da falta de meios, porque temos é falta de vontade. Não queremos continuidade, queremos progresso e inovação. Não vamos pugnar por uma manutenção, por aquilo que em Macau é muito estimado, a harmonia. Queremos uma harmonia com uma evolução. A nossa postura é de complementaridade”, rematou. [/vc_column_text][vc_message message_box_style=”solid” style=”square” message_box_color=”peacoc” icon_fontawesome=”fa fa-comments” css=”.vc_custom_1480084917968{margin-right: 8px !important;margin-left: 8px !important;}”] “A escola é privada mas isso é absoluta ficção” As eleições para a APEP decorrem na próxima terça-feira e não são conhecidos quantos pais têm a possibilidade de ir votar. Manuel Gouveia recusou que haja uma “guerra” contra a Lista A. “É para o que for. Não é uma guerra, queremos reforçar e melhorar a escola. O nosso papel aqui é quebrar o silêncio e as barreiras e dizer o que é preciso dizer.” Manuel Gouveia falou ainda sobre a auditoria externa que propôs aos custos da escola, mas sobretudo das disciplinas. “A auditoria externa é algo que será aconselhável se não houver uma demonstração de que a EPM tem capacidade [de subsistir]. A comunidade portuguesa não pode admitir que a EPM, se não tiver viabilidade, acabe. Os pais podem apoiar com mais propinas, mas tem de se decidir algo. A participação dos pais tem de ser estimulada e não reprimida, como tem sido ultimamente. Se a escola é privada mas isso é uma absoluta ficção, porque tem uma fundação mas se essa fundação está dependente de fundos públicos, a escola é privada com ponto e vírgula e muitas aspas. Devem toda a informação ao público e não é o que se passa. Porque é que as contas não são apresentadas?”, lançou.[/vc_message][/vc_column][/vc_row]
Sofia Margarida Mota Manchete PolíticaLAG 2017 | Importação de mão-de-obra divide opiniões É um clássico da Assembleia Legislativa: vários deputados manifestaram ontem preocupações antagónicas no que respeita aos trabalhadores vindos de fora. O secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, deu a entender que não há alterações nesta matéria [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] questão da importação de trabalhadores não residentes (TNR) foi ontem um dos assuntos de relevo em mais um debate das Linhas de Acção Governativa para 2017. Sem conclusões, os deputados manifestaram-se contra estes trabalhadores ou no sentido de consolidar a necessidade de importação de exterior, de modo a garantir o desenvolvimento do território. Para a deputada Ella Lei, representante dos Operários, os TNR são uma ameaça ao emprego dos residentes, sendo que a situação é tanto mais grave quando se fala de empregos de gestão, nomeadamente na área dos casinos. “São poucos os trabalhadores locais que trabalham nas áreas de gestão das operadoras de jogo e deviam ser mais. Nas áreas de restauração e hotelaria há muitos empregos, mas muitos são TNR”, afirmou ontem na Assembleia Legislativa. Para Lei, a questão já não se prende com a “falta de talentos, porque Macau já está a formar a população que depois não tem oportunidades de emprego”. Segundo a representante dos Operários, é necessário “impedir a contratação de TNR e criar um mecanismo de retirada dos trabalhadores estrangeiros”, ao mesmo tempo que é necessário assegurar os direitos dos locais. Ella Lei sustenta a posição com números que, garante, afectam os salários da população. “Também temos cerca de 45 mil empregados com salário abaixo das cinco mil patacas. Que políticas e medidas é que o Governo pode tomar para estas pessoas?”, perguntou. “Também temos trabalhadores na restauração com salários pouco acima das 10 mil patacas. Como é que estas pessoas conseguem suportar a inflação com estes salários que são condicionados pela contratação de mão-de-obra estrangeira?”. Para a deputada, é necessário tomar medidas, entre as quais requerer um salário mínimo na contratação ao exterior capaz de competir com o dos locais. Macau precisa deles Do outro lado da bancada está Kou Ho In. O deputado e empresário afirma, baseado numa pesquisa levada a cabo pela sua companhia, que “há falta de trabalhadores em Macau”. Por outro lado, ao ser sugerido por Ella Lei um aumento de salários médios de modo a restringir a contratação de pessoas de fora, “a média que vai ser exigida pode vir a ser considerada a referência para o salário mínimo no território”. Se a medida pode não ser um problema para áreas como o jogo, já para as pequenas e médias empresas que necessitam de mão-de-obra especializada tal requisito pode impedir o seu desenvolvimento. “As operadoras de jogo têm um mercado e as PME têm outro. As grandes podem contratar com grandes salários, mas as outras não”, explicou. Para Kou Ho In não é admissível que, com a falta de trabalhadores locais, se possa exigir a saída dos que existem. “Depois ainda dizem que os TNR têm de sair e como é que as empresas vão desenvolver os seus negócios?”, questionou. As medidas apresentadas por Ella Lei “só vão aumentar os custos suportados pela entidade patronal e não vejo nenhumas medidas que favoreçam a parte patronal”, destacou o empresário. “Não conseguimos ter aqui nada para combater a falta de recursos humanos”, rematou. TNR, apenas os necessários Lionel Leong, em resposta, afirmou que “em relação à política de importação de mão-de-obra estrangeira, os TNR que existem estão a suprir as faltas de trabalhadores locais”. O secretário da Economia e Finanças justifica a contratação de TNR como necessidade no processo e diversificação da economia. “Temos de dar oportunidade às indústrias emergentes que vão precisar de recursos humanos”, afirmou. Para o governante, a integração de TNR em cargos de topo não vai influenciar as possibilidades de ascensão de carreira dos residentes. “Algumas destas indústrias podem não ter profissionais desde o nível mais básico ao intermédio ou ao mais alto, pelo que temos de facultar a ascensão de carreira para que os locais possam agarrar as suas oportunidades para subir nos quadros. Ao mesmo tempo, temos de identificar as necessidades e dar oportunidade para que possam ter os melhores profissionais”, explicou Lionel Leong. O secretário para a Economia e Finanças não deixou de mencionar que o facto de Macau registar uma baixa taxa de desemprego, que atinge apenas 1,9 por cento, “não o deixa satisfeito” sendo uma taxa nula o ideal a atingir. O Governo salienta ainda que já “tem um mecanismo de intervenção para os TNR que saem de Macau em 2017 e 2018, de modo a preencher as vagas por trabalhadores locais”. Lionel Leong em Lisboa na próxima semana O secretário para a Economia revelou ontem que na próxima semana vai a Portugal, mas não deu detalhes sobre a visita. “Muito em breve, na próxima semana, irei a Portugal e também irei ter contactos com as autoridades portuguesas, irei manifestar o nosso desejo de melhorar esses trabalhos protocolares, aquando da recepção de autoridades da outra parte. (…) Vamos continuar a manter uma boa relação entre Portugal e Macau”, disse, ao justificar a falta de presença oficial na recepção do primeiro-ministro António Costa na sua vinda a Macau. No âmbito da cooperação, Lionel Leong afirmou aos deputados que, no próximo ano, o Governo vai apoiar a organização de “uma visita ao Brasil para os representantes das províncias e regiões do Pan-Delta do Rio das Pérolas”.
Sofia Margarida Mota PolíticaLAG 2017 | PME podem ter novos subsídios e formação adequada A aposta nos apoios a pequenas e médias empresas é vista pelos deputados como estratégia a seguir para a diversificação económica. Na sequência dos apoios que têm sido dados, Lionel Leong não deixa de lado a ideia de atribuir, uma segunda vez, subsídios àqueles que não tiveram sucesso aquando da criação do primeiro negócio [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o debate sectorial das linhas de Acção Governativa de ontem, dedicado à Economia e Finanças, Lionel Leong, secretário da tutela, admite a possibilidade de criar um segundo programa de apoios às pequenas e médias empresas. Desta vez, e para além dos apoios para a criação de negócios, a medida pode representar uma segunda oportunidade para aqueles que, em caso de insucesso na primeira iniciativa, pretendam agora, com formação e experiência, ter uma nova oportunidade. “Estamos a pensar criar um segundo programa de apoios às PME”, afirmou Lionel Leong. No entanto, a medida não pode ser tomada sem avaliação de outros factores. “Temos de ter muito cuidado porque o primeiro fracasso pode ser desmotivador e o segundo pode agravar ainda mais a situação”, sublinha, sendo que afirma estar disposto a “ouvir propostas e repensar sobre este eventual programa acerca da atribuição do segundo subsídio a jovens empreendedores”. A ideia de criar uma segunda oportunidade aos empreendedores locais foi dada pelo deputado Ma Chi Seng que contou ter conhecimento de casos que faliram no primeiro investimento e numa segunda tentativa obtiveram sucesso. “Houve um empreendedor que queria apoios para cerimónias de casamento. Depois de montado o negócio, não teve sucesso e agora, numa segunda oportunidade em que alargou a oferta, está a ser bem-sucedido”, explicou. O deputado solicita ainda um maior apoio no que respeita a serviços de consultadoria oferecidos pelo Executivo, à semelhança do que se passa noutras regiões. Formar para investir Outra questão levantada por Ma Chi Seng foi a necessidade de formar os jovens que querem vir a ser empreendedores. “Quando os jovens querem ter negócios precisam de ser formados tanto moralmente, como no que respeita a contas, finanças e modos de expansão do negócio”, explicou. A sugestão justifica-se com o facto de que “as pessoas terem dificuldades em perceber como gerir as suas empresas”. Por outro lado, Ma Chi Seng sugere ainda a cooperação entre os diferentes gabinetes do Governo, de modo a dar aos empreendedores “uma mentalidade e pensamento mais diversificados e a saberem melhor em que saídas apostar”. Com números na mesa, o deputado questionou Lionel Leong sobre as medidas que tenciona tomar: “Sabemos que 32 por cento dos inquiridos que tiveram fracasso no primeiro negócio querem abrir o segundo”. O governante não deixou de sublinhar que os candidatos vão ter como requisito de candidatura a formação adequada e garantiu “pensar na ideia” deixada por Ma Chi Seng. “O Executivo tem dado muitos incentivos e apoios aos jovens para terem o seu negócio. Ao verificar que os candidatos apresentam alguma inexperiência, vamos implementar cursos de formação para os ajudar a saber como realizar os seus sonhos.”
Sofia Margarida Mota PolíticaAMCM: Pearl Horizon não afecta sistema financeiro [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] questão da sustentabilidade do sistema financeiro foi levantada pelo deputado Mak Soi Kun, que argumentou que o facto de existirem mais de três mil proprietários do Pearl Horizon lesados com os investimentos feitos pode vir a afectar a estabilidade bancária local. “Pode atacar a estabilidade bancária porque as pessoas podem não pagar atempadamente aos bancos, o que implica riscos financeiros”, justificou. Em resposta, Anselmo Teng, presidente da Autoridade Monetária de Macau (AMCM), tentou relativizar as preocupações afirmando que o caso em questão “não afecta muito o sistema financeiro de Macau”. De modo a clarificar a situação, Anselmo Teng apresentou dados: os empréstimos contraídos para aquisições no empreendimento representam 0,58 por cento dos empréstimos bancários, pelo que “não é um número muito elevado e não temos qualquer caso de risco nos bancos”. No entanto, o presidente da AMCM sublinhou que a situação está a ser devidamente acompanhada, de forma a que as respostas aos lesados possam ser dadas atempadamente.
Hoje Macau SociedadeCrimes relacionados com o Jogo subiram 16 por cento até Setembro Não há razões para preocupações, garante Wong Sio Chak. Os números indicam uma subida dos delitos ligados à principal indústria do território, mas são praticados e têm como vítimas pessoas que não são de cá [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] criminalidade relacionada com o jogo aumentou 16 por cento entre Janeiro e Setembro, comparando com os mesmos meses de 2015, com os sequestros a subirem 13,3 por cento (para 349 casos) e a usura 45 por cento, segundo dados ontem divulgados. No entanto, “registou-se um abrandamento na subida” destes crimes, realçou o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, destacando que no primeiro trimestre os sequestros – normalmente relacionados com jogadores com dívidas – tinham subido 32,8 por cento e no primeiro semestre 27,1 por cento. Também a usura (ou agiotagem) tinha crescido 55,9 por cento nos primeiros três meses do ano e 52,3 por cento no primeiro semestre. Entre Janeiro e Setembro, manteve-se, por outro lado, o padrão de os crimes relacionados com o jogo envolverem, na sua maioria, “ofendidos e suspeitos” não residentes em Macau, de a maioria dos casos ocorrer dentro dos casinos e de os processos terem sido “abertos por iniciativa própria da polícia”. “O que quer significar que a sua ocorrência não constituiu impacto na segurança da sociedade de Macau”, afirmou o secretário, que voltou a referir os três casos de sequestro que resultaram em três mortes que romperam com o padrão e saíram do espaço dos casinos, ocorridos no final de Agosto e início de Setembro, e que eram já conhecidos. Eram casos de pessoas com dívidas de jogo, sequestradas pelos credores: duas delas cometeram suicídio e uma morreu numa queda quando tentava fugir, segundo a polícia. “Embora os casos tenham sido resolvidos e não tenham trazido consequências negativas para a segurança da sociedade, não significa que não mereça a nossa atenção”, disse Wong Sio Chak, que garantiu que as autoridades de Macau “acompanham de perto” estas situações de “disputas de empréstimos para o jogo”. Factos e argumentos Por causa dos sequestros, a criminalidade violenta em Macau aumentou 8,4 por cento nos primeiros nove meses do ano, mas também aqui, sublinhou o secretário, houve um abrandamento em relação à taxa de crescimento anterior de 14,8 por cento no primeiro semestre, e crimes como homicídios ou raptos mantiveram-se sem qualquer ocorrência. No entanto, neste capítulo da criminalidade grave e violenta, duplicaram os crimes de “associação criminosa”, que passaram de 11 para 22 nos primeiros nove meses do ano, comparando com 2015. O secretário disse que estão em causa seis casos ligados à imigração ilegal, outros seis a sequestros, quatro a usura, e três a prostituição, entre outros, atribuindo este aumento “ao reforço das operações” contra estes crimes. Entre Janeiro e Setembro foram também detectados dois casos de “associação secreta” (não tinha havido nenhum no mesmo período de 2015), relacionados com imigração ilegal e prostituição, que estão ainda em investigação, afirmou. No entanto, até agora, a polícia continua a não detectar “qualquer anormalidade no comportamento de associações secretas” devido à quebra das receitas dos casinos, durante 26 meses, entre meados de 2014 e Julho deste ano, afirmou o secretário, que conclui, mais uma vez, que “o ajustamento no sector do jogo não trouxe quaisquer consequências para a situação de segurança de Macau”. A evolução da criminalidade ligada ao jogo, com o abrandamento no terceiro trimestre do ano, continua, assim, a evidenciar “as relações entre a segurança e o ajustamento” no jogo, disse ainda.
Hoje Macau China / ÁsiaXi Jinping contra isolacionismo de Donald Trump No fim de um périplo pela América Latina, o Presidente chinês promete continuar a impulsionar o livre comércio e alerta para os desafios da globalização [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] isolacionismo patente nos discursos de Donald Trump, Presidente eleito dos Estados Unidos, parece contrastar com a nova dinâmica da diplomacia chinesa, com Pequim a assumir agora a defesa do livre comércio e da globalização. Na América Latina, uma região conhecida como o “quintal” dos EUA, o Presidente chinês, Xi Jinping, prometeu esta semana “impulsionar a construção de uma área de livre comércio na Ásia Pacífico e uma economia mundial aberta”. Xi terminou ontem um périplo por Equador, Peru e Chile. Em Lima, participou da cimeira dos líderes da APEC (Fórum de Cooperação Económica Ásia-Pacífico), que teve como um dos principais temas a criação de uma área de livre comércio para a região. Durante a cimeira, Xi lembrou que a globalização é “uma faca de dois gumes”, questionada por “muitas vozes” e instou a comunidade internacional a abordar seriamente estes “desafios”. No Equador, que atravessa uma recessão, o líder da China inaugurou a maior barragem hidroeléctrica do país, construída por uma firma chinesa e paga com parte dos quase oito mil milhões de dólares que Pequim emprestou ao país desde 2007. Os maiores A China tem acordos de livre comércio com Costa Rica, Chile e Peru e está a negociar novos acordos com o Uruguai e a Colômbia. Em 2015, o país asiático ultrapassou os EUA como o principal investidor externo na América Latina. O investimento directo chinês na região subiu no ano passado 67,1%, em termos homólogos, para 21,45 mil milhões de dólares, segundo dados do Ministério do Comércio da China. A estratégia de Trump para a região inclui romper com o Tratado Norte-Americano de Comércio Livre (NAFTA) e abandonar o Acordo de Associação Transpacífico (TPP), para além de construir um muro na fronteira com o México. “A China insiste que a globalização é um processo irreversível, para nós e para o mundo”, diz à agência Lusa Cui Shoujun, director do centro de estudos para a América Latina da Universidade Renmin, em Pequim. “Histórica, geográfica e até politicamente, a América Latina é vista como o quintal dos EUA”, nota. “Mas agora estamos numa era global”, acrescenta. Face ao anúncio de que Trump vai retirar os EUA do TPP, vários países voltam-se para tratados alternativos, nomeadamente o Acordo Integral Económico Regional (RCEP). Esta zona de livre comércio incluiria a China, os dez países da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), Austrália, Coreia do Sul, Índia, Japão e Nova Zelândia. Esta semana, um porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros afirmou que Pequim espera que as conversações para a criação do RCEP “possam produzir resultados em breve”. No ano passado, Xi anunciou que, até 2025, o comércio bilateral entre a China e a América Latina alcançará os 500.000 milhões de dólares, enquanto o investimento chinês na região atingirá os 250.000 milhões. “A China pode ajudar a América Latina a internacionalizar a sua economia”, defende Cui Shoujun. “Partilhamos das mesmas aspirações com os países da região, de que enquanto nação em desenvolvimento, não estamos devidamente representados no novo milénio”, acrescenta. Em entrevista à Lusa, o novo embaixador do Brasil em Pequim, Marcos Caramuru de Paiva, notou que a China “impõe-se naturalmente” e “força todo o mundo a adaptar-se a uma nova realidade”. “Você precisa incorporar esta realidade e tentar extrair o melhor que puder”, disse, acrescentando: “Não adianta brigar com a realidade como ela é”.
Hoje Macau China / ÁsiaEmpresa chinesa compra portal de viagens Skyscanner [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] maior agência de viagens ‘online’ da China, a Ctrip, vai comprar o Skyscanner, o site que procura e compara preços de centenas de companhias aéreas, por 1,4 mil milhões de libras. As duas empresas confirmaram ontem o negócio, que será feito quase todo em dinheiro. A Ctrip, que é detida em parte pelo motor de busca chinês Baidu, permite aos utilizadores fazer reservas pela Internet de bilhetes de avião e comboio e de hotéis. No ano passado, gerou 350 mil milhões de yuan em receitas brutas, segundo informações no site oficial da empresa. “A Ctrip é claramente a líder de mercado na China e uma empresa que nos poderá dar muito a ganhar”, afirmou em comunicado o chefe executivo da Skyscanner, Gareth Williams. A aquisição permite à Skyscanner “dar mais um passo no sentido de tornar as buscas o mais simples possível para os viajantes de todo o mundo”, acrescentou. Com sede em Edimburgo, na Escócia, a Skyscanner disponibiliza serviços semelhantes ao da Ctrip e tem 60 milhões de usuários, a maioria na Europa. O negócio permitirá à empresa manter a sua actual equipa de gestão, detalha o comunicado. O fundador e presidente executivo da Ctrip, Liang Jianzhang, afirmou que “a aquisição vai fortalecer os motores de crescimento de ambas as empresas a longo prazo” e que a Skyscanner “irá complementar” a posição da empresa chinesa “à escala global”. No relatório relativo aos resultados do terceiro trimestre, a Ctrip anunciou ainda a aquisição de “dois grandes operadores turísticos norte-americanos especializados em servir turistas chineses”, sem mencionar os nomes. Aposta exterior Vários grupos privados chineses têm investido em activos do sector turístico fora do país, à medida que a China reforça a sua posição como maior emissor mundial de turistas. O grupo Fosun, que este domingo anunciou ter investido 174,6 milhões de euros para ser o maior accionista do banco português BCP, e que detinha já em Portugal a Fidelidade e a Luz Saúde, comprou em 2015 o Cirque du Soleil e concluiu a compra do Club Med. Aquele consórcio detém também uma participação no operador turístico Thomas Cook, com sede no Reino Unido. O grupo chinês HNA, accionista da TAP através do consórcio Atlantic Gateway e da companhia brasileira Azul, anunciou no mês passado a compra de 25% do capital da cadeia hoteleira norte-americana Hilton. Pelas contas do Governo chinês, 120 milhões de chineses viajaram para fora da China Continental em 2015, um aumento de 19,5% face ao ano anterior.
Sofia Margarida Mota EventosNjo Kong Kie, director musical: “Estamos a sair das fronteiras da arte” “Um Piquenique no Cemitério” é o nome da peça que vai estar no Centro Cultural de Macau a 2 e 3 de Dezembro. O espectáculo conta com a direcção musical de Njo Kong Kie que, apesar de radicado em Toronto, aproveita as vindas a Macau para trabalhar em projectos locais. O compositor falou ao HM do espectáculo, dos desafios que enfrentou e do mundo da arte alternativa local O que é que vamos ver neste “Um Piquenique no Cemitério”? A peça é, na sua essência, um concerto. Por isso vamos ouvir música. Numa outra camada do espectáculo temos diferentes elementos que incluem vídeos e interpretação dramática e, por último, é uma peça em que tivemos o cuidado de incluir o público. Contracenam com a audiência? Quando começámos esta peça, há três anos no LMA, enquanto parte do Festival de Artes de Macau, tivemos o cuidado de desenhar um espaço em que o público e os artistas partilhassem a mesma área, o que possibilita a interacção e a integração de novos elementos. Agora, estamos a transferir a ideia para o pequeno auditório do Centro Cultural de Macau (CCM) em que a sala, dadas as suas características, implica uma certa separação dos espectadores mas, ainda assim, queremos manter o espírito de partilha do espectáculo entre as duas partes. Há vários aspectos que estamos a tentar contornar com novas escolhas cénicas em que as interacções com a audiência serão mantidas, e vamos tentar fazer com que o público sinta que estamos a dialogar e que está no mesmo espaço. Mas, acima de tudo, esperamos que as pessoas tenham oportunidade de assistir a um bom espectáculo e de ouvir boa música. Que música é que foi, especificamente, concebida para o espectáculo? Vamos ter um conjunto de composições que integram a música clássica e contemporânea com um toque experimental, misturadas com alguns sons mais comerciais e populares. Gosto de pensar que, algures neste espaço musical, estamos perto da música clássica, mas não demasiado perto. Tem raízes clássicas, o que faz parte da minha formação, mas algumas pessoas poderão pensar que é música minimalista e não estarão erradas. Temos também tido feedback de que o som se assemelha a música para cinema, o que quer que isso seja. Acho que, possivelmente, é porque o som desta peça, de alguma forma, evoca algumas imagens e, por isso, o mais próximo dos adjectivos que as pessoas encontram para a descrever é a de ‘música para cinema’. Certamente que tem muito ritmo e ao mesmo tempo é muito lírica. É um instrumental para piano, violino e violoncelo, que são o coração da orquestra, mas também temos guitarra clássica e eléctrica, por exemplo. Qual foi o maior desafio na concepção desta peça? Penso que o maior desafio foi enquadrar as interpretações dramáticas num espectáculo musical. Muitos dos temas saíram de um álbum que criei há uns anos e escrevi as peças enquanto estava em digressão. Estivemos na estrada durante dois anos e a fazer sempre o mesmo repertório. Depois de alguns meses, comecei a tentar encontrar formas de manter a orquestra motivada, de modo a combater a rotina, e comecei a escrever pequenas peças para que nos divertíssemos. Incorporei essas peças nos ensaios para manter as pessoas entusiasmadas e isso foi um sucesso. Após um tempo, tinha acumulado uma dúzia de pequenas peças musicais em que cada uma tinha a sua própria personalidade. A parte musical acabou por ser relativamente simples na medida em que estava praticamente composta. Mas os músicos não estavam muito habituados a tocar música mais minimalista. É um género em que é difícil manter a concentração e alguns dos músicos acharam, por exemplo, difícil a precisão rítmica que tinha de ser mantida quase como se se tratasse de uma máquina para que a peça se mantivesse una. Isto foi um desafio nos ensaios: manter a peça coesa. No entanto, sem dúvida que o maior dos desafios foi manter esta coesão em formato teatral. Incorporar todos os elementos, os músicos com os actores com quem estou a trabalhar e toda a encenação. É como conceber toda uma história nova porque apenas a música seria uma abordagem muito abstracta. Um piquenique no cemitério não é uma imagem ou tema comum… Quando temos um título, especialmente um título como este, as pessoas esperam encontrar algum tipo de respostas no espectáculo. Quando estamos a apresentar a peça num espaço alternativo, é mais fácil as pessoas sentirem a peça e enquanto a sentem não fazem perguntas que poderiam, eventualmente, fazer. Apesar de a peça ser, muitas vezes, pouco clara, essa característica também permite às pessoas terem a liberdade de sentir. “Um Piquenique no Cemitério”, apesar de ser acerca da morte é, acima de tudo, acerca da vida e de como é que pode ser abordada num cenário como o sugerido pelo nome. A peça acaba por ser irónica e questiona um pouco o que é que fazemos durante a viagem que nos leva da vida à morte. A peça tem andado em digressão há três anos. Sim, temos estado em vários sítios e estivemos em Portugal também, por exemplo. Penso que a recepção em Portugal foi muito especial por termos estado em diferentes tipos de espaços – desde espaços convencionais, como a Fundação Oriente e o Centro Cultural de Famalicão, a um restaurante em Vila Real. Estivamos também no Maus Hábitos, no Porto. Cada um destes espaços era muito diferente e tinha características próprias, e com audiências também características. No restaurante, por exemplo, o público que tínhamos era de pessoas que iam lá regularmente. Era um público muito pequeno e em que estávamos todos muito próximos e correu muito bem. Por outro lado, quando estivemos no Maus Hábitos, o ambiente era muito idêntico ao do LMA, muito independente e correu tudo muito bem, acabámos por integrar objectos que apareciam no espaço na própria encenação, o que também resulta. Esta é uma peça muito dinâmica. Gostamos de transferir a energia que sentimos no espaço para o espectáculo e queremos estar relaxados. Afinal, estamos a falar de um piquenique num espaço inusitado: o cemitério, por não se saber o que se passa além da morte, é sempre um lugar do desconhecido. É uma espécie de humor negro. Uma peça para todos e em todo o lado? Sim, até porque não tem um idioma. É universal. É uma coisa que tem, acima de tudo, que ver com tempo. Há um sentimento de nostalgia na peça. Usamos em alguns pontos legendas idênticas às que se usam no cinema mudo com pequenos trechos de texto, em inglês e chinês que, basicamente, servem para guiar o pensamento consoante o que se vai ouvindo. Tem sido um grande caminho até ao CCM… Agora sentimos que já podemos ir a esta sala sem correr o risco de sermos mal entendidos. Já é uma peça conhecida e temos alguma experiência em preparar o público antes da sua entrada, para que não entendam mal o nosso trabalho. O que têm planeado para o futuro? Vamos continuar com “Um Piquenique no Cemitério”. Já temos um espectáculo agendado para o Japão na continuação das nossas apresentações internacionais. Estamos na presença de um espectáculo alternativo e experimental. Da sua experiência, como é que Macau olha para este tipo de criações? Quando comecei a colaborar mais regularmente com artistas locais, em 2008, fiquei logo surpreendido com a quantidade de pessoas ligadas a trabalhos experimentais. Parece existir um grande fosso entre os clássicos tradicionais, que já não fazemos muito, e aquilo que muitos artistas contemporâneos estão a fazer e que são as suas próprias criações. Por exemplo, em Macau não há muita gente a fazer Shakespeare ou, tirando um ou dois que tenha visto, peças do Tchekhov. As pessoas estão a apostar em trabalhos contemporâneos e o público está na mesma linha. Temos ainda, no mundo da dança, coisas muito interessantes a ser feitas. A Comuna de Pedra, por exemplo: desloca-se aos bairros antigos de Macau para apresentar coreografias contemporâneas. O público olha para eles com um ar intrigado, mas eles fazem-no e é uma forma de mostrar o desejo de que a arte chegue a todos. O público, mesmo sem saber muito do assunto, acaba por se aproximar, ver e falar disso. Podem não entender mas acabam por gostar. Da mesma forma, fizemos uma apresentação desta peça em Taiwan num mercado, o que é também um cenário inesperado. Quando estávamos a actuar, as pessoas deixavam o que estavam a fazer e vinham ver-nos. Ter este tipo de proximidade com o público é muito especial. Aquilo que fazemos com a arte, às vezes, é tão limitado demograficamente que sabe muito bem podermos expandir-nos e chegar a mais pessoas. Por exemplo, quando pensamos no CCM não estamos a pensar que estas pessoas – dos mercados e da rua – venham ver o nosso trabalho e, com apresentações alternativas, estamos a sair das fronteiras da arte.
Anabela Canas de tudo e de nada h | Artes, Letras e IdeiasNem pena nem paixão [dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uando penso que há tanto lugar no mundo. Que ainda não se estragou tudo. Mas que estamos no bom caminho para isso, enrubescidos de vergonha mas irrascíveis de vontade e intensão egocêntrica. Apetece-me mais que muito mergulhar na micro planície calma de uma distância impossível de conseguir senão na consciência. Na alienação de todas as palavras de uma desconstrução que não tem nada de bem querer, de bem querer fazer. Bolas de bilhar sem olhar definido e permeáveis a um toque seco de uma intensão de jogo. Coloridas mas cegas em si. Reacções em cadeia. Empurrões de gotas do mesmo líquido na inquietação febril de impulsos físicos, na inércia da agitação da matéria de uma individualidade contranatura. De entidades que somos, parte de um todo indivisível. A tessitura da matéria atómica e social, a rede universal. O realismo global é a nova corrente. A nova prisão. Diálogo universal a fazer contas às estrelas. Gotas e partículas previdentes na expectativa de assistir a qual evapora, qual congela de um frio maior, qual salta por imperativos de dinâmica das mesmas e cai na margem do todo. Qual se infiltra na terra, vítima de um engano do estado do tempo e pelo mesmo erro alimenta uma partícula seca, engelhada e feia, que era afinal a invisível semente de algo. Aqueles dias, em que me apetece encolher os ombros, os joelhos, tricotar rapidamente um casulo de lã Mohair desde as pontas dos dedos dos pés pintados, até às pontas dos cabelos lineares e bidimensionais. Espalmar toda a subjetividade num pedaço pequeno papel e fechá-lo num livro bom. De palavras boas. Cantilenas de embalar e de encantar. Já agora, com umas pétalas de flores para não esquecer as sensações e ir cheirando um perfume bom. Ou driblar uma bola rapidamente e atirá-la a uma tabela mal desenhada, vezes sem conta, encestar ou não. Com aquele ruído específico, e aquele ruído e aquele ruído do impacto, e de novo, e repetir até à exaustão. E uns calções compridos e contornados a preto para pintar depois num dia mais contente. Ou atirar pedras ao rio e ouvir o ruído do baque na água. E de novo. E de novo. Ou sentar-me e abanar o tronco para a frente e para trás. E vontade de fugir. Para fora deste circuito viciado de violência a que já nem as palavras me fogem. Vontade de ouvir tudo coado pela imensidão da água sobre mim, à minha volta, à minha frente e atrás de mim. Por todos os lados. Em todos os lados e em todos os sentidos. Fechar qualquer coisa por momentos como um casaco pesado de inverno. E esses dias em que tudo me aparece da esquina mais negra da realidade, tão real e tão reais como os outros em que se alternam momentos de maior lirismo e apaziguamento, tão real este e tão nítidos esses, mas bem mais construtivos. Dos anjos só os mais negros e ausentes. Há uma arquitectura de destruição de que não gosto. As grandes cidades como os pequenos castelos de areia, de nuvens, ou de saber ir indo com os dias sem exigir nada de ninguém, merecem o mesmo respeito. As construções sociais e as empatias coerentes. As pequenas mortes como os grandes genocídios. Todos me fazem aversão. Os grandes princípios edificantes, os pequenos gestos demolidores. De tudo se fazem palavras e mortes. Que arremessadas ao vento ferem rostos de caminho, de passagem ou de indiferença. Na realidade exijo tão pouco dos outros que sempre sou colhida de surpresa. A raiva. O ódio a fermentar numa matéria estranha em rejeição. Mas a encontrar caminho nas palavras e na lógica dos critérios. Sentir palavras infelizes e forasteiras a invadir espaço que não lhes é destinado a desenvolver diálogos que me cansam e calam. A evocar palavrões de violência a desmedir e a libertar de caixas fechadas para o efeito. De guarda. De não querer. De ferir. De recusar. E da recusa sobra o abalo do abalroar sem ter querido. Tonalidades, texturas e cores de que não gosto, a invadir-me a forma das palavras. Timbres e cheiros a putrefacção e a biis. Perpectivas militares e explodidas, estratégias. Já bastam as guerras. Deformações como doenças dolorosas da pele, dos dias, a vista de cada janela a enrugar de irascibilidade. E nessas alturas todas as palavras amargas e corrosivas se juntam em meu socorro, ansiando por se escapar do lugar fechado onde vivem e fazem alarido incómodo. Mas não as quero para mim, como não as quero para ninguém. Só que me abandonem reabsorvidas numa matéria inócua qualquer. Há dias em que o meu mundo me aparece coberto de tons de negro, um vozerio desmesurado e agreste, repleto de palavras que não quero dizer. Uma fractura que não quero sentir, um sentido que não quero medir. Há um corpo. E o meu. Imune às palavras. Último reduto a ignorá-las. E apago a luz. A paisagem de que preciso. Para sentir de que cor ficam afinal todos os negros. De que espessura se faz afinal o silêncio relativo. De que formas se prende o tacto às coisas. De que temperatura se lembra o corpo nelas. De que memória se desprendem os objectos. Tudo novo em escuro e silêncio. Mesmo as vozes esparsas da rua, parecem ignorar melhor e mais. Mais exteriores. Assim. E há felizmente pequenas réstias de quase não-luz, a entrar pelas frinchas das portadas, tábuas compridas e gonzos empenados dos anos. Pela janela das traseiras sempre aberta para o lado do avesso das coisas da casa e da rua, por debaixo da porta e por trás da qual se desce e sobe em outras vidas que não tenho que saber e não me falam. E aí ando um pouco pelas cadeiras e cadeirões das divisões imprecisas. Nocturnas de vez, mas silenciosas nunca. Sinto a frescura de paredes e o gelo da pedra e de um copo esquecido talvez no tampo de uma mesa. Bebo um resto de um vinho escuro e apalpo as roupas que não lembro de ter despido espalhadas por ali. Algo de formas invisíveis se me enrodilha nos pés -o gato ou a roupa – que devem ser meus sem os ver e o soalho é macio e não demasiado fresco. Devem estar descalços. Todos. Mesmo a roupa indistinta. Ele é silencioso. Roupas misturadas, minhas, da véspera, de há três dias, dele. Estendo-me na cama feita já noite. Nunca me deito sem a fazer. E há um corpo morno e adormecido. Minto. As costas frescas. Senti ao de leve com a mão. As omoplatas assimétricas da posição. Toco de novo. Não, não cresceram asas. O corpo dorme. Não é meu. O meu não dorme. Vigiante. Cansado. Inquieto. O outro volta-se no seu silêncio completo e a temperatura atinge-me como uma carícia. Boa. O hálito sereno e lento. Não lembro nomes nem factos ali no alo daquela proximidade viva e adormecida sem ausência. Assim. Só a enorme objectividade mesurável em graus centígrados e confortavelmente destituída de sentido. Um sono imperturbável e não perturbador. Não gosto de o acordar. Nem ninguém. Mas também porque me apetece andar por ali e pela casa solitária assim no escuro. Ele, ali. Noutros dias, não. As luzes acesas contra o desconhecido monstro da casa. Apagam-se para tudo dormir. Está quente. São dois calores, agora. Três. Se contar com o da porta fechada da noite. Viro a almofado do outro lado. O que está sempre fresco por um tempo. Não o toco. Não o quero acordar. Quero sentir toda a casa secreta e confortável. Tudo ao negro sem temor. Sem sombras. Sem relógio. E de repente, lembro-me, e avanço no outro corredor até ao fundo, com a mão na parede para não tropeçar e com uma alegria infantil dou um piparote no pêndulo do relógio do corredor, que acorda como se nada fosse. Como a iniciar o tempo do escuro. Sempre parado e preguiçoso, mas que deixo em paz para não acordar os vizinhos. E o tempo retoma em cinza fechado, fino e muito, muito escuro. E todos os sons ficam abafados lá muito atrás de qualquer realidade, por esse som ritmado que preenche a casa de uma ponta à outra. Como se fosse ela própria o interior dele. Do relógio. Dele, há um coração a reger serenamente um corpo em descanso. E em mim há algo indefinido a instalar-se sem pressa e sem palavras. Abro um livro sem nome e leio com os dedos as páginas lisas. Palavras baralhadas de vez. Tenho uma suave vontade de rir sem ter bem razão para tal. Porque tropecei, talvez no pé de um banco. Talvez o outro lado, o do ridículo daquilo tudo ao negro e assim. Lembro-me do perfume que não tenho usado e vou senti-lo. Sabe bem, também. Assim na frescura da memória meio esquecida. Como acontece com luz acesa. Tudo igual mas mais suave e mais escuro. Na verdade, tudo finalmente invisível mas palpável. Com uma densidade nova. Como uma cegueira. Uma frescura e uma novidade. E toda a subjectividade da não significação de tudo. Ali, aqui, ao negro de todas as cores. Esquecidas por detrás da luz ausente. Da pele glabra camuflada de noite mais escura, tornada escura e secreta mais do que é sentido normal. Existência discretamente apagada das cores. Apagada das horas, apagada do olhar. 36 graus acima do nada Ou além da solidão. Ou aquém dela. Ai sentada à beira e prestes a cair no sono, também. Sem olhos, sem respiração, sem ruído, sem nada. Acordo sobressaltada pelas badaladas imprevistas e histéricas de alegria, do relógio do corredor, a que nunca me lembro de dar corda. E que mesmo com corda, muitas vezes adormece esquecido de si. Também. E dou mais uma volta hesitante pela casa, a estender a perfeição do momento nocturno embalado pelas badaladas raras e pelo tique taque do relógio, a que nunca me lembro de dar corda e cujas badaladas não quero que acordem os vizinhos e que por isso deve estar quase a parar de novo. E depois a noite esgota-se e tudo volta a sofrer da luz. Ela dizia daquelas crianças sossegadas, que brincam sozinhas, que não inspiram cuidado nem preocupação: “não dá pena nem paixão”. Não era uma coisa má na voz dela. Mas há uma literalidade estranha e indivisível aí. E ele tem esse sono sossegado, ali.
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasO lago na Feira da Exposição Industrial [dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]obre Macau, o jornal A Pátria de Janeiro de 1926 refere, “que os atractivos diurnos não eram de grande monta. De feito, não temos para oferecer aos estudiosos e investigadores uma biblioteca pública, um museu; um parque bem ensombrado e de ruas asfaltadas ou cimentadas, facilitando o passeio a pé e onde não houvesse tanques sem os beneméritos peixes que devoram as larvas dos mosquitos; lanchas a motor ou embarcações a remos, de aluguer, que permitissem o passeio na Baía da Praia Grande. Oh! A bela baía que estamos em riscos de perder conspurcada pelo aterro a que Carlos da Maia sempre se opôs por destruir toda a linda perspectiva do lugar, não só pelas futuras construções, como também pela maculante modificação do conjunto. A linda avenida marginal onde se pode contemplar a sua curva graciosa de 1300 metros de extensão” iria ser “sacrificada à execução de uma ideia por alguém sugerida de uma avenida de luxo rectilínea e de mais um campo desportivo”. Então “o que nos resta para oferecer ao turista como passatempo às horas do dia? … E a noite?” Contradizendo este texto de Gregório Fernandes, o próprio, a 24 de Abril, durante a quarta reunião da Comissão, apresentou “a proposta de que fosse coberto, pelo menos com óla o coreto de música do Jardim Vasco da Gama, não só para conforto dos músicos, abrigando-os da chuva, como também por motivos de condições acústicas”. Em 1926, era extraordinário o número de novas construções. “Num abrir e fechar de olhos surgem-nos grandes edifícios e novas ruas, sobretudo para os lados de Patane, onde a Avenida Lacerda, que se estende até às alturas da Ilha Verde, já se vê literalmente ladeada de grandes fabricados, servindo quase todos de estaleiros”. Era a géneses da nova cidade de Macau, fora da parte cristã, ainda muralhada no tempo do Governador Ferreira do Amaral quando, após Portugal ser instado a tomar posse de Macau e torná-la independente da China, se não, esta seria ocupada por outra potência europeia, este mandou abriu as primeiras estradas fora das portas da cidade, expandindo-a. Tudo isso, aliado ao isolar o Campo de Mong-Há do Bazar Chinês e a constante violação das sepulturas dessa área pelos ingleses, que por aí gostavam de passear a cavalo, tal como Ferreira do Amaral, cujo hábito de cavalgar sozinho por essas paragens em 1849 lhe custou a vida e a cabeça. Era a China a mostrar de quem era Macau, cuja sua terra não era alienável. José Coelho do Amaral, Governador de Macau entre 1863 e 1866, continuou a obra de Ferreira do Amaral, abrindo uma estrada, inicialmente baptizada com o nome de Estrada do Mong-Há e depois, Estrada Coelho do Amaral e que ia da Avenida de Horta e Costa à do Coronel Mesquita. O lago da Feira A Exposição Industrial e Feira de Macau realizou-se no Campo de Mong-Há, vulgarmente denominado Campo dos Aviadores, onde a 1 de Maio de 1926 aterraram vindos de Hanói o aviador espanhol, Capitão E. Gallarza e o mecânico Arosameña, no voo Madrid-Manila. O recinto com 8 hectares era parte do terreno com aproximadamente 360 mil metros quadrados expropriado em 1901 aos chineses locais, graças ao prestígio e influência de Lu Cao. Essa zona, de várzeas, prédios, casebres e barracas, compreendida entre as estradas da Flora, Adolfo Loureiro e Coelho do Amaral e a povoação de Mong-Há, devido ao sistema de cultura era a causa do paludismo e febres, que atacavam os locais. Por isso, em 1901 planeava-se, depois de saneado o terreno, construir ruas, largos e avenidas, devendo-o transformar num bairro que podia vir a ser o mais belo de Macau. Mas parte desse terreno em 1926 encontrava-se ainda livre de construções e por isso, foi decidido usá-lo como local para o recinto da Feira e Exposição. Situado entre a Rua Conselheiro Ferreira de Almeida e as avenidas Coronel Mesquita, Sidónio Pais e Horta e Costa, havia na parte NE do seu interior um lago situado em frente à entrada do Kun Iam Tong. Este lago foi criado a partir de uma depressão que formara uma lagoa e pertencia à bacia hidrográfica de Mong-há, tal como o do Jardim do Sr. Lu-Lim-Ioc, sempre cheio de água corrente renovada diariamente e por isso não eram estes de água estagnada. O médico subchefe dos Serviços de Saúde, o Dr. Nascimento Leitão refere numa entrevista de 1926, “Os terrenos baixos e alagadiços do vale, ou melhor, da bacia de Mong-há, impropriamente conhecida pela designação de várzeas, que ainda há vinte anos se estendiam de Long-Tin-chin até ao rio (Xijiang), tem ido pouco a pouco desaparecendo sob os aterros de um bem necessário saneamento. Havia naqueles terrenos quatro depressões, permanentemente cobertas de água, que os aterros têm poupado, circunscrevendo-os num contorno mais ou menos caprichoso. Três destas depressões estão transformadas em lagos de jardins particulares, restando ainda uma delas, a mais vasta, cortada por duas estradas em três porções, uma das quais foi, por feliz ideia, convertida em lago de diversões da presente Exposição”. É este lago alimentado pela drenagem pouco profunda dos terrenos circundantes, sendo a génese da sua água nada mais do que dos poços naturais e era com ela que contavam os Serviços de Incêndios colocados no recinto da Feira. Visita aos pavilhões À entrada do recinto da feira, situada na Avenida Horta e Costa, pela forma original impunha-se o pavilhão nº 9 da Portugal-Oriente, expondo produtos de origem portuguesa. Recebeu o segundo lugar dos pavilhões com Diploma de Medalha de Ouro. Em primeiro ficou o Holland Pacific Trading Co. que levantou na ilha do lago um imponente moinho holandês com casa anexa. “Estas duas construções imprimem à feira uma nota original, quer pela sua forma, quer pelo feliz local escolhido. Expõe produtos de origem holandesa, como leite condensado, chocolates, etc.. Esta firma, que é também agente de várias companhias de navegação, apresenta várias fotografias de vapores. No meio da casa, toda ladrilhada, vê-se um pequeno monte de carvão de Moçambique que o Sr. Van Genepp”, representante em Macau da Companhia, pretende aqui introduzir. Já o terceiro lugar coube à Companhia Netherlands Harbour Works. Desde Maio de 1923 adjudicatária das Obras dos Portos, fez-se representar por um pavilhão também de gosto holandês, tendo em exposição vários modelos de barcos, gruas das obras feitas em H.K., assim como um gráfico com as diferentes fases dos trabalhos realizados no porto de Macau. Estes alguns dos pavilhões que participaram comercialmente na Feira da Exposição Industrial.