Criminalidade | Número de roubos manteve-se estável

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ados da Polícia Judiciária (PJ) mostram que o número de roubos tem vindo a manter-se estável em relação ao ano passado. Nos primeiros dez meses deste ano registaram-se 46 casos de roubo, número semelhante a 2015. Segundo um comunicado da PJ, a maior incidência dos roubos ocorreu nos novos terrenos da Areia Preta, com 13 por cento dos casos, seguindo-se o Bairro San Kio, com 11 por cento. “Houve uma grande redução de casos nos Bairro Praia do Manduco e central da Taipa, com redução de 13 por cento 12,8 por cento respectivamente”, acrescentou a PJ.

Chau Wai Kuong, director da PJ, referiu que “a ocorrência dos casos de furto em residência resulta normalmente da insuficiência da consciência e das medidas preventivas por parte da população”. Prevê-se, por isso, que a PJ continue a “cooperar com as empresas de gestão predial e as comissões de administração de condomínios”.

“O trabalho de policiamento comunitário da PJ pode ser desenvolvido com um bom ritmo em resultado da coordenação e apoio prestados pelas associações de moradores e pelos moradores. Com a boa experiência da cooperação entre polícia e cidadãos durante longos anos, poder-se-á manter uma situação estável da segurança da sociedade”, adiantaram os responsáveis, no âmbito de uma conferência de apresentação da página no Facebook intitulada “Aulas da PJ”, além de ter sido realizado um encontro sobre segurança comunitária com os participantes do projecto “Amigos da Prevenção Criminal na Área da Habitação”.

1 Dez 2016

DSSOPT | Terreno da CEM será também destinado a serviços públicos

 

 

O terreno onde ainda está localizada a central térmica da CEM será destinado, além de habitação pública, à construção de um novo centro de serviços públicos. A garantia foi dada ao deputado Si Ka Lon

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo está a planear construir mais um centro de serviços públicos na zona da Areia Preta, ao lado de um futuro complexo de habitação pública. A garantia foi dada por Li Canfeng, director dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), ao deputado Si Ka Lon.

“A RAEM reservou uma parte do terreno destinado à construção de habitação pública situado na Avenida Venceslau de Morais, onde se encontrava a central térmica, para a construção de um novo centro de serviços. Segundo o planeamento, a dimensão prevista para este centro será semelhante ao actual, e após a sua entrada em funcionamento serão ajustados os serviços a prestar, tendo em conta as necessidades, em prol de um melhor serviço de ‘One Stop Service’, de forma a prestar ao público um serviço mais célere e conveniente”, refere a resposta à interpelação escrita do deputado.

Actualmente o terreno está destinado à Companhia de Electricidade de Macau (CEM), sendo que a concessionária tem vindo a planear a saída gradual do local. Segundo a resposta de Li Canfeng, há ainda planos para a construção de mais serviços administrativos em edifícios públicos, sem pagamento de rendas a privados. “Os dois terrenos ultimamente revertidos para o Governo serão, conforme o projecto, aproveitados para a construção de instalações multifuncionais do Governo”, disse o responsável máximo pela DSSOPT.

Quanto ao actual centro de serviços na Areia Preta, para onde irá mudar-se, já no próximo ano, o 1º Cartório Notarial (após a saída das instalações da Santa Casa da Misericórdia), irá disponibilizar um total de 300 tipos de serviços, prestados por 25 serviços públicos.

Na interpelação escrita ao Governo, datada de Setembro, o deputado Si Ka Lon questionava as medidas que a DSSOPT estaria a adoptar após a publicação de mais um relatório esmagador do Comissariado de Auditoria sobre os milhões gastos em rendas com edifícios privados. Dados citados por Si Ka Lon mostram que, em dez anos, no período compreendido entre 2004 e 2014, foram gastos 5,030 mil milhões de patacas em rendas, sendo que 68 serviços públicos nunca estiveram albergados em edifícios do Governo.

Sem datas

Si Ka Lon questionou ainda os atrasos quanto à construção do campus destinado aos tribunais nos novos aterros. Actualmente está apenas a ser construído um edifício provisório junto ao lago Sai Van, que vai albergar o Tribunal Judicial de Base.

Li Canfeng apenas referiu que a construção do referido campus terá prioridade aquando da elaboração do Plano Director. “Uma vez concluída a elaboração do projecto da planta de condições urbanísticas da zona administrativa e jurídica, a mesma será enviada ao Conselho do Planeamento Urbanístico para a emissão de parecer”, concluiu.

 

1 Dez 2016

Jornalismo | Catarina Domingues vence Prémio Macau – Reportagem

 

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]atarina Domingues, jornalista portuguesa residente em Macau, foi a vencedora da edição de 2016 do Prémio Macau – Reportagem, atribuído pela Fundação Oriente. Este ano, a concurso apresentaram-se oito jornalistas, com um total de 10 trabalhos. Catarina Domingues foi premiada com uma reportagem intitulada “Amamentar”, emitida na TDM a 16 de Janeiro último.

Em nota à imprensa, explica-se que o júri entendeu ser este o melhor trabalho devido à “pertinência, actualidade e interesse do tema, à adequação da peça jornalística ao meio de comunicação utilizado e à qualidade global da reportagem”.

O júri é constituído pela coordenadora da Delegação da Fundação Oriente em Macau, Ana Paula Cleto, e por mais quatro pessoas: a professora catedrática Fernanda Gil Costa, o director do Centro Científico e Pedagógico da Língua Portuguesa, Carlos Ascenso André, a delegada da Agência Lusa em Macau, Margarida Pinto, e o director do Macau Post Daily, Harald Bruning.

Catarina Domingues nasceu em 1980, em Lisboa, e completou o ensino secundário no Liceu de Macau, regressando a Portugal em 1998 para prosseguir os estudos universitários. Frequentou o curso de Comunicação Social no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, em Lisboa, terminando a licenciatura na Universidade de Erlangen-Nürnberg, na Alemanha, país onde fez ainda um mestrado em Comunicação.

Passou por vários órgãos de comunicação social em Macau. Foi jornalista na TDM antes de partir para Pequim, onde frequentou um curso intensivo de Mandarim e trabalhou na Rádio Internacional da China. Trabalha actualmente como jornalista freelancer no território, colaborando em permanência com a Revista Macau. O Prémio Macau – Reportagem tem um valor pecuniário de 50 mil patacas.

1 Dez 2016

Consulado | Obra de Vhils chega a Macau com ajuda da Casa de Portugal

Depois da presença em Hong Kong, Alexandre Farto, o artista que cria obras de arte nas paredes, traz pela primeira vez um mural para Macau. A obra será inaugurada na próxima sexta-feira nos jardins do Consulado-geral de Portugal

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] artista Alexandre Farto, conhecido como Vhils, inaugura no próximo dia 9 o seu primeiro trabalho em Macau, um mural nos jardins do Consulado-geral de Portugal no território. O mural resulta de uma parceria entre o consulado e a Casa de Portugal.

“É uma parceria pensada em conjunto para dar a oportunidade a que o território ficasse com uma obra de um artista de renome mundial”, disse à Agência Lusa a presidente da Casa de Portugal, Amélia António, sublinhando que a entidade que dirige tem entre as suas missões a divulgação da cultura portuguesa e que o mural de Vhils poderá ser apreciado pela comunidade local e pelos milhões de turistas que todos os anos visitam a cidade.

FOTO: Carmos Correia/LUSA
FOTO: Carmos Correia/LUSA

Também o cônsul Vítor Sereno destacou que o trabalho de Vhils é “reconhecido mundialmente” e considerou que é um exemplo de que “há um Portugal moderno, competitivo, parceiro estratégico para bons investimentos”. “Com uma obra de grande valor e simbolismo, damos assim também, em paralelo, um singelo contributo para a ‘diversificação’ [económica] pedida pelos Governos central e desta região administrativa especial, criando um elemento adicional de atractividade artística para Macau”, acrescentou.

Segundo o cônsul, o mural “dá corpo a uma ideia que se começou a desenhar há cerca de ano e meio” no ateliê de Vhils em Hong Kong. Além de esta ser a primeira obra do artista em Macau, “é também a primeira numa representação diplomática portuguesa”.

Graffiti na adolescência

Alexandre Farto nasceu em Lisboa, em 1987, e terminou os seus estudos de Arte em 2008, em Londres. Vhils cresceu no Seixal, onde começou por pintar paredes e comboios com ‘graffiti’, aos 13 anos.

Captou a atenção a ‘escavar’ muros com retratos, um trabalho que tem sido reconhecido a nível nacional e internacional e que já levou o artista a vários cantos do mundo. Em 2014, inaugurou a primeira grande exposição em Portugal, o Museu da Electricidade, em Lisboa. “Dissecação/Dissection” atraiu mais de 65 mil visitantes em três meses.

Esse ano ficaria também marcado pela colaboração com a banda irlandesa U2, para a qual criou um vídeo incluído no projecto visual “Films of Innocence” e é um complemento do álbum “Songs of Innocence”. Em 2015, o trabalho de Vhils chegou ao espaço, à Estação Espacial Internacional (EEI), no âmbito do filme “O sentido da vida”, do realizador Miguel Gonçalves Mendes.

No passado mês de Março, inaugurou a primeira exposição individual em Hong Kong, “Debris”, no topo do Pier 4 (Cais 4). Paralelamente ao desenvolvimento da sua carreira criou, com a francesa Pauline Foessel, a plataforma Underdogs, projecto cultural que se divide entre arte pública, com pinturas nas paredes da cidade, e exposições dentro de portas, em Lisboa. Este ano, recebeu o prémio personalidade do ano da Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal.

1 Dez 2016

Jane Camens | Macau pode vir a acolher encontro internacional de escritores e tradutores

A escritora australiana Jane Camens esteve em Macau numa sessão na Livraria Portuguesa que assinalou o final do encontro anual da associação que dirige. Ao HM falou dos desafios da escrita e da tradução, e do desejo de que a iniciativa venha a acontecer no território

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau pode vir a acolher o encontro anual promovido pela Asia Pacific Writers & Translators Inc (APWT). A iniciativa, que tem como objectivo promover o contacto entre profissionais do meio literário, nomeadamente escritores e tradutores da região asiática, vê o território como especialmente atractivo para o efeito.

O desejo foi manifestado por Jane Camens, directora da entidade, que vê na possível realização da iniciativa em Macau uma forma de ter presentes mais autores portugueses, ao mesmo tempo que considera que é um lugar especial no que respeita às competências da tradução.

Para Jane Camens, Macau é um lugar isolado no que respeita à internacionalização literária. O facto não se deve à falta de autores ou de tradutores, mas porque as obras dos escritores locais, na sua maioria, não estão traduzidas. “Em Macau vejo muito poucos trabalhos a serem traduzidos para inglês, quer escritos em língua portuguesa, quer em língua chinesa”. A falta de acesso a trabalhos em inglês faz com que se sinta “bloqueada”. “Parece que Macau é um mundo privado e essa também é uma das características que me fascina aqui.”

Mas é também em Macau que Jane Camens vê a profissão do tradutor como uma das mais bem desenvolvidas. A autora e ex-residente do território considera que, dada esta característica de “excelência na tradução”, a cidade reúne condições para receber o encontro internacional da associação que dirige. “Estivemos aqui e conversámos com representantes da Universidade de Macau acerca da possibilidade de organizar o encontro no território. Pode ser uma oportunidade de trazer mais escritores portugueses e, francamente, penso que, aqui, existem profissionais com capacidades de tradução incríveis”, explica ao HM.

A coexistência de duas línguas e as consequências profissionais que isso traz podem ter benefícios para aprendizagem da própria APWT: “Penso que, a esse nível, também podemos aprender muito do que é feito aqui em Macau ao nível da tradução”.

A tradução não é preguiçosa

O trabalho de tradutor não é o de um transcritor numa outra língua. Jane Camens salvaguarda que esta não é a sua área mas, enquanto autora, vê o tema da tradução profundamente debatido nos encontros que organiza e fala do seu passado. “Tive uma experiência com profissionais que traduziram textos meus para espanhol e o conselho dado por um poeta italiano presente foi de que os tradutores não se devem sentir obrigados a ficar presos ao texto. Também são criadores e o texto final é de alguma forma deles, pelo que é necessário que se sintam livres para trabalhar isso mesmo”, ilustra Jane Camens.

No entanto, a missão não é simples, especialmente no que respeita a traduções literárias. A função exige um trabalho árduo e merecedor de mais reconhecimento. Jane Camens refere que “a escolha e o leque de vocabulário são os elementos mais importantes quando se fala de tradução literária. Um tradutor não pode ser preguiçoso no seu trabalho nem com as palavras que utiliza e a correspondência entre palavras tem de ser muito clara”.

Já Sanaz Fotouhi, assistente executiva da APWT, diz ao HM que um dos maiores desafios enfrentados pelos tradutores, até há pouco tempo, foi a falta de reconhecimento. “Muitas vezes as pessoas, ao lerem um trabalho traduzido, fazem-no como se estivessem a ler o original e não têm noção de que existe um tradutor que transpôs e recriou aquela obra para que pudesse ser lida por outras pessoas, noutras línguas”, explica.

Para Sanaz Fotouhi, “quando um livro é traduzido, é transformado numa outra obra e é por isso que agora os grandes prémios literários consideram a tradução”.

Da China para a China

No final do encontro anual que teve lugar em Cantão, Janes Camens não podia estar mais satisfeita. “Este encontro foi surpreendentemente gratificante. Teve a presença de muitos escritores internacionais e foi um sucesso tremendo. Tivemos participações da Islândia, de Itália e mesmo de Portugal. Mas o que mais surpreendeu foi a adesão de escritores chineses”, referiu ao HM.

Relativamente à presença de literatura feita na China Continental e dos seus autores nas iniciativas promovidas pela APWT, a participação ainda não é muita, mas já se começa a fazer sentir. A iniciativa de Cantão “proporcionou um espaço para que os autores chineses comunicassem com outros de outras origens porque achamos que isso não acontece com frequência”, apontou Jane Camens. A autora considera ainda que não existem muitas plataformas internacionais de encontro de autores do Continente porque “já existe um mercado interno massivo na China e, por isso, os autores podem tender a dizer que não precisam de sair do país. No entanto, qualquer escritor gosta de ser lido o mais alargadamente possível”.

1 Dez 2016

Hong Kong | Independentistas perdem recurso em tribunal

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s dois deputados independentistas de Hong Kong que, de acordo com a interpretação de Pequim e uma decisão do tribunal, foram impedidos de assumir o cargo, perderam ontem o recurso judicial que apresentaram.

Segundo a emissora pública de Hong Kong RTHK, o tribunal de recurso da região concordou com a decisão anterior, divulgada no dia 15, de que Sixtus Leung e Yau Wai-ching falharam a prestar juramento como deputados durante a cerimónia de tomada de posse, em que pronunciaram “China” de forma considerada ofensiva e acrescentaram palavras, comprometendo-se a servir a “nação de Hong Kong”.

O tribunal disse que “não pode haver uma explicação inocente para o que disseram e fizeram” durante a cerimónia.

O tribunal rejeitou também o argumento dos advogados dos deputados de que não deveria interferir nos assuntos da legislatura devido ao princípio da separação de poderes.

O órgão judicial disse que ambos foram automaticamente desqualificados como deputados porque nunca completaram os seus juramentos e acrescentou que “não há qualquer dúvida” sobre a questão de serem autorizados a repetir os juramentos, em termos legais.

A senhora que se segue

O departamento de Justiça de Hong Kong informou também esta semana que vai iniciar procedimentos contra a professora Lau Siu-lai, igualmente eleita deputada em Setembro, mas não deu informações sobre a fundamentação dessa argumentação.

O juramento de Lau foi rejeitado durante a cerimónia de tomada de posse, quando leu o texto muito devagar, deixando longos silêncios entre cada palavra. No entanto, Lau pôde repetir o juramento e assumir o cargo.

A 12 de Outubro, à semelhança dos outros deputados, os independentistas Baggio Leung e Yau Wai-ching, eleitos nas legislativas de 4 de Setembro, prestaram juramento, mas, devido à forma como o fizeram, este foi considerado inválido.

No dia 07 de Novembro o Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular da China, antecipando-se à decisão judicial que estava a ser aguardada, considerou que os dois deputados pró-independência não podiam repetir o juramento do cargo e tomar posse.

1 Dez 2016

Como tornarmo-nos bestas, Capítulo I

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22/11/2016

a-mae-do-dumbo-1[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]á nem os animais são o que são. Aliás nunca foram o que pareciam: as sereias, por exemplo, pelo menos as originais, as gregas, nunca tiveram rabo de pescada. São mais harpias, com toscos troncos de ave e garras. Nunca consegui contar a verdade às minhas filhas.

Em Moçambique, em 2010, uma cabra passou a ser mulher. Na Beira, um camponês encontrou dois matulões a violar-lhe a cabra. Levou-os à polícia, na ponta da espingarda. Aí perguntaram-lhe, Que quer o senhor como compensação? E ele, sisudo, respondeu, Quero que me dêem o lobolo (o dote). A coisa seguiu para tribunal, onde foi objecto de uma encarniçada discussão sobre se seria legítimo conceder-se um lobolo a uma cabra. Estrebucharam as associações ligadas à questão do género, mas o que se pode fazer: é cultura!

Houve outro caso espantoso em 2012, mais para o norte. Um régulo (o chefe da aldeia), falecido há pouco tempo, reencarnou num hipopótamo. Foi um sururu. O hipopótamo passou a ser agraciado com o petisco favorito do régulo: picapau ( um prego trinchado) e uma garrafinha de vinho carrascão. Parece que o bichano levantava uma orelha quando o chamavam pelo nome do régulo. Era encantador. A um tal ponto que o governador da província lhe fez uma visita e um tributo: levou-lhe umas caixas de vinho de boa cepa portuguesa e cem quilos de carne já cortada, para um ano de mantimentos. Respeito é respeito. As crianças descalças da aldeia aplaudiram e o professor, que lhes dá aulas sob uma árvore e sem carteiras, fez uma quadra alusiva. É o que se chama desenvolvimento humano. Eu escrevi no Savana:

«(…) literalmente acredito em tudo. Que a alminha do régulo transborde para o quadrúpede é-me pacifico. Mas o facto de acreditar em tudo, e esta é a diferença, não quer dizer que dê o mesmo valor a tudo. Uma coisa ser plausível não quer dizer que seja necessária. This is the question.

E acredito piamente que o facto do régulo ter encarnado no hipopótamo constitui uma demonstração de vanidade total dos poderes sobrenaturais do régulo. Na cadeia evolutiva dos seres, para citar Pascal, estando o homem encravado entre a besta e o anjo (para dar o nome de uma figura ao espírito), qual a vantagem de voltar em hipopótamo?

É um retrocesso. Pode até ser verdade mas é absolutamente improdutivo. Vejam lá o extremo poder que alguém exibe voltando em hipopótamo! Não seria preferível voltar como físico nuclear, o maior da região e arredores? Voltar em hipopótamo parece-me o mais disparatado dispêndio de energias. Ainda por cima pervertendo a natureza sã do hipopótamo, tornando-o alcoólico.»

Os filósofos falam disto – desta convivência entre o animal e o homem e o que deles há em nós e vice-versa. Derrida dedicou um livro ao assunto. O italiano Agamben não lhe quis ficar atrás. E já antes o Deleuze falava do devir-animal.

(Não sei o que os filósofos escreveriam sobre este assombro, ainda maior: em 2007, a STV – o segundo canal de televisão em Moçambique – fez uma reportagem sobre a mulher que supostamente teria dado à luz um bule e três chávenas de chá. Durante essa semana, nas aulas da universidade, tive que debater as dúvidas dos alunos sobre se tal seria possível, porque na verdade a metade deles queria crer nessa possibilidade.

A mim o que me espantava era a falta de ambição da parturiente. Se se pode ser mãe de um serviço inteiro da Vista Alegre, por quê ficar por um bule e três chávenas? E parecia-me até um óptimo princípio para uma economia no casamento, as nubentes primeiro paririam o recheio da casa, mobílias, candelabros, carpetes, panelas e tachos, depois a própria casa, e só depois casariam. Mas voltemos aos animais.)

Uma prova de que o devir-animal não funciona univocamente, mas sim para os dois lados, encontrei-a em Cabora Bassa, onde encontrei a fotografia que ilustra esta crónica. Ela demonstra que a Natureza via o Disney e que adora o Dumbo. Se me tivessem contado não acreditava, mas parece que Deus brinca mesmo connosco, às paródias.

Paródia e das boas foi o que aconteceu a semana passada, no sul da Líbia. Transcrevo:

“Um incidente envolvendo um macaco foi a causa inicial de um confronto tribal de 4 dias, que deixou pelo menos 16 mortes e 54 pessoas feridas na Líbia, informou no domingo um funcionário da área de saúde local.

De acordo com os moradores e relatos locais de Sabha, no sul do país, o surto de violência começou de modo inusitado, depois de um macaco, pertence a um comerciante da tribo Gaddadfa atacar um grupo de garotas estudantes que passavam pelo local.

O macaco teria puxado o véu islâmico de uma das garotas, fazendo com que os integrantes da tribo Awlad Suleiman matassem, em retaliação, três homens da tribo Gaddadfa, além do macaco – de acordo com um morador local que falou com a Reuters. “Houve um aumento da violência no segundo e no terceiro dias, com uso de tanques, morteiros, e outras armas pesadas”, disse o morador à Reuters, pelo telefone, falando na condição de anonimato por temer pela sua própria integridade física.

Na região de Sabha, uma espécie de ponto de entrada de emigrantes e de armas contrabandeadas no sul da Líbia, geralmente negligenciadas pelo Governo Central, os abusos de grupos de milícias e a deterioração nas condições de vida têm sido especialmente alarmantes.

Gaddadfa e Awla Suleimand representam as maiores e mais poderosas facções armadas da região… etc., etc.”

Pobre do véu, era o único inocente nesta história. Porque a rapariga, tenho a certeza, quando se viu sem véu, nua, gozou![/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

1 Dez 2016

O que é um “Nazi”?

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]empre que oiço dizer que fulano “é um autêntico nazi”, vem-me à cabeça um episódio da série “sitcom” norte-americana “Seinfeld”, que os fãs mais atentos devem recordar com toda a certeza: “The Soup Nazi”. Este “nazi” era um sopeiro de Nova Iorque que exigia dos seus clientes o cumprimento de uma série de preceitos, e quem não anuísse a esta espécie de ritual ou levantasse a voz para discordar, “ficava sem sopa”. A sopa era aparentemente bastante boa, o que dava ao “Soup Nazi” a confiança necessária para continuar a ser um…bem, um nazi, portanto. Não consta que o indivíduo fosse de linhagem germânica, apesar de ser um imigrante, e dava mais a entender que era originário dos Balcãs, mas a este ponto há que distinguir um partidário do Partido Nazi da Alemanha dos anos 30, ou “Nazi”, de alguém cujos ideais e a interpretação de certos conceitos coincidem, mas que não é nativo dessa confraria – um nazi. Assim, com “n” minúsculo. E há por aí  nazis que são piores qualquer Nazi.

Aqui há algum tempo, um certo tipo de direita que eu designaria por “delirante e confusionista” resolveu pegar neste conceito e tentar “baralhar e voltar a dar”. Para o efeito recorreu àquilo que tanto em política como noutra coisa qualquer é conhecido por “lógica da batata”: Se era o Partido Nacional Socialista, era socialista, e então todos os Socialistas são nazis, e a extrema-direita é afinal extrema-esquerda. Assim mesmo, e digam lá se não é “espectacular”? Pena que se confiou demasiado no estudo de mercado feito em crianças com 3 e menos anos, que pareceram achar a ideia “engraçada”. Há quem até a chamar aos outros “nazis” seja um autêntico nazi!

Anti-semitismo. Santinho. Aqui está outro conceito que alguns nazis gostam de usar para chamar todo o mundo de Nazi. Se formos tentar explicar à esmagadora maioria da população local o que é “anti-semitismo”, ou as causas do Holocausto, e porque é tão importante não esquecer esse lamentável episódio da História, tratar-se-á de um acto  tão producente como explicar a origem das touradas, ou o peso cultural e económico da pesca à baleia na Noruega. Não é que não valha a pena de todo, mas a população de Macau é respeitadora das minorias e estrangeiros q.b. para precisar de treino em como lidar com uma certa minoria, porque isto e aquilo lhes aconteceu em determinado período da História, “guess what: this is China, we know”. Convém também referir o factor “peanuts”, pois a referida minoria estará representada em Macau com um número de indivíduos entre o “zero” e a “meia dúzia de apátridas, ressabiados ou invejosos que decidiram passar para o lado dos grandalhões”.

Daí que se pode – e deve-se, tal como se recomenda – dizer que “fulano ou fulana tal são uns nazis”, sem querer necessariamente incluir aqueles detalhes referidos nos dois parágrafos anteriores. E o que é então um nazi, afinal? Pode-se dizer que é alguém que gosta de fronteiras fechadas e muros erguidos, pois só assim poderá praticar o seu “bullying” de nazi: rodeado unicamente dos seus “amiguinhos” nazis. É também alguém que culpa os mais desamparados, indefesos ou em risco pela sua própria inépcia. Pode ser ainda alguém que se tenha “desviado” para esses caminhos ínvios pelo atalho da religião, ou outra lavagem cerebral qualquer. Em suma, há muitos nazis de todos os tipos, cores, credos e origens, e conseguem ser quase todos muito, mas muito piores que um Nazi. Daqueles que já vêm com suástica e tudo, sabem?

1 Dez 2016

Papa pede tratamentos acessíveis para pobres atingidos pelo VIH

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Papa Francisco recordou no Vaticano a celebração do Dia Mundial de Luta Contra a Sida, que se assinala anualmente a 1 de Dezembro, por iniciativa das Nações Unidas, recordando as populações mais pobres atingidas pela doença.

“Milhões de pessoas convivem com esta doença e só 50% tem acesso a terapias que salvam vidas. Convido-vos a rezar por elas e pelos seus entes queridos e a promover a solidariedade para que também os mais pobres possam beneficiar de diagnóstico e tratamentos adequados”, disse, no final da audiência pública semanal que decorreu esta quarta-feira, na sala Paulo VI.

Francisco deixou ainda um apelo para que “todos adoptem comportamentos responsáveis para prevenir ainda mais a difusão desta doença”.

A ONU espera atingir uma eliminação da epidemia em 2030, tendo ainda três objectivos até 2020: que 90% das pessoas que vivem com VIH sejam diagnosticadas; atingir 90% dos diagnosticados em tratamento; que 90% dos que estão em tratamento atinjam carga viral indetectável.

O Papa falou ainda da conferência internacional sobre a protecção do património em zonas de conflito, que se realizará nos dias 2 e 3 de Dezembro em Abu Dhabi.

“Trata-se de um tema que, infelizmente, é actual. Na convicção de que a tutela das riquezas culturais constitui uma dimensão essencial da defesa do ser humano, faço votos de que este evento marque um nova etapa no processo de aplicação dos Direitos Humanos”, referiu Francisco.

A iniciativa é promovida pelos Governos de França e Emirados Árabes Unidos, com a colaboração da UNESCO.

1 Dez 2016

Emily Chan, realizadora de “Our Seventeen”, destacada nos filmes asiáticos do MIFF

Emily Chan estreia “Our Seventeen” na secção dedicada ao cinema asiático do Festival Internacional de Cinema de Macau. A realizadora local, que divide o tempo e a profissão entre Pequim e Macau, fala acerca das expectativas, da película e do futuro

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] estreia de “Our Seventeen”, de Emily Chan, está agendada para dia 9 na Torre de Macau. O filme integra a secção “Hidden Dragons”, que aborda a produção asiática.

Emily Chan, realizadora e produtora de Macau, não deixa de manifestar satisfação com o acontecimento. “Estou feliz porque é um evento internacional e é bom fazer parte dos dois filmes realizados por autores locais e que vão estar em exibição”, explica ao HM.

O convite para a participação foi súbito. “Cheguei a pensar que o filme não estaria pronto a tempo, visto ter sido acabado este Verão, mas conseguimos, apesar de passar muito tempo em Pequim”, explica. Também foi devido a um encontro em Pequim que soube do festival. E foi assim que o ex-director do evento, Marco Muller, a desafiou a participar.

A realizadora, que já passa grande parte do tempo dividida entre a capital chinesa e Macau, considera que é necessário que as produções locais se dividam entre filmes artísticos e filmes comerciais. Apesar de referir que o Governo se mostra empenhado em apoiar a indústria, acha que “o que é realmente necessário é que exista público para ver os filmes”. Por outro lado, e de forma a dar lugar à profissionalização, “os artistas locais também precisam de sair e fazer coisas fora de Macau”.

“Our Seventeen”, que se passa na altura da transferência de Administração, trata de um grupo de jovens que procuram a concretização do sonho de serem músicos, ao mesmo tempo que exploram os seus processos de auto-descoberta e de definição de valores. A realizadora diz que é uma película que trata sobretudo da ausência. “Neste filme estamos perante qualquer coisa que falta. As pessoas não estão satisfeitas, há sempre alguma coisa que não está presente”, menciona.

Para Emily Chan, a questão da ausência é uma característica de Macau. “O território está a evoluir demasiado rápido e, neste contexto, o meu objectivo é chamar a atenção para a necessidade de as pessoas pararem um pouco e se encontrarem a si mesmas.” Emily Chan opta por uma abordagem com uma baixa intensidade emocional, transversal à película. “Na verdade, a emoção do filme nunca é demasiado alta ou baixa e a ideia é que a atmosfera seja sempre caracterizada por uma calma relativa, porque a vida em Macau também tem uma certa calma, sendo que falta sempre qualquer coisa.”

As expectativas para a estreia de “Our Seventeen” não são exacerbadas. “É uma boa oportunidade para ter mais um filme em portfólio e dar a conhecer o meu trabalho, visto que o evento pode atrair muitas pessoas, nomeadamente ligadas à indústria internacional. Não tenho qualquer expectativa em especial, estou calma e receptiva ao que aparecer”, ilustra, até porque “enquanto realizadora, o que há a fazer é sempre dar o melhor que se pode”.

Uma oportunidade aos locais

Tal como a realizadora de Macau Tracy Choi (ver texto nestas páginas), a inclusão de artistas de Hong Kong na produção deste trabalho de Emily Chan acontece porque, “dada a sua experiência, são muito profissionais”. No entanto, a realizadora fez questão de “incluir e proteger a participação de elementos locais na equipa”, sendo a maioria.

O orçamento de cerca de três milhões de patacas que, apesar de situar a película numa produção de baixo custo, poderia contribuir para a contratação de mais gente da China Continental ou mesmo de Hong Kong, foi essencialmente usado para “a construção de uma equipa constituída em 90 por cento por pessoas de Macau, porque são estas que precisam de uma oportunidade, nomeadamente de poderem participar num filme dito a sério”.

“Algumas das pessoas que acabaram por financiar este filme são da China e também pediram para integrar mais elementos de Hong Kong, mas fiz questão de proteger a minha equipa maioritariamente constituída por profissionais locais”, refere ao HM.

Rebelde e contadora de histórias

O cinema apareceu na vida de Emily Chan quando ainda era muito nova. “Era muito rebelde, mas fui-me apercebendo que conseguia escrever histórias e expressar-me através de meios ligados à imagem”, recorda.

Ainda na faculdade, onde tirava um curso em Comunicação, começou por fazer alguns documentários mas, com o tempo, começou a criar histórias de ficção. Com a paixão pela realização acordada percebeu que Macau não era o lugar para a desenvolver. “Descobri que aqui não existia espaço para poder ser realizadora. Fui para Pequim e, até agora, a minha vida é de idas e vindas entre Pequim e Macau”, refere.

No geral, a maior inspiração para as histórias que conta “é a vida do quotidiano, no presente”. “Considero-me uma escritora e realizadora de histórias de amor”, diz, enquanto adianta que já está a trabalhar num novo guião que trata a história de um homem natural da China Continental que vive em Macau.

TRAILER

MAIS INFORMAÇÕES NO SITE OFICIAL DO MIFF
30 Nov 2016

Tracy Choi, realizadora: “É um filme acerca de memórias”

“Sisterhood”, a primeira longa-metragem da realizadora de Macau, estreia na edição inaugural do Festival Internacional de Cinema. Tracy Choi mostra-se especialmente satisfeita por ser o público de Macau o primeiro a ver a obra que entra na secção de competição do evento

[dropcap]C[/dropcap]Como é ter a estreia do primeiro filme no Festival Internacional de Cinema de Macau, logo na primeira edição?
É uma situação que me deixa especialmente feliz. Além de ser a minha cidade natal, é um filme que também teve parte das rodagens no território e que fala dele. Também tenho aqui os meus amigos e família, e é uma oportunidade de assistirmos juntos à estreia. Estou muito contente que isso tenha acontecido.

É um dos filmes que está em competição na principal secção do festival.
Sim. Ainda não vi os restantes filmes em competição, mas já vi os trailers. Parecem ser filmes muito bons e é uma honra poder partilhar esta secção com eles.

Quais são as expectativas que tem para esta competição?
Nenhumas.

Porquê?
Porque, apesar de não ter visto ainda os filmes, penso que já têm um carácter muito internacional. Parecem todos muito bons.

Vai apresentar “Sisterhood”. Como é que apareceu este trabalho?
Foi o projecto do meu mestrado em Hong Kong. Já tinha esta história na cabeça e quando me graduei candidatei-me a um fundo de apoio do Governo de Macau. Na altura não tinha ainda este nome, penso que se chamava “Sweet Home”, mas a história era muito idêntica. Acabei por ter um financiamento de 1,5 milhões de patacas e fui bater à porta de outras produtoras em Hong Kong para acabar de financiar o filme. Consegui, juntamente com o meu orientador de mestrado, produtoras interessadas e começámos por contratar um guionista para tratar melhor da história e escrevê-la de uma forma mais complexa e densa. Depois, o resto do processo foi acontecendo.

E que história conta?
É sobre uma mulher natural de Macau que foi para Taiwan onde viveu 15 anos. Acaba por regressar ao território, mas já não consegue dizer que se sente em casa porque não sente uma ligação à terra. Macau também tinha mudado muito ao longo desses 15 anos de ausência, pelo que não mais reconhecia a “casa”. Mas o filme também se chama “sisterhood” porque aborda a história de uma relação entre a personagem principal e uma amiga antes de ir para Taiwan, ainda nos anos 90, e da percepção de como essa relação tinha mudado ao longo do tempo.

Um paralelismo entre as mudanças de Macau e das relações?
Sim. A história começa quando a personagem principal, que se chama Sisi, mas é sempre tratada com o número 19, o número de massagista que tinha antes de ir embora, recebe a notícia de que a sua melhor amiga de juventude tinha morrido. É então que regressa a Macau no intuito de “rever” a companheira pela última vez. No regresso, encontra amigos em comum e o filho da tal amiga, que tinha ajudado a cuidar enquanto bebé. São estes encontros que lhe trazem as memórias da relação e da vida antes da partida. É um filme acerca de memórias.

Que assuntos motivam os seus filmes?
São essencialmente questões acerca de mulheres e de género. Acabam por ser os temas que mais me atraem.

A escolha de Gigi Leung, a conhecida actriz de Hong Kong, foi uma estratégia?
Sim, para atrair outro público, mas foi também uma coincidência. Enviámos o guião e ela gostou muito, pelo que aceitou fazer o papel sem pedir o cachet normal. No início foi estranho para mim trabalhar com ela, sentia-me nervosa. Mas ela é muito profissional e vinha sempre muito bem preparada para as filmagens.

Passou de uma produção muito independente para um filme de uma maior produção. Teve de fazer alguma alteração significativa ao que queria inicialmente?
No geral, não. Tive acima de tudo oportunidade de trabalhar numa escala maior e contar com profissionais de Hong Kong. Mas, e tal como pretendia, consegui envolver na equipa pessoas de Macau. Sempre quis que fosse uma produção partilhada com Macau.

Qual é o problema da indústria cinematográfica em Macau?
Penso que o maior deles é não ter audiências. Por exemplo, se foram filmes mais independentes é muito difícil conseguir algum retorno em Macau porque nunca há público suficiente. Daí a necessidade de que o filme seja vendido para outros mercados. Mas, se pensarmos no mercado continental, ficamos limitados, porque nem todos os temas são aceites. Se pensarmos em Hong Kong, temos sempre de conseguir a presença de uma estrela da indústria local de modo a que tenha público. Taiwan é outra alternativa. Mas é muito difícil o cinema de Macau encontrar um caminho. No entanto, e à semelhança da realizadora Emily Chan, a colaboração com a China Continental pode ser uma opção para o cinema de Macau.

Considera que o festival pode vir a contribuir para a indústria do cinema em Macau?
Ainda não sabemos. Claro que é uma boa oportunidade para encontrarmos profissionais de outras partes do mundo. Mas, na verdade, ainda não sabemos o que vai acontecer no festival. Estamos também ansiosos por ver o que vai acontecer.

Planos para o futuro?
Estou a trabalhar em novos projectos. A concretização de “Sisterhood” acabou por abrir muitas portas. Estou também a escrever um novo guião. A história vai ser sobre Macau e sobre a vida de uma mulher que trabalha num casino. Quero trabalhar acerca do mundo actual, e dos constrangimentos e preconceitos que ainda se vivem em Macau, especialmente por parte das mulheres.

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30 Nov 2016

José Sales Marques, presidente reeleito do CCM: “Há muito trabalho pela frente”

São mais três anos a liderar o Conselho Permanente do Conselho das Comunidades Macaenses, um mandato renovado esta semana. José Luís Sales Marques defende que é preciso as Casas de Macau têm de começar a pensar no futuro. É ainda necessária uma nova abordagem às estruturas da diáspora, para que possam ser projectos sustentados

[dropcap]T[/dropcap]em mais um mandato pela frente, depois das eleições desta semana que aconteceram durante o Encontro das Comunidades Macaenses. O que poderão ser os próximos três anos à frente do Conselho Permanente do Conselho das Comunidades Macaenses?
Espero que os próximos três anos sejam de algum avanço relativamente ao que estamos a fazer, e de alguma consolidação também do Conselho das Comunidades Macaenses e do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelas Casas de Macau. É claro que, quando falo em consolidação, não quero com isto dizer uma paragem no tempo porque, de facto, para mim consolidar significa andar para a frente. Todos nós temos muito trabalho pela frente. Ainda somos organizações com alguma fragilidade, que resultam de realidades que temos de enfrentar. O grupo tradicional que constitui as casas de Macau é um grupo com uma idade avançada. Por exemplo, este ano, a Casa de Macau em Lisboa celebrou 50 anos. O Club Lusitano de Hong Kong vai celebrar 150 anos de existência a 17 de Dezembro deste ano.

É preciso que haja então uma renovação dos membros.
A renovação dos membros é fundamental e é importante também uma certa abertura. Por exemplo, em relação ao Club Lusitano de Hong Kong, tive oportunidade de ouvir a história pela parte dos seus dirigentes: tem vindo a renovar-se, o que é muito importante. Renova-se a partir de uma maior abertura e flexibilidade naquilo que os dirigentes consideram ser os possíveis sócios do Club Lusitano. Algumas casas optam por critérios que passam por uma relação talvez um pouco restrita no que diz respeito a Macau, outras têm associado a isso a questão da nacionalidade portuguesa. Há várias situações, todas elas diferentes, há vários critérios, mas penso que, fundamentalmente, a questão mais importante é a autenticidade na ligação a Macau. Agora, essa ligação não tem de ser necessariamente de passaporte ou apenas de família – pode ser, na minha opinião, uma ligação afectiva. Com isto quero dizer que, provavelmente, se formos explorar os diversos caminhos da renovação há outras possibilidades não só de atrair mais gente jovem, como de ser um projecto sustentado. As casas – e o próprio Conselho das Comunidades Macaenses – vivem sempre com uma certa penúria de fundos. O Conselho das Comunidades funciona sem quota dos seus associados, obviamente, porque os associados são organizações que, depois, têm de viver com os seus próprios fundos. Se houver um maior número de sócios, haverá formas de procurar melhorar a situação operacional das casas – para isso é preciso algum dinheiro, são necessárias outras condições, é preciso também muitas ideias. Há aqui muito trabalho a fazer, é preciso olhar para o futuro, procurar os meios para garantir a sustentabilidade destas organizações.

Em que outros aspectos é que poderá haver renovação?
A renovação tem de ser física, desde já, com elementos mais jovens. Isso já está a acontecer nalgumas casas, no que diz respeito a novos sócios, mas terá de ser feito também ao nível das próprias direcções. As equipas dirigentes vão ter de procurar integrar elementos jovens. Haverá um período de transição, mas isso será sempre inevitável.

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Corre-se o risco de algumas casas de Macau poderem conhecer, em breve, um vazio ao nível das direcções?
Não necessariamente. Mas todos nós temos de nos preparar para o futuro. Ninguém é eterno. Deve ser uma questão de projecto: as casas devem ter como objectivo a sua própria renovação, que é fundamental. Em Macau, temos visto a Associação de Jovens Macaenses, que é uma coisa boa; outras casas terão outros esquemas de integração de jovens. Fundamentalmente, os programas é que precisam de ser capazes de atrair a participação de gente mais jovem. Muitas vezes, são programas muito tradicionais, ligados aos aspectos mais óbvios da cultura macaense – a gastronomia, algumas celebrações e tradições. Deve haver uma variedade de programas quer ao nível cultural – que é onde as casas se sentem mais à vontade e que seria a sua vocação inicial –, quer noutros programas que podem até vir a ter alguma componente económica. As casas são uma rede de nódulos, cada casa é um nódulo, e as casas são constituídas por pessoas, nalguns sítios particularmente, com muito boas ligações com a sociedade. Se calhar, há oportunidades que podem ser criadas. Dou um exemplo: uma casa do Canadá, que costuma vir à Feira Internacional de Macau (MIF, na sigla inglesa), sugeriu que se pensasse na possibilidade de mais casas participarem na MIF ou noutros eventos do género aqui no território. No fundo, é a vontade de alargar o âmbito de actividade para as questões económicas.

Em que medida é que o Conselho Permanente pode ajudar a desenvolver novos programas?
O Conselho tem de ter um papel mais activo na coordenação e na troca de informações. É uma necessidade e espero poder cumprir isso. Este mandato vem com uma mensagem clara: é necessário melhorar a intercomunicação entre as casas e o conselho terá esse papel, até para a partilha de experiências e a identificação de oportunidades para projectos unificadores, em que a maior parte das casas possam estar envolvidas. Não é necessário que sejam todas mas, pelo menos, uma parte delas. É um pouco aquela ideia da União Europeia, da cooperação reforçada. Não é preciso que toda a gente ande no mesmo caminho, mas se houver um grupo com interesse para o fazer, deve ser apoiado. Esse é um papel do Conselho das Comunidades. Outro é procurar servir de elo de ligação com as autoridades de Macau, particularmente com a Fundação Macau (FM). Em várias oportunidades, tivemos conversas com a FM que se mostra disponível, mas quer também alguma segurança de que efectivamente aquilo que está a apoiar tem que ver com os objectivos e com os projectos do Conselho das Comunidades. Portanto, o Conselho pode e deve ter esse papel de facilitação junto das autoridades locais – quem diz a FM, que é o parceiro mais óbvio, poderia dizer outros departamentos, como o Instituto Cultural e o Turismo. Falou-se muito – e já não é a primeira vez que acontece – que as casas de Macau poderiam ser úteis para a divulgação do turismo do território, por razões várias. Muitas delas têm sedes em edifícios que podem ser usados para exposições e apresentações. Seria uma sinergia interessante. A Casa de Macau em Lisboa, por exemplo, tem umas boas instalações; o mesmo acontece em São Paulo.

Estamos na semana do Encontro das Comunidades Macaenses. Como é que está a correr a edição deste ano?
Tem corrido muito bem. Obviamente, há sempre surpresas, umas mais agradáveis, outras menos, porque as pessoas estão habituadas a uma certa ideia de Macau e a cidade que hoje se apresenta é diferente. Essa é a primeira reacção – uma reacção de uma certa estranheza mas, como se diz, primeiro estranha-se e depois entranha-se. No essencial, está a correr bem. O que queremos é que, independentemente daquilo que seria a sua percepção anterior à chegada, com esta vinda seja proporcionada às pessoas uma oportunidade para conhecerem melhor a Macau do presente e do futuro próximo.

Há pessoas que não vinham cá há muitos anos.
Algumas sim. Há pessoas que não vinham cá há 40 anos – é muito tempo. Outras têm vindo com mais frequência, mas basta não vir a Macau um ano ou seis meses para parecer diferente.

30 Nov 2016

LAG 2017 | Wong Sio Chak exortado a agir no caso Pearl Horizon

No segundo dia de debate das Linhas de Acção Governativa na área da Segurança, os elogios a Wong Sio Chak foram tantos que até culminaram num pedido feito por Zheng Anting: que o Secretário interceda em prol de uma revisão da Lei de Terras, por ser um dirigente “com capacidades”

 

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]alta debater apenas as Linhas de Acção Governativa (LAG) de duas tutelas, mas quase que se pode concluir que Wong Sio Chak, Secretário para a Segurança, tem sido o dirigente mais elogiado por parte dos deputados da Assembleia Legislativa (AL) no processo de discussão do relatório. Pelo segundo dia consecutivo, os elogios foram feitos de forma directa, tendo culminado num pedido em prol dos proprietários do Pearl Horizon, de resto um assunto abordado em quase todos os debates.

“Peço ao Secretário para ter uma reunião com os restantes Secretários, incluindo Lau Si Io (ex-Secretário para os Transportes e Obras Públicas) e deputados para estudar o princípio legislativo da Lei de Terras”, reiterou ontem Zheng Anting no hemiciclo. “Peço que interceda junto de directores de serviços e do antigo Secretário para revermos a situação. O Secretário é uma pessoa com capacidades, e mesmo que o terreno seja reavido isso não impede que possa investigar”, defendeu o número dois de Mak Soi Kun.

Wong Sio Chak disse pouco ou nada poder fazer neste momento. “Não podemos encontrar uma solução para já e até o Chefe do Executivo já falou sobre o assunto. Disse que não devemos agir de forma insensível aos proprietários do Pearl Horizon. Tenho capacidade mas isso não quer dizer que tenha o poder. Todos estão cá, todos podem fazer, porque é que eu tenho de fazer? É uma questão de lógica, e eu acho que não tem lógica”, acrescentou o Secretário para a Segurança.

Wong Sio Chak disse ainda que, no último protesto dos compradores de fracções do Pearl Horizon, chegou a haver agressões contra um agente da autoridade. “Os manifestantes do dia 20 de Outubro espancaram um dos nossos efectivos, mas não fizemos nada.”

Ainda assim, “não vamos usar a força e sabemos que esta é a única forma que têm para se manifestar”, frisou Wong Sio Chak. “Temos de ter pena da sua situação, mas neste momento decorre uma acção judicial. Temos pena desses proprietários.”

Uma questão de diplomacia

Também a deputada Song Pek Kei elogiou o trabalho do Secretário, tendo até deixado no ar a ideia de que Wong Sio Chak tem vindo a ser considerado um meio estratégico para atingir objectivos.

“A população tem elogiado os trabalhos desenvolvidos pelos seus colegas, por isso é que têm pedido ao Secretário para servir de diplomata. Mas quando reúne as condições e competências, após assumir as funções, tem de se empenhar para adquirir os conhecimentos que faltam.”

Nesse sentido, Song Pek Kei alertou para a necessidade de apostar na formação dos polícias. “Nas LAG da sua área afirma que vai ter em conta os riscos, por isso vai ser uma das prioridades. Parece que há uma ideia geral de que tudo tem que ver com a polícia: a Uber, as pensões ilegais, a aplicação da lei da violência doméstica. Se isso é verdade ou não, a pressão não deve ser pouca. É preciso que os polícias tenham conhecimentos, até de Direito”, rematou a número três da bancada de Chan Meng Kam.

Durante o debate, Wong Sio Chak deixou ainda claro que a transparência é o seu objectivo. “Tentamos sempre elaborar novos planos para fazer face às transformações. Mesmo quando estava na Polícia Judiciária [foi director] envidava esforços para trabalhar e ultrapassar os obstáculos. Já me perguntaram por que venho várias vezes à AL falar das leis. Apenas queremos ser mais transparentes e este é o único método”, concluiu.

30 Nov 2016

LAG 2017 | Governo não revela novo orçamento e calendário para prisão  

 

 

O andamento das obras do novo Estabelecimento Prisional de Macau foi ontem abordado na Assembleia Legislativa, mas Cheng Fong Meng, director dos Serviços Correccionais, não conseguiu avançar qual o novo orçamento do projecto e quando é que estará pronto

 

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o segundo dia de debate das Linhas de Acção Governativa (LAG) para a área da Segurança o Governo não conseguiu avançar o novo orçamento e calendário para o novo Estabelecimento Prisional de Macau (EPM). “Houve uma verba avançada para as quatro fases do projecto”, referiu apenas Cheng Fong Meng, director dos Serviços Correccionais. “Vamos acelerar o trabalho para que o Estabelecimento Prisional de Macau possa ficar concluído o mais depressa possível”, acrescentou.

As quatro fases de construção arrancaram há seis anos, mas a segunda fase só começou em Março deste ano. As razões foram apontadas por Cheng Fong Meng. “Os atrasos estiveram relacionados com as condições geológicas do local e não se conseguiu articular com a instalação de grandes equipamentos, além da falta de recursos humanos. Em 2001 houve vários tufões e as áreas adjacentes sofreram algumas obras.” Quanto à terceira fase do projecto, o Governo “está a proceder a alterações para depois fazer o concurso público”.

A obra teve início em 2011 e a primeira fase ficou concluída apenas este ano, tendo custado 150 milhões de patacas. A segunda fase começou em Março com previsões de custos de mil milhões de patacas e uma duração de 900 dias. No passado mês de Maio, o subempreiteiro da primeira fase acusou o Governo de falta de pagamento, referindo que o design da obra sofreu múltiplas alterações durante a construção.

Escola na prisão?

Em relação à actual prisão, até 31 de Dezembro o EPM registava uma ocupação de 82,1 por cento, num total de 1565 reclusos. “A nossa direcção vai continuar a acompanhar a situação dos reclusos e queremos aumentar o número de camas”, rematou Cheng Fong Meng.

O Secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, deixou ainda no ar a possibilidade de as actuais instalações, em Coloane, poderem vir a albergar a escola das Forças de Segurança de Macau (FSM). A falta de espaço na actual instituição de ensino tem sido muito abordada. “As actuais instalações do EPM poderão ser destinadas à FSM, mas isso carece de um planeamento por parte do Governo. O essencial agora é criar um novo estabelecimento prisional.”

30 Nov 2016

AL | Concluída análise ao orçamento de 2017

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] 1ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) concluiu ontem a apreciação da proposta de Orçamento para 2017. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, Kwan Tsui Hang, presidente da 1ª Comissão, disse que a proposta não gerou qualquer polémica, sendo que o parecer com as opiniões será elaborado o mais depressa possível, para que possa ser aprovada na especialidade já no próximo dia 16.

Para Kwan, o orçamento do próximo ano é “prudente” e “tem como princípio a poupança”, prevendo-se um excedente de 5,56 mil milhões de patacas. Tendo em consideração a sucessiva conclusão de vários empreendimentos de grande escala na Cotai no próximo ano, o Governo pretende investir mais nas obras públicas para impulsionar o desenvolvimento económico. “O sector de construção vai ter um maior impacto no próximo ano, por isso, a montante das despesas das obras vai aumentar para impulsionar a economia. Achamos que o mais essencial é atribuir importância à taxa de execução das obras.”

O rendimento previsto pelo Governo para o orçamento do próximo ano é de 102,94 mil milhões e as despesas são de 95,72 mil milhões, em que três mil milhões são para a Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. Há também 36 obras públicas cujos orçamentos ultrapassam os cem milhões de patacas.

30 Nov 2016

Deputados contra penas pesadas no consumo de droga

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá concluída a análise em sede de especialidade do diploma que revê a chamada lei da droga. De acordo com a Rádio Macau, a Assembleia Legislativa (AL) arrasou a proposta do Governo, no parecer ontem assinado. Os deputados criticam o que dizem ser uma “postura do século passado” e vincam que há 50 anos que “não há em Macau uma pena de prisão tão elevada para o crime de consumo” de estupefacientes como aquela que é proposta pelo Executivo.

A 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa está contra o que entende ser um “fortíssimo agravamento” das penas para consumo, por considerar que se volta a tratar o consumidor como um criminoso e não como uma vítima. O diploma prevê que quem consome estupefacientes pode ser punido com um ano de cadeia, uma pena quatro vezes superior à actual.

Os deputados entendem ainda que a proposta está em “claríssimo contraciclo”, sem que as explicações do Governo tenham sido consideradas “plenamente satisfatórias”, sendo que apontam que os crimes de consumo estão a baixar e a tendência é a descriminalização do consumidor.

Ainda de acordo com a emissora, o parecer permite perceber que o Executivo não acatou várias sugestões deixadas pela AL, desde logo a criação de um regime de desintoxicação obrigatório. Os deputados pretendiam ainda que o abandono de seringas fosse considerado crime, nalguns casos, hipótese que também não acolhida pelo proponente.

De igual modo, o Governo não vai aumentar as penas para os casos de tráfico transfronteiriço, fenómeno que tinha sido, de resto, utilizado para a revisão da lei.

30 Nov 2016

EPM | Eleições impugnadas pela Lista B. Adiamento para terça-feira

Manuel Gouveia, candidato à presidência da associação de pais da Escola Portuguesa de Macau pela Lista B, resolveu impugnar as eleições por não ter tido acesso aos cadernos eleitorais. Dois membros abandonaram a lista. O novo acto eleitoral está agendado para a próxima terça-feira

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]inda não foi desta que os pais escolheram o seu representante para a associação de pais da Escola Portuguesa de Macau (APEP). Manuel Gouveia, líder da Lista B, uma das duas candidatas ao acto eleitoral de ontem, resolveu pedir a anulação das eleições por não terem sido concedidos os cadernos eleitorais por parte da Lista A.

O documento, enviado ao HM, deixa claro que Manuel Gouveia se mostrou incomodado com o facto de nunca ter recebido informações sobre os cadernos eleitorais e os associados com capacidade de voto. Nas suas palavras, tal situação “afigura-se insólita, incompreensível e inaceitável, em manifesta contravenção dos princípios da boa-fé e igualdade, que distorcem de forma irremediável o processo eleitoral em curso, eivando-o do vício da anulabilidade”.

“O acto silente de todos e cada um dos órgãos da APEP é significativo da postura dos respectivos membros em funções que primam pelo facto consumado”, lê-se ainda. “Não é essa a nossa maneira de estar e não podemos compactuar com este tipo de práticas que viciam de forma incontornável o acto eleitoral ao não dar a possibilidade que a Lista A teve de contactar directamente aqueles a quem o mesmo se destina: os associados que constam do caderno eleitoral e do ficheiro de associados activo da APEP.”

Membros saíram

As eleições começariam ontem às 18h, tendo tido uma grande adesão por parte dos encarregados de educação, soube o HM. Carlos Simões, membro da Lista A e presidente da mesa da assembleia-geral, acabaria por coordenar a votação do novo dia das eleições, tendo estas sido reagendadas para a próxima terça-feira, dia 6.

O HM sabe ainda que dois elementos resolveram abandonar a Lista B por não se reverem nas palavras de Manuel Gouveia. Este terá assinado a sua presença e saído nas instalações da EPM, tendo cabido a outro membro da lista a tarefa de ler o documento que pedia a impugnação das eleições. Manuel Gouveia remeteu mais esclarecimentos para Carlos Simões, com o qual não foi possível chegar a contacto até ao fecho desta edição. Também não foi possível chegar à fala com Valéria Koob, candidata à presidência da APEP pela Lista A.

30 Nov 2016

Novo hotel de Zaha Hadid no Cotai já foi baptizado

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m dos últimos projectos da arquitecta Zaha Hadid, que morreu em Março, é em Macau e foi ontem baptizado: chama-se Morpheus e é o primeiro hotel ‘free form’ com um exosqueleto, ou seja, suportado pela estrutura exterior.

O novo hotel da Melco Crown só vai abrir portas em 2018, mas pormenores do projecto foram ontem revelados, depois de, em 2014, a imagem do exterior da torre ter sido divulgada.

“É uma peça muito transparente e porosa. Isto não poderia ter sido construído há dez anos, é muito difícil”, disse Patrik Schumacher, sucessor da primeira mulher vencedora do prémio Pritzker, considerado o Nobel da arquitectura, em 2004.

Schumacher refere-se à estrutura particular de Morpheus – nome do deus dos sonhos, já que o hotel faz parte do complexo da Melco, City of Dreams –, que quase não tem colunas e é antes suportado por um esqueleto que envolve o edifício.

As vigas de metal e cimento curvilíneas, assinatura de Hadid, conhecida como a ‘Rainha das Curvas’, cobrem a estrutura de vidro, criando um efeito de rede. No centro do paralelepípedo há três buracos, aquilo a que os arquitectos chamam a zona “free form”, já que não obedecem a nenhuma forma geométrica.

Lawrence Ho, presidente executivo da Melco Crown, uma das seis operadoras de jogo em Macau, sublinhou que o edifício, com um orçamento de mil milhões de dólares, é “extremamente difícil de construir”, mas que espera tornar-se “um novo ícone em Macau”.

Os 39 andares já foram erguidos e, por fora, a estrutura já se assemelha ao projectado, mas por dentro o edifício futurista – que será em grande parte composto por vidro, painéis de alumínio e uma “estética que faz lembrar cristais”, como definiu Schumacher – é ainda cimento e ferro.

As duas torres serão ligadas por duas pontes, e entre as principais atracções estará uma ‘piscina infinita’ a 130 metros de altura, elevadores panorâmicos, além de lojas e restaurantes.

O hotel inclui 780 quartos, além de ‘villas’. Os quartos estão localizados na zona geométrica das torres, mas aqueles que ficam nas pontas, perto da área ‘free form’ foram especialmente desenhados por Zaha Hadid e aproveitam o formato “estranho” do espaço para oferecer uma experiência que os arquitectos prometem ser “muito especial”.

A zona central, de onde se poderá ver, através do vidro, os buracos entre os edifícios, será para espaços comuns, como restaurantes e átrios.

O Morpheus terá zona de jogo, no primeiro andar, mas não um casino próprio. Segundo Lawrence Ho, algumas mesas de jogo serão transferidas de outros casinos, e serão maioritariamente direccionadas para o sector VIP e Premium. Ho disse não saber ainda quantas mesas serão deslocadas para o hotel, mas garantiu que será “uma pequena área”.

30 Nov 2016

Educação | Inaugurada escola do projecto “Obra de Céu Azul”

Foi ontem inaugurada a nova escola no âmbito do projecto “Obra de Céu Azul”, da Associação Geral das Mulheres de Macau. Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, disse que ainda há terrenos ocupados e já pensados para retirar as escolas dos pódios dos edifícios

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Associação Geral das Mulheres de Macau inaugurou ontem as novas instalações da sua escola na Areia Preta, tornando-se o primeiro estabelecimento de ensino a sair do pódio de um edifício e a integrar o projecto “Obra de Céu Azul”, uma ideia proposta pelo Governo no relatório das Linhas da Acção Governativa de 2016 e que visa proporcionar mais espaços ao ar livre para as escolas. Prevê-se que o projecto fique concluído daqui a 15 a 20 anos.

O novo campus da Escola da Associação Geral das Mulheres já está operacional desde Setembro, podendo proporcionar mais de mil vagas para o ensino infantil e primário, sendo que neste momento possui cerca de 800 alunos.

A escola, fundada em 1955, localizava-se desde os anos 90 no edifício da Associação das Senhoras na Rua do Campo. Havia queixas sobre a falta de espaço para actividades ao ar livre, existindo limitações em termos de actividades curriculares e ambiente de aprendizagem. Tina Ho, presidente da direcção da escola, referiu que a escola já havia pedido um terreno ao Governo em 2005. Só em 2011 foi aprovado o terreno na zona da Areia Preta para a construção do novo campus.

O edifício escolar, com doze pisos e dois pisos subterrâneos, está equipado com campo desportivo, biblioteca, salão e várias salas de aula multifuncionais. Tina Ho afirmou no seu discurso que a biblioteca e o campo desportivo vão ser abertos ao público, para que seja alcançada a meta da “integração das escolas na comunidade”.

Terrenos ainda ocupados

O projecto “Obra de Céu Azul” prevê a ajuda a curto prazo a mais três escolas, além da instituição de ensino da Associação Geral das Mulheres. Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, confirmou que será concedido um terreno à escola Hoi Fai na zona do Fai Chi Kei.

O governante adiantou que há terrenos previstos para o projecto, mas que ainda estão ocupados, estando neste momento a decorrer negociações entre o Governo e os concessionários. “Os terrenos retirados pelo Governo, além de servirem para a construção de habitação pública, ainda vão ser utilizados para a construção das instalações escolares,” afirmou.

30 Nov 2016

Shee Va, autor de “Espíritos”: “As comunidades não interagem”

É apresentado hoje ao final da tarde o primeiro romance de Shee Va. Depois de um livro em que assumia a ideia de fazer a ponte entre Ocidente e Oriente, o médico recorre agora a outro género literário para descodificar, em português, uma realidade chinesa que não se vê

[dropcap]C[/dropcap]omo é que surgiu a ideia de escrever um livro de ficção?
É uma ideia que vem de há muito tempo. Os espíritos acompanham-nos e estes, à moda chinesa, acompanham-me desde criança, porque ouvi falar deles pela primeira vez – ainda por cima, a povoar Macau – por um amigo de infância. Nessa altura eu vivia em Moçambique, esse rapaz chegou de Macau e contava as histórias todas sobre os espíritos e fantasmas que habitavam as casas antigas de Macau, de modo que isso fez o meu imaginário. Entretanto, quando aqui cheguei, em 2012, conheci um médium, que me contava histórias. Foi a partir do imaginário de infância e das histórias do mestre que resolvi escrever este livro. São crenças e superstições do povo chinês. Vem na linha daquilo que pretendo transmitir com os livros: dar a conhecer ao mundo lusófono – porque escrevo em português – a cultura chinesa. No meu primeiro livro, “Uma Ponte para a China”, tinha mesmo essa intenção.

Neste caso, optou por um romance para fazer passar a mensagem.
Sim, e há ainda a minha faceta de médico. O espírito deste livro é o de uma criança que morreu com uma doença genética. Cinco anos depois, os pais decidem refazer a vida e terem outro filho. Procuram ajuda junto da medicina ocidental e dos espíritos, porque a mãe da criança sentiu um espectro na altura em que o filho faleceu. Guardou o segredo durante cinco anos, nunca contou nada ao marido, mas quando decidem refazer a vida revelou que viu esse espírito, pelo que quer descobrir quem é.

Macau tem uma sociedade extremamente pragmática, consumista. É uma cidade que não pára. A vivência espiritual encontra espaço aqui?
Sempre. Os espíritos fazem parte da cultura chinesa, tanto que existem duas festividades chinesas relacionadas com os antepassados: uma no quarto mês lunar e outra no nono. O culto dos mortos é muito importante para os chineses. Uma das coisas que este mestre que conheci me disse – e que está também na base do livro – foi que se eu quisesse conhecer o futuro dos meus filhos poderia consultar um médium, que através da condução dos antepassados se pode prever a vida futura. Ou seja, há uma ideia na cultura chinesa de que os entes falecidos, que moram no firmamento, são espíritos bons que conduzem a nossa vida. Por isso é que, na cultura chinesa, é prestado culto a esses antepassados, para que nos protejam. Isto existe muito mesmo nesta população que é citadina e não tem que ver com o facto de haver muitos imigrantes que vêm de zonas rurais. Faz parte da educação, faz parte da cultura chinesa.

Tendo vivido grande parte da vida no Ocidente – primeiro em Moçambique, depois em Portugal, com algumas passagens por Macau –, mas tendo um contexto familiar chinês, sente que está numa posição privilegiada para desdobrar este tipo de códigos culturais?
Julgo que sim. Por poder fazer essa ponte é que pretendo fazer isso, mesmo que seja através de um romance. Consigo interpretar aquilo que os chineses sentem e transmitir ao mundo ocidental. Na apresentação que Beatriz [Basto da Silva] fez em Lisboa deste livro, achou interessante ter, pela primeira vez, uma pessoa chinesa a falar destes aspectos, porque normalmente os chineses são muito fechados, não se revelam muito. Eu, provavelmente sendo um aculturado, consigo revelar algumas coisas que os outros eventualmente não revelariam. Acho que posso ser essa ponte que liga o mundo ocidental ao mundo oriental.

Como é que lida com o facto de ter influência de tantas culturas diferentes?
A minha cultura é ocidental e a forma de pensar será ocidental. Mas não posso deixar de ter as raízes chinesas e elas chamam. Esta forma de revelar as coisas é talvez um chamamento. Tenho a necessidade de aprender – porque para mim também é uma aprendizagem – com a cultura chinesa e verificar que tem aspectos interessantes, mesmo que sejam no oculto. Por exemplo, há aspectos da medicina tradicional chinesa que são interessantes. Enquanto médico, devo compreendê-los. Outros, provavelmente, nunca chegarei a compreender, porque são conceitos fora do parâmetro ocidental. Quando se pergunta se a medicina ocidental se poderá ligar à oriental, penso que há aspectos em que sim. Em relação à cultura, penso o mesmo. Vivendo eu com um sentir ocidental, também sinto algumas coisas da cultura chinesa. Este sentir poderá ser raiz ou é genético? Isso não sei explicar. Este livro é também a procura da vida além da morte – podemos ir buscar as explicações conforme as religiões ou conforme as culturas. Talvez esta seja a minha pesquisa para o lado oriental. Acho que tem muito interesse quando se lida com uma cultura diferente poder compreendê-la. Talvez seja isso que quero transmitir. Portugal, neste momento, tem muitos chineses, o mundo inteiro tem muitos chineses. As populações não podem viver fechadas. Uma coisa que sinto em Macau é que foi durante muito tempo – e hoje em dia também – um sítio multicultural, mas em que as comunidades não interagem. Para mim, isso é mau – podia ganhar-se muito mais com a comunicação.

É médico, é amante de música clássica e faz estas incursões pelo mundo das letras. Como é que funciona o exercício da escrita?
É um hobby, tenho um prazer enorme em escrever. O trabalho é enorme, o trabalho de médico é stressante, talvez isto seja uma maneira de fugir ao stress. Para mim, o acto de escrever é muito individual, preciso de estar muito isolado para poder escrever e reflectir. É uma necessidade – é como se formasse um jardim meu e, quando estou a escrever, estou sozinho. Normalmente aproveito para escrever de madrugada, porque já descansei o suficiente: quando acordo tenho a cabeça e as ideias arrumadas. Poder-se-á dizer que o exercício da escrita é um escape, mas também é um prazer.


Depois de Lisboa, Macau

O livro de Shee Va, “Espíritos”, é apresentado hoje, às 18h30, na Fundação Rui Cunha, depois de ter sido lançado em Lisboa, no Fórum do Livro de Macau. À semelhança do que aconteceu na capital portuguesa, a sessão de hoje conta com a apresentação da historiadora Beatriz Basto da Silva. A obra é editada pela Livros do Oriente. As receitas da venda revertem integralmente para a Associação Amigos do Livro em Macau.


Uma semana, dois livros

“Espíritos” não é o único livro da autoria de Shee Va a ser apresentado esta semana em Macau. Amanhã, ao final da tarde, também na Fundação Rui Cunha, o médico lança uma obra sobre ópera: trata-se do primeiro tomo de dois acerca das óperas que fizeram parte dos cartazes do Festival Internacional de Música ao longo dos seus 30 anos de existência. O primeiro volume aborda as óperas até 1999. O lançamento do livro encerra a última sessão do ciclo “Conversas ilustradas com música”, sob o tema “Os sete pecados mortais na ópera”. O último pecado abordado é a ira, com a “Elektra” de Richard Strauss. A sessão começa às 18h30.

30 Nov 2016

China | Controlo sobre investimentos além-fronteiras reforçado

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China vai tornar mais restrito o controlo sobre os investimentos de empresas do país além-fronteiras, segundo informações difundidas pelo Governo e imprensa, face ao rápido aumento da fuga de capitais registada nos últimos anos.

As autoridades vão “combinar a facilitação do investimento no estrangeiro com a protecção face aos riscos dos investimentos”, refere em comunicado a Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento, o organismo máximo chinês encarregado da planificação económica.

Entre as medidas destaca-se a “proibição da maioria dos negócios acima dos 10.000 milhões de dólares” e “bloqueio de investimentos superiores a 1.000 milhões de dólares em sectores não relacionados com as actividades da respectiva empresa”, detalha a agência Bloomberg.

Os grupos estatais passam também a estar proibidos de gastar mais de 1.000 milhões de dólares em propriedades além-fronteiras, acrescenta a agência, detalhando que as regras estarão vigentes até Setembro de 2017.

O investimento chinês além-fronteiras superou, em 2015, pela primeira vez, o valor investido por outros países na China, ao atingir os 145.000 milhões de dólares, um valor que representa um crescimento homólogo de 18%. Em Portugal, por exemplo, o país asiático tornou-se, nos últimos anos, um dos principais investidores, comprando participações importantes nas áreas da energia, dos seguros, da saúde e da banca. Os investidores chineses correspondem também a 74% dos vistos ‘gold’ emitidos desde a criação do programa, em Outubro de 2012.

As restrições surgem depois de Pequim ter encorajado as empresas do país a investir além-fronteiras, como forma de assegurarem fontes confiáveis de retornos e adquirirem tecnologia avançada.

Entretanto, o aumento da fuga de capitais disparou, suscitando preocupações face à desvalorização do yuan, a moeda chinesa, que bateu no nível mais baixo comparativamente ao dólar, em mais de oito anos. A agência de ‘rating’ Fitch estima a fuga de capitais do país asiático, entre o início de 2015 e meados deste ano, em um bilião de dólares.

Desigualdades

As empresas da União Europeia e Estados unidos queixam-se também pelo que consideram um “tratamento” desigual dado ao investimento no país.

“Para os chineses, a Europa é um ‘buffet’ variado, onde tudo decorre com facilidade, enquanto [na China], para nós, são quatro pratos e uma sopa”, afirmou em setembro passado Jorg Wuttke, o presidente da Câmara do Comércio da União Europeia (UE). Wuttke referia-se às restrições impostas por Pequim ao investimento externo no país, em áreas como telecomunicações, média, energia ou serviços financeiros e jurídicos.

O investimento chinês além-fronteiras – muitas vezes financiado com recurso a crédito barato cedido por bancos estatais – terá levado Pequim a questionar também a viabilidade de alguns activos.

Em Setembro passado, um representante do ministério do Comércio chinês afirmou que “algumas empresas fizeram aquisições além-fronteiras sem pensar”. “Descobrimos que algumas empresas não fizeram suficiente pesquisa sobre elementos básicos como os objectivos e a necessidade dessas operações”, disse.

“Algumas firmas procuram desenfreadamente expandir-se, enquanto outras são guiadas por motivos irracionais, como apenas seguir a tendência ou o desejo de ostentar”, acrescentou.

Em editorial, o jornal oficial China Daily afirmou ontem que as regras são dirigidas à “fuga de capital disfarçada de investimento”.

O jornal diz que o investimento chinês fora do país é um “desenvolvimento natural”, mas ressalva que, num período de incerteza, os riscos inerentes aos investimentos podem ameaçar a estabilidade financeira.

30 Nov 2016

Cooperação entre a China e ONU é “absolutamente essencial”, diz Guterres

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] cooperação entre a China e a ONU é “absolutamente essencial”, perante um “mundo perigoso”, disse ontem em Pequim António Guterres, destacando o papel que o país asiático pode desempenhar na diplomacia para a paz. O próximo secretário-geral da ONU falava em conferência de imprensa, após reunir-se com o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi.

“Vivemos num mundo perigoso. Assistimos à multiplicação de novos conflitos e velhos conflitos que nunca morrem”, disse António Guterres. O antigo primeiro-ministro de Portugal lembrou que “cada vez mais pessoas sofrem”, devido às “mudanças climáticas, crescimento da população, insegurança alimentar e escassez de água”.

E apontou que as desigualdades se estão a tornar “um importante factor de instabilidade no mundo”, que “o progresso económico e tecnológico não conseguiu reduzir”.

“Estamos perante problemas globais, que exigem soluções globais, para as quais necessitamos de mecanismos de governação de natureza multilateral”, disse. Guterres sublinhou que “a China é hoje um pilar sólido do multilateralismo no mundo” e que pode ser um “mediador justo muito importante, tentando unir partes que estão envolvidas em conflitos”.

“Isto torna a cooperação entre a China e a ONU absolutamente essencial”, realçou.

Paz à Pequim

António Guterres enalteceu a “importante contribuição” do país asiático para a organização que dirigirá a partir do próximo ano.

“A China é hoje um dos maiores financiadores da ONU e das suas acções. Ao mesmo tempo, está a dar um contributo muito importante para as nossas missões de manutenção da paz e para mais iniciativas que serão anunciadas em breve”, disse. E lembrou que Pequim desenvolveu “novas formas de cooperação internacional, como a iniciativa ‘uma faixa, uma rota'”, contribuindo para o sucesso das acções da ONU no mundo.

Wang Yi, por seu lado, apontou que o “papel das Nações Unidas só pode ser fortalecido, e não debilitado”.

“Vivemos num mundo caótico (…) Enfrentamos desafios globais. Nenhum país pode superar esses desafios sozinho”, lembrou.

António Guterres vai assumir o lugar de secretário-geral das Nações Unidas, por um período de cinco anos, a partir de 01 de Janeiro de 2017. A deslocação a Pequim segue-se a uma visita a Moscovo, onde Guterres se reuniu com o Presidente russo, Vladimir Putin, parte de um périplo pelas cinco capitais dos países-membros permanentes do Conselho da Segurança da ONU.

30 Nov 2016

Fidel e a complexidade da relação com a China 卡斯特罗:“不到长城非好汉。”

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]idel de Castro morreu a 25 de Novembro de 2016,  com 90 anos de idade. O Presidente da China, Xi Jinping, leu uma mensagem na abertura do noticiário da noite da CCTV: “O povo chinês acaba de perder um companheiro bom e leal. O Camarada Fidel viverá para sempre.”

Em Janeiro de 1959 Fidel de Castro, à frente da Revolução Cubana, derrubou o regime pró-americano de Batista e estabeleceu um governo revolucionário. Foi o início de uma era política que durou  mais de 50 anos. O relacionamento entre a China e Cuba desenvolveu-se rapidamente desde os acordos criados em 1960, e Cuba tornou-se o primeiro país latino-americano a ter relações diplomáticas com a China. Durante o seu longo mandato Fidel teve contactos com várias gerações de líderes chineses.

Em retrospectiva:

A 2 de Setembro de 1960 Cuba proclamou a primeira Declaração de Havana. Fidel de Castro reiterava o estabelecimento das relações diplomáticas com a República Popular da China. No entanto, a “profunda amizade” não se viria a concretizar e, até à morte de Mao em 1976, os dois países socialistas mantiveram-se distantes devido à ligação fechada de Cuba com a União Soviética, a “rival” da China nos anos 60.

Em  Novembro de 1993, quando Jiang Zemin visitou Cuba, Fidel preparou-lhe uma cerimónia muito especial e condecorou-o com a Medalha Jose Marti, a maior homenagem que o Governo cubano pode prestar a um estadista estrangeiro. A seguir à queda da União Soviética, no início dos anos 90, Cuba ficou “órfã” e a China disponibilizou-se para apoiar Fidel incondicionalmente. Nos primeiros anos da década de 90, Cuba importou 500.000 bicicletas da China. Mais tarde a China ajudou a construir várias fábricas de bicicletas na Pátria de Fidel. Nos anos que se seguiram as bicicletas tornaram-se o principal meio de transporte em Cuba.

A 29 de Novembro de 1995 Fidel chegava a Pequim e foi recebido de forma muito calorosa no aeroporto. No dia seguinte, Jiang Zemin homenageou-o com uma cerimónia de boas vindas na capital. Beberam champanhe e assinaram um acordo de colaboração entre os dois governos.

A 1 de Dezembro de 1995 Fidel subiu à Grande Muralha. Na altura declarou que tinha sentido pela primeira vez que “Ninguém pode ser um herói sem ter visto a Grande Muralha”, um trecho de um poema de Mao Tsé Tung. Na sua auto-biografia Fidel defendeu que Mao teria de ser lembrado como um dos maiores políticos, estrategas e líderes militares de sempre.

Em 2003, com 80 anos de idade, Fidel voltou a visitar a China fazendo-se acompanhar desta vez pelo filho e pelo neto. Foram recebidos por Jiang Zemin no Grande Salão do Povo. Este gesto ajudou a incrementar a colaboração de longa data entre os dois regimes e “agradou profundamente” ao velho líder cubano.

A 21 de Julho de 2014, Xi Jinping chegou a Havana para iniciar uma visita oficial a Cuba. Os dois chefes de estado tinham-se conhecido em 2011, quando Xi visitou Cuba noutra ocasião. No final desta vista de estado, Xi enviou parabéns antecipados a Fidel.

No passado dia 25 de Setembro Li Keqiang visitou Castro e mantiveram uma longa conversa.

30 Nov 2016

O leitor cheira a tinta

El Corte Inglés, Lisboa, 21 Novembro

301116p16t1[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]omentos há em que temos de suspender a incredulidade, que o mesmo é dizer, acreditar. Parece ficção, uma sala de cinema com 242 pessoas em fim de tarde chuvoso para ouvir António Mega Ferreira em belíssima dissertação, de quase duas horas, em torno de Cervantes e do seu Quixote, apenas interrompida por tosse esparsa e as fulgurantes leituras de Pedro Lamares. Acredite-se, então, que os ouvintes serão leitores. Aqueles que Mega coloca no centro do jogo. «O texto é de uma generosa abertura ao mundo e ao leitor, e, por isso, preserva uma margem de indeterminação (o não-dito, o indizível, o possível, o imaginável), que é o traço inaugural da narrativa moderna. Veja-se, por exemplo, o capítulo 20 da primeira parte, em que, através de um engenhoso diálogo entre D. Quixote e Sancho, se levantam questões de técnica narrativa (a suspensão e continuidade da narração, a descrição exaustiva e o poder da elipse narrativa) que hão de estar no centro da estética romanesca ocidental nos séculos seguintes. Mais: ao abrir essa margem de indefinição, Dom Quixote não dispensa a participação de quem lê para fazer valer a sua verdade, que é feita de todas as verdades que lá queiramos encontrar. Ao mesmo tempo que se inventa como romancista, Miguel de Cervantes inventa um novo tipo de leitor, o que assume o papel de cúmplice do autor, destinatário e avalista da narrativa improvável.»

Horta Seca, Lisboa, 22 Novembro

A chegada de um livro abafa o resto. As urgências malditas, a inadiável pressão, o absurdo imediato, nada importa quando o cheiro a tinta nos exige febrilmente o objecto entre os olhos e as mãos. «A Minha Casa Não Tem Dentro», do António Jorge Gonçalves, veio para parar o tempo. Duas ou três linhas a abrir, negro tipográfico sobre branco, anunciam que o autor morreu e regressou à vida, em «acontecimento que atravessou espaço e tempo separando e unindo em simultâneo». Queria colocar a banda desenhada, que pela primeira vez edito, na Arranha-céus, chancela que vejo também como casa de imagens, onde está já a fotografia. Em decisão de última hora, optei pela abysmo, tal o enigma que «A Minha Casa …» contém. Mais do que narrativa, parece-me um poema gráfico, no lugar dos versos imagens fortíssimas, duras, mas sobretudo oníricas, de sonho e pesadelo, que mergulham raízes no grande oceano do imaginário, dos mitos fundadores, das representações da morte, da infância, do desenho e da música, enfim, da criação. Vejo uma mão, a do cuidado e da ameaça, a que se ergue da ruína e a que faz sombra, a mão do lápis. E vejo uma menina, uma Alice que descobre, por detrás de uma cortina de sangue, o peso da mão, uma cidade que se monta e o grande circo do espectáculo. Há anjos caídos no tecto. O trabalho sobre a cor faz dela outro protagonista. O desconcertante conjunto vai explodir ou, muito provavelmente, ser ignorado, como as nuvens no céu e na contracapa. Desafios assim têm a sua exigência e os dias não estão para isso, para que nos deixemos ficar comovidos a olhar para as nuvens. A capa, sem mais que um miúdo desenhando, não é macia, dá-se sem verniz nem plastificação, mas o miolo, tal a quantidade de tinta, ganhou um acetinado, uma segunda pele. Gosto de pensar os livros como segunda pele.

Bar Irreal, Lisboa, 23 Novembro

Nesta altura em que tanto sumo-sacerdote incensa nuns e vigia noutros uma suposta pureza poético-moral, ouvir o Helder Macedo pedir como quem exige, a meio de caóticas leituras da poesia de José Manuel Simões, um dos do Café Gelo, que os lessem sem os entronizarem, sem os sacralizarem, sem os imitar a destempo, aos da sua geração e a ele, que se «limitaram» a incarnar uma ética a partir do acto de recusa, de múltiplas recusas, caiu que nem tromba-d’água. E chovia mesmo. Na noite que Simões traduzia assim: «Do chão onde ontem enterrei / a noite irrompe como um garfo, / noite de hoje que eu não conheço / e todavia já / noite velha que sei de cor.»

Caldas da Rainha, 25 Novembro

Passo demasiado tempo à mesa, dizem-me. E logo os olhares comentam a barriga. Talvez passe demasiado tempo à mesa. Contudo, raras são as vezes em que me limito aos prazeres da dita. Não me sento para comer, entro em campo. Os gestores de topo jogam golfe. Os políticos da mediania vão ao futebol. A sociedade frequenta o ténis. Eu jogo-me à mesa. Quantos projectos acontecem de garfo na mão? Quanto de amizade estiquei, ou encolhi, já agora, de copo na mão? Não me interessa muito fazer essas e as outras contas. Mede-se demasiado nesta vida. Um editor deve cultivar a desmedida. Venha daí outra dose de lingueirão da «Casa Antero», em Caldas da Rainha, capital do meu oeste, para molhar o extraordinário pão com a Luísa, a Graça e o João. Ou de polvo à lagareiro com batatas a murro do «Cruzeiro», regado com Meandro, para saborear com o Carlos e o Jacinto. Nasceram ideias, talvez tenham morrido outras. Tenho por certo que uma refeição nos dá mais do que vida. E por aqui, onde desfearam paisagem e arquitectura, sabem prová-lo com a beleza do humor ao servirem-nos, à laia de ponto final, um pequeno falo de chocolate.

Bar Irreal, Lisboa, 25 Novembro

A cidade estava toda iluminada, mas de concertos num evento musical com nome de marca e mediatizado à náusea. Na exacta lonjura do centro, os «Não Simão» concertavam «reflexos de aventura». A ausência de palco permitiu estar em intimidades lado a lado com a bateria e a sentir na nuca cada nota dos sopros. A inteligência das composições, com a sinuosa variação de ritmos desfez a noite em puro gozo. E não teve nada a ver com a inclusão de um abat-jour no percurso da precursão.

30 Nov 2016