História | Centenário da viagem do “Pátria” origina podcast

Foi em 1924 que Brito Pais, Sarmento de Beires e Manuel Gouveia viveram aquela que viria a ser a aventura das suas vidas. A viagem do avião “Pátria” aconteceu há cem anos, ligou pela primeira vez Portugal e Macau por via aérea e, para comemorar essa efeméride, foi criado um podcast produzido pela Força Aérea Portuguesa e pela Universidade do Porto, com o apoio do jornal Público

 

O primeiro episódio intitula-se “Vila Nova de Milfontes – Málaga: sob chuva e vento” e relata os primórdios de uma aventura com cem anos que ficou para a história da aviação portuguesa. É assim o novo podcast sobre o centenário da viagem do “Pátria”, que começou em 1924 e que ligaria, pela primeira vez, Portugal e Macau pelo ar. A produção é da responsabilidade da Universidade do Porto e da Força Aérea Portuguesa, e conta com o apoio do jornal Público.

Na introdução ao projecto, lê-se que “foi há cem anos que três portugueses voaram pela primeira vez entre Portugal e Macau, numa altura em que a audácia humana testava continuamente os limites de uma aviação nascente”. Nessa altura, “a viagem transcontinental de Brito Pais, Sarmento de Beires e Manuel Gouveia, apoiada e seguida atentamente pelos portugueses de então, deixou uma marca na história da aviação”.

Brito Pais, Sarmento Beires e Manuel Gouveia meteram-se num pequeno avião e a primeira paragem fez-se em Málaga, Espanha, conforme descreve o primeiro episódio de um podcast já com quatro capítulos e que pode ser ouvido na plataforma Spotify.

“A cada minuto é preciso fugir aos montes que quase razamos por vezes. Fugir às nuvens. (…) Durante cerca de meia hora, somos forçados a meter-nos proa a su-sudoeste, depois de termos tentado, debalde, romper o temporal que redobra. (…) Finalmente, o mar, enraivecido e cavernoso (…), os últimos contrafortes da serra de Cádiz balaçavam-nos implacavelmente”, descreve o narrador do primeiro episódio quando conta como os aviadores conseguiram ultrapassar a fúria da tempestade.

No segundo episódio, intitulado “Málaga – Túnis: calma no Mediterrâneo ocidental”, a “travessia do Mediterrâneo decorre sem grandes problemas”.

“Os aviadores sobrevoam as terras argelinas sob domínio francês, fascinados com uma paisagem que não lhes é habitual, e são testemunhas dos esforços de ligar por via aérea os principais centros urbanos do Magrebe – e estes à Europa – e vencer o Saara. Mas subsistem focos de resistência à ação colonizadora francesa”, lê-se na descrição do episódio.

Chegada ao deserto

No terceiro episódio do podcast já os aviadores vão mais longe na aventura. “Túnis – Trípoli: às portas do Saara” conta como “ainda fascinados pelo exotismo da antiga Túnis, os nossos aviadores recebem notícias dos seus colegas que, um pouco por todo o mundo, querem mostrar a capacidade dos aviões para a realização de viagens de longo curso”.

Na viagem, Brito Pais, Sarmento Beires e Manuel Gouveia “acompanham a costa tunisina e, do alto, o esplendor do Saara revela-se-lhes pela primeira vez”. Além disso, chegam à chamada “Líbia italiana, onde se mantém um conflito feroz e prolongado entre os colonizadores e as populações locais”.

No quarto e último episódio, o foco faz-se na travessia do deserto entre Trípoli, na Líbia, e o Cairo, no Egipto.

“Saindo de Trípoli, o ‘Pátria’ segue a costa da Líbia e atravessa a extensão mediterrânea do Saara sob um forte vento, o ‘guibli’, que o envolve numa escaldante tempestade de areia. Mas não tem sucesso na travessia logo à primeira tentativa. Os portugueses chegam a uma Bengazi que é um centro militar, mas também uma cidade colonial em construção, numa região em que a força conjunta de árabes e berberes se opõe tenazmente à colonização italiana. Depois, é de novo o deserto – quente, mas menos ameaçador – até ao delta do Nilo”, é referido na descrição do episódio.

Este ano tem sido pautado por diversos eventos comemorativos de uma viagem que marcou a história da aviação portuguesa e que acabou por cair um pouco no esquecimento.

No caso de Macau, o centenário da viagem foi celebrado com uma exposição itinerante, a apresentação do livro “De Portugal a Macau, a Viagem do Pátria”, a realização de diversas conferências e o descerramento de uma placa comemorativa. Estas actividades integraram mesmo o cartaz do “Junho – Mês de Portugal” que todos os anos celebra o 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas.

27 Ago 2024

Travessia aérea de Portugal a Macau

Foto: Blogue Macau Antigo 

 

Faz hoje 100 anos que o Major de Infantaria António Jacinto da Silva Brito Paes ao comando do avião Pátria II e o Major de Engenharia José Manuel Sarmento de Beires como piloto, em 1924, sobrevoavam Macau, concluindo o propósito da viagem a espelhar os novos tempos aéreos e assim homenagear os navegadores portugueses chegados à China desde 1513 e estabelecidos em Macau em meados do século XVI. Mas em 1924, na então colónia portuguesa, os hidroaviões existentes precisavam apenas de usar o rio ou o mar para aterrar ou levantar.

O maior problema dos aviadores portugueses foi a aterragem, pois a cidade sem ter uma pista de terra não estava preparada para os receber. Daí, o plano programado logo à partida era poder evolucionar sobre Macau e poisar em Cantão.

O raide aéreo iniciado a 7 de Abril de 1924 em Vila Nova Milfontes com destino a Macau foi o 1.º de responsabilidade da Aeronáutica Militar e teve como protagonistas os aviadores, Capitão Brito Pais, Capitão-tenente Sarmento de Beires e o mecânico sargento-ajudante Gouveia. Esta viagem era também a segundo na ordem da aviação portuguesa, pois a primeira fora incontestavelmente a de Lisboa-Rio de Janeiro realizada por Gago Coutinho e Sacadura Cabral com partida de Lisboa a 30 de Março de 1922 e chegada ao Rio de Janeiro a 17 de Junho de 1922.

Segundo declarações de Brito Pais no fim da viagem de 1924, numa conferência proferida no Clube de Macau: .
Já anteriormente, em Outubro de 1920, Brito Pais e Sarmento Beires fizeram a travessia aérea Lisboa–Funchal, mas o denso nevoeiro a envolver a ilha da Madeira impedira a aterragem do Cavaleiro Negro, um avião Breguet 14-A42, e daí terem dado meia volta e regressado a Lisboa. O combustível acabou e amararam no Atlântico, afundando-se a 400 km de Lisboa, sendo salvos por um navio inglês.

Para o raide Vila Nova Milfontes – Lisboa – Macau de 1924, “um grupo de amigos” Capitães Jardim da Costa, P. Correia e o alferes Bensabat, adquiriram por subscrição um avião, oferecendo-o para a longa viagem programada, desde a Península Ibérica, passando ao longo da costa do Norte de África (na parte francesa e italiana) até chegar ao Egipto. A entrada na Ásia fez-se pelo Médio Oriente, seguindo para o Norte da Índia Britânica, percorrendo a parte Central da Ásia e o Sudeste até alcançar Macau.

O bombardeiro comprado em França, um Breguet XIV, n.º 2 [BR16-Bn2], equipado com um motor Renault de 300 cavalos (CV), chegou às oficinas da Amadora em Junho de 1921 a fim de ser preparado para o raide. O aparelho sob a supervisão do então sargento-ajudante Manuel Gouveia começou a ser transformado, sendo-lhe instalado depósitos suplementares de combustível. Levado a 27 de Setembro de 1923 da Amadora para Vila Nova de Milfontes, na parte inferior foi-lhe pintada a Cruz de Cristo e as insígnias d’ Aviação Militar Portuguesa. Na fuselagem, toda de alumínio, lia-se um verso dos Lusíadas: ‘Esta é a ditosa Pátria minha amada’. No leme iam as cores nacionais com a esfera armilar e o escudo das quinas. O baptismo do avião Pátria realizou-se com toda a imponência a 3 de Abril pelas 12 h, acto celebrado pelo Bispo de Beja D. José do Patrocínio, sendo apadrinhado por D. Maria do Céu Brito Pais, irmã do aviador Brito Pais e pelo o major aviador Cifka Duarte, director da Aeronáutica Portuguesa [e por Decreto exonerado das funções pelo ministro da Guerra a 30 de Maio de 1924]. “As damas de Odemira ofereceram a flâmula para o aparelho levar.” Assim refere o P. Manuel Teixeira, de quem provem partes de textos desta crónica, a servir de informação para ser complementada e a trabalhar.

Cem anos atrás

O raide estivera planeado para ser apenas de Lisboa à Índia, parecendo ser esse o destino pois aí terminará a primeira fase da viagem, após 77 horas e 51 minutos de voo e percorridos em 30 dias 10.960 km. Na 15.ª etapa, partindo de Karachi para Agra a 7 de Maio de 1924, próximo de Jodhput na Índia, devido a um intenso vento são forçados a aterrar no deserto, junto à povoação de Bhudana, partindo-se as longarinas da fuselagem, e ficando o avião irremediavelmente inutilizado sem qualquer possibilidade de recuperação. A população do oásis conduz os aviadores portugueses até à linha férrea e assim conseguem chegar de comboio a Jodhpur, de onde entram em contacto com o governo português, recebendo autorização à compra de um novo aparelho. Após demoradas negociações com o Governo britânico da Índia conseguiu-se um De Haviland D.H.9A., preparado durante alguns dias e a 29 de Maio, após o vôo de ensaio, é baptizado Pátria II.

Terminava a 30 de Maio de 1924 o interregno de 23 dias e retomavam de Lahore o voo para fazer a restante viagem para Macau.

Até aí chegar, na primeira parte do Raide Vila Nova Milfontes–Macau, Pais e Beires após em Vila Nova de Milfontes, terra natal de Pais, fazerem experiências com bons resultados, recolhem a 23 de Outubro de 1923 o avião num hangar da Amadora para a 2 da Abril de 1924 ir outra vez a Milfontes numa viagem de 50 minutos. Daí, devido ao mau tempo, apenas a 7 de Abril às 6 horas da manhã Brito Pais e Sarmento Beires ocupam os seus lugares no Pátria e levantam voo rumo ao Oriente. As etapas da viagem, segundo relatório apresentado pelos aviadores, eram: Lisboa-Oran (Argélia); Oran-Karaman (Tunísia); Karaman-Tripoli (Tripolitania); Tripoli-Benghasi (Tripolitania); Benghasi-Cairo (Egipto); Cairo-Damasco (Síria); Damasco-Bagdad (Mesopotâmia, Iraque); Bagdad-Basra (Iraque); Basra-Bendes Abbas (Pérsia, Irão) e Bendes Abbas [em frente à ilha de Ormuz]-Karatchi (Índia Inglesa). A aterragem seria em Cantão, para poder evolucionar sobre Macau, visto a cidade não ter campo de aterragem.

Seguem dia 8 para Málaga (Andaluzia, Espanha) e dali para Oran (a segunda maior cidade d’ Argélia), onde os espera o mecânico Manuel Gouveia, aí chegado de barco. Em Oran, inicia-se a 3.ª etapa da viagem ao longo da costa africana do Mediterrâneo percorrendo os 1230 km até Tunes (capital da Tunísia), onde Gouveia embarca, passando a voar com eles e finalizam essa etapa a 15 de Abril em Tripoli (então Tripolitania, hoje Líbia). A 19 de Abril, percorridos 3.105 km em 28 h 40 m e gastando no percurso doze dias, chegam a Benghasi (a segunda maior cidade da Líbia). Os aviadores dali pedem dinheiro para poder continuar a viagem, visto o Estado não ter concorrido para as despesas de tal aventura.

“O pai do aviador Brito Pais em presença destes factos dispôs de todo o dinheiro que podia e o Aero Club nomeia uma comissão para angariar donativos composta pelos major-aviador Cifka Duarte, cap. de fragata Afonso Cerqueira, ten. Aníbal Paixão e José Júlio de Brito Pais Falcão. Tanto subscrições, como festas surgem logo em todo o país – revertendo o produto a favor do raide Lisboa – Macau.”

Quando de Benghasi chegam ao Cairo a 20 de Abril, os aviadores tinham já percorrido 4.600 km. A etapa Cairo-Damasco (Síria) passa por Rayak (Riyaq, no Líbano) e a 23 estão em Damasco. Daí a Bagdad (Mesopotâmia, Iraque) onde a 27 se encontram para seguir até Basra (Baçorá, actual Iraque, antigamente pertencente à Mesopotâmia e desde 1 de Outubro de 1919 fora do Império Otomano, estava então na dependência do Reino Unido). Após 600 km, a 28 chegam a Bushire (Bushehr) no Irão, onde há demora por impedimento dos persas, que não ficam satisfeitos com os passaportes. Partem a 3 de Maio para Bender-Abas e de Chahbahar, no extremo sueste do Irão, chegam a 4 de Maio a Karachi, na Índia inglesa.

Está-se na 15.ª etapa: Karachi-Agra. Dia 7 de Maio de 1924, um terrível vento força-os a aterrar no deserto e devido às condições difíceis, o avião parte-se, ficando irremediavelmente inutilizado, saindo ilesos os passageiros. Chegam de comboio a Jodhpur e seguem para Lahore. Conseguem um avião, preparado durante alguns dias e o voo de ensaio fazem-no a 29 de Maio.

II FASE DA VIAGEM

No Pátria II, retomam o voo a 30 de Maio para realizar a segunda parte da viagem entre Lahore, então Índia e hoje Paquistão até à China, a Macau. Devido ao espaço acanhado da carlinga desse avião, Gouveia não segue com eles, usando o comboio e barco para tentar sempre que possível acompanhar as escalas, segundo refere Fernando Mendonça Fava na Revista de Cultura de 2016.

Agora num De Haviland DH9 baptizado Pátria II, a viagem a partir de Lahore, cerca de 500 km a Norte do local do acidente, no novo avião efectuarão mais 11 etapas, durante 21 dias totalizando mais 40 horas e 30 minutos de voo, percorrendo mais 6.610 km. De Lahore tocam sucessivamente Ambala, Allahabad, Calcutá, Atkyab, Rangoon, Bangkok, Oubon e Hanói.

Aqui demoram-se devido às grandes chuvas e inundações. Apanhando uma aberta propícia, levantam voo às 10 horas da manhã de 20 de Junho, com céu limpo e entrando na China, segue o avião numa velocidade de cruzeiro de 170 km/h. “Mas vão ao encontro de trovoadas, que lhes queima o gerador. Que fazer? Retroceder para o primeiro aeroporto, que lhes ficava atrás (Fort Bayard), ou avançar para Macau? Decidem avançar, conseguindo sobrevoar Macau e avistar a Lapa, a Ilha Verde e Portas do Cerco; três vezes desceram a menos de 100 m, mas uma chuva torrencial barra-lhes a passagem, forçando a dirigirem-se para Cantão, quando conseguem avistar o caminho-de-ferro Kowloon-Cantão e resolvem segui-lo. Passados dois minutos sobre a linha férrea, o motor começa a falhar e obriga a uma aterragem forçada de emergência” [o motor parou antes do piloto alinhar o avião com o vento, para estabelecer uma abordagem final ao reduzido campo de aterragem].

Aos comandos, o piloto Sarmento de Beires efectua uma aterragem de emergência sobre o que julga ser um terreno aberto no meio dos arrozais. Num espaço curto, aos solavancos devido à irregularidade do solo, o aparelho acaba por embater num buraco escondido por água, partindo o trem de aterragem e a hélice. Afinal tinham aterrado num cemitério chinês, a dois quilómetros de Sâm-Tchan (Shum-Chum), próximo de Kowloon, Hong Kong e a cerca de 90 km de Cantão. Eram 14:48 horas e o tempo total de voo fora de 117 horas e 41 minutos, tendo percorrido 17.570 km. É o fim.

Caminhando, seguem para a cidade de Sâm-Tchan, numa zona onde decorriam confrontações militares entre as forças nacionalistas do federalismo anarquista de Chen Jiongming e do exército republicano de Sun-Wen, conhecido por o nome de baptismo Sun Yat-sen.

REGISTO DO DESEMBARQUE

Vêm de comboio para Kowloon, sendo em Hong Kong calorosamente recebidos por residentes portugueses, à frente dos quais o cônsul de Portugal, Cerveira de Albuquerque. “Os portugueses de Hong Kong com manifestações de regozijo: recepções, almoços, jantares e cocktails no Clube Lusitano, no Clube Recreio e ainda a bordo do Pátria sob o Com. do Almirante Magalhães Correia, que levou os aviadores a todos esses locais. Ofereceram a hélice ao Cônsul Português de H.K., Cerveira de Albuquerque, sugerindo alguém ser leiloada e o dinheiro entregue aos aviadores, contanto ficar ela na posse do Clube Lusitano. Logo um anónimo ofereceu $500,00. A hélice, autenticada com as assinaturas dos aviadores, lá continua ainda, sobrevivendo ao vandalismo da ocupação japonesa de H.K. (1941-1945)”.

À colónia britânica, a cidade de Macau enviou para receber os heróis a lancha-canhoeira Macau, que sob o comando do primeiro-tenente Santos Pedro fez durante a noite as 50 milhas de mar revolto, fundeando na manhã de 21 de Junho. Ainda nessa tarde aportava também em Hong Kong a canhoneira Pátria, da Marinha de Guerra Portuguesa, para levar a Macau os aviadores, que do barco realizaram a primeira comunicação telegráfica.

Ao desembarcar em Macau a 25 de Junho, a população festivamente lhes atirou uma chuva de flores, entusiásticos vivas, estrepitoso estralejar de panchões e de música, dirigindo-se todos ao Leal Senado, para numa recepção cívica serem em sessão solene recebidos pelo governador Dr. Rodrigo José Rodrigues (1923-1925). “Houve ainda um Te Deum na Sé, discursos, poesias, banquetes, saraus, festas, cortejos, enfim, a exuberância latina a desbobinar todo o seu entusiasmo. Macau esteve em festa durante dias seguidos”, com homenagens e constantes aclamações por parte da população portuguesa, a precisar de festas para desopilar e esquecer a turbulência do dia a dia, com a chegada de muitos refugiados devido a tumultos em Cantão.

A recepção do desembarque ficou registada em película por a Empresa Cinematográfica Macaense, criada em 1924 por Lucrécia Maria Borges, que em filme de propaganda realizou o documentário “O Voo Audaz das Águias Portuguesas”. Devido à tempestade, a passagem dos aviadores sobre Macau não foi captada.

A Lei n.º1609 de 27 de Junho de 1924 promove-os por distinção ao posto imediato, segundo os dados de Beatriz Basto da Silva, adicionados neste artigo com muito texto do P. Manuel Teixeira e a complementar, os acrescentos de Fernando Mendonça Fava. Mais tarde, já em Lisboa serão os aviadores condecorados com o Grande Colar da Ordem Militar da Torre e Espada, pelo Presidente da República em cerimónia pública e muito concorrida no Terreiro do Paço.

O Governador de Macau providenciou o regresso por mar dos aeronautas à Metrópole, via Estados Unidos. A 5 de Julho de 1924 partiram de Macau para visitar as comunidades portuguesas de Hong Kong, Cantão e Xangai, onde entusiasticamente foram saudados, assim como pelos portugueses residentes no Japão, Califórnia e na costa Leste dos EUA, de onde seguem para o Brasil. No Rio de Janeiro inauguram o estádio do Clube de Regatas Vasco da Gama.

Já em Londres, são recebidos na Câmara Portuguesa de Comércio, com a presença do embaixador de Portugal Norton de Matos e por fim, seguem de Southampton no paquete inglês Arlanza para Lisboa, onde no dia chuvoso de 8 de Setembro de 1924 ninguém os esperava, pois o telegrama que anunciava a sua chegada extraviou-se.

20 Jun 2024

Centenário da primeira viagem Portugal-Macau celebrado hoje

Celebra-se hoje, em Macau e Hong Kong, o centenário da viagem aérea do “PÁTRIA”, nome do avião que transportou os pilotos Brito Pais e Sarmento de Beires de Portugal a Macau em 1924. As actividades comemorativas decorrem com a presença de uma comitiva da comissão organizadora dos eventos do centenário, nomeadamente do Município de Odemira, Universidade do Porto e Força Aérea Portuguesa.

A sessão de Macau acontece hoje, a partir das 16h45, no consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, e no Clube Lusitano de Hong Kong a partir das 18h30. Estes eventos estão integrados nas comemorações do 10 de Junho, Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas, e Mês de Portugal na RAEM.

Além da realização de conferências, será apresentado o livro, já lançado em Portugal, “De Portugal a Macau – A Viagem do Pátria”, além de ser inaugurada a mostra itinerante “Portugal Na Aventura de Voar”.

O programa de celebração do centenário decorre até Setembro e reúne esforços da Câmara Municipal de Odemira, de onde é natural Brito Pais, a Força Aérea Portuguesa e a Universidade do Porto, a que pertence uma das maiores estudiosas desta viagem, a historiadora Isabel Morujão, co-autora, aliás, do livro apresentado.

Aquela que foi a primeira viagem aérea entre Portugal e Macau teve início em Vila Nova de Milfontes a 7 de Abril de 1924, tendo terminado a 20 de Junho. Na viagem participou também o mecânico Manuel Gouveia.

Destaque para o facto de esta viagem sempre ter ficado à sombra de outra bem mais reconhecida do grande público, nomeadamente a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, protagonizada por Gago Coutinho e Sacadura Cabral.

Acidente na Índia

O “PÁTRIA” era um avião modelo Breguet XVI, antigo bombardeiro nocturno de guerra com capacidade para um máximo de 550 quilos de bombas. Porém, após cerca de dois terços do percurso feito, houve um acidente que levou a uma aterragem de emergência na Índia, tendo sido adquirido outro avião. Sem apoios do Estado português, a viagem realizou-se graças a uma intensa campanha de recolha de fundos que, à data, mobilizou a população portuguesa e foi destaque nos jornais.

Segundo uma nota, os aviadores “foram apoteoticamente recebidos pelas comunidades portuguesas de Macau, Hong Kong e Xangai, tendo regressado de barco para Portugal com paragens em várias comunidades portuguesas na América, onde foram festejados”.

Chegados a Lisboa, “houve festa durante dias, tendo os três aviadores sido aclamados como heróis”, recebendo a Ordem de Torre Espada de Valor, Lealdade e Mérito pelo Presidente da República.

20 Jun 2024

“PÁTRIA” | Diogo Vilhena faz documentário sobre viagem aérea entre Portugal e Macau

O realizador Diogo Vilhena está em Macau a filmar um documentário que celebra os 100 anos do Raid Aéreo Portugal-Macau, a viagem que Brito Pais e Sarmento de Beires fizeram no avião “PÁTRIA” entre Vila Nova de Milfontes e Macau. A ideia da produção é reunir memórias e juntar pedaços de uma história pautada por heroísmo

 

Chama-se “Milfontes-Macau: Um retrato de 100 anos de histórias inspiradas por uma viagem” e é o projecto de documentário que o realizador Diogo Vilhena tem desenvolvido nos últimos meses para celebrar a viagem centenária do “PÁTRIA”, nome dado ao avião que percorreu mais de 16 mil quilómetros entre Portugal e Macau, num tempo em que eram escassos os conhecimentos técnicos para uma viagem daquela natureza.

Se à época a história da aviação portuguesa já tinha dois heróis (Gago Coutinho e Sacadura Cabral), Brito Pais e Sarmento de Beires quiseram também percorrer os céus levando o nome de Portugal para bem longe. A eles juntou-se Manuel Gouveia.

Porém, a longa jornada aérea acabou por ficar esquecida na historiografia portuguesa pelo facto de Sarmento de Beires ter sido opositor ao regime do Estado Novo. Mas este ano, em jeito de celebração dos 100 anos da viagem, são várias as iniciativas que tentam resgatar da sombra das memórias o feito.

Uma das iniciativas é, assim, de Diogo Vilhena, realizador que cresceu em Vila Nova de Milfontes a ouvir a história destes “heróis”. “Esta história é contada em família e em contexto da memória local, quase como se eles fossem uma espécie de super-heróis que conseguiram fazer a viagem”, conta ao HM.

Aos 16 anos, Diogo Vilhena percebeu que não era mito, e que os portugueses tinham mesmo voado para terras longínquas. “Comecei a perceber que sempre foi algo apagado pelo Estado Novo e depois, sucessivamente, a nível institucional e corporativo. Na verdade, se a viagem tivesse sido um desastre, havia a informação de que tinha sido de Vila Nova de Milfontes a Macau, mas como foi um sucesso, passou a ser designada como tendo sido feita de Lisboa a Macau, e assim fez escola. Houve uma espécie de vergonha do sucesso da viagem, assumiu-se que já havia dois heróis, o Gago Coutinho e Sacadura Cabral, e não valia a pena ter mais heróis.”

A viagem é importante não apenas do ponto de vista dos feitos para a aviação, mas também por questões políticas. Em 1924 Portugal vivia sucessivas crises políticas com a I República, instaurada em 1910, mas este raid conseguiu receber o apoio do público. Mesmo sem apoio do Estado, os três aviadores viajaram até ao Oriente com o apoio popular. Foram concedidos donativos recolhidos em campanhas e eventos públicos, nomeadamente um “rally” que fechou Lisboa só para este fim. Alguns actores famosos participaram para que a venda de bilhetes fosse mais bem-sucedida.

A revista “Seara Nova” também deu apoio à viagem, comprando uma edição do livro de poesia de Sarmento de Beires, intitulado “Sinfonia do Vento”. Com estes fundos foi possível adquirir o avião Breguet XVI B2, chamado “PÁTRIA”.

O início da viagem deu-se a 7 de Abril de 1924 e foram vários os desafios, tendo obrigado Brito Pais e Sarmento de Beires a escalas em países como Espanha, Tunísia, Líbia, Egito, Síria, Iraque, Irão, Índia, Birmânia, Tailândia, Vietname e China. Na Índia enfrentam uma tempestade, aterram no deserto e foram forçados a adquirir um segundo avião, o “PÁTRIA II”.

Uma espécie de milagre

Diogo Vilhena, que tem realizado nos últimos meses diversas entrevistas para o documentário, diz continuar intrigado sobre o facto de “ter sido possível a estes homens, que viajavam numa casca de noz com asas, realizar este feito, numa altura em que não havia equipamentos, protecção, comunicações”.

Os aviadores só tinham autorização para voar entre Vila Nova de Milfontes e Málaga, em Espanha, sendo que, a partir daí, estavam por sua conta. “Para mim, esta é uma das aventuras mais épicas da história de Portugal, porque quiseram fazer a viagem e concretizaram-na mesmo. Acreditaram numa espécie de irmandade que ali foi criada, com uma estrutura militar, pois tratava-se de forma hierárquica, com o ‘Sim, meu capitão'”.

Até nas celebrações eles estiveram sempre unidos, destaca o realizador. “Brito Pais era um sujeito mais bem visto pelo regime, mas nunca permitiu que fosse homenageado sozinho. Sempre disse que, para o ser, tinham de ser os três homenageados. Infelizmente, o Brito Pais morreu dez anos depois da guerra [II Guerra Mundial].”

Colar memórias

Assumindo ser difícil contar uma história com 100 anos, em que os seus protagonistas há muito faleceram, ou até familiares mais directos, Diogo Vilhena tem-se concentrado em estabelecer ligações e contar uma história de forma una, que ensine algo a cada pessoa que participa.

“O documentário está a ser montado pela relação da memória. A ideia é revisitar a memória que existe nos espaços e pessoas, mas não de forma directa, muitas das vezes. Há pessoas entrevistadas que foram generais e pilotos de F-16, mas que fizeram a escola primária em Macau e tiveram sempre esta imagem um pouco turva sobre a viagem. Não percebiam bem a história, porque era contada de diversas formas. São memórias que distam 17 mil quilómetros umas das outras.”

Assim, explica Diogo Vilhena, “a ideia é viajar para que, no final, o filme fique montado de forma que todas as memórias sejam importantes para a narrativa”. “Como esta história não faz parte da história oficial do país, passa a ser um informativo de fragmentos, em que cada pessoa ensina qualquer coisa a outra”, frisou.

Em Macau, o realizador pretende entrevistar o jornalista e autor João Guedes, por este “conhecer o território”, onde reside há dezenas de anos. Nos planos está também uma conversa com Santos Pinto, proprietário do Restaurante O Santos na Taipa que foi para Macau pela Marinha portuguesa, e que por lá ficou.

“A ideia é mostrar o que é ir de Portugal quase aos trambolhões e ficar em Macau para sempre, estabelecendo um paralelismo com o que aconteceu há 100 anos.”

Embaixadores da nação

Diogo Vilhena destaca também o facto de Sarmento de Beires, Brito Pais e Manuel Gouveia terem funcionado um pouco como embaixadores da cultura portuguesa, “por levarem sempre a bandeira de Portugal”. “A ideia era que transportavam Portugal, porque tinham viajado com o apoio da pátria, das pessoas, ricas ou pobres, e não do Estado.”

O autor do documentário confessa que “é sempre um processo complicado trabalhar com memórias”. “Há pequenos detalhes que muitas pessoas conhecem, e é nisso que me estou a concentrar. Entrevistámos o sobrinho-neto do mecânico [Manuel Gouveia], que é engenheiro da Airbus, e, de repente, transportei-o para a sua infância, em que fala das memórias da avó, que era irmã deste mecânico. Aí consigo ter, na primeira pessoa, a memória de gente que inspirou uma geração.”

As pessoas entrevistadas “ainda hoje ficam loucas a pensar como eles [Brito Pais e Sarmento Beires] conseguiram fazer determinadas coisas, como andar em altitude na Birmânia. O ar era rarefeito e podiam desmaiar”.

“Tinham muito desconhecimento técnico, fizeram alguns erros sem noção, mas o que é certo é que chegaram lá. Houve um tufão que os impediu de aterrar em Macau, tendo aterrado em Hong Kong, perto de um cemitério”, aponta Diogo Vilhena. A chegada a Macau aconteceu a 23 de Junho de 1924.

O regresso foi feito por terra e mar, com trechos da viagem de comboio ou a bordo de navios e ferries, com passagens entre o Japão, Canadá, Nova Iorque, Londres e Lisboa. Chegados à capital portuguesa, perguntaram ao comandante do navio que os transportara de Londres se havia conhecimento da travessia aérea que tinham feito. O comandante disse saber de algo, por andar a navegar, mas que em Portugal ninguém sabia de nada. “Aí Brito Pais disse: ‘Ainda bem. Chegamos da mesma forma que partimos. Indigentes’.”, recorda Diogo Vilhena.

O realizador diz-se surpreendido também com o “conhecimento que determinadas pessoas têm sobre alguns pontos da viagem, sabendo muito sobre cartografia, a forma como funcionava o avião, como conseguiram apoios”. “Não há ninguém que tenha o domínio completo da história no seu todo. Não há uma visão global, e espero que com este projecto construir essa ideia global”, rematou.

A estreia do documentário deverá acontecer dia 21 de Setembro deste ano, precisamente o dia em que Manuel Gouveia, Sarmento de Beires e Brito Pais chegaram a Lisboa. O regresso a Vila Nova de Milfontes foi seis dias depois.

4 Jun 2024

História | “De Portugal a Macau – A viagem do Pátria” com edição bilingue

“De Portugal a Macau – A viagem do Pátria”, livro do aviador Sarmento de Beires sobre a primeira viagem de avião entre Portugal e Macau, em 1924, é agora reeditado e traduzido para mandarim. Poeta e personalidade ligada ao grupo Seara Nova, crítico do regime da Ditadura Militar, Sarmento de Beires é hoje um herói da aviação caído em esquecimento

 

Acaba de ser reeditado em Portugal “De Portugal a Macau – A viagem do Pátria”, livro da autoria do aviador José Manuel Sarmento de Beires sobre a primeira travessia aérea entre Portugal e Macau, em 1924, na companhia de Brito Paes e Manuel Gouveia. O projecto tem a chancela da Edições Afrontamento e do CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar “Cultura, Espaço e Memória”, da Universidade do Porto. As coordenadoras da obra juntaram esforços numa série de felizes acasos, uma vez que Rita Pina Brito já tinha as ilustrações e a tradução para mandarim da autoria de Yu Yong, enquanto que a académica Isabel Morujão tinha o projecto em mente.

Ao HM, Rita Pina Brito explica “a longa viagem” para a reedição deste livro, iniciada em 2014 e 2015. “A Isabel [Morujão] tem uma ligação familiar a Sarmento de Beires, e queria traduzir o livro de português para inglês, que será agora o próximo passo, já estamos a trabalhar nisso. Mas depois alguém sugeriu a tradução para mandarim. E nós já tínhamos a tradução feita. O meu pai foi há muitos anos ao Oriente e foi ele que me disse que este livro tinha de ser traduzido para mandarim.”

Esta não é uma mera reedição dos escritos de Sarmento de Beires, mas um livro de viagens com ilustrações. “Desde o início queríamos fazer um livro que não fosse tão sério. Sempre disse que eu levaria [para este projecto] as traduções e ilustrações, e a Isabel levou os textos académicos para dar contexto. Ela é uma estudiosa do Sarmento de Beires e faz uma análise do apoio que o país lhe deu e que o Estado acabou por não dar. Há, por exemplo, registos do apoio da imprensa.”

Rita Pina Brito tem também ligações familiares com Sarmento de Beires, que chegou a enviar uma carta ao seu avô. “O primeiro contacto que tive [com a história de Sarmento Beires] foi através do meu pai. Já todos ouvimos falar do Gago Coutinho e Sacadura Cabral, que são heróis nacionais, mas o meu pai falou-me de Sarmento de Beires e Brito Paes. Há ainda um grande desconhecimento, quase ninguém conhece estes aviadores.”

Realizado em 1924, a primeira viagem de avião Portugal-Macau aconteceu graças a uma intensa campanha de recolha de fundos num país prestes a abraçar uma Ditadura Militar, a que se seguiria o Estado Novo, a partir de 1933. São anos em que o Estado decide não apoiar financeiramente esta viagem, sendo ela feita com apoios da sociedade e de jornais da época, que muito publicitaram o feito de Sarmento de Beires e Brito Paes.

Um crítico do regime

Sarmento de Beires foi mais do que um aviador. Foi poeta e membro da revista Seara Nova, fundada em 1921, uma publicação que foi uma arma crítica contra a ditadura.

“Esteve muito associado a esse grupo e chegou a pertencer ao corpo directivo da revista. Pretendia um Portugal com opinião, era um cidadão consciente e esclarecido das suas decisões e com capacidade de intervenção”, recordou Isabel Morujão.

A primeira edição do livro de Sarmento de Beires foi publicada em 1925, seguindo-se a segunda edição em 1953 e a terceira em 1968, já uma edição de autor. Para Isabel Morujão, esta reedição, feita em pleno período do Estado Novo, prova que a viagem entre Portugal e Macau já tinha caído no esquecimento.

“[Sarmento de Beires] teve a necessidade de corrigir algumas informações e dedicar o livro a Brito Paes. Esta dedicatória mostra, em 1968, que esta viagem estava apagada da memória dos portugueses pelo facto de Sarmento de Beires ter sido um opositor ao regime. Esteve exilado na década de 30, viveu no Brasil e França. Teve de viver das traduções que fazia e passou mal economicamente.”

Aquando da terceira reedição, já Brito Paes havia falecido em 1934, e Manuel Gouveia, em 1966. Sarmento de Beires morreria no ano da Revolução dos Cravos 1974.

A travessia aérea entre Portugal e Macau “foi uma tentativa de preparar uma volta ao mundo de avião”, recorda Isabel Morujão. “Gago Coutinho, sendo um homem do regime de Salazar, manteve sempre imparcialidade muito digna em relação a estes aviadores, tendo dito sempre que eles fizeram metade da volta ao mundo em quilómetros.”

Nas primeiras décadas do século XX não se vivia apenas um intenso período político marcado pela instabilidade da primeira República. Porém, finda a I Guerra Mundial, em 1918, a aviação estava ao serviço da paz. “Nestes primeiros 30 anos da aviação mundial, a aviação tinha um desígnio de paz e isso vem muito referido na obra de Sarmento de Beires.”

No Oriente, com a recente instauração da República e queda do poder imperial na China, em 1911, também se viviam tempos conturbados e de profunda mudança. “Esta viagem tem um contexto especial, de efervescência dos anos pós-República. Na China existia um certo turbilhão, e o local onde o avião aterra era um terreno incrustado numa zona que tinha sido recentemente conquistada pelo exército de Sun Yat-sen”, recorda Isabel Morujão.

Rita Pina Brito não tem dúvidas. Sarmento de Beires foi, acima de tudo, “um homem corajoso”, cuja audácia não se mede apenas pela viagem que realizou. “Alguém que não se encaixa nos moldes que a sociedade dita naquele momento é uma pessoa corajosa. Como se incompatibilizou com o regime, foi esquecido”, rematou.

Apesar do esquecimento, restaram em Portugal pedaços desta memória, tal como um monumento em Vila Nova de Milfontes, onde teve início a viagem, e a exibição de vários objectos testemunha da travessia no Museu do Ar.

26 Out 2021