Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesO Papa Americano (IV) “Let us disarm words and we will help to disarm the world.” Leo XIV A bordo de uma nave que traça trajectórias por vezes dissonantes em relação aos impulsos de Trump. Sem contar Musk, electrão livre após a separação não consensual do presidente. Pouco se compreende desta vaga ascendente ignorando que ela deve a sua ascensão ao colapso do liberalismo globalista, no seu auge na última década do século XX. O chefe estratega da campanha presidencial em 1992 de Bill Clinton afirmou “It’s the economy, stupid!”, e seguido pelos seus apoiantes de que para o americano médio-baixo se tornou sinónimo de privação, depressão e crise de identidade. O populismo é filho do elitismo. Reforçado pelo arrogante fracasso liberal. Convém levar a sério a reacção trumpista, que procura irradiar para além da temporada do presidente em exercício. Vance e Trump parecem partilhar a cruzada antiliberal que pretende ligar à revolução americana Estados, partidos e lóbis ideologicamente próximos do movimento MAGA. Eles próprios, juntamente com pesos médios e pesados do circuito trumpista, intervêm sem pudor nas eleições de países “amigos e aliados”. A lista é extensa. O caso mais recente é o da Polónia, onde a responsável pela Segurança Interna, Kristi Noem, empenhou-se com sucesso em apoiar a ascensão do nacional-conservador Karol Nawrocki à presidência da República, em confronto com o primeiro-ministro Donald Tusk, alegado vassalo de Bruxelas. Já em Fevereiro, Vance havia criticado duramente os líderes euro atlânticos na conferência de Munique e apoiado a Alternativa para a Alemanha (AfD) contra moderados, europeístas e tardios globalistas, acusados de reprimir o debate livre e ameaçar a democracia na República Federal. Campanhas semelhantes ocorreram no Reino Unido em apoio ao ressurgido Farage, em França por Marine Le Pen, desqualificada por uma sentença controversa, na Roménia pelo candidato presidencial derrotado George Simion, auto declarado aderente ao “bilhete MAGA”, na Irlanda por Conor McGregor. Até na Coreia do Sul por Yoon Suk Yeol, que segundo Trump foi removido da presidência por um golpe orquestrado pela China. Sem falar do cordial abraço com Giorgia Meloni, encorajador e ao mesmo tempo embaraçoso para quem se oferece como ponte entre europeus e americanos. O MAGA internacionalizado e não globalizado pretende ser o protector da civilização ocidental, florescida na Europa a partir da semente judaico-cristã, helénica e romana, revisitada e transmitida ao Novo Mundo pelos ingleses, atingindo o seu esplendor máximo nos Estados Unidos. Hoje ameaçada pela finança global, pelo politicamente correcto e pela “substituição étnica” gerada pelo catastrófico cruzamento entre imigração não assimilável e declínio da natalidade. Em defesa dos “valores tradicionais”, a começar pela família. A civilização ocidental é o conceito de que existe uma ordem natural das coisas e que temos direitos que derivam de Deus. E que existem regras, regista Terry Schilling, fundador do Projecto para os Princípios Americanos. A melhor definição da Internacional MAGA é-nos dada por um jovem conselheiro do Departamento de Estado, Samuel Samson. Para quem é urgente uma nova aliança de civilizações com a Europa, contra o projecto global liberal que impede o florescimento da democracia, que a espezinha juntamente com a herança do Ocidente, em nome de uma decadente classe governante que teme o seu próprio povo. Portanto, esta parceria deve assentar na herança comum americana, não no conformismo globalista. Assistimos ao esboço de uma para doutrina eclesiástica em forma laica. Política e geopolítica. Nova/velha religião com estrelas e faixas. A originalidade deste culto reside na apropriação do catolicismo, moldado às suas próprias necessidades. Fé que atrai um em cada cinco americanos. Após anos de declínio, o cristianismo latino parece estar em recuperação. Sobretudo converte. Nessa nação antipapista, com ex-evangélicos ou ateus Vance percorreu ambas as etapas rumo à Luz que olham para Roma e se entusiasmam com o “seu” pontífice, significa que o vento está a mudar. O Vaticano está exposto ao duplo risco de ser usado por uma facção de fidelidade canónica duvidosa para fins de poder e/ou de se confrontar com o actor geopolítico e económico “Número Um”, a custos incalculáveis. Inclusive para as suas próprias finanças. A dissolução da USAID já afectou ordens e movimentos católicos em todo o mundo, beneficiários habituais da divisa que garante confiança em Deus. Pior, a recuperação católica em territórios infiéis, mesmo pescando entre cristãos de outras confissões, pode culminar em conflito entre crentes progressistas e tradicionalistas. O pesadelo do papa americano é ter de resolver disputas internas na sua Igreja de origem. Enquanto Trump via Vance ou vice-versa, engrossa as suas divisões com os departamentos locais do papa. Com que fundamentos? Do catolicismo, Vance atrai-se pelas certezas dogmáticas, liturgias tradicionais, anseio pelo bem comum. Coroadas pela autoridade do papa. Tudo para dotar de moral mobilizadora o despertar da comunidade nacional, objectivo da revolução em curso. Contra o progressismo, liberalismo, socialismo e pecados associados. Se fosse pontífice, Vance regressaria ao Vaticano I, ampliando a esfera da infalibilidade papal. Os seus referentes são Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino, dos quais oferece excertos de leitura original. Do “Aquinate” extrai uma interpretação adaptada do ordo amoris. Desafio ao coração da sua religião declarada. O amor é o cristianismo. Em Cristo é gratuito. Vance oferece uma versão paga. A favor da sua conta corrente política e geopolítica. Diz amor, mas entende norma ética. Com a qual declina a hierarquia sociogeopolítica do amor.A escala de Vance tem cinco graus que são a família, vizinhança, comunidade, pátria e resto do mundo. Classificação dos deveres do bom americano, contra a retórica dos direitos. Inconciliável com o bom samaritano. Irrefreável no impulso agápico de Jesus, abraço aberto a todos. Talvez mais próximo da tradição veterotestamentária que privilegia o amor judaico pelos judeus. O acaso, ou Deus, quis que Vance ocupasse os últimos dias de Francisco. Primeiro obrigando-o à refutação da sua ordem do amor, à qual aderiu publicamente também o cardeal Prevost. Depois, levando-o a receber a sua némesis, poucas horas antes de morrer, num não cruzar de olhares que dizia mais do que qualquer palavra. Agostinho, o africano, relata nas Confissões que, jovem e céptico professor de retórica, em 384 chega a Milão para encontrar o bispo Ambrósio, animador da comunidade cristã perseguida. Com espanto, descobre-o a percorrer em silêncio as Escrituras: «Quando lia, o olhar corria pela página e o intelecto perscrutava o significado; voz e língua permaneciam em repouso. Muitas vezes ficávamos encerrados num longo silêncio e quem ousaria perturbar tal recolhimento? E víamo-lo sempre ler daquela forma silenciosa, nunca de outro modo» (Confissões, 6,3). Na época, e ainda durante séculos, os poucos letrados, sobretudo em ambientes partilhados, liam em voz alta. Um acto de generosidade para com o próximo, muitas vezes iletrado. Hoje, distingue-se uma biblioteca pelo som do silêncio. Naquele tempo, cruzavam-se vozes. A leitura comunicada, ou seja, transmitida em comunidade, era regra e assim permaneceria até ao início do segundo milénio. A leitura silenciosa ou murmurada exclui o próximo. Daí o desconforto de Santo Agostinho. Esta figura patrística, cara a Bento XVI que no seu íntimo solidificava com o ambrosiano ruído do silêncio é trazida pelo psicanalista Luigi Zoja como exemplo da deriva que nos afasta do próximo para nos fecharmos em nós próprios. Fala-se pouco. O verbo afastou-se dos (virtuais) falantes, substituído pela tecnologia. Com os seus engenhos dedicados ao ego, o “I” inglês: iPhone, iBook, iPod, iPad. Égoïste é o perfume que a Chanel promove como retrato olfactivo de um homem de carácter, fascinante e inatingível. Assistimos ao colapso do “nós”, à morte do próximo, consequência da morte de Deus? O cristão está autorizado a pensar assim por dedução do Evangelho de Marcos (12:28-31), que atribui a Jesus o breve resumo dos mandamentos, ou seja, do amor; primeiro, «O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Ama o Senhor teu Deus com todo o teu coração»; segundo, «Ama o teu próximo como a ti mesmo». Dois amores encadeados por paradoxo e intenção. Mas onde está o próximo hoje? A distância entre os humanos, animais sociais por constituição, cresce. A tal ponto que compromete o próprio sentido das sociedades, sobretudo mas não só ocidentais. Uma condição antinatural. Um darwinismo anti-social que fragmenta as comunidades. Palavra-programa que une cum e munus, “juntos” e “tarefa”. De tarefas partilhadas há pouca memória. Pode-se escrever direito por linhas tortas. Mas sem Deus (no sentido próprio de Nietzsche), sem próximo (na abertura ilimitada de Jesus) e sem projectos comuns, ordenar o caos é utopia. Eis a dupla crise de sentido da Igreja e da América, que desencadeia uma competição identitária e geopolítica dentro e entre colectividades em atomização. Está em jogo a razão de viver. Vence, ou pelo menos não se perde, o pastor que melhor reagrupa as suas ovelhas dispersas. É sobre isto que versa a disputa em torno da ordem do amor. Igreja e América enfrentam de forma oposta o desafio do declínio. Na sua ênfase sinodal, Leão XIV associa Santo Inácio de Antioquia, conduzido em cadeias ao martírio como “Então serei verdadeiramente discípulo de Jesus Cristo, quando o mundo não vir o meu corpo” (Carta aos Romanos, IV, 1). Referia-se a ser devorado pelas feras no circo e assim aconteceu mas as suas palavras evocam, num sentido mais geral, um compromisso irrenunciável para quem exerce um ministério de autoridade na Igreja como desaparecer para que permaneça Cristo, tornar-se pequeno para que Ele seja conhecido e glorificado (João, 3,30). Depois de Leão Magno, Leão o Pequeno? À Igreja introvertida e em cisão não servem grandes papas, que no melhor dos casos encobrem a sua doença. É preciso redescobrir o sentido da comunhão, hoje em risco. Na sua elevada ideia de si, Trump torna-se omnipresente e omnifalante. Incensa-se como mega presidente para tornar a América grande novamente. Os católicos neotradicionalistas que o aplaudem não se preocupam em ser menos do que aparentam. Mas quem, feroz no seu estéril progressismo, ridiculariza a insipiência doutrinal de Vance e associados, glorifica-se a si próprio e aposta que a contra-revolução trumpista é um parêntese deplorável, acabando em fora de jogo. Na Igreja, na América, em todo o Ocidente até nas potências rivais, a privação do contacto com o próximo é insuportável à existência. Não importa se por direito ou por dever, o ser humano procurará sempre o vizinho, sofrerá se não o encontrar. Partilhamos a conclusão de Zoja, para juntos procurarmos uma resposta de que em qualquer lugar, em qualquer época, a distância sempre foi um obstáculo ao amor, porque deveria a nossa ser diferente? Pode-se realmente amar ou apenas conhecer aquilo que está longe? E só o conhecimento permite, ao menos, ser justo? Nada o demonstra.
Jorge Rodrigues Simão VozesO Papa Americano “The bishop is not supposed to be a little prince sitting in his kingdom, but rather called authentically to be humble, to be close to the people he serves.” Pope Leo XIV Leão XIV encarna a dupla crise da América e da Igreja Católica. Versão contemporânea da antiga tensão entre o império e o papado. Sujeitos incomparáveis por natureza que, por constituição, se excluem mutuamente. Nascidos para redimir o mundo de acordo com os seus princípios. Com a arma do poder em todas as suas dimensões expressas hoje na Terra, depois de amanhã talvez noutros planetas, a América. Com a intenção de converter a humanidade à presença do Reino de Deus encarnado em Cristo, a Igreja de Roma, mediadora entre o Céu e a Terra. Missões impossíveis, mas indispensáveis. Está em jogo a própria identidade. A vida. Cada uma, no seu plano, vive e sofre do crisma original do Ocidente, ao qual ambas se referem de forma diferente; o universalismo. Parte que se sonha inteira. Sonho que se transforma em pesadelo para os Estados Unidos, que temem morrer globalizados por terem ousado americanizar o mundo. Pelo contrário, a Igreja que, com Francisco, esboçou a saída para as periferias constata que as ovelhas não são muito atraídas pelo pastor, muitas vezes fogem dele. Especialmente no seu núcleo de origem, europeu e ocidental. E se a Igreja desaparecesse de si mesma? Cabe ao novo papa, veremos se mais híbrido ou americano, estabelecer em concílio sinodal a trajetória do povo de Deus. Cabe à sua pátria natal discernir se e como aproveitar a sua esteira para se curar. O clima actual informa-nos que Washington e Roma não seguirão caminhos paralelos, muito menos solidários, para curar a doença que parece assimilá-las. A instituição temporal dotada de religião civil, o “American way of life”, opta com Trump por uma dieta geopolítica de emagrecimento de nada de grandes e comprometedoras aventuras no vasto mundo, fortificação do reduto americano em expansão ártica. Fiel à tradição ocidental desfigurada pelos iluministas, positivistas e comunistas. A outra, de inspiração celestial e inculturação variada nos territórios de missão marcados pelas dioceses, herança tardo-romana, não tem casca em que se retrair sem se desfigurar. A abertura à ecúmene é a sua razão de ser. A ser modulada de acordo com uma geopolítica eclesiástica sempre actualizada. Nunca se submetendo ao “Número Um” do momento. Se Trump, entusiasmado com a tomada americana do Vaticano com o advento de Leão XIV, conta com um catolicismo pós-franciscano disposto a oferecer um suplemento de alma ao seu magistério rude e imprevisível, está enganado. Como se ilude o alto clero da Santa Igreja quando confia ter arrancado um bilhete premiado ao escolher um sucessor americano para Pedro. A oferta da Papal Foundation e de outros patrocinadores prometidos do outro lado do Atlântico «tem condições», tem restrições rigorosas, como informam «doadores» em equilíbrio entre Deus e Mamona. É claro que, antes de se encerrarem na Capela Sistina, os cardeais passaram muito tempo a discernir as consequências financeiras da inspiração que o Espírito Santo lhes teria concedido, o que, parafraseando o jargão eclesiástico, é uma revelação. A sede vacante não é tempo de virtudes teologais, mas sim cardinais. Como observou em 1997, com ironia curial, o cardeal Joseph Ratzinger a quem lhe perguntou se o papa era eleito por escrutínio divino afirmou «Eu não diria isso, no sentido de que é o Espírito Santo que o escolhe. Diria que o Espírito Santo não assume exactamente o controlo da questão, mas sim, como bom educador que é, deixa-nos muito espaço e liberdade, sem nos abandonar completamente. Assim, o papel do Espírito Santo deve ser entendido num sentido muito mais elástico, não que dite o candidato em quem se deve votar. Provavelmente, a única certeza que oferece é que o facto não pode ser totalmente arruinado. Há demasiados exemplos de papas que, evidentemente, o Espírito Santo não teria escolhido». Não sabemos se o acaso, a necessidade ou a Providência impuseram Robert Francis Prevost no trono de Pedro precisamente na encruzilhada entre as duas (suas) crises. Certamente é um sinal dos tempos. Vulgarmente representado na selfie artificial divulgada pela Casa Branca, com a qual, na véspera do conclave, o pseudo-Trump disfarçado de papa invadiu a esfera mediática. Quase como para santificar a comunhão entre a Quarta e a Primeira Roma, em ordem hierárquica. Faltava apenas que o pontífice cesariano se dividisse em dois para se dar a unção real. Ironia do conto, pois na fotomontagem, o papa Trump veste-se totalmente de branco, como Francisco. Talvez também por isso, ao ostentar-se urbi et orbi, Leone enriqueceu a batina branca com os símbolos clássicos do pontificado. Mas um grão de verdade expõe essa imagem blasfema. Há muito de eclesiástico na autoconsciência da América. Da mesma forma, há muito de imperial na história da Igreja. Os Estados Unidos nascem e crescem como uma religião autocentrada em peculiares declinações cristãs. Independentemente da seita ou confissão a que pertençam, os americanos vivem versões estreladas e listradas. Católicos incluídos. Os catolicismos americanos, bastante mundanos, mais conscientes e conflituosos do que nunca, ocupam espaços distintos no rebanho do pastor de Roma. Com e contra as ramificações protestantes predominantes, estabelecidas ou neo-evangélicas, professam o Credo Americano. Religião celebrada na sua época áurea pela nação-Igreja autodenominada ápice da humanidade. Farol da Liberdade, portanto, universal. Autocéfala e ao mesmo tempo católica no sentido etimológico e, portanto, ecuménico da palavra. Como consequência de tantas contradições formidáveis, a crise de identidade da superpotência mundana é ao mesmo tempo própria e mundial. A Santa Sé, grandioso repositório de cultura e fé, expressão geopolítica da Igreja de Roma e seu órgão supremo de governo no Estado da Cidade do Vaticano, em plena Urbe, nasce, vive e confronta-se com o imperium sine fine em todas as suas ramificações. Os túmulos romanos de Pedro e Paulo, primeiros impulsionadores da evangelização, confirmam a potentior principalitas, a autoridade preeminente do caput mundi em relação aos veneráveis patriarcados originais de Antioquia, Alexandria, Éfeso, Corinto e Tessalónica. A religião dos apóstolos germina sob Tibério na Palestina, expande-se na pars occidentalis da Primeira Roma, delimitada pela instável bipartição estipulada em Brindisi entre António e Otávio quarenta anos antes de Cristo, sanção da heterogeneidade permanente entre Oriente e Ocidente. Depois, baptiza com Constantino a Segunda Roma, ideal-tipo da metrópole de fundação totalmente cristã. Há um milénio que disputa com a ortodoxia da Terceira Roma, coração do império moscovita que se exibe cristão, na utopia de ser reconhecido como terceiro pulmão do Ocidente, com a Europa e a América. E há oitenta anos convive com a primazia terrena da Quarta Roma, eleita por puríssimos pais peregrinos anglo-irlandeses e erigida por ex-colonos britânicos apaixonados pela tradição helenístico-romana, de modo a corresponder em código através de pseudónimos latinos. A Ecclesia permixta descrita por Santo Agostinho, referência de eleição do papa Prevost, onde se misturam trigo e joio, fertilidade e esterilidade, amor e inveja, descobre-se ferida. Os cismas líquidos que a corroem tendem a coagular. A prioridade do pontificado é a costura das rupturas que dilaceram o corpo da Igreja. Sem renegar Francisco, fechar algumas das brechas por ele abertas, distinguindo aquelas que merecem ser preenchidas das perigosas ou precárias, descartáveis. À espera que os posthumos releiam o seu papado, captando alguns traços proféticos demasiado incoerentes com a realidade, não só eclesial, para poder já agir. Hoje ressoa o aviso de Bento, mestre do agostinianismo, sobre a necessidade de proteger a missão ad extra do excessivo optimismo sobre a fé como «pressuposto óbvio da vida comum» afirmando que «Não podemos aceitar que o sal se torne insípido e que a luz seja mantida escondida». Mesmo que isso signifique que a Igreja se queira isolar de graça no mundo sem graça? O clero católico divide-se em três. Aqueles que privilegiam a missão, aqueles que privilegiam a instituição e aqueles que navegam entre as duas correntes. A pedra de toque continua a ser o Concílio Vaticano II. Para os primeiros, deve ser desenvolvida a abertura missionária ao povo de Deus, ou seja, à Igreja propriamente dita, juntamente com o impulso ecuménico. Para os segundos, prevalece a defesa da tradição contra a submissão aos sinais dos tempos, que pode induzir à heresia. Sair ad gentes, portanto, contaminar-se para evangelizar, ou entrincheirar-se em nome da fé «pura»? Na história, o carisma do papa inclina o barco de Pedro para um lado ou para o outro. Hoje muito mais do que ontem, com o pontífice superstar, enquanto o seu povo parece contrair-se, em crise de caridade interna e de atracção externa. Na vulgata, Francisco é considerado um campeão irregular da Igreja em saída, pela história, doutrina e carácter. Pastor por excelência. Ou em excesso, para os críticos. Bento XVI, seu predecessor traumatizado pelo peso do múnus petrino, é o epónimo do fidei defensor. Teólogo perspicaz. Herr Professor raro do seminário. Claustrofóbico. Simplificações questionáveis, mas poderosas. Leão XIV nem um nem outro. Pelo menos nas intenções de muitos dos seus eleitores. Convertam-se a ele a partir das margens opostas, conscientes das cisões latentes ou já efectivas que estão a fragmentar o arquipélago eclesiástico em ilhas e ilhotas autocentradas. Católicos diferentes. Certamente não romanos. A biografia e algumas palavras do papa americano exaltam a sua vocação pastoral, a proximidade com os humildes. Gestos pontifícios e outras palavras marcam a recuperação de símbolos e liturgias tradicionais. Com uma metáfora política que outrora nos teria colocado no Índice dos Livros Proibidos, poderíamos ver em Prevost um democrata cristão renascido, ancorado no centro, olha para a esquerda enquanto toma cuidado para não ter muitos inimigos à direita. Ou vice-versa. «Pedro, adelante con juicio» expressão da novela “Os noivos” utilizada para pedir a alguém que proceda con precaução e discernimento em uma situação difícil ou complicada. Leão XIV deve governar a Igreja em missão. Fixar o rumo, manter o leme direito, revitalizar a Cúria e reconectá-la às periferias eclesiais, muitas vezes indiferentes, se não adversas, à cátedra de Pedro. Para manter o mundo à beira do abismo de guerras sem fim. Os princípios da Igreja confiaram a este monarca tranquilo e decidido a tarefa de curar as feridas que sangram o rebanho de Cristo. Para que o fim do catolicismo não antecipe o fim do mundo. Talvez seja tarde, talvez não. Certamente é uma tarefa que Leão XIV poderá iniciar, mas não consolidar. A doença está demasiado disseminada, há muito tempo, para ceder a terapias milagrosas. Passou quase meio século desde o desaparecimento do último pontífice vocacionado (não só) para o governo da Igreja que foi Paulo VI (1963-1978). Os quatro sucessores não quiseram ou não puderam dedicar-se à máquina de Pedro. João Paulo I (1978) por falta de tempo e de firmeza, João Paulo II (1978-2005) por excesso de personalidade, Bento XVI (2005-2013, falecido em 2022) por comovente inaptidão, Francisco (2013-2025) porque queria «fazer barulho» («hagan lío!») para poupar o seu rebanho da morte por asfixia clerical. Papas conservadores e/ou revolucionários, inadequados e/ou relutantes em reformar na continuidade. A decomposição do tecido católico e a desculturação da sua classe dirigente são tais que excluem um Vaticano III. A menos que se aspire a uma implosão libertadora, para recomeçar a partir de micropatriarcados autocefálicos, nacionais ou subnacionais, de tom neo-ortodoxo. Mais facilmente, a partir de seitas espiritualistas emotivas de cunho neo-evangélico, fiéis a Mamona. Para compreender o desafio do Papa Prevost, convém partir daqui. Está em jogo o sentido da Igreja. Tanto espiritual como terreno. Nunca existiu nem poderá existir um cristianismo separado da realidade do mundo. A Santa Igreja Romana foi e continua a ser, apesar de ferida, um formidável sujeito geopolítico que desenhou a história universal. Há dois mil anos, católicos e outros cristãos vislumbram nela vários sinais e cores. Retiram dela lições diferentes. Doutrinárias, pastorais e geopolíticas. Para muitos, confirmação da fé em Cristo. Para menos, mas influentes, anúncio do apocalipse iminente. Aos estudiosos da geopolítica, resta a obrigação de estudar a visão e a acção da Santa Sé no cenário da história, cruzando no sentido próprio e figurado o factor humano e a especificidade religiosa. Elegemos como Carta Magna do modo cristão de estar no mundo o misterioso “Carta a Diogneto”, manuscrito grego anónimo do século II-III encontrado em 1436 em Constantinopla por um clérigo latino.
Amélia Vieira VozesGaivota Quem assistiu ao início do Conclave reparou certamente na gaivota que se deteve junto à chaminé onde por essa hora o fumo devia estar já visível diante dos expectantes olhares de milhares de pessoas e meios de comunicação, mas perante uma tão inesperada presença este momento tornou-se um sinal quase profético. Todos nos lembramos do raio que caiu no Vaticano a quando da abdicação de Bento XVI e a estranha impressão causada, um homem que veio então do fim do mundo depois do sucedido sentar-se-ia na cadeira de Pedro como uma gaivota, todo de branco, pairando por cima das púrpuras papais com sapatos argentinos um pouco gastos relembrando as sandálias do pescador. Os sinais andam por todo o lado, umas vezes enfáticos e grosseiros como foi o caso da imagem de Trump como Papa, essa funesta profanação que pode ser até subliminar e de efeito nauseante enquanto medida para todas as coisas, chamando, quem sabe, a atenção para assuntos concretamente fabricados para uma resolução final: mas se o compararmos a este que vem de suceder, o da gaivota, saberemos ver as diferenças, compor o discurso, olhar para o essencial. Os paramentos carregados de soberba nunca vestiram ninguém e ainda deixaram nus os seus vestimentários, mas um acaso pode vestir-nos para sempre com algo que não conhecíamos, que neste curtíssimo espaço de tempo lográmos “vestes” essências com asas no promontório da herança temporal. Yeats fala-nos das aves brancas crendo que todos os poetas amam as aves, falam com elas e as interpretam (cada um certamente à sua maneira) que sempre essa natureza etérea é de seu agrado fazendo parte de uma maravilhosa consciência que teima em não baixar por medo às grades, e foi isso que ali estava, aquela gaivota solitária vinda do recanto mais bonito da alma: / já nos cansa o meteoro, a sua chama, e ainda não se apagou, e não desapareceu; E a luz da estrela azul, suspensa no crepúsculo à beira do céu/… «In-As aves Brancas» Há coisas inesperadas, e isso é bom – acontecimentos súbitos- que a vida não será esse verdadeiro grande deslumbre onde todas as coisas comunicam de maneira diversa sendo os que mantêm a sua essência os mais contemplados? A continuidade é uma asa, uma recta para a eternidade, um ritmo, uma cruz ou um labor, e o que quer que olhemos será pelos olhos dessa alma que nos formou no caminho, só que a a visão das coisas agora se insinua num mundo muito cego que não tem o dom dos verdadeiros invisuais. Ninguém é insubstituível e todos temos faltas, mas há as gaivotas, as chaminés, os raios, a pedra e as núpcias criadoras que neste Maio moram. Os tempos estão agrestes mas ainda não sentimos o que pode significar tal expressão, que o sentimento não é probatório de coisa nenhuma até que venha alguma outra de mais lata que o resgate e transcenda. Francisco deixou o seu papa móvel branquíssimo para a Palestina fazer dele um pronto-socorro, e isso é Gaivota.
Carlos Coutinho VozesÉ obra! AGORA que o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros revelou a sua ternura pelos beligerantes ucranianos e até acha muito boa a generosa política de beneficência da NATO na guerra da Ucrânia, mesmo que isso resulte em mais tempo para morrerem ucranianos, russos e outros infelizes de duvidosa proveniência (mercenários internacionais, polacos e letões com dupla nacionalidade arranjada à pressa), a CNN, que nem sequer esconde as suas simpatias e as dos seus donos por Zelensky, atreve-se a informar que João Gomes Cravinho participa no capital de uma empresa imobiliária juntamente com um sócio condenado por fraude fiscal. Francamente… A empresa em causa, de nome Eurolocarno, tem como sócio um tal Marcos Lagoa, condenado no processo que lesou os CTT, através da venda de imóveis e já teve também como sócio António Barão, que participou num negócio que lesou o Novo Banco em 270 de euros, deixando-nos a nós a pagar. Eu acredito piamente na sinceridade do ministro quando revelou à CNN que não tinha conhecimento dos problemas judiciais dos sócios. Então não é comovente a candura de uma alma que entra numa sociedade empresarial com tão notórios desconhecidos? Então isto não é tudo boa gente? E não bastava sabermos que o ministro João Gomes Cravinho, enquanto pôde, fingiu não saber que a derrapagem do Hospital Militar de Belém triplicou os custos, quando ele era ministro da Defesa? Despesa que foi orçamentada, recorde-se, como de 750 mil euros e passou rapidamente para mais de 3 milhões. Que nós todos tivemos de pagar, como não podia deixar de ser, até porque num estado de direito é assim mesmo que se procede. E não temos de lhe agradecer a sua imensa e magnânima influência nas decisões estratégicas da NATO que, sentindo que a credibilidade da Aliança Atlântica estava a entrar em défice, ordenou a Zelensky uma lavagem profunda na sujeira governamental de Kiev, dadas as personalidades que rodeiam o excelso Presidente? Vejamos os primeiros resultados: Em menos de 24 horas, segundo o britânico “The Guardian”, “contabilizam-se já 11 saídas do poder em Kiev. E nos últimos 4 dias, são já 12. A lista prossegue com a demissão de 5 governadores regionais: Valentina Reznichenko, da região de Dnipropetrovsk, Oleksandra Starukha, da região de Zaporíjia, Oleksiy Kuleba, governador de Kiev, Dymtro Zhivytskyi, da região de Sumy, e, por fim, Yaroslav Yanushevich, governador da região de Kherson. Por fim, para já, Oleg Nemchinov, secretário do gabinete da presidência, confirmou também a saída de Vitaliy Muzychenko, vice-ministro da Política Social.” Vyacheslav Negoda, ministro-adjunto do Desenvolvimento dos Territórios da Ucrânia, demitiu-se do cargo. Também Ivan Lukerya, ministro-adjunto das Comunidades, assim como o ministro adjunto da Defesa, Vyacheslav Shapovalov, apresentaram a demissão. O procurador-geral-adjunto da Ucrânia, Oleksiy Symonenko, foi ontem corrido do cargo, durante uma reunião de altos funcionários. Então, não seria de ter mais compreensão pelo nosso ministro dos Negócios Estrangeiros, pelo nosso Primeiro-Ministro e pelo nosso Presidente da República? À tarde ATÉ no Vaticano a guerra está muito acesa, embora se desenrole sobre as alcatifas e à meia luz na Cúria, ora rastejando, ora trepando pelas paredes carregadas de santos e beatificados, clérigos e não tonsurados. Ao que consta, uma carta com remetente do Vaticano deixou os bispos alemães em estado de choque e de candeias à avessas com o Papa Francisco e a sua governança da Igreja Católica, porque se diz na incendiária missiva que os bispos germânicos não podem de maneira alguma criar um órgão de governo independente para gerir a igreja no seu país. Tal órgão foi aprovado em Setembro, em Frankfurt, por bispos e leigos seus cúmplices, no sentido se superar “a estrutura rígida, fechada, opaca que terá contribuído para manter impunes, durante muitos anos, os casos de abusos sexuais no seu interior”. Muitos dos quais, ao que também constava, eram virilmente praticados por clérigos alemães. “Desejamos deixar claro que nem o caminho sinodal, nem nenhum organismo por ele estabelecido, nem nenhuma conferência episcopal tem competências para estabelecer um conselho sinodal a nível nacional, diocesano ou paroquial”, diz a tal carta datada de 16 de Janeiro. Quem fala assim não é gago. O Papa Francisco, que está perfeitamente de acordo, vem a Lisboa encontrar-se com a juventude mundial e já prometeu resignar a seguir. Encontra-se em adiantado estado de preparação um palco à beira do Trancão que vai custar mais de 6 milhões de euros. É obra! Viva a comissão fabriqueira! No final, os custos da vinda do Papa a Lisboa poderão ultrapassar os 80 milhões. Para isso e muito mais é que existem os contribuintes e os impostos, graças a Deus. Viva a Pátria que é uma nação valente! Vivam os heróis do mar e o nobre povo!
Hoje Macau China / ÁsiaIgreja | Vaticano renova acordo com Pequim sobre nomeação de bispos O Vaticano e o regime comunista de Pequim renovaram por dois anos o acordo histórico assinado em 2018 sobre a questão da nomeação de bispos na China, anunciou no passado sábado o Estado sede da Igreja Católica. “A Santa Sé e a República Popular da China, após as devidas consultas e avaliações, concordaram em prorrogar por dois anos a validade do acordo provisório sobre a nomeação de bispos, assinado em 22 de Setembro de 2018”, anunciou o Vaticano em comunicado. Este “acordo provisório”, renovado uma primeira vez em 2020, teve como objectivo reunir os católicos divididos entre as igrejas oficial e ‘clandestina’, dando ao Papa a última palavra na nomeação de bispos chineses. Um total de seis prelados foram escolhidos desde a entrada em vigor do acordo. O Vaticano “pretende continuar o diálogo respeitoso e construtivo com a China, para a implementação frutífera do acordo e para o desenvolvimento das relações bilaterais, com vista a promover a missão da Igreja Católica e o bem-estar do povo chinês”. “O procedimento previsto pelo acordo foi cuidadosamente estudado, levando em consideração as características particulares da história e da sociedade chinesa e os desenvolvimentos […] da Igreja na China”, disse o cardeal Pietro Parolin, em entrevista à equipa de comunicação do Vaticano. Diante das “inúmeras situações em que as comunidades católicas se encontraram, algumas vezes, nas últimas décadas”, explicou, “pareceu prudente e judicioso levar em conta tanto as necessidades expressas pelas autoridades do país quanto as necessidades das comunidades católicas”. Após a ruptura entre a China e o Vaticano na década de 1950, os cerca de 10 milhões de católicos chineses foram divididos entre uma igreja oficial, controlada por Pequim, e uma igreja clandestina. Sob os termos do acordo anunciado em 2018, o Papa Francisco concordou em reconhecer a nomeação de sete bispos nomeados pelo Governo chinês unilateralmente.
Hoje Macau China / ÁsiaVaticano e diocese de Hong Kong alvo de alegados ataques informáticos [dropcap]O[/dropcap] Vaticano e a diocese de Hong Kong têm sido alvo de supostos ataques de piratas informáticos antes das negociações sobre as relações entre a Santa Sé e a China, revelou ontem a organização não-governamental Recorded Future. De acordo com aquela organização não-governamental norte-americana os alegados ataques informáticos estão a ser levados a cabo, alegadamente, pelo grupo “RedDelta” e começaram no passado mês de Maio. Anteriormente, uma notícia publicada no jornal New York Times referia que a vigilância e os ataques informáticos contra o Vaticano têm como objetivo as negociações que estão marcadas para setembro. O Vaticano ainda não comentou mas o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim negou qualquer tipo de envolvimento considerando o relatório da Recorded Future “especulativo”. Segundo a organização Recorded Future, a Missão Hong Kong/China (Hong Kong Study Mission to China), a entidade que faz a ligação entre o Vaticano e Pequim, assim como o Instituto para as Missões foram alvo de ataques cibernéticos. “A intrusão suspeita sobre o Vaticano permite ao grupo ‘RedDelta’ penetrar nas informações sobre as posições da Santa Sé antes da nova ronda negocial de setembro”, refere o relatório da Recorded Future. O mesmo documento acrescenta que os ataques informáticos também obtêm “informações importantes” sobre as entidades católicas na Região Administrativa Especial de Hong Kong assim como vigia os grupos pró-democratas da antiga colónia britânica. Ainda segundo o relatório, os “ataques” prolongaram-se pelo menos até 21 de junho e houve mesmo uma tentativa de obtenção ilegal de documentos da Secretaria de Estado do Vaticano nos contactos estabelecidos com Hong Kong. Os 12 milhões de católicos chineses dividem-se entre os que pertencem à Associação Patriótica dos Católicos Chineses, fora da autoridade do Vaticano, e os grupos clandestinos da igreja leal ao Papa. Os sacerdotes na clandestinidade assim como os fiéis são frequentemente alvo de perseguições e prisões na República Popular da China. Em 2018, foi alcançado o princípio de um acordo, sem precedentes, entre a Santa Sé e Pequim sobre a designação de bispos, nomeadamente de sete bispos que não eram reconhecidos pelo Vaticano, um assunto de conflito entre os dois Estados. Muitos católicos clandestinos mostraram reservas em relação ao acordo encarado como uma cedência ao regime comunista e traindo a lealdade dos fiéis em relação ao Papa. Pequim nega a existência de programas financiados pelo Estado que visam a vigilância informática de segredos de outros países ou instituições. No princípio do mês, os Estados Unidos disseram que foram detetadas intrusões informáticas chinesas e acusou dois cidadãos da República Popular da China por alegadamente estarem à frente de ataques contra empresas norte-americanas e de outros países. As autoridades judiciais dos Estados Unidos disseram também que piratas informáticos que trabalham para Pequim atacaram empresas norte-americanas que estão a desenvolver projetos científicos relacionados com vacinas contra o SARS CoV-2. A República Popular da China já respondeu que os Estados Unidos não têm provas sobre estes alegados ataques informáticos.
Hoje Macau ReportagemVaticano debate a partir de hoje escândalo de abusos a crianças que abalou a Igreja [dropcap]O[/dropcap] Vaticano recebe a partir de hoje e até domingo todos os presidentes das conferências Episcopais do mundo para uma reunião inédita sobre abusos a crianças por membros do clero, um tema que abalou a Igreja em 2018. Ouvir as vítimas, aumentar a consciência, aumentar o conhecimento, desenvolver novos procedimentos, e partilhar boas práticas são alguns dos objectivos do encontro. O encontro sobre a “Protecção dos menores na Igreja”, que se realizará, no Vaticano focará três temas principais: responsabilidade, assunção de responsabilidades e transparência. O papa anunciou a sua presença em todas as sessões e momentos de oração da cimeira que reunirá 114 conferências episcopais: 36 da África, 24 da América do Norte, América Central e América do Sul, 18 da Ásia, 32 da Europa, incluindo Portugal, e quatro da Oceânia. Segundo a comissão organizadora da cimeira, os participantes “trabalharão juntos para responder a este sério desafio” estando prevista também a participação de algumas vítimas. Na preparação deste encontro a comissão organizadora da cimeira pediu aos presidentes das conferências episcopais para ouvir as vítimas nos seus países. O papa Francisco escolheu para o comité organizador o arcebispo de Chicago (EUA), Blase J. Cupich, o arcebispo de Mumbai, Oswald Gracias, e duas figuras que têm protagonizado a batalha contra os abusos: o vice-secretário recém-nomeado da Congregação para a Doutrina da Fé, Charles Scicluna, e o presidente do Centro para a Proteção das Crianças da Pontifícia Universidade Gregoriana e membro da Comissão para a Tutela dos Menores, Hans Zollner. O abuso sexual contra crianças durante anos e anos chegou a ser classificado pelo secretário do papa emérito, Bento XVI, como “o 11 de Setembro da Igreja Católica”, um momento apocalíptico com incontáveis vítimas. Na Igreja dos Estados Unidos um relatório de um grande júri da Pensilvânia revelou que pelo menos mil crianças foram vítimas de 300 padres nos últimos 70 anos, e que gerações de bispos falharam repetidamente na adoção de medidas para proteger a comunidade e punir os violadores. No sábado, o Vaticano expulsou do sacerdócio o ex-cardeal e arcebispo emérito de Washington, Theodore McCarrick, acusado de abusos sexuais a menores e a seminaristas. Relatos em todo o mundo Os casos estendem-se ainda a países como a Alemanha, Irlanda, Holanda, Austrália, França e Espanha. Na Alemanha, um relatório interno encomendado pela Conferência Episcopal aponta para 3.677 casos de abusos sexuais cometidos por 1.670 elementos da Igreja entre 1946 e 2014 e na Holanda pelo menos 20 bispos e cardeais foram associados a abusos sexuais. Na Austrália, o cardeal George Pell, que dirigia a Secretaria da Economia do Vaticano, foi considerado culpado por um tribunal em Melbourne de abuso sexual a duas crianças. Em Agosto, a poucos dias de uma visita à Irlanda, onde mais de 14.500 pessoas declararam-se vítimas de abuso sexual por parte de padres, o papa escreveu aos católicos do mundo, condenando este crime e exigindo responsabilidades. Na carta, Francisco pediu perdão pela dor sofrida e disse que os leigos católicos devem envolver-se na luta para erradicar o abuso e o seu encobrimento. A 12 de Setembro, Francisco decidiu marcar uma cimeira mundial sobre os abusos sexuais na Igreja. Acções do papa contra os abusos sexuais na Igreja 2013 5 de Abril: – Na sua primeira audiência, Francisco desafia a Congregação para a Doutrina da Fé para, “seguindo a linha estabelecida por Bento XVI, agir de forma decisiva em casos de abuso sexual”. 2014 22 de março: – Cria a Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores. 7 de Julho: – Celebra uma missa com seis vítimas de abuso por parte do clero e pede “perdão por pecados de omissão” cometidos por líderes da Igreja por “crimes graves”. 5 de novembro: – Expulsa um sacerdote argentino, condenado a uma pena de prisão por pedofilia. 11 de novembro: – Cria um tribunal especial dentro da Congregação para a Doutrina da Fé para avaliar recursos interpostos pelos clérigos em casos de abuso e para agilizar as sentenças. 2016 4 de Junho: – Publica o ‘Motu Proprio’ “Como uma mãe amorosa”, em que afirma que os bispos podem ser expulsos se, por “negligência ou omissão”, causarem “sérios danos a outra pessoa na comunidade”. 2017 2 de Janeiro: – É divulgada uma carta de Francisco em que pede aos bispos do mundo inteiro que os crimes de abusos a crianças “não sejam mais repetidos” e determina uma “clara tolerância zero”. 2018 2 de Maio: – Recebe três vítimas de abusos do padre chileno Fernando Karadima, que pedem ao papa Francisco que transforme o seu pedido de perdão em “ações exemplares”. 15 de Maio: – Convoca uma reunião com os bispos do Chile depois de pedir desculpas por ter sido mal informado no caso do bispo Juan Barros, acusado de encobrir o padre Fernando Karadima. Três dias depois, todos os bispos apresentam a sua renúncia ao papa. 1 de Junho: – Inicia mais uma série de encontros com vítimas de clérigos no Chile. 11 de Junho: – Aceita a renúncia de três bispos chilenos, incluindo Barros, na sequência do escândalo de acusações de falta de transparência da Igreja na gestão de casos de abuso sexual a menores. 28 de Junho: – Aceita a demissão de mais três bispos chilenos 28 de Julho: – Aceita a renúncia do antigo arcebispo de Washington Theodore McCarrick, a quem ordena que conduza “uma vida de oração e penitência” até que as acusações de abuso sexual de que é alvo sejam examinadas num julgamento da Igreja Católica. 20 de Agosto: – Publica uma carta dirigida a todos os católicos do mundo, condenando o crime de abuso sexual por parte de padres e o seu encobrimento e exigindo responsabilidades. 29 de Agosto: – Lamenta a forma como a Igreja irlandesa respondeu aos crimes de abusos sexuais, naquela que foi a sua primeira intervenção pública no Vaticano depois das acusações de que ele próprio teria escondido os crimes. 12 de Setembro: – Convoca os presidentes das Conferências Episcopais de todo o mundo para uma reunião sem precedentes, a decorrer em fevereiro de 2019, para analisar os casos de abusos de menores. 28 de Setembro: – Reduz à condição de leigo o padre Fernando Karadima. 13 de Outubro: – Expulsa mais dois bispos chilenos do estado clerical por abuso infantil explícito. Escândalos sexuais na Igreja segundo Francisco “Fala-se de ‘lobby gay’ [na Igreja], e é verdade, ele existe.” 06-06-2013 “A Igreja deve sempre ser reformada, ‘Ecclesia semper reformanda’, porque os membros da Igreja ‘são sempre pecadores e precisam de se arrepender’.” 09-11-2013 “Mas tivemos vergonha? Tantos escândalos [na Igreja] que não quero mencionar individualmente, mas que todos sabemos quais são… Escândalos que alguns tiveram de pagar caro. E isso está bem! Deve ser assim… a vergonha da Igreja.” 16-01-2014 “Prometo compaixão e oração por cada vítima de abusos sexuais e também pelas suas famílias.” 16-01-2014 “Os casos de abusos sexuais são terríveis e deixam cicatrizes profundas. Bento XVI foi muito corajoso e ele abriu um canal. A Igreja neste caminho tem feito muito. Talvez mais do que qualquer um.” 05-03-2014 “Devemos ser muito duros [com crimes de pedofilia praticados por alguns padres]! Com as crianças não se brinca.” 11-04-2014 “O que me causa dor e tristeza é o facto de alguns padres e bispos, ao abusarem sexualmente de menores, violarem a inocência destes e a sua vocação sacerdotal.” 07-07-2014 “Não se pode dar prioridade a qualquer tipo de considerações, sejam de que natureza forem, como por exemplo a vontade de evitar o escândalo, porque não há qualquer lugar, no ministério da Igreja, para quem abusa de menores.” 05-02-2015 “Sei como está marcada em vocês a ferida dos últimos anos e acompanhei-vos no vosso generoso envolvimento para ajudar as vítimas (…) e contínuo trabalho para que estes crimes [de pedofilia que abalaram a Igreja dos Estados Unidos] nunca mais se repitam.” 23-09-2015 “Os crimes, os pecados dos abusos sexuais a menores [cometidos por membros da Igreja] não podem ser mantidos em segredo durante mais tempo.” 27-09-2015 “Nós não podemos encobrir [atos de padres pedófilos e] daqueles que são culpados, incluindo alguns bispos.” 28-09-2015 “Assumamos clara e lealmente tolerância zero em relação a este assunto [casos de abuso sexual de menores por membros do clero].” 02-01-2017 “A Igreja agora sente um dever de se comprometer, de forma cada vez mais profunda, na proteção dos menores e da sua dignidade, tanto dentro da própria Igreja como em toda a sociedade.” 06-10-2017 “Aqui [no Chile] não posso deixar de manifestar a dor e a vergonha que sinto perante o dano irreparável causado às crianças por elementos da Igreja.” 16-01-2018 “Não me posso permanecer em silêncio diante de uma das pragas do nosso tempo, e que, infelizmente, também tem implicado vários membros do clero. O abuso de menores é um dos piores e mais vis possíveis crimes.” 07-01-2019 “Havia padres e também bispos que faziam isso [abusar sexualmente de freiras].”
Hoje Macau DesportoVaticano cria equipa de atletismo com religiosos e funcionários [dropcap]O[/dropcap] Vaticano apresentou ontem a sua primeira associação desportiva, “Athletica Vaticana”, que terá uma equipa composta por padres, freiras e funcionários do Vaticano, para mostrar que o desporto pode ser uma ferramenta de solidariedade. A associação nasce de um acordo com o Comité Olímpico Italiano (CONI) e será composto por cerca de 70 pessoas com o objectivo de fazer uma “corrida divertida”, disse em conferência de imprensa o subsecretário do Conselho Pontifício para a Cultura e presidente da “Athletica Vaticana”. Através de um acordo com o CONI, a associação poderá participar em competições em Itália e no resto da Europa, e realizará a sua primeira corrida a 20 de Janeiro nas ruas de Roma. A associação tem também dois jovens refugiados como parceiros honorários tendo sido ainda assinado um protocolo com a Federação Italiana de Desportos Paraolímpicos e Experimentais, uma iniciativa que visa demonstrar como o desporto pode promover a inclusão. A apresentação também contou com a presença do presidente do Pontifício Conselho da Cultura, o cardeal Gianfranco Ravasi, que destacou a relação entre o desporto, solidariedade e a fé. O papa Francisco defendeu em várias ocasiões os valores do desporto como um antídoto ao individualismo e como uma ajuda para fomentar uma cultura de encontro.
João Santos Filipe China / Ásia MancheteChina e Vaticano mostram-se em sintonia, quase 70 anos depois Em Macau, há muitas incertezas, mas o pré-acordo que levou ao reconhecimento de sete bispos da China pelo Vaticano é visto com esperança. Em Roma, nega-se a existência de uma vertente política que leve ao corte de relações com Taiwan. Contudo, o Cardeal Joseph Zen acusa o Papa Francisco de trair os crentes que se mantiveram fiéis ao Vaticano ao longo dos anos [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] China e o Vaticano chegaram a um acordo provisório e histórico, depois de mais de 70 anos de costas voltadas, e o Papa Francisco reconheceu com efeitos imediatos sete bispos, nomeados pelo Governo Central. A revelação sobre o acordo foi feita no sábado, pelo Vaticano, mas os detalhes não são ainda conhecidos. Actualmente a Igreja Católica no Interior da China está dividida entre os fiéis que frequentam as igrejas da Associação Patriótica Católica Chinesa, cujos bispos e controlo está com o Governo Central, e os católicos fiéis a Roma, que frequentam igrejas consideradas ilegais pelas autoridades chinesas, cujos bispos são secretamente nomeados pelo Papa. Embora não haja números oficiais, estima-se que nas duas facções existam entre 10 e 13 milhões de católicos na China. Até ser assinado este pré-acordo e haver o reconhecimento dos sete bispos da Associação Patriótica Católica Chinesa, os guias espirituais tinham sido excomungados e não eram reconhecidos pela Igreja Católica. A situação muda com este pré-acordo, que é visto como um primeiro passo para o restabelecimento das relações entre o Vaticano e a China. “O Papa Francisco espera que com estas decisões seja dado início a um novo período, que permita que as feridas do passado sejam ultrapassadas e que resulte numa comunhão total entre todos os católicos chineses”, afirmou o Vaticano, em comunicado no sábado, depois de ter sido anunciado o acordo. Também Greg Burke, assessor do Vaticano, veio a público fazer alguns esclarecimentos, face à pouca informação sobre o real teor do acordo assinado entre as duas pates. “Isto não é o fim de um processo. É um começo”, começou por frisar o assessor. “O pré-acordo é o resultado de um diálogo, da existência de muita paciência em ouvir o outro, principalmente quando os dois lados têm pontos-de-vista muito diferentes”, acrescentou. Política à parte Porém, Greg Burke veio ainda negar o teor político do documento e um eventual corte nas relações diplomáticas com Taiwan e o consequente reconhecimento da República Popular da China. Actualmente, o Estado do Vaticano reconhece o Governo de Taiwan como a entidade com soberania política. “O objectivo do acordo não é político, mas pastoral e passa por permitir que os crentes tenham bispos em comunhão com Roma, mas que seja ao mesmo tempo reconhecido pelas autoridades chinesas”, clarificou. Por sua vez, as autoridades do Continente foram mais comedidas na reacção ao acordo: “ A China e o Vaticano vão continuar a manter uma postura de comunicação e a promover o progresso de forma a melhorar as relações bilaterais”, foi escrito, num curto comunicado, no portal do Ministério para os Negócios Estrangeiros. Segundo a informação disponibilizada pelas duas partes, não é claro quem terá a última palavra sobre a nomeação dos bispos, se será o governo de Pequim ou o Papa. Macau aplaude Segundo os padres de Macau ouvidos pelo HM, a notícia do pré-acordo é vista como positiva. Existe agora a expectativa que possa haver alterações para uma maior tolerância sobre a prática do catolicismo no Continente, mesmo que a situação seja vista como altamente complexa. “É sempre positivo quando há um reatamento de relações entre entidades e quando esse reatamento pode contribuir para o bem-estar e diálogo entre os povos, entre as comunidades e instituições. É sempre um progresso para a Humanidade”, afirmou o padre Peter Stilwell, em declarações ao HM. “O teor do conteúdo não é explícito. Sabemos que a Santa Sé reconheceu sete bispos, a quem faltava ter uma relação com o Vaticano. Agora, aguardamos para ver como as coisas vão evoluir”, acrescentou, de forma cautelosa. Contudo, para o padre, a reconciliação entre as duas igrejas no Interior pode colocar alguns desafios: “Não será fácil [a conciliação], porque há católicos que foram perseguidos e viveram na clandestinidade e outros que viveram de acordo com as posições do Governo, da chamada Igreja Patriótica. Fazer conseguir encontrar estas duas comunidades vai ser um grande desafio pastoral”, previu. Por outro lado, Stilwell explicou que não espera alterações no panorama de Macau, devido ao facto da Igreja Católica do território estar sob a alçada do Vaticano, tal como acontece em Hong Kong. “A nível de Macau não espero nenhum impacto directo. Macau é um território que está abrangido pela Lei Básica. Está previsto que a Igreja Católica tenha liberdade de culto e que continue a ter o mesmo regime que tinha, aquando da presença portuguesa. Durante este período de 50 anos não haverá efeitos”, explicou. Patriotas e católicos Também o padre Luís Sequeira vê o acordo como muito positivo, apesar de reconhecer as desconfianças que existem entre ambas as partes. “Parece-me um facto muito positivo. Claro que é um princípio de um processo que tem de ir mais fundo e ter um princípio maior de compreensão mútua da realidade”, apontou. Sequeira frisou também que o patriotismo e o catolicismo não são características que se excluam mutuamente e que podem conviver. Porém, este facto reconhece que em certas situações podem gerar tensões. “A preocupação da igreja é mais espiritual, a do Governo é mais política. Se não houver uma compreensão para este facto, poderão surgir tensões. Mas nada impede que um católico possa ser patriota e um patriota possa ser católico e estar unido a uma Igreja universal”, defendeu. O pré-acordo surge depois de recentemente terem circulado notícias de perseguições a católicos no Interior da China. Segundo alguns relatos, os crentes tinham mesmo sido obrigados a remover cruzes de igrejas. Contudo este ambiente de tensão entre católicos e o governo chinês não é novo. Também segundo Luís Sequeira este cenário do Vaticano reconhecer bispos nomeados pelos governo não é novo, o mesmo aconteceu em Portugal e Espanha, durante as ditaduras de Salazar e Franco. Já o ex-deputado e católico Paul Chan Wai Chi admitiu estar muito reticente com este acordo. “É complicado analisar o pré-acordo nesta altura porque os detalhes não são conhecidos. Por enquanto só posso rezar pela Igreja Católica. No futuro tudo pode acontecer, para melhor ou para pior”, disse. “Considero que é necessário esperar pelo futuro, antes de ter uma opinião. Mas acredito que Deus controla tudo. Tenho alguma esperança na existência de uma maior liberdade religiosa para os católicos no interior da China, mas é preciso esperar para ver o que acontece”, acrescentou. “Na boca do lobo” Apesar de uma visão mais optimista sobre o acordo em Macau, o mesmo não sucedeu com o cardeal Joseph Zen, de 86 anos de Hong Kong, conhecido pelas suas posições contra a aproximação entre o Vaticano e o Governo Central. “Estão a meter o rebanho na boca do lobo. É um acto incrível de traição”, afirmou Joseph Zen, de acordo com as declarações prestadas à agência Reuters. O facto dos detalhes do pré-acordo ainda não serem conhecidos, leva Zen a falar de um “pacto secreto”. “As consequências desta traição vão ser trágicas e vão prolongar-se durante muito tempo, não só para a imagem da Igreja da China, mas para toda a Igreja porque atingem a credibilidade da instituição. Talvez seja por isso que mantêm o acordo em segredo”, considerou. Ainda sobre o histórico pré-acordo, Zen acredita que vai ser visto como uma mancha negra no percurso do Papa Francisco. “Rendeu-se por completo. É uma traição (à nossa fé). Não tenho outras palavras para descrever este acordo”, frisou. Benefícios para a USJ Nos últimos anos a Universidade de São José tem tentado junto das autoridades do governo central ter autorização para aceitar inscrições de estudantes do Continente. Até hoje tal nunca foi possível, contudo este pré-acordo abre a porta para que a situação possa sofrer alterações: “Do ponto de vista da Universidade, pode ser que isto facilite o recrutamento de estudantes da China Continental, coisa que não nos tem sido permitido fazer até aqui”, reconhece. A USJ espera ter autorização para aceitar 100 inscrições em quatro cursos. Papa cria diocese de Chengde Além do reconhecimento de sete bispos, o Papa criou igualmente uma diocese na cidade de Chengde, na província de Hebei. A decisão foi justificada com o desejo do Papa Francisco de promover “os cuidados pastorais pelo rebanho do Senhor”, assim como promover uma maior eficácia do “espírito do bem”. No comunicado publicado no portal do Vaticano é ainda explicado que a catedral vai ficar situada na Divisão Administrativa de Shuangluan e que foi criada com o apoio e autorização da Sé de Pequim. Reconhecimento póstumo Além dos sete bispos reconhecidos pelo Papa Francisco, houve um oitavo que foi reconhecido a título póstumo. Anthony Tu Shihua foi o bispo reconhecido, depois de ter morrido a 4 de Janeiro do ano passado, com 98 anos. Anthony Tu foi ordenado padre em 1944, mas perdeu o mandato papal em 1959, devido ao facto de ter ingressado na Associação Patriótica Católica Chinesa. Mesmo assim, na altura da sua morte, expressou o desejo de se reconciliar com a Igreja de Roma. A reconciliação chegou agora, por decisão do Papa Francisco, quase dois anos após a sua morte.
Hoje Macau InternacionalVaticano | Papa aconselha terapia para crianças com tendências homossexuais [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]papa Francisco recomendou aos pais o recurso à psiquiatria assim que estes se apercebam de tendências homossexuais dos filhos durante a infância, noticiou ontem a agência de notícias France-Presse (AFP). “Quando [a homossexualidade] se manifesta na infância, a psiquiatria pode desempenhar um papel importante para ajudar a perceber como as coisas são. Mas é outra coisa quando ocorre depois dos vinte anos”, respondeu o papa a um jornalista, a bordo do avião que o transportava da Irlanda para Roma. Questionado sobre o que diria aos pais com filhos homossexuais, o representante máximo da Igreja Católica afirmou que lhes pediria “que rezem, que dialoguem e que entendam, mas que não condenem”. Por fim, defendeu que o “silêncio nunca será uma cura” porque, sublinhou, “ignorar um filho ou uma filha com tendências homossexuais revela falta de paternidade ou maternidade”.
Hoje Macau China / ÁsiaCardeal de Hong Kong espera boas notícias este ano sobre relações Vaticano-China [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] cardeal John Tong, bispo emérito de Hong Kong, disse este sábado, em Fátima, que espera boas notícias sobre as relações entre o Vaticano e Pequim este ano. Ao falar na conferência de imprensa da peregrinação internacional aniversário de 12 e 13 de maio, John Tong admitiu que “ainda este ano poderão ser anunciadas boas notícias”. Segundo o cardeal, há várias questões nas negociações entre Pequim e o Vaticano, sendo que a nomeação dos bispos locais é um dos pontos mais importantes. “Este é o ponto chave”, declarou o prelado, que destacou a devoção à Virgem de Fátima na China, onde o Centenário das Aparições foi celebrado em igrejas locais. Ainda assim, John Tong considerou que “a Igreja na China continua a viver atualmente numa situação atípica”, assinalando que o Governo privilegia a Igreja oficial, a Associação Patriótica, implementando medidas restritivas para a comunidade que segue as orientações do Vaticano. O cardeal admitiu, contudo, que a situação da Igreja na China “continua aberta a grandes possibilidades”, destacando a “grande coragem em muitas comunidades católicas na defesa da sua fé”. Já o bispo de Leiria-Fátima, António Marto, considerou que se está “a viver um momento delicado e esperançoso no diálogo” entre a Santa Sé e a China, manifestando o desejo de “que possa abrir caminho ao reconhecimento da Igreja católica na China e que permita aos católicos chineses serem cidadãos plenamente católicos e plenamente chineses, porque é isso que está em questão no fundo”. “Queremos ter esta intenção presente nesta peregrinação”, afirmou António Marto, pedindo para que este diálogo “chegue a bom termo” e “seja frutífero a breve tempo”. Pequim e a Santa Sé estarão prestes a quebrar mais de meio século de antagonismo com a assinatura de um primeiro acordo sobre a nomeação dos bispos. Os dois Estados romperam os laços diplomáticos em 1951, depois de Pio XII excomungar os bispos designados pelo Governo chinês. Em 12 de março, a China disse que está a trabalhar com o Vaticano para melhorar as relações bilaterais, numa altura em que ambos os Estados estão prestes a assinar um acordo sobre a nomeação dos bispos, segundo observadores. “A nossa posição é clara, estamos contentes por trabalhar com o Vaticano para melhorar as relações”, afirmou o porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Lu Kang, em conferência de imprensa. Já em 03 de abril, a China considerou que limitar o controlo do Vaticano na nomeação dos bispos não restringe a liberdade religiosa dos crentes chineses. O vice-diretor da Administração de Assuntos Religiosos da China Chen Zongron reafirmou a noção de que os grupos religiosos do país não podem ser controlados por “forças estrangeiras”. “A constituição chinesa afirma claramente que os grupos e assuntos religiosos não podem ser controlados por forças estrangeiras, e que estas não devem interferir de forma alguma”, referiu.
Hoje Macau China / ÁsiaFé | Católicos chineses ignoram possível acordo entre Pequim e a Santa Sé [dropcap style =’circle’] O [/dropcap] bservadores garantem estar para breve um acordo entre a China e o Vaticano, que poria fim a mais de 70 anos de antagonismo, mas numa das principais comunidades católicas da China ninguém sabe de nada. “Nós aqui fazemos o melhor que podemos para praticar a fé”, diz Lu Zhizhong, padre na aldeia de Donglu. “O resto são questões para os nossos líderes”. Donglu é um dos lugares mais sagrados para os católicos chineses, local de uma alegada aparição de Nossa Senhora, em 1900, para proteger os locais de uma rebelião nacionalista. Entre os crentes locais questionados pela Lusa sobre o referido acordo, a resposta não variou: “Bu Zhidao” (‘Não sei de nada’, em chinês). Com cerca de dez mil habitantes, a aldeia fica em Hebei, província do norte da China que concentra grande parte da indústria pesada chinesa, produzindo mais aço do que qualquer país no mundo – com excepção da própria China. Uma igreja do tamanho de um quarteirão, com paredes e colunas brancas, ergue-se no centro de Donglu, entre casas de tijolo cru, estradas poeirentas e plantações de melancia. Lu Zhizhong vive nas traseiras da igreja, construída no início dos anos 1990, num cubículo com cerca de quinze metros quadrados. Aos visitantes, oferece a única bebida que tem: água quente. “Eu desde criança que sou católico, mas a fé é algo estranho à nossa cultura”, explica. “Temos que a conhecer, estudar, compreender. Não é como em Portugal, onde é parte natural da sociedade”, diz. O que distingue a igreja católica na China face a outras partes do mundo não é, contudo, apenas cultural. China e Vaticano romperam os laços diplomáticos em 1951, depois de Pio XII excomungar os bispos designados pelo Governo chinês. Os católicos chineses dividiram-se então entre duas igrejas: a Associação Católica Patriótica Chinesa, aprovada por Pequim, e a clandestina, que continuou fiel ao Vaticano. Novo dia Segundo o acordo que deverá ser anunciado em breve, o Vaticano reconhecerá sete bispos nomeados por Pequim, enquanto dois bispos da igreja clandestina terão que se afastar. Em troca, a Santa Sé terá uma palavra na nomeação de futuros bispos chineses. As autoridades chinesas, no entanto, já reafirmaram a sua posição. “A Constituição chinesa dita claramente que os grupos e assuntos religiosos não podem ser controlados por forças estrangeiras, e que estas não devem interferir de forma alguma”, disse, na semana passada, Chen Zongron, vice-diretor da Administração de Assuntos Religiosos da China. “Não existe religião na sociedade humana que esteja acima do Estado”, afirmou. Porém, a religião na China estará numa fase de grande expansão, preenchendo “o vazio moral” e o “excessivo materialismo” provocados pela alegada crise da ideologia comunista e o trepidante desenvolvimento das últimas quatro décadas de “Reforma Económica e Abertura ao Exterior”. Num domingo de páscoa em Donglu, a igreja, com capacidade para cerca de mil pessoas, está a abarrotar. Nas ruas, lançam-se petardos e fogo-de-artifício para “afugentar os maus espíritos”, uma tradição reservada no país para a passagem do Ano Novo Lunar, a mais importante festa para os chineses. Entre os crentes, trocam-se ovos com a inscrição “Deus ama-te” e, em frente à igreja, vende-se algodão doce – outra novidade no país. “A religião é algo positivo para as pessoas, as famílias, a sociedade e o país”, diz Lu Zhizhong, ressalvando logo a seguir: “Desde que seja praticada sem extremismos ou que não leve ao isolamento face aos outros”.
Hoje Macau China / ÁsiaFé | Pequim diz que limitar ordenação de clérigos não viola liberdade religiosa [dropcap style =’circle’] A [/dropcap] China disse ontem que limitar o controlo do Vaticano na nomeação dos bispos não restringe a liberdade religiosa dos crentes chineses, numa altura em que Pequim e a Santa Sé discutem um primeiro acordo O vice-director da Administração de Assuntos Religiosos da China Chen Zongron reafirmou a noção de que os grupos religiosos do país não podem ser controlados por “forças estrangeiras”. “A constituição chinesa afirma claramente que os grupos e assuntos religiosos não podem ser controlados por forças estrangeiras, e que estas não devem interferir de forma alguma”, afirmou. O responsável, que falava durante a apresentação de um livro branco do Conselho de Estado chinês sobre a liberdade religiosa no país, afirmou que discorda que Pequim esteja a restringir a prática religiosa por não dar “controlo absoluto” ao Vaticano na nomeação dos bispos. Pequim e a Santa Sé estão prestes a quebrar mais de meio século de antagonismo com a assinatura de um primeiro acordo sobre a nomeação dos bispos. Os dois Estados romperam os laços diplomáticos em 1951, depois de Pio XII excomungar os bispos designados pelo Governo chinês. Rezar no escuro Os católicos chineses dividiram-se então entre duas igrejas: a Associação Católica Patriótica Chinesa, aprovada por Pequim, e a clandestina, que continuou fiel ao Vaticano. Segundo o acordo, que observadores afirmam que será anunciado em breve, o Vaticano deve reconhecer sete bispos nomeados por Pequim, enquanto dois bispos da igreja clandestina terão que se afastar. O acordo tem suscitado críticas de que a Santa Sé está a abdicar de muito, depois de quase sete décadas a reafirmar a necessidade de manter a igreja católica independente do controlo do Governo chinês. Na semana passada, Guo Xijin, um dos bispos ordenados pelo Vaticano que deverá ceder o seu posto por não ser reconhecido pelas autoridades chinesas, foi temporariamente removido da sua paróquia, no sul do país, mas regressou no domingo para celebrar a páscoa.
Hoje Macau InternacionalPapa apela à paz na Síria e na Terra Santa e encoraja diálogo das Coreias [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] papa Francisco pediu ontem o fim do “extermínio em curso” na Síria, apelou “à reconciliação na Terra Santa” e incentivou o diálogo na península coreana, na sua mensagem durante a celebração da Páscoa no Vaticano. Na mensagem, feita antes da tradicional bênção ‘Urbi et Orbi’, o pontífice pediu “os frutos da paz para todo o mundo, a começar pela bem-amada e atormentada Síria, cujo povo está esgotado por uma guerra que parece não ter fim”. A Síria, que entrou no oitavo ano de guerra, vive um drama humanitário perante um conflito que já fez pelo menos 511 mil mortos, incluindo 350 mil civis, e milhões de deslocados e refugiados. Desencadeado em março de 2011 pela violenta repressão do regime de Bashar al-Assad de manifestações pacíficas, o conflito na Síria ganhou ao longo dos anos uma enorme complexidade, com o envolvimento de países estrangeiros e de grupos ‘jihadistas’, e várias frentes de combate. Na mensagem pascal, Francisco pediu a “todos os responsáveis políticos e militares” que “ponham imediatamente termo ao extermínio em curso, que respeitem o direito humanitário e que [facilitem] o acesso à ajuda” de que o povo sírio precisa com urgência. O papa também referiu a necessidade de garantir as condições adequadas para o regresso “de todos aqueles que foram dispersos”, numa aparente referência ao enclave rebelde de Ghouta Oriental, nos arredores da capital síria, Damasco. A mensagem de Francisco é feita no mesmo dia em que foi anunciado que os rebeldes sírios aceitaram sair da última bolsa de resistência que mantinham em Ghouta Oriental, cuja reconquista total marca uma importante vitória para o Presidente sírio, Bashar al-Assad. O papa apelou igualmente “à reconciliação na Terra Santa, ferida neste momento por conflitos abertos que não poupam os indefesos”. Na sexta-feira, confrontos entre manifestantes palestinianos e o Exército israelita registados na fronteira de Gaza com Israel fizeram pelo menos 16 mortos e mais de mil feridos. Trata-se do dia mais sangrento desde a guerra de 2014 em Gaza. O papa Francisco encorajou igualmente o diálogo em curso na península coreana, que marca um período de apaziguamento após cerca de dois anos de uma escalada devido à realização de testes nucleares e balísticos por parte do regime de Pyongyang. “Deixem aqueles que têm responsabilidades diretas agir com sabedoria e discernimento para promover o bem do povo coreano e construir confiança na comunidade internacional”, acrescentou. No próximo dia 27 de abril, está previsto um encontro entre o líder norte-coreano, Kim Jong-un, e o Presidente sul-coreano, Moon Jae-in. Será a primeira cimeira entre as duas Coreias em 11 anos. Para maio, é aguardada uma cimeira inédita entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos.
Hoje Macau China / ÁsiaJornal do PC garante relações com o Vaticano “mais cedo ou mais tarde” [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m jornal do Partido Comunista Chinês (PCC) considerou ontem que Pequim e o Vaticano vão estabelecer relações diplomáticas “mais cedo ou mais tarde”, o que implicaria que a Santa Sé cedesse na nomeação dos bispos. “Acreditamos que os diplomatas de Pequim podem gerir as negociações tendo em conta o interesse nacional e as crenças religiosas”, escreve o Global Times, jornal de língua inglesa do grupo do Diário do Povo, o órgão central do PCC. Pequim e a Santa Sé não têm relações diplomáticas, divergindo sobretudo na nomeação dos bispos, com cada lado a reclamar para si esse direito. A China tem cerca de 12 milhões de católicos, mas as manifestações católicas no país são apenas permitidas no âmbito da Associação Patriótica Católica Chinesa, a igreja aprovada pelo PCC e independente do Vaticano. O objectivo é garantir que os católicos do país funcionam “independentemente” de forças externas e “promovem o socialismo e patriotismo através da religião”. Milhões de católicos chineses estão, porém, ligados às chamadas igrejas clandestinas, constituídas fora do controlo daquele organismo estatal e que juram lealdade ao papa. “A chegada a um acordo com a China sobre a escolha dos bispos iria reflectir a habilidade dos católicos para se adaptarem às mudanças”, acrescenta o Global Times, em editorial. Vários órgãos de comunicação próximos do Vaticano afirmam que um acordo entre ambos os Estados está pronto e pode ser assinado nos próximos meses, mas não se sabe ainda como será resolvida a questão da nomeação dos bispos. No caso do Vietname, país vizinho da China e também governado por comunistas, um acordo assinado em 1996 estabelece que a Santa Sé propõe três bispos a Hanói, e o governo vietnamita escolhe um deles. Na semana passada, o cardinal de Hong Kong Joseph Zen criticou a própria Santa Sé pelos seus avanços diplomáticos com o regime chinês. Zen acusou a igreja de forçar bispos a retirarem-se, para que possam ser substituídos por outros, apoiados por Pequim.
Hoje Macau China / ÁsiaVaticano | Papa responde ao Cardeal Zen sobre a Igreja Católica na China Quando o Papa Francisco consegue passos importantes para uma reconciliação com Pequim , o Cardeal Zen resolveu incendiar a internet [dropcap]O[/dropcap] director da Sala de Imprensa do Vaticano, Greg Burke, divulgou na terça-feira, 30 de Janeiro, uma declaração na qual afirma que o Papa Francisco está bem informado sobre a situação da Igreja Católica na China e que é “lamentável” que algumas “pessoas da Igreja” afirmem o contrário, causando “confusões e polémicas”. A declaração afirma que “o Papa está em constante contacto com os seus colaboradores, em particular da Secretaria de Estado, sobre as questões chinesas, e é informado por eles de forma fiel e pormenorizada sobre a situação da Igreja Católica na China e sobre os passos do diálogo em andamento entre a Santa Sé e a República Popular da Chinesa, que ele acompanha com especial solicitude”. “Por isso é um surpresa e lamentável que se afirme o contrário por parte de pessoas de Igreja e se alimentem assim confusões e polémicas”, concluiu. Embora não tenha mencionado, a declaração ocorreu um dia depois que o Bispo Emérito de Hong Kong, Cardeal Joseph Zen Ze-kiun, publicou no seu portal uma carta na qual explica e analisa a difícil situação da Igreja Católica na China, em particular os bispos, ante as pressões e a perseguição do governo. Na carta publicada no seu portal, o Cardeal recordou que nos últimos dias a imprensa informou que o Vaticano pediu a um bispo para que renuncie e a outro bispo para que aceite a sua renúncia a fim de permitir que os bispos relacionados ao governo assumam os seus cargos. A carta é bem crítica em relação às negociações do Vaticano com o governo chinês, na qual também denuncia vários problemas sofridos pelos prelados católicos no país: “Vi directamente a escravidão e a humilhação à qual os nossos irmãos bispos estão submetidos”, assinala. O Bispo Emérito pergunta: “Acreditaria que o Vaticano está a vender a Igreja Católica na China? Sim, definitivamente, se estão a ir na direcção na qual estão segundo o que eles estão a fazer nos últimos anos e meses”. As relações diplomáticas entre a China e o Vaticano foram cortadas em 1951, dois anos depois da chegada ao poder dos comunistas que expulsaram os clérigos estrangeiros. Desde então, a China permite o culto católico unicamente à Associação Patriótica Católica Chinesa, subordinada ao Partido Comunista da China, e recusa a autoridade do Vaticano para nomear bispos ou governá-los. Há alguns anos, a Santa Sé trabalha num acordo para o restabelecimento das relações diplomáticas com a China, uma aproximação incentivada pelo Papa Francisco. Entretanto, o Papa Francisco prometeu analisar o caso dos dois bispos chineses reconhecidos a quem a Santa Sé havia pedido para se afastar e abrir caminho a prelados ordenados ‘ilicitamente’. A Santa Sé pediu que Dom Zhuang Jianjian, da Diocese de Shantou, de 88 anos e que vive na província de Guangdong, e Dom Vincent Guo Xijin, da Diecese de Mindong, de 59 anos, morador da província de Fujian, se aposentassem das suas funções eclesiásticas. Ambos são reconhecidos por Roma. Zhuang recebeu o pedido para dar espaço a Dom Huang Bingzhang, da Diocese de Shantou, de 51 anos, ilicitamente ordenado e que está excomungado. Guo recebeu o pedido para se afastar a fim de dar lugar ao bispo sancionado pelo governo, Dom Zhan Silu, da Diocese de Mindong, de 57 anos, que também fora ordenado ilicitamente. O Cardeal Zen foi a Roma após uma solicitação de Zhuang para “levar ao Santo Padre a sua resposta à mensagem que recebeu da Santa Sé por uma delegação vaticana em Pequim. O cardeal disse ter tido sucesso em transmitir ao “Santo Padre as inquietações dos seus filhos fiéis na China” e pediu-lhe que considerasse o assunto. “A Sua Santidade disse: ‘Sim, eu disse a eles (Cúria Romana) para não criarem um outro caso Mindszenty’”, escreveu Zen. “Penso que foi muitíssimo significativo e apropriado o Santo Padre fazer esta referência histórica ao Cardeal Jozsef Mindszenty, um dos heróis da nossa fé”. Mindszenty era o cardeal primaz da Hungria sob os anos de perseguição comunista. Após ser condenado à prisão perpétua em 1949, foi libertado na Revolução Húngara de 1956 e recebeu asilo na embaixada americana de Budapeste, onde viveu por 15 anos. Sob pressão do governo, a Santa Sé ordenou-lhe deixar a Hungria em 1971 e, imediatamente, nomeou-lhe um sucessor segundo o gosto do governo húngaro. Em Outubro passado, a Santa Sé contactou Zhuang, quando este procurou a ajuda de Zen. O cardeal enviou a carta do bispo ao prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, anexando uma cópia ao Santo Padre. Na época, Dom Savio Hon Tai Fai ainda estava em Roma e levou os dois casos – de Shantou e Mindong – ao conhecimento do papa, quem ficou surpreso e prometeu olhar o assunto com atenção. De acordo com a imprensa católica, Zhuang foi forçado a ir para Pequim em Dezembro de 2017 para se reunir com uma delegação vaticana liderada por um “prelado estrangeiro do alto escalão”. Pediram-lhe que renunciasse e passasse o seu episcopado a Huang. Guo ficou detido pelo governo por um mês na época da Semana Santa do ano passado, quando lhe solicitaram para assinar um documento afirmando que se “voluntariava” para sair como condição para o reconhecimento do governo. Zen destacou que “o problema não é a renúncia dos bispos legítimos, mas o pedido para abrir caminho a bispos ilegítimos e mesmo excomungados”. Para ele, “com base em informações recentes, não há motivos para mudar de opinião”, já que o governo está a criar regulamentos mais severos que limitam a liberdade religiosa e que “a partir de 1 de Fevereiro, frequentar a missa clandestina [missa não autorizada pelo Estado chinês] não será mais tolerado”. “Será que pode haver algo realmente ‘mútuo’ com um regime totalitário?”, perguntou Zen. “Pode-se imaginar um acordo entre São José e o Rei Herodes?”
Hoje Macau China / ÁsiaPresidente participará do diálogo global de partidos políticos [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] presidente chinês Xi Jinping participará de um diálogo entre o Partido Comunista da China (PCC) e outros partidos políticos do mundo, anunciou na sexta-feira o organizador do evento. Xi, também secretário-geral do Comité Central do PCC, pronunciará um discurso na cerimónia de abertura do diálogo, segundo Guo Yezhou, subchefe do Departamento de Relações Internacionais do Comitê Central do PCC. Líderes de mais de 200 partidos e organizações políticas de mais de 120 países registaram-se para a reunião, programada para durar de 30 de Novembro até 3 de Dezembro. Durante o período, o PCC também realizará discussões de rotina com partidos políticos de África, Ásia Central e Estados Unidos. Ningbo : Dois mortos e 30 feridos em explosão fabril [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]elo menos duas pessoas morreram e 30 ficaram feridas ontem na sequência de uma forte explosão ocorrida numa fábrica na zona industrial da cidade de Ningbo, na província de Zhejiang, no leste da China, informaram os ‘media’. Diversas equipas de resgate e inúmeras ambulâncias foram destacadas para o local do acidente para prestar assistência às vítimas, havendo entre os cerca de 30 feridos pelo menos dois em estado grave, informou a cadeia de televisão chinesa CGTN.Segundo a agência de notícias Xinhua, a explosão, que ocorreu pelas 09:00, provocou o colapso de edifícios adjacentes à fábrica. Vários trabalhadores de limpeza encontravam-se no interior da unidade, localizada numa zona industrial, aquando da explosão, de acordo com testemunhas. As autoridades estão a investigar as causas do acidente. Empresa japonesa desculpa-se por proibir entrada de chineses em loja [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] fabricante de cosméticos japonês Pola desculpou-se por colocar um cartaz que proibia a entrada de cidadãos chineses num dos seus estabelecimentos no Japão, o que gerou fortes críticas nas redes sociais na China. A empresa publicou no seu portal um texto escrito em japonês e chinês no qual assegura que identificou essa loja e que retirou o cartaz com a mensagem a vermelho: “Não entrar gente da China”. “Pedimos desculpas sinceramente e rejeitamos o cartaz que ofendeu e incomodou muita gente”, diz o comunicado com data de 25 de Novembro. A companhia, que conta com 4.600 lojas no Japão, garantiu que considera a situação “muito grave”, punirá os responsáveis e suspenderá as operações desse estabelecimento, do qual não divulgou dados. Nos últimos anos aumentou no Japão o número de turistas chineses, que em 2016 chegou a quatro milhões, muitos dos quais viajam para o país vizinho para realizar compras de cosméticos e produtos tecnológicos. Agências multadas por vender viagens ao Vaticano [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]uas agências de turismo da China foram multadas por oferecerem passeios para o Vaticano, país com o qual os chineses romperam relações diplomáticas há mais de 60 anos. Por realizarem negócios com países que não estão na lista de destinos autorizados pelas autoridades chinesas, as empresas serão obrigadas a pagarem 300.000 iuanes. As sanções chamam a atenção pelo fato de a Itália, país cuja capital Roma divide limites territoriais com o Vaticano sem nenhuma imposição de controles fronteiriços, ser um destino autorizado por Pequim. Na prática, é virtualmente impossível controlar a entrada de turistas chineses hospedados em cidades italianas a atrações como a Praça e a Basílica de São Pedro, alguns dos principais marcos do país onde reside o Papa Francisco.
Hoje Macau China / ÁsiaDivisão entre católicos chineses trava aproximação a Santa Sé [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]hina e Vaticano podem estar próximos de “normalizar as relações”, mas a divisão da comunidade católica chinesa e a falta de um clero bem formado no país “preocupam Roma” e travam a aproximação, defende um investigador italiano. “A China está agora mais aberta a ter laços com o Vaticano, à medida que se converte numa superpotência mundial, e vê que é importante ter relações com a principal fonte de poder de persuasão do mundo”, assinalou o académico Francesco Sisci, especialista nas relações entre a República Popular da China e a Santa Sé, que romperam laços diplomáticos em 1951. O italiano diz que algo está a mudar no diálogo entre Pequim e o Vaticano, mas que é difícil prever o desfecho. O Papa Francisco mostrou já uma maior vontade do que os seus predecessores para “projectar a Santa Sé no resto do mundo”, de que é exemplo a sua recente viagem ao Egipto ou a aproximação aos ortodoxos gregos e russos. A aproximação à China, no entanto, continua a ser difícil, nomeadamente devido à situação do clero chinês, em que há casos de sacerdotes casados e com filhos, e comunidades divididas. “Inclusive em Pequim, a diocese mais próxima do Governo e mais controlada, chegaram a existir três facções, e foi preciso um grande esforço para as unir”, sublinhou Sisci. Roma “está preocupada com a qualidade do clero” chinês, explicou. Sisci negou que exista uma “igreja clandestina” católica na China, oposta à oficial, regida pelo Partido Comunista e independente do Vaticano, mas admitiu diferenças e, por vezes, animosidades entre os católicos mais veteranos e os que acabaram de chegar à igreja, formados pelo regime comunista. Em construção O especialista sublinhou que a “normalização das relações” vai demorar e poderá não significar necessariamente o estabelecimento de laços diplomáticos, recusando que o Papa Francisco possa visitar a China a curto prazo. “Seria um evento extraordinário, a China está consciente disso”, mas ambos os lados são “muito cautelosos”. Sisci destacou ainda a importância da reunião que o Papa terá em 24 de Maio, em Roma, com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em que a China fará parte da agenda pela primeira vez nas reuniões de máximo nível entre Washington e a Santa Sé. O académico assegurou que o Papa é também cauteloso na sua aproximação a Pequim, já que esta “pode atrair críticas” entre os sectores do Vaticano que se opõem à abertura de Francisco.
Paul Chan Wai Chi Um Grito no Deserto VozesLembrando Roosevelt [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o dia 26 de Fevereiro apresentei um seminário sobre as “Relações da China com o Vaticano” numa iniciativa da revista que dirijo. O Cardeal Joseph Zen Ze-kiun, representante da Diocese de Hong Kong, e o Cardeal John Tong Hon, ex-colaborador do Centro do Espírito Santo de Hong Kong, participaram como oradores convidados. O Cardeal John Tong Hon tem 500 artigos publicados sobre o relacionamento da China com o Vaticano que alimentaram imensos debates e discussões. Por seu lado, o Cardeal Joseph Zen é um homem de posições bem definidas e um pastor fiel aos princípios da fé. Um dos motivos que determinou o convite ao Cardeal Joseph Zen foi proporcionar aos cristãos de Macau a possibilidade de entrarem em contacto com as suas diversas perspectivas sobre esta matéria. Durante os preparativos do seminário vários amigos partilharam comigo a preocupação sobre a possibilidade do Cardeal Joseph Zen não poder entrar em Macau. Na verdade, nunca me inquietei com este assunto e, lembrei-me das famosas palavras do Presidente Roosevelt, “só devemos temer o medo”. Estas palavras continuam a ser aplicáveis aos dias de hoje, porque se ultrapassarmos os nossos medos, já não há mais nada a temer! Quando os preparativos chegaram ao fim, o Cardeal Joseph Zen entrou em Macau sem problemas e o seminário foi um completo sucesso. Embora tenha exigido um grande esforço, compensou ver que os cristãos de Macau puderam assistir a debates de grande sabedoria e à queda de barreiras invisíveis. Chip Tsao, um ilustre académico de Hong Kong, também citou Roosevelt num dos seus artigos, “Só um optimista insensato pode negar a realidade ameaçadora que vivemos”. Na minha opinião, o verdadeiro optimista deve, em primeira mão, compreender as realidades ameaçadoras e depois acreditar nas suas capacidades e na sua coragem para derrotar a escuridão e lutar para que a luz regresse. O Cardeal Joseph Zen é um verdadeiro optimista porque, embora reconheça a crise, está disposto a encará-la com coragem e, sujeitando-se a críticas, luta para despertar aqueles que ainda não se aperceberam dos perigos da situação. Apesar das suas pequenas dimensões, Macau ganhou um lugar na História moderna. Sun Yat-sen deu os primeiros passos como revolucionário em Macau. O Instituto Cultural restaurou recentemente a Antiga Farmácia Chong Sai e abriu-a ao público. Foi aqui que Sun Yat-sen prestou serviço como médico. Macau é considerado como um dos principais centros missionários do Extremo Oriente a desenvolver trabalho na altura do Natal. É também a porta de entrada de muitos missionários que vêm pregar na China. Depois da fundação da República Popular, na década de 50, grandes grupos de missionários estrangeiros foram expulsos do País. Alguns deles fixaram-se em Macau, como o missionário e Padre Jesuíta Luis Ruiz Suárez S.J., que contribuiu para aumentar o trabalho de caridade e para o desenvolvimento da educação. A Santa Sé encara o papel da Diocese de Macau como um agente de ligação entre a Igreja Católica e a China. Embora as relações entre a China e o Vaticano sejam tratadas ao mais alto nível, Macau é indissociável desta discussão. O Cardeal Joseph Zen revelou-nos toda a sua generosidade durante a visita a Macau, e provou-se que os receios que certas pessoas alimentavam se devem a uma falta de conhecimento sobre a realidade dos Governos da RAEM e da China. O desenvolvimento das relações entre a China e o Vaticano não está dependente de optimismos nem de pessimismos, mas sim de empenho e coragem. Esta posição é defendida pelo Cardeal John Tong Hon num dos seus artigos, onde afirma “ambas as partes (a China e o Vaticano) precisam de confiar uma na outra, de paciência e de diálogo para resolver os problemas de boa fé e sem comprometer os princípios de cada uma delas.” É sem dúvida uma tarefa extremamente difícil que requer comunicação, negociações e boa vontade. Já que o Cardeal Joseph despendeu algum do seu tempo para vir a Macau, penso que no mínimo os residentes não devem desperdiçar as suas boas intenções. No meu próximo artigo vou falar-vos da demissão de Jason Chao da vice-presidência da Associação de Novo Macau e da sua saída de membro da associação.
Hoje Macau China / ÁsiaReligião | Abertura para diálogo com Vaticano [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China está disposta a manter um diálogo construtivo com o Vaticano, mas os católicos chineses devem “erguer alto a bandeira do patriotismo” e adaptar-se aos “valores chineses”, disse o responsável do Governo de Pequim pelos assuntos religiosos. Wang Zuoan, director da Administração Estatal para os Assuntos Religiosos, falava durante a nona conferência dos católicos da China, que reúne em Pequim o clero da Associação Patriótica Chinesa, igreja católica aprovada pelo Estado e independente do Vaticano. Pequim insiste que a igreja oficial tem autoridade para ordenar os bispos chineses, um direito que a Santa Sé diz pertencer apenas ao Papa. O diferendo dura desde 1951, quando China e Vaticano romperam os laços diplomáticos, depois de Pio XII excomungar os bispos designados por Pequim. As manifestações católicas no país são apenas permitidas no âmbito da Associação Patriótica, mas muitos dos cerca de 12 milhões de católicos chineses continuam a celebrar a sua fé em igrejas “clandestinas”, que juram lealdade a Roma. O Governo chinês espera que o Vaticano adopte uma postura “flexível” e “pragmática” e medidas concretas que favoreçam a melhoria das relações, afirmou Wang, citado pela agência oficial Xinhua. O responsável não detalhou quais as medidas que Pequim espera do Vaticano. O Partido Comunista Chinês, que governa o país desde 1949, é adverso a grupos religiosos ou cívicos, vistos como potenciais ameaças à sua autoridade. Optimismo moderado Em Maio de 2015, o Presidente chinês, Xi Jinping, apelou aos religiosos do país para se adaptarem à sociedade chinesa. Na terça-feira, Wang reafirmou a importância da religião integrar o “patriotismo” e que se persista com a “assimilação de valores chineses pelo catolicismo”. O Papa Francisco disse no início deste ano que Pequim e o Vaticano formaram grupos de trabalho, para abordar a questão da nomeação dos bispos, e que está “optimista” de que será encontrada uma solução. Na semana passada, contudo, o Vaticano lamentou que a ordenação de dois bispos chineses tenha sido feita na presença de um bispo designado por Pequim e não reconhecido pelo Papa. A Santa Sé disse ainda que aguarda os resultados do encontro desta semana e que os católicos do país podem estar confiantes no diálogo entre ambos os lados.
Hoje Macau China / ÁsiaPequim faz “esforços constantes” para melhorar relações com o Vaticano [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China disse ontem realizar “esforços constantes” para melhorar as relações com o Vaticano e que quer alcançar “novos resultados”, numa altura em que ambas as partes estarão a negociar um acordo sobre a ordenação dos bispos. “Estamos sinceramente dispostos a melhorar as nossas relações e fazemos esforços constantes nesse sentido”, disse ontem Lu Kang, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, numa conferência de imprensa em Pequim. Segundo páginas na Internet de informação ligada à igreja católica, a Santa Sé e Pequim estão a negociar um acordo que prevê que o papa reconheça quatro dos oito bispos da Associação Patriótica dos Católicos Chineses, que anteriormente recusou consagrar. Aquele organismo estatal é o único reconhecido pelo Partido Comunista Chinês (PCC) e todos os seus bispos são nomeados pelo Governo, sendo independente do Vaticano. A China e a Santa Sé não têm relações diplomáticas desde 1951 e uma das maiores divergências entre ambos os lados reside precisamente na nomeação dos bispos. Lu Kang assegurou que “existem canais de comunicação (com o Vaticano) nesse sentido” e que Pequim gostaria de cooperar com a Santa Sé para “impulsionar os laços bilaterais e alcançar novos resultados”. Caminho papal Oficialmente, o número de cristãos na China continental rondará os 24 milhões, o que não chega a dois por cento da população. A Academia Chinesa de Ciências Sociais estima que haja cerca de 130 milhões de cristãos ligados às chamadas “igrejas clandestinas”, aquelas que se mantêm aliadas ao Vaticano. Desde que foi eleito, em 2013, o papa Francisco tem procurado uma reconciliação com a República Popular da China, tendo já assumido o desejo de visitar o país, o que seria um acontecimento inédito. Nos últimos meses, ambas as partes manifestaram a sua vontade em melhorar as relações e Pequim apelou por várias vezes ao Vaticano para que dê “passos concretos”. O Governo chinês exige ainda que a Santa Sé rompa os laços diplomáticos que mantém com Taiwan e que não interfira nos assuntos internos do país.