É obra!

AGORA que o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros revelou a sua ternura pelos beligerantes ucranianos e até acha muito boa a generosa política de beneficência da NATO na guerra da Ucrânia, mesmo que isso resulte em mais tempo para morrerem ucranianos, russos e outros infelizes de duvidosa proveniência (mercenários internacionais, polacos e letões com dupla nacionalidade arranjada à pressa), a CNN, que nem sequer esconde as suas simpatias e as dos seus donos por Zelensky, atreve-se a informar que João Gomes Cravinho participa no capital de uma empresa imobiliária juntamente com um sócio condenado por fraude fiscal. Francamente…

A empresa em causa, de nome Eurolocarno, tem como sócio um tal Marcos Lagoa, condenado no processo que lesou os CTT, através da venda de imóveis e já teve também como sócio António Barão, que participou num negócio que lesou o Novo Banco em 270 de euros, deixando-nos a nós a pagar.

Eu acredito piamente na sinceridade do ministro quando revelou à CNN que não tinha conhecimento dos problemas judiciais dos sócios. Então não é comovente a candura de uma alma que entra numa sociedade empresarial com tão notórios desconhecidos? Então isto não é tudo boa gente?

E não bastava sabermos que o ministro João Gomes Cravinho, enquanto pôde, fingiu não saber que a derrapagem do Hospital Militar de Belém triplicou os custos, quando ele era ministro da Defesa? Despesa que foi orçamentada, recorde-se, como de 750 mil euros e passou rapidamente para mais de 3 milhões. Que nós todos tivemos de pagar, como não podia deixar de ser, até porque num estado de direito é assim mesmo que se procede.

E não temos de lhe agradecer a sua imensa e magnânima influência nas decisões estratégicas da NATO que, sentindo que a credibilidade da Aliança Atlântica estava a entrar em défice, ordenou a Zelensky uma lavagem profunda na sujeira governamental de Kiev, dadas as personalidades que rodeiam o excelso Presidente?
Vejamos os primeiros resultados:

Em menos de 24 horas, segundo o britânico “The Guardian”, “contabilizam-se já 11 saídas do poder em Kiev. E nos últimos 4 dias, são já 12. A lista prossegue com a demissão de 5 governadores regionais: Valentina Reznichenko, da região de Dnipropetrovsk, Oleksandra Starukha, da região de Zaporíjia, Oleksiy Kuleba, governador de Kiev, Dymtro Zhivytskyi, da região de Sumy, e, por fim, Yaroslav Yanushevich, governador da região de Kherson. Por fim, para já, Oleg Nemchinov, secretário do gabinete da presidência, confirmou também a saída de Vitaliy Muzychenko, vice-ministro da Política Social.”

Vyacheslav Negoda, ministro-adjunto do Desenvolvimento dos Territórios da Ucrânia, demitiu-se do cargo. Também Ivan Lukerya, ministro-adjunto das Comunidades, assim como o ministro adjunto da Defesa, Vyacheslav Shapovalov, apresentaram a demissão. O procurador-geral-adjunto da Ucrânia, Oleksiy Symonenko, foi ontem corrido do cargo, durante uma reunião de altos funcionários.

Então, não seria de ter mais compreensão pelo nosso ministro dos Negócios Estrangeiros, pelo nosso Primeiro-Ministro e pelo nosso Presidente da República?

À tarde

ATÉ no Vaticano a guerra está muito acesa, embora se desenrole sobre as alcatifas e à meia luz na Cúria, ora rastejando, ora trepando pelas paredes carregadas de santos e beatificados, clérigos e não tonsurados.

Ao que consta, uma carta com remetente do Vaticano deixou os bispos alemães em estado de choque e de candeias à avessas com o Papa Francisco e a sua governança da Igreja Católica, porque se diz na incendiária missiva que os bispos germânicos não podem de maneira alguma criar um órgão de governo independente para gerir a igreja no seu país.

Tal órgão foi aprovado em Setembro, em Frankfurt, por bispos e leigos seus cúmplices, no sentido se superar “a estrutura rígida, fechada, opaca que terá contribuído para manter impunes, durante muitos anos, os casos de abusos sexuais no seu interior”. Muitos dos quais, ao que também constava, eram virilmente praticados por clérigos alemães.

“Desejamos deixar claro que nem o caminho sinodal, nem nenhum organismo por ele estabelecido, nem nenhuma conferência episcopal tem competências para estabelecer um conselho sinodal a nível nacional, diocesano ou paroquial”, diz a tal carta datada de 16 de Janeiro.

Quem fala assim não é gago. O Papa Francisco, que está perfeitamente de acordo, vem a Lisboa encontrar-se com a juventude mundial e já prometeu resignar a seguir. Encontra-se em adiantado estado de preparação um palco à beira do Trancão que vai custar mais de 6 milhões de euros. É obra!

Viva a comissão fabriqueira!

No final, os custos da vinda do Papa a Lisboa poderão ultrapassar os 80 milhões. Para isso e muito mais é que existem os contribuintes e os impostos, graças a Deus.
Viva a Pátria que é uma nação valente!
Vivam os heróis do mar e o nobre povo!

27 Jan 2023

Igreja | Vaticano renova acordo com Pequim sobre nomeação de bispos

O Vaticano e o regime comunista de Pequim renovaram por dois anos o acordo histórico assinado em 2018 sobre a questão da nomeação de bispos na China, anunciou no passado sábado o Estado sede da Igreja Católica.

“A Santa Sé e a República Popular da China, após as devidas consultas e avaliações, concordaram em prorrogar por dois anos a validade do acordo provisório sobre a nomeação de bispos, assinado em 22 de Setembro de 2018”, anunciou o Vaticano em comunicado.

Este “acordo provisório”, renovado uma primeira vez em 2020, teve como objectivo reunir os católicos divididos entre as igrejas oficial e ‘clandestina’, dando ao Papa a última palavra na nomeação de bispos chineses.
Um total de seis prelados foram escolhidos desde a entrada em vigor do acordo.

O Vaticano “pretende continuar o diálogo respeitoso e construtivo com a China, para a implementação frutífera do acordo e para o desenvolvimento das relações bilaterais, com vista a promover a missão da Igreja Católica e o bem-estar do povo chinês”.

“O procedimento previsto pelo acordo foi cuidadosamente estudado, levando em consideração as características particulares da história e da sociedade chinesa e os desenvolvimentos […] da Igreja na China”, disse o cardeal Pietro Parolin, em entrevista à equipa de comunicação do Vaticano.

Diante das “inúmeras situações em que as comunidades católicas se encontraram, algumas vezes, nas últimas décadas”, explicou, “pareceu prudente e judicioso levar em conta tanto as necessidades expressas pelas autoridades do país quanto as necessidades das comunidades católicas”.

Após a ruptura entre a China e o Vaticano na década de 1950, os cerca de 10 milhões de católicos chineses foram divididos entre uma igreja oficial, controlada por Pequim, e uma igreja clandestina.

Sob os termos do acordo anunciado em 2018, o Papa Francisco concordou em reconhecer a nomeação de sete bispos nomeados pelo Governo chinês unilateralmente.

23 Out 2022

Vaticano e diocese de Hong Kong alvo de alegados ataques informáticos

[dropcap]O[/dropcap] Vaticano e a diocese de Hong Kong têm sido alvo de supostos ataques de piratas informáticos antes das negociações sobre as relações entre a Santa Sé e a China, revelou ontem a organização não-governamental Recorded Future. De acordo com aquela organização não-governamental norte-americana os alegados ataques informáticos estão a ser levados a cabo, alegadamente, pelo grupo “RedDelta” e começaram no passado mês de Maio.

Anteriormente, uma notícia publicada no jornal New York Times referia que a vigilância e os ataques informáticos contra o Vaticano têm como objetivo as negociações que estão marcadas para setembro. O Vaticano ainda não comentou mas o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim negou qualquer tipo de envolvimento considerando o relatório da Recorded Future “especulativo”.

Segundo a organização Recorded Future, a Missão Hong Kong/China (Hong Kong Study Mission to China), a entidade que faz a ligação entre o Vaticano e Pequim, assim como o Instituto para as Missões foram alvo de ataques cibernéticos.

“A intrusão suspeita sobre o Vaticano permite ao grupo ‘RedDelta’ penetrar nas informações sobre as posições da Santa Sé antes da nova ronda negocial de setembro”, refere o relatório da Recorded Future.

O mesmo documento acrescenta que os ataques informáticos também obtêm “informações importantes” sobre as entidades católicas na Região Administrativa Especial de Hong Kong assim como vigia os grupos pró-democratas da antiga colónia britânica.

Ainda segundo o relatório, os “ataques” prolongaram-se pelo menos até 21 de junho e houve mesmo uma tentativa de obtenção ilegal de documentos da Secretaria de Estado do Vaticano nos contactos estabelecidos com Hong Kong.

Os 12 milhões de católicos chineses dividem-se entre os que pertencem à Associação Patriótica dos Católicos Chineses, fora da autoridade do Vaticano, e os grupos clandestinos da igreja leal ao Papa. Os sacerdotes na clandestinidade assim como os fiéis são frequentemente alvo de perseguições e prisões na República Popular da China.

Em 2018, foi alcançado o princípio de um acordo, sem precedentes, entre a Santa Sé e Pequim sobre a designação de bispos, nomeadamente de sete bispos que não eram reconhecidos pelo Vaticano, um assunto de conflito entre os dois Estados.

Muitos católicos clandestinos mostraram reservas em relação ao acordo encarado como uma cedência ao regime comunista e traindo a lealdade dos fiéis em relação ao Papa.

Pequim nega a existência de programas financiados pelo Estado que visam a vigilância informática de segredos de outros países ou instituições.

No princípio do mês, os Estados Unidos disseram que foram detetadas intrusões informáticas chinesas e acusou dois cidadãos da República Popular da China por alegadamente estarem à frente de ataques contra empresas norte-americanas e de outros países.

As autoridades judiciais dos Estados Unidos disseram também que piratas informáticos que trabalham para Pequim atacaram empresas norte-americanas que estão a desenvolver projetos científicos relacionados com vacinas contra o SARS CoV-2. A República Popular da China já respondeu que os Estados Unidos não têm provas sobre estes alegados ataques informáticos.

30 Jul 2020

Vaticano debate a partir de hoje escândalo de abusos a crianças que abalou a Igreja

[dropcap]O[/dropcap] Vaticano recebe a partir de hoje e até domingo todos os presidentes das conferências Episcopais do mundo para uma reunião inédita sobre abusos a crianças por membros do clero, um tema que abalou a Igreja em 2018. Ouvir as vítimas, aumentar a consciência, aumentar o conhecimento, desenvolver novos procedimentos, e partilhar boas práticas são alguns dos objectivos do encontro.

O encontro sobre a “Protecção dos menores na Igreja”, que se realizará, no Vaticano focará três temas principais: responsabilidade, assunção de responsabilidades e transparência.

O papa anunciou a sua presença em todas as sessões e momentos de oração da cimeira que reunirá 114 conferências episcopais: 36 da África, 24 da América do Norte, América Central e América do Sul, 18 da Ásia, 32 da Europa, incluindo Portugal, e quatro da Oceânia.

Segundo a comissão organizadora da cimeira, os participantes “trabalharão juntos para responder a este sério desafio” estando prevista também a participação de algumas vítimas. Na preparação deste encontro a comissão organizadora da cimeira pediu aos presidentes das conferências episcopais para ouvir as vítimas nos seus países.

O papa Francisco escolheu para o comité organizador o arcebispo de Chicago (EUA), Blase J. Cupich, o arcebispo de Mumbai, Oswald Gracias, e duas figuras que têm protagonizado a batalha contra os abusos: o vice-secretário recém-nomeado da Congregação para a Doutrina da Fé, Charles Scicluna, e o presidente do Centro para a Proteção das Crianças da Pontifícia Universidade Gregoriana e membro da Comissão para a Tutela dos Menores, Hans Zollner.

O abuso sexual contra crianças durante anos e anos chegou a ser classificado pelo secretário do papa emérito, Bento XVI, como “o 11 de Setembro da Igreja Católica”, um momento apocalíptico com incontáveis vítimas.

Na Igreja dos Estados Unidos um relatório de um grande júri da Pensilvânia revelou que pelo menos mil crianças foram vítimas de 300 padres nos últimos 70 anos, e que gerações de bispos falharam repetidamente na adoção de medidas para proteger a comunidade e punir os violadores. No sábado, o Vaticano expulsou do sacerdócio o ex-cardeal e arcebispo emérito de Washington, Theodore McCarrick, acusado de abusos sexuais a menores e a seminaristas.

Relatos em todo o mundo

Os casos estendem-se ainda a países como a Alemanha, Irlanda, Holanda, Austrália, França e Espanha. Na Alemanha, um relatório interno encomendado pela Conferência Episcopal aponta para 3.677 casos de abusos sexuais cometidos por 1.670 elementos da Igreja entre 1946 e 2014 e na Holanda pelo menos 20 bispos e cardeais foram associados a abusos sexuais.

Na Austrália, o cardeal George Pell, que dirigia a Secretaria da Economia do Vaticano, foi considerado culpado por um tribunal em Melbourne de abuso sexual a duas crianças.

Em Agosto, a poucos dias de uma visita à Irlanda, onde mais de 14.500 pessoas declararam-se vítimas de abuso sexual por parte de padres, o papa escreveu aos católicos do mundo, condenando este crime e exigindo responsabilidades. Na carta, Francisco pediu perdão pela dor sofrida e disse que os leigos católicos devem envolver-se na luta para erradicar o abuso e o seu encobrimento.

A 12 de Setembro, Francisco decidiu marcar uma cimeira mundial sobre os abusos sexuais na Igreja.

 

Acções do papa contra os abusos sexuais na Igreja

2013

5 de Abril:

– Na sua primeira audiência, Francisco desafia a Congregação para a Doutrina da Fé para, “seguindo a linha estabelecida por Bento XVI, agir de forma decisiva em casos de abuso sexual”.

2014

22 de março:

– Cria a Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores.

7 de Julho:

– Celebra uma missa com seis vítimas de abuso por parte do clero e pede “perdão por pecados de omissão” cometidos por líderes da Igreja por “crimes graves”.

5 de novembro:

– Expulsa um sacerdote argentino, condenado a uma pena de prisão por pedofilia.

11 de novembro:

– Cria um tribunal especial dentro da Congregação para a Doutrina da Fé para avaliar recursos interpostos pelos clérigos em casos de abuso e para agilizar as sentenças.

2016

4 de Junho:

– Publica o ‘Motu Proprio’ “Como uma mãe amorosa”, em que afirma que os bispos podem ser expulsos se, por “negligência ou omissão”, causarem “sérios danos a outra pessoa na comunidade”.

2017

2 de Janeiro:

– É divulgada uma carta de Francisco em que pede aos bispos do mundo inteiro que os crimes de abusos a crianças “não sejam mais repetidos” e determina uma “clara tolerância zero”.

2018

2 de Maio:

– Recebe três vítimas de abusos do padre chileno Fernando Karadima, que pedem ao papa Francisco que transforme o seu pedido de perdão em “ações exemplares”.

15 de Maio:

– Convoca uma reunião com os bispos do Chile depois de pedir desculpas por ter sido mal informado no caso do bispo Juan Barros, acusado de encobrir o padre Fernando Karadima. Três dias depois, todos os bispos apresentam a sua renúncia ao papa.

1 de Junho:

– Inicia mais uma série de encontros com vítimas de clérigos no Chile.

11 de Junho:

– Aceita a renúncia de três bispos chilenos, incluindo Barros, na sequência do escândalo de acusações de falta de transparência da Igreja na gestão de casos de abuso sexual a menores.

28 de Junho:

– Aceita a demissão de mais três bispos chilenos

28 de Julho:

– Aceita a renúncia do antigo arcebispo de Washington Theodore McCarrick, a quem ordena que conduza “uma vida de oração e penitência” até que as acusações de abuso sexual de que é alvo sejam examinadas num julgamento da Igreja Católica.

20 de Agosto:

– Publica uma carta dirigida a todos os católicos do mundo, condenando o crime de abuso sexual por parte de padres e o seu encobrimento e exigindo responsabilidades.

29 de Agosto:

– Lamenta a forma como a Igreja irlandesa respondeu aos crimes de abusos sexuais, naquela que foi a sua primeira intervenção pública no Vaticano depois das acusações de que ele próprio teria escondido os crimes.

12 de Setembro:

– Convoca os presidentes das Conferências Episcopais de todo o mundo para uma reunião sem precedentes, a decorrer em fevereiro de 2019, para analisar os casos de abusos de menores.

28 de Setembro:

– Reduz à condição de leigo o padre Fernando Karadima.

13 de Outubro:

– Expulsa mais dois bispos chilenos do estado clerical por abuso infantil explícito.

 

Escândalos sexuais na Igreja segundo Francisco

 

“Fala-se de ‘lobby gay’ [na Igreja], e é verdade, ele existe.”

06-06-2013

“A Igreja deve sempre ser reformada, ‘Ecclesia semper reformanda’, porque os membros da Igreja ‘são sempre pecadores e precisam de se arrepender’.”

09-11-2013

“Mas tivemos vergonha? Tantos escândalos [na Igreja] que não quero mencionar individualmente, mas que todos sabemos quais são… Escândalos que alguns tiveram de pagar caro. E isso está bem! Deve ser assim… a vergonha da Igreja.”

16-01-2014

“Prometo compaixão e oração por cada vítima de abusos sexuais e também pelas suas famílias.”

16-01-2014

“Os casos de abusos sexuais são terríveis e deixam cicatrizes profundas. Bento XVI foi muito corajoso e ele abriu um canal. A Igreja neste caminho tem feito muito. Talvez mais do que qualquer um.”

05-03-2014

“Devemos ser muito duros [com crimes de pedofilia praticados por alguns padres]! Com as crianças não se brinca.”

11-04-2014

“O que me causa dor e tristeza é o facto de alguns padres e bispos, ao abusarem sexualmente de menores, violarem a inocência destes e a sua vocação sacerdotal.”

07-07-2014

“Não se pode dar prioridade a qualquer tipo de considerações, sejam de que natureza forem, como por exemplo a vontade de evitar o escândalo, porque não há qualquer lugar, no ministério da Igreja, para quem abusa de menores.”

05-02-2015

“Sei como está marcada em vocês a ferida dos últimos anos e acompanhei-vos no vosso generoso envolvimento para ajudar as vítimas (…) e contínuo trabalho para que estes crimes [de pedofilia que abalaram a Igreja dos Estados Unidos] nunca mais se repitam.”

23-09-2015

“Os crimes, os pecados dos abusos sexuais a menores [cometidos por membros da Igreja] não podem ser mantidos em segredo durante mais tempo.”

27-09-2015

“Nós não podemos encobrir [atos de padres pedófilos e] daqueles que são culpados, incluindo alguns bispos.”

28-09-2015

“Assumamos clara e lealmente tolerância zero em relação a este assunto [casos de abuso sexual de menores por membros do clero].”

02-01-2017

“A Igreja agora sente um dever de se comprometer, de forma cada vez mais profunda, na proteção dos menores e da sua dignidade, tanto dentro da própria Igreja como em toda a sociedade.”

06-10-2017

“Aqui [no Chile] não posso deixar de manifestar a dor e a vergonha que sinto perante o dano irreparável causado às crianças por elementos da Igreja.”

16-01-2018

“Não me posso permanecer em silêncio diante de uma das pragas do nosso tempo, e que, infelizmente, também tem implicado vários membros do clero. O abuso de menores é um dos piores e mais vis possíveis crimes.”

07-01-2019

“Havia padres e também bispos que faziam isso [abusar sexualmente de freiras].”

21 Fev 2019

Vaticano cria equipa de atletismo com religiosos e funcionários

[dropcap]O[/dropcap] Vaticano apresentou ontem a sua primeira associação desportiva, “Athletica Vaticana”, que terá uma equipa composta por padres, freiras e funcionários do Vaticano, para mostrar que o desporto pode ser uma ferramenta de solidariedade.

A associação nasce de um acordo com o Comité Olímpico Italiano (CONI) e será composto por cerca de 70 pessoas com o objectivo de fazer uma “corrida divertida”, disse em conferência de imprensa o subsecretário do Conselho Pontifício para a Cultura e presidente da “Athletica Vaticana”.

Através de um acordo com o CONI, a associação poderá participar em competições em Itália e no resto da Europa, e realizará a sua primeira corrida a 20 de Janeiro nas ruas de Roma.

A associação tem também dois jovens refugiados como parceiros honorários tendo sido ainda assinado um protocolo com a Federação Italiana de Desportos Paraolímpicos e Experimentais, uma iniciativa que visa demonstrar como o desporto pode promover a inclusão.

A apresentação também contou com a presença do presidente do Pontifício Conselho da Cultura, o cardeal Gianfranco Ravasi, que destacou a relação entre o desporto, solidariedade e a fé.

O papa Francisco defendeu em várias ocasiões os valores do desporto como um antídoto ao individualismo e como uma ajuda para fomentar uma cultura de encontro.

11 Jan 2019

China e Vaticano mostram-se em sintonia, quase 70 anos depois

Em Macau, há muitas incertezas, mas o pré-acordo que levou ao reconhecimento de sete bispos da China pelo Vaticano é visto com esperança. Em Roma, nega-se a existência de uma vertente política que leve ao corte de relações com Taiwan. Contudo, o Cardeal Joseph Zen acusa o Papa Francisco de trair os crentes que se mantiveram fiéis ao Vaticano ao longo dos anos

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] China e o Vaticano chegaram a um acordo provisório e histórico, depois de mais de 70 anos de costas voltadas, e o Papa Francisco reconheceu com efeitos imediatos sete bispos, nomeados pelo Governo Central. A revelação sobre o acordo foi feita no sábado, pelo Vaticano, mas os detalhes não são ainda conhecidos.

Actualmente a Igreja Católica no Interior da China está dividida entre os fiéis que frequentam as igrejas da Associação Patriótica Católica Chinesa, cujos bispos e controlo está com o Governo Central, e os católicos fiéis a Roma, que frequentam igrejas consideradas ilegais pelas autoridades chinesas, cujos bispos são secretamente nomeados pelo Papa. Embora não haja números oficiais, estima-se que nas duas facções existam entre 10 e 13 milhões de católicos na China.

Até ser assinado este pré-acordo e haver o reconhecimento dos sete bispos da Associação Patriótica Católica Chinesa, os guias espirituais tinham sido excomungados e não eram reconhecidos pela Igreja Católica. A situação muda com este pré-acordo, que é visto como um primeiro passo para o restabelecimento das relações entre o Vaticano e a China.

“O Papa Francisco espera que com estas decisões seja dado início a um novo período, que permita que as feridas do passado sejam ultrapassadas e que resulte numa comunhão total entre todos os católicos chineses”, afirmou o Vaticano, em comunicado no sábado, depois de ter sido anunciado o acordo.

Também Greg Burke, assessor do Vaticano, veio a público fazer alguns esclarecimentos, face à pouca informação sobre o real teor do acordo assinado entre as duas pates.

“Isto não é o fim de um processo. É um começo”, começou por frisar o assessor. “O pré-acordo é o resultado de um diálogo, da existência de muita paciência em ouvir o outro, principalmente quando os dois lados têm pontos-de-vista muito diferentes”, acrescentou.

Política à parte

Porém, Greg Burke veio ainda negar o teor político do documento e um eventual corte nas relações diplomáticas com Taiwan e o consequente reconhecimento da República Popular da China. Actualmente, o Estado do Vaticano reconhece o Governo de Taiwan como a entidade com soberania política. “O objectivo do acordo não é político, mas pastoral e passa por permitir que os crentes tenham bispos em comunhão com Roma, mas que seja ao mesmo tempo reconhecido pelas autoridades chinesas”, clarificou.

Por sua vez, as autoridades do Continente foram mais comedidas na reacção ao acordo: “ A China e o Vaticano vão continuar a manter uma postura de comunicação e a promover o progresso de forma a melhorar as relações bilaterais”, foi escrito, num curto comunicado, no portal do Ministério para os Negócios Estrangeiros.

Segundo a informação disponibilizada pelas duas partes, não é claro quem terá a última palavra sobre a nomeação dos bispos, se será o governo de Pequim ou o Papa.

Macau aplaude

Segundo os padres de Macau ouvidos pelo HM, a notícia do pré-acordo é vista como positiva. Existe agora a expectativa que possa haver alterações para uma maior tolerância sobre a prática do catolicismo no Continente, mesmo que a situação seja vista como altamente complexa.

“É sempre positivo quando há um reatamento de relações entre entidades e quando esse reatamento pode contribuir para o bem-estar e diálogo entre os povos, entre as comunidades e instituições. É sempre um progresso para a Humanidade”, afirmou o padre Peter Stilwell, em declarações ao HM.

“O teor do conteúdo não é explícito. Sabemos que a Santa Sé reconheceu sete bispos, a quem faltava ter uma relação com o Vaticano. Agora, aguardamos para ver como as coisas vão evoluir”, acrescentou, de forma cautelosa.

Contudo, para o padre, a reconciliação entre as duas igrejas no Interior pode colocar alguns desafios: “Não será fácil [a conciliação], porque há católicos que foram perseguidos e viveram na clandestinidade e outros que viveram de acordo com as posições do Governo, da chamada Igreja Patriótica. Fazer conseguir encontrar estas duas comunidades vai ser um grande desafio pastoral”, previu.

Por outro lado, Stilwell explicou que não espera alterações no panorama de Macau, devido ao facto da Igreja Católica do território estar sob a alçada do Vaticano, tal como acontece em Hong Kong.

“A nível de Macau não espero nenhum impacto directo. Macau é um território que está abrangido pela Lei Básica. Está previsto que a Igreja Católica tenha liberdade de culto e que continue a ter o mesmo regime que tinha, aquando da presença portuguesa. Durante este período de 50 anos não haverá efeitos”, explicou.

Patriotas e católicos

Também o padre Luís Sequeira vê o acordo como muito positivo, apesar de reconhecer as desconfianças que existem entre ambas as partes. “Parece-me um facto muito positivo. Claro que é um princípio de um processo que tem de ir mais fundo e ter um princípio maior de compreensão mútua da realidade”, apontou.

Sequeira frisou também que o patriotismo e o catolicismo não são características que se excluam mutuamente e que podem conviver. Porém, este facto reconhece que em certas situações podem gerar tensões. “A preocupação da igreja é mais espiritual, a do Governo é mais política. Se não houver uma compreensão para este facto, poderão surgir tensões. Mas nada impede que um católico possa ser patriota e um patriota possa ser católico e estar unido a uma Igreja universal”, defendeu.

O pré-acordo surge depois de recentemente terem circulado notícias de perseguições a católicos no Interior da China. Segundo alguns relatos, os crentes tinham mesmo sido obrigados a remover cruzes de igrejas. Contudo este ambiente de tensão entre católicos e o governo chinês não é novo.

Também segundo Luís Sequeira este cenário do Vaticano reconhecer bispos nomeados pelos governo não é novo, o mesmo aconteceu em Portugal e Espanha, durante as ditaduras de Salazar e Franco.

Já o ex-deputado e católico Paul Chan Wai Chi admitiu estar muito reticente com este acordo. “É complicado analisar o pré-acordo nesta altura porque os detalhes não são conhecidos. Por enquanto só posso rezar pela Igreja Católica. No futuro tudo pode acontecer, para melhor ou para pior”, disse.

“Considero que é necessário esperar pelo futuro, antes de ter uma opinião. Mas acredito que Deus controla tudo. Tenho alguma esperança na existência de uma maior liberdade religiosa para os católicos no interior da China, mas é preciso esperar para ver o que acontece”, acrescentou.

“Na boca do lobo”

Apesar de uma visão mais optimista sobre o acordo em Macau, o mesmo não sucedeu com o cardeal Joseph Zen, de 86 anos de Hong Kong, conhecido pelas suas posições contra a aproximação entre o Vaticano e o Governo Central.

“Estão a meter o rebanho na boca do lobo. É um acto incrível de traição”, afirmou Joseph Zen, de acordo com as declarações prestadas à agência Reuters. O facto dos detalhes do pré-acordo ainda não serem conhecidos, leva Zen a falar de um “pacto secreto”.

“As consequências desta traição vão ser trágicas e vão prolongar-se durante muito tempo, não só para a imagem da Igreja da China, mas para toda a Igreja porque atingem a credibilidade da instituição. Talvez seja por isso que mantêm o acordo em segredo”, considerou.

Ainda sobre o histórico pré-acordo, Zen acredita que vai ser visto como uma mancha negra no percurso do Papa Francisco. “Rendeu-se por completo. É uma traição (à nossa fé). Não tenho outras palavras para descrever este acordo”, frisou.


Benefícios para a USJ

Nos últimos anos a Universidade de São José tem tentado junto das autoridades do governo central ter autorização para aceitar inscrições de estudantes do Continente. Até hoje tal nunca foi possível, contudo este pré-acordo abre a porta para que a situação possa sofrer alterações: “Do ponto de vista da Universidade, pode ser que isto facilite o recrutamento de estudantes da China Continental, coisa que não nos tem sido permitido fazer até aqui”, reconhece. A USJ espera ter autorização para aceitar 100 inscrições em quatro cursos.


Papa cria diocese de Chengde

Além do reconhecimento de sete bispos, o Papa criou igualmente uma diocese na cidade de Chengde, na província de Hebei. A decisão foi justificada com o desejo do Papa Francisco de promover “os cuidados pastorais pelo rebanho do Senhor”, assim como promover uma maior eficácia do “espírito do bem”. No comunicado publicado no portal do Vaticano é ainda explicado que a catedral vai ficar situada na Divisão Administrativa de Shuangluan e que foi criada com o apoio e autorização da Sé de Pequim.


Reconhecimento póstumo

Além dos sete bispos reconhecidos pelo Papa Francisco, houve um oitavo que foi reconhecido a título póstumo. Anthony Tu Shihua foi o bispo reconhecido, depois de ter morrido a 4 de Janeiro do ano passado, com 98 anos. Anthony Tu foi ordenado padre em 1944, mas perdeu o mandato papal em 1959, devido ao facto de ter ingressado na Associação Patriótica Católica Chinesa. Mesmo assim, na altura da sua morte, expressou o desejo de se reconciliar com a Igreja de Roma. A reconciliação chegou agora, por decisão do Papa Francisco, quase dois anos após a sua morte.

25 Set 2018

Vaticano | Papa aconselha terapia para crianças com tendências homossexuais

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]papa Francisco recomendou aos pais o recurso à psiquiatria assim que estes se apercebam de tendências homossexuais dos filhos durante a infância, noticiou ontem a agência de notícias France-Presse (AFP). “Quando [a homossexualidade] se manifesta na infância, a psiquiatria pode desempenhar um papel importante para ajudar a perceber como as coisas são. Mas é outra coisa quando ocorre depois dos vinte anos”, respondeu o papa a um jornalista, a bordo do avião que o transportava da Irlanda para Roma. Questionado sobre o que diria aos pais com filhos homossexuais, o representante máximo da Igreja Católica afirmou que lhes pediria “que rezem, que dialoguem e que entendam, mas que não condenem”. Por fim, defendeu que o “silêncio nunca será uma cura” porque, sublinhou, “ignorar um filho ou uma filha com tendências homossexuais revela falta de paternidade ou maternidade”.

28 Ago 2018

Cardeal de Hong Kong espera boas notícias este ano sobre relações Vaticano-China

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] cardeal John Tong, bispo emérito de Hong Kong, disse este sábado, em Fátima, que espera boas notícias sobre as relações entre o Vaticano e Pequim este ano.

Ao falar na conferência de imprensa da peregrinação internacional aniversário de 12 e 13 de maio, John Tong admitiu que “ainda este ano poderão ser anunciadas boas notícias”.

Segundo o cardeal, há várias questões nas negociações entre Pequim e o Vaticano, sendo que a nomeação dos bispos locais é um dos pontos mais importantes.

“Este é o ponto chave”, declarou o prelado, que destacou a devoção à Virgem de Fátima na China, onde o Centenário das Aparições foi celebrado em igrejas locais.

Ainda assim, John Tong considerou que “a Igreja na China continua a viver atualmente numa situação atípica”, assinalando que o Governo privilegia a Igreja oficial, a Associação Patriótica, implementando medidas restritivas para a comunidade que segue as orientações do Vaticano.

O cardeal admitiu, contudo, que a situação da Igreja na China “continua aberta a grandes possibilidades”, destacando a “grande coragem em muitas comunidades católicas na defesa da sua fé”.

Já o bispo de Leiria-Fátima, António Marto, considerou que se está “a viver um momento delicado e esperançoso no diálogo” entre a Santa Sé e a China, manifestando o desejo de “que possa abrir caminho ao reconhecimento da Igreja católica na China e que permita aos católicos chineses serem cidadãos plenamente católicos e plenamente chineses, porque é isso que está em questão no fundo”.

“Queremos ter esta intenção presente nesta peregrinação”, afirmou António Marto, pedindo para que este diálogo “chegue a bom termo” e “seja frutífero a breve tempo”.

Pequim e a Santa Sé estarão prestes a quebrar mais de meio século de antagonismo com a assinatura de um primeiro acordo sobre a nomeação dos bispos.

Os dois Estados romperam os laços diplomáticos em 1951, depois de Pio XII excomungar os bispos designados pelo Governo chinês.

Em 12 de março, a China disse que está a trabalhar com o Vaticano para melhorar as relações bilaterais, numa altura em que ambos os Estados estão prestes a assinar um acordo sobre a nomeação dos bispos, segundo observadores.

“A nossa posição é clara, estamos contentes por trabalhar com o Vaticano para melhorar as relações”, afirmou o porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Lu Kang, em conferência de imprensa.

Já em 03 de abril, a China considerou que limitar o controlo do Vaticano na nomeação dos bispos não restringe a liberdade religiosa dos crentes chineses.

O vice-diretor da Administração de Assuntos Religiosos da China Chen Zongron reafirmou a noção de que os grupos religiosos do país não podem ser controlados por “forças estrangeiras”.

“A constituição chinesa afirma claramente que os grupos e assuntos religiosos não podem ser controlados por forças estrangeiras, e que estas não devem interferir de forma alguma”, referiu.

14 Mai 2018

Fé | Católicos chineses ignoram possível acordo entre Pequim e a Santa Sé

[dropcap style =’circle’] O [/dropcap] bservadores garantem estar para breve um acordo entre a China e o Vaticano, que poria fim a mais de 70 anos de antagonismo, mas numa das principais comunidades católicas da China ninguém sabe de nada.

“Nós aqui fazemos o melhor que podemos para praticar a fé”, diz Lu Zhizhong, padre na aldeia de Donglu. “O resto são questões para os nossos líderes”.

Donglu é um dos lugares mais sagrados para os católicos chineses, local de uma alegada aparição de Nossa Senhora, em 1900, para proteger os locais de uma rebelião nacionalista. Entre os crentes locais questionados pela Lusa sobre o referido acordo, a resposta não variou: “Bu Zhidao” (‘Não sei de nada’, em chinês).

Com cerca de dez mil habitantes, a aldeia fica em Hebei, província do norte da China que concentra grande parte da indústria pesada chinesa, produzindo mais aço do que qualquer país no mundo – com excepção da própria China.

Uma igreja do tamanho de um quarteirão, com paredes e colunas brancas, ergue-se no centro de Donglu, entre casas de tijolo cru, estradas poeirentas e plantações de melancia.

Lu Zhizhong vive nas traseiras da igreja, construída no início dos anos 1990, num cubículo com cerca de quinze metros quadrados. Aos visitantes, oferece a única bebida que tem: água quente. “Eu desde criança que sou católico, mas a fé é algo estranho à nossa cultura”, explica. “Temos que a conhecer, estudar, compreender. Não é como em Portugal, onde é parte natural da sociedade”, diz.

O que distingue a igreja católica na China face a outras partes do mundo não é, contudo, apenas cultural. China e Vaticano romperam os laços diplomáticos em 1951, depois de Pio XII excomungar os bispos designados pelo Governo chinês. Os católicos chineses dividiram-se então entre duas igrejas: a Associação Católica Patriótica Chinesa, aprovada por Pequim, e a clandestina, que continuou fiel ao Vaticano.

 

Novo dia

Segundo o acordo que deverá ser anunciado em breve, o Vaticano reconhecerá sete bispos nomeados por Pequim, enquanto dois bispos da igreja clandestina terão que se afastar. Em troca, a Santa Sé terá uma palavra na nomeação de futuros bispos chineses. As autoridades chinesas, no entanto, já reafirmaram a sua posição. “A Constituição chinesa dita claramente que os grupos e assuntos religiosos não podem ser controlados por forças estrangeiras, e que estas não devem interferir de forma alguma”, disse, na semana passada, Chen Zongron, vice-diretor da Administração de Assuntos Religiosos da China. “Não existe religião na sociedade humana que esteja acima do Estado”, afirmou.

Porém, a religião na China estará numa fase de grande expansão, preenchendo “o vazio moral” e o “excessivo materialismo” provocados pela alegada crise da ideologia comunista e o trepidante desenvolvimento das últimas quatro décadas de “Reforma Económica e Abertura ao Exterior”.

Num domingo de páscoa em Donglu, a igreja, com capacidade para cerca de mil pessoas, está a abarrotar. Nas ruas, lançam-se petardos e fogo-de-artifício para “afugentar os maus espíritos”, uma tradição reservada no país para a passagem do Ano Novo Lunar, a mais importante festa para os chineses.

Entre os crentes, trocam-se ovos com a inscrição “Deus ama-te” e, em frente à igreja, vende-se algodão doce – outra novidade no país. “A religião é algo positivo para as pessoas, as famílias, a sociedade e o país”, diz Lu Zhizhong, ressalvando logo a seguir: “Desde que seja praticada sem extremismos ou que não leve ao isolamento face aos outros”.

16 Abr 2018

Fé | Pequim diz que limitar ordenação de clérigos não viola liberdade religiosa

[dropcap style =’circle’] A [/dropcap] China disse ontem que limitar o controlo do Vaticano na nomeação dos bispos não restringe a liberdade religiosa dos crentes chineses, numa altura em que Pequim e a Santa Sé discutem um primeiro acordo

O vice-director da Administração de Assuntos Religiosos da China Chen Zongron reafirmou a noção de que os grupos religiosos do país não podem ser controlados por “forças estrangeiras”.
“A constituição chinesa afirma claramente que os grupos e assuntos religiosos não podem ser controlados por forças estrangeiras, e que estas não devem interferir de forma alguma”, afirmou. O responsável, que falava durante a apresentação de um livro branco do Conselho de Estado chinês sobre a liberdade religiosa no país, afirmou que discorda que Pequim esteja a restringir a prática religiosa por não dar “controlo absoluto” ao Vaticano na nomeação dos bispos.
Pequim e a Santa Sé estão prestes a quebrar mais de meio século de antagonismo com a assinatura de um primeiro acordo sobre a nomeação dos bispos.
Os dois Estados romperam os laços diplomáticos em 1951, depois de Pio XII excomungar os bispos designados pelo Governo chinês.

Rezar no escuro
Os católicos chineses dividiram-se então entre duas igrejas: a Associação Católica Patriótica Chinesa, aprovada por Pequim, e a clandestina, que continuou fiel ao Vaticano.
Segundo o acordo, que observadores afirmam que será anunciado em breve, o Vaticano deve reconhecer sete bispos nomeados por Pequim, enquanto dois bispos da igreja clandestina terão que se afastar. O acordo tem suscitado críticas de que a Santa Sé está a abdicar de muito, depois de quase sete décadas a reafirmar a necessidade de manter a igreja católica independente do controlo do Governo chinês.
Na semana passada, Guo Xijin, um dos bispos ordenados pelo Vaticano que deverá ceder o seu posto por não ser reconhecido pelas autoridades chinesas, foi temporariamente removido da sua paróquia, no sul do país, mas regressou no domingo para celebrar a páscoa.

5 Abr 2018

Papa apela à paz na Síria e na Terra Santa e encoraja diálogo das Coreias

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] papa Francisco pediu ontem o fim do “extermínio em curso” na Síria, apelou “à reconciliação na Terra Santa” e incentivou o diálogo na península coreana, na sua mensagem durante a celebração da Páscoa no Vaticano.

Na mensagem, feita antes da tradicional bênção ‘Urbi et Orbi’, o pontífice pediu “os frutos da paz para todo o mundo, a começar pela bem-amada e atormentada Síria, cujo povo está esgotado por uma guerra que parece não ter fim”.

A Síria, que entrou no oitavo ano de guerra, vive um drama humanitário perante um conflito que já fez pelo menos 511 mil mortos, incluindo 350 mil civis, e milhões de deslocados e refugiados.

Desencadeado em março de 2011 pela violenta repressão do regime de Bashar al-Assad de manifestações pacíficas, o conflito na Síria ganhou ao longo dos anos uma enorme complexidade, com o envolvimento de países estrangeiros e de grupos ‘jihadistas’, e várias frentes de combate.

Na mensagem pascal, Francisco pediu a “todos os responsáveis políticos e militares” que “ponham imediatamente termo ao extermínio em curso, que respeitem o direito humanitário e que [facilitem] o acesso à ajuda” de que o povo sírio precisa com urgência.

O papa também referiu a necessidade de garantir as condições adequadas para o regresso “de todos aqueles que foram dispersos”, numa aparente referência ao enclave rebelde de Ghouta Oriental, nos arredores da capital síria, Damasco.

A mensagem de Francisco é feita no mesmo dia em que foi anunciado que os rebeldes sírios aceitaram sair da última bolsa de resistência que mantinham em Ghouta Oriental, cuja reconquista total marca uma importante vitória para o Presidente sírio, Bashar al-Assad.

O papa apelou igualmente “à reconciliação na Terra Santa, ferida neste momento por conflitos abertos que não poupam os indefesos”.

Na sexta-feira, confrontos entre manifestantes palestinianos e o Exército israelita registados na fronteira de Gaza com Israel fizeram pelo menos 16 mortos e mais de mil feridos.

Trata-se do dia mais sangrento desde a guerra de 2014 em Gaza.

O papa Francisco encorajou igualmente o diálogo em curso na península coreana, que marca um período de apaziguamento após cerca de dois anos de uma escalada devido à realização de testes nucleares e balísticos por parte do regime de Pyongyang.

“Deixem aqueles que têm responsabilidades diretas agir com sabedoria e discernimento para promover o bem do povo coreano e construir confiança na comunidade internacional”, acrescentou.

No próximo dia 27 de abril, está previsto um encontro entre o líder norte-coreano, Kim Jong-un, e o Presidente sul-coreano, Moon Jae-in. Será a primeira cimeira entre as duas Coreias em 11 anos.

Para maio, é aguardada uma cimeira inédita entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos.

2 Abr 2018

Jornal do PC garante relações com o Vaticano “mais cedo ou mais tarde”

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m jornal do Partido Comunista Chinês (PCC) considerou ontem que Pequim e o Vaticano vão estabelecer relações diplomáticas “mais cedo ou mais tarde”, o que implicaria que a Santa Sé cedesse na nomeação dos bispos. “Acreditamos que os diplomatas de Pequim podem gerir as negociações tendo em conta o interesse nacional e as crenças religiosas”, escreve o Global Times, jornal de língua inglesa do grupo do Diário do Povo, o órgão central do PCC.

Pequim e a Santa Sé não têm relações diplomáticas, divergindo sobretudo na nomeação dos bispos, com cada lado a reclamar para si esse direito. A China tem cerca de 12 milhões de católicos, mas as manifestações católicas no país são apenas permitidas no âmbito da Associação Patriótica Católica Chinesa, a igreja aprovada pelo PCC e independente do Vaticano. O objectivo é garantir que os católicos do país funcionam “independentemente” de forças externas e “promovem o socialismo e patriotismo através da religião”.

Milhões de católicos chineses estão, porém, ligados às chamadas igrejas clandestinas, constituídas fora do controlo daquele organismo estatal e que juram lealdade ao papa. “A chegada a um acordo com a China sobre a escolha dos bispos iria reflectir a habilidade dos católicos para se adaptarem às mudanças”, acrescenta o Global Times, em editorial.

Vários órgãos de comunicação próximos do Vaticano afirmam que um acordo entre ambos os Estados está pronto e pode ser assinado nos próximos meses, mas não se sabe ainda como será resolvida a questão da nomeação dos bispos.

No caso do Vietname, país vizinho da China e também governado por comunistas, um acordo assinado em 1996 estabelece que a Santa Sé propõe três bispos a Hanói, e o governo vietnamita escolhe um deles.

Na semana passada, o cardinal de Hong Kong Joseph Zen criticou a própria Santa Sé pelos seus avanços diplomáticos com o regime chinês. Zen acusou a igreja de forçar bispos a retirarem-se, para que possam ser substituídos por outros, apoiados por Pequim.

7 Fev 2018

Vaticano | Papa responde ao Cardeal Zen sobre a Igreja Católica na China

Quando o Papa Francisco consegue passos importantes para uma reconciliação com Pequim , o Cardeal Zen resolveu incendiar a internet

[dropcap]O[/dropcap] director da Sala de Imprensa do Vaticano, Greg Burke, divulgou na terça-feira, 30 de Janeiro, uma declaração na qual afirma que o Papa Francisco está bem informado sobre a situação da Igreja Católica na China e que é “lamentável” que algumas “pessoas da Igreja” afirmem o contrário, causando “confusões e polémicas”.

A declaração afirma que “o Papa está em constante contacto com os seus colaboradores, em particular da Secretaria de Estado, sobre as questões chinesas, e é informado por eles de forma fiel e pormenorizada sobre a situação da Igreja Católica na China e sobre os passos do diálogo em andamento entre a Santa Sé e a República Popular da Chinesa, que ele acompanha com especial solicitude”. “Por isso é um surpresa e lamentável que se afirme o contrário por parte de pessoas de Igreja e se alimentem assim confusões e polémicas”, concluiu.

Embora não tenha mencionado, a declaração ocorreu um dia depois que o Bispo Emérito de Hong Kong, Cardeal Joseph Zen Ze-kiun, publicou no seu portal uma carta na qual explica e analisa a difícil situação da Igreja Católica na China, em particular os bispos, ante as pressões e a perseguição do governo.

Na carta publicada no seu portal, o Cardeal recordou que nos últimos dias a imprensa informou que o Vaticano pediu a um bispo para que renuncie e a outro bispo para que aceite a sua renúncia a fim de permitir que os bispos relacionados ao governo assumam os seus cargos.

A carta é bem crítica em relação às negociações do Vaticano com o governo chinês, na qual também denuncia vários problemas sofridos pelos prelados católicos no país: “Vi directamente a escravidão e a humilhação à qual os nossos irmãos bispos estão submetidos”, assinala. O Bispo Emérito pergunta: “Acreditaria que o Vaticano está a vender a Igreja Católica na China? Sim, definitivamente, se estão a ir na direcção na qual estão segundo o que eles estão a fazer nos últimos anos e meses”.

As relações diplomáticas entre a China e o Vaticano foram cortadas em 1951, dois anos depois da chegada ao poder dos comunistas que expulsaram os clérigos estrangeiros. Desde então, a China permite o culto católico unicamente à Associação Patriótica Católica Chinesa, subordinada ao Partido Comunista da China, e recusa a autoridade do Vaticano para nomear bispos ou governá-los. Há alguns anos, a Santa Sé trabalha num acordo para o restabelecimento das relações diplomáticas com a China, uma aproximação incentivada pelo Papa Francisco.

Entretanto, o Papa Francisco prometeu analisar o caso dos dois bispos chineses reconhecidos a quem a Santa Sé havia pedido para se afastar e abrir caminho a prelados ordenados ‘ilicitamente’. A Santa Sé pediu que Dom Zhuang Jianjian, da Diocese de Shantou, de 88 anos e que vive na província de Guangdong, e Dom Vincent Guo Xijin, da Diecese de Mindong, de 59 anos, morador da província de Fujian, se aposentassem das suas funções eclesiásticas. Ambos são reconhecidos por Roma.

Zhuang recebeu o pedido para dar espaço a Dom Huang Bingzhang, da Diocese de Shantou, de 51 anos, ilicitamente ordenado e que está excomungado. Guo recebeu o pedido para se afastar a fim de dar lugar ao bispo sancionado pelo governo, Dom Zhan Silu, da Diocese de Mindong, de 57 anos, que também fora ordenado ilicitamente.

O Cardeal Zen foi a Roma após uma solicitação de Zhuang para “levar ao Santo Padre a sua resposta à mensagem que recebeu da Santa Sé por uma delegação vaticana em Pequim. O cardeal disse ter tido sucesso em transmitir ao “Santo Padre as inquietações dos seus filhos fiéis na China” e pediu-lhe que considerasse o assunto.

“A Sua Santidade disse: ‘Sim, eu disse a eles (Cúria Romana) para não criarem um outro caso Mindszenty’”, escreveu Zen. “Penso que foi muitíssimo significativo e apropriado o Santo Padre fazer esta referência histórica ao Cardeal Jozsef Mindszenty, um dos heróis da nossa fé”.

Mindszenty era o cardeal primaz da Hungria sob os anos de perseguição comunista. Após ser condenado à prisão perpétua em 1949, foi libertado na Revolução Húngara de 1956 e recebeu asilo na embaixada americana de Budapeste, onde viveu por 15 anos. Sob pressão do governo, a Santa Sé ordenou-lhe deixar a Hungria em 1971 e, imediatamente, nomeou-lhe um sucessor segundo o gosto do governo húngaro.

Em Outubro passado, a Santa Sé contactou Zhuang, quando este procurou a ajuda de Zen. O cardeal enviou a carta do bispo ao prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, anexando uma cópia ao Santo Padre. Na época, Dom Savio Hon Tai Fai ainda estava em Roma e levou os dois casos – de Shantou e Mindong – ao conhecimento do papa, quem ficou surpreso e prometeu olhar o assunto com atenção.

De acordo com a imprensa católica, Zhuang foi forçado a ir para Pequim em Dezembro de 2017 para se reunir com uma delegação vaticana liderada por um “prelado estrangeiro do alto escalão”. Pediram-lhe que renunciasse e passasse o seu episcopado a Huang.

Guo ficou detido pelo governo por um mês na época da Semana Santa do ano passado, quando lhe solicitaram para assinar um documento afirmando que se “voluntariava” para sair como condição para o reconhecimento do governo. Zen destacou que “o problema não é a renúncia dos bispos legítimos, mas o pedido para abrir caminho a bispos ilegítimos e mesmo excomungados”.

Para ele, “com base em informações recentes, não há motivos para mudar de opinião”, já que o governo está a criar regulamentos mais severos que limitam a liberdade religiosa e que “a partir de 1 de Fevereiro, frequentar a missa clandestina [missa não autorizada pelo Estado chinês] não será mais tolerado”.

“Será que pode haver algo realmente ‘mútuo’ com um regime totalitário?”, perguntou Zen. “Pode-se imaginar um acordo entre São José e o Rei Herodes?”

2 Fev 2018

Presidente participará do diálogo global de partidos políticos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] presidente chinês Xi Jinping participará de um diálogo entre o Partido Comunista da China (PCC) e outros partidos políticos do mundo, anunciou na sexta-feira o organizador do evento. Xi, também secretário-geral do Comité Central do PCC, pronunciará um discurso na cerimónia de abertura do diálogo, segundo Guo Yezhou, subchefe do Departamento de Relações Internacionais do Comitê Central do PCC. Líderes de mais de 200 partidos e organizações políticas de mais de 120 países registaram-se para a reunião, programada para durar de 30 de Novembro até 3 de Dezembro. Durante o período, o PCC também realizará discussões de rotina com partidos políticos de África, Ásia Central e Estados Unidos.

Ningbo : Dois mortos e 30 feridos em explosão fabril

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]elo menos duas pessoas morreram e 30 ficaram feridas ontem na sequência de uma forte explosão ocorrida numa fábrica na zona industrial da cidade de Ningbo, na província de Zhejiang, no leste da China, informaram os ‘media’. Diversas equipas de resgate e inúmeras ambulâncias foram destacadas para o local do acidente para prestar assistência às vítimas, havendo entre os cerca de 30 feridos pelo menos dois em estado grave, informou a cadeia de televisão chinesa CGTN.Segundo a agência de notícias Xinhua, a explosão, que ocorreu pelas 09:00, provocou o colapso de edifícios adjacentes à fábrica. Vários trabalhadores de limpeza encontravam-se no interior da unidade, localizada numa zona industrial, aquando da explosão, de acordo com testemunhas. As autoridades estão a investigar as causas do acidente.

Empresa japonesa desculpa-se por proibir entrada de chineses em loja

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] fabricante de cosméticos japonês Pola desculpou-se por colocar um cartaz que proibia a entrada de cidadãos chineses num dos seus estabelecimentos no Japão, o que gerou fortes críticas nas redes sociais na China. A empresa publicou no seu portal um texto escrito em japonês e chinês no qual assegura que identificou essa loja e que retirou o cartaz com a mensagem a vermelho: “Não entrar gente da China”. “Pedimos desculpas sinceramente e rejeitamos o cartaz que ofendeu e incomodou muita gente”, diz o comunicado com data de 25 de Novembro. A companhia, que conta com 4.600 lojas no Japão, garantiu que considera a situação “muito grave”, punirá os responsáveis e suspenderá as operações desse estabelecimento, do qual não divulgou dados. Nos últimos anos aumentou no Japão o número de turistas chineses, que em 2016 chegou a quatro milhões, muitos dos quais viajam para o país vizinho para realizar compras de cosméticos e produtos tecnológicos.

Agências multadas por vender viagens ao Vaticano

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]uas agências de turismo da China foram multadas por oferecerem passeios para o Vaticano, país com o qual os chineses romperam relações diplomáticas há mais de 60 anos. Por realizarem negócios com países que não estão na lista de destinos autorizados pelas autoridades chinesas, as empresas serão obrigadas a pagarem  300.000 iuanes.

As sanções chamam a atenção pelo fato de a Itália, país cuja capital Roma divide limites territoriais com o Vaticano sem nenhuma imposição de controles fronteiriços, ser um destino autorizado por Pequim. Na prática, é virtualmente impossível controlar a entrada de turistas chineses hospedados em cidades italianas a atrações como a Praça e a Basílica de São Pedro, alguns dos principais marcos do país onde reside o Papa Francisco.

27 Nov 2017

Divisão entre católicos chineses trava aproximação a Santa Sé

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]hina e Vaticano podem estar próximos de “normalizar as relações”, mas a divisão da comunidade católica chinesa e a falta de um clero bem formado no país “preocupam Roma” e travam a aproximação, defende um investigador italiano.

“A China está agora mais aberta a ter laços com o Vaticano, à medida que se converte numa superpotência mundial, e vê que é importante ter relações com a principal fonte de poder de persuasão do mundo”, assinalou o académico Francesco Sisci, especialista nas relações entre a República Popular da China e a Santa Sé, que romperam laços diplomáticos em 1951.

O italiano diz que algo está a mudar no diálogo entre Pequim e o Vaticano, mas que é difícil prever o desfecho.

O Papa Francisco mostrou já uma maior vontade do que os seus predecessores para “projectar a Santa Sé no resto do mundo”, de que é exemplo a sua recente viagem ao Egipto ou a aproximação aos ortodoxos gregos e russos.

A aproximação à China, no entanto, continua a ser difícil, nomeadamente devido à situação do clero chinês, em que há casos de sacerdotes casados e com filhos, e comunidades divididas.

“Inclusive em Pequim, a diocese mais próxima do Governo e mais controlada, chegaram a existir três facções, e foi preciso um grande esforço para as unir”, sublinhou Sisci.

Roma “está preocupada com a qualidade do clero” chinês, explicou.

Sisci negou que exista uma “igreja clandestina” católica na China, oposta à oficial, regida pelo Partido Comunista e independente do Vaticano, mas admitiu diferenças e, por vezes, animosidades entre os católicos mais veteranos e os que acabaram de chegar à igreja, formados pelo regime comunista.

Em construção

O especialista sublinhou que a “normalização das relações” vai demorar e poderá não significar necessariamente o estabelecimento de laços diplomáticos, recusando que o Papa Francisco possa visitar a China a curto prazo.

“Seria um evento extraordinário, a China está consciente disso”, mas ambos os lados são “muito cautelosos”.

Sisci destacou ainda a importância da reunião que o Papa terá em 24 de Maio, em Roma, com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em que a China fará parte da agenda pela primeira vez nas reuniões de máximo nível entre Washington e a Santa Sé.

O académico assegurou que o Papa é também cauteloso na sua aproximação a Pequim, já que esta “pode atrair críticas” entre os sectores do Vaticano que se opõem à abertura de Francisco.

10 Mai 2017

Lembrando Roosevelt

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o dia 26 de Fevereiro apresentei um seminário sobre as “Relações da China com o Vaticano” numa iniciativa da revista que dirijo. O Cardeal Joseph Zen Ze-kiun, representante da Diocese de Hong Kong, e o Cardeal John Tong Hon, ex-colaborador do Centro do Espírito Santo de Hong Kong, participaram como oradores convidados.

O Cardeal John Tong Hon tem 500 artigos publicados sobre o relacionamento da China com o Vaticano que alimentaram imensos debates e discussões. Por seu lado, o Cardeal Joseph Zen é um homem de posições bem definidas e um pastor fiel aos princípios da fé. Um dos motivos que determinou o convite ao Cardeal Joseph Zen foi proporcionar aos cristãos de Macau a possibilidade de entrarem em contacto com as suas diversas perspectivas sobre esta matéria. Durante os preparativos do seminário vários amigos partilharam comigo a preocupação sobre a possibilidade do Cardeal Joseph Zen não poder entrar em Macau. Na verdade, nunca me inquietei com este assunto e, lembrei-me das famosas palavras do Presidente Roosevelt, “só devemos temer o medo”. Estas palavras continuam a ser aplicáveis aos dias de hoje, porque se ultrapassarmos os nossos medos, já não há mais nada a temer!

Quando os preparativos chegaram ao fim, o Cardeal Joseph Zen entrou em Macau sem problemas e o seminário foi um completo sucesso. Embora tenha exigido um grande esforço, compensou ver que os cristãos de Macau puderam assistir a debates de grande sabedoria e à queda de barreiras invisíveis.

Chip Tsao, um ilustre académico de Hong Kong, também citou Roosevelt num dos seus artigos, “Só um optimista insensato pode negar a realidade ameaçadora que vivemos”. Na minha opinião, o verdadeiro optimista deve, em primeira mão, compreender as realidades ameaçadoras e depois acreditar nas suas capacidades e na sua coragem para derrotar a escuridão e lutar para que a luz regresse.

O Cardeal Joseph Zen é um verdadeiro optimista porque, embora reconheça a crise, está disposto a encará-la com coragem e, sujeitando-se a críticas, luta para despertar aqueles que ainda não se aperceberam dos perigos da situação.

Apesar das suas pequenas dimensões, Macau ganhou um lugar na História moderna. Sun Yat-sen deu os primeiros passos como revolucionário em Macau. O Instituto Cultural restaurou recentemente a Antiga Farmácia Chong Sai e abriu-a ao público. Foi aqui que Sun Yat-sen prestou serviço como médico. Macau é considerado como um dos principais centros missionários do Extremo Oriente a desenvolver trabalho na altura do Natal. É também a porta de entrada de muitos missionários que vêm pregar na China. Depois da fundação da República Popular, na década de 50, grandes grupos de missionários estrangeiros foram expulsos do País. Alguns deles fixaram-se em Macau, como o missionário e Padre Jesuíta Luis Ruiz Suárez S.J., que contribuiu para aumentar o trabalho de caridade e para o desenvolvimento da educação. A Santa Sé encara o papel da Diocese de Macau como um agente de ligação entre a Igreja Católica e a China. Embora as relações entre a China e o Vaticano sejam tratadas ao mais alto nível, Macau é indissociável desta discussão.

O Cardeal Joseph Zen revelou-nos toda a sua generosidade durante a visita a Macau, e provou-se que os receios que certas pessoas alimentavam se devem a uma falta de conhecimento sobre a realidade dos Governos da RAEM e da China. O desenvolvimento das relações entre a China e o Vaticano não está dependente de optimismos nem de pessimismos, mas sim de empenho e coragem. Esta posição é defendida pelo Cardeal John Tong Hon num dos seus artigos, onde afirma “ambas as partes (a China e o Vaticano) precisam de confiar uma na outra, de paciência e de diálogo para resolver os problemas de boa fé e sem comprometer os princípios de cada uma delas.” É sem dúvida uma tarefa extremamente difícil que requer comunicação, negociações e boa vontade.

Já que o Cardeal Joseph despendeu algum do seu tempo para vir a Macau, penso que no mínimo os residentes não devem desperdiçar as suas boas intenções.

No meu próximo artigo vou falar-vos da demissão de Jason Chao da vice-presidência da Associação de Novo Macau e da sua saída de membro da associação.

5 Mar 2017

Religião | Abertura para diálogo com Vaticano

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China está disposta a manter um diálogo construtivo com o Vaticano, mas os católicos chineses devem “erguer alto a bandeira do patriotismo” e adaptar-se aos “valores chineses”, disse o responsável do Governo de Pequim pelos assuntos religiosos.

Wang Zuoan, director da Administração Estatal para os Assuntos Religiosos, falava durante a nona conferência dos católicos da China, que reúne em Pequim o clero da Associação Patriótica Chinesa, igreja católica aprovada pelo Estado e independente do Vaticano.

Pequim insiste que a igreja oficial tem autoridade para ordenar os bispos chineses, um direito que a Santa Sé diz pertencer apenas ao Papa.

O diferendo dura desde 1951, quando China e Vaticano romperam os laços diplomáticos, depois de Pio XII excomungar os bispos designados por Pequim.

As manifestações católicas no país são apenas permitidas no âmbito da Associação Patriótica, mas muitos dos cerca de 12 milhões de católicos chineses continuam a celebrar a sua fé em igrejas “clandestinas”, que juram lealdade a Roma.

O Governo chinês espera que o Vaticano adopte uma postura “flexível” e “pragmática” e medidas concretas que favoreçam a melhoria das relações, afirmou Wang, citado pela agência oficial Xinhua.

O responsável não detalhou quais as medidas que Pequim espera do Vaticano.

O Partido Comunista Chinês, que governa o país desde 1949, é adverso a grupos religiosos ou cívicos, vistos como potenciais ameaças à sua autoridade.

Optimismo moderado

Em Maio de 2015, o Presidente chinês, Xi Jinping, apelou aos religiosos do país para se adaptarem à sociedade chinesa.

Na terça-feira, Wang reafirmou a importância da religião integrar o “patriotismo” e que se persista com a “assimilação de valores chineses pelo catolicismo”.

O Papa Francisco disse no início deste ano que Pequim e o Vaticano formaram grupos de trabalho, para abordar a questão da nomeação dos bispos, e que está “optimista” de que será encontrada uma solução.

Na semana passada, contudo, o Vaticano lamentou que a ordenação de dois bispos chineses tenha sido feita na presença de um bispo designado por Pequim e não reconhecido pelo Papa.

A Santa Sé disse ainda que aguarda os resultados do encontro desta semana e que os católicos do país podem estar confiantes no diálogo entre ambos os lados.

29 Dez 2016

Pequim faz “esforços constantes” para melhorar relações com o Vaticano

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China disse ontem realizar “esforços constantes” para melhorar as relações com o Vaticano e que quer alcançar “novos resultados”, numa altura em que ambas as partes estarão a negociar um acordo sobre a ordenação dos bispos.

“Estamos sinceramente dispostos a melhorar as nossas relações e fazemos esforços constantes nesse sentido”, disse ontem Lu Kang, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, numa conferência de imprensa em Pequim.

Segundo páginas na Internet de informação ligada à igreja católica, a Santa Sé e Pequim estão a negociar um acordo que prevê que o papa reconheça quatro dos oito bispos da Associação Patriótica dos Católicos Chineses, que anteriormente recusou consagrar.

Aquele organismo estatal é o único reconhecido pelo Partido Comunista Chinês (PCC) e todos os seus bispos são nomeados pelo Governo, sendo independente do Vaticano.

A China e a Santa Sé não têm relações diplomáticas desde 1951 e uma das maiores divergências entre ambos os lados reside precisamente na nomeação dos bispos.

Lu Kang assegurou que “existem canais de comunicação (com o Vaticano) nesse sentido” e que Pequim gostaria de cooperar com a Santa Sé para “impulsionar os laços bilaterais e alcançar novos resultados”.

Caminho papal

Oficialmente, o número de cristãos na China continental rondará os 24 milhões, o que não chega a dois por cento da população.

A Academia Chinesa de Ciências Sociais estima que haja cerca de 130 milhões de cristãos ligados às chamadas “igrejas clandestinas”, aquelas que se mantêm aliadas ao Vaticano.

Desde que foi eleito, em 2013, o papa Francisco tem procurado uma reconciliação com a República Popular da China, tendo já assumido o desejo de visitar o país, o que seria um acontecimento inédito.

Nos últimos meses, ambas as partes manifestaram a sua vontade em melhorar as relações e Pequim apelou por várias vezes ao Vaticano para que dê “passos concretos”.

O Governo chinês exige ainda que a Santa Sé rompa os laços diplomáticos que mantém com Taiwan e que não interfira nos assuntos internos do país.

9 Nov 2016